Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Texto de Apoio F. Africana, Esz 2022
Texto de Apoio F. Africana, Esz 2022
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
PROVINCIA DE TETE
GOVERNO DO DISTRITO DE ZUMBU
Escola Secundária de Zumbo
Filosofia 12ª Classe, III trimestre
Unidade Temática III: Filosofia Africana
Por Ilustre Almirante Francisco Escrivão1
1. Filosofia Africana
Filosofia Africana- é o conjunto de pensamento escrito por africanos com vista à emancipação
e reconhecimento do homem negro, quer dentro ou fora de África.
A agravante disto é que na altura, os negros não tinham respostas imediatas e escritas para
contrapor as teses ou pensamento dos europeus. A teologia, a Filosofia e o Direito foram
instrumentos usados neste processo de colonização. A teologia definiu o povo negro como
descendente de Cham, um homem que viu a nudez do pai. Constata-se que o homem negro
aparece como símbolo de maldição ou desgraça. Daí concluíram os europeus que a raça negra
pertenceria a geração dos condenados de Deus, os condenados da terra.
Esta análise sobre o universo do povo negro, fez com que no capítulo da Filosofia, François
Marie Arouet, que adoptou o nome de Voltaire na sua obra História do século XIV, afirmasse
que o povo mais elevado é o francês e o mais baixo é o africano. Jean- Jacques Rousseau
sustenta a ideia de que os africanos são bons selvagens. Para Hegel os africanos são povos
sem história e por consequência sem humanidade. Enquanto Immanuel Kant vai dizer que os
africanos são povos sem interesse. Lucien Lévy-Bruhl defende que os africanos têm uma
mentalidade pré-lógica, ou seja, pensam pouco. Ao passo que Charles de Montesquieu veio a
afirmar que os africanos são povos sem Leis. Por sua vez, os antropólogos Morgan e Tylor
avançaram a ideia de que África é uma sociedade morta.
No âmbito de Direito, o monarca francês Luís XIV escreveu O Código Negro, espécie exaltação
da supremacia de direitos dos brancos ou senhores sobre os negros.
Por isso, mais tarde as ciências sociais e humanas desenvolveram novas abordagens,
incorporando uma visão diferente em relação as culturas não-ocidentais. Passou-se a
defender que não existe um povo sem cultura. Portanto, a cultura de cada povo representa a
civilização de um determinado povo, independentemente da situação geográfica, histórica,
social e económica. Porém, o ocidentalismo marcado pelas descriminações não só influenciou
a mentalidade europeia, como também criou sequelas na mentalidade do próprio povo negro.
A auto-estima dos negros ficou abalada severamente, fazendo com que o próprio negro se
conformasse da sua inferioridade.
Actividade
3. Para Hegel os africanos são povos sem história e por consequência sem humanidade. Que
apreciação argumentativa faz diante deste posicionamento hegeliano?
Porém, a questão que os críticos levantam é se podemos falar da Química ou Física africanas
da mesma maneira que os filósofos acima descritos falam da filosofia africana. Os filósofos
críticos: Hountondji, Franz Chahai, E. Boulaga, M. Towa, Oruka, Weredu, entre outros, negam a
ideia da existência de filosofia africana. O problema fundamental que se coloca é mais o de
objecto de estudo do que a designação em si.
4
- Os estudos quando eram feitos por africanistas não-africanos, denegriam o africano. Como é
o exemplo de Placide Tempels (de Bélgica) ao defender que os africanos tinham uma lógica
menor;
- O Sacerdote Belga Placide Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, mas diferente na
forma e no conteúdo da filosofia europeia. Por estas e mais reflexões influenciaram para que
os críticos negassem à ideia de existência de filosofia africana. Entretanto há uma lição
positiva nos estudos de Tempels, pois contribuiram sobremaneira para a redefinição do
relacionamento entre o ocidente e o povo negro.
Paulin Hountondji (Benin) é um dos grandes críticos e vale-se dos seguintes argumentos
expressos na obra African Philosophy, Mythe and Reality, de 1974:
1. Não podemos aceitar que haja uma filosofia africana que claramente nega a filosofia em
geral;
3. Enquanto disciplina científica, a filosofia sempre emerge em oposição aos mitos, as religiões
tradicionais e ao seu respectivo conservadorismo e dogmatismo. Hountondji sustenta que,
tudo que é dogmático não pode ser filosófico. E prossegue advertindo que a relação entre a
filosofia, os mitos e as religiões não é arquivista ou arqueológica, mas de continuidade e
transformação consciente e de crítica contínua da tradição de um povo frente aos desafios do
futuro. Por isso, para Hountondji não faz sentido querer que a filosofia africana exista.
4. Todo projecto de edificar uma filosofia africana é um projecto europeu que tenta sufocar a
capacidade criativa dos africanos porque esperam que os filósofos africanos sejam simples
activistas das suas tradições culturais, em vez de pensadores originais;
5. É certo que a filosofia africana não pode nascer ex-nihil (do nada), mas que parte da
herança cultural. A filosofia africana deve ser uma confrontação criativa das suas ideias com o
presente e o futuro.
6. O papel da filosofia africana deve ser desempenhado pelos filósofos africanos, em cuja
africanidade não consiste em falar da África ou em tratar sobre os problemas africanos, mas
na conversa entre africanos que são filósofos qualificados e profissionais que usam a razão de
maneira crítica e criadora. Na visão de Hountondji, a universalidade da Filosofia deve ser
conservada sem que isto signifique tratar dos mesmos assuntos.
De acordo com Hountondji não podemos manipular as palavras em nome da cultura africana.
Diante desta temática, Odera filósofo Queniano, humoristicamente comentou alertando que
“tudo que é superstição é apresentado como religião africana”. Por isso, pensa Hountondji que
não devemos admitir que o ocidente pense que tudo relacionado aos mitos, crenças e
provérbios, nós aprovemos como filosofia africana.
filosofia, ou seja, promoveria a ideia de diferença entre a racionalidade dos africanos e a dos
europeus. A ideia de filosofia africana deve ser aliada ao projecto de crítica e reflexão dos
africanos discutindo e trazendo solução para os problemas de África.
Actividade
- No seu caderno, em seis (6) linhas, argumente sobre a existência ou não de Filosofia africana
segundo Hountondji.
A colonização dos africanos e a sua consequente escravização fez com que o povo negro fosse
visto como inferior. Esta situação levou o homem negro a definir-se como um guerreiro da
liberdade. Frente a estas circunstâncias, vários intelectuais empenharam-se em investigar o
passado histórico dos africanos com o objectivo de encontrar bases para fundamentar o seu
valor. É pela busca deste valor que foram criados movimentos, como o Pan-africanismo e a
Negritude, que serviam como meio de união dos africanos no que se refere aos domínios
político e cultural, respectivamente.
Portanto, a 25 de Junho de 1962, estes três (3) movimentos fundiram-se em Dar Es-Salam
para formar a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), sendo Eduardo Chivambo
Mondelane o protagonista principal da ideia desta unidade.
Portanto, é crucial frisar que na Política africana o Pan-africanismo cujo expoente máximo é
kwame Nkrumah (de Gana), surge como manifestação da solidariedade entre os africanos e
dos povos da descendência africana. Nesta ordem de ideia, o renascimento negro consistia em
incutir no povo negro que apenas soubera ser escravo a ideia de que era igual ao branco (seu
escravizador). Enquanto a Negritude representada pelo Leopold Sedar Senghor se constituia
num movimento de união dos africanos do Ponto de vista cultural. Os maiores
impulsionadores da negritude foram: Aimé Césaire (antilhano), Senghor (Senegal), e L.
Damas. A Negritude defendia as seguintes ideias: identidade, fidelidade e solidariedade. Na
lusofonia, este movimento cultural lutou pela anulação de todas as leis e regulamentos que
dispunham a exclusão dos africanos.
GEQUE, Eduardo & BIRIATE, Manuel. Filosofia 12ª Classe. Longman Moçambique, Maputo,
2010;
CHAMBISSE, E. Daniel & COSSA, J. Francisco. Filosofia 12ª Classe. Texto Editores, Maputo,
2010.