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21/09/2023, 16:18 Exemplos opostos de Simone e Rayssa mostram que desejo deveria pautar competição - 28/07/2021 - Esporte - Folha

ANÁLISE TÓQUIO 2020 (HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/ESPORTE/TOQUIO-2020)


GINÁSTICA ARTÍSTICA (HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/FOLHA-TOPICOS/GINASTICA-ARTISTICA)

Exemplos opostos de Simone e Rayssa mostram


que desejo deveria pautar competição
Olimpíadas escancaram que ideal é não adoecermos para escapar de abusos, mas dizer
não a eles

28.jul.2021 às 19h33

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2021/07/29/)

Vera Iaconelli (https://www1.folha.uol.com.br/autores/vera-iaconelli.shtml)

O esporte de alta performance não tem qualquer relação com saúde, seja mental
ou física. Trata-se de uma vida de privações, dores crônicas, exigências e solidão.

Tudo isso é aceitável na condição de responder ao desejo de quem o abraça como


profissão. Nesta semana, duas histórias que se cruzaram no Olimpo dos esportes
parecem apontar para realidades opostas no que tange a esse desejo.

De um lado vibramos com a medalha de Rayssa Leal


(https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2021/07/rayssa-leal-transforma-diversao-e-leveza-em-conquista-nas-olimpiadas.shtml)

nas Olimpíadas de Tóquio (https://www1.folha.uol.com.br/esporte/toquio-2020/). Por outro, ficamos


perplexos com a desistência de Simone Biles (https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2021/07/biles-
desiste-mostra-que-e-ok-nao-estar-ok-e-pauta-saude-mental-nas-olimpiadas.shtml).

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A ginasta americana Simone Biles, 24 - Reuters

Para Rayssa, o esporte parece ser um evento tão lúdico e prazeroso que nos dá a
falsa sensação de que qualquer um poderia realizar suas proezas sobre o skate —
não tentem.

Enquanto ganha o mundo sobre uma prancha com rodinhas, a menina de 13 anos
com aparelho nos dentes dança e acena feliz. Não tendo nada a perder, sua
premiação é só lucro, algo de que ela pode desfrutar. Inocente demais para que a
cobrança de um título torne sua vida um inferno ou para que leve em
consideração o sério risco de sofrer um acidente grave.

Simone Biles, na outra ponta, é um prodígio da ginástica olímpica, cujo


desempenho poderia transformá-la na atleta mais premiada da história em sua
categoria. Desde criança teve sua excepcionalidade identificada e recebeu, como
Rayssa, todo o reconhecimento e admiração à sua volta a cada façanha que a
diferenciava das demais.
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Mas, diferentemente da jovem maranhense, ela se vê em um momento da carreira
no qual o prazer da conquista deu lugar a um nível de responsabilidade e

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exigência cada vez mais alto. São atletas que ganham em nome do país, mas
perdem em nome próprio.

Somos capazes de grandes sacrifícios para alcançar resultados que pareçam


responder aos nossos anseios e que possam nos fazer admirados por todos. O
difícil nesse jogo é saber o quanto do nosso desejo está alienado ao prazer do
outro. Ou seja, o quanto nos oferecemos ao deleite da audiência, sem nos
perguntarmos sobre o que desejamos.

Um jovem da tribo Sateré-mawé, para ser considerado um guerreiro, passará pelo


ritual excruciante de manter a mão dentro de uma luva repleta de formigas
tucandeiras, durante pelo menos dez minutos. Dor lancinante, inchaço, febre e
alucinações —em função da neurotoxina do inseto— são algumas das sensações
vividas num processo que dura em torno de 11 horas e que deverá ser repetido 20
vezes.

O que levaria alguém a buscar tal provação, se não o reconhecimento pessoal e


coletivo de sua bravura?
Qualquer grande realização exige esforço e sacrifício, mas é crucial que nos
perguntemos em nome do que e de quem o fazemos.

Simone Biles citou sua saúde mental para justificar seu gesto, e sua desistência foi
interpretada como a marca de um fracasso. Estaria deprimida, sofreria burnout?

No entanto, se seguirmos a trilha das declarações da atleta veremos que o que tem
sido apresentado como problema é mais provável que seja uma solução. Sair de
situações insalubres —no trabalho, no casamento, na vida social— pode ser a
marca não do adoecimento, mas da coragem de bancar o desejo à revelia das
expectativas alheias.

No mundo ideal não adoecemos para escapar de situações abusivas, aprendemos


a dizer não a elas.

Talvez Simone reencontre a alegria de Rayssa novamente, talvez Rayssa encontre


o “peso do mundo sobre os ombros” a que aludiu Simone. Nesse sentido, mais do
que torcer por medalhas, precisaríamos torcer para que o pódio responda ao
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desejo de quem o alcança, e não dos que simplesmente aplaudem.
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