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Dr.

Cristiano Poleto

BACIAS HIDROGRÁFICAS:
Estudos Aplicados
Dr. Cristiano Poleto

BACIAS HIDROGRÁFICAS:
Estudos Aplicados

Toledo – PR
2019
Copyright © 2019, by Cristiano Poleto

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou sistema, sem prévio consentimento da editora
e autor, ficando os infratores sujeito às penas previstas em lei.

Diagramação: Juliane Fagotti


Revisão: Cristiano Poleto
Capa: Juliane Fagotti / Imagem: Google Earth

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Poleto, Cristiano (organizador)


Bacias Hidrográficas: Estudos Aplicados: GFM Gráfica & Editora, 2019.
220 p.
ISBN: 978-85-60308-88-0

1. Água – Análise 2. Água – Ferramentas de análise I. Título II. Cristiano Poleto

CDD: 981.62
CDU: 551.3

Impressão e Acabamento
GFM Gráfica & Editora
Rua Ledoíno José Biavatti, 1275 | Vila Industrial
CEP 85905-360 | Toledo, PR
Telefone: 45 3055-3085 | 45 3055-3176
e-mail: imagemgrafica@uol.com.br
PREFÁCIO

Escolher metodologias e técnicas que possam reduzir os custos de um estudo ou levantamento e o


tempo consumido durante uma análise, é de grande importância para se obter bons resultados e
otimizar recursos. Ainda assim, sempre é importante levar em consideração a utilização de
metodologias que possam fornecer resultados compatíveis com os estudos realizados por outros
pesquisadores ou com um estudo específico em algum país ou região que os resultados despertem um
maior interesse da sociedade técnica ou científica.

A partir da experiência adquirida ao longo de anos de estudos em bacias hidrográficas, e com a


finalidade de minimizar os danos ambientais gerados por sua antropização, mas que qualquer que seja
o estudo, sugere-se que os projetos a serem desenvolvidos em bacias hidrográficas semelhantes,
sugere-se que haja uma maior interação com a comunidade, despertando sua consciência ambiental
com o auxílio do poder público através de palestras em escolas e centros comunitários, de forma a
explicar o que será realizado na área de estudo, os propósitos do desenvolvimento do projeto em
questão e como a comunidade poderá se beneficiar disso.
Através desse contato direto, deve-se buscar fiscalizar a retirada da vegetação remanescente,
principalmente as matas ciliares, utilizando um ambiente SIG, e preservá-la através do seu isolamento
e da retirada de habitações irregularmente construídas nesses locais que são considerados primordiais
para a sustentabilidade dos recursos hídricos locais. Mas não somente isso, pois um foco especial deve
ser dado em projetos de instalação de plantas de tratamento de efluentes domésticos para reduzir o
lançamento de esgoto “in natura” direta ou indiretamente nos corpos d’água.

O gerenciamento das áreas como um todo e não apenas como partes é um bom exemplo disso.
Pode-se citar, por exemplo, a pavimentação de ruas de terra para que se reduza a produção de
sedimentos originária nessa fonte, implementado as obras de pavimentação com a construção de
estruturas complementares (por exemplo: caixas de areia) que possam reter os sedimentos gerados nas
superfícies impermeáveis e evitar que estes aportem nos corpos d’água. Portanto, desde que haja um
viés sustentável, essas obras poderão trazer bons resultados a preservação dos recursos hídricos.
Pode-se perceber que o assunto é vasto e, que, assim como, qualquer área, precisa sempre estar
inovando e se reinventando para resolver ou solucionar os novos desafios que se apresentem ao passo
que se alteram os usos e ocupações do solo dessas bacias vertentes. Por isso, os capítulos que
compõem esse Livro, buscarão apresentar possibilidades de estudos para que as soluções encontradas
estejam a contento.

Desejamos à Todos uma excelente leitura!


Dr. Cristiano Poleto

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ÍNDICE

CAPÍTULO 1 .......................................................................................................................................... 9
A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NA GOVERNANÇA DAS
ÁGUAS

CAPÍTULO 2 ........................................................................................................................................ 47
MECANISMOS DE MENSURAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO

CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................................ 89
PLANO MUNICIPAL SIMPLIFICADO DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS: ESTUDO DE CASO
EM MUNICÍPIOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIQUIRI

CAPÍTULO 4 ...................................................................................................................................... 113


DESENVOLVIMENTO DE UMA PLATAFORMA ONLINE PARA DISPONIBILIZAÇÃO DE DADOS DE
QUALIDADE DE ÁGUA

CAPÍTULO 5 ...................................................................................................................................... 137


DISCUSSÕES ARQUEOLÓGICAS EM ESPAÇOS ANTROPIZADOS: UM ESTUDO DE CASO

CAPÍTULO 6 ...................................................................................................................................... 165


WETLANDS CONSTRUÍDOS

CAPÍTULO 7 ...................................................................................................................................... 189


POLUENTES QUÍMICOS ASSOCIADOS A SEDIMENTOS

CAPÍTULO 8 ...................................................................................................................................... 201


GESTÃO PARTICIPATIVA DE RECURSOS HÍDRICOS EM ÁREA DE MANANCIAL: ESTUDO DE CASO
USANDO MAPEAMENTO COGNITIVO

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8
CAPÍTULO 1
SARA BURSZTEJN
CRISTIANO POLETO

A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE


DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NA
GOVERNANÇA DAS ÁGUAS

9
Nos últimos 30 anos, a questão da água esteve presente na agenda global ambiental, onde diferentes
abordagens foram elaboradas e colocadas em prática (RIBEIRO, 2008). A gestão de recursos hídricos
baseada no recorte territorial das bacias hidrográficas ganhou força no início dos anos 1990 quando
os Princípios de Dublin foram acordados na reunião preparatória à Rio-92. Diz o Princípio nº 1 que a
gestão dos recursos hídricos, para ser efetiva, deve ser integrada e considerar todos os aspectos, físicos,
sociais e econômicos. Para que essa integração tenha o foco adequado, sugere-se que a gestão esteja
baseada nas bacias hidrográficas (WMO, 1992).

Os Princípios da Água de Dublin (1992) consideram:

- a água como um recurso finito e vulnerável essencial para sustentar a vida, o desenvolvimento e
o funcionamento dos ecossistemas;

- o desenvolvimento da gestão das águas deve ser baseado em uma abordagem participativa,
envolvendo planejadores x gerentes e tomadores de decisão em todos os níveis;

- as mulheres têm um papel central na provisão, gerenciamento e conservação da água;

- a água tem um valor econômico, em todos os seus usos competitivos, e deve ser reconhecida
como um recurso natural pelos serviços prestados: abastecimento, hidroeletricidade, produção de
alimentos.

Atualmente não há como conceber qualquer atividade nos diversos níveis de planejamento e/ou
gestão sem considerar as condicionantes impostas pelo meio que será antropizado. E ao abordar
especificamente a governança das águas verifica-se a diversidade de variáveis e iterações que
implicam no desenvolvimento dos aspectos inerentes a temática em questão.

A governança das águas compreende os aspectos ambientais, de recursos hídricos, saneamento


básico, econômicos e sociais. Para que haja uma maior eficácia e eficiência no planejamento e gestão
dos diversos setores correlacionados é necessária uma visão sistêmica e integrada para após poder
detalhar as especificidades setoriais. O desafio é imenso e o sucesso na sua consecução consiste no
grau de aprofundamento e ao mesmo tempo da objetividade dos vários aspectos e variáveis que
compõem o sistema representado pelo recorte da bacia hidrográfica. A utilização da bacia hidrográfica
como unidade de gestão decorre da necessidade de avaliar as causas e efeitos no ambiente

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determinados por ações antropizantes, pois avaliar sistemas com recortes menores são viáveis e
válidos desde que em um dado momento se verifique os efeitos sobre a integridade da bacia.

Existem muitos planos, projetos, concepções entre outros que não obtiveram o sucesso desejado
devido a inúmeras falhas, tais como projeções irrealistas ou de difícil execução, reprodução de planos
de outras regiões cujas características regionais diferem das que são o objeto dos estudos, entre outros.

Este capítulo pretende abordar a importância e a necessidade do planejamento integrado na


governança das águas utilizando a bacia hidrográfica como unidade de gestão, apresentar os aspectos
que envolvem o planejamento e gestão de uma bacia hidrográfica enfocando as questões ambientais,
de recursos hídricos e saneamento básico. E também, explicitar alguns conceitos para a melhor
compreensão do tema.

1 GOVERNANÇA DAS ÁGUAS

A palavra governança é originada do verbo grego pilotar, navegar e foi utilizado metaforicamente
por Platão para definir o ato de governar os homens. Do latim gubernare, as raízes do termo remetem
à palavra grega kybernan, que se refere às manobras de um navio, (SEYLE; KINK, 2014).

A expressão governança das águas é relativamente recente e vem ao encontro do princípio de


envolver todos os atores integrantes da cadeia usuária dos recursos hídricos, incorporando os
organismos sociais e agentes governamentais responsáveis pela gestão dos recursos hídricos.

Cabe destacar que governança e governabilidade são distintas. De acordo com DINIZ (1999):
“Governabilidade refere-se às condições sistêmicas mais gerais sob as quais se dá o exercício do poder
em uma dada sociedade, tais como as características do regime político (se democrático ou
autoritário), a forma de governo (se parlamentarista ou presidencialista), as relações entre os poderes
(maior ou menor assimetria, por exemplo), os sistemas partidários (se pluripartidarismo ou
bipartidarismo), o sistema de intermediação de interesses (se corporativista ou pluralista), entre
outras.” Governabilidade em suma, é exercida através de instituições governamentais que constituem
um conjunto de condições necessárias ao exercício do poder.

Governança tem a origem no setor privado cuja evolução estabeleceu um processo de relação entre
as demandas sociais e a governabilidade de forma a gerir os diferentes interesses existentes. DINIZ
(1997) define governança como “[...] conjunto de mecanismos e procedimentos para lidar com a
dimensão participativa e plural da sociedade, o que implica em expandir e aperfeiçoar os meios de
interlocução e de administração do jogo de interesses. As novas condições internacionais e a
complexidade crescente da ordem social pressupõem um estado dotado de maior flexibilidade, capaz
de descentralizar funções, transferir responsabilidades e alargar, em lugar de restringir, o universo dos
atores participantes, sem abrir mão dos instrumentos de controle e supervisão”. Decorre do

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entendimento da governança a necessária descentralização das ações para permitir a iteração entre os
atores inseridos nas bacias hidrográficas. A participação o integra e o insere nas responsabilidades
inerentes a governança, ou seja, não apenas deverá trazer suas demandas como também ser
corresponsável na consecução de ações que envolvam a preservação dos recursos hídricos em
qualidade e quantidade.

Segundo SILVA (2006), “a governança como conceito, por exemplo, pode ser trabalhada como um
recurso cognitivo, com a força de um paradigma, auxiliando a construir leituras complexas da crise e
encontrar soluções inovadoras e duradouras. A gestão, por outro lado, além de seu componente
conceitual, pode ser trabalhada como uma técnica que inclua as atividades de planejamento e de
mediação, transcendendo seus limites disciplinares”. Como pode ser observado esquematicamente na
Figura 1.

A Figura 1 a seguir demonstra a relação entre governança e gestão.

Figura 1 - Governança x Gestão.


Fonte: https://www.provalore.com.br/governanca-publica-saiba-a-diferenca-entre-governanca-e-gestao/

É extremamente importante avaliar esses conceitos associando-os com os demais temas integrantes
das problemáticas de planejamento e gestão do meio físico, tais como o uso e ocupação do solo, renda,
saneamento ambiental e áreas de risco. Bem como, planejar a forma de ocupação do espaço urbano
vinculado à necessidade de preservação e distribuição equitativa dos recursos naturais.

A gestão dos recursos hídricos, a governança da água, é, portanto, um fator essencial no


desenvolvimento territorial e econômico, tornando-se um componente estratégico de grande
relevância, especialmente neste século XXI, em que os usos múltiplos e competitivos se acentuam e
colocam pressões adicionais sobre quantidade e qualidade da água. À medida que a economia se

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desenvolve e se diversifica maior é a necessidade de uma gestão eficiente e participativa, de forma a
contribuir para gerenciar a escassez ou o estresse hídrico, regular a demanda e compartilhar os usos
múltiplos (TUNDISI, 2013).

Governança da água é "o leque de políticas, organizacionais e processos administrativos, através


dos quais as comunidades articulam os seus interesses, elas conseguem inserir suas contribuições,
decisões são tomadas e implementadas e os tomadores de decisão são responsáveis no
desenvolvimento e na gestão da água, recursos e prestação de serviços de água" (BAKKER, 2003).

De acordo com VASCONCELOS et al. (2016) “a moderna governança da água, passou a interrogar,
a maneira como era gerenciado o uso da água; a localização dos centros de abastecimento; o foco das
políticas de água; e os atores considerados e incluídos neste processo. Além disso, traz a preocupação
de modificar a atual situação hídrica brasileira, pois se não houver uma intervenção, essa circunstância
contribuirá para, por exemplo, ao aumento das fontes de contaminação, o que por consequência
ocasionará um aumento da vulnerabilidade da população; e a diminuição da disponibilidade de água,
que dificultará o acesso à água de boa qualidade”.

Na governança das águas a que se considerar a influência de outras regulações setoriais havendo a
necessidade de articulação entre os setores: ambiental; de recursos hídricos; de saneamento básico; de
saúde pública; de defesa do consumidor e da concorrência.

Essa cadeia envolve a articulação de políticas e é de suma importância verificar a interface dos
serviços de águas com o ambiente através da interdependência de suas políticas. Visando a
minimização dos impactos dos serviços nos recursos hídricos (simultaneidade no abastecimento e na
drenagem/ tratamento, minimização da água extraída e destino final adequado para resíduos do
tratamento); minimização dos impactos dos serviços nos recursos energéticos (conservação de
energia, realização de auditorias, recuperação de energia em adutoras e valorização dos resíduos);
minimização dos impactos dos serviços na atmosfera (emissões gasosas perigosas ou com efeito de
estufa nas instalações de tratamento).

Os serviços de águas devem considerar as alterações climáticas em seu planejamento buscando a


coleta, cruzamento e divulgação de dados de alterações climáticas; investigações sobre incertezas
críticas, prevenção e gestão de riscos, gerando a necessidade de mitigação e adaptação das cidades
(inteligentes) às alterações climáticas.

A interface dos serviços de águas com a energia está na interdependência de ambas às políticas. É
necessária a redução da dependência energética dos serviços de águas com o emprego de novas
tecnologias; a integração das preocupações energéticas na gestão patrimonial de infraestruturas; a
recuperação de energia das águas residuais (biogás em estações de tratamento, recuperação de calor
nos coletores) e o desenvolvimento de energias renováveis (hídrica, eólica e solar).

No aspecto social são necessárias articulações políticas que reforcem a importância da água na
gestão de crises humanitárias, que podem ser geradas por risco(s): de acesso insuficiente à água

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potável; das migrações relacionadas com a água; de colapso das infraestruturas devido a eventos
climáticos extremos, inundações ou às secas; de baixa produtividade agrícola e insegurança alimentar.

No aspecto econômico a capacitação na gestão de crise dos serviços de saneamento básico possui
interface com a agricultura gerando: a necessidade de controle e prevenção da poluição agrícola na
origem que afeta as captações de água; controle da poluição química (nitratos, pesticidas e
medicamentos para uso veterinário); controle da poluição microbiológica por poluição difusa
(bactérias e vírus); monitoramento das pressões na água por práticas agrícolas.

A interface dos serviços de águas com a saúde pública possui interdependência que geram riscos
para a saúde associados a: deficiente prestação dos serviços; por alterações demográficas; alterações
climáticas e poluentes químicos e biológicos emergentes. Havendo necessidade de controle na origem
de produtos farmacêuticos para proteção dos recursos hídricos. É necessário verificar a correlação
entre os serviços de águas e a incidência de doenças por via hídrica.

Na articulação das políticas públicas das águas com políticas transversais são necessárias ações
integradas que verifiquem a interface da água versus a Ciência, Investigação e Inovação (C&I&I),
através do: reforço da importância da C&I&I nos serviços de águas; reforço de uma estratégia centrada
na procura; reforço de uma estratégia colaborativa internacional, interdisciplinar e interorganisacional
de C&I&I; resposta à variabilidade regional dos desafios da água; reforço da C&I&I da água enquanto
componente das cidades inteligentes; atração de financiamento público e privado para a C&I&I;
conversão dos resultados da C&I&I em valor comercial para o setor da água.

A água versus economia digital gera a necessidade do reforço da importância da economia digital
nos serviços de águas, através de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC): na proteção e a
gestão sustentável e eficiente dos recursos hídricos; na garantia da segurança e qualidade de água nas
redes de distribuição; na otimização a utilização de água, energia e reagentes no tratamento de água;
na interoperabilidade entre sistemas de informação a nível nacional /regional/ local; na eficiência de
gestão em tempo real de infraestruturas de água; no alerta precoce e na previsão e gestão de eventos
extremos; na estratégia das cidades inteligentes; na criação de empregos verdes e inteligentes nos
serviços de águas.

Águas versus o empreendedorismo necessitam de reforço da importância do empreendedorismo


nos serviços de águas, através do desenvolvimento do tecido empresarial criador de emprego e riqueza
a nível nacional, regional e local; desenvolvimento da economia verde e da economia circular; da
valorização internacional das inovações na água; de mecanismos de financiamento de empreendedores
nos serviços de águas nacionais e locais.

Águas versus a indústria gera a necessidade de reforço da importância dos serviços de águas na
indústria, considerando que: a indústria dependente de abastecimento contínuo e de qualidade da água;
a água como driver econômico e social é essencial para a economia; a promoção da competitividade
através da indústria verde e da economia circular; a dissociação entre aumento da produção industrial
e poluição dos recursos hídricos; o controle na origem e na cadeia de valor dos processos de produção

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e poluição; a recuperação de água, materiais e energia com redesenho das tecnologias; a reutilização
de água e reciclagem; o controle de poluição em 'fim-de-linha' apenas quando inevitável.

Água versus a cooperação internacional abrange a necessidade de reforço da importância da água


na cooperação internacional; evitar o risco dos conflitos internacionais relacionados com a água; aderir
ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas; aderir ao
cumprimento do Direito Humano à Água e ao Saneamento das Nações Unidas; ampliar o reforço da
ligação entre segurança da água e segurança dos Estados; o reforço e intensificação da diplomacia de
água; a gestão mais eficaz dos recursos de água transfronteiriços.

Na articulação de políticas tem-se a água versus crises humanitárias havendo a necessidade do


reforço da importância da água na gestão de crises humanitárias; evitando risco(s): de acesso
insuficiente à água potável; das migrações relacionadas com a água; de colapso das infraestruturas
devido a eventos climáticos extremos; de colapso das infraestruturas devido a inundações; de colapso
das infraestruturas devido às secas; de baixa produtividade agrícola e insegurança alimentar. Há
também a necessidade de capacitação na gestão de crise dos serviços de água e saneamento.

Destarte, a governança é um processo preparatório para a gestão envolvendo aspectos políticos e


sociais como ferramenta para a consecução das metas a serem operacionalizadas na gestão. A
governança bem conduzida pavimenta o caminho para o sucesso na gestão de resultados. Através dela
pode-se buscar a solução para problemas inerentes às instituições que gerenciam a água, às
deficiências no quadro normativo, os investimentos inadequados, à base técnica deficitária, à falta de
suporte social, corrupção ou descrença no governo e nas políticas públicas, dentre outros.

1.1 Governança no Contexto Internacional

O termo governança da água surgiu em documentos oficiais pela primeira vez no ano de 2002, na
Política Nacional de Águas do Québec. Esta foi resultado de um processo de cinco anos, que se iniciou
com a participação de toda população. O processo de governança, previsto pela política, leva em
consideração interesses social, econômico, ambiental e também de saúde, tendo como finalidade a
aplicação dos princípios do desenvolvimento sustentável e o estabelecimento das condições favoráveis
para o bem-estar e a qualidade de vida das gerações presentes e futuras, (QUEBÉC, 2002).

A Política Nacional de Águas do Québec estabelece que a governança deva estar focada em três
pontos fundamentais: 1) liderança local e regional para os processos de gestão e liderança provincial
para a governança; 2) responsabilidade dos envolvidos com respeito a suas próprias ações de gestão e
ao impacto de suas decisões numa perspectiva de longo prazo para todos os usuários e indivíduos do
ecossistema em questão; 3) articulação entre todos os atores envolvidos no planejamento e
implementação dos projetos para restauração, proteção e desenvolvimento que assegurarão a
sustentabilidade dos recursos hídricos e dos ecossistemas aquáticos. Ressalta-se ainda que, devem
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fazer parte de todo processo, o envolvimento público e a disseminação de informações, medidas
adotadas e suas consequências, (QUEBÉC, 2002).

A governança da água envolve os sistemas políticos, legais, econômicos e administrativos


responsáveis pela gestão dos recursos hídricos e pelos serviços hídricos fornecidos aos vários níveis
da sociedade, bem como reconhece o papel dos serviços ecossistêmicos da água (UN/WWAP, 2009).

Durante a maior parte do século XX a gestão das águas foi centralizada e setorial. A prioridade
estava concentrada no abastecimento público, na qualidade da água para o suprimento à população
humana e a pesca e navegação. Os diversos usos da água eram gestionados em administrações distintas
coordenadas por Ministérios ou Secretarias Nacionais. Em muitos países, havia um Ministério de
Irrigação – com o objetivo precípuo no controle da água para a produção de alimentos.

A gestão das águas era também voltada para solução de problemas resultantes de contaminação ou
desastres – enchentes, mortalidade de peixes, episódios de poluição e despejos industriais. Outro
aspecto importante nessa gestão é que o enfoque e o objeto principal era no corpo de água-rio, lago,
ou represa, uma vez que era esta a fonte principal de abastecimento ou uso (VASCONCELOS et al.,
2016).

No final do século XX, a legislação e as organizações institucionais avançaram no sentido de


introduzir mecanismos para tornar a gestão das águas mais eficiente, abrangente e sistêmica, com
ações que visavam modernizar o processo. A partir da conferência de Dublin em 1992, houve avanços
significativos no cenário internacional.

No Fórum Mundial da Água em 2000, o “Global Water Partnership Framework for Action”,
declarou-se que a crise da água é essencialmente uma crise de gestão e, consequentemente, a
governança da água é uma das grandes prioridades. A evolução do processo de governança passou a
apontar como necessidade a gestão a partir das bacias hidrográficas, com ações para usos múltiplos
de forma integrada e não setorial; e tornando-se essencialmente preditiva, com a finalidade de
antecipar processos e fenômenos. Esta evolução na governança da água tem um papel relevante
também na descentralização do processo, ou seja, aplicando-se a gestão de bacia hidrográfica na
menor escala possível. Outra evolução na gestão, partindo dos Princípios da Água de Dublin (1992),
é o reconhecimento do valor econômico da água e sua importância no desenvolvimento local e
regional.

Mais recentemente a preocupação com os eventos climáticos tem absorvido a agenda internacional,
na interface com os serviços de águas, havendo necessidade da percepção da grande vulnerabilidade
dos serviços às alterações climáticas, causados pelo(s): aumento de escassez hídrica e seca na Europa
do Sul, Central e de Leste; aumento do risco de inundações em todo o continente europeu.

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1.2 Governança no Brasil

A abordagem descentralizada não dispensa a necessidade de uma gestão integral com condições de
controle e comando visando coibir grupos de influência locais e/ou regionais que visam articular e
tencionar de forma exclusiva ao atendimento de seus interesses. Para tanto, a governabilidade deve
ser exercida a partir de instituições com atribuições plenas para coordenar e integrar ações de
planejamento e governança em todo o território nacional. Proporcionando trocas de experiências e
modelagem de ações compatíveis ao ambiente onde será aplicado.

A água possui valor estratégico para a sustentabilidade social, econômica e ambiental. A


governabilidade das águas vem sendo conduzida pelo setor de recursos hídricos a nível nacional
considerando os demais setores como usuários, assumindo a responsabilidade na condução das
políticas públicas da preservação e distribuição dos recursos hídricos. Essa abordagem setorizada tem
causado um descompasso na efetivação de medidas principalmente estruturais perdendo-se o foco do
global.
Partindo do princípio da governança se faz necessário uma maior aproximação entre os setores
usuários e os de meio ambiente de acordo com VASCONCELOS et al. (2016) “A adoção de uma
abordagem integrada depende da consciência da sociedade como um todo sobre os benefícios que ela
pode obter com a mesma. Além disto, requer um ajuste dos arranjos institucionais, que são
estruturados de modo fragmentado. O que, se, por um lado, a separação institucional e a proposição
de políticas setoriais podem ser justificadas por critérios de racionalidade político-administrativa, por
outro, implica na descentralização do poder das organizações sociais.”

No Brasil, a governança está prevista a partir da instituição da Lei nº 9.433/1997, também


conhecida como a Lei das Águas, que institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos, que prevê
em suas ações e/ou objetivos o fortalecimento do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (SINGREH). Além das instâncias de participação da sociedade através de Conselhos e
Comitês de Bacias, entre outras.

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos estabelecido pela da Lei nº


9.433/1997 deve cumprir os objetivos, como: coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar
administrativamente os conflitos ligados ao uso da água; implementar a Política Nacional de Recursos
Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos;
promover a cobrança pelo uso da água.

Por sua vez o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) é integrado
pelo(s): Conselho Nacional de Recursos Hídricos; Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do
Distrito Federal; Comitês de Bacia Hidrográfica; órgãos de governo cujas competências se relacionem
com a gestão de recursos hídricos; Agências de água.

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Destaca-se o protagonismo da Agência Nacional de Águas (ANA), criada em 2001, responsável
pela outorga e monitoramento dos recursos hídricos nacionais, além de gerir e regulamentar os
Comitês de Bacia Nacionais, além de prestar assistência técnica e recursos aos Estados.

É interessante notar que esse sistema não exigiu a criação de uma nova e pesada estrutura
administrativa, mas sim, e continua exigindo, um esforço bastante grande de articulação entre
instituições já existentes. Apenas as Agências de água seriam as novas estruturas administrativas a
serem criadas. O objetivo é promover a descentralização da gestão, saindo de uma estrutura
centralizada e permitindo que a decisão seja tomada na bacia hidrográfica (PORTO e PORTO, 2008).

A Lei das Águas preconiza a descentralização e utilização de instrumentos econômicos para a


gestão, bem como, a participação pública no processo de gestão de bacias hidrográficas.

Outra característica importante do sistema é a importância dada à participação pública. Há no


sistema a garantia da participação de usuários e da sociedade civil em todos os plenários por ele
constituídos, desde o Conselho Nacional de Recursos Hídricos até os Comitês de Bacia Hidrográfica.
É a forma de dar legitimidade à decisão e é também a forma mais eficiente para garantir a implantação
das decisões tomadas.

A Lei nº 9.433/1997 é atual, avançada e importante para a ordenação do uso da água, mas implica
mudanças importantes dos administradores públicos e dos usuários, já que agora precisam ser
receptivos ao processo de parceria. Desde o processo de discussão da lei, percebia-se a dificuldade da
colocação dessas diretrizes em prática. Um dos principais desafios está em vencer a tradição de
decisões centralizadas rumo à gestão regida pelo princípio da subsidiariedade (MMA, 2007).

Um ponto importante que merece destaque sobre a dificuldade de implantação desse modelo de
gestão descentralizada e compartilhada é o entendimento, que até ocorre com muita frequência, de
que a gestão social "substitui" o poder central. Ao poder central cabe a responsabilidade do
disciplinamento e da garantia de uso do bem comum (MMA, 2007). À gestão social competem, de
fato, a vigilância e a construção do pacto de sustentabilidade.

A governança das águas no Brasil com sua dimensão continental requer esforços para suplantar
desafios devido às características heterogêneas de suas regiões. Constituem desafios à governança a
variação estacional da disponibilidade de águas que também deve ser considerada como importante
no planejamento e ações para a gestão.

Os usos múltiplos da água configuram em outro problema fundamental para a gestão, onde 70%
dos recursos hídricos são utilizados para irrigação; 11% para abastecimento urbano; 10% na
dessedentação animal; 7% no uso industrial; e 2% no abastecimento rural. Em algumas regiões usos
competitivos demandam gestão de alto nível, integrada e com participação de usuários.
Disponibilidade e demanda estabelecem limites para a outorga e propõem ordenamento de usos. Há
algumas regiões, como o Nordeste ou o Sudeste e o Sul do Brasil, em que a demanda é elevada e o
comprometimento das águas pela poluição dificulta os usos múltiplos e encarece o seu tratamento.

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Cabe ainda destacar os instrumentos de gestão definidos na Lei das Águas que consistem em:
outorga; cobrança; sistema de informações; plano de recursos hídricos e enquadramento dos recursos
hídricos.

Destaca-se aqui a exigência da elaboração dos Planos de Recursos Hídricos em nível Federal e
Estadual. O Plano Nacional de Recursos já foi elaborado em vem sendo revisado periodicamente,
quanto aos Planos Estaduais, nem todos os Estados o possuem, ocasionando entraves na consecução
mais efetiva na governança e gestão das águas.

Os Planos de Recursos Hídricos, de acordo com a Lei das Águas, são de longo prazo, com horizonte
de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos, com o
seguinte conteúdo mínimo: I - diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos; II - análise de
alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos
padrões de ocupação do solo; III - balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos
hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais; IV - metas de
racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos
disponíveis: V - medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem
implantados, para o atendimento das metas previstas; VIII - prioridades para outorga de direitos de
uso de recursos hídricos; IX - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos; X
- propostas para a criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos
hídricos.

No art. 8º, da Lei das Águas, define que os Planos de Recursos Hídricos deverão ser elaborados
por bacia hidrográfica, por Estado e para o País. Em seu art. 37, foram instituídos os Comitês de Bacias
Hidrográficas, e terão como área de atuação: I - a totalidade de uma bacia hidrográfica; II - sub-bacia
hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia, ou de tributário desse tributário; ou III
- grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas. Parágrafo único. A instituição de Comitês
de Bacia Hidrográfica em rios de domínio da União será efetivada por ato do Presidente da República.
A Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que deu ao Brasil uma nova política de recursos hídricos
e organizou o sistema de gestão, concretizou então a gestão por bacias hidrográficas. Hoje no Brasil,
os recursos hídricos têm sua gestão organizada por bacias hidrográficas em todo o território nacional,
seja em corpos hídricos de titularidade da União ou dos Estados. Há certamente dificuldades em se
lidar com esse recorte geográfico, uma vez que os recursos hídricos exigem a gestão compartilhada
com a administração pública, órgãos de saneamento, instituições ligadas à atividade agrícola, gestão
ambiental, entre outros, e a cada um desses setores corresponde uma divisão administrativa certamente
distinta da bacia hidrográfica (PORTO e PORTO, 2008).

19
2 BACIA HIDROGRÁFICA

Segundo CHRISTOFOLETTI (1980), as bacias hidrográficas são compostas por um conjunto de


canais de escoamento de água. A quantidade de água que a bacia hidrográfica vai receber depende do
tamanho da área ocupada pela bacia hidrográfica e por processos naturais que envolvem precipitação,
evaporação, infiltração, escoamento, etc. Também compreendida como rede hidrográfica, a mesma é
uma unidade natural que recebe a influência da região que drena, é um receptor de todas as
interferências naturais e antrópicas que ocorrem na sua área tais como: topografia, vegetação, clima,
uso e ocupação etc. Assim um corpo de água é o reflexo da contribuição das áreas no entorno, que é
a sua bacia hidrográfica. Na Figura 2, pode-se observar os elementos constituintes da Bacia
Hidrográfica.

Figura 2- Elementos da Bacia Hidrográfica.


Fonte: https://www.guroo.com.br/?p=2922

A idéia de bacia hidrográfica está associada à noção da existência de nascentes, divisores de águas
e características dos cursos de água, principais e secundários, denominados afluentes e subafluentes.
Uma bacia hidrográfica evidencia a hierarquização dos rios, ou seja, a organização natural por ordem
de menor volume para os mais caudalosos, que vai das partes mais altas para as mais baixas. As bacias

20
podem ser classificadas, de acordo com sua importância, como principais (as que abrigam os rios de
maior porte), secundárias e terciárias. Segundo sua localização, como litorâneas ou interiores.

Sobre o território definido como bacia hidrográfica é que se desenvolvem as atividades humanas.
Todas as áreas urbanas, industriais, agrícolas ou de preservação fazem parte de alguma bacia
hidrográfica. Pode-se dizer que, no seu exutório, estarão representados todos os processos que fazem
parte do seu sistema. O que ali ocorre é consequência das formas de ocupação do território e da
utilização das águas que para ali convergem (PORTO e PORTO, 2008). Na Figura 3 pode-se observar
as ações antropizantes derivadas da atividade humana na Bacia Hidrográfica.

Figura 3 - Ações antropizantes em Bacias Hidrográficas.


Fonte: https://www.google.com/search?q=Bacia+Hidrogr%C3%A1fica&rlz=1C1GCEU_pt-

“A bacia hidrográfica é uma unidade física com fronteiras delimitadas, podendo estender-se por
várias escalas espaciais [...] É um ecossistema hidrologicamente integrado, com componentes e
subsistemas interativos; Oferece oportunidade para o desenvolvimento de parcerias e a resolução de

21
conflitos [...] Permite que a população local participe do processo de decisão [...] Garante visão
sistêmica adequada para o treinamento e gerenciamento de recursos hídricos e para o controle da
eutrofização [...] É uma forma racional de organização do banco de dados; Garante alternativas para
o uso dos mananciais e de seus recursos; É uma abordagem adequada para proporcionar a elaboração
de um banco de dados sobre componentes biogeofísicos, econômicos e sociais Sendo uma unidade
física, com limites bem definidos, o manancial garante uma base de integração institucional [...] A
abordagem de manancial promove a integração de cientistas, gerentes e tomadores de decisão com o
público em geral, permitindo que eles trabalhem juntos em uma unidade física com limites definidos.
Promove a integração institucional necessária para o gerenciamento do desenvolvimento sustentável
(TUNDISI, 2003)”.

2.1 Aspectos legais e institucionais da gestão de bacias hidrográficas

A Constituição de 1988 no que se refere à gestão dos recursos hídricos. Definiu as águas como bens
de uso comum e alterou a dominialidade das águas do território nacional, anteriormente definida pelo
Código de águas de 1934. O art. 20, inciso III, da Constituição Federal de 1988 indica, entre os bens
da União, "os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos do seu domínio, ou que banhem
mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, se estendam a território estrangeiro, ou dele
provenham, bem como terrenos marginais e as praias fluviais".

No art. 26, inciso I, da Constituição Federal, incluem-se entre os bens dos Estados e do Distrito
Federal "as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste
caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União".

Deve ser ressaltado que a dominialidade está definida sobre os corpos hídricos e não sobre a bacia
hidrográfica, por essa se constituir em território e, portanto, estar sujeita a outros diplomas legais.
Assim, para a gestão da bacia hidrográfica, exige-se, de fato, o exercício do princípio federativo, de
atribuições e competências dos três entes federativos (União, Estados e municípios), visando à gestão
compartilhada do bem de uso comum, a água (PORTO e PORTO, 2008).

2.2 Manejo Integrado e Planejamento

O manejo integrado de uma bacia hidrográfica refere-se às técnicas e aplicações científicas


utilizadas na elaboração e aplicação de um projeto visando à elaboração de um diagnóstico da situação
do objeto de estudo. Serve também para orientar as diretrizes e prognósticos futuros visando a atingir
os objetivos de recuperação e manutenção da qualidade ambiental, com a adoção de medidas
22
mitigadoras, voltadas para as potencialidades apresentadas pela área a ser planejada. O projeto
integrado de manejo de bacias hidrográficas deve envolver uma equipe multidisciplinar, com o intuito
de equacionar todas as variáveis que se apresentarem como deteriorantes da qualidade ambiental. O
gerenciamento de uma bacia deve encarregar-se de acionar as partes políticas e administrativas locais
para a viabilização do projeto como um todo.

A descentralização e a participação da sociedade são pilares fundamentais do modelo sistêmico de


gestão de recursos hídricos em implantação no Brasil. A adoção da bacia hidrográfica como unidade
básica de planejamento e gestão determina o espaço e a dinâmica assumida pela participação e
envolvimento da sociedade da bacia, via sistema de representação. Essa representação ocorre na forma
de grupos da sociedade civil, governo e usuários da água, organizados em Comitês de Gerenciamento
de Bacias Hidrográficas.

2.3 O Pensamento Sistêmico na Gestão de Bacias Hidrográficas

O pensamento sistêmico é um pensamento interdisciplinar, o qual considera as relações e inter-


relações existente entre os diversos sistemas no ambiente, como afirma FERRARI apud SCHLEE et
al. (2009) que o sistema é uma reunião, um grupo, um conjunto, onde é composto por diversas partes
e suas variadas interligações,(...) no gerenciamento de uma bacia hidrográfica a visão sistêmica é
muito importante para uma efetiva gestão, considerando todas as peculiaridades de cada unidade
territorial.

Para SCHLEE et al. (2009) essa visão reforça o pensamento segundo o qual não há paisagem sem
transformação e não há natureza sem a ação humana, a qual se torna um produto contaminado de
cultura, seja por fenômenos biofísicos, sociais, econômicos e políticos, originados pelas formas de
ocupação e gestão do território.

Como descreve AB ́SABER (2003): “paisagem é sempre uma herança [...] herança de processos
fisiográficos e biológicos, e patrimônio coletivo dos povos que historicamente as herdaram como
território de atuação de suas comunidades”.

Segundo CAPRA (1997), o pensamento sistêmico opera com três critérios fundamentais e
interdependentes: 1) padrão de organização – a configuração de relações que determina as
características essenciais do sistema; 2) estrutura – a incorporação física do padrão de organização do
sistema; 3) processo vital – a atividade envolvida na incorporação contínua do padrão de organização
do sistema.

No caso de bacias hidrográficas a dificuldade está em encontrar o padrão, pois se pode considerar
a paisagem como um produto e ou como um sistema, como diz MACEDO (2015). No primeiro caso
é resultado de um processo sócio espacial e de gestão do território, enquanto que no segundo, decorre

23
das ações antrópicas que podem alterar parcial ou totalmente a morfologia da paisagem e geram
consequências no ambiente.

Na atualidade, não basta descrever as paisagens, o desafio contemporâneo é procurar compreender


as complexas relações que as conformam, movimentam, transformam e engendram identidades,
conflitos, representações, apropriações, ideologias. Nesse sentido, no âmbito das discussões
relacionadas aos sistemas de espaços livres, nossa reflexão pontua a paisagem como produto que
incorpora os processos biofísicos e os processos sociais nela refletidos, em diversos tempos e escalas,
e apresenta elementos de integração ou fragmentação territorial, criando e recriando formas, funções
e fluxos, com funções ecológicas diversas, em estágios diferentes de intervenção humana (SCHLEE
et al., 2009).

Pensar a bacia hidrográfica como um sistema, induz a uma interpretação da estrutura espacial como
um sistema complexo, pois cada parte do sistema pode ser considerada, isoladamente, também como
um sistema, ou como um subsistema (MACIEL, 2018).

Por outro lado, todo sistema pode também ser considerado como parte de um sistema mais amplo
e neste caso, é nítida a importância da escala, permitindo o estudo das relações existentes neste tipo
de ambiente estar integrado a uma compreensão da noção de escala espacial e da dimensão espaço-
tempo, conforme afirma SCHLEE et al. (2009).

O grau de complexidade do sistema é dado pela quantidade de relacionamentos observados e


estabelecidos pelo dinamismo do espaço que reúne as condições favoráveis para o desenvolvimento
da vida. Na bacia hidrográfica além da biodiversidade existente é importante considerar as cidades
que o compõem.

Sobre a complexidade, CAPRA (1982) a compara a uma árvore (vide Figura 4), a qual extrai seu
alimento tanto pelas raízes, quanto pelas folhas, com isso, “a energia numa árvore sistêmica flui em
ambas as direções, sem que uma extremidade domine a outra e que todos os níveis interagem em
harmonia, interdependentes, para sustentar o funcionamento do todo”.

24
Células

Tecidos

Órgãos

Sistemas de Órgãos

Organismo

Figura 4 - Árvore Sistêmica.


Fonte: CAPRA (1982)

Uma abordagem sistêmica na gestão integrada dos recursos hídricos visa organizar os
conhecimentos sobre os processos ligados à vida e possibilita auxiliar na compreensão da realidade
dinâmica de uma bacia hidrográfica. Cuja vida se expressa através de seus diversos elementos
constituintes e nas práticas efetivas mais adequadas ao equilíbrio dos sistemas existentes.

Em razão do caráter sistêmico do conceito de bacia hidrográfica, a Lei nº 9.433/1997 deixou que
as bacias, na forma de unidades de gestão, fossem definidas caso a caso, dando a possibilidade de
conformá-las de acordo com a escala e as características da problemática local (PORTO e PORTO,
2008).

2.4 Bacia Hidrográfica como Unidade de Gestão

TUCCI (1993) cita que o estudo da bacia hidrográfica permite observar em detalhes a variação dos
diferentes processos que ocorrem nela, e que, com base no registro das variáveis hidrológicas
envolvidas, é possível entender melhor os fenômenos e procurar representá-los matematicamente. Isso
porque a bacia hidrográfica possui características essenciais, que permitem a integração
multidisciplinar entre diferentes sistemas de gerenciamento, estudo e atividade ambiental,
especialmente por ser um processo descentralizado de conservação e proteção do ambiente.

25
BORDALLO (1995) afirma que a utilização da bacia hidrográfica, como unidade de estudo, para
a gestão das distintas formas de atividade e uso das potencialidades ambientais, tem como finalidade
projetar, interceder, executar e manusear as melhores formas de apropriação e exploração de seus
recursos naturais. Com isso, pode proporcionar-se o desenvolvimento econômico e social da
respectiva população que usufrui do recurso, bem como a sustentabilidade, mitigando o impacto
negativo na qualidade de vida.

Gestão de recursos hídricos pode ser definida como a utilização e a administração racional,
democrática e participativa das águas (BINOTTO, 2012). Também pode ser conceituada como uma
atividade direcionada à formulação de princípios e metas, ao desenvolvimento de documentos
orientadores e normativos, à estruturação de sistemas gerenciais e à formação de resoluções, tendo
como objetivo promover o uso consciente, controle e proteção da água por meio de planejamentos
(SEMAD, 2008).

CARVALHO e KAVISKI (2009) citam que a utilização diversificada e contínua dos recursos
hídricos afetam a qualidade da água na bacia hidrográfica, cujos indicadores de suas condições ficam
abaixo dos padrões estipulados pela legislação. Em virtude desse uso variado, a gestão das águas
passou a ser integrada englobando águas atmosféricas, superficiais, subterrâneas e, assim, incluindo a
bacia hidrográfica como suporte para planejamento (TUNDISI; TUNDISI, 2005).

Para NASCIMENTO e VILLAÇA (2008), o gerenciamento da água envolve um conjunto de


atividades, sendo que dentre elas está o fomento de políticas públicas com a inclusão do usuário na
participação da gestão hídrica. Para PAIVA e PAIVA (2001), o planejamento a ser desenvolvido em
uma bacia pode variar conforme a finalidade da utilização da região hidrográfica. Esses autores
explicam que, para tal planejamento, se faz necessário uso de programas de monitoramento, que são
de grande importância para a complementação das informações hidrológicas da bacia, além do
funcionamento de processos químicos, físicos e biológicos que atuam no ciclo hidrológico. VILAÇA
et al. (2009) afirmam que a bacia hidrográfica pode ser considerada uma excelente unidade de gestão
tanto de elementos naturais, quanto sociais, devido ao seu aspecto integrador, e ressaltam que se deve
levar em consideração as relações que a sociedade e suas atividades têm com o meio em que se
encontram, para que a gestão e o planejamento possam ser entendidos de forma integrada. Neste
último caso, os comitês de gestão de bacias hidrográficas podem promover discussões envolvendo os
problemas pertinentes a planejamentos e tomadas de decisões a respeito do uso dos recursos hídricos.

2.5 Bacia Hidrográfica Frente às Divisões Políticas

Muitas vezes as divisões das bacias hidrográficas diferem das divisões políticas acarretando em
uma maior complexidade no enfrentamento das problemáticas da governança das águas. O desafio
mais recente consiste no entendimento a partir da Lei nº 11.445/2007, conhecida como Lei do

26
Saneamento Básico, que atribui ao Município a titularidade pela prestação dos serviços de saneamento
básico, setor esse usuário dos recursos hídricos. O enfoque local faz com haja uma descontinuidade e
falta de otimização dos sistemas de saneamento básico, uma vez que sua atividade de acordo com a
legislação ambiental não é de impacto local.

Para HELLER e CASTRO (2007), as políticas públicas de saneamento compreendem dois


diferentes níveis de formulação e implementação: o nível da política pública em si, considerada como
aquele em que o Estado estabelece e pratica seus marcos políticos, legais e institucionais, geralmente
em seu nível central; e o nível da gestão, que se refere à organização dos serviços, podendo ser
realizado no nível local ou não, a depender da concepção adotada. No nível da política pública, para
além dos condicionantes inerentes ao setor de saneamento, atuam condicionantes sistêmicos. Dentre
as condições externas fundamentais podem ser mencionados processos políticos e econômicos, mas
também importantes fatores culturais – como a cultura política dominante – que podem facilitar ou
dificultar a adoção de políticas particulares. Seria relevante ainda destacar, na realidade brasileira, a
dimensão federalista do país e os conflitos e interesses resultantes da atuação da União, estados e
municípios no setor.

Sendo assim, mais uma vez, a bacia hidrográfica se torna a unidade fundamental para
gerenciamento de recursos hídricos. PORTO e PORTO (2008) mencionam que não há um limite
geográfico que seja considerado ideal perante os agentes que participam do processo de gestão, porém
o benefício em adotar delimitação para a bacia hidrográfica se encontra na intrínseca ligação física
que a área tem com a hidrografia, a qual, nada mais é do que a rede de gestão.

A gestão em uma bacia traz recursos para estudos que envolvam rede de drenagem, o que possibilita
o uso adequado da água e gera menores impactos ao meio ambiente. Embora este aspecto seja a
essência para a gestão, é fundamental a cooperação de órgãos, setores e autoridades para que o
gerenciamento ambiental seja desenvolvido e possa atender às necessidades da comunidade. Nesse
caso, salienta-se que para não tornar-se pouco eficaz a gestão participativa, o controle social deve
encontrar meios contínuos e ordenados para ofertar as informações (MACHADO, 2000).

2.6 Comitês de Bacias Hidrográficas

A área de atuação dos Comitês das Bacias Hidrográficas deve compreender: - a totalidade da área
da Bacia; - sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água principal, ou de tributário desse
tributário; - grupo de bacias ou sub-bacias contíguas. A instituição de Bacias Hidrográficas em rios de
Domínio da União será por ato do Presidente da República. Compete aos Comitês de Bacia; -
promover o debate e articular a atuação das entidades intervenientes; - arbitrar, em primeira instância
administrativa, os conflitos; - aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia; - acompanhar a execução
sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas; - propor aos Conselhos Nacional

27
e Estaduais de Recursos Hídricos as acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca
expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga, de acordo com os domínios destes; -
estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso e sugerir os valores a serem cobrados; - estabelecer
critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo. Das
decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica caberá recurso ao Conselho Nacional ou aos Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com sua esfera de competência. Os Comitês de Bacia
Hidrográfica são compostos por representantes: - da União; - dos Estados e do Distrito Federal; - dos
Municípios; - dos usuários das águas de sua área de atuação; - das entidades civis de recursos hídricos
com atuação comprovada na bacia.

Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias de rios fronteiriços e transfronteiriços de gestão


compartilhada, a representação da União deverá incluir um representante do Ministério das Relações
Exteriores. Naqueles cujos territórios abranjam terras indígenas devem ser incluídos representantes
da: - da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, como parte da representação da União; - das
comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.
Os comitês de bacia têm em sua composição, membros dos diversos níveis de governo, dos agentes
privados e da sociedade civil. Sabe-se que as decisões que saem do consenso formam pactos e tendem
a ser mais sustentáveis, mas sabe-se também que são mais demoradas. Buscam-se soluções que
contemplem de forma satisfatória os interesses dos diversos agentes envolvidos e isso é parte do
processo de negociação.

A participação da União nos Comitês de Bacia Hidrográfica com área de atuação restrita a bacias
de rios sob domínio estadual, dar-se-á na forma estabelecida nos respectivos regimentos.

As atividades dos usuários de água em uma bacia hidrográfica são competitivas e se acirram à
medida que diminui a disponibilidade hídrica per capita. A forma de dar sustentabilidade e equidade
a essa competição foi definida pela Lei nº 9.433/1997 e ela se dá por meio da instância de decisão
local que são os Comitês de Bacia Hidrográfica (...) por meio da qual a decisão é trazida para o nível
local (PORTO e PORTO, 2008).

Entre as atribuições dos Comitês de Bacia Hidrográfica, definidas pela Lei das Águas, está entre
elas as obrigações de articulação entre os diversos agentes, a atuação em primeira instância em caso
de conflito, a aprovação do plano de recursos hídricos e a aprovação da implantação da cobrança e da
proposta de preço.
Os primeiros Comitês de Bacia Hidrográfica surgiram no Rio Grande do Sul no ano de 1988, são
eles os Comitês das Bacias Sinos e Gravataí, afluentes do Lago Guaíba tiveram sua origem a partir
das demandas da própria comunidade das bacias hidrográficas, com o apoio do governo do Estado.
Na sua origem esses comitês tinham apenas com atribuições consultivas, a grande mobilização os
tornou produtivos, e, posteriormente, eles foram incorporados ao sistema de gestão do Estado.

28
3 PANORAMA GERAL NA UTILIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE
GESTÃO NA GOVERNANÇA DAS ÁGUAS

Passados mais de 20 anos da vigência da Lei nº 9.433/97 verifica-se que há muito que avançar, as
ações mais estruturadas aconteceram em bacias com criticidade de oferta demandadas pela crise
hídrica e com economia próspera, a maioria localizada no sudeste do País. Porém, essas ações não
foram suficientes para evitar a crise hídrica, mediante essas circunstâncias foi proposta a criação de
um Comitê Interministerial de Segurança e Infraestrutura Hídrica com o objetivo de fomentar,
regulamentar e viabilizar medidas que impulsionem a Gestão Integrada de Recursos Hídricos. Através,
por exemplo, do aperfeiçoamento nas regras de operação de reservatórios e da integração dos
planejamentos setoriais, para promover uma atuação integrada e sistêmica.

Mesmo assim, “as atuações conjuntas dos entes do SINGREH têm encontrado dificuldades no
enfrentamento das situações de crise hídrica. Há fragilidades na atuação dos comitês de bacia que, em
geral, não têm conseguido responder a contento e há entraves para uma atuação integradas entre ANA
e Órgãos Gestores Estaduais de Recursos Hídricos. É preciso aperfeiçoar o processo participativo de
gestão de recursos hídricos, melhorando a representatividade dos colegiados e a inserção de
mecanismos que propiciem uma ampla consulta à sociedade brasileira, além de avanços no processo
de capacitação (ANA, 2017)”.

De acordo com a Conjuntura Recursos Hídricos Brasil1: Em 1997 havia 30 Comitês de Bacia
Hidrográfica (CBHs) criados em bacias de domínio estadual no Brasil, número este que correspondia
a 223 em 2016. Além destes, em 2016 encontravam-se instalados e em funcionamento 9 CBHs de
bacias interestaduais, sendo que 2 deles, Verde Grande (MG/BA) e Piancó-Piranhas-Açu (PB/RN) são
comitês únicos. Em 2016 foram criados 5 CBHs estaduais no Brasil.

A população abrangida pela área de atuação dos comitês está assim distribuída: cerca de 25,5%
habita área de influência de comitês federais e 75,5% de comitês estaduais. Considerando a existência
de sobreposição entre eles, tem-se que 49% da população do País vive em áreas sob atuação de algum
CBH.
Quanto à implementação das ações preconizadas no Plano Nacional de Recursos Hídricos:
“Observou-se que os avanços foram aquém do esperado na maior parte dos programas e ações
prioritárias estabelecidas. Isso se deveu principalmente à falta de planejamento para a execução e o
atendimento de cada ação no decorrer desta etapa inicial do Plano, evidenciada pela não definição
prévia de metas, prazos, responsáveis e recursos, além de metodologia para o acompanhamento e
implementação das ações propostas” (ANA, 2017).

Segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE2:


“Há muitos Planos de Recursos Hídricos - PRHs, mas em geral eles são mal coordenados e de fraca

1
http://conjuntura.ana.gov.br/static/media/gestao_agua.20ba2c97.pdf
2
Disponível em: goo.gl/mdTQZ4.

29
efetividade prática, devido à falta de capacidade de implementação e financiamento. Como resultado,
não passam de “tigres de papel” ou promessas a serem cumpridas por outros. Os 12 PRHs de bacias
interestaduais elaborados até 2016 abrangem uma área correspondente a 54% do Brasil. No entanto,
há baixa efetividade na implementação das ações propostas nesses planos. Mesmo após aprovada a
cobrança pelo uso da água em algumas bacias onde incidem os planos, por exemplo, poucas são as
intervenções efetivamente implementadas, dentre aquelas previstas. Além disso, há pouco rebatimento
dos planos na programação e orçamento dos órgãos gestores estaduais de recursos hídricos”.

Depreende-se daí que os planos de recursos hídricos precisam de aprimoramento principalmente


nas articulações intersetoriais e mais estreitamente com o saneamento básico, para que tenham maior
efetividade.

É inegável a relevância desse instrumento como orientador de ações de gestão para garantir água
em qualidade e quantidade no território e ao longo do tempo, porém eles não têm sido muito eficazes
pelos baixos índices de implementação. É preciso inovar na forma de elaboração dos planos com a
proposição de ações mais realistas considerando a viabilidade financeira e de execução das ações.
Além disso, ajustar os escopos dos diferentes níveis administrativos dos planos (nacional, estaduais e
de bacias) de modo a integra-los de maneira a reduzir redundâncias e torna-los mais complementares
em termos de atuação, além da adoção de mecanismos de acompanhamento e monitoramento durante
a implementação são desafios a serem enfrentados ANA (2017).

Quanto às agências de bacia ou agências de água que foram preconizadas com a função de
secretaria executiva dos comitês não foram totalmente integralizadas, estão em maior número na
região Sudeste, sendo que na maioria dos estados essa função é prestada pelas secretarias de meio
ambiente.

3.1 A relação entre os recursos hídricos e o saneamento básico

Não há como estabelecer uma governança exitosa se não houver uma maior integração dos setores
de recursos hídricos e saneamento básico aliados aos aspectos ambientais de uso e ocupação do solo,
todo o resto é consequência.

No Brasil, 524 municípios demandam soluções conjuntas no âmbito de suas respectivas bacias
hidrográficas para o tratamento e lançamento de efluentes em compatibilidade com a capacidade de
diluição do corpo hídrico receptor e com os usos da água preponderantes. Dentre as bacias com essas
características destacam-se as bacias do Tietê, incluindo as bacias PCJ, Sinos, Alto Iguaçu, Paraíba do
Sul, Velhas, Descoberto, Meia Ponte e Ipojuca. Os municípios localizados nas regiões de cabeceira
dos rios, por sua vez, requerem soluções complementares tendo em vista a baixa relação entre
população e disponibilidade hídrica, assim como os municípios do semiárido, em função dos rios
serem intermitentes e do elevado número de açudes (ANA, 2017).
30
A alta vulnerabilidade decorrente de um balanço hídrico desfavorável, associada a baixos
investimentos em infraestrutura hídrica, principalmente dos sistemas de produção de água, e períodos
de precipitações abaixo da média, podem agravar a situação e conduzir a períodos de crise hídrica por
escassez.

A crise hídrica no Sudeste impactou os sistemas de abastecimento de água das regiões mais
populosas e com maior demanda hídrica do Brasil, como a bacia do Paraíba do Sul. Naturalmente,
essa bacia caracteriza-se por conflitos entre usuários de água, estando localizada entre os maiores
polos industriais e populacionais do país. Através de um intrincado e complexo conjunto de estruturas
hidráulicas, ocorre a transferência de até 160 m³/s de água para a bacia do rio Guandu, incluindo uma
vazão média de 43 m³/s para a Estação de Tratamento de Água (ETA) Guandu, que abastece cerca de
9 milhões de habitantes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (ANA, 2017).

Em São Paulo, o Sistema Cantareira também foi prejudicado pela crise hídrica ocorrida em 2014 e
2015. Houve uma série de conflitos internos ao Estado, envolvendo o abastecimento da Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP), na bacia do Alto Tietê, e da Região Metropolitana de Campinas,
na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). Em 2010, estudo da ANA, em sintonia com os
trabalhos do Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista,
apontou São Paulo em situação de baixa garantia hídrica para o horizonte de 2015, já identificando a
necessidade de investimentos em outros mananciais para diminuição do risco de desabastecimento.

Por meio do Sistema Cantareira, que capta e reserva águas tanto de domínio da União como dos
Estados, é efetuada a transferência de 31 m³/s da bacia do Piracicaba para o Alto Tietê, influenciando
as vazões dos mananciais. Grande parte deles apresenta problemas de qualidade das águas,
particularmente agravados nos períodos de estiagem, necessitando de grandes investimentos em coleta
e tratamento de esgotos (ANA, 2017).

A crise hídrica possibilita uma visão crítica em relação à capacidade de antecipação das condições
às quais os sistemas de engenharia precisam atender, tentando equilibrar objetivos de garantia de
atendimento com a minimização de custos sociais ou ambientais. A partir desse panorama, pode ser
observado que várias regiões do Brasil necessitam de infraestrutura para aumentar sua segurança
hídrica, sabendo-se que as mudanças climáticas apontam para uma tendência de intensificação das
secas nessas regiões.

Diversos eixos de ação compõem a aplicação do conceito de segurança hídrica, como a garantia de
oferta de água de qualidade adequada e quantidade para abastecimento humano e atividades
produtivas, respeitando os limites de conservação ambiental, e a redução da vulnerabilidade aos
eventos extremos nas bacias hidrográficas. Normalmente, para uma região manter ou restabelecer seu
nível de segurança hídrica frente às demandas de água, são necessárias ações estruturantes e
mecanismos institucionais.
Em suma, o setor de recursos hídricos vem atuando de forma fragmentada, apesar de possuir uma
boa estrutura federal e bom respaldo técnico, as medidas estruturantes de articulação com os demais

31
setores estão avançando de forma positiva, porém há uma carência estrutural de articulação entre os
setores transversais.

3.2 Lei nº 11.445/2007(Saneamento) x Lei nº 9.433/1997(Recursos Hídricos)

Tanto os marcos legais quanto os institucionais relativos à área de saneamento guardam importantes
e óbvias interfaces com a área de recursos hídricos. E trata-se de uma relação biunívoca: a legislação
de uma área influencia a outra e vice-versa. Semelhantemente, existem temas comuns tratados pelas
duas áreas, enquanto estruturas do aparelho do Estado (MMA, 2006).

Com o objetivo de destacar a interface das políticas de recursos hídricos e saneamento é


apresentados no Quadro 1, agrupados por cores os pontos congruentes que poderiam ser integrados,
propiciando uma maior otimização de recursos em ações comuns a ambas as políticas. E discorrido
na sequencia a análise dessa compatibilização.
- Cap.I: Dos Fundamentos (Lei 9.433/97) x Cap.II: Do Exercício da Titularidade (Lei 11.445/07)

A Lei dos recursos hídricos define claramente a unidade territorial de gestão como sendo a bacia
hidrográfica e a lei do saneamento básico menciona que o titular é o responsável pela gestão, após, foi
interpretado com auxílio da Constituição Federal – CF/88 que o limite de gestão para o saneamento
básico é o Município.

A diferença de recorte territorial nas respectivas políticas pode gerar dificuldades na gestão das
bacias hidrográficas e na atividade regulatória do setor de saneamento básico, uma vez que os
municípios nem sempre tem as mesmas condições técnicas-econômicas de alavancar seus planos com
cronogramas compatíveis, podendo gerar entraves no atendimento às metas de saneamento básico,
preconizadas nos planos de bacia hidrográfica.

De acordo com STIMAMIGLIO (2012), importante ponto a ser considerado na adoção do modelo
regulatório regional é ter a proximidade entre os municípios, preferencialmente que compartilhem
características semelhantes (e a bacia hidrográfica ou sub-bacias seriam uma dessas características),
de forma a possibilitar a uniformidade de regulação que respeite os interesses e particularidades locais
e se alcançar a viabilidade financeira na atividade regulatória, com o rateio de despesas entre os
municípios associados. Confirma o raciocínio a determinação constante do Art. 11, Inc. II da Lei nº
11.445/2007, que demonstra a relevância da sustentabilidade financeira e técnica dos serviços, no que
se inclui a respectiva regulação.

No exercício da titularidade o Município poderá delegar a prestação dos serviços, a fiscalização e


a regulação, porém é de sua competência não cabendo delegação a elaboração do Plano Municipal de
Saneamento Básico e alimentar o Sistema de Informações.

- Cap.II: Dos Objetivos (Lei 9.433/97) x Cap.I: Dos Princípios Fundamentais (Lei 11.445/07)
32
No que tange aos objetivos e princípios os mesmos são totalmente congruentes em ambas as leis.
A universalização e integralidade dos serviços de saneamento básico contribuirão para assegurar o
acesso às gerações futuras, desde que preconize a utilização racional, e também gerarão externalidades
positivas na consecução das medidas de prevenção e defesa contra eventos hidrológicos críticos e
controle da poluição.

Segundo TUCCI (2008) o processo de urbanização gera um ciclo generalizado de contaminação


com a retirada de água a montante, o despejo a jusante sem tratamento dos efluentes e a transferência
dos impactos para jusante. Este ciclo gera impactos como o aumento da vazão máxima, a frequência
da inundação devido à impermeabilização e canalização, o aumento da erosão, resíduos sólidos e da
carga de poluentes com redução da qualidade da água de jusante, o escorregamento de encostas, as
doenças de veiculação hídrica e inundações ribeirinhas. O autor conclui resumindo este contexto como
sendo vulnerabilidades urbanas: a redução da disponibilidade hídrica, o agravamento ambiental:
qualidade da água, emissão de gases, fragmentação dos ambientes, o aumento da frequência das
inundações urbanas e seus efeitos, saúde, etc.
- Cap.III: Das Diretrizes Gerais de Ação (Lei 9.433/97) x Cap.III: Da Prestação Regionalizada do Serviço
Público de Saneamento Básico (Lei 11.445/07)

Nas diretrizes da Política Nacional dos Recursos Hídricos há o destaque para a necessidade da
integração dos recursos hídricos com a gestão ambiental, a articulação do planejamento com os setores
usuários a nível regional, estadual e nacional, com a do uso do solo e com os sistemas estuarianos e
zonas costeiras.

A Lei do saneamento básico menciona a prestação regionalizada, mas não especifica à forma, uma
vez que ao definir a titularidade como ponto de partida para a gestão dos serviços, gera uma lacuna,
não especificando claramente a necessidade de avaliar essa regionalização, com uma unidade
compatível com a gestão dos recursos hídricos. Mesmo havendo essa indefinição a compatibilidade
de planejamento mencionada reforça a importância do planejamento integrado utilizando como
unidade de gestão a bacia hidrográfica.

Segundo LIMA (2006), pode-se compreender o ordenamento territorial como o resultado da


implantação de um planejamento integrado e sistêmico do uso dos recursos naturais e do território,
posto em prática por meio da realização de ações de curto, médio e longo prazos, de políticas positivas,
de estabelecimento de diretrizes e de incentivo pelo Estado (planejamento, fiscalização, controle e
fomento) acordado com a participação efetiva da sociedade.

- Cap.IV: Dos Instrumentos (Lei 9.433/97) x Cap.IV: Do Planejamento, Cap.VI: Dos Aspectos Econômicos
e Sociais, Cap.VII: Dos Aspectos Técnicos, Cap.VIII: Da Participação de Órgãos Colegiados no Controle
Social e Cap.IX: Da Política Federal de Saneamento Básico (Lei 11.445/07)

Os instrumentos de gestão dos recursos hídricos são fortemente interdependentes e


complementares do ponto de vista conceitual, e têm por objetivo comum a promoção da proteção e
recuperação das águas de uma bacia hidrográfica. A implantação desses instrumentos demanda

33
capacidades técnicas, políticas e institucionais, requerendo também a participação e aceitação de todos
os atores envolvidos, entre eles destacando-se o setor de saneamento básico.

Ao avaliar a interface dos instrumentos da Lei nº 9.433/1997: enquadramento, outorga, cobrança,


plano de recursos hídricos e sistema de informações com o planejamento, aspectos econômicos e
sociais, aspectos técnicos, a participação de órgãos colegiados no controle social e a política nacional
de saneamento básico, pode-se vislumbrar a possibilidade de integrar e compartilhar ações.

A elaboração e consecução dos planos de recursos hídricos de um lado demandarão dos serviços
de saneamento uma visão prospectiva estratégica, rompendo lógicas imediatistas que caracterizam
grande número deles, além de uma nova disposição em cooperar com o fornecimento de informações;
de outro, a necessidade de consideração da visão de bacia hidrográfica e a inserção de suas ações nesse
recorte geográfico-territorial, o que pode ser fator de avanço na obtenção de maior efetividade em
suas ações (BRASIL, 2006).

Já a Lei nº 11.445/2007 não denomina como instrumentos, mas assim se pode considerar em
analogia aos recursos hídricos, os planos de saneamento básico Federal, Estadual e Municipais; a
regulação dos serviços de saneamento básico; e o sistema de informações do saneamento.

A Lei nº 11.445/2007 no seu Art. 19, §3º estabelece que “Os planos de saneamento básico deverão
ser compatíveis com os planos das bacias hidrográficas em que estiverem inseridos”.

Ou seja, cada município ao elaborar seu Plano Municipal de Saneamento Básico deverá certificar-
se da existência de um Plano de Bacia em que seu território esteja inserido e executar seu planejamento
de acordo com as metas preconizadas no mesmo, se houver, caso contrário o planejamento dar-se-á a
revelia de uma visão global e sujeito a externalidades negativas, que poderiam estar contempladas em
um planejamento integrado.

Os planos de saneamento devem propor ações para atingir as metas de enquadramento dos recursos
hídricos. Porém, existem alguns aspectos que merecem ser avaliados, tais como flexibilizar etapas
para atingir os objetivos do enquadramento, com as possibilidades reais para executar obras de
saneamento básico. Como exemplo, o que ocorre com frequência nas metas de planos de bacia prever
um reenquadramento de recurso hídrico com um horizonte de 5 anos. Este tempo corresponde em
média ao necessário para uma obra de saneamento ser concluída no Brasil, considerando todas as
etapas desde a licitação do projeto, projeto, licitação da obra, obra, e assim por diante.

Há também a necessidade de melhorias na integração dos planos de recursos hídricos com outras
políticas setoriais - em especial com as de infraestrutura hídrica, meio ambiente e saneamento, na
sustentabilidade e viabilidade financeira para garantir o pleno funcionamento do sistema, na
conservação e preservação de corpos hídricos estratégicos. Através do pagamento por serviços
ambientais, da gestão da demanda - por meio do fomento ao uso cada vez mais racional da água (reuso,
adoção de tecnologias mais eficientes na irrigação, dentre outras) e no aperfeiçoamento da Política
Nacional de Segurança de Barragens (ANA, 2017).

34
Quanto a regulação dos serviços de saneamento básico, e por extensão as agências reguladoras,
devem zelar pela qualidade dos serviços, pelo equilíbrio dos sistemas e pela equidade de acesso aos
recursos comuns. Essas ações qualificam e otimizam os serviços e demandas de água abarcando os
aspectos técnicos, econômicos, sociais e ambientais. Estando intimamente ligado aos recursos hídricos
como seu usuário, e cuja utilização está condicionada à outorga de direito de uso, tanto para a captação
para os sistemas de abastecimento de água, como para o lançamento de efluentes domésticos.

Quanto aos sistemas de informações estão sendo sistematizadas com a elaboração dos Atlas Água
e Esgotos pela Agência Nacional de Águas – ANA, proporcionando dessa forma uma integração e
compatibilização das informações concernentes aos recursos hídricos e saneamento básico,
indispensável para o planejamento e gestão dos respectivos setores. Porém se faz necessária uma
operacionalização maior integrando informações para o planejamento e gestão dos respectivos setores.

- Título II: Cap.I: Dos Objetivos e da Composição (Lei 9.433/97) x Cap.V: Da Regulação (Lei 11.445/07)

O setor de recursos hídricos possui sua agência reguladora, a ANA, além de prever a instalação de
comitês de bacia hidrográfica e agências de água com a função de secretaria executiva dos comitês. O
setor de saneamento básico, não possui uma agência reguladora nacional, a regulação vem sendo
exercida por agências estaduais, regionais ou municipais utilizando apenas os planos municipais de
saneamento básico como instrumento, sem qualquer avaliação integrada. Entretanto, a nível federal
está em curso a Medida Provisória nº 844, de 06 de julho de 2018, que prevê que a ANA incorpore as
suas atividades a regulação do saneamento básico, porém essa MP, ainda não foi aprovada pelo
Congresso Nacional.

Um grande número de municípios brasileiros ainda não submeteu seus serviços de saneamento
básico à regulação, por não possuir condições técnicas e/ou economia de escala, alguns autores
defendem o consórcio como forma de viabilizá-las.
PROBST (2012) defende uma série de vantagens na adoção dos entes consorciados de regulação,
a iniciar pela economia financeira gerada pela existência de uma estrutura compartilhada apta a
atender os interesses de vários entes federativos, com os custos rateados entre estes. Desta
característica decorre também a possibilidade de contar com corpo funcional melhor qualificado e
remunerado, com estabilidade e compatível com a complexidade da atividade regulatória.
O fato é que a criação de um consórcio público é algo complexo, que exige planejamento, vontade
governamental e união regional, no qual “a concretização de políticas públicas regionais é, sobretudo,
resultado da vontade política dos representantes do poder público e será tanto mais fortalecida quanto
mais amplo for o seu diálogo com a sociedade civil” (BATISTA, 2011).

35
Quadro 1 - Estrutura das Leis 9.433/1997 e 11.445/2007
Lei 9.433/97 - Recursos Hídricos Lei 11.445/07 - Saneamento Básico
Da Política Nacional de Recursos
Título I
Hídricos
Dos Princípios Fundamentais
Dos Fundamentos Cap.I
Universalização e integralidade
Cap.I - a bacia hidrográfica é a unidade territorial
de gestão
Do Exercício da Titularidade
Dos Objetivos O titular poderá delegar a organização,
- assegurar o acesso às gerações futuras regulação, fiscalização e prestação dos
Cap.II - utilização racional Cap.II serviços.
- prevenção e defesa contra eventos O titular deverá:
hidrológicos críticos - elaborar os planos de saneamento;
- alimentar o sistema de informações.
Das Diretrizes Gerais de Ação
Da Prestação Regionalizada do Serviço
- gestão da qualidade e quantidade
Cap.III Cap.III Público de Saneamento Básico
- integração com a gestão ambiental e do - compatibilidade de planejamento.
uso do solo
Dos Instrumentos
- Planos dos Recursos Hídricos
Do Planejamento
- Enquadramento
Cap.IV Cap.IV - a prestação dos serviços deverá observar o
- Outorga
plano
- Cobrança
- Sistema de Informações
Do Sistema Nacional de Gerenciamento Da Regulação
Título II Cap.V
de Recursos Hídricos - independência, autonomia e transparência.
Dos Objetivos e da Composição
- implementar a PNRH, que integram:
- CNRH : Conselho Nacional de Recursos
Hídricos
Dos Aspectos Econômicos e Sociais
- ANA: Agência Nacional de Águas
Cap.I Cap.VI - sustentabilidade econômico-financeira pela
- CERH – Conselhos Estaduais
cobrança dos serviços
- Comitês de Bacia
- Órgãos públicos relacionados com
Recursos Hídricos
- Agências de água
Dos Aspectos Técnicos
Título III Das Infrações e Penalidades Cap.VII -regularidade e continuidade
-licenciamento ambiental
Da Participação de Órgãos Colegiados no
Título IV Das Disposições Gerais Cap.VIII Controle Social
- participação social
Da Política Federal de Saneamento Básico
- Plano Nacional de Saneamento Básico
Cap.IX
- Sistema Nacional de Informações em
Saneamento Básico - SINISA
Cap.X Disposições Finais

Fonte: Elaboração própria a partir das Leis correlatas

36
No Quadro 2 é apresentado um exemplo de ações de saneamento básico com seus respectivos
custos, para a implementação do Plano de Bacia do Rio dos Sinos no Rio Grande do Sul, cujo comitê
de bacia foi o primeiro a ser implantado no Brasil.

No Quadro 3 é feito um comparativo entre os instrumentos de gestão das políticas de recursos


hídricos e saneamento básico e no Quadro 4 foi correlacionada a interface dos instrumentos de
Recursos Hídricos e Saneamento, com seus objetivos.

No Quadro 2, a seguir, é apresentado a título de ilustração a lista de ações previstas no Plano de


Bacia do Rio do Sinos / RS, onde se destacam ações diretamente ligadas ao saneamento básico:

Quadro 2 - Ações específicas do saneamento básico do Plano de Bacia do Rio dos Sinos
Custo do Programa
Ordem Programas /Ações Prazo(anos)
(R$)
2.2 Programa de redução de perdas nos sistemas de
2 13.500.000,00
abastecimento
Tratamento de esgotos em grandes áreas
4.1 20 1.758.868.127,00
urbanas
TOTAL das ações de saneamento básico 1.772.368.127,00
TOTAL do plano 2.907.719.127,00

Fonte: adaptado pela autora do Plano de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (2014).

Note-se que o valor total das ações com saneamento básico correspondem a 60,95%, do valor total
para a consecução de todas as ações previstas no Plano de Bacia. Quadro 1: Estrutura das Leis
9.433/1997 e 11.445/2007

A partir do exemplo apresentado, reforça-se a importância das ações conjuntas e bem articuladas
técnica e operacionalmente, visando obter os resultados preconizados nos respectivos planos de bacia
e saneamento básico, ressaltando também a importância do planejamento integrado por bacia
hidrográfica, onde projetos de saneamento poderão ser otimizados a partir de adoção de sistemas
integrados, podendo inclusive viabilizar técnica-economicamente sistemas individuais inviáveis.

A seguir no Quadro 3, são apresentados os instrumentos das políticas públicas do saneamento


básico e recursos hídricos, visando reforçar o argumento quanto a necessidade de integrar de forma
mais efetiva as respectivas políticas:
- o enquadramento dos corpos de água em classes segundo os usos preponderantes da água em
verdade não constitui instrumento novo para a maior parte dos serviços, que já vêm considerando tal
variável no planejamento de seus sistemas, mais especificamente de disposição de águas residuárias
que corroboram também para o atingimento de indicadores e parâmetros mínimos de potabilidade nos
sistemas de abastecimento de água, além de visar à recuperação de recursos hídricos em más condições
e a proteção dos que ainda não foram antropizados, e são balizadores da priorização das metas para o

37
saneamento. Ao hierarquizar os investimentos, através das metas de enquadramento nos Planos de
ambos os setores, estará se evitando criticidades futuras de indisponibilidade e consequente
incremento de custos pela necessidade de aumentar distâncias de captações;

- a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos, já se constitui em instrumento incorporado à


rotina da maior parte dos responsáveis pelos serviços de saneamento, necessária na obtenção
licenciamento ambiental de suas unidades operacionais, por se tratar de instrumento de regulação e
fiscalização dos órgãos ambientais, uma vez que para garantir a disponibilidade de água para as
atividades do saneamento básico a outorga se faz necessária como instrumento regulador de demanda
e da diluição;

- a cobrança pelo uso de recursos hídricos tem sido objeto de contestação dos gestores, ao
considera-lo mais um encargo, com possíveis impactos sobre o equilíbrio financeiro e
consequentemente sobre as tarifas, porém avaliações demonstram a pouca importância do impacto, e
a cobrança viabiliza os meios para os comitês de bacia trabalhar na qualidade ambiental dos recursos
hídricos, configurando em importante instrumento na distribuição dos subsídios quando da existência
se sistemas inviáveis economicamente, além de que a cobrança pelo uso incentivará o uso racional de
forma a evitar o desperdício;

- o sistema de informações sobre recursos hídricos pode ser ainda mais potencializado como
instrumento de previsão das restrições de explotação dos recursos hídricos pelos sistemas de
saneamento, sendo de extrema importância a cooperação e fornecimento de informações sobre as
contribuição das fontes poluidoras geradas por estes sistemas na qualidade das águas, assim
contribuindo para melhor planejamento e melhor definição de intervenções prioritárias.

Quadro 3 - Instrumentos de Gestão das Leis 9.433/1997 e 11.445/2007


Lei 9.433/97 - Recursos Hídricos Lei 11.445/07 - Saneamento Básico
Plano de Recursos Hídricos Plano de Saneamento Básico
Enquadramento dos corpos de água, segundo seu
Indicadores e parâmetros mínimos de potabilidade
uso
Outorga dos direitos de uso Regulação / Fiscalização
Instrumentos Financeiros e Administrativos
Cobrança pelo uso Custo mínimo para manutenção dos serviços
Subsídios
Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos Sistema de Informações sobre Saneamento Básico

Fonte: Elaboração própria a partir das Leis correlatas

Temas como a outorga para uso e para lançamento de efluentes, a proteção de mananciais, o
monitoramento da qualidade da água, a pesquisa hidrológica e hidrogeológica, o licenciamento
ambiental de obras hidráulicas, o controle social sobre o uso da água, a atuação dos comitês de bacias

38
e programas de economia de água, dentre vários outros, mais que se situarem na interface entre as
duas áreas, são efetivamente interesses comuns entre elas.

Tal constatação releva a necessidade de atuação muito integrada entre ambas às áreas, sob o risco
de descoordenação de orientações e procedimentos e até mesmo de conflitos institucionais.

As funções de gestão dos serviços tanto de saneamento básico como de recursos hídricos abrangem
o planejamento, a prestação, a fiscalização e a regulação, considerando em todas elas a adoção de
instrumentos e mecanismos de participação e controle social. Portanto, compatibilizar essas atividades
mesmo requerendo um exaustivo exercício político poderia acarretar em avanços consideráveis no
estágio atual das respectivas políticas públicas de ambos os setores.

A interface dos Instrumentos é indiscutível e a integração dos planejamento podem otimizar


recursos, tempo, resultados e aplicabilidade. No Quadro 4, a seguir é apresentado um resumo da
interface entre os instrumentos com os seus respectivos objetos.

Das análises elaboradas no decorrer deste capítulo conduzem a buscar uma sintonia para a
governança das águas, agregar os princípios da gestão integrada dos recursos hídricos as ações de
planejamento dos serviços de saneamento básico, aproximando as ações e as vinculando a unidade
física-territorial da bacia hidrográfica para planejamento e gerenciamento dos respectivos setores.

Quadro 4 - Interface dos Instrumentos de Recursos Hídricos e Saneamento


Instrumentos da Política de
Interfaces com o Saneamento Objetivos
Recursos Hídricos
Captação de água bruta
Outorga Garantir a disponibilidade de água
Lançamento de efluentes
Assumir compromissos da
Enquadramento Lançamento de efluentes
qualidade das águas
Plano de Bacias Planos Municipais de Saneamento
Planos Estaduais de Recursos Garantir a inclusão de critérios do
Planos Estaduais de Saneamento
Hídricos setor de recursos hídricos na
hierarquização dos investimentos
Plano Nacional de Recursos Plano Nacional de Saneamento
Hídricos Básico
Reconhecer a água como bem
econômico;
Tarifas
Incentivar a racionalização do uso
Preços públicos da água;
Cobrança
Taxas de serviços Obter recursos financeiros os
Educação ambiental programas e intervenções
contemplados nos planos de recursos
hídricos.

Fonte: Elaboração própria a partir das Leis correlatas

39
3.3 Gestão associada3

A Lei de Consórcios Públicos e da Gestão Associada (Lei nº 11.107/2005), regulamentada pelo


Decreto nº 6.017, de 17 de janeiro de 2007, tem como objetivo proporcionar a segurança político-
institucional necessária para o estabelecimento de estruturas de cooperação intermunicipal e
solucionar impasses na estrutura jurídico-administrativa dos consórcios. Ela surgiu em função de uma
necessidade real de equacionar uma gestão sustentável dos serviços em pequenos municípios,
aglomerações urbanas e Regiões Metropolitanas - RMs.

No Brasil, 80% dos municípios têm menos de 30 mil habitantes. Grande parte desses municípios
não possui estruturas institucionais nem recursos financeiros para organizar uma gestão sustentável
dos serviços de saneamento básico. Para esses municípios de menor porte, com fraco desenvolvimento
econômico, com dificuldade de captar recursos e pouca capacidade administrativa, a cooperação,
sobretudo por meio de consórcios públicos ou convênios de cooperação, nos termos da Lei nº
11.107/2005, é uma alternativa importante para concretização de programas e desenvolvimento de
projetos de saneamento, ensejando ganhos de escala.

Por outro lado, em aglomerações urbanas e RMs, onde existem infraestruturas articuladas, e onde
a solução de problemas comuns requer políticas e ações construídas coletivamente pelos municípios
membros, os consórcios públicos podem viabilizar essa cooperação de forma institucionalizada.

No que diz respeito ao saneamento básico, a implantação de programas e o desenvolvimento de


projetos e mesmo as diferentes funções de gestão de serviços (suporte ao planejamento, regulação,
fiscalização, prestação) podem vir a ser feitas de forma consorciada. Esse aspecto é reforçado pela Lei
nº 11.445/2007, que permite ao município, através do arranjo de colaboração federativa, se articular
formalmente com outros municípios (e, eventualmente, com o estado e/ou a União) para exercer
consorciadamente determinadas competências, sejam as de natureza indelegável, sejam aquelas
delegáveis nos termos do Art. 8º da referida Lei.

No campo dos serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário, a formação de


consórcios pode ser uma alternativa para a prestação dos serviços, para compartilhamento de
equipamentos e a racionalização da execução de tarefas com ganhos de escala e economia de recursos,
para a regulação, e ainda para o planejamento integrado. A formação de consórcios para a prestação
dos serviços de abastecimento de água e esgotamento ainda é uma novidade, mas algumas
experiências estão em curso.

No Rio Grande do Sul, existe o Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica
do Rio dos Sinos - Pró-Sinos, hoje formado por 27 municípios. O Pró-Sinos tem por objetivo defender,
ampliar, promover a interação, fortalecer e desenvolver a capacidade administrativa, técnica e
financeira dos serviços públicos de saneamento básico nos municípios que integram o consórcio.

3
PLANSAB (2014)

40
Mesmo estando prevista no estatuto do Pró-Sinos a possibilidade de o consórcio atuar como
prestador de serviços, dos 27 municípios consorciados, 20 mantêm a concessão com a Companhia
Riograndense de Saneamento - Corsan.

Ao analisar as políticas de recursos hídricos e de saneamento básico depreende-se que ambas ainda
não conseguiram alcançar os resultados esperados, e ao compará-las verifica-se que preveem
estruturas similares, porém, só avançaram nas medidas estruturantes. Há uma defasagem, ainda muito
forte, na efetivação das agências de bacia e das agências reguladoras do setor de saneamento.

Segundo SANTOS (2007) “Não há como afastar a gestão dos rios das ações relativas a saneamento.
São pontas da mesma linha condutora, na qual uma gestão turbulenta na área de saneamento provocará
um desconcerto no meio ambiente, sendo este imprescindível à qualidade de vida e proteção da saúde
pública”.

Ainda SANTOS (2007) observa que “O planejamento da bacia hidrográfica é uma realidade que
independe da esfera administrativa e governamental. O equilíbrio das demandas e a disponibilidade
de água são questões regulatórias de preservação de um bem difuso, integrante do meio ambiente.
Assim, toda a fase que interfere, diretamente, na preservação do bem não é questão isolada de um
sistema de saneamento, mas, no mínimo, interligada”.

Há necessidade de gestão compartilhada dos setores interdependentes que foram construindo suas
políticas públicas de forma isolada com alguma menção as demais, mas sem qualquer estruturação
integrada. A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente - Lei nº 6.938 é de 1981 e em 1997 foi
instituída a Lei nº 9.433 da Política Nacional dos Recursos Hídricos. E em 2007 foi editada a Lei nº
11.445/2007, sendo que essa lacuna de dez anos serviu para aumentar as dificuldades de articulação.

ARAÚJO (1998) aprofunda a reflexão sobre o termo regulação, considerando vários círculos
concêntricos. O primeiro abrangeria a formulação de políticas, a legislação pertinente, o contrato de
concessão, o agente regulador propriamente dito e o concessionário. O segundo se refere ao ambiente
geral, formado por outras leis, com impacto direto ou indireto sobre a qualidade dos serviços, por
policy-makers, pela mídia, e pela opinião pública, contracenando com o primeiro círculo. Considera
que o núcleo das dificuldades nesse campo é a dispersão do poder para a concessão dos serviços,
constatando que, historicamente no país, poder concedente e concessionário se confundiam ou
invertiam papéis, sendo que todas as organizações envolvidas eram públicas.

NASCIMENTO e HELLER (2005) destacam como responsáveis pelo déficit dos serviços os
seguintes fatores: a fragmentação de políticas públicas, com múltiplos agentes e baixo nível de
integração das ações; os problemas relacionados com a concessão e a regulação dos serviços,
envolvendo o poder concedente e a concessionária; a carência de instrumentos de regulamentação e
de regulação; e a ausência de continuidade administrativa e de mecanismos que assegurem a
implantação de ações e regulamentos oriundos do planejamento.

41
A questão da regulamentação está equacionada atualmente com o marco regulatório para o setor
de saneamento básico introduzido pela Lei nº 11.445/2007. O que está faltando é o equacionamento
dos modelos adequados para cada conjunto de situações adversas.

Outra repercussão importante decorre da existência de externalidades, cujos efeitos extrapolam os


limites da atuação da regulação setorial e o escopo dos contratos de prestação dos serviços. Assim, as
interfaces do setor com as áreas de saúde pública, meio ambiente, recursos hídricos e defesa do
consumidor ampliam a complexidade e o volume de informações requeridos para a adequada
regulação e exigem articulação intersetorial (GALVÃO JUNIOR E PAGANINI, 2009).

3.4 Gestão Compartilhada

Ao analisar a exigência dos municípios elaborarem o Plano Municipal de Saneamento Básico –


PMSB dados mais recentes, do Ministério das Cidades, apontam que apenas cerca de 30% dos
municípios brasileiros os elaborou.

Dos números apresentados onde 68,3%, dos municípios possuem população inferior a 20.000
habitantes e cerca de 30% dos municípios possuem seus PMSB, pode-se deduzir que os 68,3% que
não produziram seus PMSB estão na faixa de população inferior a 20.000 habitantes.

Portanto, a exigência de um PMSB, para pequenos municípios que possuem até 20 mil habitantes
e correspondem a 68,3 %4 dos municípios brasileiros (15,5% da população do país equivalente a 32,2
milhões de habitantes) poderia ser substituída por um Plano Compartilhado de Bacia Hidrográfica.

A integração com os demais planos exigíveis aos municípios, com nível de detalhamento adequado
a sua finalidade, não apenas meras referências ao tema, poderiam formular proposições viáveis
técnica, econômica e ambiental. Além de viabilizar a execução dos mesmos, com o rateio de custos
entre os municípios e a possibilidade de contratação de consultoria especializada, seriam otimizadas
atividades comuns aos vários planos evitando sobreposição de atividades e custos.

Atualmente falta integrar efetivamente as metas da Gestão dos Recursos Hídricos às do


Saneamento Ambiental. Apesar de essa integração estar implicitamente prevista na legislação, na
prática não ocorre. O Plano da Bacia Hidrográfica prevê o enquadramento dos rios, e as cidades
deveriam atuar no controle dos efluentes urbanos para atingir a meta do enquadramento dos rios
internos e externos à bacia. No entanto, é necessário que existam planos e que estes enquadrem os rios
nos quais as cidades influenciam, seguidos de um plano de ações para atingir as metas (TUCCI, 2008).

Outro aspecto importante sobre esses planos é que não lhes foi exigido submetê-los a aprovação de
algum colegiado com competência para tal, resultando em planos genéricos (sem uma maior
identidade com o território de sua aplicação), com lacunas técnicas, na maioria dos casos de difícil

4
Fonte IBGE (2013).

42
aplicabilidade, e uma boa parte deles se constitui apenas em diagnóstico e/ou proposições inviáveis
e/ou irreais.

MORAES (2009) destaca: “(...) o Plano Municipal de Saneamento Básico, embora local, deveria
ser elaborado com uma preocupação e dimensão regional, bem como deveria procurar manter
estreita relação com as diretrizes estabelecidas nas políticas de Saneamento Básico, meio
ambiente/recursos hídricos, desenvolvimento urbano/habitação e desenvolvimento agrário do estado
onde está situado (...)”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AB ́SABER, A. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
152 páginas.
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46
CAPÍTULO 2
ANDREZZA MARQUES FERREIRA
CRISTIANO POLETO

MECANISMOS DE MENSURAÇÃO DA
PRECIPITAÇÃO

47
Os eventos hidrológicos ganham cada vem mais repercussão, sendo notório em determinadas
regiões do Brasil que estes são repetitivos e apresentam dimensões cada vez maiores.
As áreas urbanizadas e impermeáveis são as mais susceptíveis a eventos hidrológicos e a
identificação desses locais possibilitará uma melhor gestão do sistema, evitando assim danos à
população e reduzindo os custos relacionados à reparação.
A pressuposição de possíveis eventos hidrológicos requer um conjunto de informações que podem
ser separadas em três grupos: um meteorológico em que estão presentes os equipamentos disponíveis
para mensuração da precipitação, um hidráulico que caracteriza o sistema de drenagem e; um de
modelagem que integra os dois anteriores e possibilita a geração de informação de possíveis eventos.
Destaca-se, ainda, a necessidade da utilização de satélites nos mecanismos de avaliação dos eventos
hidrológicos.

1 PRECIPITAÇÃO

As precipitações atmosféricas representam, no ciclo hidrológico, o importante papel de elo de


ligação entre os fenômenos meteorológicos propriamente ditos e os do escoamento superficial, de
interesse maior para os engenheiros. Deriva daí, sobretudo, a importância do estudo das precipitações
atmosféricas (GARCEZ, ALVAREZ, 1988).
A radiação proveniente do Sol é a fonte primária de energia do ciclo hidrológico, sendo responsável
pelo abastecimento de energia para todos os fenômenos meteorológicos (GARCEZ, ALVAREZ, 1988;
FERREIRA, 2006). Quando esta radiação entra em contato com a água ou gelo, a energia absorvida
a transforma em vapor d’água. O ar umedecido e aquecido é mais leve e sobe até as camadas mais
altas resfriando-se, processo esse denominado de convectivo, e, se o ar for úmido o bastante e for
resfriado até o ponto de orvalho, é provável que aconteça a formação de vários tipos de nuvens
(FERREIRA, 2006) e, consequentemente, a ocorrência de precipitação.
Devido a sua capacidade de produzir escoamento superficial, a chuva é o tipo de precipitação mais
importante para a hidrologia e o principal dado de entrada em modelos hidrológicos chuva-vazão
(BERTONI, TUCCI, 1991; JIMÉNEZ, COLLISCHONN, 2015). Definida como toda água

48
proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre (BERTONI, TUCCI, 1993), a chuva
é o resultado final de uma série de eventos com escala de tempo e espaço de grande aleatoriedade
(COLLISCHONN, TASSI, 2008).
Assim, a precipitação pode ser determinada por grandezas como: quantidade (altura
pluviométrica), normalmente expressa em termos da espessura da camada d’água que se forma sobre
uma área horizontal, plana, impermeável e sem evaporação; duração, ou o intervalo de tempo da
chuva; intensidade, que representa a quantidade de água precipitada por unidade de tempo; frequência
de probabilidade; e tempo de retorno, que é interpretado como o número médio de anos durante o qual
se espera que a precipitação analisada seja igualada ou superada, sendo o inverso da frequência de
probabilidade (GARCEZ, ALVAREZ, 1988; BERTONI, TUCCI, 1991; VAREJÃO SILVA, 2006).
Soma-se à observação das grandezas, a determinação do tipo de precipitação do ponto de vista
hidrológico, segundo o qual ela pode ser classificada em: convectiva ou orográfica, frontal ou
ciclônica.
As chuvas convectivas caracterizam-se por, geralmente, ocorreram em grande intensidade, pequena
duração e restritas a áreas pequenas. Elas ocorrem quando em tempo calmo, o ar úmido é aquecido na
vizinhança do solo, criando camadas de ar que se mantêm em equilíbrio instável que, quando
perturbado, promove uma ascensão brusca de ar menos denso que atinge seu nível de condensação
com a formação de nuvens e, muitas vezes, precipitação. Características das regiões equatoriais, onde
os ventos são fracos e os movimentos de ar são essencialmente verticais, podem ocorrer também nas
regiões temperadas no verão, formando tempestades violentas. Do ponto de vista da hidrologia, as
precipitações associadas às chuvas convectivas podem provocar importantes inundações em pequenas
bacias e frequentemente atingem as vazões críticas de dimensionamento das galerias de águas pluviais
(GARCEZ, ALVAREZ, 1988).
As chuvas orográficas ocorrem quando ventos quentes e úmidos, soprando geralmente do oceano
para o continente, encontram uma barreira montanhosa, elevam-se e se resfriam adiabaticamente,
havendo condensação do vapor, formação de nuvens e ocorrência de chuvas. São chuvas de pequena
intensidade e de grande duração que cobrem pequenas áreas. Quando os ventos conseguem ultrapassar
a barreira montanhosa, do lado oposto projeta-se a sombra pluviométrica, dando lugar a áreas secas
ou semiáridas causadas pelo ar seco, já que a umidade foi descarregada na encosta oposta.
As precipitações frontais ou ciclônicas provêm da interação de massas de ar quentes e frias. Nas
regiões de convergência da atmosfera, o ar mais quente e úmido é violentamente impulsionado para
cima, resultando no seu resfriamento e na condensação do vapor de água, produzindo as chuvas. Essas
precipitações podem vir acompanhadas de ventos fortes com circulação ciclônica. Os sistemas frontais
são os fenômenos meteorológicos que mais influenciam o tempo em nosso continente (FERREIRA,
2006) e, por atingirem grandes áreas e apresentarem longa duração, as chuvas resultantes desses
sistemas são importantes para os fenômenos hidrológicos em grandes bacias hidrográficas (GARCEZ,
ALVAREZ, 1988).
Em um estudo realizado por Reboita et al. (2010) em que os autores realizam uma revisão
bibliográfica dos sistemas atmosféricos que atuam nos diferentes setores do continente sul-americano

49
e que contribuem para a precipitação, observa-se na Tabela 1 a diversidade de sistemas atuando sobre
o território brasileiro.

Tabela 1- Sistemas Atmosféricos atuando sobre o território brasileiro por Região


Característica do Ciclo Anual de
Sistemas Atmosféricos Atuantes
Precipitação
Sudoeste da AS Máximos de precipitação no inverno e
(Centro Sul do mínimos no verão, exceto na parte mais
Chile e Extremo austral da R1 onde a precipitação é
R1 ASPS; frentes; ciclones
Oeste do praticamente homogênea ao longo do
Centro-Sul da ano. Total anual varia entre 1000 e 1700
Argentina) mm.
A precipitação é praticamente
Norte do Chile,
homogênea ao longo do ano e com baixo
Noroeste e
R2 total anual (inferior a 350 mm/ano). No ASPS; frentes; ciclones
Centro-Sul da
deserto do Atacama, norte do Chile, a
Argentina
precipitação é inferior a 100 mm/ano
Oeste do Peru,
Oeste e Sul da Máximos de precipitação no verão e
Convecção por aquecimento radiativo da
Bolívia, Norte e mínimos no inverno. O total anual varia
superfície; CCMs subtropicais, frentes,
R3 Centro-Leste da entre 350 e 700 mm, exceto no centro-
ciclones, VCANs subtropicais; JBN a leste
Argentina e leste da Argentina e Paraguai que varia
dos Andes
Centro-Norte do entre 700 e 1400 mm.
Paraguai
A precipitação é praticamente
Frentes; ciclones; VCANs subtropicais; LI
homogênea ao longo do ano. O total
Sul do Brasil, pré-frontais; nuvens vírgula; CCMs
anual é elevado (1050- 1750 mm/ano)
R4 Sul do Paraguai subtropicais, bloqueios atmosféricos;
sendo ainda maior no oeste do sul do
e Uruguai ZCAS; ASAS; JBN a leste dos Andes;
Brasil na fronteira com o Paraguai
circulação de brisa
(1750- 2100 mm/ano)
Ventos alísios; JBN a leste dos Andes;
Noroeste a Máximos de precipitação no verão e
ASAS; convecção por aquecimento
Sudeste do mínimos no inverno. O total anual varia
radiativo da superfície; AB; ZCIT;
R5 Brasil incluindo ao longo da R5: no setor norte é superior
circulação de brisa; LI tropicais e pré-
ainda o Equador a ~2450 mm, já no centro-oeste e sudeste
frontais; CCMs tropicais; frentes; VCANs
e Norte do Peru é de ~1500 mm.
subtropicais; ciclones
Norte da Região Máximos de precipitação no primeiro ZCIT; convecção por aquecimento
Norte do Brasil e semestre do ano. No norte da região radiativo da superfície; CCMs tropicais;
R6 Litoral do norte do Brasil o total anual é de 2000 ventos alísios, circulação de brisa; LI;
Nordeste do mm, enquanto no litoral do nordeste do ondas de leste; cavado do nordeste do
Brasil Brasil é de 1500 mm. Brasil; VCANs tropicais; ASAS; frentes
Ramo descendente da circulação zonal
Sertão Máximos de precipitação no verão e
propiciada pela atividade convectiva na
R7 Nordestino do mínimos no inverno, mas os totais são
Amazônia; ZCIT; VCANs tropicais;
Brasil reduzidos (entre 200 e 500 mm/ano).
frentes; ASAS
Norte da Ventos alísios; ZCIT; ondas de leste;
América do Sul A precipitação é abundante o ano todo, cavados em altos níveis; convecção por
R8 (Colômbia, mas com maiores totais no inverno. O aquecimento radiativo da superfície;
Venezuela e total anual é superior a 1500 mm. CCMs tropicais; circulação de brisa; LI
Guiana) tropicais

Fonte: Adaptado de Reboita, et al. (2010)

50
Devido à quantidade de grandezas associadas à precipitação, Toht et al. (2000) afirmam que ela é
um dos elementos mais difíceis de se prever no ciclo hidrológico e cujas grandes incertezas afetam os
modelos determinísticos e estocásticos. Tal fato também é evidenciado por Molion e Bernardo (2000)
que citam que, a despeito da simplicidade de sua medida, a precipitação é uma das variáveis mais
difíceis de serem observadas com acurácia, visto os erros instrumentais, de exposição e de localização.

Para mensurar a precipitação, faz-se necessário o uso de equipamentos como pluviômetros,


pluviógrafos, radares e satélites (Figura 1). Os dois primeiros são considerados sensores diretos de
mensuração, ou seja, a medida da chuva é pontual e dos radares e satélites é espacial.

Figura 1 - Sistema mundial de observação meteorológica.


Fonte: Ferreira (2006)

2. SENSORES DIRETOS DE MENSURAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO

A pluviometria determina a quantidade de precipitação. Entre os equipamentos de mensuração


direta, os pluviômetros (ou udômetros) são um armazenador da precipitação para posterior medição,
ou seja, as leituras são manuais e em intervalos de tempo fixos, enquanto os pluviógrafos (ou
udógrafos) registram continuamente a quantidade de chuva, possibilitando a determinação da
intensidade e da duração da precipitação (GARCEZ, ALVAREZ, 1988; BERTONI, TUCCI, 1993;
VAREJÃO, SILVA,2006).

51
Bertoni e Tucci (1993) comentam que devido à variabilidade temporal dos eventos chuvosos é
necessário o uso de equipamento automático (pluviógrafo), de modo a medir as intensidades das
chuvas durante intervalos de tempo inferiores àqueles obtidos com as observações manuais feitas nos
pluviômetros.

Mesmo com a medida pontual da precipitação, ambos os métodos (pluviômetro e pluviógrafo) não
estão isentos de erros inerentes ao equipamento ou fatores externos. Barth et al. (1987) citam que os
erros podem ser atribuídos à qualidade da instalação, à capacidade ou capricho do operador, quando
este se faz necessário, aos erros furtivos devido a ação do vento (BENETI, CALVETTI e PEREIRA
FILHO, 2002), ou também às dificuldades inerentes à manutenção de redes densas de pluviômetros
em regiões de difícil acesso (SOARES et al., 2016).

A produção de dados pontuais, e não espaciais, pela rede de coleta de dados pluviométricos
(BARTH et al.,1987; COLLISCHONN, 2006; CAMPOS, 2009; CALVETTI et al. 2005; SOARES et
al.,2016,) influencia diretamente nos resultados dos estudos hidráulicos e hidrológicos, uma vez que
diferentes métodos são utilizados para espacializar a precipitação, acarretando em erros nos valores
estimados, especialmente em terrenos com topografia complexa (PEREIRA et al., 2013;
VARIKODEN; PREETHI; REVADEKAR, 2012; WAGNER et al., 2012). Essas limitações propiciam
a ocorrência de eventos em que a precipitação não é representada no equipamento ou então a
ocorrência de eventos isolados sobre um pluviômetro e este dado ser espacializado sobre uma
determinada região, influenciando na análise do escoamento superficial, do déficit hídrico e até no
balanço de energia (PEREIRA et al., 2013).

Uma vez que os dados pluviométricos podem apresentar baixo grau de confiabilidade em áreas
extensas no Brasil, devido à distribuição dos mesmos (NÓBREGA, SOUZA, GALVÍNCIO, 2008;
PEREIRA et al.; 2013), seria necessário para a minimização deste erro a implantação de uma densa
rede de observação conforme destacam diversos autores (JOHNSON,1986; BARTH et al.,1987;
COLLISCHONN, 2006; CAMPOS, 2009; PEREIRA et al., 2013; SOARES et al.,2016), todavia, o
custo de instalação e manutenção seria alto (BERTONI e TUCCI, 1993; SOARES et al., 2016).

3 SENSORES ESPACIAIS DE MENSURAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO

Conforme dito anteriormente, a estimativa da precipitação de maneira espacial é realizada por


radares e satélites, e a descrição do funcionamento destes equipamentos está a seguir.

52
3.1 Radar meteorológico

O Radar (RAdio Detection And Ranging) permite quantificar a chuva de forma quase contínua no
tempo e no espaço, sendo caracterizado por ser um sistema eletromagnético para detecção e
localização de objetos (PESSOA, 1993). O seu princípio de funcionamento é baseado na emissão de
um pulso de energia eletromagnético por um transmissor a partir de uma antena móvel em intervalos
de tempo regulares. O pulso viaja em forma de onda e a velocidade da luz e, ao encontrar um objeto
é parcialmente refletido, retornando ao aparelho pela mesma antena, sendo, porém, pela atuação de
um comutador automático, encaminhado para um receptor. A intensidade e a posição espacial do alvo,
tanto horizontal quanto vertical são obtidas pela medida da energia que retorna (PESSOA, 1993).

Por ser a energia eletromagnética uma onda, pode se calcular o comprimento de onda (λ) entre as
duas cristas, o período (T) e a frequência (ƒ, dada em Hz ou ciclos/segundo), conforme a Equação 1.

݂ൌ் (Equação 1)

A frequência e o comprimento de onda podem ser relacionados com a velocidade de propagação


da energia (c) (Equação 2).

ߣൌ௙ (Equação 2)

O alvo dos radares meteorológicos são os hidrometeoros de precipitação que são partículas de água,
líquida ou sólida em queda ou em suspensão na atmosfera, as principais bandas e frequências estão
ilustras a Tabela 2 a seguir.

Tabela 2- Principais bandas e frequências utilizadas para fins meteorológicos e de controle de tráfego
aéreo

Banda Frequência Comprimento de onda Principais Aplicações

L 1 – 2 GHz 30 – 15cm Controle de tráfego aéreo

S 2 – 4 GHz 15 – 8cm Rede operacional (precipitação)

C 4 – 8 GHz 8 – 4cm Alerta local (precipitação)

X 8 – 12 GHz 4 – 2,5cm Radar de bordo, física de nuvens

Fonte: Adaptado de Queiroz (2009) apud Soares (2014)

53
Os radares, ao estimarem a distribuição espacial da chuva, substituem a necessidade de uma densa
rede composta por sensores diretos de medição da precipitação (NOBREGA et al.,2008; MARSHALL
e PALMER,1948).

Além de ser uma poderosa ferramenta para visualização da distribuição da chuva em uma
determinada área, os radares podem prover medidas necessárias ao acompanhamento das
precipitações de forma contínua, espacial e temporalmente, ganhando destaque nos sistemas de alerta
antecipado de inundação de pequenas bacias urbanas.

Como exemplo, a Figura 1 ilustra a abrangência dos radares em relação às estações pluviométricas
na bacia hidrográfica do rio Taquari-RS. Nota-se inicialmente o problema já apresentado da
distribuição espacial dos instrumentos de mensuração direta, ou seja, os pluviômetros não contemplam
toda a bacia, prejudicando o desenvolvimento de pesquisas e monitoramento hidrológico da bacia
hidrográfica, sendo relativamente solucionado pela cobertura dos radares meteorológicos.

Figura 1- Área de cobertura de radares e estações na bacia do rio Taquari-RS.

54
Outro exemplo das vantagens do uso do Radar é dado por Silva, Pereira Filho e Hallak (2009), que
relatam a implantação de um radar na bacia hidrográfica do Alto Tietê (Região Metropolitana de São
Paulo - RMSP). Segundo os autores, em virtude das enchentes na RMSP, estabeleceu-se em 1976 uma
rede telemétrica com pluviômetros e linígrafos (BARROS, BRAGA, 1992) que não contemplava toda
a RMSP.Em virtude disso, em 1998 foi instalado um radar meteorológico em Ponte Nova, que
monitora a precipitação em um raio de alcance superior a 120 km, com resolução espaço-temporal
equivalente a uma rede telemétrica com cerca de 1 pluviômetro a cada 2 km x 2 km possibilitando
assim a análise da precipitação em diversas bacias hidrográficas, fato esse extremamente importante
no auxílio dos estudos de extremos hidrológicos.

Segundo Soares (2014), os radares meteorológicos também apresentam limitações, pois dependem
fortemente do comportamento das ondas eletromagnéticas na atmosfera. O autor cita que as ondas são
influenciadas pelas mudanças na densidade atmosférica causadas por alterações na temperatura e
pressão, além do conteúdo de vapor d’água; pelo espalhamento e absorção da energia eletromagnética
pela atmosfera, tanto pela presença de partículas ou pela própria gota de chuva, a chamada atenuação
atmosférica, que depende fortemente do comprimento de onda utilizado pelo radar meteorológico com
respeito ao tamanho e composição do meio a ser escaneado.

Além disso, como nos equipamentos de mensuração direta, a topografia e outros obstáculos
impedem a propagação livre das ondas (ANDRIEU et al., 1997), como aviões, aves, insetos e
partículas sólidas em suspensão (KAISER, 2006), diminuindo a área de cobertura do equipamento ou
a sua localização em determinados pontos. Outros elementos limitadores incluem os efeitos
ocasionados pela presença de granizo que podem ser interpretados como chuvas fortes (KRAJEWSKI,
SMITH, 2002; KAISER, 2006) e o fato de que quanto menor o comprimento de onda, maior será a
atenuação do feixe, possibilitando que alguma precipitação não seja detectada (SOARES, 2014).

Complementando as dificuldades na estimativa da precipitação através do uso do radar, Beneti,


Calvetti e Pereira Filho (2002) e Calvetti et al. (2005) citam que as fontes de erro de medição de chuva
com o radar meteorológico estão associadas à calibração eletrônica do equipamento, à equação de
transformação da refletividade efetiva em taxa de precipitação (ou relação Z-R), ao efeito da curvatura
da Terra e à zona de derretimento de cristais de gelo na nuvem. Austin (1987) apud Silva, Pereira Filho
e Hallak (2009) concluíram que para cada tipo de situação sinótica, deve haver uma equação de
transformação da refletividade medida (Z) em taxa de precipitação (R). Conti (2002) descreve que em
regiões com baixa densidade de estações o uso do radar se torna inviável devido à necessidade de
calibração periódica com dados de estações pluviométricas.

Apesar dos erros das estimativas do radar e das medidas telemétricas, estas podem ser combinadas
para diminuição de tais erros (PEREIRA FILHO, CRAWFORD, 1995), por meio de técnicas de
análises objetivas estatísticas (SILVA, PEREIRA FILHO, HALLAK, 2009).

55
3.2 Satélites

Enquanto os radares podem abranger áreas maiores que os pluviômetros, os satélites cobrem áreas
maiores do que os radares e por isso se destacam para o monitoramento atmosférico. A estimativa de
precipitação através deste instrumento tem sido amplamente utilizada nos modelos hidrológicos,
particularmente em regiões com baixa densidade ou ausência de instrumentos de precipitação (EL
BASTAWESY, AL HARBI, HABEEBULLAH, 2012) ou em regiões extensas, possibilitando uma
representação espacial muito mais detalhada do que a medição tradicional com postos pluviométricos
(FLEISCHMANN et al., 2014).

A densidade da cobertura dos equipamentos de mensuração direta e radares para eventos de micro,
meso e macro escala está ilustrada na Figura 2, o que corrobora a necessidade do uso de um
instrumento que possa abranger todo o território brasileiro.

Figura 2- Disposição dos instrumentos de medição da precipitação em função dos tipos de eventos

a) Disposição dos instrumentos para eventos de micro e meso escala; b) Disposição dos
instrumentos para eventos de macro escala.

O uso de dados de precipitação, obtidos por sensores remotos orbitais iniciou-se em abril de 1960
(FERREIRA, 2006). O primeiro satélite de sensoriamento remoto de recursos terrestres não tripulado
foi o Earth Resources Technology Satellite 1 (ERTS-1) que passou a se chamar Landsat-1 em 1975
(NOVO, 2008). Em 1974 foi lançado o primeiro satélite geoestacionário – GOES 1, sendo programado
para operar até 1995 (INÁCIO, GONÇALVES, IMIANOVSKY, 2005), sendo substituído por novas
56
versões até o presente momento com o GOES-16 que está em operação desde 19 de novembro de
2016.

Os satélites podem ser classificados em função do tipo de órbita que são diferenciados pela
inclinação e do seu período de revolução (tempo de um giro completo em torno da Terra), o qual está
diretamente relacionado com a sua altitude (FLORENZANO, 2008), ilustrados na Figura 2.

Os de órbita polar estão posicionados entre 800 a 1.200 km da Terra, com uma visão de polo a polo,
Norte-Sul, fornecendo imagens da Terra em faixas nominais de aproximadamente 300km, obtendo
imagens de diferentes pontos da superfície a cada momento. Os de órbita geoestacionária estão
posicionados em órbita equatorial, e com velocidade angular igual a velocidade de rotação da Terra,
a uma altura de aproximadamente 35.800 km, em uma posição fixa em relação à superfície da Terra,
fornecendo imagens desse ponto 24 horas por dia (FERREIRA, 2006; NOVO, 2008; ARAÚJO, 2006).

Figura 2- Órbita dos satélites polar e geoestacionário.


Fonte: Adaptado de: The COMET (2017)

Araújo e Guetter (2007) comentam que os avanços no sensoriamento remoto relacionados à chuva
por meio de satélites ambientais permitiram o aumento da disponibilidade e qualidade das estimativas
de chuva por satélite que passaram da categoria de tema de pesquisa para a categoria de produto
operacional, tendo como principais produtos a distribuição espacial e temporal da chuva em grandes
bacias e regiões, amplamente usadas por serviços meteorológicos para o monitoramento e previsão de
tempo e a previsão hidrológica em bacias monitoradas com redes esparsas.

A obtenção de informações meteorológicas através das imagens de satélite é possível uma vez que
os modelos de estimativa da Temperatura da Superfície Terrestre (TST) fundamentam-se no princípio
de que todo o corpo com temperatura acima do zero absoluto emite radiação eletromagnética
(GUSSO, et al 2007), princípio esse baseado na Lei da Radiação de Planck, a qual descreve que a
energia irradiada de um corpo negro, prevista na Lei de Stefan-Boltzmann, está distribuída em termos
de comprimentos de onda no espectro eletromagnético (GUSSO, FONTANA, 2003).

57
A estimativa da precipitação por satélite é realizada a partir da interação das faixas de comprimento
de onda correspondente ao infravermelho, micro-ondas e visível, descritos na Tabela 3 (JIMÉNEZ,
COLLISCHONN, 2015; NASCIMENTO, 2008).

Tabela 3- Parcelas do espectro

Parcela do espectro Intervalo de comprimento de onda Frequência

Visível (VIS) 0,4 µm a 0,7 µm 1014 a 1015Hz

Infravermelho 0,7 µm a 1,0 mm 1012 a 1014Hz

Micro-ondas 1mm a 1m 108 a 1011Hz

Fonte: Paula (2015)

Em geral, para obter estimativas de precipitação de uma determinada região por sensoriamento
remoto, os dados de diferentes sensores são combinados através de algoritmos (JIMÉNEZ,
COLLISCHONN, 2015), com destaque para a estimativa de precipitação que operam na região do
espectro do infravermelho e das micro-ondas (NASCIMENTO, 2008).

As imagens obtidas por meio dos sensores infravermelhos são compostas de energia radiante
provenientes da atmosfera, da superfície terrestre, ou da água, sendo esta energia do infravermelho
convertida em temperatura, conhecida como temperatura de brilho, por meio da Lei de Stefan-
Boltzmann (ARAÚJO, GUETTER, 2007).

A chuva pode ser estimada indiretamente neste canal em função do brilho, uma vez que as baixas
temperaturas de brilho indicam altos topos de nuvens, ou seja, nuvens de grande espessura e alta
probabilidade de chuva.

Em relação a região das micro-ondas, muitos algoritmos de estimativa de precipitação por


sensoriamento remoto utilizam dados de sensores de radiação na faixa das micro-ondas (10 a 150
GHz), uma vez que estas têm relação mais direta com a precipitação em função da emissão/absorção
e dispersão, do que a temperatura do topo da nuvem (ARAÚJO, GUETTER, 2007; HOU et al., 2008).

Os sensores de radiômetros passivos nessa banda respondem ao vapor de água, a água de nuvens e
a intensidade de precipitação na atmosfera (PASSOW, 2010), a presença de gotas de chuva e partículas
de gelo presentes nas nuvens, ou seja, evidências físicas mais diretas da precipitação.

A seguir uma breve descrição dos satélites meteorológicos TRMM e GOES para estudos de eventos
hidrológicos no Brasil.

58
3.2.1 TRMM e GOES

Em 1997 a National Aeronautics and Space Administration (NASA) e a Japan Aerospace


Exploration Agency (JAXA) lançaram o satélite Tropical Rainfall Measuring Mission (Missão de
Medição de Precipitação Tropical- TRMM), capaz de obter dados pluviométricos nas regiões tropicais
do planeta, por meio da utilização de micro-ondas e radar. O Radar de Precipitação (PR) do TRMM
foi o primeiro radar espacial projetado para capturar uma estrutura mais abrangente de precipitação,
fornecendo informação a respeito da estrutura tridimensional das chuvas sobre os trópicos e
subtrópicos (FRANCHITO et al., 2009).

Isso foi possível porque o sistema de radar, PR baseia-se na interpretação do efeito de retro
espalhamento de radiação da precipitação, que é amplamente proporcional ao número de partículas de
tamanho de precipitação e, portanto, a intensidade (KIDD, LEVIZZANI, 2011).

O PR teve grande importância para o desenvolvimento e aprimoramento de técnicas de estimativa


de precipitação por satélite (KIDD, LEVIZZANI, 2011).

Os dados relacionados às estimativas de precipitação do TRMM eram provenientes do The


Multisatellite Precipitation Analysis (TMPA), com a resolução temporal e horizontal de 3 horas e
0.25º, (ROZANTE, 2017) tendo ficado em operação de 1997 a 2014.

O TRMM carregou 5 instrumentos: um conjunto de 3 sensores de precipitação, sendo eles o Radar


de Precipitação (PR), o de Micro-ondas (TMI) e o Sensor Visível e Infravermelho (VIRS) e 2 outros
instrumentos, o Sensor de Energia Radiante de Nuvem e Terra (CERES) e o Sensor de Descargas
elétricas (LIS) (NASA, 2017).

O TRMM foi substituído pelos satélites de Medição Global da Precipitação (GPM), que é uma rede
de oito satélites.

Conforme descrição disponibilizada pela NASA (2017), o algoritmo do GPM destina-se a


intercalibrar, fundir e interpolar as estimativas de precipitação de micro-ondas de todos os satélites,
juntamente com estimativas de satélite infravermelho (IR) calibradas por micro-ondas, análises de
medidores de precipitação e potencialmente outros estimadores de precipitação em escalas de tempo
e espaço para o TRMM e GPM em todo o mundo.

O GPM destaca-se por possuir um radar de precipitação de duplo comprimento de onda (DPR) a
13,6 e 35,5 GHz, que possui uma sensibilidade maior necessária para detectar chuva e neve tão baixas
quanto 0,3 mm / h (HOU et al., 2008 apud KIDD, LEVIZZANI, 2011).
O algoritmo combinado de Radar-Radiômetro GPM destaca duas funções: uma operacional e outra
para fins acadêmicos. O primeiro item segundo a NASA (2017) é possível uma vez que o algoritmo
fornece as estimativas mais precisas e de alta resolução da taxa de precipitação superficial e
distribuições verticais de precipitação que podem ser alcançadas a partir de uma plataforma espacial

59
e, portanto, é valioso para aplicações onde informações sobre a estrutura de tempestade instantânea
são vitais.

Para o segundo item, a agência destaca a formação de um único conjunto de dados de referência
contendo uma coleção global e representativa de estimativas de algoritmos combinados.

Além da importância desses produtos, a precipitação observada com a precipitação estimada pelo
satélite gera um produto denominado MERGE, sendo as informações sobre este produto estão
disponibilizadas no trabalho realizado por Rozante et al. (2010).

Moura et al. (2010) destacam que os campos de precipitação do MERGE são gerados a partir da
composição de dados do Surface Synoptic Observations (SYNOP) obtidos do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), da Plataforma automática de Coleta de Dados (PCD) do Sistema Brasileiro
de Coleta de Dados via Satélite do INPE, e de pluviômetros convencionais fornecidos pelo Programa
de Monitoramento de Tempo Clima e Recursos Hídricos (PMTCRH) do Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT), combinados com os dados de precipitação estimados por satélite do Tropical
Rainfall Measuring Mission (TRMM) (ROZANTE et al., 2010).
Segundo Rozante et al. (2010) é possível obter dois produtos, sendo um gerado a partir do TRMM-
TMPA 3B42RT que se refere aos dados de estimativa de precipitação do The Tropical Rainfall
Measuring Mission (TRMM) Multisatellite Precipitation Analysis que está em processo de
descontinuidade, mas que os dados históricos podem ser utilizados para a calibração do modelo. Neste
modelo os produtos são gerados com latência de um mês e operação de 3 horas (denominado
3B42RT), com resolução temporal e horizontal de 3 horas e 0,25º (ROZANTE, 2017).

O segundo produto é grado a partir do Global Precipitation Measurement (GPM) Integrated


Multisatellite Retrievals for GPM (INMERG).

Segundo Rozante (2017):


O IMERG é executado em “tempo real” e fornece estimativas
de precipitação em duas etapas: a primeira fornece uma estimativa
rápida (atraso de aproximadamente 4 horas) levando em conta
apenas os dados que chegaram até o momento (denominada de
Early), e a segunda (atraso de aproximadamente 12 horas) é
processada após a chegada de mais dados, e consequentemente
mais precisa (denominada Late). Os dados do GPM-IMERG são
disponibilizados com resolução temporal de 30 minutos e
resolução horizontal de 0.1º graus.

Kidd e Levizzani (2011) ressaltam que a disponibilidade de observações a 4 × 4 km a cada 15


minutos está disponível em alguns dos satélites GEO, com potencial para 1 × 1 km, 1 minuto de
imagem no modo de varredura rápida.

Os autores também ressaltam que, devido à natureza indireta da relação de precipitação entre as
nuvens e a superfície, tais estimativas estão sujeitas a erros, mas que o produto Hidro Estimador,

60
baseado nas observações do IR GOES (Scofield e Kuligowski, 2003), mostraram-se úteis para uso
operacional nos Estados Unidos.

4 USO DE SATÉLITES PARA MONITORAMENTO DE EVENTOS NATURAIS

O uso de satélites para o monitoramento de desastres naturais já era destacado por Tralli et al.
(2005). Os autores citam que o uso de satélites para alerta de inundações através da interação do uso
do satélite com mediação remota e in situ da precipitação, características da bacia e modelos
hidrológicos, podendo ser utilizados em diferentes escalas: globais, sinóticas e mesoescala em relação
as tempestades.

Kidd e Levizzani (2011) comentam a utilização de dados de satélite do GPCP para a previsão de
inundação e escorregamento de massa, assim como para o monitoramento da seca. Os autores
destacam que para cada tipo de evento hidrológico há a necessidade de uma resolução da imagem de
satélite, podendo ser categorizadas em dois tipos: estimativas de alta resolução para eventos de curta
duração e estimativas de baixa resolução para eventos de longo prazo.

Para eventos de longo prazo, pode-se destacar o Global Flood Awareness System (GloFAS) que
tem como metodologia a geração de probabilidades diárias de fluxo médio e probabilidade de
inundação para bacias com áreas a montante do ponto analisado superior a 400km², com resolução do
pixel de 0,1º. Para tanto, utiliza os dados meteorológicos do Ensemble Prediction System (ENS) do
Centro Europeu de Previsão de Tempo Médio (ECMWF) (REVILL-ROMERO et al 2015).

Um exemplo do uso deste método no Brasil é a previsão hidrológica da bacia hidrográfica do Rio
Madeira realizado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)
que considera os seguintes modelos de previsão meteorológica: a) Modelo atmosférico do Centro
Europeu, European Centre for Medium-Range Weather Forecast (ECMWF), constituído de 51
membros e resolução espacial de 20 km, aproximadamente; b) Modelo atmosférico da National
Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), Global Ensemble Forecast System (GEFS)
previamente conhecido como GFS Global Ensemble (GENS), constituído por 21 membros e
resolução espacial de 50 km, aproximadamente. O resultado desta técnica de previsão de tempo por
conjunto pode ser observado na Figura 3 que ilustra os diferentes cenários de vazão em função dos
modelos metrológicos.

61
Figura 3- Cenários de vazão para Porto Velho.
Fonte: Cemaden (2018)

Estudos apresentados por Abou El-Magd (2010) e Taha et al. (2017) que citam o uso do TRMM
para eventos de inundação brusca no Egito.

Estimativas de precipitação de satélite para previsão de inundação em tempo real são elementos
essenciais em sistemas de alerta de inundação em muitos países onde os pluviômetros ou radar são
escassos ou inexistentes (COLLIER, 2007).

Scofield e Kuligowski (2003) relatam que a previsão de enxurrada é um dos mais sérios desafios
para as comunidades de previsão operacional e de pesquisa e que as informações oportunas e
confiáveis sobre a precipitação recente, atual e futura são vitais para permitir que os operadores façam
previsões precisas e oportunas para alertar o público apropriadamente.
Soma-se aos desafios tecnológicos do monitoramento de eventos hidrológicos por satélite ao fato
de que as enxurradas são aquelas inundações caracterizadas por sua rápida ocorrência, o que segundo
Collier (2007) resulta em uma oportunidade muito limitada para que os avisos sejam preparados e
emitidos.

Assim como Scofield e Kuligowski (2003), Rivolta et al. (2006) também destacam que a previsão
da precipitação de imagens de satélite está se tornando uma questão importante para várias aplicações,
principalmente relacionadas à proteção civil.

Entre as ferramentas utilizadas, o nowcasting se destaca. Rivolta et al. (2006) definem o termo
como sendo a capacidade de prever a evolução do campo geofísico de interesse a partir de imagens
de satélite em escalas de tempo de curtíssimo prazo.

62
5 DA NECESSIDADE DE MONITORAMENTO DOS EVENTOS NATURAIS

Os eventos, segundo a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade) adotada pelo


Ministério da Integração Nacional, são divididos em duas categorias relacionadas à sua origem, sendo
elas Tecnológicos e Naturais, instituídos pela Instrução Normativa Nº 01, de 24 de agosto de 2012.

Historicamente houve uma padronização da metodologia utilizada no Brasil, na qual foi adotada a
metodologia utilizada no Banco de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT) do Centro para
Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (CRED) da Organização Mundial de Saúde (OMS/ONU),
mantido pela Universidade Católica de Louvain (Bélgica), conforme descrito no Anexo I da própria
Instrução Normativa (BRASIL, 2012):

O Banco de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT), do Centro para Pesquisa sobre


Epidemiologia de Desastres (CRED) da Organização Mundial de Saúde (OMS/ONU) distingue duas
categorias genéricas de desastres (Natural e Tecnológico). Adequar a classificação brasileira à
classificação utilizada pela ONU representa o acompanhamento da evolução internacional na
classificação de desastres e o nivelamento do país aos demais organismos de gestão de desastres do
mundo. Além disto, a classificação adotada pela ONU é mais simplificada do que a Codificação dos
Desastres (CODAR) utilizada hoje pelo SINDEC.
Desta forma, a adoção deste novo critério possibilita ao governo uma gestão compartilhada de
informações, uma vez que a mesma classificação não necessita de uma adequação para a inserção de
informações no banco de dados internacional.

Com a adoção destes novos critérios, o Cobrade passa a dividir os desastres em ocasionados por
Eventos Tecnológicos e por Eventos Naturais conforme ilustram as Tabelas 4 e 5.

63
Tabela 4- Classificação dos Eventos Tecnológicos
Grupo Subgrupo Tipo
Desastres siderais com riscos Queda de satélite
radioativos (radionuclídeos)
Desastres com substâncias e
Relacionados Fontes radioativas em processos
equipamentos radioativos de uso em
a Substâncias de produção
pesquisas, indústrias e usinas nucleares
radioativas
Desastres relacionados com riscos de Outras fontes de liberação de
intensa poluição ambiental provocada radionuclídeos para o meio
por resíduos radioativos ambiente.
Desastres em plantas e distritos
Liberação de produtos químicos
industriais, parques e armazenamentos
para a atmosfera causada por
com extravasamento de produtos
explosão ou incêndio
perigosos
Liberação de produtos químicos
nos sistemas de água potável
Desastres relacionados à contaminação
da água Derramamento de produtos
químicos em ambiente lacustre,
fluvial, marinho e aquíferos
Relacionados
a Produtos Liberação de produtos químicos
Desastres relacionados a Conflitos
Perigosos e contaminação como
Bélicos
consequência de ações militares.
Transporte rodoviário
Transporte ferroviário
Desastres relacionados a transporte de Transporte aéreo
produtos perigosos Transporte dutoviário
Transporte marítimo
Transporte aquaviário
Incêndios em plantas e distritos
Relacionados industriais, parques e depósitos;
a Incêndios Incêndios urbanos
Urbanos Incêndios em aglomerados
residenciais
Relacionados Colapso de edificações
------
a Obras Civis Rompimento / colapso de barragens
Transporte rodoviário
Relacionados
a transporte Transporte ferroviário
de
Transporte aéreo ------
passageiros e
cargas não Transporte marítimo
perigosas
Transporte aquaviário

Fonte: Adaptado de Brasil (2012)

64
Tabela 5- Classificação dos Eventos Naturais
Grupo Subgrupo Tipo
Tremor de terra
Terremoto
Tsunami
Emanações vulcânicas ------
Quedas, tombamentos e
rolamentos

Geológicos Movimentos de massa Deslizamentos


Corridas de massa
Subsidências e colapsos
Erosão costeira/Marinha
Erosão Erosão de margem fluvial
Erosão continental
Inundações
Hidrológicos Enxurradas ------
Alagamentos
Ciclones
Sistemas de grande escala / escala
regional Frentes frias/ Zonas de
Convergência
Meteorológicos
Tempestades Tempestade Local/Convectiva
Onda de calor
Temperaturas extremas
Onda de frio
Estiagem
Seca
Climatológicos Seca
Incêndio Florestal
Baixa umidade do ar
Doenças infecciosas virais
Doenças infecciosas bacterianas
Epidemias
Doenças infecciosas parasíticas
Biológicos Doenças infecciosas fúngicas
Infestações de animais
Infestações/ Pragas Infestações de algas
Outras infestações

Fonte: Adaptado de Brasil (2012)

Segundo o EM-DAT (2016), comparando os valores de desastres ocasionados por Eventos Naturais
e Eventos Tecnológicos, observa-se, conforme ilustrado na Figura 4, que os valores em todas as

65
categorias deste banco de dados apresentam-se significativamente maiores para os desastres que
tiveram origem a partir de Eventos Naturais.

Figura 4 - Percentuais dos registros dos Eventos Naturais e Tecnológicos do EM-DAT (2016) de 1900 a 2015.
Fonte: adaptado de EM-DAT (2016)

O registro histórico é de extrema importância, uma vez que possibilita verificar os países mais
afetados e aqueles em que se observa a diminuição ou aumento do registro dos eventos, além disso,
possibilita também verificar os tipos de eventos a que os países e a população estão mais susceptíveis.

Tominaga (2009) cita o crescente aumento do número de desastres a partir da década de 1970,
assim como o aumento do prejuízo estimado, com destaque paro o fato que o autor relata que as
populações em risco têm apresentado um crescimento anual em torno de setenta a oitenta milhões de
pessoas, sendo que, mais de noventa por cento dessa população encontra-se nos países em
desenvolvimento, com as menores participações dos recursos econômicos e maior carga de exposição
ao desastre.

Destacando a quantidade de ocorrências de desastres naturais, segundo o Escritório das Nações


Unidas para a Redução de Desastres- UN-ISDR, o ano de 2011 foi marcado por 302 desastres naturais,
que mataram 29.782 pessoas no mundo, principalmente na Ásia (PARIZZI, 2014), dados este que

66
fomenta o questionamento sobre quais Eventos Naturais a população mundial está mais susceptível.
No banco de dados do EM-DAT, entre os Eventos Naturais que registraram desastres, conforme ilustra
a Figura 5, destacam-se o percentual de pessoas mortas por Eventos Climatológicos e o número de
pessoas afetadas e desabrigadas por Eventos Hidrológicos.

Figura 5- Percentuais dos registros dos Eventos Naturais do EM-DAT (2016) de 1900 a 2015.
Fonte: Adaptado de EM-DAT (2016)

Conforme ilustrado na Figura 5, existe uma predominância de afetados para os Eventos


Climatológicos e Hidrológicos. Ainda que os dois eventos possuam um percentual alto de número de
pessoas afetadas, os Eventos Hidrológicos destacam-se pelo número de pessoas desabrigadas, o que
possibilita inferir que as pessoas habitavam em regiões propensas às inundações.
Observando os registros dos elementos que compõem os Eventos Naturais deste mesmo banco de
dados é possível destacar que os Eventos Hidrológicos foram os que apresentaram o maior número de
registros nos últimos anos, seguidos dos Eventos Meteorológicos. Esta mesma observação foi relatada
em diversos estudos como os trabalhos de Jha, Bloch e Lamond (2012), Tingsanchali (2012).

67
Relacionando o Total de afetados, na Figura 5 e o Número de registro de ocorrência é possível
concluir que os Eventos Hidrológicos foram o que mais expressivos para a população nas últimas
décadas.

Em um estudo realizado por Jonkman (2005) que focou em obter dados sobre os eventos de
inundação em que foram registradas a perda da vida humana entre o período de janeiro de 1975 e
junho de 2002, destacou que as enchentes causaram cerca de 1.550 mortes por ano. Além disso, o
estudo mostrou que a mortalidade por inundações bruscas (calculada como o número de fatalidades
dividido pelo número de pessoas afetadas) é maior do que a de outros riscos naturais.

Borga et al. (2011) cita que a ocorrência de inundações repentinas é preocupante em função do
número de pessoas afetadas e também na proporção de fatalidade, os autores também evidenciam que
o potencial de vítimas e danos por inundações repentinas também está aumentando em muitas regiões
devido ao desenvolvimento social e econômico, associado a eles pela pressão sobre o uso da terra.

As inundações são também muitas vezes acompanhadas por outros perigos, tais como
deslizamentos de terra, fluxos de lama, colapso de pontes, danos a edifícios e empresas e danos
psicológicos a pessoas com, em situações extremas, mortes de indivíduos (COLLIER, 2007). Este fato
também destacado pela Agência Nacional das Águas (ANA) que cita que na década de 1990, entre as
pessoas atingidas por algum tipo de desastre natural no “mundo”, 75% foram vítimas de inundações
(RIGHI,2016), além disso, Muñoz e Valeriano (2015) ressaltam que as inundações causaram a maior
proporção de perdas materiais e humanas, em âmbito global, no período 1900 – 2014.

Evidenciando apenas os Eventos Hidrológicos, o Figura 6 ilustra o número de casos de inundação


observados nos continentes a partir da década de 1950. É possível notar que os registros do banco de
dados do EM-DAT (2016) demonstram o aumento do número de eventos na década de 2000, sendo
relatado quase que o dobro de eventos em relação a década anterior, o que reforça as informações do
UN-ISDR.

68
Figura 6- Número de Eventos de inundação no Continentes a partir da década de 1950.
Fonte: Adaptado de Em-Dat (2016)

O aumento da frequência e magnitude dos eventos de inundação são observados em diferentes


locais do globo. Na Malásia, em que 68% da população residem em áreas urbanas desde a década de
1990 e os eventos hidrológicos ocasionado pelas monções já é superado pelos por eventos mais
críticos, ocasionados pelo uso e ocupação do solo (MOHIT, SELLU, 2013).
A importância dos estudos relacionados aos desastres naturais pode ser observada pela grande
quantidade de eventos de média e grandes proporções que ocorrem em um curto espaço de tempo em
diversos locais do globo, o que mostra a necessidade de estudos que possam proporcionar mecanismos
que minimizem os impactos e aumentem a resiliência das áreas afetadas.

6 EVENTOS NATURAIS NO BRASIL

Conforme descrito anteriormente, o Brasil adotou os mesmos critérios que o EM-DAT para a
Classificação dos Eventos Naturais e Tecnológicos, e os registros nacionais estão disponíveis no

69
Banco de Dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) do Ministério da
Integração Nacional.

Segundo Ferreira e Poleto (2015), os registros no S2ID mostram que durante o período de 1991 a
2012 o evento que mais se destacou foi o de Movimentos de massa, o qual teve um aumento de 21,7%
na década de 2000. Considerando o número de afetados, os eventos que se destacam são os
relacionados à Estiagem e Seca (51,31%), à Enxurrada (20,66%) e à Inundação (12,04%). Tominaga
(2009) comenta que os principais fenômenos relacionados a desastres naturais são derivados da
dinâmica externa da Terra, e ocorrem normalmente associados a eventos pluviométricos intensos e
prolongados nos períodos chuvosos, que correspondem ao verão na região Sul e Sudeste e ao inverno
na região Nordeste.

Em um espaço de tempo menor, o EM-DAT (2016) cita que entre 2000 e 2007 mais de 1,5 milhões
de pessoas foram afetadas por algum tipo de desastre natural no Brasil. Neste mesmo período
ocorreram no país cerca de 36 grandes episódios de enchentes, secas, deslizamentos de terra, com
prejuízo econômico estimado em mais de US$ 2,5 bilhões (MMA, 2007).

Os Eventos Naturais, quando somados a ação antrópica, potencializam a possibilidade de


ocorrência dos desastres naturais e, segundo Marcelino (2008), Jha, Bloch e Lamond (2012), sendo a
inundações o fenômeno mais frequente no Brasil.

Os estudos citam diversos Eventos Hidrológicos no Brasil, com destaque para os ocorridos na
década de 1980 em todas as regiões do país (Ramos et al., 1989). No ano de 2008 o país ocupou a 10ª
posição mundial em relação ao número de vítimas de desastres hidrológicos, com 1,8 milhão de
pessoas afetadas (TOMINAGA, 2009 APUD OFDA/CRED, 2009).

A título de exemplificação, em dezembro de 2009 e início de 2010 os municípios de Cunha,


Lagoinha e São Luiz do Paraitinga registraram eventos de movimento de massa e inundação. Stabile
e Colângelo (2017) relatam em um estudo realizado em uma área de 1000 km² na porção leste do rio
Paraitinga, duas mil duzentas e sessenta e cinco (2265) cicatrizes de escorregamento, conforme
destacado na Figura 7.

70
Figura 7- Mapa de isoietas de precipitação acumulada em 96 horas (entre os dias 29/12/2009 e 01/01/2010).
Fonte: Stabile e Colângelo (2017)

Sobre a perspectiva dos eventos hidrológicos, a Figura 8 ilustra o evento hidrológico no município
de São Luiz do Paraitinga, sendo possível observar a magnitude do evento. Segundo Moradei (2016)
o transbordamento do rio Paraitinga iniciou no dia 1º de janeiro com ápice no dia 2 de janeiro de 2010.

Figura 8- Evento hidrológico no município de São Luiz do Paraitinga. (a) Igreja Matriz e (b) área central do município.
Fonte: Arquivo da Defesa Civil Municipal de São Luiz do Paraitinga apud Moradei (2016).

71
Em relação à região Sul, os eventos de enxurrada com registros reconhecidos pelo governo federal
no período de 2006-2016 apresentaram valores superiores às regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste
juntas (FERREIRA, POLETO, BARBAROTTO JÚNIOR, 2017).

O Atlas Brasileiro de Desastres Naturais agrupou as informações relacionados aos danos de


humanos associados aos eventos de enxurrada entre os períodos de 1991 a 2012, conforme descrito
na Tabela 6, além disso, o atlas também destaca que para este período, os maiores registros de
ocorrência foram para os anos de 2009, 2010 e 2011 (CEPED UFSC, 2013).

Tabela 6- Danos humanos associados às enxurradas por região (período de 1991 a 2012)

Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-


Oeste

Afetados 983.584 2.188.911 9.250.101 8.590.647 9.250.101


Mortos 47 8 224 1.461 224

Enfermos 23.963 110 4.846 12.076 4.846

Feridos 1.781 101 7.727 13.378 7.727

Desaparecidos 6 1 217 244 217

Desabrigados 73.903 7.343 120.070 138.349 120.070

Outros 261.791 20.062 393.923 538.829 393.923

Fonte: adaptado de CEPED UFSC (2013)

Considerando apenas o estado do Rio Grande do Sul, entre os anos de 2003 e 2009 foram
registrados 1.640 desastres naturais, atingindo 94,6% dos municípios e mais de 7.500.000 pessoas,
sendo que 11% dos desastres registrados foram referentes à eventos de inundações (RODRIGUES,
FACHEL, PASSUELLO, 2012).

Um elemento importante descrito por Tucci e Bertoni (2003) é que os relatos dos eventos
hidrológicos se perdem ao longo dos anos, o que evidencia a inexistência de um banco de dados de
desastres em nível municipal, estadual e federal, impossibilitando o acompanhamento dos eventos
ocorridos, prejudicando inclusive o gerenciamento dos espaços urbanos.

Os autores relatam o caso de Porto Alegre (RS) em que foi construído um dique de proteção após
os eventos de inundação em 1967. Devido à falta de eventos significativos por 35 anos após a
construção do dique, foi sugerido e aprovado por votação na câmara municipal a retirada do dique de
inundação, demonstrando a necessidade de uma maior compreensão sobre o evento hidrológicos e
planejamento institucional sobre espaço e risco.

72
Os questionamentos realizados pelo IBGE aos municípios, denominados de Perfil dos Municípios,
no período de 2011 a 2015, buscou caracterizá-los em relação à Lei nº 12.608 de 2012, e identificou
diversos elementos importantes para a gestão e planejamento urbano sobre as perspectivas dos eventos
hidrológicos e de movimento de massa.

A Lei nº 12.608 de 2012 institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC; dispõe
sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção
e Defesa Civil - CONPDEC; autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de
desastres. Segundo informações fornecidas pelos pelo IBGE (2013) observa-se um elevado número
de edificações em áreas de risco sujeitas a enxurrada, com destaque para o estado de São Paulo, Rio
Grande do Sul e Minas Gerais.

Esta mesma pesquisa apontou que 1574 municípios registraram eventos de enxurradas nos últimos
5 anos. Destes, 87,6% dos municípios souberam informar os locais em que ocorrem a enxurrada e
26,37% municípios não souberam informar o número de edificações atingidas nas áreas urbanas, o
que ilustra a necessidade de implantar mecanismos para avaliar os eventos naturais que causaram
desastres, assim como também implantar nos municípios políticas para avaliar as áreas mais
susceptíveis a desastres.

Observando estes dados em relação aos eventos hidrológicos, foi possível destacar que 494
municípios foram atingidos por inundação nas áreas urbanas entre os anos de 2009 a 2013, os quais
ocorreram em áreas naturalmente inundáveis e com ocupação regular. Em relação à enxurrada,
observa-se que o número de municípios que foram atingidos por inundação nas áreas urbanas foram
422 e além disso, 229 municípios relataram ter eventos de inundação e enxurrada nos últimos 5 anos
em áreas também naturalmente inundáveis e com ocupações regulares.

A Figura 9 ilustra a disposição dos municípios brasileiros que registraram eventos de hidrológicos
em áreas naturalmente inundáveis e com ocupações regulares, com destaque para a maior
concentração na Região Sudeste.

73
Figura 9- Municípios com registro de eventos de inundação nos últimos 5 anos em áreas naturalmente inundáveis e com
ocupação regular.
Fonte: adaptado de IBGE (2015)

74
Como resultado, o questionário indicou que os eventos de inundação e enxurrada ocorrem em áreas
naturalmente inundáveis e com ocupações regulares, o que evidencia a falta de planejamento urbano,
uma vez que áreas com alta probabilidade de reincidência dos eventos não deveriam ser ocupadas pela
população e muito menos estarem regularizas, o que acontece na maioria dos casos.

No âmbito legislativo, conforme citam Ferreira e Poleto (2015), o Plano Diretor (PD) e o Plano
Municipal de Saneamento Básico (PMSB) são os dois instrumentos que fomentam na gestão pública
a necessidade de reorganizar e redimensionar o solo urbano, de forma a acomodar o crescimento
populacional e o crescimento econômico, minimizando impactos e favorecendo o elo da
sustentabilidade das cidades.

Com a inclusão da necessidade de elaboração do PD para as cidades que estão incluídas no cadastro
nacional de Municípios e que possuem áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande
impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos (Lei nº 12.608 de
2012), espera-se um avanço na identificação das áreas mais críticas nos municípios e também da
proposição de medidas para a gestão destas áreas.
A Figura 10 ilustra os municípios que registraram eventos de inundação e enxurrada entre 2009 a
2013 e que possuíam algum dos seguintes planos: a) Plano Diretor que contemplavam a prevenção de
eventos hidrológicos, b) Plano de Contingência ou Emergência para casos de desastres naturais, c)
Plano Municipal de Redução de Risco, d) Sistema de Alerta Antecipado de Desastres, e) Mapeamento
das áreas de risco de enchentes ou f) inundações e Conselho de Defesa Civil. Observando a disposição
destes quesitos no mapa, é possível inferir que dos 2035 municípios que registram eventos de
inundação e/ou enxurrada, 601 municípios apresentaram eventos hidrológicos e não possuíam na
época do levantamento nenhum dos planos avaliados.

A integração de diversas áreas do governo, seja municipal, estadual ou federal, deve ocorrer de
forma a promover ações que sejam mais proativas do que reativas. Tingsanchali (2012) cita que em
países em desenvolvimento destacam-se mais ações reativas, as quais requerem mais esforço e tempo,
mais orçamento, equipamentos, instalações e recursos humanos.

Conforme informação disponibilizada por esse levantamento, em 2013 os municípios brasileiros


estimavam, a partir dos estudos e mapeamentos realizados, que quatro milhões, quatrocentos e setenta
e dois mil, duzentos e oitenta e três pessoas (4.472.283) estavam vulneráveis aos eventos de enchentes
ou inundações graduais, ou enxurradas ou inundações bruscas nas áreas urbanas brasileiras (IBGE,
2013).

75
Figura 101- Municípios que registraram eventos hidrológicos entre os anos de 2009 a 2013 e que possuíam planos
relacionado à risco hidrológico.

76
7 EVENTOS HIDROLÓGICOS - DEFINIÇÕES ADOTADAS

Em função da quantidade de Eventos Hidrológicos e também da frequência dos registros destes no


país, a diferenciação dos tipos faz-se importante para melhor classificá-los e compreender a dinâmica
envolvida nesse processo. De acordo com o Cobrade (Brasil, 2012), os Eventos Hidrológicos são
subdivididos em três subgrupos, sendo eles inundação, enxurrada e alagamento:

A inundação é a submersão de áreas fora dos limites normais de um curso de água em zonas que
normalmente não se encontram submersas. O transbordamento ocorre de modo gradual, geralmente
ocasionado por chuvas prolongadas em áreas de planície. Em relação à enxurrada, este define como
sendo o escoamento superficial de alta velocidade e energia, provocado por chuvas intensas e
concentradas, normalmente em pequenas bacias de relevo acidentado. Caracterizada pela elevação
súbita das vazões de determinada drenagem e transbordamento brusco da calha fluvial. Apresenta
grande poder destrutivo. O alagamento é defino como a extrapolação da capacidade de escoamento
de sistemas de drenagem urbana e consequente acúmulo de água em ruas, calçadas ou outras
infraestruturas urbanas, em decorrência de precipitações intensas.
Anteriormente a Instrução Normativa Nº 1, que entrou em vigor em 24 de agosto de 2012, também
faziam parte da classificação da antiga Codificação De Desastres, Ameaças E Riscos -CODAR os
itens Enchente, Inundações Litorâneas e Inundações Bruscas. O primeiro item também poderia ser
classificado como Inundação Gradual. As Inundações Litorâneas eram aquelas provocadas pela
Brusca Invasão do Mar e as designações para os eventos de inundações bruscas também poderiam ser
classificadas como enxurradas, sendo mantidos apenas os itens inundação, enxurrada e alagamento.
Estas definições são importantes porque aparecem em diversas literaturas referente aos termos e
estarão presentes também na análise do banco de dados, uma vez que será preciso fazer correlações
de ambos os itens com as informações disponibilizadas pelo atual sistema.

Outro exemplo do uso de diferentes termos para o mesmo processo, a enxurrada era definida como
inundação brusca até o ano de 2012, mas na literatura o termo também pode ser encontrado como
inundação relâmpago, inundação ou enchente repentina (TACHINI; KOBIYAMA; FRANK, 2009;
TAVARES, 2008; GOERL; KOBIYAMA, 2005; MARCELINO; GOERL; RUDORFF, 2004 apud
CEPED, 2013).

77
8 DRENAGEM URBANA COMO ELEMENTO QUE INFLUÊNCIA NOS EVENTOS
HIDROLÓGICOS

O desenvolvimento urbano altera as características naturais do terreno e o processo de urbanização


observado na maioria das cidades contribui para a redução da infiltração e da evapotranspiração da
bacia hidrográfica, aumento da temperatura, aumento da superfície impermeável e,
consequentemente, aumento do pico e do volume escoamento em um tempo de concentração menor,
o que é agravado quando soma-se a inadequação dos sistemas de drenagem existentes.

Em se tratando dos problemas ocasionados pelos processos de ocupação, Tucci (2002) cita que as
inundações em áreas ribeirinhas e aquelas ocasionadas pela urbanização são os principais processos
que promovem o escoamento superficial, os quais são alterados pela infraestrutura urbana e com isso,
assim como em um efeito cascata, a dinâmica e todos os processos sofrem alterações que acabam por
requerer constantemente adequações para minimizar destes efeitos.

O esquema proposto por ICLEI BRASIL (2011), na Figura 11, ilustra as variações que ocorrem no
trajeto natural da água precipitada devido à alteração ocasionada pelo ambiente urbano.

Em relação às causas das enchentes provocadas pela urbanização, Pompêo (2000) destaca o
excessivo parcelamento do solo e a consequente impermeabilização das grandes superfícies, a
ocupação de áreas ribeirinhas tais como várzeas, áreas de inundação frequente e zonas alagadiças, a
obstrução de canalizações por detritos e sedimentos e também as obras de drenagem inadequadas.

Tucci e Bertoni (2003) diferenciam as inundações ribeirinhas e as inundações ocasionadas pela


drenagem urbana, sendo a primeira aquela proveniente de uma precipitação intensa e o solo não é
capaz de suportar o volume precipitado e como consequência a água escoa através do sistema de
drenagem ocupando a várzea. Já as inundações ocasionadas pela drenagem urbana ocorrem devido à
impermeabilização do solo e o aceleramento do escoamento através dos condutos e canais que saturam
o sistema, uma vez que toda a água drenada chega ao sistema em um curto período de tempo,
fomentando assim os eventos de inundação. Um exemplo da alteração do hidrograma em função da
urbanização é apresentado na Figura 12, em que é possível observar o aumento da vazão máxima,
antecipação do pico e o aumento do volume escoado (TUCCI, 1995).

78
Figura 11- Fluxos das águas pluviais e o ambiente urbano.
Fonte: ICLEI BRASIL (2011)

Figura 12 - Impacto da urbanização no hidrograma.


Fonte: Tucci (1995)

79
Tucci e Bertoni (2003) citam ainda que estes problemas dependem do grau de ocupação da várzea
pela população e da impermeabilização e canalização da rede de drenagem, além do mais, outro fator
que corrobora para os eventos é a tendência que existe no planejamento urbano de drenarem o
escoamento pluvial o mais rápido possível das áreas urbanizadas.

Em relação às características das influências da urbanização nos eventos de inundação, Tucci e


Bertoni (2003), Tucci (2008) citam que o desenvolvimento urbano das cidades causa os seguintes
impactos:

 Aumento das vazões máximas (em até 7 vezes) e da sua frequência devido ao aumento da
capacidade de escoamento através de condutos e canais impermeabilizados;

 Aumento da produção de sedimentos devido à desproteção das superfícies e à produção de


resíduos sólidos, conforme ilustrado na Figura 13;

A ocorrência de outros impactos devido á forma desorganizada como a infraestrutura urbana é


implantada, tais como: a) pontes e taludes de estradas que obstruem o escoamento; (b) redução de
seção do escoamento por aterros de pontes e para contrações em geral; (c) deposição e obstrução de
rios, canais e condutos por lixos e sedimentos; (d) projetos e obras de drenagens inadequadas, com
diâmetros que diminuem para jusante, drenagem sem esgotamento, entre outros.

Figura 13- As curvas fornecem o valor de R, aumento da vazão média de inundação em função da área impermeável e
da canalização do sistema de drenagem.
Fonte: Leopold (1968) apud Tucci e Bertoni (2003)

80
Além dos itens descritos anteriormente, em se tratando apenas da concepção do projeto de
drenagem, alterações na forma de dimensionamento também podem favorecer ou minimizar os
eventos hidrológicos em áreas urbanas. Sobre esse tema, os trabalhos publicados por Allasia e
Villanueva (2007 a, b) fazem apontamentos sobre as dificuldades relacionadas à concepção do sistema
de macrodrenagem urbana em função dos dados que devem ser utilizados para o dimensionamento,
como por exemplo, os dados hidrológicos. O estudo também apontou que o CN (Método do número
de curva) é um dos parâmetros que apresentou maior sensibilidade e, quando realizada a análise apenas
desse parâmetro e as influências dele sobre a concepção do sistema de drenagem, o estudo apontou
que para os erros usualmente cometidos na estimativa do CN, a vazão de pico variou entre 30 e 160%.

Ainda em relação aos dimensionamentos das redes e a influência destes nos eventos hidrológicos,
Mahunguana e Bravo (2015) citam que a posição do pico do hietograma do projeto influencia o valor
de pico, tempo de pico, volume e distribuição temporal do hidrograma de projeto resultante, o que
pode ser transferido para o dimensionamento hidráulico das obras propostas, podendo alterar o seu
custo, as medidas de controle de cheias, além do planejamento e gestão de recursos hídricos (YUE et
al., 2002 apud MAHUNGUANA, BRAVO, 2015).

Somados aos problemas de dimensionamento das redes, outros fatores também prejudicam a
concepção inicial do sistema de drenagem, como o lançamento do efluente sanitário nas redes de águas
pluviais e a construção excessiva de canais e condutos que apenas transferem as inundações de um
local para outro dentro da cidade, a custos às vezes insustentáveis para o município (TUCCI e
BERTONI, 2003), além da análise segregada dos projetos de drenagem.

Para este último, Tucci (1995) destaca:

Quando um loteamento é projetado, os municípios exigem apenas que o projeto de esgotos e


pluviais seja eficiente no sentido de drenar a água do loteamento. Quando o poder público não controla
essa urbanização ou não amplia a capacidade da macrodrenagem, a ocorrência das enchentes aumenta,
com perdas sociais e econômicas. Normalmente, o impacto do aumento da vazão máxima sobre o
restante da bacia não é avaliado pelo projetista ou exigido pelo município. A combinação do impacto
dos diferentes loteamentos produz aumento da ocorrência de enchentes à jusante. Esse processo ocorre
através da sobrecarga da drenagem secundária (condutos) sobre a macrodrenagem (riachos e canais)
que atravessa as cidades. As áreas mais afetadas, devido à construção das novas habitações a montante,
são as mais antigas, localizadas a jusante.

Historicamente os eventos hidrológicos ocasionados pela drenagem urbana ou devido à


urbanização são recentes, conforme destacam Tucci e Bertoni (2003)

Poucos exemplos históricos (antes dos anos 60) são encontrados para cenários de inundações
produzidos pela drenagem urbana ou devido à urbanização. Estes cenários são recentes em função das
obras de canalização produzida pelo tipo de desenvolvimento urbano ocorrido depois dos anos 60 na
maioria dos países desenvolvidos. Estes mesmos países identificaram já nos anos 70 que tipo de
política era economicamente insustentável, alertando a forma de gerenciar a drenagem urbana para
controle não- estrutural e medidas de controle de volume através de detenções urbanas.
81
Considerando então o aspecto dos projetos de um sistema de drenagem, muitos elementos devem
ser considerados, uma vez que as decisões tomadas nesta etapa influenciam diretamente o ambiente
urbano.

O dimensionamento dos sistemas de micro e macrodrenagem é baseado em diversas informações,


com destaque para aquelas adotadas pelos gestores em relação ao nível de segurança, que é resultado
de uma análise em função do tempo de retorno (TR), o qual comumente é de 5 a 10 anos para a micro
drenagem de 50 e 100 anos para macrodrenagens (CANHOLI, 2005).

Em relação ao nível de segurança, Canholi (2005) utiliza como exemplo o caso do projeto Várzeas
do rio Tiête (2010), em que a empresa Hidrostudio Engenharia desenvolveu uma metodologia para
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que possibilitou a detecção de áreas cuja alternativa
era “nada a fazer”. Isto ocorre porque em qualquer área que seja passível de um projeto de micro e
macrodrenagem são realizados cálculos em que são considerados danos esperados, sendo ele estimado
na análise de Custo-Benefício.
Tucci e Bertoni (2003) citam que o projeto com TR de 10 anos geralmente é escolhido para
dimensionamento da macrodrenagem. Segundo os autores os maiores custos de prejuízos das
inundações encontram-se nas inundações com alto risco (baixo tempo de retorno), devido a sua grande
frequência de ocorrência.

Pompêo (2000) relata que no documento “Consulta Nacional sobre a Gestão do Saneamento e do
Meio Ambiente Urbano”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal em 1994, em
relação aos itens drenagem e controle das cheias em áreas urbanas, que as ações eram em sua maioria
emergenciais, esporádicas e quase sempre definidas após a ocorrência dos desastres.

A minimização destes impactos passa por diferentes etapas, como a identificação, propostas de
mitigação e, eventualmente, e ações que solucionem os problemas, considerando as características da
região.

Além da susceptibilidade do local a eventos naturais e da disponibilidade de tecnologia para


aumentar a resiliência do local, as características da população nas áreas de risco também devem ser
consideradas, conforme destacam Mata-Lima et al. (2013).

O incremento do número de desastres e suas consequências está relacionado com o aumento da


vulnerabilidade das comunidades, em todo o mundo, como consequência do modelo de
desenvolvimento adotado. O aumento da vulnerabilidade não é uniforme, pois verificam-se grandes
variações entre regiões, nações, províncias, cidades, comunidades, classes socioeconômicas, casta e
até mesmo o gênero (YODMANI, 2001 apud Mata-Lima et al.2013).

Os eventos de inundação e enxurrada, além de serem fomentados por um evento de precipitação,


também são resultado da má gestão do sistema de drenagem urbano, quer seja na sua fase de projeto,
implantação ou manutenção e quer sejam nas escolhas das políticas públicas, que acabam por
negligenciar ações voltadas ao uso e ocupação do solo de forma mais sustentável.
82
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88
CAPÍTULO 3
JULIANA ELISABETE CORREIA
CRISTHIANE MICHIKO PASSOS OKAWA
CRISTIANO POLETO

PLANO MUNICIPAL SIMPLIFICADO DE GESTÃO


INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS: ESTUDO
DE CASO EM MUNICÍPIOS DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO PIQUIRI

89
1 INTRODUÇÃO

Nas últimas cinco décadas, o desenvolvimento ocorrido no Brasil, com um elevado índice de
urbanização em cidades não preparadas, causou e ainda causa prejuízos ambientais significativos,
principalmente sobre os recursos hídricos, acarretando contaminações de mananciais superficiais,
subterrâneos e escassez de água potável em alguns grandes centros.

A falta de gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos é um dos motivos desses danos
ambientais, pois segundo Tucci (2008, p.103) “contaminam as águas superficiais e subterrâneas,
funcionando como fonte permanente de contaminação”.

Brites (2005) relata que essa contaminação ocorre, pois, os resíduos sólidos nos corpos de água
causam má aparência e perturbam o habitat natural, degradam a qualidade da água, aumentam a
propagação de doenças, causam mortes de animais aquáticos e impedem o funcionamento hidráulico
dos sistemas de drenagem. Ainda segundo o autor, após lançados na rede de drenagem, são
transportados através de condutos, arroios, rios, lagos e estuários, até alcançarem o mar, afetando
também as cidades litorâneas; ou ainda podem permanecer fixos na vegetação ao longo desse trajeto
ou mesmo espalhados ao longo das praias.

Esses resíduos, em especial os derivados do petróleo, ao desembocarem no mar, e por apresentarem


longa permanência no ambiente, são ingeridos por animais marinhos, causando a obstrução do
aparelho digestivo, acarretando a falsa sensação de saciedade e fazendo com que o animal não consiga
mais se alimentar, ficando debilitado e podendo vir a óbito. Além disso, os derivados de petróleo, ao
se degradarem são transformados em microplásticos, e por não serem absorvidos, são armazenados
nos organismos dos animais, acumulando e passando de geração para geração causando problemas
futuros (PACHECO, 2016). Logo, visando a gestão dos recursos hídricos, entre outros fatores, deve-
se concentrar esforços para melhorar a gestão dos resíduos sólidos.
Diferentemente do que ocorre com a Política Nacional de Recursos Hídricos, onde a unidade
territorial de gestão é a bacia hidrográfica e deve ser elaborado o Plano de Recurso Hídrico por bacia
hidrográfica, por Estado e para o País (BRASIL, 1997), na gestão dos resíduos sólidos o território

90
municipal é a unidade territorial, ou em caso de consórcios públicos, é a área de abrangência
intermunicipal ou de regiões metropolitanas, e deve ser elaborado o Plano de Resíduos Sólidos para o
País, Estado, Intermunicipais ou de Regiões Metropolitanas, Municipais e empresariais (BRASIL,
2010).

Apesar dessa diferença entre as unidades territoriais os Planos de Resíduos Sólidos devem manter
relação com o Plano de Recurso Hídrico, como também com o Plano de Saneamento Básico, de
Mudanças do Clima (PNMC), e de Produção e Consumo Sustentável (BRASIL, 2011a).

Neste capítulo, trataremos sobre o plano de resíduo a nível municipal, denominado Plano Municipal
de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS), visando a melhoria na gestão dos resíduos
sólidos e consequentemente dos recursos hídricos.

A definição de PMGIRS é:

“Documento que apresenta um levantamento da situação atual do sistema de limpeza urbana,


com pré-seleção das alternativas mais viáveis e com o estabelecimento de ações integradas e
diretrizes - sobre os aspectos ambientais, econômicos, financeiros, administrativos, técnicos,
sociais e legais - para todas as fases da gestão dos resíduos sólidos, desde sua geração até a
disposição final” (BRASIL, 2005, p.19).

O PMGIRS é obrigatório e deve atender aos requisitos mínimos previstos no art. 19 da Política
Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS para municípios maiores que 20.000 (vinte mil) habitantes;
para municípios menores, o plano terá seu conteúdo simplificado de acordo com o art. 51 do Decreto
n° 7.404/2010, e é denominado Plano Municipal Simplificado de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos - PMSGIRS (BRASIL, 2010b).

Pinho (2011) relata que os PMGIRS têm sido utilizados como o principal instrumento na gestão
municipal dos resíduos, considerando as dimensões sociais e ambientais, princípios técnicos e
econômicos.

Pupin e Borges (2015), ao avaliarem os PMGIRS de seis municípios da microrregião de Jaboticabal


– SP, concluíram que nenhum dos planos cumpriu os preceitos da PNRS; com significativas
discrepâncias nos textos; falta de concisão e clareza quanto às atribuições dos incisos e parágrafos da
Lei; prazos legais não cumpridos; e diagnóstico insuficiente.

No Paraná, os planos de Boa Esperança do Iguaçu, Dois Vizinhos e Francisco Beltrão foram
analisados por Dambros et al. (2016), resultando na falta de cumprimento de importantes requisitos
exigidos por Lei em ambos planos, tais como: falta de estabelecimento da revisão periódica; ausência
de ações preventivas, corretivas e programa de monitoramento; além de insuficiência de meios de
redução, reutilização e metas para a coleta seletiva.

Para Moraes (2017) no enfrentamento da problemática dos resíduos sólidos existe um espectro
amplo de categorias: alguns municípios que demonstram vontade e capacidade efetiva de
encaminhamento e resolução dos problemas ambientais, de forma absolutamente satisfatória,
enquanto que, outros vivem em uma realidade onde não houve nenhum avanço, sendo comum que,
91
em muitos casos, devido às disposições legais e pela pressão das comunidades organizadas, elaboram
seu PMGIRS, porém não é aplicado; seja por falta de interesse dos gestores ou carência de um órgão
de planejamento e controle, voltados à gestão dos resíduos sólidos.

Lopes (2006) identificou problemas em relação ao gerenciamento dos resíduos sólidos, que podem
ser mais expressivos em municípios de pequeno porte, como: baixa cobrança do órgão estadual, pouco
apoio para a resolução de problemas, carência de recursos financeiros e baixa qualificação do corpo
técnico que elabora PMGIRS.

Considerando que, dos 5.561 municípios brasileiros, 4.084 (73%) possuem menos de 20.000
habitantes e que no Paraná, dos 399 municípios, 318 (80%) também possuem população inferior a
20.000 habitantes (IBGE, 2010), os problemas relacionados à gestão dos resíduos sólidos identificados
por Lopes (2006) para municípios de pequeno porte podem conduzir a PMGIRS não condizentes com
os requisitos mínimos exigidos, causando prejuízos ambientais e, consequentemente, graves
contaminações dos recursos hídricos em toda bacia hidrográfica.

Outro problema relacionado à elaboração do PMGIRS é a não necessidade de aprovação por órgão
estadual ou federal, devendo ser realizada por meio de mobilização e participação social, incluindo a
realização de consultas e audiências públicas. E por não existir uma avaliação por parte de órgãos
superiores e/ou fiscalizadores, pode haver a possibilidade de que municípios e empresas
especializadas contratadas elaborem planos ineficientes, que não condizem com a realidade local, que
não envolvam a participação da população, não trazendo soluções para os problemas; logo, tornam-
se documentos insuficientes em relação à essa complexidade ambiental.

Nesta perspectiva, o objetivo deste trabalho é criar um instrumento simples para avaliação de
PMSGIRS, que também poderá ser utilizado como subsídio para sua elaboração em municípios que
ainda não elaboraram seus planos; aplicar esse instrumento de avaliação em PMSGIRS de municípios
de pequeno porte integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Piquiri e verificar o cumprimento dos
requisitos mínimos exigidos pela legislação.

2 MÉTODO DE ANÁLISE DOS PMSGIRS

Para a elaboração do método de análise dos PMSGIRS, foi realizado levantamento bibliográfico
por meio da Lei Federal nº 12.305/2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010a); o
Decreto Federal nº 7.404/2010 - que regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL,
2010b), os manuais: Guia para elaboração dos Planos de Gestão de Resíduos Sólidos (BRASIL,
2011b), Planos de Gestão de Resíduos Sólidos: Manual de Orientação (BRASIL, 2012) e Orientações
para elaboração de Plano Simplificado de gestão integrada de Resíduos Sólidos – PSGIRS para
municípios com população inferior a 20 mil habitantes (BRASIL, 2016). Com essas leituras, foram

92
identificados os conteúdos que um PMSGIRS simplificado deve conter, de acordo com o art. 51 do
Decreto Federal nº 7.404/2010.

Visando um melhor entendimento dos conteúdos obrigatórios, os incisos foram divididos em três
linhas gerais de análise: Diagnóstico; Metas, programas e ações; e Revisão. O Quadro 1 ilustra os
incisos do art. 51 já organizados nas linhas de análise.

O diagnóstico é importantíssimo no plano, pois subsidia o prognóstico das ações; logo, quanto mais
completo, melhor; iniciando com o levantamento geral das características do município e, em seguida,
os temas relacionados ao gerenciamento de todos os tipos de resíduos sólidos e limpeza urbana
gerados no território.

O estabelecimento de metas, programas e ações é a segunda linha de análise, em que se formulam


as ações e programas necessários à concretização do plano, considerando que as soluções devam ser
consolidadas de forma gradual, conforme a disponibilidade de recursos necessários e seguindo as
exigências da legislação (OLIVEIRA, GALVÃO JUNIOR; 2016).

O item revisão é o último quesito a ser analisado e deve estar compatível com o Plano Plurianual
Municipal. Neste item também foi contemplada a existência da mobilização social para elaboração e
para a aprovação do Plano.

Após identificados os conteúdos por meio das leituras dos manuais e leis citadas, foi elaborada uma
lista de verificação, elencando os itens indispensáveis que devem constar em cada plano, a lista
encontra-se no Apêndice I.

Uma lista de verificação permite diagnosticar itens não conformes e delinear ações corretivas para
adequação dos requisitos analisados (GENTA; MAURÍCIO; MATIOLI, 2005); neste trabalho, a lista
de verificação será utilizada para avaliar o cumprimento dos requisitos mínimos dos PMSGIRS
conforme a PNRS.

A lista de verificação possui 282 itens que estão divididos, de acordo com a categorização, em
diagnóstico (219 itens); metas, programas e ações (58 itens); e revisão (5 itens) e encontra-se no
Apêndice I, ao final deste capítulo.

Para quantificação, cada item mencionado no plano receberá 1 (um) ponto e quando não houver
nenhuma abordagem sobre o tema receberá 0 (zero). Ao final, os planos com maiores pontuações
serão considerados os mais completos, elencando-os em ordem decrescente de pontuação.

93
Quadro 1 – Incisos do art. 51, do Decreto 7.404/2010 organizados de acordo com as linhas de análise
Linhas Gerais Conteúdo mínimo dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos - Incisos
do art. 51 do Decreto Federal nº 7.404/2010.
I - Diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo território, com a
indicação da origem, do volume e da massa, a caracterização dos resíduos e as formas
de destinação e disposição final adotadas;
II - Identificação de áreas favoráveis para disposição final ambientalmente adequada de
rejeitos, observado o plano diretor e o zoneamento ambiental, se houver;
III - Identificação da possibilidade de implantação de soluções consorciadas ou
1 Diagnóstico compartilhadas com outros Municípios, considerando a economia de escala, a
proximidade dos locais estabelecidos e as formas de prevenção dos riscos ambientais;
IV - Identificação dos resíduos sólidos e dos geradores sujeitos ao plano de
gerenciamento ou ao sistema de logística reversa, conforme os artigos 20 e 33 da Lei nº
12.305, de 2010;
XIII - Identificação de áreas de disposição inadequada de resíduos e áreas contaminadas
e respectivas medidas saneadoras; e,
V - Procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem adotadas nos serviços
públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, incluída a disposição final
ambientalmente adequada de rejeitos;
VI - Regras para transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos: serviços
públicos de saneamento básico, industriais, saúde, mineração, empresas de construção
civil, perigosos, atividades agrossilvopastoris e de transporte;
VII - Definição das responsabilidades quanto à sua implementação e operacionalização
pelo Poder Público, incluídas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos;

2 Metas, VIII - programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a
programas e redução, a reutilização, a coleta seletiva e a reciclagem de resíduos sólidos;
ações IX - Programas e ações voltadas à participação de cooperativas e associações de
catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa
renda, quando houver;
X - Sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana
e de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de cobrança desses serviços;
XI - Metas de coleta seletiva e reciclagem dos resíduos;
XII - Descrição das formas e dos limites da participação do Poder Público local na coleta
seletiva e na logística reversa, respeitados ações relativas à responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
3 Revisão XIV - Periodicidade de sua revisão.

Fonte: Adaptado de Brasil (2010)

94
3 DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA – BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIQUIRI

O rio Piquiri está localizado no Estado do Paraná, Brasil (Figura 1). Possui 485 quilômetros de
extensão, nascendo no Terceiro Planalto: região centro-sul do Estado no município de Campina do
Simão e apresenta sua foz junto ao rio Paraná. A Bacia Hidrográfica do Piquiri possui uma área total
de 24.171,70 Km², cerca de 12% da área do estado, e uma população de 609.473 habitantes, em torno
de 6% do total do estado; e relevo entre suave ondulado a ondulado com altitudes que vão de 410 a
990 metros (PARANÁ, 2010).

A principal atividade econômica da Bacia é a agropecuária cujas culturas mais importantes são:
soja, trigo, cana de açúcar e mandioca ocorrendo ainda pastagens. As indústrias da região estão
relacionadas com a agropecuária: laticínios, frigoríficos, destilarias, fecularias. Há pequenas áreas de
cobertura florestal e concentrações urbanas e industriais, com destaque para a região de Cascavel, toda
a área da Bacia compreende total ou parcialmente 68 municípios (PARANÁ, 2010).

Figura 1 – Localização geográfica da Bacia Hidrográfica do Rio Piquiri -PR.


Fonte: Araújo et al. (2015)

95
Foram escolhidos 5 municípios como campo amostral dessa pesquisa, todos integrantes da Bacia
hidrográfica do Rio Piquiri e com menos de 20.000 habitantes, sendo: Iracema do Oeste, Nova Aurora,
Maripá, Terra Roxa e Tupãssi. Esses municípios estão identificados conforme Figura 2.

Na Tabela 1, são apresentadas algumas informações dos municípios escolhidos, sendo: população
(IBGE, 2010), forma de destinação final dos resíduos sólidos urbanos (PARANÁ, 2017), existência
do PMGIRS (IBGE, 2013), área total dos municípios em km2 (PARANÁ, 2010), e área do município
em relação a ocupação da bacia hidrográfica do Rio Piquiri (PARANÁ, 2010).

Para obtenção dos PMSGIRS primeiramente foi realizada consulta via internet, visando o
cumprimento do princípio de publicidade de documentos e informações ambientais; nos casos em que
o PMSGIRS não foi encontrado via internet, foi realizado contato telefônico aos secretários ou
técnicos municipais de meio ambiente.

Figura 2 – Localização dos municípios analisados na Bacia Hidrográfica do Rio Piquiri -PR. Fonte: Imagem elaborada
por Renato Suchecki Silveira.

96
Tabela 1 – Dados dos municípios da área de pesquisa
Dados Municipais
Bacia Hidrográfica
Disposição dos resíduos sólidos
do Rio Piquiri
Área do
Municípios
Aterro Aterro Possui Área total município
População Lixão
Controlado sanitário PMSGIRS município na bacia
km2
Iracema do Oeste 2.578 X 82,5 82,5
Maripá 5.684 X X 287,0 229,0
Nova Aurora 11.866 X X 472,2 472,2
Terra Roxa 16.759 X X 803,5 475,7
Tupãssi 7.997 X 311,0 306,2
Total 107.689 0 03 02 03 1565,6

Fonte: adaptado de IBGE (2010); Paraná (2017); IBGE (2013); Paraná (2010)

4 ANÁLISE DOS PMSGIRS

Dos 5 municípios que abrangem o campo amostral dessa pesquisa, todos elaboraram o PMSGIRS
(Tabela 2), já demonstrando um avanço em relação aos dados disponibilizados pelo IBGE (2013) onde
Iracema do Oeste e Tupãssi ainda não haviam elaborado.

Tabela 2 – Existência do PMGIRS nos municípios analisados.


Existência dos PMGIRS
Possuem PMSB Possui PMGIRS
Iracema do Oeste X
Maripá X
Nova Aurora X
Terra Roxa X
Tupâssi X
Total 02 03

Percebe-se que Maripá e Terra Roxa elaboraram o Plano Municipal de Saneamento Básico - PMSB.
O saneamento básico integra os serviços de: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário,
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas pluviais (BRASIL,

97
2007). Logo, o PMGIRS pode estar inserido no PMSB desde que cumpra todos os requisitos exigidos
na PNRS, portanto não há problema na integração desses planos.

4.1 Análise do PMSGIRS de IRACEMA DO OESTE – PR

O plano de Iracema do Oeste foi elaborado por uma empresa de consultoria, e encontra-se em
vigência, pois foi elaborado em 2015. O mesmo apresenta graves defasagens em relação ao conteúdo
mínimo previsto na legislação e obteve 55 pontos de um total de 282, o que representa 19% do total.

Em relação ao diagnóstico, apresentou pontuação 37 de um total de 219 itens. Nas informações


gerais do município só foram caracterizadas as atividades econômicas dominantes, não sendo
informado itens essenciais tais como: população atual, aspectos locacionais, informações sobre a
Bacia Hidrográfica e meio físico, saneamento e legislações pertinentes.
Em relação ao diagnóstico dos resíduos sólidos, não foi mencionada nenhuma informação sobre
serviços de limpeza urbana e alguns resíduos não foram citados, como: volumosos, de saneamento,
transporte, cemitério, óleo comestível e eletroeletrônico. Também não foi mencionado estrutura
operacional, fiscalizatória e gerencial; nada sobre aspectos econômicos; análise crítica; existência de
lixões ou áreas contaminadas; nem informações sobre soluções consorciadas, planos de resíduos
sólidos empresariais e logística reversa.

Em relação às quantificações, a única informação é a quantidade de resíduos domiciliares, não


sendo informada quantidade de outros resíduos, como resíduos de serviço de saúde ou resíduos da
construção civil.

Em relação às metas, programas e ações, o plano obteve 17 pontos de um total de 58, esses pontos
foram possíveis em virtude da descrição dos procedimentos operacionais para o gerenciamento dos
resíduos. Cabe destacar que os procedimentos operacionais estavam todos misturados no decorrer dos
planos, não sendo seguida uma sequência lógica.

Na Quadro 2 e 3 é apresentado o plano de ação; não foram caracterizadas metas a curto, médio e
longo prazo para as ações, nem mesmo para a coleta seletiva e reciclagem. O único item quantificado
nesse plano de ação foi a educação ambiental para sensibilização dos geradores, que deverá ser
realizada pela prefeitura municipal por meio de palestras e meio de comunicação, incluindo-as no item
educação ambiental não-formal.

O item revisão obteve 1 ponto de um total de 5. A falta de participação e mobilização da população


é preocupante, não sendo mencionada, em nenhum item do plano, a discussão em reuniões ou
aprovação em audiência pública.

98
Quadro 2 – Plano de ação do PMSGIRS de Iracema do Oeste
Objetivos Data Local Responsável Estratégia
Conscientizar os Junho a Em todos os Prefeitura Palestra
geradores dos dezembro estabelecimentos Municipal e
Meio de comunicação
resíduos quanto a - 2015 Geradores
correta segregação, Treinamento
coleta, transporte e Apresentação de PGRSS
tratamento e
destinação final Contratação de Empresa
para coleta e destinação
final
Treinar a correta Junho a Estabelecimento Prefeitura Palestra
segregação e destino dezembro de construção Municipal e Meio de comunicação
final de resíduos de - 2015 civil geradores
construção civil Treinamento
Apresentação de PGRS

Fonte: Iracema do Oeste (2015)

Quadro 3 – Plano de ação do PMSGIRS de Iracema do Oeste


Resíduos Data Responsável Empresa Estratégia
Especiais: Junho a Comércio Associação Palestra
dezembro Residência de Coletores
Lâmpadas, pilhas e Seminários
- 2015 Indústria
baterias, óleo Instituições Apresentação de
lubrificantes, pneus, Prefeitura escolares
Empresas
agrotóxico Municipal
Prefeituras e Treinamento
Logística reversa poder
público
Resíduos recicláveis: Junho a Prefeitura Associação Palestra e reuniões
papel, papelão, vidro, dezembro Municipal de Coletores Obra de engenharia
Plástico e orgânico - 2015 Associação de
Coletores
Readequação do Prefeitura Obra de engenharia
aterro sanitário Municipal
Municipal

Fonte: Iracema do Oeste (2015)

99
4.2. Análise do PMSGIRS de MARIPÁ – PR

O PMSGIRS de Maripá está inserido no Plano Municipal de Saneamento Básico - PMSB. Foi
elaborado pelo próprio poder público com auxílio da SANEPAR e da EMATER, a primeira versão foi
elaborada no ano de 2013 e regulamentada através da Lei municipal de nº 997, de 13 de dezembro de
2013. Esse plano é a segunda revisão e foi aprovado em 2017 (MARIPÁ, 2017).

O PMSB pontuou 39 itens de um total de 282, o que representou 13% do total do conteúdo mínimo
exigido pela legislação. As pontuações foram: 32 para o diagnóstico, 3 para metas, programas e ações
e 4 para a revisão.

No diagnóstico o plano apresentou maior caracterização dos dados municipais, como: localização,
municípios limítrofes, área total, características territoriais, clima, altitude, populações, IDH-M, PIB
municipal e per capita; atividades econômicas dominantes, e informações sobre o saneamento básico.
Não foi caracterizado dados sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Piquiri.

O diagnóstico, principalmente em relação aos resíduos sólidos foi falho, sendo citadas somente
algumas informações sobre o tipo da coleta e abrangência e algumas informações sobre a coleta
seletiva. Itens sobre resíduos verdes, volumosos, de serviço de saúde industriais, de saneamento,
transporte, mineração, agrossilvopastoris, de cemitério, óleo comestível, resíduos com logística
reversa obrigatória não foram citados.

Outras informações importantes também não foram descritas, como a existência de


associações/cooperativas de catadores, educação ambiental, obrigatoriedade dos geradores de
elaboração do plano de gerenciamento de resíduos sólidos, nem diagnóstico de passivos ambientais
ou soluções consorciadas.

No item metas, programas e ações, foram descritas algumas atividades a serem realizadas, com
prazos estipulados, porem somente a curto prazo.

- Adquirir no ano de 2017, uma nova área próxima a antiga para implantar gradativamente um novo
aterro sanitário em substituição ao aterro controlado;
- Em 2018 duas novas células para 660 m³, neste novo aterro sanitário, bem como, a infraestrutura
e os projetos para seu manejo adequado;

- Elaborar até o ano de 2018, projeto em parceria com órgãos ambientais estaduais, projeto para
intensificar e sistematizar a atividade de educação ambiental visando aumentar a quantidade de
material possível de reciclagem;

- Elaborar até o ano de 2018, estudo dos valores cobrados pela prestação dos serviços, visando
adequá-los ao custo dos mesmos;
- Elaborar no ano de 2018, projeto de lei para adequação dos valores cobrados pela prestação dos
serviços;

100
- Implantar até o ano de 2020, a coleta de lixo seletivo nas comunidades rurais, utilizando pontos
de coleta voluntária, definindo local específico nas comunidades, para acondicionamento e coleta dos
mesmos (MARIPÁ, 2017).

O item revisão, pontuou 04, com a apresentação da comprovação de mobilização social para
elaboração do plano; menção do horizonte de atuação; menção da periodicidade de revisão e devido
o plano encontrar em vigência.

4.3. Análise do PMSGIRS de NOVA AURORA – PR

O PMSGIRS de Nova Aurora foi elaborado em 2010 por uma empresa de consultoria ambiental,
ou seja, no mesmo ano da instituição da PNRS que exigia o documento. Este plano deveria ter sido
renovado em 2014 e novamente agora em 2018, cumprindo a exigência mínima de revisão pelo menos
a cada quatro anos.

O plano atingiu 104 pontos, dos 282 itens de verificação, o que representou 36% do total do
conteúdo mínimo exigido pela legislação. Apesar de constar no objetivo do plano o conteúdo exigido
pela PNRS o plano não foi elaborado cumprindo todos os requisitos.

O diagnóstico foi o quesito mais pontuado, atingindo-se 73 pontos. A caracterização municipal foi
realizada mencionando-se a localização, área total, ordenamento territorial com menção do Plano
Diretor, clima, altitude, bacia hidrográfica; população, PIB municipal e per capita; atividades
econômicas dominantes e legislações pertinentes.

A caracterização dos resíduos foi bem elaborada para os resíduos de serviço de saúde, construção
civil, resíduos domiciliares e de limpeza urbana, com execução de estudo gravimétrico da área urbana
e de um distrito, comparando-se os resultados a nível nacional (Figura 3).
Um ponto fraco do diagnóstico foi a falta de informações sobre os resíduos volumosos, industriais,
de saneamento, transporte, mineração, agrossilvopastoris, os gerados no cemitério e óleo comestível.

O item metas, programas e ações obteve 31 pontos, e estabeleceu regras para o acondicionamento,
coleta, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos significativos do município. Em relação
aos objetivos, programas e ações, só foram caracterizadas as ações, porém sem delimitação de prazos
e custos.

Também foi proposto programas de educação ambiental visando a não geração, redução e
reutilização de resíduos em ambiente formal e não-formal além da menção de como será a
comunicação ambiental desses programas; e identificou os programas de inclusão social para
catadores, juntamente com ações para melhorar a coleta seletiva. O plano não pontuou no item revisão.

101
Figura 3 – Estudo gravimétrico sendo elaborado para o PMGIRS de Nova Aurora - PR.
Fonte: Nova Aurora (2010)

4.4. Análise do PMSGIRS de TERRA ROXA – PR

O município que possui maior população do campo amostral é Terra Roxa. O PMSGIRS do
município está inserido no Plano Municipal de Saneamento Básico - PMSB, e foi elaborado em 2015
por uma empresa de consultoria, contemplando os quatro eixos do saneamento (abastecimento de
água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e resíduos sólidos).

O plano de Terra Roxa somou 90 pontos ao ser avaliado na lista de verificação, o que representa
31% do total do conteúdo mínimo exigido pela legislação. A linha geral: diagnóstico obteve 55 pontos,
com o detalhamento completo de aspectos locacionais, gerais, saneamento básico e bacia hidrográfica.

Em relação a caracterização dos resíduos gerados o plano não realizou nenhuma quantificação
numérica, nem mesmo a estimativa de geração atual dos resíduos. Também não foi explorado nada
sobre resíduos de mineração, óleo comestível e lubrificante e resíduos de cemitério.
Sobre a coleta seletiva, não mencionou a existência de associações/cooperativas nem catadores
autônomos e nenhuma outra informação sobre o tema. Também não foi apresentado sobre os sistemas
de logística reversa presentes no município e nem sobre os planos de resíduos sólidos. Outra falha foi
a ausência de menção da estrutura operacional, fiscalizatória e gerencial.

Metas, programas e ações obteve 30 pontos de um total de 58. O plano delineou ações e metas a
curto, médio e longo prazo no cronograma, além do sistema de acompanhamento; porém muitos

102
conteúdos não foram mencionados, como educação ambiental, programas e ações com a participação
de catadores e metas para a reciclagem.

O item revisão foi plenamente atendido, com a pontuação total de 5 pontos, reforçando a
mobilização e participação social além de delimitar o horizonte de atuação e revisão.

4.5. Análise do PMSGIRS de TUPÃSSI – PR

O PMSGIRS do município de Tupãssi – PR foi elaborado em 2013 e apesar de constar o


profissional que o elaborou, não foi possível identificar se o mesmo faz parte do quadro técnico
municipal ou se foi contratado para a elaboração. O plano pontou 60 itens, o que representou 21% do
total do conteúdo mínimo exigido pela legislação. Ponderando o plano de acordo com as três linhas
gerais de análise: diagnóstico; metas, programas e ações; e revisão; temos as pontuações: 58, 02 e 0
pontos, de um total de 219, 58, e 5 pontos respectivamente.

É possível perceber que no plano houve apenas uma caracterização superficial das ações realizadas
no gerenciamento de resíduos sólidos, não seguindo os incisos estabelecidos na legislação. No
diagnóstico das características dos municípios foi mencionado a localização, área total do município,
clima, altitude, população urbana/rural, atividades econômicas dominantes, e legislações. Não foi
mencionado informações sobre os recursos hídricos e a bacia hidrográfica, nem sobre o saneamento
básico, entre outros itens.

A caracterização dos resíduos sólidos gerados também foi falha, pois, muitos tipos de resíduos não
foram sequer citados, como: volumosos, industriais, de saneamento, transporte, mineração,
agrossilvopastoris, óleo comestível, cemitério, eletroeletrônicos, pneus e óleos lubrificantes. Os
demais tipos de resíduos tiveram suas caracterizações parciais.

No município também não há associações ou cooperativas de catadores de materiais recicláveis, e


apesar de ter um barracão novo com equipamentos novos (Figura 4) para a coleta seletiva e ser
mencionada a existência de 4 agentes ambientais que realizam a triagem e venda dos resíduos
recicláveis, não foi mencionado por parte do poder público municipal o auxílio técnico para a
formação da associação, nem mesmo planos para contratação ou cursos de capacitação para esses
trabalhadores.

Ainda no item diagnóstico, foi identificação de áreas favoráveis para a disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos e também soluções compartilhadas ou consorciadas, além da
obrigatoriedade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos com
logística reversa obrigatória sujeitos a elaboração do plano de gerenciamento de resíduos sólidos
urbanos.

103
Figura 4 – Barracão e equipamentos destinados a coleta seletiva no município de Tupãssi - PR. Fonte: Tupãssi (2013)

Metas, programas e ações pontuou somente 02 itens, que foram indicadores de acompanhamento
e a proposição de um aterro de inertes na área do aterro sanitário para a regularização do
gerenciamento de resíduos da construção civil. É preocupante pois praticamente todos os itens do
prognóstico do plano, ou seja, os pontos efetivamente que devem ser implantados e operados não
foram sequer mencionados. Também não foi mencionado nenhuma ação para a participação popular
na tomada de decisões, o que resultou em zero ponto no item revisão.

4.6 Análise geral dos PMSGIRS

O Quadro 4 apresenta os resultados dos planos analisados de acordo com a lista de verificação.

Quadro 4 – Pontuação dos PMSGIRS de acordo com a lista de verificação


Município - Quantidade de subitens atendidos
Quantidade nos Planos Municipais Simplificados de Gestão
Itens de de critérios Integrada de Resíduos Sólidos
análise por item de
análise Iracema Nova Terra
Maripá Tupãssi
do Oeste Aurora Roxa
1 Diagnóstico 219 37 32 73 55 58
2 Metas 58 17 4 31 30 2
programas e
ações
3 Revisão 5 1 3 0 5 0
Total 282 55 39 104 90 60
Porcentagem 100 19 13 36 31 21
dos itens
atendidos (%)
Classificação - 4o 5o 1o 2o 3o

104
Verificou-se que nenhum plano obteve mais que 40% do conteúdo mínimo exigido pela legislação,
nota-se o baixo índice de atendimento total dos itens, sendo, 36% de Nova Aurora, 31% de Terra Roxa,
21% de Tupãssi, 19% de Iracema do Oeste e 13% de Maripá. Nesse sentido, é válido questionar as
divergências da legislação nacional sobre o PMSGIRS e a real aplicação destes instrumentas
principalmente para alguns municípios de pequeno porte.

Fonseca (2015) concluiu em sua pesquisa que as limitações enfrentadas em 26 municípios da


Região Administrativa Central do estado de São Paulo sobre a gestão dos resíduos sólidos não são de
ordem financeira, porém de caráter técnico e administrativo; com estruturas de pessoal disponíveis
sem qualificação e capacitação para realizarem as tarefas necessárias à elaboração dos planos, o que
implica a contratação de empresas, com riscos de apresentarem planos padronizados ou planos que se
tornam peças de ficção.

Esse problema poderia ser minimizado, se os técnicos municipais e a população tivessem um maior
conhecimento sobre o que é o PMGIRS e como elaborá-lo. Pois mesmo contratando uma empresa
para elaboração, os gestores públicos da área ambiental dos municípios devem analisar, solicitar
correções e também a inclusão de estudos de itens faltantes.

A população é essencial nessa tomada de decisão, sendo necessário uma participação direta e
intensa das populações locais nas audiências públicas para aprovação dos planos; e Fonseca (2015)
apontou que essa participação é, na maior parte das vezes, rala, superficial, quando não meramente
formal.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises realizadas dos PMSGIRS dos 05 municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Piquiri, não
divergem de outros municípios do país que, apesar de possuir seus planos, não atendem de forma
satisfatória o conteúdo mínimo previsto pela legislação ambiental.

Concluiu-se que todos os planos dos municípios aqui analisados não atendem de forma satisfatória
o conteúdo mínimo previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos, com índices de atendimento
variando em 36% e 13%, ou seja, não alcançando 50%. Um PMSGIRS que não contemple todas as
variáveis obrigatórias, condizente com a realidade local, inviabiliza toda a cadeia de gerenciamento
de resíduos sólidos e limpeza urbana, gerando problemas ambientais, sociais, econômicos e de saúde
pública.

Com isso, percebe-se o alto risco da contaminação dos recursos hídricos devido a falta de
planejamento no gerenciamento dos resíduos sólidos. Machado (2003) já mencionava naquela época
que a água, como bem essencial à vida, ao desenvolvimento econômico e ao bem-estar social requer
uma gestão e legislação voltadas para as suas características singulares. Não só a Política Nacional de

105
Recursos Hídricos deve ser aqui considerada para a gestão dos recursos hídricos, mas também a
legislação sobre os resíduos sólidos, saneamento básico, estatuto das cidades, entre outras.

Essas políticas citadas exigem um documento de planejamento elaborado de acordo com sua
realidade local, e que sejam aplicados visando entre outros fatores a preservação dos nossos recursos
ambientais, como a água. No caso dos resíduos sólidos é o PMGIRS, e seria indispensável que
profissionais soubessem como elabora-los, pois, o controle desses planos é geralmente relacionado
sua existência, ficando desprovidos da análise técnica de conteúdo por órgãos fiscalizadores.

A lista de verificação utilizada para avaliação dos planos mostrou-se eficaz, permitindo a
identificação dos itens faltantes de acordo com as três linhas gerais de análise: diagnóstico; metas,
programas e ações; e revisão. A lista pode ser replicada para análise de outros PMGIRS, tomando-se
o cuidado de observar se o município possui menos de 20.000 habitantes.

Análises, como essa proposta, tornam-se um importante instrumento de avaliação e que devem ser
consideradas na etapa de revisão desses planos, pois somente assim poderá ser iniciada uma correta
gestão dos resíduos sólidos, por meio do documento de planejamento das ações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, F. C.; MELLO, E. L. de.; SILVA, B. B. da.; MERCANTE, E.; GOLIN, G. M. Utilização de dados de
sensoriamento remoto para obtenção das características físicas da bacia hidrográfica do rio Piquiri – PR. In: XVII
SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO – SBSR, 2015, Anais... João Pessoa-PB, Brasil, p.5431-
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108
APÊNDICE I - LISTA DE VERIFICAÇÃO PARA AVALIAÇÃO DOS PMGIRS

Item de Subitens
Aspectos analisados
análise analisados

1 Diagnóstico 219

1.1 Diagnóstico: aspectos gerais do município 28

Aspectos locacionais: localização (com mapa), municípios limítrofes, área total do


1.1.1 município, ordenamento territorial municipal - Plano Diretor, características territoriais 5
(região metropolitana, área indígenas, faixas de fronteira);

Aspectos gerais - meio físico: clima, solo, relevo, altitude, balanço hídrico, bacia
1.1.2 6
hidrográfica;

Aspectos gerais - características demográficas e econômicas: população total, população


1.1.3 urbana/rural, estimativa populacional (horizonte de 20 anos), densidade demográfica, IDH- 8
M, PIB municipal, PIB per capita; atividades econômicas dominantes;

Saneamento Básico: água e esgotamento sanitário: índices de cobertura, tratamento prévio


1.1.4 para a água, existência de tratamento para o esgoto e responsabilidades; águas pluviais: 9
sistemas de drenagens existentes, problemas; e responsável;

1.2 Diagnóstico: resíduos sólidos 174

Legislação federal, estadual e municipal sobre resíduos sólidos; existência de termos de


ajustamento de conduta/processos judiciais; contratos/convênios da área de resíduos
1.2.1 7
sólidos; participação do município nos dados do SNIS; existência de conselhos
municipais/conferencias em relação aos resíduos sólidos;

Estrutura organizacional dos serviços de manejo de resíduos sólidos e limpeza urbana;


1.2.2 4
caracterização gravimétrica, geração per capita e estimativa de geração de resíduos atual;

Tipo de coleta (recicláveis, orgânicos e rejeitos), percentual de abrangência da coleta (na


área rural, urbana e bairro), frequência, modo de coleta/acondicionamento (porta a porta,
1.2.3 7
PEVs, ecoponto); formas de quantificação (pesagem); distância até o armazenamento
temporário se houver; distância até o tratamento ou destino final;

Formas de destinação final: localização, vida útil, licença ambiental, operação (prefeitura,
1.2.4 autarquia, empresa pública); iniciativas de compostagem: estrutura e localização, licença 8
ambiental, sistema de operação;

Caracterização (serviços prestados: varrição, capina, roçada, podas, limpeza de bueiros,


1.2.5 dentre outros), geração, coleta, transporte, destinação e disposição final dos resíduos de 7
limpeza pública; índice de cobertura de varrição (área central e bairros);

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final


1.2.6 dos Resíduos da Construção Civil e Demolição – RCC; identificação de 7
caçambeiros/carroceiros;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final


1.2.7 6
dos resíduos volumosos;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final


1.2.8 6
dos resíduos verdes (poda);

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final


1.2.9 6
dos resíduos de serviço de saúde;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final


1.2.10 6
dos resíduos industriais;

109
Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final
1.2.11 6
dos resíduos de saneamento;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final


1.2.12 6
dos resíduos de transporte;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final


1.2.13 6
dos resíduos de mineração;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final


1.2.14 6
dos resíduos agrossilvopastoris;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final


1.2.15 6
do resíduo óleo comestível;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, destinação e disposição final


1.2.16 6
dos resíduos de cemitério;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, existência de logística


1.2.17 7
reversa no município, destinação e disposição final dos resíduos eletroeletrônicos;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, existência de logística


1.2.18 7
reversa no município, destinação e disposição final das pilhas e baterias;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, existência de logística


1.2.19 7
reversa no município, destinação e disposição final dos pneus;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, existência de logística


1.2.20 7
reversa no município, destinação e disposição final das lâmpadas fluorescentes;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, existência de logística


1.2.21 reversa no município, destinação e disposição final dos óleos lubrificantes, seus resíduos e 7
embalagens;

Caracterização, geração, acondicionamento/coleta, transporte, existência de logística


1.2.22 7
reversa no município, destinação e disposição final das embalagens de agrotóxicos;

Associação/cooperativa de catadores de materiais recicláveis: existência, localização,


estrutura, licença ambiental, catadores autônomos e quantidade de materiais recuperados
1.2.23 por eles; quem são os compradores de materiais recicláveis, destino desses resíduos, 9
porcentagem de resíduos recicláveis recuperados em relação aos resíduos sólidos
domiciliares;

Estrutura operacional, fiscalizatória e gerencial com registro qualitativo e quantitativo dos


1.2.24 3
recursos humanos e equipamentos para a gestão dos resíduos sólidos;

Estrutura operacional, fiscalizatória e gerencial com registro qualitativo e quantitativo dos


1.2.25 3
recursos humanos e equipamentos dos serviços públicos de limpeza urbana;

Diagnóstico de iniciativas de educação ambiental; diagnóstico do Programa saúde na


1.2.26 família e agentes comunitários de saúde; iniciativas/projetos relevantes na gestão de 4
resíduos e limpeza urbana;

Aspectos econômicos: existência de ICMS ecológico; existência de cobrança referente aos


serviços de limpeza pública/manejo de resíduos sólidos, sistema de cobrança, estratégias de
1.2.27 cobranças diferenciadas; Custo com os serviços de gerenciamento de resíduos 8
sólidos/limpeza urbana, valor orçado, valor arrecadado, porcentagem do orçamento
municipal despendido para o gerenciamento de resíduos e limpeza urbana;

Avaliação crítica: carências e deficiências da gestão; pontos viciados de disposição de


1.2.28 5
resíduos; universalidade na prestação de serviços públicos;

110
Prognóstico: estimativa de geração de resíduos para horizonte de 20 anos (de acordo com
estimativa populacional), dimensionamento de equipamentos necessários para
processamento para reciclagem, compostagem e aterro sanitário;

1.3 Diagnóstico: áreas favoráveis para disposição final de rejeitos 1

Identificação de áreas favoráveis para a disposição final ambientalmente adequada dos


1.3.1 rejeitos; concordância com o Plano diretor e zoneamento ambiental; cumprir as 1
condicionantes do art. 15 da Resolução CEMA n 94/2014.

1.4 Diagnóstico: soluções consorciadas 3

Identificação de soluções consorciadas ou compartilhadas com municípios de áreas


1.4.1 microrregionais para a gestão dos resíduos; identificação de proximidades para destinação 3
final; existência de plano de regionalização para gestão de resíduos.

1.5 Diagnóstico: planos de gerenciamento específicos de resíduos sólidos 7

Caracterização pequeno e grande gerador; identificação dos geradores de resíduos sólidos


1.5.1 3
sujeitos a elaboração do PGRS;

1.5.2 Identificação da geração de resíduos específicos que estão sujeitos a elaboração do PGRS; 1

Identificação da obrigatoriedade dos fabricantes, importadores, distribuidores e


1.5.3 1
comerciantes de produtos com logística reversa obrigatória sujeitos a elaboração do PGRS;

Qual órgão aprovará e fará a fiscalização do plano de gerenciamento de resíduos e do


1.5.4 2
sistema de logística reversa;

1.6 Diagnóstico: identificação dos passivos ambientais 6

Existência de lixões/aterros controlados, áreas de bota fora de RCC em operação ou não;


1.6.1 6
áreas contaminadas (áreas órfãs ou não com mapas de localização) e medidas saneadoras;

Item de Subitens
Aspectos analisados
análise analisados

2 Metas, programas e ações 58

Procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem adotados nos serviços


2.1 públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, incluída a disposição final 13
ambientalmente adequada dos rejeitos;

Melhorias operacionais para o gerenciamento dos resíduos com destinações inadequadas,


2.1.1 definindo-se: objetivo da intervenção, programas, ações e metas a curto, médio e longo 7
prazo para cada mudança desejada, além de indicadores para acompanhamento.

Procedimentos operacionais para o gerenciamento dos resíduos domiciliares e serviços de


2.1.2 limpeza urbana: acondicionamento, transporte, armazenamento temporário, 6
reuso/reciclagem e disposição final; padrões de qualidade da prestação de serviços;

2.2 Regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos de que trata o art. 20; 15

Regras para acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final para no


2.2.1 mínimo: resíduos da construção civil, resíduos de serviço de saúde; e resíduos perigosos ( e 15
outros resíduos significativos do município);

Definição das responsabilidades quanto à sua implementação e operacionalização, incluídas


2.3 as etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos a que se refere o art. 20 a cargo do 7
poder público;

Identificação das responsabilidades compartilhada no manejo dos resíduos: poder público,


2.3.1 7
gerador privado/público/domiciliar, fabricantes/importadores, distribuidores, comerciantes;

111
Programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a
2.4 4
reutilização e a reciclagem de resíduos;

Programas educação ambiental visando a não geração, redução e reutilização de resíduos


2.4.1 em ambiente formal e não-formal; como será a comunicação ambiental desses programas; 4
iniciativas para a A3P Agenda ambiental na administração pública;

Programas e ações para a participação de cooperativas ou associações de catadores de


2.5 5
materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda;

Contratação de cooperativas/associação de catadores, cadastramento de catadores;


2.5.1 existência de programas de inclusão social, capacitação ou assessoria técnica; cursos para 5
valorização de resíduos (reutilização de óleo comestível, por exemplo);

2.6 Sistema de cálculo e custos 3

Investimentos a curto, médio e longo prazo, para os objetivos (infraestrutura física,


2.6.1 3
equipamentos, capacidade administrativa) de acordo com PPA.

2.7 Metas de coleta seletiva e reciclagem 8

2.7.1 Metas, programas, ações e prazo para melhorar a coleta seletiva e reciclagem de orgânicos; 8

Descrição das formas e dos limites da participação do poder público local na coleta seletiva
2.8 e na logística reversa, e outras ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo 3
de vida dos produtos;

Mecanismos para a integração dos acordos setoriais nacionais para a logística reversa;
2.8.1 mecanismos para incentivo a coleta seletiva; mecanismos para a integração da coleta 3
seletiva com setor público e privado;

Item de Subitens
Aspectos analisados
análise analisados

3 Revisão 5

XIX - Periodicidade de sua revisão, observado prioritariamente o período de vigência do


3.3 5
plano plurianual municipal.

Comprovação de mobilização social para elaboração do plano; comprovação de realização


3.3.1 2
de audiência pública para aprovação

3.3.2 Menção do horizonte de atuação; menção da periodicidade de revisão; plano em vigência; 3

112
CAPÍTULO 4
LAÍS FERNANDES DE MORAES
VIVIANI ANDRADE MACHADO
CRISTIANO POLETO

DESENVOLVIMENTO DE UMA PLATAFORMA ONLINE


PARA DISPONIBILIZAÇÃO DE DADOS DE
QUALIDADE DE ÁGUA

113
O presente capítulo tem o objetivo de apresentar uma plataforma online de disponibilização de
resultados de parâmetros de qualidade água de uma bacia hidrográfica do estado do Rio Grande do
Sul, sendo parte de uma pesquisa de mestrado profissional em Gestão e Regulação de Recursos
Hídricos (ProfÁgua – ANA), pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas – UFRGS. A pesquisa foi
desenvolvida em parceria com o curso de Sistemas para Internet do Instituto Federal de Educação
Tecnológica do Rio Grande do Sul e teve como área de estudo a Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos.

A Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos está localizada na região nordeste do Rio Grande do Sul e
abrange 32 municípios. A situação relativa ao conflito de uso da água, em termos de quantidade e
qualidade, na bacia hidrográfica é preocupante. A garantia de uso para o abastecimento de mais de 1,3
milhões de habitantes e para a irrigação de lavouras, em contraponto aos usos que impactam a
qualidade de suas águas — como os despejos de esgotos sanitários, a diluição de efluentes industriais
e agropecuários, e a drenagem urbana — afetam todo o componente ambiental da bacia do Rio dos
Sinos, contribuindo para tornar o manancial um dos mais poluídos do Brasil (FIGUEIREDO, 2010).
As causas da perda de qualidade dos recursos hídricos são o lançamento de efluentes e de esgotos
sanitários sem o devido tratamento, o inadequado descarte de resíduos sólidos, bem como a poluição
de fontes pontuais ou difusas (LIMA et al., 2016), que comprometem ainda mais a capacidade de
depuração dos corpos d’água (rios, lagos e mares). A contaminação hídrica é um dos principais
problemas ambientais enfrentados pela população, estando diretamente ligada à perda das condições
de saúde dos indivíduos, especialmente os dos grupos mais vulneráveis (PAIVA e SOUZA, 2018).
Dessa maneira, a perda da qualidade de água tem grande impacto na saúde pública, razão pela qual a
manutenção dos padrões de qualidade ambiental é essencial para o equilíbrio e o funcionamento
adequado dos ecossistemas.

Portanto, é fundamental que os componentes ambientais e suas concepções sistêmicas devam ser
compreendidos de forma integrada para a gestão de bacias hidrográficas (CARVALHO, 2014).
Conforme Porto (2002), uma das principais vantagens em utilizar metas de qualidade da água como
instrumento de gestão está em colocar o foco da gestão da qualidade da água sobre os problemas
específicos a serem resolvidos na bacia, tanto no que se refere aos impactos causados pela poluição,

114
quanto aos usos que possam vir a ser planejados. Assim, estabelece-se uma visão de conjunto dos
problemas da bacia e não uma visão isolada que leve a soluções apenas locais (ANA, 2005).

Com esse entendimento, Tundisi et al. (2008) ressaltam que o conhecimento da qualidade das águas
dos rios, do uso e da ocupação de suas bacias hidrográficas se faz necessário inclusive para traçar
estratégias de planejamento e gestão, projetando cenários futuros como o aumento da demanda de
água e as mudanças na paisagem decorrentes do desenvolvimento da região. Além disso, a
gestão integrada de recursos hídricos deve ter por base uma abordagem participativa, envolvendo
usuários, planejadores e formuladores de políticas em todos os níveis (SILVA et al., 2017).

O planejamento da gestão de uma bacia hidrográfica deve propor uma visão que inclua as políticas
públicas, as soluções tecnológicas e de educação ambiental a fim de promover o enfrentamento das
problemáticas ambientais, a otimização de recursos e a garantia dos usos múltiplos da água. No
entanto, as leis brasileiras reconhecem a qualidade da água tendo em vista apenas o seu grau de
potabilidade e balneabilidade, não considerando a integridade ecológica dos ecossistemas aquáticos
que constituem as bacias hidrográficas (CALLISTO et al., 2012).
A avaliação da qualidade da água da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos foi realizada pela
Fundação Estadual de Proteção Ambiental – FEPAM por longo período. As séries de dados
disponibilizadas pela entidade apresentam representatividade temporal e distribuição espacial, desde
a nascente até a foz e os pontos de monitoramento foram escolhidos segundo padrões de usos e
ocupação do solo. No ano de 2005, a frequência de amostragem passou a ser bimestral, e as coletas
prosseguiram até outubro de 2011, quando foram interrompidas (FEPAM, 2017). A partir disso, a série
de dados do monitoramento do Índice de Qualidade de Água (IQA) restou prejudicada.

Contudo, para que não houvesse ausência total de dados, ficou a cargo dos empreendimentos
licenciados na bacia hidrográfica e que possuíam lançamento de efluentes no Rio dos Sinos a
realização do monitoramento à montante e à jusante dos pontos de lançamento dos seus efluentes,
conforme planos de monitoramento exigidos e aprovados pelas Secretarias Municipais de Meio
Ambiente, as quais tinham convênio de delegação de competência assinado com a FEPAM.

De acordo com Nascimento et al. (2015), em estudo que monitorou compostos orgânicos, metais e
coliformes em cinco pontos de captação de água bruta ao longo do Rio dos Sinos, foi demonstrado
que o principal contribuinte de poluição ambiental na bacia são os despejos de esgoto sanitário in
natura no corpo hídrico. Segundo os autores, essa degradação da qualidade torna o Rio dos Sinos, em
determinados pontos como nos municípios de Campo Bom e Esteio, impróprio para o uso de captação
e abastecimento humano, pois as amostras analisadas foram enquadradas como Classe 4, segundo a
Resolução CONAMA nº 357, de 2005 (BRASIL, 2005). Ainda conforme os autores, a qualidade de
água no Rio dos Sinos e a busca por soluções que venham a reduzir os impactos na bacia têm sido
discutidas tanto nas plenárias do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos –
Comitesinos, como no Consórcio Pró-Sinos, entretanto, apenas a geração de resultados das análises
físico-químico e biológicas não é suficiente para a tomada de decisão, sendo necessária também a
definição das vazões de referência para a bacia.

115
O Comitê de Gerenciamento das Águas do Rio dos Sinos foi criado pelo Decreto Estadual nº 32.774
de 1988, sendo o primeiro comitê de bacia do Brasil e de expressiva mobilização social e ambiental.
Segundo o Plano de Bacia Sinos (COMITESINOS, 2014), estão previstas ações de longo prazo, dentro
do programa de monitoramento quali-quantitativo, como o aperfeiçoamento sobre as condições das
águas superficiais da Bacia, por meio da ampliação da rede de monitoramento fluviométrico e de
qualidade, bem como do acompanhamento das metas de enquadramento. Entre as recomendações do
plano de bacia aprovado em 2014 pelo Comitesinos, encontra-se ainda a necessidade de formalização
de intercâmbio de informações entre os órgãos gestores da bacia e as operadoras do sistema de
abastecimento público presentes na bacia hidrográfica.

Diante do exposto, considerando a heterogeneidade de conhecimento acerca do monitoramento da


qualidade de água na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos e em consonância com o estabelecido no
plano de bacia, julgou-se necessário o estabelecimento de uma rede integrada de monitoramento entre
os entes atuantes nesta bacia. Deste modo, a partir de dados de monitoramento sistemático,
implementou-se uma plataforma para disponibilizar informações ambientais online aos usuários da
Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos.

1 BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO E GESTÃO

Uma ferramenta importante na concepção da bacia como unidade de planejamento e gerenciamento


de recursos hídricos é a Lei Federal n° 9.433, de 08 de janeiro de 1997, que estabeleceu a Política
Nacional de Recursos Hídricos – PNRH. Os fundamentos propostos na lei indicam a base para a
elaboração do sistema de gestão, quais sejam: (I) a água é um bem de domínio público; (II) a água é
um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; (III) em situações de escassez, o uso
prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; (IV) a gestão dos
recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; (V) a bacia hidrográfica é a
unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; (VI) a gestão dos recursos hídricos deve
ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades
(BRASIL, 1997).
A referida lei ainda define instrumentos desejáveis e necessários para a adequada gestão dos
recursos hídricos, os mesmos são apresentados a seguir: “(I) Planos de Recursos Hídricos; (II) o
enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; (III) a
outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; (IV) a cobrança pelo uso de recursos hídricos; (VI) -
o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos” (BRASIL, 1997).

Segundo Libânio (2016), instrumentos de comando e controle têm sido preferencialmente adotados
na tentativa de evitar a degradação ambiental, porém com poucos resultados positivos alcançados até

116
o momento. De fato, ações coercitivas e punitivas têm sido pouco eficazes para solucionar problemas
complexos como o da poluição hídrica difusa, haja vista as dificuldades para localização das fontes
de poluição e estabelecimento de relações de causa e efeito que levem à identificação objetiva de
responsabilidades (LIBÂNIO, 2016). Ademais, mesmo quando possíveis, ações dessa natureza não
são eficazes para evitar ou reverter danos ambientais. Ainda assim, com o arcabouço legal estabelecido
pela PNRH, é necessária uma abordagem mais ampla, baseada, principalmente, em ações de
planejamento (enquadramento, planos de bacia) e instrumentos econômicos.

Os Planos de Recursos Hídricos, estabelecidos pelo inciso I do artigo 5, têm caráter de longo prazo,
visando abarcar uma gama de programas e projetos, devendo ser elaborados para as bacias
hidrográficas, para os estados e para o país. Necessariamente devem apresentar um balanço entre a
demanda e disponibilidade futura dos recursos e sua qualidade, além de antever possíveis conflitos de
uso (SPÍNOLA et al, 2016). Devem estabelecer metas de racionalização, de melhoria na qualidade e
de aumento da quantidade dos recursos, apresentando as medidas, programas e projetos a serem
implantados para consecução dessas metas, além de apresentar as diretrizes para priorização das
outorgas e cobrança do uso, e também propostas para criação de áreas reservadas para a proteção dos
recursos hídricos (BRASIL, 1997).

Nesse caso, a bacia como unidade de planejamento e gerenciamento propõe uma visão abrangente,
incluindo em seu programa as políticas públicas, tecnológicas e de educação, a fim de promover a
solução de problemas, a otimização de recursos e a garantia dos usos múltiplos da água, de maneira a
garantir a participação de usuários, autoridades, técnicos, poder público e organizações interessadas
pelo tema (NASCIMENTO, 2008). Com o mesmo entendimento, Carvalho (2014) considera que a
água deve ser gerida considerando suas estreitas inter-relações com os outros componentes do meio
(solos, vegetação, relevo) e da ação antrópica, que altera as condições de funcionamento dos sistemas
naturais, produzindo mudanças que podem afetar diretamente a qualidade e quantidade de água
disponível.

Tais apontamentos corroboram o fato de que a gestão dos recursos hídricos deve contemplar um
conjunto de ações e medidas destinadas a regularizar o uso, o manejo e a proteção dos corpos d’água.
Nesse sentido, é válido ressaltar que, para uma gestão eficiente dos recursos hídricos, é necessária a
integração de projetos e atividades que visem avaliar e promover a recuperação e a preservação da
qualidade e quantidade dos recursos hídricos (AMÉRICO-PINHEIRO et al., 2016).

Entretanto, apesar de o Estado do Rio Grande do Sul estar presente na vanguarda da formatação do
arcabouço jurídico ambiental, na implantação dos comitês de bacia hidrográfica e na criação dos
órgãos representantes do poder público nas instâncias ambientais, observa-se ainda a necessidade de
incremento da efetiva consolidação e implantação do Plano Estadual de Recursos Hídricos
(MACEDO, 2010).

117
1.1 Monitoramento da qualidade de água

Os padrões de qualidade da água são estabelecidos pela resolução do CONAMA nº 357, na qual
estão dispostos os enquadramentos e classificações de corpos hídricos e padrões de lançamento de
efluentes. Tais índices permitem a avaliação restrita das variáveis físico-químicas e bacteriológicas,
consistindo na coleta de amostras em campo e posterior análise em laboratório (DIAS et al., 2014).
Apesar de amplamente utilizada, essa metodologia apresenta desvantagens, principalmente quando se
trata da água de ambientes lóticos (ecossistemas fluviais, como rios, riachos ou arroios e nascentes),
em virtude da dinâmica desses ambientes.

De acordo com Mathiessen et al. (2014), a verificação da qualidade da água requer


monitoramentos de rotina para que possa ser detectado seu padrão de variação espacial e suas
alterações ao longo do tempo. Assim, esse processo de levantamento de dados básicos é a etapa
primeira e fundamental para que se possa “qualificar” as características de um ambiente.

De acordo com Macedo (2010), programas de monitoramento da qualidade da água, ao longo do


tempo e do espaço, geram muitos dados analíticos que precisam ser transformados em um formato
sintético para que descrevam e representem de forma compreensível e significativa o estado atual e as
tendências de variação das características da água. Desse modo, podem ser utilizadas ferramentas
gerenciais na tomada de decisões relativas aos recursos hídricos.
O conjunto de parâmetros básicos, cujas variações temporais e espaciais podem indicar a
ocorrência de poluição de natureza química e orgânica, são: OD, condutividade, pH, temperatura da
água, turbidez, além da medição do nível da água (cota) e precipitação pluviométrica. Esses
parâmetros básicos permitem a detecção de variações bruscas na qualidade da água, que, embora não
forneçam informações precisas da natureza dessa poluição, podem desencadear ações imediatas, como
aumento da frequência de coleta de amostras in loco, decisões sobre mudanças nas rotinas
operacionais em estações de tratamento de água para abastecimento público ou antecipação de ações
fiscalizatórias (MAGINA et al., 2009).

A Figura 1 traz como exemplo o monitoramento em tempo real realizado pela Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB, no Rio Jacareí, localizado na bacia hidrográfica do
Paraíba do Sul. Pode-se verificar no gráfico de resultados, do mês de março de 2006, que as medições
de pH no rio se concentram na faixa valores entre 6,1 - 6,5 e que os menores valores de pH (acidez)
foram detectados somente em períodos noturnos e matutinos. Essas quedas abruptas podem evidenciar
lançamentos clandestinos de efluentes à montante do ponto de coleta de dados (MAGINA et al.,
2009).

Segundo a Agência Nacional de Águas – ANA (2016), o monitoramento da qualidade da água no


Brasil é realizado por uma variedade de órgãos estaduais de meio ambiente e recursos hídricos,
companhias de saneamento e empresas do setor elétrico. Entretanto, os procedimentos de coleta,
frequência de coleta e análise das informações não são padronizados. A rede de monitoramento

118
brasileira distribuída nos estados aplica diferentes metodologias a campo e laboratório, bem
como, apresenta problemas de credibilidade devido a deficiências na qualificação dos aplicadores e
laboratórios de análises, resultando na não confiabilidade de um grande conjunto de
dados e prejudicando a análise comparativa.

Figura 1 – Resultados do monitoramento do Rio Jacareí (março/2006). FONTE: MAGINA et al, (2009)

Entre os programas existentes no país, destaca-se o sistema de monitoramento operado pelo


Instituto Nacional de Ecologia, desenvolvido juntamente com o Instituto Internacional de Ecologia
(IIE) e consiste de estações de monitoramento em tempo real, localizadas nas represas Billings e
Guarapiranga no estado de São Paulo. O monitoramento em tempo real é uma técnica que agrega
tecnologias como medições climatológicas, uso de sensores de alta qualidade para parâmetros
físicos, químicos e biológicos da água, capacidade de armazenamento de dados e transmissão dos
resultados das medições por meio de telefonia celular (GPRS), satélite, rádio ou telemetria
(HANISH, FREIRE-NORDI, 2015).

O sistema possui monitoramento meteorológico e uma sonda multiparâmetros com sensores de


profundidade, pH, temperatura, OD, condutividade, turbidez e sólidos totais dissolvidos. Os dados são
armazenados e transmitidos via GPRS para um servidor de internet e para um servidor de comunicação
central, que têm a função de intermediar o tráfego de dados entre o servidor da internet e a rede de
telefonia celular e disponibilizar as informações às operadoras responsáveis (HANISCH, FREIRE-
NORDI, 2015). Outra experiência também relatada pelos autores é a da Companhia de Saneamento
Básico de São Paulo (SABESP), que, no final dos anos 90, iniciou o monitoramento em tempo real
dos reservatórios da região metropolitana de São Paulo (Figura 2).

119
Figura 2 – Estação de Monitoramento Automática – CETESB, no Reservatório Águas Claras, Sistema Cantareira –
SABESP.Fonte: MORAES (2018)

De acordo com Silva (2018), a CETESB também tem mantido esforços para consolidar o
Monitoramento da Qualidade de Água em Tempo Real (MQATR) na parte paulista da bacia do Rio
Paraíba do Sul. Foram instalados em 2005, em convênio com o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), três estações de monitoramento automático da qualidade da água no Paraíba do Sul.
As estações mediam os parâmetros OD, condutividade, pH, temperatura da água, turbidez, além da
medição do nível da água (cota) e precipitação pluviométrica.

Quanto ao monitoramento de qualidade de água mantido pela CETESB, existe o sistema


INFOÁGUAS (https://servicos.cetesb.sp.gov.br/infoaguas/), no qual podem ser obtidos os relatórios
de monitoramento da qualidade de água das estações operadas pela companhia. As consultas podem
ser realizadas por unidade de bacia hidrográfica do Estado de São Paulo, por município ou por corpo
hídrico. Além disso, podem ser selecionados os parâmetros de interesse e o período de análise. Após
a geração do relatório de qualidade no sistema, os dados podem ser exportados para o Excel.

No Estado do Rio Grande do Sul, a entidade responsável pelo monitoramento da qualidade de água
é a FEPAM, que iniciou a operação mensal em 1990 (FEPAM, 2017). Especialmente na bacia
hidrográfica do Rio dos Sinos foi articulada a Rede Integrada de Monitoramento do Rio dos Sinos
– Comitesinos, que operou de 1990 a junho de 1996. Posteriormente, em janeiro de 2000, teve início
a Rede Integrada do Pró-Guaíba, contando com a participação da Companhia Riograndense de
Saneamento (CORSAN) e do Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre (DMAE).

120
As coletas e análises eram realizadas pelo Departamento de Laboratório da FEPAM e os dados
armazenados e interpretados pelo Departamento de Qualidade da FEPAM. Em 2005, a frequência de
amostragem no Rio dos Sinos passou a ser bimestral. Para avaliação do Índice de Qualidade de Água
(IQA) do Rio dos Sinos, foram realizadas coletas em 10 pontos de amostragem, e analisados os
seguintes parâmetros: OD, DBO, coliformes termotolerantes e metais pesados, durante os anos de
1990 a 2011 (FEPAM, 2017).

Contudo, em resposta às lacunas metodológicas e estruturais das redes de monitoramento estaduais,


foi lançada, em 2013, a Rede Nacional de Monitoramento de Qualidade de Águas (RNQA) no âmbito
do Programa Nacional da Qualidade de Água (PNQA), que buscou, em articulação com as entidades
operadoras das redes estaduais, a padronização de procedimentos de coleta e análise das amostras de
qualidade de água, de forma a tornar os resultados confiáveis e sujeitos à comparação (ANA, 2016).

Durante o ano de 2017, Moraes et al. (2018) realizaram o inventário dos pontos de monitoramento
no Rio dos Sinos, através de dados cadastrados em fontes oficiais e secundárias de informações
referentes às redes de monitoramento hidrometeorológico na região de abrangência da bacia do Rio
dos Sinos. Foram acessados os boletins de dados hidrometeorológicos das estações fluviométricas
junto às páginas eletrônicas dos responsáveis pelos sistemas de monitoramento hidrológico como a
ANA, a CPRM, o CEMADEN, o DRH-SEMA/RS e os dados de qualidade da água do Rio dos Sinos,
obtidos com a FEPAM.

Figura 3 – Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos e enquadramento segundo Plano SINOS. Fonte: MORAES et
al. (2018)

121
O mapa da Figura 3 situa os locais de monitoramento da qualidade de água amostrados pela
FEPAM no Rio dos Sinos e as estações fluviométricas operadas pela CPRM. Os resultados dos
parâmetros de qualidade desses pontos (referentes ao período amostral de 2010 a 2012) serviram de
base para o enquadramento do rio quando do processo de elaboração do Plano de Bacia
(COMITESINOS, 2014).

Puderam ser identificados os 11 pontos de monitoramento do Programa Qualiágua – ANA,


executados pela FEPAM e as 7 estações de captação de água para abastecimento público (CORSAN,
SEMAE e COMUSA) ao longo do Rio dos Sinos. De cada ponto ou estação, foram selecionados e
tabelados os resultados dos seguintes parâmetros básicos: condutividade, DBO, OD, pH, temperatura
da água e turbidez.

Na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos o monitoramento da qualidade de água é realizado pelo
modo convencional (coleta de amostra e envio para laboratório de análise). São observadas algumas
limitações nesse tipo de monitoramento, como a baixa frequência de amostragem e o tempo decorrido
entre as campanhas devido ao custo das análises. Verificou-se que amostras são coletadas no período
diurno, perdendo-se as variações ocorridas no turno da noite. Tais fatores acarretam pouca segurança
na tomada de decisões, principalmente nos trechos considerados críticos em virtude das alterações
oriundas de atividades antrópicas.

Heck et al. (2017), confirmaram que a significativa poluição do Rio dos Sinos tem origem em
pequenos afluentes, corroborando com estudos anteriores (ROBAINA, 2002; STRIEDER, 2006;
DALLA VECCHIA et al., 2015), que mostram que o grande problema da bacia hidrográfica é o esgoto
doméstico e que apesar de ser determinado pela legislação ambiental vigente, o monitoramento das
águas superficiais não é prioridade, sendo muitas vezes realizado apenas de forma esporádica.

A utilização de uma ferramenta de acesso aos dados de monitoramento tem como principal função
facilitar o acesso e o acompanhamento dos resultados de qualidade da água do Rio dos Sinos, os quais
são produzidos pelos diferentes entes e usuários da bacia hidrográfica (MORAES et al., 2018).

2 SISTEMAS DE BANCO DE DADOS E DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

Considerando que a bacia hidrográfica é a unidade preferencial para a atuação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Informações sobre Recursos Hídricos – SINGREH, os sistemas de informação
devem envolver uma quantidade significativa de dados e informações relacionados a aspectos
hidrológicos, geológicos, ambientais, sociais e políticos inerentes àquele espaço delimitado — a
bacia —, que influenciam e são influenciados mutuamente. Assim, a utilização de informações
georreferenciadas é indispensável e para tanto, são utilizados os Sistemas de Informações Geográficas
– SIGs (ANA, 2016a). Os SIGs são ferramentas que permitem atrelar vários tipos de informação à sua

122
distribuição espacial (geográfica) com o objetivo de auxiliar na análise e compreensão de diversos
fenômenos, que podem ser ambientais, socioeconômicos, hidrológicos, entre muitos outros.

O monitoramento da qualidade da água deve ser visto como um processo essencial à implantação
dos instrumentos de gestão das águas, já que permite a obtenção de informações estratégicas,
acompanhamento das medidas efetivas, atualização dos bancos de dados e das decisões. Um banco de
dados, segundo Elmasri e Navathe (2010), é uma coleção lógica e coerente de dados com algum
significado inerente, projetado para atender uma proposta específica a determinado grupo de usuários.
Para organização dos dados, utiliza-se um sistema gerenciador de banco de dados (SGBD), que é um
conjunto de programas (softwares), os quais facilitam os processos de definição (tipos de dados),
construção (armazenamento em mídia), manipulação (funções de pesquisa e atualização) e
compartilhamento de bancos de dados entre vários usuários e aplicações, assim como a manutenção
dessas informações por longo período (ELMASRI; NAVATHE, 2010). Um banco de dados relacional
é um modelo formal de armazenamento de dados, baseado na teoria matemática das relações.
Armazena dados em tabelas, que são organizadas em colunas, e cada coluna se refere, ou seja, se
relaciona, a um tipo de dados ou atributos, como valores, números reais, datas, etc. (YANAGA,
2012).

A exemplo do uso de sistemas de informações geográficas na gestão de recursos hídricos, cita-se o


Portal de Metadados Geoespaciais da ANA, que integra a estrutura do SNIRH e foi criado para
organizar informações detalhadas alusivas a dados geoespaciais produzidos e utilizados pela Agência,
visando ao registro padronizado e permanente, e à disseminação e acessibilidade destes dados por
meio da internet (ANA, 2016a). O portal foi construído a partir da customização do aplicativo de
código livre “Geonetwork”, seguindo as recomendações do Perfil de Metadados Geoespaciais do
Brasil, homologado pela Comissão Nacional de Cartografia e parte integrante da Infraestrutura
Nacional de Dados Espaciais (INDE). No portal, é possível encontrar amplas informações sobre dados
georreferenciados, tais como localização, coordenadas, escala, finalidade etc. O portal também
permite acesso a dados em formato vetorial e matricial. Exclusivamente para os dados produzidos
pela Agência Nacional de Águas, é possível baixá-los diretamente pelo portal. Para os demais, há o
direcionamento para a página na internet de origem da informação.

Atualmente, o portal dispõe de metadados cadastrados para aproximadamente 170 dados


produzidos ou utilizados pelos sistemas da ANA, organizados segundo as categorias temáticas do
SNIRH, como balanço hídrico, quantidade, qualidade e usos da água. Entre esses, 70 compõem o
módulo de Inteligência Geográfica (IG) do SNIRH.

Já o Sistema para Análise de Dados Hidrológicos (SiADH) é um aplicativo desenvolvido pela ANA
que tem como objetivos principais facilitar e padronizar as análises de consistência de dados
fluviométricos. A principal funcionalidade do sistema é a exportação automática de vários gráficos e
tabelas em formato de imagens, facilitando as análises de vazões e cotas e permitindo ao usuário a
identificação de inconsistências e possíveis incoerências nos dados hidrológicos armazenados em
banco de dados (LOPES et al., 2013).

123
Dessa forma, o SINGREH, conforme previsto na PNQA, deve ter como insumos: dados
hidrológicos, hidrogeológicos e de qualidade da água, devidamente validados, sistematizados e
interpretados; informações e cadastros de usos, usuários de recursos hídricos e dados sobre as
outorgas concedidas; informações sobre os meios físico, biótico e socioeconômico (geomorfologia,
geologia, atividades de produção e consumo, uso e ocupação do solo, biomas e dados ambientais,
infraestrutura instalada, fontes de poluição pontuais e difusas, dentre outras) das bacias
hidrográficas; leis e normas referentes à política de recursos hídricos, para que haja uma boa gestão
dos recursos hídricos (ANA, 2016a).

Apesar do elevado nível técnico das instituições responsáveis pelo monitoramento


hidrometeorológico, algumas lacunas podem ser observadas, pois a rede monitora padrões de
qualidade em frequência trimestral. De acordo com Vespucci (2016), cabe aos operadores de estações
fluviométricas atualizarem sistematicamente o banco de dados com os registros realizados in loco.

Para a população em geral, esses dados ficam disponíveis no portal Hidroweb de responsabilidade
da ANA, que possibilita ao usuário visualizar e fazer o download das estações de interesse. Entretanto,
quanto às informações de qualidade, as mesmas são apresentadas como um lapso temporal de três
meses, ou seja, em muitos casos se apresenta defasada da condição atual, perdendo assim, importantes
informações que retratam as características do rio monitorado (VESPUCCI, 2016). Assim sendo,
confirma-se a necessidade da maior frequência de disponibilização dos resultados de qualidade de
água na bacia do Sinos.

Através do uso de softwares gratuitos de sistemas de informação geográfica (SIG) é possível


construir mapas temáticos e interativos (LANGE et al., 2016), organizando dados e informações
territoriais como: captação de água, lançamentos de efluentes, pontos de monitoramento ambiental e
outros usos. Nesse contexto, as geotecnologias desempenham um papel essencial para as pesquisas
que pretendem compreender e demonstrar a dinâmica espacial e temporal em projetos ambientais. De
acordo com estudo realizado por Lange et al. (2016), na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná, onde
foram utilizados softwares gratuitos de geoprocessamento e SIG, a análise integrada permitiu a ação
na gestão territorial da bacia.

3 BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS SINOS

O Rio dos Sinos é um importante recurso hídrico, fonte de abastecimento de água para cerca de
1.350.000 habitantes, o que representa uma densidade populacional de cerca de 360 pessoas
por quilômetro quadrado. As áreas urbanas mais densamente povoadas, de acordo com estimativa
populacional para o ano de 2017 (IBGE, 2018), incluem as cidades de Novo Hamburgo, com 249.508
habitantes; Canoas, com 343.853 habitantes, e São Leopoldo, com 230.914 habitantes, que estão
localizadas na porção baixa da bacia. A região possui uma produção industrial bastante diversificada:

124
calçados e couro, metais-mecânicos, alimentos, petroquímica, madeira e mobiliário, turismo e
hospitalidade (BLUME et al., 2010). A porção localizada na parte mais baixa da bacia está sob forte
pressão antropogênica, pois concentra a maior densidade populacional, um importante polo industrial
e PIB médio de R$ 38 mil reais per capta (IBGE, 2018).

Nesse contexto, é evidente a complexidade das demandas e disponibilidades hídricas à jusante no


Rio dos Sinos, com as áreas mais conservadas localizadas à montante da bacia. Já no seu trecho médio-
baixo, o Rio dos Sinos recebe em diversos pontos efluentes industriais e domésticos, sem tratamento,
nos cursos de água (SEMA, 2017). Constata-se desde a década de 90, que o trecho do Baixo Sinos é
a região mais crítica quanto à contaminação por fontes antropogênicas (HATGE et al., 1998).

Quanto ao esgotamento sanitário na bacia do Rio dos Sinos, a situação é similar à verificada no
restante do Estado do Rio Grande do Sul, ou seja, com baixo índice de tratamento dos esgotos
domésticos. Da população urbana total da bacia, apenas 4,5% dispõe de sistema coletivo para a coleta
e tratamento de esgotos. A intensidade do impacto do lançamento de efluentes direto nos corpos
hídricos é proporcional à população urbana; portanto, as maiores alterações de qualidade nos cursos
d’água são observadas à jusante das maiores áreas urbanas da bacia (PROFILL, 2013).

A qualidade da água do Rio dos Sinos é influenciada por poluentes químicos e físicos,
estando diretamente associada às descargas de efluentes de atividades industriais na bacia
hidrográfica. Os acidentes ambientais com produtos químicos, que contaminam os arroios e afluentes
do rio, são comuns e frequentemente afetam o abastecimento público de água nas cidades. Além disso,
a poluição agrícola e o despejo de esgotos domésticos tratados ou não tratados também
contribuem para o aumento das concentrações de DBO, fósforo, nitrogênio e de
inúmeros microrganismos patogênicos (NASCIMENTO et al., 2015; DALLA VECHIA et al., 2015;
KONZEN et al., 2015; RODRIGUES et al., 2015). Portanto, o monitoramento do manancial hídrico é
essencial para controlar a água fornecida à população e a prevenção da poluição acaba se tornando um
desafio para os especialistas em saneamento quando os dados de qualidade de água são escassos
(CARMO et al., 2008).

O Rio dos Sinos é um exemplo de como a falta de gestão dos usos pode levar a sérios danos ao
meio ambiente, uma vez que, a cada estiagem, o problema da baixa qualidade da água tem
possibilitado a ocorrência de sérios problemas, como a grande mortandade de peixes que ocorreu em
2006 (SILVA, 2012). Além disso, um monitoramento eficaz poderia contribuir para a antecipação de
medidas mitigadoras e fiscalizatórias.

4 PLATAFORMA DE ACOMPANHAMENTO

Buscando melhorar o gerenciamento dos dados de monitoramento da qualidade de água do Rio dos
Sinos e possibilitar o melhor direcionamento das ações de fiscalização dos órgãos gestores, foi

125
desenvolvida uma plataforma de divulgação de resultados de parâmetros básicos medidos no Rio dos
Sinos, denominada QualiSinos. Esse sistema tem como principal funcionalidade representar os dados
básicos de qualidade da água dos pontos de amostragem e das estações de captação de água para
abastecimento público ao longo do Rio dos Sinos, de modo a facilitar a visualização e o entendimento
do comportamento da qualidade de água ao público em geral.

Figura 4 – Tela inicial do site Qualisinos. Fonte: http://qualisinos.com.br

A base de dados disponibilizada pela plataforma QualiSinos é composta pelos dados do


Programa Qualiágua - ANA de monitoramento da qualidade da água nas bacias hidrográficas do
Estado do Rio Grande do Sul, especificamente no Rio dos Sinos, os quais foram
obtidos junto à FEPAM/RS. Os dados do monitoramento sistemático são disponibilizados pela
FEPAM em planilhas eletrônicas para o Comitesinos. Os dados oriundos das estações de captação de
água bruta do Rio dos Sinos são disponibilizados pelos serviços de abastecimento de água. A tela
inicial da plataforma mostra principalmente o recorte da bacia hidrográfica (Google Earth) e a
localização dos pontos de monitoramento (Figura 4). Com um simples clique nos ícones do mapa
visualiza-se a tabela dos resultados mais recentes para cada ponto.

126
A Figura 5 localiza a estação de adução de água bruta para abastecimento do município de São
Leopoldo, operada por uma autarquia municipal. Desse ponto são captados mais de 26 milhões de
metros cúbicos de água por ano do Rio dos Sinos. Neste trecho há o monitoramento trimestral da
qualidade de água, sob responsabilidade da FEPAM. Os resultados das coletas realizadas estão
expressos na Tabela 1.

Figura 5 – Estação de captação de água do SEMAE em São Leopoldo/RS. Fonte: Google Maps

Tabela 1 – Resultados do monitoramento do Programa Qualiágua, estação nº 87381800, em São


Leopoldo-RS

DBO OD T
EST_CÓD_ Data da Condutividade Água Turbidez
(mg (mg pH
ANA coleta (
s/cm) (NTU)
O2/L) O2/L) (ºC)
87381800 12/07/2016 74,2 8 6,57 6,63 14,68 129,00
87381800 17/10/2016 82,4 9 5,37 6,77 21,16 81,00
87381800 10/01/2017 49,1 2 4,24 6,43 25,06 245,00
87381800 17/04/2017 74,1 3 4,49 6,73 21,75 8,80
87381800 17/07/2017 93,6 8 4,76 7,14 16,09 14,30
87381800 18/10/2017 53,1 2 5,09 6,40 21,30 -
87381800 08/01/2018 91,0 2 4,25 6,52 26,93 17,35
87381800 12/04/2018 90,8 5 5,00 6,83 24,40 20,34
Média 76,0 4,9 5,0 6,7 21,4 73,7

127
Conforme Tabela 1, observa-se que os valores de DBO atendem os limites para Águas Doces,
Classe 3, menor ou igual a 10 mg/L de O2, segundo a Resolução CONAMA 357/2005. Os resultados
de OD também atendem os limites para Classe 3 (OD maior ou igual a 4mg/L de O2). A média
encontrada para o período de OD é igual a 5mg O2/L, valor limite para manutenção da vida aquática.
A média dos valores de turbidez (73,7 NTU) para o ponto 87381800 foi influenciada pela medição de
janeiro de 2017 (245 NTU), influenciada pelos eventos de escorregamento de massa ocorridos nas
cabeceiras dos principais afluentes do Rio dos Sinos (PAIXÃO et al., 2017).

As estações de tratamento de água para abastecimento público são responsáveis pelas análises
sistemáticas da água captada no Rio dos Sinos e da água tratada para verificação de atendimento dos
padrões de potabilidade, regrados pela Portaria de Consolidação nº 05/2017 do Ministério da Saúde.
Ou seja, a frequência de medição dos parâmetros de qualidade de água no Rio dos Sinos é maior que
a realizada pela FEPAM. Não obstante, nenhuma das entidades disponibiliza os resultados do
monitoramento realizado em suas páginas eletrônicas. Dessa maneira, a plataforma QualiSinos
propõe-se a preencher esta lacuna ao ampliar a divulgação dos resultados de parâmetros básicos de
qualidade de água como pH, condutividade, OD, temperatura e turbidez.

O sistema possui um tipo especial de usuário, chamado de colaborador do sistema, que possui
acesso às funções de cadastro de parâmetro, cadastro de análises e visualização de gráficos. O usuário
administrador é capaz de fazer a importação e exportação de dados. Antes da criação do sistema os
dados eram armazenados em diferentes bases de dados e em planilhas diversas e apenas os resultados
trimestrais, aferidos pela FEPAM, estavam georreferenciados logo, não era possível utilizar dados
atualizados em um SIG.

A administração do banco de dados é a parte principal do sistema e essencial para atualização das
informações, pois além cadastrar os dados das análises no sistema, o administrador do sistema é capaz
de exportar os dados para serem utilizados em outro SIG. As estações de amostragem podem ser
cadastradas e editadas pelo usuário administrador. O sistema de coordenadas utilizado para referenciar
as estações e os pontos de monitoramento é o WGS84, utilizado nos aparelhos de GPS. Na Figura 6,
apresenta-se o painel de cadastro de estação utilizado pelo administrador.

128
Figura 6 – Tela de cadastro de estação - ponto de monitoramento QualiSinos. Fonte: http://qualisinos.com.br

Na aba de cadastro de análises das estações de captação e pontos de monitoramento (Figura 7) os


usuários administradores e os usuários colaboradores do sistema têm permissão para realizar o
cadastro dos resultados das análises de condutividade, turbidez, temperatura da água, pH, oxigênio
dissolvido e nível do rio.

Figura 7– Tela de cadastro de análise QualiSinos. Fonte: http://qualisinos.com.br

129
A Figura 7 apresenta a tela de cadastro dos seis parâmetros básico. Após a inclusão dos dados pelos
operadores das estações ou pontos de monitoramento, o sistema realiza a geração de gráficos,
conforme ilustrado na Figura 8.

Figura 8 – Gráficos de resultados de análises cadastradas no site QualiSinos. Fonte: http://qualisinos.com.br

A Figura 8 exemplifica o gráfico dos resultados de pH do Rio dos Sinos, gerado a partir do cadastro
de resultados na plataforma QualiSinos pelos usuários colaboradores (estação de captação de água
bruta SL) e a variação de medições desde o mês de dezembro de 2018, quando a plataforma entrou
em funcionamento.

A página inicial do sistema contém, ainda, textos explicativos sobre os aspectos gerais da bacia
hidrográfica do Rio dos Sinos, conteúdo sobre qualidade de água e breve definição que caracteriza os
parâmetros básicos de monitoramento apresentados no mapa da bacia para o público leigo e
interessados em geral.

O sistema de acompanhamento foi construído também para receber dados instantâneos de sensores
de baixo custo que futuramente serão instalados em pontos estratégicos no Rio dos Sinos. Estes
sensores captarão os dados básicos e enviarão os resultados para sistemas web ou Android. Trabalhos
recentes, como o projeto WAITS (PERES et al., 2013), que integram microeletrônica, eletrônica
digital e comunicações sem fio foram desenvolvidos com uso de dispositivos conhecidos como
sensores multifuncionais. Suas características incluem baixo custo, baixo consumo de energia,
tamanho reduzido e nenhuma restrição de capacidade de comunicação em pequenas distâncias,
utilizam-se do conceito da Internet das Coisas ou IoT (do inglês Internet of Things), que tem como
base o funcionamento de módulos e dispositivos que tornam a comunicação entre as “coisas”
possível (PERES et al, 2013).

130
Assim, a plataforma QualiSinos, sendo pioneira no estado do Rio Grande do Sul, insere-se como
ferramenta aplicada aos instrumentos de gestão de recursos hídricos quando propõe o estabelecimento
de diálogo e a troca de informações entre as instituições e os usuários da água da Bacia Hidrográfica
do Rio dos Sinos.

A gestão dos recursos hídricos deve abordar como premissa básica o binômio qualidade X
quantidade, visto que a bacia hidrográfica é um ecossistema sujeito a modificações, interferências e
conflitos de uso gerados pelas ações antrópicas. Como a quantidade de água não é constante (volume
variável no tempo e espaço), acaba por interferir na dissolução e concentração dos nutrientes e
poluentes, afetando a qualidade de água disponível. A ANA, considerando esta abordagem, tem
buscado fomentar a melhoria do monitoramento hidrológico por meio da coordenação da Rede
Hidrometeorológica Nacional. Ao apoiar os estados da federação, com capacitação técnica e
equipamentos, propiciando a articulação entre os sistemas de informação estaduais e setoriais e
fomentando atividades institucionais, garante como resultado a obtenção de informações com maior
precisão e custos otimizados (FERREIRA, 2018).
Desde o ano de 2016, é possível observar que houve avanços no monitoramento
hidrometeorológico na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, onde estão em operação estações
pluviométricas e fluviométricas, nos municípios de Rolante, Três Coroas, Igrejinha, Novo Hamburgo
e Sapucaia do Sul e nas cidades de São Leopoldo, Campo Bom e Taquara. Em 2017, outras estações
automáticas de monitoramento foram instaladas pelo DRH-SEMA/RS para aumentar a área de
abrangência e a prevenção a eventos hidrológicos extremos na referida bacia. Além disso, houve a
retomada, em 2016, do monitoramento da qualidade realizado pela FEPAM em onze pontos ao longo
do Rio dos Sinos.

Entretanto, considerando a análise dos dados de qualidade de água do monitoramento realizado


pela FEPAM, não constam dados sobre vazão do rio na maioria dos pontos de monitoramento,
inviabilizando assim, o cálculo de carga de poluentes para os trechos monitorados. Outra limitação
observada é a falta de padronização dos dados de qualidade da água bruta captada fornecidos pelos
serviços de saneamento e a divulgação destes resultados ao Comitesinos, em contraponto ao
preconizado no plano de bacia.
A partir da avaliação dos resultados de análise dos pontos monitorados pela FEPAM, conclui-se
que as porções média e baixa da bacia hidrográfica apresentam os piores resultados de parâmetros de
qualidade de água, pois estão localizados em áreas de alta concentração urbana e industrial,
corroborando com diversos estudos realizados na bacia hidrográfica do Sinos (DALLAVECHIA et
al., 2015; KONZEN et al., 2015; NASCIMENTO et al., 2015).

A quantidade de agentes envolvidos na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos e a atuação dos
integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH podem
favorecer uma gestão mais descentralizada, participativa e integrada do setor de recursos hídricos –
integrada no sentido de que todos os agentes envolvidos devem participar do processo de tomada de
decisões (JUNQUEIRA et al., 2011). Os comitês de bacias integram o SINGREH e se consolidam

131
como espaços legitimados de decisões acerca dos usos de água, principalmente em regiões que
apresentam escassez hídrica ou problemas de qualidade de água (FERREIRA, 2018).

A composição dos comitês de bacia formados por representantes do governo federal e estaduais,
da sociedade civil organizada e dos usuários de recursos hídricos legitima a gestão
descentralizada. Contudo, para que de fato a descentralização seja efetiva é necessário que as decisões
tomadas pelos comitês de bacias sejam implementadas e que a inércia e a falta de enfrentamento dos
problemas ambientais pelos agentes executores sejam modificadas, de modo a promover a melhoria
da qualidade dos recursos hídricos (CERQUEIRA et al., 2016). Uma iniciativa como a proposta pela
plataforma QualiSinos promove o chamamento à participação das entidades atuantes na bacia e à
colaboração na gestão das águas do Sinos.

Tendo-se o conhecimento das condições quali-quantitativas do corpo hídrico, mediante o bom


funcionamento das redes de monitoramento hidrológico e ao cadastramento das demandas pelos
sistemas de outorga é que o poder público reúne condições de controle e de gestão da água. Para que
a gestão seja eficiente, os órgãos públicos responsáveis devem estar bem organizados e equipados,
tanto em relação à base de dados quanto em relação às estruturas de fiscalização e de monitoramento
(PORTO, 2008). Assim, pode-se assegurar que as condicionantes estabelecidas durante os
procedimentos de licenciamento ambiental e de outorga estejam sendo respeitados.
A discussão dos conflitos qualidade versus quantidade ainda está na pauta do Comitesinos, porém
a permanência destes conflitos revela até que ponto a formulação e a execução de políticas
públicas continuam frágeis, assim como o público, quanto à participação na discussão de problemas
e processos decisórios. Com relação ao caso específico das políticas ambientais no Vale do Sinos, vale
ressaltar que a fragilidade desse modelo de gestão contribui para a manutenção de riscos
ambientais (NUNES et al., 2015), pois continuamos observando a degradação da qualidade de água
de montante para jusante, apesar de toda legislação existente e da atuação do Comitê de
Gerenciamento da Bacia Hidrográfica e do Consórcio Intermunicipal de Saneamento da Bacia
Hidrográfica do Rio dos Sinos.

Portanto, a implantação de uma plataforma de acompanhamento dos dados de qualidade de água e


a integração do monitoramento existente na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, ou seja, entre as
instituições FEPAM, Comitê de Bacia e os serviços públicos de saneamento e a disponibilização de
resultados básicos por meio de ferramentas SIG e de sistemas web, podem contribuir para o
gerenciamento e monitoramento ambiental na bacia, assim como para a efetivação das metas e ações
elencadas no Plano de Bacia. As informações apresentadas tornam-se importantes no sentido de
permitirem a participação e o controle social, a antecipação de ações de controle na fiscalização
ambiental e no planejamento das metas estabelecidas para o enquadramento deste estratégico recurso
hídrico.

132
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136
CAPÍTULO 5
ELISSANDRO VOIGT BEIER
MARIA EUGÊNIA MOREIRA COSTA FERREIRA
CRISTIANO POLETO

DISCUSSÕES ARQUEOLÓGICAS EM
ESPAÇOS ANTROPIZADOS: UM ESTUDO
DE CASO

137
1 INTRODUÇÃO

Segundo Ab’Sáber (2003, p.09) a paisagem é herança, seja de processos fisiográficos e biológicos,
e patrimônio coletivo dos povos que historicamente as herdaram como patrimônio de atuação.

Para os que não têm consciência do significado das heranças paisagísticas e ecológicas, os esforços
dos cientistas que pretendem responsabilizar todos e cada um pela boa conservação e pelo uso racional
da paisagem e dos recursos da natureza somente podem ser tomados como motivos de irritação,
quando não de ameaça, em curto prazo, a economicidade das forças de produção econômica
(Ab’Sáber, 2003, p.10).

Adentrando no assunto de alteração da paisagem e o que está presente nela, é que introduzimos a
discussão acerca da alteração do patrimônio arqueológico, no município de Cristal, no estado do Rio
Grande do Sul.

Trata-se de uma problemática recorrente a nível mundial, onde espaços culturais são saqueados e
depredados, onde a legislação ambiental segue caminho contrário à preservação e pode-se observar a
inaplicabilidade da gestão e preservação de recursos de ordem cultural e patrimonial.

Nesse trabalho, abordou-se a problemática observada em escala reduzida, mas que se estende e se
replica em locais próximos e distantes devido a degradação de sítios arqueológicos e espaços culturais
por atividades antrópicas, como agricultura e sua mecanização em bacias hidrográficas de pequena
ordem.

A área de pesquisa inserida na bacia Atlântica, desembocando na Lagoa dos Patos que por sua vez
desaguam no estuário de Rio Grande, conforme Rambo (2015).

O trabalho levantou dados “in loco” e buscou discutir a alteração de dados e estruturas
arqueológicas que estão sendo perturbadas por diversas condições antrópicas atuais, resultando na
perda dos componentes arqueológicos e da sua descaracterização.

Com o desenvolvimento do estudo, pôde inferir que o processo de intervenção pela mecanização
resultou na direta destruição da estratigrafia do registro e, consequentemente, a descaracterização dos
objetos, resultando em ranhuras provocadas pelas forças de contato e fricção (no material lítico),
fraturas e esfacelamento (no material cerâmico).

138
Para elucidar-se a questão, foram consultadas diversas fontes que abordam a alteração em sítios
arqueológicos por diferentes processos, tais como a interação de animais e insetos com as camadas
arqueológicas (faunoturbação); Crioturbação (congelamento e descongelamento das camadas do
solo); Floraturbação (alteração, inversão e mistura das camadas de solo por enraizamento e
tombamento ou extração dos troncos no solo); dentre outras formas de alteração dos perfis do solo,
citamos a maior força alteradora da terra, o homem e sua capacidade de modificação das paisagens
naturais resultando em acelerados processos de transformação em superfície e nas camadas de
subsuperfície.

Em um panorama geral efetuou-se um levantamento bibliográfico que discute as diferentes frentes


de ocupação paleoindígenas pretéritas para o estado do Rio Grande do Sul, e que deixaram marcas e
vestígios nos mesmos espaços ocupados pela exploração agrícola, sendo que atualmente os mesmos
registros estão sendo alterados e destruídos sem um conhecimento holístico dos mesmos.

1.1 Localização do estudo de caso

Cristal é um município localizado ao sul do estado do Rio Grande do Sul, considerado pequeno
segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016), apresentando
uma área de unidade territorial de 681,625 km², com população estimada em 7.792 habitantes,
predominantemente urbana, embora seja importante considerar que a economia do município é
baseada na produção rural.

O município encontra-se no sul do estado do Rio Grande do Sul e está localizado entre as
coordenadas 30.9085 S, 52.1690 W, estando inserido em sua totalidade na bacia Hidrográfica do Rio
Camaquã, especificamente no baixo curso do rio.
A área tem características ambientais de transição, condicionadas pela geologia, geomorfologia e
geografia local, que resultaram em uma diversidade e sobreposição de espécies de dois diferentes
sistemas naturais, a leste a planície lagunar interna, e a oeste a serra do sudeste, configurando-se uma
região que requer a compreensão de suas particularidades.

A região de estudo apresenta aproximadamente 36 km2 de área, dividida em duas parcelas que
apresentam características distintas e sobrepondo-se em quesitos geológicos, geomorfológicos,
pedológicos, biogeográficos e, também, quanto ao uso e ocupação do solo nos dias atuais.

A área de concentração da pesquisa está inserida no quadrante noroeste do município de Cristal-


RS, apresentada na Figura 1. O território tem como limites ao norte, nordeste e leste a margem do rio
Camaquã; ao sul e sudoeste a estrada vicinal do Sapata, que liga a sede do município de Cristal ao
município de Canguçu e, como delimitador no quadrante oeste, tem-se a estrada rural que liga a

139
localidade interiorana de Butiá ao município de Amaral Ferrador, localizado na margem esquerda do
rio Camaquã.

Toda a área de pesquisa encontra-se em um contexto rural, agrícola e de mecanização intensa, com
uma diferenciação da divisão e ocupação do solo condicionado pelo processo de imigração e pelas
condições naturais distintas da região.

A sub-região Noroeste da área de pesquisa corresponde a área mais declivosa, com afloramentos
graníticos e de pequenas propriedades rurais ocupadas pela imigração europeia tardia; e uma segunda
área no quadrante SE, onde situam-se grandes propriedades rurais e de menor grau de declividade,
com a quase nula existência de afloramento rochosos. Esta última foi produto de apropriação de
sesmeiros e descendentes de espanhóis e portugueses nos primeiros movimentos de europeus na região
e que pelas características naturais propiciou a agricultura de larga escala e campos de criação
extensiva.

O uso do solo por meio de práticas agrícolas, tais como a mecanização intensa e outras práticas que
necessitam interferência direta como processos de terraplanagem, remoção e revolvimento do solo em
grande escala e construção de estradas, são alguns dos principais processos causadores de deterioração
e perda do patrimônio arqueológico e cultural na região de estudo, segundo identificado durante o
referencial bibliográfico.

As atividades humanas de maneira geral alteram e interferem na estratigrafia dos sítios ou em


ambientes com a presença de patrimônio cultural (HOFMAN, 1986; KELLY, 1992).

Para a área composta por pequenas propriedades rurais (ATLAS SOCIOECONÔMICO, 2002), que
abrange a região da borda da serra do Sudeste foi identificada grande concentração de sítios
arqueológicos; a segunda região diferenciada pela ocupação do solo, com grandes propriedades rurais,
apresenta menor densidade de sítios arqueológicos identificados.

1.2 Funcionalidade dos espaços com material arqueológico em contexto agrícola

Grande parte dos locais, com sítios e material arqueológico, encontra-se em ambiente agrícola
(minifúndio) com grau de mecanização similar ao observado em áreas com propriedades rurais
extensas (latifúndio), porém com especificidades mecânicas para cada cultura, impactando
expressivamente os sítios arqueológicos.

Segundo Miguez (2012), o uso de diferentes ferramentas para distintos tipos de cultivo ampliam
ainda mais o risco de alteração sobre as peças e sobre as estruturas. Para o cultivo de fumo por exemplo
os agricultores revolvem anualmente o solo ao menos de 2 a 3 vezes. Considerando os instrumentos
utilizados para revolvimento do solo, o arado atinge a profundidade de 25-35 cm de profundidade; o
subsolador utilizado para descompactar a parcela do solo compactada pelo uso continuo atinge a

140
profundidade de aproximadamente 50 cm; enquanto a grade que é utilizada para cortar restos vegetais
e abrir sulcos no solo atinge a profundidade de até 20 cm no solo e tem o peso, aproximado, de 01
tonelada.

Diversos estudos abordam o transporte de materiais líticos, cerâmicos, conchíferos e ósseos pela
ação das chuvas, para tanto, pode-se considerar as contribuições de Balek (2002), que trata da
movimentação vertical das peças em sítios arqueológicos, uma problemática observada nos sítios
arqueológicos de alto grau de declividade.

Figura 1: Representação da área de estudo.

Um fator relevante, e que interfere na remoção e no arraste das peças, é a concentração da


precipitação, que na região apresenta médias anuais que variam entre 1.500 a 1.600 milímetros,
segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (ATLAS EÓLICO, 2002).
Desse montante, a maior parte está concentrada nos meses de outono e inverno, período que
corresponde, respectivamente, a etapa de revolvimento do solo para semeadura e produção de
pastagens para o inverno (aveia, avezem, nabo) e, posteriormente, é feito o revolvimento destas
pastagens como adubação verde para a nova safra de fumo, cujo plantio começa ao final do inverno
(o preparo do solo é anterior a este estágio).

A quantidade de chuva, sua intensidade e variabilidade controlam, por um lado, a geração de


escoamento e, por outro, os processos de erosão, operando em diferentes escalas (TUSET et al., 2016),

141
aliando este processo à atividade agrícola intensa e pesada na desestruturação pedológica, tem-se o
processo de remoção e transporte dos componentes do sítio arqueológico.

A relação de perda potencial em virtude da ocupação agrícola se expressa pelo grau de mecanização
dentro da área de maior densidade de sítios arqueológicos, onde os processos de transporte em virtude
da declividade são contribuintes na dispersão dos artefatos (WILL; CLARK, 1996; JOPLING, 1981).

Segundo (WOOD; JOHNSON,1978), o solo não é um corpo estático, ele é um corpo dinâmico, um
sistema aberto, em que uma variedade de processos pode atuar para mover não somente o solo, mas
objetos (incluindo artefatos), de uma posição para a outra.

Ainda considerando o processo de formação do solo e, sua consequente perturbação por diferentes
processos, WOOD; JOHNSON (1978) discorre sobre a pedoturbação, processo resultante da alteração
e homogeneização do solo, por diferentes mecanismos de interferência.

Os processos de mecanização aliados ao transporte pluvial em sítios arqueológicos são


responsáveis pela dispersão dos artefatos e desconfiguração do sítio e a realocação dos artefatos off
site (REINHARDT, 1993; HOFMAN, 1986; MMS, 2007) comprometendo a interpretação dos sítios
alterados.

A alteração e realocação de artefatos dentro de perímetros de sítios arqueológicos causa reflexos


diretos aos sítios arqueológicos e se refletem na perda de patrimônio cultural (GROSSI, 2007; KELLY,
1992).

Todavia, considerando a necessidade de exploração das áreas pela agricultura, segundo Bolfe et al.
(2009) é necessária uma abordagem diferenciada quanto a agricultura, considerando a região, em
consequência do impacto causado por esta atividade, considerando-se, assim, também, o patrimônio
cultural e a destruição dos sítios arqueológicos.

Deve-se considerar também o tipo de cultivo que pode interferir diretamente no preparo do solo,
sendo que algumas formas de preparo potencializam e aceleram a erosão, segundo Turnbaugh (1978),
um tipo de erosão em sulco, frequentemente aparece em campos de cultivo de culturas realizadas em
“fileiras”.

Esta forma de cultivo, em fileiras, é bastante comum para a área de estudo, com cultivos de tabaco,
milho, feijão, batata e soja, elementos frequentes na paisagem durante diferentes épocas do ano.

Complementando o raciocínio de Turnbaugh (1978), ao longo das fileiras plantadas, tais como
milho e feijão, penetram e se prendem ao solo, o processo de erosão não é efetivamente expressivo,
mas os espaços entre as fileiras foram, frequentemente, rasgados profundamente até o subsolo,
lavando e arrastando rochas e artefatos que compõem o sítio arqueológico, depositando e encobrindo
os mesmos em outro local.

Resumidamente o processo de pedoturbação produzido por interferências culturais aliados a


eventos de precipitação em solo exposto produzem o transporte do material in site para longe dos
limites do mesmo, extrapolando a delimitação correspondente ao sítio arqueológico e depositando os

142
mesmos off site, fora do contexto original, podendo comprometer o material transportado, o local de
origem com a lacuna informativa extraída e o local de deposição com a inserção de informações
descontextualizadas.

Sobre as formas de erosão, Cabral (2006) expõe a interferência causada pelo maquinário pesado
em plantações de cana de açúcar, embora não seja o mesmo tipo de cultivo, o cenário é semelhante
para a área de estudo, principalmente nos cultivos de tabaco, milho e soja, com a utilização destes
equipamentos.

Ainda segundo Cabral (2006), para um estudo correlacionado, o subsolador utilizado nas áreas
agrícolas atinge profundidade de 50-60 cm para preparar o solo (para romper camadas compactadas
profundas), bem como o uso do arado e o arrastão ou grade pesada que atingem entre 30 cm e 40 cm,
aproximadamente, em cada um.

Sem dúvida, este tipo de trabalho produz uma forte alteração nos restos arqueológicos em suas
associações contextuais e na estratificação. Os restos tais como cerâmica e artefatos de pedra, na
passagem do trator produzem fraturas e ranhuras (cicatrizes de arado) enquanto os restos ósseos e
conchíferos, além de fraturarem, são na maioria das vezes triturados (MIGUEZ, 2012).

Dessa forma, para que a região concilie à exploração agrícola com a preservação do patrimônio
desconhecido, propõe-se a reavaliação do processo de reconhecimento da identidade local (MIGUEZ,
2012), fazendo com que embora indiretamente os agricultores sintam-se pertencentes a cultura
adjacente, conhecendo-a e aliando preservação com produção.

Conforme Haase (1983), como alternativa para ambientes de diversidade cultural, propõem-se
ações mitigadoras observadas ao redor do mundo, para diminuir o impacto sobre os sítios. Embora em
contexto agrícola esta situação seja mais complexa, propõem-se o estudo do local como alternativa
para resolver situações conflitantes.

1.3 Literaturas referentes à alteração e degradação de sítios arqueológicos por processos pós
deposicionais

A preocupação em compreender as interferências sobre os paleoespaços, estritamente sítios


arqueológicos, seu sedimento, suas estruturas e seus componentes relacionados com a agricultura
atual, são recorrentes e necessitam ser discutidos ao que se refere a preservação dos mesmos em
ambiente agrícola.

Para dar prosseguimento a discussão, fazem-se necessárias algumas intromições de ordem


conceitual, quanto à questão discutida e desenvolvida a seguir.

143
A problemática da pesquisa circunda a multidisciplinaridade da relação entre processos de
degradação como agricultura e a mecanização em áreas de ocorrência de material arqueológico,
especificamente sítios arqueológicos e ocorrências arqueológicas isoladas.

A concepção de sitio arqueológico é um tema pouco discutido no meio acadêmico e da pesquisa


arqueológica na atualidade, sendo considerada para seu entendimento a linha teórica seguida pelo
pesquisador.

O conceito de sítio arqueológico abordado por diferentes pesquisadores ao redor do mundo e


principalmente ao longo do desenvolvimento da ciência arqueológica sofreu atualização e
transformações (SILVA, 2014), e não é consensual na atualidade.

Observa-se uma definição que atendesse ao objetivo da pesquisa proposta neste trabalho, para tanto
se analisou os princípios teóricos que pudessem contribuir para a adoção de um conceito que atendesse
essas necessidades. Entende-se o sítio arqueológico como uma etapa fundamental que conduz as
investigações sobre o registro arqueológico.
O sítio é um conjunto espacial de características ou itens culturais, ou ambos. As
características formais de um sítio são definidas pelo seu conteúdo formal e a estrutura
espacial e associativa das populações de itens e características culturais presentes (BINFORD,
1964 p.431).

Sítio arqueológico é considerado a unidade mínima operacional do espaço geográfico e ocupa um


papel central na teoria e prática arqueológica estruturando boa parte de qualquer discussão sobre o
registro arqueológico (SILVA, 2014).

O sítio arqueológico é o local que serviu de ocupação, utilização ou passagem para as civilizações
pretéritas, no caso os paleoíndios. Estes por sua vez utilizaram-se do meio ambiente para sua
implantação, na escolha do local e da disponibilidade de matérias primas que este meio
disponibilizava.

Esta apropriação do meio ambiente e das matérias primas disponíveis resultou na confecção de
instrumentos, no registro arqueológico, no produto da transformação das matérias primas em artefatos
e nos instrumentos utilizados nas diversas atividades dos grupos caçador-coletores.

Este registro arqueológico sedimentado na estratigrafia do solo, denominamos de cultura material,


terminologia comumente utilizada na arqueologia para se referir aos produtos materiais da ação
humana, os quais são as principais fontes que conduzem à presença humana no passado mais remoto
(COPÉ; ROSA, 2008).
A alteração das condições naturais do registro arqueológico, sua caracterização enquanto cultura
material, consequentemente sua exposição e alteração provocada pelo arado ou pela grade refletem a
discussão proposta enquanto análise da pesquisa.

A ação proporcionada pela atividade humana é responsável pela alteração das características dos
sítios arqueológicos (MIGUEZ, 2012), pela desestruturação da estratigrafia e, consequentemente,
desestruturação do solo, resultando em carreamento de sedimentos e perda do patrimônio cultural
contido nestas parcelas do solo.

144
Este processo de dispersão dos artefatos dentro de uma área de sítio arqueológico pode-nos falar
muito sobre os processos de transformação cultural e não cultural em sítios arqueológicos e,
consequentemente, interpretar o contexto de inserção desses (REINHARDT, 1993).

Muitos são os protagonistas responsáveis pela alteração, dos e nos sítios arqueológicos,
considerando a matriz do sítio como sendo o solo, esse está sujeito a modificações e transporte por
diversos processos químicos, biológicos e mecânicos (WOOD; JOHNSON, 1978).

Podemos conceituar o processo de revolvimento do solo dentro dos sítios arqueológicos de


pedoturbação, ou “soil mixing.” Pedoturbação é a agitação biológica, química, ou física, misturando
e segregando os materiais do solo (BUOL et al., 1973, apud WOOD; JOHNSON, 1978); (KAMPF e
CURI, 2012)

Outra designação apropriada encontrada na terminologia é a proposta por (HOLE, 1961), onde,
pedoturbacões pro-isotrópicas incluem todos aqueles processos que mesclam ou destroem horizontes,
subhorizontes ou estratos genéticos nos solos ou impedem sua formação.

São diversas as formas de pedoturbação e perturbação do solo em contexto arqueológico


considerada na literatura, tais como os descritos (WOOD; JOHNSON, 1978), dentre as quais cita-se
alguns exemplos:

 Processos causados pelo congelamento e descongelamento do solo, crioturbação, bastante


comum em ambientes de permafrost, onde há a inversão dos horizontes pedológicos, este
processo é observável em regiões de baixa latitude onde há a atuação de geadas e
congelamentos pontuais da superfície e eventual horizonte A;

 Processos de revolvimento e alteração dos perfis do solo por abalos sísmicos mais
comumente observados em áreas de contato de placas tectônicas;

 A cristalização pela perda ou inserção de sais nos horizontes pedológicos, onde há a


expansão ou retração dos horizontes;

 Transporte e revolvimento pela ação do vento ou gases internos do solo, denominada de


aeroturbação;
 Revolvimento do solo pela energia da água designada como aquaturbação, mais
especificamente pela pressão artesiana nas camadas inferiores do solo;

 Faunoturbação, Revolvimento por animais, dentre os responsáveis estão os mamíferos,


répteis e anfíbios (esquilos, tatus, ratos, lagartos e sapos); insetos escavadores (cupins,
formigas, lagostins e vermes) e organismos que compõem a microfauna pedológica, em
alguns exemplos formam canais preenchidos com detritos animais, conhecidos como
crotovinas, (geralmente mostram cores contrastantes com a matriz vizinha, e são evidências
facilmente reconhecíveis de bioturbação);

145
 A alteração causada por plantas (expansão por enraizamento, inversão dos perfis de solo
pelo tombamento de troncos, decomposição e preenchimento dos canais das raízes)
designa-se floroturbação ou fitoturbação;

 Atividades e ações humanas que modificam e controlam processos de formação do solo são
definidas como processos antropogênicos de formação do solo ou antrossolização (KAMPF
e CURI, 2012).

Atividades e processos relacionados a alteração direta pelo homem no solo tais como (adição
humana de materiais, movimentação de solo, fertilização, irrigação, aterramento, decapagem), a este
processo a literatura denomina de antroturbação; Horizonte A antrópico; Antrossolos e Tecnossolos
(KAMPF e CURI, 2012).

A partir de meados do século 18, os humanos alteraram diretamente as paisagens em 40% a 50%
do planeta e as marcas de sua influência afetam mais de 83% da superfície terrestre, a chamada
“pegada antrópica” (MARTINI; RIBEIRO, 2011).

Considera-se que da totalidade da superfície da terra, pouco ou uma pequena parcela ainda resta
sem ter sido alterada pelo homem. A capacidade de alteração provocada pelo homem, impulsionada
pela mecanização, é uma das maiores forças de alteração e, em específico, para a área de estudo como
sendo a principal condicionante de alteração da paisagem natural. Pode-se observar na Tabela 1 as
principais atividades.

Tabela 1: Atividades agrícolas e os efeitos no solo

Atividade humana Efeito no solo ou ambiente


Remoção da vegetação e queimadas Perda de matéria orgânica e de nutrientes.
Adição de adubos orgânicos e minerais Ganho de matéria orgânica e de nutrientes.
Calagem Diminuição da acidez e toxidez.

Mudança no regime de umidade; risco de salinização;


Irrigação
oxirredução.

Mistura de horizontes; compactação do solo; erosão;


Lavração
perturbação da flora e fauna.

Adição de biocidas Influenciam flora e fauna; poluição do solo.


Excessivo preparo do solo e pisoteio Compactação, erosão.

Fonte: Adaptado de Nestor Kampf e Nilton Curi (2012, p.235)

146
1.4 A ocupação pré-histórica no rio grande do sul

As pesquisas relacionadas a esclarecer o estabelecimento das ocupações no estado do Rio Grande


do Sul tiveram diferentes etapas e surgem de maneira amadora e colecionista por meio da trajetória
de padres, como o caso de Balduíno Rambo que descreveu a ocorrência de indígenas no estado, ainda
no século XX, intitulado “As populações modernas de indígenas no Rio Grande do Sul”.

Um grande pesquisador nos primórdios da pesquisa foi o Padre Pedro Ignácio Schmitz, pesquisador
do Instituto Anchietano de Pesquisas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Instituto
este que contribuiu sobremaneira no desenvolvimento da ciência no estado durante o século XX até a
atualidade.

Outro religioso que contribui para a pesquisa arqueológica no estado foi o Padre Alfredo Rohr, que
inseriu no sacerdócio, desenvolveu discussões sobre filosofia, estudos antropológicos e estudos sobre
as paleopopulações do oeste de Santa Catarina na divisa com o Rio Grande do Sul, no vale do rio
Uruguai. Desenvolvendo os primeiros trabalhos que introduziam as populações humanas na paisagem
e relações entre os vestígios culturais encontrados nos sítios com as populações que ocupavam esta
região.

A fase científica surge em 1965 até 1970, quando é implantado no Brasil o Programa Nacional de
Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), cujo objetivo principal era delinear as principais culturas
arqueológicas e suas consequentes dispersões e área de ocupação pelo território nacional (LINO,
2011).

Os primeiros resultados de pesquisas arqueológicas situadas no Rio Grande do Sul podem ser
registrados em Schmitz (1976) e, posteriormente, com o advento do PRONAPA em que Miller (1969,
apud MILDER, 1999, p.15) publica resultados preliminares.

Conforme Miller (1987, apud MILDER, 2013), com o término do PRONAPA, surge a proposta de
criação de um novo programa de pesquisa voltado ao estudo de caçadores coletores antigos. Este
projeto desenvolvido por Eurico Miller ficou conhecido como Projeto paleoindígena (PROPA), com
patrocínio do Smithsonian Institution (EUA), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do
Sul (FAPERGS) e pelo Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (MARSUL).

Conforme Schmitz (1985), as primeiras ocupações para o território gaúcho encontram-se na região
de Toro Passo, junto a margem esquerda do rio Uruguai e afluentes, Ibicuí e Quaraí. Estas ocupações
remontam a transição do Pleistoceno para o começo do Holoceno, com datações aproximadas de
13.000 anos antes do presente (AP).

São descritas para o Rio Grande do Sul distintas populações que ocuparam as diferentes
configurações paisagísticas do território, sendo classificados e nomeados pela cultura material que
deixaram depositados nos ambientes de ocupação.

147
Conforme descrito por Noelli (1999-2000), a ocupação para a região sul, especificamente para o
Rio Grande do Sul ocorreram em diferentes frentes de ocupação da paisagem, por diferentes
populações e em diferentes etapas sucessivas.

Grosso modo, houve três levas de ocupação que se expandiram a partir de regiões distintas. A
primeira leva ocupou o sul a partir de 12.000 ou 13.000 AP e parece ter se mantido estável,
mantendo as mesmas características materiais, reproduzindo certos comportamentos
adaptativos e econômicos de povos “caçadores-coletores”, até cerca de 2.500 AP (Noelli,
1999-2000, p.227).

Esta população ocupará diversos nichos ecológicos e ambientais, até a chegada de uma população
com características sociais e uma cultura material revolucionaria distinta das populações anteriores.

A aparente estabilidade das populações Umbu e Humaitá começou a ser alterada pela invasão
de duas levas principais de populações “ceramistas”, agricultoras, de matriz cultural distintas,
Tupi e Macro-Jê, por volta de 2.500 anos atrás, respectivamente originárias da Amazônia e do
centro-oeste do Brasil (Noelli, 1999-2000, p.228).

Para Noelli (1999-2000) a tradição Umbu ocupou todo o território do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Paraná, alcançando os limites sul e oeste do estado de São Paulo. Uma característica
marcante e a persistência de padrões tecnológicos, com artefatos confeccionados com técnicas
similares e, com as mesmas matérias-primas, desde pelo menos 12.000 até 1.000 AP.

Esta população é diagnosticada pela ponta de projetil, embora os demais artefatos e resíduos de
lascamento apresentem uma padronização tecnológica similar.

Nos últimos 60 anos, período em que começaram os estudos sistemáticos, diversos pesquisadores
se dedicaram a desvendar e caracterizar a ocupação paleoindígena do estado.

Bombim (1971) se dedicou a correlacionar os sedimentos da Formação sedimentológica Toro


Passo, com os fósseis da fauna e da megafauna sobre as ocupações humanas; MENTZ RIBEIRO
(1979) discutiram acerca das paleopopulações mais antigas para o território, a Tradição Umbu,
construindo uma tentativa de esquematização para sua cultura material típica, as pontas de flecha;
MILDER, OLIVEIRA (1993); MILDER (1994) discutiram a relação sedimentológica, a estratigrafia,
considerações sobre paleoambientes e paleoclimas sobre as ocupações paleoindígenas; SCHMITZ
(1984) discutiu relações de ocupação de caçadores-coletores e as primeiras ocupações humanas;
BECKER (1984) analisou a ocupação recente por paleopopulacões ceramistas na porção sul do estado.

A concepção da história da região do baixo curso do Rio Camaquã é marcada por eventos históricos
que estão intimamente ligados ao extermínio dos povos indígenas e a construção da identidade
europeia imigrante, enquanto sendo colonizadores das ditas terras virgens ou espaços denominados
“vazios”, ocuparam-nos e alteraram-nos através do desflorestamento, da inserção da pecuária e da
agricultura.

148
1.5 Histórico e correntes de pesquisa para a área de estudo

O município de Cristal, em especial, a porção geográfica analisada, apresenta uma lacuna nas
pesquisas voltadas para a análise de áreas de sítios arqueológicos, estando ainda desconhecida no
sentido de estudos na área do patrimônio cultural.

Esta região apresenta apenas pesquisas de caráter prospectivo (STESA, 2010) e trabalhos
descritivos que priorizavam uma análise diferenciada da contextualização sugerida na atualidade
(RUTHSCHILLING, 1989); RIBEIRO; RIBEIRO; DA SILVEIRA; KLAMT (1986). Contrapondo
esta perspectiva, portanto, necessita-se de trabalhos interventivos de caráter interpretativo e
contextualizados para as regiões circunvizinhas.

Uma região próxima a área de estudo, foi objeto de investigação. Foram estudos para a região do
baixo curso do Rio Camaquã, especificamente na área do Banhado do Colégio, segundo Ruthschilling
(1989), Bittencourt (1992); outras áreas na serra do sudeste foram recentemente investigadas,
conforme nos expõem (MILHEIRA, 2008), que propõem um estudo de regionalização para a
arqueologia Guarani na região da Laguna dos Patos e Serra do Sudeste, no município de Pelotas.

O povo Guarani do Rio Grande do Sul foi objeto de investigação em Métraux (1948), quando da
publicação do manual de tribos da floresta Tropical, que aborda a situação dos Indígenas no século
XVI e XVII, e processos de contato com o europeu e outros povos indígenas.

A área da Serra do Sudeste e a lagoa dos Patos, foi objeto de pesquisa desde os anos 40, sob várias
perspectivas teóricas. Considerando as distintas correntes de pesquisa que se alteram ao longo do
tempo e evoluem a medida que novos pressupostos são defendidos e adotados, do mesmo modo a
pesquisa arqueológica nas regiões próximas apresentou diferentes maneiras de abordagem resultando
em diferentes contextos e resultados.

Adotando uma corrente de pesquisa mais descritiva e consolidada naquele contexto histórico,
Schmitz et al. (1969), elaboraram estudos no alto vale do rio Camaquã, identificando distintas
ocupações que segundo o registro arqueológico representa a materialidade de antigos caçadores
coletores e ceramistas mais recentes no contexto histórico implantados na paisagem.

Segundo Rogge (2004), a ocupação da região do baixo rio Camaquã parece estar relacionada,
inicialmente, com caçadores pré-cerâmicos da tradição Umbu, cujos vestígios líticos (núcleos,
raspadores e pontas de projetil) estão diretamente associados ao Cerritos, que são construções de terra
na forma de montículos em ambiente de umidade intensa.

A ocupação posterior identificada sobre os cerritos está associada a cerâmica Vieira, uma tradição
que desenvolvia uma cerâmica com aspectos externos que incorporam características da tradição
Tupiguarani (ROGGE, 2004).

O último episódio de ocupação pré-histórica é marcado pela ocupação dos flancos da serra do
sudeste e sobreposição eventual dos cerritos pelo povo Guarani. Pesquisas de Brochado (1974a)

149
desenvolveram discussões sobre a implantação de sítios na paisagem e a coleção de artefatos descritos
nos sítios para vários pontos da serra do sudeste e na área originalmente ocupada pela floresta
estacional semidecidual.

Em contribuição com os estudos desenvolvidos para a serra do sudeste constata-se uma ampla
bibliografia que contextualiza a ocupação humana na região lagunar e litorânea (PERNIGOTTI E
ALMEIDA, 1961; NAUE, SCHMITZ E BASILE-BECKER, 1968; NAUE et al., 1971); SCHMITZ,
1976; CARLE, 2002; RIBEIRO et al., 2004; PESTANA, 2007).

Especificamente a zona rural de Cristal que corresponde à área de estudo, embora também se
encontre na região do Baixo curso do rio Camaquã, não apresenta estudos aprofundados acerca do
tema.

Assim, há a necessidade de intervenções científicas de caráter vertical com a prerrogativa de


conhecer o potencial arqueológico, bem como ressaltando o grau de perturbação observado nos sítios
arqueológicos da zona rural em virtude destas áreas serem exploradas mecanicamente para outras
finalidades (agricultura e silvicultura) (BOLFE et al., 2009).
Considerando sua relação com o espaço e o entorno, partindo desta relação, os sitos arqueológicos
estão diretamente atrelados ao espaço anteriormente de exclusividade de uso das atividades das antigas
populações e desta forma de ocupação, resultado da relação dos sítios e toda sua gama de informações
com o grau de perturbação destes com as atividades desenvolvidas atualmente nos espaços
concomitantes.

Sem dúvida, a descontinuidade de investigações, a falta de estudos regionais, cronologias e


registros, detalhadamente contextualizados, não têm permitido aprofundamento no conhecimento das
populações pré-colombianas (MIGUEZ, 2012), e, em especifico, para a região proposta como área de
estudo.

1.6 A ocupação pela imigração europeia e a fragmentação do solo para a recorde geográfico

A delimitação do espaço administrativo denominado Cristal, se deu apenas em 29 de abril de 1988


com a decretação da lei estadual no 8.583 e que criou o município.
A constituição do território do município de Cristal se deu pela doação de parcelas do território de
municípios lindeiros, sendo a parcela sul do município de Cristal doada pelo município de São
Lourenço do Sul; a parcela a oeste pertencia ao município de Canguçu e a parcela ao norte e Leste
pertenciam ao município de Camaquã. Desta fragmentação no ano de 1988 surge o perímetro
delimitado Cristal.

Muito antes da emancipação dos municípios, a região era ocupada por militares luso-açorianos que
lutaram contra os espanhóis e receberam da colônia extensas porções de terra, as chamadas sesmarias.
150
A região de Cristal fazia parte da "Estância do Cristal", propriedade histórica da família Bento
Gonçalves da Silva, que tinha extensas levas de terra para a criação extensiva de gado.

No ano de 1850, tem inicio uma nova fase política de colonização, com varias iniciativas e medidas
tomadas pelo governo imperial, para incrementar e sistematizar a imigração de elementos que viessem
a dedicar-se a agricultura.

Em 1856 contrata com o governo imperial do Brasil a compra de terras devolutas na Serra de Tapes,
para fundar uma colônia. Posteriormente em 1857 viajou à Alemanha para divulgar sua nova colônia
e conquistar imigrantes para ocupá-la (COARACY, 1957).

Conforme Rockenback (2004), a colônia de São Lourenço do Sul foi criada por Jacob Rheingantz
em 1857, quando vieram para a região imigrantes alemães, sendo de maioria étnica pomerana. Este
excedente populacional ocupou gradativamente o solo que estava sendo dividido em lotes iguais aos
colonos, com o passar dos anos estas populações aumentaram, não cessando a vinda de mais
imigrantes, o solo começou a ficar escasso, sendo os recém-chegados conduzidos a áreas mais
distantes da colônia original, dando origem a ocupação de Cristal, tanto no perímetro urbano, como
no rural.

As ondas de imigrantes chegavam e eram conduzidas até as áreas a serem ocupadas, no caso o
interior rural, (com floresta densa e sem infraestrutura significativa) onde se instalavam em parcelas
do território a que tinham direito e começavam o processo de desmatar para produzir alimentos.

Os colonos se instalaram na serra de Tapes, área aclivosa e rochosa, que foi dividida em parcelas
conforme capacidade de aquisição de cada colono e com o crescimento das famílias estas mesmas
parcelas eram divididas entre seus descendentes gerando um aumento demográfico.

Este processo observou uma ocupação direcionada em áreas consideradas devolutas, mas
principalmente parciais renegadas pelos grandes estancieiros que preferiam áreas planas.

Esta mentalidade persistiu no Rio Grande do Sul, até quase o final da década de 1960, quando
"terras de mato" eram as preferidas para o cultivo, ficando as "terras de campo" como a última opção
para uso com lavouras. Estas áreas de campo foram incorporadas ao uso agrícola após a difusão da
aplicação de corretivos da acidez e fertilizantes aos solos segundo Kampf e Curi (2012, p.233).

1.7 A alteração do material arqueológico em contexto agrícola: a interferência da


mecanização nos materiais

A litologia predominante nos sítios arqueológicos dos quatro setores (Figura 2) tem sua origem nos
bancos de seixos do rio Camaquã, caracterizada pelo desgaste do transporte de regiões mais altas e
depositadas dentro da área de pesquisa (parte mais baixa).

151
Os seixos de diferentes tipos de rocha são transportados pela mecânica do corpo d’água e
depositados ao longo do percurso, formando depósitos que posteriormente foram explorados pelas
populações paleoindígenas com a geração de artefatos arqueológicos.

Estes seixos apresentam uma coloração de superfície diferente da que está presente no seu interior
e de textura, normalmente, também, diferente (mais granulosa áspera quando o contato com a água
não se fez por longo período, ou lisa quando permaneceu sob o efeito da rolagem e da perda de
superfície rugosa, tornando-se lisa).

O córtex pode também ser uma alteração da superfície da rocha pelo intemperismo (caso dos
seixos).

Este córtex, de formação anterior à coleta da rocha pelo homem, não pode ser confundido
com a pátina, alteração superficial posterior a intervenção do homem sobre a rocha, e que
também traz indicações, desta vez sobre o meio ambiente onde o objeto foi abandonado
(pátina clara de solos básicos; pátina brilhante de dunas). Ainda sobre a utilização ou
reutilização da peça, os diferentes tipos (ou graus) de pátina que aparecem em cada série de
cicatrizes de lascamento separadas por grande lapso de tempo (Prous, 1986/1990, p.10).

Esta alteração pode ainda ser observada quando da alteração recente do objeto por força ou pressão,
desconfigurando sua face externa, expondo a granulometria e a textura interna da rocha, desprovida
da pátina pós-deposicional, que caracteriza um objeto.

Figura 2: Divisão em setores da área.

152
Grande parte dos feldspatos encontra-se revestidos por uma pátina de cor branca, a qual é formada
pela alteração para caulinita (argilo mineral mais comum) (RUTHSCHILLING, 1989).

As populações paleoindígenas faziam coletas de rocha e utilizavam as mesmas em várias atividades


de lascamento, polimento, percussão e trabalhamento destes materiais, alterando as características
físicas da rocha e permitindo classificá-los como artefato ou instrumento modificado intencionalmente
por meio de infinitas técnicas que essas populações dominavam.

Ocorre, em contexto arqueológico, uma segunda classificação para a litologia, o ecofato, que é um
termo aplicado para todos os dados não normativos culturalmente relevantes. Refere-se a uma peça
que não apresenta alteração ou manipulação e pode ser de fonte litológica externa ou interna ao
contexto do sítio.

Foram identificados 75 sítios arqueológicos distribuídos nos quatros setores delimitados para a
pesquisa, Figura 3, tendo sido encontrado maior quantidade de sítios no setor 4 localizado em
topografia acima de 100 metros e sobreposto aos divisores de bacia, terrenos planos e bons para a
implantação humana.
As ocorrências isoladas, embora não sejam contextualizadas e não mereçam tamanha atenção pela
sua pouca expressividade representativa, somam 109 locais distintos distribuídos nos 04 setores. Em
muitos dos casos as ocorrências se encontram próximas de sítios, porém, não estão ligadas
continuamente em distribuição, havendo entre as duas áreas o chamado “vazio” superficial,
considerando a não intervenção em subsuperfície.

Foram identificados 4.647 fragmentos líticos de diferentes litologias (predomina o quartzito de


seixo rolado, sendo comum o mineral quartzo encontrado em abundancia na região, sílex de diferentes
colorações, arenito friável, silicificado, riolito, basalto, granito de diferentes colorações, argilito de
seixo de rio), estas litologias foram lascadas na forma de instrumentos e seus refugos de lascamentos
abandonados nos locais de assentamentos.

A cerâmica também era abundante nos locais de assentamento, considerando a quantidade de


fragmentos identificados 5.633, predominando as decorações corrugadas e unguladas, sendo
identificadas cerâmicas com decoração externa cerimonial. O estudo das bordas permite uma
classificação da produção cerâmica e, consequentemente, identificar a funcionalidade de seu
recipiente, porém não haverá aprofundamento neste momento considerando a temática original da
pesquisa e a demanda de tempo para com todos os milhares de fragmentos.

Estudos de variabilidade e mensuração das peças é expresso por Wildesen (1982) que considera a
funcionalidade do sítio pela gama de formas e densidade de materiais em sua estrutura original, dando
uma contextualização exclusiva pela razão da dimensão dos instrumentos. Por meio deste
procedimento pode-se estipular a funcionalidade ou o uso do sítio arqueológico no período de sua
ocupação pretérita.

153
Figura 3: Localização dos sítios arqueológicos.

A temática da pesquisa tem como propósito evidenciar a degradação dos sítios por atividades
recentes como a agricultura, desta forma não foram efetuados estudos para avaliação da
funcionalidade das peças, ou especificidades de cada instrumento dentro dos espaços de ocorrência,
esta análise decorre de um desdobramento mais amplo da pesquisa, podendo ser considerado
futuramente, dessa maneira, dar-se-á maior relevância a densidade de locais, bem como a densidade
de material encontrado dentro de cada sítio arqueológico e, principalmente, relacionando este espaço
com a atual forma de uso e ocupação do solo e as marcas impressas sobre os componentes dos sítios
causados pela mecanização.
Considerando a diversificada gama de materiais encontrados, podem ser consideradas como
importantes as variáveis forma; espessura; densidade; largura; comprimento; e, matéria prima como
variáveis importantes e resultantes do processo de transporte e arraste dos mesmos por eventos de
precipitação forte e causados por instrumentos agrícolas.
Pode-se observar ainda um processo pós-deposicional nas mesmas peças, que resulta na alteração
da morfologia e da fisionomia das mesmas por fricção e abrasão provocado parcialmente pelo
processo de arraste pluvial (JOPLING, 1981) e por contato com equipamentos agrícolas que
descaracterizam, fragmentam e deformam as peças (Figuras 4a e 4b), caracterizando uma morfologia
causada diretamente pelas atividades recentes do homem no meio (WILDESEN, 1982).

154
(a) (b)

Figura 4: Material arqueológico lítico e cerâmico.

2 MATERIAL E MÉTODOS EMPREGADOS

Nesta pesquisa foi adotada uma metodologia que atendesse a etapa de levantamento, mapeamento
e localização dos espaços arqueológicos e os diferentes tipos de uso e ocupação do solo atuais,
abarcando todas as informações em produtos cartográficos.

2.1 Levantamento e análise bibliográfica

Iniciou-se os estudos através do levantamento de fontes bibliográficas, buscando-se os aspectos


históricos, arqueológicos e, principalmente, ambientais do vale do rio Camaquã, sendo dividido em
bases de dados distintos:

a) Referências arqueológicas: levantamento de bibliografia especializada do histórico de pesquisas


arqueológicos desenvolvidas na região, que pudessem contribuir com a caracterização cultural,
elaborando os personagens por parte das distintas populações que habitaram a região de estudo, a

155
caracterização do ambiente ocupado e estudos que indicassem locais prováveis de ocupação para a
busca de artefatos;

Foram consultados trabalhos na específica área que pudessem contribuir com metodologias
positivas e favoráveis a implantação, considerando possíveis adaptações para a nossa temática de
pesquisa e principalmente para nossa área de pesquisa que se delimita expressivamente ampla;

b) Referências etno-históricas: levantamento de dados da ocupação histórica da região, abrangendo


o período de contato entre povos pré-hispânicos, e a ocupação europeia recente com a imigração de
alemães e italianos para a região (período de reorganização territorial e agrícola da região);

c) Referências ambientais: trabalhos sobre as características naturais e as alterações provocadas


pela antropização, além de levantamentos de produtos cartográficos atuais com características naturais
disponíveis (as Geofácies das microbacias como norteadoras para delimitação da área).

Desta forma, buscou-se no referencial teórico (Fontes bibliográficas gerais), os estudos e


referências na área em questão que contribuíssem com a identificação e análise de possíveis áreas de
ocorrências de sítios arqueológicos na paisagem identificados por meio de caminhamento sistemático,
escavação e estudos que estipulam predileção de locais de ocupação utilizando ferramentas
tecnológicas como georreferenciamento e geoposicionamento existentes e disponíveis para a região.
Assim, foram considerados trabalhos científicos publicados no final do século XX e início do século
XXI; relatos de viajantes e naturalistas que passaram por esta região no século XIX e trabalhos
recentes de consultoria e salvamento arqueológico), tais como Cerqueira; Loureiro (2003).

2.2 Planejamento das saídas de campo

Com as informações obtidas na fase anterior, somados as descrições topográficas da região e a


análise ambiental por meio da disposição das variáveis como malha hídrica, geologia e pedologia da
área, uniu-se uma série de informações adicionais para construir uma proposta metodológica concisa.

Delimitando a área de estudo, restringiu-se a mesma a uma porção territorial do espaço rural do
município de Cristal/RS, cuja área apresenta grande diferenciação paisagística e latifundiária.
Salientando-se, que foi decisória a informação obtida por fontes orais da existência de uma densidade
de sítios arqueológicos cerâmicos em contexto agrícola para a região serrana do referido município.

Esta etapa foi preparatória de oitivas serviu de análise da viabilidade do caminhamento a pé através
da maior parte do território.

Para tanto foi considerada a capacidade de percorrer toda a região, durante dois anos, período
disponível para a pesquisa, sendo considerado com os seus “limites territoriais” (área de pesquisa)
estipuladas por marcadores naturais (rio Camaquã e áreas pantanosas) e artificiais (estradas) que
delimitaram a área pela sua acessibilidade e diferenciação na paisagem.
156
Para que toda a área fosse atendida, adotou-se a proposta de (RODET et al., 2002) onde se faz a
divisão de uma área heterogênea em subparcelas, considerando fatores naturais de agrupamento da
paisagem.

Considerando a parcela de fragmentação da área maior em um conjunto de subáreas, foram


identificadas 04 subclassificações para a área de estudo (Figura 2):

Várzea do rio: Setor 1;

Região lagunar: Setor 2;

Várzea do Arroio Sapata: Setor 3; e,

Maciço cristalino: Setor 4.

A partir dessa setorização, foi possível analisar os ambientes isoladamente em um primeiro


momento e, posteriormente, em conjunto com os demais espaços, delimitando as ações de intervenção
nos quatro ambientes (levantamentos arqueológicos e estudos ambientais correlatos a esses 04
setores).
A topografia foi utilizada como um divisor e demarcador entre setores na paisagem, conforme
listado abaixo: (Figura 2).

Cabendo ao Setor 1 a planície do rio Camaquã, desde sua margem direita até a cota 100 metros da
serra do sudeste na vertente norte;

Setor 2 restringindo-se da margem direita do rio Camaquã até a cota de 40 metros, na região mais
plana e de menores cotas topográficas;

Para o Setor 3, considerou-se a cota de 40 metros e a cota máxima de 100 metros da vertente sul
da serra do sudeste; e,
Para o Setor 4, considerou-se a topografia superior aos 100 metros, até o topo da serra atingindo a
cota máxima de 217 metros.

Sobre cada fragmento do referido mosaico (os 04 setores), foram traçadas rotas de investigação a
partir de vias de acesso, visto tratar-se de um referencial de cartas/mapas da paisagem, com a
finalidade de cobrir todo o terreno e com o interesse de identificar os ambientes propícios ao encontro
dos sítios arqueológicos nas referidas áreas agrícolas do município. Nesse mesmo sentido, buscou-se
por locais onde houvesse solo recentemente revolvido ou com diferenciadas formas de cobertura
vegetal, sendo as mesmas georreferenciadas e analisadas “in loco”.

Na metodologia proposta por Rodet et al. (2002), quando da investigação de grandes áreas
contínuas, fragmenta-se a mesma utilizando os marcadores naturais (rios) e artificiais da paisagem
(estradas e vias de acesso). Para tanto utilizou-se da carta topográfica da região folha Arroio Sutil,
SH.22-Y-B-IV-4-MI-2998/4 na escala 1: 50.000 e o software livre “google Earth” (imagens Landsat
2017), onde foram delimitados os marcadores da alta vertente, as estradas, e os marcadores que

157
delimitavam os lotes a serem explorados na baixa vertente (cursos d’água de diferentes proporções
hidrológicas).

Como produto de intervenção, foram criados mapas para com todos os acessos disponíveis em cada
parcela do território em questão, bem como foi acrescida a rede hídrica e estas informações foram
plotadas, possibilitando, assim, a realização efetiva da etapa de campo.

2.3 Metodologia de campo adotada

Para efetiva intervenção de campo, implantou-se a técnica de prospecção sistemática sobre as


parcelas do território.

Na prospecção ou caminhamento sistemático, delimita-se uma forma de investigação consistindo


no percurso a pé da área a ser prospectada, observando as modificações da paisagem e a superfície do
solo, em busca de evidencias arqueológicas (COPÉ e ROSA, 2008). São traçadas linhas paralelas e
equidistantes em uma superfície, sendo adaptadas a realidade do local de investigação e, desta forma,
as linhas são mais distantes ou mais próximas entre si, de acordo com o intuito de identificar áreas
com material arqueológico em superfície, sem que haja a intervenção no subsolo.

Deve-se considerar que as ferramentas tecnológicas auxiliam nesta etapa do trabalho de campo,
quando os percursos são plotados em laboratório no software “google EarthR” e, posteriormente,
transferidas para o aparelho de Geoposicionamento global na extensão “Keyhole Markup Language”
(KML). Este procedimento economizou tempo, agilizando a etapa de caminhamento, auxiliando na
eficácia e na confiabilidade das delimitações, sendo que as linhas paralelas foram traçadas com maior
acurácia no distanciamento.

A metodologia descrita por Gallardo e Cornejo (1986), que implanta o caminhamento sistemático
para identificação de registros arqueológicos na paisagem em amplas áreas abertas e planas, foi
adaptada para a realidade observada em campo. Na atual pesquisa, apresentava diferenciação
latifundiária e, consequentemente, disposição de espécies cultivadas em diferentes épocas do ano e
em parcelas territoriais diferenciadas.

Foram criadas 05 categorias de implantação do caminhamento, conforme a diferenciação da


cobertura do solo, o tipo de cultivo observado e a fase de vida da planta:

Para áreas com cobertura vegetal de aproximadamente 30 cm de altura e pouco esparso no solo, foi
estabelecido a distância entre as linhas de caminhamento de 20 m de largura, sendo comuns as culturas
de aveia jovem, fumo jovem e milho jovem;

Para áreas com cobertura vegetal de aproximadamente 1 m de altura, como por exemplo, cultivos
de milho e fumo em meia idade, sendo estabelecida a distância entre as linhas de caminhamento de
15 m de largura;
158
Para cultivos em fase adulta e que restringem a visibilidade ou onde a cobertura vegetal atingia 2
m de altura, como por exemplo, milho em fase adulta, adotou-se o alinhamento de 10 m de largura;

Para áreas com cobertura de gramíneas e áreas bem fechadas de capim, pela densidade da cobertura
vegetal e pela pouca visibilidade do solo, restringiu-se o caminhamento apenas pelas áreas de erosão
e pelas margens do campo gramado;

Para áreas florestadas naturalmente e com áreas de cobertura de vegetação silvestre, restringiu-se
o caminhamento pelas margens do conjunto florestal, considerando a pouca visibilidade do solo nesses
locais.

Todo o caminhamento e identificação dos sítios arqueológicos foi plotado e marcado por GPS,
gerando uma malha de percorrimento sobre os setores diferenciados. Foram coletadas as coordenadas
UTM, através do sistema GPS, para cada sítio ou para cada material arqueológico isolado encontrado,
para registrar a localização exata. Também, foram coletadas informações ambientais relevantes que
viessem a contribuir com a caracterização atual da área, sua inclinação, direção de vertente,
proximidade com o afloramento rochoso, proximidade com a fonte de água e referências na paisagem,
tais como características de feições erosivas, pedológicas e geológicas.

Para estimar a perda do material arqueológico dentro do ambiente agrícola, em virtude do uso do
solo, foi adotada metodologia proposta por Miguez (2012), para avaliar o impacto das atividades
humanas em diferentes contextos agrícola, relacionando os fatores naturais e culturais responsáveis
pela alteração dos sítios em diferentes níveis de impacto.
Uma vez observada a existência de um sítio arqueológico ou ocorrência isolada, foi considerando
seu grau de impacto, por meio da análise do sítio enquanto:

Distribuição do material, sendo observado a provável delimitação do sítio anteriormente à


mecanização e a atual distribuição dos materiais encontrados na paisagem;

O grau de impacto sobre as peças em exposição na superfície do solo (observando ranhuras e


marcas de mecanização);

A identificação das espécies cultivadas no momento da prospecção e sua relação com o preparo do
solo;

O uso de pesticidas e fertilizantes químicos que possam alterar o pH do solo;

A identificação de pontos de erosão e a observação do solo enquanto compactação.

Deve-se salientar que, todas estas informações foram descritas em fichas padrão e fotografadas
para registro de informações relevantes e que foram observadas em campo.

A etapa de campo foi programada para ocorrer durante os períodos de outono, inverno e início da
primavera, para tanto foram consideradas a forte exposição a insolação nos demais períodos do ano e,
principalmente, a condição do solo estas sazonalidades (exposto ou com cobertura vegetal pouco
densa: época de entressafra e de cultivos de gramíneas forrageiras invernais).

159
Toda a etapa de campo foi realizado entre os meses de maio de 2016 até outubro de 2016,
retomando no mês de maio de 2017 até o mês de setembro de 2017. Resultando em um total de 214
dias, com dedicação de 7 horas por dia, em média, de prospecção “in loco”, somando-se, assim, um
total aproximado de 1.500 horas de caminhamento de campo.

A comunicação e o contato para obtenção de autorização do acesso as propriedades se deu


exclusivamente no momento das escolhas dos lotes para a aplicação da metodologia, sendo a
autorização apenas verbal por parte dos proprietários, para o efetivo caminhamento sobre suas
propriedades. Esta autorização foi concedida pela maior parte dos proprietários, sendo negada por
apenas um dos proprietários rurais locado em uma pequena área do mosaico de setores.

2.4 Análises do material identificado

As análises visuais das amostras coletadas em campo foram realizadas logo após a coleta de cada
campanha, visando à otimização dos processos e dos recursos financeiros empregados. Cabe salientar
a importância de procedimentos técnicos para realização das coletas e das análises, considerando que
o acondicionamento inadequado das peças poderia gerar informações imprecisas, alterando sua
configuração. Outro problema que deve ser considerado é o não georreferenciamento do material, o
que poderia torna-lo inapto para a sua utilização no decorrer da pesquisa.

O material foi embalado em sacos plásticos estéreis no campo durante a coleta e identificados
conforme sua procedência, sendo o material de cada local embalado separadamente. Já na etapa
seguinte, os mesmos foram submetidos à lavagem em laboratório.

O processo de limpeza de materiais líticos difere do material em cerâmica, sendo o material lítico
lavado em água corrente com o auxílio de uma escova de dentes de cerdas macias para a retirada total
de sedimentação (DIAS, 2013).

Para o caso de ter material muito pequeno e principalmente no caso da cerâmica, utiliza-se
uma peneira de numeração 2 mm do tamanho da pia, evitando que o material se perca no ralo (DIAS,
2013).

Para limpeza de fragmentos de cerâmica pré-colonial que apresentam pouca sedimentação, ou


resíduo pós deposicional, utiliza-se pincel macio para remoção do material depositado (composto
principalmente de dióxido de sílica ou areia). Para o caso dos materiais estarem muito envoltos em
sedimentos, utiliza-se de jatos leves de água, espalhados com o auxílio de um borrifador, molhando o
sedimento que posteriormente será removido com o auxílio de uma escova de dentes de cerdas macias
(DIAS, 2013).

Depois de limpas as peças são acondicionadas sobre uma mesa ou bancada limpa e arejada, para
que sequem e tenham seu excesso de umidade retirado, obedecendo a não exposição excessiva das

160
peças ao sol. Teve-se o máximo cuidado de não colocar materiais provenientes de um local junto com
o de outro local, para isso delimitou-se cada amostra por um separador.

Como etapa seguinte, as peças foram analisadas com o auxílio de uma lupa e iluminação adequada
para que fosse observada sua morfologia e sua estrutura aparente, assim como a observação de
qualquer dano ou aparente sinal de perturbação da peça em análise.

Todo o material proveniente de um determinado local foi identificado e descrito quanto à sua
origem e aparência, posteriormente medido com o auxílio de paquímetro e régua, fotografado com o
auxílio imprescindível de escala, catalogado e embalado em saco plástico estéril com a identificação
em caneta a prova d’água na face externa da embalagem e anexada uma ficha resumida com as
coordenadas e informações de coleta zipada dentro do recipiente (identificadas conforme
nomenclatura oficial).

Deve-se prestar atenção à capacidade de cada saco com material arqueológico, respeitando sua
capacidade e, principalmente, considerar a diferenciação dos materiais encontrados (líticos e
cerâmicos) e, desta forma, colocar os mesmos em recipientes separados para que as formas e a
densidade dos líticos não fraturem ou desgastem as peças cerâmicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BINFORD, L. R. A Consideration of Archaeological Research Design. American Antiquity, Vol. 29, No. 4, pp.425-441,
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164
CAPÍTULO 6
LESSANDRO MORINI TRINDADE
CRISTIANO POLETO

WETLANDS CONSTRUÍDOS

165
1. INTRODUÇÃO

Os wetlands construídos também são conhecidos como banhados construídos, ou ainda,


constructed wetlands ou filtros plantados com macrófitas. Sua concepção provém dos wetlands
naturais denominados também como banhados naturais ou áreas alagadas naturais.

Especificamente no sul do país essas áreas naturais são conhecidas como banhados. São terrenos
de cotas altimétricas mais baixas, onde o solo inundado por águas fluviais ou pluviais passam a
acumular água, formando espécies de áreas alagadas que têm função de filtro e depuração biológica
naturais. Existem autores que consideram os banhados naturais como terras úmidas emergentes –
particularmente são caracterizadas por conter vegetação que cresce na água ou em solo saturado de
água, ou seja, “hidrófitos” do tipo eretos (macrófitas emergentes), enraizados e herbáceos – e que
estão diretamente ligados com o regime hídrico local.

Os wetlands podem ser naturais ou construídos. Sendo estes utilizados em larga escala por diversos
países e organizações, com a justificativa de que suas instalações geram menos impactos ambientais
adversos do que os tratamentos convencionais e centralizados (coletas por extensas tubulações, usos
de bombeamento e Estação de Tratamento de Esgoto, entre outros equipamentos e materiais).

Os wetlands construídos (WC) possuem vários propósitos de aplicação: tratamento de efluentes


industriais, tratamento de águas residuárias, tratamento de esgoto doméstico, acúmulo de águas
pluviais urbanas no manejo pluvial dessas águas, entre outros.

Este capítulo passará superficialmente pelos tipos de wetlands existentes e tratamento de esgoto
sanitário descentralizado, bem como apresentará a aplicação de wetlands construídos como técnicas
de engenharia de baixo impacto, relacionando-os com as Low Impact Developments (LID), para o uso
em áreas urbanas.

Será compilado ainda a apresentação de alguns critérios e parâmetros de projeto que podem ser
utilizados, no caso, para wetland construído de escoamento vertical seguido de Tanque Séptico (TS),

166
sendo caracterizado também como Sistema Francês – recebendo esgoto bruto, consoante abordagens
realizadas por pesquisadores nacionais como Sperling e Sezerino (2018)5 e Philippi e Sezerino (2004).

Será lembrado também a relação do sistema de saneamento ambiental, no caso, sistema de


esgotamento sanitário com a gestão de recursos hídricos e onde se insere a importância de estudos que
relacionem os WC com tratamento descentralizado de esgoto sanitário nas áreas urbanas. Onde sabe-
se que nas grandes áreas urbanas existem espaços onde o poder público não consegue atingir com seu
sistema de esgotamento sanitário: coleta e tratamento de esgoto sanitário. Relevo, ocupações urbanas
em áreas irregulares e de risco ambiental, ausência de infraestrutura pública, entre outros são alguns
dos fatores que geram o problema de falta de coleta e tratamento de esgoto domiciliar para todos, em
áreas urbanas consolidadas.

Ao final do capítulo será apresentada algumas considerações finais e uma compilação de


publicações de livros, artigos, entre outros referentes ao assunto wetlands construídos para que
pesquisadores, docentes, discentes, curiosos e profissionais ampliem suas oportunidades e expertises.

2. WETLANDS CONSTRUÍDOS

Os wetlands construídos empregados no tratamento de águas residuárias6 e no controle da poluição


são classificados, conforme os autores Philippi e Sezerino (2004, p.27) e a literatura pertinente, em
dois grandes grupos:

I. Sistemas de lâmina livre ou de escoamento superficial – free water surface/surfasse flow;

II. Sistemas de escoamento sub-superficial (filtros plantados com macrófitas) – subsurface


flow.

Subdivisões desses grupos propostas por pesquisadores apresentaram diferentes configurações e


respectivos princípios de funcionamento e associados a objetivos como redução de matéria
carbonácea, nitrificação, denitrificação, retenção/remoção de fósforo, entre outros, de acordo com o
que pronunciam os referidos autores.

5
Marcos von Sperling (UFMG) e Pablo H. Sezerino (UFSC). 2018. DIMENSIONAMENTO DE WETLANDS
CONSTRUÍDOS NO BRASIL. DOCUMENTO DE CONSENSO ENTRE PESQUISADORES E PRATICANTES.
Grupo de Estudos em Sistemas Wetlands Construídos Aplicados ao Tratamento de Águas Residuárias Publicação online
Boletim Wetlands Brasil – Edição Especial – Dezembro/2018 – ISSN 2359-0548. Retirado do site:
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Wetlands-Constru%C3%ADdos-no-Brasil-von-Sperling-Sezerino-2018-2.pdf> acessado em dezembro de 2018.
6
Água residuária: Denominação aplicada a qualquer despejo ou resíduo líquido com potencialidade de causar poluição
ou contaminação. Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente. Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE Diretoria de Geociências Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. 2004. 2ª edição.
Rio de Janeiro: IBGE. Acessado pelo site: <https://ww2.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/vocabulario.pdf> em
Fevereiro de 2019.

167
Na Figura 1, que apresenta a classificação dos wetlands construídos conforme compilação da
literatura técnica pertinente, se verificam outras categorias de WC’s diretamente relacionados com a
característica específica do sistema: tipo de vegetação utilizado ou a direção do fluxo.

Neste capítulo será dada atenção para o sistema de wetland construído de escoamento sub-
superficial em destaque na Figura 1.

O WC de fluxo vertical é considerado como eficiente, em publicações técnicas no país e no mundo,


para o tratamento complementar de esgoto sanitário.

Ressalta-se que o sistema sub-superficial de fluxo vertical foi concebido pela pesquisadora botânica
alemã Käthe Seidel em 1965, sendo um tratamento complementar depois de um Tanque Séptico (TS7)
anaeróbio e antes de um sistema superficial de fluxo horizontal de WC, conforme destacam Stefanakis,
Akratos e Tsihrintzis (2014, p.21).

7
Tanque Séptico: Unidade cilíndrica ou prismática retangular de fluxo horizontal, para tratamento de esgotos por
processos de sedimentação, flotação e digestão. Norma da ABNT NBR 7229:1993, Figura 1 do Anexo A da referida
Norma Técnica.

168
169
Figura 1: Classificação atual de Wetlands Construídos para tratamento de efluentes.
Os primeiros estudos com sistemas de fluxo vertical, também, tiveram origem na Alemanha,
conforme menciona Philippi e Sezerino (2004, p.38). Os quais ainda informam que, inicialmente
foram chamados pela pesquisadora Siedel de Max Planck Institute Process. Porém, a denominação
mais aceita na comunidade científica é vertical constructed wetlands. Esta concepção de tratamento é
análogo aos "clássicos" filtros de areia, onde o princípio de crescimento de microrganismo - biofilme
aderido a um meio suporte é evidente, caracterizado em inglês como attached-grow process.
(PHILIPPI; SEZERINO, 2004, p.38).

Porém, em diversos estudos nos EUA, na Alemanha, Áustria e França, pesquisadores aplicam um
sistema associado de tipos de CW constituído entre filtros verticais, seguidos de filtros horizontais.
(PHILIPPI; SEZERINO, 2004, p.40).

2.1 Wetland construído escoamento sub-superficial e fluxo vertical, com variações

Neste tipo de escoamento não se cria uma lâmina d’água superficial. A Figura 2 apresenta um WC
de escoamento sub-superficial, sendo concebido como uma tecnologia de controle de poluição.

Os principais sistemas de escoamento sub-superficial empregados no tratamento de águas


residuárias, aplicados na Europa foram idealizados para funcionarem como uma etapa secundária e
com a intenção de reduzir a matéria carbonácea: Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) e Sólidos
em Suspensão (SS), segundo Philippi e Sezerino (2004, p.33).

Durante um maior entendimento dos pesquisadores envolvidos ao longo dos anos com essa
tecnologia descobriu-se por meio de análises e monitoramentos vantagens do WC de Fluxo Vertical
como: capacidades de rápida transferência de oxigênio atmosférico para a superfície do leito desse
sistema, a oxidação da amônia (NH3), redução de nitratos e remoção de fósforo no efluente tratado.

A Figura 2 apresenta o desenho esquemático de WC a ser projetada, sendo um compilado de vários


autores e com algumas modificações que ainda serão testadas, como: camadas filtrantes de agregados
reciclados; consórcio de plantas como: bananeiras do gênero Musa paradisíaca, as taboas, Carex,
Phragmites, Eleocharis, entre outras em conjunto com a Citronela denominada como Cymbopogon
nardus (L.) Rendle que tem grande potencial repelente contra mosquitos.

Essas peculiaridades desse projeto ainda serão testados para verificar a eficiência do sistema quanto
a busca de diminuição das cargas orgânicas e de nitrogênio e fósforo, conforme preconizam Trindade,
Dreyer e Magalhães (2016).

Philippi e Sezerino (2004) informam ainda que os sistemas de fluxo vertical, desse tipo de
tratamento complementar, são módulos escavados no terreno (Figura 3), com superfície plana,
preenchidos com um material de recheio - material filtrante, composto na maioria das vezes por
camadas de areia e brita. Possuem impermeabilização de fundo, a fim de impedir que o efluente a ser

170
tratado possa percolar para camadas mais profundas do solo e atingir o lençol freático. Os referidos
pesquisadores alertam inclusive que independentemente do nível de tratamento que será promovido
no wetland construído e por se tratar de sistema que emprega o potencial de um solo reconstituído –
composto por materiais filtrantes de alta condutividade hidráulica como, por exemplo, areias, britas e
cascalhos – deve-se acompanhar de unidades de tratamento a montante que sejam eficientes na
retenção de sólidos grosseiros, como: Tanques Sépticos (TS). Na intenção de evitar que esses sólidos
comprometam o bom funcionamento da percolação do maciço e/ou acelerar o fenômeno de
colmatação do filtro e suas tubulações.

Este tipo de wetland construído pode receber o aporte de águas residuárias, filtrando-as
(STEFANAKIS; AKRATOS; TSIHRINTZIS, 2014); no caso, esgoto sanitário bruto de comunidades
que geram pequenas vazões.

Figura 2: Desenho esquemático de Wetland Construído de escoamento sub-superficial e fluxo vertical, como tratamento
complementar de esgoto sanitário.

A camada impermeabilizante que a literatura recomenda é a manta de Polietileno de Alta Densidade


conhecida como “manta PEAD”. Existem diversas espessuras dessa manta que deve ser aplicada nas
paredes laterais e no fundo do WC, como pode ser verificado na Figura 4.

171
Figura 3 – Construção de filtro plantado com macrófitas diretamente no solo. Foto de Sezerino, Florianópolis/SC.
Fonte: PHILIPPI; SEZERINO, 2004

Estes autores afirmam que em terrenos onde o lençol é profundo o suficiente, ou seja acima de 1m
de profundidade, pode-se escava-lo diretamente, onde garanta-se a estabilidade, como apresentado na
Figura 3. Podendo impermeabiliza-lo, na maioria das vezes com manta plástica como pode ser
observado na Figura 4, quando tratar-se de pequenas extensões, ou adotar mantas PEAD.

Ressalta-se que nas normas NBR 13969:1997 e NBR 7229:1993 da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) recomendam algumas condições específicas, entre outras, que poderiam
ser compreendidas nesse sistema de TS + WC de Fluxo Vertical, como:
Os TS devem ter distância horizontal mínima de 1,50m de construções, limites de terreno,
sumidouros, valas de infiltração e ramal predial de água;

Os TS devem ter distância horizontal mínima de 3,0m de árvores e de qualquer ponto de rede
pública de abastecimento de água;

Os TS devem ter distância horizontal mínima de 15,0m de poços freáticos e de corpos de água de
qualquer natureza.

172
Figura 4 – Detalhamento de manta plástica e da tubulação de coleta do efluente tratado no WC de fluxo vertical. Foto
de Sezerino, Faxinal dos Guedes/SC. Fonte: PHILIPPI; SEZERINO, 2004.

Cabe ressaltar que os wetlands verticais do Sistema Francês clássico são compostos por uma
sequência de dois estágios, sendo que o primeiro estágio recebe esgoto bruto (após gradeamento), e o
segundo estágio recebe o efluente tratado no primeiro estágio. Portanto, não há necessidade de
tratamento primário (tanque séptico) ou secundário, como os outros sistemas horizontais e verticais
descritos neste documento. Os esgotos são aplicados na superfície do leito e o escoamento é vertical
descendente. O primeiro estágio objetiva principalmente a remoção da matéria orgânica e sólidos em
suspensão, além da remoção parcial do nitrogênio amoniacal por nitrificação. O segundo estágio
proporciona um polimento no tratamento, também em termos de remoção complementar de matéria
orgânica e sólidos em suspensão, mas, principalmente, na remoção de nitrogênio amoniacal por
nitrificação, dadas as condições aeróbias do meio, conforme explicam Sperling e Sezerino (2018).

A aplicação de sistemas de tratamento com WC de Fluxo Vertical para pequenas comunidades, ou


seja, o tratamento de esgoto para pequenas vazões, já acontece em vários países, inclusive no Brasil.
Os tipos de aplicação de WC no País, podem ser verificadas nos exemplos a seguir.

Philippi e Sezerino (2004) apresentam a aplicação em pequenas coletividades e/ou sistemas


unifamiliares, representativa pela Unidade de Tratamento A, ocorrendo na Agronômica em Santa
Catarina. As Unidades de Tratamento B e C foram aplicadas em Florianópolis/SC. Onde entre o
período de 1998 e 2000, três diferentes unidades de tratamento de esgotos domésticos foram
empregadas, e que compreendiam: tanque séptico (TS) em conjunto com filtro plantado com
macrófitas (FPM), também, conhecido como CW.

As Figuras 5, 6 e 7 ilustram respectivamente as Unidades de Tratamento A, B e C relatadas.

173
Figura 5 – Unidade de Tratamento A, em Agronômica/SC. Foto Panceri, Agronômica/SC.
Fonte: PHILIPPI; SEZERINO, 2004

Figura 6 – Unidade de Tratamento B, em Florianópolis/SC. Foto Sezerino, Florianópolis/SC.


Fonte: PHILIPPI; SEZERINO, 2004

174
Figura 7 – Unidade de Tratamento C, em Florianópolis/SC. Foto Sezerino, Florianópolis/SC.
Fonte:PHILIPPI; SEZERINO, 2004.

As quais foram construídas e acompanhadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão


Rural de Santa Catarina (EPAGRI) e monitorados em conjunto com pesquisadores do Departamento
de Engenharia Sanitária e Ambiental (ENS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os
efluentes que aportavam nessas três unidades construídas eram produzidos a equivalentes
populacionais de 66 pessoas; 150 pessoas e 5 pessoas. Outras características na Tabela 1.

• Características do efluente das unidades de tratamento A e B: esgoto doméstico e águas


residuárias de atividades de treinamento com produtos agroindustriais;
• Características do efluente da unidade de tratamento C: esgoto doméstico;

• Concepção da unidade de tratamento: TS seguido de FPM;


• TSs das unidades de tratamento A e B: TSs prismático retangular;

• TSs da unidades de tratamento C: TS circular de única câmara;


• Plantas utilizadas nessas Unidades de Tratamento: junco brasileiro (Zizaniopsis bonariensis)
e capim roxo (Echinochloa polystachya);

• Monitoramento de 12 meses, alguns dos parâmetros analisados: pH, DQO, DBO , OD, ST,
STV, SST, NTK, NO3-N, NH4-N e PT; (PHILIPPI; SEZERINO, 2004, pp.120-125).

175
Tabela 1 - Características das unidades de tratamentos complementares: TS e CW ou FPM
UNIDADES DE TRATAMENTO
Dimensionamentos das Unidades
Unidades de
Pessoas Atendidas
Trat. TS (em m³) FPM (m²) e profundiade 0,70m

Un. Trat. A 66 13,6 450


Un. Trat. B 150 22,6 127,5
Un. Trat. C 5 1,25 4

Fonte: Elaborado pelo autor

Os seguintes pesquisadores alertam para o seguinte, quanto ao dimensionamento:

A necessidade de um tratamento primário bem dimensionado, construído e operado faz-se


pertinente, devido, principalmente, sua aplicabilidade quanto a retenção e digestão de sólidos, bem
como gorduras. Quando o tanque séptico é empregado como alternativa, como é o caso das unidades
em estudo, este deve seguir as orientações prescritas em normas técnicas. No Brasil, a NBR 7229/938
estabelece parâmetros para o seu correto dimensionamento. Os tanques sépticos empregados nas 3
unidades de tratamento não seguiram os critérios de dimensionamento prescritos na referida norma,
sendo então realizadas adequações nestes, notadamente junto aos dispositivos de entrada e saída,
porém, não foram alteradas a forma e os volumes úteis dos mesmos. Esta inadequação refletiu na
qualidade do afluente aos filtros plantados com macrófitas. (PHILIPPI; SEZERINO, 2004, p.123).

Os sistemas de escoamento sub-superficial de filtros plantados com macrófitas, continua sendo


idealizada como uma tecnologia de controle de poluição. Entre os sistemas de escoamento superficial
e sub-superficial existem semelhanças - quanto aos mecanismos de depuração e diferenças - quanto a
forma e concepção. (PHILIPPI; SEZERINO, 2004, pp.32-33).

Também há registros de integração de wetlands construídos como o exemplo lembrado por


Stefanakis, Akratos e Tsihrintzis (2014), que na Figura 8 apresenta um sistema híbrido de WC, porém,
somente com escoamento sub-superficial e de fluxo vertical. Representado por uma unidade vertical
de fluxo descendente seguida de uma unidade vertical em fluxo ascendente, os quais são separados
por uma parede divisória. O primeiro sistema vertical de fluxo descendente geralmente está 10cm
mais alto do que a segunda unidade de fluxo descentente, de modo que a água flua do primeiro para a
segunda unidade sem o uso de qualquer bomba. Vários autores entre os supracitados consideram esse
sistema híbrido promissor quanto à remoção de nitrogênio e também as remoções de Fósforo Total e
Demanda Química de Oxigênio (DQO), entre outras considerações.

8
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1993). Projeto, construção e operação de sistemas de tanques
sépticos. NBR 7229. Rio de Janeiro: ABNT. 15p.

176
Figura 8 – Sistema híbrido de Unidades de Tratamento de WC de escoamento sub-superficial e fluxo vertical: fluxo
descendente (1ª unidade) e fluxo ascendente (2ª unidade). As setas indicam a direção do fluxo do afluente/influente até
sua saída como efluente tratado/efluente.
Fonte: Stefanakis, Akratos e Tsihrintzis, 2014

2.2 Wetlands construídos e suas relações com as LID

Miguez (2012) considera como melhoria ambiental de cursos hídricos, a adoção de uma abordagem
integrada, ou seja, analisa a interação de ambientes naturais com o contexto urbano. Este trabalho
apresenta como análise o seguinte:

Os resultados obtidos apontam para a necessidade de uma abordagem sistêmica, onde, não somente
os rios urbanos, mas, toda a bacia hidrográfica deve ser considerada de forma integrada no processo
de recuperação dos processos hidrológicos, como ponto de partida para a requalificação das águas
urbanas.
Pois, pesquisadores reconhecem que o conceito de promover o escoamento rápido das águas era
falho e resultou de uma nova abordagem técnica que recebem diferentes denominações, mas que
partilham as mesmas premissas e são mais conhecidas como Low Impact Development (LID).
(ALENCAR, 2017).

A sustentabilidade nas cidades provém da Agenda 21 global, que recentemente passou a estar
associada às técnicas LID, à Agenda 2030 com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
- o ODS 11 busca: Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis9, entre outras ações.

9
Consulta ao site das Nações Unidas no Brasil, sobre a Agenda 2030 Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030
para o desenvolvimento sustentável, referente < https://nacoesunidas.org/pos2015/ods11/>, acessado em 02/10/2018.

177
No quesito de sustentabilidade das cidades ao considerarmos um sistema vivo, Newman (1999,
p.220) já descrevia que, "Como todos os ecossistemas, a cidade é um sistema, com insumos de energia
e materiais. Os principais problemas ambientais (e os custos econômicos) estão relacionados ao
crescimento desses insumos e ao gerenciamento dos usos. Ao analisar a cidade como um todo e seus
caminhos ao longo dos quais a energia e os materiais, incluindo os poluentes se movem, é possível
começar a conceber sistemas de gerenciamento e tecnologias que permitem a reintegração de
processos naturais, aumentando a eficiência do uso de recursos, a reciclagem de resíduos como
materiais valiosos e a conservação da (e até a produção de) energia."

Segundo Eckart, MacPhee e Bolisetti (2017, p.415) “As práticas LID tentam manter a água pluvial
no local, o máximo possível, e utiliza-se de layout natural local para promover a filtração e promover
a qualidade da água.”

Existem LID baseadas em uso de tecnologias onde possam ocorrer vários processos naturais de
tratamento. A técnica de baixo impacto considerada é wetland construído.

Os WC são estruturas que podem ser construídas para um tratamento complementar de águas
residuárias urbanas, como visto anteriormente e no qual ocorrem processos biológicos, químicos e
físicos, tornando-os sistemas purificados, como complementam os autores (AL-ISAWI et al., 2014).

Com o advento de abordagens ecológicas, como o uso de águas residuárias tratadas por meio de
wetlands construídos e/ou reciclagem/irrigação de águas-cinzas, criaram-se espaços adaptados ao
ambiente local e que são alternativas importantes para a busca de uma solução à iminente crise hídrica
do século XXI. (NELSON et al., 2007). Esses mesmos autores preconizam que esse tipo de
metodologia de tratamento complementar pode possibilitar a reutilização das áreas residuárias ou
águas-cinzas, como um suprimento de água enriquecido em nutrientes possível de sustentar e/ou criar
zonas de vegetação ou jardins, conhecidas também como wetlands gardens (Figuras 9 e 10).

Figuras 9 e 10 – (9) Sistema de WC de fluxo vertical em Columbia. (10) Exemplo de WC de fluxo vertical híbrido com
posterior sistema de WC de fluxo horizontal. Podem ser caracterizadas como Wetlands Gardens: são wetlands
construídos com ênfase de utilização das plantas para paisagismo, além das funções conhecidas para os WC.
Fonte: Stefanakis, Akratos e Tsihrintzis, 2014

178
3. WETLANDS CONSTRUÍDOS E O SANEAMENTO AMBIENTAL

Saneamento e gerenciamento dos recursos hídricos estão intimamente interligados e o desempenho


de um depende do outro. Para se trabalhar com a sustentabilidade local, sugere-se relacioná-la com
saneamento ambiental. Kobiyama, Mota e Corseuil (2008) descrevem que a água depois de consumida
dá origem ao que denomina-se de esgoto e que pode ser classificado de três formas: doméstico, pluvial
e industrial.

O uso das águas nas residências dá origem ao esgoto doméstico. Quando chove, a água carreia
poluentes atmosféricos, escorre por telhados, ruas e calçadas limpando a região, originando o que
chamamos de esgoto pluvial, que possui alta carga de poluente, sendo que muitas vezes, é impossível
conter seu fluxo para tratá-lo. Por isso, é fundamental buscar o planejamento dos recursos hídricos,
pois, o mesmo, visa adequar o uso, controlar e proteger a água às demandas sociais e/ou
governamentais, fornecendo subsídios para o gerenciamento destes, coforme instrui Lanna (2004).

Por conseguinte, é fundamental entendermos a relação da água e do esgoto em áreas urbanas, pois,
estão diretamente ligadas, por exemplo, com o tratamento descentralizado de esgoto sanitário.

O tratamento descentralizado de esgoto sanitário já é uma realidade no Brasil.


Diversas tecnologias podem ser aplicadas sob o contexto do tratamento descentralizado de
esgotos, estando sua escolha relacionada com as condições específicas do local, dos recursos
financeiros disponíveis e do requerimento legal de lançamento do efluente tratado. Essas
tecnologias combinadas com um sistema clássico de esgotamento sanitário centralizado,
compreendendo a coleta, o transporte, o tratamento e a disposição final, auxiliarão na
universalização dos serviços de saneamento.
O processo de tratamento descentralizado de esgoto passa pelo nível coletivo (pequenas
comunidades e/ou conjunto de edificações), até o individual, conhecido na literatura
internacional como sistema on site. Inúmeras são as tecnologias aplicáveis, sendo algumas
delas apresentadas nas normas brasileiras NBR 7229 (ABNT, 1993) e NBR 13969 (ABNT,
1997), as quais destacam a necessidade da promoção, minimamente, dos níveis de tratamento
primário e secundário.
Diferentes modalidades de decantodigestores, tais como o tanque séptico (TS) com câmara
simples ou câmaras duplas, além dos reatores anaeróbios compartimentados com subdivisões
longitudinais de câmaras (RAC, traduzido do inglês Anaerobic Baffled Reactor), são as
alternativas usualmente mais empregadas para a promoção do tratamento primário de esgoto.
(TREIN et al., 2015).

Trein et al. (2015) concluíram que, em uma operação de 2 anos de monitoramento em dois sistemas
de tratamento descentralizado de esgoto, ambos contendo tratamento primário com tanque séptico
(TS) seguido de wetland construído de escoamento subsuperficial de fluxo vertical; sendo que o
primeiro sistema estava em operação há 5 anos à época, com um Reator Aneróbio Compartimentado
(RAC) ou TS, seguido de wetlands construídos de fluxo vertical (WCFV), recebendo esgotos de
banheiros, cozinha e lavagem de pisos de uma empresa apresentou variações no desempenho,
destacando-se o seguinte:
(a) submetendo o WCFV a um carregamento médio de 13 g SS m-2.d-1e 87 g DQO m-2.d-1,
identificaram-se indícios de colmatação nele;

179
(b) apesar de o WCFV ter operado com alto carregamento orgânico, apresentou eficiência
média de remoção de DQO de 70%;
(c) a eficiência média de remoção global de N-NH4+ nesse sistema foi da ordem de 47%,
sendo 38% devidos à transformação de N-NH4+ em N-NO3; e
(d) a nitrificação foi evidente nesse módulo, contudo o início do fenômeno de colmatação do
maciço filtrante no wetland teve influência negativa nesse processo. (TREIN et al., 2015).

Já o segundo sistema de tratamento de esgotos composto de RAC seguido de WCFV com fundo
saturado em operação há 9 anos recebendo esgotos sanitários de um condomínio residencial (com
ocupação referente a 5% da população máxima de projeto) apresentou, a partir do monitoramento
contínuo de 2 anos, variações no desempenho, apresentou os seguintes resultados:
(a) submetendo o WCFV a reduzidos carregamentos médios de 0,94 g DBO m-2.d-1, 1,8 g
DQO m-2.d-1 e 0,25 g SS m-2.d-1, ele apresentou eficiências médias de remoção em termos
de concentração de 94%, 93% e 94% para DQO, SS e P-PO43-, respectivamente;
(b) observou-se remoção média de 93% de nitrogênio amoniacal, sendo 27% desta remoção
devidos à nitrificação no WCFV; e
(c) apesar da alta remoção da amônia, a baixa formação de nitrato indica outras vias de
remoção, como a desnitrificação. (TREIN et al., 2015).

Assim, esses mesmos autores concluem que a avaliação do projeto e o modo de operação dos
sistemas demonstram que o desempenho do tratamento é dependente das condições hidráulicas, da
taxa de carregamento, do tempo de retenção hidráulica e do modo de alimentação e que recomenda-
se a utilização dos WCFV como alternativa tecnológica de tratamento de esgoto sob o contexto da
descentralização.

Os autores Massoud, Tarhini e Nasr (2009) afirmam ainda que para o tratamento secundário, as
tecnologias mais indicadas para a abordagem descentralizada são os reatores, fundamentados em
processo depurativo de biomassa aderida em material suporte, podendo ser: filtros anaeróbios,
biofiltros aerados submersos, filtros de areia, valas de filtração e wetlands construídos.

Com relação ao tratamento de esgoto sanitário para pequenas comunidades, Crespo (2005, p.253)
explica que "no tratamento dos esgotos, a regra de ouro é separar inicialmente a parte sólida da parte
líquida. A seguir se tratam, de forma independente, a parte líquida e a parcela do lodo. Qualquer
tentativa de tratar os esgotos desrespeitando este princípio básico pagará um tributo operacional ou de
resultados.".

Este mesmo autor destaca os tratamentos anaeróbios e sistemas de tratamento de efluentes pré-
decantados, para pequenas vazões, como descrito na Tabela 2.

180
Tabela 2 - Resumo das tecnologias abordadas
SISTEMAS DE TRATAMENTO PARA PEQUENAS COMUNIDADES
SISTEMAS DE TRATAMENTO ANAERÓBIO
Tanque/Fossa séptica
Filtro anaeróbio
PROCESSOS DE FOTOSSÍNTESE
Lagoas de estabilização fotossintéticas facultativas
SISTEMAS DE TRATAMENTO PARA ESGOTO PRÉ-DECANTADO
Infiltração no terreno

Fonte: Modificado de Crespo (2005, p.255)

Com relação ao tratamento complementar de esgoto sanitário para sistemas individuais, até aqueles
reagrupados e descentralizados, Philippi e Sezerino (2004, p.7) descrevem que a "abordagem de
tratamento é dirigida para o pré-tratamento através de tanques sépticos, seguido de disposição no
solo.". Esses mesmos autores informam também que:
Wetland - termo inglês traduzido literalmente como terra úmida, pode ser definido
como um ecossistema de transição entre ambientes terrestres e aquáticos. São áreas
inundáveis (zonas úmidas) onde inúmeros processos e agentes (animais, plantas, solo,
luz solar...) interagem, recebendo, doando e reciclando nutrientes e matéria orgânica,
continuamente. Estes nutrientes servem de suporte a uma abundância de macro e
micro espécies de organismos fotossintetizantes que convertem compostos
inorgânicos em compostos orgânicos (biomassa vegetal), utilizada direta ou
indiretamente como alimento para animais e microrganismos. (PHILIPPI;
SEZERINO, 2004, p.14-15).

Os autores Tanner et al. (2012), trabalharam com cinco tipos de alternativas de técnicas de
tratamento de águas residuárias domésticas brutas, sendo comparados durante um período anual, com
testes lado-a-lado, após dois anos de maturação desses sistemas, que foram: wetland construído de
fluxo horizontal; os outros quatro eram sistemas híbridos, com diferentes configurações wetland
horizontal sub-superficial, seguidos ou não de wetland de fluxo vertical seguido de biorreatores
carbonáceos suplementares com cavacos de madeira e cascas de coco. Os resultados dos testes,
mostraram ainda que dependendo do descarte do efluente tratado/retorno ao meio ambiente, é provável
que os efluentes necessitem de desinfecção, se houver algum potencial contato humano. Os wetlands
de fluxo vertical foram particularmente eficazes na redução da carga orgânica para determinar a
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e na promoção da nitrificação, com camadas filtrantes de
areia, a atingirem níveis elevados de remoção da bactéria Escherichia coli (E. coli).

181
3.1 Descentralização do saneamento e gestão de recursos hídricos

A gestão de recursos hídricos tem relação direta com o saneamento ambiental na definição de
políticas ambientais nesta temática. Porém, essa governança de gestão está sendo revisada, em função
de conflitos socioambientais crescentes nas bacias hidrográficas urbanas, comprometendo a qualidade
das águas superficiais e subterrâneas dessas áreas, bem como a saúde da população local.

Sezerino et al. (2015) lembram que apesar das melhorias observadas atualmente com relação ao
acesso aos sistemas de esgotamento sanitário no Brasil, ainda há muito a evoluir para se atingir a
universalização. O tratamento descentralizado de esgotos torna-se imperativo para o atendimento
desta universalização, dado as características das cidades brasileiras e, sobretudo, as comunidades
isoladas e rurais.

Pode ser complementado, ainda, que um sistema coletivo ou individual de tratamento


descentralizado de esgoto sanitário tem seu potencial de aplicação, também, em áreas urbanas onde o
SES não atende.

Por fim, Sezerino et al. (2015) concluíram que a tecnologia dos WC pós TS apresenta-se como uma
alternativa de grande potencial para a promoção da descentralização do tratamento de esgotos, atuando
tanto em nível unifamiliar como coletivo. A Figura 11 apresenta a diferença do tratamento centralizado
do tratamento descentralizado.

Figura 11 – Esquema de tratamento centralizado convencional e verificado em todas as grandes cidades em contraste
ao tratamento descentralizado do esgoto sanitário em comunidades isoladas ou em unidades coletivas desassistidas
pelo poder público.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS E LISTA DE PUBLICAÇÕES PARA CONSULTA

A variedade de WC permite que haja uma diversidade de aplicações. O WCFV é de fato um sistema
eficiente para o tratamento complementar de esgoto sanitário, inclusive o esgoto bruto.

Os sistemas de WC podem ser híbridos com a associação de WCFV e Wetlands Construídos de


escoamento superficial e Fluxo Horizontal (WCFH), além da combinação entre dois WCFV’s.

182
Considerando o sistema francês de tratamento complementar de esgoto sanitário, a partir do uso de
um TS seguido de um sistema de WCFV.

Evidencia-se, portanto, que as finalidades de tratamento de esgoto sanitário bruto a partir do uso
de TS antecedente a um sistema de WCFV são:

 Remoção de nutrientes;

 Remoção de organismos patogênicos;

 Remoção de matéria orgânica; e

 Remoção de sólidos em suspensão.

Como constatado neste Capítulo as formas de layout do WC variam conforme a aplicabilidade e


podem ser evidenciadas na Figura 12 elaborada exclusivamente para este conteúdo e que representa
de forma sucinta um desenho esquemático de um WCFV.

183
Figura 12 – Desenho esquemático ilustrativo de um WCFV.

184
A área para a implementação desse sistema varia com a vazão do efluente sanitário e requer
pequenas dimensões de instalações. O objetivo desse sistema é suprir a necessidade de tratamento
tanto para pequenas unidades familiares quanto para comunidades isoladas e dispersas, ou ainda, para
comunidades urbanas consolidadas sem perspectiva de coleta e tratamento de seu esgoto sanitário
gerado. Uma das vantagens de implantação desse sistema é seu custo baixo de execução e também de
operação.

Os wetlands construídos de fluxo vertical podem ser uma excelente solução para a aplicação em
esgotamento sanitário descentralizado, especificamente, em locais onde o sistema de esgotamento
sanitário não pode alcançar. Neste exato ponto se verifica uma relação direta entre a gestão de recursos
hídricos urbanos e o saneamento ambiental local e regional. Pois, a não interação entre esses
componentes de gestão proporciona efeitos negativos: poluição dos recursos hídricos, não tratamento
efetivo do esgoto sanitário e problemas de saúde coletiva às comunidades atingidas por esse problema.

Salienta-se a importância de se manter atualizado e informado e em função disso a seguir lista-se


a fundamentação técnica para o desenvolvimento desse Capítulo:

• ABNT NBR 7229/1993 - Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos;

• ABNT NBR 13969/1993 - Tanques sépticos - Unidades de tratamento complementar e


disposição final dos efluentes líquidos - Projeto, construção e operação;

• Aplicação de sistemas tipo wetlands no tratamento de águas residuárias: utilização de filtros


plantados com macrófitas, pelos pesquisadores Luiz Sérgio Philippi e Pablo Heleno Sezerino, de 2004;

• Vertical flow constructed wetlands: Eco-engineering systems for wastewater and sludge
treatment, pelos pesquisadores Alexandros Stefanakis, Christos S. Akratos, Vassillios A. Tsihrintzis,
de 2014;

• Manual de projeto de estações de tratamento de esgotos, por Patricio Gallego Crespo, de 2005,
enfatizando sistemas de tratamento para pequenas comunidades, p.253;

• Tratamento de esgotos domésticos, por Eduardo Pacheco Jordão e Constantino Arruda Pessôa,
de 2005, 4ª edição;
• Princípios do tratamento biológico de águas residuárias: Princípios básicos do tratamento de
esgotos, por Marcos Von Sperling, de 1996;

• Vertical Flow Constructed Wetlands: Eco-engineering Systems for Wastewater and Sludge
Treatment. Alexandros Stefanakis, Christos S. Akratos e Vassilios A. Tsihrintzis, de 2014;

• Marcos von Sperling (UFMG) e Pablo H. Sezerino (UFSC). 2018. DIMENSIONAMENTO


DE WETLANDS CONSTRUÍDOS NO BRASIL. DOCUMENTO DE CONSENSO ENTRE
PESQUISADORES E PRATICANTES. Grupo de Estudos em Sistemas Wetlands Construídos
Aplicados ao Tratamento de Águas Residuárias Publicação online Boletim Wetlands Brasil – Edição
Especial – Dezembro/2018 – ISSN 2359-0548. Retirado do site:
<http://gesad.ufsc.br/files/2018/12/Boletim-Wetlands-Brasil-Edi%C3%A7%C3%A3o-Especial-

185
Dimensionamento-de-Wetlands-Constru%C3%ADdos-no-Brasil-von-Sperling-Sezerino-2018-
2.pdf> acessado em dezembro de 2018;

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Victoria The Place To Be. Australia: Melbourne Water. Site correspondente para consultas: <
https://www.melbournewater.com.au/ > acessado em Março de 2019.

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187
188
CAPÍTULO 7
CRISTIANO POLETO

POLUENTES QUÍMICOS
ASSOCIADOS A SEDIMENTOS

189
1 ASPECTOS GERAIS DA POLUIÇÃO DIFUSA ASSOCIADA A SEDIMENTOS EM BACIAS
URBANAS

As cargas de poluição associadas às águas pluviais podem ser significativamente maiores do que
aquelas encontradas nos esgotos domésticos (Deletic et al., 1997). Estas cargas podem causar a
degradação dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, podendo também acarretar sérios
problemas aos sistemas de drenagem e dificultar as atividades tradicionais de tratamento.

A poluição das águas pluviais é um processo complexo que engloba um grande número de
mecanismos físicos de transporte e reações químicas. Segundo Deletic et al. (1997), os fatores
principais que influenciam na acumulação dos sedimentos na superfície são: deposição de poeira,
tráfego, vento e a erosão de áreas não pavimentadas. O carregamento dos poluentes das superfícies é
causado pela precipitação e pelo escoamento superficial, que são etapas que ocorrem acima da
superfície. Sequencialmente, as águas poluídas seguem para os sistemas de drenagem, onde os
seguintes processos podem ocorrer: deposição dos sedimentos no leito da boca de lobo, suspensão dos
sedimentos no fluido ou carreamento dos sedimentos dependendo da taxa de escoamento e do peso da
partícula (Dotto, 2006). Finalmente, as águas escoam para os arroios, rios ou lagos produzindo efeitos
imediatos e cumulativos da poluição.

Existe certa dificuldade na hora de interpretar os resultados obtidos no estudo da poluição difusa
associada a sedimentos urbanos quando se estudam os componentes de forma individual. A razão é,
simplesmente, pelo fato de que alguns dos processos envolvidos na dinâmica não estão interligados
entre si, o que não permite a visão holística da problemática (Charlesworth & Lees, 1999).

Considerando as áreas impermeáveis, os estudos sobre a contribuição das fontes de poluição difusa
utilizam com maior frequência as ruas, as quais se constituem em uma fonte crítica de poluentes em
qualquer local com distintas ocupações do solo, uma vez que a maioria das cargas de poluentes pode
ter origem nas áreas em construção, residenciais, comerciais e de alto tráfego veicular, tal como se
observa na Figura 1 (Nelson & Booth, 2002; Jartun et al., 2008).

190
Figura 1 - Dinâmica de transporte dos sedimentos em zonas urbanas indicando aos corpos de água como receptores
finais dos sedimentos depositados em áreas impermeáveis.
Adaptado de: Taylor (2007)

As concentrações de poluentes nas vias e ruas são geralmente superiores às que ocorrem em áreas
comuns e residenciais. Os poluentes mais comuns encontrados são: óleos, combustíveis, poeira e areia
(Martinez e Poleto, 2010). Adachi & Tainosho (2004) sugerem que resíduos produzidos pelo desgaste
de pneus em superfícies impermeáveis atingiram aproximadamente 5.3 x 107 kg no Reino Unido, 2.1
x 108 kg em 2001 no Japão e na Alemanha um valor médio entre 55 a 657 kg.km-1. ano-1. Esta grande
quantidade de resíduos é considerada como uma fonte potencial de partículas de sedimentos em
ambientes urbanos.

O processo de acumulação pode ser quantificado diretamente pela coleta dos sedimentos das
superfícies sob as condições de controle previamente definidas. Outra alternativa é a estimativa
indireta através de modelagem matemática ou análise estatística das cargas encontradas no
escoamento. Não é possível a medição diretamente no escoamento, uma vez que as cargas encontradas
no escoamento são resultantes do efeito integrado dos processos de acumulação e carregamento. A
acumulação em superfícies impermeáveis pode ser descrita como um processo de equilíbrio dinâmico
agindo entre a deposição e a remoção em um ponto e entre as áreas de contribuição ou não. O processo
de acumulação é mediado pelo vento natural e pelo vento induzido, através do tráfego de veículos e
é, principalmente, um processo característico de períodos secos.

A presença de metais em sedimentos urbanos está influênciada por fatores inerentes às


características das partículas de sedimentos (sitios de troca iônica, área específica, distribuição de
tamanhos de partícula, presença de óxidos de ferro), propriedades dos metais (complexação e
reatividade química) e condições ambientais atuantes, como potencial redox e pH (Charlesworth &
Lees, 1999; Robertson et al., 2003; Poleto & Castilho, 2008).

191
Muitos destes processos ocorrem normalmente dentro das bocas de lobos, onde o tempo de
residência dos sedimentos em contato com a água aumenta mudando assim as condições ambientais
do meio onde interagem os sedimentos.

Em condições de baixa vazão, as partículas mais grossas sedimentam e as mais finas continuam o
percurso com a água. Em condições de chuva, a turbulência dentro da boca de lobo limita a
sedimentação de partículas e também facilita a resuspensão de outras partículas, provocando
mudanças físicas nas partículas. Em condições donde não existe vazão nenhuma, tomam lugar reações
bioquím5icas (ação de bactérias), gerando alguns produtos gasosos como metano (CH4) e amônia
(NH4). O ambiente interno torna-se redutor devido à diminuição da concentração de O2. Nestas
condições incrementa-se o nível de poluentes nas bocas de lobo os quais impactam cursos d´água
quando novamente se apresenta uma vazão dentro da boca de lobo.

Os sedimentos podem apresentar associações entre partículas formando agregados. Partículas em


suspensão na água dos rios, lagos e mares são constituídas, normalmente, por minerais e substâncias
orgânicas pertencentes às frações denominadas areia, silte e argila, que se originaram de áreas da
crosta-terrestre sensíveis à erosão. Por este motivo, as partículas presentes no sedimento se constituem
de tamanho, forma e natureza mineralógica variada, mas concordante com o tipo de material que as
originaram (Bortoluzzi & Poleto, 2006).

Em áreas urbanas, ocorre um grande aporte de matéria orgânica proveniente do lançamento de


esgoto clandestino. Por último, partículas de origem antropogênica presentes em grandes quantidades
em ambientes urbanos (formadas por partículas de vidro, partículas metálicas, resíduos de processos
industriais e da construção civil), apresentam propriedades químicas e mineralógicas diferentes das
partículas de sedimentos de fontes naturais, portanto, interagem de forma diferente dentro do ambiente
(Poleto, 2007; Taylor, 2007).

Um componente importante dos sedimentos de origem antropogênica, ausentes durante o período


pré-industrial, são os poluentes, os quais incluem metais pesados, elementos inorgânicos, nutrientes e
compostos orgânicos, os quais podem ser de origem natural ou antropogênicas, com alta
predominância desta última (Sutherland, 2003; Poleto, 2007). Em geral, uma partícula de sedimento
pode estar composta por:

 Água intersticial que preenche os espaços entre as partículas, equivale a cerca de volume
50% do sedimento;

 Material inorgânico, rochas, fragmentos de conchas e grãos resultantes da erosão natural do


material da crosta terrestre;
 Material orgânico que ocupa pequeno volume, mas é um componente importante devido à
característica de sorção e biodisponibilidade de muitos contaminantes;

 Materiais e/ou resíduos sólidos de origem antrópica.

192
A composição dos sedimentos em bacias rurais depende da natureza física, por exemplo, da
geologia e do tipo de solo, e do manejo da superfície dentro da bacia (Goodwin et al., 2003). Segundo
Norra et al. (2006), as características minerais e geoquímicas dos solos urbanos refletem o material
parental do solo, minerais pedogenéticos, deposições atmosféricas e compostos antropogênicos do
solo, como resíduos da construção, da indústria e domésticos.

A dinâmica dos poluentes em relação às partículas de sedimentos é controlado por atributos físicos,
químicos e mineralógicos que definem suas diversas formas químicas (solúvel, precipitado,
complexado e adsorvido). A retenção de cátions metálicos nestas partículas frequentemente se deve à
capacidade de troca catiônica (CTC), a seletividade do metal, a concentração de outros cátions, ao pH
e a atividade iônica da solução.

Os processos de adsorção/dessorção são controlados pelo pH, potencial redox, força iônica, íons
competidores e pelos constituintes das partículas (orgânicas e minerais), sendo a importância relativa
desses fatores diferente para os diversos metais e condições físicas e químicas do sistema
(McBride,1994).

Contudo, o aumento da adsorção dos metais pesados nos sedimentos ocorre porque os
argilominerais, óxidos hidratados e matéria orgânica apresentam uma superfície de carga que é pH
dependente. Com o aumento do pH, a carga superficial e o potencial ficam mais negativos. As
constantes de estabilidade metal-sedimento-matéria orgânica aumentam com o pH devido ao aumento
da ionização de grupos funcionais da matéria orgânica, especialmente COOH. Em resposta a isso, a
adsorção de cátions metálicos aumenta (Spark, 1995).

Sposito (1989) propõe que os processos de adsorção sejam considerados como reações de
complexação entre íons na solução e grupos funcionais de superfície (Teoria de Complexação de
Superfície), produzindo um plano bidimensional na interface sólido-líquido, compreendendo: I)
complexos de esfera interna (não há molécula de água entre os grupos funcionais de superfície e o
íon); II) complexos de esfera externa (há molécula de água entre os grupos funcionais de superfície e
o íon) e III) enxame de íons difusos (não há contato direto do íon solvatado com os grupos funcionais
de superfície).

Os complexos de esfera externa são constituídos por interações eletrostáticas fracas em comparação
com as ligações iônica ou covalente nos complexos de esfera interna. Os complexos de esfera externa
geralmente são regulados por equilíbrios estequiométricos rápidos, reversíveis e com alguma
seletividade. Quanto maior a valência do elemento, maior a atração pelos sítios de troca e, dentro de
uma mesma série de valência, quanto maior a esfera de solvatação (raio de hidratação) menor é a
atração (Sposito, 1989).

A complexação de esfera interna é usualmente um processo mais lento e frequentemente não


reversível e a adsorção por esse mecanismo é pouco afetada pela força iônica da solução do sedimento.
Assim, este tipo de reação é fundamental na retenção dos metais ao longo do tempo, especialmente
para formação de complexos orgânicos estáveis (Sparks, 1995).

193
Alguns estudos têm demonstrado que os metais pesados estão predominantemente associados à
fase sólida das partículas. As formas solúveis e trocáveis representam menos que 10% do teor total de
metais, sendo mais comuns valores de 1 a 3%, independentemente do tipo de solo (Sposito, 1989).
Entretanto, algumas partículas desenvolvidas a partir de materiais de origem ricos em metais, bem
como contaminadas, apresentam entre 30 e 60% dos metais pesados ocorrendo facilmente em formas
lábeis. Assim, o comportamento dos metais pesados irá depender do teor de matéria orgânica, dos
teores de óxidos de ferro, alumínio e manganês, dos tipos e concentrações dos minerais de argila, da
capacidade de troca de cátions, da agregação, da umidade, entre outros.

Em áreas urbanas, quantidades significativas de partículas antropogênicas são emitidas na


combustão de derivados do petróleo pelos setores da indústria, transporte e em alguns casos pelas
chaminés do setor residencial. A abrasão dos freios de veículos e a erosão das vias de asfalto também
geram partículas antropogênicas (Robertson et al., 2003; Kim et al., 2007). Entre as diferentes
partículas antropogênicas, aquelas que contem partículas de ferro (partículas magnéticas) representam
entre o 5 – 15% do total. Estas partículas normalmente estão correlacionadas com a concentração de
metais pesados (Charlesworth & Lees, 1999; Robertson et al., 2003). No microscópio eletrônico, as
partículas antropogênicas apresentam uma textura áspera e estão agrupadas dentro de formas esféricas
e em agregados (Figura 2); as propriedades magnéticas destas partículas são outorgadas pelo Fe3O4
(Robertson et al., 2003; Taylor, 2007).

Figura 2 - Fotografia em microscópio eletrônico de partícula magnética e de um agregado derivado da abrasão do


sistema de freios. Amostras extraídas de poeira acumulada em uma rua da cidade de Seul, Coréia.
Fonte: Kim et al. (2009)

Em relação com as fontes antropogênicas, a combustão produz esférulas magnéticas e os


agregados, entanto que a abrasão/corrosão aporta somente os agregados de partículas magnéticas (Kim
et al., 2009). Na Europa, partículas magnéticas antropogênicas são principalmente derivadas da
combustão em veículos. Nas cidades do leste asiático, as maiores fontes são as emissões industriais
(Robertson et al., 2003; Kim et al., 2009).

194
Além de metais pesados, resíduos de combustão veicular e industrial e partículas originarias da
erosão de superfícies asfálticas, o esgoto não tratado combinado com águas pluviais aumenta ainda
mais o nível de poluentes orgânicos e inorgânicos em sedimentos urbanos (ruas e corpos de águas
urbanos) (Charlesworth & Lees, 1999; McCalister et al., 2000; Poleto & Castilho, 2008). Poluentes
como ácidos oxálicos e úricos e seus subprodutos, particularmente oxalatos, tem sido encontrados nos
sedimentos urbanos. Cabe salientar que a exposição a altos níveis de oxalatos podem impactar a saúde
humana, sobretudo desordens nos rins, olhos e pele.

McCalister et al. (2000), encontraram na fração coloidal de sedimentos coletados nas ruas da cidade
de Niterói (RJ), Brasil; cargas de oxalato de cálcio de 43601, 4519, 17477 mg kg-1 em amostras
coletadas em áreas urbanas industriais, áreas suburbanas e favelas, respectivamente. As concentrações
de oxalato coincidem com altos níveis de metais como o Fe, Mn, Zn, Pb, Ni e Cr, os quais promovem
a estabilização do oxalato de cálcio dihidratado e evita sua desidratação ao monohidrato. Os autores
apontam a que os altos níveis de oxalato estão associados à quantidade de esgotos nas ruas e que estes
compostos são estabilizados nos sedimentos das ruas tanto pela urina como por metais pesados.

2 INFLUÊNCIA DO TAMANHO DA PARTÍCULA NO TRANSPORTE DE POLUENTES NOS


SEDIMENTOS.

É útil considerar os diferentes componentes e formas de sedimentos e como estas afetam o


comportamento, função e gestão. O material que está na forma sólida, é geralmente distinguido
daquela que se encontra em solução. O limite entre os dois é muitas vezes definido em 0,45 µm,
embora esta seja uma forma arbitrária limite definida e determinada por procedimentos de análise
laboratorial. O material coloidal é frequentemente ignorado, mas representa partículas ultrafinas,
geralmente dentro da gama de 0,001-1 µm. Enquanto ao material coloidal, pode representar uma
proporção relativamente pequena de transporte ou deposito de sedimentos, o que é provável que seja
importante em termos de transporte de contaminantes (Owens, 2008).

A distribuição do tamanho das partículas é um parâmetro fundamental para a caracterização de


materiais heterogêneos. Técnicas granulométricas são empregadas para a caracterização de materiais
com diversas origens, como industriais, fármacos, químicos, alimentares, como também em solos e
sedimentos (Bortoluzzi & Poleto, 2006). Em sedimentos, a análise do tamanho das partículas auxilia
os estudos sobre agregação de partículas, transporte de sedimentos em rios, dissolução de partículas
finas (Stumm & Morgan, 1996) e análises de fontes de sedimentos urbanos (Banerjee, 2003;
Sutherland, 2003; Charlesworth et al., 2003; Duzgoren-Aydin et al., 2006; Jartun et al., 2008;).

A separação de um material heterogêneo em quatro classes é a mais comum para fins de


classificação da distribuição do tamanho de partículas. Para sedimentos, normalmente separam-se as

195
seguintes frações: cascalho (> 2 mm), areia (0,063 mm – 2 mm), silte (2 – 63 µm) e argila (< 2 µm).
Porém, as classes podem ser subdividas tal e como se apresenta na

Tabela 7.

Para efetuar a descrição adequada de um sedimento, torna-se necessário proceder a uma análise
pormenorizada, utilizando classes granulométricas com pequena amplitude. Quanto menor for à
amplitude das classes, melhor é a descrição da variabilidade dimensional das partículas que
constituem o sedimento. Classicamente, a granulometria dos sedimentos muito grosseiros (cascalhos,
seixos, balastros, etc.) é efetuada medindo (ou pesando) individualmente cada um dos elementos e
contando-os. Contudo, para sedimentos mais finos (cascalhos finos, areias), tal forma de mensuração
não é prática, sendo nas areias muito difícil e extremamente morosa e, praticamente, impossível nos
siltes e argilas. Para estes sedimentos, a análise clássica recorre à separação mecânica em classes
dimensionais e à determinação da sua massa.

Tabela 7 - Classes de tamanho de partículas para caracterização de amostras de sedimentos

FRAÇÃO CLASSES
AREIA 2 – 0,05 mm
Muito grossa 2–1
Grossa 1 – 0,5
Mediana 0,5 – 0,25
Fina 0,25 – 0, 125
Muito fina 0,125 – 0,063
SILTE 0,063 – 0,002 mm
Grosso 0,063 – 0,0156
Médio 0,0156 – 0,0078
Fino 0,0078 – 0,0039
Muito fino 0,0039 – 0,002
ARGILA < 0,002 mm

Adaptado de: Mudroch & Azcue (1995)

Em termos de pesquisas associadas ao transporte de poluentes, os resultados são diversos.


Charlesworth & Lees (1999) relatam que é importante definir a distribuição de metais pesados nos
sedimentos coletados em ruas em termos dos processos fonte-transporte-armazenamento através da
análise granulométrica. Normalmente, consideram-se partículas < 2 mm, como aquelas que são
transportadas como cargas suspensas em típicos cursos de águas urbanos, e as partículas < 63 µm,
representativas dos sedimentos que são acumulados em lagos e que estão associados com a adsorção
de metais pesados (Sutherland, 2003).

196
A definição da distribuição granulométrica dos sedimentos propagados no sistema de drenagem até
o corpo receptor é considerada um elemento importante no entendimento do processo e
desenvolvimento de projetos adequados dos componentes do sistema de drenagem, uma vez que se
podem definir as granulometrias propagadas até o corpo receptor e as partículas que ficam retidas nas
bocas de lobo (Dotto, 2006).

Embora a distribuição de partículas seja importante na análise de resultados deste tipo de estudo,
esta não se constitui em uma fonte única de explicação dos fenômenos de sorção de metais em
sedimentos, basicamente pelo fato de que as partículas de sedimentos não estão isoladas do ambiente
urbano, e estão governadas por fatores físicos (topografia, direção do vento, escoamento superficial)
e por fatores microambientais (pH, estrutura química da superfície impermeável, potencial redox).

Duzgoren-Aydin et al. (2006), fazem referência a este fator no seu estudo, onde obtiveram
concentrações diferentes de metais em amostras coletadas em ruas de uma mesma área. As explicações
dos resultados apontam à influência da frequência de limpeza das superfícies, quer dizer, o sedimento
ficava muito mais tempo acumulado, circunstância que facilitava a interação entre os metais presentes
nos sedimentos e as condições ambientais do meio onde se encontravam.

Charlesworth et al. (2003), conclui que os resultados obtidos na comparação de distribuição de


metais pesados entre as cidades de Birmigham e Coventry, UK, apresentam uma margem de incerteza
devido ao desconhecimento do histórico do tempo de residência dos sedimentos nos locais
amostrados.

Em termos granulométricos, consideram-se sedimentos com propriedades adsorventes aqueles


cujos diâmetros são inferiores a 63 μm, cuja capacidade de adsorção aumenta na medida em que a
dimensão da partícula diminui (Horowitz et al., 2001; Horowitz, 2009).

Portanto, pode-se concluir que qualquer projeto que vislumbre o controle ou remediação de
poluentes aquáticos, bem como o seu aporte via redes de drenagem urbana, precisam necessariamente
levar em consideração uma separação ou a retenção, pelo menos de parte, desses sedimentos de
granulometria fina (fração tamanho argila).

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199
200
CAPÍTULO 8
CRISTHIANE MICHIKO PASSOS OKAWA
ANTÔNIO CARLOS ZUFFO
CASSIANO SAMPAIO DESCOVI
CRISTIANO POLETO

GESTÃO PARTICIPATIVA DE RECURSOS


HÍDRICOS EM ÁREA DE MANANCIAL: ESTUDO
DE CASO USANDO MAPEAMENTO COGNITIVO

201
A promulgação da Lei Federal n° 9433 de 8 de janeiro de 1997, também conhecida como Lei das
Águas, foi um marco político e técnico da gestão dos recursos hídricos no Brasil. Nessa lei foi
instituída a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e foi criado o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH). Em seu artigo 1°, inciso V preconiza que a bacia
hidrográfica seja a unidade territorial para implementação da PNRH e, no inciso VI, que a gestão dos
recursos hídricos seja descentralizada e participativa, com as esferas do Poder Público, dos usuários e
das comunidades (BRASIL, 1997, CALIJURI, CUNHA, POVINELLI, 2010; ZUFFO & ZUFFO,
2016).

Para promover a descentralização da gestão, a Lei instituiu a criação de uma estrutura denominada
Comitê de bacia hidrográfica, com caráter deliberativo e formado pelas três vertentes (Poder público,
usuários e comunidades). O Comitê é um órgão colegiado, que possui um regimento interno e que
deve promover reuniões plenárias, com quórum e ata para validação das decisões. Os recursos
porventura interpostos contra decisões do Comitê são julgados pelos Conselhos Estaduais de Recursos
Hídricos (para os casos de rios estaduais) ou pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (para os
casos de rios federais).

No entanto, embora a PNRH estabeleça claramente quais são as atribuições dos Comitês de bacia
hidrográfica, a operacionalização para implantação e funcionamento dos comitês não é simples. Por
exemplo, no estado do Paraná, embora atualmente tenhamos nove comitês em funcionamento, apenas
dois possuem planos de recursos hídricos completos e aprovados. Sem a implantação dos planos de
recursos hídricos, os comitês não podem instituir a cobrança pelo uso da água e, portanto, não
alcançam sua independência financeira para promover uma gestão descentralizada dos recursos
hídricos de maneira eficiente.

Outro aspecto muito importante na gestão dos recursos hídricos diz respeito ao fato de que a Lei
das Águas divide os rios em estaduais e federais e os órgãos públicos gestores legislarão sobre aqueles
rios de suas competências. No entanto, a legislação sobre o uso e ocupação do solo ainda permanece
com os municípios por onde os rios passam e o impacto dos diferentes usos e ocupações do solo
permitidos por cada município, sobre um determinado rio, é enorme e interfere diretamente no trecho
a jusante.

202
Portanto, independente do funcionamento do comitê local de bacia hidrográfica, ações e
mobilizações podem ser realizadas para que se promova a gestão participativa das partes interessadas
para a resolução de algum problema local, relacionado à gestão dos recursos hídricos.

Nesse contexto, esse capítulo tratará sobre o estudo de caso da cidade de Mandaguari, na região
noroeste do estado do Paraná. O problema local é a ocupação da área de manancial que abastece a
cidade, por produtores rurais e por loteadores interessados na ocupação dessa área por loteamentos
residenciais com grande aglomeração de pessoas. A proposta de trabalho foi a realização de uma
Conferência de Diálogo, de duas manhãs de duração, convidando as partes interessadas para a
discussão do problema, usando mapeamento cognitivo como auxílio à identificação dos principais
aspectos a serem considerados pelo(s) decisor(es).

1 USO DO SOLO E TIPO DE OCUPAÇÃO EM ÁREAS DE MANANCIAL EM AMBIENTE URBANO

Quando se pretende ocupar as áreas de mananciais de abastecimento público com loteamentos


residenciais, alguns cuidados devem ser considerados para a conservação do recurso hídrico: realizar
a coleta, transporte e disposição adequada dos resíduos sólidos gerados, realizar a coleta e a descarga
das águas pluviais de forma apropriada e realizar a coleta e descarga do esgoto sanitário doméstico,
com ou sem o devido tratamento.

A gestão dos resíduos sólidos engloba a fiscalização dos resíduos da construção civil (RCC), que
possui legislação própria e é de responsabilidade do gerador do resíduo. Algumas legislações
referentes aos RCC são: a Resolução CONAMA nº 307/2002, que estabeleceu diretrizes, critérios e
procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil e suas alterações; e a Lei Federal n°
12.305/2010, que instituiu Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

De acordo com a Resolução CONAMA nº 307/2002, os RCC são caracterizados como resíduos
provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os
resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto
em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa,
gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente
chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha (CONAMA, 2002). Salienta-se, nessa Resolução,
o incentivo às práticas de reutilização, reciclagem e reaproveitamento dos RCC.

A PNRS é um instrumento muito importante, principalmente ao estabelecer a obrigatoriedade da


elaboração dos Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos municipais, estaduais e nacional, além
de incentivar a prevenção e a redução da geração de resíduos e estabelecer a responsabilidade
compartilhada (BRASIL, 2010).

203
Com relação ao manejo das águas pluviais, a impermeabilização do solo, decorrente da construção
de edificações, aumenta o volume e a velocidade do escoamento superficial, o que provoca erosão e
assoreamento nos corpos d’água. Esse é o principal impacto decorrente da construção de loteamentos
em áreas de manancial, pois a mitigação desse impacto não é trivial. Embora existam muitas técnicas
compensatórias, nem sempre elas são suficientes para manter as águas pluviais com volume e
velocidades adequados para prevenir a erosão e assoreamento nos rios onde são descarregadas.

Já com relação ao esgotamento sanitário doméstico, a porcentagem de domicílios atendidos por


rede coletora no Brasil foi de cerca de 65% em 2015 (ABES, 2016). Em áreas de manancial, a
construção de fossas sépticas é uma alternativa até que se construa a rede coletora de esgoto, no
entanto, deve-se considerar que muitas vezes os construtores civis não constroem fossas sépticas de
maneira adequada, conforme as recomendações técnicas, substituindo-as pelas fossas negras, que não
possuem os dispositivos necessários para o correto tratamento do esgoto e posterior deposição no solo.
Isso é um aspecto grave, pois a construção de fossas negras provoca poluição do solo e pode
contaminar o corpo hídrico.

Outro tipo de ocupação é a instalação de indústrias na área de manancial. Nesse caso, os resíduos
sólidos, as águas pluviais e o esgotamento sanitário são responsabilidades do empreendedor, porém,
o órgão gestor que concedeu a licença para implantação deve fiscalizar se o manejo e a gestão estão
acontecendo de maneira adequada.

2 ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO MUNICIPAL ESPECÍFICA

O uso e ocupação do solo em áreas de mananciais devem ser criteriosamente estabelecidos em


legislação municipal específica, especialmente elaborada para essa finalidade. Usualmente, as
prefeituras especificam suas legislações de parcelamento do solo e de uso e ocupação do solo, mas
sem especificar quais as diretrizes a serem obedecidas nas áreas de mananciais de abastecimento
público de água potável.
O problema é ainda maior nos municípios que não possuem essas legislações nem Plano Diretor,
situação comum em municípios pequenos, com menos de 20.000 habitantes. Esses municípios
enfrentam a falta de mão de obra especializada para conduzir os estudos necessários à elaboração do
Plano Diretor e elaboração de legislação, o que impossibilita até mesmo a solicitação de recursos
federais para a contratação de empresa especializada por meio de licitação. Pois ainda que se contrate,
quem fiscalizará os serviços executados pela empresa?

Por outro lado, municípios que possuem Plano Diretor e legislações específicas de uso e ocupação
do solo também encontram dificuldades em estabelecer diretrizes de sustentabilidade em área de
manancial, pois existem muita discussão e estudos de caso de como resolver os problemas após
instaurados, mas não de como preveni-los.

204
Além das legislações, uma política de educação ambiental bem delineada e implementada nas
escolas associada a campanhas de esclarecimento e sensibilização da população também são
primordiais para a conservação das áreas de manancial em ambiente urbano.

Embora essas sejam ações de longo prazo, elas devem ser constantes, bem planejadas e bem
executadas, a fim de se obter sucesso. Essa continuidade nas campanhas e na implementação da
política de educação ambiental é uma dificuldade a ser enfrentada, pois os mandatos municipais são
de 4 anos e este é um tempo bastante curto para alcançar resultados significativos na educação
ambiental. A continuidade dos trabalhos deve ser estimulada entre as trocas de governos, até que seja
incorporada à cultura da população.

3 MAPEAMENTO COGNITIVO

O mapeamento cognitivo tem uma natureza subjetiva, o que é ideal em estudos ambientais, onde
nem sempre é possível quantificar os parâmetros em termos cardinais. Apesar dessa natureza
subjetiva, o mapeamento cognitivo é uma ferramenta eficaz para estruturar problemas complexos pois
os simplifica, ao estimular o diálogo entre os participantes do processo decisório, facilitar a
organização dos resultados da discussão e apresentar-se como um objeto visual de fácil entendimento
(EDEN e ACKERMANN, 2004, WOOD et al., 2012).

Na fase de estruturação do mapa cognitivo, essa técnica auxilia no raciocínio dos participantes e
promove o diálogo entre eles, ainda que por vezes esse diálogo se transforme em uma calorosa
discussão, pois os conflitos de interesses são evidenciados. Permite ainda que se tenha uma visão
holística do problema, pois diferentes pontos de vista são explorados. Assim, a gestão de um problema
ambiental complexo e a resolução dos conflitos de interesses se torna mais fácil, devido ao processo
de negociação estabelecido entre os participantes durante as conferências de decisão (HJORTSØ et
al., 2005, CANAS, FERREIRA e MEIDUTĖ-KAVALIAUSKIENĖ, 2015).

Salienta-se que, ainda que se busque o consenso durante as discussões, nem sempre ele é alcançado.
Quando se tem uma proposta contra a outra, os próprios participantes podem definir de que maneira
se interpretarão os resultados das votações: a proposta que alcançar a maioria simples dos votos é
considerada vencedora? Ou precisará alcançar dois terços dos votos? Dessa forma, embora nem
sempre se alcance o consenso, será obtida a decisão de maior comprometimento.

Fantinatti, Zuffo e Argollo (2015) descrevem como desenhar o mapa cognitivo, conforme Figura
1. O primeiro nível do mapa diz respeito ao Rótulo ou Objetivo Fundamental a ser atingido. O segundo
nível é o critério ou Objetivo Fim. Nesse nível, deve-se pensar na razão de se considerar esse critério
importante para alcançar o rótulo (Por que é importante?). O terceiro nível é Objetivo Meio. Nesse
nível, deve-se pensar de que forma se consegue medir ou controlar o critério (Como alcançar?).

205
Figura 1 - Exemplo de representação de mapa cognitivo.
Fonte: Adaptado de Fantinatti, Zuffo e Argollo (2015)

4 ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE MANDAGUARI, PARANÁ

Nos dias 5 e 6 de junho de 2018, foi realizado o “Diálogo sobre a área de manancial do Ribeirão
Caitu”, promovido pelo Observatório das Metrópoles da Universidade Estadual de Maringá, com o
apoio da Prefeitura Municipal de Mandaguari.
A Promotoria de Justiça, em conjunto com a Prefeitura, promoveu uma grande mobilização das
partes interessadas, de forma a abranger participantes de diversos segmentos e que representassem
diferentes visões. Estiveram presentes órgãos gestores, como Instituto das Águas do Paraná,
ADAPAR, EMATER, a concessionária responsável pelo abastecimento público de água potável
(SANEPAR), representantes de sindicatos, loteadores, produtores rurais, vereadores, secretários de
diversas secretarias da Prefeitura, o Promotor Público, entre outros.

No tópico 1.5.1, a seguir, será apresentada uma caracterização da área de estudo com os principais
problemas enfrentados na área de manancial e os resultados obtidos nos dois dias do evento.

206
4.1 Caracterização da área de estudo

Mandaguari está situada a uma altitude de 720 metros acima do nível do mar (coordenadas
geográficas de latitude de 23º 32’ 52”Hemisfério Sul e longitude de 51º 40’ 15” Oeste do Meridiano
de Greenwich), no norte paranaense, e faz parte da região metropolitana de Maringá, composta por
uma área territorial de 335,814 km². Possui uma população para o ano de 2018 de 34.281 habitantes
(IBGE, 2018), sendo a grande maioria residente na área urbana. Na Figura 2, observa-se a localização
de Mandaguari no Brasil e no estado do Paraná.

Dentro do município de Mandaguari destaca-se a bacia hidrográfica do ribeirão Caitu, mostrada na


Figura 3. Este ribeirão é manancial de abastecimento público de água para a região urbanizada do
município e responsável pela maior parte do abastecimento de água. A região apresenta certa
proximidade à área urbanizada e dentro da bacia de manancial estão localizados empreendimentos
públicos como o horto florestal, cemitério, praças, além de empreendimentos particulares como
hospital e postos de combustíveis. Dentro dessa área estão localizados 11 bairros de Mandaguari,
sendo esses bairros responsáveis por aproximadamente 20% da população e 10% da área urbanizada.
A bacia de manancial apresenta uma boa conservação de sua área de proteção permanente APP em
toda bacia de manancial (BOSSO, 2016).

Figura 2 - Localização do município de Mandaguari, PR.

207
Figura 3 - Bacia hidrográfica do ribeirão Caitu, manancial de abastecimento público de água potável do município de
Mandaguari, PR.

4.2 Elaboração do mapa cognitivo para a área de manancial do Ribeirão Caitu

Os trabalhos no dia 05 de junho tiveram início com uma apresentação de boas vindas realizada pelo
Prefeito Romualdo Batista que, em seguida, passou a palavra para o Eng. Alex Simões Bosso, assessor
do prefeito, que contextualizou a situação da área de manancial, apresentando alguns pontos
importantes tais como legislação municipal pertinente, problemas atuais e planos futuros da
concessionária de saneamento (SANEPAR).

Em seguida, a palavra foi passada para a moderadora, que iniciou a aplicação da metodologia, com
uma apresentação sobre as premissas e sobre os trabalhos a serem realizados nesse primeiro dia.

A primeira tarefa dada ao grupo ali reunido foi definir o objetivo do problema a ser discutido,
conhecido como rótulo. Dentre as alternativas apresentadas, foram sugeridas pelos participantes: 1.
Proteção integral da área de manancial; 2. Compatibilizar a preservação do manancial com o
desenvolvimento. Foi solicitado a todos os participantes que escolhessem uma das duas alternativas,
de forma anônima, para ser discutida nos dois dias do evento e que anotassem a alternativa escolhida
em um papel. Os papéis foram recolhidos e contabilizados, apresentando o seguinte resultado:
alternativa 1 – proteção integral do manancial recebeu 10 votos; alternativa 2 – compatibilizar a
preservação do manancial com o desenvolvimento recebeu 11 votos. A votação para a escolha do
rótulo foi extremamente apertada, o que evidencia a presença de participantes interessados em uma
gestão mais agressiva da área de manancial em conflito com participantes preocupados com a
conservação da área.

208
Esse resultado torna evidente a importância da participação efetiva de diferentes grupos com
interesses conflitantes e de uma mobilização eficaz, pois a mobilização direcionada poderia viciar o
resultado, não sendo representativa da realidade.

Como o número de votantes na alternativa 2 foi superior à alternativa 1, ainda que por apenas um
voto, o rótulo escolhido foi “Compatibilizar a preservação do manancial com o desenvolvimento”.

A partir deste rótulo escolhido, os participantes foram encorajados a pensar em parâmetros/critérios


considerados essenciais para atingir o rótulo, considerando as vertentes “ambiental”, “econômico”,
“social”.

Foram distribuídos papeis para que cada participante escrevesse livremente as palavras chave
consideradas importantes para atingir o rótulo escolhido. Após perceber que os participantes pararam
de escrever, recolhemos os papeis e tentamos separar de acordo com cada vertente (ambiental,
econômico, social). No entanto, os participantes escreveram critérios que abrangeram vertentes mais
específicas, que foram definidas como: Ambiental, Legislação, Parcelamento e uso e ocupação do
solo. Curiosamente, nenhuma palavra chave foi sugerida que pudesse ser inserida na vertente
“Econômica”.

Salienta-se que no âmbito “Legislação” poderia ser englobada tanto na vertente Ambiental quanto
na Social, mas as sugestões foram extremamente específicas; portanto, os participantes optaram por
denominar essas sugestões de “Legislação”. Da mesma forma, Parcelamento e uso e ocupação do solo
poderia ser englobada na vertente Ambiental ou Legislação, mas novamente muitas sugestões
específicas sobre o tema foram realizadas e foi escolhido denominar essa vertente dessa forma. Esta
ambiguidade evidencia que as palavras chave se interconectam entre as diferentes vertentes temáticas
em um processo de estruturação de problemas, uma vez que estão relacionados ao nível mais básico
da construção das linhas de argumentação.
Os participantes foram instruídos a de que maneira desenhar o mapa cognitivo e foram separados
em 4 grupos: dois grupos para a vertente Ambiental, pois o número de critérios apontados pelos
participantes foi muito elevado, um grupo para a vertente Legislação e um grupo para a vertente
Parcelamento e uso do solo.
Os participantes foram orientados a discutir, nos grupos, todos os critérios definidos nos papeis e a
desenhar o mapa considerando: o critério, o motivo de o porquê aquele critério é importante/essencial
e como medir o critério. A discussão ocorreu livremente, com acompanhamento por parte dos
monitores. Esse acompanhamento teve por objetivo não deixar a discussão se dispersar dos critérios
estabelecidos nos papeis e auxiliar na elaboração do mapa cognitivo. Não houve participação ativa na
discussão de maneira a influenciar os participantes, apenas o direcionamento para manter o foco nas
palavras chave para todos os participantes, por causa do limitado tempo disponível para a discussão.
Após a definição dos mapas cognitivos em cada grupo, os participantes foram dispensados.

No período da tarde, os mapas cognitivos foram estruturados usando o programa computacional


VUE. Todos os papeis com as palavras chave foram conferidos e aqueles que não haviam sido

209
discutidos pelos grupos foram inseridos no mapa cognitivo, para discussão no segundo dia do evento.
Os mapas cognitivos por vertente, decorrente deste pós-processamento, são muito grandes para serem
aqui apresentados e foram transformados em Quadros (Quadros 1, 2, 3 e 4). O nível mais elevado do
mapa cognitivo diz respeito ao Rótulo ou Objetivo a ser atingido, ou seja, “Compatibilizar a
preservação do manancial com o desenvolvimento”. Mais abaixo, encontra-se a vertente considerada;
no caso do Quadro 1 é a vertente Ambiental (“Aspectos Ambientais”). O terceiro nível mais baixo é
definido pelos conceitos mais básicos do problema, que são os descritores, ou melhor, aquilo que se
considera essencial ou muito importante para se atingir o rótulo; por exemplo, controlar a
contaminação por agrotóxico. Nesse nível, deve-se pensar na razão de se considerar esse critério
importante (Por que é importante?). O quarto e último nível define a forma de medir ou controlar o
critério (Como medir?); no caso de controlar a contaminação por agrotóxico, o grupo sugeriu análise
periódica por amostragem da qualidade da água no ribeirão.

Quadro 1 - Descrição do mapa cognitivo referente à vertente Ambiental – grupo 1 – decorrente de


discussão em grupos realizada no primeiro dia
Rótulo: Compatibilizar a preservação do manancial com o desenvolvimento
Vertente: Ambiental
Candidatos a critério Como medir?
Controlar a contaminação por Amostra da qualidade da água
agrotóxico
Destinação de resíduos de construção Recibos de destinação no Habite-se
civil
Promover o controle e fiscalização da Criar diretoria de Fiscalização dentro da Secretaria de Meio
poluição Ambiente
Monitorar a situação já instalada Monitoramento
Promover a educação ambiental Equipe de Educação Ambiental Permanente na Prefeitura
Implantar rede coletora de esgoto na Seguir o Plano Municipal de Saneamento Básico (80% de esgoto
área de manancial coletado até 2022)
Porcentagem de área permeável, Fiscalização por geoprocessamento
Preservação da mata ciliar Fiscalização por geoprocessamento
Compactação do solo Monitoramento da turbidez
Localização atual do cemitério Estudo da alteração do local

No Quadro 1, observa-se que os participantes não especificaram a maneira de medir o candidato a


critério da forma correta, embora tenham especificado diretrizes de como monitorar os candidatos a
critério. Um candidato a critério precisa ser mensurável para ser considerado um critério; portanto,
essa questão foi abordada novamente no segundo dia de trabalho.

210
O segundo grupo que discutiu a vertente Ambiental produziu o Quadro 2, no qual se observa que,
novamente, os participantes tiveram dificuldades de mensurar os critérios, comentando mais sobre a
importância do critério do que sobre a maneira de controlar/medir-los. Percebe-se ainda que alguns
critérios são redundantes com aqueles estabelecidos pelo grupo anterior, mas essa consistência será
realizada no segundo dia de trabalho, quando se fará a consolidação do mapa cognitivo, resultando
em um único mapa com todos os critérios.

Quadro 2 - Descrição do mapa cognitivo referente à vertente Ambiental –grupo 2 – decorrente de


discussão em grupos realizada no primeiro dia
Rótulo: Compatibilizar a preservação do manancial com o desenvolvimento
Vertente: Ambiental
Candidatos a critério Como medir?
Implementar o plano Integrado de Educação Ambiental das Crianças na Escola
Educação Ambiental em 100% das
escolas municipais
Calçadas ecológicas Permeabilização do solo
Aumento das áreas permeáveis nas Permeabilização do solo
proximidades do manancial
Controle de poluição nos bueiros Preservação do Manancial
Utilização de fossas sépticas Controle da poluição do Manancial
Reaproveitamento de águas urbanas Controle da poluição do Manancial
100% de restrição de agrotóxicos Controle da poluição do Manancial
(classe 3) na área de manancial
Taxa de densidade habitacional 140 Tamanho do Lote
m2 ha-1
Controle de densidade demográfica Tamanho do Lote
Manter a legislação federal de Proteção ambiental
proteção ambiental nos córregos,
nascentes
Fiscalização áreas industriais Monitoramento dos Efluentes a cada 3 meses

No Quadro 3 são apresentados os candidatos a critério da vertente “Legislação”. Salienta-se


que, para o candidato a critério “Mata ciliar”, os participantes fizeram uma proposta no mapa cognitivo
de manutenção dos 30 metros exigidos por lei e extensão de mais 50 metros na área de manancial. E,
por fim, no Quadro 4 são apresentados os candidatos a critério referentes à vertente Parcelamento e
uso e ocupação do solo.

211
Quadro 3 - Descrição do mapa cognitivo referente à vertente Legislação decorrente de discussão em
grupos realizada no primeiro dia
Rótulo: Compatibilizar a preservação do manancial com o desenvolvimento
Vertente: Legislação
Candidatos a critério Como medir?
Observância das leis federais e Fiscalização
estaduais
Porcentagem da área permeável Geoprocessamento
Mata ciliar Geoprocessamento
Criar uma zona de amortecimento Geoprocessamento
entre o início da mata ciliar e o início
da primeira rua em um loteamento
Proibição do uso de agrotóxicos Criação de Mecanismos de Fiscalização - Técnicos com cargos de
carreira
Educação ambiental Efetivar a política existente
Restrição a edificações residenciais e Registro de indivisibilidade do imóvel
unifamiliares

Quadro 4 - Descrição do mapa cognitivo referente à vertente Parcelamento e uso e ocupação do solo
decorrente de discussão em grupos realizada no primeiro dia
Rótulo: Compatibilizar a preservação do manancial com o desenvolvimento
Vertente: Parcelamento e uso e ocupação do solo
Candidatos a critério Como medir?
Empreendimento industrial de baixo Diretrizes do IAP
impacto
Diretrizes viárias de acordo com a Legislação específica
topografia do terreno
Definir porcentagem máxima de Densidade populacional
ocupação
Correção das áreas ocupadas Técnicas compensatórias
Observância da Lei Federal n° Taxação específica de Iptu
13.465/2017
Descentralização do saneamento Empresas privadas
Tecnologias inovadoras para Técnicas compensatórias
aumentar a permeabilidade do solo

212
4.4 Consolidação do mapa cognitivo coletivo

No dia 6 de junho, inicialmente foi realizada uma breve exposição do dia anterior e procedeu-se à
consolidação conjunta do mapa cognitivo, com todos os participantes. O mapa cognitivo obtido no
dia anterior foi apresentado por vertentes e os candidatos a critérios foram discutidos um a um, sua
importância e a forma de medi-los. Alguns candidatos a critério foram descartados pelos participantes,
devido à sua redundância ou pelo fato de serem não mensuráveis e/ou controláveis. Todos os
candidatos a critérios, discriminados nos papeis entregues no dia 5 de junho, foram considerados e
discutidos. O mapa cognitivo final consolidado é muito grande para ser apresentado e os seus
resultados são aqui apresentados.

Os critérios estabelecidos para a vertente Ambiental foram: Educação ambiental nas escolas
municipais, definir e controlar a porcentagem de área permeável mínima no manancial, implantar
sistema de gradeamento em bueiros, utilização de fossas sépticas, reaproveitamento de águas urbanas,
observância à lei estadual com relação ao uso de agrotóxicos, estabelecer taxa de densidade
habitacional em função do tamanho do lote, manutenção da mata ciliar (com proposta de manter 30
metros para áreas rurais e contratar estudo técnico-ambiental para edificações na área de manancial),
destinação de resíduos da construção civil, controle e fiscalização (com proposta de criação de cargos
efetivos de fiscais ambientais municipais), diagnosticar e monitorar a situação já instalada em relação
ao esgotamento sanitário e ao manejo das águas pluviais, estudar alteração da localização atual do
cemitério, totalizando 12 critérios.

Com relação à vertente “Legislação”, os candidatos à critérios resultantes foram: observância das
leis federais e estaduais, fiscalização da porcentagem de área permeável e da cobertura vegetal,
manutenção da mata ciliar (com proposta de manter os 30 metros exigidos por lei e acrescentar mais
30 metros na área de manancial), restrição às edificações residenciais para que sejam no máximo
bifamiliares, implantação de IPTU hidrológico, incentivo financeiro a construções que sejam
consideradas sustentáveis (Pagamento por serviços ambientais – PSA), totalizando 6 critérios

Já na vertente Parcelamento e uso e ocupação do solo, a maioria dos critérios sugeridos no primeiro
dia foram incorporados na vertente Ambiental e restaram apenas dois critérios para essa vertente:
permitir que apenas os empreendimentos industriais considerados de baixo impacto sejam
implantados na área de manancial e, diretrizes viárias de acordo com a topografia do terreno.
O número total de candidatos à critérios definidos pelas partes interessadas presentes nesse segundo
dia foi de 20 critérios.

Salienta-se que muitas sugestões foram feitas pelos participantes durante as discussões, sendo aqui
resumidas:

- Com relação ao esgotamento sanitário: as fossas negras devem ser abolidas na área de manancial,
sendo substituídas por fossas sépticas; fossas sépticas serão usadas até a implantação da rede coletora
de esgoto sanitário; deverá ser realizado um cadastramento e treinamento de construtores para que

213
aprendam a construir fossas sépticas e o padrão de calçadas; a fossa séptica deve estar aberta no
momento da fiscalização;

- Deve-se possibilitar que sejam implementadas novas técnicas de tratamento de efluentes


domésticos, inclusive por empresas da iniciativa privada;

- Deve-se promover educação ambiental para os construtores e para a população que habita a área
de manancial, com especial atenção dispensada para novos moradores.

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO SOBRE O MAPA COGNITIVO CONSOLIDADO COLETIVO

Os resumos dos critérios definidos pelos participantes nas vertentes: Ambiental, Legislação,
Parcelamento e uso e ocupação do solo são mostrados nos Quadros 5, 6 e 7.

Quadro 5 - Resumo dos critérios definidos pelos participantes no segundo dia de diálogo – Vertente
Ambiental
Educação ambiental nas escolas municipais
Definir e controlar a porcentagem de área permeável mínima no manancial
Implantar sistema de gradeamento em bueiros
Utilização de fossas sépticas
Reaproveitamento de águas urbanas
Observância à lei estadual com relação ao uso de agrotóxicos
Vertente Ambiental Estabelecer taxa de densidade habitacional em função do tamanho do lote
Manutenção da mata ciliar
Destinação de resíduos da construção civil
Controle e fiscalização
Diagnosticar e monitorar a situação já instalada em relação ao esgotamento
sanitário e ao manejo das águas pluviais
Estudar alteração da localização atual do cemitério

Analisando o Quadro 5, percebe-se que os critérios “definir e controlar a porcentagem de área


permeável mínima na área de manancial”, “implantar sistema de gradeamento em bueiros”,
“reaproveitamento de águas urbanas”, “estabelecer taxa de densidade habitacional em função do
tamanho do lote” e “diagnosticar e monitorar a situação já instalada em relação ao manejo das águas
pluviais” são redundantes, pois tratam do mesmo assunto e podem ser substituídos por “diagnóstico e
elaboração de plano de manejo de águas pluviais na área de manancial”.

214
Da mesma maneira, os critérios relacionados ao esgotamento sanitário (Critérios 4, 5 e 11 do
Quadro 5) poderiam ser substituídos por “diagnóstico e elaboração de plano de manejo de águas
residuais na área de manancial”. O critério “Controle e fiscalização” não é controlável pelos
participantes, portanto, não deve permanecer na lista de critérios, pois depende de existência de
recursos financeiros da Prefeitura Municipal. O critério “Observância à lei estadual com relação ao
uso de agrotóxicos” poderia ser substituído por “Monitorar o uso de agrotóxicos” pois a observância
à lei Estadual já é obrigatória.

Os critérios relacionados aos resíduos sólidos (5 e 9) e à contaminação das águas devido à


localização do cemitério (12) poderiam ser substituídos por “Elaborar plano de gestão de resíduos
sólidos na área de manancial”.

Dessa forma, os critérios para a vertente Ambiental seriam: 1. Educação ambiental nas escolas
municipais, 2. Diagnóstico e elaboração de plano de manejo de águas pluviais na área de manancial,
3. Monitorar o uso de agrotóxicos, 4. Diagnóstico e elaboração de plano de manejo de águas residuais
na área de manancial; 5. Elaborar plano de gestão de resíduos sólidos na área de manancial, 6.
Manutenção da mata ciliar.

Quadro 6 - Resumo dos critérios definidos pelos participantes no segundo dia de diálogo – Vertente
Legislação
Observância das leis federais e estaduais
Fiscalização da porcentagem de área permeável e da cobertura vegetal
Manutenção da mata ciliar
Vertente Legislação Restrição às edificações residenciais para que sejam no máximo bifamiliares
Implantação de IPTU hidrológico
Incentivo financeiro a construções que sejam consideradas sustentáveis
(Pagamento por serviços ambientais – PSA)

Com relação ao Quadro 6, nota-se novamente a menção de observância das leis Federais e
Estaduais, o que não se caracteriza como critério, pois isso já é obrigatório. O critério “Manutenção
da mata ciliar” é redundante, pois já foi considerado na vertente Ambiental. O critério “Fiscalização
da porcentagem de área permeável e da cobertura vegetal” é redundante com o critério “Diagnóstico
e elaboração de plano de manejo de águas pluviais na área de manancial” da vertente Ambiental.

Os critérios “Restrição às edificação residenciais para que sejam no máximo bifamiliares” e


“Implantação de IPTU hidrológico” podem ser agrupados em “Elaboração de legislação específica
para a área de manancial com os instrumentos de restrição de ocupação e IPTU hidrológico”, pois a
ênfase estaria na criação de leis específicas para regulamentar o uso e ocupação do solo na área de
manancial, condizente com a vertente Legislação. O critério “Incentivo financeiro a construções que

215
sejam consideradas sustentáveis (Pagamento por serviços ambientais – PSA)” não é controlável pelo
grupo, pois depende de orçamento, da Prefeitura ou de outros órgãos.

Portanto, o critério para a vertente Legislação seria: 1. Elaboração de legislação específica para a
área de manancial com os instrumentos de restrição de ocupação e IPTU hidrológico, resultando em
um único critério.

Quadro 7 - Resumo dos critérios definidos pelos participantes no segundo dia de diálogo – Vertente
Parcelamento e uso e ocupação do solo
Vertente Parcelamento Permitir que apenas os empreendimentos industriais considerados de baixo
e uso e ocupação do impacto sejam implantados na área de manancial
solo Diretrizes viárias de acordo com a topografia do terreno

Observando o Quadro 7, nota-se que o primeiro critério é redundante com o critério estabelecido
na vertente Legislação, podendo ser incorporado a ele (“Elaboração de legislação específica para a
área de manancial com os instrumentos de restrição de ocupação e IPTU hidrológico”). Portanto, o
critério para a vertente Parcelamento e uso e ocupação do solo seria apenas “Estabelecer diretrizes
viárias de acordo com a topografia do terreno”, totalizando 8 critérios para as três vertentes. No
entanto, esses critérios deverão abordar toda a discussão ocorrida nos dois dias de conferência.

Destaca-se que os critérios ainda teriam que ser analisados quanto a serem ou não mensuráveis,
pois logo após a definição dos critérios os participantes foram dispensados, pois o tempo disponível
já havia sido extrapolado e não se conseguiu estabelecer “como medir” ou “como alcançar” o objetivo
fim. Caso o critério não seja mensurável, ele deverá ser descartado.

Aliás, todos os critérios devem ser analisados para verificar se atendem aos nove requisitos
especificados por Keeney (1992). Para ser considerado um critério, o objeto em análise deve ser: 1.
essencial: isso significa que deve representar fundamental importância de acordo com o sistema de
valores dos participantes; 2. controlável; 3. completo; 4. mensurável; 5. operacional; 6. isolável; 7.
não redundante; 8. conciso; 9. compreensível, ou seja, seu significado deve ser claro para os atores.

No Quadro 8 é apresentado o resumo com os critérios que poderiam ser considerados para a
definição dos indicadores de sustentabilidade na área de manancial do Ribeirão Caitu, na cidade de
Mandaguari, PR, de acordo com análise realizada pelos autores desse capítulo.

216
Quadro 8 - Resumo dos critérios após análise por parte dos autores desse capítulo
Educação ambiental nas escolas municipais.
Diagnóstico e elaboração de plano de manejo de águas pluviais na área de
manancial.
Monitorar o uso de agrotóxicos.
Vertente Ambiental
Diagnóstico e elaboração de plano de manejo de águas residuais na área de
manancial.
Elaborar plano de gestão de resíduos sólidos na área de manancial.
Manutenção da mata ciliar.
Vertente Legislação Elaboração de legislação específica para a área de manancial com os instrumentos
de restrição de ocupação e IPTU hidrológico.
Vertente Estabelecer diretrizes viárias de acordo com a topografia do terreno.
Parcelamento e uso
e ocupação do solo

6 DISCUSSÃO SOBRE A GESTÃO PARTICIPATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS USANDO


MAPEAMENTO COGNITIVO

A gestão dos recursos hídricos nem sempre ocorre de maneira participativa. Durante o processo de
mobilização, muitas dificuldades são encontradas, tais como de que maneira será feita a divulgação e
chamada para os trabalhos, se existe ou não disponibilidade de recursos financeiros para fazer a
divulgação, quem são os atores fundamentais à estruturação do problema, como atrair ou garantir a
presença desses atores fundamentais, como promover o diálogo e conduzir as discussões de forma
eficaz e proveitosa.

Alguns atores afirmam que os atores representativos dos diversos segmentos devem possuir duas
características essenciais: ter conhecimento sobre o problema e ter capacidade de ouvir, ceder e buscar
o consenso (BANA e COSTA, 2006; BANA e COSTA e SANCHEZ-LOPEZ, 2009; THOMAZ, 2002).
Portanto, a gestão participativa implica necessariamente em ter ânimo para ouvir, habilidade para
negociar, capacidade de ceder e humildade para, por vezes, perder.

A gestão participativa também implica em perda de poder, pois os “comandantes” não são mais
aqueles que possuem cargos, mas os próprios atores. O Presidente ou Decisor se transforma em um
mero ator, o que muitas vezes causa desconforto e estranheza. Por exemplo, um representante do poder
público que exerça o papel de órgão gestor dos recursos hídricos está habituado a ter poder de decisão
e quando é inserido em um contexto de gestão participativa, por exemplo dentro de uma reunião
plenária de um Comitê de bacia hidrográfica, pode ter dificuldades de aceitar opiniões de pessoas
leigas com pouco conhecimento técnico. No entanto, a gestão participativa implica em aprender a
escutar, exercendo a paciência de ensinar aquilo que está tecnicamente errado com respeito e,

217
principalmente, entendendo que esta é seguramente uma excelente maneira de se obter a solução de
maior comprometimento, essencial para a boa gestão dos recursos hídricos.

Com relação à ferramenta mapeamento cognitivo, a análise de problemas ambientais complexos,


com a participação de atores que representam segmentos diversos com interesses conflitantes, os
aspectos subjetivos são evidenciados com o uso de mapas cognitivos e os valores (percepções) dos
atores são explicitados, permitindo a obtenção de um alto grau de comprometimento entre os
participantes. Portanto, recomenda-se o uso dessa ferramenta para o planejamento e para a gestão
participativa dos recursos hídricos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem, pelo apoio: ao Observatório das Metrópoles da Universidade Estadual de


Maringá, à Prefeitura Municipal de Paranavaí em especial ao Eng. Civil Alex Simões Bosso, à
Promotoria Pública em especial aos Promotores Dr. Robertson Fonseca de Azevedo e Dr. Vilmar
Antônio Fonseca e à Universidade Paranaense (UNIPAR). Agradecemos ainda à UNICAMP pela
disponibilização de uso da licença do programa computacional MACBETH, para fins de pesquisa no
pós-doutoramento da primeira autora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos, cria o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera
o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, Brasília,
DF, 8 jan. 1997.
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n 9.605, de
12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências, Brasília, DF, 2 ago. 2010.
BOSSO, A. S. Bacia do Caitu. Mandaguari, 2016. 51 slides, color.
Calijuri, M. do C., Cunha, D. G. F., Povinelli, J. Sustentabilidade: um desafio na gestão dos recursos hídricos.
EESC/USP: São Carlos, 2010, 80 p.
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