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Biomassa e Bioenergia 151 (2021) 106158

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Biomassa e Bioenergia
página inicial da revista: www.elsevier.com/locate/biombioe

Impactos socioambientais da produção de biogás em um condomínio

cooperativo de agroenergia.
˜ Paulo Guimar˜ aes Soares b ,
Bruno Henrique Crespo Porto a,*,1, João
c d
Geraldo Stachetti Rodrigues , Ana Maria Resende Junqueira ,
Armando de Azevedo Caldeira-Pires d , Daiana Gotardo Martinez e , Airton Kunz f

uma
´
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Coordenação de Desenvolvimento de Energias Renováveis, SBN, Q. 01, Bloco D, 10ÿ Andar, Palácio do Desenvolvimento, CEP:
70057-900, Brasília, DF, Brasil b
Brazilian Agricultural Research Corporation - Embrapa Cerrados, Rodovia BR-020, Km 18, Mail Box: 08223, CEP: 73310-970, Planaltina, DF, Brazil
c
Brazilian Agricultural Research Corporation - Embrapa Meio Ambiente, Rodovia SP-340, Km 127,5, Tanquinho Velho, CEP: 13918-110, Jaguariúna, SP, Brazil
d
´
University of Brasília, Campus Universitario Darcy Ribeiro, CEP: 70910-900, Brasília, DF, Brazil International Center for Renewable Energy - CI Biogas, ´
e
´ ´
Av. Presidente Tancredo Neves, 6731 - Parque Tecnologico Itaipu - Ed. Das Aguas, CEP: 85867-900, Foz Do Iguaçu, PR, Brazil f

´
Brazilian Agricultural Research Corporation - Embrapa Suínos e Aves, Rodovia BR-153, Km 110, Distrito de Tamandua, Caixa Postal: 321, CEP: 89715-899,
Concórdia , SC, Brasil

INFORMAÇÕES DO ARTIGO ABSTRATO

Palavras-chave: O objetivo deste estudo foi avaliar os impactos da produção de biogás implementada por agricultores familiares organizados em um
Agricultura familiar condomínio cooperativo de agroenergia. Evidências de mudanças no desempenho socioambiental foram obtidas por meio de observações
Sustentabilidade de campo e consultas aos agricultores. Os 'coeficientes de mudança' observados foram inseridos em indicadores multicritério, ponderados
Energia renovável
por sua escala espacial de ocorrência nos estabelecimentos rurais, e os índices de impacto foram calculados para um conjunto de sete
Cooperação Econômica
aspectos de caracterização (eficiência tecnológica, qualidade ambiental, processo produtivo, emprego, renda, saúde e gestão e
administração), integrados em 23 critérios e 123 indicadores. Os índices de impacto resultantes da implantação do condomínio cooperativo
agroenergético apontaram desempenhos positivos na maioria dos critérios, com eventuais índices negativos transitórios em indicadores
específicos, relacionados a contextos particulares dos agricultores. Resultados positivos estatisticamente significativos foram obtidos para
sete dos dez critérios de Impacto Ecológico, como segue (i) uso de insumos e recursos agrícolas; (ii) consumo de energia; (iii) autogeração,
utilização, reaproveitamento e autonomia na área agrícola; (iv) segurança energética; (v) emissões para a atmosfera; (vi) qualidade do solo
e (vii) qualidade da água.

Na dimensão Impactos socioambientais, foram encontrados resultados positivos estatisticamente significativos para os seguintes critérios: (i)
produtividade; (ii) integração produtiva no conceito de biorrefinaria/Ecoparque; (iii) treinamento; (iv) qualificação e disponibilidade de trabalho;
(v) geração de renda; (vi) destinação de resíduos e (vii) relacionamento institucional. O condomínio agroenergético contribuiu para a redução
dos impactos ambientais, promovendo a eficiência produtiva e melhorando a geração de renda nos agricultores familiares cooperados.

1. Introdução o aproveitamento de energia a partir de dejetos animais, através da produção de biogás.

Os condomínios agroenergéticos são arranjos empresariais coletivos instituídos Existem muitas variações no conceito e na terminologia usada para classificar as
para trazer economias de escala e viabilizar a produção de energia em pequenas e plantas de produção de biogás [1]. Os arranjos de produção coletiva de biogás são
médias organizações rurais. Tais arranjos foram criados no Sul do Brasil como esforços comuns, por exemplo, na Alemanha, incentivados por subsídios governamentais
experimentais, para promover chamados 'sistema tarifário feed-in' [2]; e especialmente na Dinamarca,

* Autor correspondente.
E-mail: bruno.porto@agricultura.gov.br (BH Porto).
1
Endereço atual: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Centro de Pesquisa e Inovação do Cacau, Rodovia Ilh´eus-Itabuna, km 22, CEP: 45.600-970, Ilh´eus, BA, Brasil.

https://doi.org/10.1016/j.biombioe.2021.106158 Recebido em
16 de fevereiro de 2021; Recebido em formulário revisado em 27 de maio de 2021; Aceito em 6 de junho de 2021
Disponível online em 19 de junho de 2021
0961-9534/© 2021 Elsevier Ltd. Todos os direitos reservados.
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BHC Porto et ai.
onde a implementação dessas plantas coletivas foi pioneira no início de 1980 [3].
Os arranjos coletivos dinamarqueses também foram impulsionados por incentivos
governamentais, inovações tecnológicas e economias de escala em relação a
plantas individuais. Normalmente, para sua estruturação organizacional, foram
criadas cooperativas contendo de apenas cinco até 100 produtores rurais [3], e
hoje essas usinas ditas centralizadas respondem pela maior parte do biogás
produzido naquele país [4].
Segundo a World Bioenergy Association [5], a produção mundial de biogás
apresentou uma taxa média de crescimento de 11,2% de 2000 a 2014, ano em que
foi atingido um volume de 58,7 bilhões de metros cúbicos normais (Nm3 ), com a
liderança do União (49%), China (25,6%), Estados Unidos (14,4%), Tailândia (2,2)
e Índia (1,4%). No Brasil, apesar da oferta excepcionalmente grande de biomassa
[6,7], a participação efetiva do biogás na matriz energética permanece muito aquém
do potencial energético. A biomassa representa 27% da matriz energética brasileira
(294 Mtpe), com predominância de cana-de-açúcar (18%, sendo 11% eletricidade
e 7% etanol), lenha e carvão vegetal (8,7%) e em menor escala, biomassa residual
para a produção de biogás (0,0001%) [8].
Felizmente, uma pesquisa recente do Centro Internacional de Energias Renováveis
[9] mostrou que a produção brasileira cresceu notáveis 26,9% ao ano entre 2010 e
2019, de 0,168 para 1,345 bilhão de Nm3 .
Uma série de ações públicas e privadas voltadas para a produção de energia
no âmbito do agronegócio brasileiro está em andamento, com o objetivo de
aproveitar o potencial energético dos resíduos orgânicos agrícolas, especialmente
os dejetos animais, para a produção de biogás na agricultura familiar rural.
Isso porque a agricultura familiar constitui 77,4% (3,9 milhões) dos estabelecimentos
agropecuários, ocupa 23% (80,9 milhões de ha) da área agrícola, é responsável
por 67% (10,1 milhões de pessoas) das ocupações no meio rural, 23% da o valor
total da produção agropecuária brasileira (R$ 107 bilhões), e detém a maioria das
aves (80%), suínos (81%) e bovinos (76%) do país [10].
´
O Paraná é um dos principais produtores brasileiros de proteína animal, com o
ˆ
município de Marechal Cândido Rondon centralizando a macrorregião comrebanho
o maior
de aves e o segundo maior rebanho de suínos do país. Além do alto potencial de
produção de biogás a partir de dejetos animais, com conseqüente redução das
emissões de GEE, o município está localizado às margens do reservatório da Usina
Hidrelétrica de Itaipu, e tem o grande desafio de reduzir os riscos de eutrofização
hídrica.
No entanto, ainda existem algumas limitações de escala de produção de biogás
no contexto de pequenas propriedades rurais familiares. Em geral, a produção em
pequena escala apresenta vulnerabilidades devido à falta de assistência técnica e
manuseio inadequado de biodigestores e uso de biogás, o que pode resultar em
vazamento de metano e impactos ambientais negativos [11]. Tais dificuldades
poderiam ser mitigadas com o aumento da escala de produção e inovações
tecnológicas implementadas em condomínios cooperativos de agroenergia.
Na última década, foram feitas mudanças no marco regulatório visando tanto a
mitigação dos impactos ambientais da produção animal quanto o uso de resíduos
para a produção de biogás e biometano [12]. Além disso, a Agência Nacional de
Energia Elétrica regulamentou a geração distribuída de energia elétrica por
associações e cooperativas por meio do Sistema Interligado Nacional[13,14].
Uma vez reconhecidas essas oportunidades e desafios, os projetos
agroenergéticos implementados em campo devem ser minuciosamente analisados,
visando fornecer informações sobre seus impactos ambientais, econômicos e
sociais [15,16]. Dentre a grande diversidade de métodos existentes para tais
estudos de impacto socioambiental, cada um apresentando vantagens e limitações,
as Avaliações de Ciclo de Vida (ACV) são utilizadas para diversos processos
produtivos, incluindo o biogás [17–19].
No entanto, apesar das adaptações existentes para considerar as
vulnerabilidades técnicas e preocupações sociais [20,21], a inserção das dimensões
econômica e social na estrutura da ACV ainda está em estágio inicial [22]. Além da
ACV, abordagens estão disponíveis para analisar a viabilidade econômica de
projetos de aproveitamento de energia de biomassa [23,24], mas os resultados são
estritamente monetários, carecendo de recursos sociais e ambientais suficientes
2
Biomassa e Bioenergia 151 (2021) 106158
relevância.
Por outro lado, os modelos multicritério têm se mostrado adequados para
avaliar os impactos de projetos relacionados à recuperação de energia a partir de
resíduos, considerando a ampla diversidade de aspectos ambientais, sociais e
econômicos envolvidos [25,26]. A análise multicritério pode ser adequadamente
estruturada, de modo a responder com flexibilidade à variedade de contextos
representados por agricultores familiares individuais dentro de um condomínio
agroenergético, e também inteligível em relação às complexidades sociais,
ambientais e técnicas da produção, distribuição e impactos agroenergéticos . 27].
Além disso, os modelos multicritério são facilmente adaptáveis tanto para avaliações
prévias (ex-ante) quanto posteriores (ex-post) da implementação de processos
tecnológicos [28], contribuindo assim para as etapas de planejamento e tomada de
decisão da gestão da inovação.
O objetivo desta pesquisa foi avaliar os impactos socioambientais da produção
de biogás por agricultores familiares organizados em um condomínio cooperativo
de agroenergia, a partir da aplicação de um sistema de indicadores multicritérios
especialmente elaborado [29], a fim de analisar criticamente a organização e
desafios tecnológicos da produção de bioenergia, bem como propor recomendações
para melhorias gerenciais.
2. Materiais e métodos
2.1. Agroenergy condominium
O 'Condomínio Agroenergético da Agricultura Familiar Ajuricaba', doravante
denominado Condomínio Ajuricaba (Fig. 1), está localizado no município de
ˆ ´
Marechal Cândido Rondon, no Estado do classificação
Paraná, Sul do deBrasil.
Koppen,Segundo
região
o clima
é subtropical
ada
¨
úmido (Cfa), com temperatura média
de 1600
anual
a 1800
de 20,1
mmÿC[30].
e precipitação média anual
Concebido como um projeto piloto para a produção de biogás em pequena
escala, o condomínio agroenergético foi concebido inicialmente em um conceito
centralizado, dependente do transporte de biomassa das pequenas propriedades
para uma usina centralizada de biodigestão anaeróbia e geração de energia de
médio a grande porte. Este conceito foi semelhante às plantas centralizadas
implementadas na Índia [31] e, em maior medida na Dinamarca [32], bem como
àquelas estudadas por pesquisadores brasileiros [33]. Este modelo foi descartado
na fase de planejamento, devido a dificuldades logísticas relacionadas ao transporte
de biomassa.
O segundo conceito, que foi efetivamente implementado, é baseado em um
modelo disperso [34], com 25 biodigestores conectados por dutos.
Normalmente, os biodigestores de fluxo a montante Biokohler® são usados nas
fazendas menores, com os menores volumes disponíveis de dejetos animais;
enquanto os biodigestores de lagoas cobertas são usados em fazendas com maior
disponibilidade de biomassa. Os agricultores utilizam o biogás produzido para gerar
calor, em substituição à lenha e ao gás liquefeito de petróleo (GLP). O biogás
excedente não utilizado nas fazendas é transportado em gasoduto de 25,5 km até
um centro de armazenamento, de onde é vendido para a Cooperativa Agroindustrial Copagril.
A cooperativa utiliza energia térmica para abastecer a caldeira de sua unidade
agroindustrial de abate de aves. Foram estudadas 14 fazendas do Condomínio
Ajuricaba, somando uma produção média mensal de cerca de 4.000 m3 de biogás
(Tabela 1).
2.2. Ferramenta de avaliação de impacto: Ambitec-Agroenergy
Os estudos foram realizados com a aplicação do 'Sistema de Avaliação de
Impacto de Inovações Tecnológicas em Agroenergia' (Ambitec Agroenergy, Souza
et al., 2017), que organiza os impactos socioambientais a partir de sete aspectos
de caracterização (Eficiência Tecnológica, Qualidade Ambiental, processos,
Emprego, Renda, Saúde e Gestão e administração), que integram 23 critérios, num
total de 123 indicadores (Fig. 2).
No sistema Ambitec-Agroenergia, os impactos ambientais das tecnologias de
produção agroenergética são considerados a partir do uso de
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BHC Porto et ai. Biomassa e Bioenergia 151 (2021) 106158

Fig. 1. Representação esquemática do Condomínio Ajuricaba, mostrando as unidades agrícolas familiares individuais, a ligação da tubulação e, no encarte, a localização da
bacia hidrográfica em relação à Hidrelétrica de Itaipu.

Tabela
1 Características gerais e escala de produção de biogás das quatorze fazendas estudadas no Condomínio Ajuricaba, Marechal Cˆ andido Rondon, Paraná, Brasil.

Agricultor Total Gado suíno Produção média mensal de Produção média mensal de Digestor
familiar área (ha) dejetos animais (m3 /mês) biogás (m3 /mês)
Ordenha Outros Ciclo completo de engorda de
vacas bovinos berçário

P1 7,50 19 29 92 99,35 Manta de lodo anaeróbico de

fluxo ascendente (UASB) - 20 m3
P2 37,0 27 15 2 98 32,33 Manta de lodo anaeróbico de
fluxo ascendente (UASB) - 20 m3
P3 14,4 28 21 106 73,86 Manta de lodo anaeróbico de
fluxo ascendente (UASB) - 20 m3
P4 12.1 820 111 773,75 Lagoa coberta - 360 m3
P5 11,0 1 3 3700 162 242,45 Lagoa Coberta - 178 m3
P6 12.1 4 600 86 544,86 Lagoa coberta - 360 m3
P7 21,8 38 50 9 185 0,0 Manta de lodo anaeróbico de
fluxo ascendente (UASB) - 20 m3
P8 12.1 5 1 15 21.11 Manta de lodo anaeróbico de
fluxo ascendente (UASB) - 20 m3
P9 6,05 19 9 65 54,89 Manta de lodo anaeróbico de
fluxo ascendente (UASB) - 20 m3
P10 24.20 7 11 650 122 1959,67 Lagoa coberta - 360 m3
P11 31,46 26 37 42,65 Manta de lodo anaeróbico de
fluxo ascendente (UASB) - 20 m3
P12 7,74 14 15 6 60 51,56 Vazão a montante - 05 m3
P13 30,2 380 58 21,01 Lagoa Coberta - 269 m3
P14 16,7 2 35 1 31 139 29,71 Manta de lodo anaeróbico de
fluxo ascendente (UASB) - 20 m3

Significa 17,5 96 281,90

Total 244,4 195 189 3.7000 2456 38 1433 3947,20

3
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Fig. 2. Estrutura do conjunto de Dimensões, Aspectos e Critérios do sistema de indicadores Ambitec-Agroenergia.

insumos para os efeitos sobre o meio ambiente, ao longo do ciclo de produção. Por sua
vez, os impactos socioambientais são considerados do ponto de vista do desenvolvimento
local, para a sustentabilidade dos processos de produção e gestão [35,36]. Uma descrição
detalhada dos critérios considerados e indicadores associados é apresentada nas Tabelas
2 e 3.
Os levantamentos de dados consistem em observações de campo e levantamento de
evidências, em que os agricultores familiares do Condomínio Ajuricaba foram solicitados a
atribuir coeficientes de mudança aos indicadores que compõem o sistema Ambitec
Agroenergia, considerando as mudanças observadas em seus contextos produtivos ao
longo do tempo desde a implantação do projeto de produção de biogás (de ex ante para
ex-post). A Tabela 4 apresenta a valoração aplicada aos coeficientes de variação dos
indicadores, dependendo dos impactos observados em campo resultantes da geração e
uso de bioenergia.
Esses coeficientes de mudança são ponderados por fatores relacionados à escala de
ocorrência dos impactos, o que permite delimitar o espaço em que os impactos da adoção
Sic = fator de ponderação para a escala de ocorrência do indicador i no critério c; kic
= fator de ponderação da importância do indicador i no critério c; n = número de
indicadores no critério c.
Na Equação (1), o coeficiente de impacto socioambiental para cada critério é calculado
multiplicando-se o coeficiente de mudança pela escala de ocorrência e o fator de
ponderação. Em seguida, obtém-se o índice de impacto socioambiental com a soma dos
coeficientes de impacto socioambiental de todos os indicadores que compõem o critério.
O Índice de Impacto Socioambiental para a adoção tecnológica
(SIIt), agregando todos os critérios é calculado de acordo com a Equação (2):
Portanto = ÿn ( IIc × Ic) Equação 2
c=1

tecnológica são observados, conforme apresentado na Tabela 5.

Onde:
Os fatores de ponderação são fatores de normalização definidos em testes de sensibilidade
[37].
SIIt = índice de impacto socioambiental da tecnologia t; IIc = índice de
Os dados de campo são preenchidos nas listas de verificação multicritério do sistema
impacto para o critério c; Ii = fator de ponderação da importância do
(Fig. 3) e os índices de impacto são calculados automaticamente, considerando os valores
critério c no índice de impacto.
de importância dos indicadores (k) no critério dado, bem como as escalas de ocorrência
dos indicadores no contexto observado no estabelecimento rural estudado.
n = número de critérios.

O índice de impacto para cada critério (IIc) é calculado de acordo com

De acordo com a Equação (2), o índice de impacto socioambiental agregado da
Equação (1):
adoção da tecnologia é calculado a partir da multiplicação dos índices de impacto
socioambiental pelo fator de importância de cada critério.
IIc = ÿn (Cic × Sic × kic) Equação 1
eu = 1

Os índices de impacto foram analisados considerando os contextos de desempenho

Onde:
IIc = índice de impacto socioambiental para o critério c;
Cic = coeficiente de mudança do indicador i no critério c;
2
A planilha operacional com todos os critérios e indicadores do Sistema
Agroenergético Ambitec está disponível na Embrapa Meio Ambiente <https://
www. cnpma.embrapa.br/forms/index.php3?func=softwma>.
socioambiental das fazendas nas situações antes (ex ante) e após (ex post) a implantação
do Condomínio Ajuricaba, e comparados quanto à significância com o teste não paramétrico
de Wilcoxon para amostras pareadas, no nível de significância de 5%. Adicionalmente, a
análise de agrupamento foi aplicada para identificar padrões de similaridade nos dados,
adotando-se as 'Distâncias Euclidianas Quadráticas para similaridades, e a ligação
hierárquica de “Ward” como método aglomerativo. A análise de cluster é uma ferramenta
útil para a análise de projetos cooperativos de produção de biogás [38].

4
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Tabela 2
Descrição dos critérios de desempenho ecológico.
TECNOLOGIA Uso de insumos e
EFICIÊNCIA recursos agrícolas
Uso de insumos e recursos
industriais
Consumo de energia
Autogeração,
utilização, reutilização e
autonomia na área agrícola
Autogeração,
utilização, reutilização e
autonomia na área industrial
Seguranca energetica
DE MEIO AMBIENTE Emissões para a
QUALIDADE atmosfera
Qualidade do solo
Qualidade da água
Inclui insumos adquiridos para a
prática agrícola, como defensivos,
fertilizantes químicos e condicionadores
de solo, além de recursos naturais
incorporados ao processo produtivo,
como consumo de água e uso da
terra em relação à área cultivada ou
ocupada.
Inclui insumos adquiridos para
produção industrial, como matéria-
prima na forma de biomassa; gases;
catalisadores enzimáticos e
microorganismos; catalisadores
químicos, solventes e aditivos e a
toxicidade desses insumos
considerados. Também considera os
recursos naturais incorporados aos
processos industriais, como o
consumo de água e o uso do solo
em termos de
área ocupada.
Avaliado de acordo com os
requisitos de combustíveis fósseis,
biocombustíveis, biomassa e
eletricidade.
Refere-se à promoção da eficiência
produtiva por meio da cogeração de
energia, aproveitamento de
subprodutos e manejo visando a
substituição racional de insumos
para fertilidade do solo e controle
de pragas e doenças, favorecendo
a mitigação dos impactos gerados
nos três critérios anteriores.
Refere-se à promoção da eficiência
produtiva por meio de ações voltadas
à cogeração de energia,
aproveitamento de subprodutos,
recuperação de componentes de
gases de exaustão, aproveitamento
de resíduos sólidos e reuso de água,
favorecendo a mitigação dos impactos
gerados nos critérios de uso de
insumos e Recursos.
Inclui a garantia de fornecimento
de energia, disponibilidade de
energia, diversidade de fontes de
energia e qualidade dessas fontes.
Refere-se a emissões de GEE,
material particulado/fumaça, odores
e ruídos.
Refere-se aos principais
processos que provocam a
degradação e perda de
fertilidade do solo, nomeadamente
erosão, perda de matéria orgânica e
nutrientes, compactação e redução
da capacidade produtiva por
aplicação excessiva de efluentes/
desperdiça.
Inclui carga orgânica
(emissão de efluentes,
esgoto, esterco e outras causas
de aumento bioquímico de oxigênio
5
Biomassa e Bioenergia 151 (2021) 106158
Tabela 2 (continuação )
demanda), turbidez, presença
de espuma/óleos/resíduos sólidos,
assoreamento de corpos d'água e
eventual uso em excesso de
disponibilidade local de água.
Conservação Refere-se à conservação da
da biodiversidade e biodiversidade (vegetação
recuperação ambiental nativa, fauna silvestre e raças/
raças terrestres tradicionais) e a
contribuição das atividades
agroindustriais/rurais para a
recuperação de solos degradados
(física, química e biologicamente),
recuperação de ecossistemas e
habitats naturais, de acordo com
legislação ambiental.
3. Resultados
3.1. Dimensão dos impactos ecológicos
Na dimensão relacionada aos impactos ecológicos, foram observados resultados
favoráveis para quatro critérios do aspecto eficiência tecnológica: (i) uso de insumos e
recursos agropecuários; (ii) consumo de energia; (iii) autogeração, utilização, reutilização
e autonomia na área agrícola e (iv) segurança energética. Resultados significativos
também foram obtidos para três critérios agrupados no aspecto Qualidade Ambiental:
(v) emissões para a atmosfera; (vi) qualidade do solo e (vii) qualidade da água (Fig. 4).
Os resultados da análise de agrupamento, considerando a “Distância Quadrática
Euclidiana” como medida de similaridade, e a ligação hierárquica de “Ward” como
método aglomerativo, mostraram que três padrões de similaridade foram constituídos
para os desempenhos ecológicos (Fig. 5) .
O primeiro grupo (P5, P6, P7 e P12) apresentou padrões de similaridade em relação
ao índice atribuído ao aspecto eficiência tecnológica, cujos resultados se mantiveram
inalterados desde a adoção da tecnologia. Os agricultores do terceiro grupo (P8, P9,
P10, P11, P13 e P14), por outro lado, apresentaram certa semelhança nos resultados
do critério de emissões para a atmosfera. Por fim, os agricultores pertencentes ao
segundo grupo (P1, P2, P3 e P4) apresentaram padrões de similaridade em relação ao
índice atribuído ao aspecto qualidade ambiental, cujos resultados positivos são função
da melhora nas emissões para atmosfera, solo qualidade e critérios de qualidade da
água.
3.2. Dimensão dos impactos socioambientais
A dimensão relacionada aos impactos socioambientais apresentou melhorias
estatisticamente significativas em dois critérios do aspecto Processo Produtivo: (i)
produtividade e (ii) integração produtiva no conceito de biorrefinaria/ecoparque.
Resultados significativos também foram observados em dois critérios do aspecto
Emprego: (iii) treinamento e educação e (iv) qualificação profissional e oferta de mão
de obra. Também foram observados resultados favoráveis no critério (v) Geração de
renda (aspecto Renda) e nos dois critérios do aspecto Gestão e administração: (vi)
destinação de resíduos e (vii) relacionamento institucional – Fig. 6.
Embora diferentes em relação à dimensão ecológica, os resultados da análise de
agrupamento também mostraram três grupos contendo padrões de similaridade em
relação ao conjunto de critérios da dimensão socioambiental (Fig. 7). O primeiro grupo
(P2 e P7) apresentou padrões de similaridade quanto às práticas de descarte de
resíduos, no aspecto Gestão e administração. Neste caso, os resultados ficaram abaixo
do índice médio atribuído ao descarte de resíduos (10,4 em escala multicritério ± 15).
Por outro lado, o grupo seguinte (P5, P6, P8, P9, P10, P12 e P13) apresentou os
melhores resultados relacionados ao critério de descarte de resíduos, além de padrões
de similaridade em relação ao impacto socioambiental
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Tabela 3
Descrição dos critérios de desempenho socioambiental.
PRODUTIVO Produtividade Avalia as relações entre
PROCESSOS produção e lucratividade e os
fatores de produção utilizados:
trabalho, capital e terra. Os
indicadores referem-se à
produtividade do trabalho (produção
por trabalhador e rentabilidade por
trabalhador), produtividade do
capital (produção em relação ao
total de máquinas/equipamentos e
rentabilidade em relação ao total de
máquinas/equipamentos) e
produtividade do fator terra (produção
por unidade de área e rentabilidade
por unidade de área).
Qualidade do produto Avaliado em termos de
resíduos químicos ou
contaminantes biológicos,
disponibilidade de insumos quanto
à diversidade de fontes, adequação
de fornecedores de insumos e
padrões de qualidade (NBR ISO/IEC
9126) que incluem funcionalidade/
confiabilidade, usabilidade/eficiência
e manutenibilidade/portabilidade.
Integração Avalia impactos segundo conceitos
produtiva no conceito de ecologia industrial, que incluem
de biorrefinaria/ flexibilidade de uso da biomassa,
Ecoparque diversidade de produtos gerados,
diversidade de processos de
transformação e integração de
processos produtivos entre empresas
parceiras.
Mudança direta do Avalia os efeitos das mudanças
uso da terra diretas no uso do solo, que, além
dos impactos potencialmente
negativos anteriormente vistos na
análise de critérios ambientais,
podem melhorar o uso dos recursos
e favorecer a produção, como
resultado da prevenção de incêndios,
geração de excedentes produtivos,
aumento do sequestro de carbono
e expansão da biodiversidade
produtiva.
Mudança indireta do Abrange a competição com a
uso da terra produção de alimentos, a
pressão de deslocamento em
áreas não agrícolas, a
competição pela propriedade
da terra e a interferência na posse
e uso da terra pelas comunidades
locais.
EMPREGO/ Treino e Abrange treinamentos frequentados
OCUPAÇÃO educação por moradores do estabelecimento,
sejam estes treinamentos locais
de curta duração, especialização
e educação formal. O nível em que
o treinamento ocorre, seja básico,
técnico ou superior, também é
considerado.
Profissional Considera a qualificação exigida
qualificação e oferta para as oportunidades de trabalho
de mão de obra oferecidas, sejam elas mão de
obra manual ou especializada,
técnico médio e nível superior
6
Biomassa e Bioenergia 151 (2021) 106158
Tabela 3 (continuação )
técnico. Além disso, é verificado o
tipo de contratação, como
contratação temporária ou
permanente.
Qualidade Refere-se à qualidade do emprego
do emprego/ de acordo com condições básicas
ocupação como salário mínimo, jornada
máxima de trabalho, formalidade e
benefícios previstos na legislação
trabalhista.
RENDA Próxima geração Considera a receita do
projeto referente a segurança,
estabilidade, quantidade, diversidade
de fontes e distribuição, avaliada de
acordo com o diferencial decorrente
da adoção tecnológica. O indicador
de segurança refere-se à garantia
de obtenção dos rendimentos
esperados.
A estabilidade refere-se à
distribuição temporal ou
sazonal da renda.
O valor refere-se ao
variação na receita total
ganhou com o projeto.
A diversidade de fontes aponta para
uma eventual ampliação ou retração
das alternativas de geração de
renda, enquanto a Distribuição
refere-se ao compartilhamento de
renda e benefícios entre os
empregados.
SAÚDE Segurança e saúde Envolve a exposição dos
ocupacional trabalhadores a riscos e fatores de saúde.
Comida segura Envolve o acesso a alimentos
de qualidade, representados pela
segurança do acesso diário
(regularidade de abastecimento),
quantidade adequada (suficiência de
abastecimento) e qualidade
nutricional. As escalas de ocorrência
consideram os agricultores e suas
famílias, os mercados locais e regionais.
GERENCIAMENTO E Descarte de resíduos Avalia medidas de reciclagem e
ADMINISTRAÇÃO destinação de resíduos.
São considerados resíduos líquidos
e sólidos, com ações de coleta
seletiva e medidas adequadas de
tratamento e destinação.
Relações Trata das capacidades
institucionais institucionais do
estabelecimento, abordando
atributos de acesso à assistência
técnica, associação, filiação
tecnológica e assessoria jurídica.
Tabela 4
Impacto da atividade e coeficientes de mudança dos indicadores.
Efeito da inovação tecnológica nas condições de gestão estudadas Coeficiente de mudança
de componente
Maior aumento no indicador (>25%) +3
Aumento moderado do indicador (ÿ25%) +1
Indicador não afetado 0
Diminuição moderada do indicador (ÿ25%) ÿ1
Grande queda no indicador (>25%) -3
Fonte: Souza et al. (2017).
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BHC Porto et ai.
Tabela
5 Fatores relacionados à escala de ocorrência dos impactos.
Escala espacial de ocorrência dos impactos nos indicadores Fator de
ponderação
Ambiente próximo: quando o impacto da adoção da tecnologia 1 apresentados pelo sistema Ambitec-Agroenergia corroboram os resultados encontrados
se restringe ao campo cultivado, instalação ou recinto
pecuário, ou unidade agroindustrial; ou
Ambiente próximo: quando o impacto se estende além do 2
ambiente 'próximo', embora confinado aos limites do
estabelecimento rural ou agroindustrial; quando a escala é
'próxima' inclui automaticamente a escala 'próxima'; ou
Meio envolvente: quando o impacto observado ultrapassa os 5
limites do estabelecimento rural ou agroindustrial, atingindo
áreas vizinhas; quando a escala atinge o 'entorno' ela
impacta automaticamente as escalas 'próximo' e 'próxima'
Fonte: Souza et al. (2017).
índice, com variação entre 1,0 e 1,9 em uma escala multicritério ±15.
Os agricultores do terceiro grupo (P1, P3, P4, P11 e P14) também apresentaram
similaridade em relação ao índice médio observado. Nesse grupo, o índice de impacto
socioambiental variou entre 2,2 e 2,7 em uma escala multicritério ±15.
4. Discussão
4.1. Dimensão dos impactos ecológicos
O objetivo desta pesquisa foi analisar um modelo cooperativo de produção de
biogás implementado como projeto piloto de aproveitamento de biomassa residual.
Além de melhorar a destinação dos resíduos, esses modelos alternativos de negócios
devem ser desenvolvidos tanto para mitigar os impactos ambientais dos resíduos
agrícolas, constituindo uma importante estratégia para melhorar o acesso a energia
renovável e adubo orgânico nas propriedades rurais familiares. Os agricultores
familiares podem se tornar não apenas consumidores, mas também produtores de
energia, melhorando os indicadores de renda e ambientais da agricultura brasileira.
A análise multicritério realizada em estabelecimentos rurais do Condomínio
Ajuricaba utilizando a ferramenta de avaliação de impacto Ambitec-Agroenergia
revelou que, mesmo em pequena escala, os agricultores familiares podem mitigar os
impactos ecológicos da pecuária intensiva por meio da produção cooperativa de
biogás em agroenergia condomínios.
Fig. 3. Checklist de dimensionamento multicritério do sistema Ambitec-Agroenergia para o critério 'Autogeração, utilização, reuso e autonomia na área agrícola'.
2
7
Biomassa e Bioenergia 151 (2021) 106158
O índice médio de impacto ambiental de 2,6 na escala multicritério ±15 obtido no
Condomínio é superior ao índice médio de impacto ambiental (0,58) observado na
análise ex-ante de impactos relacionados a 10 tecnologias desenvolvidas pelo Centro
de Pesquisas da Embrapa Agroenergia [ 29]. Os desempenhos ambientais positivos
por Pasqual et al. (2018) com base na análise de dados obtidos com o método
'Multiplicação de Referência Cruzada de Matriz de Impacto Aplicada a uma
Classificação' (MICMAC), principalmente na percepção dos agricultores quanto à
redução de emissões para a atmosfera e melhorias na qualidade da água .
O uso de insumos e recursos agrícolas (índice 1,4) teve um impacto
significativamente positivo devido ao uso do digerido como fertilizante orgânico,
embora alguns agricultores não tenham observado mudanças neste critério. Segundo
esses agricultores, a falta de implementos mecânicos agrícolas é um fator limitante
para a aplicação do digestato nas áreas de cultivo. Essa mesma dificuldade também
limitou o sucesso dos milhares de projetos de digestão anaeróbica implementados
nas décadas de 1970 e 1980 [39], considerando que o uso do digestato é considerado
fundamental para a sustentabilidade dos projetos de produção de biogás [40].
O expressivo resultado positivo em relação ao consumo de energia (índice 6,9)
foi causado pela redução da dependência de combustíveis fósseis, uma vez que em
quase todos os estabelecimentos o consumo de GLP foi totalmente substituído pelo
biogás. Por outro lado, a análise de agrupamento mostrou um grupo de agricultores
(P5, P6, P7 e P12) cujos resultados se mantiveram inalterados por não utilizarem
biogás em substituição ao GLP. Nesses casos, os agricultores relataram que os
biodigestores ficavam longe de suas residências e, devido aos altos custos, não foi
construída a tubulação necessária para o transporte e aproveitamento do biogás.
Alternativas ao GLP e à lenha são necessárias no Brasil, onde essas fontes respondem
por mais de 50% do consumo global de energia das residências e, embora haja
potencial para o uso do biogás, as projeções indicam aumento da demanda por GLP
no meio rural nos próximos anos [41].
De acordo com Poeschl et al. (2012a), em usinas de pequeno porte é mais
sustentável usar biogás diretamente para gerar energia térmica, elétrica e de
refrigeração, enquanto usinas de grande porte têm maior sustentabilidade atualizando
biogás para biometano.
A geração descentralizada de energia elétrica por associações e cooperativas
pode ser realizada por net-metering ou comercialização de energia elétrica pelo
Sistema Interligado Nacional - SIN. No caso de compensação, a energia é injetada na
rede e o valor é
Machine Translated by Google

BHC Porto et ai. Biomassa e Bioenergia 151 (2021) 106158

Fig. 4. Índice de desempenho para a dimensão Impactos ecológicos do sistema de indicadores Ambitec-Agroenergia. Condomínio Ajuricaba, Marechal Cˆ andido Rondon, Paraná, Brasil.

meio ambiente, também conhecido como mercado livre de energia. Nesse caso,
as escalas de ocorrência do modelo multicritério poderiam ser estendidas
além do entorno dos estabelecimentos rurais.
Embora o uso do biometano para abastecimento de veículos em escala
comercial ainda seja restrito a alguns países desenvolvidos [42], experiências
brasileiras como o projeto desenvolvido pela Cooperativa de Citricultores
Ecológicos do Vale do Caí Ltda (Ecocitrus), que utiliza biometano para
abastecimento de veículos, apontam que o biometano pode ser utilizado para
abastecer parte da frota brasileira de tratores e máquinas agrícolas [43]. O
desempenho de consumo de energia da produção cooperativa no Condomínio
Ajuricaba poderia ser melhorado com a valorização do biogás, o que também
permitiria maior poder de barganha [44] e economias de escala [45].

O critério autogeração, utilização, reaproveitamento e autonomia na área

agrícola (índice 0,6) também apresentou resultados significativos para a produção
de biogás e uso do digerido como fertilizante orgânico.
No entanto, assim como no uso de insumos e recursos agrícolas, o número
insuficiente de implementos agrícolas para aplicar o digerido como adubo
orgânico líquido também pode ter restringido a expressão de um impacto positivo
importante neste critério. Uma solução que poderia melhorar o desempenho
ambiental seria a separação das fases sólida e líquida do digerido, permitindo
uma aplicação mais fácil do fertilizante e reaproveitamento da fase líquida,
processo inviável em pequenas plantas devido aos pequenos volumes de digerido
Fig. 5. Agrupamento de agricultores cooperados do Condomínio Ajuricaba quanto ao índice
produzidos . ].
de similaridade em relação aos critérios de dimensão ecológica (sistema de indicadores
Ainda em termos de eficiência tecnológica, o índice de segurança energética
Ambitec Agroenergia).
(3,9) reforçou a importância do fornecimento contínuo e abundante de biogás
para a geração de energia térmica. Este critério diz respeito à garantia de
compensado por meio de desconto na conta de energia dos cooperados.
fornecimento de energia, quantidades disponíveis, diversidade e qualidade das
Considerando o volume médio mensal de biogás produzido e o consumo mensal
fontes de energia. Tanto os conceitos emergentes quanto os tradicionais de
de energia elétrica, os agricultores poderiam ser autossuficientes em energia.
segurança energética abordam a disponibilidade, acessibilidade, confiabilidade,
Além disso, desde que atendidas as regras definidas pela Aneel [13,14], podem
respeito ao meio ambiente e adequação social das fontes de energia para os usuários [47].
ser classificados como autoprodutores ou produtores independentes de energia
O expressivo índice de emissões para a atmosfera (5,4) mostra que houve
e vender o excedente por meio da contratação livre
grandes reduções na emissão de gases de efeito estufa

8
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BHC Porto et ai.
Fig. 6. Índice de desempenho da dimensão Impactos socioambientais do sistema de indicadores Ambitec-Agroenergia. Condomínio Ajuricaba, Marechal Cˆ andido Rondon, Paraná, Brasil.
Fig. 7. Agrupamento dos agricultores cooperados do Condomínio Ajuricaba quanto ao
índice de similaridade em relação aos critérios de dimensão socioambiental (sistema de
indicadores Ambitec-Agroenergia).
gases e odores, em comparação com a gestão do estrume em montes de
estrume ou lagoas de estabilização. Vale ressaltar que o armazenamento de
dejetos em lagoas abertas sem revestimento foi permitido pelo órgão ambiental
[48]. Os biodigestores anaeróbios são o método de tratamento de resíduos
mais eficaz para reduzir as emissões de gases para a atmosfera, especialmente
quando o biogás é usado para gerar energia [49]. No entanto, o armazenamento
do digerido em lagoas abertas no Condomínio Ajuricaba poderia ser substituído
por lagoas cobertas, o que contribui para uma maior redução das emissões
atmosféricas, principalmente amônia, óxidos de nitrogênio e metano [46,50].
9
Biomassa e Bioenergia 151 (2021) 106158
Os agricultores têm observado melhorias importantes na qualidade do
solo (índice 4,7) ao utilizar o digestato como adubo orgânico para pastagens
e áreas de cultivo de grãos, principalmente milho e soja. Além da mineralização
de macro e micronutrientes [51], a digestão anaeróbica reduz pela metade a
concentração de carbono e o teor de matéria seca dos resíduos animais [52].
Apesar da ampla literatura sobre os efeitos do uso prolongado do digerido em
solos temperados [40,53-55], há uma escassez de informações científicas
sobre os efeitos químicos, físicos e biológicos em solos tropicais. Pesquisas
sobre o uso sucessivo de dejetos suínos indicam que os minerais podem se
acumular nas camadas superficiais e ao longo do perfil do solo [56],
principalmente em Neossolos, Cambissolos e Latossolos [57]. De acordo com
o mapa de solos da Bacia do Córrego Ajuricaba (Fig. 8) [58], há predominância
de Cambissolos (CEef1, CXef2, CXef3), pequenas áreas de Latossolos
(LVef1) e outras classes de solos.
Melhorias na qualidade da água (índice 2,9) têm sido relatadas no córrego
Ajuricaba desde a implantação do condomínio agroenergético. Marcado por
importantes reduções nas cargas orgânicas (DBO e DQO), o digerido
apresenta altos teores de fósforo e nitrogênio [59] e, portanto, deve ser
armazenado e utilizado adequadamente, pois ainda possui potencial poluidor
[46]. De acordo com a legislação ambiental [60] os teores de fósforo, cobre , e
zinco no digerido devem ser determinados e a análise do solo realizada para
fins de monitoramento, não sendo recomendada a aplicação do digerido em
solos com maior teor de fósforo disponível, ou seja, superior a 120 mg dmÿ
3
(solos
1 1
argila) e 60 mgarenosos
dm3 (solos
de argilosos
argila), 90>400
mg dm3
g kgÿ(250–400
de argila).
visando
g kgÿ
Muitos
<250
aestudos
remoção
g kgÿ de
1
de fósforo e nitrogênio dos efluentes
[59,61,62].
dos biodigestores estão em andamento
4.2. Dimensão dos impactos socioambientais
O índice de impacto socioambiental (1,7 na escala multicritério ±15)
observado no Condomínio Ajuricaba foi semelhante ao obtido na análise de
impacto ex-ante das 10 tecnologias desenvolvidas pela Embrapa Agroenergia
(ou seja, 1,52 - Souza et al., 2017). Ao contrário do biogás
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BHC Porto et ai.
Fig. 8. Mapa de solos da Bacia do Córrego Ajuricaba.
projetos produtivos na Alemanha [63], os indicadores não apontavam para
mudanças notáveis no uso da terra, uma vez que os processos de produção
agrícola e pecuária foram essencialmente mantidos, sendo as práticas de gestão
de resíduos as inovações mais relevantes. Esse critério é ainda mais relevante
para a agricultura familiar brasileira, que, mesmo com terras limitadas, é responsável
por grande parte das cadeias produtivas de alimentos. Assim como o Condomínio
Ajuricaba, em geral, os projetos de produção de biogás no Brasil utilizam biomassa
residual como substrato na monodigestão, não implicando em aumento da demanda
por terra. Na Europa, os projetos de produção de biogás demandam vastas áreas
de terra para cultivos energéticos, resultando em uma série de implicações nas
cadeias de abastecimento alimentar [64].
O critério de produtividade (índice 1,0), que mede a variação da produção,
lucratividade e fatores de produção (trabalho, capital e terra), apresentou melhora
no indicador de produção por trabalhador.
A produtividade foi melhorada com o tratamento adequado do esterco e a produção
de um produto adicional (biogás) nos estabelecimentos, sem a necessidade de
contratação de mão de obra adicional. Acontece que as inovações devem ser
baseadas na otimização de recursos, tanto na economia quanto na ampliação da
capacidade produtiva da terra e dos fatores de mão de obra [65].
Obteve-se um índice de 3,4 para a integração produtiva no conceito de
biorrefinaria/ecoparque, que apresenta conceitos de ecologia industrial como a
flexibilidade do uso da biomassa, diversidade de produtos gerados, diversidade de
processos de transformação, nível de integração tecnológica e integração da
produção processos entre empresas parceiras.
Conceitos de ecologia industrial, normalmente associados às indústrias química e
petroquímica, representam desafios para estabelecer novas formas de interação
entre produtores e consumidores, mecanismos alternativos de organização e novos
modelos de negócios, visando a valorização dos resíduos agrícolas [66]. O
condomínio agroenergético favorece as principais possibilidades de sinergia,
decorrentes da proximidade geográfica entre os empreendimentos [67]. Esse
critério também poderia ser aprimorado com a modernização do biogás e o
aumento do uso de outros bioprodutos nas fazendas, como geração de energia
elétrica e uso de biometano para substituir o combustível de veículos agrícolas e
tratores, permitindo reduções consideráveis nos custos agrícolas.
10
Biomassa e Bioenergia 151 (2021) 106158
O critério de capacitação e educação (índice 2.6) refere-se às melhorias
observadas em eventos locais de capacitação e especialização de curta duração
realizados regularmente desde as fases iniciais de implantação do Condomínio
Ajuricaba. No mesmo sentido, o critério qualificação profissional e oferta de mão
de obra (índice 0,3) reconhece a melhoria na qualificação da mão de obra,
necessária para o aproveitamento da biomassa e operação dos biodigestores. A
produção de biogás é uma atividade de alta especialização e requer assessoria
técnica permanente. Os resultados se comparam aos de Roder ¨ et al. [26] que
relataram que os modelos
qualificado. de negócios
Agricultores de biogásAjur
do Condomínio criam oportunidades
icaba de emprego
adquiriram experiência
na operação de biodigestores, mas ainda relatam que a assessoria e manutenção
corretiva em biodigestores, equipamentos e tubulações são realizadas
permanentemente pela CIBiog´ as, organização especializada em biogás que
começou como destaque da Itaipu Binacional projeto [68].
Esses resultados gerais corroboram os estudos do MICMAC, nos quais os
agricultores afirmaram que o apoio técnico oferecido pelo projeto foi fundamental
para a participação em empreendimentos agroenergéticos [69]. Assim como nas
décadas de 1970 e 1980 [39], a assistência técnica especializada e permanente
ainda é um gargalo para a produção de biogás no Brasil [70] e, portanto, deve ser
considerada como um dos principais requisitos na concepção de novos projetos.
O aumento moderado da renda (índice 0,9) foi relacionado às economias
obtidas pelo uso do biogás e do digerido, respectivamente, em substituição ao GLP
e aos fertilizantes minerais. Este resultado está de acordo com a análise de dados
do MICMAC sobre economia de custos através do uso de digerido e biogás [69].
Na mesma linha, análises de projetos de digestão anaeróbica de pequena escala
implementados em áreas rurais da Colômbia indicam que essa substituição pode
reduzir em até 80% os gastos com a compra de GLP e fertilizantes minerais [71].
No entanto, assim como nos critérios da dimensão dos impactos ambientais, a
insuficiência de implementos agrícolas para aplicação do biodigestor pode ter
restringido a possibilidade de ampliação dos potenciais impactos positivos na
geração de renda.
Além disso, é importante esclarecer que embora os agricultores familiares do
Condomínio Ajuricaba estivessem vendendo o biogás excedente para a Cooperativa
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BHC Porto et ai.
Copagril, os pagamentos ainda não haviam sido iniciados no momento da pesquisa de campo.
Plausivelmente, quando as transferências financeiras começarem, a geração
de renda melhorará, e os índices de desempenho desse critério poderão
melhorar bastante. Os pagamentos também reduzirão as frustrações e trarão
motivação adicional aos agricultores, considerando que durante a implementação
do projeto havia grandes expectativas de que a produção de biogás pudesse
aumentar substancialmente a geração de renda. Além disso, como a produção
local de energia renovável melhora a imagem de mercado dos agricultores, a
renda pode ser favorecida no futuro por estratégias de diferenciação e agregação
de valor aos produtos [72].
Como era de se esperar, o critério de descarte de resíduos apresentou o
maior índice de desempenho (10,4) para o grupo estudado (Tabela 5). A
destinação adequada dos resíduos foi uma das principais motivações para a
implantação do condomínio agroenergético ao longo do Córrego Ajuricaba, que
recebeu apoio da Itaipu Binacional como modelo piloto para a gestão das bacias
de captação que deságuam no reservatório da hidrelétrica. Como a pecuária
representa a principal atividade agrícola na maioria dos estabelecimentos rurais
da bacia hidrográfica, a iniciativa foi implementada para reduzir o potencial de
eutrofização do reservatório, devido ao descarte inadequado dos dejetos dos
animais [73].
O desempenho positivo no critério relacionamento institucional (índice 3,9)
deveu-se a melhorias nos indicadores de assistência técnica e engajamento em
associações e cooperativas. Desde a implantação do condomínio agroenergético,
houve maior interação com o poder público e privado, principalmente o Parque
Tecnológico Itaipu, responsável pela criação de um ambiente de ecoinovação
por fontes renováveis de energia. No entanto, como projeto piloto, é importante
que haja novos esforços públicos e privados voltados à melhoria dos indicadores
de impacto ecológico e socioambiental e de reprodutibilidade em outras
localidades.
5. Conclusão
Embora a implantação do condomínio agroenergético tenha melhorado
significativamente o desempenho socioambiental dos estabelecimentos rurais
cooperados, algumas recomendações de melhorias gerenciais são necessárias
para a replicação do projeto piloto. Além dos resultados positivos da substituição
do GLP, o biogás deve ser utilizado para produção de energia elétrica por
medição líquida ou comercialização no Sistema Interligado Nacional. Os
condomínios agroenergéticos podem ser produtores independentes de energia
e vender o excedente através do mercado livre de energia.
Os condomínios agroenergéticos têm potencial para mitigar os impactos
ambientais e agregar valor à produção animal intensiva em pequena escala.
Tais conceitos e iniciativas relacionadas à sustentabilidade devem ser tratados
estrategicamente, para promover ganhos de competitividade para a agricultura
brasileira. No entanto, é fundamental que haja uma ampliação das ações de
PD&I concatenadas com programas contínuos de crédito, assistência técnica e
extensão rural, tendo em vista que os condomínios de agroenergia e produção
de biogás são altamente dependentes de treinamento e conhecimento técnico
especializado.
Por fim, é importante destacar que além do modelo de condomínio
agroenergético estudado com pequenos biodigestores conectados por dutos,
há uma diversidade de tecnologias e modelos de cooperação a serem
considerados, destacando-se, por exemplo, o transporte de biomassa de
pequenas propriedades para plantas centralizadas. Nesse sentido, estudos
comparativos sobre impactos ambientais e socioambientais podem direcionar
políticas públicas voltadas ao aproveitamento energético de dejetos animais e
ao manejo adequado dos imóveis cooperados.
Declaração de contribuição de autoria CRediT
Bruno Henrique Crespo Porto: Conceituação, Metodologia,
˜ Paulo Guimaraes ˜ Soares:
Investigação, Redação – rascunho original. João
Conceituação, Metodologia, Supervisão, Redação-Revisão e Edição. Geraldo
Stachetti Rodrigues: Conceituação,
11
Biomassa e Bioenergia 151 (2021) 106158
Metodologia, Supervisão, Redação-Revisão e Edição. Ana Maria Resende
Junqueira: Conceituação, Supervisão, Redação, Revisão e Edição. Armando
de Azevedo Caldeira-Pires: Conceituação, Supervisão. Daiana Gotardo
Martinez: Redação, Revisão e Edição. Airton Kunz: Conceituação, Supervisão.
Declaração de interesse concorrente
Os autores declaram que não têm interesses financeiros concorrentes
conhecidos ou relacionamentos pessoais que possam ter influenciado o trabalho
relatado neste artigo.
Reconhecimentos
Aos agricultores familiares do Condomínio Ajuricaba, Centro Internacional
´
de Energias Renováveis (CIBiogas), Embrapa Suínos e Aves,Ambiente,
Embrapa Programa
Meio
de Pós-Graduação em Agronegócios da Universidade de Brasília (PROPAGA/
UnB) e Coordenação de Desenvolvimento para Energias Renováveis do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
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