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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 13

24/05/2021 PLENÁRIO

EMB.DECL. NO MANDADO DE INJUNÇÃO 5.229 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
EMBTE.(S) : SINTECT-SANTOS - SINDICATO DOS
TRABALHADORES EM EMPRESAS DE
COMUNICAÇÕES POSTAIS, TELEGRÁFICAS,
TELEMÁTICAS, FRANQUEADAS E SIMILARES DA
REGIÃO DO LITORAL CENTRO SUL DO ESTADO
DE SÃO PAULO
ADV.(A/S) : FÁBIO SANTOS DA SILVA
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO EM MANDADO DE INJUNÇÃO. EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS. OMISSÃO QUANTO AO ADICIONAL DE PENOSIDADE.
1. Embargos de declaração em mandado de injunção impetrado por
entidade representativa de empregados dos Correios, em que se alega
mora legislativa que torna impossível o recebimento de adicionais de
insalubridade e penosidade. Alegação de omissão quanto a esta última
vantagem.
2. Em 22.09.2020, o Plenário, em sessão virtual, ao concluir o
julgamento do RE 824.112, Rel. Min. Luiz Fux, estabeleceu alguns
parâmetros para a prolação de sentenças aditivas, entre os quais os de
que: (i) a solução esteja presente no sistema legislativo em vigor, ao
menos em estado latente; e (ii) avaliem-se os reflexos das sentenças
normativas nas contas públicas, consoante a “observância da realidade
histórica e dos resultados possíveis”.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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Ementa e Acórdão

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MI 5229 ED / DF

3. No caso vertente, é temerária a adoção de solução, pelo Poder


Judiciário, que resulte o acréscimo imediato, na importância de 20%, na
remuneração de um número indeterminado de empregados públicos.
Ademais, o recebimento concomitante de adicionais de risco e de
penosidade, ainda que devidos por força da Constituição, deve ser
sopesado pelo Poder Legislativo, o único com a competência técnica
necessária para avaliar os impactos orçamentários e a proporcionalidade
das medidas.
4. Embargos de declaração rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual, por maioria de votos, em
conhecer dos embargos de declaração e negar-lhes provimento, nos
termos do voto do Ministro Roberto Barroso, Redator para o acórdão,
vencidos os Ministros Marco Aurélio (Relator), Edson Fachin, Nunes
Marques e Ricardo Lewandowski, que conheciam do recurso e davam-lhe
parcial provimento
Brasília, 14 a 21 de maio de 2021.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO – Redator p/o acórdão

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Relatório

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24/05/2021 PLENÁRIO

EMB.DECL. NO MANDADO DE INJUNÇÃO 5.229 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
EMBTE.(S) : SINTECT-SANTOS - SINDICATO DOS
TRABALHADORES EM EMPRESAS DE
COMUNICAÇÕES POSTAIS, TELEGRÁFICAS,
TELEMÁTICAS, FRANQUEADAS E SIMILARES DA
REGIÃO DO LITORAL CENTRO SUL DO ESTADO
DE SÃO PAULO
ADV.(A/S) : FÁBIO SANTOS DA SILVA
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Adoto, como relatório,


as informações prestadas pelo assessor Eduardo Lasmar Prado Lopes:

O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de


Comunicações Postais, Telegráficas, Telemáticas, Franqueadas e
Similares da Região do Litoral Centro Sul do Estado de São
Paulo – Sintect-Santos busca suprir lacuna legislativa, imputada
ao Presidente da República, ao Congresso Nacional e à Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos – EBCT, a tornar inviável
recebimento de adicionais de insalubridade e penosidade.

O Pleno, em 26 de outubro de 2021, julgou improcedente o


pedido, ante fundamentos assim resumidos:

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Relatório

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MANDADO DE INJUNÇÃO – LEGITIMIDADE


PASSIVA. No mandado de injunção, é parte legítima
aquela apontada como omissiva.
MANDADO DE INJUNÇÃO – TRABALHO
NOCIVO – ADICIONAL. O adicional ante trabalho nocivo
à saúde está disciplinado – artigo 192 da Consolidação das
Leis do Trabalho.
SALÁRIO MÍNIMO – ADOÇÃO. Cumpre distinguir
a adoção do salário mínimo como fator de indexação
monetária da tomada de base para incidência de certo
adicional – higidez constitucional do artigo 192 da
Consolidação das Leis do Trabalho.

O impetrante aponta omissão no acórdão, uma vez não


enfrentada a causa de pedir relativamente ao adicional de
penosidade – artigo 7º, inciso XXIIII, da Constituição Federal.
Alude a atividades geradoras de desconforto físico e
psicológico, superior ao decorrente do trabalho normal. Frisa
omissão do Ministério do Trabalho e Emprego na definição do
rol de ofícios penosos. Ressalta a necessidade de perícia técnica
para caracterizá-los. Reporta-se à tramitação de projetos de lei
versando a indenização. Esclarece utilizado, nas proposições,
tendo em conta o acréscimo por periculosidade, o percentual de
30% sobre o salário. Argumenta ser possível a acumulação dos
adicionais de insalubridade, periculosidade e penosidade,
quando exposto o trabalhador a agentes reveladores das três
condições. No tocante à verba por insalubridade, destaca lacuna
normativa em relação à base de cálculo, ante a
inconstitucionalidade do artigo 192 da Consolidação das Leis
do Trabalho, considerada a indexação pelo salário mínimo –
verbete vinculante nº 4 da Súmula. Busca o provimento dos
embargos de declaração, visando ver fixada a base de cálculo
dos adicionais de insalubridade e de penosidade.

A União tem como ausentes os vícios. Sublinha a


pretensão do embargante de rediscutir a matéria e alterar a

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Relatório

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MI 5229 ED / DF

conclusão do Órgão julgador. Realça incabível a via escolhida


para questionar, a partir do enunciado vinculante nº 4 da
Súmula, a compatibilidade, com a Lei Maior, do artigo 192 da
Consolidação das Leis do Trabalho. Assinala não ser o juiz
obrigado a analisar todas as alegações. Cita precedentes no
sentido da inviabilidade da modificação, pelo Poder Judiciário,
da base de cálculo do adicional. Postula o desprovimento dos
embargos de declaração.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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24/05/2021 PLENÁRIO

EMB.DECL. NO MANDADO DE INJUNÇÃO 5.229 DISTRITO FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR):

EMBARGOS DECLARATÓRIOS – OMISSÃO. Uma vez


constatada omissão quanto ao exame de certo tema, cumpre
prover os embargos declaratórios.

ADICIONAL DE PENOSIDADE – NORMA


REGULAMENTADORA – AUSÊNCIA. Ante a inexistência de
regulamentação do que previsto no artigo 7º, inciso XXIII, da
Constituição Federal, cumpre fixar balizas visando o exercício
do direito.

Atendeu-se aos pressupostos de recorribilidade. A peça, subscrita


por advogado credenciado, foi protocolada no prazo legal.
Em relação à suposta omissão em definir-se a base de cálculo do
adicional de insalubridade, o artigo 192 da Consolidação das Leis do
Trabalho não toma o salário mínimo como fator de indexação de
remuneração, mas base de incidência da parcela devida ante trabalho
insalubre.
A análise do conflito, com a Lei Maior, do dispositivo legal, levando
em conta o verbete vinculante nº 4, revela contornos próprios de processo
objetivo, a sinalizar o descabimento do mandado de injunção.
Quanto a esse ponto, o quadro denota pretensão de reexame da
matéria, providência inviável em sede de embargos de declaração.
No tocante à falta de pronunciamento sobre o pedido atinente ao
adicional por penosidade, tem razão o embargante.
Nada obstante a tramitação de projetos de lei, há omissão do
legislador e do Presidente da República, uma vez não disciplinado o
direito previsto no artigo 7º, inciso XXIII, da Constituição Federal:

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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MI 5229 ED / DF

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,


além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
[...]
XXIII – adicional de remuneração para as atividades
penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

As pessoas passam grande parte da vida no trabalho. Contingências


sociais e fatores a afetarem o bem-estar psicofísico de empregado devem
ser tratados de forma especial pelo Estado, considerada a influência na
saúde, com implicações na esfera privada. O viver em sociedade exige
determinados tipos de trabalho que prejudicam a saúde e reduzem a
expectativa de vida de quem os realiza. Abdica-se de importante atributo
da dignidade humana, também direito fundamental – artigo 196 da Carta
da República –, em favor do interesse público. A parcela alusiva à
penosidade visa remunerar quem exerce atividades em condições de
desconforto físico, psicológico e emocional além do comum para o
trabalho ordinário, surgindo fadiga ou acentuado desgaste no organismo.
São exemplos atividades envolvendo esforço físico, postura incômoda,
alternância de horário, confinamento, isolamento, captura e sacrifícios de
animais (BELMONTE, Alexandre. Artigos 7º ao 11. In: BONAVIDES,
Paulo; MIRANDA, Jorge; AGRA, Walber de Moura (Org.). Comentários à
Constituição Federal de 1988. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 422). Tarefas
penosas são realizadas por imperativo social, e a contrapartida devida
por Estado e sociedade é conceder, aos que prestam serviço nessas
condições, vantagem em dinheiro.
Os substituídos desempenham atividades penosas: caminham sob
calor e chuva, por longas jornadas, suportando o peso de
correspondências e encomendas, praticando movimentos repetitivos e
estando sujeitos à violência urbana. As rotinas causam problemas na
coluna vertebral, fadiga, estafa e estresse, entre outros prejuízos à saúde
física e mental.
Conforme demonstrado pelo impetrante, a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos firmou, com a Federação Nacional dos
Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares, acordo

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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coletivo mediante o qual previsto, na Cláusula Segunda, o pagamento de


adicional de risco, no percentual de 30%, a carteiros envolvidos na
distribuição e coleta em vias públicas, estendido o valor aos que exercem
as atividades de distribuição, coleta e atendimento comercial em guichê.
A parcela extra confirma o caráter especial da função.
O anexo II da Lei nº 8.213/1991, ao descrever os agentes patogênicos
causadores de doenças profissionais ou do trabalho – artigo 20 –,
especifica atividades de natureza penosa. Algumas estão diretamente
relacionadas aos ofícios desempenhados pelos substituídos e revelam os
prejuízos físicos e mentais provocados aos profissionais, tais como as
descritas nos Grupos V e XIII da Classificação Internacional de Doenças
nº 10: (i) transtornos neuróticos especificados; (ii) síndrome do
esgotamento profissional; (iii) doenças no sistema osteomuscular e do
tecido conjuntivo (lesões nos ombros, na cervical, na lombar, nos joelhos,
nos cotovelos e no dorso).
Ante a omissão do Legislativo, a impossibilitar o exercício do direito
fundamental ao adicional de penosidade, impõe-se a atuação do
Supremo, para fixar a verba.
Verifico haver, no âmbito do Ministério Público da União,
regulamentação – artigo 2º da Portaria MPU nº 633/2010 – do artigo 71 da
Lei nº 8.112/1990. Considerada a natureza da matéria, cabe suprir a
lacuna mediante analogia.
Conheço e provejo parcialmente os embargos declaratórios, para,
imprimindo-lhes efeito modificativo, assentar o percentual de 20%, a
incidir sobre a remuneração dos empregados substituídos, a título de
adicional de penosidade.

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Voto Vogal

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RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
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TRABALHADORES EM EMPRESAS DE
COMUNICAÇÕES POSTAIS, TELEGRÁFICAS,
TELEMÁTICAS, FRANQUEADAS E SIMILARES DA
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DE SÃO PAULO
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EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL
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EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

VOTO

O Senhor Ministro Ricardo Lewandowski (Vogal): Acompanho o


eminente Ministro Relator, reconhecendo o direito ao adicional de
penosidade previsto no art. 7°, XXIII, da Constituição Federal, mas
entendo que o enquadramento dos empregados substituídos deverá ser
analisado caso a caso.

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Voto Vogal

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EMB.DECL. NO MANDADO DE INJUNÇÃO 5.229 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


REDATOR DO : MIN. ROBERTO BARROSO
ACÓRDÃO
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TRABALHADORES EM EMPRESAS DE
COMUNICAÇÕES POSTAIS, TELEGRÁFICAS,
TELEMÁTICAS, FRANQUEADAS E SIMILARES DA
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DE SÃO PAULO
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CORREIOS E TELÉGRAFOS
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VOTO VOGAL

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO:

1. Trata-se de embargos de declaração em mandado de


injunção impetrado por entidade representativa de empregados dos
Correios, em que se alega a mora legislativa, imputada ao Presidente da
República, ao Congresso Nacional e à Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos – EBCT, que torna impossível o recebimento de adicionais de
insalubridade e penosidade.

2. Em 26 de outubro de 2020, o Plenário julgou


improcedentes os pedidos formulados. O impetrante propôs, então,
embargos de declaração, apontando omissão no acórdão, pois não teria
sido enfrentada a questão do adicional de penosidade.

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Voto Vogal

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3. O Relator, Min. Marco Aurélio, conheceu e deu parcial


provimento aos embargos, para, imprimindo-lhes efeito modificativo,
“assentar o percentual de 20%, a incidir sobre a remuneração dos empregados
substituídos, a título de adicional de penosidade”.

4. No ponto, reconheceu a omissão do legislador federal em


regulamentar o art. 7º, XXIII, da Constituição Federal, que prevê
“adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas,
na forma da lei” (grifo nosso). Aduziu que o adicional de penosidade visa
remunerar quem exerce atividades “em condições de desconforto físico,
psicológico e emocional além do comum para o trabalho ordinário”. Buscou
suprir a omissão por analogia, aplicando aos empregados da EBCT a
regulamentação do art. 71 da Lei nº 8.112/1990, que dispõe sobre o regime
jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das
fundações públicas federais.

5. Divirjo respeitosamente do Relator quanto à possibilidade


do suprimento da lacuna legislativa por analogia nesse caso. Analisando
a efetividade do art. 37, X, da Constituição Federal, no RE 565.089, da
relatoria originária do Ministro Marco Aurélio, paradigma do Tema 19 da
repercussão geral (“Indenização pelo não-encaminhamento de projeto de
lei de reajuste anula dos vencimentos odos servidores públicos”), proferi
voto no sentido de que as circunstâncias econômicas precisam ser
consideradas, quando a supressão da lacuna pelo judiciário gera despesa
para o executivo.

6. No mesmo sentido, em 22.09.2020, o Plenário, em sessão


virtual, ao concluir o julgamento do Tema 624 da repercussão geral (RE
824.112, Rel. Min. Luiz Fux), estabeleceu alguns parâmetros fundamentais
para a concessão de sentenças aditivas, entre os quais que: (i) a solução
esteja presente no sistema legislativo em vigor, ao menos em estado
latente; (ii) se avalie os reflexos das sentenças normativas nas contas

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Voto Vogal

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públicas, consoante a “observância da realidade histórica e dos resultados


possíveis”.

7. Na mesma oportunidade, o Plenário observou que “o


princípio democrático impede a transferência do custo político ao Judiciário,
porquanto o povo deposita nas urnas expectativas e responsabilidades, o que
justifica a posterior prestação de contas dos poderes eleitos e impede que maiorias
ocasionais furtem-se de obrigação imposta pelo constituinte”.

8. Entendo temerária a adoção de solução, pelo Poder


Judiciário, que resulte o acréscimo imediato, na importância de 20%, na
remuneração de um número indeterminado de empregados públicos.
Penso, ademais, que o recebimento concomitante de adicionais de risco e
de penosidade, ainda que devidos por força da Constituição, deve ser
sopesado pelo Poder Legislativo, o único com a competência técnica
necessária para avaliar os impactos orçamentários e a proporcionalidade
das medidas.

9. Conheço dos embargos de declaração, e a eles nego


provimento.

10. É como voto.

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Extrato de Ata - 24/05/2021

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

EMB.DECL. NO MANDADO DE INJUNÇÃO 5.229


PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. ROBERTO BARROSO
EMBTE.(S) : SINTECT-SANTOS - SINDICATO DOS TRABALHADORES EM
EMPRESAS DE COMUNICAÇÕES POSTAIS, TELEGRÁFICAS, TELEMÁTICAS,
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DE SÃO PAULO
ADV.(A/S) : FÁBIO SANTOS DA SILVA (190202/SP)
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EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E
TELÉGRAFOS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu dos embargos de


declaração e negou-lhes provimento, nos termos do voto do Ministro
Roberto Barroso, Redator para o acórdão, vencidos os Ministros
Marco Aurélio (Relator), Edson Fachin, Nunes Marques e Ricardo
Lewandowski, que conheciam do recurso e davam-lhe parcial
provimento. Plenário, Sessão Virtual de 14.5.2021 a 21.5.2021.

Composição: Ministros Luiz Fux (Presidente), Marco Aurélio,


Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli,
Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes e
Nunes Marques.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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