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Capitulo 1: A pele — principios basicos de anatomia e fisiologia OBJETIVO Neste capitulo, iremos fornecer aos profissionais que atuam com estética informagées importantes da anatomia e fisiologia da pele humana, de maneira clara e objetiva. Entendemos que cada vez mais, em nosso meio profissional, 0 conhecimento da pele esta inteiramente ligado aos procedimentos estéticos adotados, bem como aos resultados satisfatorios de carter relativamente permanente. Por isso, elucidar os principios basicos de anatomia e fisiologia do tegumento iré ajudar o leitor a responder a questdes do cotidiano ¢ a criar possibilidades entre a atividade clinica e a pesquisa cientifica na drea cosmética. Em virtude dos conhecimentos especificos necessérios para a pratica, procuramos reunir neste texto conceitos ¢ bases da organizagao estrutural e funcional da epiderme, derme ¢ hipoderme, a fim de acrescentar 0 contetido necessario para o atendimento de afecgdes na area da estética. INTRODUGAO A pele é de extrema importincia, no s6 como estética, mas também como érgio funcional. Recobre totalmente 0 corpo, e seus limites so os orificios externos dos tratos auditivo, respiratorio, digestério e urogenital. Por revestir externamente nosso organismo e ser 0 érgio mais acessivel a observagao, a pele nao representa apenas um invélucro corporal quanto ao aspecto de autoimagem; é também um orgao funcional vital ligado 4 saiide do individuo. Destaca-se, ainda, como um orgio imunoldgico, em virtude dos elementos celulares que nela esto contidos: queratinécitos, mastécitos ¢ células dendriticas, que agem como protegao contra os agentes agressores internos e externos, protegendo o organismo contra injirias teciduais.' Constitui-se de matéria organica altamente flexivel, autorrenovavel e extremamente especializada. Estruturalmente é a combinagao de quatro tecidos fundamentais: o epitelial, o muscular, 0 conectivo (ou conjuntivo) ¢ nervoso.” A pele representa 0 érgio de maior peso corporal, tendo, em média, 15% do valor total do peso do individuo, com drea em torno de 1,5 m’ no adulto médio normal.’ Esta situada acima do tecido gorduroso, das fascias, dos misculos e dos ossos. Amplamente desenvolvida ¢ com caracteristica dindmica, apresenta alteragdes constantes em suas células com o passar dos anos e desempenha fungdes de regulagdo no organismo, como a de barreira mecanica, a de recepgdo sensorial e sexual, a de temperatura, a de imunidade cutanea e fungao social, além de cumprir outras fungdes, como a de percepgiio de estimulos dolorosos, mecanicos e presséricos PRINCIPIOS ANATOMICOS Na anatomia cutinea, duas camadas so reconhecidas: a epiderme, que € a mais externa; ¢ a derme, subjacente a ela, a mais profunda. Muitos profissionais néo consideram a hipoderme (situada logo abaixo da derme) como uma terceira camada da pele; entretanto, abordaremos o assunto neste capitulo’ pela relevancia estrutural e funcional com as outras camadas adjacentes (Figura 1.1). Contidos nessas estruturas, encontram-se vasos, nervos, terminagdes nervosas € os anexos cutdneos (pelos, glandulas e unhas), que constituem o sistema tegumentar ou tegumento. O epitélio da pele apresenta espessura varidvel e distingue-se em pele fina e espessa. A pele espessa é encontrada nas palmas das mos, na planta dos pés ¢ em algumas articulagdes, como joelhos ¢ cotovelos.* O restante do corpo humano é protegido por pele fina; ja nas pdlpebras, ela & muito fina. A idade cronolégica, 0 sexo e a constituigdo individual também condicionam a espessura dessa estrutura; por exemplo, homens apresentam pele mais espessa do que as mulheres, e as criangas, pele fina como a dos idosos. Corpiisculo de Meissner Glandula sebiicea Camada céenea (queratinizac Terminagao nervosa livre Glandula sudoripara (Miisculo eretor do pelo Folicuio pilosa Tecido subcuténeo (adiposo) Ficura 1.1 — Representagio esquematica da arqutetura da pele. EPIDERME A epiderme é formada por um tecido epitelial do tipo estratificado pavimentoso queratinizado (Figura 1.2), que representa a camada continua estendida por toda a superficie do corpo humano, com valor aproximado de 0,07 mm a 1,6 mm de espessura na maior parte do organismo, Nao possui suprimento sanguineo proprio; depende da vascularizagao situada na derme. Pode ser dividida em cinco camadas distintas, que continuamente so substituidas,”* e constituida também por cinco tipos de células. Uma dessas células, 0 queratinécito (comeécito), constitui cerca de 80% da populagdo de células da epiderme e é responsavel pela constante renovagiio (descamagao) da pele. Camada comes Camada "granulosa Camda espinnosa Ficura 1,2 ~ Esquematizacao do tecido epitelal estratficado pavimentoso queratinizado. Outros constituintes celulares que compoem a epiderme so: as células de Langerhans (2% a 8%), pertencentes ao sistema imunolégico; as células de Merkel (3%), que funcionam como um tipo de receptor tatil; e os melandcitos (5% a 10%), responsaveis pela produgaio do pigmento melanina®"? (Figura 1.3). Segundo Souza e Vargas," uma célula melanécito consegue transferir melanina para o interior de 36 queratinécitos, cuja fungdo ¢ proteger o DNA dos niicleos celulares; consequentemente, bloqueia a formagao de radicais livres, protegendo a pele contra a ago danosa dos raios ultravioleta Ae B.!" Embora as células de Langerhans nfo sejam consideradas tipicamente um componente funcional da barreira epidérmica, como os queratinécitos, elas desempenham protegiio imunolégica adicional & pele, agindo como uma barreira fisica aos organismos patogénicos.!™" As células de Merkel esto envolvidas na sensorialidade cutanea e se concentram mais nas palmas das maos ¢ nas plantas dos pés, atuando como identificadoras do tato, da pressio ¢ do estiramento da pele." Langerhans Melanécito Ficura 1.3 — As quatro células que constituem a epiderme. A estrutura cpidérmica ¢ dividida em cinco camadas celulares distintas denominadas: basal, espinhosa, granulosa, licida ou de transig&io e cérnea. Essas estruturas celulares serio abordadas separadamente a seguir. CAMADA BASAL Acamada celular basal da origem ao denominado estrato germinativo. E a parte mais profunda da epiderme e est localizada préximo derme. Possui dois tipos de células: as basais ou germinativas € os melanécitos, Essa camada se destaca por apresentar uma tinica fileira de queratinécitos (células germinativas), com formato ciibico ou cilindrico, que esto dispostos um ao lado do outro, a maioria com a capacidade de multiplicagio celular (mitose). Dessas células, 10% so células-tronco (stem cells), 50% sao células amplificadoras e 40% so células pés-mitéticas que se movem para a periferia da epiderme.°*” Na camada basal, as células iniciam processo de diferenciago celular, ou seja, sofrem uma série de alteragdes bioquimicas ¢ morfoldgicas, resultando na produgdo de células mortas que serdo retiradas da superficie cutinea e naturalmente substituidas por novas células. A fungio basica do estrato basal € produzir novas células que se deslocam para as camadas mais superficiais da pele, caracterizando assim o processo de formagdo dos estratos adjacentes: espinhoso, granuloso e cérneo (Figura 1.4). Quando as células se afastam da fonte de nutrigdo, elas comegam a morrer e sofrem a queratinizaga0. O ciclo mitético da célula germinativa é por volta de 28 dias.!241415 Desse modo, a queratina endurece e impermeabiliza parcialmente a epiderme, garantindo a manutengao da pele. ESTRUTURA DA EPIDERME oo, ae Camada cornea Camada de transigao (Licida) Camada granulosa Camada espinhosa Camada basal Membrana basal Ficura 1.4 — Estdgios de diferenciaco celular da epiderme. CAMADA ESPINHOSA As células espinhosas ou estrato de Malpighi representam a camada mais espessa da epiderme (Figura 1.4). A camada espinhosa situa-se acima da camada basal ¢ & constituida por fileiras de queratinécitos, cujo nimero varia na dependéncia da localizago anatémica e dos fatores endégenos e exdgenos. Essas células so poliédricas (muitas faces planas) e pavimentosas que, ao deixarem 0 estrato basal em diregdo 4 superficie, passam por sucessivas e importantes transformagdes morfolégicas, moleculares ¢ histoquimicas. Nessa camada, os queratinécitos tém aparéncia de células com espinhos na sua superficie,"“67811!2 CAMADA GRANULOSA Acima da camada espinhosa, em diregio A superficie da pele, as células formam algumas fileiras de células achatadas, nucleadas ¢ repletas em seu citoplasma de granulos denominados baséfilos de querato-hialina (Figura 1.4)."8 A medida que os granulos aumentam de tamanho, 0 niicleo se desintegra ¢ ocorre a morte das células mais superficiais do estrato gramuloso. Esses graos de queratina so constituidos por profilagrina que ser convertida em filagrina, uma proteina basica, rica emhistidina, cuja fungiio é proporcionar resisténcia a essa camada,”? CAMADA LUCIDA OU DE TRANSICAO Estrato Iicido ou de transigio é considerado uma camada adicional entre os estratos granuloso cérneo (Figura 1.4), sendo evidente, em maior quantidade, na pele mais espessa (planta dos pés palma das mios). Nessa fase, as células encontram-se anucleadas e formam uma faixa clara e homogénea.!"* CAMADA CORNEA As células do estrato cérneo compéem a parte mais superficial da pele (Figura 1.4) ¢ so as mais diferenciadas de toda a epiderme, pois nao tém niicleo e estio achatadas. A camada cérnea tem espessura varidvel de acordo com sua regionalizagao anatémica, ou seja, em regides de grande atrito pode atingir até 1,5 mm de espessura. Nessa fase, os queratinécitos que residem no estrato cérneo completaram 0 processo de maturagdo celular, a queratinizacdo. Finalmente, a capa cornea superficial desidrata, descama ¢ desempenha fungdes de barreira protetora mecdnica, prevenindo a passagem de Agua e substincias soliiveis do meio ambiente para o interior do corpo.'* "3 JUNGAO DERMOEPIDERMICA Outra estrutura importante que compde a pele é a juncdo dermoepidérmica, composta por prolongamentos de células basais, denominadas hemidesmossomas, ¢ partes de fibras dérmicas. A epiderme penetra na derme por meio das cristas epidérmicas, enquanto a derme se projeta na epiderme através das papilas dérmicas, como ilustra a Figura 1.5 jungdes permitem assegurar a aderéncia entre a epiderme e a derme, além de propiciar as trocas metabélicas necessarias para a pele." Quando as papilas dérmicas se projetam para a epiderme em dirego a superficie, apresentam uma série de cristas (elevagdes) que esto separadas por sulcos, constituindo, dessa maneira, as impressdes digitais ou dermatéglifos (Figura 1.6).'*57%9 Essas eminéncias superficiais estio presentes nas regides palmar e plantar, caracterizando a imutabilidade e individualidade da pessoa. Ficura 1.6 — Dermatégifos do polegar. DERME Trata-se da camada intermedidria de sustentago da pele. Sua origem embriondria é do mesoderma e, histologicamente, é formada de tecido conjuntivo propriamente dito, pelo qual a epiderme se fixa 4 derme. Sobretudo, essa camada é constituida por células denominadas fibroblastos (responsaveis pela produgdo de fibras de colageno e elastina), por enzimas como colagenase © estromelisina, bem como de matriz extracelular. Outras células diferenciadas que compéem a derme sio os macréfagos, os linfécitos e os mastécitos, que desempenham a defesa imunoldgica dessa estrutura intermedidria.!5""6 17 A derme & composta generosamente de vasos sanguineos ¢ linfaticos, de estruturas nervosas sensoriais e de musculatura lisa. Classicamente é dividida em duas camadas: a camada superficial, ou papilar, formada por tecido conjuntivo propriamente dito do tipo frouxo ¢ localizada imediatamente abaixo da epiderme; e a camada reticular, ou profunda, composta de fecido conjuntivo propriamente dito do tipo denso nao modelado e situada profundamente em relag3o a camada papilar, como ilustra a Figura 1.7 (aspecto anatémico).*56*"° Derme reticular Ficura 1.7 — Representagao esquematica do aspecto anatémico das dermes paplr e reticular, respectivamente. Caracteristicamente, a derme papilar contém maior quantidade de matriz extracelular; no entanto, menos coldgeno ¢ elastina. As fibras de colageno e elastina esto arranjadas de maneira mais dispersa ¢ orientadas perpendicularmente em diregaio & superficie. Os vasos sanguineos contidos nessa camada, embora abundantes, so pequenos ¢ com didmetro de capilares,!™ Entretanto, a maior parte da derme ¢ constituida por derme reticular (Figuras 1.7 ¢ 1.8). Em contraste com a derme papilar, a camada reticular & composta de fibras de colageno denso, entremeadas de longas ¢ espessas fibras de elastina, geralmente assumindo um arranjo longitudinal paralelo superficie cutanea,*!0'54516\ Além disso, as caracteristicas da pele mostram uma significativa variagdo estrutural em diferentes regides do corpo, Como ilustrado na Figura 1.8, a epiderme mais grossa encontra-se na palma das mfios ¢ na planta dos pés, podendo chegar a até 1,5 mm de espessura em razio de uma camada espessa de queratina compacta, enquanto nas palpebras, no abdome, nas coxas ¢ nos punhos, a pele é mais fina ¢ delicada. A derme mais espessa localiza-se na regiio do dorso, com quase 4 mm. A superficie posterior do corpo é quase sempre mais espessa do que a anterior; e as partes laterais, mais espessas que as mediais.* Ficura 1.8 — Esquematizacao das espessuras da pele. Fonte: Michalany e Michalany, 2002.* Apesar dessas variagdes topograficas da disposig&io dérmica, 0 tecido conjuntivo compreende um verdadeiro gel viscoso, rico em mucopolissacarideos, que participa na resisténcia mecdnica da pele diante de compressées ¢ estiramentos (Figura 1.9). O fibroblasto povoa o tecido conjuntivo ¢ é a principal célula desse tecido de sustentagao. 5, essencialmente, responsdvel pela produgao dos elementos fibrilares, como o colageno e a elastina, ¢ no fibrilares, como as glicoproteinas, a proteoglicana e 0 acido hialurénico contidos na derme. O colageno é sintetizado nos fibroblastos na forma precursora do pré-colégeno. Além desse modo de ago, os fibroblastos atuam na reparagio tecidual. Um traumatismo na derme influencia a fungdo celular dos “fibroblastos” préximos & ferida, promovendo migragao dessas células em diregio a area lesionada, produzindo grande quantidade de matriz colagenosa,”!*"6"7141920 Cabe ressaltar que existem fatores que induzem perdas da capacidade proliferativa e da fungdo dos fibroblastos, ¢ a sua morte: os ambientais, os quimicos ¢ os fisicos. Por exemplo: a intensidade © tempo de exposi¢ao solar desidratam e degeneram os componentes do tecido conjuntive dérmico, acarretando em turgor diminuido, enrugamento ¢ elasticidade alterada. Se, por um lado, o fibroblasto pode softer perdas em suas fimgdes, por outro, pode ocorrer aumento exacerbado na produgao de suas células, fato que induz as fibroses cicatriciais.2"*!9202! Ficura 1.9 - 1) Compressio; 2) repouso; 3) distensdo dos componentes elésticos da derme. COLAGENO © colégeno € uma glicoproteina formada pelos aminodcidos glicina, prolina e hidroxiprolina, formando trés cadeias polipeptidicas. E a principal e mais abundante proteina que compée o tecido conjuntivo, fazendo parte de uma familia com mais de vinte tipos de colégenos em nosso organismo ja descritos na literatura, Corresponde a aproximadamente 75% do peso seco da derme,"” ¢ esse valor diminui cerca de 1% a cada ano em ambos os sexos, principalmente 0 colageno tipo I.'6"™'822 Assim, na pele esto distribuidos colagenos do tipo I, III, IV ¢ VII, sendo em maior quantidade os do tipo I ¢ III, Esto presentes na derme papilar, predominantemente, as fibras colagenas do tipo III, consideradas a segunda forma mais abundante de colageno na pele, compreendendo cerca de 10% a 15% da matriz extracelular. Nessa camada, existe maior mimero de fibroblastos e capilares do que na derme reticular, e suas fibras colégenas sio mais finas, nio se agrupando em feixes, como acontece na derme reticular. Isso quer dizer que a pele nessa camada é menos consistente quando comparada com a porgo reticular.*!"23245 Por sua vez, a derme reticular compreende feixes de colégeno do tipo I e representa de 80% a 85% da populago da matriz extracelular na pele jovem. O dano ao coldgeno I pode ocorrer & medida que a pele cronicamente & exposta a radigGo do sol, sendo atribuida uma diminuicio aproximada de 59% desses niveis de colageno.™"” Essa redug&o ocorre pela extensio do dano solar, ou seja, a radiac&o agride a matriz do colageno, aumentando a produgio de enzimas degradadoras de coldgeno denominadas metaloproteinases da matriz, que podem resultar na produgaio de colagenase, gelatinase ¢ estromelisina, como também na degradagdo da clastina. Em contraste, foi identificado que apés procedimentos de dermoabrasio, a pele apresentou neocolagénese, isto é, aumento de colageno do tipo 1 Somando-se a isso, estudos demostraram??’ que a neocolagénese e a neoelastogénese podem ocorrer a partir da liberacio de proteinas denominadas proteinas de choque térmico ou HSP (heat shock protein). Essas proteinas so ativadas com indugdo de elevadas temperaturas na pele (por exemplo, aplicagdo da radiofrequéncia e do laser), contribuindo para o desencadeamento de uma cadeia inflamatéria no tecido cuténeo, com aumento imediato de interleucina 1-beta (IL-1b), fator de necrose tumoral alfa (TNF-a), metaloproteinase 13 (MMP-13), proteina de choque térmico 47 (HSP47) ¢ fator de crescimento transformador beta (TGF-b). Esses dois tiltimos fatores mantém-se elevados apés a inflamagdo tecidual induzida e controlada. Assim, a acéo da proteina HSP47, presente no tecido apds aplicagées terapéuticas e estéticas parametrizadas, é proteger as células produtoras de colageno ¢ incentivar a neocolagénese do tipo I. Outra caracteristica importante de distribuigao e localizagao anatémica é a micro-organiza¢ao do colageno presente na derme papilar, especialmente quanto a seu papel funcional. As fibras colégenas e cldsticas presentes nessa camada apresentam um padréo tensional caracteristico e distinto denominado de linhas de Langer (linhas de tensdo da pele, linhas de clivagem)." As linhas de Langer foram descritas por Karl Langer, um anatomista austriaco que estudou a pele de cadaveres e verificou que os feixes de fibras de coldgeno na derme apresentavam-se em todas as diregdes para produzir um tecido resistente em um local especffico, e concluiu que a maioria das fibras da pele segue a mesma diregdo'*** (Figura 1.10). Além disso, as linhas de tensionamento seguem as linhas naturais da pele, as rugas da maturidade. Ao se falar de rugas, é preciso destacar que as contragdes musculares permanentes geram marcas profundas, ¢ a auséncia funcional temporaria intencional (paralisia do misculo) alivia as marcas de tensio. Entio, os movimentos e as expressées exageradas dos misculos da face, as “rugas de expressao”, surgem com o desalinhamento funcional dessas linhas de clivagem.'°?* O colageno tipo IV é encontrado na zona da membrana basal, formando uma trama entre a epiderme e a derme. O tipo VII forma as fibrilas de ancoragem na jungfio dermoepidérmica. Algumas pesquisas, porém, demonstram que a ligagdo enfraquecida entre a derme e a epiderme afeta o colageno tipo VII, podendo levar também a formagao de rugas.!” JG ® Ficura 1,10 — Representaco das Inhas de Langer ou Inhas de forca da pele. ELASTINA Aelastina é uma proteina presente na pele que faz parte do sistema elastico da derme. Exemplos funcionais desse sistema sao as caracteristicas fisicas da pele: a elasticidade, que ¢ a capacidade do sistema clastico ser tracionado ou distendido e recuar 4 sua forma fisiolégica normal; e a compressibilidade, que é a capacidade da pele suportar forcas de compressao. Isso ocorre pela alta viscosidade da derme fornecida pelas macromoléculas glicosaminoglicanas e proteoglicanas.!*!! Do mesmo modo que 0 colageno, a elastina também é produzida pelos fibroblastos, e sua fungao é a elasticidade ¢ a resisténcia ao desgaste cutineo. A fibrilina € outro componente elastico que permite resisténcia e suporte para deposigo de clastina.”* Além desses dois componentes elasticos principais, a clastina ¢ a fibrilina, o sistema elastico é formado por trés tipos de fibras: fibras de oxitalano, presentes em disposicao perpendicular na derme papilar, consideradas jovens; fibras de elaunina, que se fixam a um plexo horizontal de fibras na derme reticular, denominadas maduras; e fibras eldsticas mais maduras (sem denominagao), que sdo mais espessas ¢ encontradas na derme reticular profunda (Figura 1.11).!%9 Ficura 1.11 — Disposigio topogréfica do sistema de fibras elésticas da derme. Em compensagao, a degradagGo funcional desse tecido eldstico leva ao aciimulo de massas amorfas e grosseiras, ao aumento das glicosaminoglicanas e redugiio do colageno, resultando em hipertrofia da derme papilar, como mostra a Figura 1.12. Esse aumento da consisténcia da pele é uma manifestagao clinica denominada elastose, um enrugamento profundo da pele, que é comum em pessoas que passam tempo prolongado e repetido a luz solar.*!2 Ficura 1.12 — Elstose, hipertrofia da derme papilar. SUBSTANCIA FUNDAMENTAL ‘A fungdo da substincia fundamental amorfa ¢ promover resisténcia as forgas de compressio aplicadas sobre 0 tecido, pois trata-se de um complexo viscoso e altamente hidrofilico de macromoléculas nomeadas de glicosaminoglicanas, proteoglicanas e de glicoproteinas, que fornecem firmeza e turgor a pele.7*!l3 A’ s incia fundamental, como também outros componentes do tecido conjuntivo, tem a propriedade de tixotropia, ou seja, a capacidade de passar do estado liquido para o estado de gel e vice-versa.” Quando 0 tecido conjuntivo dérmico sofre um aumento de temperatura por meio de um recurso termoterapico, o grau de viscosidade e a resisténcia da pele diminuem proporcionalmente ao ganho do nivel de calor; em contrapartida, com a queda de temperatura, com o frio, a viscosidade aumenta, diminuindo a maleabilidade, a elasticidade e a compressibilidade da pele. MUSCULOS DA PELE E PELOS A musculatura da pele é predominantemente lisa, isto ¢, involuntaria, e compreende os misculos eretores dos pelos, do escroto e da aréola mamiria. O musculo eretor do pelo se insere nas extremidades das papilas dérmicas, e, quando 0 misculo se contrai, desloca o pelo em posigao perpendicular a superficie da pele, ficando erétil. A mudanga de temperatura ambiental e corporal é um estimulo que ativa a musculatura lisa logo apés ou durante os procedimentos estéticos a base de frio. Nesse caso, exemplificamos como criopeeling, uma técnica que utiliza o frio como objetivo de promover descamagdo e renovagdo celular, A baixa de temperatura gerada na pele induz uma resposta contratil da musculatura lisa e consequente elevagaio dos pelos (arrepio).3!?* Os foliculos pilosos esto em quase toda parte da superficie da pele, exceto na palma das mios, na planta dos pés, nos lébios ¢ na regidio urogenital interna. O foliculo ¢ uma haste rodeada de revestimento epitelial, continuo com a epiderme, a glandula sebacea e 0 musculo eretor do pelo"? (Figura 1.13). A cor do pelo é em razo da presenga de melanécitos que se localizam entre as células epiteliais da raiz do foliculo, produzindo melanina. Com o envelhecimento humano, os melanécitos dos pelos podem ser danificados e parar © processo de pigmentagéo, aparecendo entio foliculos pilosos brancos. A fungio basica do pelo é de protegao contra o calor, o frio e particulas estranhas do meio ambiente. Cada haste do pelo é composta de duas ou trés camadas de queratina altamente organizadas. Estruturalmente, existem dois tipos de pelos: os velos, curtos, pigmentados e muito finos, com distribuigio por toda a superficie corporal; e os ferminais, mais longos, grossos e pigmentados, encontrados no pibis, na face, nas axilas, nas palpebras, no couro cabeludo, nos bragos e nas pernas."!"3! Maxie dope r a todo ncn sebces See ‘izdoseo eb subi Ficurs 1,13 - Estrutura anatémica do foicub piso. VASOS SANGUINEOS DA PELE O sistema circulatorio da pele acontece por meio de dois entrelacamentos: o primeiro ¢ chamado de plexo superficial e 0 outro, de plexo profundo. Anatomicamente, 0 plexo mais superficial esta disposto logo abaixo das papilas dérmicas, conhecido por plexo subpapilar, que tem a fungdo primordial de suprir a necessidade circulatéria da derme, Abaixo, esta o plexo profundo, localizado na jungdo da hipoderme coma derme, denominado plexo cutdneo. A vista disso, esses plexos estio dispostos paralelos a superficie cutinea e ligados por vasos comunicantes situados perpendicularmente* (Figura 1.14). = Algas papila Derme a8 : | Plexo subpa Glandula se Plexo cutin Drenagem venosa Suprimanto Ficura 1.14 - Esquematizago da circulagio na pele. Desse modo, as artérias que suprem a pele esto localizadas na hipoderme, de onde irdo originar os ramos que ascendem até o Apice das papilas dérmicas para formar os dois plexos de vasos anastométicos. Todavia, a fimgao circulatoria desses plexos permite nutrigdo da epiderme por meio de difusio controle da temperatura do corpo por meio da dilatagfo de seus vasos, Assim, o fluxo sanguineo aumentado serve como facilitador para perda de calor em condigdes quentes; ¢ o fluxo sanguineo diminuido, para minimizar a perda de calor em condigdes de frio.”” HIPODERME A unidade anatomofuncional existente na interface entre a derme e a hipoderme denomina-se jungaio dermo-hipodérmica®! (Figura 1.15). Junge dermo-hipodérmica ead Ficura 1.15 — Esquematizacao da unio entre a derme e a hipoderme. Portanto, a hipoderme, ou paniculo adiposo, é uma camada profunda, localizada abaixo da derme ¢ acima da aponeurose muscular, constituida por um agrupamento de células adiposas que armazenam gordura e esto separadas por finos septos conjuntivos (tecido conjuntivo frouxo), onde se encontram os vasos e os nervos. As células adiposas, os adipécitos, sio originadas a partir das células embriondrias mesenquimais que produzirao as células lipoblastos (Figura 1.16). Os lipoblastos so fibroblastos diferenciados que tém a finalidade de acumular gordura no citoplasma e, quando maduros, enchem-se de gordura para constituir os adipécitos.46791 Célula mesenquimal Fibroblasto Adipécito Adipécito multilocular unilecular Fioura 1,16 Representago esquematica de formagio da célula adiposa, Podemos considerar que 0 agrupamento ou isolamento das células adiposas compée 0 tecido adiposo, Existem duas variedades de tecido adiposo no organismo humano: o amarelo (unilocular) ¢ © pardo (multilocular)." O tecido adiposo amarelo est presente na camada subcutinea corporal de acordo com o biotipo, © sexo ¢ a idade da pessoa, sendo terapeuticamente 0 local de escolha para aplicagées de punturagdes como a carboxiterapia, a eletrolipélise ¢ os farmacos, E uma regitio muito irrigada por vasos sanguineos que formam redes capilares por todo o tecido, denominado plexo hipodérmico (profundo) (Figura 1.17). Esses vasos tém acesso através dos septos de tecido conjuntivo, que dividema gordura em lébulos.5 Septos conjunti Plexo capilar profundo Adipécitos Vasos sanguine Ficura 1.17 — Demonstrago da profundidade do plexo hipodérmico e septos conjuntivos que dividem a gordura em bubs. Muito embora a gordura amarela seja extremamente destacada na pratica clinica, 0 tecido adiposo multilocular, ou pardo, é essencial & vida e funciona como produtor de calor pelo corpo em razio do grande nimero de mitocéndrias nos adipécitos multiloculares."®* Esse tipo de gordura é mais evidente no recém-nascido, com seu desenvolvimento fetal separado do tecido unilocular (Figura 1.18).!516 qo HEE Tecido adiposo multilocular puro Mistura de tecido adiposo multilocular e unilocular Figura 1.18 - Areas de distribuicdo do tecido adiposo pardo e mistura de tecido adiposo muttiocuiar e uniocular, Funcionalmente, a hipoderme desempenha isolamento térmico, promove protegdo contra traumas mecfnicos, realiza armazenamento caldrico, modela a superficie corporal de homens ¢ mulheres, preenche 0 espaco entre os tecidos e é responsavel pelo metabolismo de horménios que controlam 0 ritmo da lipélise, como o ACTH, a insulina, as catecolaminas, as tiroxinas e outros mais,457451631 © peso corporal ¢ a estrutura anatémica da hipoderme apresentam variagdes. A hipoderme é mais espessa no sexo feminino do que no masculino, e sua distribuigdo também é diferente nos dois sexos. Sabe-se que essa variagao ¢ regulada pelos horménios andrdgenos ¢ estrégenos, como também pelos adrenocorticais na fase da puberdade. Geralmente, no sexo feminino, a distribuig&o se concentra na regido glitea, na regido bitrocantérica (culotes), nos quadris, nos flancos ¢ nos joelhos. No sexo masculino, a distribuigao de gordura se concentra na area abdominal. Em algumas regides, como nas palpebras e no prepticio, no existe essa estrutura funcional." No arranjo anatémico dos adipécitos na hipoderme feminina, quando comparado com o do sexo masculino, existe desigualdade estrutural quanto & disposig%o dos septos conjuntivos ao redor das células de gordura. Quando homens e mulheres aumentam seu volume de gordura corporal subcutinea, 0 corpo feminino responde com uma expansdo celular mais pronunciada ¢ observavel na superficie cutdinea (Figura 1.19a). As células femininas dispdem+se justapostas por fibras conjuntivas paralelas. J4 no sexo masculino, as células encontram-se justapostas e sustentadas por fibras cruzadas como rede, o que dificulta o aumento de tamanho da célula de gordura (Figura 1.19). Outro fato é que 0 tecido adiposo masculino representa cerca de 10% a 14% da massa corpérea, em contrapartida, o feminino prepondera com aproximadamente 18% a 20% da massa corpérea,457322 b Adipécito pals Septos conjuntivos Septos cor Justapostos Justaposto SS SSS Musculo Ficura 1.19 ~ Representa esquematica do arranjo anatémico da hipoderme: a) mulher (céiulas adiposas justapostas apoiadas por feixes conjuntivos paralebs); b) homem (células adiposas justapostas por feies conjuntivos como rede). PRINCIPIOS FISIOLOGICOS E FUNGOES DA PELE A pele é um érgio complexo que tem a capacidade de manter imimeras fungées gragas A sua arquitetura anatémica e histolégica. O aumento ou a diminuig&o de uma determinada fungao da pele provoca alteragdes no bom funcionamento da estrutura corporal. Assim, cuidar bem da pele ¢ uma questo de satide, A perda parcial ou total da pele torna-se incompativel com a vida do individuo, como nos casos graves de queimaduras com extensas dreas de lesio. Atuando como eficiente fungao de barreira protetora, a pele previne a penetragao de irritantes, como agentes téxicos, e de micro-organismos do meio ambiente.5”* Essa oclusdo ocorre pela presenga de 6leo, Agua e sais na camada cérnea da epiderme, garantindo a impermeabilidade cuténea. Essa estrutura de barreira epidérmica também contribui para 0 mecanismo de retengdo de dgua e previne a formagdo de ressecamento da pele, em virtude do fator de hidratagéo natural (Natural Moisturizing Factor — NMF) ¢ lipidios. Destacamos a composigao de substéncias do NMF: 40% de aminoacidos, 12% de lactatos, 12% de sal sddico do acido pirrolidona carboxilico (PCA- Na) e 7% de ureia. Entre os trés lipidios encontrados na capa cérnea, 40% a 65% sfio as ceramidas e © restante sao os dcidos graxos e colesterol.”!"" A camada crea apresenta cerca de 10% a 30% de Agua. Se esse valor estiver abaixo dos 10%, podemos dizer que essa pele esti desidratada, ou seja, 0 equilibrio fisiolégico de hidratagio ¢ lubrificagao na camada superficial da epiderme reflete luminosidade ¢ suavidade da pele. As glindulas sudoriparas e sebaceas so de grande importincia na conservagio da temperatura corpérea e no mecanismo protetor contra injarias sobre a pele, como, por exemplo, a proliferagao de bactérias, A glandula sudoripara est localizada na derme por intermédio do foliculo piloso (pelo) 9,10 ou por meio do poro (éstio). Suas fungdes basi (0 a eliminagdo de quase um tergo dos liquidos (Agua ¢ ureia) que o organismo perde diariamente e 0 controle da transpiragao do individuo em relag&o a temperatura ambiental. A secregdo sudoripara ocorre por dois tipos de glandulas: a écrina, que é produtora de suor inodoro e controlada pelo sistema nervoso auténomo; ¢ a apécrina, que produz uma secregao viscosa, ligeiramente leitosa e libera suor com odor fétido. As glandulas sudoriparas écrinas so encontradas por toda a pele, mas so numerosas na testa, no couro cabeludo, nas axilas, nas palmas das mios e nas plantas dos pés. Tém origem a partir de invaginagdes da epiderme, com o componente secretor da glandula situado na jungdo dermo- hipodérmica, e comunicamese com o exterior através de seu duto.*! As glandulas sudoriparas apécrinas so em pequeno mimero na infancia ¢ funcionalmente ativas na puberdade. Esto concentradas principalmente nas regides pubiana e axilar (jungdo dermo- hipodérmica).!"> Asecregio fisiolégica das glandulas sebdceas é 0 sebo. Ele faz lubrificagao da pele e dos pelos, garantindo a maciez do tecido cutineo. A quantidade ¢ a distribuigio do sebo variam entre individuos.’ Em determinadas situagdes de disfungo cutdnea, os orificios pilossebaceos podem encontrar-se dilatados e pode haver tendéncia de obstrugo folicular (presenga de comedées), o que pode proporcionar 0 surgimento de infecgdo no foliculo pilosscbacco, originando quadros de acne. Apesar disso, o sebo tem propriedades antimicrobianas, proporcionando uma acidez cutanea.'7 E importante lembrar que 0 pH acido da pele é o resultado de concentragées das substncias hidrossoliveis contidas na camada cornea, das secrecdes sudoripara e sebacea, bem como do pH do dcido carbénico que chega a superficie da pele por difusdo pela jungdo dermoepidérmica. Dermatologicamente, o pH pode neutralizar pequenas quantidades aplicadas de agentes tépicos Acidos ou alcalinos na superficie cutanea. Os valores médios do pH fisiolégico da pele (Acido) giram em torno de 5,5 com variagdes topograficas. Por exemplo, um sabonete, para ser considerado suave, precisa ter pH igual a ou menor que 7,0. A epiderme é acida em todas as suas camadas, sendo maior na camada cornea com pH entre 5,4 ¢ 5,6. Jé a camada espinhosa possui pH de 6,9. A camada basal ou germinativa tem pH de 6,8 gragas a sua atividade de divisao celular (reprodugdo) e metabélica. Quanto 4 derme e 4 hipoderme, ambas apresentam pH alcalino; no entanto, menor que o pH sanguineo.*? Exemplos da modificagaio dessas concentragées so os tratamentos a base de peelings quimicos superficiais, que diminuem o pH da pele para em torno de 2,5 e o mantém cerca de duas horas, favorecendo a irritagéo cutanea.®!? Apele também atua como érgio sensorial, alids, o maior e mais importante, por abrigar na derme os receptores sensitivos cuténeos (Quadro 1.1), responsaveis pela mediagdo das sensagdes de mudangas de temperatura, tato, pressao e dor.**'" Quadro 1.1 ~ Receptores sensoriais da pele [Receptores de superficie | Sensagio percebida Receptors de Krause Frio Receptores de Ruffini Calor Discos de Merkel Tato © pressao Receptores de aterPacini | __Pressio Recepiores de Meissner Tato ‘Terminagdes nervosas livres | Principalmente dor Como mencionado no inicio deste capitulo, os melanécitos s4o outro componente estrutural de protegao da pele. Trata-se de células produtoras de melanina, que so dendriticas e possuem prolongamentos que se “esticam” para contatar os queratinécitos na sua vizinhanga (Figura 1.20). Estio localizadas na jungao da derme com a epiderme e entre os queratindcitos dos estratos germinativo ¢ espinhoso da epiderme.’ A melanina é um pigmento endégeno da pele que desempenha fungdes de dispersio dos raios ultravioleta A e B (UVA e UVB) e participa do escurecimento da pele como meio de protegao.* Ela distingue-se em dois tipos na pele: a eumelanina, de cor castanho- escura; e a feomelanina, de cor vermelha e amarela.***! Nas peles de tonalidade escura, hd o predominio da cumelanina, enquanto nas peles claras, 0 predominio da feomelanina. Anelanina é produzida pela hidroxilagao da tirosina (aminodcido), que é transformada em 3,4-di- hidroxifenilalanina (DOPA) com o auxilio da enzima tirosinase, produzida pelo reticulo endoplasmatico rugoso (REG), que oxida a DOPA para dopaquinona, formando assim a cumelanina ou feomelanina. A estrutura do melanossoma encontrado no interior do melanécito contém melanina (Figura 1.21).°! Dessa forma, nas pessoas com pele clara, os melanossomas séio menores; j4 em pessoas com a tonalidade escura, os melanossomas sfo grandes, ou seja, o nimero de melanécitos na pele no interfere na sua colorago, O aumento da atividade de tirosinase e o tamanho do melanossoma determinam maior produgdo de melanina, por isso, negros sintetizam mais melanina. Por sua vez, alguns principios ativos usados na despigmentagdo cutanea inibem ou reduzem a sintese de tirosinase.” Na auséncia do pigmento melénico, como ¢ 0 caso do albinismo, a pele perde uma de suas fungdes essenciais, que é dispersio da luz natural e da luz artificial sobre a pessoa. Existem outros pigmentos da pele relacionados 4 produgio exdgena: os caratenoides, que garantem a tonalidade amarela no nivel epidérmico pela ago de certos alimentos; a oxiemoglobina, presente em arteriolas e capilares contidos na derme papilar, que garante a coloragao vermelha; e a hemoglobina reduzida na pele, que caracteriza a cor azul.202! Superficie da pele Ficurs 1,20 — Representacao esquemitica da ukraestrutura do melanécto, Ficura 1,21 — Esquematizagéo do melanéci Apesar de o sol emitir radiagdes com raios ultravioleta e infravermelhos, que favorecem 0 surgimento do cancer de pele e de manchas cutdneas, expor-se a radiagdo solar nas primeiras horas do dia ou no final da tarde por cerca de vinte minutos, diariamente, auxilia 0 mecanismo de protegdo da pele. Essa atividade ¢ a sintese de vitamina D3 que acontece a partir de uma reagfio de conversao de 7-deidrocolesterol frente a exposigao dos raios ultravioleta B sobre a epiderme, principalmente nas regides do estrato espinhoso e no estrato basal.'*"! Outra complexa e importante fungdo da pele ¢ a barreira imunoldgica, sendo essa a primeira linha de defesa do organismo contra a invasdo de agentes estranhos. Isso ocorre gragas 4 formagao de anticorpos que protegem a pele de infecgdes. A reagdo imunoldgica do individuo é ativada a partir de células de Langerhans contidas na epiderme e na derme. A dermatite atépica é uma patologia de pele autoimune, em que o préprio sistema imunolégico ataca a pele, perturbando a ativagéo funcional dessas células de Langerhans,*!°**29 ocasionando vermelhidao, coceira ¢ crosta na superficie da pele. Tendo em vista a integridade e a aparéncia de uma pele saudavel, a comunicagao entre o individuo e a sociedade melhora e amplifica as relagées emocionais e profissionais, configurando a tamanha representatividade que desempenha a estrutura da pele humana. REFERENCIAS 1. Lerévas, P. et al. Hand Skin Reconstruction from Skeletal Landmarks. International Journal of Legal Medicine, v. 121,n. 6, 511-5, Nov. 2007. Souro, L. R. M. et al, Caracterizagdo morfoldgica ¢ imunoistoquimica de um modelo de pele humana reconstruida in vitro, Sao Paulo Medical Journal, v. 127, n. 1, 28-33, jan, 2009. 3. Rorta, O. 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