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FICHAMENTO_01

Caio Menezes Arruda


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D / COHN, G. Prefácio: Como um hobby ajuda a entender um grande tema. In: WEBER, M. Os
fundamentos racionais e sociológicos da música. São Paulo: Edusp, 1995, pp. 9-19.

Gabriel Cohn é um sociólogo brasileiro especialista na obra da Max Weber. Neste texto,
publicado como prefácio de “Os fundamentos racionais e sociológicos da música”, Cohn começa
apontando a especial importância para a compreensão da obra do sociólogo alemão desse
trabalho, estabelecendo um paralelo entre o método de análise e definição de Weber e a própria
música, como um tema que aparece vago no início e vai ganhando contexto e densidade ao
longo da obra. Além disso, Weber se debruça aqui, através da música, sobre um tema caro à sua
obra que é a formação e configuração sociológica do Ocidente, em particular, a racionalização.
No seu esquema analítico, Weber começa com um esboço do conceito mas que não se
aproxima de uma definição. A ênfase não se dá em uma elaboração concisa e genérica que dê
conta de tudo o que será apresentado posteriormente, mas em uma característica específica
que o diferencie de outro uso do termo, além de apresentar outros termos de sentido
pressuposto e intuitivo, que só ao longo das análises em que são mobilizados vão ganhando
corpo. Em um primeiro momento, os conceitos são apresentados na sua multiplicidade de
sentido, sem uma definição restrita e precisa, e vão sendo retomados depois em diferentes
contextos, de forma que a reconstrução de uma ideia tenha que se dar sempre de forma
indireta.
Para tentar se aproximar do conceito de racionalização, Cohn observa primeiramente
sua relação com a ação. O processo de racionalização está intimamente ligado ao conceito
weberiano de ação social, e atua como um meio para a sua realização. No entanto, esse processo
só foi possível na modernidade, quando houve uma diferenciação das modalidades de ação
social — ou linhas de ação — ou seja, a separação da ação religiosa, política, artística, econômica
etc. Em contraponto a um mundo ‘encantado’, em que a ação sofria influências de toda a parte
simultaneamente e os fins e valores que a orientavam se confundiam, no mundo moderno
racionalizado, ‘desencantado’, se estabelece uma distinção nítida entre as linhas de ação. O
desenvolvimento da ação agora se dá de maneira mais clara e precisa, já que a racionalização
incide justamente no processo, e não na ação finalizada.
Essa separação das linhas de ação e seus significados implica também numa
diferenciação do próprio processo de racionalização. Um ponto central do pensamento
weberiano é de que a racionalização não atua de forma total e homogênea. Cada linha de ação
segue uma lógica particular, e por isso se diferenciam. Contudo, a diferenciação, no plano
estrutural, não é o processo determinante. O processo de diferenciação das linhas de ação
oferece as condições para que a racionalização se expanda e se intensifique em cada uma. Aqui
Cohn distingue dois campos de análise do processo de racionalização. O primeiro diz respeito
ao encadeamento de significados das ações sociais próprio do interior de cada linha de ação, no
qual opera o par analítico racional/não-racional. O segundo são as relações entre as linhas de
ação, estudadas por sua vez a partir de afinidades ou tensões.
A racionalização opera, portanto, no âmbito interior a cada linha de ação, no
encadeamento de significados das ações. Ela pode assumir várias formas mas pode ser resumida
como a posse e domínio conscientes de forma duradoura, mediados por uma regulação
sistemática dos fundamentos, processos e ações da vida social. Ou seja, o cerne da
racionalização está na nítida e inequívoca significação das ações sociais em cada linha de ação.
Esses significados são identificados e mobilizados de forma clara, consciente e sistemática pelos
agentes da ação, com propriedade.
Dessa maneira, a centralidade da análise está no plano individual, das ações sociais, seus
significados e o agente que realiza. A partir dessa ótica é possível entender os limites da
racionalização. A teoria social weberiana estabelece dois tipos de ação racional: a orientada por
fins (teleológico-racional) e a orientada por valores (axiológico-racional), que são
invariavelmente heterogêneas — não há um fim ou valor que esteja imune à relativização — e
mutuamente excludentes — o agente não pode se orientar simultaneamente tendo um valor e
um fim como justificativa para a ação. O próprio funcionamento da racionalização leva a essa
separação. Essa restrição da racionalidade se dá porque ela não incide diretamente sobre os
objetos, mas antes no agente, no seu manuseio dos significados para a orientação da ação.

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