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Curso de Licenciatura em Dança

Disciplina: Psicologia do Desenvolvimento

Texto dissertativo

A formação de professores para o ensino da dança no ensino fundamental

A formação específica do educador em dança para atuação nas escolas de ensino


formal ocorre por meio das Licenciaturas em Dança, mas, de maneira prática, professores
de Educação Física, licenciados em Pedagogia ou em outras linguagens artísticas
também atuam com o ensino de dança nas escolas (Brasil, 1998a). Desde a publicação
dos PCN-Arte (1998) e Educação Física (1997), há consideração de que a dança
pertença às duas áreas de conhecimento, como reforçam as recentes discussões da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2016). Mesmo que haja um crescente aumento
dos cursos de Licenciaturas em Dança, em função da Reforma da Educação Superior,
não há professores especialistas em número suficiente para atender às necessidades das
escolas.

Essa formação polivalente e ampla dos professores no ensino formal, muitas vezes
carece de uma especificidade disciplinar quando de fato se propõe a investigar processos
de ensino e aprendizado em dança e suas mediações em espaços formais, não formais e
informais, considerando que todos esses locais são propícios para práticas educativas em
dança. Nesse sentido, é preciso que haja projetos de ação cultural e de formação inicial e
continuada de professores, com propostas de diálogo da dança com as outras linguagens
artísticas pela produção de pesquisas, metodologias e material didático para profissionais
de dança e afins. Quaisquer pesquisas guiadas pela ótica da integração e da
interdisciplinaridade auxiliam na atuação do educador em dança junto aos estudantes,
esteja o perfil profissional inicial do educador dentro das áreas de Pedagogia, Artes
Visuais, Música, Artes Cênicas, Educação Física ou Dança.

A formação continuada para os professores de dança se propõe a estabelecer a


interligação dos saberes em dança com temas trabalhados na escola e saberes trazidos
pelos professores com o intuito de fomentar o conhecimento sensível em dança (Godoy,
2013), que vai muito além da repetição exaustiva de um gesto ou movimento e da
reprodução de passos e sequências rítmicas. Há importância em que esteja claro ao
professor de dança que a experiência pessoal é totalmente intransferível e que seu
trabalho é o de reeditar essa experiência, com uma escuta sensível a cada um dos
estudantes e com respeito ao processo de sensibilização e desenvolvimento individual,
dentro do conjunto das experiências trazidas por cada corpo/ser no processo de ensino
aprendizagem (Ossona, 1988).

A discussão sobre a formação do profissional em dança na escola se intensificou


nas últimas décadas devido à aprovação da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional 9.394/96), que estabeleceu que a formação inicial de professores aconteceria
nas universidades, faculdades e centros de ensino superior, tanto nas licenciaturas como
em cursos normais superiores. Mais recentemente, a Lei nº 13.278/2016, que altera o § 6º
do art. 26 da LDB, refere-se ao ensino da arte e inclui as Artes Visuais, a Dança, a Música
e o Teatro como linguagens constituintes do componente curricular na educação básica.
Além disso, estabelece o prazo de cinco anos para que os sistemas de ensino implantem
as mudanças decorrentes, incluída a adequada formação dos professores em número
suficiente para atuação na educação básica. Essas mudanças representam uma
crescente demanda na área e uma necessidade de ampliar a quantidade de profissionais
capacitados, o que caracteriza um processo gradativo, que requer tempo, investimentos,
políticas públicas e formações específicas que preparem o professor para o domínio da
linguagem da dança, bem como a articulação desses saberes em práticas educativas
conforme cada contexto de ensino aprendizagem (Andrade & Godoy, 2017; Godoy et al.,
2012).

Considerando que a formação profissional, em um sentido mais amplo, pressupõe


um processo de transformação contínua com atualizações frequentes, o processo de
formação individual consiste em um desenvolvimento integral e sequencial de suas
inclinações e possibilidades (Larrosa, 2010; Rohden, 2005). Nesse sentido, o processo de
formação continuada do educador se funde ao seu próprio processo de formação
individual, na medida em que as trocas e as opções de escolhas ocorrem
indefinidamente, se harmonizando e desarmonizando, para novamente se organizarem e
alternarem-se entre construções, desconstruções e reconstruções de acordo com as
possibilidades e experiências vividas. Esse processo de transformação é constante,
necessário e inevitável, quando a direção do olhar do educador está focado nas
qualidades sensíveis dos estudantes de Dança. Essa contínua mudança de perspectivas
pode proporcionar um levantamento das necessidades dos educadores, problematizando
suas práticas pedagógicas e revelando aspectos críticos importantes sobre o seu próprio
trabalho docente (Sgarbi, 2009). Dessa maneira, a formação do professor não pode se
resumir aos anos de graduação nas universidades, mas em múltiplos espaços de
experiências destinados ou não à sua formação, porque a partir de então, o próprio
processo de desenvolvimento e de busca de ampliação individual norteará
concomitantemente as suas práticas pedagógicas, beneficiando todos os envolvidos no
processo de ensino aprendizagem.

Dessa forma, a formação de professores para o ensino da dança no Ensino


Fundamental deve valorizar não apenas os saberes pedagógicos e das disciplinas
específicas, mas a escuta sensível e os saberes das próprias experiências vividas em
sala de aula e fora dela. Na formação de professores em arte, esses saberes se
complementam, pois estudantes-artistas que se tornarão professores viverão experiências
artísticas específicas da linguagem escolhida e também dos ambientes escolares,
fortalecendo suas formações artística e docente. Além disso, considerando a problemática
curricular que organiza os conteúdos tecnicamente e que não é projetada para subsidiar
reflexões amplas sobre o ensino e a formação humana, há necessidade de articulação
desses conteúdos de forma interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar, agregando
saberes diversos baseados nas experiências dos estudantes e com projetos pedagógicos
de ação educativa, crítica, reflexiva e artística. Especificamente na linguagem artística da
Dança, é necessário que haja constante intercâmbio entre os profissionais com diferentes
formações básicas e que estão habilitados a ensinar essa linguagem, com perspectivas
de formação humana integral e que, para além das técnicas e da repetição ordenada de
movimentos, facilitem a escuta sensível do corpo/ser dos estudantes para o
desenvolvimento de uma consciência crítica, reflexiva e participativa nas questões
contemporâneas que contextualizam sua história e suas perspectivas de futuro.

Referências bibliográficas

ANDRADE, Carolina & GODOY, Kathya. A formação do professor para a dança: reflexões
sobre um curso de formação continuada. ART Research Journal. Revista de
Pesquisa em Arte. 2017

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 1998


BNCC. Base Nacional Comum Curricular, Ministério da Educação, 2ª versão, MEC/
CONSED/UNDIME NACIONAL, 2016.

GODOY, Kathya. O desafio em formar plateia para dança. In: GODOY, Kathya Maria
Ayres de (Org.). Experiências compartilhadas em dança: formação de plateia. v. 1.
1. ed. São Paulo: Instituto de Artes da Unesp, 2013. p. 73-76.

GODOY, Kathya; ANDRADE, Carolina; SGARBI, Fernanda; ALMEIDA, Fernanda ALVES,


Flavia; MELLO, Roberto; PIMENTA, Rosana. Multiplicando olhares sobre a dança
na escola: construção de saberes e experiências em um curso de formação
continuada para Professores. In: Congresso Nacional de Pesquisadores em Dança,
2, São Paulo, 2012. Anais... São Paulo: UNESP, 2012. Disponível em: <http://
www.portalanda.org.br/anaisarquivos/1-2012-14.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2022.

LARROSA, Jorge. Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. 4. ed. Belo


Horizonte: Autêntica, 2010.

OSSONA, Paulina. A Educação pela Dança. São Paulo, Summus, 1988.

RODDEN, Huberto. Educação do Homem Integral. Editora Martin Claret. 2005

SGARBI, Fernanda. Entrando na Dança: reflexos de um curso de formação continuada


para professores de Educação Infantil. 2009. Dissertação (Mestrado em Arte-
educação) – Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2009.

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