Você está na página 1de 14
Rey, Fac, Educ, Sto Paulo 5A): 2a SIGNIFICADO DA DIFERENGA ENTRE O QI VERBAL E O QI DE REALIZACAO NA WISC PORTUGUESA J. H. Ferrera Marques * Manours, J. H. Ferreira, Signifiends da diferenga entre o QI verbal « o QE de realizagzo na WISC portuguesa. Kev. Fac. Educ., S80 Paulo, 4(1): 21 a 34, 1978. Resuxo: Partinda de uma amostra representativa da populagio portuguesa na faixa etésia dos 6 aos 18 anos, o Autor, aproveitando dados referentes a diferenga entre 0 QT verbal © o QI de realizagio da Escala de Inteligéncia de Weeksler para Criangas (WISC), aplicada em varios grupos etirios e no conjunto da amostra para a aferigéo, ie2 cua pesquisa incidir sobre outros fatores como zona residencial, prov fissio do pai ¢ nivel do QL da escela completa, que poderiam alterar 9 significado dessa diferenga. Conclusées: nao foram encontradas vatiagées importantes entre as sub-amostras das zonas urbana ou rural; quanto a profissio do pai, somente no grupo O da Classificag3o Internacional das Profissées (profissGes liberais), surgiu uma distribuicio nitidamente assimétrica das diferencas eotre 0 OT verbal e 0 QI de reali zacio com predominancia de casos em que aquele & superior a este; quanto ao nivel do QT da escala completa, as relevancias aparecem nos extremos da distribuigéo: a maior freqiéncia das diferengas positivas eutre o QI verhal ¢ 0 QU de realizagio, quando o QT da escala completa 6 a partir de 130 ¢, 0 inverso, quando abaixo de 70. Nesse caso, mais pronencizda na scb-amostra do ensino especial, Paraveas-Cuave: Teste de Inieligéncia. Portugal, INTRODUCAO Em trabalho recente(1), apés a analise de certas questéies fundamen- tais ‘sobre a diferenca entre 0 QI verbal e o QI de realizactio nas escalas de inteligéncia de Wechsler em geral, foram apresentados como exempli- ficagio dados obtides em cada grupo etario e no conjunto da amostra examinada pata a aferigio da WISC portuguesa, Resumindo, sera de salientar, em ptimeizo Ingar, que no se encontram modificagées impor- tantes em fungao da idade cronoldgica. No total da amostra, o tabela- mento entio publicado das diferencas entre o QI verbal e o QI de (+) Professor da Faculdade de Letras de Lisboa, Departamento de Psicologia. (1) Mazgues, J. H. Ferreira, 4 Diferenga Enive 0 QI Verbal e 0 QI de Realisagio nae Escalas de Wechsler, Coimbra, 1973. a MARQUES, J. HLF. Signiticado Ga diferonga ontre 0 QE verbal © o QI de realizagio na WISC portuguesa, Rev. Fas. Buuc., S80 Paulo, (1): 21 a 84, 1978. realizagio pode ser utilizado como as normas portuguesas da fregiiéncia esperada de cada valor numa populago nfo selecionada. Alias, no grafico dessa distribuicio, a configuragio quase simétrica aproxima-se da que é caracteristica da curva normal de probabilidades, Determinow-se também o erro-padrio da medida da diferenga entre 0 QI verbal ¢ o QT de realizacdo ¢, a partir dele, 10-1] surge como o valor minimo entre os QI para que as probabilidades sejam de 85 em 100 de que representa uma diferenca real e 14-15 para que as probabilidades sejam de 95 em 100(2). Nas consideragdes finais do mesmo artigo e até certo ponto em con- vergéncia com algumas concepcoes tedricas de Wechsler acerca da inteli- géncia, afirmava-se que a informagio sobre a diferenga entre o QT verbal € 0 Ql de realizagio da Escala de Inteligéncia de Wechsler para Criancas (WISC) deve ser confrontada com outros elementos relatives a0 exami- nado. A propSsito, assinalava-se a importancia da influéncia do meio sécio-econdmico ¢ cultural em ambos os QT ¢ sobretudo no QI verbal (3) # oportuno récordar que, na amostra organizada para a aferigéo da WISC em Portugal, a andlise de diferencas entre grepos mostra de maneira nitida essa influéncia do meio em cada um dos trés QI, verbal, de realizagio ¢ da escala completa(4), Por isso, pareceu que feria interesse desenvolver ¢ completar aquela investigaciio, procedendo ao estudo das subamostras que se podem distinguir segundo critérios como a residéncia urbana ou rurel e a profissio do pal da _crianga e também em fungao do nivel do QI da escaia completa, O objective & agora, averigtiar se, entre os diversos grupos assim conside- rades na amostra portuguesa, ha variagbes sensiveis ¢ qualquer tendéncia para QT superiores na parte verbal ou na de realizagio, as quais tenham efeitos no significado da diferenca entre 0 QI verbal ¢ o QI de realizacio. Os resultados obtidos serao expostos nas outras secées deste trabalho. Antes, porém, é conveniente deserever sucintamente as caractetisticas da amostra ‘em que se baseia a aferigio da WISC para Portugal. Essa amostra engloba 50 rapazes ¢ 50 raparigas da populagdo escolar por cada ano de idade entre 03 6 € os 15 anos, » que corresponde a 500 rapazes € 500 yaparigas. Para cada grupo etdrio —- 0 mais aproximadamente possivel — € para o total, os casos incluides esto de acordo com os critérios esta- tisticos fornecidos no Receuseamento de 1960 e na Estatistica da Educacio, pelo que a amostra é representativa da populacéo escolar portuguesa dentro (QQ) Td, wid, pp, 6-16, (3) Id, ibid, p. 15, (4) CE Id, Estudos sobre a Escola de Inteligéncia de Wechsler pora Criangas GHISC), Lisboa, 1969, pp. 222-240. 22 MARQUES, J. H. FP. Significado da diferenga, entre o QL verbs! ¢ 0 QI de realizacto ma WISC portuguesa. Rev, Fae, Educ, Sio Paulo, (1): 21 @ 24, 1978 da mencionada amplitude de idades, Para o efeito, atendeu-se As seguintes varidveis: regio geografica, residéncia urbana-rural, profissio do pai e grau, ramo e modlidade de ensino freqiientado. A partir de estes critérios, foram constituidos os quadros de efetivos por areas geograficas, desdobrando-se as aplicagdes por todos os distritos do Continente ¢ abran- gendo 38 concelhos diferentes. Em cada estabelecimento escolar onde se Tealizaram exames, entre as criancas que satisfaziam as exigéncias do plano de amostragem, a escolha foi feita ao acaso. Sistematicamente, excluiram- -sé 08 individuos com deficiéncias sensoriais ox motoras. Em cada grupo de idade hd alunos do ensino especial, atingindo o nimero de 30 no con- junto da amostra(5). Sobre os QI da WISC e das outras escalas de Wechsler, deve-se realgar que sfo resultados padronizados com média 100 ¢ desvio-padrao 15. No total da amostra portuguesa, a média ¢ 0 desvio-padr&io do QI verbal, do QI de realizagio © do QT da escala completa coincidem perteitamente com 03 valores previstos, pois foram sempre de 100,0 e 15,0, respectiva~ mente(6). B ainda necessirio esclarecer que no presente trabalho, tal como nos J4 numerosos estudos sobre a diferenca entre 0 QI verbal ¢ 0 QI de realizagio nas escalas de Wechsler, umas vezes com as amostras que. tém servido para as aferigdes em diversos paises outras com grupos clinicos(7), (5) Margues, J. H. Parreims, Estudos sobre « Escola de Inteligencia de Wechsler para Criangas (IISC), Lisboa, 1969, yp. 122-141; Td, Manual da Escala de Lnteligencia de Wecksler pora Criancas (WISC). Adapiagdo ¢ Aforicdo para Portugal, Lisboa, 1970, pp. 9-18. (6) Marqves, J. H, Fesreira, Estudos sobre a Escala de Inieligincia de Wechsler para Cricagas (WISC), Lisbos, 1969, p. 189. (7) Quanto a trabalhos sobre a diferenga entre o QI verbal ¢ o QI de realizagto da WISC com as amostras que permitiram os suas aterigdes noutros paises, poem citar-se nomeadamente: Seashore, H. G,, Differences between verbal and performance IQs-on the Wechsler Intelligence Scale for Children, Journal of Consuling Peychology, 1951, 15, yo. 62-67; Pricster, I. J, Die Stundardisterwag des Hamburg-Wecksler-Intelligenatests fur Kinder (HAITI), Bern-Stattgart, 1958, pp. 93-101; Berte, R, L’échelle d'intelligence pour enfants de D. Weckster. Considérations diagnostiques: Les divergences entxe le Q.T. verbal et Ie Q.2. de performance, Psychologica Belgica, 1961-1964, 4, pp. 25-40. Sobre us investi- gacdes mais importantes efetuadas no estrangciro quanto as possibilidades da WISC no diagndstico clinico, es andlises criticas de Littell, de Ferreira Marques ¢ de Zimmerman © Woo-Sam levam a considerar com bastantes reservas a utili- dade da diferenca entre o QL verbal ¢ o OL de realizagio sd por si, pols hi outras varlaveis relevanies. Ci: Littell, W. M. The Wecksler Intelligence Seale for Children; Review of a decade of research, Psychological Bulletin, 1960, 57, pp, 149-150; Marques, J. IT. Ferreira, Estudos sobre o Escala de Inte- Higincia'de Wechsler fare Crianges (WISC), Lisboa, 1969, pp. 98-103; Ziremer- 23 MARQUES, J. H. F. Slgnificado aa aiferonga entre 9 QI yerbal ¢ o @I de reallzacio na WISC portuguora. Rev. Pac, Educ, Sho Paulo, 4(1): 21 a 34, 1978. © calewlo de essa diferenca se faz subtraindo ao QI verbal de cada indi- viduo o valor do seu QI de realizagdo. Assim, a diferenga numérica sera: positiva, quando o QI verbul & superior ao QI de realizagio: nula, caso sejam iguais; megativa, se o QI de realizacio ior superior ao QI verbal. RESIDENCIA URBANA — RURAL Ao considerar em qualquer pais variagdes de comportamento ligadas a um meio psicolégico diferente na cidade e no campo, encontra-se logo a dificuldade de no constituir wma classificacio dicotémica, pois ha cida- des maiores e outras mais pequenas ¢ localidades ruais mais ou menos isoladas (8). Como ja foi_referido, na organizagio da amostra para a afericio portuguesa da WISC os critérios adotados foram os do Recenseamento geral da populagio de 1960, Nele definem-se: como centres urbanos, as capitais de distrito © todas as localidades em que residem mais de 10.000 habitantes na respectiva Arca urbana; como zonas rurais, o restante terri- torio do Pals, Portanto, a perspectiva é fundamenialmente a da impor- tancia da localidade conforme o numero de habitantes da populagdo residente. QUADRO N24 ‘Média ¢ desvio-padrao das diferengas entre o QI verbal e o QI de realizegio da WISC segundo a residéncia urbara-rural na amostca portuguesa Centros urbanes ¢ sonas rurcis Nv Média oe Centros urbanos 230 ~o7 10 Zonas rurais 740 08 109 Criangas do ensino esperial (a) 30 46 97 Total 1900 09 116 — (a) Os casos do ensina especial nfio sio considerados nem como urbanos nem come rurais. man, I, L., & Woo-Sam, J, Research with the Wechster Intelligence Seale for Children: 1950-1970, Journal of Clinical Psychology, April 1972 (Monograph Supplement, N. 33), pp. 28-29 ¢ 33-36, (8) Ci Anastasi, A., Differential psychology. Individual and group differences in behavior, 3rd ed, New York, 1958, p. 505, 24 MARQUES, J. Hl. F. Signtficado da diferenga entre o QI vertal ¢ 0 QE de realizacho ma WISC portuguesa, Rev. Fac. Bduc., Sin Paulo, $(1): 21 a 84, 1978, No Quadro n.° 1 sao indicados a média e o desvio-padriio das dife- rengas entre 0 QI verbal eo QF de realizagio nos ceniros urbanos ¢ nas zonas rurais. As médias num € noutro grupo (—0,7 e 0,4) estio muito préximas, nao sendo estatisticamente siguificativa a diferenga entre as duas, Note-se que 0 desvio padrao tem valores sensivelmente idénticos em ambos os grupos (11,0 e 10,9) ¢, ainda, no total da amostra (11,0), em que a inédia € de 0,0 como se esperaria, confitmando que a afericag portuguesa foi adequadamente feita e as normas estio bem derivadas. Os casos do ensino especial nao foram englobados nem come urbanos nem como rurais e os seus resultados serio apreciados mais adiante, na segio dedicada ao nivel do QF da escala completa. QUADRO N.o 2 Percentagens ¢ medianas das diferengas positivas, aulas © negativas entre o QI verbal ¢ 6 QI de realizacéo da WISC, segundo a residéncia urbana-rural na amostra portaguese sO QI verbal supe or QL verbal infe- rior ao QF de o rior ao OF de Centros urbanos N realisagdo iguois realisagdo © zonas rurais _ b Mediana| % | Jo Mediana Centros_urbanos 230 48,25 & 217 49,57 2 Zonas rurais 740 418,38 3 a 16.62 7 Criangas do ensino 30 20 ll 667 73,33 6 especial (a) ‘Total 1000 475. 8 44 48,1 7 (a} Os casos do ensino especial milo so considerados nem como urbanos nem como rurais, Deve ser assinalado no Quadro n.° 2 que, nos centros urbanos € nas zonas rurais, as percentagens de cascs com QI verbal maior que o QT de realizacio, com estes dois QI iguais e com o OI verbal menor que 0 OL de realizagio variam pouco em relagio ao que se passa no conjunto da amostra, em que os valores correspondentes sao aproximadamente 48%, 4% ¢ 48%. O fato ainda é mais nitido se dividirmos ao meio os casos em que 05 QI séo iguais pelos outros dois grupos, que ficam assim com cerca de 50% cada, processo a que se pode sempre recotrer para tornar mais esclarecedora qualquer comparacdo deste género, No Quadro n° 2, 2 MARQUES, 7. HF, Significadlo da diferenga entre o QT verbal e o OF de realizacko na WISC portuguesa, Rev. Fac, Bdwe., S80 Paulo, $(1): 21 a 34, 1978. as medianas das diferencas positivas ¢ negativas sfo até idénticas nos cen- tros urbanos, nas zonas rurais e no total, exceto nos primeiros quanto ao QE verbal inferior ao QL de realizagio. Ampliando esta anélise, sera de referir que, na amostra que possi- bilitou a afetic¢éo original norte-americana, segundo os dados publicados por Seashore, o grupo urbano mostra ligeiramente mais casos de OL verbal superior 20 QI de realizacio e 0 inverso sucede com 0 grupo rural. Assim, a média do primeiro é de 0,8 e 2 do segundo de —1,2, 0 que parece estar de acordo — afirma Seashore — com 0 estereétipo de que as criancas de meios urbanos tendem a ser superiores nas aptidGes verbais ¢ as de areas rurais melhores nas aptidGes nfo verbais do que nas outras. No entanto, couclui que a diferenga é muito reduzida para ser considerada para fins praticos(9). Com a WISC portuguesa, pode-se tirar ilagio andloga, tanto mais que a diferenga entre as médias é menor embora de sinal inverso. Sobre 9 confronte entre og resultados obtidos em Poriugal e nos Estados Unidos convird notar que, na separacZo entre urbano e rural, os limites nfo coin- cidem: a mostra portuguesa, faz-se a partir de localidzdes com muito mais populagio — praticamente 10.000 habitantes —, enquanto na ameri- cana o niimerp de habitantes é mais baixo — 2.500, Por outro lado, deve aduzir-se que o meio rural nos dois paises nao tem as mesrias carac- teristicas sdcio-economicas ¢ culturais. PROFISSAO DO PAT Nos estudos de diferencas no comportamento entre grupos de diversos meios sécio-economicos tem sido muito utilizado como critério — apesar das suas limitagdes para ser, por si s6, definitérie — a profissio dos individuos ou, no caso de criangs, a profiss%io do pai. ‘Na estruturacio da amostra que possibilitou a afericéio da WISC por- tuguesa, a referéncia aos dados do Recenseamento de 1960 obriga a que o agrupamento das profissées siga a versio da Classificagio internacional tipo de profissées (C.1.T.P.) da Organizagdo Internacional do Trabalho (O.1.T.) nele aplicada. (9) Seashore, H. G, Differences between verbat and performance 1s on ‘the Wechsler Tntelligence Scale for Children, Journal of Consulting Psychology, 1951, 3, pp. B06. MARQUES, J. H. P. Significado da diferenca entre o QE yerbal ¢ 0 Of de realizagko na WISC portuguesa. Rev. Fae, Educ, Sao Paulo, #(i): 21 @ 34, 1978. QUADRO NO 3 Média e desvio-padrio das diferengas entre o OT verbal e o Ql de reatizago da WISC, segundo a profissfo do pai, na amostra portuguesa teers |x | sae Be 0 38 | 3 121 1 36 7 4 2 Px | 06 108 3 99 08 19s 4 #2 ul 108 5 8 08 25 6 cc OL 112 78 PBL 07 110 9 6 06 112 x 7 16 64 Total da amostra (b) 1000 0.0 no {a) Grandes grupos de profissdes considerades no Recenseamento de 1960, segundo a classificago internacional tipa de profissées (C.T.T.P.) da O.1.T.: { — Pessoas exercendo uma prafissio fiberal, téenicos © equiparados 1 = Diretores ¢ pessoal dos quadros administrativos superiores 2 — Empregados de escritério 3 Comerciantes © vendedores 4 — Agricultores, pescadores, cagadorcs, silvicultores ¢ trabalhadores. equiparados § — Mineiros, operdrios de pedreiras e equiparados 6 — Trabathadores dos transportes e comunicagdes 7/8 — Operarios qualificados, especializados e nfo especializadas 9 — Trabalhadores especializados dos servigos, desporios « atividades recreativas X = Pessoas com profissio mal definida (d). Inclui os casos do ensino especial, que no sio considerados na distribuicio, segundo a profissio do pai. No Quadro n. 3 sto apresentados a média e 0 desvio-padrio das diferencas entre 0 QI verbal ¢ 0 QI de realizaco segundo a profissio do pai, na amostra portuguesa, Pondo de parte os grupos 5 © X, dada a sua dimensao teduzida, e com a ressalva do grupo 0, os valores da 7 MARQUES, J. HY. Signiticado da diferenga entra o QT verbal ¢ 0 Qi de realizacio ng, WI8C' portuguesa, Rev. Fao, Hdue., Sao Paulo, (1): 21 a 34, 1978. média (entre —0,8 e 1,1) e do desvio-padréo (entre 10,5 e 11,4) encontram-se muito perto dos obtidos no total da amostra. Efetivamente, 86 no grupa 0 (pessoas exercendo tma profissio Hiberal, técnicos e equi- parados) cles se afastam, especialmente o da média. No entanto, nfo é significativa ao nivel de probabilidade de 5% a diferenga entre a média do grupo 0 e a do grupo 4 (agricultores, pescadores, silvicultores, caga~ dores ¢ trabalhadores equiparados) bem como entre a média do grupo 0 ea do grupo 7/8 (operdrios qualificadas, especializados e nfo espe- cializados). QUADRO NL 4 Fercentagens ¢ medianas das diferengas positivas, nlas c negativas entre 0 QI verbat © 0 QI de realizagio da WISC, segundo a profissio do pai, na amostra portuguesa QT verbat gr | QL verbal Grandes grupos superior a0 OT] inferior ao QU de nrofissées N de realizagio emis de realizagio (CLT.P. da O.LT.) —_ Eo “ Ge Mediana % | % Mediana 0 35 60 0 0 40 7 1 3a 4444 20 278 $278 9 2 bs 43659 34L 4395 7 3 ” 646 5 5,05 4348 8 4 302 9079 5,96 44376 5 8 50 4 a 50 2 6 68 41S 7 462 4923 8B 78 28k, 48,04 6 3,20 48,75 8 9 8 44dd 9 aiy 5238p x 7 42,86 6 0 S764 8 44 481 7 Total da amostra (b) tooo | 7S (a) Sobre a indicagdo dos grandes grupos de profissdes (C.1.T.P. da O.1.T) ver Quadro n° 3. (b) Tnelui_ os casos do ensino especial, que nio sto consideratos na distribuicio segundo a profisste do pai. Néo considerando os grupos 5 e X pelas razdes j4 apontadas, tam- bém as percentagens de casos com Qf verbal maior que 0 QI de realizagio, 2B MARQUNS, J. H. F. Significado da diferenca entre o QE verbal © o QI de realigagio na WISC portuguesa. Rev, Fac, Edue., Sdo Paulo, $(1): 21 a 34, 1978. com estes dois QI iguais ¢ com o QE verbal menor que o QI de realiza- a0 constantes do Quadro n.° 4 estia muito préximas exceto no grupo 0 (pessoas exercenda ma profissdo liberal, técnicos ¢ equiparados), O mesmo se poderd dizer a respeite de muitas das medianas das diferengas positivas e das negativas, embora ai seja de salientar o fato de nos grupos 0 e 1 as medianas das diferengas positivas atingirem ambas o valor 10, Mas apenas 0 grupo O mostra claramente uma freqiiéncia rela tiva mais elevada de casos em que o QI verbal é superior ao QI de realizaciio. Seashore verificou também, na amostra que permitiu a aferigao ameri- cana de 1949, que a média e o desvio-padrao € 2s proporgées das dife- rencas positivas, nulas e negativas eram semelhantes nos diversos grupos distinguidos segundo a profissio do pai, salvo no seu grupo I (N = 176) que corresponde até certo ponto ao grupo O postugués. Naquele a média foi de 3,f ¢ o indice de variabilidade é 0 mais elevado de todos os grupos, tal como aconteceu na amostra portuguesa (Cf. Quadro n. 3). Para o teferido psicélogo as diferencas sio mais intragrupo do que intergrupos sdcio-econdmicos, Embora pense que os seus resultados pdem em causa o estereétipo de relacionar as profissées “mais verbais” dos pais com maior desenvolvimenta nas aptiddes verbais dos filhos ¢, paralelamente, no caso das profissdes “nao verbais” dos pais, Seashore da especial significado ao que ocorre no grupo I da amostma americana em que a percentagem das diferengas positivas foi de 62%(10). NIVEL DO QI DA ESCALA COMPLETA Na WISC, como nas outras escalas de inteligéncia de Wechsler, a derivacio dos QI verbal, de realizado e da escala completa, é felt sepa- radamente, Todavia, para cada individue e porque se baseia simultanea- mente em igual ntmero de testes verbais e de testes de realizagio, 0 QI da escala completa da WISC tende a situar-se entre os valores do QI verbal ¢ do QI de realizagio sem ser forcosamente a média exata dos dois, Tem, alids, interesse, nfo sé no ponto de vista psicométrico mas também para aspectos praticos de aplicagio, estudar se a diferenga entre o QI verbal e 0 QT de realizagio est4 relacionada com o nivel do QI da escala completa. (10) Seashore, H. G, Differences between verbal and performance 1Qs on the Wechsler Intelligence Scale for Children, Journal of Consulting Psychology, 1951, 25, pp. 66-67. 2 MARQUES, J. H, F. Significado da diference entre o QI verbal ¢ 0 QI de realizacio na WISC portuguesa. Rev. Fae, Educ, Sfo Paulo, 4(1): 21 a 34, 1978. QUADRO NL 5 Média ¢ desvio-padrio das diferengas entre 0 QT verbal e 0 QI de realizagio da WISC, por nfvels de QI da escala completa, na amostra portuguesa ages | yt | | em | Bae 130 e acima, Muito superior 24 49 10,1 120 — 129 Superior IS 06 411 110 — 119 Normal brilhante 183 1,0 11,4 90 — 109 Médio ASH 02 11,2 s0— Normal lento 164 Oa 10,2 70— 79 Zona fronteiriga 46 47 93 69 € abaixo | Deficiente mental 24 Lo 83 Total 1000 0.0 uo Adotando a classificactio de inteligéncia de Wechsler(11), 0 Quadra n@ § apresenta a média e 0 desvio-padrio dos grupos assim caracterizados na amostta em que se fundamenta a aferigio portuguesa da WISC. Exceptuade o grupo com QI da escala completa 130 e acima, as médias oscilam pouco, entre —1,0 € 1,7. De notar ainda a menor variabilidade nos niveis de QT da escala completa de 70-79 ¢ abaixo de 70, enquanto nos outros esté muito préxima da encontrada no conjunto da. amostra. © aspecto mais saliente é, sem divida, a média de 4,9 no grupo com QI da escala completa de 130 e acima, sendo significativa ao nivel de pro- Labilidade de 5% a diferenga entre essa média ¢ a do grupo com QI da escala completa entre 90 e 109. (11) A respeito dos fundamentos de esta classificagio de inteligéncia ver; Wechsler, D., The measurement ani appraisol of adwilt intelligence, 4th ed., Baltimore, 1958, pp. 40-42; Marques, J. H, Ferreira, Estudos sobre a Escala de Inteli- gincia de Weckster para Criancas (WISC), Lisboa, 1969, pp, 41-13; Matarazzo, J. D., Wechsler's Measurement and Approisal of Adult Intelligence, Baltimore, 1972, pp. 123-126. Sobre 2s distribuig6es dos QI verbat, de realizagio e da escala completa da WISC portugucsa, segundo a mesma classificacao, ver Marques, J. H. Ferreira, Estudos sobre a Escala de Inieligéncia de Wechsler pare Criangas (WISC), Lishoa, 1969, pp. 189-193. MARQUES, J. H. ¥. Sizuificado da diferenga entre o QU verbal © 0 QI de realizacéo na WISC portuguesa, Rev. Fao, Bduo, S80 Paulo, $(1): 21 a 24, 1978. QUADRO NO 6 Percentagens e medianas das diferengas positivas, nulas e negativas entre 0 QI verbal eo QI de realizagio da WISC, por niveis de QI da escala completa, na amostra portuguesa QT verbal or |, verbal superior ao QT), OL. inferior a0 QT QT da escala completa) N de reatieagio | US | de realizagio % Mediana % | Jo Mediana 130 © acima 24 667 8 0 33933 120 -- 129 24 50,67 10 2,67 46,67 9 110 — 119 183 44,26 & 437 $1,37 9 90 — 109 484 47,11 & 455 48,35 8 0 — 164 48,17 & 488 A695 & m7 79 46 34,35, & 4,35 41,30 6 69 ¢ abaixo 24 33,33 10 833 5833 4 Total 1000 as 8 44 48,1 7 Como mostra o Quadro n. 6, nos niveis definidos pelo QI da escala completa, as percentagens e as medianas das diferengas positivas, nulas e negativas entre 0 QI verbal ¢ 0 QI de realizagao nao se afastam mitito das obtidas no conjunto da amostra portuguesa, a nado ser nos grupos extremos. Quando o OT da escala completa atinge ou ultrapassa 130, predominam os casos de OI verbal maior do que o QI de realizacio, Se o OI da escalz completa é inferior a 70, sic mais freqiientes as dife- rencas negativas porque o resultado é melhor na parte de tealizagio. As médias indicadas no Quadto n° 5 jé denotavam isso, sobretudo a do grupo com QI da escala completa 130 e acima. Também o préprio Wechsler procurou averiguar se a um nivel mais elevado do QT da escala completa corresponderiam melhores resultados nas provas verbais, portanto uma diferenga positiva entre o QI verbal e © QL de realizaco, e a baixo OT da escala completa melhores resultados na parte de realizagio, com uma diferenca negativa entre o QT verbal ‘€ 0 QI de realizagio. Nas amostras que permitiram as respectivas aferi- g6es americanas, assim aconteceu com a Escala de Inteligéncia de Wechsler- Bellevue Forma I mas nfo foi confirmado numa andlise mais sistematica 31 MARQUES, J. H, F, Signifieado de diferenca entre o QI verbal e 0 QT de reallzagto na, WISC portuguesa, Rev. Fae, Educ, 889 Paulo, §(1): 21 a 34, 1978. com a Escala de Inteligéncia de Wechsler para Adultos (WATS), que € uma revisto daquela como se sabe(12). Sobre a WISC portuguesa ser4 oportuno comentar os resultados dos Quadros ns. 1 e 2 respeitantes As criangas do ensino especial, o qual engiobava no sé alunos cuja capacidade intelectual se considerava que nao lhes permitia freqiientar as classes regulares mas também outros casos de inadaptacio(13). Convém notar que, nessas 30 criangas, estao inclaidas JL com QI da escala completa inferior 2 70, pelo que ha uma sobre- posigéo parcial com os 24 casos referidos nos Quadros ns. § ¢ 6. No grupo de ensino especial, a média das differengas entre o QI ver- bal © o QT de realizacdo é acentuadamente negaliva (—4,6), como se pode verificar no Quadro n° 1, enquanto que, no Quadro n° 5, a média para o nivel de QT da escala completa 69 ¢ abaixo foi de — 1,0. Confron- tando as percentagens das diferengas positivas, nulas e negativas entre 0 QI verbal ¢ o QT de realizacdo da WISC para esses mesinos dois grupos constantes dos Quadros ns. 2 ¢ 6, torna-se patente que o predaminio de casos com QI de realizagio superior ao QI verbal, que aparcee no nivel de QI da escala compleia inferior a 70 (cf. Quadro n° 6), torna-se ainda mais nitido no grupo de criangas do ensino especial (cf. Quadro n.° 2). Em certo paralelismo com o que acaba de ser desctito, em 200 crian- cas examinadas em Lisboa com a adaptagZo e aferigia portuguesa da WISC por um psicélogo durante os tltimos dois anos, que cle carac- teriza por terem “dificuldades de aprendizagem e deficiente rendimento escolar, dificuldades de comportamento, problemas afetivos”, a média das diferengas entre o QI verbal ¢ o QI de realizagio era de —7,6 e apare- ceram: 25, 5% de casos com o QI verbal superior ao QI de realizasio, 72, 5% com 9 QI verbal inferior av QI de realizagio, que se transformam respectivamente em 26, 5% © 73, 5% dividindo ao meio os 2% de QL ignais. Nas 27 criangas que, no conjunto das 200, tinham um QI da escala completa inferior 2 70, a média das diferengas entre o QI verbal (12) Wechsler, D., The measurement of adult intelligence, 3rd ed,, Baltimore, 1944, pp. 128-126 ¢ 136-139; Ed, The measurement and appraisal of adult intelligence, 4th ed,, Baltimore, 1958, pp. 102-104. (13) Sobre o grupo de criangas do ensino especial da amostra portuguesa, ver Marques, J. H. Ferreira, Estudos sobre a Escala de Inteligancia de Wechsler pare Criangas CISC), Lisboa, 1969, pp, 235-236. Equivalendo a 3% da amostra total, foram examinados 30 alunos do ensino especial, metade de cada sexo, ¢ dos quais 20 pertenciam a classes especiais do ensino primério oficial e 10 ireqtientavam escolas particulares. Quando se realizaram as aplicagées, em principio no cram admitidas mas classes dependentes do Instituto Antonio Aurélio de Cosia Ferrcira eriancas cujo QI na Escala de Terman-Merrill fosse inferior a 70, porém, nos calégios particulares, encontravam-se inscritas algumas com nivel intelectual reconhecidamente mais baixo, MARQUES, J. H. F. Significado da diferenga entre o QI verbal a o OT de realizacto na WISC portugues, Rev. Fao, Eduo., Sio Paulo, 4(1): 21 a 34, 1978. © 0 QI de realicagio j4 no surge tio pronunciadamente negativa (39) € 8 casos com OF verbal maior que 9 OI de realizacio aumen- tam para 37,04%, enquanto que com o QI verbal menor que o QI de realizacio diminuem para 51,85%, percentagens essas que passam para 42,60% @ 57.41% respectivamente, dividindo ao meio os 11,11% de QL iguais, o que tora a comparacio mais elucidativa(14). RESUMO E CONCLUSOES Continuando a publicagio anteriormente feita de dados respeitantes 4 diferenga entre o QI verbal e 0 QI de realizacio da WISC nos diversos gtupos etirios ¢ no conjunio da amostra organizada para a afericio por- tuguesa, a investigagio incidiu sobre outros fatores como a residéncia urbana-rural, a profissio do pai ¢ o nivel do QT da escala completa que poderiam alterar o significado de essa diferenca. Partindo dos resultados de uma amostra representativa da populac&o escolar do Continente entre os 6 ¢ os 15 anos, procurou-se esclarecer aspectos que interessam a quem utiliza a Escala de Inteligéncia de Wechsler para Criancas. Néo foram encontradas variagées importantes entre a subamostra dos centtos urbanos ¢ a das zonas rurais. Hm referéncia 4 profissio do pai, 86 no grupo 0 (pessoas exercendo ama profissio liberal, técnicos e equi- parados) da Classificagio internacional tipo de profissées surgiu uma distribuiggo nitidamente assimétrica das diferencgas entre o OI verbal e 0 QI de realizacao, com predominio de casos em que aquele é superior a este. Sublinhou-se, na introdugdo ao presente artigo, a comprovada influ- éncia do meio sécio-econdmice nos QI da WISC, sobretude no QT verbal. Parece agora de coneluir, segundo os critérios usados de residéncia: urbana- -rural e de profissio do pai, que essa influéncia nfo & suficientemente mais-acentuada no QI verbal para que o valor da diferenca entre este € 6 QI de realizag&o seja afetado, a nao ser quando se trata de criancas de um nivel sdcio-econdmico mais elevado como o mencionado grupo 0. Exceto nessas circunstincias, nfio sera possivelmente necessdrio atender ao meio sécio-econdmico para a interpretagdo da diferenca entre o QI verbal ¢ 0 QI de realizacio, embora o seja para a dos proprios QI. Em relagéo ao nivel do QI da escala completa, os fatos mais rele- vatites aparecem sem ditvida nos extremos da distribuigio: a maior fre- (14) Comunicagio pessoal do Dr, Danilo Silva de 200 casos por ele observados ¢ que muito se agradece. A andlise estatistica das diferengas entre o QU verbal @ 0 QI de realizagéo & do autor cdo artigo. 3B 3 REE MAKQUES, J. H. #, Signiticada aa Glterenga entto o QE verbal e o QI de realizagio na WIBC portuguese, Rev. Fac. Bduc., SAo Paulo, j(1): 21a 34, 1978, qiiéncia das diferengas positivas entre o QI verbal ¢ 0 QI de realizagéo quando o QI da escala completa é de 130 e acima e a efeito inverso quando @ inferior a 70, Portento, neste ultimo caso, a maioria das criangas tem um QI de realizagio superior 20 QE verbal, o que foi ainda mais saliente na subamostra do ensino especial. O mesmo aconteceu, ¢ de maneita pronunciada, num grupo de 200 criancas com “dificuldades de aprendizagem e deficiente rendimento escolar, dificuldades de comporta- mento, problemas afetivos”, segundo 0 psicdlogo que as observou empre- gando entre outras provas a WISC na sua aferigag portuguesa. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Anastasi, A, Differential psychology. Individual and group differences in behavior, 3rd ed, New York, Macmillan, 1958. Berte, R., L’échelle d’intelligeuce pour enfants de D. Wechsler. Considérations diag- nostiques: Les divergences entre le Q.L. verbal et Je Q.I. de performance, Psyeho- logica Belgica, 1961-1964, 4, pp. 25-40. Littell, W. M., The Wechsler Inteljigence Scale for Children: Review of a decade of research, Psychological Bulletin, 1960, $7, pp. 132-186. Marques, J. H, Ferreira, Esmdos sobre a Escala de Inteligéncia de Wechsler para Criancas (WISC), Lisboa, 1969, Manual da Escala de Inteligéncia de Wechsler pare Criangas (WESC). Adap- tagdo ¢ Aferigéo pora Portugal, Lisboa, Instituto de Alta Cultura, 1970. --—— A Diferenca entre 0 Ol Verbal e 0 Ql de Reatizagéo nes Escalos de Wechsler, Coimbra, 1975 (Separata da Revista Portguesa de Pedagogia, Ano IX, 1973, pp. 159-172). Matarazzo, J. D., Weckster’s Measurement end Appraisal of Adult Intelligence, Balti- more, Williams & Wilkins, 1972. Priester, H. J, Die Standardisierung des Homburg-Wechsler-Intelligens-tests fiir Kinder (HAWIK), Bera-Stuttgart, Hans Hither. 1958. Seashore, H. G., Differences between verbal and performance [Qs on the Wechsler Intelligence Scale for Children, Journal of Consulting Psychology, 1951, 15, pp. 62-67. Wechsler, D., The measurement of adult inielligence, 3rd ed., Baltimore, Williams & ‘Wilkins, 1944, ——— The measurement and appraisal of adult intelligence, 4th ed., Baltimore, Williams & Wilkins, 1958, Zimmerman, I, L, Woo-Sam, J., Research with the Wechsler Intelligence Scale for Children: 1960-1970, Journal of Clinical Psychology, April 1972 (Monograph Supplement, n° 33),

Você também pode gostar