Diferenças Entre GUARDA X TUTELA

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CONSULTA 0004707-55.2011.2.00.

0000

Requerente: Ivone Ferreira Caetano


Requerido: Conselho Nacional de Justiça

DECISÃO

1. Trata-se de expediente, autuado neste CNJ como Consulta, que foi


encaminhado pela Juíza Ivone Ferreira Caetano, da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, da
Comarca da Capital do Rio do Janeiro, relatando dificuldades na aplicação da Resolução/CNJ n. 131,
que dispõe sobre a concessão de autorização de viagem para o exterior de crianças e adolescentes
brasileiros.

No ponto, informa a magistrada que, apesar de a citada Resolução permitir, no seu


art. 7º, a viagem de menor, para o exterior, acompanhada de seu guardião por prazo indeterminado
(anteriormente nominado guardião definitivo), a Polícia Federal tem entendido que tal dispositivo não se
aplica à emissão de passaporte.

2. Por despacho deste relator, a Coordenação-Geral de Polícia de Imigração do


Departamento de Polícia Federal manifestou-se nos autos, por meio do DOC6.

3. É o breve relatório.

4. Decido.

A resposta dada pelo Departamento de Polícia Federal elucida a questão. Em


suma, informa:

A Polícia Federal aplica os dispositivos legais segundo os quais a guarda,


ainda que definitiva, por si só, não confere o exclusivo direito de
representação e assistência do menor, salvo se houver expressa disposição
da Justiça nesse sentido ou comprovada a suspensão ou destituição do
poder familiar dos pai(s) ausente(s). (grifo nosso).

De fato, o procedimento adotado pela Polícia Federal de, no ato da solicitação da


emissão do passaporte, examinar o termo de guarda, ou a sentença, para verificar se há autorização
judicial para a emissão do documento ou declaração expressa de destituição de poder familiar do
genitor, ou genitores, está correto.

Ocorre que não se pode confundir o termo de guarda, ainda que definitiva, com o
direito de representação, inerente ao poder familiar. Este, a princípio, é exercido com exclusividade
pelos genitores, e não é conferido a quem detém a guarda. É o que dispõe art. 1.634, V, do Código
Civil, in verbis:
Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:

(...)
V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após
essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;

A extinção do poder familiar ocorrerá nas hipóteses elencadas no art 1.635 do


Código Civil, que preceitua:

Extingue-se o poder familiar:


I - pela morte dos pais ou do filho;
II - pela emancipação, nos termos do art. 5o, parágrafo único;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.

Logo, a guarda, quer concedida a um dos genitores quer concedida a terceiros,


não extingue automaticamente o poder familiar, pois não elimina o direito de representação e de
assistência do genitor, que, eventualmente, não detenha mais a guarda do menor.

Há de se ter em conta que apenas a concessão da tutela corresponde à perda do


poder familiar, conforme dispões o art. 1.728 do Código Civil, in verbis:

Os filhos menores são postos em tutela:

I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;

II - em caso de os pais decaírem do poder familiar. (grifo nosso).

Portanto, a exigência do Departamento de Polícia Federal de que haja


concordância de ambos os genitores do menor ou autorização judicial expressa, no caso da guarda,
para emissão do passaporte, não afronta a Resolução n. 131 deste CNJ, que, aliás, não tratou da
questão.

Releva dizer que o procedimento adotado pela Polícia Federal, amparado na Lei,
visa, especialmente, a evitar a evasão de menores do País, sem o conhecimento ou consentimento dos
pais.

Por outro lado, ante o relato da magistrada sobre as dificuldades que vem
enfrentando pela busca, pelos detentores da guarda, de nova autorização para emissão de passaporte,
e a sugestão, do DPF, por meio da Polícia de Imigração, no sentido de que este CNJ avalie a
padronização do termo de guarda definitiva expedido pela Justiça, a fim de fique expressa de
forma inequívoca a destituição ou suspensão do pátrio poder do(s) genitor(es) da criança ou
adolescente e o direito de representação ou assistência exclusivo do guardião, visando a
viabilizar a expedição de passaporte com autorização apenas deste, sem necessidade de nova
manifestação judicial , entendo que a questão merece ser mais bem examinada, e regulamentada, por
este CNJ.

5. Diante disso:

a) respondo negativamente à Consulta, ou seja, não afronta a Resolução/CNJ n.


131 a exigência, pela Polícia Federal, de autorização judicial expressa para o detentor da guarda obter
o passaporte do menor;

b) intime-se a magistrada requerente a respeito do desfecho do expediente por ela


encaminhado a este CNJ.

c) reautue-se o presente feito como Ato, e intimem-se os Tribunais de Justiça para


que, no prazo de 30 (trinta) dias, informem eventual regulamentação da matéria e apresentem
sugestões sobre a questão, a fim de serem inseridas em regulamentação a ser proposta ao Plenário do
CNJ.

FERNANDO DA COSTA TOURINHO NETO


Conselheiro

Esse Documento foi Assinado Eletronicamente por FERNANDO DA COSTA TOURINHO NETO em
12 de Março de 2012 às 18:55:04

O Original deste Documento pode ser consultado no site do E-CNJ. Hash:


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