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Sobre o Tecnobrega (Jaloo)
Sobre o Tecnobrega (Jaloo)
INTRODUÇÃO
autores/cantores levam direto ao DJ, e daí, é a “galera” que diz se o ritmo vai “pegar”
ou não.
As festas das aparelhagens1 são o ápice para a divulgação e propagação do
ritmo. O tecnobrega tem todo um rito a ser desenvolvido, começando nas
aparelhagens, passando pelas danças sensuais, até estourar nas rádios de Belém.
Depois de expor a performance do tecnobrega, a pesquisa passa para outra
etapa. Nesse momento, é descrito como a mercadoria brega é apreendida nos seus
muitos matizes. Dentro da estética do tecnobrega, Barros mostra a extensão desse
movimento nos segmentos sociais e que, embora, tido como música “inferior” em
oposição à “alta cultura”, tornou-se o centro da cultura moderna massificada. A
autora aborda o kitsch, enquanto provocação pós moderna, que introduz novos
modelos de produção e sensibilidade estética, buscando dessa forma, sua
independência.
O tecnobrega, sendo uma arte para as massas, precisa ser compreendido
dentro de uma perspectiva dos movimentos sociais. Busca-se através de Barbero
(2003) entender que as técnicas de reprodução moderna são de potencial
progressista.
Para Kellner (2001) as novas tecnologias e novas formas de cultura trazem
um rompimento definitivo com as formas moderna de vida. Para ele, as indústrias
culturais possibilitam a multiplicação dos espetáculos nos novos espaços midiáticos.
Segundo ele, uma economia baseada na internet vem utilizando a alta tecnologia
como meio de promoção, reprodução, bem como a circulação e venda de produtos
que se apropriam da multimídia e tecnologia para impactar os consumidores.
Sanches (2011) apresenta o tecnobrega fazendo um percurso antropofágico,
uma verdadeira “canibália”, na opinião dele. A capacidade que o ritmo tem de se
apropriar de outros sons e inventar o seu próprio estilo, com características
inteiramente amazônicas.
Finalmente, chega-se aos teóricos do pós modernismo que apresentam uma
dialética, assim como os teóricos da indústria cultural. Nesse momento busca-se
entender o momento vivido pelo tecnobrega. Se ele veio para ficar; se existe outras
possibilidades para esse ritmo ou se ele já se esgotou como movimento cultural de
periferia.
1
Modernos equipamentos de som, iluminação e efeitos visuais.
13
CAPÍTULO 1
1
Softwares quebrados. O crack é um programa que libera os códigos de registro tornando originais as
características de um programa pirateado.
20
1
Fundada em 13 de Agosto de 1950 por Orlando Santos, um dos precursores do movimento das aparelhagens.
2
Filho de Orlando Santos, o primeiro DJ da aparelhagem Rubi.
3
Figura importante do universo das aparelhagens. Começou a trabalhar como DJ aos doze anos de idade com
Andir Corrêa, seu pai e fundador do tupinambá. Atualmente tira grande parte da sua renda apresentando o
programa semanal “Na Freqüência na TV”.
21
Janotti (2006) diz que é tão comum encontrar nos artigos análises que falam
de hibridismos, das interfaces e até da imaterialidade dos suportes comunicacionais
na cultura contemporânea. Para ele, o gênero musical é definido por elementos
textuais, sociológicos e ideológicos. Dentro dessa rotulação, está presente um certo
modo de partilhar a experiência e o conhecimento musical.
O sentido e o valor da música massiva são configurados, na visão do autor,
através do encontro entre a canção e o ouvinte, uma relação que está relacionada
aos aspectos históricos e contextuais do processo de recepção, bem como os seus
elementos semióticos. Traçar a genealogia de um gênero musical massivo envolve:
1. 2 - A PERFORMANCE DO TECNOBREGA
Disponível: <http://www.rollingstone.com.br/photos>
Acesso em: 04 Maio 2011
1
Festa de longa duração feita para as pessoas dançarem ouvindo música eletrônica. Surgiu quase
simultaneamente em Ibiza, Espanha, Londres, Manchester, na metade dos anos 80.
23
Disponível: <http://www.R7.com/entretenimento>
Acesso em 04 Maio 2011
1
Atualmente, a maior aparelhagem. A empresa Pop Som está divida em Super Pop: O Novo Águia de Fogo, que
possui 50 funcionários e têm como DJs os irmãos Élison e Juninho; e Pop Saudade, A Relíquia da Saudade, que
emprega 30 funcionários, no comando está o DJ Betinho e Siqueira.
2
Venda ou distribuição de material sem o pagamento dos direitos autorais, de marca ou de propriedade
intelectual e de indústria. Falsificação.
24
Rodrigues et al (2010) escreve que a empresa Pop Som tem como tipo de
negócio a realização de shows de aparelhagem, cujo principal estilo de música é o
tecnobrega. Suas cores institucionais são o vermelho e o amarelo.
É considerada uma empresa e como tal paga impostos junto à prefeitura, possui
CNPJ e licença de funcionamento do Estado, o alvará que é renovado anualmente.
Ainda segundo os autores, o Pop Som está dividido em: O Águia de Fogo
Super Pop: O Arrasta Povo, que possui 50 funcionários; e o Pop Saudade, que
possui trinta funcionários. Eles fazem altos investimentos em tecnologia e por isso,
já são reconhecidos em outros estados.
Os autores informam que o símbolo da marca representada pela Águia de
Fogo, é uma alusão a um seriado muito famoso da década de 80, sobre um
helicóptero da polícia que sobrevoava a cidade em busca de crimes a serem
resolvidos. Em virtude disso, seus equipamentos dão a idéia de um helicóptero. Os
comandos lembram uma cabine e a aparelhagem espalha gelo seco, as
metralhadoras soltam faísca e papel laminado.
25
A marca atual chama-se Super Pop. Eles queriam um nome que causasse
imponência e grandeza. Super Pop “significa super popular,” o que está “na boca do
povo”. A águia é a mascote do Super Pop.
O Pop Som possui na sua logomarca as cores amarelo, vermelho, preto, as
letras são arredondadas, com destaque para a letra S (centralizada, na forma de um
raio).O slogan é “o arrasta povão”.Na parte superior esquerda tem quatro
estrelas.Possui também, uma espécie de bandeira bem no centro, na parte superior.
As letras, com exceção do S, dão a impressão de uma continuidade, ou rotatividade.
A “mascote” da marca é representada pela águia.
As forças das cores utilizadas pela logo da empresa servem para reforçar a
imagem que ela quer transparecer: Forte, chamativa, super popular. Quanto à
“mascote”, a águia, a mesma é tida como a rainha das aves. Capaz de alçar as
maiores alturas e mergulhar com uma velocidade impressionante, quando avista
uma presa há vários quilômetros de altura. A águia tem também, a capacidade de se
renovar.
Essa idéia de renovação está destacada pelas letras em posição de
rotatividade. A logomarca é a perpetuação do diálogo da indústria cultural: a
reprodutibilidade a serviço de uma massa homogênea. O que é consumível,
vendável, vai se desenvolvendo dentro de um discurso recorrente.
É preciso reconhecer, segundo Kellner, (2001) que em nossa cultura
globalizada estão ocorrendo mudanças significativas e que muitas das antigas
teorias e categorias modernas já não conseguem descrever adequadamente a
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Disponível: <http://www.acessaguama.com>
.Acesso 04 Maio 2011
E é essa cultura que está sendo alterada em seu processo de mutações, de
misturas, reconstruindo o universo com outra visualidade. Observa-se que,
aparentemente, o sujeito do contemporâneo tudo vem aceitando em nome dessas
hibridações estilísticas. Pode-se dizer que o que antes era apenas lógico está cada
vez mais unido ao sentimento, às crenças, às percepções, às emoções de um
imaginário cultural. Ainda segundo o autor, as culturas midiáticas estão dominando o
mundo de hoje. Dessa forma, é mister decodificar e entender essas novas culturas
que se apresenta.
1
Less não significa exatamente pouco, mas sim o essencial, o que se faz habitualmente. Enquanto more é o
exagero.
27
Lemos (2008) escreve que o tecnobrega é mais do que um típico produto pop
periférico que negocia sua inserção no mercado institucional. O modelo de negócio
que essa música põe em operação se diferencia da maioria dos outros mercados
musicais, uma vez que o direito autoral sobre as músicas não constitui fonte de
renda para o artista que, por sua vez, não possui a exclusividade sobre sua criação.
O tecnobrega criou um novo negócio para a produção musical, baseado em
baixos custos de produção e na incorporação do comércio informal como principal
instrumento de divulgação e propagação dessa produção.
Downing (2001) escreve que para Walter Benjamin arte e mídia não deveriam
ser classificadas em categorias separadas. Ao contrário dos que viam as tecnologias
da mídia de massa como responsáveis pela degradação da cultura e da
comunicação, Benjamim trilhou pelo caminho inverso.
A proximidade e tatilidade virtual estimulariam as audiências a adotar para si
mesmas uma postura ativa em vez de uma passividade contemplativa. Em suma, as
tecnologias de mídia, uma novidade na época, abriam amplas possibilidades para
que um grande número de pessoas pudesse ter acesso ao poder cultural e a
energização da cultura popular.
Benjamin, segundo o autor, celebra o fim da aura na obra de arte. No ensaio
sobre a reprodutibilidade técnica, a aura que Benjamin ataca “é aquela que ressalta
a distância hierárquica entre o observador e o objeto.”
Barros (2009) citando o etnomusicólogo Samuel Araújo ressalta que, na época
em que o debate em torno do brega veio à tona, as elites aborreciam-se com a
audição do gênero “de mau gosto” a “massivas execuções em rádios e outros
veículos populares” e a uma suposta “vulnerabilidade do gosto popular”. Mas é bom
ressaltar, segundo a autora, que a transformação dessa música em produto pop
ampliou exponencialmente o seu alcance, inclusive junto a outros segmentos
sociais.
29
Como um típico produto planejado pela indústria cultural que, segundo ela,
apesar de trazer marcas de espontaneidade na origem, é artificialmente
transformado em matriz e consumido junto com um modelo retirado do
padrão estético da elite. A autora segue a premissa benjaminiana de que,
após a industrialização, todos os objetos são cópias, inclusive os objetos
culturais, já que se trata de reprodução de uma matriz, de um modelo.
(José, 2001, p. 82 apud Barros 2009 p).
Disponível:< http://www.Sejoga.com>
Acesso em: 04 Maio 2011
Tal perspectiva pode ser problematizada se for levada em conta, como o faz a
teoria pós-moderna, a mudança de registros operada nos processos de significação
acionados pelos sujeitos diante dos artefatos da cultura de massa.
O consumo enquanto valor que rege os modos de ser não constitui um
elemento novo da vida, embora no século XIX, o consumo tenha sido promovido de
um papel trivial, a uma significação essencial. O fenômeno kitsch baseia-se em uma
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Disponível: <http://www.jc.uol.com.br>
.Acesso em: 04 Maio 2011
Trata-se de um conceito universal, que corresponde a um primeiro momento a
uma gênese estética, a um estilo marcado pela ausência de estilo. Ressalte-se que,
se o kitsch é eterno, tem os seus períodos de prosperidade marcados pelo acesso à
opulência. Nesse caso, o “mau gosto” é a etapa prévia do “bom gosto” que se realiza
pela imitação das celebridades.
Barros (2009) menciona também, em sua pesquisa, Celeste Olalquiaga (1998)
que argumenta que não é a suposta passividade ou os traços mecânicos da cultura
popular que “ameaçam” o prazer estético da noção sofisticada de gosto, mas a
maneira como essa cultura se integra à vida cotidiana.
Para a autora, o kitsch é um dos melhores exemplos de como essas
segregações estéticas e intelectuais funcionam e de como elas contêm, parado-
xalmente, as sementes de sua própria destruição. Entende que o kitsch é uma
provocação pós moderna, uma vez que reúne de forma aleatória os temas da arte
clássica, modernista e popular, deixando para trás a idéia de coesão e continuidade,
para depois reapresentar esses temas, para grande deleite de seus consumidores
‘sem instrução’ e para grande pesar dos críticos”.
Nessa linha de argumentação, expressões culturais periféricas como o tec-
nobrega podem ser apreendidas como
[...] O brega poderia ser visto como o filho seqüestrado da cultura popular e
adotado para ser “refinado” pela cultura de massa. Seqüestrado, porque
originariamente os elementos selecionados não apresentavam valor positivo
para os segmentos sociais que produziam expressões artísticas para seu
próprio uso. Adotado, porque esses elementos são organizados a partir da
fôrma de sucesso da cultura industrializada. E, finalmente, refinado, porque
esses elementos tomam um banho de loja para se parecerem com o
modelo estético da elite ou para serem apresentados como tendência, como
quer a moda. (José, 2001, p. 22-23 apud Barros, 2009 p. 71).
exerce direito à cidade. Pois a massa tem duas faces: não só estatística, mas
também, a expressão de um novo modo de sentir.
Disponível: <http://www.souparense.com>
Acesso em: 04 Maio 2011
1
Cultura de massa. O que pressupõe passividade e homogeneização.
2
Cultura média, quando o consumo se coloca entre o refinado e o massificado.
35
Percebe-se aí, que Carmem Lúcia José ratifica a dimensão do brega como
fenômeno social no contexto da cultura de massa, baseada na produção e consumo
de sinais. Há que se considerar, no entanto, que os artefatos da cultura de massa,
sobretudo aqueles produzidos nas periferias metropolitanas, acabam trazendo à
tona contradições de classe e relações de poder que terminam por reintroduzir as
hierarquias de gosto no discurso crítico.
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CAPÍTULO 2
A internet representa uma nova era para a mídia alternativa. Ford & Gil (2001)
escrevem que é uma infra estrutura interconectada para múltiplas formas de
comunicação, ela promove um período de convergência das tecnologias de mídia. A
internet pode vir a ser nossa primeira esfera pública global. É o primeiro veículo que
oferece, aos indivíduos e coletivos independentes de todo o mundo, a chance de
comunicar-se, com suas próprias vozes.
Para as autoras, essa comunicação on line facultam novas possibilidades,
como distribuição gratuita e irrestrita de programas de computadores, exposição de
arte multimídia. Tornou-se essencial dar a internet um enfoque de mídia radical:
consiste na participação das pessoas na criação de formas interativas de
comunicação que atuam como forças de compensação para o fluxo unilateral que é
próprio de mídia comercial.
Downing (2001) informa que dentre várias formas de diferenciar a mídia
radical alternativa da mídia mais convencional e estabelecida é que os meios
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radicais alternativos tem alguma coisa em comum, que é o fato de romper regras,
pode-se dizer também:
“A matriz visual e sonora pode ser gringa, mas a matriz lírica não é. Quando
Marlon Branco canta ‘essa menina não se liga em rock/ o que ela gosta de
escutar é aparelhagem‘, na música ‘Chupa Paula‘, é uma tomada de
posição do caralho. Ou quando, em ‘Wal Pescador‘, a menina canta ‘Wal
pescador, Wal pescador/ você conquistou o coração das Super-Xanas‘,
sendo que Super-Xanas é uma turma de meninas da periferia e o Wal é
realmente um pescador da região da ilha do Marajó, é outra afirmação de
42
Anos depois, no final dos anos noventa, o ritmo renasce, agora sobre nova
roupagem e nome: bregacalypso. Mais acelerado, o bregacalypso usou de uma
nova ferramenta sonora – a guitarrada paraense. Criada por Mestre Vieira 1 a
guitarrada faz uso de solos inconfundíveis de guitarra, com influencias na cumbia,
carimbó2, merengue e surf music3. Além das guitarras, agora o ritmo é mais
acelerado, na “new wave”4 bregacalypso cantores bregas entram na safra, novas
1
Criador do gênero guitarrada, também chamada de lambada instrumental. Nesse estilo a guitarra elétrica é
solista.
2
Dança de influência africana, indígena e portuguesa. É marcado pelo uso do atabaque, os dançarinos
apresentam uma coreografia onde os pares dançam soltos.
3
Música dançante de tempo rápido, com guitarras dominando o som, e quase sempre com compasso 4/4.Uso
excessivo de reverberação sonora (eco).
4
Gênero musical surgido nos anos 70 incorpora músicas instrumental e eletrônica.
45
Depois dessa fase, o brega solidifica na região não só um novo ritmo, como
também um novo modelo de mercado.
Lemos (2007) escreve que no fim dos anos 90 surgiu a leão produções.
Fundada por Leão, diretor de arte na época, a produtora lançou artistas seu primeiro
artista: o cantor de brega Ribamar José. Só em Belém, Ribamar vendeu 15 cópias
do seu primeiro disco. Em 97, com o selo já registrado a Leão já havia produzido
mais de 100 discos, não só de bregacalypso, mas de outros gêneros incluindo o
brega e o melody. Após esse retorno, voltam os investimentos em programas de
rádio e TV, as editoras, estúdios, gravadoras, casas de show e aparelhagens voltam
a crescer.
2.3 - ENTREVISTAS
CAPÍTULO 3
Santos (1988) escreve que a cultura de massa tem sido a ré. A ela é atribuída à
dominação ideológica das massas, perversão da cultura, canal de dominação
política, veículo de difusão do conformismo. No entanto, ela veio para ficar. Seus
produtos se multiplicaram, invadiram as artes, entraram em simbiose com a
tecnologia e o capital. Atinge os mais variados públicos e povoam o imaginário de
várias gerações.
Para ele, a cultura de massa está permeada de preconceitos que impedem um
estudo mais profundo dos produtos culturais e de sua relação com o público alvo.
Ele lista alguns preconceitos e mitos acerca do tema e faz refutações.
Santos (1988) escreve que o primeiro deles é o “viés ideológico”. Quando se
afirma que os produtos da cultura de massa são criados dentro de um sistema
capitalista e que tem a função básica de propagar esse sistema. Assim, os meios de
comunicação perpetuam o capitalismo. O autor concorda que os produtos culturais
realmente incorporam elementos da sociedade que os criou.
Contudo, no dizer dele, esses produtos incorporam a lógica do sistema produtivo
que realiza o objetivo maior do capitalismo: o lucro. Mais do que reproduzir conceitos
ideológicos, os produtos da cultura de massa, precisam se comportar como
mercadorias, para serem vendidas, consumidas e gerar lucros. Nesse sentido, não
importa a mensagem vinculada, que pode até mesmo conter críticas ao sistema.
O segundo preconceito, para o autor, é o “controle e dominação”. Atribui-se a
cultura de massa o poder de controlar a vontade e dominar a consciência da massa.
A dominação seria conseguida por uma recepção passiva da ideologia dominante. O
autor vai buscar em Baudrillard (1985) a refutação para essa premissa:
Seja qual for seu conteúdo político, pedagógico, cultural, seu propósito é
sempre filtrar um sentido, manter as massas sob o sentido. Imperativo de
produção de sentido que se traduz pelo imperativo incessantemente
renovado de moralização da informação: melhor informar, melhor
socializar, elevar o nível cultural das massas etc. Bobagens: as massas
resistem escandalosamente a esse imperativo da comunicação racional. O
que se lhes dá é sentido e elas querem espetáculo. Nenhuma força pode
convertê-las à seriedade dos conteúdos, nem mesmo a seriedade do
51
código. O que se lhes dá são imagens, elas querem apenas signos, elas
idolatram o jogo dos signos e de estereótipos, idolatram todos os
conteúdos desde que eles se transformem numa sequencia espetacular. O
que elas rejeitam é a ‘dialética’ do sentido.
(Baudrillard, 1985, apud Santos, 1988, p.94).
difundidas nos espaços típicos destes segmentos. Com essas observações o autor
espera que a teoria da cultura de massa fique menos preconceituosa e mais aberta
às produções culturais, que são, por vezes, fascinantes.
Santaella (2002) escreve que quaisquer meio de comunicação ou mídia são
indissociáveis das formas de socialização e cultura. A chegada de novos meio de
comunicação traz consigo um ciclo natural que lhe é próprio.
O advento da cultura massiva a partir dos meios de reprodução, seguida do
gigantismo dos meios eletrônicos de difusão, no dizer da autora, gerou um impacto
atordoante na tradicional divisão de cultura erudita, de elite, de um lado, e popular,
de outro.
Mesmo concordando que qualquer produto cultural é produzido e consumido
de acordo com a lógica do capitalismo, esse pensamento só ajudou a acentuar o
fosso de separação da cultura erudita da cultura popular ou de massa. Inclusive,
segundo ela, o termo “indústria” tornou-se obsoleto quando se trata de descrever os
processos de comunicação e produção cultural implicados em “processos
informacionais e decisórios que escapam da simples manufatura industrial de bens
simbólicos” (p 48).
Santaella (2002) diz que a ilusão e teimosia em definir com precisão o perfil
popular e erudito nos produtos culturais, foi marcado pelo preconceito contra os
meios de comunicação de massa. Esses preconceitos criaram uma falta de atenção
generalizada que deixaram o entendimento embaçado para se perceber que:
de resistência. Por outro lado, discute-se que se existe uma resistência, existe
também, a possibilidade de “ensinar”, “educar”, esse receptor.
E aí, surge em cena, os mais intelectualizados, para ensinar a essa classe
“marginal”, a verdadeira arte e bom senso para se usar a cultura de massa nos
meios de comunicação de massa. Diante da dialética, quem pode dizer que as
produções ocorridas no movimento tecnobrega são qualitativamente pobres?
Intelectualmente inferior?
Se os “apocalípticos” tivessem razão, então, os meios de comunicação hoje
seriam inteiramente alienantes.
Os “tecnobregueiros” são variados em suas inserções, formações, objetivos e
preferências. Eles são independentes em suas criações, inovações. Tentar entender
isso - diminuirá as tensões e polêmicas negativas, para uma discussão mais
produtiva e positiva. Negar que o tecnobrega faz parte das inserções e interações
mediático/sociais da sociedade paraense é negar a revolução midiática da história
contemporânea.
55
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Disponível: http://www.jc.uol.com.br/img/photos
Acesso em: 04 Maio 2011
Coelho (2001) diz que Moderno não se conceitua. Não se define. No limite se
refere ao que é novo.Modernismo é o fato.É mais uma fabricação do que uma
ação.É um estilo de linguagem, um código. A Modernidade é a reflexão sobre o fato.
É a crítica, autocrítica, a interrogação, a dúvida. Por ser um processo de descoberta
a modernidade é uma ação.
Eagleton (2008) informa que Pós Modernidade é um período histórico
específico, questiona as noções clássicas de verdade, razão, identidade e
objetividade. Emancipação universal. Vê o mundo gratuito, instável, imprevisível. Ela
emerge de uma mudança histórica ocorrido no Ocidente para uma forma de
Capitalismo de um mundo efêmero. Pós modernismo está ligado a uma cultura
contemporânea. É um estilo de cultura por meio de uma arte superficial,
descentrada, infundada, auto-reflexiva, divertida, eclética e pluralista que obscurece
56
as fronteiras entre cultura “elitista” e cultura “popular”; bem como inclui a arte e a
experiência cotidiana.
Lyotard (2002) define o pós moderno como ruptura, como o estado da cultura
após as transformações que modificaram os paradigmas da ciência, da literatura,
das artes a partir do final do século XIX. Segundo ele, quando as sociedades entram
na era pós industrial da idade pós moderna muda também as regras do saber.
Heller & Feher (1995) dizem que os modernos não reconhecem limites, eles
os transcendem. As instituições são desafiadas, criticadas, rejeitadas em sua
legitimidade, ao agirem assim, estão sustentando o ordenamento moderno ao invés
de destruí-lo.
REFERÊNCIAS
CANCLINE, Nestor Garcia. A condição pós moderna. 8 ed.Rio de Janeiro: Ed. José
Olympio, 2004.
COELHO, José Teixeira. Moderno, pós moderno. São Paulo: Ed. Iluminuras, 2001.
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. 5 ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1993.
GOULART, Jefferson (org). Mídia e democracia. São Paulo: Ed. Annablume, 2006.
HELLER, Agnes e FÉHER, Ferenc. A Condição política pós moderna. São Paulo:
Companhia das letras, 1995.
LYOTARD, Jean F. A condição pós moderna. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. José
Olympio, 2002.
NEVES, Jr. Brega: de 1980 a 2005 – do brega pop ao calypso do Pará. Disponível
em: http://www.bregapop.com/historia/index_jrneves.asp. Acesso em: 20 Abr 2011.
PRADO, José Luiz (org). Crítica das práticas midiáticas: da sociedade de massa às
ciberculturas. In: SANTAELLA, Lúcia. A crítica das mídias na entrada do século 21.
São Paulo: Ed. Hacher, 2002. p.44 – 56.
APÊNDICES
64
APÊNDICE A
Nome do Entrevistado:
Nome Artístico:
Data:
Local:
APÊNDICE B - Entrevistas
Fonte: <http://www.R7.com/entretenimento>
Acesso em: 04 Maio 2011
Acho que possui. Possui a característica de fazer musica pra uma sound
system (aparelhagem). Essa coisa de ovacionar o Dj, essa coisa do fã clube
também, das equipes e acho que não é só um estilo musical, mas um estilo até de
vida, porque as pessoas que vão pra festa elas vivenciam aquilo, elas trabalham pra
comprar o ingresso pra poder chegar lá com a equipe e comprar tantos baldes pra
equipe dela ganhar da outra equipe porque eles tomam mais gelada e o jeito de
dançar é diferente. Então, o jeito de curtir. Digo que a Bahia inventou o “joga a
mãozinha pra cima, bate na palma da mão” – Belém do Pará inventou o “treme –
treme”. Tem uma parada muito antropológica nisso, se você for ver, as crianças já
nascem, digo assim: as crianças do Jurunas elas já nascem tremendo, já escutam a
música, já tem disputa de “treme”. Esse meu DVD que gravei no Jurunas tem uma
parada muito legal tipo, pirralho, assim, uns garotos 6, 7 anos disputando, sabe?
66
Aquela coisa marginal - tem uma coisa muito marginal e muito autêntica, isso que eu
acho que é o mais precioso. Tipo, aquela coisa que veio das classes baixas, saiu da
periferia, aquele tom que veio do povo que não foi gravadora que impôs, não foi
rádio que impôs, não foi à mídia internacional que impôs, não: “a gente gosta disso,
a gente ouve isso, aceitem, engulam - que é isso que a gente quer”. Eu acho que é
por aí.
Olha, eu acho que a galera quer mais é saber que a música toque na
aparelhagem. Então, você fazendo (o que eu acho que é uma estética) uma música
pro Super Pop, que é a número 1 do momento, é mais fácil de tocar do que se você
fizer uma música falando “beijo na Boca” e, acho que as pessoas têm muito... O meu
trabalho é muito diferenciado dos outros, a gente já alcançou um grau de... a gente
deu uma evoluída no trabalho e, eu agora, procuro fazer músicas pensando no
universal, não quero fazer uma música só pra tocar no super pop – eu quero que
toque no super pop, mas também quero que toque no sul, quero que toque lá em
Londres quero que toque em todo lugar do mundo. Acho que existe um padrão das
batidas, existe um padrão de aceleração da voz, ou seja, do pich, sempre jogar pra
cima por que se for lenta as pessoas... Mas lá fora o que chegou foi o que a Dejavú
fez de inteligente que foi desacelerar a batida – as pessoas começaram a
compreender melhor. Então foi até uma lição pra gente também - perceber que é
muito novo é uma música muito forte, muito atípica, muito regional, mas moderna ao
mesmo tempo. Muita informação. E você tentando facilitar a leitura pras pessoas
entenderem, acho que elas captam com mais facilidade.Agora o eletro
(Eletromelody), por exemplo, que já é outra vertente do tecnobrega, eu levo o eletro
já... Já tem uma coisa que... Acho que mais forte por que ele é mais acelerado mais
agressivo, ele é tipo um punk tecnobrega, mas ele consegue, as pessoas entendem
muito rápido por que tem muita verdade nisso eu gosto muito, muito, muito – do
eletro. Acho que o eletro é uma parada, assim, muito forte, também que caracteriza
muito.
Olha, o que eu posso falar por mim, tipo, já fui chamada pra dar palestra
sobre tecnobrega - até em outros estados e eu percebo da galera, assim, mais
formadora de opinião um respeito total – da grande maioria é claro. Quem entende
quem respeita os movimentos periféricos tem assim um super respeito, tanto que eu
toquei na posse da presidente, é, essa versão das águas de março – vários meios
de comunicação publicaram. Como uma evolução que o próprio funk não deu – o
funk é uma parada muito incrível que eu comparo muito com o início, assim,
parecido com o tecnobrega mais o funk ficou aqui (mão direita a frente da cabeça) e
o tecnobrega já ta começando a ir pra cá (mão esquerda acima da cabeça) a dar um
outro passo a ousar mais. O meu disco vai ser muito a prova disso (...) Claro que
tem aquelas pessoas que não entendem, realmente não gostam e tem o direito de
não gostar, mas que também respeitam “não, eu não gosto de tecnobrega, mas eu
respeito o que ele ta conquistando, respeito o trabalho, o que a gaby ta atingindo, a
luta dela pro reconhecimento desse ritmo – desse estilo.” Agora claro, não é uma
coisa de agora. A gente já tomou muita porrada assim de começar, de não fazer...
tipo, eu lembro de uma versão de “Pump Up The Jam” do Technotronic, se tu
ouvisse tu diria “cara, Gaby que coisa horrível!” muito ruim por que a gente não tinha
condições agora à gente já...tipo o meu Cd vai ser mixado na “toca do bandido”
(estúdio de referencia nacional) que é um estúdio que já fez desde Elis até Maria
Rita. Então a gente ta buscando essa qualidade no tecnobrega pra que também ele
possa ter respeito não só por que tem qualidade, mas por que é uma música que
veio... tem uma raiz muito forte. Em Belém, se você andar de carro, não só na
periferia, mas em qualquer lugar, antes era só na periferia, mas na “Doca” os carros
tão com as portas abertas tocando tecnobrega. Então, tem que respeitar, tem que
“patrimonizar”, valorizar. Entender que é um estilo de vida de toda uma população.
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Disponível: http://www.farofafa.com.br/photos/jpg
Acesso em: 04 Maio 2011
Existem algumas formas de respeito. Uns respeitam por serem amigos, por se
tornarem amigos e escutarem a história e reconhecerem que aquela pessoa lutou
pra fazer isso, o artista do tecnobrega ralou pra caramba pra fazer isso. E tem
aqueles que se aproximam, para, como diz a música “pegar a beira”, ver como faz e
depois correr o mundo indo para outros lugares e dizer olha eu estive lá, convivi com
as pessoas, eu fiz e agora eu estou fazendo melhor do que eles - isso é o que mais
tem.
A Internet não só pro tecnobrega, mas para todos os estilos, aumentou mais o
raio de ação. E eu vejo isso pelo “música paraense” mesmo, o acesso ao material de
tecnobrega é mais baixado na Europa, Canadá, China, Japão mais do que na
cidade, até porque em qualquer esquina tem por cinco reais, dois reais, um real ou
se você conhece qualquer produtor ele te dá um CD recheado. E quem não tem
essa facilidade à internet está aí pra isso e se for colocar em numeração falaria que
esse conteúdo venderia mais do que, os meus amigos do rock que me perdoem, o
próprio rock.
Entrevista com Maderito (Marcos Nunes dos Santos Neto) cantor e compositor
Surgiu desde 2000 com o convite do meu tio Toni Brasil. Ele me convidou pra
trabalhar junto no estúdio dele e eu era “holding” (quem cuida / monta os
equipamentos) do Açaí Machine, uma banda que ele tinha de calipso e melody, e
em 2001 ele montou a banda Bundas e me chamou r pra fazer “backing vocal”, me
chamou pra cantar e desde então eu vim pra cá. Em 2002 a banda acabou e de lá
pra cá estou cantando melody, eletro, cybertecno. Em 2007 eu inventei o
eletromelody e de lá pra cá - até hoje - estou trabalhando com o Waldo Squash.
Olha, isso eu não sei. São coisas que vem do nada na minha cabeça, e eu
não tenho como explicar. O Waldo prepara/manda um arranjo pra mim e fico
martelando a minha cabeça até que vem, do nada, uma onda diferente. E a galera
vem, gosta das nossas ondas tudinho e eu não sei como explicar pra ninguém. Isso
é coisa que Deus mandou pra mim, isso é um dom. Eu agradeço muito a Ele.
(A partir daqui fica claro que ele não gosta de assumir o tecnobrega. Ele quer
mostrar que os subgêneros não têm haver com o “brega”)
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Disponível: <http://www.veropo.ecletica.com.br/photos/jpg>
Acesso em: 04 Maio 2011
Porque do eletro para o melody ele tem uma diferença, o melody é mais
romântico, sensual, assim, na melodia, no solo - e no eletromelody a onda é
gravíssima, é porrada no grave, mais pra cima, como se fosse um tecnobrega mais
pra cima, porrada, entendeu?
Olha isso tem que acontecer entre nós, por que hoje em dia eu não chamo mais de
tecnobrega, eu chamo de tecnomelody, até porque esse nome brega ele já é pra
uma onda de Reginaldo Rossi e dessas coisas todas – a nossa onda é mais
Eletromelody. A gente tem tudo pra vencer nesse Brasil, tudo pra dominar o Brasil
ponta a ponta, só falta a nossa união.
Tu acha que o tecnobrega poderia nem ser o que é se não fosse à internet?
Se sair, hoje em dia, dez músicas - por semana, quatro vingam, porque,
agora, os DJs peneiram, só ficam as músicas que tem um arranjo bom, boa no vocal
– a menina cantando bacana o cara cantando legal – tem umas que eles já não
gostam, a menina ta cantando fora do tom, fora da melodia e tantas coisas. Por isso
que o Waldo Squash tem uma preocupação, nós com a Gangue do Eletro, ele
coloca a gente no eixo, na nota “olha Maderito, tu vai cantar isso aqui, a Sheila vai
cantar isso aqui e o William isso aqui” é por isso que as nossas músicas saem
bacanas, por isso que tem as carreiras dos DJs. Hoje em dia os DJs não tocam
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Disponível:http://www.ver-o-pop.ecleteca.com.br
Acesso em: 04 Maio 2011
Acho que quem não respeita é por que não conhece e pauta suas opiniões
por preconceito, a classe média paraense ainda não se permitiu gostar e assumir o
tecnobrega por vergonha de ser reconhecido nacional e mundialmente por uma
expressão musical de periferia, quando isso for contornado vai ficar mais fácil ser
respeitado.
“A Encruzilhada do Tecnobrega”
Com esse título acima, foi publicado no Jornal Diário do Pará, no dia
24/04/2011 um artigo com o jornalista Vladimir Cunha em que o mesmo inicia
dizendo que o tecnobrega é a “trilha sonora de um conflito”. Por tudo que já foi
escrito nesta pesquisa, não cabe reproduzir a reportagem como um todo, afinal, o
jornalista reforça tudo aquilo que ele e outros apreciadores e defensores do
tecnobrega já falaram.
O que há de novo/renovo sobre o ritmo é que o autor faz uma indagação que
traz uma reflexão: “As mazelas sociais e a negação de nossas raízes culturais
invalidam o tecnobrega como música a ponto de sermos contra ele se tornar
patrimônio cultural do Estado?”
Cunha (2011) responde a sua própria pergunta dizendo que não. Ele diz que
o choque em relação ao tecnobrega está associado com a informalidade e caos
burbano, mas que isso se deve a um erro. Considerando que a maioria da
população de Belém, independente da classe social é mal educada, joga lixo na rua,
ouve som em último volume com o capô do carro levantado, coloca a música de
celular bem alto, dentro de um coletivo urbano. E, na maioria das vezes, o que se
ouve por aí, de forma estrondosa, é o som do tecnobrega. Logo, está associado a
pessoas sem educação e desordem pública.
Uma outra questão levantada pelo jornalista é que o tecnobrega é sempre
colocado em oposição à “boa música”, ele lembra que no passado o carimbó sofreu
discriminação pela classe média, até ser reconhecido. Ele faz um alerta, embora o
tecnobrega faça esse mesmo percurso de discriminação, contudo, são vertentes
completamente diferentes, já que aquele é rural, e o tecnobrega, além de ser uma
ruptura é um fenômeno popular.
O autor diz que essa nova linha de gênero musical existe, porque “existe uma
nova geração de consumidores”. E “é justamente por isso que o sonho classe média
de que um dia o carimbó, ou coisa que o valha, venha substituir o tecnobrega,
jamais irá acontecer”. Ele relembra que outros movimentos, outrora marginais, como
o rap, o grafite, hoje, indústrias bilionárias, assim, também é possível uma saída
para o tecnobrega. De que forma?
Para Cunha (2011) deve-se fazer com o tecnobrega o que a Bahia fez com o
axé e o que Fortaleza fez com o forró, transformá-lo em Indústria. Investir em
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ANEXOS
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ANEXO A
ANEXO B
Governo veta projeto de tecnobrega como patrimônio
Sexta-Feira, 15/04/2011, 12:27:50