Você está na página 1de 17

http://journal.unoeste.br/index.

php/ch
DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
ISSN on-line 1809-8207

Submetido: 11/10/2019 Aceite Final: 20/12/2019

A FORMAÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: LEVANTAMENTO DE NUANCES


Jany Rodrigues Prado1, Regivane dos Santos Brito2, Claudio Pinto Nunes3
1
Mestre em Educação pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Docente substituta da Universidade
Estadual da Bahia - UNEB, Departamento de Educação de Guanambi - Campus XII. E-mail: janyrprado@yahoo.com.br
2
Mestre em Educação pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Membro do Grupo de Pesquisas sobre
Didática, Formação e Trabalho Docente (Difort/CNPq). E-mail: regivanne_brito@live.com
3
Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Docente do Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. E-mail:
claudionunesba@hotmail.com

RESUMO
Este artigo apresenta um breve retrospecto do cenário histórico e político da educação infantil e a
legislação pertinente a essa etapa da educação básica, a fim de analisar os sentidos que os professores da
educação infantil da rede municipal de Guanambi - BA atribuem a sua formação. A abordagem
metodológica encontra-se ancorada na pesquisa qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994) que procura buscar
modelos compreensivos do fenômeno estudado. Como instrumento de produção de informações, utilizou-
se as conversas interativo-provocativas (NUNES, 2011). As questões abordadas ratificam a desvalorização e
o dualismo que envolvem os profissionais que trabalham com este segmento. Refletem ainda a
estruturação histórica que compreendeu e ainda compreende a educação infantil como etapa da educação
básica voltada apenas ao cuidar e ao âmbito das políticas educacionais centradas no assistencialismo, no
voluntariado, o que tem certamente contribuído para as precárias condições de trabalho docente e para
precarização do profissionalismo. A análise revelou que, nos últimos anos, foram criadas importantes
políticas rumo à educação de qualidade para as crianças pequenas. Entretanto, existem ainda muitos
enfrentamentos que envolvem a educação infantil. Dentre eles, o da formação docente que se configura
como um dos maiores, principalmente ao se pensar as condições de trabalho docente, pois pressupõe a
revisão do status desse profissional, seu plano de carreira, sua remuneração, enfim sua profissionalização.
Tais desafios se colocam ainda como impasses no atual momento histórico e político, marcado por um
cenário turbulento, instável e ameaçador que se materializa em ações que afetam diretamente setores
sociais como a educação.
Palavras-chave: Educação Infantil; Formação Docente; Políticas Educacionais.

THE TEACHER TAINING IN THE CHILDREN EDUCATION: LIFTING OF NUANCES

ABSTRACT
This article show a brief retrospective of the historical and political scenario of the child education and the
relevant legislation to this stage of the basic education, to analyze the meanings that the preschool
teachers of the municipal network of Guanambi – BA attribute to their formation. The methodological
approach is assured on the qualitative research (BOGDAN; BIKLEN, 1994) looking comprehensive examples
of the studied phenomenon. As production tool of information, provocative interactive conversations were
used (NUNES, 2011). The alluded questions ratify the devaluation and the dualism that involv working
professionals with this segment. Still reflect the historic structuration that understood and still understand
the child education as stage basic education geared only to the careful under educational politic centered
on the welfare, on the volunteering, that has certainly contributed to the conditions precarious of teaching
work e to precariousness professionalism. The analyze showed that, in the last years were created political
important toward to the quality education to the small children. Meantime, there are many clashes
involving the child education. Among them, of the teacher training introduce himself as one of the biggest
when thinking in conditions of the teaching work, because it presupposes the revision of status this

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
19

professional, your career plan, your remuneration, finally your professionalization. This challenges put
themselves hindrances in the current politic moment, marked by turbulent scenario, unstable and
threatening that materializes in actions that directly affect social sectors as education.
Keywords: Child Education; Professional Qualification; Educational Policies.

EDUCACIÓN DOCENTE EN EDUCACIÓN INFANTIL: LEVANTAMIENTO DE NUANCES

RESUMEN
Este artículo presenta una breve retrospectiva del escenario histórico y político de la educación de la
primera infancia y la legislación pertinente en esta etapa de la educación básica, a fin de analizar los
significados que los maestros de jardín de infantes de la red municipal de Guanambi – BA atribuyen a su
formación. El enfoque metodológico está anclado en la investigación cualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994)
que busca modelos integrales del fenómeno estudiado. Como instrumento de producción de información,
se utilizaron conversaciones interactivas provocativas (NUNES, 2011). Los temas abordados ratifican la
devaluación y el dualismo que rodea a los profesionales que trabajan en este segmento. También reflejan la
estructura histórica que entendió y aún comprende la educación de la primera infancia como una etapa de
la educación básica centrada solo en el cuidado y el alcance de las políticas educativas centradas en el
bienestar, el voluntariado, que ciertamente ha contribuido a las precarias condiciones de trabajo y la
precariedad de la profesionalidad. El análisis reveló que en los últimos años se han implementado políticas
importantes para una educación de calidad para los niños pequeños. Sin embargo, todavía hay muchas
confrontaciones relacionadas con la educación de la primera infancia. Entre ellos, la formación docente es
una de las más importantes cuando se piensa en las condiciones laborales de los docentes, ya que
presupone la revisión del estado de este profesional, su plan de carrera, su compensación y, finalmente, su
profesionalización. Tales desafíos son aún como impases en el momento histórico y político actual,
marcado por un escenario turbulento, inestable y amenazante que se materializa en acciones que afectan
directamente a sectores sociales como la educación.
Palabras clave: Educación de la Primera Infância; Formación del Professorado; Políticas Educativas.

INTRODUÇÃO formação dos profissionais que atuam na


Este texto é um recorte da pesquisa de primeira etapa da educação básica.
mestrado intitulada Os sentidos que os Desse modo, este artigo apresenta um
professores da educação infantil do município de breve retrospecto do cenário histórico e político
Guanambi - BA atribuem a sua condição de da educação infantil e a legislação pertinente a
trabalho docente, desenvolvida no ano de 2017, essa etapa da educação básica, a fim de analisar
na qual foram apresentados os sentidos os sentidos que os professores da educação
atribuídos pelos professores aos modos de estar infantil da rede municipal de Guanambi - BA
na educação infantil, enfatizando os processos de atribuem a sua formação.
formação continuada, vivenciados no exercício da
profissão docente na educação infantil na rede DELINEAMENTO METODOLÓGICO
municipal de Guanambi. O objeto de estudo desta investigação é a
Constitui-se em uma pesquisa de formação docente na educação infantil e
relevância científica, pois apresenta informações encontra-se ancorado na pesquisa qualitativa,
que podem ampliar os conhecimentos existentes por conta das características do objeto a ser
sobre o tema, ajudando a construir um pesquisado e do objetivo que a norteia. Dessa
arcabouço teórico sobre a formação docente na forma, como sugerem Alves-Mazzotti e
educação infantil e pode suscitar também novas Gewandszajder (2004) a investigação
investigações na área. Além disso, é uma naturalística, o recurso descritivo, a interpretação
pesquisa de relevância social, já que contribui em contexto, a maior ênfase no processo do que
com a divulgação sobre o processo histórico e no produto, a valorização da apreensão dos
político da educação infantil, de modo que os significados atribuídos pelos pesquisadores aos
interessados no tema possam compreender fenômenos estudados foram aspectos
como esses processos reverberam no perfil e na estruturantes desta pesquisa.

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
20

A presente investigação foi desenvolvida alguns fatos históricos colaboraram para o


em Guanambi, município do interior da Bahia, delineamento de novas demandas no
distante a 796 quilômetros da capital do estado, atendimento de crianças dessa faixa etária,
localizado no território 13 - Sertão Produtivo. E como: aumento da migração de moradores da
contou com a participação de seis professores da zona rural para zona urbana das grandes cidades;
educação infantil da rede municipal de ensino, Proclamação da República e o desejo de uma
que voluntariamente se dispuseram a ser os elite política em construir uma nação moderna
sujeitos desta investigação por meio da adesão. alicerçada em preceitos europeus, como a ideia
Após serem informados sobre os objetivos e os de jardim de infância; o discurso de
procedimentos da pesquisa, cada um deles culpabilização das famílias mais pobres por
assinou o Termo de Consentimento Livre e eventuais doenças de seus filhos e a
Esclarecido, confirmando sua participação. No compreensão da creche como instituição capaz
intuito de preservar a identidade dos de oportunizar o desenvolvimento saudável das
participantes, seus nomes foram substituídos por crianças.
nomes fictícios. Nesse percurso, outros marcos históricos
Como instrumento de produção de são importantes para a criação de políticas
informações, utilizou-se as conversas interativo- públicas para as crianças da educação infantil,
provocativas (CIPs) (NUNES, 2011). Tal conforme assevera Pinto (2009, p. 29):
instrumento encontra-se também ancorado na Os marcos importantes na
pesquisa qualitativa que destaca as conversações trajetória de construção
como modo de expressão do sujeito, como da política de educação
melhor exemplo de comunicação interativa. das crianças de zero a seis
anos, no país, referem-se à
Nunes (2011) destaca a importância da atitude
pressão advinda dos
provocativa do pesquisador, que de posse de um movimentos sociais,
roteiro semiestruturado, orienta os rumos da principalmente feministas,
conversa, a fim de responder às questões em defesa da expansão do
propostas pela pesquisa, tendo sempre o cuidado atendimento; às
de não interromper o raciocínio dos sujeitos. mudanças no perfil
Assim, o pesquisador assume o compromisso de sociodemográfico da
possibilitar a expressão livre e espontânea dos sociedade brasileira
sujeitos, considerando que eles estão cientes do (diminuição no tamanho
objeto de estudo, os objetivos da pesquisa e a das famílias, participação
crescente das mulheres no
relevância científica, acadêmica e social de sua
mercado de trabalho e
participação. Nesse processo de conversação, urbanização da
pesquisados e pesquisador se envolvem num população); e aos estudos
clima de produção de informações. científicos sobre o
Ressalta-se que esta pesquisa foi desenvolvimento infantil.
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa Todos esses aspectos
(CEP), da Universidade Estadual do Sudoeste da trouxeram avanços legais
Bahia – UESB e atende às recomendações da e a necessidade de
Comissão de Ética em Pesquisa (CONEP). políticas públicas que
reconhecessem as crianças
como cidadãs, instaurando
O cenário histórico e político da educação
também novas exigências
infantil: algumas aproximações de qualificação para as
A atual configuração da educação infantil profissionais que atuam
como direito da criança e como espaço coletivo nessa etapa da educação
de educação de crianças de 0 a 5 anos teve início básica.
recentemente no Brasil. Até meados do século
XIX, não se tem registros no Brasil do Rosemberg (2003), ao traçar o panorama
atendimento a crianças pequenas longe das mães da educação infantil brasileira contemporânea,
em instituições, como creches ou jardins de destaca três períodos históricos também como
infância. marcos na construção de políticas públicas para
Esse cenário começou a se alterar, a esse segmento da educação básica. O primeiro,
partir da segunda metade do século XIX, quando entre o final da década de 1970 e o início da

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
21

década de 1980, refere-se a um modelo pedagógicas nas creches e pré-escolas implicam e


denominado pela autora como modelo de massa, tem implicações nas políticas que norteiam e/ou
modelo de baixo custo que procurava atender o nortearam essa etapa da educação.
maior número possível de crianças sem priorizar Vieira e Souza (2010) salientam que no
um atendimento de qualidade, mas voltado para Brasil, nas últimas três décadas, a educação
suprir carências culturais, deficiências linguísticas infantil esteve sob a chancela de duas áreas da
e defasagens afetivas das crianças provenientes administração pública nas instâncias federal,
das camadas populares. Tal modelo encontra-se estadual e municipal – a Assistência Social,
alicerçado nas diretrizes do Fundo das Nações responsável pelas creches e pré-escolas e a
Unidas para a Infância (UNICEF) e da Organização Educação, pela pré-escola – compartilhando e
das Nações Unidas para Educação, Ciência e disputando recursos, atribuições e mobilizando
Cultura (UNESCO) e destaca-se pela política pessoal com diferentes status e qualificação
compensatória e discriminatória. E se apoia no profissional.
discurso das habilidades naturais da mulher para Pinto (2009) reitera que, ao longo da
cuidar das crianças pequenas, reiterando a ideia história, os profissionais que atuavam nas creches
de que para ser “educadora” basta ser mulher, eram as educadoras leigas ou auxiliares, das quais
gostar de crianças e apresentar habilidades eram exigidos conhecimentos básicos nas áreas
maternas. de saúde, higiene e puericultura. A direção das
O segundo período tem início após a creches era ocupada por médicos, assistentes
ditadura militar e é marcado pela forte ação dos sociais ou irmãs de caridade, prevalecendo assim
movimentos sociais. Nesse período, há um o discurso da filantropia. Já nos jardins de
avanço na construção de uma concepção da infância, a tarefa de educar as crianças cabia às
educação infantil, pois compreende esta etapa da professoras, geralmente as normalistas. Nesse
educação como direito da criança pequena, bem contexto, delinearam-se dois perfis de
como o direito de homens e mulheres profissionais da educação infantil: as professoras
trabalhadoras terem seus filhos cuidados e da pré-escola, responsáveis pela educação das
educados em instituições como creches e pré- crianças e por sua preparação para o ingresso no
escolas. Ocorre, assim, o reconhecimento legal ensino fundamental e as trabalhadoras das
com a Constituição Federal de 1988 e o creches, chamadas de pajens, crecheiras,
Ministério da Educação e Cultura elabora vários monitoras, etc., com salários e exigências
documentos que destacam o cuidar e o educar menores para a formação profissional em relação
como eixos estruturantes do trabalho nessas às professoras, cuja função centrava-se em
instituições, bem como a necessidade de garantir um local limpo e seguro para as crianças
formação dos profissionais para exercerem suas passarem o dia.
atividades laborativas nesses espaços, De forma mais acentuada
ressaltando as condições de trabalho, plano de que nas demais etapas da
carreira, salário e formação. educação básica, a
Já o terceiro período é marcado pela Educação Infantil
constitui-se como um
aprovação da Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº.
locus por excelência de
9.394/96) e pela entrada de recursos do Banco diversidade de formas de
Mundial nas políticas de financiamento da composição e organização
educação infantil. A entrada do Banco Mundial do trabalho docente.
nesse cenário traz à tona mais uma vez o Colaboram para isso os
antigo/atual modelo de educação de massa e de processos e origens
cunho assistencialista com propostas de históricas das instituições
ampliação da educação infantil com baixos de Educação Infantil, o
investimentos nas estruturas físicas desses legado das políticas de
espaços, nos equipamentos, materiais didáticos e assistência social e de
educação, a composição
na formação dos profissionais.
nos municípios de
Esse breve retrospecto do cenário instituições públicas e
histórico e político desta etapa da educação privadas (organizações
básica nos possibilita compreender que o perfil, a comunitárias, filantrópicas
formação e a condição de trabalho docente dos etc.), a presença, em
profissionais que desempenham atividades muitas redes, de uma

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
22

estrutura dual na auxiliares ou similares,


composição do corpo reservando aos poucos
docente – professores professores as tarefas de
pertencentes à carreira do “planejamentos de
magistério e auxiliares de atividades” e/ou
sala vinculados aos supervisão dos cuidados
chamados quadros da de higiene e alimentação;
carreira civil –, além da 3) sistemas pouco
diversidade de eficientes ou inexistentes
terminologias e de formação continuada e
denominações dos grupos supervisão. (CAMPOS et
e profissionais que atuam al., 2012, p. 6).
na Educação Infantil.
(VIEIRA; SILVA, 2009 apud Endossando tais premissas, Pascal et al.
VIEIRA; DUARTE, 2012, p. (1994) afirmam que é baixo o status do
206). profissional que atende a educação infantil, pois
trabalhar com crianças pequenas pressupõe
As questões aqui abordadas ratificam a menor esforço intelectual do que trabalhar com
desvalorização e o dualismo que envolvem os alunos maiores, e isso é perpetuado por vários
profissionais que trabalham com este segmento. fatores, a saber: baixos salários pagos a
Refletem ainda a estruturação histórica que profissionais da educação infantil, ausência de
compreendeu e ainda compreende a educação perspectiva de progressão na carreira, a
infantil como etapa da educação básica voltada percepção de que essa não é uma atividade
apenas ao cuidar e ao âmbito das políticas apropriada para homens e o nível mais baixo de
educacionais centradas no assistencialismo, no formação para atender às crianças pequenas.
voluntariado, o que tem certamente contribuído
para as precárias condições de trabalho docente A legislação e a condição de trabalho docente na
e para precarização do profissionalismo. educação infantil
Campos (1999, p. 131), ao abordar as Como citado anteriormente, a
diferenças de origem, de identidade e de status compreensão da educação infantil enquanto
entre as profissionais da educação, enfatiza que espaço de educação coletiva é recente no Brasil e
“quando consideramos os profissionais da tem se colocado como um grande desafio a ser
educação, confirma-se por toda a parte a regra enfrentado tanto pelo Estado quanto pelos
que estabelece que quanto menor a criança a se gestores municipais, que desde a Emenda
educar, menor o salário e o prestígio profissional Constitucional nº 59/2009 que altera a
de seu educador e menos exigente o padrão de Constituição no seu artigo 208 estabelece a
sua formação prévia”. obrigatoriedade escolar entre 4 e 17 anos,
Para ilustrar tal constatação, recorremos incluindo a educação ofertada em creches e pré-
mais uma vez a Campos et al. (2012) quando nos escolas entre os deveres do Estado. Essa
traz algumas conclusões de uma pesquisa sobre alteração traz em seu bojo o desafio de se definir
gestão infantil realizada em seis capitais qual o profissional que trabalhará com essas
brasileiras. crianças, bem como sua formação e suas
Muitos fatores contribuem
condições de trabalho. Ficando sob a
para privar a creche de
profissionais melhor
responsabilidade dos municípios a ampliação do
qualificados e direito à educação da infância.
remunerados: 1) o recurso Outro marco legal que alterou a
aos convênios, pois as concepção de atendimento à infância foi a Lei de
entidades privadas Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
tendem a empregar 9.394/96). Ela instituiu a inclusão da educação
professores com formação infantil, abrangendo o atendimento em creches e
mais precária, com pré-escolas, como primeira etapa da educação
jornadas mais longas e básica. Dessa forma, a educação infantil tem sua
pior remuneração; 2) a
compreensão (re)significada, à medida que o
contratação de
educadores não docentes,
atendimento à infância passa a ser caracterizado
em funções como como educacional, e deve ser pautado nas

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
23

diretrizes e normas da educação. O prazo para seus profissionais, uma importante conquista, a
que as creches e pré-escolas se integrassem aos garantia de financiamento da educação de 0 a 5
sistemas de ensino foi estabelecido a partir de anos, antes limitada apenas ao ensino
três anos da promulgação dessa Lei. fundamental. “Este fundo estabelece a
A Lei nº 9.394/96 também alterou a perspectiva de per capita mínimos para cada
compreensão do profissional que deveria etapa da educação básica e oferece a todas as
trabalhar na educação infantil, como afirma Pinto etapas, da creche ao ensino médio, o
(2009, p. 76): beneficiamento de recursos federais,
Passou a conceituar a compromisso da União com este nível de
profissional de educação escolarização que se estenderá até 2020”.
infantil como professora, (SCHEIBE, 2010, p. 986).
definindo sua identidade e Teixeira (2016, p. 192) discorre:
demandando sua O Fundef criado pela
participação na construção Emenda Constitucional
da proposta pedagógica da (EC) Nº 14/96 e
instituição em que regulamentado pela Lei
trabalha (Art. 12 e Art.13). 9.424/96, [...] contribuiria
A formação básica das indiscutivelmente para: 1)
profissionais que atuam “o atendimento ao
diretamente com as professor, valorizando o
crianças de zero a seis professor, incluindo a
1
anos é definida pela LDB questão do salário”; 2)
(Art. 62). Essa lei “valorizar o professor
estabelece também os naquilo de que ele precisa
direitos das docentes também para sua
(plano de carreira, dignidade” e melhorar a
condições adequadas de “condição de vida do
trabalho, tempo professor”; 3) garantir
incorporado em sua carga uma “base mínima de
horária de trabalho para formação de professor, de
formação e estudos) e os pagamento de professor”;
deveres (formação e, 4) “melhorar o salário
superior, admitida a dos professores das áreas
formação mínima em nível mais pobres” [...]. No
médio, na modalidade Fundeb, Fundo
normal). substitutivo do Fundef,
criado pela EC nº 53, de 19
Em 2001, o Plano Nacional de Educação de dezembro de 2006, e
no capítulo destinado à educação infantil regulamentado pela Lei nº
apresentou metas para o atendimento das 11.494, de 20 de junho de
crianças de 0 a 6 anos, bem como adicionou “um 2007 e pelo Decreto nº
novo paradigma ao conjunto normativo que 6.253, de 13 de novembro
orienta a remuneração dos docentes da educação de 2007, embora as
básica nos desiguais estados e municípios entidades representativas
do magistério público, a
brasileiros” (OLIVEIRA; VIEIRA, 2012, p. 49).
exemplo da Confederação
Em relação ao financiamento, a criação Nacional dos
do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Trabalhadores da
Educação Básica e de Valorização dos Profissio- Educação, tenham
nais da Educação (FUNDEB), através da Emenda proposto e/ou solicitado a
Constitucional nº 53/2006, de 19 de dezembro de elevação do percentual a
2006 e sua consequente regulamentação, por ser investido na
meio da Lei nº 11.494/2007, de 13 de novembro remuneração docente
de 2007, trouxe para a educação infantil e para para 80% dos recursos
arrecadados no fundo,
manteve-se o mesmo
1
Em 2013, o art. 29 da LDB foi alterado através da Lei nº 12.796 e a percentual do Fundef
educação infantil passou a atender aos alunos de zero a 5 (cinco) (60%); apenas legitimou-
anos de idade.

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
24

se como elementos informalidade, à


preponderantes para a filantropia, ao
valorização docente, o voluntariado e a arranjos
Plano de Carreira e a domésticos. Essa
remuneração condigna, ao experiência marcou
estipular prazo para a profundamente esta etapa
efetivação da lei do piso da educação básica,
salarial profissional imprimindo determinadas
nacional. identidades a esse
trabalho que, ainda hoje,
A determinação de 60% de recursos para mais de 15 anos depois de
ser aplicado na remuneração docente trouxe essa etapa ser incluída no
melhorias salariais principalmente para as regiões sistema educacional, ainda
persistem. A Educação
Norte e Nordeste, onde a remuneração docente
Infantil sofre de
praticada era abaixo do que determinava o indefinição em relação a
salário mínimo, todavia a inexistência de uma importantes aspectos de
referência nacional para o início da carreira e a sua organização, de seus
não injeção de novos recursos nas instâncias objetivos e de suas
municipais e estaduais contribuíram para que o funções. O debate é
Fundo não atingisse o seu objetivo. Nessa complexo, envolvendo
direção, Oliveira e Vieira (2013, p. 11) salienta “o concepções de infância e
que podemos considerar um avanço, por outro de educação que
lado, resultou em mudanças, no que se refere aos permitem pensar esta
etapa da educação básica
profissionais da educação básica, que pouco
para além do arremedo da
contribuem na direção de maior pro- forma escolar clássica, do
fissionalização”. currículo disciplinar e da
No bojo dessas políticas que objetivam a educação como ensino e
valorização da educação infantil, destacam-se aprendizagem. (OLIVEIRA;
também as Diretrizes Curriculares Nacionais para VIEIRA, 2013, p. 9).
a Educação Infantil e as Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica. Essas Outro marco legal importante para a
Diretrizes tentam definir a função e os objetivos melhoria do trabalho docente envolve a Lei nº
desta etapa na educação básica, a fim de orientar 11.738/2008, que estabelece um piso salarial,
os processos de ensino e aprendizagem das profissional e nacional para uma jornada de
crianças da educação infantil, bem como o trabalho de 40 horas semanais, e que deveria ser
trabalho pedagógico de seus professores. implantado progressivamente até 2010, com a
O delineamento dessas políticas se obrigatoriedade de reajustes anuais. Porém, sua
constitui importante ação rumo à educação de efetivação é um desafio ainda, como afirma
qualidade para as crianças pequenas. Entretanto, Scheibe (2010, p. 992):
existem ainda muitos enfrentamentos que Mesmo esta exigência
envolvem a educação infantil resultantes das mínima, que toma por
desigualdades e injustiças que se engendraram no base o pagamento para
seu processo histórico. professores formados nos
A ampliação desse direito cursos de nível médio, é
tem resultado em maior questionada por parte de
atenção das políticas alguns governantes
educacionais à Educação estaduais, que entraram
Infantil, fato recente na com uma Ação Direta de
história do país. Concebida Inconstitucionalidade que
como assistência por fez com que o Supremo
longo período, a Educação Tribunal Federal
Infantil se desenvolveu de suspendesse
forma periférica ao temporariamente alguns
sistema escolar, como dispositivos da lei.
lugar de guarda, ou
mesmo relegada à

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
25

O piso salarial nacional para os técnicos em


profissionais do magistério público da educação desenvolvimento infantil,
básica é o valor mínimo que os docentes com recreacionistas,
formação em nível médio (antigo Curso Normal) monitores, pajens e outras
denominações –, dado que
e com carga horária semanal de 40 horas, em
a função desses
início de carreira devem receber. Para Teixeira profissionais não seria a
(2016), isto implica em afirmar que os demais de ensinar para crianças,
professores devam ter seu trabalho mas a de socializa-las,
reconhecido/valorizado em termos salariais de garantir seu bem-estar.
acordo com seu tempo de serviço, sua (BRASIL, 2012).
formação/titulação acadêmica. E tais direitos e
vantagens devem estar garantidas nos planos de A dualidade que nasceu há séculos na
carreira municipais da categoria, respaldados no nossa história recente, ainda se faz presente
piso salarial, profissional e nacional (PSPN), na quando o assunto é o atendimento à educação
Constituição Federal de 1988, na Lei de Diretrizes infantil, reforçando assim o descaso e o
e Bases 9.394/96, na Lei do FUNDEB, etc. descompromisso com a educação pública de
A carreira e a remuneração dos qualidade para crianças pequenas,
profissionais da educação básica, após o FUNDEB, desconsiderando que neste segmento da
também foram objeto da nova regulamentação educação básica, o cuidar, o brincar e o educar se
pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), por constituem a tríade que o sustenta. Persiste
meio do Parecer CNE/CEB 09/2009, que ainda o discurso do cuidar, do assistencialismo,
acompanha a Resolução CNE/CEB 02/2009. Tais em detrimento do educar, que foi instituído pela
documentos ratificam que o meio de acesso à Lei de Diretrizes e Bases desde 1996 e do precário
carreira do magistério é o concurso público. profissionalismo para esse atendimento.
Reafirmam ainda como elementos estruturantes Os desafios elencados acarretam à
dos planos de cargos e salários dos profissionais necessidade de se repensar a formação para a
da educação a formação inicial e continuada e a docência na educação infantil. Vieira e Souza
composição da jornada de trabalho. (2010, p. 127) apontam que:
Ainda no tocante à legislação, a Câmara [...] uma formação de
de Educação Básica do Conselho Nacional de professores(as) que
Educação elaborou o Parecer nº 17/2012, com o contemple essa
intuito de: perspectiva integrada do
educar e do cuidar tem
sido constantemente
Orientar os sistemas de
problematizada nas
ensino e as instituições de
pesquisas sobre o tema
Educação Infantil quanto
nos últimos anos, tendo
aos aspectos
em vista que
fundamentais para a
historicamente os cursos
organização e
de magistério de nível
funcionamento dessa
médio não correspondiam
etapa educacional, entre
a essa perspectiva e que a
os quais se destacam: a
formação em nível de
carga horária, a jornada de
ensino superior era
atendimento, a organiza-
praticamente inexistente
ção e enturmação, o
até meados dos anos
material pedagógico, a
1990.
avaliação e a formação
dos profissionais da
Educação Infantil. [...] Nesse contexto, Campos (1994 apud
Alguns sistemas de ensino PINTO 2009, p. 76) “adverte sobre a necessidade
defendem que na creche de uma visão integrada de educação infantil e
podem trabalhar também de um novo tipo de formação para as
profissionais não docentes profissionais, que não hierarquize as atividades
coordenando os grupos de educação e cuidado das crianças e não as
infantis – auxiliares de
desenvolvimento infantil,

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
26

segmente sob a responsabilidade de profissionais não é necessária a


diferentes”. formação de nível
No tocante a essa discussão, a LDB nº superior, contribuindo
9.394/96 que determinava a formação em nível para uma ideia de que a
Educação Infantil pode ser
superior para a docência na educação básica,
exercida de forma amado-
teve sua redação alterada com a Lei nº ra, por qualquer pessoa
12.014/2009 definindo que: que se disponha a fazê-lo,
Art. 61: Consideram-se sem a necessidade de uma
profissionais da educação preparação específica. Em
escolar básica os que, nela última instância, não pre-
estando em efetivo cisa ser profissional para
exercício e tendo sido atuar na educação da
formados em cursos infância.
reconhecidos, são:
I – professores habilitados
Tal exigência compromete o status do
em nível médio ou
superior para a docência
professor da educação básica, sua formação e,
na educação infantil e nos por conseguinte, a educação das crianças. Mais
ensinos fundamental e uma vez, o modelo de educação de massa e o
médio. (BRASIL, 2009, barateamento dos serviços oferecidos vão de
grifo nosso). encontro do discurso da educação como direito
social da criança. Nesse bojo, verifica-se a ênfase
A formação mínima para atuar na nos aspectos pragmáticos e instrumentais da
docência da educação básica passa a ser a formação, em cursos aligeirados, com ênfase a
formação em nível médio. Assim, a formação conhecimentos e saberes práticos em detrimento
passa a ter um viés mais instrumental e de uma formação política e consistente, que
pragmático, com vistas a uma rápida expansão do possibilite romper com princípios reprodutivistas
fornecimento de professores, com redução de de saberes e alienantes das condições de
custos. Tal ação, consequentemente, aumenta o trabalho docente.
controle sobre a categoria e reforça a Condições alienantes que vão desde a
proletarização dos docentes na divisão social do falta de tempo para ficar em dia com a sua
trabalho, impactando na perda de status do profissão, ocasionando a desqualificação até a
professor. Sobre essa discussão, Oliveira e Vieira sobrecarga de atividades profissionais que o
(2013, p. 11-12) nos convidam a refletir: impossibilita de interagir com seus pares e
Dessa forma, a legislação participar de cursos de formação continuada
brasileira passou a e/ou planejamentos em longo prazo,
considerar que, para atuar favorecendo a dependência de terceiros, e a
na educação básica, desqualificação profissional, conforme ressalta
incluindo aí a educação
Pinto (2009).
infantil como sua primeira
etapa, pode-se obter
Um alerta acerca do desafio posto a
formação em nível médio, respeito da formação dos profissionais da
sendo dispensável a educação infantil é enunciado no Parecer nº
formação superior. Essa 17/2012 que ressalta “igualmente as instituições
medida reforça o que tem incumbidas da formação inicial e continuada dos
sido a prática de muitos professores de Educação Infantil” devem rever os
gestores municipais: a de currículos dos cursos de preparação para o
optarem por contratarem magistério, a fim de atender aos requisitos postos
profissionais de formação pelo ordenamento legal e pela concepção técnica
de nível médio, com sa-
que tem se firmado a partir de pesquisas sobre o
lários inferiores aos que
são pleiteados pelos
desenvolvimento e a aprendizagem de bebês e
profissionais de nível crianças menores de seis anos em espaços de
superior. Essa prática educação coletiva (BRASIL, 2012). A esse
assenta-se, em geral, na respeito, Oliveira e Vieira (2013, p. 13) discute:
justificativa de que para É necessário enfrentar as
cuidar de criança pequena resistências e conceber a

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
27

atuação docente distinta com as mudanças legais e pelas dificuldades no


da tradicional grade de planejamento e na execução das políticas
disciplinas, romper com a educacionais”.
ideia de que para cuidar Tais obstáculos e tensões se colocam
das crianças pequenas não
ainda mais desafiadores no atual momento
é necessário ter formação
específica, sendo algo
histórico e político. Campos (2017) nos propõe
natural da gênese uma reflexão a respeito do balanço crítico do
feminina o cuidado e a cenário das políticas para educação infantil que
atenção. Não é sem razão vinham se delineando desde a Constituição de
que a feminilização do 1988, pois “ao invés de comentar questões
magistério é muito mais pertinentes à continuidade de um processo
presente na Educação relativamente coerente de construção de um
Infantil e que, à medida arcabouço legal e institucional para crianças
que se avança na pequenas, fomos jogadas a contragosto para uma
educação básica, aumenta
posição muito diferente”. (CAMPOS, 2017, p.1)
a presença do sexo
masculino entre os
Esse cenário turbulento, instável e
profissionais, ou seja, os ameaçador se materializa em ações até então
homens estão mais impensáveis, como o teto de 20 anos para gastos
presentes na segunda fase sociais, como o descumprimento das metas,
do Ensino Fundamental e diretrizes e estratégias do Plano Nacional de
no Ensino Médio como Educação (PNE – 2014/2024) e como a nova
professores. política para formação de professores.
Essa nova política de formação de
O desafio da formação docente se professores, anunciada em 18 de outubro de
configura, assim, como um dos maiores 2017 e lançada em 28 de fevereiro de 2018, sob a
enfrentamentos ao se pensar as condições de égide da Residência Pedagógica, materializa-se
trabalho docente, pois pressupõe a revisão do como um modelo de estágio conservador, ao se
status desse profissional, seu plano de carreira, organizar a partir do discurso da hora da prática
sua remuneração, enfim sua profissionalização. (item 1 e 2 - Edital Capes nº 06/2018, p.1).
“Definir os tipos de A residência pedagógica
formação e especialização, terá o total de 440 horas
de carreira e de de atividades distribuídas
remuneração para um da seguinte forma: 60
determinado grupo social horas destinadas à
que vem crescendo e ambientação na escola;
consolidando-se, com a 320 de imersão, sendo 100
entrada da Educação de regência, que incluirá o
Infantil como uma etapa planejamento e execução
da educação básica e um de pelo menos uma
direito conquistado, é uma intervenção pedagógica; e
tarefa presente da qual 60 horas destinadas à
não podemos fugir”. elaboração de relatório
(OLIVEIRA; VIEIRA, 2013, final, avaliação e
p.13-14). socialização de atividades.

Historicamente, a educação infantil Esse formato reduz o fazer pedagógico a


forjou-se a partir do assistencialismo, do momentos pontuais desprovidos de reflexão e
voluntariado, do descaso, do precário destoam da compreensão do estágio enquanto
profissionalismo, o que inevitavelmente trouxe pesquisa, à medida que retoma a formação
reflexos aos profissionais que atuam nesta etapa assentada nos princípios do pragmatismo - do
da educação básica, bem como as suas condições como fazer. Além dessas questões, esse projeto
de trabalho docente. Pinto (2009, p. 82) afirma traz em seu bojo a exigência do diálogo com a
que “a construção atual no campo da educação Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Tal
da criança pequena no Brasil é marcada por vinculação obriga as instituições formadoras a
tensões herdadas do passado, pelas promessas organizarem seus currículos alinhados à BNCC,

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
28

corroborando assim para uma concepção de educando, terá como


currículo, conhecimento, docência e escola fundamentos:
reducionista, fragmentada e empobrecida. A I - a associação entre
Residência Pedagógica condicionada à BNCC teorias e práticas, inclusive
mediante a capacitação
pressupõe estar também condicionada às
em serviço;
exigências e expectativas dos gestores das II - aproveitamento da
escolas da educação básica, restando à formação e experiências
universidade condicionar seu trabalho, a fim de anteriores em instituições
atender tais demandas, o que compromete a sua de ensino e outras
autonomia e os princípios epistemológicos de atividades.
formação conforme destaca a manifestação das Art. 62. A formação de
entidades educacionais sobre política de docentes para atuar na
formação de professores apresentada pela educação básica far-se-á
ANPED em audiência no Conselho Nacional de em nível superior, em
curso de licenciatura, de
Educação em 2018.
graduação plena, em
universidades e institutos
Os modos de ser e estar professor na educação superiores de educação,
infantil: os sentidos que os professores atribuem admitida, como formação
a sua formação continuada mínima para o exercício
Para Veiga (1998, p.15), a “formação do magistério na educação
assume uma posição de “inacabamento”, infantil e nas quatro
vinculada à história de vida dos sujeitos em primeiras séries do ensino
permanente processo de formação, que fundamental, a oferecida
proporciona a preparação profissional”. Nessa em nível médio, na
modalidade Normal.
perspectiva, definir a formação docente é
(BRASIL, 1996).
compreendê-la como uma construção inacabada,
dinâmica, dialética e flexível. Reiterando essa
Como processo contínuo, dialético,
ideia, Freire (2011) destaca que a formação é um
eminentemente humano, as trajetórias
fazer permanente que se refaz continuamente na
formativas precisam ser consideradas enquanto
ação. E Alarcão (1998) a define como o processo
práticas sociais, desenvolvidas em contextos de
dinâmico por meio do qual, ao longo do tempo,
coletividade.
um profissional vai adequando sua formação às
Nesse contexto de inacabamento e
exigências de sua atividade profissional.
condicionada por inúmeros fatores que se inter-
Ainda, segundo Veiga (1998), o processo
relacionam, a formação docente está
de formação é multifacetado, plural, tem início e
intrinsecamente associada à relação teoria e
nunca tem fim. Seu início na educação infantil é
prática e à reflexão sobre a prática educativa.
demarcado pelos documentos oficiais como
Estas vêm carregadas de sentido e complexidade
formação inicial exigida, o ensino superior, aceita
no que se referem à formação de professores,
a modalidade de nível médio, na modalidade
pois transcendem, rompem com o ensino
normal. Já o seu fim, é continuamente
burocratizado, linear, pragmático e imediatista.
perseguido através da formação continuada,
Essa espiral contínua de ação-reflexão-
traduzida numa perspectiva de formação
ação possibilita ao professor olhar criticamente
realizada ao longo da vida profissional do
sua ação pedagógica, a fim de perceber suas
professor, conforme destaca a Lei n. 9.394, de 20
falhas e acertos e avançar de um ativismo prático
de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases
à práxis, e promover ressignificações concretas
da educação (LDB):
em seu modo de pensar e agir.
Art. 61. A formação de
profissionais da educação,
Partindo dessas premissas, o que
de modo a atender aos diferenciaria a formação dos educadores de
objetivos dos diferentes crianças pequenas dos demais educadores? Essa
níveis e modalidades de caracterização perpassa pela compreensão das
ensino e as características especificidades da faixa etária das crianças, pela
de cada fase do vulnerabilidade da infância, por sua forma global
desenvolvimento do de compreender o mundo, e consequentemente,

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
29

de produzir conhecimentos. Gomes (2009) reitera tendo mais. (Sandra, CIP


que o professor da educação infantil deve: 2017).
Ser um profissional capaz
de promover múltiplas A gente quase não tem
interações envolve o formação continuada no
acolhimento e a ideia de momento. Igual agora
pertença grupal, a mesmo, como recebemos
dimensão afetiva, o os livros, a gente tem
respeito às necessidades e apenas um dia de
interesses das crianças, formação da Positivo, que
aos seus padrões culturais, também é assim mais
captando-os para os apresentação do material.
propósitos do trabalho Esse último encontro foi
desenvolvido, a ampliação melhor um pouquinho,
permanente de seu mas os outros era só
universo sociocultural, mesmo para apresentar o
novo dimensionamento material, eu sinto falta,
para o educar, para o porque quando a gente
ensinar e o aprender, a está fazendo os cursos, a
permanente reflexão gente tem mais interesse
sobre os propósitos que em estar lendo, estar
guiam suas práticas, as atualizando e assim a
concepções que dão troca de experiência é
suporte às ações e, não muito boa. Eu sinto falta.
menos importante, o (Tereza, CIP 2017).
estímulo à construção de
um propósito de A formação era boa, mas
identidade profissional antes, bem antes, quando
que possa conduzi-lo a trabalhava todo mundo
olhar o próprio percurso junto, quando tinha
formativo em uma aqueles planejamentos. Eu
perspectiva de não sei porque foi no
desenvolvimento início, porque a gente
profissional. (GOMES, estava começando, todo
2009, p.54). mundo empolgado. Eu
comecei a aprender
Quando provocados a falar sobre os naquele tempo, depois eu
tomei um curso Um salto
processos formativos da rede municipal de
para o futuro, o primeiro
ensino de Guanambi – BA no tocante à educação que teve aqui, ô curso
infantil, todos os sujeitos envolvidos nesta bom, meu Deus! Aquele
pesquisa sinalizam sua preocupação em relação à curso foi bom demais, era
diminuição de tempos e espaços coletivos à noite, na época pareceu
destinados à formação, conforme se pode um “pipoco” assim na
verificar nas CIPs transcritas a seguir: minha vida, eu não
Hoje limitou essa esqueço até hoje. Às vezes
participação, o passa nos cursos que tem
oferecimento de cursos hoje, as coisas que passou
para os professores e lá, passa tudo agora, e eu
quando se oferece é on falo eu já sabia disso aí.
line ou nos planejamentos Hoje ainda tem no CETEP,
no CETEP, porém agora mas eu acho frio, não sei
limitou-se mais. Agora se são as meninas, as
temos a coordenação na colegas, as leituras ou o
creche, o que melhorou povo está muito cansado,
também, mas em termo não é mais como antes,
de formação continuada que parecia que a gente ia
para a creche não está para uma festa. Parece
que está acabando o

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
30

encanto de tudo, o fazendo cursos de


professor reclama de capacitação pra mim não
tudo, eu mesma reclamo, ficar estagnada. (Isabel,
tenho o direito de CIP 2017).
reclamar, pois eu estou
cansada e é de muito Pode-se depreender ainda dessas falas a
tempo. Eu não reclamo ausência nos últimos anos, em especial no ano de
muito, porque às vezes o 2017, da participação de estudos coletivos, o que
povo fala assim: “por que
pode vir a causar o isolamento do professor, a
você não se aposentou?”
(Maria, CIP 2017).
desarticulação do coletivo da categoria e
consequentemente diminuir a perspectiva do
Eu peguei algumas coisas. fortalecimento do trabalho docente.
Teve alguns cursos lá no A garantia de 1/3 da carga horária
CETEP. Este ano não tem, destinada aos processos formativos se configura
este ano está mais assim! como um avanço para o professor, conforme
Como os coordenadores relatos anteriores dos sujeitos pesquisados,
estão na escola, quase não entretanto faz-se necessário um planejamento
está tendo cursos de por parte da equipe gestora, a fim de garantir
formação, não!
espaço coletivo de estudo e trocas entre os
Mas de educação infantil,
eu não participava de
pares. Além disso, os sujeitos apontam a
tantos cursos de necessidade de a Secretaria Municipal de
formação, como no Educação do município de Guanambi definir uma
primeiro ano, não! Mas eu política de formação continuada para os
fui fazendo alguns pela professores da rede.
internet. Eu fiz até uma Isabel salienta a necessidade de buscar
especialização em uma aperfeiçoamento profissional para responder às
faculdade particular para necessidades do trabalho docente, no entanto
eu aprender mais. É à esta busca se dá por conta própria, por sua
distância, mas meu intuito
própria iniciativa, como se fosse responsabilidade
é porque eu tinha aluno
especial e eu não entendia
de cada profissional exercer a auto vigilância
ele. Meu intuito era eu sobre seu processo formativo.
estudar, entendeu? Se eu Nesse contexto, Ball (2002, p. 8) destaca
ficar sem fazer nada, eu que “o trabalho do gestor envolve o instalar da
acabava não estudando, atitude e da cultura segundo a qual o trabalhador
não aprendendo sobre ele, se sente, ele próprio, responsável e ao mesmo
então eu decidi fazer a tempo comprometido ou pessoalmente
especialização em empenhado na organização”.
Psicopedagogia lá, aí eu O cenário delineado até aqui se justifica à
vou assistindo os vídeos,
medida que se compreende as influências dos
eu vou lendo, mesmo que
eles não dão esse apoio
organismos internacionais, como Organização
que a gente sabe que não dos Estados Americanos (OEA), Banco
é, né? Eu fiz uma de Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco
Práticas Docentes Mundial (BM), Comunidade Europeia (CE),
Interdisciplinares em Organização para Cooperação Desenvolvimento
Caetité, que é outra coisa, Econômico (OCDE), Programa das Nações Unidas
lá é outra coisa. É para o Desenvolvimento (PNUD), Programa das
totalmente diferente, na Reformas Educacionais da América Latina e
de lá eu aprendi mais Caribe (PREAL), dentre outras, em relação às
também, na época me fez
reformas neoliberais que se desencadearam a
interrogar muitas coisas,
me fez no dia a dia da sala
partir da década de 1990 no Brasil.
de aula, ver algo que eu Essas organizações
não precisava mudar. Aí passaram a exercer forte
eu fiz outros cursos de influência na definição das
capacitação, eu acabo diretrizes educacionais,
nos países em

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
31

desenvolvimento, como atividades docentes;


no caso do Brasil, investimento na produção
apontando condições e distribuição de materiais
essenciais para melhores didáticos aos alunos;
resultados na educação, processos de avaliação
que envolvem maior externa e interna, entre as
flexibilidade das leis e principais encontradas.
normas de contratação Por essa razão, para além
docente, incentivos dos problemas
salariais seletivos, pedagógicos derivados da
recompensas não adoção de material
monetárias, ampliação do instrucional, em alguns
tempo exigido para casos desde a pré-escola,
aposentadoria, maior o que é importante
ênfase na formação por destacar é o fato de que as
habilidades que nos empresas privadas
conteúdos informativos e passam, a vender os
a premiação das escolas e chamados “sistemas de
professores pelos bons ensino”, a interferir na
resultados nas avaliações gestão do próprio sistema
externas. (BRITO et al., escolar público local.
2017, p.168). (ADRIÃO et al., 2009, p.
806).
Ball (2010) destaca ainda que a
preocupação com as questões educacionais cede Tereza Adrião, em sua fala, destaca que
lugar às demandas do mercado, pois a educação os encontros fomentados pela editora se
passa a ser considerada um bem de consumo e os resumem à apresentação do material, a formação
docentes transformados em mercadorias, assim é compreendida como um momento
obrigados a assumir a mercantilização de sua pontual e o professor um mero reprodutor do
força de trabalho e de seu conhecimento. material didático.
A presença de momentos pontuais Outra preocupação relacionada à
fomentados em parceria com a editora Positivo2 introdução de formas de parcerias público-
traz à baila outro aspecto que envolve esse privadas é reforçada por Hypolito (2012) quando
cenário, como o sistema apostilado de ensino e ele afirma que essas parcerias tanto no âmbito da
que tem ganhado cada vez mais espaço nos gestão quanto no ensino reforçam o controle do
processos formativos do Brasil. Tal adoção reflete estado sobre os currículos, por meio de exames e
o avanço do setor privado sobre a política avaliação, reduzindo a autonomia e o controle do
educacional local. professor sobre seu trabalho pedagógico. Tal
A “cesta” que compõe os controle acarreta um alinhamento do currículo
contratos firmados entre com os exames e testes, com empobrecimento
as prefeituras municipais e curricular e um possível empobrecimento
a iniciativa privada é curricular também dos cursos de formação
integrada por atividades docente.
tradicionalmente
O acompanhamento pedagógico também
desenvolvidas pelas
equipes pedagógicas dos
é evidenciado na fala dos professores, a presença
órgãos da administração dos coordenadores na escola é vista como uma
pública e das escolas: conquista, principalmente se esse trabalho é
formação continuada de pautado por processos sistemáticos de reflexão
educadores, efetivo compartilhada sobre a prática em situações de
acompanhamento das interação entre professores e coordenadores
pedagógicos. Todavia, o preço pago resultou na
2
Nos anos de 2016 e 2017, a prefeitura municipal de Guanambi dissolução dos momentos formativos coletivos e
efetivou uma parceria com a Editora Positivo. Esta parceria dos momentos de estudo, conforme destaca
preconiza a aquisição de livros didáticos para as turmas da pré-
escola da rede municipal. Assim sendo, a editora realiza Sandra.
semestralmente um momento formativo de apresentação da Para Maria, os processos formativos
coleção para os professores que trabalharão com o material. Trata-
foram perdendo o encanto com o decorrer do
se de uma formação exclusiva para utilização dos livros.

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
32

tempo, e uma possível justificativa foi o cansaço para as crianças pequenas. Entretanto, existem
do professor. Cansaço decorrente de uma ainda muitos enfrentamentos que envolvem a
jornada de trabalho extensa, de sobrecarga de educação infantil resultantes das desigualdades e
atividades e maior envolvimento físico e injustiças que se engendraram no seu processo
emocional com o trabalho. histórico. Dentre eles, o da formação docente se
Forjar um processo formativo que configura como um dos maiores ao se pensar as
atenda a todas as questões pontuadas neste condições de trabalho docente, pois pressupõe a
texto é um desafio, pois os espaços e tempos revisão do status desse profissional, seu plano de
formativos atualmente se caracterizam como carreira, sua remuneração, enfim sua
momentos formativos aligeirados, pontuais, que profissionalização.
evidenciam a desarticulação entre a teoria e a Quando provocados a falar sobre os
prática e pouco colaboram para a adoção de uma processos formativos da rede municipal de
atitude investigativa ou reflexiva. É comum ainda ensino de Guanambi – BA no tocante à educação
a utilização por alguns gestores públicos, de infantil, todos os sujeitos envolvidos nesta
expressões como “treinamento”, “cursos de pesquisa sinalizaram sua preocupação em relação
reciclagem”, “capacitação”, em que há à diminuição de tempos e espaços coletivos
prevalência da teoria sobre a prática ou mais destinados à formação. Ressaltaram também que
comumente o contrário, sugestões práticas de a garantia de 1/3 da carga horária destinada aos
aulas modelares, evidenciando a influência dos processos formativos se configura como um
organismos internacionais na definição desses avanço para o professor, entretanto faz-se
processos. necessário um planejamento por parte da equipe
gestora, a fim de garantir espaço coletivo de
CONCLUSÕES estudo e de trocas entre os pares. Além disso, os
A partir das discussões elencadas, ao sujeitos apontaram a necessidade de a Secretaria
longo deste artigo, conclui-se que o perfil, a Municipal de Educação do município de
formação e a condição de trabalho docente dos Guanambi definir uma política de formação
profissionais que desempenham atividades continuada para os professores da rede.
pedagógicas nas creches e pré-escolas implicam e A presença dos coordenadores na escola
tem implicações nas políticas que norteiam e/ou é vista pelos professores como uma conquista,
nortearam essa etapa da educação. Desse modo, principalmente se esse trabalho é pautado por
compreender os aspectos históricos e políticos da processos sistemáticos de reflexão compartilhada
educação infantil possibilita compreender como sobre a prática em situações de interação entre
eles se configuram como marcos na construção professores e coordenadores pedagógicos.
de políticas públicas para esse segmento da Todavia, o preço pago resultou na dissolução dos
educação básica. momentos formativos coletivos e dos momentos
As questões aqui abordadas ratificam a de estudo.
desvalorização e o dualismo que envolvem os A presença de momentos pontuais
profissionais que trabalham na educação infantil. fomentados em parceria com a editora Positivo
Refletem ainda a estruturação histórica que evidencia um cenário marcado pela presença do
compreendeu e ainda compreende a educação sistema apostilado de ensino, que tem ganhado
infantil como etapa da educação básica voltada cada vez mais espaço nos processos formativos
apenas ao cuidar e ao âmbito das políticas do Brasil. Tal adoção reflete o avanço do setor
educacionais centradas no assistencialismo, no privado sobre a política educacional local.
voluntariado, o que tem certamente contribuído Os sentidos atribuídos pelos professores
para as precárias condições de trabalho docente deste estudo à formação continuada revelam
e para precarização do profissionalismo. A desafios e tensões que demandam
dualidade reforça o descaso e o descompromisso enfrentamentos e resistência por parte da
com a educação pública de qualidade para as categoria, principalmente no atual momento
crianças pequenas, desconsiderando que neste histórico e político, marcado por um cenário
segmento da educação básica, o cuidar, o brincar turbulento, instável e ameaçador que se
e o educar se constituem a tríade que o sustenta. materializa em ações até então impensáveis e
O delineamento das políticas que que afetam diretamente os setores sociais como
contemplam a educação infantil se constitui a educação.
importante ação rumo à educação de qualidade

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
33

REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 12.014, de 6 de agosto de 2009.


ADRIÃO, T. et al. Uma modalidade peculiar de Altera o art. 61 da Lei n. 9.394, de 20 de
privatização da educação pública: a aquisição de dezembro de 1996, com a finalidade de
“sistemas de ensino” por municípios paulistas. discriminar as categorias de trabalhadores que se
Educação e Sociedade, Campinas, v. 30, n. 108, p. devem considerar profissionais da educação.
799-818, 2009. https://doi.org/10.1590/S0101- Diário Oficial da União, Brasília-DF, 07 ago. 2009.
73302009000300009 Brasília: Presidência da República, 2009.
Disponível em:
ALARCÃO, I. Formação continuada como http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
instrumento de profissionalização docente. In: 2010/2009/lei/l12014.htm. Acesso em: 12 set.
VEIGA, I. P. A. (Org.). Caminhos da 2019.
profissionalização do magistério. Campinas:
Papirus, 1998. p. 99-122. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394 de 20
ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. O de dezembro de 1996. Brasília: MEC, 1996.
método nas ciências naturais e sociais: pesquisa
quantitativa e qualitativa. 2.ed. São Paulo: BRASIL. Parecer n. 17/2012. Orientações sobre a
Pioneira Thomson Learning, 2004. organização e o funcionamento da educação
infantil, inclusive sobre a formação docente, em
BALL, S. Performatividade e fabricações na consonância com as diretrizes curriculares
economia educacional: rumo a uma sociedade nacionais para a educação infantil. Brasília:
performativa. Educação e Realidade, Faculdade Presidência da República Disponível em:
de Educação da Universidade Federal do Rio http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com
Grande do Sul, v. 2, n. 32, p. 37-55, 2010. _docman&view=download&alias=14597-
pceb017-12-2&category_slug=novembro-2013-
BALL, S. Reformar escolas/reformar professores e pdf&Itemid=30192. Acesso em: 03 out. 2019.
os terrores da performatividade. Revista
Portuguesa de Educação, Braga-Portugal, BRITO, R. S.; PRADO, J. R.; NUNES, C. P. As
Universidade do Minho, v. 15, n. 2, p. 3- 23, 2002. condições de trabalho docente e o pós-estado de
bem-estar social. Revista Tempos e Espaços em
BOGDAN, R.; BIKLEN, S. K. Investigação Educação, Sergipe, v. 10, n. 23, p. 165-174, 2017.
qualitativa em educação: uma introdução à https://doi.org/10.20952/revtee.v10i23.6676
teoria e aos métodos. Porto, Portugal: Porto
Editora, 1994. CAMPOS, M. M. A formação de professores para
crianças de 0 a 10 anos: modelos em debate.
BRASIL. Edital CAPES 06/2018 que dispõe sobre a Educação e Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p.
residência pedagógica. Brasília: MEC, 2018. 126-142, 1999. https://doi.org/10.1590/S0101-
Disponível em: 73301999000300007
capes.gov.br/images/stories/download/editais/0
1032018-Edital-6-2018-%20esidencia- CAMPOS, M. M. Balanço analítico da educação
pedagogica.pdf. Acesso em: 01 out. 2019. infantil: direitos em risco e consensos possíveis.
São Luís: ANPED, 2017. Disponível em:
BRASIL. Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008. http://www.38reuniao.anped.org.br/.../trabalho
Regulamenta a alínea "e" do inciso III do caput do encom_38anped_2017_gt07_textomariamaltaca
art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais m. Acesso em: 06 out. 2019.
Transitórias, para instituir o piso salarial
profissional nacional para os profissionais do CAMPOS, M. M. et al. A gestão da educação
magistério público da educação básica. Brasília: infantil no Brasil. Estudos e pesquisas
Presidência da República, 2008. Disponível em: educacionais, São Paulo, n. 3, p. 29-102, 2012.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11738.htm. Acesso em: 11 set. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes
2017. necessários à prática educativa. 43.ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2011.

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444
34

GOMES, M. O. Formação de professores na SCHEIBE, L. Valorização e formação dos


educação infantil. São Paulo: Cortez, 2009. professores para a educação básica: questões
desafiadoras para um novo plano nacional de
HYPOLITO, Á. M. Trabalho docente na educação educação. Educação Sociedade, Campinas, v. 31,
básica no Brasil: as condições de trabalho. In: n. 112, p. 981-1000, 2010.
OLIVEIRA, D. A.; VIEIRA, L. M. F. (Org.). Trabalho https://doi.org/10.1590/S0101-
na educação básica: a condição em sete estados 73302010000300017
brasileiros. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012. p.
211-229. TEIXEIRA, E. C. N. S. Impactos da lei do piso
salarial nacional no município de Pindaí - BA e
MANIFESTAÇÃO das entidades educacionais suas implicações na valorização docente:
sobre a política de formação de professores sentidos dos/as professores/as. 2016. 241 f.
anunciada pelo MEC. [s. l.]: ABdC: ABRAPEC: Dissertação (Mestrado em Educação) -
ANFOPE: ANPA: ANPEd: CEDES: FINEDUCA: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
FORUMDIR, 2017. Disponível em: Vitória da Conquista, 2016.
http://www.anped.org.br/sites/default/files/nota
daentidades_-_31.10.17comlogo.pdf. Acesso em: VEIGA, I. P. A. Profissão docente: novos sentidos,
05 out. 2019. novas perspectivas. Campinas: Papirus, 1998.

NUNES, C. P. Ciências da educação e prática VIEIRA, L. M. F.; SOUZA, G. Trabalho e emprego


pedagógica: sentidos atribuídos por estudantes na educação infantil no Brasil: segmentações e
de Pedagogia. Ijuí: Unijuí, 2011. desigualdades. Educar em Revista, Curitiba,
Brasil, n. 1, p. 119-139, 2010.
OLIVEIRA, D. A.; VIEIRA, L. M. F. Condições de https://doi.org/10.1590/S0104-
trabalho docente: uma análise a partir de dados 40602010000400006
de sete estados brasileiros. In: OLIVEIRA, D. A. O.;
VIEIRA, L. M. F. (Org.). Trabalho na educação VIEIRA, L. M. F.; DUARTE, A. Professores da
básica: a condição em sete estados brasileiros. educação infantil no Brasil: Desigualdades no
Belo Horizonte: Fino Traço Editora, 2012. p. 153- trabalho docente e no status social. In: OLIVEIRA,
190. D. A.; FELDFEBER, M.; ESCOBAR, R. G. Educación
y trabajo docente em el nuevo escenario latino-
OLIVEIRA, D. A.; VIEIRA, L. M. F. (Org.). Trabalho americano: entre la mercantilización del
docente: desafios e cotidiano da educação conocimiento. Peru: Fondo Editorial, 2012. p.
básica. Campinas: Editora Mercado de Letras, 195-2016.
2013. p. 153-190.

PASCAL, C.; BERTRAN, A.; HEASLIP, P. Mudanças


no contexto da formação do educador infantil na
Europa. In: ROSEMBERG, F.; CAMPOS, M. M.
(Org.). Creches e pré-escolas no hemisfério
Norte. São Paulo: Cortez, 1994. p. 299-322.

PINTO, M. F. O trabalho docente na educação


infantil pública em Belo Horizonte. 2009. 194 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade
de Educação, UFMG, Belo Horizonte, 2009.

ROSEMBERG, F. Políticas de educação infantil e


avaliação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v.
43, n. 148, p. 44-75, 2003.
https://doi.org/10.1590/S0100-
15742013000100004

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 4, p.18-34 out/dez 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n4.h444

Você também pode gostar