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Nikollas Antonny Silveira Sales de Lima

A HISTÓRIA DA ARTE EM MOVIMENTO:


exposição virtual digital de releituras em motion design

Projeto de Conclusão de Curso submetido ao


Curso de Design da Universidade Federal de
Santa Catarina para a obtenção do Grau de
Bacharel em Design.

Orientadora: Profª. Dra. Rosana Andrade Dias


do Nascimento

Florianópolis

2023
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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor


através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.
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Nikollas Antonny Silveira Sales de Lima

A HISTÓRIA DA ARTE EM MOVIMENTO:


exposição virtual digital de releituras em motion design

Este Projeto de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título
de "Bacharel em Design", e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação
em Design.

Florianópolis, 23 de junho de 2023.

_______________________________________
Profa. Dra. Marília Matos Gonçalves
Coordenadora do Curso de Design UFSC

Banca Examinadora:

Profa. Dra. Rochelle Cristina dos Santos (UFSC)


Profa. Dra. Cristina Colombo Nunes (UFSC)

_______________________________________
Profa. Dra. Rosana Andrade Dias Do Nascimento
Professora Orientadora
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Este trabalho é dedicado à


Maria José Machado Sales (Mazé),
a minha eterna dindinha.
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AGRADECIMENTOS

Foram sete anos de UFSC. Dois na engenharia e cinco em ambos designs


(produto e gráfico). E se tem uma coisa que eu tive ao longo de todo esse tempo foi
o apoio constante de muita gente que se importa comigo. Eu não poderia fechar
esse ciclo sem antes agradecer a todo mundo que me ajudou até aqui.
Nada vem fácil, é preciso batalhar para conseguir alcançar as nossas metas e
essa lição eu aprendi muito bem com a minha mãe, Rosa Maria da Silveira, a
responsável por tudo o que eu sou hoje. Junto dela, a minha madrinha — a quem
dedico este PCC — sempre me mostrou o melhor que o mundo tem a oferecer,
acompanhado do doloroso fato de que nem as melhores pessoas são imortais. Meu
pai, desenhista profissional, foi muito importante ao me apresentar o mundo das
artes plásticas, e eu sou permanentemente grato por isso. Outros familiares também
foram essenciais para manter a minha vida repleta de boas energias, como a minhas
primas Claudinha, Iaia, Keli, Tati e meus primos Cezinha e Luiz Felipe; minha vó
Luzia; minhas tias Nadir, Elma, Rita, Marlene, Lúcia, Margarida e tios Luis e Jorge.
Aos amigos do Rio de Janeiro, Nathália, Larissa, Monalisa, Leonardo e Carol,
que sempre ficaram do meu lado, não importa o motivo. Nossa amizade é para
sempre e eu sou muito abençoado por ter vocês em minha vida. Aos amigos do sul,
Júlia, Maria Eduarda, Amanda, Neto, Laura, Letícia, Duda e Camilla: sem vocês eu
não estaria ainda aqui em Santa Catarina terminando meu sonho de ter ensino
superior. Obrigado por todos os momentos de alegria que me forneceram. Ao Lucas,
meu companheiro para literalmente todas as horas, que sempre me ajudou quando
eu estive no sufoco escrevendo este relatório, saiba que jamais vou esquecer de ti.
Por último, mas definitivamente não menos importante, gostaria de registrar
gratidão à minha querida orientadora Rosana. Foi uma honra ter sido o seu aluno
nos meus dois primeiros anos da faculdade e terminar sendo o seu último orientando
antes de se aposentar. Com toda certeza vai fazer muita falta no meio acadêmico.
A todos os citados, quero que saibam que amo cada um individualmente. E
aos que ficaram de fora, minhas mais sinceras desculpas. Sabem como é a vida
universitária… A culpa foi do final do semestre.
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RESUMO

Desde os primórdios da história humana, as artes visuais foram a primeira forma de


registro da nossa existência. Dos tempos primitivos aos recentes, a sua evolução se
encontra eternizada em diversos meios de comunicação. Entretanto, fatores sociais
e sanitários, como a desigualdade e a pandemia, acarretaram um declínio cada vez
maior no interesse da sociedade em conhecer sobre sua própria história através da
arte. É com esse problema que surgiu o presente projeto, que visou criar uma
exposição virtual digital em motion design para mostrar releituras de obras pictóricas
presentes em diferentes estilos estéticos ao longo dos últimos milênios. O processo
projetual se baseou na metodologia de David Dean e na abordagem triangular de
Ana Mae Barbosa, tendo feito uma extensa pesquisa cronológica das pinturas
principais, passando-se pela Pré-História, Antiguidade, Idade Média, Moderna e
Contemporânea. Com todo esse estudo, foi possível dar seguimento e aplicar os
métodos adaptados ao ambiente online sem perder a essência do espaço expositivo
e dos três pilares (contextualização, fruição e fazer artístico). Frente à sequência
Fibonacci e suas proporções áureas, criou-se a respectiva identidade visual e
realizou-se as curadorias, os planos educativo e promocional, além de um
questionário para o final da visita. Finalizou-se obtendo êxito nos objetivos ao
inaugurar o trabalho através da plataforma Artsteps sob auxílio dos softwares
Illustrator, Photoshop, After Effects e Motionleap para a produção de todas as peças
gráficas e animadas, usadas na exposição e neste relatório.

Palavras-chave: História da Arte; Exposição Virtual; Exposição Digital; Releitura;


Motion Design.
7

ABSTRACT

Since the beginning of human history, the visual arts have been the first form of
recording our existence. From primitive times to recent times, its evolution is
eternalized in various means of communication. However, social and health factors,
such as inequality and the pandemic, have led to an increasing decline in society's
interest in learning about its own history through art. It is with this problem that the
present project arose, which aimed to create a digital virtual exhibition in motion
design to show rereadings of pictorial works present in different aesthetic styles over
the last millennia. The design process was based on David Dean's methodology and
Ana Mae Barbosa's triangular approach, having carried out an extensive
chronological research of the main paintings, passing through Prehistory, Antiquity,
Middle Ages, Modern and Contemporary. With all this study, it was possible to follow
up and apply the methods adapted to the online environment without losing the
essence of the exhibition space and the three pillars (contextualization, fruition and
artistic making). Faced with the Fibonacci sequence and its golden proportions, the
respective visual identity was created and curatorship, educational and promotional
plans were carried out, in addition to a questionnaire for the end of the visit. It ended
with success in achieving the objectives by inaugurating the work through the
Artsteps platform with the help of Illustrator, Photoshop, After Effects and Motionleap
software for the production of all graphic and animated pieces, used in the exhibition
and in this report.

Keywords: Art History; Virtual Exhibition; Digital Exhibition; Rereading; Motion


Design.
8

RÉSUMÉ

Depuis l'aube de l'histoire humaine, les arts visuels ont été la première forme
d'enregistrement de notre existence. Des temps primitifs aux temps récents, son
évolution s'éternise dans divers moyens de communication. Cependant, des facteurs
sociaux et sanitaires, tels que les inégalités et la pandémie, ont conduit à un déclin
croissant de l'intérêt de la société pour l'apprentissage de sa propre histoire à travers
l'art. C'est avec cette problématique qu'est né le présent projet, qui visait à créer une
exposition virtuelle numérique en motion design pour montrer des relectures
d'œuvres picturales présentes dans différents styles esthétiques au cours des
derniers millénaires. Le processus de conception était basé sur la méthodologie de
David Dean et l'approche triangulaire d'Ana Mae Barbosa, après avoir effectué une
recherche chronologique approfondie des principaux tableaux, en passant par la
Préhistoire, l'Antiquité, le Moyen Âge, le Moderne et le Contemporain. Avec toute
cette étude, il a été possible de suivre et d'appliquer les méthodes adaptées à
l'environnement en ligne sans perdre l'essence de l'espace d'exposition et des trois
piliers (contextualisation, réalisation et création artistique) en réalisant des curatelles,
des plans promotionnels et éducatifs, en complément d'un questionnaire à la fin de la
visite. Enfin, les objectifs ont été atteints lorsque l'œuvre a été inaugurée via la
plateforme Artsteps, avec l'aide des logiciels Illustrator, Photoshop, After Effects et
Motionleap pour la production de toutes les pièces graphiques et animées, utilisées
dans l'exposition et dans ce rapport.

Mots-clés: Histoire de l'art; Exposition virtuelle; Exposition numérique; Relecture;


Motion Design.
9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: O motion design nos streamings de música Apple Music e Youtube 25


Figura 2: O motion design no serviço de streaming Disney+ 26
Figura 3: O motion design nas interfaces do aplicativo iFood 26
Figura 4: O motion design nas capas de revistas digitais 27
Figura 5: Modelo generalista de um Projeto de Exposição 30
Figura 6: Esquema de funcionamento da Abordagem Triangular 33
Figura 7: Caverna de Lascaux (Dordogne), França 37
Figura 8: Mãos em negativo na Caverna de Lascaux 37
Figura 9: Pintura rupestre de um bisonte nas grutas de Altamira, Espanha 38
Figura 10: Pintura rupestre nas cavernas de Tassili n'Ajjer, Argélia 39
Figura 11:Pinturas egípcias na tumba do Rei Tutancâmon (1341 a.C. - 1323 a.C.), Egito 41
Figura 12: "Vaso François", Clítias, 550 a.C., Grécia 43
Figura 13: Afrescos na parede de uma casa na Vila dos Mistérios, século I a.C., Pompéia 44
Figura 14: "Madona Entronizada", final do século XIII, Constantinopla 46
Figura 15: Uma parte da obra "La Viga de la Pasión", primeiro terço do século XIII, 47
Espanha

Figura 16: "Fuga para o Egito", Saltério de Ingeborg, 1195 48


Figura 17: Vitral da Catedral de Notre-Dame (1163-1345), Paris 49
Figura 18: "O beijo de Judas", Giotto, 1305-1306 50
Figura 19: "O casal Arnolfini", Jan Van Eyck, óleo sobre tela, 1434 51
Figura 20: "A Última Ceia", Leonardo Da Vinci, afresco no refeitório do mosteiro de Santa 53
Maria delle Grazie, Milão, 1495-1497

Figura 21: "A Escola de Atenas", Rafael, afresco no Palácio Vaticano, Roma, 1510-1511 53
Figura 22: "A Virgem e o Menino com s. Martina e s. Agnes", El Greco, óleo sobre tela, 54
1597-1599

Figura 23: "A Ceia em Emaús", Caravaggio, óleo sobre tela, 1597-1599 56
Figura 24: "A Rainha Maria Antonieta", Élisabeth Vigée Le Brun, óleo sobre tela, 1783 57
10

Figura 25: "A Intervenção das Sabinas", Jacques-Louis David, óleo sobre tela, 1794 58
Figura 26: "A Primeira Missa no Brasil", Victor Meirelles, óleo sobre tela, 1861 59
Figura 27: "Independência ou Morte", Pedro Américo, óleo sobre tela, 1888 59
Figura 28: "Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808", Francisco de Goya, óleo sobre tela, 60
1814

Figura 29: "Os quebradores de Pedra", Gustave Courbet, óleo sobre tela, 1849 61
Figura 30: "O monte Fuji com tempo limpo" ( ), ou Fuji vermelho, Hokusai, 1831 62
Figura 31: "Impressão, nascer do sol", Claude Monet, óleo sobre tela, 1873 63
Figura 32: "O farol de Honfleur", Georges Seurat, óleo sobre tela, 1886 65
Figura 33: "O quarto do artista em Arles", Vincent van Gogh, óleo sobre tela, 1889 65
Figura 34: "Retrato de Adele Bloch-Bauer", Gustav Klimt, óleo, prata, ouro e gesso sobre 66
tela, 1907

Figura 35: "Harmonia em vermelho (Sala vermelha)", Henri Matisse, óleo sobre tela, 67
1908-1909

Figura 36: "Cena de rua berlinense", Ernst Ludwig Kirchner, óleo sobre tela, 1913 68
Figura 37: "Les Demoiselles d'Avignon", Pablo Picasso, óleo sobre tela, 1907 69
Figura 38: "Composição VIII", Wassily Kandinsky, óleo sobre tela, 1923 71
Figura 39: Detalhes de "Golconda", René Magritte, óleo sobre tela, 1953 72
Figura 40: Detalhes de "O Homem Amarelo", Anita Malfatti, óleo sobre tela, 1917 73
Figura 41: Capa do catálogo da Semana de Arte Moderna de 1922, desenhada por Di 74
Cavalcanti

Figura 42: "Os Retirantes", Candido Portinari, óleo sobre tela, 1944 75
Figura 43: "Campbell’s Soup Can", Andy Warhol, polímero sintético sobre telas, 1962 76
Figura 44: Exposição virtual "35 Revoluções: Irmãos Campana", MAM - RJ 78
Figura 45: Exposição virtual "Bandeira Brasileira", MAM - RJ 78
Figura 46: Exposição virtual "Estado bruto", MAM - RJ 79
Figura 47: Exposição virtual "Fayga Ostrower: formações do avesso", MAM - RJ 79
Figura 48: Panorama geral virtual do piso 1 da Pinacoteca de São Paulo 81
Figura 49: Vista virtual no modo "Dollhouse" da Pinacoteca de São Paulo 81
Figura 50: Divisão das salas virtuais da Pinacoteca de São Paulo 82
11

Figura 51: Falha na legibilidade dos textos virtuais da Pinacoteca de São Paulo 82
Figura 52: Alguns slides da exposição digital da Caverna de Chauvet, Google Arts & 84
Culture

Figura 53: Alguns slides da exposição digital de Lasar Segall Processos, Google Arts & 85
Culture

Figura 54: A espiral áurea 89


Figura 55: "Homem Vitruviano", Leonardo da Vinci, lápis e tinta sobre papel, 1490 90
Figura 56: Logo da Apple em proporção áurea 91
Figura 57: Pintura paleolítica de um cavalo na caverna de Lascaux, França, aprox. 15.000 95
a.C.

Figura 58: Frames da releitura de uma pintura rupestre, @MechaRex, 2022 95


Figura 59: "Aquiles e Ajax jogando damas", Exéquias, 540-530 a.C 96
Figura 60: Frames da releitura de "Clash of the Dicers", Panoply Vase Animation Project, 97
2014

Figura 61: "Cuthbert extinguishing a fire set by a demon", iluminura pré-gótica, Inglaterra, 98
séc. XII

Figura 62: Frames da releitura de uma iluminura pré-gótica inglesa, Citlali Reyes, 2019 99
Figura 63: "Mona Lisa", Leonardo Da Vinci, óleo sobre madeira de álamo, 1503-1506 100
Figura 64: Frames da releitura de "Mona Lisa", Mystery Scoop, 2022 101
Figura 65: "Moça com o Brinco de Pérola", Johannes Vermeer, óleo sobre tela, 1665-1666 102
Figura 66: Frames da releitura de "Moça com o Brinco de Pérola", Mystery Scoop, 2021 103
Figura 67: "A Grande Onda de Kanagawa", Katsushika Hokusai, gravura, 1830 104
Figura 68: Frames da releitura de "A Grande Onda de Kanagawa", Segawa Atsuki, 2015 104
Figura 69: "Cristo em Majestade" (autor desconhecido), afresco na Espanha, 1123 106
Figura 70: Frames da releitura do afresco "Cristo em Majestade", 2023 107
Figura 71: "O Balanço", Jean-Honoré Fragonard, óleo sobre tela, 1766 108
Figura 72: Frames da releitura de "O Balanço", 2023 109
Figura 73: "A Noite Estrelada", Vincent van Gogh, óleo sobre tela, 1889 110
Figura 74: Print do processo de produção da releitura de "A Noite Estrelada", 2023 111
Figura 75: "O Grito", Edvard Munch, óleo sobre tela, 1893 112
12

Figura 76: Print do processo de produção da releitura de "O Grito", 2023 113
Figura 77: Impressão do Manifesto Antropófago, 1928 114
Figura 78: "Abaporu", Tarsila do Amaral, óleo sobre tela, 1928 115
Figura 79: Frames da releitura de "Abaporu", 2023 116
Figura 80: "Díptico Marilyn", Andy Warhol, serigrafia, 1962 117
Figura 81: Frames da releitura de "Díptico Marilyn", 2023 117
Figura 82: Infográfico do storyline com a linha do tempo 118
Figura 83: Painel de referências 119
Figura 84: Fonte Trajan em séries e filmes consagrados 120
Figura 85: Paleta cromática 121
Figura 86: Geração de alternativas como logotipo 121
Figura 87: Geração de alternativas como lettering 122
Figura 88: Grid da alternativa escolhida 122
Figura 89: Versão final do lettering 123
Figura 90: Espaço padrão da versão gratuita do Artsteps 124
Figura 91: Espaço padrão da versão gratuita do Artsteps 124
Figura 92: Visão em perspectiva da exposição 125
Figura 93: Cenografia da exposição 125
Figura 94: Manchete do jornal parisiense noticiando o roubo da Mona Lisa em 1911 127
Figura 95: Cartaz de divulgação física da exposição 128
Figura 96: Print da sala da Pré-História 129
Figura 97: Print final da sala da Antiguidade com vista para o banner da Idade Média 130
Figura 98: Print final da sala da Idade Média 130
Figura 99: Print final da sala da Idade Moderna 131
Figura 100: Print final da sala da Idade Contemporânea 131
13

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Versão esquadrinhada do Modelo padrão de um projeto de exposição física 31

Quadro 2: Versão reformulada do Modelo para este projeto de exposição virtual digital 32

Quadro 3: Requisitos do projeto 92


14

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABREVIATURAS

IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus


TIC – Tecnologias da Informação e da Comunicação
VR – Realidade Virtual
AR – Realidade Aumentada
MAM – Museu de Arte Moderna
IA – Inteligência Artificial
FPS – Frames per Second (quadros por segundo)

SIGLAS

a.C. – Antes de Cristo


d.C. – Depois de Cristo
15

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO 18

1.1 - Contextualização 18

1.2 - Problemática 21

1.3 - Objetivos 23

1.3.1 - Objetivo geral 23

1.3.2 - Objetivos específicos 23

1.4 - Justificativa 23

1.5 - Escopo e Delimitação 28

1.6 - Metodologia projetual 29

2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 35

2.1 - A História da Arte nas pinturas 35

2.1.1 - Pré-História 36

2.1.2 - Antiguidade 40

2.1.3 - Idade Média 45

2.1.4 - Idade Moderna 52

2.1.5 - Idade Contemporânea 58

2.2 - Análises de exposições similares 77

2.2.1 - Exposições virtuais de museus físicos 77

2.2.2 - Exposições digitais do Google Arts & Culture 83

2.2.3 - Comparação analítica 86

3 - APLICAÇÃO DA METODOLOGIA 88

3.1 - Fase Conceitual 88

3.1.1 - Síntese do conceito: Fibonacci 88

3.1.2 - Requisitos do projeto 91

3.1.3 - Definição da plataforma digital 92


16

3.2 - Fase de Desenvolvimento 93

3.2.1 - Curadoria do acervo 94

3.2.1.1 - Abordagem Triangular 105

3.2.2 - Infográfico do storyline 117

3.2.3 - Estrutura da Exposição virtual digital 119

3.2.3.1 - Identidade visual 119

3.2.3.2 - Cenografia e ambientação 123

3.2.4 - Plano educativo 126

3.2.5 - Plano de marketing 126

3.3 - Fase Funcional 129

3.3.1 - Resultado Final 129

3.3.2 - Visita guiada 131

3.4 - Fase Avaliativa 132

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 134

4.1 - Possíveis desdobramentos futuros 135

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 137

APÊNDICES 142

Apêndice A - Autorizações do uso das obras 142

Apêndice B - Banners e parágrafos do plano educativo 146

Apêndice C - Gravação da visita guiada 152

Apêndice D - Modelo do questionário 153

Apêndice E - Estatísticas das visitas 155


17

Faça simples.
Faça memorável.
Faça convidativo ao olhar.
Faça divertido para ler.

Leo Burnett
18

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

As artes visuais se mostram presentes em nossa vida desde o início dos


tempos como uma maneira do ser humano se expressar, tanto para si mesmo
quanto para os outros. Esse tipo de exteriorização foi progredindo como uma forma
de transmissão dos sentimentos e ideias do próprio homem. Para Voigt (2016), nós
nos apropriamos da Arte subjetivamente ao manifestarmos uma visão sensível e
poética do universo em que vivemos.

Em outras palavras, a humanidade sempre mostrou essa necessidade de


exprimir seus pensamentos através da produção artística. Conforme fala Proença
(2007, p. 8) "Com seus múltiplos significados, a Arte não está, portanto, isolada das
demais atividades humanas: ela está presente nos inúmeros artefatos que fazem
parte do nosso dia-a-dia". Isso pode ser confirmado principalmente por meio dos
veículos de comunicação atualmente. No momento em que lemos um livro, ou
assistimos televisão, ou navegamos na internet ou até mesmo andamos pelas ruas,
nós estamos frequentemente em contato com artistas, ainda sem perceber.

A onipresença da Arte em torno de nossas vidas está diretamente associada


com todo o seu legado. Afinal de contas, como espera-se evoluir sem antes
conhecer o que veio outrora? Ter tal cognição possibilitou ampliar a nossa
consciência em muitos aspectos. Isso se deve ao fato de que, ao estudarmos a
História da Arte, nós conseguimos obter:

a) melhor compreensão sobre as crenças, valores e costumes de períodos


variados, pois promove maior empatia entre pessoas de diferentes origens
(tornando uma sociedade mais tolerante e inclusiva);

b) inspiração artística com a aprendizagem das técnicas, estilos e inovações que


existiram (auxiliando o artista a desenvolver sua própria voz única e
ultrapassar os limites do que é possível ser feito na Arte);
19

c) preservação do patrimônio cultural, que abrange uma vasta gama de artefatos


(garantindo que as gerações futuras tenham evidências de tudo o que se
remete ao passado);

d) detalhamento do contexto histórico, pois saber que eventos e movimentos


sociais aconteceram contribui no fornecimento de muitas informações
(ajudando a entender como a Arte reflete em volta do mundo).

Adentrando-se sob a ótica de Ernst Hans Josef Gombrich, um dos mais


célebres historiadores da Arte do século XX e referência essencial para este
trabalho, encontramos em seu discurso a contemplação dos pontos citados acima:

Penso que conhecer algo dessa história ajuda-nos a compreender por que
os artistas trabalham de uma determinada maneira ou visam certos efeitos.
É, sobretudo, um excelente modo de exercitarmos os nossos olhos para as
características particulares das obras de arte e, por conseguinte, de
aumentarmos a nossa sensibilidade para os mais sutis matizes de
diferença. (GOMBRICH, 2008, p. 37)

Além desses motivos, a escola de design possui, por sua vez, a obrigação de
instruir-se no que concerne à História da Arte, tanto que esta é uma das primeiras
disciplinas oferecidas ao se lecionar tal área. Assim, adquire-se uma base para o
conhecimento sobre a evolução da linguagem visual que ocorreu no decorrer do
tempo, desenvolvendo um maior aprofundamento nos elementos imagéticos como
cor, composição e forma. Por exemplo, um designer gráfico familiarizado com o
modernismo pode ser capaz de criar um design que faça referência direta ao
minimalismo do movimento Bauhaus, enquanto incorpora elementos
contemporâneos que atraem o público moderno.

Da mesma maneira que o design se divide em vários campos de atuação no


mercado, as artes visuais também se fragmentam em muitas subáreas, cada uma
com as suas devidas particularidades. Entretanto, é incontestável afirmar que nas
Artes Plásticas (ou Belas-Artes1) nos deparamos com o acervo mais longevo dentre
todas elas, já que a escala cronológica parte desde os desenhos rupestres,

1
Apesar da discussão relativa a este termo dispor bastante relevância por impelir o conceito
questionável do que é ou não é beleza, este relatório foca na definição inaugural e estrita do mesmo,
que consiste no ramo daquelas artes que imitam a bela natureza expressa pelas cores, pelo relevo e
pelas atitudes (BATTEUX, 1746, tradução nossa; cuja editoração original se encontra em domínio
público e disponível na íntegra por este link).
20

passando pelas esculturas e pinturas até chegar às que nasceram mais


recentemente graças ao avanço tecnológico, como as gravuras.

Quando segmentamos para as Artes Plásticas, uma das primeiras funções


que vem na mente das pessoas é de caráter apreciativo. A grande verdade é que
toda obra pode ser sim admirada, mas há uma infinidade de outros benefícios que
conseguimos extrair ao analisarmos uma peça de arte.

Pensar as imagens, não apenas como exercícios de percepção estética, e


sim como uma oportunidade de reflexão sobre tempo e espaço da obra,
sobre sua criação e seu criador, e por que não fazer um paralelo com o
nosso tempo e espaço? Criando assim uma aproximação da obra com a
realidade que nos cerca. Enfim, discutir como essas imagens (obras) podem
interferir ou até mesmo contribuir para a nossa percepção de mundo e de
nós mesmos. (VOIGT, 2016, p. 10)

Seguindo por essa linha de raciocínio, é possível encontrar vários jeitos de se


atingir esse patamar que vão além da simples admiração. Estabelecer rodas de
conversa e participar de debates em fóruns são alguns deles, porém é com a
chamada releitura que o estudo alcança o máximo de seu aprofundamento, visto
que a análise deixa de ficar só na teoria e passa a englobar a prática idem.

Rangel (2004) fala que a releitura significa, basicamente:

Fazer a obra de novo, acrescentando ou retirando informações. Não é


cópia. Cópia é a reprodução da obra. Reler uma obra subentende adquirir
conhecimento sobre o artista e a contextualização histórica. É uma nova
visão, uma nova leitura sobre a obra já existente, uma nova produção com
outro significado. O produto final da releitura pode levar ou não ao
reconhecimento da obra escolhida. Reler é interpretar a obra, é colocar sua
visão de mundo, suas críticas, sua linguagem e suas experiências sobre a
obra escolhida. [...] É como uma música que pode ser cantada por vários
intérpretes. Ela foi elaborada por um compositor, mas ganha diferentes
versões a cada vez que é executada.

Com a releitura, é permitido ter uma perspectiva diferenciada de uma peça.


Ao revisitar uma pintura várias vezes, o indivíduo pode descobrir novos detalhes e
simbolismos, adquirindo uma compreensão mais abrangente da peça. Isso porque,
além de contemplar todas aquelas quatro recompensas por se estudar História da
Arte mencionadas previamente, esse método também descava camadas de
significado até então inéditas, incluindo aquelas relacionadas às questões políticas
contemporâneas como raça, gênero e dinâmica de poder.
21

No âmbito das releituras, deve-se sempre buscar aprender novas formas de


representar o nosso mundo porque é de suma importância captar uma visão pessoal
nossa da sociedade. Em resumo, cada um de nós enxerga as coisas de um ponto
de vista distinto e é justamente essa singularidade que faz agregar valor quando se
trata de produzir algo novo.

Sendo assim, este Projeto de Conclusão de Curso pretende direcionar-se a


uma exposição virtual digital de releituras animadas como sendo o fundamento para
solucionar a problemática que envolve a História da Arte, declarada a fio.

1.2 Problemática

Apesar de toda essa importância apresentada acima, o entusiasmo do público


pelas Belas-Artes vem enfrentando uma era de disruptura na sua natureza
espontânea e expressão sincera. Nos dias de hoje a obra é encarada como um
objeto de consumo com certo valor comercial e como sinônimo de status de riqueza
monetária ao invés de cultural. É como se a sua existência passasse a ter uma
finalidade unicamente material ao tirar o devido lugar do propósito imaterial,
acarretando a elitização das artes e, consequentemente, a intensificação da
segregação social no acesso aos locais onde elas são expostas.

Em seu livro "O que é museu", Marlene Suano discorre sobre o quão antigo é
esse problema da desigualdade entre classes em exposições. A autora chega a citar
em seu texto uma nota do século XVIII de Sir Ashton de Alkrington Hall (Manchester)
em jornais ingleses, que ilustra bem esse assunto:

Isto é para informar o Público que, tendo-me cansado da insolência do Povo


comum, a quem beneficiei com Visitas a meu museu, cheguei à resolução
de recusar acesso A classe baixa, exceto quando seus membros vierem
acompanhados com um bilhete de um Gentleman ou Lady do meu círculo
de amizades. E por meio deste eu autorizo cada um de meus amigos a
fornecer um bilhete a qualquer homem ordeiro para que ele traga onze
pessoas, além dele próprio, e por cujo comportamento ele seja responsável,
de acordo com as instruções que ele receberá na entrada. Eles não serão
admitidos quando Gentlemen e Ladies estiverem no Museu. Se eles vierem
em momento considerado impróprio para sua entrada, deverão voltar em
outro dia. (HALL, 1773, apud SUANO, 1986, p. 27).
22

Infelizmente, os dados estatísticos recentes provam que essa realidade não


mudou muito, mesmo após mais de dois séculos. Uma pesquisa de 2019 feita pelo
Instituto Oi Futuro, da empresa de telecomunicações do mesmo nome, e da
consultoria Consumoteca afirma que 82% dos frequentadores de museus brasileiros
(de todas as categorias, incluindo os de arte) integram as classes A e B. Esse
levantamento também informa que quase a metade (49%) dos não frequentadores
mencionou o fato de não entender o que veem, principalmente ao se tratar de
exposições de Artes Plásticas, ou seja, estamos defrontando uma época de
desinteresse da massa popular em saber mais a respeito do que consome.

O Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM (2011) reitera que as regiões do


Brasil com o maior quantitativo de museus concentram a população com maior
renda e, por conseguinte, são aquelas cuja estrutura administrativa e os
investimentos em cultura são mais substanciais. Isso é só mais um indicativo de que
a pauta sobre a democratização da arte necessita ser mais abordada.

Em adição a esse tópico, temos ainda o agravante da pandemia ocasionada


pelo vírus da Covid-19. Mesmo tendo atingido o seu pico há mais de dois anos, a
nossa sociedade continua sofrendo severas consequências do impacto devastador
causado por essa crise sanitária e humanitária. É o que divulga a pesquisa anual da
revista inglesa The Art Newspaper feita em 2021, onde consta a análise dos 100
principais museus de arte apresentando uma queda de público de 77% dos
visitantes ao redor do mundo em 2020.

Dessa forma, levando em consideração a contextualização mostrada


anteriormente e estas problemáticas apontadas, a questão primordial que guiará
todo o desenvolvimento e que vai auxiliar nas tomadas de decisões do projeto é:
resolver como o design pode ajudar os cidadãos de média e baixa renda a
refletirem sobre materiais pictóricos acerca do passado que as Belas-Artes
carregam, de modo que demonstre potencial em impulsionar a popularização
do acesso às exposições artísticas tanto físicas quanto virtuais.
23

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Projetar uma exposição virtual digital para mostrar releituras de pinturas em


motion design pertencentes a diferentes movimentos artísticos históricos,
resgatando-se o interesse em conhecer mais sobre a História da Arte e estimulando
a criatividade daqueles que tenham contato com este trabalho.

1.3.2 Objetivos específicos

a) Realizar o estudo cronológico sobre os contextos históricos e aspectos


técnicos das pinturas ao longo dos séculos;
b) Selecionar uma pintura que represente cada um dos principais movimentos
artísticos da história, criando sua respectiva releitura animada ou usando
alguma já existente que tenha sido feita;
c) Pesquisar e identificar soluções gráficas para atender aos requisitos do
projeto de uma exposição de arte na internet, incluindo sua identidade visual;
d) Definir um plano educativo para informar sobre o conteúdo e um plano de
marketing para divulgar a exposição virtual digital pela comunidade;
e) Gerar um questionário online disponibilizado ao final das visitas para registrar
e mensurar a efetividade do projeto em atingir o seu propósito.

1.4 Justificativa

A seleção da temática principal do projeto surgiu como um interesse pessoal


do autor, que desde a infância se relaciona com conteúdos e fazeres artísticos,
tendo já se aventurado nos desenhos, nas danças, nas ilustrações digitais e nas
pinturas. Ademais, aprender sobre a História da Arte foi a motivação decisiva na
24

escolha do curso de bacharelado em Design. Portanto, assim como fora o fator


determinante no início da graduação, foi também o mesmo para o término desta.

Dentro do campo do design, o presente trabalho pode se encaixar na


especialidade do Design de Exposição. Este caracteriza-se pelo processo de criação
de um ambiente visual e experimental para exibir alguma coisa em um determinado
espaço, como um museu, galeria, feira comercial ou conferência. Seu propósito é
comunicar efetivamente a mensagem, a história ou o tema da exposição ao
frequentador de maneira envolvente e memorável. De acordo com Binotto (2017, p.
18) "A exposição se apresenta como um grande projeto de pesquisa que tem como
produto final, ela mesma, se conformando em um discurso tridimensional de uma
pesquisa", isto é, trata-se da lógica organizacional da informação.

Cossio e Cattani (2010) salientam ainda que a participação do designer em


todas as etapas da exposição pode contribuir para uma maior aproximação com o
público. Isso pode ser alcançado por meio de uma comunicação acolhedora que
integre uma explanação inteligente com referências culturais específicas, além da
aplicação do design experiencial, sempre objetivando inovar para que consigam se
conectar melhor com as pessoas e tornar a visita mais agradável e enriquecedora.

Mas por que uma exposição online? A resposta para essa pergunta pode ser
feita através da análise de suas vantagens perante aquelas que são presenciais.
Além da óbvia economia de tempo, mão de obra e dinheiro que seriam gastos na
montagem de um espaço físico, é garantido uma maior duração da exposição e mais
visitantes de diversas partes do mundo, sem qualquer limitação geográfica ou social.
Para Muchacho (2005), o museu virtual proporciona uma nova comunicabilidade
entre o museu e o seu público, pois a utilização das TIC (Tecnologias da Informação
e da Comunicação) integra o conceito de interatividade no percurso museológico.

Segundo um artigo da empresa Brasil 3D (2022), o uso da tecnologia digital


também melhora o processo de produção em museu e galeria de arte
convencionais, facilitando bastante a interação entre espectadores e as coleções
porque enriquece a experiência do visitante. Esse impacto positivo trouxe consigo
tecnologias emergentes, como VR (realidade virtual), AR (realidade aumentada),
25

Web3D e até mesmo o Metaverso, que estão sendo amplamente utilizadas para
criar exposições virtuais, tanto em quiosques informativos quanto na internet.

À vista disso, excursões online acopladas à funcionalidade educacional


podem incentivar usuários a acessar mais artefatos via informações de objetos
museais. Essa relevância através de um forte perfil público e índices elevados de
visitação podem ser usados para assegurar financeiramente e obter recursos
adequados para a sobrevivência, sustentabilidade e crescimento para o futuro.

Outro ponto relevante que carece de ser justificado é a determinação do


motion design para as releituras autorais. Embora esta já seja a área de trabalho do
autor, o que tornou essa escolha indispensável foi ter observado uma inclinação
iminente ao conteúdo não estático que o consumo das Artes Visuais vem atestando
ultimamente em nosso cotidiano.

Seja nos streamings de música (figura 1), em pôsteres de cinema, nos


streamings de filmes/séries (figura 2), nas interfaces de aplicativos de celular (figura
3) ou até mesmo nas capas de revistas digitais (figura 4). Com a nossa tecnologia
progredindo em velocidade exponencial, cada vez mais esbarramos em imagens
que possuem ao menos um elemento se movendo em sua composição quando
navega-se em uma rede social ou site.

Figura 1 - O motion design nos streamings de música Apple Music e Youtube

Fonte: Elaborado pelo autor. Versões em vídeo aqui.


26

Figura 2 - O motion design no serviço de streaming Disney+

Fonte: Elaborado pelo autor. Versão em vídeo aqui.

Figura 3 - O motion design nas interfaces do aplicativo iFood

Fonte: Elaborado pelo autor. Versões em vídeo aqui.


27

Figura 4 - O motion design nas capas de revistas digitais

Fonte: Jose Lorenzo Studio2; Entertainment3; Eli Samba4;

Corrêa (2012) aponta que antigamente a maioria dos projetos em design eram
incompatíveis entre si, se analisarmos o suporte utilizado. O que ocorre atualmente
é que as mídias digitais interagem entre si e com as mídias clássicas. O uso de
motion no design é considerado não somente um acréscimo de valor ao produto
final, mas também uma maneira de sincretizar mídias culturais diferentes com intuito
de incrementar o interesse sobre o projeto, aproximando-se do seu público-alvo.

Motion Graphics podem aumentar a experiência sensorial do usuário se eles


estão bem concebidos e são logicamente integrados. Dependendo da
complexidade da interatividade, o Motion pode melhorar o processo
navegacional entretendo os usuários, com ênfase na hierarquia de
informação. [...] Temos a tendência de ser imediatamente presos pelo
Motion Design. Os seres humanos são ligados aos nossos dias de
caçadores e coletores e são cativados por qualquer coisa que se move. Se
um televisor está ligado em um bar, temos que esforçar-nos para evitar
olhar para ele, não importa o quão interessante é a conversa ou o quão
inútil é a animação na tela. (KRASNER, 2008, apud CORRÊA, 2012, p. 16).

Isso pode ser ratificado ao avaliarmos a tendência nos formatos de mídia


digital que as campanhas publicitárias encararam nos últimos anos:

2
Disponível em:
<https://joselorenzo.studio/cover-animated-newyorker>.
Acesso em: 05 abr. 2023.
3
Disponível em:
<https://ew.com/movies/the-little-mermaid-halle-bailey-melissa-mccarthy-cover-story/>.
Acesso em: 05 abr. 2023.
4
Disponível em:
<https://www.behance.net/gallery/82463309/DESIGN-INDABA-Animated-magazine-cover>.
Acesso em: 05 abr. 2023.
28

Nossos cérebros são calibrados de maneiras que ainda não entendemos


completamente, mas reconhecemos as semelhanças e padrões de como os
humanos registram e processam informações. Um comportamento comum
encontrado é a tendência de registrar o movimento com muito mais atenção
e nitidez do que objetos ou personagens estáticos. [...] Simplificando, os
anúncios em movimento nos permitem empacotar mais informações na
mesma quantidade de espaço que uma imagem estática poderia obter. Por
que não pensar economicamente e usar o espaço limitado disponível de
forma mais otimizada? Os anúncios em movimento podem contar histórias
inteiras enquanto usam aproximadamente a mesma quantidade de sua
janela de visualização. (KLYMENKO, 2022).

Em outras palavras, estamos enfrentando uma era de ascensão e uma quase


onipresença do conceito de dinamismo. Hoje em dia, não basta só ter a imagem em
si, é preciso deixar toda a atmosfera que a envolve mais atraente, de modo que
instigue o espectador a prestar atenção e ser fisgado pelo fascínio genuíno.

1.5 Escopo e Delimitação

Sabe-se que a Arte no geral é um ramo extremamente vasto que envolve


inúmeras subcategorias. E mesmo quando segmentamos para as Artes Plásticas,
continua-se ainda com uma variedade muito extensa para ser preparada em um
trabalho deste calibre. Fazer a releitura animada de uma escultura ou arquitetura,
por exemplo, exigiria conhecimentos avançados de 3D que ultrapassam a bagagem
apreendida pelo autor, que pretende dedicar-se a materiais bidimensionais.

Além disso, optou-se por metade da coleção exposta ter sido provida de
terceiros devido a dois pretextos: o tempo hábil destinado à efetuação do projeto,
que não possibilitaria a criação de todas as releituras de forma autônoma; o fato de
algumas obras já terem suas versões em movimento feitas antecipadamente por
outros artistas na internet, contemplando exatamente o estilo pretendido pelo autor.

Por conta disso, este projeto de design limita-se a realizar uma exposição
virtual digital para apresentar releituras de pinturas em videografismo — sendo
autorais e não autorais — vinculadas a movimentos artísticos históricos distintos5 por

5
Para um trabalho deste porte, não seria viável abordar absolutamente todos os infinitos movimentos
artísticos que tivemos ao longo de milhares de anos. Buscou-se, assim, focar nos estilos pictóricos
que mais marcaram e influenciaram outros na história, pois o princípio norteador do projeto é
incentivar o visitante depois a querer procurar mais sobre, e não entregar tudo sobre o assunto.
29

meio de uma plataforma digital online definida no capítulo 3. Seu levantamento,


idealização e processo de desenvolvimento foi efetuado em um único semestre
letivo, fracionado da seguinte maneira:

a) Primeiro bimestre de 2023.1: sustentação na escolha geral do tema;


realização de pesquisas; aquisição das referências bibliográficas básicas; decisão e
implantação das metodologias.

b) Segundo bimestre de 2023.1: implantação da abordagem e do formato


escolhido com a aplicação efetiva dos métodos de pesquisa e desenvolvimento;
concepção das animações, que abrange desde a etapa de rascunhos à finalização
e, paralelamente, o projeto de exposição virtual digital das releituras autorais de
pinturas de diferentes contextos históricos com motion design, englobando seu
período de planejamento até o resultado final contendo a sua concretização.

Visando facilitar a organização tanto do relatório para este projeto quanto no


agrupamento da exposição em questão, a linha do tempo histórica6 se dividirá em:
Pré-História, Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna7 e Idade Contemporânea8.

1.6 Metodologia projetual

Considerando a pluralidade e a simultaneidade do design contemporâneo,


Fontoura (2002) diz que "o mais importante é procurar estabelecer e agrupar de
forma clara e objetiva as principais atividades ou procedimentos desenvolvidos pelo
designer e identificar as principais habilidades a serem exploradas". Este projeto é
visivelmente multidisciplinar, que reúne assuntos sobre a História da Arte com a

6
Nossa sociedade sofre com os efeitos causados pelo eurocentrismo institucionalizado até os dias de
hoje. A escassez de fontes confiáveis asiáticas e mesoamericanas encontradas acarretou a
predominância do ocidente na pesquisa realizada. O autor reconhece a magnitude da pauta
decolonial em voga, porém a complexidade envolvida impossibilitou a inserção da mesma no projeto.
7
É importante frisar que, embora haja disparidade entre a época que a Idade Moderna começa —
que segundo Proença (2007) se deu com a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453 — e o
período que a Arte Moderna se inicia (apenas no final do século XIX), para evitar que aconteça
confusão entre os termos, será considerado somente a primeira catalogação neste projeto.
8
O mesmo vale para todas as obras que vierem depois da Queda da Bastilha na Revolução Francesa
em 1789, que serão rotuladas para a Contemporaneidade, mesmo aquelas pertencentes ao
Movimento Modernista da primeira metade do século XX.
30

releitura em motion design e o design de exposição, por isso buscou-se criar abaixo
uma metodologia própria com base em outras existentes.

Como se trata de um tema deveras recente, não foi encontrada uma


metodologia que fosse específica para exposições exclusivamente virtuais, logo o
processo metodológico adotado para o desenvolvimento deste projeto mescla os
métodos definidos para exposições por David Dean em seu livro Museum Exhibition:
Theory and Practice (adaptado ao ambiente digital) com a Triangulação de Ana Mae
Barbosa, sistematizada no Museu de Arte Contemporânea da USP (87/93).

A matriz de Dean (2002) foi a que mais demonstrou possibilidades para a


execução dos objetivos deste trabalho porque esclarece que a natureza progressiva
do seu modelo de projeto funciona devido ao arranjo sequencial de fases e etapas
que tornam os tipos de atividades e tarefas específicas mais facilmente discerníveis.
Como indica a figura 5, o modelo de projeto pode ser ilustrado como uma série de
eventos ao longo de uma linha de tempo contínua.

Figura 5 - Modelo generalista de um Projeto de Exposição

Fonte: David Dean, 2002 (tradução nossa).

Diferentemente de um projeto de exposição tradicional, onde é praticamente


imprescindível que haja uma equipe para a efetivação do produto e outra orientada
para a gestão do mesmo, esse projeto de exposição virtual e digital torna factível a
execução com êxito de todas as fases do modelo originado por David Dean. O
quadro 1 destrincha o que está na figura 5, revelando o modelo original detalhado.
Em seguida, o quadro 2 exibe o modelo customizado pelo autor com a
Aprendizagem Triangular de Barbosa e os ajustes para se encaixar no ciberespaço.
31

Quadro 1 - Versão esquadrinhada do Modelo padrão de um projeto de exposição física

● Recolhimento de ideias;
FASE
● Criação de um orçamento para a exposição;
CONCEITUAL
● Identificação do potencial da exposição e os recursos disponíveis;

Etapa de Etapa de
planejamento produção

● Definição dos objetivos


da exposição; ● Preparação dos componentes
● Redação do Storyline; presentes na exposição;
● Concepção da estrutura; ● Instalação dos objetos museais
FASE DE ● Delineação do plano da escolhidos na curadoria;
DESENVOLVIMENTO exposição, do plano ● Desenvolvimento e ação do
educativo e do plano programa educativo e do
promocional; programa de promoção
● Curadoria do conteúdo a previamente planejados;
ser exposto; ● Supervisão da disponibilidade
● Estimação de custos; e da utilização dos recursos;
● Recolhimento de fundos ● Coordenação das atividades e
e/ou apoios necessários; monitoramento do progresso;
● Designação de tarefas;

Etapa Etapa de
operacional finalização

● Preservação das coleções


expostas para o público;
● Realização de visitas
guiadas com visitantes; ● Balanceamento de contas;
FASE ● Mantimento da ● Desmontagem da exposição;
FUNCIONAL organização da exposição; ● Devolução dos objetos museais
● Garantia da segurança aos seus locais de origem;
dos elementos que ● Limpeza e reparação do espaço
compõem a exposição; físico da exposição;
● Atingimento de todos os ● Recolhimento da documentação;
objetivos traçados;
● Administração das
pessoas e serviços;

● Avaliação da exposição e do desenvolvimento do processo;


FASE
● Criação de um relatório avaliativo;
AVALIATIVA
● Sugestões de melhorias para o produto e para a gestão;

Fonte: Elaborado pelo autor, cujo conteúdo foi traduzido a partir de David Dean, 2002.

Pode-se observar abaixo que apenas foi retirada a etapa de finalização neste
ajustamento do quadro 2, pois como refere-se a uma exposição virtual digital de
longa duração, não há uma data certa definida para o encerramento da mesma.
32

Quadro 2 - Versão reformulada do Modelo para este projeto de exposição virtual digital

● Síntese do conceito expositivo;


FASE
● Elaboração do quadro de requisitos do projeto;
CONCEITUAL
● Definição da plataforma digital que melhor atende às exigências;

Etapa de Etapa de
planejamento produção

● Curadoria do conteúdo ● Preparação dos componentes


da exposição; da exposição sob o sistema de
● Infográfico do storyline; Aprendizagem Triangular;
FASE DE ● Concepção da estrutura ● Supervisão da disposição e do
DESENVOLVIMENTO da exposição com a uso de recursos;
cenografia e a ● Acompanhamento do progresso
ambientação; e coordenação das atividades;
● Determinação de um ● Implementação do plano de
plano educativo; educação;
● Busca por estratégias ● Geração do plano de marketing
promocionais; da exposição;

Etapa operacional
FASE
FUNCIONAL ● Inauguração da exposição virtual digital;
● Realização de visita guiada;

FASE ● Criação de um questionário online de avaliação;


AVALIATIVA ● Sugestões de melhorias para o produto e para o processo;

Fonte: Elaborado pelo autor.

Nota-se que a etapa de produção inserida na fase de desenvolvimento


contém o cerne para o cumprimento das releituras: a Triangulação Pós-Colonialista
do Ensino da Arte no Brasil. Essa sistematização (figura 6) baseia-se em três pilares:
contextualização histórica; apreciação artística; e fazer artístico.

Com isso, temos: a contextualização histórica, que consiste em relacionar a


obra com a História da Arte e outras áreas de conhecimento; a experimentação,
que corresponde ao fazer artístico e estimulação da criação, não como uma cópia,
mas sim trabalhando a releitura da obra que foi reinterpretada, transformando-a em
algo inédito; a fruição/decodificação, que se resume na análise da obra,
estimulando a capacidade de pensar sobre tudo acerca da Arte.
33

Figura 6 - Esquema de funcionamento da Abordagem Triangular

Fonte: Adaptado a partir de Reis, 2018.

Apesar da própria criadora não considerar tal prática como sendo uma
metodologia9 (inicialmente apelidada por outros professores), Ana Mae instituiu esse
tipo de abordagem como algo que pudesse ser construído coletivamente, estando
sempre flexível e podendo ser feito de várias maneiras. Essa característica versátil
foi o que permitiu o veredito de sua adesão, pois a sua estrutura constrói o
conhecimento nas artes através da interligação dos três eixos em questão.

9
"Hoje recuso a ideia de metodologia por ser particularizadora, prescritiva e pedagogizante,
mas subscrevo a designação triangular" afirma Barbosa em uma entrevista feita em 1995 à revista
"Comunicação & Educação" do Departamento de Comunicações e Artes - ECA/USP.
34

A arte diz o indizível;


exprime o inexprimível,
traduz o intraduzível.

Leonardo da Vinci
35

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo que antecede a aplicação da metodologia propriamente dita irá


servir para nortear as decisões na curadoria e no planejamento educativo, ambos
presentes na fase de desenvolvimento.

2.1 A História da Arte nas pinturas

Primeiramente, no que consiste a pintura? As opiniões conceituais mais


antigas das quais se tem sobre essa pauta se construíram pelo viés de uma crítica
de Sócrates a Homero na República: "A pintura cria ilusões do real, algo que mesmo
a poesia, se tiver o direcionamento errado pode o fazer, quando por exemplo, criar
uma falsa imagem dos deuses" (PLATÃO, 1993, apud DIAS, 2020, p. 6).

Em sua famosa proposta de definição de 1890, o pintor, escritor e teórico


pioneiro Maurice Denis declarou: “Um quadro, antes de ser um cavalo de batalha,
uma mulher nua ou qualquer curiosidade, é essencialmente uma superfície plana
recoberta de cores em uma certa ordem.” Tal visão pragmática contrasta com a ideia
que Justino (2009) defende no livro "Por que pintura?" ao proferir que a técnica não
é neutra, mas que para atingir a pintura é preciso alcançar uma poética e que esteja
contaminada de espiritualidade, ou seja, a forma precisa ser habitada por uma alma.

A verdade é que procurar por unanimidade na significação de qualquer tópico


artístico é um desafio exaustivo e praticamente impossível. O que nos resta é não
deixar de ponderar os pontos de vista distintos que sempre existiram e jamais tornar
esquecido o que foi dito e feito ao longo da nossa História.

Toda a pesquisa histórica realizada nesta seção será reciclada e resumida


nos textos que introduzirão cada uma das cinco seções que compõem a linha do
tempo da exposição virtual digital.
36

2.1.1 Pré-História

Conhecida também como a Era Ágrafa, foi a idade que antecedeu o advento
da escritura. Ainda que não tenha-se registrado nenhum documento grafado, o
homem pré-histórico eternizou a sua progressão através dos seus instrumentos,
armas, fósseis, utensílios, gravuras, pinturas e fragmentos de joalheria e
ornamentação. Basicamente, tudo o que sabemos da raça humana que viveu nesse
tempo é fruto do estudo dos antropólogos, historiadores e arqueólogos, que
reconstituíram as evoluções dessa época.

A produção artística do homem das cavernas, pelo menos a que foi


descoberta e conservada, é majoritariamente representada por objetos portadores
de uma utilidade, seja ela doméstica ou religiosa. Durante esse tempo, a arte
desempenhou um papel importante na expressão e comunicação humana. As
pinturas rupestres fornecem informações valiosas sobre a vida e as crenças de
nossos ancestrais, além de um vislumbre fascinante da criatividade primitiva.

Imbroisi e Martins (2023) apontam que, em vista da duração da Pré-História


ter sido bastante longa, os historiadores a dividiram então em períodos: Paleolítico
Inferior (500 mil a.C.), Paleolítico Superior (30 mil a.C.), Neolítico (10 mil a.C.) e a
Idade dos Metais (6 mil a 4 mil a.C.), baseado nas culturas encontradas na Europa,
pois lembramos que no Oriente, desde o ano 5.000 a.C., existiam povoados com
alto grau de civilização, que já tinham iniciado sua história.

É no Paleolítico que possuímos as primeiras manifestações artísticas


registradas, como as pinturas na caverna de Lascaux, na França (figura 7). As
expressões pioneiras da arte eram muito simples, apresentando traços feitos nas
paredes de abrigos rochosos ou nas mãos em negativo (figura 8). Segundo Proença
(2007), para fazer isso o artista "obtinha um pó colorido a partir da trituração de
rochas. Depois, por um canudo, soprava esse pó sobre a mão encostada na parede
da caverna: a área em volta da mão ficava colorida; a parte coberta, não." Assim,
tem-se a silhueta da mão como o negativo de uma fotografia.
37

Figura 7 - Caverna de Lascaux (Dordogne), França

Fonte: UOL Notícias10.

Figura 8 - Mãos em negativo na Caverna de Lascaux

Fonte: site oficial do Museu Nacional de Arqueologia de Portugal11.

10
Disponível em:
<https://www.uol/noticias/especiais/lascaux.htm#artistas-da-caverna>.
Acesso em: 17 de abril de 2023.
11
Disponível em:
<https://www.mnarqueologia-ipmuseus.pt/caverna-de-lascaux-grutas-de-lascaux>.
Acesso em: 17 abr. 2023.
38

A principal característica dos desenhos e pinturas do Paleolítico é o


naturalismo, pois era quando mostravam os seres do modo como os via de
determinada perspectiva, reproduzindo a natureza tal qual sua visão captava.

De acordo com Janson (2009):

Aparentemente, para os homens do Paleolítico não havia uma distinção


muito nítida entre imagem e realidade; ao retratarem algum animal,
pretendiam fazer com que ele fosse também trazido ao seu alcance, e ao
"matarem" a imagem julgavam ter matado o espírito vital do animal.
Consequentemente, cada imagem só servia para uma vez — após a
realização do ritual de morte, ela estava "morta" e podia ser desprezada.

Em pinturas como a da figura 9, acredita-se que o ser humano das cavernas


usava ossos carbonizados, óxidos minerais, vegetais, sangue de animais e carvão.
Os elementos sólidos eram esmagados e dissolvidos na gordura dos animais
caçados, utilizando inicialmente o dedo como pincel, porém há indícios também do
emprego de pincéis confeccionados com penas e pelos (PROENÇA, 2007).

Figura 9 - Pintura rupestre de um bisonte nas grutas de Altamira, Espanha

Fonte: Proença, 2007.


39

O período Neolítico ou a Idade da Pedra Polida marcou várias mudanças na


Pré-História, sendo palco de uma verdadeira revolução com o início da agricultura e
da domesticação de animais, que permitiu a substituição da vida nômade para algo
mais estável. Conforme diz Proença (2007), "esse fato transformou profundamente a
história humana, [...] houve um rápido aumento populacional e o desenvolvimento
dos primeiros núcleos familiares, além da divisão do trabalho nas comunidades."

Certamente, a arte do Neolítico refletiu todas as novas técnicas como a


tecelagem, cerâmica e a construção das primeiras moradias. A partir daí, o poder de
observação e os aguçados sentidos do caçador-coletor do Paleolítico deram lugar
para a atividade reflexiva e mental do camponês do Neolítico.

Como consequência, o estilo naturalista foi substituído por um estilo mais


simples e geométrico, com sinais e figuras que mais sugerem do que
reproduzem os seres (figura 10). [...] em vez de uma representação que
busca imitar a natureza, temos figuras com poucos traços e poucas cores.
As formas são apenas sugeridas. Não foram, porém, apenas as
características das formas representadas que sofreram mudanças. Os
temas também mudaram: o ser humano passou a ser representado em suas
atividades cotidianas e coletivas. Daí surgiu um novo desafio para o artista:
sugerir movimento por meio da imagem fixa. (PROENÇA, 2007).

Figura 10 - Pintura rupestre nas cavernas de Tassili n'Ajjer, Argélia

Fonte: Proença, 200712.

12
Retirada da galeria pessoal de Patrick Gruban. Disponível em:
<https://www.flickr.com/photos/gruban/137421445/in/album-72057594120816822/>.
Acesso em: 18 abr. 2023.
40

Cada vez mais são descobertos novos sítios arqueológicos, nome dado às
localidades onde se residem vestígios da ocupação de nossos ancestrais
pré-históricos. Afora do já citado na França, esses sítios estão presentes em países
de todos continentes, sobretudo em: regiões do Brasil (Lapa de Cerca Grande - MG,
Parque Nacional da Serra da Capivara - PI, Serra da Lua - PA, Ilha dos Martírios -
TO); Egito (Caverna dos Nadadores); Espanha (Caverna de Altamira); Austrália
(Parque Nacional Kakadu); Bulgária (Caverna Magura); Argentina (Caverna das
Mãos); Índia (Abrigos de pedra em Bhimbetka) e Indonésia (Caverna Pettakere).

2.1.2 Antiguidade

A invenção da escrita por volta de 4000 a.C. trouxe consigo uma nova era na
humanidade: a Idade Antiga. Esta, por sua vez, foi a responsável por colocar a
pintura em outro patamar, não se limitando mais aos rochedos. À medida que as
civilizações se desenvolveram à volta do globo, o material pitoresco firmou-se como
um meio de expressar cultura, registro histórico e vida cotidiana.

Cada civilização continha suas próprias tradições artísticas: etruscos,


mesopotâmicos, paleocristãos, persas, egeus, celtas, fenícios, entre outros.
Segundo Gombrich (2008), a Mesopotâmia — Suméria, Acádia e Babilônia —
produziu principalmente esculturas em relevo, enquanto Proença (2007) comenta
que quem se estabeleceu ao redor do mar Egeu — Cíclades, Creta e Micenas —
ficaram mais conhecidos por sua cerâmica e afrescos nas paredes de edifícios.

Apesar das diferenças de estilo e assunto, as pinturas antigas compartilham


uma linha comum de exprimir a criatividade e engenhosidade de nossos ancestrais.
No entanto, depois de ler as referências para este tópico, notou-se que houve três
nações que se destacaram no campo da pintura na Antiguidade, que inspiraram boa
parte dos povos acima citados: os egípcios, gregos e romanos.

Começando pelo Egito Antigo, Gombrich (2008) afirma que a pintura era
demasiadamente estilizada e simbólica, com destaque na representação de figuras
humanas e divinas em poses rígidas e hieráticas. As pinturas eram frequentemente
41

encontradas em túmulos e templos (figura 11), onde serviam como uma forma de
comunicação com os deuses e para ajudar o falecido em sua jornada para a vida
após a morte. As cores utilizadas eram brilhantes e vibrantes, mas não
necessariamente realistas. O método egípcio enfatizava a precisão geométrica e o
uso de linhas para delinear as formas.

De acordo com Beckett (1997), o corpo humano por inteiro organizava-se


dentro da denominada "Regra de Proporção", um quadriculado com dezoito
unidades de igual tamanho que garantia a repetição acurada da forma ideal egípcia
em quaisquer escalas e posições. A figura 11 também evidencia que tudo tinha que
ser disposto sob um ângulo intrínseco, seguindo a chamada "Lei da Frontalidade".
Nela, as imagens eram representadas com os olhos, cabeça e pernas voltados para
frente, independentemente da posição do corpo.

Figura 11 - Pinturas egípcias na tumba do Rei Tutancâmon (1341 a.C. - 1323 a.C.), Egito

Fonte: Smithsonian Magazine13.

13
Disponível em:
<https://www.smithsonianmag.com/history/how-howard-carter-discovered-king-tuts-golden-tomb-1809
81052/>. Acesso em: 20 abr. 2023.
42

Essa técnica foi usada para enfatizar a importância das efígies retratadas e
para torná-las mais facilmente reconhecíveis, ajudando a criar uma sensação de
estabilidade e permanência nas pinturas egípcias, que muitas vezes eram
destinadas a durar por toda a eternidade.

A cabeça era mais facilmente vista de perfil, de modo que eles a


desenharam lateralmente. Mas, se pensamos no olho humano, é como se
fosse visto de frente que usualmente o consideramos. Portanto, um olho de
frente era plantado na vista lateral da face. A metade superior do corpo, os
ombros e o tronco, são melhor vistos de frente, pois desse modo vemos
como os braços estão ligados ao corpo. Mas braços e pernas em
movimento vêem-se muito mais claramente de lado. Essa é a razão pela
qual os egípcios, nessas imagens, nos parecem tão estranhamente planos e
contorcidos. [...] Não se deve supor que os artistas egípcios pensavam que
os seres humanos tinham essa aparência. Seguiam meramente uma regra
que lhes permitia incluir tudo o que consideravam importante na forma
humana. Talvez essa rigorosa adesão à regra tivesse algo a ver com a
finalidade mágica da representação pictórica. Pois como poderia um homem
com seu braço "posto em perspectiva" ou "cortado" levar ou receber as
oferendas requeridas ao morto? (GOMBRICH, 2008, p. 61).

Os pintores egípcios não se propuseram a bosquejar a natureza tal como lhes


apresentava-se sob qualquer aspecto fortuito. O que mais importava não era a
boniteza, mas sim a inteireza. A tarefa do artista consistia em preservar tudo o mais
claro e permanentemente possível, sem dar a impressão de casual ou fortuito.
Posteriormente, a pintura egípcia acabou influenciando a arte grega, em especial no
que diz respeito à precisão geométrica e firmeza.

Passando para a Grécia antiga (pertencente ao Classicismo adjunto de Roma


e Etrúria), temos a pintura aparecendo geralmente como elemento de decoração da
arquitetura. Vastos painéis pintados recobriam as paredes das construções e, muitas
vezes, as métopas dos templos apresentavam pinturas no lugar de esculturas. A
arte grega valorizava a beleza e a harmonia das formas, retratando-as como algo
altamente requintado e idealizado, com ênfase na perfeição física na busca por
representar o ideal humano.

A pintura grega arcaica também se sobressaiu no adornamento das


cerâmicas, que era muito valorizada e produzida em grande quantidade. Conforme
enuncia Proença (2007), os vasos eram enfeitados com ilustrações humanas e
animais, mostrando cenas mitológicas e do cotidiano. Suas utilidades variavam,
podendo servir como prêmios em competições atléticas, utensílios para rituais
religiosos ou para armazenamento de água, vinho, azeite e mantimentos.
43

A técnica usada era a figura negra ou figura vermelha, que resumia-se em


desenhar com um traço preto sobre o fundo vermelho ou vice-versa. "Inicialmente o
artista pintava, em negro, a silhueta das figuras. A seguir, gravava o contorno e as
marcas interiores dos corpos com um instrumento pontiagudo, que retirava a tinta
preta, deixando linhas nítidas" (PROENÇA, 2007). Esse trabalho pode ser
testemunhado no Vaso François, pintado por Clítias (figura 12).

Figura 12 - "Vaso François", Clítias, 550 a.C., Grécia

Fonte: Aula de Historia14.

14
Disponível em: <https://auladehistoria.org/vaso-francois-comentario-y-analisis/>.
Acesso em: 20 abr. 2023.
44

Chegando em Roma, a maior parte de suas pinturas provém das cidades de


Pompéia e Herculano, que foram soterradas pela erupção do Vesúvio em 79 a.C.
Imbroisi e Martins (2023) afirmam que os estudiosos de Pompéia (figura 13)
classificam a decoração das paredes internas dos edifícios em quatro estilos:

a) Primeiro estilo: recobre as paredes de uma sala com uma camada de gesso
pintado, dando a impressão de placas de mármore;
b) Segundo estilo: pinta painéis que criavam a ilusão de janelas abertas por
onde eram vistas paisagens com animais, aves e pessoas;
c) Terceiro estilo: revela fielmente a realidade, valorizando a delicadeza dos
pequenos detalhes;
d) Quarto estilo (figura 13): apresenta um painel de fundo vermelho, ao centro
uma pintura imitando um cenário teatral, geralmente cópia de obra grega.

Figura 13 - Afrescos na parede de uma casa na Vila dos Mistérios, século I a.C., Pompéia

Fonte: Il Gazzettino Vesuviano15.

15
Disponível em:
<https://www.ilgazzettinovesuviano.com/2021/07/16/pompei-scavi-dal-19-luglio-riapre-la-villa-dei-miste
ri/>. Acesso em: 21 abr. 2023.
45

2.1.3 Idade Média

O período medieval foi instaurado quando Roma, capital do Império Romano


Ocidental, sofreu sucessivas tentativas de conquistas bárbaras até cair
completamente em poder dos invasores no ano de 476 d.C. Essa época histórica
marcou muitas mudanças religiosas e culturais significativas no mundo, dentre elas
podemos destacar aquelas inseridas na Arte Bizantina, Românica e Gótica.

No Império Bizantino, houve uma nova forma de expressão artística na


pintura: o costume de criar ícones. Os ícones são quadros que representam figuras
sagradas como Cristo, a Virgem, os apóstolos, santos e mártires. São bastante
luxuosos em geral, em conformidade ao gosto oriental pela ornamentação suntuosa.
Para Janson (2009), tais imagens sagradas (figura 14) devem ser vistas como uma
descendência estética dos mosaicos, mais do que como descendentes da tradição
da pintura clássica em painéis, da qual se originam. Ao pintá-los, usava-se as
técnicas da têmpera16 ou da encáustica17, que de acordo com Proença (2007):

Os artistas recorriam a alguns recursos para realçar os efeitos de luxo e


riqueza. Comumente, revestiam a superfície da madeira ou da placa de
metal com uma camada dourada, sobre a qual pintavam a imagem. Para
fazer as dobras das vestimentas, as rendas e os bordados, retiravam com
um estilete a película de tinta da pintura. Assim, essas áreas adquiriam a
cor de ouro do fundo. Às vezes, colavam na pintura jóias e pedras
preciosas, e chegavam mesmo a confeccionar coroas de ouro para as
figuras de Cristo ou de Maria. Essas jóias, aliadas ao dourado dos detalhes
das roupas, conferiam aos ícones um aspecto de grande suntuosidade.

A famigerada controvérsia de como os bebês medievais eram representados


é desvendada pelo editor da antologia The Early Modern Child in Art and History:

Naquela época, a Igreja encomendou a maioria dos retratos de bebês e


crianças. Eles não queriam qualquer bebê com cara de velho, eles queriam
o bebê Jesus (ou outras crianças bíblicas). Os artistas medievais
subscreveram o conceito de homúnculo, que literalmente significa “homem
pequeno”, ou a crença de que Jesus nasceu “perfeitamente formado e
inalterado". [...] Os artistas na época tinham uma falta de interesse pelo
naturalismo, e eles se voltaram mais para as convenções expressionistas.
(AVERETT, 2015, apud VARELLA, 2019).

16
"Consiste em misturar os pigmentos a uma goma orgânica (gema de ovo), para facilitar a fixação
das cores à superfície do objeto pintado. O resultado é uma pintura brilhante e luminosa. A partir do
surgimento da pintura a óleo, os artistas abandonaram a técnica da têmpera" (PROENÇA, 2007).
17
"O processo consiste em diluir os pigmentos em cera derretida e aquecida no momento da
aplicação. Ao contrário da têmpera, cujo efeito é brilhante, a pintura em encáustico é semi fosca"
(PROENÇA, 2007).
46

Figura 14 - "Madona Entronizada", final do século XIII, Constantinopla

Fonte: Janson, 2009.


47

Quando fala-se sobre a Arte Românica, é imprescindível mencionar o


principal fomentador de sua alvorada: o imperador Carlos Magno. Segundo Proença
(2007), a arte no Império Carolíngio ostentou um intenso avanço cultural. Isso pode
ser explicado pela união ocorrida entre o poder real e o papal, tornando Magno uma
espécie de protetor da Cristandade no Ocidente. Ele foi um legítimo patrono das
artes, pois "queria que os artistas a seu serviço expressassem não somente a
mensagem cristã, mas também o esplendor e importância do império que criara"
(BECKETT, 1997, p. 29), sem deixar de fora o seu interesse pela preservação dos
clássicos, que "fazia parte de uma ambiciosa tentativa de restaurar a antiga
civilização romana juntamente com o título imperial" (JANSON, 2009, p. 107).

Gombrich (2008) complementa que nessa era vemos o surgimento de um


novo estilo que possibilitou fazer algo que nem a antiga arte oriental nem a clássica
haviam tentado: "os egípcios tinham desenhado preponderantemente o que sabiam
existir, os gregos o que viam; na Idade Média, o artista aprendeu a expressar
também na sua obra o que sentia."

Não se pode fazer justiça a qualquer obra de arte medieval sem ter em
mente esse propósito. Pois esses artistas não se propunham criar uma
semelhança convincente com a natureza ou fazer belas coisas: eles
queriam transmitir a seus irmãos de fé o conteúdo e a mensagem da história
sagrada. (GOMBRICH, 2008, p. 165).

Figura 15 - Uma parte da obra "La Viga de la Pasión", primeiro terço do século XIII, Espanha

Fonte: Cultura Genial18.

18
Disponível em: <https://www.culturagenial.com/arte-romanica/>.
Acesso em: 22 abr. 2023.
48

É notório que, com exceção dos afrescos (figura 15), na Arte Românica — e
posteriormente na Gótica — a iluminura foi sem dúvidas a mais hegemônica. A
ilustração colorida de manuscritos (figura 16) era feita principalmente para ensinar
passagens da bíblia aos fiéis que não sabiam ler. Esse tipo de pintura em miniatura
portátil avassalou os evangelhos, missais e códices por todo o continente europeu,
estando presente em pergaminhos espanhóis, ingleses, franceses, célticos, etc.

Esses manuscritos eram feitos em várias etapas e dependiam do trabalho


de várias pessoas. Primeiro, era necessário curtir de modo especial a pele
de cordeiros ou vitelas. Essa pele curtida chamava-se velino e era usada no
lugar do papel dos livros atuais. Nas oficinas dos mosteiros ou nos ateliês
[...], os trabalhadores cortavam as folhas de velino no tamanho em que seria
o livro. A seguir, os copistas dedicavam-se à transcrição de textos sobre as
páginas já cortadas. Ao realizar essa tarefa, deixavam espaços para que os
artistas fizessem as ilustrações, os cabeçalhos, os títulos ou as letras
maiúsculas com que se iniciava um texto. (PROENÇA, 2007).

Figura 16 - "Fuga para o Egito", Saltério de Ingeborg, 1195

Fonte: National Geographic19.

19
Disponível em:
<https://www.nationalgeographic.co.uk/history-and-civilisation/2021/12/biblical-stories-of-jesus-birth-re
veal-intriguing-clues-about-his-times>. Acesso em: 23 abr. 2023.
49

A estética Gótica emergiu na França setentrional dando ênfase na arquitetura


das igrejas com seus arcos pontiagudos e janelas altas de vitrais (figura 17), o que
acabou inspirando diretamente a pintura no emprego de linhas verticais e horizontais
para criar uma sensação de altura e espaço. Seus temas mais comuns mantinham
as cenas bíblicas, como a vida de Cristo e dos santos, mas também incluíam
retratos de burgueses no cotidiano e paisagens da natureza.

Figura 17 - Vitral da Catedral de Notre-Dame (1163-1345), Paris

Fonte: A Arte dos Vitrais20.

Segundo Janson (2009), a pintura gótica era qualificada por figuras mais
realistas, com maior profundidade e sombras para criar uma sensação de volume.
Ao contrário do que se via na Românica, as cores eram mais suaves e delicadas
com uma maior variedade de tons.

Há um consenso de que Giotto di Bondone (figura 18) foi o pintor florentino


determinante para o ápice do Gótico, pois ele passava uma visão mais humanista
em seus murais e retábulos. Com a chegada da nova classe composta pelo povo
que adquiriu fortuna com o comércio, a burguesia, "o ser humano sentia-se forte,
capaz de grandes conquistas, e já não se identificava mais com as figuras dos
santos [...] tão espiritualizadas e de postura estática e rígida" (PROENÇA, 2007).

20
Disponível em: <https://aartedosvitrais.com/pt/instituicoes/>. Acesso em: 24 abr. 2023.
50

Figura 18 - "O beijo de Judas", Giotto, 1305-1306

Fonte: Beckett, 1997.

Indo para o norte, já no Gótico Tardio21, teve-se as inovações técnicas por


parte dos flamengos, maiormente pelos irmãos Van Eyck, que aprimoram a tinta a
óleo ao inventarem um verniz estável que secava uniformemente, conseguindo
através de óleos de linhaça e de amêndoa misturados com resinas (BECKETT,
1997, p. 64). A figura 19 mostra o retrato mais famoso de Jan Van Eyck, cuja
composição revolucionária está repleta de opulentas texturas meticulosamente
detalhadas, efeitos atmosféricos e panorama com o espelho.
21
Alguns livros chegam até a considerá-los como Pré Renascimento, vide o quão transformador foi o
seu aprimoramento na pintura a óleo e no detalhamento do conjunto das obras.
51

Figura 19 - "O casal Arnolfini", Jan Van Eyck, óleo sobre tela, 1434

Fonte: Gombrich, 2008.


52

2.1.4 Idade Moderna

"Nas artes e nas ciências, assim como na sociedade e na política, a Itália foi o
principal catalisador do progresso durante a Renascença — o rico período de
desenvolvimento que marcou a Europa no fim da Idade Média" (BECKETT, 1997).
Trata-se do ponto crucial para que a época moderna inaugurasse e, como tal,
estabelecesse os alicerces das civilizações ocidentais e de seus valores.

O Renascimento trouxe o estopim da pintura como conhecemos hoje. Isso


porque, além de ser responsável por popularizar a tela enquadrada, também teve
nomes talentosíssimos em seu repertório, dentre eles podemos aludir: Piero Della
Francesca, Fra Angelico, Sandro Botticelli, Andrea Mantegna, Leonardo da Vinci
(figura 20), Michelangelo, Antonello da Messina, Masaccio, Pietro Perugino, Rafael
Sanzio (figura 21), os Bellini, Giorgione, Ticiano Vecellio, Paolo Uccello, Lucas
Signorelli, os dois Lippi, Ghirlandaio, Vittore Carpaccio e Cosmè Tura.

Apesar dos temas pintados terem variado amplamente com retratos, cenas
religiosas, mitológicas e históricas, de acordo com Imbroisi e Martins (2023), as
principais características da pintura renascentista foram:

a) Perspectiva: os diversos intervalos e proporções que os objetos vistos à


distância têm entre si, segundo os princípios da matemática e da geometria;
b) Claro-escuro: pintar algumas áreas iluminadas e outras na sombra, com jogo
de contrastes e reforçando a sugestão de volume dos corpos;
c) Realismo: resgata-se os primórdios greco-romanos com a precisão, onde o
homem não é visto como um simples observador do mundo que expressa a
grandeza de Deus, mas como a expressão mais grandiosa do próprio Deus.
As anatomias humana e animal são pensadas como uma realidade a ser
compreendida e estudada cientificamente, e não apenas admirada;
d) As pinturas, que antes apareciam quase que exclusivamente como detalhes
de obras arquitetônicas, tornam-se manifestações independentes;
e) Eclosão de artistas com um estilo pessoal e diferente dos demais, marcados
pelo ideal de liberdade e pelo individualismo.
53

Figura 20 - "A Última Ceia", Leonardo Da Vinci, afresco no refeitório do mosteiro de Santa Maria delle
Grazie, Milão, 1495-1497

Fonte: Gombrich, 2008.

Figura 21 - "A Escola de Atenas", Rafael, afresco no Palácio Vaticano, Roma, 1510-1511

Fonte: Janson, 2009.


54

O Maneirismo foi um movimento artístico que surgiu na Europa durante do


século XVI, sendo considerado como uma consequência — exageradamente
estilizada e caprichosamente detalhada — de um Renascimento com linhas rígidas
dos cânones clássicos que entravam em decadência. Os artistas se viam obrigados
a entrar na busca de elementos que lhes permitam renovar e prestar todas as
habilidades e técnicas renascentistas adquiridas (IMBROISI e MARTINS, 2023).

Figura 22 - "A Virgem e o Menino com s. Martina e s. Agnes", El Greco, óleo sobre tela, 1597-1599

Fonte: Beckett, 1997.

É na pintura que o espírito maneirista se manifesta em primeiro lugar. São os


pintores que criam esse novo estilo procurando deformar uma realidade que já não
os satisfaz e tentando revalorizar a arte pela própria arte. Para Imbroisi e Martins
(2023), os aspectos fundamentais da pintura maneirista são:
55

a) Organização de uma multidão de pessoas se comprimindo em espaços


arquitetônicos reduzidos, resultando na formação de planos paralelos,
completamente irreais, e um clima de tensão permanente;
b) Nos corpos, as formas esguias e alongadas abrangem músculos que fazem
contorções totalmente impróprias para os seres humanos (figura 22);
c) Rostos melancólicos e misteriosos surgem entre as vestes, de um drapeado
minucioso e cores brilhantes;
d) A luz se detém sobre objetos e figuras, produzindo sombras implausíveis;
e) Os verdadeiros protagonistas do quadro não se posicionam no centro da
perspectiva, mas em algum outro ponto, onde o olho atento deve achá-lo;
f) Valorização das interpretações pessoais, pelo dinamismo e complexidade de
suas formas, a fim de se conseguir maior emoção, elegância, poder e tensão.

Quando chega-se no Barroco22 é que o uso dramático de luz e sombra atinge


o seu pico, rompendo o equilíbrio entre o sentimento e a razão ou entre a arte e a
ciência, que os artistas renascentistas realizaram de forma muito consciente. É uma
resposta da Igreja Católica aos conflitos espirituais e religiosos, dado o contexto da
Reforma Protestante e o Concílio ecumênico de Trento.

Conforme Imbroisi e Martins (2023) falam: "O estilo barroco traduz a tentativa
angustiante de conciliar forças antagônicas: Bem e Mal, Deus e Diabo, Céu e Terra,
Pureza e Pecado, Alegria e Tristeza, Paganismo e Cristianismo, Espírito e Matéria".

Entende-se por estilo barroco uma orientação artística que surgiu em Roma
na virada para o século XVII, constituindo até certo ponto uma reação ao
artificialismo maneirista do século anterior. O novo estilo estava
comprometido com a emoção genuína e, ao mesmo tempo, com a
ornamentação vivaz. O drama humano [...] era em geral encenado com
gestos teatrais muitíssimo expressivos, sendo iluminado por um
extraordinário claro-escuro. (BECKETT, 1997, p.173).

Proença (2007) informa que nesta arte a disposição23 assimétrica dos


elementos estava quase sempre em diagonal, voltando-se a retratar religiosidade,
vida da nobreza e do povo simples. Seus pintores incluem Caravaggio (figura 23),
Tintoretto, Rembrandt, Peter Paul Rubens, Johannes Vermeer e Diego Velázquez.
22
Este estilo chegou ao Brasil mais focado na arquitetura de igrejas, câmaras municipais, moradias,
chafarizes e aquedutos (Arcos da Lapa no Rio de Janeiro).
23
No Barroco utilizava-se a decoração de pinturas em trompe l’oeil, que em francês significa
literalmente "enganar o olho", baseando-se em truques de perspectiva ao criar uma ilusão ótica que
faz com que formas de duas dimensões aparentam possuir três dimensões.
56

Figura 23 - "A Ceia em Emaús", Caravaggio, óleo sobre tela, 1597-1599

Fonte: BBC24.

Em contrapartida, o estilo do Rococó parisiense veio logo após com uma


proposta mais hedonista, refletindo a delicadeza e a frivolidade da vida aristocrata:

A Arte Rococó refletia, portanto, os valores de uma sociedade fútil que


buscava nas obras de arte algo que lhe desse prazer e a levasse a
esquecer de seus problemas reais. Os temas utilizados eram cenas eróticas
ou galantes da vida cortesã e da mitologia, pastorais, alusões ao teatro da
época, motivos religiosos e farta estilização naturalista do mundo vegetal
em ornatos nas molduras. (IMBROISI e MARTINS, 2023).

Suas composições (figura 24) foram reservadas para decorar interiores


luxuosos, por isso são exuberantes e rítmicas, comumente ambientadas em parques
e jardins. São constituídas por elementos marinhos com cores suaves e pastéis
baseadas nos brancos, azuis, rosas e nacarados do mar, trazendo leveza e
graciosidade nos gestos, movimentos e sentidos cênicos.

24
Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/vert-cul-57818620>. Acesso em: 24 abr. 2023.
57

Figura 24 - "A Rainha Maria Antonieta", Élisabeth Vigée Le Brun, óleo sobre tela, 1783

Fonte: Uol - Nossa Moda25.

25
Disponível em:
<https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2021/01/17/o-colar-de-diamantes-de-maria-antonieta-
que-custou-a-sua-reputacao-e-vida.htm>. Acesso em: 25 abr. 2023.
58

2.1.5 Idade Contemporânea

"Liberdade, igualdade e fraternidade". São essas três palavras que


abreviaram o início contemporâneo da humanidade no final do século XVIII.
Marcado pela globalização, é o período em que finalmente aclama-se mais a Arte
fora do âmbito europeu e rompe as barreiras geográficas com novas culturas sendo
abraçadas e devidamente reconhecidas por todos.

A começar pelo Neoclassicismo — nascido ainda no final da Idade Moderna


— onde os artistas almejavam expressar ideias morais sérias como conceitos de
justiça, honra e patriotismo (BECKETT, 1997). A figura humana retorna a ser
retratada de maneira idealizada, com proporções perfeitas e expressões serenas.
Segundo Proença (2007), as obras neoclássicas apresentaram uma estética mais
austera, com cores sóbrias e formas geométricas claras, sendo inspirada
essencialmente na escultura clássica grega e na pintura renascentista italiana. O
maior representante da pintura neoclássica foi Jacques-Louis David (figura 25), que
registrou momentos históricos ligados à vida do imperador Napoleão Bonaparte.

Figura 25 - "A Intervenção das Sabinas", Jacques-Louis David, óleo sobre tela, 1794

Fonte: Culturalizando26.

26
Disponível em:
<https://culturalizando.blog/2021/01/27/jacques-louis-david-o-pintor-oficial-de-napoleao-bonaparte/>.
Acesso em: 26 abr. 2023.
59

No Brasil, esse estilo refletiu na pintura acadêmica de Victor Meirelles (figura


26) e Pedro Américo (figura 27). Com o país tendo prosperidade econômica com o
café e certa estabilidade política com o governo imperial de Pedro II, as artes
ganharam um impulso cultural mais sólido, ainda que nitidamente conservadora.

Figura 26 - "A Primeira Missa no Brasil", Victor Meirelles, óleo sobre tela, 1861

Fonte: Proença, 2007.

Figura 27 - "Independência ou Morte", Pedro Américo, óleo sobre tela, 1888

Fonte: Proença, 2007.


60

Regressando algumas décadas antes na Europa, culminada por múltiplas


metamorfoses das Revoluções Francesa e Industrial, a atividade artística tornou-se
mais complexa. Paradoxalmente, Janson (2009) considera que o iluminismo libertou
não somente a razão como também o sentimentalismo, ocasionando uma onda que
duraria quase um século: o Romantismo. Nisso ocorre a valorização da imaginação
e não se estabelece regras fixas acerca da beleza ou dos atributos, pois antes do
movimento ser uma postura criativa, ele era um modo de vida (BECKETT, 1997).

De acordo com Imbroisi e Martins (2023), o artista romântico se tornou o


intérprete do mundo, pois ele emancipou-se da encomenda e fez a sua obra
baseada nos impulsos da sua alma, ficando bastante individualizada e diversificada
no que diz respeito ao próprio estilo e aos temas. Pretendia-se então integrar o
observador a contemplar as paisagens distantes que se desdobram à sua frente
consoante as suas emoções.

Figura 28 - "Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808", Francisco de Goya, óleo sobre tela, 1814

Fonte: Proença, 2007.


61

Pintores como Goya (figura 28), Eugène Delacroix, William Turner e John
Constable, regressaram ao Barroco e recuperaram a sugestão de agitação que os
neoclássicos haviam negado com composições em diagonal. A natureza recebeu
holofote e passou a ser o conteúdo central, exibindo um dinamismo equivalente às
emoções humanas (PROENÇA, 2007).

Para Gombrich (2008), o Realismo foi um movimento artístico que


descreveu-se por mostrar a realidade fiel e pragmaticamente, retratando temáticas
do cotidiano, como trabalhadores, camponeses e cenas urbanas, muitas vezes com
uma abordagem crítica ou social. Gustave Courbet (figura 29), Jean-François Millet,
Honoré Daumier, Édouard Manet e Rosa Bonheur são alguns dos nomes que
deixaram de lado os temas mitológicos, bíblicos, históricos e literários, pois o que
importava era a criação a partir de uma conjuntura verdadeira e não imaginada.

Figura 29 - "Os quebradores de Pedra", Gustave Courbet, óleo sobre tela, 1849

Fonte: Janson, 2009.

A pintura realista do século XIX caracteriza-se sobretudo pelo princípio de


que o artista deve representar a realidade com a mesma objetividade com
que um cientista estuda um fenômeno da natureza. Ao artista não cabe
"melhorar" artisticamente a natureza, pois a beleza está na realidade tal
qual ela é. (PROENÇA, 2007, p. 183).
62

Do outro lado do oceano, um estilo de gravura oriental muito peculiar estava


chamando a atenção dos ocidentais: o Ukiyo-e ( , "retratos do mundo
flutuante", em sentido literal). Surgido no Japão um século antes para o consumo
pela classe mercante, este gênero da xilogravura nipônica abordava temáticas sobre
cortesãs, o teatro kabuki, os lutadores de sumô, cenas históricas e lendas populares,
viagens e paisagens (figura 30), fauna e flora, e até pornografia.

Essas estampas eram frequentemente usadas como invólucros e


enchimentos, e podiam ser compradas barato nas casas de chá. [...]
Descobriram aí uma tradição não contaminada pelas regras e clichês
acadêmicos que os pintores franceses se empenhavam em eliminar. [...] Foi
esse arrojado desdém por uma regra elementar da pintura européia que
exerceu grande efeito sobre os impressionistas. Descobriram nessa regra
um último esconderijo da antiga dominação do conhecimento sobre a visão.
Por que havia uma pintura de mostrar sempre o todo ou uma parte relevante
de cada figura numa cena? (GOMBRICH, 2008, p. 525-526).

Figura 30 - "O monte Fuji com tempo limpo" ( ), ou Fuji vermelho, Hokusai, 1831

Fonte: Coisas do Japão27.

27
Disponível em: <https://coisasdojapao.com/2020/06/a-grande-onda-de-kanagawa/>.
Acesso em: 27 abr. 2023.
63

Como comentado na citação acima, os artistas do Impressionismo buscavam


referências que contribuíssem para essa vontade que tinham de sair do mero
convencional. Além da cromotipia japonesa, o até então recente advento da
fotografia também serviu de influência para pintores como Claude Monet (figura 31),
Pierre-Auguste Renoir, Camille Pissarro, Berthe Morisot, Edgar Degas28 e Mary
Cassatt, pois via-se muitas vezes elementos cortados ou parcialmente visíveis nas
fotos, levando-os a experimentar novas formas de composição em suas pinturas ao
cortarem objetos ou pessoas na borda da tela.

Figura 31 - "Impressão, nascer do sol", Claude Monet, óleo sobre tela, 1873

Fonte: Proença, 2007.

28
Embora o mesmo não gostasse de ser chamado de impressionista e sim realista, Gompertz (2013)
alega que ele foi um participante muito ativo na exposição inaugural de 1874 e contribuiu para quase
todas as sete exposições impressionistas realizadas ao longo dos doze anos seguintes, suas obras
tinham uma abordagem que se assemelhava à arte que estava sendo produzida por seus colegas.
64

A partir da observação direta do efeito da luz solar sobre os objetos ao ar


livre, os impressionistas procuraram registrar em suas telas as constantes alterações
que essa iluminação provoca nas cores da natureza, capturando assim a atmosfera
e a sensação de movimento em suas obras. Eles recorriam a pinceladas soltas e
rápidas com intuito de gerar uma sensação de espontaneidade e capturar a
essência do momento, sendo reprovados por muitos críticos de arte na época por
sua técnica "inacabada" e pela escassez de temas tradicionais em suas obras.
Todavia, ao longo do tempo, felizmente o estilo se tornou um dos mais influentes na
História da Arte (PROENÇA, 2007).

O problema para os impressionistas havia começado quando eles violaram


as regras da todo-poderosa e enfadonhamente burocrática Academia de
Belas-Artes de Paris. A Academia esperava que os artistas fizessem obras
baseadas em mitologia, iconografia religiosa ou na Antiguidade clássica
num estilo que idealizava o tema. Esse tipo de falsificação não interessava a
esse grupo de jovens e ambiciosos pintores. Eles queriam deixar seus
ateliês e ir para fora a fim de documentar o mundo moderno à sua volta. Foi
um movimento audacioso. Artistas simplesmente não andam por aí,
pintando temas “vulgares” como pessoas comuns num piquenique, ou
bebendo ou andando; não era isso que se fazia. Seria como se Steven
Spielberg vendesse seus serviços para fazer vídeos de casamentos.
Esperava-se dos artistas que permanecessem em seus ateliês e
produzissem paisagens pitorescas ou imagens heróicas de formas humanas
que remontassem ao tempo dos gregos antigos. Essa era a grande e boa
arte exigida pelos poderosos para as paredes de suas belas casas e para
os museus das cidades, e era isso que eles obtinham. Isto é, até que os
impressionistas chegaram. (GOMPERTZ, 2013).

O que veio logo após esse movimento transgressor viria a ser ainda mais
excêntrico e impactante. Segundo Gompertz (2013), o Pós-impressionismo foi
postumamente cunhado por Roger Fry em 1910 depois de selecionar quatro artistas
— Georges Seurat com o Pontilhismo (figura 32), Paul Gauguin com o Simbolismo,
Paul Cézanne e Vincent van Gogh (figura 33) — para fazer parte de uma exposição
que estava montando nas Grafton Galleries, em Londres, pois ele precisava de um
substantivo coletivo para unificar esse grupo desigual.

De acordo com Beckett (1997, p. 307), esses pintores "passaram a entender


que a visão depende de como vemos e, mais importante ainda, de quando vemos: o
olhar objetivo estava, na realidade, sujeito à percepção quanto ao tempo". Os
pós-impressionistas produziam imagens visuais e duradouras da beleza inconstante
e multidimensional que enxergavam, explorando novas associações simbólicas ao
analisarem as cores e representarem suas realidades internas menos tangíveis.
65

Figura 32 - "O farol de Honfleur", Georges Seurat, óleo sobre tela, 1886

Fonte: Beckett, 1997.

Figura 33 - "O quarto do artista em Arles", Vincent van Gogh, óleo sobre tela, 1889

Fonte: Gombrich, 2008.


66

O século XX chegou rente a diversas correntes artísticas recém criadas. Uma


das que mais marcou foi certamente Art Noveau (figura 34), que tinha como
finalidade preservar o contato do artista com a natureza e desenvolver um
artesanato habilidoso sob uma estética baseada em formas orgânicas, arabescos,
curvas sinuosas e ornamentos florais — vindo de Arts & Crafts. Para Hodge (2019),
foi uma tentativa de integrar a produção em massa às artes manuais e superar a
industrialização. O movimento também teve uma forte presença na arte gráfica com
o design de cartazes publicitários de artistas como Alphonse Mucha.

Figura 34 - "Retrato de Adele Bloch-Bauer", Gustav Klimt, óleo, prata, ouro e gesso sobre tela, 1907

Fonte: Vírus Da Arte & Cia29.

29
Disponível em: <https://virusdaarte.net/klimt-retrato-de-adele-bloch-bauer-i/>.
Acesso em: 29 abr. 2023.
67

Um outro estilo significativo surgido na primeira metade do século passado foi


o Fauvismo. Rotulados pelo crítico Louis Vauxcelles como Les Fauves ("as feras",
em tradução literal), os fauvistas valorizavam a intensidade das cores puras, linhas
retorcidas e a simplificação das formas, buscando serem apenas sugestivos e não
representativos da realidade (HODGE, 2019). Seus principais representantes foram
Henri Matisse (figura 35), André Derain e Maurice de Vlaminck.

Figura 35 - "Harmonia em vermelho (Sala vermelha)", Henri Matisse, óleo sobre tela, 1908-1909

Fonte: Janson, 2009.

É na Alemanha que nasce o movimento que foi uma reação direta ao


Impressionismo, externalizando veementemente o pessimismo em relação ao
mundo: o Expressionismo. Nele, os artistas queriam uma arte mais subjetiva e
pessoal, que refletisse sentimentos humanos como a angústia, o desespero e a
alienação na vida. O pintor norueguês Edvard Munch foi a vanguarda deste estilo,
mas também houve outros nomes notáveis, como: Franz Marc, Ernst Ludwig
Kirchner (figura 36), Paul Klee, Paula Modersohn Becker e George Grosz.
68

Figura 36 - "Cena de rua berlinense", Ernst Ludwig Kirchner, óleo sobre tela, 1913

Fonte: Beckett, 1997.

Imbroisi e Martins (2023) afirmam que os expressionistas30 faziam pesquisas


no domínio psicológico com cores resplandecentes, fundidas ou separadas, um
dinamismo improvisado, abrupto, inesperado e uma técnica violenta, pois o pincel ou
espátula vai e vem, fazendo e refazendo, empastando ou provocando explosões.
30
Suas versões mais atuais, conhecidas por neo expressionistas, vieram em meados da década 1970
e tiveram muitos adeptos célebres, como Jean-Michel Basquiat. "Com toda sua carga de violência e
emoção, de humor e sujeira (Bad Painting), de temas políticos, mitológicos, simbólicos e desbragada
fantasia são uma reação ao intelectualismo da Arte Concreta e à assepsia da Minimal Art com seus
sistemas, sua lógica e seu rigor purista." (IMBROISI e MARTINS, 2023).
69

Depois que o pintor Pablo Picasso descobriu as máscaras africanas no Musée


d’Ethnographie du Trocadéro, ele compreendeu que o artista negro não pintava ou
esculpia de acordo com as tendências de um determinado movimento estético, mas
sim com uma liberdade muito mais abrangente. Isso fez com que o mesmo
despertasse uma verdadeira revolução na arte em 1907, com a obra Les
Demoiselles d'Auignon (figura 37), elaborando a identidade cubista.

Figura 37 - "Les Demoiselles d'Avignon", Pablo Picasso, óleo sobre tela, 1907

Fonte: Janson (2009).

Segundo Proença (2007), o Cubismo originou-se genuinamente na obra de


Cézanne, que tratava as formas da natureza como se fossem cones, esferas e
70

cilindros. Os cubistas foram mais longe e passaram a representar os objetos com


todas as suas partes em um mesmo plano geométrico. Eles decompunham os
objetos sem compromisso de fidelidade com a aparência real das coisas,
abandonando a busca da ilusão da perspectiva ou das três dimensões dos seres.

Com o tempo, o Cubismo evoluiu em duas grandes tendências chamadas


Cubismo Analítico e Cubismo Sintético. O Cubismo Analítico foi
desenvolvido por Picasso e Braque, aproximadamente entre 1908 e 1911.
Esses artistas trabalharam com poucas cores — preto, cinza e alguns tons
de marrom e acre —, já que o mais importante para eles era definir um tema
e apresentá-lo de todos os lados simultaneamente. Levada às últimas
consequências, essa tendência chegou a uma fragmentação tão grande dos
seres, que tornou impossível o reconhecimento de qualquer figura nas
pinturas cubistas. Reagindo à excessiva fragmentação dos objetos e à
destruição de sua estrutura, os cubistas passaram ao Cubismo Sintético.
Basicamente, essa tendência procurou tornar as figuras novamente
reconhecíveis. Mas, apesar de ter havido uma certa recuperação da
imagem real dos objetos, isso não significou o retorno a um tratamento
realista do tema. (PROENÇA, 2007, p. 254).

De acordo com Imbroisi e Martins (2023), o Abstracionismo partilhou dessa


característica análoga de firmar-se em duas tendências: o Informal e o Geométrico.

A Arte Abstrata Informal, por sua vez, foi constituída por:

a) Orfismo — seus valores luminosos deviam integrar uma estrutura dinâmica do


quadro através do contraste simultâneo das cores provocadas pelo espectro
solar, com formas circulares e cores vivas para dar dinamismo ao quadro;
b) Sincronismo — baseava-se na ideia de que a cor e o som são fenômenos
semelhantes e que a paleta de uma pintura pode ser orquestrada da mesma
forma harmoniosa que um compositor organiza notas numa sinfonia.

Enquanto isso, no Abstracionismo Geométrico, foram gerados:

a) Suprematismo — com base nas formas geométricas planas (retângulo,


círculo, triângulo e cruz), cujo manifesto foi assinado pelo pintor Kazimir
Malevich e pelo poeta russo Mayakovski, defendendo a supremacia da
sensibilidade sobre o próprio objeto independentemente do meio de origem;
b) Construtivismo Russo — correspondia aos elementos da geometria, cores
primárias, fotomontagem e a tipografia sem serifa, todos pensados como
construções, guardando proximidade com a arquitetura em termos de
materiais, procedimentos e objetivos;
71

c) Neoplasticismo ou movimento De Stijl — consistia na depuração das formas


(linhas, planos e cubos), racionalismo, harmonia de linhas e massas coloridas
retangulares de diversas proporções, sempre verticais e horizontais
(perpendiculares), ritmos assimétricos e equilibrados, cores primárias
saturadas ou tonal (branco, preto e cinza);
d) Concretismo — com uma técnica mecânica de elementos puramente
plásticos, (planos e cores), cuja construção do quadro deve ser simples e
controlável visualmente, evidenciando uma clareza absoluta;

Figura 38 - "Composição VIII", Wassily Kandinsky, óleo sobre tela, 1923

Fonte: Ricardo Alves - Fonte de Arte31.

Você conhece esse tipo de coisa, aqueles rabiscos e quadrados


aparentemente aleatórios que nos levam a pensar: “Uma criança de cinco
anos poderia ter feito isso.” O que poderia ser o caso, mas na realidade é
muito improvável. É algo surpreendentemente difícil definir com clareza o
31
Disponível em:
<https://fontedearte.com/historia-da-arte-linha-do-tempo-resumo/#a-historia-da-arte-resumo>.
Acesso em: 01 maio 2023.
72

que é que torna essas linhas de alguma maneira diferentes daquelas que
você ou eu poderíamos desenhar, mas existe alguma coisa. [...] A verdade é
que a arte abstrata encerra certo mistério; algo que confunde nossos
cérebros racionais quando acreditamos que pinturas e esculturas precisam
contar uma história. Trata-se de uma ideia complexa que é tipicamente
expressada de maneira simples. (GOMPERTZ, 2013).

Sucintamente, pode-se declarar que o Abstracionismo descrevia-se pela


ausência da representação alegórica, do qual um de seus pintores introdutores,
Kandinsky (figura 38), foi professor da Bauhaus, a escola alemã vanguardista para o
ensino de design, que acabou inspirando a gama de cores de Mondrian.

Daí em diante e de modo síncrono, muitas outras tendências artísticas


surgiram na pintura prevalentemente europeia. Dentre elas podemos destacar o
Futurismo — com a desvalorização da tradição e do moralismo, valorização do
desenvolvimento industrial/tecnológico, sobreposição de imagens, traços e
pequenas deformações dinâmicas para passar a ideia de movimento; o Dadaísmo
— onde qualquer matéria servia para a composição heterogênea dos temas, cores
grossas/corpulentas, colagens, figuras mecânicas com função de bombas elétricas e
sugestões escultóricas; e o Surrealismo — atingindo uma outra realidade situada no
plano do subconsciente/inconsciente, com a fantasia do sonho, os estados de
tristeza e a melancolia exercendo atração sobre vários artistas, como o belga René
Magritte (figura 39), os espanhóis Joan Miró e Salvador Dalí e a mexicana Frida
Kahlo (IMBROISI e MARTINS, 2023).

Figura 39 - Detalhes de "Golconda", René Magritte, óleo sobre tela, 1953

Fonte: Rádio França Internacional32.


32
Disponível em: <https://tendimag.com/2023/06/02/musicas-surrealizadas-01/>.
Acesso em: 01 maio 2023.
73

Saindo de vez da Europa e voltando para o território nacional, reconhece-se


que as duas primeiras décadas do século XX moldaram a nova fisionomia brasileira.
O país assistiu a um eloquente crescimento econômico e transformações sociais
resultantes do convívio com diferentes culturas de imigrantes. Tais tempos novos
estariam, então, "à espera de uma arte nova que exprima a saga dos tempos e do
porvir" (BRITO, 1958, apud PROENÇA, 2007, p. 291).

A divisão entre os defensores de uma estética conservadora e os de uma


renovadora prevaleceu por muito tempo, atingindo seu clímax na Semana de Arte
Moderna, realizada entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal
de São Paulo. Nela foram apresentados concertos e conferências no interior do
edifício, ao passo que no saguão foram montadas exposições de artistas plásticos,
envolvendo arquitetos, escultores e os desenhistas/pintores, como Anita Malfatti
(figura 40), Di Cavalcanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina Aita, J. F. de Almeida
Prado, Ferrignac (Ignácio da Costa Ferreira) e Vicente do Rego Monteiro.

Figura 40 - Detalhes de "O Homem Amarelo", Anita Malfatti, óleo sobre tela, 1917

Fonte: Proença, 2007.


74

Esse evento (figura 41) desencadeou o maior enaltecimento da cultura do


Brasil, acarretando o aparecimento de novos movimentos como o Pau-Brasil,
Verde-Amarelo e o Antropofágico. Candido Portinari (figura 42), Cícero Dias e Tarsila
do Amaral foram alguns dos que dominaram os aspectos técnicos da elaboração de
uma obra de arte, mas não eram adeptos dos princípios acadêmicos ultrapassados.

Figura 41 - Capa do catálogo da Semana de Arte Moderna de 1922, desenhada por Di Cavalcanti

Fonte: Proença, 2007.


75

Figura 42 - "Os Retirantes", Candido Portinari, óleo sobre tela, 1944

Fonte: Proença, 2007.

Subindo para o norte com os Estados Unidos, após passar pelo Realismo
Americano — retratando o esgotamento e a exuberância cultural da paisagem
figurativa americana com a vida comum dos cidadãos — e o Expressionismo
Abstrato pós Segunda Guerra Mundial, teve-se um novo rumo artístico conhecido
pelo termo Pop Art (abreviação das palavras inglesas Popular e Art), cujo espírito
fundamental era, segundo Gompertz (2013):

A crença de que alta e baixa cultura são uma só e mesma coisa, que
imagens de revista e garrafas de bebida eram tão válidas como formas de
arte para criticar a sociedade quanto as pinturas a óleo e as esculturas de
bronze adquiridas e expostas pelos museus. A intenção da pop art era
borrar a linha entre uma coisa e outra.
76

Os estadunidenses receberam então um estilo pictórico em que não havia


mais planejamento crítico, mas sim um caráter inexpressivo (preferencialmente
frontal e repetitivo) ao combinarem a pintura com objetos reais integrados na
composição da obra, como uma nova forma dadaísta em consonância à nova era.

Figura 43 - "Campbell’s Soup Can", Andy Warhol, polímero sintético sobre telas, 1962

Fonte: Arte Registrada33.

Para Imbroisi e Martins (2023), havia certo favoritismo por referências ao


status social, fama, violência, desastres, sensualidade, erotismo, símbolos da
tecnologia industrial e à sociedade consumista (American Way of Life). Nas técnicas,
a tinta acrílica, o poliéster e o látex eram os mais utilizados para produzir cores
puras, brilhantes e fosforescentes, com a reprodução de objetos do cotidiano em
tamanho gigantescos, transformando o real em hiper-real. Seus artistas mais
expoentes foram Andy Warhol (figura 43), Robert Rauschenberg, Tom Wesselmann,
Jasper Johns e Roy Lichtenstein.

33
Disponível em: <https://arteregistrada.blogspot.com/2020/10/pop-art.html>.
Acesso em: 02 maio 2023.
77

2.2 Análises de exposições similares

No design, um dos mecanismos necessários para entender como outros


projetos se comunicam é através da realização da análise de similares e/ou
concorrentes, avaliando afinco os pontos semelhantes ao projeto que se deseja
aplicar. Essa análise é baseada em critérios pré-estabelecidos para que, no final,
estes sejam avaliados conforme suas funcionalidades e conteúdos, possibilitando
novas gerações de ideias e a validação dos requisitos projetuais.

Não obstante a multiplicidade temática deste projeto, o mesmo também se


apresenta como virtual e digital ao mesmo tempo. Dessa forma, teve-se a ideia de
explorar exposições profissionais unicamente virtuais e outras unicamente digitais,
de modo que conseguisse extrair o melhor perante os dois tipos para que fosse
atingido um modelo híbrido satisfatório.

2.2.1 Exposições virtuais de museus físicos

Começando pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), que é uma
instituição referência para a arte e para a cultura do nosso país. Fundado em 1948, possui
uma das mais relevantes coleções de arte moderna e contemporânea da América Latina,
com mais de 16 mil obras. Sua atuação se dá sobre o tripé arte – educação – cultura.
Trata-se de um instituto cultural constituído como sociedade civil de interesse público, sem
fins lucrativos, apoiada por pessoas físicas e por empresas.

Ao longo de sua história, o MAM Rio sediou exposições que até hoje marcam as
expressões e linguagens das artes e da cultura, tendo abrigado movimentos que
transformaram o país. Sua Cinemateca, com audiovisuais em todos os formatos e sala de
exibição, configura-se importante polo de documentação e fruição fílmica. Suas exposições
virtuais34 consistem em centenas de fotos panorâmicas de seu vasto espaço físico
(tecnologia do MAM Rio 360°), contando com o patrocínio da Aliansce Sonae Shopping
Centers e é viabilizada por meio da parceria com a Media Glass & SmartFans.

34
Disponíveis em: <https://mam.rio/3D/>. Acesso em: 03 maio 2023.
78

Em seu site oficial, disponibiliza-se tours virtuais pela arquitetura, objetos e história
do museu. Nelas é permitido conhecer as exposições apresentadas em 2021 com
conteúdos extras de áudio e vídeo por meio de um passeio 3D visualizável em
computadores e aparelhos móveis, sendo dispensável a instalação de qualquer plugin ou
extensão adicional. Atualmente, as exposições disponíveis são “35 Revoluções: Irmãos
Campana” (figura 44), “Realce”, “Cosmococa”, “Bandeira Brasileira” (figura 45), “Hélio
Oiticica: a dança na minha experiência”, "Estado bruto" (figura 46), "Fayga Ostrower:
formações do avesso" (figura 47) e "Marcos Chaves: as imagens que nos contam".

Figura 44 - Exposição virtual "35 Revoluções: Irmãos Campana", MAM - RJ

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 45 - Exposição virtual "Bandeira Brasileira", MAM - RJ

Fonte: Elaborado pelo autor.


79

Figura 46 - Exposição virtual "Estado bruto", MAM - RJ

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 47 - Exposição virtual "Fayga Ostrower: formações do avesso", MAM - RJ

Fonte: Elaborado pelo autor.


80

A Pinacoteca de São Paulo é um museu de artes visuais voltado para a


produção brasileira concebida desde o século XIX até a contemporaneidade, sempre
considerando diálogos com variadas culturas do mundo. Fundada em 1905 pelo
Governo do Estado de São Paulo, a Pinacoteca é o museu de arte mais antigo da
cidade. E, desde então, vem realizando mostras de sua renomada coleção de arte
brasileira e exposições temporárias de artistas nacionais e internacionais, não
deixando de abrigar também um programa educativo abrangente e inclusivo.

Com o passar dos anos formou-se um significativo acervo. Hoje sua coleção
conta com cerca de 11 mil peças, que incluem Anita Malfatti, Lygia Clark, Tarsila do
Amaral, Almeida Júnior, Pedro Alexandrino, Candido Portinari, Oscar Pereira da
Silva, entre outros. Todas sendo administradas pela Associação Pinacoteca Arte e
Cultura desde 2006, por meio de Contrato de Gestão assinado com a Secretaria de
Cultura e Economia Criativa de São Paulo. Os documentos norteadores da Gestão
da Pinacoteca são o Plano Museológico35 e o Planejamento Estratégico36.

A respeito de suas exposições virtuais37, são fornecidas dezesseis ao todo,


incluindo o seu acervo permanente. Todas elas são feitas pela empresa iTeleport
com a plataforma Matterport Discover, que permite funcionalidades como passeios
livres em 3D com visão externa do museu, visualização em Realidade Virtual (RV),
panorama geral de cada piso (figura 48), vista Dollhouse (figura 49) e a divisão de
cada uma das salas existentes (figura 50).

Entretanto, apresenta um ponto negativo bastante relevante. Diferentemente


do MAM, que possibilita o clique de cada uma das peças museais para que o
visitante possa saber mais sobre com a legenda, o mesmo não acontece na
Pinacoteca de São Paulo. Todos os textos são mostrados da mesma maneira que
presencialmente: impressos na parede. Apesar da resolução das fotografias serem
de alta qualidade, nem sempre isso é o suficiente para que torne legível alguns
conteúdos, mesmo aplicando-se o zoom máximo permitido no setor (figura 51).

35
Disponível em:
<pinacoteca.org.br/wp-content/uploads/2023/05/2023508_Tomara_PINA-diagramado_baixa.pdf>.
Acesso em: 04 maio 2023.
36
Disponível em: <pinacoteca.org.br/wp-content/uploads/2023/02/Plano-Estrategico.pdf>.
Acesso em: 04 maio 2023.
37
Disponível em: <https://pinacoteca.org.br/conteudos-digitais/tipo/tour-virtual/>.
Acesso em: 04 maio 2023.
81

Figura 48 - Panorama geral virtual do piso 1 da Pinacoteca de São Paulo

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 49 - Vista virtual no modo "Dollhouse" da Pinacoteca de São Paulo

Fonte: Elaborado pelo autor.


82

Figura 50 - Divisão das salas virtuais da Pinacoteca de São Paulo

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 51 - Falha na legibilidade dos textos virtuais da Pinacoteca de São Paulo

Fonte: Elaborado pelo autor.


83

2.2.2 Exposições digitais do Google Arts & Culture

O Arts & Culture é uma iniciativa da Google que busca tornar a arte mais
acessível através de formatos progressistas e cativantes. Essa plataforma funciona
como um acervo de atividades interativas e personalizáveis, permitindo que os
usuários criem coleções de acordo com os seus interesses pessoais, seja para um
indivíduo curioso em aprender sobre arte ou para um professor graduado que deseja
usar as ferramentas oferecidas em sala de aula.

O aplicativo proporciona uma ampla série de recursos e possibilidades. Ao


utilizá-lo, os usuários possuem acesso a uma variedade de recursos, como textos,
vídeos, áudios, jogos, seções relacionadas à realidade virtual/aumentada e, é claro,
a possibilidade de visitar museus digitalmente.

Embora também existam virtualizações de museus concretos dentro da


plataforma, são apenas oito no total38 e todos compartilham do mesmo problema da
Pinacoteca paulista: ausência de legendas digitais clicáveis, impossibilitando
descobrir quaisquer conhecimentos extras a respeito das obras.

Em contrapartida ao virtual, uma exposição exclusivamente digital (figura 52)


não tenta replicar um ambiente físico, pois seu propósito é bem mais direto. No caso
em questão, o Arts & Culture se comporta muito parecido com um slideshow comum:
conforme você rola para baixo com o mouse do computador ou com o dedo no
celular/tablet, a exposição vai caminhando e exibe fotografias e scanneamentos de
peças artísticas em altíssima resolução. Essa característica propicia um zoom
absurdo39 e riquíssimo em detalhes (vide o slide 3 da figura 53), algo que não seria
possível nem ver de perto corporalmente com artigos muito valiosos.

Por causa disso, é quase inexequível contar quantas exposições digitais


existem no Arts & Culture, justamente porque o processo de criação é muito mais
simples e rápido, fazendo com que surjam diariamente novos conteúdos expositivos.

38
São eles: Museu de Arte de Yamatani – Shibuya; Museu Soumaya – Cidade do México; Inhotim –
Brasil; O Museu de Arte Nelson-Atkins – Cidade de Kansas; Legião de honra – São Francisco; MOCA
– Bangkok; Museu Van Gogh – Amsterdã e o Museu de História Natural – Berlim.
39
A plataforma reconhece esse ponto forte e até junta um compilado de pinturas em alta definição
disponível em: <https://artsandculture.google.com/story/hAXhy-4s3wl8KA>. Acesso em 04 maio 2023.
84

Figura 52 - Alguns slides da exposição digital da Caverna de Chauvet, Google Arts & Culture40

Fonte: Elaborado pelo autor.

40
Disponível em: <artsandculture.google.com/story/yQURd7pZumeaIQ>. Acesso em: 05 maio 2023.
85

Figura 53 - Alguns slides da exposição digital de Lasar Segall Processos, Google Arts & Culture41

Fonte: Elaborado pelo autor.

41
Disponível em: <artsandculture.google.com/story/pAVxDOgp0pt5Lg>. Acesso em: 05 maio 2023.
86

2.2.3 Comparação analítica

Em suma, nota-se que as exposições averiguadas apresentaram prós e


contras para cada caso. As virtuais se mostraram em vantagem nos quesitos:

a) Fidelidade com um espaço museal físico. Isso contribui para uma experiência
sensorial mais completa e uma maior sensação de imersão para quem o
frequenta, visto que o mesmo fornece uma visita tridimensional, permitindo
que a pessoa olhe por diferentes ângulos uma mesma obra de arte;
b) Liberdade de escolha para a ordem da visita, tornando-a mais agradável e
menos limitada. Assim, o frequentador se sente mais à vontade e não fica
com a sensação tendenciosa de que é obrigado a acompanhar apenas uma
linha reta de rolagem da tela.

Enquanto isso, as exposições digitais se destacaram nos seguintes pontos:

a) Suporte mais leve do software. Isso oferece maior agilidade na visita, não
requerendo uma internet muito potente para acessá-la, ou seja, menor
probabilidade de que a tela do dispositivo trave devido a uma transmissão de
dados que seja demasiado elevada;
b) Informações textuais mais evidentes, melhorando a legibilidade das legendas
que compõem o acervo, já que o seu conteúdo é bidimensional e não há
deformações ou uma barreira de pixels ao se dar zoom.

Diante desse apanhado analítico, é possível perceber que, ao ter escolhido


unificar as essências de exposição virtual e digital, todos os benefícios de cada uma
foram reunidos para o projeto. Isso porque pretendeu-se encontrar uma plataforma
que contemplasse a simulação digital de um espaço virtual fictício. O capítulo 3 a
seguir relata o processo desta e todas as demais decisões projetuais.
87

Design pode ser arte.


Design pode ser estética.
O design é tão simples,
por isso é tão complicado.

Paul Rand
88

3 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA

3.1 Fase Conceitual

Almejando sintetizar e organizar os dados apresentados sobre o projeto, é


nessa fase inicial que são estabelecidos os conceitos e os requisitos obrigatórios da
exposição virtual digital a ser executada.

3.1.1 Síntese do conceito: Fibonacci

Ao pensar sobre o escopo deste projeto, sentiu-se falta de um conceito chave


que trouxesse mais coesão e conseguisse interligar tudo envolvido: as obras
expostas, o percurso do visitante, a estrutura virtual e a identidade visual. Muito se
buscou, até que finalmente elegeu-se a sucessão de números inteiros e naturais de
Fibonacci como a melhor candidata para essa tarefa.

Segundo Ramos (2013), a sequência matemática infinita foi reconhecida por


Leonardo de Pisa no ano de 1202 e corresponde à soma dos dois anteriores, sendo:

1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, 610, 987, 1597, 2584, …

A fórmula do termo geral da Série de Fibonacci resulta no famigerado número


de ouro, que nada mais é que uma constante real algébrica irracional, denotada pela
letra grega Φ (phi), em homenagem ao escultor Phideas, que a teria utilizado para
conceber o Parthenon. Seu valor arredondado a três casas decimais é de 1,618.

Por sua vez, chama-se de retângulo áureo qualquer retângulo no qual as


suas medidas estão nessa mesma razão proporcional (RAMOS, 2013). Apoiado à
sequência infinita desses retângulos, podemos desenhar a espiral áurea traçando o
quarto de circunferência de cada um dos quadrados, resultando na figura 54.
89

Figura 54 - A espiral áurea

Fonte: Ramos, 2013.

Essa proporção áurea é usada na arte desde muito antes de Cristo, tendo seu
apogeu na era renascentista e se perpetuando até os dias de hoje. Tal número está
envolvido com a ordem de crescimento da natureza e pode ser achado de forma
aproximada no homem (figura 55), nas colméias, entre inúmeros outros exemplos.

Suponha que eu lhe pergunte: o que o encantador arranjo de pétalas numa


rosa vermelha, o famoso quadro “O Sacramento da Última Ceia”, de
Salvador Dalí, as magníficas conchas espirais de moluscos e a procriação
de coelhos têm em comum? É difícil de acreditar, mas esses exemplos bem
díspares têm em comum um certo número, ou proporção geométrica,
conhecido desde a Antiguidade, um número que no século XIX recebeu o
título honorífico de “Número Áureo”, “Razão Áurea” e “Seção Áurea”. Um
livro publicado na Itália no começo do século XVI chegou a chamar essa
razão de “Proporção Divina” (LÍVIO, 2011, apud RAMOS, 2013, p. 31).

Não obstante a área artística e a natureza, essa ferramenta também é


largamente utilizada como grid por designers em suas peças gráficas, que incluem
cartazes, livros, layouts de websites e no branding com as logos (figura 56).
90

Figura 55 - "Homem Vitruviano", Leonardo da Vinci, lápis e tinta sobre papel, 1490

Fonte: The Conversation42.

42
Disponível em:
<https://theconversation.com/artist-engineer-wedding-planner-500-years-of-leonardo-da-vinci-116493>
Acesso em: 08 maio 2023.
91

Figura 56 - Logo da Apple em proporção áurea

Fonte: Medium43.

Tanta coincidência rodeada com a união da matemática, da arte e do design


que considerou-se o argumento perfeito para se seguir com as rédeas desse projeto.
Dada a significação desse conceito, conseguiu-se decretar todos os vereditos que
faltavam, podendo ser vistos no decorrer deste capítulo.

3.1.2 Requisitos do projeto

Conforme as investigações prévias realizadas, estabeleceu-se diretrizes e


exigências que enquadram todos os aspectos técnicos outrora abordados. Esses
requisitos têm por finalidade definir e apoiar as decisões tomadas (quadro 3).

43
Disponível em:
<https://medium.com/chocoladesign/apple-e-a-propor%C3%A7%C3%A3o-%C3%A1urea-891b33fca9
d>. Acesso em: 10 maio 2023.
92

Quadro 3 - Requisitos do projeto

REQUISITOS OBJETIVO CLASSIFICAÇÃO FONTE

Linguagem simples Síntese do conceito


Identidade
e direta seguindo a Obrigatório na fase de
visual
proporção áurea desenvolvimento

Simulação virtual Obrigatório

Acesso em
Desejável
dispositivos móveis
Análise de
Plataforma similares
Acesso
digital Obrigatório
em desktops

Legendas interativas Desejável

Suporte para vídeo Obrigatório


Justificativa
Releituras em do projeto
Obrigatório
motion design
Acervo de
pinturas
Seleção dos principais
Obrigatório
movimentos artísticos
Pesquisa
teórica
Resumos didáticos
Obrigatório
de cada tempo
Plano
educativo
Ordem cronológica Escopo e
Obrigatório
do storyline delimitação

Marketing digital Obrigatório Estratégias


Plano
da fase de
promocional
Divulgação física Desejável desenvolvimento

Fonte: Elaborado pelo autor.

3.1.3 Definição da plataforma digital

Antes de adentrar efetivamente na fase de desenvolvimento, foi preciso


definir qual plataforma digital melhor atenderia aos requisitos anteriormente
impostos. Dentre as disponíveis no mercado, deparou-se com as seguintes opções:

a) Open Exhibits: ferramenta gratuita que permite a interação do público com


objetos virtuais. Usuários sem conhecimentos técnicos podem partir de
templates e módulos pré-existentes;
93

b) Emaze: esse site deixa que se importe imagens, vídeos e sons para uma área
digital que simula o 3D e compartilhe com quem quiser. Não é de graça e o
plano básico custa R$ 45 por ano;
c) CoSpaces Edu: programa destinado principalmente para estudantes que
aceita a anexação de imagens gratuitamente em paredes 3D, porém outros
tipos de mídia requerem um plano básico custando US$ 74,99 por ano;
d) Omeka: sistema para publicação de arquivos digitais online. Apresenta
templates e layouts pré-prontos que facilitam a utilização do site e a
montagem da exposição. Seu plano básico custa US$2.500 anuais;
e) Artsteps: aplicativo totalmente gratuito que possibilita criar espaços virtuais
imersivos e interativos com o auxílio de realidade virtual, aceitando imagens,
vídeos, sons e até mesmo a inserção de objetos 3D externos.

Para a decisão final, foi tudo relativamente descomplicado. De primeira, já


conseguiu-se eliminar duas alternativas, pois o CoSpaces Edu e o Omeka estão fora
do orçamento do autor para um projeto acadêmico sem fins lucrativos. Depois,
reparou-se que no Open Exhibits é obrigatória a instalação de um software à parte, o
que torna tudo mais burocrático e menos acessível. Por último, percebeu-se que o
Emaze não fornece um ambiente tridimensional de verdade, uma vez que suas
exposições são digitais com uma transição que apenas imita o 3D.

Por conseguinte, a plataforma Artsteps foi a escolhida não somente porque as


outras se mostraram inadequadas, mas porque também foi a única que atendeu
indiscutivelmente todos os objetivos do quadro 3.

3.2 Fase de Desenvolvimento

Para a documentação do presente relatório, optou-se por juntar os informes


das etapas de planejamento e de produção dentro da fase de desenvolvimento, visto
que os tópicos de ambas são os mesmos, sendo uma a consequência da outra.
94

3.2.1 Curadoria do acervo

Como adiantado na síntese do conceito, a sequência de Fibonacci designou


todo o arbítrio para a coleção exposta. Em vista da separação histórica da
humanidade em cinco épocas feita previamente no escopo e delimitação,
resolveu-se pegar os 5 primeiros números correspondentes da série, sendo:

1 – Pré-História

1 – Antiguidade

2 – Idade Média

3 – Idade Moderna

5 – Idade Contemporânea

Totalizando, foram 12 obras por completo, tendo sido uma pintura


pré-histórica, uma antiga, duas medievais, três modernas e cinco contemporâneas.
Julgou-se ser uma deliberação coerente em virtude de toda a pesquisa teórica
efetuada no capítulo 2, onde foi observado que o número de novos movimentos de
arte aumentou exponencialmente nos últimos séculos, mais do que todo o período
antigo e medieval somados.

Para a escolha singular de cada uma, estabeleceu-se os seguintes critérios:

a) Não repetir mais do que uma vez o país de origem dos artistas, de modo que
haja ao menos um pouco de diversidade geográfica;
b) A pintura deve contemplar as principais características técnicas do seu
respectivo movimento artístico, servindo de representante para o mesmo;
c) A partir da Idade Moderna, além de participar de um estilo que tenha sido
influente para outros futuramente, o item pictórico escolhido deverá ser
facilmente reconhecível e de fama inquestionável. Isso porque, quando uma
obra já está inserida na cultura pop do mainstream, torna-se muito mais eficaz
para o visitante associar em sua memória e se interessar sobre o assunto do
que se fosse escolhida uma que pouquíssimos relacionassem.
95

Seguindo esses critérios acima, o processo de curadoria se iniciou com a


apuração online de releituras em motion já realizadas por terceiros. É importante
destacar que todas as artes apresentadas a seguir possuem as devidas
autorizações de uso no apêndice A deste relatório.

Para o período Pré-histórico, encontrou-se a versão em movimento da pintura


rupestre do cavalo na caverna de Lascaux (figura 57) feita pelo artista @MechaRex.
A figura 58 mostra alguns dos vinte e quatro frames que compõem a animação.

Figura 57 - Pintura paleolítica de um cavalo na caverna de Lascaux, França, aprox. 15.000 a.C.

Fonte: Don's Maps44.

Figura 58 - Frames da releitura de uma pintura rupestre, @MechaRex, 2022

Fonte: @MechaRex45.

44
Disponível em: <https://www.donsmaps.com/images26/lascauxhorseandsign.jpg>.
Acesso em: 28 maio 2023.
45
Disponível em:
<https://www.instagram.com/tv/CcG9rK-goTi/?id=2812206264900289762_6721407407>.
Acesso em: 28 maio 2023.
96

Para o período Antigo, encontrou-se o incrível Panoply Vase Animation


Project, dirigido por Steve K. Simons e Sonya Nevin, combinando as habilidades de
animação de Steve com a experiência de Sonya na cultura grega clássica. Nesse
projeto, são feitas releituras em movimento a partir de artefatos antigos reais, como
é o caso da ânfora da figura 59, com Aquiles e Ajax jogando damas. Em seguida, a
figura 60 mostra alguns frames que compõem a animação.

Figura 59 - "Aquiles e Ajax jogando damas", Exéquias, 540-530 a.C.

Fonte: Proença, 2007.


97

Figura 60 - Frames da releitura de "Clash of the Dicers", Panoply Vase Animation Project, 2014

Fonte: Panoply Vase Animation Project46.

Para o período medieval, encontrou-se pronta uma das duas selecionadas


para esta terceira seção da exposição virtual digital. Cuthbert extinguishing a fire set
by a demon (figura 61) é uma iluminura pré-gótica extraída de Prose Life of Cuthbert
da História Eclesiástica do Povo Inglês, escrita pelo monge Beda. Sua releitura em
motion (figura 62) foi feita por Citlali Reyes.

46
Disponível em: <hhttps://www.panoply.org.uk/clash-dicers>. Acesso em: 28 maio 2023.
98

Figura 61 - "Cuthbert extinguishing a fire set by a demon", iluminura pré-gótica, Inglaterra, séc. XII

Fonte: British Library47.


47
Disponível em:
<https://www.bl.uk/catalogues/illuminatedmanuscripts/ILLUMIN.ASP?Size=mid&IllID=57450>.
Acesso em: 01 jun 2023.
99

Figura 62 - Frames da releitura de uma iluminura pré-gótica inglesa, Citlali Reyes, 2019

Fonte: De motu Librorum48.

Para o período moderno, encontrou-se duas releituras de pinturas


pertencentes ao Renascimento e ao Barroco, animadas por inteligência artificial (IA)
pelo canal de vídeos Mystery Scoop. O quadro da "Mona Lisa" (figura 63) foi o
escolhido para representar a Alta Renascença italiana. Considerada como a obra
prima de Da Vinci, "A Gioconda" — como também é conhecida — foi concebida sob
a técnica do sfumato e conforme o enquadramento áureo. Sua versão em motion
(figura 64) faz uma brincadeira com o fato dos olhos da modelo aparentarem seguir
o espectador, além de aumentar e diminuir suavemente o seu sorriso enigmático.

48
Disponível em:
<https://demotulibrorum.tumblr.com/post/627166987577081856/bede-prose-life-of-cuthbert-extracts-fr
om-the>. Acesso em: 01 maio 2023.
100

Figura 63 - "Mona Lisa", Leonardo Da Vinci, óleo sobre madeira de álamo, 1503-1506

Fonte: Gombrich, 2008.


101

Figura 64 - Frames da releitura de "Mona Lisa", Mystery Scoop, 2022

Fonte: Mystery Scoop49.

O quadro da "Moça com o Brinco de Pérola" (figura 65) foi o escolhido para
representar o Barroco neerlandês. Pintada por Johannes Vermeer, tal obra faz com
que toda atenção do observador se concentre na expressão da mulher, "efeito obtido
pela posição dos olhos e dos lábios entreabertos, que parece querer dizer alguma
coisa a quem a olha" (PROENÇA, 2007, p. 146). Sua releitura em motion (figura 66)
foi executada do mesmo jeito que a Mona Lisa e pode-se perceber seu olhar
percorrendo diferentes ângulos, como se estivesse posando ao vivo para o registro.

49
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mfPIb5TkmCg>. Acesso em: 23 maio 2023.
102

Figura 65 - "Moça com o Brinco de Pérola", Johannes Vermeer, óleo sobre tela, 1665-1666

Fonte: Proença, 2007.


103

Figura 66 - Frames da releitura de "Moça com o Brinco de Pérola", Mystery Scoop, 2021

Fonte: Mystery Scoop50.

Para o período contemporâneo, somente uma das cinco não foi autoral.
Apesar de ser uma xilogravura e não necessariamente uma pintura, optou-se por
abrir essa exceção e incluir "A Grande Onda de Kanagawa" de Katsushika Hokusai
por ser uma peça pitoresca extremamente famosa (figura 67), sendo considerada
inclusive como a obra de arte mais reproduzida da história, declaração do historiador
Angus Lockyer para a BBC51. Por esse fato, ela se tornou uma imagem do Ukiyo-e
deveras inspiradora, que furou a bolha asiática e atingiu com força a arte ocidental.
50
Disponível em: <https://youtu.be/3eRghDauJsg>. Acesso em: 23 maio 2023.
51
Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-41055922>. Acesso em: 30 maio 2023.
104

Figura 67 - "A Grande Onda de Kanagawa", Katsushika Hokusai, gravura, 1830

Fonte: Domínio Público via Wikimedia Commons52.

A releitura desta ficou a cargo do artista também japonês Segawa Atsuki (


), que conseguiu brilhantemente transmitir ainda mais dinamicidade movendo
as camadas de onda e os barcos de um lado para o outro (figura 68).

Figura 68 - Frames da releitura de "A Grande Onda de Kanagawa", Segawa Atsuki, 2015

Fonte: Segawa Atsuki53.

52
Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Great_Wave_off_Kanagawa2.jpg>.
Acesso em: 28 maio 2023.
53
Disponível em: <https://gifmagazine.net/post_images/531933>. Acesso em: 30 maio 2023.
105

3.2.1.1 Abordagem Triangular

Quando chega-se na parte autoral, a curadoria muda o método de seu


processo e passa a incluir os três pilares de Ana Mae Barbosa. Levando isso em
consideração, nesta sessão relatou-se o fazer artístico junto da contextualização e
fruição das releituras. Foi comprovado na prática que “a cada leitura, o que já foi lido
muda de sentido, torna-se outro” (GOULEMOT, 1996, apud RANGEL, 2004. p. 47).

Vamos ampliando nossa significação do objeto analisado, pois a cada leitura


estamos modificados, vivenciamos outras experiências, adquirimos outros
conhecimentos, ampliamos nosso repertório cultural. Sendo assim, uma
leitura nunca será igual à outra leitura, a uma releitura. Podemos então
definir a releitura, como uma atualização do olhar que se transforma, que se
amplia a cada nova leitura. (RANGEL, 2004).

As seis releituras criadas pelo autor foram idealizadas para seguir o conceito
de Cinemagrafia (Cinemagraph = cinema + photograph), termo usado para se referir
a um estilo de GIF em looping geralmente derivado de uma imagem estática.
Segundo Esteves (2017), essa técnica foi inventada em 2011 pelos estadunidenses
Kevin Burg e Jamie Beck, criando um novo modelo para fotografia e imagens digitais
ao juntarem com o motion design. Vários outros exemplos podem ser achados na
internet onde as cenas são as mais diversas, podendo ser o trecho de algum
filme/série ou simplesmente uma uma xícara de café com fumaça, uma rua com
carros, chuva, água, fogo, luzes piscando, entre outros.

Para o período medieval, escolheu-se o mural "Cristo em Majestade" (artista


incógnito) para completar a dupla da terceira seção da exposição virtual digital. Esse
afresco foi pintado na abside da igreja de São Clemente de Tahull, na Catalunha, e
tem em seu centro a figura de Jesus cercado de anjos (figura 69). Essa obra foi
selecionada porque expressa bem as duas características essenciais da pintura
românica: a deformação e o colorismo.

A deformação, na verdade, traduzia os sentimentos religiosos e a


interpretação mística que o artista fazia da realidade. A figura de Cristo, por
exemplo, era sempre maior que as demais. Sua mão e seu braço, no gesto
de abençoar, tinham proporções intencionalmente exageradas para que o
gesto fosse valorizado por quem contemplasse a pintura. Os olhos, muito
abertos e expressivos, evidenciavam sua intensa vida espiritual. O
colorismo traduziu-se no emprego de cores chapadas, uniformes, sem
preocupação com meios-tons ou jogos de luz e sombra, pois não havia a
menor intenção de imitar a natureza. (PROENÇA, 2007, p. 71).
106

Figura 69 - "Cristo em Majestade" (autor desconhecido), afresco na Espanha, 1123

Fonte: Proença, 2007.

Para a confecção de sua releitura, resolveu-se cortar os anjos e deixar um


recorte oval só aparecendo a imagem central de Jesus. Através do Photoshop,
removeu-se as rachaduras e utilizou-se a ferramenta de máscara para separar os
elementos que se mexeriam: seu braço erguido, a auréola e pálpebra dos seus
olhos. Depois, com o auxílio do After Effects criou-se os movimentos de: vai e vem
com o braço, rotação da auréola e fechamento dos olhos.
107

Assim como a iluminura pró-gótica animada pela Citlali Reyes, desejou-se


fazer um motion cujo FPS (quadros por segundo) fosse bem baixo para combinar
com a estética mais arcaica e engessada que a pintura estática transmite (figura 70).

Figura 70 - Frames da releitura do afresco "Cristo em Majestade", 2023

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para a Idade Moderna, escolheu-se "O Balanço" de Jean-Honoré Fragonard.


Essa pintura foi feita sob encomenda para o marquês de Véri e incorpora o ideário
da futilidade das cortes com os seus universos ocultos por entre as florestas e
jardins privados de palácios. Ela é provavelmente uma das que melhor representam
a sensação de movimento, possuindo inúmeros detalhes minuciosos:

Retrata uma jovem elegante, usando um vestido cheio de babados rosa e


branco, que reproduzem o movimento conforme a brisa o levanta, no
vai-e-vem do balanço. [...] Esse aspecto denso dos objetos que circundam a
personagem feminina acaba, por fim, servindo para emoldurá-la, dando a
ela essa finalidade de idealização. [...] O trabalho de Fragonard é fazer de O
balanço a presença de diversos olhares contemplando e desejando a figura
feminina: o jovem sentado na relva, o homem puxando a corda para
balançá-la, os cupidos em forma de escultura rodeando-a. Mesmo a árvore
tenta tocá-la com seus troncos insinuantes, e a nuvem se volta à mulher
como se tivesse parado para olhá-la. [...] O detalhe do sapato é o elemento
mais importante na trama do quadro. Toda a toilette arranjada da
personagem, mais o fato de que se deixa ver os pés e o calcanhar ganhava
conotação erótica no século XVIII. Somado a isso, a presença do jovem aos
pés dela espiando por debaixo da saia enfatiza o tom libertino que
Fragonard deseja dar à obra. (FRANCONETI, 2017).
108

Figura 71 - "O Balanço", Jean-Honoré Fragonard, óleo sobre tela, 1766

Fonte: ARTRIANON54.

54
Disponível em:
<https://artrianon.com/2017/11/22/obra-de-arte-da-semana-o-balanco-de-jean-honore-fragonard/>.
Acesso em: 24 maio 2023.
109

O processo produtivo da releitura em motion foi bastante semelhante ao


afresco anterior. Continuou-se com a intenção original de Fragonard em deixar toda
a atenção para a moça ao resolver animar somente ela, mas optou-se por retirar o
homem que estava puxando seu balanço por trás. Fez-se então o recorte da mesma
com o seu sapato, preenchendo-se o fundo vazio por trás com o Photoshop. Depois,
migrou-se para o After Effects conseguir movê-la conforme balança na árvore.
Dessa vez, o FPS foi bem maior, visto que nesse tempo a pintura já havia ganhado
uma estética realista, fazendo com que o seu movimento condizesse com esse fato.

Figura 72 - Frames da releitura de "O Balanço", 2023

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para a Idade Contemporânea, quatro releituras foram realizadas pelo autor. A


primeira delas foi "A Noite Estrelada"55 de Vincent van Gogh (figura 73). Esse quadro
retrata a paisagem pouco antes do nascer do sol, observada da janela do seu quarto
enquanto o artista esteve no hospício de Saint Rémy de Provence. A pintura
transmite seu estado psicológico agitado por meio do dinamismo no pincel.

As pinceladas rápidas em sentido horário dão uma sensação de


profundidade e movimento ao céu. [...] Com movimentos curtos do pincel o
artista constrói um céu inquieto, revelando suas próprias perturbações
mentais e traçando um retrato incomum do firmamento. A pequena vila
representada na quadro de Van Gogh não fazia parte da paisagem vista
pelo seu quarto. Alguns críticos acreditam que ela é uma representação da
vila na qual o pintor passou a infância. [...] As estrelas são um dos
elementos mais importantes do quadro. Além da sua beleza plástica, elas
são representativas pois demonstram uma grande abstração. (AIDAR, 2017)

55
Como informado anteriormente, "A Grande Onda de Kanagawa" inspirou muitos pintores ocidentais
do século XIX e XX. Van Gogh foi um deles, tanto é que — segundo o site Aventuras na História — o
artista usou o mesmo pigmento azul da Prússia nesta obra. Disponível em:
<https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/grande-onda-de-kanagawa-5-curiosidades
-sobre-obra.phtml>. Acesso em: 03 junho 2023.
110

Figura 73 - "A Noite Estrelada", Vincent van Gogh, óleo sobre tela, 1889

Fonte: Cultura Genial56.

A sua releitura se deu através do aplicativo Motionleap da empresa Lightricks.


O mesmo fornece uma ferramenta que permite a seleção da região que se deseja
animar. Com o próprio dedo, passa-se sobre a área e, se precisar, há uma borracha
para desfazer ações indesejadas.

Em seguida, aplica-se as linhas de direção do movimento, podendo escolher


quantas quiser. Buscou-se seguir as pinceladas de Van Gogh o mais fidedigno
possível, concedendo ainda mais vida ao céu, mas mantendo a calmaria da vila. A
figura 74 abaixo apresenta um print de como esse processo foi feito.

56
Disponível em:
<https://www.culturagenial.com/quadro-a-noite-estrelada-de-vincent-van-gogh/>.
Acesso em: 25 maio 2023.
111

Figura 74 - Print do processo de produção da releitura de "A Noite Estrelada", 2023

Fonte: Elaborado pelo autor.

A próxima obra contemporânea foi feita apenas quatro anos depois pelo
norueguês Edvard Munch: a caríssima57 "O Grito" (figura 75). Pintado em Berlim, o
pintor mostra influência notável de outros três artistas — Van Gogh,
Toulouse-Lautrec e Gauguin — ao desenvolver esse estilo expressionista.

Para Janson (2009, p. 352):

O quadro é uma imagem do medo, o medo aterrador e irracional que


sentimos durante um pesadelo. Munch visualiza essa experiência sem o
auxílio de aparições assustadoras, e é por essa razão que sua obra é tanto
mais convincente. O ritmo das linhas longas e sinuosas parece fazer com
que o eco provocado pelo grito reverbere por todos os cantos do quadro,
transformando o céu e a terra em uma grande e sonora cena de horror.

57
De acordo com o G1, esta obra quebrou o recorde de quadro mais caro vendido em um leilão (US$
120 milhões), superando Picasso. Disponível em:
<https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/05/com-us-120-milhoes-quadro-o-grito-quebra-recorde-e
m-leilao.html>. Acesso em: 26 maio 2023.
112

Figura 75 - "O Grito", Edvard Munch, óleo sobre tela, 1893

Fonte: Janson, 2009.


113

O desenvolvimento dessa releitura foi exatamente o mesmo que "A Noite


Estrelada". Com o auxílio do Motionleap, selecionou-se toda a paisagem atrás do
deck/ponte de madeira — integrando o céu, a vegetação e o lago/mar — e deixando
a pessoa no primeiro plano totalmente estática. Foi uma decisão artística do autor
em representar o desespero interno silencioso (figura 76).

Figura 76 - Print do processo de produção da releitura de "O Grito", 2023

Fonte: Elaborado pelo autor.


114

A quarta pintura escolhida foi para representar o país de origem do autor:


"Abaporu" de Tarsila do Amaral. Essa tela tem esse nome porque — segundo a
própria artista — tem origem indígena e significa "antropófago". Foi com as ideias
sugeridas por essa tela que Oswald de Andrade elaborou a Teoria da Antropofagia,
resultando no Manifesto Antropófago, publicado no primeiro número da Revista de
Antropofagia, em 1928 (figura 77).

A teoria antropofágica propunha que os artistas brasileiros conhecessem os


movimentos estéticos modernos europeus, mas criassem uma arte com
feição brasileira. De acordo com essa proposta, para ser artista moderno no
Brasil não bastava seguir as tendências europeias, era preciso criar algo
enraizado na cultura do país. (PROENÇA, 2007, p. 303).

Figura 77 - Impressão do Manifesto Antropófago, 1928

Fonte: Incinerrante58.

58
Disponível em:
<https://incinerrante.com/manifesto-antropofago-devoragem/>.
Acesso em: 28 maio 2023.
115

Figura 78 - "Abaporu", Tarsila do Amaral, óleo sobre tela, 1928

Fonte: Elaborado pelo autor.

A sua releitura foi diferente de todas as outras, pois como é retratada uma
pessoa sentada esperando estaticamente, pensou-se em mostrar o tempo passando
no fundo com o anoitecer e o amanhecer representados pela entrada e saída do sol.
116

Para criar esse efeito, fez-se uma máscara para dividir todo o corpo do
restante do cenário pelo Photoshop. Ainda nesse software, recortou-se o sol e
alterou-se o nível de exposição e brilho, aplicando-se um filtro azulado e adicionando
pequenos pontos brancos para remeter-se às estrelas. Indo para o After Effects,
mesclou-se essas duas versões dia/noite com um fade, de modo que desse a
sensação de crepúsculo e alvorada (figura 79).

Figura 79 - Frames da releitura de "Abaporu", 2023

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para fechar a exposição, escolheu-se o símbolo do Pop Art: "Díptico Marilyn"


de Andy Warhol. Nesse trabalho de serigrafia, realizado com base em uma fotografia
promocional da atriz no filme Niagara ("Torrentes de Paixão"), o artista reproduz o
rosto de Marilyn Monroe em sequência (figura 80).

Apesar das variações de cor, os traços da atriz permanecem invariáveis.


Uma possibilidade de compreensão dessa obra é considerar que a intenção
do artista foi mostrar que, assim como os objetos produzidos em série, a
imagem das celebridades também é manipulada para o consumo do grande
público. (PROENÇA, 2007, p. 349).

Sua releitura foi certamente a menos trabalhosa, pois bastou-se criar uma
moldura 2x2 direto no After Effects com a mesma imagem quatro vezes,
alterando-se apenas o valor da matiz de cada uma e elevando o nível da saturação
para as cores ficarem ainda mais vibrantes e com aspecto neon (figura 81).
117

Figura 80 - "Díptico Marilyn", Andy Warhol, serigrafia, 1962

Fonte: Estadão59.

Figura 81 - Frames da releitura de "Díptico Marilyn", 2023

Fonte: Elaborado pelo autor.

3.2.2 Infográfico do storyline

De acordo com Dean (2002), a redação do storyline para uma exposição


tradicional consiste em um documento narrativo, um esboço da exposição, uma lista
de títulos, subtítulos e texto, e uma lista de objetos da coleção. Em outras palavras,
praticamente equivale à composição completa do capítulo 3 deste relatório.

Com isso, modificou-se essa parte de sua metodologia para o storyline


condensar o acervo exposto em um único infográfico resumido:

59
Disponível em:
<https://www.estadao.com.br/cultura/artes/sinonimo-de-pop-art-andy-warhol-ganha-retrospectiva-que-
reune-mais-de-350-obras/>. Acesso em: 26 maio 2023.
118

Figura 82 - Infográfico do storyline com a linha do tempo

Fonte: Elaborado pelo autor.


119

3.2.3 Estrutura da Exposição virtual digital

3.2.3.1 Identidade visual

Ao pesquisar por referências estéticas para a identidade visual da exposição


virtual digital, teve-se em mente criar algo que fosse simples, sofisticado e
atemporal. Afinal, já que foram expostas obras dos mais variados estilos, cores e
períodos históricos, não seria viável uma vertente maximalista, multicolorida e com
muita informação. Selecionou-se então alguns exemplos (figura 83) para solidificar a
ideia e prestar-se como diretriz para os próximos passos..

Figura 83 - Painel de referências

Fonte: Elaborado pelo autor.

Como pode ser visto, buscou-se por alguns brandings de museus tradicionais
e históricos, bem como referências que usassem Fibonacci nas suas identidades.
120

Para a tipografia, queria-se uma fonte principal que fosse serifada e


semelhante aos exemplos do painel, cuja família apresentasse variedade nos pesos
e que aludisse ao tema clássico. Tais exigências fizeram chegar na Trajan,
desenvolvida pelos tipógrafos Carol Twombly e Robert Slimbach da Adobe Originals
em 1989, ela é uma letra elegante e bem adequada para trabalhos em livros,
revistas, cartazes e outdoors, sendo inspirada na inscrição na base da coluna de
Trajano em Roma, que é um exemplo de formas de letras clássicas romanas,
atingindo seu auge de refinamento no século I d.C. Seu constante uso em filmes e
séries renomadas evidencia esse caráter mais eclético (figura 84).

Figura 84 - Fonte Trajan em séries e filmes consagrados

Fonte: Rent a font60.

Já na fonte secundária, pretendeu-se uma tipografia sem serifa para que


fosse mais fácil de ler em tamanhos menores dos textos. Escolheu-se a fonte Inter
de Rasmus Andersson no Google Fonts, uma família de fontes variáveis
cuidadosamente elaborada e projetada para telas de computador.
60
Disponível em: <https://rentafont.com/blog/guide-to-10-font-characteristics-and-their-use-in-design>.
Acesso em: 30 abril 2023.
121

Tendo-se agora as fontes principal e secundária definidas, a única decisão


que faltava era a paleta cromática. Desde o início, cogitava-se que a mesma fosse
apenas bicolor, e depois da montagem do painel teve-se a certeza de que as únicas
duas cores seriam: o preto puro de fundo e o amarelo claro no restante (figura 85). A
cor preta foi optada pensando na tela de quem fosse visitar a exposição virtual
digital, pois o brilho demasiado comprometeria a visão e poderia tirar o foco do
principal, que é a releitura em si. Optou-se pela cor amarela clara por um motivo
parecido. Se fosse tudo literalmente preto no branco puro, cansaria demais os olhos
com o quão intenso seria o contraste de quem fosse olhar.

Figura 85 - Paleta cromática

Fonte: Elaborado pelo autor.

Entrando na geração de alternativas, tentou-se fazer uma espécie de logotipo


para o projeto (figura 86), mas devido ao fato do título ser muito extenso,
considerou-se criar um lettering em diferentes pesos da Trajan (figura 87).

Figura 86 - Geração de alternativas como logotipo

Fonte: Elaborado pelo autor.


122

Figura 87 - Geração de alternativas como lettering

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para o lettering, pensou-se em ir sob uma influência Art Deco, unindo o texto
com grafismos de linha, moldura e espiral áurea. Segundo a semiótica do filósofo
americano Charles Peirce e de seu seguidor Charles Morris, as linhas inferiores na
palavra "movimento" são signos que podem ser vistos como índices, pois possuem
proximidade com a ideia da movimentação; as linhas superiores na letra "A" — que
configuram um semi triângulo — formam um signo que pode-se considerar como
símbolo porque se associa à abordagem triangular exercida no projeto; por último, a
moldura em volta da palavra "arte" é um signo classificado como ícone, pois
representa o quadro de uma pintura.

Figura 88 - Grid da alternativa escolhida

Fonte: Elaborado pelo autor.


123

A figura 88 apresenta a opção preferida com a aplicação do grid na mesma


proporção áurea que o espiral colado na moldura. Nessa versão, a junção da linha
superior estendida com a justificação de todas as palavras alinhadas verticalmente
forma um bloco visual que segue a Lei do fechamento/proximidade de Gestalt.

Por fim, nas laterais foi inserido um desenho em contorno das mãos de Adão
e Deus pintados por Michelangelo na Capela Sistina, finalizando o conjunto com um
efeito suave de brilho externo do Illustrator (figura 89).

Figura 89 - Versão final do lettering

Fonte: Elaborado pelo autor.

3.2.3.2 Cenografia e ambientação

A plataforma Artsteps fornece na sua versão sem custos um espaço virtual


customizável de 1.156 m2 (34 x 34 metros). É possível construir quantas paredes e
portas quiser dentro deste perímetro (figura 90). Assim como a divisão temporal das
pinturas, a estrutura do ambiente expositivo também vai seguir harmonicamente a
ordem de Fibonacci: com a primeira sala (Pré-história) e a segunda (Antiguidade)
tendo 16 m2, a terceira (Idade Média) com 64 m2, a quarta (Idade Moderna) com 144
m2 e a quinta (Idade Contemporânea) com 400 m2. Assim, o percurso do visitante
traceja uma espiral áurea, com o ponto de partida indicado nas figuras 91 e 92.
124

Figura 90 - Espaço padrão da versão gratuita do Artsteps

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 91 - Visão superior da planta baixa da exposição

Fonte: Elaborado pelo autor.


125

Figura 92 - Visão em perspectiva da exposição

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 93 - Cenografia da exposição

Fonte: Elaborado pelo autor.


126

Feito isso, pintou-se as paredes e o teto de preto puro em todas as salas,


colocando-se um chão cuja textura simula um carpete cinza. Através do site
Sketchfab — banco gratuito de arquivos 3D — baixou-se alguns elementos
cenográficos típicos de cada período histórico. Infelizmente, existe uma limitação de
tamanho (4mb) para upload de todos os tipos de mídia (imagens, vídeos e objetos
3D), o que prejudicou bastante e acarretou a escassez de ambientação na quinta
sala (figura 93). Contudo, como é uma exposição de longa duração, cada vez mais
poderão ser incluídos novos objetos para enriquecer o espaço expositivo.

3.2.4 Plano educativo

O plano educativo consistiu em banners interativos na entrada de cada


módulo expositivo. Eles também servem de sinalização e acompanham um mosaico
de 9 pinturas respectivas de suas épocas. Ao clicá-los, o visitante tem acesso a um
mini texto resumindo todo o período em questão, cujo conteúdo informativo foi
totalmente extraído e condensado da fundamentação teórica presente no capítulo 2.
No apêndice B pode-se conferir os banners e os textos de cada tempo histórico.

3.2.5 Plano de marketing

Para um projeto que almeja popularizar a História da Arte, é primordial que


seja feito um plano promocional para o mesmo. Mesmo que não haja um nicho muito
específico de pessoas para uma exposição virtual digital sobre um assunto tão
abrangente quanto esse, no marketing deve-se segmentar um público-alvo para que
a campanha publicitária seja mais assertiva.

Pensando nisso, estabeleceu-se os estudantes universitários da UFSC como


sendo a audiência em foco para a divulgação física. Teve-se a estratégia de colagem
de cartazes ao redor do Centro de Comunicação e Eventos. A publicidade faria uma
127

referência indireta ao jornal parisiense que noticiou o roubo da Mona Lisa e fez com
que a mesma adquirisse a fama global, em 1911 (figura 94).

Figura 94 - Manchete do jornal parisiense noticiando o roubo da Mona Lisa em 1911

Fonte: Rent a font61.

61
Disponível em: <https://segredosdeparis.com/o-incrivel-roubo-da-mona-lisa-no-louvre/>.
Acesso em: 15 maio 2023.
128

A figura 95 mostra a peça gerada por inspiração deste furto acontecido, só


que convertido em uma temática de fuga de dentro do próprio quadro. Como se
tratam de releituras em movimento, fez-se a brincadeira de simular que a Mona Lisa
e o Abaporu se moveram e "fugiram" da tela na qual estão inseridos. Além do
caráter cômico, essa estratégia chama a atenção de quem olha pela linguagem
exacerbada de urgência, deixando o espectador curioso para saber mais sobre,
fazendo com que inevitavelmente acesse o link pelo QR Code.

Figura 95 - Cartaz de divulgação física da exposição

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quanto ao marketing digital, será lançada uma trend no aplicativo de vídeos


curtos Tiktok com a tag "Arrume-se comigo para ir a uma exposição de arte". Tal
estratégia visa promover de maneira orgânica ao aproveitar o potencial propagativo
e viral dessa rede, incentivando desconhecidos a participar e visitar o projeto.
129

3.3 Fase Funcional

3.3.1 Resultado Final

Acesse o link da exposição abaixo:

Figura 96 - Print da sala da Pré-História

Fonte: Elaborado pelo autor.


130

Figura 97 - Print final da sala da Antiguidade com vista para o banner da Idade Média

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 98 - Print final da sala da Idade Média

Fonte: Elaborado pelo autor.


131

Figura 99 - Print final da sala da Idade Moderna

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 100 - Print final da sala da Idade Contemporânea

Fonte: Elaborado pelo autor.

3.3.2 Visita guiada

A visita guiada é um passo importante nas exposições físicas tradicionais por


oferecer conhecimento especializado, interpretações mais aprofundadas, orientação
eficiente, experiências interativas e um contexto mais rico. Ela enriquece a
132

experiência de quem visita, promovendo maior compreensão das obras de arte e


contribuindo para uma apreciação mais completa da exposição como um todo.

No entanto, com o ambiente virtual e digital do Artsteps isso é um pouco


diferente e bem mais prático. Na etapa 4 da plataforma, é disponibilizado uma
ferramenta exclusiva para combinar pontos estratégicos e gerar uma trajetória
automática. Com isso, o visitante tem a opção de andar pela exposição dando
cliques no chão ou só avançando pela guia automatizada. O apêndice C consta uma
gravação simulativa de como se comporta uma visita guiada por esse programa.

3.4 Fase Avaliativa

Ter a avaliação do visitante no final de uma exposição desempenha um papel


fundamental na compreensão do impacto e na análise dos resultados obtidos com a
mostra. Essa fase final permite que os organizadores, curadores e participantes da
exposição reflitam sobre os objetivos propostos, examinem o engajamento do
público e avaliem o alcance dos conceitos e mensagens transmitidas. Através da
coleta de feedback, observações e análises críticas, a fase avaliativa oferece uma
oportunidade valiosa de aprendizado e aprimoramento para futuras exposições.

Hiperlinks não estão liberados para exposições publicadas de graça no


Artsteps. Por isso, ao lado da ficha técnica na parede da sala contemporânea,
disponibilizou-se um QR Code para ser escaneado pelo frequentador quando o
mesmo terminar a sua visita. Ao ler o código, o usuário é transferido para um
formulário do Google com questões objetivas para uma avaliação rápida, terminando
com uma última sessão opcional para sugestão por extenso anônima. O link e o
texto se encontram no apêndice D e as primeiras estatísticas no apêndice E.
133

Uma ideia torna-se


uma força material
quando ganha as
massas organizadas.

Karl Marx
134

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

"A História da Arte em Movimento" foi um projeto sobre uma exposição virtual
digital que apresentou releituras animadas de peças pitorescas originalmente
estáticas, cujas origens advém de movimentos artísticos que marcaram a
humanidade para sempre. Seu propósito predominante foi reacender algo que por
tanto tempo se encontrou apagado no interior das pessoas: vontade em querer
saber mais sobre a História da Arte ao visitar exposições.

Todas as fases, etapas, estudos e análises foram essenciais para tornar este
trabalho possível. Diante do apoio de muitos estudiosos, sobretudo historiadores,
fundamentou-se intensivamente no conhecimento de milhares de anos ao pesquisar
dezenas de vertentes estéticas; analisou-se exposições e museus físicos e digitais
ao redor de todo o mundo; aprofundou-se na área do motion design, descobrindo
novas técnicas e aperfeiçoando as habilidades outrora adquiridas; aplicou-se uma
metodologia híbrida de David Dean e Ana Mae Barbosa, que fez o autor se adentrar
na arte de se expor e de se reler, aprendendo na prática como uma única pintura
pode conter múltiplos significados guardados.

Sobre as dificuldades encontradas durante o projeto, cabe ressaltar o fato de


tratar-se de um tema bastante diferente do habitual no design. Na verdade, agrupar
todas essas áreas de conhecimento foi algo até então inédito para o autor. Isso
dificultou demasiadamente todo o processo produtivo, pois nada foi seguido em linha
reta. Teve-se que ir e voltar várias vezes nos conceitos para que fosse atingido um
resultado satisfatório. Além dos dilemas básicos nas decisões de curadoria,
enfrentou-se muitos percalços por não existir uma metodologia apropriada para o
ambiente expositivo virtual e digital. Isso refletiu diretamente nos prazos estipulados
para cada capítulo, fazendo com que a fundamentação teórica demorasse mais do
que o triplo do tempo estimado.

No mais, mesmo com todos os problemas, pode-se dizer que os objetivos


deste projeto, geral e específicos, foram alcançados com sucesso, pois
conseguiu-se: realizar o estudo cronológico sobre os contextos históricos e aspectos
técnicos da arte; selecionar uma pintura que represente cada um dos principais
135

movimentos artísticos da história; fazer releituras animadas e expor também as de


terceiros; pesquisar e identificar soluções gráficas para uma exposição de arte na
internet; criar uma identidade visual; definir um plano educativo para informar sobre
o conteúdo e um plano de marketing para divulgar; e gerar um questionário online,
que registrou e mensurou a efetividade do projeto (vide apêndice E).

4.1 Possíveis desdobramentos futuros

A disposição da exposição para este projeto (1, 1, 2, 3, 5) foi uma versão


compacta da História da Arte, mas essa ideia de Fibonacci para estrutura expositiva
é — assim como a sequência numérica — infinitamente grandiosa. Por exemplo,
uma alternativa ainda maior seria expor: 1 do Paleolítico; 1 do Neolítico; 2 da
Antiguidade (Egito e Grécia); 3 da Idade Média (Bizantino, Românico e Gótico); 5 da
Idade Moderna (Renascimento, Alta Renascença, Maneirismo, Barroco e Rococó); e
8 da Idade Contemporânea (Ukiyo-e, Romantismo, Impressionismo, Expressionismo,
Cubismo, Abstracionismo, Surrealismo e Pop Art).

Além disso, mudando para um temática decolonial, o modelo poderia


peculiarizar regiões menos exploradas com a aplicação de Fibonacci na História da
Arte latino-americana, compreendendo os povos pré-colombianos (astecas, incas e
maias). Isso abriria um grandioso leque de novas possibilidades caso expandisse
também para outros tipos de artes plásticas, como a escultura e a tecelagem.

A respeito das implementações adicionais, algumas haviam sido planejadas


para serem executadas dentro do escopo do presente PCC, porém as limitações de
tempo impediram que todas as intenções fossem realizadas. Dentre os planos
vetados, estão: a inclusão de versões em áudio descritivo de todos os conteúdos
expositivos para promover acessibilidade aos indivíduos com deficiência auditiva,
podendo incluir sons e músicas característicos de cada época histórica para uma
maior imersão geral; e a tradução dos textos expositivos para outros idiomas, de
modo que alcance um público ainda maior e mais diversificado culturalmente.
136

Apesar deste projeto se situar no contexto virtual, nada o impede de ser


concretizado para um local físico se receber algum tipo de verba (como bolsas,
editais para auxílio financeiro ou propostas empresariais), pois as releituras
animadas podem ser expostas por meio de monitores, projetores ou até mesmo
impressão em painéis lenticulares, uma solução em que não há a necessidade de
energia elétrica para fazer com que as obras se movam.

Por fim, a arte é um direito de todos e para todos. Esse projeto não teve o
intuito utópico de salvar o mundo da desigualdade social, mas sim de somar como
mais uma iniciativa válida em prol da democratização do acesso às exposições de
arte. É preciso mais do que nunca unir forças para tornar a arte difundida entre todas
as classes da sociedade, incluindo as mais periféricas. Afinal, o movimento no título
nunca teve somente o sentido de motion. O movimento é também o do coletivo.
137

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142

APÊNDICES

Apêndice A - Autorizações do uso das obras


143
144
145
146

Apêndice B - Banners e parágrafos do plano educativo

A Era Ágrafa, que precedeu a invenção da escrita, é conhecida por meio dos vestígios
deixados pelos seres humanos pré-históricos, como instrumentos, armas, pinturas e ornamentos. A
arte desempenhou um papel importante na expressão e comunicação durante esse tempo,
especialmente por meio das pinturas rupestres. A Pré-História foi dividida em períodos, Paleolítico e o
Neolítico, com diferentes características artísticas. No Paleolítico, as primeiras manifestações
artísticas registradas eram simples e utilizavam técnicas como o sopro de pó colorido sobre a mão
para criar a silhueta em negativo. Os desenhos e pinturas do período apresentavam naturalismo,
reproduzindo a natureza conforme a visão dos artistas. Já no Neolítico, houve uma revolução com o
início da agricultura e da domesticação de animais, levando a mudanças profundas na sociedade e
na arte. O estilo naturalista deu lugar a formas mais simples e geométricas, sugerindo movimento por
meio de imagens fixas.
147

A invenção da escrita na Idade Antiga trouxe o desenvolvimento da pintura como forma de


expressão cultural e registro histórico. Diferentes civilizações, como os egípcios, gregos e romanos,
possuíam suas próprias tradições artísticas. Os egípcios enfatizavam a precisão geométrica e
utilizavam cores brilhantes em pinturas estilizadas e simbólicas, presentes principalmente em túmulos
e templos. Na Grécia, a pintura era usada para decorar construções e vasos, valorizando a beleza e a
harmonia das formas. Os romanos, especialmente em Pompéia e Herculano, possuíam diferentes
estilos de decoração de paredes, desde a imitação de placas de mármore até a representação fiel da
realidade.
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O período medieval foi marcado por importantes mudanças religiosas e culturais, como a Arte
Bizantina, Românica e Gótica. Na Arte Bizantina, surgiram os ícones, quadros luxuosos que
representavam figuras sagradas, utilizando técnicas de pintura com douramento e uso de jóias e
pedras preciosas. Já na Arte Românica, o imperador Carlos Magno impulsionou o avanço cultural,
unindo o poder real e papal. Os artistas românicos buscavam expressar sentimentos em suas obras,
transmitindo a mensagem da história sagrada. Na Arte Gótica, as igrejas ganharam destaque com
arcos pontiagudos e vitrais coloridos, enquanto a pintura se tornou mais realista, com uso de sombras
e cores suaves. Giotto di Bondone foi um pintor florentino influente nesse período. Os irmãos Van
Eyck, no Gótico Tardio, aprimoraram a tinta a óleo, criando obras detalhadas e realistas.
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Durante a Renascença, a Itália desempenhou um papel fundamental no progresso das artes,


ciências, sociedade e política, estabelecendo os alicerces das civilizações ocidentais. Nesse período,
a pintura renascentista emergiu, com artistas talentosos como Leonardo da Vinci, Michelangelo e
Rafael Sanzio, caracterizada por elementos como perspectiva, claro-escuro, realismo e liberdade
artística. Posteriormente, surgiu o Maneirismo como uma reação ao Renascimento, apresentando
características como multidões comprimidas em espaços irreais, corpos alongados e formas
contorcidas. O estilo Barroco foi uma resposta aos conflitos religiosos da Reforma Protestante,
destacando-se pelo uso dramático de luz e sombra. Já o Rococó parisiense veio depois, refletindo a
vida aristocrática hedonista, com composições exuberantes e temas galantes.
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No final do século XVIII, a humanidade experimentou um período marcado pela liberdade,


igualdade e fraternidade, que impulsionou o desenvolvimento da arte. O Neoclassicismo resgatou a
figura humana idealizada, com proporções perfeitas e expressões serenas, enquanto o Romantismo
enfatizou a imaginação e as emoções, valorizando paisagens e retratando momentos históricos. O
Realismo, por sua vez, retratou a realidade de forma objetiva, abordando temas do cotidiano com
uma abordagem crítica ou social. O Impressionismo revolucionou a pintura ao capturar a luz e o
movimento com pinceladas rápidas, buscando registrar as constantes alterações das cores da
natureza e capturar a atmosfera do momento. O Pós-impressionismo unificou artistas que exploraram
novas associações simbólicas, representando suas realidades internas de forma duradoura. No
século XX, surgiram movimentos como o Art Noveau, que integrava a produção em massa às artes
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manuais, e o Fauvismo, que valorizava a intensidade das cores puras e a simplificação das formas,
rompendo com as representações tradicionais da realidade. O Expressionismo surgiu como uma
reação ao Impressionismo na Alemanha, buscando uma arte subjetiva que refletisse emoções
humanas como angústia e alienação. Em seguida, o Cubismo revolucionou a arte com a
desconstrução de formas e o uso de múltiplos planos geométricos. O Cubismo Analítico,
desenvolvido por Picasso e Braque, fragmentou os objetos, enquanto o Cubismo Sintético buscou
tornar as figuras novamente reconhecíveis. O Abstracionismo surgiu com tendências informais e
geométricas, explorando a abstração nas formas e cores. Na década de 1920, a Semana de Arte
Moderna no Brasil marcou o surgimento de movimentos como Pau-Brasil, Verde-Amarelo e
Antropofágico. Nos Estados Unidos, a Pop Art rompeu com a distinção entre alta e baixa cultura,
incorporando elementos do cotidiano e da sociedade consumista.
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Apêndice C - Gravação da visita guiada

O vídeo gravado se encontra nesta pasta.


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Apêndice D - Modelo do questionário


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Apêndice E - Estatísticas das visitas


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