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EXCELENTÍSSIMO SENHOR RELATOR MINISTRO LUÍS ROBERTO

BARROSO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ADI nº 6309

INSTITUTO DE ESTUDOS PREVIDENCIÁRIOS –


IEPREV (NÚCLEO DE PESQUISA E DEFESA DOS
DIREITOS SOCIAIS), entidade civil, legalmente constituída
desde 2013, inscrita no CNPJ sob o nº 19.431.896/0001-91,
situado à Rua dos Timbiras, nº 1.940, sala 810/811/812, Bairro
Lourdes, CEP: 30.140-069, em Belo Horizonte/MG, representado
por seus procuradores, conforme instrumento de procuração em
anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
nos autos em epígrafe, apresentar seus MEMORIAIS na
qualidade de AMICUS CURIAE, pelas razões a seguir expostas.

DO MÉRITO

Devido a importância e complexidade das temáticas debatidas, não se pretende


revisitar toda a matéria vergastada, ou esgotar os argumentos já aduzidos ao longo da
ação, mas apenas evidenciar a necessidade de sua procedência, pela coerência dos

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julgamentos e as razões das decisões já esposadas por esta E. Corte, em análises onde se
debateu a aposentadoria especial.

O Supremo Tribunal Federal possui precedentes cujas razões das decisões


constituem argumentos suficientes para se concluir pela inconstitucionalidade das novas
regras da aposentadoria especial impostas pela Emenda Constitucional 103/2019.

Primeiramente, no Tema 555, a Corte decidiu que, diante dos direitos


fundamentais, o direito previdenciário, deve sempre buscar a proteção da vida, saúde e
dignidade do trabalhador. Logo, este Tribunal reconheceu que a aposentadoria especial
constitui uma promessa de precaução e prevenção a saúde, integridade e a vida dos
trabalhadores sujeitos a condições laborais danosas e nocivas.

Não podemos desconsiderar a redução da expectativa de sobrevida destes


trabalhadores, e o fato da aposentadoria especial ser forma de compensação, sem a qual,
toda a formulação legal desta aposentadoria se perde no vazio dos objetivos.

Novamente no Tema 709, o Supremo Tribunal Federal determinou a proibição ao


retorno ao trabalho dos aposentados na modalidade especial, justamente para lhe proteger
a saúde, e a continuidade no trabalho insalubre após a aposentadoria, iria contrariar o
objetivo do benefício, qual seja: evitar o dano a vida.

A Emenda Constitucional 103/2019, ao modificar a forma de concessão da


aposentadoria especial impõe ao trabalhador a necessidade de trabalhar além dos 15, 20,
25 anos e ainda assim, não receber a integralidade da média dos salários de contribuição.

Como terceiro argumento, o Tema 942, reconheceu não se tratar o tempo especial
de tempo ficto. Assim, a vedação da conversão pós Emenda Constitucional 103/2019, de
tempo especial em comum, transveste-se de outra prejudicial, pois impede o trabalhador
de aposentar-se na modalidade comum, se não ousar seguir na atividade sujeita a
nocividades.

A fim de ilustrar o até aqui exposto, importante um exemplo, da realidade imposta


pelas modificações da Emenda Constitucional 103/2019, a fim de comprovar o
indiscutível prejuízo imposto a estes trabalhadores.

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Um segurado, de 37 anos de idade, homem, com 21 anos e 9 meses de tempo de
contribuição até a Reforma da Emenda Constitucional 103/2019, sendo destes, 14 anos,
1 mês e 20 dias de tempo especial. Eis os comparativos:

Aposentadoria Aposentadoria Aposentadoria Aposentadoria


Especial Especial Regras Nova Regra Regra de
Pré Reforma de Transição Tempo Comum Transição
Tempo Comum
DIB 23/09/2030 07/09/2037 04/08/2050 09/05/2044
RMI R$ 5.544,00 R$ 3.176,57 R$ 7.307,36 R$ 6.173,70
Faltam 7 anos e 5 14 anos e 5 meses 27 anos e 5 meses 21 anos e 2 meses
meses

Evidente resta que, o trabalhador sujeito a uma atividade laboral, insalubre e


nociva a saúde, após adimplir o tempo previsto na norma legal compensatória, de 25 anos
de tempo de contribuição, na modalidade especial, teria de seguir exposto a estes agentes,
por mais 7 anos para ter direito a aposentadoria especial, e ainda, teria a redução de 40%
do valor do seu benefício.

Ou, convertendo o tempo especial em comum, poderia apenas aposentar-se após


no mínimo mais 21 anos de tempo de contribuição. Ou mais 27 anos para a nova regra.

Os números, exemplificativamente, servem para demonstrar que a estes


trabalhadores, entregarem a saúde em atividades laborais, mas com a expectativa de
serem recompensados de certa forma com uma jubilação mais precoce, até mesmo pela
redução da expectativa de sobrevida, deixa de existir com as modificações impostas.

Resumindo Excelências, está a Emenda Constitucional 103/2019, impondo a estes


trabalhadores, que entregam sua saúde ao desempenho de atividades essenciais, e
necessárias a sociedade, uma aposentadoria menos benéfica que a aposentadoria do
trabalhador comum, quando claramente, está-se diante de situações completamente
diferentes, e por tal razão protegida de forma privilegiada pela norma previdenciária.

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A imposição de idade mínima, a modificação da forma de cálculo da renda mensal
inicial, e a impossibilidade de conversão de tempo especial em comum, posterior a 2019,
representa verdadeiro retrocesso social.

A aposentadoria especial é modalidade de proteção e compensação por jornadas


insalubres de trabalho, por saúdes e integridades físicas doadas por trabalhadores que hoje
veem seus direitos retirados, e impostos mais anos e anos adicionais de trabalho nocivo e
a brusca redução do valor dos benefícios a serem recebidos.

Isso fere a constituição na sua essência. Porque fere princípios e não somente a
lei, e muito mais grave que violar uma lei, ou modificá-la de forma pejorativa aos
trabalhadores segurados, é violar os princípios que sustentam o ordenamento jurídico.

Assim, a procedência da Ação Direta de Inconstitucionalidade 6309, declarando


a inconstitucionalidade das alterações trazidas pela Emenda Constitucional 103/2019 a
aposentadoria especial, é medida que se impõe como forma de manter-se a coerência entre
as decisões e argumentos esposados por esta E. Corte, e fundamentalmente, resguardar
os direitos dos trabalhadores segurados do evidente retrocesso social dos seus direitos
arduamente conquistados.

Termos em que pede e espera deferimento.

Brasília, 16 de março de 2023


Assinado de forma digital por
ROBERTO DE ROBERTO DE CARVALHO
CARVALHO SANTOS:03063027642
Dados: 2023.03.17 14:36:51
SANTOS:03063027642
-03'00'

Patricia Noll Roberto de Carvalho Santos

OAB/RS 61.107 OAB/SP 364864

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