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FICHAMENTO DE LEITURA

Tipo: Livro
Assunto / tema: Desenvolvimento agrícola
Referência bibliográfica:
PLOEG, J.D.V. O modo de produção camponês revisitado. In. SCHNEIDER, Sérgio. A
diversidade da agricultura familiar. Porto Alegre: UFGRS, 2006. (Série Estudos Rurais).
p.15-56. (digitalizado)

Resumo / conteúdo de interesse:


Ploeg autor aborda questões que, em certo momento, foram consideradas como
resolvidas no contexto da agricultura e do campesinato, revelando como essas questões
ressurgiram e ganharam nova relevância em um mundo em constante transformação. Para
criar um resumo mais extenso, é necessário explorar em maior profundidade as principais
ideias e argumentos apresentados no texto.Um estudo anterior que realizou na Holanda, em
1999, intitulado "The Virtual Farmer", no qual argumentou que uma parte significativa da
realidade rural na Holanda ainda pode ser compreendida em termos camponeses e de
produção camponesa. Esta perspectiva é apresentada como uma resposta irônica ao
frequente anúncio do "fim do campesinato" que ocorreu ao longo do tempo.
A divisão dualista entre agricultura camponesa e agricultura empresarial, que foi
previamente amplamente aceite, é questionada pelo autor. Ele argumenta que esta divisão
não é mais adequada para entender o mundo atual em rápida transformação. A
modernização agrícola, exemplificada pela "revolução verde" em países asiáticos, alterou
substancialmente as dinâmicas da produção agrícola, levando ao aumento da escala de
produção e à diminuição da absorção de mão-de-obra agrícola.
Outra questão explorada é a da mercantilização na agricultura. Demonstra como
os mercados afetam a produção agrícola e destaca que, no modo de produção camponês,
os recursos não são tratados como mercadorias no processo de trabalho. Esta é uma
característica distintiva em relação à agricultura empresarial, na qual a lógica de mercado
desempenha um papel central.
A modernização agrícola é apresentada como um fator-chave na transformação da
agricultura global. Nos países asiáticos, a modernização ocorreu principalmente por meio da
"revolução verde", que envolveu a introdução de novas sementes, fertilizantes, herbicidas,
pesticidas, crédito, infraestrutura e serviços de extensão. No México, por exemplo, houve
tentativas de implementar uma revolução verde semelhante, seguida por um processo de
"pecuarização" do meio rural.
O autor argumenta que a modernização agrícola resultou em um aumento
significativo da escala de produção e na redução da absorção de mão-de-obra agrícola.
Isso levanta questões importantes sobre as relações entre unidades de produção agrícola e
mercados, e se os recursos são mobilizados por meio de mercados ou em circuitos não-
mercantis. No entanto, no modo de produção camponês, recursos cruciais, como terra,
água, sementes e conhecimento, não são tratados como mercadorias. Em vez disso, eles
são valores-de-uso com diferentes biografias, e as relações de produção são
frequentemente baseadas em repertórios culturais locais e relações de gênero.
A ideia de "mercados perfeitos" e "mercados incompletos" na agricultura,
argumentando que mesmo a intensificação das relações mercantis não cria mercados
perfeitos. As relações mercantis são moldadas por contextos culturais e sociais específicos.
A condição camponesa é explorada como uma forma institucional que distancia a
atividade agrícola dos mercados de insumos, ao mesmo tempo em que a vincula a outros
mercados de produtos. Isso é influenciado pela escassez de recursos disponíveis, levando
à busca pela eficiência técnica e mudança técnica não-material no modo de produção
camponês.
O autor também destaca a importância dos investimentos de mão-de-obra,
tecnologia aplicada e repertórios culturais locais nas atividades agrícolas camponesas. Em
contraste, na agricultura empresarial, as atividades de reprodução são frequentemente
externalizadas.
A condição camponesa e o modo de produção camponês não são estáticos, mas
sim fluxos coerentes e estrategicamente organizados que se desdobram ao longo do tempo.
Esses conceitos continuam a desempenhar um papel crucial em muitos processos de
desenvolvimento, mesmo em contextos modernos e globalizados.

Citações: Página:
1 Esse novo interesse pela agricultura familiar coincide com os debates
contemporâneos na Europa, nos quais as noções de campesinato e agricultura
camponesa estão reemergindo como elementos-chave para a compreensão de 15
diversos processos complicados e mutuamente contraditórios de transição que vêm
ocorrendo no meio rural europeu.
2 Por um longo tempo, os debates sobre o campesinato foram dominados pela tese
do dualismo,6 que colocava fazendeiros capitalistas e camponeses como as
principais, e mutuamente opostas, categorias nos estudos rurais. Este mesmo 17
dualismo também refere-se às categorias agricultura capitalista e agricultura
familiar.
3 Nos países asiáticos, a modernização tomou principalmente a forma da bem
conhecida “revolução verde”, com a introdução de novas sementes e seu
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respectivo “pacote” de fertilizantes, herbicidas, pesticidas, crédito, obras de infra-
estrutura, serviços de extensão e treinamento, além da intervenção nos mercados.
4 De um ponto de vista analítico, as diferenças básicas entre os modos de
produção são fáceis de avaliar. Elas residem nas diferentes inter-relações entre
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agricultura e mercado e no ordenamento associado ao processo de produção
agrícola.
5 Um camponês não é apenas parte de uma “classe grosseira” (Shanin, 1972); ele
ou ela é igualmente parte de um mundo grosseiro e cruel. Daí que a luta pela
autonomia (e pela sobrevivência, pela dignidade, por uma vida melhor) em uma
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sociedade que condena pessoas à submissão, dependência, privação e as ameaça
com a deterioração de seus meios de vida, torna-se central para a “condição
camponesa”.
6 A unidade camponesa de produção é precisamente a forma institucional que
distancia a atividade agropecuária, de maneira específica e estrategicamente
organizada, dos mercados (de insumos), ao mesmo tempo em que a vincula 23
(também de maneira específica e estrategicamente organizada) a outros mercados
(de produtos).
7 Uma parte da produção é vendida, outra pode ser consumida diretamente pela
família camponesa; e uma terceira parte da produção total poderá alimentar o
próximo ciclo de produção: o resultado da co-produção pode fortalecer a base de 24
recursos sobre a qual está fundada (e assim contribui indiretamente para a criação
de uma autonomia ainda maior).
8 [...]: o modo de produção camponês é basicamente orientado para a busca de
criação de valor agregado e de empregos produtivos. Nos modos de produção
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capitalista e empresarial, os lucros e os níveis de renda podem ser ampliados
através de – e na forma de – uma redução contínua no uso de trabalho.
9 O modo de produção camponês é, em essência, orientado para a produção e
para o aumento de valor agregado. Isso pode ser visto em si mesmo como uma
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obviedade, mas, quando comparado com os contrastantes modos de produção,
sua especificidade e relevância ganham em importância.
10 [...]s, a mudança de uma agricultura de poucos insumos externos (Reijntjes e
colaboradores, 1992) para um modelo de agricultura caracterizado por um aumento
de escala e um elevado uso de insumos externos (isto é, mais integrado e mais 39
dependente dos mercados de insumos) irá introduzir um efeito negativo sobre o
valor agregado.
11 No modo capitalista de produção agropecuária, o valor agregado é, como tal,
uma categoria irrelevante. O que importa são a margem de lucro e a lucratividade
(ou seja, a relação entre o capital investido e os lucros realizados). Precisamente 41
aqui reside a explicação para a natureza extensiva e em larga escala da agricultura
capitalista.
12 Para obter uma ampliação na produção de valor agregado, há, no modo de
produção camponês, um permanente empenho no sentido de distanciar o processo
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de produção o tanto quanto possível do reinante e freqüentemente sufocante
circuito mercantil.
13 Este processo de recampesinização43 pode analiticamente ser explicado
partindo-se da noção de que a agricultura consiste em um processo de conversão
(de insumos em produtos), no qual ocorre uma dupla mobilização de recursos.
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Recursos podem ser mobilizados em seus respectivos mercados (e entrar no
processo de produção como mercadorias) ou podem ser produzidos e reproduzidos
na própria unidade produtiva (ou na comunidade rural).
14 Como exposto por Marsden (2003), desenvolvimento rural é uma prática que
basicamente se realiza como embate contra o aparato estatal, seus esquemas
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regulatórios e o agronegócio. Trata-se de um embate por autonomia e
sobrevivência.
Considerações do pesquisador (aluno): O texto examina profundamente a
evolução da agricultura e do campesinato em um mundo em constante mudança. Ele
destaca a persistência da agricultura camponesa e suas características distintivas em
relação à agricultura empresarial, bem como a necessidade de reexaminar e atualizar esses
conceitos para compreender as mudanças atuais na agricultura e no desenvolvimento rural.

Indicação da obra: professores de todas as áreas, acadêmicos de cursos ligados a


educação, pós-graduandos.
Local: arquivo em PDF disponível em
https://moodle.utfpr.edu.br/pluginfile.php/994405/course/section/
179151/Livro%20Schneider%20UFRGS.pdf

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