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Projeto de Concepção de um Navio Polar

E. V IEIRA , G. F REIRE , P. H AMASAKI

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP)

Departamento de Engenharia Naval e Oceânica

Resumo. Este é um artigo-resumo do Trabalho de Formatura apresentado ao Curso de Engenharia Naval


e Oceânica da Escola Politécnica da USP, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de
Engenheiro Naval. Trata-se de um projeto de concepção de um navio polar, cuja principal missão é prover
apoio logístico à Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), bem como às pesquisas desenvolvidas na
região Antártica. O texto contempla as etapas de uma volta na espiral de projeto (dimensionamento inicial,
arranjo, formas do casco, análise de estabilidade, comportamento no mar, resistência ao avanço, integração
casco-hélice, planta propulsora e análise estrutural),apresentando as principais características,dificuldades
e soluções encontradas. Por fim, são tecidos breves comentários sobre os requisitos de projeto, visando a
otimizar as próximas iterações do ciclo de projeto e a convergir para uma solução ideal.

Palavras-chaves: Navio, quebra-gelo, Antártica, Polar

Abstract. This is an abstract article presented at the Naval and Oceanic Engineering Course of the USP
Polytechnic School, as part of the necessary requirements for the title of Naval Engineer. It presents the
design project of a polar ship, able to navigate through ice covered waters. The vessel’s main mission is to
provide logistic support to the Brazilian Antarctic Station (EACF) and all research activities which are done
in the specified region. The text discusses each stage of the design spiral( main dimensions, arrangement,
weights and centers, hull formats, stability analysis, seakeeping, ship resistance, propeller hull interaction,
powering and structure), showing the major feature, the hindrances and the solutions found. Finally, brief
comments on design requirements are provided to optimize future design cycle iterations and convergence
to an ideal solution.

Keywords: Ship, icebreaker, Antartica, Polar

1 INTRODUÇÃO Naval (DEN) da MB.


Em Dezembro de 1959 foi assinado o Tratado da An-
tártica (TA). Os países que reclamavam posse de partes 2 REQUISITOS DE PROJETO
territoriais do continente gelado reconheceram que a An-
tártica deveria ser utilizada apenas para fins pacíficos, li- O Programa de Obtenção de Meios Hidroceanográfi-
mitando o uso na região de forças militares e seus recur- cos (PROHIDRO) prevê a construção ou obtenção de um
sos para fins não-bélicos. Navio de Apoio Oceanográfico em substituição ao Na-
Neste contexto, percebendo a importância do tema, vio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel, cuja missão é
o governo brasileiro aderiu ao TA em 1975 e passou a realizar apoio logístico a Estação Antártica Comandante
enviar oficiais da Marinha Brasileira como observadores Ferraz (EACF) e às atividades de pesquisa.
convidados do programa antártico britânico. Neste âmbito, o RANS sugere que o novo meio seja
Em 1982 foi criado o PROANTAR (Programa Antár- classificado como um Navio de Apoio Antártico (NAA) e
tico Brasileiro), um programa interministerial composto que este seja equipado com mais modernos equipamentos
pela Força Aérea Brasileira (FAB), Ministério de Minas de hidroceanografia, funcionando como um laboratório
e Energia, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e embarcado.
Comunicações, Ministério das Relações Exteriores e Mi- No tocante às principais características da embarca-
nistério do Meio Ambiente e coordenado pela Marinha ção, pode-se citar
do Brasil(MB). Além disso, o navio deve ser capaz de navegar em
Dessa maneira, a razão de ser do navio abordado neste campos de gelo fragmentado com até 0,8m de espes-
artigo é, justamente, o PROANTAR e a sua importância, sura, navegando a 5 nós e, se possível, quebrar campos
uma vez que os Requisitos de Alto Níveis de Sistemas de gelo compacto de até 1m de espessura, sendo proje-
(RANS) foram elaborados pela Diretoria de Engenharia tado conforme regras da Sociedade Classificadora (SC)
1
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

Tabela 1: Principais requisitos de projeto 2016b): os grupo de peso contidos em (PARSONS,


2004), definindo assim o Ship Work Breakdown Struc-
LOA > 70m
ture (SWBS); e a margem de crescimento fornecida por
B > 10 m
(WATSON, 1998), para o qual foi possível estimar o
T < 9, 5 m acréscimo de peso leve do navio para 30 anos de ciclo
∆ > 4500 ton operativo.
V M M > 16 nós De acordo com (GALE, 2004), as Formas do Casco
V EC > 13 nós não representa uma etapa isolada da espiral de projeto,
porém, pelas especificidades de forma de um casco em-
pregado para navegação em gelo, foi necessário estudá-
Det Norske Vertias Germanischer Lloyd.
las separadamente. Basou-se nas formas da proa e popa
No tocante a sua capacidade operativa, a embarcação
dos modelos descritos por (VEITCH et al., 2004) mais
deve operar com aeronaves de até 15 toneladas, com han-
eficientes no processo de quebrar gelo. Adicionalmente,
gar para aeronaves de até 10 toneladas,possuir paiol de
foram observadas as características comuns de navios se-
carga com capacidade mínima de 2000 m3 e guindaste
melhantes e de projetos patenteados de proa de (LINDQ-
com capacidade de 20 toneladas, além das instalações la-
VIST, 1988), (LILJESTROM; JOHANSSON, 1989) e
boratoriais e equipamentos para pesquisa.
(JOHANSSON; KEINONEN; MAKINEN, 1982) na ela-
boração de um casco próprio para este projeto.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para as Análises de Estabilidade foram aplicados os
O projeto de um navio é extremamente complexo e critérios da Defense Standard 02-900 part 4 (DEFENCE,
interdisciplinar, tendo a Espiral de Evans como meto- 2014), com auxílio das orientações contidas na MAP 01-
dologia mais consolidada. Com base nesta, este projeto 024 part 1 (DEFENCE, 2010). Durante a investigação
de concepção foi desenvolvido observando nove grandes de equilíbrio, os conceitos utilizados foram extraídos de
áreas, conforme discriminado abaixo: (BIRAN; PULIDO, 2013) e (MOLLAND, 2011). Du-
rante a investigação de estabilidade intacta, questiona-
• Dimensionamento Inicial; mentos a respeito do cálculo de momento de inclinação
devido ao vento foram mitigado pelo trabalho de (SAR-
• Arranjo de Pesos e Centros;
CHIN; GOLDBERG, 1962). Para investigação de esta-
• Formas do Casco; bilidade avariada, além dos critérios presentes na norma
(DEFENCE, 2014), as definições de dimensão de avaria e
• Análises de Estabilidade; casos de avaria foram complementadas pelas orientações
preconizado em POLAR CODE (IMO, 2015) e MAR-
• Comportamento no Mar; POL (IMO, 1974), e conceitos presentes em (NICKUM,
• Resistência ao avanço; 1988).
Em se tratando de Comportamento no Mar (Sea-
• Integração casco-hélice; keeping), foi realizado um estudo em (LEWIS, 1989) e
(LLOYD, 1989) sobre a dinâmica do navio, a partir da Te-
• Planta Propulsora; oria de Faixas e Teoria Linear de jogo (roll), passando por
• Análise Estrutural; conceitos de RAO, espectro de mar e cruzamento espec-
tral para posterior comparação com os requisitos mínimos
Por conseguinte, cada uma dessas é desenvolvida a previstos nas normas (OTAN, 2000). Vale ressaltar que os
partir de vasta pesquisa na literatura disponível. cálculos aqui realizados consideraram mares unidirecio-
Durante a etapa de Dimensionamento Inicial, nais (long crested) e águas profundas(short waves).
utilizou-se o método descrito no Procedure Book (UCL, Na estimativa de Resistência ao Avanço, a funda-
2016b), o qual, de forma geral, é um dimensionamento mentação teórica foi dividida para os dois tipos de nave-
com base em pesos e volumes, tendo sido demostrado gação, com presença de gelo e sem. O método proposto
em outras referências anteriores como (WATSON, 1998) por (HOLTROP; MENNEN, 1984) foi utilizado para na-
e (SCHNEEKLUTH; BERTRAM, 2013). A vantagem vegação em mar aberto e para condições operacionais em
decorrente do emprego do método escolhido foi a co- presença de gelo foram considerados os fenômenos físi-
leta de dados por meio de regressões fornecida por Data cos descrito por (ENKVIST, 1972) e o modelo matemá-
Book (UCL, 2016a). Essas regressões fornecem valores tico elaborado por (LEWIS; EDWARDS, 1970). As ca-
de peso e volume atualizados para cada um dos sistemas racterísticas mecânicas do gelo foram obtidas através do
a bordo do navio e permitem um expedito dimensiona- resultado de ensaios publicados em (TIMCO; O’BRIEN,
mento inicial. 1994).
Durante a etapa de Arranjo de Pesos e Centros, O processo de Integração Casco-Hélice manteve co-
empregou-se, concomitantemente, ao método de (UCL, erência com a estimativa de resistência ao avanço e utili-
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PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

zou os coeficientes de esteira e redução de força propul- Tabela 2: Definição de pesos, volumes e áreas dos itens do Payloads
sora propostos por (HOLTROP; MENNEN, 1984) e as
Peso Volume Área
análises adimensionais foram realizadas com auxílio dos Payload
(ton) (m3) (m2)
diagramas de hélice série B, disponíveis por (BERNIT-
SAS; RAY; KINLEY, 1981). Carga Transportada 1 403,2 604,8 224
A Planta Propulsora Diesel-Elétrica foi projetada e Carga Transportada 2 477,9 716,8 224
dimensionada para atender a demanda de potência de to- Carga Transportada 3 460,8 691,2 216
das as condições de operação do navio. Para obter tal Laboratórios 24,3 364,5 135
resultado, a concepção foi feita de acordo com (MAN, Paiol de Hidrografia 21 40,5 15
2016), o estudo sobre os tipos de motores elétricos uti- 4 Canhões de calibre
2,28 334,8 78,5
lizados na industria naval foi feito com base em (DO- pequeno
ORDUIN et al., ), características especiais do hélice em Aeronave e Hangar 10 854 124
operação no gelo foram obtidas de (RISKA, 2011) e os Total 1399,4 3606,6 1016,5
componentes foram selecionados através de catálogos.
Para definição de escantilhões e carregamentos, foram
utilizadas as normas da Det Norske Veritas Germanischer Conhecida a estimativa inicial para o volume total e
Lloyd(DNVGL, 2018), conforme definido no RANS.A fi- deslocamento total, obtiveram-se os valores requerido de
losofia do projeto foi desenvolvida a partir de pesquisa volume (Vreq ) e peso (W ) para acondicionar todos os
na literatura específica sobre construção naval (SHAMA, itens necessários para o navio juntamente com o payload.
2013). O requisito de operar em águas antárticas (pos- Para isso, o navio foi dividido em grupos de peso e vo-
sivelmente quebrando gelo) orientou o projeto estrutural. lume utilizando o SWBS de (PARSONS, 2004), a saber
Cabe destacar que a experiência de outros países no Ár- foram: 1. Casco; 2. Pessoal; 3. Sistema do navio; 4. Pro-
tico é extremamente válida e, inclusive, amplamente di- pulsão; 5. Eletricidade; Payload; e Variáveis (combustí-
fundida na literatura. vel e consumiveis). Em seguida, fez-se uso das regres-
sões contidas em Ship Design Data Book (UCL, 2016a)
para calcular o peso e volume de cada item parametrizado
4 PROJETO DE CONCEPÇÃO
em função da estimativa inicial do volume total anterior-
Segundo a Carta de Serviços (CPN, 2018) do Cen- mente. Repetiu-se o processo iterativo até a convergência
tro de Projetos de Navios (CPN) da MB,o projeto básico dos valores estimados e requeridos de peso e volume, isto
do navio é divido em três fases: concepção, preliminar e é:
contrato.
A fase de concepção tem por objetivo propor uma em- V > Vreq (1)
barcação que convirja com os requisitos propostos. O
produto desta fase é primeira estimativa de navio, com di-
mensões principais e coeficientes, considerando os prin- W =∆ (2)
cipais grupos de volume e peso embarcados.
Após conhecido o valor de V e, por decorrência, ∇,
4.1 Dimensionamento Inicial iniciou-se o cálculo das dimensões principais e parâme-
Iniciou-se o dimensionamento pela caracterização dos tros de formas que correspondem a esse volume. Para
elementos que compõe o Payload do navio. Estabeleci- isso, o método emprega o Major Parametric Survey, no
dos pelo RANS, os elementos foram expressos em função qual foram utilizadas as seguintes formulações paramé-
de seu peso, volume e área, utilizando as regressões for- tricas:
necidas por (UCL, 2016a) quando necessário. A tabela 2
apresenta esses valores. V = Vs + Vm (3)
A partir da obtenção do volume do payload iniciou-
se o método iterativo de dimensionamento descrito pela Vs
Ship Design Procedure Book. Baseado no volume reque- vs = (4)
V
rido de payload estimou-se o volume total do navio (V),
por meio da determinação iterativa de um valor para a ∇
fração de volume ocupado pelo payload (PVF) em rela- ρm = (5)
Vm
ção ao volume total. Na sequência, estimou-se o volume
deslocado (∇) por meio da multiplicação do volume total ρ
ρm = (6)
pela densidade total do casco (ρ), valor determinado ite- (1 − vs )
rativamente. O valor do deslocamento total do navio (∆)
   −1
foi estimado pela multiplicação do volume deslocado (∇) Cb 1
pela densidade da água. T = · −1 +1 ·D (7)
Cw ρm
3
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

Em seguida foi investigada a influência dos termos in-


Cb = 0, 68 (8) dependentes D e vs e definiu-se critérios para selecioná-
los. Na figura 1, os eixos representam possíveis valo-
res de D e L resultante, para cada valor de vs = 0, 30,
Cw = 0, 262 + 0, 810 · Cp (9)
vs = 0, 35, vs = 0, 40 e vs = 0, 45. Em (UCL,
2016b), complementado por (SCHNEEKLUTH; BER-
−1
Cp = Cb · Cm (10) TRAM, 2013), recomenda-se a região viável para o pro-
jeto delimitada por:
Cm = 0, 977 + 0, 085 · (Cb − 0, 60) (11) L
CircM = 1 >5 (20)
∆3
GMrequerido = KB + BM − KG = 1 (12)
L
9< < 14 (21)

5 Cb
 D
KB = − ·T (13) Essa região é representada na figura 1 pelo contorno
6 3Cw
de linha preta tracejada. A partir de diversas combina-
CIt · (B/T )2
 
BM = ·T (14) ções de D e vs viáveis, elaborou-se o critério racional que
12Cb determinou o ponto de projeto. Encontrou-se a relação
3
comum entre os navios semelhantes: L/B. Em (VEITCH
6 · Cw et al., 2004), L/B é mencionado como parâmetro signifi-
CIt = (15)
(2Cw + 1)(Cw + 1) cativo para um navio icebreaker, pois, pela característica
da sua missão, a tendência é que os navios sejam mais
KG = (0, 455 + 0, 18 · vs + 1, 29 · vs2 ) · D (16) curtos e largos com o propósito de ter uma boa manobra-
bilidade em campos de gelo e prover larga passagem para
outros navios. Para navios em que a missão consiste ex-
BM = 1 + KG − KB (17) clusivamente em quebrar gelo, a razão L/B aproxima-se
de 4,0; e para navios que quebrar gelo seja uma caracte-
rística, mas não sua missão fim, essa razão tende a valores
r
BM · 12Cb próximos de 6,0. Conforme figura 2, definiu-se o valor de
B = ·T (18) referência de L/B sendo aquele de maior frequência:
CIt · T
∇ L
L = (19) = 5, 0 (22)
B · T · Cb B
A equação 4 define o parâmetro fração de volume da Observou-se os pontos correspondentes a L/B = 5,0
superestrutura (vs ) como a razão entre o volume da supe- sobre cada curva de valores de vs e selecionou-se aquele
restrutura e o volume total. A equação 5 define densidade que mais se aproximasse da região viável e fosse ade-
do casco (ρm ) com a razão entre o volume deslocado e o quado considerando a intenção de arranjo.
volume interno ao casco; e 6, relaciona ρm com a fração Ao final da aplicação do método chegou-se aos resul-
de superestrutura do casco e densidade total, calculada tados apresentados nas tabelas 3, 4 e 5:
anteriormente. A equação 7, parametriza o calado em
Tabela 3: Comparação entre valores estimados e requerido de volume
função vs e do pontal D. Equação 8, corresponde a média e peso
do valores de coeficiente de bloco entre navios semelhan-
tes. Equações 9 e 11, são relações retiradas de (PAR- Comparação Valores Unidade
SONS, 2004) devido a inexistência de valores de referên- Volume Estimado 12479,58 m3
cia em (UCL, 2016a) e (UCL, 2016b), porém sem pre- Deslocamento
juízo à integralidade do método. Em 12 é assumido, de 5240,67 ton
Estimado
acordo com a método, que a altura metacêntrica requerida Volume Requerido 12474,14 m3
é 1 metro. As equações 13 e 14 são as fórmulas de Mor- Deslocamento
rish. Em 15, define-se o valor do coeficiente de inércia 5238,28 ton
Requerido
transversal do plano da linha d’água (CIt ). A equação 16
é uma expressão empírica fornecida por (UCL, 2016b).
Equação 14 é decorrente de 12. Equação 18 parametriza
4.2 Arranjo de Pesos e Centros
a boca B, implicitamente, em função de D e vs . Equa-
ção 19 parametriza o comprimento L implicitamente em Esta fase beneficiou-se do fato do método o qual foi
função de D e vs . realizado o dimensionamento. Todo os pesos e volumes
4
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

Figura 1: Seleção dos valores de D e vs no interior da região viável Tabela 4: Dimensões principais e parâmetros utilizados

Dimensões Principais Valores Unidades


LWL 82,0 metros
LOA 87,0 metros
LBP 79,5 metros
B 15,5 metros
T 5,8 metros
D 8 metros
Deslocamento 5214,5 toneladas
Deslocamento
5087,3 m3
Volumétrico (∇)
Net volume (∇n ) 9702,7 m3
Gross volume (∇g ou V) 12479,5 m3
Fração de Volume
0,2890
de Payload (PVF)
Superstructure VF (vs ) 0,40
Fonte: Autores (2019). Densidade overall (ρ) 0,419
Densidade casco (ρm ) 0,6983 ton/m3
Figura 2: Histograma de valore de L/B para navios semelhantes Densidade água 1,025 ton/m3

Tabela 5: Parâmetros de forma do casco

Coeficientes de forma
Cb 0,68
CP 0,71
CSM 0,98
CPV 0,71
CWP 0,84

Tabela 6: Margens de Projeto

Grupo de peso Peso Volume


1. Casco 5% 0
2. Pessoal 0 5%
Fonte: Autores (2019). 3. Sistemas do navio 5% 2%
4. Propulsão 4% 0
5. Eletricidade 5% 0
já haviam sido calculados para compor o peso e volume
requerido do navio. Então, foram adicionadas as margens 6. Payload 7% 10%
de peso e volume que, de acordo com (WATSON, 1998), 7. Variáveis 4% 4%
têm a finalidade de abranger a incertezas relacionadas a
Tabela 7: Margem de Bordo
precisão e aplicabilidade das estimativas que são aceitas
nas fases conceitual do projeto. Assim como, permitir Item de Payload Peso Área
que adições futuras de itens de Payload pelo proprietário
Carga transportada 2% 5%
e o aumento de peso devido a itens de conforto trazidos
pela futura tripulação que operará o navio. As seguintes Tabela 8: Margem de crescimento (peso leve)
margens foram empregadas: Margem de projeto e Mar-
gem de Bordo, ambas definidas por (UCL, 2016b), ver Item Peso Volume
tabelas 6 e 7; e Margem de Crescimento para 30 anos, Peso leve 15% 0
definida por (WATSON, 1998), ver tabela 8.
Com base nos valores calculados das margens expres-
sas acima, foi possível chegar a distribuição final de peso de peso e volume dos itens acondicionados às curvas do
e volumes por grupos de peso, expresso pela tabela 9. Na casco escolhido, distribuídos de forma a compor um ar-
sequência é apresentado a distribuição final de peso por ranjo funcional.
grupo de interesse para o projeto do navio, tabela 10. Esta A proposta de arranjo resultante para o projeto dis-
distribuição é resultado do refinamento das informações pões os espaços em 8 conveses, por questão de simpli-
5
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

Tabela 9: Distribuição de pesos e volume por grupos Figura 3: Plano de corte dos conveses

Peso Volume
Grupo de peso
(ton) (m3)
1. Casco 893,02 2706,57
2. Pessoal 175,56 3093,24
3. Sistema do navio 219,00 279,35
4. Propulsão 364,00 648,00
Fonte: Autores (2019).
5. Eletricidade 375,16 173,11
6. Payload 1390,91 3575,00 Figura 4: Arranjo esquemático dos conveses
7. Variáveis 1520,38 1998,86
Margem de Crescimento
304,0 0
(peso leve)
Total 5242,03 12474,14

Tabela 10: Distribuição de peso do navio por itens de interesse

Item de interesse Peso (ton)


Peso leve 2330,7
Baterias 288,0
Grupo Gerador 307,5
Grupos Propulsor 458,2
Payload 1497,4
Carga Transportada 1435,8
Variáveis 1520,4 Fonte: Autores (2019).
Aguada 266,0
Óleo Combustível 1071,0 Figura 5: Arranjo esquemático em perfil
Total 5214,5

cidade, numerados sequencialmente a partir do teto do


duplo-fundo até o passadiço. O convés 1 é ocupado pre-
dominantemente pelo maquinário dividindo os espaços
restantes com tanques e alguns sistemas auxiliares. O
Convés 2 abriga a continuação dos tanques de combus- Fonte: Autores (2019).
tíveis, tanque de esgoto do navio, tanque de expansão do
grupo de tanques de óleo combustível compensado, e de-
mais sistemas auxiliares. 4.3 Formas do Casco
O convés 3, a ré, tem acesso ao grupo propulsor e De acordo com Veitch et al. (2004), o design do casco
diversos paióis e oficinas, e onde está localizado o CCM; de um navio empregado na navegação em regiões polares
a meia-nau acomoda parte da carga transporta; a vante, é orientado pela solução de compromisso entre a forma
possui parte das acomodações da tripulação e cozinha. de casco que permite quebrar gelo de modo eficiente e a
O convés 4 é o convés principal, onde estão localizados que possui característica hidrodinâmicas com valores de
os laboratórios de pesquisas, parte do volume de carga resistência ao avanço aceitáveis.
e acomodações de parte da tripulação, e o restante dos A despeito de extensa revisão sistemática, não foram
paióis, a vante. encontrados na literatura séries sistemáticas de casco para
O convés 5 é o primeiro convés da superestrutura onde esse fim. Portanto, obteve-se a solução para o casco uti-
estão localizados o convôo e o hangar, a ré, a escotilha lizado nesse projeto pela confecção de um casco pró-
para o porão de carga e o guindaste de 20 ton, a meio na- prio orientado por (VEITCH et al., 2004) e (RISKA,
vio, e acomodações da tripulação, a vante. O Convés 6 é 2011). Observado as características comuns entre na-
formado pelas superestruturas do hangar e da proa onde vios semelhantes que possuem a propriedade de casco
são acomodados os oficiais. O convés 7 acomodam os quebra-gelo. E, de forma complementar, formas paten-
pesquisadores e oficiais superiores, incluindo o Coman- teadas de proa como de (LINDQVIST, 1988), (LILJES-
dante e o Imediato. O convés 8 é o convés do passadiço, TROM; JOHANSSON, 1989) e (JOHANSSON; KEI-
sala de navegação e estação rádio. As figuras 3, 4 e 5 NONEN; MAKINEN, 1982) foram utilizadas no deline-
exibem esse arranjo. amento de alguns parâmetros.
6
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

O casco resultante manteve os padrões de forma que Figura 8: Plano de alto e Plano de linhas d’água
permitem quebrar gelo por meio do processo de fratura
por flexão da placa de gelo. Para isso, adotou-se um de-
senho de proa de modo que na linha d’água o ângulo de
roda de proa fosse 25◦ , o que possibilitaria a proa deslizar
sobre a placa de gelo, sem a perda de energia decorrente
de uma colisão, e superfícies do costado com curvatura
de aproximadamente 25◦ , o que possibilitaria manobras
de cabeceio (yaw) em um ambiente em que a proa esteja
ladeada por gelo. Com um "facão"(Ice Foot ou Ice Skeg)
de formato acentuado a fim de limitar o avanço sobre o
gelo. A figura 6 sintetiza essas proposições. Fonte: Autores (2019).

Figura 9: Plano de balizas do casco


Figura 6: Características principais da proa de navio Icebreaker

Fonte: Veitch et al. (2004).


Fonte: Autores (2019).

O formato popa foi desenhado basicamente para aten-


der ao tipo de propulsão escolhido. Porém, foram asse- 4.4 Análise de Estabilidade
guradas curvaturas na popa que possibilitassem ao navio Para essa fase foi adota a norma de estabilidade
deslizar a popa sobre a placa de gelo, em situações que (DEFENCE, 2014) juntamente com a publicação (DE-
fosse preciso pequeno recuo antes de prosseguir com o FENCE, 2010), referência para essa norma. Empregou-se
seguimento a vante. para as análise intacta e avariada as condições de carre-
Dadas as considerações, o modelo de casco que foi gamentos abaixo:
utilizado nas etapas subsequentes da espiral de projeto
• Condição de Navio Leve: Condição não operacio-
é apresentado na figura 7. s figuras 8 e 9 apresentam o
nal, no qual o carregamento é o próprio peso leve;
Plano de Alto (Perfil) Plano de Linhas, e Plano de Baliza
para esse casco, respectivamente. • Condição de Plena Carga: Condição operacional do
navio, no qual todos os itens de deadweight (com-
Figura 7: Modelo de Casco bustível, consumíveis, provisões, tripulação e etc.)
estão em 100%. É a condição de projeto do navio.
• Condição Intermediária: Condição operacional do
navio no qual o peso da carga transportada é redu-
zido para 40% do total e os consumíveis estão em
um nível de 50%. E, é acrescido o peso do volume
da água de lastro embarcada nos tanques de combus-
tível compensados.
Fonte: Autores (2019).
• Condição para Atracação: Condição operacional do
navio no qual o peso da carga transportada é redu-
7
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

zido para 10% do total e os consumíveis estão em Tabela 12: Resumo do Relatório de Equilíbrio
um nível de 10%. E, é acrescido o peso do volume Plena Navio
Dados/Carregamentos Interm. Atrac. Porto
da água de lastro embarcada nos tanques de combus- Carga Leve
tível compensados. Draft Amidships m 5,83 5,17 4,85 4,63 3,24
Displacement t 5214 4472 4136 3925 2374
Heel deg 0 0 0 0 0
• Condição de Porto: Condição operacional do navio Draft at FP m 5,8 4,9 4,4 3,9 3,34
no qual não há payload embarcado, isto é, carga, he- Draft at AP m 5,807 5,4 5,3 5,4 3,13
licóptero e material móvel utilizado em pesquisa não Draft at LCF m 5,83 5,2 4,9 4,7 3,226
Trim
representam peso no navio. Os consumíveis estão (+ve by stern) m
-0,053 0,47 0,97 1,47 -0,21
em um nível de 10%. E é acrescido o peso do vo- WL Length m 82,74 80,36 78,54 77,74 68,402
Beam max extents
lume da água de lastro embarcada nos tanques de on WL m
15,487 15,5 15,5 15,5 15,394
combustível compensados. Prismatic
0,716 0,71 0,70 0,68 0,741
coeff. (Cp)
Destaca-se que a adoção do sistema de tanques de Block coeff. (Cb) 0,678 0,66 0,66 0,64 0,664
Max Sect.
óleos combustíveis compensados por lastro melhorou a 0,951 0,94 0,94 0,94 0,919
area coeff. (Cm)
estabilidade de forma geral e permitiu imersão correta do Waterpl.
0,913 0,91 0,92 0,91 0,883
area coeff. (Cwp)
propulsor para todas condições de carregamento, com o KG fluid m 5,208 4,58 4,14 3,98 4,427
benefício da economia de espaço decorrente não utiliza- GMt corrected m 2,309 3,10 3,67 3,96 4,669
ção de tanques de lastro dedicados. No processo de es- GML m 112,4 119,78 125,27 124,32 125,
Trim angle
colha por essa solução, assegurou-se o cumprimento das (+ve by stern) deg
-0,039 0,35 0,72 1,10 -0,15
regras contidas (IMO, 1974) e (IMO, 2015), e o emprego
de tecnologias de controle a poluição e boas práticas de
gestão da água de lastro compreendidos em (EPA, 1999). no início da escotilha de carga, como apresentado na fi-
Adicionalmente, para as condições de carregamento, gura 10. Embora esse ponto possa ser considerado como
a exceção da condição de Navio Leve, considerou-se que um ponto de alagamento irrestrito, resultado da aplicação
os tanques de armazenamento de água para consumo são do fluxograma de designação de DF point (DEFENCE,
mantido completamente carregados pelo sistema de gera- 2010), essa é um admissão conservadora, pois ao longo
ção de água doce. do desenvolvimento do projeto pode-se optar por um dis-
Ao longo das análises utilizou-se o deslocamento re- positivo de fechamento que torna restrita a entrada de
sultante para cada condição de carregamento, como des- água.
crito na tabela 11.
Figura 10: Ponto de downflooding na aberuta da escotilha do porão de
Tabela 11: Deslocamento para cada condição de carregamento carga

Deslocamento
Carregamento
(ton)
Navio Leve 2374
Plena Carga 5214
Intermediário 4472
Atracação 4136
Porto 3925

Com auxílio do programa MAXSURF STABILITY, Fonte: Autores (2019).


cada condição de carregamento descrita foi adicionada ao
casco escolhido na etapa anterior. O primeiro estudo re- Feitas as considerações preliminares, obteve-se os re-
alizado foi a análise de equilíbrio e teve como objetivo sultados aceitáveis em todos os critérios de estabilidade
determinar o calado, banda e trim resultante do arranjo intacta em todas as condições de carregamento analisa-
adotado. Os resultados da análise de equilíbrio foram sa- dos.
tisfatórios como pode ser observado na tabela 12. Iniciou-se a análise de estabilidade avariada pelo es-
Na sequência, examinou-se a observância dos crité- tudo da compartimentagem apropriada ao navio. Definiu-
rios de estabilidade intacta e avariada das normas já men- se o convés de anteparas e linha marginal para o casco
cionadas. Neste sentido, as proposições apresentadas por escolhido. Em sequência, determinou-se a curva de com-
(SARCHIN; GOLDBERG, 1962) foram de grande valia, primento alagável característica do casco para o carrega-
pois ajudaram a dirimir questionamentos e omissões re- mento de projeto e três valores de permeabilidade distin-
lacionada as publicações utilizadas. tos que representassem as seções de popa, meio-navio e
Para ambas análises de estabilidade, considerou-se o proa, com base na média ponderada da permeabilidade
ponto de alagamento (Downflooding Point ou DF point) de cada compartimento interno a seção. Avaliou-se a dis-
8
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

tribuição das anteparas transversais estanques, figura 11 Figura 13: Limite de estanqueidade externo ao casco e conveses inter-
nos estanques
, para o atendimento do critério de compartimentagem
estabelecido em (DEFENCE, 2014), observado na figura
12.
Figura 11: Disposição das anteparas estanques ao longo do navio

Fonte: Autores (2019).

Figura 12: Curva de comprimento alagável com critério de comparti-


mentagem 3

Fonte: Autores (2019).

Figura 14: Envelope Estanque do navio

Fonte: Autores (2019).


Fonte: Autores (2019).

anteriormente. Caracterizou-se cada caso de avaria pela


Estabelecido a deposição das anteparas transversais
extensão e localização da avaria. Buscou-se por determi-
estanques, prosseguiu-se com a análise de estabilidade
nar os piores casos dentres as combinações de extensão
avariada pelo estudo da estanqueidade do navio. De
longitudinal, vertical e transversal da avaria e sua posi-
acordo com Sarchin e Goldberg (1962) e Defence (2010),
ção ao longo do comprimento do navio. Explorou-se ca-
definiu-se a Linha d’água avariada estática, Linha d’água
sos mencionado por Nickum (1988), Sarchin e Goldberg
avariada dinâmica (Red Risk Line) e V-Line externa, re-
(1962), IMO (2015) e Defence (2010), sendo aplicados os
sultando nos limites de estanqueidade externo e conveses
critérios descrito por Defence (2014) com resultados sa-
internos estanques expresso na figura 13.
tisfatórios para todas condições de carregamento para to-
Nesta etapa definiu-se, também, o convés de controle
dos os casos de avaria. A figura 15 Abaixo é apresentado
de avarias (CCAv) como o convés no 4, para o qual o nível
os casos de avaria preconizados no Código Polar (IMO,
máximo da água de alagamento nas anteparas estanques
2015) o qual o navio cumpriu satisfatoriamente todos os
permaneceu abaixo do nível desse convés. Com base nos
requisitos.
conceitos apresentados em figura 13, foi possível estabe-
lecer o Envelope Estanque do Navio (DEFENCE, 2014),
figura 14. 4.5 Comportamento no mar
Finalizou-se a análise de estabilidade pelo estudo de Um navio é um grande sistema imerso em um meio
casos de avaria e aplicação dos critérios de estabilidade que com ele interage. É necessário, então, conhecer os
avariada. Nos possíveis casos de avarias selecionados deslocamentos, velocidades e acelerações que esta inte-
incluiu-se todos os carregamento intactos identificados ração causa em cada ponto da embarcação.
9
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

Figura 15: Síntese dos casos de Avaria contidos no Código Polar apresentar o cruzamento espectral e calcular os momen-
tos espectrais para estimar os valores rms de aceleração,
velocidade e deslocamento.
Conforme descrito anteriormente, a STANAG define
critérios operativos, tanto para uma dada missão especí-
fica (operar com aeronaves ou lanchas orgânicas), quanto
para navegação segura. Abaixo, apresenta-se os critérios
para navegação em mar aberto, os demais critérios podem
ser consultados na norma.

Tabela 13: Limites de performance: navegação segura

Critério Limite
Deck Wetness 30/hr
Slamming 20/hr
Propuslor 90/hr
MSI 20% da tripulação após 4 horas
Fonte: Autores (2019).
MII 1/min
Jogo 4◦ (RMS)
Neste ponto, o projeto visa a atender aos seguintes Caturro 1.5◦ (RMS)
requisitos: Aceleração vertical 0.2g (RMS)

• Navegar seguramente em condições de mar até 7 na


escala Douglas; Com base nas respostas obtidas, pode-se aprovar, re-
provar ou aprovar com restrições o navio para cada uma
• Sobreviver a estados de mar de intensidade 8 na es- das condições de mar em cada um dos critérios previstos
cala Douglas; na norma, conforme tabelas 14 e 15.

• Operar com aeronaves (pouso e lançamento) em Tabela 14: Critérios para navegação segura
condições de mar 5 na escala Douglas;
Critério Hs=4m Hs=2,5m
• Lançar e recolher lanchas orgânicas em condições
MSI (20% após 4h) Com restrições Com restrições
de mar 5 na escala Douglas;
MII Aprovado Aprovado
• Ser reabastecido e reabastecer, no mar, em condi- Jogo Com restrições Com restrições
ções de mar 5 na escala Douglas e Caturro Com restrições Com restrições
Aceleração Aprovado Aprovado
• Satisfazer critérios da STANAG 4154.

Para solução do problema apresentado, foi utilizado


um módulo do software Maxsurf: o Motions. O pro- Tabela 15: Operações Aéreas
grama apresenta solução para subida/descida(heave), ca-
turro(pitch) e jogo(roll). Como entrada, deve-se definir o Critério Hs=4m Hs=2,5m
período e altura significativa de ondas. Velocidade Vertical Com restrições Com restrições
Em geral, esses dados são utilizados a partir de MII Aprovado Aprovado
medições adquiridas na região de interesse. Na falta Jogo Com restrições Com restrições
de dados confiáveis, tanto para região da Baía do Al- Caturro Com restrições Com restrições
mirantado, quanto para o estreito de Drake, foi utili- Aceleração Aprovado Aprovado
zada uma relação encontrada em (MANGOR; DRONEN;
E.KRISTENSEN, 2017), descrita pela equação 23.
Para condições mais severas de mar, as restrições se
p sobrepõe e a capacidade operativa da embarcação fica
Tp = 5, 3 Hs (23) prejudicada.
Para estimativa do espectro de mar, a biblioteca do Os resultados apresentados foram considerados satis-
software utilizou o espectro de JONSWAP. A partir de fatórios para uma primeira estimativa.A introdução de
então é calculado o RAO do CG e pontos remotos(proa, mecanismos anti-jogo podem modificar algumas restri-
popa, passadiço, convôo) definidos pelo usuário, de ções aqui apresentadas, fazendo o navio desempenhar
acordo com as teorias citadas em 3. Com isso, é possível suas atividades operativas com menos restrições.
10
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

Figura 16: Efeito do ângulo de incidência da onda. gelo. Logo pode-se concluir que o principal fator da re-
sistência ao avanço em baixas velocidades em campos de
gelo é a espessura da camada de gelo.
Os resultados podem ser observados nas tabelas 17 e
18:
Tabela 17: Resistência ao avanço com gelo fragmentado

Velocidade [Nós] Resistência [kN]


5 429

4.6 Resistência ao avanço Tabela 18: Resistência ao avanço com superfície congelada
O navio em projeto possui 4 condições de operação
que envolvem resistência ao avanço, são elas: velocidade Velocidade [Nós] Resistência [kN]
econômica de cruzeiro, velocidade máxima contínua, na- 4 1122, 7
vegar em superfície congelada a 4 nós e navegar em cam-
pos de gelo fragmentado a 5 nós. Observando os resultados, conclui-se que a resistên-
Para as condições de avanço sem presença de gelo cia ao avanço para navegação em gelo será determinante
(sea going), a melhor maneira de se estimar resistência para a potência a ser instalada na embarcação. No pro-
ao avanço é com uso de séries sistemáticas. Sabe-se que cesso para quebrar gelo, o navio encontra uma resistência
o casco do navio não foi elaborado a partir dos planos elevada em baixa velocidade, isso acarreta num baixo co-
disponíveis em séries sistemáticas devido às suas peculi- eficiente de avanço e numa baixa eficiência do propulsor,
aridades impostas pela navegação em presença de gelo, elevando os valores da potência instalada. Os valores da
mas não há melhor método para se estimar essas resistên- primeira estimativa estava restringindo escolhas de com-
cias nas primeiras voltas da espiral de projeto. Projetando ponentes propulsivos.
futuras iterações do ciclo de projeto, seria conveniente si- Tendo em vista o processo de degelo que tem ocorrido
mulações com software de dinâmica de fluidos computa- nas regiões polares, tanto é que países nórdicos já tem ti-
cional (CFD) e até mesmo ensaios em túnel de reboque. rado proveito e estão abrindo novas rotas comerciais no
O software NavCad foi utilizado para selecionar a sé- ártico, que um fenômeno bem semelhante tem ocorrido
rie adequada para as dimensões do casco em projeto, e na Antártida Ocidental, região de operação do navio, e
optou-se por utilizar o método proposto por (HOLTROP; que a vida útil do navio será de 30 anos, o grupo de traba-
MENNEN, 1984). Os resultados estão apresentados na lho decidiu diminuir a espessura da camada de gelo de-
Tabela 16. finida pelo RANS em 0,1 m. Esta mudança não altera
Tabela 16: Resistência ao avanço sem presença de gelo
a classificação do navio de 1A PC6 Icebreaker, na qual
encaixam-se navios capazes de quebrar gelo de 0,7 m até
Velocidade [Nós] Resistência [kN] 1,2 m. Os resultados já foram apresentados, levando em
13 148 consideração essa redução.
16 312
4.7 Integração casco-hélice
A navegação no gelo envolve os seguintes processo fí- O objetivo da integração casco-hélice é selecionar um
sicos, enumerados por (ENKVIST, 1972), quebra de pla- hélice adequado pra atender a demanda de potência do
cas de gelo por flexão, energia potencial para afundar o casco. Assim, é feita uma análise adimensional das for-
bloco quebrado e energia cinética necessária para mo- ças de empuxo e torque do propulsor, juntamente com o
vimentar os blocos, afastando-os da trajetória do navio. adimensional de força requerida pelo casco num referido
Com base em tais fenômenos e nos resultados de ensaios coeficiente de avanço. Como resultado encontra-se a efi-
em tanques de reboque especiais, foi elaborado um mo- ciência do propulsor na condição em análise e o nível de
delo matemático por (LEWIS; EDWARDS, 1970) capaz cavitação nas pás do propulsor.
de estimar a resistência ao avanço na presença de gelo. O navio possui dois hélices, essa consideração é fun-
Cada termo da Equação 24 representa, respectivamente, damental para cumprir os requisitos de demanda de po-
cada fenômeno físico descrito anteriormente. tência do casco e também impõe a redundância necessária
ao requisito DP2.
Rim = C0 σf h2 + C1 ρi gBh2 + C2 ρi BhV 2 (24) O processo de integração casco-hélice envolve coefi-
cientes de esteira (w) e de redução de força propulsora
O segundo termo representa o maior componente re- (t) definidos de acordo com o casco. Para manter coerên-
sistivo, é função quadrática da espessura da camada de cia com a estimativa de resistência ao avanço foi utilizada
11
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

a formulação de (HOLTROP; MENNEN, 1984) para na- eficiência nesta condição não conseguiam deixá-la signi-
vios que atuam com dois hélices na popa. ficante. Entendendo que o hélice variável não estava re-
presentando grandes ganhos em eficiência, buscou-se um
√ hélice de passo fixo com uma relação passo-diâmetro in-
w = 0, 3095CB + 10Cv CB − 0, 23D/ BT (25) termediária. Foi analisado o comportamento dos resulta-
dos na medida que se afastava do passo ideal de alguma
condição de operação, tais resultados eram comparados
√ com o hélice de passo variável para verificar se não ocor-
t = 0, 325CB − 0, 1885D/ BT (26)
reu grandes perdas em eficiência e cavitação. A melhor
A resistência ao avanço para condição de navegação opção analisada foi para a relação passo-diâmetro de 0,7,
em superfície congelada é mais que 4 vezes a resistência na qual as eficiências ainda continuam acima de 0,6 sem
obtida em velocidade máxima contínua, soma-se a isso presença de gelo e abaixo de 0,2 na condição de superfí-
um coeficiente de avanço (J) reduzido, essa combinação cie congelada. O passo imediatamente maior que 0,7 já
resulta em eficiências muito reduzidas para o hélice pro- apresenta grandes perdas na eficiência com a presença de
pulsor, como pode ser verificado no diagrama de hélice gelo. Apesar das vantagens de custo, o hélice de passo
propulsor da figura 17. A consequência disso é que a po- controlável possui uma oferta menor, podendo causar di-
tência instalada será bem elevada por conta de uma con- ficuldade para encontrar hélice disponível que atenda a
dição de operação, na qual a demanda de potência seria demanda do navio. Ressalta-se que o hélice de navios
capaz de fazer o navio movimentar-se à velocidade de 23 quebra-gelo é especial e deve ter reforço nas áreas mais
nós. afetadas pelo gelo. Logo foi definido que o hélice será de
passo fixo.
Figura 17: Diagrama de hélice propulsor
O propulsor escolhido também deve atender o requi-
sito de bollard pull, no qual deve-se obter, no mínimo, o
empuxo de 100 toneladas na condição de operação com
coeficiente de avanço nulo. A análise é feita variando
a rotação do hélice até obter o empuxo suficiente e em
seguida é verificado se o torque nesta condição não de-
manda potência maior que a disponível pelo motor. O
propulsor atende ao requisito de tração estática e ainda
há uma sobra de potência para gerar um empuxo de 150
toneladas.
A tabela 19 apresenta o hélice escolhido. E a tabela 20
mostra como o propulsor atende as demandas em todas as
condições.

Tabela 19: Hélice propulsor selecionado


Independentemente das combinações de característi-
cas do hélice, os valores para eficiência foram baixos e D Ae /A0 Z P/D
os de cavitação foram mais altos que os aceitáveis por 3,5 0,65 5 0,7
(BURRILL; EMERSON, 1963). Entende-se que quebrar
gelo não é a principal função do navio, mas é uma carac-
terística a qual o navio tem que estar apto a cumprir. O diâmetro do hélice atende as folgas previstas para
Na primeira análise já foram definidas as seguintes ca- navios quebra-gelo sugeridas por (GUIDELINES, 2011)
racterísticas do propulsor, são elas: quantidade de pás, o e exemplificado na figura 18
diâmetro e a razão Ae /A0 . Tais parâmetros tiveram ca-
racterísticas semelhantes em todas as condições de ope- Figura 18: Folga entre propulsor e casco
ração, diferentemente da relação passo-diâmetro que tem
uma característica diferente para os tipos de condição de
operação.
A análise seguiu com hélice de passo variável, ob-
tendo o melhor passo para cada condição de operação.
Enquanto para as condições de navegação sem presença
de gelo, o hélice ideal era com passo igual a 1, as condi-
ções com gelo apresentava eficiências inversamente pro-
porcionais à relação passo-diâmetro, porém os ganhos em
12
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

Tabela 20: Quadro resumo Tabela 21: Demanda de potência no eixo para cada condição de opera-
ção
4 nós em superfície de gelo 1 m
13 nós 16 nós 5 nós 4 nós Bollard
η0 Cav %
(Gelo) (Gelo) pull
0,19 26 1591 kW 4099 kW 3408 kW 12404 kW 9284 kW
5 nós em campos de gelo fragmentado
η0 Cav %
0,30 3,8 método paramétrico da MAN (MAN, 2016). O resultado
Velocidade econômica de cruzeiro (13 nós) foi de 1014 kW, valor semelhante aos navios de mesmo
η0 Cav % porte e finalidade.
0,63 0,2 Para o conjunto motor elétrico e propulsor, foram ava-
Velocidade máxima contínua (16 nós) liadas as opções com linha de eixo, propulsor azimutal e
propulsor pod. A opção pod, mostrou-se mais vantajosa
η0 Cav %
pela economia de espaço interno, disponibilidade de po-
0,64 1,2
tência e ainda dispensa uso de stern thrusters em posi-
Bollard pull
cionamento dinâmico. Outro fator que pesou na escolha
N T Q P otD
desse conjunto foi a disponibilidade, em catálogo (ABB,
200 rpm 492 kN 193 kNm 4642 kW
), de hélices especiais para operação no gelo em sistemas
pod. O propulsor escolhido foi Azipod VI1600, figura
20, produzido pela ABB. O conjunto engloba maquinário
4.8 Planta Propulsora
para prover avanço e direção, a instalação de propulso-
As diferentes condições de operação implicam em res deste tipo dispensa as máquinas de leme presentes em
cargas totalmente distintas, isso requer um controle pre- sistemas convencionais. O motor elétrico do conjunto é
ciso da rotação dos propulsores da embarcação. A ins- um motor síncrono, as opções com motor de indução não
talação diesel-elétrica é capaz de variar a velocidade de atendiam a demanda do hélice, além disso o sistema já in-
rotação do motor e por isso é o tipo de planta propulsora clui inversores de frequência que possibilitam o controle
a ser instalada no navio em projeto. preciso da rotação do hélice e sistemas de arrefecimento.
A propulsão elétrica oferece vantagens no consumo Este sistema requer barramentos de alta tensão para os
específico de combustível por manter uma rotação cons- motores de propulsão e baixa tensão para as máquinas
tante, otimizando o carregamento dos motores-geradores, auxiliares.
reduz os níveis de emissões atmosféricas, flexibilidade na
Figura 20: Azipod VI1600
disposição das máquinas dentro do arranjo, controle pre-
ciso da velocidade de rotação do hélice, impondo melhor
eficiência hidrodinâmica ao propulsor. Em contrapartida
os custos de instalação são mais altos, pois a instalação
elétrica é mais complexa e possui diversos subsistemas
ausentes na instalação mecânica convencional.
A energia num sistema de propulsão elétrica passa por
um longo caminho desde a sua geração até ser entregue
para rotação do eixo que gira o hélice. A figura 19, apre-
senta as perdas energéticas desde a potência mecânica no
eixo do gerador até a potência entregue pelo motor elé-
trico ao hélice propulsor.

Figura 19: Eficiência da planta elétrica

Para selecionar o conjunto gerador deve-se levar em


conta todas condições de operação, pois é almejado que
A planta elétrica deve ser capaz de atender a demanda a demanda seja atendida com a carga de operação den-
de potência do eixo em todas as condições operativas e tro da faixa econômica de consumo específico (CEC) dos
atender concomitantemente a carga de hotelaria do navio. geradores. Logo, como as condições são bem distintas
Para estimar a carga de hotelaria do navio foi utilizado entre sí, um único gerador apresentará eficiência baixís-
13
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

sima no consumo de combustível. Segundo as fabricantes Figura 21: Arranjo elétrico


(WäRTSILä, 2019) e (KONGSBERG. . . , 2019), a faixa
econômica de CEC é entre 70% e 85% da carga máxima
do gerador.
Foram analisadas configurações com geradores Wärt-
silä, MAN e Rolls Royce (Kongsberg). A intensão foi
montar um grupo com 4 geradores, distribuindo as po-
tências e evitando danos severos ao sistema no caso
de falha em um gerador. Assim o conjunto escolhido
foi o seguinte: 2 geradores B33:45L6A e 2 geradores
B33:45L8A todos da fabricante Kongsberg e adequados
às dimensões da praça de máquinas, totalizando uma po-
tência instalada de 16800 kW. O conjunto consegue aten-
der as demandas dentro da faixa econômica, exceto na
condição de navegação em superfície congelada, na qual
A classificação PC6 determina que o aço a ser utili-
a carga é de 89% a potência gerada. O consumo especí-
zado seja de maior resistência. Assim, o aço naval esco-
fico de combustível a 85% da carga é de 185g/kWh, en-
lhido para esta estrutura é o AH-36, cuja tensão de esco-
quanto a 100% da capacidade de geração é de 187g/kWh.
amento é 355MPa.
A principal função do navio não é quebrar gelo, esta con-
O módulo de seção (ou módulo de resistência) é a
dição não deve ocupar grande parte do perfil operacional,
grandeza que orienta o projeto estrutural. A SC define
portanto admite-se esta configuração de conjunto diesel-
um valor mínimo, em função das dimensões principais
gerador razoável e adequada para a embarcação.
e coeficientes e um valor requerido, em função de car-
A tabela 22 apresenta a demanda de potência que os
regamentos calculados para duas condições: alquebra-
geradores precisam entregar em cada condição de opera-
mento(hogging) e tosamento(sagging).
ção com 100% da carga de hotelaria, além disso apresenta
a carga de operação nos geradores para a respectiva con-
dição de operação. 1 + fr
SMmin = k( )Cw0 Lr 2 B(CB + 0.7)10−6 (27)
2
Tabela 22: Potência entregue pelo gerador em cada condição de opera-
ção

13 nós 16 nós 5 nós 4 nós Bollard


|Msw−s/h + MM wv−s/h | −3
SMreq = 10 (28)
(Gelo) (Gelo) Pull σperm
3083 kW 5792 kW 5366 kW 14773 kW 11400 kW
85% 80% 75% 87% 85% A definição dos escantilhões foi realizada de maneira
que o módulo de seção calculado seja maior que os valo-
O arranjo elétrico é dividido simetricamente, desta res encontrados nas equações 27 e 28.
forma o navio é capaz de manter posição em operações Para isto, é preciso determinar todos os elementos que
DP mesmo na pior falha possível. O arranjo será com- contribuem para rigidez longitudinal que são: reforçado-
posto por dois barramentos principais de média tensão res longitudinais (quilhas, longarinas e sicordas) e cha-
(6,6 kV) e dois barramentos secundários de baixa ten- pas.
são (440 V), a configuração radial é a mais apropriada A SC define duas equações(29 e 30) para determinar
para navios que concentram toda a geração elétrica num espessura de chapa. Enquanto a primeira é uma formula-
mesmo compartimento, conforme a figura 21. A frequên- ção geral, a segunda é específica para regiões que mantém
cia da rede acompanha os padrões americanos de 60 Hz. contato com o gelo. Os parâmetros das formulações po-
dem ser consultados na SC.
4.9 Análise Estrutural √
ts = a + bLr k (29)
Considerando a realização de Operações Antárticas
de Outubro a Abril, isto é, outono e verão antártico, o
NAA deve ser projetado como PC6 (Polar Class 6). Além r s  2
disso, de acordo com o RANS, é desejável que o navio AF.P P Fp .Pavg b b 1
ts = 500s 2 − s
possua capacidade mínima de quebrar campos de gelo ReH s s 1 + 2l
compacto (first-year-ice) de até 1m de espessura, nave- (30)
gando a 4 nós, sendo, por fim, classificado como 1A- Para escolha dos longitudinais, foi calculado um mó-
PC6-Icebreaker e, por isso, a referência de cálculo para dulo mínimo de resistência (equação 31) com base no car-
esta etapa do projeto serão as partes 3, 5 e 6 da DNV GL regamento que estes deveriam suportar e, após isso, rea-
(RU-SHIP). lizada a escolha em catálogo comercial. De acordo com
14
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

a literatura (SHAMA, 2013), os perfis do tipo HP(bulbo), Tabela 23: Tabela de cotas
quando comparados com os outros perfis apresentam uma
B 15.53m
maior relação módulo de resistência por peso,fator que
D 8.00m
orientou a escolha das longarinas (figura 22).
O espaçamento entre reforçadores é definido de hdc 0.8m
acordo com a equação 32. Diminuir o espaçamento acar- hdf 0.8m
reta em aumento do módulo de resistência, sendo pena- hd3 2.65m
lizado o peso da estrutura e o custo do projeto. Dessa hd2 2.65m
forma, respeitando o valor de regra, foi adotado s = hd1 2.25m
600mm. ha 3.5m

fu |P |slbdg 2
SMstif f = (31) Assim, neste ponto, definiu-se: perfil de cavernas,
fbdg Cs ReH
vaus e distância entre cavernas gigantes(1500m). Vale
s ≤ 2.08Lr + 438 (32) ressaltar que o requisito de quebrar gelo cria a necessi-
dade de um reforço estrutural que pode ser traduzido com
uma diminuição na distância entre cavernas em regiões
Figura 22: Perfil HP 100x7. sensíveis (proa, por exemplo).

Figura 24: Porção do corpo paralelo

Tendo calculado todos os elementos longitudinais é


possível definir uma seção mestra, conforme figura 23.
O código polar determinar uma distância mínima de
760mm de tanques de óleo e águas servidas para o cos-
tado do navio. Dessa forma, foi estipulado um duplo
fundo e duplo costado conforme 24.
Após realizados os cálculos, a estratégia adotada foi
Figura 23: Perfil de seção mestra
definir dois tipos de chapas: as que mantém contato com
o fluido ao redor e as que não. Assim, as espessuras defi-
nidas são: 12.7mm e 19.1mm.

4.9.1 Análise de elementos finitos


De acordo com a SC o uso de elementos de casca qua-
drados de primeira ordem é suficiente para representar o
comportamento da estrutura. Com o auxílio do software
Ansys, foi possível calcular o comportamento da estru-
tura.
Para o carregamento foram considerados o peso da es-
trutura, o empuxo e o momento de águas calmas para to-
Nesta fase do projeto, deve ser decidido o tipo de ca- samento. Como condição de contorno, as anteparas per-
vernamento que será adotado: transversal ou longitudi- maneceram rígidas, mas livres para rotacionar, sendo que
nal. O segundo é composto por anéis transversais que são uma das anteparar ficou livre para transladar no eixo lon-
transpassados por longitudinais retos, quilhas e longari- gitudinal da embarcação.
nas, que conferem a resistência à flexão. Este sistema é Durante a simulação percebeu-se que a geometria da
reconhecido por facilitar a construção, já que utiliza mais caverna e do duplo costado deveria ser melhorada, uma
peças aproximadamente retas. Por isso, o projeto da em- vez que há uma quina que gera concentração de tensões.
barcação será baseado neste método. Dessa forma, para o próximo ciclo, ainda que o fator de
15
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

segurança obtido nas quinas seja superior a 1, 65, deve-se sistemas e equipamentos conhecidos em um estágio ini-
availar se a geometria deve ser modificada. cial são os sistemas de armas. No entanto, isso não con-
tabiliza o custo de instalação.
Figura 25: Análise de deformações Nesta análises, as estimativas de custo se basearam
em dados históricos de regressões contidas em (UCL,
2016a) com base em parâmetros de pesos, volumes,
áreas, disponíveis ao projetista. Desta forma obteve-se a
estimativa de custos, parametricamente, que pode ser refi-
nada à medida que foram conhecidos os custo dos materi-
ais e custo de mão-de-obra de instalação de cada sistema
ou equipamento. Esse método de estimativa de custo ado-
tada pela University College of London subdivide o custo
total do navio em Custo de Obtenção da Unitário (Unit
Procurement Cost - UPC) e Custo Durante Vida (Through
Life Cost - TLC). O UPC descreve o custo da construção
de cada navio. O TLC calcula os custos incidentes du-
rante a vida operativa do navio.

4.10.1 Base de dados utilizada no método

A base de dados fornecidos pelo UCL permitem uma


rápida estimativa para UPC, porém os custos individuais
Figura 26: Análise de tensões
fornecidos são derivados dos registros da construção de
fragastas de 4000 ton no Reino Unido na década de 90 e
corrigidos pela inflação para 2008 (ano da edição de Ship
Design Procedure book e Ship Design Data Book). Os
dados utilizados na parametrização dos custos incluem
somente os custo de construção, não abrangendo os cus-
tos relacionados com o projeto em si, isto é, os "first of
class"custos do escritório que projetou o navio a ser re-
plicado. Esse dados são representativo para o quarto da
navio de um classe com 12 navios, ou seja, há de se con-
siderar a curva de aprendizado para extrapolação para um
projeto inédito.
Os registros fundamentais com o custo de material
(para o ano de 2008) e a razão de hora por tonelada de
material/equipamento para instalação/montagem de cada
material constam no anexo x.
Para converter o custos de mão-de-obra e instilação,
4.10 Análise de Custo
em termos de horas-homem necessárias por tonelada, em
A análise de custos é parte essencial de qualquer pro- um valor de custo, esses números devem ser multiplica-
jeto, e ser capaz de estimar os custos com razoável preci- dos por um custo horário de mão-de-obra no estaleiro. O
são em um estágio inicial do processo é a maneira possí- método sugere que esse parâmetros seja obtido em fun-
vel de investigar os trade-offs entre o fiel atendimento dos ção da remuneração média de um trabalhador da indús-
requisitos do armador e custos decorrentes. De acordo tria de construção naval no Reino Unido, o que foi con-
com (DESCHAMPS; TRUMBULE, ), a estimativa de seguido por meio do sítio <www.payscale.com>. Em se-
custos possíveis durante o projeto conceitual é de alto guida, esse valor é acrescido das despesas administrativas
nível e faz suposições bastante amplas sobre o projeto de cada trabalhador, demorado que o custo horário (HR)
do navio, sua missão geral e suas características físicas da mão-de-obra, que foi utilizada na equação 35, é ex-
e operacionais. Este nível é usado para decidir a viabili- presso por:
dade econômica do projeto.
Para tornar a estimativa de custos o mais precisa pos- HR = 4 · HRsalario (33)
sível, é desejável o conhecimento do custo unitário de
cada sistema, equipamento ou elemento, para posterior-
mente somá-los na composição do custo total. De acordo Da mesma forma, os custo de material/equipamento
com (UCL, 2016b), Para um navio de guerra, os únicos por tonelada foi corrigido pela inflação no Reino Unido
16
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

entre os anos de 2008 a 2019 (novembro) através do Re- Figura 28: Subdivisão do Custo de Obtenção Unitário
tail Price Index RPI. Esse valores foram conseguidos a
partir do sítio de estatística nacionais do Reino Unido
(STATISTICS, 2019).
Ainda sobre a equação 35, a estimativa do fator de
complexidade (γ) foi baseada na densidade de cada grupo
de peso, normalizada, arbitrariamente, pelo valor da den-
sidade do grupo Ship Systems.
Adicionalmente, considera-se a curva de aprendizado,
já calculada para os dados originados do registro da cons- tor de Complexidade (Ygrp), custa da mão-de-obra em li-
trução da quarta fragata da classe, na extrapolação do bras por hora (HR) e a mão-de-obra necessária em horas-
custo da construção de o primeiro navio de um classe. A homem por tonelada (LRgrp).
curva de aprendizado de acordo com as reduções de custo
observadas ao longo da produção das fragatas da classe é
apresentada na figura 27. Cgrp = 1, 15 · M Cgrp · Wgrp + γgrp · HR · LRgrp · Wgrp
(35)
Figura 27: Curva de Aprendizado para o Custo de Obtenção Unitário

Com base no estudo dos custo individuais e estru-


tura de grupos que consta no apêndice x, estimou o UPC
do projeto em £ 97m, o que corresponde, em novembro
deste, ano a R$ 530 milhões com a seguintes distribuição
dos custos.

5 CONCLUSÃO
O projeto conceitual apresentado neste artigo repre-
senta a primeira fase dentre as subdivisões do projeto bá-
sico do navio. O objetivo intencionado neste trabalho foi
desenvolver um projeto conceito que satisfizesse os Re-
Aproxima-se a Curva de Aprendizado pela equação quisitos de Alto Nível de Sistemas (RANS), e que forne-
34. cesse uma estimativa de custo e uma avaliação de risco
para o projeto. Dessa maneira, seria possível juntamente
com a Diretoria de Engenharia Naval (Armador) discutir
U P Cshipn = U P Cship4 · 1, 16 · ship−0,105
n (34) a viabilidade e o custo do atendimento de cada um dos
requisitos.
Apesar de o objetivo intencionado ser parcialmente
atingido, devido a estimativa de custo inicial não constar
4.10.2 Custo de Obtenção Unitário - UPC neste artigo, as diversas iterações realizadas convergiram
O UPC é composto pelos custos de material e mão-de- para uma solução satisfatório que atenderia a maioria dos
obra associados às atividades relacionadas à construção requisitos.
de navios. Os custos de material podem ser subdivididos Por fim, realizou-se um revisão completa dos requisi-
nos custos diretos dos itens de material ou equipamento tos operacional contidos no RANS e os comparou com os
e em um custo adicional de compras originário do esta- dados da solução proposta.
leiro. Os custos de mão-de-obra podem ser subdivididos O requisito do RANS para quebrar gelo de 1 metro de
em custos diretos de mão-de-obra e uma provisão para espessura mostrou-se viável, mas incoerente com a pro-
as despesas gerais dos estaleiros. Esses dois componen- posta do navio. A iniciativa de reduzir a espessura em
tes de custo foram obtidos utilizando os relacionamen- 0,1 m reduziu a potência instalada em 5000 kW, abriu
tos empíricos de Ship Design Data Book, que descrevem o leque de opções de componentes para compor o sis-
os custos por cada grupo de peso. Estrutura os cálculos tema propulsivo e ainda otimizou o consumo específico
como na figura 28. de combustível para as demais condições de operação.
O UPC foi obtido somando o custo individual de cada O requisito do RANS para prover redundância de,
grupo. A fórmula apresentada abaixo foi utilizada como pelo menos, 100% da capacidade de geração de ener-
método para determinar o custo total para um determi- gia em situações de demanda máxima (incluindo as mar-
nado grupo de peso. Utilizou-se como entrada: A massa gens de crescimento) aplicado a um sistema de geração de
do grupo de peso considerado (Wgrp), custo de mate- energia integrado a propulsão, como é o caso do sistema
rial / equipamento em libras por tonelada (MCgrp), Fa- de propulsão diesel-elétrico proposto, onerou em diversos
17
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR

aspectos o projeto. Portanto, interpretou-se esse requisito . Defence Standard 02-900, General Naval
de modo a aplicar a redundância de capacidade de ge- Standard: Part 4 - Safety and Environmental Protection,
ração a carga do navio, a exceção da propulsão. O que Ship. [S.l.: s.n.], 2014.
permitiu a redução do peso e volume dos grupos gera-
dores extras, além de gerar uma economia de custo. Po- DESCHAMPS, L. C.; TRUMBULE, J. Ship Design and
rém, a capacidade de energética mínima necessária para Construction. In: . [S.l.: s.n.]. cap. Capítulo 10 -
o cumprimento do requisito de casco de navegação em Cost Estimating.
campo de gelo forneceu alta redundância em todas as de- DNV, G. RULES FOR CLASSIFICATION, Ships, Part 6
mais condições de operação. No sentido de mitigar pos- Additional class notations, Chapter 2 Propulsion, power
síveis interpretações equivocas deste requisito, a adoção, generation and auxiliary systems. 2015.
por parte do Armado, notações de Classe, (DNV, 2015),
aplicáveis para redundância de geração de energia e pro- DNVGL. Rules for classfication: Ships (RU-SHIP). [S.l.:
pulsão. s.n.], 2018.
Requisito do RANS de autonomia mínima de 25 mil
DOORDUIN, W.; WITLOX, L.; LAGEWEG, M.;
milhas náuticas, esse requisito foi cumprido, porém a um
BRAKEL, R. van. The use of electric motors for the
custo de alocar grande parte do volume interno do casco
propulsion of seagoing vessels. Rotterdam Mainport
com tanques de combustíveis. Esse fato prejudicou de
University of Applied Sciences.
certa maneira o arranjo. Mas não só isso, para compor
as 5 condições de carregamentos que são utilizadas nas ENKVIST, E. On the Ice Resistance Encountered by
análises de estabilidade, de acordo com as normas ingle- Ships Operating in the Continuous Mode of Icebreaking.
sas, foram observados esses tanques parcialmente cheio. [S.l.], 1972.
E para manter a imersão adequada do propulsor, e, assim,
evitar perda de eficiência, seriam necessários tanques de EPA. Compensated Fuel Ballast: Nature of Discharge.
lastros para compensar esse peso. Acrescenta-se ai o las- [S.l.]: United States Enviromental Proctetion Agency,
tro necessário para compensar o peso da carga transpor- 1999.
tada, sendo necessário a adição de mais tanques. Esse
GALE, A. P. Ship Design and Construction. In: .
fato, em iterações anteriores, resultou em um navio cerca
[S.l.: s.n.], 2004. cap. Capítulo 5 - The Ship Design
de 30% maior, com maior deslocamento, e consequente-
Process.
mente maior custo. Nesse sentido, visando a economia de
recursos e o menor impacto na cadeia logística da OPE- GUIDELINES. Guidelines for the application of the
RANTAR envolvida, nossa proposta com a inclusão de finnish-swedish ice class rules[to be published during
tanques compensados resultou em um navio de dimen- 2010]. Finnish and Swedish Maritime Administration,
sões próximas aos navios que a marinha já possui, adici- Helsinki, 2011.
onando as novas necessidades estabelecidas no RANS.
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