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Artigo NAA Final
Artigo NAA Final
Abstract. This is an abstract article presented at the Naval and Oceanic Engineering Course of the USP
Polytechnic School, as part of the necessary requirements for the title of Naval Engineer. It presents the
design project of a polar ship, able to navigate through ice covered waters. The vessel’s main mission is to
provide logistic support to the Brazilian Antarctic Station (EACF) and all research activities which are done
in the specified region. The text discusses each stage of the design spiral( main dimensions, arrangement,
weights and centers, hull formats, stability analysis, seakeeping, ship resistance, propeller hull interaction,
powering and structure), showing the major feature, the hindrances and the solutions found. Finally, brief
comments on design requirements are provided to optimize future design cycle iterations and convergence
to an ideal solution.
zou os coeficientes de esteira e redução de força propul- Tabela 2: Definição de pesos, volumes e áreas dos itens do Payloads
sora propostos por (HOLTROP; MENNEN, 1984) e as
Peso Volume Área
análises adimensionais foram realizadas com auxílio dos Payload
(ton) (m3) (m2)
diagramas de hélice série B, disponíveis por (BERNIT-
SAS; RAY; KINLEY, 1981). Carga Transportada 1 403,2 604,8 224
A Planta Propulsora Diesel-Elétrica foi projetada e Carga Transportada 2 477,9 716,8 224
dimensionada para atender a demanda de potência de to- Carga Transportada 3 460,8 691,2 216
das as condições de operação do navio. Para obter tal Laboratórios 24,3 364,5 135
resultado, a concepção foi feita de acordo com (MAN, Paiol de Hidrografia 21 40,5 15
2016), o estudo sobre os tipos de motores elétricos uti- 4 Canhões de calibre
2,28 334,8 78,5
lizados na industria naval foi feito com base em (DO- pequeno
ORDUIN et al., ), características especiais do hélice em Aeronave e Hangar 10 854 124
operação no gelo foram obtidas de (RISKA, 2011) e os Total 1399,4 3606,6 1016,5
componentes foram selecionados através de catálogos.
Para definição de escantilhões e carregamentos, foram
utilizadas as normas da Det Norske Veritas Germanischer Conhecida a estimativa inicial para o volume total e
Lloyd(DNVGL, 2018), conforme definido no RANS.A fi- deslocamento total, obtiveram-se os valores requerido de
losofia do projeto foi desenvolvida a partir de pesquisa volume (Vreq ) e peso (W ) para acondicionar todos os
na literatura específica sobre construção naval (SHAMA, itens necessários para o navio juntamente com o payload.
2013). O requisito de operar em águas antárticas (pos- Para isso, o navio foi dividido em grupos de peso e vo-
sivelmente quebrando gelo) orientou o projeto estrutural. lume utilizando o SWBS de (PARSONS, 2004), a saber
Cabe destacar que a experiência de outros países no Ár- foram: 1. Casco; 2. Pessoal; 3. Sistema do navio; 4. Pro-
tico é extremamente válida e, inclusive, amplamente di- pulsão; 5. Eletricidade; Payload; e Variáveis (combustí-
fundida na literatura. vel e consumiveis). Em seguida, fez-se uso das regres-
sões contidas em Ship Design Data Book (UCL, 2016a)
para calcular o peso e volume de cada item parametrizado
4 PROJETO DE CONCEPÇÃO
em função da estimativa inicial do volume total anterior-
Segundo a Carta de Serviços (CPN, 2018) do Cen- mente. Repetiu-se o processo iterativo até a convergência
tro de Projetos de Navios (CPN) da MB,o projeto básico dos valores estimados e requeridos de peso e volume, isto
do navio é divido em três fases: concepção, preliminar e é:
contrato.
A fase de concepção tem por objetivo propor uma em- V > Vreq (1)
barcação que convirja com os requisitos propostos. O
produto desta fase é primeira estimativa de navio, com di-
mensões principais e coeficientes, considerando os prin- W =∆ (2)
cipais grupos de volume e peso embarcados.
Após conhecido o valor de V e, por decorrência, ∇,
4.1 Dimensionamento Inicial iniciou-se o cálculo das dimensões principais e parâme-
Iniciou-se o dimensionamento pela caracterização dos tros de formas que correspondem a esse volume. Para
elementos que compõe o Payload do navio. Estabeleci- isso, o método emprega o Major Parametric Survey, no
dos pelo RANS, os elementos foram expressos em função qual foram utilizadas as seguintes formulações paramé-
de seu peso, volume e área, utilizando as regressões for- tricas:
necidas por (UCL, 2016a) quando necessário. A tabela 2
apresenta esses valores. V = Vs + Vm (3)
A partir da obtenção do volume do payload iniciou-
se o método iterativo de dimensionamento descrito pela Vs
Ship Design Procedure Book. Baseado no volume reque- vs = (4)
V
rido de payload estimou-se o volume total do navio (V),
por meio da determinação iterativa de um valor para a ∇
fração de volume ocupado pelo payload (PVF) em rela- ρm = (5)
Vm
ção ao volume total. Na sequência, estimou-se o volume
deslocado (∇) por meio da multiplicação do volume total ρ
ρm = (6)
pela densidade total do casco (ρ), valor determinado ite- (1 − vs )
rativamente. O valor do deslocamento total do navio (∆)
−1
foi estimado pela multiplicação do volume deslocado (∇) Cb 1
pela densidade da água. T = · −1 +1 ·D (7)
Cw ρm
3
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR
Figura 1: Seleção dos valores de D e vs no interior da região viável Tabela 4: Dimensões principais e parâmetros utilizados
Coeficientes de forma
Cb 0,68
CP 0,71
CSM 0,98
CPV 0,71
CWP 0,84
Tabela 9: Distribuição de pesos e volume por grupos Figura 3: Plano de corte dos conveses
Peso Volume
Grupo de peso
(ton) (m3)
1. Casco 893,02 2706,57
2. Pessoal 175,56 3093,24
3. Sistema do navio 219,00 279,35
4. Propulsão 364,00 648,00
Fonte: Autores (2019).
5. Eletricidade 375,16 173,11
6. Payload 1390,91 3575,00 Figura 4: Arranjo esquemático dos conveses
7. Variáveis 1520,38 1998,86
Margem de Crescimento
304,0 0
(peso leve)
Total 5242,03 12474,14
O casco resultante manteve os padrões de forma que Figura 8: Plano de alto e Plano de linhas d’água
permitem quebrar gelo por meio do processo de fratura
por flexão da placa de gelo. Para isso, adotou-se um de-
senho de proa de modo que na linha d’água o ângulo de
roda de proa fosse 25◦ , o que possibilitaria a proa deslizar
sobre a placa de gelo, sem a perda de energia decorrente
de uma colisão, e superfícies do costado com curvatura
de aproximadamente 25◦ , o que possibilitaria manobras
de cabeceio (yaw) em um ambiente em que a proa esteja
ladeada por gelo. Com um "facão"(Ice Foot ou Ice Skeg)
de formato acentuado a fim de limitar o avanço sobre o
gelo. A figura 6 sintetiza essas proposições. Fonte: Autores (2019).
zido para 10% do total e os consumíveis estão em Tabela 12: Resumo do Relatório de Equilíbrio
um nível de 10%. E, é acrescido o peso do volume Plena Navio
Dados/Carregamentos Interm. Atrac. Porto
da água de lastro embarcada nos tanques de combus- Carga Leve
tível compensados. Draft Amidships m 5,83 5,17 4,85 4,63 3,24
Displacement t 5214 4472 4136 3925 2374
Heel deg 0 0 0 0 0
• Condição de Porto: Condição operacional do navio Draft at FP m 5,8 4,9 4,4 3,9 3,34
no qual não há payload embarcado, isto é, carga, he- Draft at AP m 5,807 5,4 5,3 5,4 3,13
licóptero e material móvel utilizado em pesquisa não Draft at LCF m 5,83 5,2 4,9 4,7 3,226
Trim
representam peso no navio. Os consumíveis estão (+ve by stern) m
-0,053 0,47 0,97 1,47 -0,21
em um nível de 10%. E é acrescido o peso do vo- WL Length m 82,74 80,36 78,54 77,74 68,402
Beam max extents
lume da água de lastro embarcada nos tanques de on WL m
15,487 15,5 15,5 15,5 15,394
combustível compensados. Prismatic
0,716 0,71 0,70 0,68 0,741
coeff. (Cp)
Destaca-se que a adoção do sistema de tanques de Block coeff. (Cb) 0,678 0,66 0,66 0,64 0,664
Max Sect.
óleos combustíveis compensados por lastro melhorou a 0,951 0,94 0,94 0,94 0,919
area coeff. (Cm)
estabilidade de forma geral e permitiu imersão correta do Waterpl.
0,913 0,91 0,92 0,91 0,883
area coeff. (Cwp)
propulsor para todas condições de carregamento, com o KG fluid m 5,208 4,58 4,14 3,98 4,427
benefício da economia de espaço decorrente não utiliza- GMt corrected m 2,309 3,10 3,67 3,96 4,669
ção de tanques de lastro dedicados. No processo de es- GML m 112,4 119,78 125,27 124,32 125,
Trim angle
colha por essa solução, assegurou-se o cumprimento das (+ve by stern) deg
-0,039 0,35 0,72 1,10 -0,15
regras contidas (IMO, 1974) e (IMO, 2015), e o emprego
de tecnologias de controle a poluição e boas práticas de
gestão da água de lastro compreendidos em (EPA, 1999). no início da escotilha de carga, como apresentado na fi-
Adicionalmente, para as condições de carregamento, gura 10. Embora esse ponto possa ser considerado como
a exceção da condição de Navio Leve, considerou-se que um ponto de alagamento irrestrito, resultado da aplicação
os tanques de armazenamento de água para consumo são do fluxograma de designação de DF point (DEFENCE,
mantido completamente carregados pelo sistema de gera- 2010), essa é um admissão conservadora, pois ao longo
ção de água doce. do desenvolvimento do projeto pode-se optar por um dis-
Ao longo das análises utilizou-se o deslocamento re- positivo de fechamento que torna restrita a entrada de
sultante para cada condição de carregamento, como des- água.
crito na tabela 11.
Figura 10: Ponto de downflooding na aberuta da escotilha do porão de
Tabela 11: Deslocamento para cada condição de carregamento carga
Deslocamento
Carregamento
(ton)
Navio Leve 2374
Plena Carga 5214
Intermediário 4472
Atracação 4136
Porto 3925
tribuição das anteparas transversais estanques, figura 11 Figura 13: Limite de estanqueidade externo ao casco e conveses inter-
nos estanques
, para o atendimento do critério de compartimentagem
estabelecido em (DEFENCE, 2014), observado na figura
12.
Figura 11: Disposição das anteparas estanques ao longo do navio
Figura 15: Síntese dos casos de Avaria contidos no Código Polar apresentar o cruzamento espectral e calcular os momen-
tos espectrais para estimar os valores rms de aceleração,
velocidade e deslocamento.
Conforme descrito anteriormente, a STANAG define
critérios operativos, tanto para uma dada missão especí-
fica (operar com aeronaves ou lanchas orgânicas), quanto
para navegação segura. Abaixo, apresenta-se os critérios
para navegação em mar aberto, os demais critérios podem
ser consultados na norma.
Critério Limite
Deck Wetness 30/hr
Slamming 20/hr
Propuslor 90/hr
MSI 20% da tripulação após 4 horas
Fonte: Autores (2019).
MII 1/min
Jogo 4◦ (RMS)
Neste ponto, o projeto visa a atender aos seguintes Caturro 1.5◦ (RMS)
requisitos: Aceleração vertical 0.2g (RMS)
• Operar com aeronaves (pouso e lançamento) em Tabela 14: Critérios para navegação segura
condições de mar 5 na escala Douglas;
Critério Hs=4m Hs=2,5m
• Lançar e recolher lanchas orgânicas em condições
MSI (20% após 4h) Com restrições Com restrições
de mar 5 na escala Douglas;
MII Aprovado Aprovado
• Ser reabastecido e reabastecer, no mar, em condi- Jogo Com restrições Com restrições
ções de mar 5 na escala Douglas e Caturro Com restrições Com restrições
Aceleração Aprovado Aprovado
• Satisfazer critérios da STANAG 4154.
Figura 16: Efeito do ângulo de incidência da onda. gelo. Logo pode-se concluir que o principal fator da re-
sistência ao avanço em baixas velocidades em campos de
gelo é a espessura da camada de gelo.
Os resultados podem ser observados nas tabelas 17 e
18:
Tabela 17: Resistência ao avanço com gelo fragmentado
4.6 Resistência ao avanço Tabela 18: Resistência ao avanço com superfície congelada
O navio em projeto possui 4 condições de operação
que envolvem resistência ao avanço, são elas: velocidade Velocidade [Nós] Resistência [kN]
econômica de cruzeiro, velocidade máxima contínua, na- 4 1122, 7
vegar em superfície congelada a 4 nós e navegar em cam-
pos de gelo fragmentado a 5 nós. Observando os resultados, conclui-se que a resistên-
Para as condições de avanço sem presença de gelo cia ao avanço para navegação em gelo será determinante
(sea going), a melhor maneira de se estimar resistência para a potência a ser instalada na embarcação. No pro-
ao avanço é com uso de séries sistemáticas. Sabe-se que cesso para quebrar gelo, o navio encontra uma resistência
o casco do navio não foi elaborado a partir dos planos elevada em baixa velocidade, isso acarreta num baixo co-
disponíveis em séries sistemáticas devido às suas peculi- eficiente de avanço e numa baixa eficiência do propulsor,
aridades impostas pela navegação em presença de gelo, elevando os valores da potência instalada. Os valores da
mas não há melhor método para se estimar essas resistên- primeira estimativa estava restringindo escolhas de com-
cias nas primeiras voltas da espiral de projeto. Projetando ponentes propulsivos.
futuras iterações do ciclo de projeto, seria conveniente si- Tendo em vista o processo de degelo que tem ocorrido
mulações com software de dinâmica de fluidos computa- nas regiões polares, tanto é que países nórdicos já tem ti-
cional (CFD) e até mesmo ensaios em túnel de reboque. rado proveito e estão abrindo novas rotas comerciais no
O software NavCad foi utilizado para selecionar a sé- ártico, que um fenômeno bem semelhante tem ocorrido
rie adequada para as dimensões do casco em projeto, e na Antártida Ocidental, região de operação do navio, e
optou-se por utilizar o método proposto por (HOLTROP; que a vida útil do navio será de 30 anos, o grupo de traba-
MENNEN, 1984). Os resultados estão apresentados na lho decidiu diminuir a espessura da camada de gelo de-
Tabela 16. finida pelo RANS em 0,1 m. Esta mudança não altera
Tabela 16: Resistência ao avanço sem presença de gelo
a classificação do navio de 1A PC6 Icebreaker, na qual
encaixam-se navios capazes de quebrar gelo de 0,7 m até
Velocidade [Nós] Resistência [kN] 1,2 m. Os resultados já foram apresentados, levando em
13 148 consideração essa redução.
16 312
4.7 Integração casco-hélice
A navegação no gelo envolve os seguintes processo fí- O objetivo da integração casco-hélice é selecionar um
sicos, enumerados por (ENKVIST, 1972), quebra de pla- hélice adequado pra atender a demanda de potência do
cas de gelo por flexão, energia potencial para afundar o casco. Assim, é feita uma análise adimensional das for-
bloco quebrado e energia cinética necessária para mo- ças de empuxo e torque do propulsor, juntamente com o
vimentar os blocos, afastando-os da trajetória do navio. adimensional de força requerida pelo casco num referido
Com base em tais fenômenos e nos resultados de ensaios coeficiente de avanço. Como resultado encontra-se a efi-
em tanques de reboque especiais, foi elaborado um mo- ciência do propulsor na condição em análise e o nível de
delo matemático por (LEWIS; EDWARDS, 1970) capaz cavitação nas pás do propulsor.
de estimar a resistência ao avanço na presença de gelo. O navio possui dois hélices, essa consideração é fun-
Cada termo da Equação 24 representa, respectivamente, damental para cumprir os requisitos de demanda de po-
cada fenômeno físico descrito anteriormente. tência do casco e também impõe a redundância necessária
ao requisito DP2.
Rim = C0 σf h2 + C1 ρi gBh2 + C2 ρi BhV 2 (24) O processo de integração casco-hélice envolve coefi-
cientes de esteira (w) e de redução de força propulsora
O segundo termo representa o maior componente re- (t) definidos de acordo com o casco. Para manter coerên-
sistivo, é função quadrática da espessura da camada de cia com a estimativa de resistência ao avanço foi utilizada
11
PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR
a formulação de (HOLTROP; MENNEN, 1984) para na- eficiência nesta condição não conseguiam deixá-la signi-
vios que atuam com dois hélices na popa. ficante. Entendendo que o hélice variável não estava re-
presentando grandes ganhos em eficiência, buscou-se um
√ hélice de passo fixo com uma relação passo-diâmetro in-
w = 0, 3095CB + 10Cv CB − 0, 23D/ BT (25) termediária. Foi analisado o comportamento dos resulta-
dos na medida que se afastava do passo ideal de alguma
condição de operação, tais resultados eram comparados
√ com o hélice de passo variável para verificar se não ocor-
t = 0, 325CB − 0, 1885D/ BT (26)
reu grandes perdas em eficiência e cavitação. A melhor
A resistência ao avanço para condição de navegação opção analisada foi para a relação passo-diâmetro de 0,7,
em superfície congelada é mais que 4 vezes a resistência na qual as eficiências ainda continuam acima de 0,6 sem
obtida em velocidade máxima contínua, soma-se a isso presença de gelo e abaixo de 0,2 na condição de superfí-
um coeficiente de avanço (J) reduzido, essa combinação cie congelada. O passo imediatamente maior que 0,7 já
resulta em eficiências muito reduzidas para o hélice pro- apresenta grandes perdas na eficiência com a presença de
pulsor, como pode ser verificado no diagrama de hélice gelo. Apesar das vantagens de custo, o hélice de passo
propulsor da figura 17. A consequência disso é que a po- controlável possui uma oferta menor, podendo causar di-
tência instalada será bem elevada por conta de uma con- ficuldade para encontrar hélice disponível que atenda a
dição de operação, na qual a demanda de potência seria demanda do navio. Ressalta-se que o hélice de navios
capaz de fazer o navio movimentar-se à velocidade de 23 quebra-gelo é especial e deve ter reforço nas áreas mais
nós. afetadas pelo gelo. Logo foi definido que o hélice será de
passo fixo.
Figura 17: Diagrama de hélice propulsor
O propulsor escolhido também deve atender o requi-
sito de bollard pull, no qual deve-se obter, no mínimo, o
empuxo de 100 toneladas na condição de operação com
coeficiente de avanço nulo. A análise é feita variando
a rotação do hélice até obter o empuxo suficiente e em
seguida é verificado se o torque nesta condição não de-
manda potência maior que a disponível pelo motor. O
propulsor atende ao requisito de tração estática e ainda
há uma sobra de potência para gerar um empuxo de 150
toneladas.
A tabela 19 apresenta o hélice escolhido. E a tabela 20
mostra como o propulsor atende as demandas em todas as
condições.
Tabela 20: Quadro resumo Tabela 21: Demanda de potência no eixo para cada condição de opera-
ção
4 nós em superfície de gelo 1 m
13 nós 16 nós 5 nós 4 nós Bollard
η0 Cav %
(Gelo) (Gelo) pull
0,19 26 1591 kW 4099 kW 3408 kW 12404 kW 9284 kW
5 nós em campos de gelo fragmentado
η0 Cav %
0,30 3,8 método paramétrico da MAN (MAN, 2016). O resultado
Velocidade econômica de cruzeiro (13 nós) foi de 1014 kW, valor semelhante aos navios de mesmo
η0 Cav % porte e finalidade.
0,63 0,2 Para o conjunto motor elétrico e propulsor, foram ava-
Velocidade máxima contínua (16 nós) liadas as opções com linha de eixo, propulsor azimutal e
propulsor pod. A opção pod, mostrou-se mais vantajosa
η0 Cav %
pela economia de espaço interno, disponibilidade de po-
0,64 1,2
tência e ainda dispensa uso de stern thrusters em posi-
Bollard pull
cionamento dinâmico. Outro fator que pesou na escolha
N T Q P otD
desse conjunto foi a disponibilidade, em catálogo (ABB,
200 rpm 492 kN 193 kNm 4642 kW
), de hélices especiais para operação no gelo em sistemas
pod. O propulsor escolhido foi Azipod VI1600, figura
20, produzido pela ABB. O conjunto engloba maquinário
4.8 Planta Propulsora
para prover avanço e direção, a instalação de propulso-
As diferentes condições de operação implicam em res deste tipo dispensa as máquinas de leme presentes em
cargas totalmente distintas, isso requer um controle pre- sistemas convencionais. O motor elétrico do conjunto é
ciso da rotação dos propulsores da embarcação. A ins- um motor síncrono, as opções com motor de indução não
talação diesel-elétrica é capaz de variar a velocidade de atendiam a demanda do hélice, além disso o sistema já in-
rotação do motor e por isso é o tipo de planta propulsora clui inversores de frequência que possibilitam o controle
a ser instalada no navio em projeto. preciso da rotação do hélice e sistemas de arrefecimento.
A propulsão elétrica oferece vantagens no consumo Este sistema requer barramentos de alta tensão para os
específico de combustível por manter uma rotação cons- motores de propulsão e baixa tensão para as máquinas
tante, otimizando o carregamento dos motores-geradores, auxiliares.
reduz os níveis de emissões atmosféricas, flexibilidade na
Figura 20: Azipod VI1600
disposição das máquinas dentro do arranjo, controle pre-
ciso da velocidade de rotação do hélice, impondo melhor
eficiência hidrodinâmica ao propulsor. Em contrapartida
os custos de instalação são mais altos, pois a instalação
elétrica é mais complexa e possui diversos subsistemas
ausentes na instalação mecânica convencional.
A energia num sistema de propulsão elétrica passa por
um longo caminho desde a sua geração até ser entregue
para rotação do eixo que gira o hélice. A figura 19, apre-
senta as perdas energéticas desde a potência mecânica no
eixo do gerador até a potência entregue pelo motor elé-
trico ao hélice propulsor.
a literatura (SHAMA, 2013), os perfis do tipo HP(bulbo), Tabela 23: Tabela de cotas
quando comparados com os outros perfis apresentam uma
B 15.53m
maior relação módulo de resistência por peso,fator que
D 8.00m
orientou a escolha das longarinas (figura 22).
O espaçamento entre reforçadores é definido de hdc 0.8m
acordo com a equação 32. Diminuir o espaçamento acar- hdf 0.8m
reta em aumento do módulo de resistência, sendo pena- hd3 2.65m
lizado o peso da estrutura e o custo do projeto. Dessa hd2 2.65m
forma, respeitando o valor de regra, foi adotado s = hd1 2.25m
600mm. ha 3.5m
fu |P |slbdg 2
SMstif f = (31) Assim, neste ponto, definiu-se: perfil de cavernas,
fbdg Cs ReH
vaus e distância entre cavernas gigantes(1500m). Vale
s ≤ 2.08Lr + 438 (32) ressaltar que o requisito de quebrar gelo cria a necessi-
dade de um reforço estrutural que pode ser traduzido com
uma diminuição na distância entre cavernas em regiões
Figura 22: Perfil HP 100x7. sensíveis (proa, por exemplo).
segurança obtido nas quinas seja superior a 1, 65, deve-se sistemas e equipamentos conhecidos em um estágio ini-
availar se a geometria deve ser modificada. cial são os sistemas de armas. No entanto, isso não con-
tabiliza o custo de instalação.
Figura 25: Análise de deformações Nesta análises, as estimativas de custo se basearam
em dados históricos de regressões contidas em (UCL,
2016a) com base em parâmetros de pesos, volumes,
áreas, disponíveis ao projetista. Desta forma obteve-se a
estimativa de custos, parametricamente, que pode ser refi-
nada à medida que foram conhecidos os custo dos materi-
ais e custo de mão-de-obra de instalação de cada sistema
ou equipamento. Esse método de estimativa de custo ado-
tada pela University College of London subdivide o custo
total do navio em Custo de Obtenção da Unitário (Unit
Procurement Cost - UPC) e Custo Durante Vida (Through
Life Cost - TLC). O UPC descreve o custo da construção
de cada navio. O TLC calcula os custos incidentes du-
rante a vida operativa do navio.
entre os anos de 2008 a 2019 (novembro) através do Re- Figura 28: Subdivisão do Custo de Obtenção Unitário
tail Price Index RPI. Esse valores foram conseguidos a
partir do sítio de estatística nacionais do Reino Unido
(STATISTICS, 2019).
Ainda sobre a equação 35, a estimativa do fator de
complexidade (γ) foi baseada na densidade de cada grupo
de peso, normalizada, arbitrariamente, pelo valor da den-
sidade do grupo Ship Systems.
Adicionalmente, considera-se a curva de aprendizado,
já calculada para os dados originados do registro da cons- tor de Complexidade (Ygrp), custa da mão-de-obra em li-
trução da quarta fragata da classe, na extrapolação do bras por hora (HR) e a mão-de-obra necessária em horas-
custo da construção de o primeiro navio de um classe. A homem por tonelada (LRgrp).
curva de aprendizado de acordo com as reduções de custo
observadas ao longo da produção das fragatas da classe é
apresentada na figura 27. Cgrp = 1, 15 · M Cgrp · Wgrp + γgrp · HR · LRgrp · Wgrp
(35)
Figura 27: Curva de Aprendizado para o Custo de Obtenção Unitário
5 CONCLUSÃO
O projeto conceitual apresentado neste artigo repre-
senta a primeira fase dentre as subdivisões do projeto bá-
sico do navio. O objetivo intencionado neste trabalho foi
desenvolver um projeto conceito que satisfizesse os Re-
Aproxima-se a Curva de Aprendizado pela equação quisitos de Alto Nível de Sistemas (RANS), e que forne-
34. cesse uma estimativa de custo e uma avaliação de risco
para o projeto. Dessa maneira, seria possível juntamente
com a Diretoria de Engenharia Naval (Armador) discutir
U P Cshipn = U P Cship4 · 1, 16 · ship−0,105
n (34) a viabilidade e o custo do atendimento de cada um dos
requisitos.
Apesar de o objetivo intencionado ser parcialmente
atingido, devido a estimativa de custo inicial não constar
4.10.2 Custo de Obtenção Unitário - UPC neste artigo, as diversas iterações realizadas convergiram
O UPC é composto pelos custos de material e mão-de- para uma solução satisfatório que atenderia a maioria dos
obra associados às atividades relacionadas à construção requisitos.
de navios. Os custos de material podem ser subdivididos Por fim, realizou-se um revisão completa dos requisi-
nos custos diretos dos itens de material ou equipamento tos operacional contidos no RANS e os comparou com os
e em um custo adicional de compras originário do esta- dados da solução proposta.
leiro. Os custos de mão-de-obra podem ser subdivididos O requisito do RANS para quebrar gelo de 1 metro de
em custos diretos de mão-de-obra e uma provisão para espessura mostrou-se viável, mas incoerente com a pro-
as despesas gerais dos estaleiros. Esses dois componen- posta do navio. A iniciativa de reduzir a espessura em
tes de custo foram obtidos utilizando os relacionamen- 0,1 m reduziu a potência instalada em 5000 kW, abriu
tos empíricos de Ship Design Data Book, que descrevem o leque de opções de componentes para compor o sis-
os custos por cada grupo de peso. Estrutura os cálculos tema propulsivo e ainda otimizou o consumo específico
como na figura 28. de combustível para as demais condições de operação.
O UPC foi obtido somando o custo individual de cada O requisito do RANS para prover redundância de,
grupo. A fórmula apresentada abaixo foi utilizada como pelo menos, 100% da capacidade de geração de ener-
método para determinar o custo total para um determi- gia em situações de demanda máxima (incluindo as mar-
nado grupo de peso. Utilizou-se como entrada: A massa gens de crescimento) aplicado a um sistema de geração de
do grupo de peso considerado (Wgrp), custo de mate- energia integrado a propulsão, como é o caso do sistema
rial / equipamento em libras por tonelada (MCgrp), Fa- de propulsão diesel-elétrico proposto, onerou em diversos
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PROJETO DE CONCEPÇÃO DE UM NAVIO POLAR
aspectos o projeto. Portanto, interpretou-se esse requisito . Defence Standard 02-900, General Naval
de modo a aplicar a redundância de capacidade de ge- Standard: Part 4 - Safety and Environmental Protection,
ração a carga do navio, a exceção da propulsão. O que Ship. [S.l.: s.n.], 2014.
permitiu a redução do peso e volume dos grupos gera-
dores extras, além de gerar uma economia de custo. Po- DESCHAMPS, L. C.; TRUMBULE, J. Ship Design and
rém, a capacidade de energética mínima necessária para Construction. In: . [S.l.: s.n.]. cap. Capítulo 10 -
o cumprimento do requisito de casco de navegação em Cost Estimating.
campo de gelo forneceu alta redundância em todas as de- DNV, G. RULES FOR CLASSIFICATION, Ships, Part 6
mais condições de operação. No sentido de mitigar pos- Additional class notations, Chapter 2 Propulsion, power
síveis interpretações equivocas deste requisito, a adoção, generation and auxiliary systems. 2015.
por parte do Armado, notações de Classe, (DNV, 2015),
aplicáveis para redundância de geração de energia e pro- DNVGL. Rules for classfication: Ships (RU-SHIP). [S.l.:
pulsão. s.n.], 2018.
Requisito do RANS de autonomia mínima de 25 mil
DOORDUIN, W.; WITLOX, L.; LAGEWEG, M.;
milhas náuticas, esse requisito foi cumprido, porém a um
BRAKEL, R. van. The use of electric motors for the
custo de alocar grande parte do volume interno do casco
propulsion of seagoing vessels. Rotterdam Mainport
com tanques de combustíveis. Esse fato prejudicou de
University of Applied Sciences.
certa maneira o arranjo. Mas não só isso, para compor
as 5 condições de carregamentos que são utilizadas nas ENKVIST, E. On the Ice Resistance Encountered by
análises de estabilidade, de acordo com as normas ingle- Ships Operating in the Continuous Mode of Icebreaking.
sas, foram observados esses tanques parcialmente cheio. [S.l.], 1972.
E para manter a imersão adequada do propulsor, e, assim,
evitar perda de eficiência, seriam necessários tanques de EPA. Compensated Fuel Ballast: Nature of Discharge.
lastros para compensar esse peso. Acrescenta-se ai o las- [S.l.]: United States Enviromental Proctetion Agency,
tro necessário para compensar o peso da carga transpor- 1999.
tada, sendo necessário a adição de mais tanques. Esse
GALE, A. P. Ship Design and Construction. In: .
fato, em iterações anteriores, resultou em um navio cerca
[S.l.: s.n.], 2004. cap. Capítulo 5 - The Ship Design
de 30% maior, com maior deslocamento, e consequente-
Process.
mente maior custo. Nesse sentido, visando a economia de
recursos e o menor impacto na cadeia logística da OPE- GUIDELINES. Guidelines for the application of the
RANTAR envolvida, nossa proposta com a inclusão de finnish-swedish ice class rules[to be published during
tanques compensados resultou em um navio de dimen- 2010]. Finnish and Swedish Maritime Administration,
sões próximas aos navios que a marinha já possui, adici- Helsinki, 2011.
onando as novas necessidades estabelecidas no RANS.
HOLTROP, J.; MENNEN, G. G. J. A statistical re-
Referências analysis of resistance and propulsion data. International
Shipbuilding Progress, 1984.
ABB. Azipod VI Series Product Introdution. [S.l.: s.n.].
IMO. International Maritime Organization 1974 Inter-
BERNITSAS, M. M.; RAY, D.; KINLEY, P. KT , KQ national Convention for the Prevention of Pollution from
and Efficiency Curves for the Wageningen B-Series Ships (MARPOL). 1974. Disponível em: <http://www.
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