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A BELEZA - António Rocha Fadista
A BELEZA - António Rocha Fadista
A BELEZA - António Rocha Fadista
Nada mais conhecido do que o sentimento do belo; nada mais difícil de definir do
que a sua idéia. A Beleza produz dois efeitos nas pessoas: dá-lhes prazer e
provoca um juízo. O juízo estético é universal, isto é, quando afirmamos que
certo objeto é absolutamente belo, todos devem estar de acordo.
Toda a beleza é essencialmente expressiva; um objeto é belo por causa das idéias
e sentimentos que nos sugere. A beleza é expressiva porque exprime a vida e, em
particular, a vida da alma. No dizer de Platão, “a graça das formas provém de
elas exprimirem, na matéria, as qualidades da alma”. Segundo diz Aristóteles na
Poética, “toda a beleza deve-se assemelhar à vida”. A beleza é a expressão da
vida, mas não de uma vida qualquer; há certas formas de vida que são diminuídas,
disformes ou abortivas da vida, que são objeto de compaixão, de desgosto, de
aversão e até de horror. O que excita em nós a simpatia, a admiração, o
entusiasmo, é a expressão de uma vida rica, livre e harmônica. Assim sendo,
podemos definir a beleza como sendo:
Esta é a razão porque Deus, sendo Ser absoluto, é também a verdade perfeita, a
beleza suprema, e o bem infinito; por isso mesmo todo o ser vivente que é, – e
na medida em que é, – é verdadeiro, é belo e é bom.
Mas, ainda que no ser absoluto estes três conceitos se identifiquem unidos, em
relação ao homem eles são distintos; isto porque o homem os identifica por meio
de faculdades diferentes, o que obriga a distingui-los de maneira específica, à
semelhança do prisma que decompõe a luz nas cores elementares.
De acordo com a forma pela qual exprimem a beleza, as artes dividem-se em Artes
Plásticas e Artes Fonéticas. As Artes Plásticas – arquitetura, escultura,
pintura, desenho – empregam as formas e as cores. Projetam os objetos nos
espaço, em três dimensões, como a escultura e a arquitetura, ou em somente duas,
como a pintura e o desenho, suprindo a terceira dimensão através dos artifícios
da perspectiva.
Para terminar, para descontrair, uma pequena história sobre a Beleza e o Belo,
escrita pelo Irmão e filósofo irreverente, Voltaire:Perguntem a um sapo o que é
a beleza, o belo admirável, e ele responderá que á a fêmea dele, com os seus
dois grandes olhos redondos, salientes, espetados na pequenina cabeça, com um
focinho largo e achatado, barriga amarela, dorso acastanhado. Perguntem ao
diabo, e ele dirá que é um belo par de cornichos, quatro garras afiadas e um
rabiosque enrolado. Consultem, por fim o filósofo, e este responderá com uma
algaraviada desconexa, numa gíria arrevezada; é-lhes indispensável algo de
conforme o arquétipo do belo.
Em seguida, fizemos uma viagem pela Inglaterra: ali vimos representar a mesma
peça teatral, traduzida na perfeição; mas aqui os espectadores bocejavam. “Oh!
Oh!” exclamou o filósofo, “o belo não é o mesmo para franceses e ingleses”.
Concluiu, depois de refletir, que o sentimento do belo é coisa muito relativa,
do mesmo modo que aquilo que é decente no Japão é indecente em Roma, e o que
está em moda em Paris é detestado em Pequim; e desistiu de elaborar um longo
tratado sobre o belo e sobre a beleza.