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Introdução à
Automação

Para começar

Este capítulo tem por objetivo definir os conceitos básicos da automação industrial e fornecer uma
visão geral dos seus principais elementos, que serão aprofundados ao longo do livro.

1.1 Conceito
A primeira pergunta a ser respondida é: o que é automação?
Quando programamos um micro-ondas para cinco minutos e pressionamos o botão início,
esperamos que, passado esse tempo, ele se desligue sozinho. Esse processo é automático, ou seja,
acontece sem a intervenção humana. Quando entramos em um elevador e selecionamos o andar de-
sejado no painel, pressumimos que ele pare automaticamente naquele andar. A temperatura interna
de uma geladeira é mantida relativamente constante por um sistema de controle automático, que liga
ou desliga o compressor, conforme necessário.
Assim, um controle automático é aquele em que o próprio dispositivo é capaz de perceber mu-
danças que afetam o sistema, decidir sobre a necessidade de realizar alguma ação corretiva e atuar
sobre o sistema, sem intervenção humana.
Portanto, quando falamos de automação, estamos nos referindo ao processo de instalar
controles automáticos em um equipamento, uma máquina ou um processo.

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1.1.1 Onde a automação pode ser aplicada?
Em praticamente todas as áreas das atividades humanas. Não se pode mais pensar a vida sem
algumas facilidades e alguns confortos que ela proporciona. Terminais de autoatendimento bancário,
lojas comerciais, restaurantes, residências, controle de semáforos, shopping centers, indústria dos
mais variados segmentos, veículos, aparelhos domésticos etc.
Sem dúvida, a evolução da tecnologia tem contribuído muito para o desenvolvimento das
ciências. Na medicina, por exemplo, foram desenvolvidos aparelhos e equipamentos que produzem
imagens radiológicas bastante precisas e exatas, as quais auxiliam no processo de diagnóstico.
Muitos procedimentos cirúrgicos, como a cirurgia a laser para correção da miopia, só são pos-
síveis atualmente em virtude da existência de equipamentos com extrema precisão. A tecnologia da
automação está fortemente presente no transporte, na logística e no ensino, entre outras áreas.
Assim, dependendo de onde é aplicada, surgem termos como: automação industrial, automa-
ção residencial, automação comercial, automação bancária e assim por diante.
Como exemplo, citamos a seguir algumas áreas de utilização:

1.1.1.1 Automação residencial


A maioria das aplicações tem por objetivo a melhoria no conforto e na segurança das resi-
dências e dos condomínios: acendimento automático de luzes, porteiro eletrônico, portão auto-
mático, controle de acesso por meio de biometria, circuitos de monitoramento por vídeo, controle
da temperatura ambiente etc.

1.1.1.2 Automação comercial


É o ramo da automação que visa controlar, gerenciar e otimizar os processos comerciais tí-
picos, como: faturamento, controle de estoques, contas a pagar e receber, folha de pagamentos,
identificação de mercadorias por código de barras ou por radiofrequência (RFID) etc. Seu uso visa
aumentar a eficiência do trabalho dos funcionários, bem como atender à demanda dos clientes que
certamente preferem fazer suas compras com conforto e rapidez. Dentre outros benefícios, podemos
citar a diminuição de erros no cálculo e na digitação de preços, informações gerenciais mais precisas,
disponibilização de serviços por meio eletrônico, especialmente tecnologias relacionadas à internet.

1.1.1.3 Automação industrial


A automação industrial surgiu primeiro como elemento facilitador de produção em larga es-
cala, a fim de viabilizar que os produtos tivessem as mesmas características, independentemente
da quantidade e do tempo de produção. Por exemplo, ao comprarmos um pacote de batata indus-
trializada de certa marca, esperamos que o sabor, o aroma, a quantidade etc. sejam relativamente
constantes, independentemente de onde e quando esse produto tenha sido adquirido. Isso só é
possível se existir algo no processo de fabricação capaz de garantir uma grande uniformidade nos
produtos fabricados. Ou seja, deve haver algum tipo de controle de qualidade que assegure isso. De
fato, esse controle pode ser feito por humanos ou máquinas, ou, ainda, por uma combinação dos dois.

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Algumas tarefas são mais bem executadas por humanos, especialmente as que exijam criatividade,
senso crítico e tomada de decisões, sobretudo quando essas decisões devam ser tomadas com base
em informações incompletas ou incertas. Já outras são mais bem desempenhadas por máquinas,
que é normalmente o caso das operações que possam comprometer a saúde do trabalhador, como as
executadas em locais insalubres ou perigosos, ou quando são necessários procedimentos repetitivos
com alta velocidade, precisão e exatidão. Nessas situações, a máquina costuma ser imbatível.
Com a evolução da tecnologia, cada vez mais as máquinas são utilizadas em tarefas nas quais
não se exijam talentos típicos dos humanos. Tarefas repetitivas e monótonas são muito mais bem
executadas por máquinas, que normalmente fazem esse trabalho de forma mais rápida e precisa e,
ainda, sem se cansarem ou se entediarem com o passar do tempo, o que garante uma produtividade
relativamente constante.
Quando uma indústria se decide por um processo de fabricação automatizado, pode ter vários
objetivos, como: aumentar a eficiência e maximizar o volume produzido com o menor consumo de
energia ou matéria-prima; ter menor emissão de resíduos poluentes no meio ambiente; apresentar
melhores condições de segurança para o processo ou as pessoas envolvidas; reduzir a dependência
da intervenção humana nesse processo ou na máquina.

1.2 Classificação da automação industrial


Sistemas de automação podem ser classificados com base na flexibilidade e no nível de
integração das operações do processo de fabricação. O limite entre essas operações não é claramente
delimitado, de forma que há alguma sobreposição. Mas a maioria dos sistemas de automação pode
ser classificada em uma das seguintes formas:

1.2.1 Automação fixa


Também conhecida como automação rígida e cabeada. Os primeiros sistemas de automação
eram construídos especificamente para um determinado propósito. A lógica de funcionamento do
sistema era implementada utilizando-se uma composição de componentes eletromecânicos, como
relés e contatores. O fundamento então era feito por meio da conexão de fios e cabos, também
conhecida como hardwired. Fica evidente que, depois que o sistema estivesse construído, qualquer
alteração na lógica envolveria refazer conexões, um processo demorado, custoso e complexo - carac-
terísticas não desejáveis na indústria.
No entanto, esse tipo de automação ainda é adequado quando se deseja fabricar continua-
mente uma grande quantidade de um único tipo de produto. A vantagem é que o investimento nesse
tipo de automação é menor que nos demais, por ser mais simples. No entanto, por produzir um
produto específico, há a desvantagem de poder tornar-se obsoleto, caso o ciclo de vida do produto
chegue ao fim, o que exigiria mudanças de projeto ou modelo.
A automação fixa é bastante utilizada em processo de destilação, transportadoras, oficinas de
pintura, linhas de transferência etc.

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1.2.2 Automação programável
É utilizada para fabricar produtos personalizados. Uma montadora automobilística, por
exemplo, pode utilizar esse tipo de automação para produzir um mesmo carro em diversas cores,
diferentes tipos de revestimento de bancos, acessórios e assim por diante. O produto é um só, mas
pode ser gerado com variações.
A linha de produção é projetada a fim de ser adaptável às diferentes características e con-
figurações dos produtos a serem fabricados. Essa adaptabilidade é conseguida mediante a utilização
de um equipamento que seja capaz de armazenar toda a lógica de funcionamento necessária, in-
cluindo a sequência de acionamentos, e que possa ligar e desligar dispositivos automaticamente.
Os Controladores Lógicos Programáveis (CLPs) são os principais equipamentos utilizados nesse tipo
de automação.
Assim é possível a fabricação de uma variedade de produtos com características diferentes, se-
gundo um programa de instruções previamente introduzido.
No entanto, pode ser necessário um esforço de programação não trivial, no intuito de repro-
gramar a máquina ou a sequência de operações. O investimento nesse tipo de automação se justifica
quando o processo de produção pode ser alterado com alguma frequência. A automação programá-
vel é normalmente utilizada em processo descontínuo, no qual a variedade de trabalho é baixa e o
volume do produto é de médio a alto.
Atualmente é o tipo de automação mais comum na maioria das indústrias.

1.2.3 Automação flexível


A automação flexível é uma solução de compromisso entre a automação fixa e a programável,
ou seja, possui algumas características de ambas. No caso da indústria automobilística, por exemplo,
mesma linha de produção pode ser utilizada para fabricar diferentes modelos de veículos.
Uma característica importante desse tipo de automação é que o tempo entre a troca de
produção de um tipo de produto para outro deve ser pequeno. Ou seja, não se deve perder muito
tempo nessa operação. Portanto, essa é a característica que a diferencia da automação programável.
É usada em sistemas flexíveis de manufatura, os quais são sempre controlados por um siste-
ma computadorizado. A sequência de operações e os demais procedimentos necessários devem ser
programados, utilizando-se uma linguagem adequada. Cada máquina da produção recebe confi-
gurações e instruções do computador, que automaticamente carrega ou descarrega as ferramentas
necessárias e realiza as instruções de processamento. Após o processamento, os produtos são auto-
maticamente transferidos para a próxima máquina. A automação flexível normalmente é utilizada
em uma produção, na qual há uma grande variedade de produto e o volume de trabalho é de médio
a baixo. Em razão das características de programação e adaptabilidade, vários produtos diferentes
podem ser fabricados, mesmo em pequenos lotes e, até mesmo, uma única peça ou produto.

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A Figura 1.1 ilustra a relação entre a capacidade de produção e a variedade de produtos, con-
forme o tipo de automação.

Variedade
de produtos

Automação
flexível

Automação
programável

Automação
fixa

Quantidade
produzida

Figura 1.1 - Relação entre a quantidade produzida e a variedade de produtos conforme o tipo de automação.

1.2.4 Automação integrada


É a automação completa de uma fábrica, com todos os processos funcionando sob o con-
trole de um sistema de informação, que integra as diferentes áreas. Pode incluir tecnologias, como
Computer Aided Design (CAD), Planejamento e Controle da Produção (PCP), Manufatura Integrada
por Computador (CIM), máquinas de controle numérico e sistemas de movimentação de materiais
automatizados, como robôs e guindastes transportadores. Em outras palavras, simboliza a integração
total de processos e gestão de operações com tecnologias de informação e comunicação.
Como pode ser percebido, a complexidade dos sistemas de automação aumentam do escopo
de automação fixa para CIM. O grau de automação necessário para determinada instalação
industrial depende das especificações de fabricação e montagem, das condições de trabalho,
da pressão da concorrência, das exigências dos custos da mão de obra. É preciso lembrar que o
investimento em automação deve ser justificado pelo consequente aumento na lucratividade.
Para exemplificar, são apresentados a seguir os contextos mais apropriados para utilização da
automação fixa e flexível.
A automação fixa é apropriada nas seguintes circunstâncias:
» Baixa variabilidade no tipo de produto, seja no tamanho, na forma ou no número de
peças e materiais que o compõe.
» Demanda previsível e estável, de maneira que a exigência de capacidade de produção
também seja.
» Alto volume de produção desejado por unidade de tempo.
» Baixo custo de implantação.

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A automação flexível é indicada nas seguintes situações:
» Variabilidade significativa no tipo de produto. Uma mesma linha de produção é utilizada
para fabricar produtos que podem ser formados pela combinação de diferentes partes
(produção personalizada).
» O ciclo de vida do produto é curto, o que exige atualizações frequentes do modelo, mu-
dando suas características.
» Os volumes de produção são moderados e a demanda não é totalmente previsível.

1.2.4.1 CIM
A automação integrada também é conhecida por manufatura integrada por computador ou
CIM (Computer Integrated Manufacturing). É a integração da área de produção com as demais
áreas da fábrica. Trata-se praticamente de uma necessidade das empresas hoje, já que o processo de
decisão é menos sujeito a erros quanto mais informações se tem sobre um assunto. Alguns termos
aparecem quando se fala de controle integrado da manufatura: CAD, CAM, CAE e CNC. A seguir,
uma breve descrição de cada uma dessas siglas.

1.2.4.2 CAD
Desenho auxiliado por computador ou CAD (Computer Aided Design) é a designação genérica
dos softwares utilizados por diferentes áreas, como engenharia e arquitetura, a fim de facilitar o
desenho técnico dos projetos. O termo design pode também ser traduzido como “projeto”. No en-
tanto, embora existam alguns softwares que realmente auxiliem a fazer o projeto, a maioria se limita
a auxiliar na confecção do desenho ou diagrama, ficando o projeto por conta do operador.
Podemos utilizar essa categoria de softwares, por exemplo, para fazer o desenho esquemático
de um circuito eletrônico, bem como o projeto do layout da sua placa de circuito impresso, veja as
Figuras 1.2 e 1.3.
FREEPCB, 2013

Figura 1.2 - Exemplo de projeto de circuito


impresso com utilização do CAD.

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STATICFREESOFT, 2013
Figura 1.3 - Exemplo de CAD utilizado em eletrônica.

Existem dezenas de softwares CAD específicos para cada tipo de aplicação. Entre eles, po-
demos citar: Autocad, SolidWorks, Google SketchUp, Blender 3D, 3D Studio Max etc.

Amplie seus conhecimentos

1.2.4.3 CNC
O Controle numérico computadorizado ou CNC (Computer Numeric Control) utiliza um
código específico, chamado de código G, para posicionar no espaço, simultaneamente, os vários
eixos de uma máquina. Esse controle é bastante utilizado em centros de usinagem, para o con-
trole de tornos.

1.2.4.4 CAM
Manufatura auxiliada por computador ou CAM (Computer Aided Manufacturing). Trata-se de
equipamentos capazes de fabricar determinado produto a partir do recebimento de um arquivo
transferido por um sistema CAD. Por exemplo: para se fabricar Placas de Circuito Impresso
(PCI), são transferidos arquivos, chamados de Gerber, utilizados para posicionar a furadeira exa-
tamente sobre o local a ser furado. Também pode indicar qual o diâmetro dos furos, o que leva o
equipamento a realizar a troca automática das brocas quando necessário, veja a Figura 1.4.

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CAM. ROLAND, 2014
Figura 1.4 - Software de programação de um sistema.

1.2.4.5 CAE
Engenharia auxiliada por computador ou CAE (Computer Aided Engineering) são softwares
que fazem cálculos especializados de engenharia. Eles são utilizados para análise e simulação de
materiais ou processos. Um exemplo bastante comum na engenharia mecânica (e mecatrônica)
é seu uso para análise estrutural de elementos de máquinas, com utilização do Método por Ele-
mentos Finitos (MEF). Outras aplicações incluem a análise de escoamento de fluidos, a simulação de
esforços em estruturas mecânicas etc.

1.3 Arquitetura da automação industrial


Dirigir uma organização, nos dias atuais, é um grande desafio. A quantidade de dados e infor-
mações gerados nas diversas áreas ao longo do processo produtivo é muito extensa. Tomar de-
cisões a partir dessa enorme quantidade de dados sem o auxílio de ferramentas da Tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC) é praticamente impossível. Assim, as empresas normalmente
estruturam seus sistemas de forma que possam obter informações úteis de todas as áreas.
Embora cada empresa seja única em suas características, algumas boas práticas estabelecem
um conjunto comum mínimo essencial para todas elas. Um termo bastante difundido na literatura
é “pirâmide da automação”. Trata-se de uma abstração cujo objetivo é facilitar o entendimento do
papel desempenhado por cada nível de atividade interna. Para tanto, é comum utilizar o conceito
de camadas. Ou seja, dividem-se logicamente as operações típicas de um ambiente automatizado de
acordo com o papel principal de cada uma. Alguns autores dividem a pirâmide da automação em
quatro níveis, enquanto outros a segmentam em cinco. Essa arbitrariedade se justifica porque os
limites de separação são muito tênues e dependem da estrutura organizacional de cada empresa.

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O entendimento das funções das camadas permite que se amplie o modelo e se faça generalizações
quando necessário. Uma possível representação é mostrada na Figura 1.5.

ERP

PIMS/MES

CLP/Supervisório

Rede de campo

Figura 1.5 - Pirâmide da automação em quatro camadas.

A seguir serão descritos brevemente os termos utilizados e as funções de cada uma das ca-
madas. No intuito de associar essas camadas com os elementos do mundo real, será utilizada a
Figura 1.6.

Sistemas gerenciais (MES, ERP)

Terceira camada

Supervisório (SCADA)
CLP

Segunda camada

Primeira camada

Sensores, transmissores e atuadores

Figura 1.6 - Camadas típicas de automação em uma indústria.

No nível mais baixo temos as redes de campo. Nesse nível encontramos os instrumentos e os
equipamentos que estão instalados diretamente na linha de produção. Temos, por exemplo, os mo-
tores; as bombas hidráulicas; as válvulas de controle e os transmissores de temperatura, pressão e nível.
Poderíamos generalizar essa camada como a de sensores, transmissores e atuadores. Normalmente

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esses equipamentos funcionam integrados e se comunicam por meio de uma rede de comunicação
a um dispositivo controlador, que tem a finalidade de orquestrar os elementos constituintes do pro-
cesso e tomar as ações necessárias para seu bom funcionamento.
O segundo nível é o de controle e supervisão. Modernamente os controladores trabalham
com um sistema de aquisição de dados e de supervisão. Nesse nível encontramos elementos como o
Controlador Lógico Programável (CLP) e os sistemas SCADA - sobre os quais será feita uma breve
descrição a seguir.
O Controlador Lógico Programável (CLP), ou Programmable Logic Controller (PLC), é um
equipamento eletrônico, que utiliza internamente microprocessadores, a fim de executar uma progra-
mação especialmente desenvolvida para cada caso. O CLP comanda o acionamento de equipamentos
e dispositivos, baseado na lógica implementada no seu programa e nos sinais externos recebidos da
máquina ou do processo. Maiores detalhes sobre o assunto serão fornecidos posteriormente.
Os sistemas SCADA (Supervisory Control And Data Acquisition), ou Controle Supervisório
e Aquisição de Dados, é um aplicativo computacional dedicado, o qual permite que dispositivos,
equipamentos e máquinas sejam controlados e monitorados a distância. Tais sistemas possuem re-
cursos que possibilitam reproduzir, na tela gráfica do computador, a situação dos equipamentos e
dos instrumentos espalhados pela planta em determinado instante. Pode-se, por exemplo, identi-
ficar se um motor está ligado ou desligado, observando-se a mudança de cor do ícone gráfico corres-
pondente a ele. Esse mesmo motor também pode ser ligado e desligado por meio de um botão vir-
tual existente na tela do supervisório. Da mesma forma, pode-se alterar facilmente o valor desejado
para determinada variável do processo (setpoints), por exemplo o valor da temperatura, por meio
da edição de um componente virtual na tela, o qual pode ser uma simulação de um potenciômetro
analógico ou mesmo um campo para inserção do valor numérico pelo operador.
Na terceira camada, temos os sistemas PIMS e MES.
Os sistemas MES (Manufacturing Execution System), ou Sistemas de Execução da Manufatura,
têm como principal finalidade gerenciar as diversas fontes de informações de produção e centralizá-
-las em um único sistema. Seu principal papel é o de transformar dados de processo em informações
mais valiosas, as quais serão utilizadas pelos gestores do sistema para decisões e direcionamentos.
PIMS é a abreviação de Process Information Management Systems, que pode ser traduzido
como Sistemas de Gerenciamento de Informações do Processo. Sua finalidade é registrar e classificar
os dados coletados de toda a planta industrial. É uma ferramenta poderosa para os administradores
do processo, porque possibilita gerar uma visão global de toda a planta industrial. Normalmente
possui ferramentas que permitem analisar os dados a partir de múltiplas visões. Por exemplo, podem
ser gerados diversos tipos de gráficos, tabelas, agrupamento de dados de forma flexível etc. Com a
evolução da tecnologia, atualmente alguns sistemas possibilitam, inclusive, visualizar os dados em
tempo real, além da série histórica. Resumindo, é uma ferramenta que permite otimizar o processo
industrial. Maiores detalhes podem ser obtidos em Seixas Filho, 2013.
No nível mais alto da organização, encontramos normalmente os sistemas ERP, abreviação de
Enterprise Resource Planning, que pode ser traduzido como Planejamento dos Recursos da Empresa.
Trata-se de sistemas desenvolvidos para integrar as informações dos diversos departamentos da

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empresa. Normalmente são interligados nesse sistema os seguintes departamentos: contabilidade,
financeiro, RH, produção e vendas, entre outros. É uma poderosa ferramenta utilizada pelos
dirigentes da empresa na hora de tomar decisões, porque possibilita uma visão global dela. Dessa
forma, os sistemas de produção passaram a ser integrados aos ERPs, porque, para se planejarem
vendas, compras, estoques de matérias-primas, logística etc., é desejável que as informações da
produção provenham diretamente dos sistemas industriais.

1.4 Vantagens e desvantagens da automação


As principais vantagens da automação são:
» Substituir o trabalhador humano em tarefas tediosas.
» Evitar que pessoas arrisquem a saúde ou a vida em ambientes perigosos, como usinas
nucleares, trabalhos sobre a água em grande profundidade, fornos de fundição e assim
por diante.
» Manipular cargas muito pesadas e/ou de grandes dimensões e excessivamente quentes ou
frias, as quais poderiam pôr em risco a integridade física de trabalhadores.
» Realizar tarefas com muito maior velocidade que um humano seria capaz.
» Desenvolvimento econômico por meio de maior produtividade e eficiência.
As principais desvantagens são:
» Alto custo inicial de implantação.
» Limite tecnológico - a tecnologia ainda não permite que todas as tarefas sejam automatizadas.

1.5 A automação gera desemprego?


O grande avanço da automação industrial levanta questões sociais, entre elas o impacto sobre
o emprego. À primeira vista, pode parecer que a automação desvaloriza o trabalhador, porque o
substitui por máquinas mais baratas. No entanto, o efeito global da automação no mercado de tra-
balho ainda não está totalmente compreendido.
Historicamente, essa preocupação remonta ao início da Revolução Industrial. No início de 1800,
surgiu um movimento social na Inglaterra, realizado por operadores de máquinas têxteis, os quais
protestavam contra as tecelagens que estavam automatizando suas máquinas de tear. Eles chegaram
a destruir várias máquinas têxteis porque sentiam que elas ameaçavam seus empregos. De fato,
quando a automação foi introduzida, houve um medo generalizado. Pensou-se que a substituição
dos operadores humanos por sistemas automatizados levaria a uma situação de grave desemprego.
Ainda hoje o tema é bastante polêmico. Basta surgir uma pequena crise econômica para que
ele volte à discussão. Durante a década de 1980, por exemplo, esse tema foi muito debatido. Nessa
época o mundo enfrentou uma recessão, que levou a uma onda de desemprego. Os críticos da
automação afirmavam que o aumento da automação industrial era a causa do crescimento do de-
semprego. Por outro lado, os defensores da automação afirmavam o contrário, ou seja, que o nível

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de emprego havia ampliado em virtude da automação e que isso tinha acontecido de forma invisível
nos últimos anos. O argumento deles era que os postos de trabalho em que ocorreram substituição
de trabalhadores humanos por máquinas, nos Estados Unidos, foi compensado por um aumento
maciço de empregos em áreas como a tecnologia da informação nesse mesmo período.
Alguns autores defendem que a automação gera a transformação de empregos. Ou seja, o
datilógrafo passa a ser digitador, o condutor de carroças passa a ser motorista de veículos motori-
zados e assim por diante.
Outros, que os empregos só estarão disponíveis para quem tiver alguma formação especial que
o qualifique para o trabalho. A premissa é que os trabalhadores menos qualificados são substituídos
por outros mais qualificados. Assim, os profissionais com maior nível de escolaridade teriam van-
tagem ao ocupar os postos de trabalho. De fato, o aumento da qualificação gera a oportunidade de
melhores cargos e salários. No entanto, isso não significa que só existam empregos aos profissionais
com maior nível de escolaridade. Na maioria das nações que possuem uma indústria desenvolvida
em automação, existem vagas tanto para os postos de trabalho mais qualificados quanto para os
menos qualificados. Aliás, chegou mesmo a faltar mão de obra não qualificada. Esse fenômeno foi
uma realidade no Japão em décadas passadas, quando houve importação de mão de obra não espe-
cializada vinda de vários países do mundo, incluindo o Brasil.
Inegavelmente a automação gerou mais conforto e comodidade para a maioria de nós, por
meio do terminal de autoatendimento bancário, do pagamento de contas pela internet, de equi-
pamentos domésticos, de carros etc. Tudo parece indicar que o nível de emprego está muito mais
relacionado às condições macroeconômicas do que ao nível de automação. Se as pessoas aumentam
sua renda, podem comprar mais e passam a consumir os mais diferentes produtos e serviços. A fim
de atender a essa demanda, as empresas precisam produzir mais e contratar mais, levando a um
círculo virtuoso. O fato concreto é que a automação cresce muito mais rapidamente que a população.
Se a automação fosse a maior causa de desemprego, certamente pouca gente estaria trabalhando
nos dias atuais. Aliás, as indústrias continuam contratando operários, vendedores, analistas, se-
cretárias, motoristas, seguranças e, claro, profissionais da automação: técnicos, tecnólogos, enge-
nheiros e outros.

Vamos recapitular?

Neste capítulo, vimos que os sistemas de controle automático fazem parte do nosso dia a dia, já
que a automação está presente em praticamente todas as atividades humanas. Aprendemos os tipos de
automação rígida, programável, flexível e integrada, sendo cada uma delas mais adequada para uma de-
terminada aplicação. Vimos também que a arquitetura dos sistemas de automação pode ser classificada
em várias camadas, sendo a mais baixa o chão de fábrica e a mais alta o sistema integrado de gestão da
empresa. Além disso, discutimos as vantagens e as desvantagens da automação, bem como sua relação
com o nível de emprego.

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Agora é com você!

1) Cite dois exemplos de controle automático e justifique por que eles são automáticos.
2) O que é automação?
3) A automação permite substituir o trabalho humano por:
a) animais;
b) escravos;
c) energia;
d) máquinas.
4) Uma das razões que levam as empresas a automatizarem seus processos é:
a) reduzir a produtividade;
b) aumentar os custos de produção;
c) reduzir a qualidade;
d) aumentar a eficiência.
5) Durante uma visita técnica a uma indústria, como você pode identificar o tipo de
automação que prevalece nela?
6) Para que tipo de fábrica você recomendaria a produção integrada por computador e
por quê?
7) Que tipo de automação você recomendaria para a fabricação:
a) de lâmpadas;
b) de vestuário;
c) de malharia;
d) de cimento;
e) gráfica;
f) de remédios;
g) de brinquedos.
8) A principal característica de um sistema de automação rígida é:
a) Alterar sua lógica de funcionamento é muito fácil e rápido.
b) É versátil, porque permite que as alterações sejam feitas via software.
c) É produzido para um propósito específico e não pode ser alterado facilmente.

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9) Os CLPs são dispositivos eletrônicos que:
a) São os mais utilizados para a automação rígida.
b) São os mais utilizados para a automação programável.
c) Só podem ser utilizados em indústrias multinacionais de grande porte.
10) Pode-se alterar a sequência lógica de operações executadas pelos CLPs, modificando-se:
a) fisicamente seus circuitos eletrônicos;
b) as conexões dos dispositivos ligados a ele;
c) seu software.
11) Qual a sua opinião sobre os efeitos da automação sobre o nível de emprego?

28 Elementos de Automação

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2
Sistemas de
Controle

Para começar

Este capítulo tem a finalidade de fornecer os conceitos básicos necessários para que o leitor
adquira a capacidade de interpretar e analisar malhas de sistemas de controle.
O objetivo principal é apresentar, de forma muito breve e resumida, os elementos básicos consti-
tuintes desse tipo de sistema, fornecendo uma visão geral de como os sensores, os controladores e os
atuadores estão inter-relacionados.
As informações apresentadas são a base necessária para entender os conceitos que serão apresen-
tados nos próximos capítulos.

2.1 Conceito
Para se trabalhar com automação, é necessário conhecer pelo menos alguns conceitos básicos
utilizados na área. O que é um sistema de controle, os principais tipos e o princípio de funciona-
mento são as principais questões a serem avaliadas.
Inicialmente gostaria de fazer uma ressalva e dizer que este é um texto introdutório e não
tem a pretensão de apresentar tudo o que há sobre o assunto, principalmente porque não é o foco
deste livro. A área de controle de processos é bastante extensa, e muito estudo é necessário para sua
completa compreensão. No decorrer do texto, serão vistos somente os elementos essenciais. Para se
conhecer mais sobre o assunto ou para um estudo mais aprofundado, sugerimos algumas referências
ao final do livro.

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As seções a seguir tentam responder as perguntas: O que é controle? Quais os tipos? Quais os
componentes básicos? Quando utilizar? Como funciona?

2.1.1 Controle manual


O controle manual caracteriza-se pela dependência das
ações realizadas por um ser humano. Vamos ilustrar com um
processo bastante comum: tomar banho com chuveiro elétrico,
na Figura 2.1.
Cada um tem sua preferência sobre qual deve ser a tem-
peratura ideal da água. Uns preferem a água mais quente que
outros. E como regulamos a temperatura do nosso banho?
Abrindo ou fechando a válvula de fluxo de água que vai para
o chuveiro. Esse é um exemplo de uma estratégia de controle, Figura 2.1 - Exemplo de controle manual.
chamado de “realimentado” ou em “malha fechada”, o qual
será estudado com maiores detalhes no decorrer deste capítulo. Por enquanto, devemos notar al-
gumas características desse tipo de controle. Primeiro, o ser humano define qual a temperatura
da água que deseja. Depois disso, atua sobre a válvula até que a temperatura fique próxima da
desejável. Para saber qual ação tomar (abrir ou fechar mais a válvula), o operador deve “sentir” a
temperatura de saída da água e comparar com a desejada. Portanto, esse tipo de controle depende
fundamentalmente da presença de três elementos: sensor, controlador e atuador. Nesse caso, o sen-
sor corresponde à temperatura sentida na pele; a função de controlador é executada pelas funções
cognitivas cerebrais, que decidem o que deve ser feito; os braços executam os comandos enviados
pelo cérebro para abrir ou fechar mais a válvula, agindo como atuadores.
De forma geral, a arquitetura desse tipo de controle é ilustrada na Figura 2.2.

Controlador

Sensor Atuador

Processo

Figura 2.2 - Arquitetura típica de um sistema de controle em malha fechada.

Outro exemplo é o controle de velocidade de um veículo. Imaginemos que um motorista


deseja viajar na velocidade máxima legalmente permitida em uma rodovia e o carro dele não dispõe

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de um controle automático de velocidade. A fim de manter relativamente constante a velocidade do
veículo, ele deve observar o valor dela no painel e usar o pedal de aceleração para controlá-la.
Podemos então definir o controle manual como aquele em que são utilizadas ações huma-
nas, para manter determinada grandeza física de um sistema o mais próximo possível de um prede-
terminado valor de referência.

2.1.2 Controle automático


Se o controle manual é caracterizado pelo uso das mãos, então quais serão as características
que definem um sistema de controle automático?
O termo automático deriva da palavra grega automatos, que significa agir por sua própria von-
tade. Tal termo é utilizado no intuito de designar elementos capazes de realizar ações predefinidas,
sem a necessidade da intervenção humana.
Esse conceito é bastante fácil de compreender, porque, em nosso dia a dia, utilizamos uma
grande quantidade de dispositivos automáticos. Um exemplo simples de controle automático é a
boia das caixas-d’água, ilustrada na Figura 2.3.

Nível baixo Nível alto

Água Água
proveniente proveniente
do hidrômetro do hidrômetro

Água para Água para


residência residência

Figura 2.3 - A boia representando um elemento de controle automático.

Seu princípio de funcionamento é simples. Quando se detecta que o nível está abaixo de certo
valor, uma válvula é aberta para permitir a entrada da água de uma fonte externa. Quando o nível
atinge o limite máximo, a válvula é fechada, a fim de evitar que a água transborde. Assim, a boia
provê um sistema de controle automático, capaz de manter o reservatório sempre abastecido, sem
que precisemos que nos preocupar com isso. Dessa maneira, é graças a um controle automático que,
quando precisamos de água, basta abrir a torneira.
Então, uma possível definição de automação é: executar as ações necessárias para que um
equipamento, uma máquina, um processo ou um sistema funcione de maneira autônoma ou com o
mínimo de intervenção humana.
Podemos então dizer que, quando instalamos uma boia, realizamos uma automação.
Embora um controle automático não precise ser necessariamente eletrônico, como visto no
exemplo anterior, ele o é na maioria das vezes. Isso porque os avanços da eletrônica e da computação
tornaram essas tecnologias mais poderosas e com um preço bastante acessível, o que viabilizou seu

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uso para a automação de sistemas dos mais diferentes tamanhos e complexidade. Tanto que, nos
dias atuais, estamos mais acostumados com os sistemas automatizados do que com os manuais.
Praticamente todos os equipamentos que estão ao nosso redor, como ar condicionado, geladeira,
carro, eletrodomésticos etc., possuem algum tipo de controle automático baseado na eletrônica.
Voltando ao nosso exemplo, como poderíamos cons-
truir um sistema de controle automático que controlasse a
Atuador Controlador Sensor
temperatura da água do chuveiro?
Bem, já aprendemos que para isso é necessário inse-
rir no sistema três elementos: sensor, controlador e atuador.
Mas como eles são interligados? A Figura 2.4 mostra uma
possível solução.
Vamos começar definindo um termo que será muito
utilizado: “variável”. Uma variável representa uma gran-
deza física (temperatura, pressão, velocidade, vazão etc.)
do sistema que se quer controlar e que pode ser alterada. A
temperatura do chuveiro do nosso exemplo é uma variável,
pois seu valor pode ser alterado. A vazão é outro exemplo,
pois pode ser controlada pela abertura ou pelo fechamento Figura 2.4 - Possível construção de
um sistema de controle automático
da válvula. Não se pode (nem se deseja) controlar uma
para o chuveiro elétrico.
grandeza física cujo valor é constante.

2.2 Malha fechada


Foi dito que o exemplo do controle da temperatura da água do chuveiro é um exemplo de
sistema de controle em malha fechada ou realimentado. Mas o que vem a ser isso?

2.2.1 Sistemas realimentados


Diz-se que um sistema de controle é realimentado ou opera em malha fechada quando o valor
da variável utilizada para controlar o sistema depende diretamente da medida de uma variável de
saída desse mesmo sistema. Assim, o valor da entrada é uma função da quantidade da saída, e este
é uma função do valor da entrada. Vamos dizer isso de maneira menos formal, porém mais fácil de
entender: vou abrir a válvula (controle da entrada do sistema) de acordo com a temperatura da água
que estou percebendo (saída do sistema).
Podemos ainda definir de outra forma: um sistema de controle é realimentado ou opera em
malha fechada quando a decisão de controle em determinado instante é influenciada pelo conheci-
mento do valor (ou estado atual) da variável que está sendo controlada naquele mesmo instante.
Os sensores são os elementos que tornam isso possível, porque têm a função de enviar ao con-
trolador o valor medido da variável de interesse.
Na Figura 2.5, pode ser vista uma maneira tradicional de se representar graficamente um
sistema realimentado. Esse diagrama será detalhado a seguir.

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Distúrbio
Variável controlada

Setpoint Diferença ou erro Variável manipulada

(+)
(+)
Ações de
Atuador Processo
controle (+)

(–)
Realimentação Somador

Sensor

Controlador

Figura 2.5 - Diagrama de um sistema de controle em malha fechada.

2.2.2 Processo
Esse termo é utilizado neste livro no intuito de designar o sistema que será objeto da ação do
sistema de controle, ou seja, aquilo que vai ser controlado.
A palavra processo pode designar indistintamente um processo químico, de manufatura, uma
máquina ou um equipamento ou mesmo uma fábrica inteira. Se o objeto de estudo for um processo
químico, estaremos normalmente interessados em controlar as variáveis típicas desse tipo de pro-
cesso, como temperatura, vazão, pressão e níveis de tanques.
Alguns autores utilizam, para essa mesma finalidade, o termo “planta”, que tem origem na
palavra inglesa plant, a qual também poderia ser traduzida como fábrica, indústria ou instalação
industrial. Trata-se de uma palavra amplamente utilizada na teoria de controle, porque os primeiros
sistemas tiveram origem nesses ambientes.

2.2.3 Setpoint
O objetivo principal de um sistema de controle automático é manter determinada grandeza
física dentro de uma faixa predeterminada de valores. O termo, de origem inglesa, setpoint corres-
ponde ao valor que um sistema de controle automático tentará manter para determinada variável.
O setpoint também é chamado de variável de referência ou ponto de operação desejado do sistema.
Quando programamos um sistema de ar condicionado para que a temperatura ambiente fique
em torno de 23 ºC, por exemplo, estamos informando ao sistema de controle que ele deve tomar

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as ações necessárias a fim de manter o ambiente nessa temperatura. Em outras palavras, estamos
definindo o setpoint de operação do ar condicionado.

2.2.4 Variável controlada


A variável controlada é aquela que o sistema de controle tenta manter constante. No nosso
exemplo, desejamos que a temperatura da água tenha determinado valor. Nesse caso, a variável
controlada é a temperatura.

2.2.5 Variável manipulada


A variável manipulada, também conhecida como variável de controle, é aquela sobre a qual o
controlador automático atua a fim de manter a variável controlada no valor desejado.
No exemplo do chuveiro elétrico, tentamos controlar a temperatura da água por meio da
variação de seu fluxo. Portanto, nesse caso, a vazão é a variável manipulada.
A variável manipulada está presente na entrada do processo e determina qual deve ser o tipo
do elemento final de controle.
Imaginemos o seguinte cenário: um controlador eletrônico é utilizado para monitorar a vazão
de determinada tubulação. O controlador envia uma corrente elétrica que pode variar de 4 mA (vál-
vula fechada) até 20 mA (válvula totalmente aberta), com possibilidade de enviar qualquer valor
entre esses limites. O objetivo é controlar a abertura da válvula que pode ser, em determinado ins-
tante, qualquer valor entre 0% e 100%. Porém, o elemento final de controle é uma válvula com atua-
dor pneumático. Então é instalado um conversor de corrente/pressão, o qual estabelece uma relação
tal que 4 mA de corrente equivale a 3 psi de pressão, e 20 mA, a 15 psi. Para controlar a abertura
da válvula, utilizamos corrente na saída do controlador e pressão na entrada da válvula. Qual é
a variável manipulada? Corrente ou pressão? Você acertou se disse que não é nenhuma das duas.
A variável manipulada é a vazão do fluido que passa através da válvula. Ela é de fato quem altera a
entrada do sistema que está sendo controlado.

2.2.6 Variável secundária


Com exceção das variáveis controlada e manipulada, todas as demais são consideradas variá-
veis secundárias.

2.2.7 Variável de carga


É aquela que, ao mudar de valor, pode afetar a medida da variável controlada. No nosso
exemplo, a temperatura inicial da água é uma variável de carga.

2.2.8 Distúrbio
Se uma variável de carga altera seu valor, ela gera um distúrbio. O controlador automático
deverá absorver a flutuação e manter a variável controlada no ponto de operação desejado.

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2.2.8.1 Distúrbio da alimentação
É uma mudança da quantidade de energia ou material na entrada do processo, que afeta a
variável controlada. No caso do chuveiro, isso ocorre se a água de entrada ficar mais fria.

2.2.8.2 Distúrbio de demanda


É uma mudança da quantidade de energia ou material na saída do processo, o que afeta a
variável controlada. É o que acontece, por exemplo, ao colocarmos um alimento quente na geladeira.

2.2.8.3 Distúrbio da variável de referência


Quando alteramos o valor de referência desejado, o sistema tem de tomar as ações necessárias
para atingir esse novo ponto de operação.

2.2.9 Ações de controle


O controlador toma decisões com base em duas informações: o valor desejado (setpoint) e o
da variável controlada naquele instante. Ele faz uma subtração desses dois valores e utiliza a eventual
diferença para tomar as ações necessárias, a fim de que a variável controlada volte para o valor dese-
jado. Se não houver diferença, é porque o valor da variável controlada é igual ao valor de referência e
não é necessário realizar qualquer ação.

2.3 Malha aberta


O controle em malha aberta tem por característica não utilizar medições da variável con-
trolada do sistema. Espera-se que as operações realizadas sejam sempre suficientes para produzir
o resultado esperado. Um exemplo desse tipo de controle é a máquina automática de lavar roupas. O
produto desejado é a roupa limpa ao final do processo. Roupa limpa é um critério, até certo ponto,
subjetivo. Implementar um sistema em malha fechada, a fim de testar se a roupa está limpa, não deve
ser nada fácil. Os fabricantes desse tipo de máquina realizam uma série de experiências, visando
determinar quais parâmetros são adequados para que a roupa saia limpa ao final do processo.
Quanto tempo de agitação e molho a roupa deve ter, quantas vezes a operação deve ser repetida,
qual a quantidade de sabão e de água e assim por diante.
Essas máquinas normalmente possuem botões ou um painel de controle que permitem
ao usuário ajustar alguns desses parâmetros, conforme sua preferência. Se os ajustes foram corre-
tamente programados, espera-se que a roupa saia limpa.
Isso mostra que é possível obter resultados desejados e conseguir bons resultados, utilizando-se
um sistema de controle em malha aberta.

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2.4 Tipos de processo industrial
Um processo típico é mostrado na Figura 2.6.

Energia, operações

Matérias-primas
(insumos) Produtos
Processo

Entrada Saída

Figura 2.6 - Estrutura típica de um processo industrial genérico.

Do ponto de vista dos sistemas industriais, o processo é aquele em que as matérias-primas se


juntam e sofrem as transformações necessárias para gerar o produto desejado. Para que isso seja pos-
sível, o processo precisa receber energia e passar por várias etapas. Em cada uma delas, pode ocorrer
uma reação química, uma operação mecânica (unir diferentes peças com parafusos, rebites ou sol-
dagem, por exemplo) ou qualquer outra operação que transforme as matérias-primas recebidas na
entrada em produtos finais que serão obtidos na saída.
Na maioria das vezes, existem processos dentro de processos. Por exemplo, uma fábrica de sabão
pode ser considerada um processo, porque recebe insumos na sua entrada e entrega o sabão pronto.
Porém, dentro da fábrica, é muito provável que existam vários processos, um para dosagem e con-
trole de matérias-primas, outro para embalar o produto final e assim por diante. Normalmente dife-
rentes variáveis devem ser controladas, como temperatura e nível de tanque, ou seja, existem várias
malhas de controle, e cada uma destas pode ser considerada um processo.
Sob o ponto de vista do tempo e do tipo de operação envolvido, o processo pode ser classi-
ficado em contínuo, batelada, discreto e de manufatura.

2.4.1 Processo contínuo


O processo é contínuo quando as mesmas matérias-primas entram continuamente nele e o pro-
duto final que sai é sempre o mesmo. A maioria das indústrias químicas, siderúrgicas e de petróleo e
seus derivados normalmente possui vários processos contínuos.
Existem muitas formas de se fazer o controle desses processos, os quais normalmente são os
mais complexos de se projetar. A estratégia mais utilizada na indústria é baseada em sistema em
malha fechada, cujas ações de controle são fundamentadas na diferença entre o valor do setpoint
e da variável controlada, também conhecida como sinal de erro. O valor do sinal de controle a ser
enviado para a variável manipulada é obtido por meio de operações matemáticas de proporção,
integração e derivação do sinal de erro. Esse tipo de controle é conhecido como proporcional,
integral e derivativo (PID).

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2.4.2 Processo em batelada (batch)
Consiste na produção de um lote de determinado produto. Por exemplo, uma empresa pode
fabricar diversos produtos diferentes e utilizar a mesma linha de produção. Esse tipo de processo é
comum nas fábricas de doces. As balas produzidas devem ter vários sabores. Então, são produzidos
vários lotes separados, um para cada sabor. Cada ciclo do processo de batelada pode ser considerado
um processo contínuo. A diferença é que deve ser parado e reconfigurado toda vez que se vai pro-
duzir um novo lote. Outra característica é que o tempo envolvido deve ser relativamente pequeno,
medido em minutos ou horas.
Preparar um bolo em casa pode ser considerado um processo em batelada. Utilizamos a mesma
fôrma e o mesmo forno para prepará-lo, porém os ingredientes e a receita nem sempre serão os
mesmos. Quem está preparando o bolo tem normalmente de realizar as operações de controle do pro-
cesso: ligar o forno, estabelecer a temperatura desejada (setpoint) e determinar o tempo máximo que o
bolo deve permanecer no forno. Em geral também precisa monitorar o processo, no intuito de verificar
se está correndo tudo bem: observar a cor do bolo, tocar, degustar, sentir o cheiro e tomar as ações
que eventualmente sejam necessárias para corrigir alguma desconformidade. Os conceitos de controle
de processo estão presentes em todas as fases, desde a entrada de matérias-primas, a combinação na
proporção correta definida na receita, as operações de mistura, a aplicação de energia térmica para
realizar a transformação, o estabelecimento do setpoint do forno, a inspeção de qualidade do que está
sendo produzido, até, finalmente, o produto esperado ser obtido na saída do processo - o bolo pronto.
Bem, se preparamos um bolo para nosso consumo é aceitável que esse controle seja manual.
No entanto, para uma indústria de bolos, seria desejável algum tipo de controle automático. Poderia
ser manual, muitas fábricas trabalham assim, mas a qualidade do produto final é diretamente
dependente da capacidade e da responsabilidade individual das pessoas encarregadas por controlar o
processo, o que pode não ser desejável para uma produção em grande escala.

2.4.3 Processo discreto


O processo discreto é composto normalmente por uma sequência de operações liga-desliga.
É baseado na lógica binária, em que os estados de um equipamento ou instrumento só podem
assumir uma das duas situações: ligado ou desligado. Um sistema binário é caracterizado pela exis-
tência de apenas dois estados complementares. São exemplos: motor ligado/desligado, lâmpada
acesa/apagada, válvula totalmente aberta/fechada, pistão hidráulico atuado/em repouso. Esse tipo de
sistema é chamado de processo discreto, e o controle lógico é feito utilizando-se a teoria da lógica
binária combinacional e sequencial.

2.4.4 Processo de manufatura


A indústria automobilística é um exemplo de indústria desse tipo. Ela recebe sua matéria-
-prima sob a forma de componentes individuais de diversos fornecedores. Por exemplo: pneus, aro
da roda, fios e cabos, motor, bancos, sistema de freios etc. Seu processo consiste em uma série de
operações que visam integrar todos esses componentes, de forma que se obtenha um veículo como
produto final do processo. Trata-se de um ambiente bastante propício para a utilização de robôs
industriais, já que as operações são sempre da mesma maneira.

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2.5 Elementos de automação
O exemplo do chuveiro serviu para ilustrar os conceitos básicos utilizados nos sistemas de
controle. A boa notícia é que esses conceitos podem ser aplicados à grande maioria dos sistemas
de controles contínuos utilizados na indústria.
Já vimos que os elementos básicos de um sistema de controle são os sensores, os controladores
e os atuadores. Cada um desses será visto em detalhes nos próximos capítulos. Por enquanto vamos
apresentar cada um, de maneira breve, a fim de se ter uma visão geral.

2.5.1 Sensores
Os sensores são elementos que enviam ao controlador as informações sobre o sistema. Basica-
mente podem indicar os valores das grandezas físicas do processo, como temperatura, pressão, nível,
velocidade de motores e estados de chaves e botoeiras (acionados/pressionados) utilizados para
enviar comandos de liga/desliga.
Os sensores correspondem aos elementos ligados aos circuitos de entrada do controlador.
Dessa forma, podemos definir que eles compõem o sistema que está sendo controlado e
têm a função de enviar algum tipo de sinal necessário para o controlador tomar as decisões.
Normalmente este vai atuar sobre algum elemento do processo, a fim de manter uma de suas va-
riáveis dentro de uma faixa de valores predeterminada. Alguns exemplos de elementos sensores
podem ser vistos na Figura 2.7.
Oleksandr Lysenko/Shutterstock.com

Evgeny Korshenkov/Shutterstock.com

Figura 2.7 - Exemplos de sensores.

2.5.2 Atuadores
Quando o controlador detecta, por meio dos sensores, que alguma correção é necessária no pro-
cesso, ele atua sobre o sistema, enviando um comando para ligar ou desligar algum dispositivo cuja
finalidade é modificar alguma variável do processo. Esses dispositivos são chamados genericamente
de atuadores. Esse nome é dado para os elementos que atuam sobre o processo, ou seja, que são os
responsáveis por transferir alguma forma de energia. Os atuadores podem ser elétricos (motores,
resistências elétricas e solenoides), hidráulicos (válvulas, motor e pistão hidráulico), pneumáticos
(cilindros pneumáticos) ou, ainda, uma combinação de todos. Veja exemplos na Figura 2.8.

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Oleksandr Lysenko/Shutterstock.com

Petar Ivanov Ishmiriev/Shutterstock.com


Voyagerix/Shutterstock.com

Nick_Nick/Shutterstock.com
Figura 2.8 - Exemplos de atuadores.

2.5.3 Controladores
O controlador é o elemento responsável por tomar as ações necessárias, no intuito de manter
o sistema funcionando corretamente. A decisão de quando acionar algum atuador é baseada na in-
formação recebida dos sensores, no estado do processo e em suas regras específicas. Essa lógica pode
ser implementada de várias formas, dependendo do controlador utilizado. Ela pode ser descrita, por
exemplo, por meio de instruções do programa inserido em sua memória, no caso de se estar uti-
lizando controladores eletrônicos baseados em microprocessadores. Um exemplo de controlador
pode ser visto na Figura 2.9.
emel82/Shutterstock.com

Figura 2.9 - Exemplo de um controlador lógico programável (CLP).

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Vamos recapitular?

Neste capítulo, vimos que um sistema de controle pode ser automático ou manual e que seu
objetivo é manter uma variável de interesse próximo de certo valor. Aprendemos que um sistema de con-
trole típico em malha fechada é composto por controladores, atuadores e sensores. Notamos diversos
tipos de processo, como contínuos, discretos e em lote, e que um controle pode ser construído em malha
aberta ou fechada.

Agora é com você!

1) O que é um controle manual?


2) Qual o principal objetivo de um controle automático?
3) Um controlador automático pode ser construído sem se utilizar a eletrônica ou com-
putadores?
4) O que caracteriza um sistema de controle em malha fechada? Cite um exemplo.
5) Como é chamada a variável que deve ser mantida o mais próximo possível de um
valor de referência?
6) Descreva o que são variáveis manipuladas e controladas de um processo. Elas podem
ser a mesma?
7) O que é e para que serve o setpoint?
8) Um compressor de ar utiliza um pressostato para desligar o motor quando a
pressão do ar atinge um determinado valor? Qual é a variável manipulada? Qual é
a controlada?
9) O que significa o termo processo?
10) Qual a função de um controlador?
11) Qual a função de um atuador?
12) Qual a função de um sensor?
13) Desenhe um diagrama de um sistema de controle em malha fechada.
14) O que é um distúrbio no contexto do controle de processos?
15) O que caracteriza um distúrbio da alimentação?
16) O que é um distúrbio da demanda?

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