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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO


DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

HÉLIDA LANÇA

História do Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO-SP) em tempos de conflitos


sociais e expansão do ensino privado (1975-1985)

São Paulo
2019
HÉLIDA LANÇA

História do Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO-SP) em tempos de conflitos


sociais e expansão do ensino privado (1975-1985)

Tese apresentada como requisito parcial para a


obtenção do título de Doutor em Educação, junto ao
Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE)
da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), sob a
orientação do Prof. Dr. Carlos Bauer.

São Paulo
2019
BANCA EXAMINADORA

___________________________________________
Professor Dr. Carlos Bauer de Souza – UNINOVE/SP – Orientador

___________________________________________
Professor Dr. Celso do Prado Ferraz Carvalho – UNINOVE/SP – Titular

___________________________________________
Professor Dr. Amarílio Ferreira Jr. – UFSCar/SP – Titular

___________________________________________
Professora Dra. Rosiley Teixeira – UNINOVE/SP – Titular

___________________________________________
Professor Dr. Cassio Diniz – Pós-doutorando – UNINOVE/SP – Titular

___________________________________________
Professor Dr. Everaldo Andrade – USP – Titular

___________________________________________
José Eduardo de Oliveira Santos – UNINOVE/SP – Suplente

___________________________________________
Evaldo Piolli – UNICAMP – Suplente

Aprovada em ___ / ___ / _____


Lança, Hélida.
História do sindicato dos professores de São Paulo (SINPRO-SP) em
tempos de conflitos sociais e expansão do ensino privado (1975-
1985). / Hélida Lança.2019.
769 f.
Tese (Doutorado) - Universidade Nove de Julho - UNINOVE, São
Paulo, 2019.
Orientador (a): Prof. Dr. Carlos Bauer.
1. SINPRO-SP. 2. Sindicalismo docente. 3. História da educação.
4. Sindicalismo na ditadura.
I. Bauer, Carlos. II. Titulo.
CDU 37
À memória de meus pais, Davilson e Ivone.
Jornal de Campanha. Novembro/1979. Disponível na íntegra em Anexo 110.
AGRADECIMENTOS

À Universidade Nove de Julho, pela oportunidade e acolhimento.

Ao Professor Carlos Bauer, por ser o melhor orientador que uma pessoa pode ter.

Aos professores Celso Carvalho e Amarílio Ferreira Jr, pelas preciosas colaborações no Exame
de Qualificação.

À equipe do SINPRO-SP, por terem aberto as portas e os arquivos do sindicato, possibilitando


a realização da pesquisa.

Aos pesquisadores da Rede Aste, pelos excelentes trabalhos realizados, ampliando a


visibilidade do tema no universo acadêmico.

Aos camaradas que fiz na academia e na vida, por estarem comigo nas trincheiras das lutas, em
busca uma educação que possibilite a emancipação humana.

Aos meus tios e tias, primos e primas, Balardini’s e Lança’s, ao meu marido Rodrigo e aos
meus filhos William e Matheus, por compreenderem e aceitarem a minha pouca presença
durante esses anos.
RESUMO

A pesquisa analisou a atuação do Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO-SP) durante
os últimos dez anos da ditadura civil-militar no país (1975-1985), momento no qual o processo
de redemocratização estava em construção e encontrava obstáculos políticos e econômicos para
a sua consecução, forjado sobre intensos conflitos sociais, com fundamental participação da
classe trabalhadora organizada. Nos empenhamos em compreender a participação da entidade
representativa dos professores da rede privada de ensino na capital paulista nesse importante
capítulo da história brasileira, firmando o entendimento de que a trajetória de uma organização
sindical tem muito a nos dizer sobre o contexto em que está inserida, possibilitando a ampliação
das páginas escritas sobre a história da educação brasileira durante a ditadura. O referencial
teórico adotado, de inspiração marxista, objetivou situar o professor como um trabalhador da
educação, remetendo-nos a analisar suas ações sindicais como uma tarefa necessária para que
tenhamos uma compreensão ampliada das especificidades das atividades docentes, suas
relações com os meandros das políticas educacionais e da forma em que procurou intervir no
período histórico da chamada transição democrática brasileira. Sustentada em significativa
fortuna documental, as análises realizadas se preocuparam tanto em dimensionar as ações dos
quadros dirigentes da entidade que se mantinham preocupados em legitimar os propósitos
corporativistas da categoria, quanto com as práticas daqueles professores que atuavam na
oposição sindical, empenhados na efetivação de ações políticas e em sintonia com as questões
mais gerais da classe trabalhadora no Brasil.

Palavras-chave: SINPRO-SP; Sindicalismo docente; História da educação; Sindicalismo na


ditadura.
ABSTRACT

The research analyzed the performance of the Teacher Union from São Paulo (SINPRO-SP)
during the last ten years at the civil-military dictatorship in the country (1975-1985), the
redemocratization process was under construction and encountered political and economic
obstacles for its achievement, forged on intense social conflicts with fundamental participation
of the working class organized then. We endeavored to understand the participation of the
teacher representative entity from private education network in São Paulo capital city in this
important chapter of Brazilian history, confirming the understanding that the trajectory of a
trade union organization has much to tell us about the context in which it is inserted, making
possible the expansion of written pages about Brazilian education history during the
dictatorship. The adopted theoretical frame of reference, Marxist inspiration, aimed at situating
the teacher as an education worker, reminding us to analyze their union actions as a necessary
task for us to have an expanded comprehension about the specificities of teaching activities,
their relationships with the meanderings of educational policies and the way in which it
attempted to intervene in the historical period of the so-called Brazilian democratic transition.
Based on significant documentary fortunes, the performed analysis concerned not only to
measure the dimension of the actions from the entity management board that remains worried
in legitimizing the category corporatist purposes, as well as with the practices of those teachers
who worked in the union opposition, engaged in the accomplishment of political actions and
aligned with more general issues from the working class in Brazil.

Keywords: SINPRO-SP; Teaching syndicalism; History of education; Syndicalism in the


dictatorship.
RESUMEN

La investigación examinó el rol del Sindicato de los Profesores de São Paulo (SINPRO-SP) en
los últimos diez años de la dictadura civil-militar en el país (1975-1985), momento en que el
proceso de redemocratización estaba en construcción y hallaba obstáculos políticos y
económicos para su logro, forjado por intensos conflictos sociales, con participación
fundamental de la clase obrera organizada. Nos esforzamos en comprender la participación de
la entidad representativa de los profesores de las escuelas privadas de la ciudad de São Paulo
en este importante capítulo de la historia de Brasil, de manera a reafirmar la idea de que la
trayectoria de una organización sindical nos dice mucho sobre el contexto en la cual se inserta,
y eso permite la ampliación de las páginas escritas sobre la historia de la enseñanza brasileña
durante la dictadura. Las referencias teóricas adoptadas, de inspiración marxista, tuvieron el
objetivo de ubicar el profesor como un trabajador de la educación, lo que nos permite analizar
sus acciones sindicales como una tarea necesaria para que tengamos una comprensión más
amplia de las especificidades de las actividades docentes, sus relaciones con las complejidades
de las políticas educativas y de la manera como intervino en el período histórico de la llamada
transición democrática brasileña. Con soporte en considerable fortuna documental, los análisis
hechos se preocupan con dimensionar las acciones de los directivos de la entidad, que se
mantenían en la defensa de los propósitos corporativos de la categoría, y también con las
prácticas de los profesores que actuaban en la oposición sindical, comprometidos con las
efectivas acciones políticas en consonancia con las cuestiones más generales de la clase obrera
en el Brasil.

Palabras-clave: SINPRO-SP; Sindicalismo docente; Historia de la educación; Sindicalismo en


la dictadura.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – A alta dos preços __________________________________________________ 89


Figura 2 – Greve e luta pela democracia ________________________________________ 91
Figura 3 – A situação do professor na rede privada ________________________________ 92
Figura 4 – As instituições de Ensino Superior ____________________________________ 93
Figura 5 – Concentração de renda _____________________________________________ 93
Figura 6 – É hora de mexer com a classe! _______________________________________ 94
Figura 7 – Fusão dos sindicatos _______________________________________________ 95
Figura 8 – Ato dos Professores Av. Paulista _____________________________________ 98
Figura 9 – Boletim Eletrônico ________________________________________________ 99
Figura 10 – Prestação de Contas _____________________________________________ 116
Figura 11 – Circular Novembro/1977 _________________________________________ 117
Figura 12 – Informe Dezembro/1978 __________________________________________ 122
Figura 13 – Convocação de Assembleia________________________________________ 123
Figura 14 – Abaixo Assinado ________________________________________________ 124
Figura 15 – Resposta ao Abaixo Assinado ______________________________________ 125
Figura 16 – Trecho - Jornal do MOAP – Ago/1977 _______________________________ 128
Figura 17 – Capa - Jornal Quadro Negro – Abr/1978 _____________________________ 129
Figura 18 – Trecho - Jornal Quadro Negro – Mar/1979____________________________ 130
Figura 19 – Professores pedem 66,2% _________________________________________ 131
Figura 20 – Ofício ao Senador Franco Montoro__________________________________ 135
Figura 21 – Colônia de Férias _______________________________________________ 136
Figura 22 – Inauguração da nova sede _________________________________________ 137
Figura 23 – José Leopoldino ________________________________________________ 138
Figura 24 – Geraldo Mugayar _______________________________________________ 139
Figura 25 – Chapa 2 - 1981 _________________________________________________ 144
Figura 26 – Resultado da eleição - 1981 _______________________________________ 146
Figura 27 – Acordo Salarial - 1981 ___________________________________________ 150
Figura 28 – Professores da rede privada estudam aumento _________________________ 151
Figura 29 – Greve nas escolas particulares _____________________________________ 152
Figura 30 – Sinpro afasta greve para manter reajuste _____________________________ 153

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Pesquisa por área/programa .................................................................................... 52


Tabela 2 – Alunos matriculados em São Paulo ...................................................................... 106
Tabela 3 – Professores em São Paulo ..................................................................................... 107
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABMES – Associação Brasileira de Mantenedores do Ensino Superior


AESP – Associação do Ensino Superior de São Paulo
AI – Ato Institucional
ALAS – Asociación Latinoamericana de Sociologia
ANDES – Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior
ANDES-SN – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
ANPUH – Associação Nacional dos Professores Universitários de História
APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
APROPUC – Associação dos Professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
APRUMA – Associação de Professores da UFMA – Seção Sindical do ANDES
ABMES – Associação Brasileira de Mantenedores do Ensino Superior
ARENA – Aliança Renovadora Nacional
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CCC – Comando de Caça aos Comunistas
CEDAP – Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa – UNESP
CEDEM – Centro de Documentação e Memória - UNESP
CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
CGT – Central Geral dos Trabalhadores
CGT – Comando Geral dos Trabalhadores
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
CNTEEC – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Educação e
Cultura
CONCLAT – Conferência Nacional da Classe Trabalhadora
CONCLAT – Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora
CONTEE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino
CPPB – Confederação dos Professores Primários do Brasil
CS – Convergência Socialista
CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
CUT – Central Única dos Trabalhadores
DEIC – Departamento Estadual de identificação Criminal
DOPS – Departamento de Ordem e Política Social
DRT – Delegacia Regional do Trabalho
ENOS – Encontro Nacional das Oposições Sindicais
ENTOES – Encontro Nacional dos Trabalhadores em Oposição à Estrutura Sindical
FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
FETEE – Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Estado de São
Paulo
FEPESP - Federação dos Professores do Estado de São Paulo
IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBICT – Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
IPES – Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais
GRUPHIS – Grupo de História e Teoria da Profissão Docente e do Educador Social
GT – Grupo de Trabalho
HISTEDBR – Grupo de Estudos e Pesquisas em História, Sociedade e Educação, da
Universidade Estadual de Campinas
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LIPED – Linha de Pesquisa Políticas Educacionais
MDB – Movimento Democrático Brasileiro
MEC – Ministério da Educação
MEP – Movimento de Emancipação do Proletariado
MIA – Movimento Intersindical contra do Arrocho
MOAP – Movimento de Oposição Aberto dos Professores
MR-8 – Movimento Revolucionário 8 de outubro
MT – Ministério do Trabalho
MUP – Movimento pela União de Professores
PCB – Partido Comunista Brasileiro
PCdoB – Partido Comunista do Brasil
PDT – Partido Democrático Trabalhista
PPGE – Programa de Pós-graduação em Educação
PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
PT – Partido dos Trabalhadores
PTB – Partido Trabalhista Brasileiro
PUC-SP – Pontifícia Universidade de São Paulo
RBHE – Revista Brasileira de História da Educação
REDE ASTE – Rede de Pesquisadores Sobre Associativismo e Sindicalismo dos Trabalhadores
em Educação
SALTE – Iniciais de Saúde, Alimentação, Transporte e Energia
SBHE – Sociedade Brasileira de História da Educação
SEMESP – Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino superior no
Estado de São Paulo
SEPE-RJ – Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do RJ
SIEEESP – Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo
Sind-UTE – Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais
SINPEEM – Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo
SINPROESEMMA – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica das Redes Públicas
Estadual e Municipais do Estado do Maranhão
SINPRO-Guarulhos – Sindicato dos Professores e Professoras de Guarulhos
SINPRO-Rio – Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro
SINPROSASCO – Sindicato dos Professores de Osasco e Região
SINPRO-SP – Sindicato dos Professores de São Paulo
SINTEGO – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás
SINTESE – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de
Sergipe
SINTUSP – Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo
SPEC – Sindicato do Ensino Comercial de São Paulo
UDEMO – Sindicato de Especialistas da Educação do Magistério Oficial do Estado de São
Paulo
UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro
UFF – Universidade Federal Fluminense
UFG – Universidade Federal de Goiás
UFMA – Universidade Federal do Maranhão
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFSE – Universidade Federal de Sergipe
UFU – Universidade Federal de Uberlândia
UnB – Universidade de Brasília
UNE – União Nacional dos Estudantes
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UNIFACS – Universidade Salvador
UNINOVE – Universidade Nove de Julho
UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos
UPPES – União dos Professores Públicos do Rio de Janeiro – Sindicato
USAID – United States Agency for International Development
USP – Universidade de São Paulo
Ex-presidente Geisel governou o Brasil de 1974 a 1979 / PR/Arquivo.
Imagem disponível em https://www.brasildefato.com.br. Acesso em 27 Dez. 2018.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 19

CAPÍTULO 1 – O SINDICALISMO DOCENTE COMO OBJETO DE PESQUISA DA


HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ............................................................................................... 23

1.1. PROFESSOR: UM TRABALHADOR DA EDUCAÇÃO........................................................... 23


1.1.1. Sindicato .................................................................................................................. 28
1.1.2. Sindicalismo dos trabalhadores em educação ........................................................ 30
1.1.3. A construção de páginas ainda não escritas da história da educação ................... 31
1.2. A PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL................................................... 33
1.2.1. Síntese da produção acadêmica sobre associativismo e sindicalismo docente ...... 37
1.2.2. Observações sobre a produção acadêmica estudada ............................................. 51
1.3. OS ALICERCES TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA PESQUISA ....................................... 54

CAPÍTULO 2 – A ESTRUTURAÇÃO SOCIAL DO BRASIL CONTEMPORÂNEO .. 59

2.1. O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 1964 ................................................................................. 63


2.2. A AMPLIAÇÃO DA REDE PRIVADA DE ENSINO ................................................................ 69
2.2.1. A presença dos interesses privados na educação ................................................... 77
2.3. SINDICALISMO E RESISTÊNCIA POLÍTICA E ECONÔMICA DOCENTE DURANTE A
DITADURA ............................................................................................................................. 81

CAPÍTULO 3 – O SINDICATO E A HISTÓRIA ............................................................... 95

3.1. O SINPRO-SP NA ATUALIDADE ................................................................................... 96


3.2. A DITADURA, A CATEGORIA E A CLASSE ..................................................................... 100
3.3. OS PROFESSORES DA REDE PRIVADA ENQUANTO CATEGORIA PROFISSIONAL ........... 105
3.4. OS PROFESSORES DA REDE PRIVADA E SUA PRESENÇA NO CENÁRIO POLÍTICO DA
TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA BRASILEIRA............................................................................ 111

CAPÍTULO 4 – AS AÇÕES DO SINPRO-SP DURANTE A ÚLTIMA DÉCADA DA


DITADURA........................................................................................................................... 115

4.1. PROJETO SINDICAL ...................................................................................................... 115


4.2. O SURGIMENTO E A CONSOLIDAÇÃO DA OPOSIÇÃO SINDICAL ................................... 127
4.3. JORNAL NOVOS RUMOS .............................................................................................. 133
4.4. ELEIÇÕES SINDICAIS .................................................................................................... 141
4.5. CAMPANHAS SALARIAIS .............................................................................................. 148
4.6. GREVES ........................................................................................................................ 151
4.7. RELAÇÕES EXTERNAS E ATIVIDADES INTERSINDICAIS ............................................... 155
4.7.1. CNTEEC ................................................................................................................ 155
4.7.2. FETEE ................................................................................................................... 155
4.7.3. ENTOES ................................................................................................................ 156
4.7.4. CONCLAT – CGT ................................................................................................. 158

CONCLUSÃO....................................................................................................................... 160

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 167

1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 167


2. REFERÊNCIAS – TESES E DISSERTAÇÕES ......................................................... 172
3. FONTES PRIMÁRIAS ................................................................................................. 177
3.1. Fontes orais ............................................................................................................. 177
3.1.1. Entrevistas ............................................................................................................. 177
3.1.2. Depoimentos .......................................................................................................... 177
3.2. Dados estatísticos..................................................................................................... 177
3.3. Legislação ................................................................................................................ 178
3.4. Acervo de documentos ............................................................................................. 179
19

INTRODUÇÃO

Esta tese procurou tratar do sindicalismo docente em tempos de repressão, conflitos


sociais e expansão do ensino privado, tendo como centro gravitacional o estudo do Sindicato
dos Professores de São Paulo (SINPRO-SP) durante vigência da última década da ditadura
civil-militar brasileira (1975-1985). O seu intento maior foi procurar colaborar com a
construção da história da educação feita de personagens sociais e coletivos poucos conhecidos,
partindo da memória e da documentação sindical e política dos professores da rede privada de
ensino da capital paulista.
A pesquisa historiográfica educacional pressupõe, desde o primeiro instante em que o
seu teor é concebido, dimensionar as fontes que serão utilizadas, a temporalidade e o espaço
em que os sujeitos sociais se movimentam e interagem na produção e no registro dos episódios
que podem estimular ou suscitar o interesse concreto em estudá-los.
A periodização que norteou a organização deste estudo procurou se estabelecer
obedecendo à perspectiva de que a história da organização política e sindical dos professores
que atuam no ensino privado paulistano não está desassociada das transformações que se
operaram na sociedade brasileira durante os anos que nos emprestaram os seus acontecimentos
para serem analisados. Entendemos que existe a necessidade de um amplo esforço para a
realização de uma apreciação condizente com a realidade, tanto no que se refere às condições
pertinentes ao desenvolvimento do país e sua inserção na mundialização do capital, quanto no
estabelecimento dos seus nexos com as particularidades da categoria dos professores do ensino
privado atuantes na cidade de São Paulo.
Logo, as indicações espaço-sócio-temporais que fazemos, têm um caráter mais amplo,
associadas ao objetivo de estabelecer os traços mais gerais experimentados pela nação, seus
desdobramentos educacionais e visam subsidiar a compreensão dialética dos movimentos
históricos e conjunturais, e os esforços políticos e organizativos dos professores paulistanos.
Em nosso percurso de estudos sobre o sindicalismo dos trabalhadores em educação, que
foi inaugurado em 20111, iniciamos o convívio com a bibliografia produzida sobre o tema, bem
como tivemos a primeira relação com fontes primárias, principalmente boletins e jornais
sindicais. Na mesma época, também conhecemos a Rede de Pesquisadores sobre
Associativismo e Sindicalismo dos Trabalhadores em Educação (Rede ASTE), cujos debates e

1
Começamos a nossa trajetória de estudos no campo do sindicalismo com a dissertação O jornal sindical e a
formação política: o caso da UDEMO junto aos diretores da rede estadual paulista, concluída em 2013.
20

produção acadêmica são de relevância sem medida para a construção do conhecimento acerca
da temática.
Com relação ao SINPRO-SP, realizamos um estudo inicial em 20142 que proporcionou
um primeiro contato com a entidade, seus sujeitos e seus arquivos. Foi quando nos demos conta
da escassez de estudos sobre o sindicalismo docente da rede privada de ensino, das dificuldades
com a organização dos acervos dentro dos sindicatos, e do quanto esse viés da história da
educação estava em risco de ser deteriorada antes mesmo de ser registrada. Ainda não sabíamos,
mas nascia naquele momento a investigação que apresentamos agora. Mas foi somente em
março de 2016 que ingressamos oficialmente no Programa de Pós-graduação em Educação
(PPGE) da Universidade Nove de Julho (UNINOVE) para o doutoramento, quando optamos
por pesquisar as ações do sindicato durante a fase final da ditadura civil-militar, por se tratar de
um período muito importante para a reconstrução da democracia brasileira, que foi forjada sobre
intensa mobilização da classe trabalhadora.
Nas páginas da história brasileira onde estão registradas as lutas pela redemocratização
do país, os professores são sujeitos participantes do processo, muitas vezes organizados por
seus sindicatos. Mas, mesmo num período em que a quantidade de postos de trabalho na rede
privada aumentou exponencialmente, as notícias que temos são, majoritariamente, da atuação
dos professores das redes públicas e suas respectivas entidades representativas.
Este período assistiu à emergência de novos sujeitos políticos que trouxeram para a cena
social a perspectiva de se organizarem e, com isso, aglutinar no terreno da luta de classes os
inúmeros movimentos sociais, populares e dos trabalhadores, que então cerravam fileiras e
clamavam pela redemocratização do país. Essa concretude dialética não está, por ora, ao alcance
dos objetivos que traçamos no processo de construção do presente estudo, porém ocorre que
julgamos pertinente ao menos mencioná-lo e, na medida do possível, nos ajudar na
configuração histórica e social daqueles dias e, assim, dar sentido histórico ao tempo
mensurado.
Eder Sader (1988) nos mostra que o nascimento desses novos sujeitos sociais, embora
estivessem num campo permeado por diversos discursos (o novo sindicalismo, a Igreja e a
militância de esquerda), não podem ter sua identidade coletiva reduzida a nenhum deles
separadamente, pois, se construíram na articulação entre os componentes diversos de tais
discursos, concebendo identidade própria e autônoma.

2
LANÇA, Hélida; RUSSO, Miguel. Quadro Negro: um olhar sobre as denúncias apresentadas pelo jornal dos
professores – SINPRO-SP, de 1988 a 1998. In: BAUER, Carlos et al (Orgs). Sindicalismo e Associativismo dos
Trabalhadores em Educação no Brasil. Volume 2. Jundiaí: Paco Editorial: 2015.
21

Não há estudos amplamente conhecidos sobre a participação organizada de professores


da rede particular paulistana nessa empreitada democrática, sendo diminutos os estudos
acadêmicos sobre o SINPRO-SP, mesmo com o avanço da sujeição quase absoluta a qual os
docentes foram sendo submetidos com a expansão da rede privada, o que nos remete à hipótese
de que a entidade, mesmo com o avanço da abertura política e com o surgimento do chamado
Novo Sindicalismo3, manteve-se alinhada aos preceitos do Sindicalismo de Estado4.
São muitos anos de estudos, com poucas conclusões alcançadas, com destaque para um
sem número de visitas ao SINPRO-SP, que disponibilizou acesso livre e facilitado a todo o
acervo de documentos que possui parcialmente organizado, possibilitando a realização desta
investigação, bem como pesquisas diretas no Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística
(IBGE), no Arquivo Público de São Paulo e nas infinitas possibilidades de garimpagem que a
internet nos possibilita atualmente. Ainda assim, é significativo sinalizar a carência de dados e
a ausência de estudos analíticos correlatos, mas é substancialmente importante reivindicar e
procurar estimular a multiplicação de análises específicas sobre a trajetória e a atuação dessa
categoria profissional.
Nas páginas que seguem, estão os registros do que foi desenvolvido, organizados em
quatro capítulos, além da Conclusão em que nos posicionamos sobre a importância do que foi
pesquisado.
No primeiro capítulo, que tem como título O sindicalismo docente como um objeto de
pesquisa da história da educação, amparados pela categoria de trabalho em Marx, situamos o
professor como um sujeito pertencente à classe trabalhadora, de forma individual e coletiva.
Apresentamos as questões teóricas e metodológicas de relevância, situando a pesquisa sobre
sindicalismo docente no campo da história social da educação e ressaltando o caráter inédito de
um estudo sobre a entidade. Por fim, demonstramos uma síntese da produção acadêmica acerca
do associativismo e sindicalismo docente e sua contribuição para a presente pesquisa.
No segundo capítulo, intitulado A estruturação social do Brasil contemporâneo,
procuramos estabelecer a caracterização do período estudado na história do país, trazendo
elementos importantes sobre a ditadura civil-militar, a ampliação da rede privada de ensino e
as consequências dessa configuração na história do sindicalismo docente durante o regime.

3
A retomada de lutas no final da década de 1970, desencadeou uma nova configuração da atuação sindical que,
mesmo heterogênea, é chamada de Novo Sindicalismo.
4
Sindicalismo de Estado é o modelo sindical assentado em três eixos: sindicatos oficiais, unicidade e imposto
sindical, onde os sindicatos são absolutamente dependentes do aparta estatal (BOITO JR., 1991).
22

No terceiro capítulo, chamado O sindicato e a história, apresentamos algumas


características do SINPRO-SP em sua trajetória como entidade representativa dos professores
da capital paulista, buscando situá-la na conjuntura política do país.
O quarto e último capítulo, As ações do SINPRO-SP durante a última década da
ditadura, apresenta a análise das ações do sindicato de 1975 a 1985, construída a partir de
documentos produzidos pela agremiação sindical, blocos de oposição e fontes orais, no qual
procuramos discutir e fundamentar a importância da organização sindical na ação dos
professores e, por consequência, na história da educação brasileira.
Vale dizer que apresentamos as nossas conclusões, não com a pretensão de encerrar o
assunto, mas sim com o propósito de possibilitar que algumas páginas ainda não escritas da
história sejam registradas.
Por fim, anexamos de forma sistematizada o material utilizado para a realização desta
investigação, na expectativa de que possa não apenas colaborar com a compreensão dos
episódios estudados, mas também servir a futuros pesquisadores da área.
23

CAPÍTULO 1 – O SINDICALISMO DOCENTE COMO OBJETO DE PESQUISA DA


HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

1.1. Professor: um trabalhador da educação

No interior dos estudos históricos educacionais, a problemática da crescente ampliação


da classe trabalhadora nas sociedades monopolistas contemporâneas, marcadas por irresistíveis
processos de urbanização e crescente diversificação das condições gerais da produção
capitalista, enfrentam consideráveis dificuldades de avaliação.
Sem querer apontar quaisquer aprofundamentos conceituais, podemos dizer que
questões como essas somente poderão ser trazidas à tona, e analisadas no quadro mais geral do
desenvolvimento da divisão social do trabalho, tanto no que tange a sua medular relação com o
processo de acumulação capitalista e do desenvolvimento e da amplitude das relações sociais
de produção capitalista, quanto dos interesses contraditórios, antagônicos e coletivos
amalgamados no interior dessa sociedade.
De qualquer forma, como salienta Dermeval Saviani (2003, p. 132-3),

[...] o que define a existência humana, o que caracteriza a realidade humana é


exatamente o trabalho. O homem se constitui como tal à medida que necessita
produzir continuamente sua própria existência. É o que diferencia o homem
dos animais: os animais têm sua existência garantida pela natureza e, por
consequência, eles se adaptam a natureza. O homem tem de fazer o contrário:
ele se constitui no momento em que necessita adaptar a natureza a si, não
sendo mais suficiente adaptar-se a natureza. Ajustar a natureza às
necessidades, às finalidades humanas, é o que se faz pelo trabalho. Trabalhar
não é outra coisa senão agir sobre a natureza e transformá-la. Essa ação
transformadora sobre a natureza é guiada por objetivos. Este é outro elemento
diferenciador da ação humana. Os animais também agem, também exercem
uma atividade, mas essas atividades não são guiadas por objetivos. Eles não
antecipam mentalmente o que vão fazer, mas o homem sim.

Procurando humanizar o seu próprio mundo, simultaneamente, o homem se faz a si


mesmo, se humaniza e a transformação que opera na natureza é, também, aquela que o modifica,
forjando-o, objetiva e subjetivamente.
Na clássica interpretação marxiana, o trabalho é,

[...] em primeiro lugar, um processo de que participam igualmente o homem


e a natureza, e no qual o homem espontaneamente inicia, regula e controla as
relações materiais entre si próprio e a natureza. Ele se opõe à natureza como
uma de suas próprias forças, pondo em movimento braços e pernas, as forças
naturais de seu corpo, a fim de apropriar-se das produções da natureza de
24

forma ajustada a suas próprias necessidades. Pois, atuando assim sobre o


mundo exterior e modificando-o, ao mesmo tempo ele modifica a sua própria
natureza. Ele desenvolve seus poderes inativos e compele-os a agir em
obediência à sua própria autoridade. Não estamos lidando agora com aquelas
formas primitivas de trabalho que nos recordam apenas o mero animal. Um
intervalo de tempo imensurável separa o estado de coisas em que o homem
leva a força de seu trabalho humano ainda se encontrava em sua etapa
instintiva inicial. Pressupomos o trabalho em uma forma que caracteriza como
exclusivamente humano. Uma aranha leva a cabo operações que lembram as
de um tecelão, e uma abelha deixa envergonhados muitos arquitetos na
construção de suas colméias. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor
das abelhas é que o arquiteto ergue a construção em sua mente antes de erguê-
la na realidade. Na extremidade de todo processo de trabalho, chegamos a um
resultado já existente antes na imaginação do trabalhador ao começá-lo. Ele
não apenas efetua uma mudança de forma no material com que trabalha, mas
também concretiza uma finalidade dele próprio que fixa a lei de seu modus
operandi, e à qual tem de subordinar sua própria vontade. E essa subordinação
não é um ato simplesmente momentâneo. Além do esforço de seus órgãos
corporais, o processo exige que durante toda a operação, a vontade do
trabalhador permaneça em consonância com sua finalidade. Isso significa
cuidadosa atenção. Quanto menos ele se sentir atraído pela natureza de seu
trabalho e pela maneira por que é executado, e, por conseguinte, quanto menos
gostar disso como algo em que emprega suas capacidades físicas e mentais,
tanto maior atenção é obrigado a prestar (MARX, 1998, p. 211-2).

Para esse autor, inclusive, o trabalho se faz presente na constituição daquilo que
poderíamos chamar de sensibilidade humana ou, mesmo, de uma pedagogia dos sentidos, que
se produz e se desenvolve fazendo-nos desvelar na realidade e na dialética transformação da
natureza uma gama crescente e diversificada de bens de uso e significações simbólicas.

Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião e por
tudo o que se queira. Mas eles próprios começam a se distinguir dos animais
logo que começam a produzir seus meios de existência, e esse passo à frente
é a própria consequência de sua organização corporal. Ao produzirem seus
meios de existência, os homens produzem indiretamente sua própria vida
material (MARX, 1998, p. 10).

Como escreve Gyorgy Markus, em sua Teoria do conhecimento no jovem Marx, o


trabalho está na base do desenvolvimento intelectual do homem, porém, este alargamento não
se refere apenas aos conhecimentos diretamente ligados à produção material, ou, mais
precisamente, com

[...] a transformação da atividade produtiva e as modificações dos aspectos


sociais desta atividade, sobretudo após o aparecimento da divisão social do
trabalho, a atividade intelectual deixa de estar inteira e diretamente
subordinada à atividade práticomaterial, surgindo então outras diferentes
formas de assimilação espiritual da realidade: ciência, arte, religião etc. Essas
25

novas capacidades intelectuais do homem são acompanhadas por outras


necessidades, inteiramente novas: a “curiosidade” científica, as aspirações
estéticas e religiosas etc., e da necessidade de realizar essas aspirações
(MARKUS, 1974, p .87).

Como se pode perceber, o debate sobre a categoria de trabalho em Marx é como um elo
que se estabelece nas relações do homem com a natureza, procurando idealizar seus atos e
preconizar as transformações sociais e políticas, tecnológicas ou culturais que almeja alcançar,
superando as determinações da natureza e se constituindo como um ser histórico-social. Essas
discussões nos remetem ao conceito de práxis que, nos escritos marxianos, é pensado de tal
forma que as necessidades, o trabalho e a sociabilidade humana são projetados de modo a
comporem as determinações essenciais para a existência do homem.

Mas mesmo se minha atividade for de ordem científica etc., e ainda que eu
raramente possa realizar em comunidade direta com os outros, eu sou um ser
social porque atuo enquanto homem. Não apenas o material de minha
atividade – por exemplo, a língua graças ao qual o pensador faz seu trabalho
– me é dado como um produto social, mas minha própria existência é atividade
social. Em consequência, o que eu faço de mim, eu o faço para a sociedade,
consciente de ser eu mesmo um ser social (MARX, 1978. p. 146, 147).

Ao buscarmos estabelecer essas relações com a obra de Karl Marx e de alguns dos seus
importantes intérpretes, trazendo à tona escritos que gravitam pelo campo da história e da crítica
da economia política, mas também nos auxiliam numa formulação de caráter filosófico sobre a
forma pela qual o trabalho pode ser pensado como sendo imprescindível no processo de
humanização do homem, o fazemos com o objetivo de iluminar as interpretações da história
organizativa dos professores do ensino privado paulistano e a sua condição de integrantes de
uma categoria profissional que se constitui e faz parte da classe trabalhadora contemporânea.
Na mais ampla e possível envergadura dessa discussão podemos entender como
produtivo todo o trabalho que produz mais-valia, da mesma forma que determinada atividade
que se troque por capital para produzir mais-valia é trabalho produtivo, inclusive às artes, os
processos educativos, a fruição amorosa e outras atividades que são fundamentais em nosso
processo de humanização.

Uma cantora que canta como um pássaro é uma trabalhadora improdutiva. Na


medida em que vende o seu canto é uma assalariada ou uma comerciante.
Porém, a mesma cantora contratada por um empresário que a põe a cantar para
ganhar dinheiro, é uma trabalhadora produtiva, pois produz diretamente capital.
Um mestre escola que é contratado com outros para valorizar, mediante o seu
26

trabalho, o dinheiro do empresário da instituição que trafica conhecimento é um


trabalhador produtivo (MARX, 1985, p. 115).

O homem se transforma em um ser autômato, desprovido de sua capacidade de


compreender seu papel e, não obstante, dele se apropriar e reconhecer o valor de seu trabalho
na construção da inteireza da vida social.
A alienação do trabalho torna-se a base fundamental da dominação e da exploração de
uma classe sobre a outra na sociedade moderna e contemporânea que o capital engendrou.
No bojo da sociedade do capital monopolista se operou um veloz, aprofundado e
diversificado processo da divisão social do trabalho, particularmente nas grandes cidades
brasileiras, constituindo-as num campo objetivo da luta social no país. Foram necessários
apenas poucos anos para que se generalizassem as relações de subordinação, de assalariamento
e da constituição de um mercado de trabalho, no qual os professores passam a fazer parte e a
redefinir sua presença na sociedade de classes e, com isso, abrindo possibilidades para a
constituição de novas práticas, que são próprias da organização e da resistência daqueles que
vivem do próprio trabalho no mundo do capital.
Nesse ponto, aliás, estamos de acordo com as premissas apontadas por Edward P.
Thompson (1979, p. 36) para quem

[...] as classes se fazem quando os homens e as mulheres vivem suas relações


de produção e experimentam suas situações determinantes, no conjunto das
relações sociais, com uma cultura e algumas expectativas herdadas, e ao
modelarem essas experiências em formas culturais. De modo que, no final de
contas, nenhum modelo pode nos proporcionar o que deve ser ‘a verdadeira’
formação de classe, em determinada ‘etapa’ do processo. Nenhuma formação
de classe propriamente dita da História é mais verdadeira ou mais real que
outra e a classe se define a si mesma em seu efetivo acontecer.

Por esse viés nos parece importante reconhecer que as experiências de lutas e as formas
de organização, políticas e sindicais, dos professores atuantes no ensino privado paulistano são
parte integrante e indissociável das dificuldades enfrentadas e dos movimentos produzidos pela
classe trabalhadora no período estudado, constituindo-se, com suas particularidades, em um
elemento que não pode ser desprezado quando nos dispomos a analisar em como se deu sua
presença naquele momento específico da história da educação brasileira.
Por conta disso é que estamos empenhados em estudar a inserção dos professores no
processo de constituição da classe trabalhadora contemporânea. Dito isso, entendemos como
trabalhadores em educação todos aqueles que vivem do próprio trabalho e atuam nas escolas
27

públicas e particulares, incluindo também aqueles que estão nas repartições e órgãos destinados
à manutenção e organização dos sistemas de ensino. Isso inclui professores, inspetores,
secretários, diretores, técnicos, assistentes, coordenadores, cozinheiros, auxiliares e qualquer
outra função que se crie ou nomeie dentro deste campo de atividade.
Tal esclarecimento se faz necessário em razão de percebermos uma tendência bastante
fortalecida em extrair os professores deste agrupamento, quase que como numa negativa de
caráter ideológico, em reconhecer que são trabalhadores também. Inclusive sob a ótica da
organização sindical, é muito comum que esses trabalhadores estejam organizados em
entidades separadas, desencadeando um processo de fragmentação sem medida das formas de
organização de sua representação, fazendo parecer natural o fato de, mesmo trabalhando numa
mesma rede de ensino e até mesmo na mesma escola, as pessoas pertencerem a sindicatos
diferentes, sendo um para os professores, outro para os inspetores, outro para os diretores, e
ainda outro para supervisores, e tantos outros que possam ser nominados no interior dessa
impressionante pulverização sindical que se faz na contemporaneidade.
Certamente que os caminhos que o sindicalismo em geral percorreu, adentrando em
campos merecedores do exercício da crítica como no caso da burocratização, da capitulação
classista e da aproximação com o Estado, colaboraram significativamente para que esse
processo de fragmentação representativa fosse desencadeado. Mas, no caso específico dos
trabalhadores em educação, acreditamos que ainda há mais um elemento a ser somado neste
percurso, que é a questão do pertencimento de classe dos professores.
Numa sociedade em que a docência já foi vista de forma recorrente como algo muito
próximo ao sacerdócio, e na qual o trabalhador vivencia uma nobreza gratuita simplesmente
pelo fato de ter ingressado na carreira do magistério, é muito compreensível que haja um
distanciamento imaginário: “não sou trabalhador, sou professor!”.
Entendemos que professor é um trabalhador, evidentemente, com suas especificidades
que são próprias do ofício de educar. Mas, não bastassem essas questões, é importante também
ressaltar que os professores, quando chegam ao mercado de trabalho, encontram nas escolas
um sem número de práticas disciplinadoras já institucionalizadas, dadas como corretas ou
mesmo naturalizadas, havendo pouco espaço para reflexão e escolhas, determinando que
construam suas trajetórias de forma bastante individualizada e solitária, o que colabora muito
também para o esvaziamento da visão de coletivo da categoria.
Não se trata de estarmos aqui a criticar determinados comportamentos profissionais,
mas, sim, de compreendermos o quanto esse modelo de sociedade dos indivíduos e das
28

individualidades acaba por determinar também as relações e a forma em que é projetada a


inserção no mundo do trabalho.
Ainda tratando do pertencimento de classe dos professores, há também um impasse
teórico sobre a natureza do trabalho que realizam – se é produtivo ou improdutivo, material ou
imaterial? – dividindo a opinião dos acadêmicos, fazendo com que muitos apontem essa própria
divisão como a responsável pela dificuldade dos professores em formar sua consciência de que
fazem parte de uma categoria profissional inserida no dinâmico processo de formação da classe
trabalhadora, numa sociedade dividida em classes sociais que o capitalismo produz.
Evidentemente, não defendemos que o embate teórico determine a vivência desses
trabalhadores, como, também, temos clareza de que o professor, por não possuir os meios de
produção, não controlar as finanças, a renda, os mercados, enfim, as atividades econômicas que
exploram o trabalho e almejam ao lucro, não é um burguês. Ele depende da venda de sua força
de trabalho para sobreviver, e não importa se faz isso para um empresário da rede privada de
ensino, no interior de instituições confessionais, filantrópicas ou para o Estado ungido à
qualidade de empregador e fiador dos interesses burgueses na reprodução do capital. Em todas
essas possibilidades, ele é um trabalhador.
Inclusive, aqueles que alcançaram os degraus mais altos da categoria, com salários e
titulações melhores, com condições de vida muito confortáveis e prósperas, fazendo se sentirem
muito semelhantes à pequena burguesia, se perderem seus empregos e não forem novamente
contratados, em pouco tempo estarão sem nenhuma condição de sobrevivência, pois, dependem
exclusivamente do próprio salário para que sejam mantidas suas condições objetivas de vida,
ou seja, são trabalhadores.

1.1.1. Sindicato

O sindicato é tradicionalmente compreendido como um agrupamento de pessoas com


interesses comuns, que se organiza na defesa daquilo que consideram importantes tanto para o
atendimento coletivo do próprio grupo constituído, como também para os anseios individuais
daqueles que pertencem ao grupo e constituem, por exemplo, uma categoria profissional. Pode
ser um coletivo de profissionais liberais, de empresários, ou de trabalhadores assalariados. A
palavra tem origem do grego syndikos, que significa “advogado público”, a partir da junção de
syn, que significa “junto” e diké, que é “julgamento, justiça, uso, costume”. Na língua
portuguesa, sindicato significa “associação de indivíduos da mesma classe ou profissão, para a
29

defesa de interesses classistas, profissionais ou econômicos”5. Nossos estudos concentram-se


em pesquisas sobre sindicato de trabalhadores assalariados.
Sob a ótica marxista, o sindicato deve ser um centro de organização e, também, de
formação da base de trabalhadores para a luta econômica e política contra a exploração
capitalista. Inicialmente agrupados pelo interesse comum de manutenção do salário, aos poucos
percebem que a manutenção da própria associação dos trabalhadores passa ser a reivindicação
mais importante da classe. Ou seja, a existência da organização coletiva dos trabalhadores é
reconhecida na medida em que esses mesmos trabalhadores percebem a força que ganham
quando se unem em torno das causas da classe. Um percurso onde os trabalhadores, no próprio
exercício da defesa de seus próprios direitos, acabam desenvolvendo o sentimento de
pertencimento de classe e se transformando em sujeitos ativos na busca pela transformação da
sociedade classista.
Apenas a partir do avanço da modernidade e do capitalismo é que o sindicalismo
também cresce, com as degradantes condições de trabalho impostas por esse modelo econômico
e social. No desenvolvimento do mundo ocidental, um marco importante está na Inglaterra, a
partir de 1824, com a permissão legal concedida pelo direito à livre associação, colaborando
para o desencadeamento da história do sindicalismo operário no mundo contemporâneo;
história essa que se deu a partir de muitas lutas e derrotas dos trabalhadores, tendo
características gerais semelhantes em todos os cantos do planeta, mas também com
especificidades regionais e históricas que vem merecendo a atenção de muitos pesquisadores.
No Brasil, se compararmos a países centrais, o processo de industrialização se deu
tardiamente, determinando também certo atraso no surgimento do sindicalismo fabril.
Certamente que não estamos desconsiderando ou desmerecendo as organizações dos
trabalhadores anteriores a este período da história, principalmente, a imensa capacidade
organizativa dos escravos negros, que transformaram os quilombos em verdadeiras escolas de
resistência.
Com o aumento da industrialização brasileira, muitos imigrantes europeus chegaram à
busca de uma vida melhor. Alguns deles traziam em suas bagagens o ideário anarquista e
socialista já desenvolvido por parte dos trabalhadores europeus, outros carregavam apenas a
esperança, o conhecimento das atividades no campo e uma incipiente disposição de organização
e participação política que haveria de ser colocada à prova nos anos vindouros.

5
Dicionário Online de Português. www.dicio.com.br/sindicato/. Acesso em 03 jul. 2017
30

Claro que não foi apenas com o advento da República, ainda no início do processo de
industrialização, que foi aberta a história do associativismo e do sindicalismo no país, que
sofreu muitas alterações em seu curso, mas, a partir daí, em geral, o Estado sempre procurou
manter um forte caráter disciplinador sobre o conjunto de suas atividades.

1.1.2. Sindicalismo dos trabalhadores em educação

Desde os fins do século XIX foram registradas algumas ações associativistas e esforços
organizativos, sobretudo, desenvolvidas por professores, mas duramente atacadas para que não
houvesse quaisquer possibilidades de sustentação e de continuidade. Apenas a partir da década
de 1930 é que o sindicalismo dos trabalhadores em educação, comumente denominado de
sindicalismo docente, passou a ter condições mais efetivas de construção e prosseguimento no
Brasil. Do ponto de vista histórico-educacional, muito ainda tem que ser estudado para que
possamos estabelecer a devida comparação da temporalidade em que se vislumbrou a gênese
organizativa dos professores, permitindo, assim, o cotejamento com outras categorias que
constituem a classe trabalhadora no país.
Durante muitos anos, apenas os trabalhadores das escolas particulares podiam
sindicalizar-se, em razão de legislação que proibia que os servidores públicos se organizassem
neste modelo de entidade representativa 6 . Inseridos num modelo de sindicalismo que já
vigorava na época (e perdura até os dias de hoje), os sindicatos se alinhavam em federações e
confederações.
Enquanto isso, os trabalhadores da educação pública organizavam-se em associações, e
isso não seria um problema se não fosse o fato dessas mesmas associações não terem nenhum
reconhecimento pela legislação ou pelo Estado, o que impedia qualquer tipo de interlocução ou
representação oficial.
A Confederação dos Professores Primários do Brasil (CPPB) foi criada no início da
década de 1960 procurando, ao seu modo, encarar os embates políticos e educacionais
emanados do governo Goulart, que geraram muitos conflitos na época. Nos idos dos anos de
1970, em pleno regime militar – e após a publicação da famigerada Lei 5692/[19]71, deixou de
ser uma organização exclusiva de professores primários, passando a representar todos os níveis

6
Apenas com a Constituição Federal de 1988 o direito à sindicalização foi devolvido ao setor público, retirado
desde 1930 pela legislação trabalhista de Getúlio Vargas. Por se tratar de uma categoria em que boa parte dos
trabalhadores atua na rede pública, entendemos que essa proibição foi determinante no modo de organização e
resistência dos professores, bem como no surgimento de entidades fragmentadas e isoladas, posto que boa parte
delas nascesse de movimentos clandestinos durante o longo período de proibição.
31

e etapas da educação básica e, em razão disso, ampliando de forma importante e significativa o


reforço de sua representatividade. Não demorou muito para politizar as pautas e ampliar o
debate junto à base sobre questões maiores, indo além das reivindicações da categoria.
Os professores do ensino superior também se organizaram em importantes associações
e travaram lutas históricas durante este período, a partir da criação da Associação Nacional dos
Docentes do Ensino Superior (ANDES), no início da década de 1980, quando já tratavam em
suas pautas questões de grande relevância social como reforma agrária, gênero, distribuição de
renda, transporte, saúde e educação pública e gratuita para todos.
Desde seu percurso inicial, até os dias de hoje, a história do sindicalismo docente carrega
em si muito da trajetória dos professores, da formação que tiveram das lutas e resistências que
travaram (ou que deixaram de travar), dos personagens que se destacaram e dos caminhos
percorridos coletivamente.

1.1.3. A construção de páginas ainda não escritas da história da educação

O associativismo e o sindicalismo dos trabalhadores em educação constituem uma


temática incipiente no campo da história da educação, como também estão num terreno de
estudo no qual ainda há muitas questões não respondidas, muitas organizações não investigadas
e com muitos períodos históricos ainda pouquíssimos vasculhados, trazendo-nos toda sorte de
dificuldades para a realização das interpretações que a relevância dessa temática exige para a
sua consolidação no campo historiográfico educacional.
Emerge, então, a necessidade de ampliação dos estudos, no intuito de abranger cada vez
mais a trajetória política, social e o exame crítico das organizações dos professores, colaborando
com a superação de inúmeras lacunas e a construção das páginas que ainda não foram escritas.
A história da educação que se faz no universo acadêmico é um campo em que o
interessado em realizar suas pesquisas procura considerar não apenas os estudos que estão em
evidência no momento em que se dispõe a realizar as suas análises, mas, também, trazer à tona,
temáticas pouco usuais ou inéditas, contribuindo, assim, com o seu alargamento temático,
conceitual e metodológico. O seu fortalecimento implica, então, no desenvolvimento de uma
visão crítica diante da temporalidade escolhida e das fontes que granjeia, incluindo em suas
análises a política, a cultura, as relações sociais e a economia, num diálogo constante com todas
as ciências sociais, procurando, estabelecer o reconhecimento da história como solo fértil no
qual se movimentam as classes sociais.
32

Por este viés, é inegável a importância de que sejam estudados os diferentes esforços de
organização e ação coletiva dos trabalhadores em educação – aliás, são, justamente, nos
momentos de culminância de suas lutas que temos uma melhor visibilidade das dificuldades
enfrentadas, das derrotas que amargam e das vitórias que conquistaram.
Em geral, os estudos sobre a história da educação estão apoiados em aspectos
relacionados à política e legislação educacional, às reformas educacionais, ao currículo e seus
desdobramentos, ao escolanovismo, às instituições escolares ou à gestão de determinado
governo. Não são raros os estudos sobre, por exemplo, a educação na Era Vargas, a educação
após a reforma de 1968, ou, ainda, sobre a educação jesuítica. Estes recortes temporais e
temáticos são comumente utilizados nos livros e nas pesquisas deste campo de estudo que
também optam, algumas vezes, por classificar o tempo de acordo com a divisão clássica da
história. Desta forma, temos inúmeros estudos e produções acerca da educação na Primeira
República, por exemplo, o legado educacional do regime militar, ou, ainda, sobre a educação
no Brasil Colônia.
O que estamos afirmando aqui é que o sindicalismo e o associativismo dos trabalhadores
da educação ainda não se tornaram um objeto de análise amplamente reconhecido nas pesquisas
sobre a história da educação brasileira, o que explica a existência de algumas lacunas
importantes que precisam ser preenchidas na historiografia educacional, mormente, interessada
na presença e nas ações coletivas desses sujeitos sociais e coletivos em cada momento da
história.
33

1.2. A pesquisa em história da educação no Brasil

Muitos historiadores da educação brasileira estão organizados por algumas associações


científicas, acadêmicas e grupos de trabalho, cuja centralidade temática das pesquisas nem
sempre tem proximidade com esta que desenvolvemos no presente estudo.
A Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) é uma importante associação
de pesquisadores fundada em 1999 e apresenta em seu estatuto7 os seguintes objetivos:

I. congregar os profissionais brasileiros que realizam atividades de pesquisa


e/ou docência em História da Educação;
II. realizar e fomentar estudos de História da Educação;
III. estimular estudos interdisciplinares, promover intercâmbios com
sociedades congêneres nacionais e/ou internacionais, favorecendo a
participação de especialistas de áreas afins;
IV. propiciar o cultivo da crítica e do pluralismo teórico na área e em suas
atividades e produções;
V. estimular diferentes formas de divulgação e informação das produções em
História da Educação;
VI. organizar e promover eventos, seminários, cursos e outras iniciativas
similares, podendo interagir com associações congêneres com vistas à
atualização do conhecimento e à socialização das experiências realizadas na
área.

Uma das principais agendas da SBHE é a publicação da Revista Brasileira de História


da Educação (RBHE), que tem o objetivo de “divulgar a produção científica nacional e
internacional sobre História e Historiografia da Educação, que se revele de interesse para as
grandes áreas de pesquisa em Educação e em História, abrindo novos horizontes de discussão
e estimulando debates interdisciplinares” 8 . A primeira edição da revista é do ano 2001
somando, até o primeiro semestre de 2017, um total de dezessete volumes, organizados em
quarenta e cinco números.
Ao buscarmos na revista artigos que contemplassem a temática sindicalista e
associativista, nos deparamos com um esvaziamento quase total, havendo pouquíssimos e
isolados estudos: 1) Em 2010 foi publicado um artigo de Adrian Ascolani 9 , intitulado Las
Convenciones Internacionales del Magisterio Americano de 1928 y 1930. Circulación de ideas
sindicales y controversias político-pedagógicas; 2) Também em 2010, Adriana Leon e Giana
Amaral escreveram sobre a Associação Sul Rio-Grandense de Professores e Associação

7
O Estatuto da SBHE está disponível em http://www.sbhe.org.br/quem-somos-nos. Acesso em 03 mar. 2017.
8
Objetivo apresentado no sítio da revista, disponível em http://www.rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe/ index.
Acesso em 03 mar. 2017.
9
O Prof. Dr. Adrian Ascolani atualmente é um importante pesquisador da Rede ASTE (Rede de Pesquisadores
sobre Associativismo e Sindicalismo dos Trabalhadores em Educação), que será abordada em breve neste texto.
34

Católica de Professores: apontamentos sobre a organização do professorado nas décadas de


1930 e 1940; 3) Em 2012, Susan Anderson-Faithful escreveu o texto Uma “missão para
civilizar”: a visão de educação popular do Sindicato de Mães Anglicanas e da Sociedade de
Amigas das Moças (1886-1926); 4) Em 2015, pelas mãos de Ana Regina Pinheiro, conhecemos
Instrução do povo sob a proteção do catolicismo – militância docente e a expansão da
escolarização em São Paulo.
Se, por um lado, constatamos que há apenas quatro trabalhos publicados, por outro,
podemos apresentar certo otimismo em reconhecer que estes estudos pioneiros podem significar
uma tendência inicial, ainda que tímida, para que o sindicalismo e o associativismo dos
trabalhadores em educação passem a ser também considerado nos estudos dos historiadores da
educação.
O Grupo de Estudos e Pesquisas em História, Sociedade e Educação, da Universidade
Estadual de Campinas (HISTEDBR), é também um importante coletivo de historiadores da
educação. Coordenado por Dermeval Saviani e José Claudinei Lombardi, “o Grupo define-se
pelo amplo campo de investigação no qual a temática da educação é trabalhada desde a História,
com os métodos e teorias próprios e característicos dessa área do conhecimento” 10 e está
apoiado em três Linhas de Pesquisa:

▪ Historiografia e questões teórico-metodológicas da história da educação:


comporta estudos que tenham ênfase na Historiografia e/ou de análise de
Questões Teórico-metodológicas da produção histórico-educacional
brasileira.
▪ História das Políticas Educacionais no Brasil: situam-se as investigações
que tenham por objetivo o estudo de problemas e temas relacionados à
história da política educacional brasileira.
▪ História das Instituições Escolares no Brasil: localizam-se os projetos que
tenham por objeto a análise histórica das instituições educacionais que
tenham importância para a compreensão da educação.

O HISTEDBR organiza e publica a Revista HISTEDBR On-line que, em dezembro de


2016, já contava com dezesseis volumes, distribuídos em setenta números. Uma vasta
produção, com contribuição sem medida para todos que pretendem compreender o tema e
construir conhecimento acerca do assunto. Mas, ao buscarmos trabalhos que abordem a história
da educação pela ótica do sindicalismo de seus trabalhadores, são poucas as produções
encontradas: 1) Trabalho e formação do trabalhador na trajetória da CUT em tempos de

10
Apresentação disponível no site do Grupo, em http://www.histedbr.fe.unicamp.br/sobre-nos.html. Acesso em
03 mar. 2017.
35

globalização, de José dos Santos Souza (2009); 2) Trabalho e educação: a crise da


sociabilidade contemporânea e a perspectiva crítica da emancipação social, de Ariovaldo
Santos e Renan Araújo (2010); 3) Os intelectuais e a revolução, de Francisco Máuri Freitas
(2012); 4) Educação, movimento sindical e a polêmica em torno da proposta de “sindicato
cidadão”, de Marcos Francisco Martins (2012); 5) A ação do imperialismo na reprodução do
corporativismo nos sindicatos dos trabalhadores em educação, de Marilsa Miranda, Tatiane
Ricarte e Márcio Martins (2015); 6) As ações dos trabalhadores no campo da qualificação
profissional em Recife (1889-1930), de Yan Soares Santos e Ramon de Oliveira (2013); 7)
Proletarização e sindicalismo de professores na ditadura militar, de Danielle Felisberto de
Souza (2015). Apenas sete trabalhos, num total de setenta números da revista, mas que podem
significar um início de trajetória deste campo de pesquisa.
Há também o Grupo de Trabalho História da Educação (GT 2), instituído em 1984 pela
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), proposto por Luís
Antônio Cunha com o objetivo de estudar a questão metodológica relativa à História da
Educação no Brasil. Em seu portal11, apresenta a Biblioteca 40 anos, com cento e noventa e
quatro trabalhos, escritos por autores diversos, dos mais variados temas e recortes temporais.
São verdadeiras preciosidades que nos proporcionam acesso a um amplo conhecimento sobre
a história da educação brasileira, mas nenhum deles aborda o associativismo ou o sindicalismo
dos trabalhadores em educação. E isso não significa que não haja trabalhos críticos, muito pelo
contrário, mas não houve, até o presente momento, o interesse dos participantes em considerar
a organização coletiva em seus estudos.
Por último e, não menos importante do que as anteriores, buscamos os estudos que foram
divulgados pela Associação Nacional dos Professores Universitários de História (ANPUH) que
possui, desde 2015, um Grupo de Trabalho (GT) de História da Educação. O primeiro esforço
editorial desse GT se deu, em 2017, com a criação da Revista de História e Historiografia da
Educação, já com três números publicados, mas, ainda, sem nenhuma única publicação que
trate à questão pertinente a história do sindicalismo ou associativismo dos trabalhadores que
atuam no universo educacional.
Partimos do pressuposto de que a história da educação também é construída na
cotidianidade dos conflitos e antagonismos de classe, pela voz de seus sujeitos coletivos, pelo
viés dos projetos pedagógicos sindicais de formação política e pelo conhecimento das lutas e
resistências que foram assumidas pelos seus trabalhadores no tempo e no espaço da vida social.

11
O endereço do site é http://www.anped.org.br. Acesso em 30 jun. 2017.
36

Tal premissa tem procurado situar o trabalho do Grupo de História e Teoria da Profissão
Docente e do Educador Social (GRUPHIS), pertencente à Linha de Pesquisa Políticas
Educacionais (LIPED), do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE), da Universidade
Nove de Julho (UNINOVE).
Há alguns anos este grupo se empenha em realizar estudos sobre a história do
sindicalismo e o associativismo dos trabalhadores em educação, sob a orientação do professor
Carlos Bauer, com intuito de contribuir com o processo de legitimação acadêmica dessa
temática. Muitas pesquisas já foram realizadas e apresentadas em artigos, livros, capítulos de
livros, dissertações e teses, colaborando com o preenchimento desta lacuna que a história da
educação apresenta com relação a ação dos sujeitos coletivos. No primeiro período, o foco das
investigações estava apoiado no sindicalismo do setor público e, recentemente, foram iniciadas
as pesquisas acerca do setor privado, sendo o presente trabalho um dos pioneiros na consecução
deste objetivo.
Além das atividades junto ao GRUPHIS, também solidificamos relações bastante
estreitas e frutíferas com a Rede Aste (Rede de Pesquisadores Sobre o Sindicalismo e o
Associativismo dos Trabalhadores em Educação), criada em 2009 com o objetivo de contribuir
com a qualificação das pesquisas sobre o tema, além de organizar e promover encontros e
seminários com a participação de pesquisadores de diversos países. A rede tem abrangência
internacional e é formada por pesquisadores de diversos campos: historiadores, sociólogos,
cientistas sociais e políticos, geógrafos e pedagogos, todos debruçados e interessados pelo
mesmo objeto de estudo.
Dos encontros e seminários já realizados, além do convívio acadêmico que oportunizou
inúmeras possibilidades de diálogo crítico e a ampliação do conhecimento, nasceram também
alguns livros, dos quais os pesquisadores do GRUPHIS também participaram com a construção
de capítulos e, em alguns casos, também na organização geral das publicações. Sem nenhum
exagero, podemos afirmar que a Rede Aste tem sido fundamental para a continuidade de nossas
pesquisas enquanto grupo de estudos, posto que nela tornou-se possível aglutinar uma extensiva
e diversificada bibliografia sobre o nosso objeto de investigação, também uma vivência
acadêmica eivada de positividades e companheirismo político sem medida.
Foi nesse contexto que nasceu a presente investigação, inserida num universo de
pesquisadores empenhados neste campo de estudo, preocupados com uma temática pouco usual
e ainda sem possuir tantas páginas escritas, mas, que se coloca com o objetivo de colaborar para
37

que a preservação da memória dos professores e das entidades que construíram sua presença na
história da educação.

1.2.1. Síntese da produção acadêmica sobre associativismo e sindicalismo docente

Partindo da constatação de que o sindicalismo docente é pouco presente nos estudos


universitários preocupados com a história da educação, e considerando a relevância do assunto
para que tenhamos maior entendimento sobre os caminhos coletivos trilhados pelos professores,
buscamos na produção mais recente os trabalhos que abordam esse objeto de pesquisa e reflexão
acadêmica.
Embora esta pesquisa estude especificamente a atuação do SINPRO-SP durante alguns
dos anos em que se deu a vigência da ditadura civil-militar, ressaltamos que essa investigação
parte de certo acúmulo de informações e posicionamentos teóricos que se produziu sobre o
sindicalismo e associativismo dos trabalhadores em educação, nos interessando, a priori, a
produção acadêmica acerca do tema, independente do recorte temporal que tenha sido adotado
pelos seus autores.
Na construção da presente revisão, foram realizadas consultas na Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertações (IBICT) e no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)/Plataforma Sucupira, bem como
nos bancos das principais universidades do país. Foram utilizados os seguintes termos de busca:
sindicalismo docente; sindicalismo na ditadura; sindicalismo na rede privada; sindicalismo na
rede particular; sindicato docente; sindicato na ditadura; sindicato da rede privada; sindicato da
rede particular; SINPRO-SP; SINPRO; e sindicato dos professores.
Não encontramos nenhum material específico sobre o SINPRO-SP, mas, percebemos
uma produção considerável a respeito do associativismo e sindicalismo dos trabalhadores em
educação nos últimos doze anos (2005 a 2017), período no qual nos concentramos para realizar
a presente revisão.
Localizamos quarenta e seis pesquisas, entre teses e dissertações, constituindo um
acervo bastante amplo, que apresentamos nos parágrafos a seguir em ordem cronológica, com
as principais características de cada um dos estudos elencados, traçando abreviadamente os
caminhos teóricos e metodológicos utilizados pelos pesquisadores.

1) Salatiel dos Santos Hergesel, em sua dissertação de Mestrado em Educação junto à


Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, 2005), sob a orientação da Profª. Dra.
38

Mariley Gouveia, apresentou o trabalho A participação do Sindicato dos Professores do Ensino


Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) na formação político-pedagógico do professor.
Partindo da análise de projeto político-pedagógico, de formação político-pedagógico e de
trabalho, o autor apresentou uma reflexão sobre a contribuição da entidade para a formação
político-pedagógico de sua base, com referencial teórico apoiado em Paulo Freire, Moacir
Gadotti, Luís Carlos de Freitas e Maria Luísa Ribeiro. Concluiu que o sindicato, em teoria,
demonstra a intenção de colaborar com a formação política dos professores, mas acrescentou a
importância da retomada de investimento por parte da entidade na organização de cursos com
esse objetivo.
2) Kênia Miranda (Dissertação, Mestrado em Educação, Universidade Federal Fluminense
- UFF, 2005) realizou importante pesquisa sobre A organização dos trabalhadores em
educação sob a forma sindicato no capitalismo neoliberal, sob a orientação da Profª. Dra. Sonia
Rummert. Utilizou as categorias de análise: forma-sindicato, trabalho produtivo e improdutivo,
trabalho material e imaterial, trabalho intelectual e manual, situação real e formal do trabalho
ao capital, educação, escola unitária, Estado e ideologia. Buscou identificar as divergências e
convergências entre três sindicatos docentes do Rio de Janeiro: Sindicato dos Professores do
Município do Rio de Janeiro (SINPRO-Rio), União dos Professores Públicos do Rio de Janeiro
(UPPES) e Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do RJ (SEPE-RJ). Incluindo a
trajetória histórica das três entidades e utilizando o método da economia política marxista.
Marx, Engels, Gramsci e Trotsky são os principais apoios teóricos que conduziram a autora a
constatar a importância de um documento que projete a ação formadora das entidades,
ressaltando que apenas a existência do projeto não garante a sua execução, visto que a ideologia
dominante já está bastante permeada entre os dirigentes sindicais.
3) Para sua tese de doutoramento em Ciências Sociais, realizada na Pontifícia Universidade
de São Paulo (PUC-SP, 2006) sob a orientação do Prof. Dr. Edson Passetti, Vânia Tanira Bivatti
apresentou a pesquisa Sindicalismo docente e modos de subjetivação na contemporaneidade,
na qual a autora buscou compreender a permanência do sindicato na atual sociedade do
controle, e sobre quais modos de subjetivação tal permanência se constitui. Como referencial
teórico, Foucault para aprofundar nas seguintes categorias: sociedade disciplinar e sociedade
de controle, jogos de poder e saber, e discurso. Denuncia que a maioria dos estudos brasileiros
sobre sindicalismo termina por recair na crítica às entidades, em razão da incoerência entre o
que dizem e o que fazem. Finaliza com a constatação de que os sindicatos, mesmo sendo
39

historicamente instrumentos de luta contra as disciplinas, permanecem na continuidade dos


modos de subjetivação.
4) Julián José Gindin, em seus estudos de Mestrado em Educação sob a orientação do Prof.
Dr. Pablo Gentili, apresentou o trabalho Sindicalismo docente e estado: as práticas sindicais
no México, Brasil e Argentina junto à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ, 2006),
sobre as relações estabelecidas entre o poder público e os sindicatos docentes nos três países
desde os anos de 1970 até a atualidade da pesquisa. Fundamentado em fontes secundárias,
descreveu as principais características do sindicalismo docente de cada país, utilizando-se das
categorias práticas sindicais, relação entre magistério/Estado, formas de ação coletiva,
negociação/conflito, defesa da escola pública, política de Estado e corporativismo. Concluiu
que as políticas são determinantes das práticas sindicais.
5) Em defesa para doutoramento em Ciências Sociais na Universidade Salvador
(UNIFACS, 2006), Elaine Maria Costa Machado apresentou a pesquisa Comunicação,
negociação e relações de poder: a dialética histórico-estrutural na práxis do Sindicato dos
Professores particulares do Rio Grande Do Sul – SINPRO, uma análise da organização sindical
a partir de três categorias: comunicação, negociação e relações de poder. Sob a orientação do
Prof. Dr. Roberto José Ramos, utilizou-se do método dialético histórico-estrutural, por meio de
Gramsci nas categorias ideologia, estado, sociedade civil e intelectual orgânico. Para a análise
de discurso, apoiou-se nos estudos de Eliseo Verón.
6) Wellington de Oliveira (Doutorado em Educação, Universidade Federal de Minas
Gerais - UFMG, 2006) defendeu tese sobre A trajetória histórica do movimento docente de
Minas Gerais: da UTE ao Sind-UTE. Em seu trabalho, o autor a presentou o movimento
docente mineiro no final dos anos de 1970, que culminou com a criação da UTE, passando a se
chamar Sind-UTE (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais) a partir
de 1990. Utilizou-se de história oral como principal instrumento, além de fontes documentais e
bibliográficas. Traçou, em paralelo, a conjuntura social, histórica e política do período estudado
e verificou a similitude entre o movimento dos professores e dos operários, sob a orientação do
Prof. Dr. Rogério Cunha de Campos. As categorias percebidas no estudo são: greve, autonomia,
ideologia e identidade docente.
7) Em sua dissertação de mestrado em História Social na Pontifícia Universidade de São
Paulo (PUC-SP, 2007), sob a orientação da Profª. Dra. Vera Lúvia Vieira, Amilton Carlos
Gerolomo apresentou a pesquisa denominada Trabalhadores do ensino e sindicato: uma
relação de conflito – os professores da rede de ensino oficial do Estado de São Paulo e a
40

APEOESP de 1978 a 1987. Utilizando as categorias sindicalismo de massa, novo sindicalismo


e greve, analisou o percurso da entidade, constatando que os gestores sindicais muitas vezes se
tornaram obstáculos para o movimento dos trabalhadores do ensino, numa estrutura sindical
herdada da ditadura, que pode apenas colaborar com a formação de uma falsa consciência dos
trabalhadores. Os instrumentos utilizados apoiaram-se em histórias orais, fontes documentais e
pesquisa bibliográfica.
8) Ricardo Pires de Paula desenvolveu para seu doutoramento em História junto à
Universidade Estadual Paulista (UNESP, 2007), a pesquisa Entre o sacerdócio e a contestação:
uma história da APEOESP (1945-1989), uma reconstituição da trajetória da entidade vista por
dois movimentos: externo (conjuntura política e social) e interno (disputas travadas pelo
comando). A pesquisa documental foi desde a sede da entidade, passando pelo Centro de
Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP), Arquivo do Estado de São Paulo e acervo do
jornal O Estado de S. Paulo, com Bourdieu à frente do referencial teórico, sob a orientação do
Prof. Dr. Frederico Alexandre Hecker. Como categorias de análise, pudemos identificar greve,
conflito, hegemonia e acomodação.
9) Em sua dissertação de Mestrado em História na Universidade de Brasília (UnB, 2007),
Patrícia Targino Melo Santos realizou estudo sobre o Espaço representacional do sindicalismo
docente nas universidades, sob a orientação da Profª. Dra. Márcia Kuyumjian. Utiliza-se dos
postulados teórico-metodológicos de Chartier e a História Cultural (representação coletiva);
Bobbio, Sartre e Giroux (militância e academia); Woodward, Sader e Santos (constituição
identitária dos movimentos); Cattani, Antunes e Ângela (contexto conjuntural). A problemática
está centralizada na filiação e desfiliação do Andes junto à Central Única dos Trabalhadores
(CUT), principalmente na forma como isso interferiu na prática docente e nas representações
elaboradas pelo trabalho. Concluiu que os fatores que determinaram a filiação e a desfiliação
estão muito além dos argumentos apresentados pela direção sindical em seus discursos oficiais.
10) Hélvia Leite Cruz desenvolveu a pesquisa Condições de construção histórica do
sindicalismo docente na educação básica para seu doutoramento em Ciências Sociais na
Universidade de Brasília (UnB, 2008), com base na história da APEOESP (Sindicato dos
Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e orientada pelo Prof. Dr. Sadi Dal
Rosso. A autora constatou que o sindicalismo docente é tardio em relação ao sindicalismo
operário no Brasil, e que é necessário recuperar o passado histórico do movimento sindical
como condição para sua emancipação. Os seis capítulos estão divididos em duas partes:
dialética das condições objetivas e dialética da subjetividade docente. Os instrumentos de
41

pesquisa: entrevista semiestruturada, fontes primárias (documentos, atas, etc.) e fontes


secundárias (periódicos, jornais e bibliografia específica), sob a ótica do materialismo histórico
dialético numa abordagem gramsciana, utilizando as categorias estrutura, superestrutura,
alienação, ideologia, sindicalismo tardio e identidade docente. Conclui que os professores e
professoras mantêm até hoje a visão da profissão enquanto vocação e sacerdócio, o que é um
obstáculo para a construção da identidade de trabalhador da educação.
11) Também no programa de Doutorado em Ciências Sociais da Universidade de Brasília,
e orientado pelo Prof. Dr. Sadi Dal Rosso, Erlando da Silva Rêses (2008) apresentou o estudo
De vocação para profissão: organização sindical docente e identidade social do professor,
pelo qual se dispôs a verificar se a formação sindical docente no Rio de Janeiro foi tardia em
relação ao sindicalismo operário. Para tanto, reconstruiu a história do sindicalismo docente no
estado, a partir de pesquisa documental com levantamento de dados primários e secundários,
além de entrevistas, com a utilização do software Alceste. A identidade social do professor
(pela ótica de Doise), o contexto político de desenvolvimento dos sindicatos, formação e
carreira dos dirigentes e as obrigações e disputa são as principais categorias do estudo, que se
deu sob a ótica do materialismo histórico dialético.
12) Josenilton Nunes Vieira apresentou a pesquisa O sindicato como espaço de construção
da profissão docente para seu doutoramento em Educação na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN, 2009), sob a orientação do Prof. Dr. Isauro Nuñez. O estudo analisa
as trajetórias históricas de três sindicatos na Bahia para desvelar o papel das entidades no
processo de profissionalização dos professores militantes. As principais categorias de análise
são: sindicalismo e profissionalização docente. Uma abordagem qualitativa de caráter
etnometodológico que utilizou entrevistas e fontes documentais como instrumentos de
pesquisa, pelo olhar do materialismo histórico dialético. Defende a tese de que os sindicatos
têm contribuído de maneira importante na construção da profissão docente.
13) Em sua dissertação de mestrado em Educação junto à Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG, 2010), sob a orientação da Profª. Dra. Marisa Duarte, Mauricio Estevam
Cardoso apresentou a pesquisa Discursos e identidades, a emergência do termo “trabalhadores
do ensino”, que partiu da análise de duas entidades mineiras para compreender as maneiras
como são reelaboradas as identidades profissionais docentes. Um estudo de abordagem
qualitativa que se utilizou de análise documental e bibliográfica. Para tratamento dos dados
coletados, utilizou-se a análise do discurso com aporte teórico em Fairclough e Maingueneau.
O estudo apresenta duas vertentes básicas de compreensão do processo de construção das
42

identidades individuais e sociais, uma que privilegia a construção das identidades a partir dos
processos relacionais de socialização, centrado nas proposições de Claude Dubar, e outra que
destaca a construção identitária a partir das lutas sociais. Concluiu que há uma tensão
permanente nas formulações identitárias docentes, que são dinâmicas e também efêmeras.
14) Tânia Maria Granzotto apresentou a pesquisa O movimento sindical na academia: o
caso das universidades estaduais paulistas, para o seu doutoramento em Educação
(UNICAMP, 2010), na qual, orientada pelo Prof. Dr. Salvador Sandoval, analisou o movimento
sindical da categoria desde o final dos anos 1970 até 2008. Além do resgate histórico das
paralisações e greves ocorridas, o objetivo foi analisar o processo de desmobilização dos
trabalhadores nestas universidades através de uma pesquisa social de natureza qualitativa que
considerou a bibliografia existente, os dados documentais das entidades e história oral. Trabalha
com a teoria de sindicalismo de classe média de Armando Boito Jr, que foi citado mais de
setenta vezes durante o trabalho.
15) Como resultado de pesquisa para obtenção do título de Mestre em Educação
(UNINOVE, 2010), Alessandro Rubens de Matos apresentou o trabalho Trajetória do sindicato
dos profissionais em educação no ensino municipal (SINPEEM): 1986-2004. Orientado pelo
Prof. Dr. Carlos Bauer, estudou a trajetória da entidade numa perspectiva histórico-social,
trazendo para o campo questões como experiências, formas de organização política e sindical,
concepções de mundo, relações com o governo, prática sindical e crítica social, sob a ótica
trotskista.
16) Antônio de Pádua Almeida realizou o estudo Ação docente em tempos de abertura:
considerações sobre a história da educação pública paulista de 1985 a 2000 em sua dissertação
de mestrado (Universidade de Sorocaba, 2011), analisando o período de transição da ditadura
para a redemocratização, com considerações importantes sobre as políticas educacionais do
regime e o percurso do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
(APEOESP), sob a orientação da Profª. Dra. Vânia Boschetti. Como aporte teórico, utiliza o
pensamento e as obras de Dreifuss, Libâneo e Saviani, além da pesquisa documental. Finaliza
afirmando que a reabertura possibilitou experiências importantes para a luta dos professores,
mas que ainda não se percebeu uma organização capaz de unificar a sociedade em busca de
transformar a realidade da escola pública.
17) Em sua tese para doutoramento em Educação Escolar (UNESP, 2011), Andreza Barbosa
realizou trabalho intitulado Os salários dos professores brasileiros: implicações para o
trabalho docente, de caráter bibliográfico-documental que teve como corpus de análise as
43

pesquisas relacionadas à remuneração docente, produzidas principalmente por pesquisadores


da educação e da economia, e documentos relativos à temática elaborados por organismos
internacionais. Trabalho docente, salário, carreira, jornada de trabalho e perspectiva sindical
sobre salários são as principais categorias percebidas no desenvolvimento do trabalho, que não
deixa explícito o modelo teórico utilizado, mas navega com tranquilidade no universo
marxiano. Como principal apoio teórico na análise da perspectiva sindical, destaque para os
estudos de Dalila Oliveira, sob a orientação da Profª. Drª. Maria Helena Galvão Frem Dias-da-
Silva.
18) Para seu doutoramento em Arquitetura na Universidade de São Paulo (USP, 2012),
Magda Campelo, orientadas pelo Prof. Dr. Hugo Segawa, desenvolveu o trabalho Campus no
Nordeste: Reforma Universitária de 1968. Ainda que se trate de um campo de estudo distante
daquele em que estamos inseridos, muitos elementos interessantes puderam ser percebidos,
principalmente no que diz respeito às exigências a um modelo de universidade planejado pelo
regime militar. A autora, ao delimitar as exigências arquitetônicas, também situa questões mais
gerais da racionalidade da organização, mostrando isolamento geográfico como um indutor de
segregação.
19) Em seus estudos para o doutoramento em Sociologia na Universidade Estadual do Rio
de Janeiro, orientado pelo Prof. Dr. Adalberto Cardoso, Júlian Gindin realizou a pesquisa Por
nós mesmos: as práticas sindicais dos professores públicos na Argentina, no Brasil e no México
(UERJ, 2011), tendo como categoria de análise central práticas sindicais docentes, além de
trabalho e emprego, recrutamento dos professores, sexo e gênero e imagem social da escola
pública. O estudo histórico comparativo entre os três países permitiu identificar três processos
sucessivos: a propagação das entidades, a implantação das organizações na base docente e a
consolidação do sindicalismo docente de base. O método das semelhanças e diferenças (Mill)
para a realização de estudo comparativo foi utilizado.
20) Kênia Miranda defendeu tese de Doutorado em História junto à Universidade Federal
Fluminense (UFF, 2011) intitulada As lutas dos trabalhadores da educação: do novo
sindicalismo à ruptura com a CUT, onde analisou o Sindicato Estadual dos Profissionais da
Educação do RJ (SEPE-RJ) e o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino
Superior (ANDES-SN) desde os anos de 1970 (eclosão do novo sindicalismo) até 2006
(desfiliação), numa perspectiva de história social, sob a orientação do Prof. Dr. Marcelo Badaró
Mattos. Os conceitos de classe social e luta de classes em Marx e Engels são os alicerces do
viés teórico, ao mesmo tempo em que Thompson é chamado para contribuir com o conceito de
44

formação de classe. A autora destaca as greves em seus diversos tipos e também as mudanças
no processo de trabalho docente durante o período estudado.
21) Jannaira Barros Cavalcante, em sua dissertação de mestrado em Educação junto à
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, 2012), sob a orientação da Profª. Dra. Maria do
Socorro de Abreu e Lima, apresentou a pesquisa Sindicalismo docente: a luta dos professores
da rede pública estadual no Recife no período da transição democrática, que se realizou sob a
ótica gramsciana principalmente na utilização das categorias intelectual orgânico, cultura e
hegemonia. Utilizando diversos autores, abordou a identidade docente sob a ótica do sacerdócio
e profissionalização e relaciona tal questão ao objeto central da pesquisa. Uma investigação
apoiada em estudos bibliográficos, documentais e também na realização de entrevistas, na
observação dos embates dos professores junto ao governo patrão e seus desencadeamentos
numa época de bastante efervescência intelectual e política.
22) Em estudos para o Mestrado Acadêmico em Educação na Universidade Federal do
Maranhão (UFMA, 2011), Caroline de Souza Cunha realizou a dissertação intitulada Seção
Sindical APRUMA/ANDES/SN - Sindicato Nacional: uma análise sócio-histórica de suas
bandeiras e lutas, onde analisou a formação de uma seção sindical em instituição pública de
ensino superior a partir de pesquisa documental e bibliográfica, além de entrevistas. Sob a
orientação do Prof. Dr. Antônio Paulino de Sousa, as categorias de análise utilizadas são estado
(Marx e Engels); neoliberalismo e estado mínimo (Foucault); e direito como princípio de
limitação externa da razão do estado (Martins). Conclui que a proletarização da categoria
contribui para a perda de força nas negociações e lutas.
23) Renato Kendy Hidaka apresentou o trabalho As políticas neoliberais dos governos
Covas e Alckmin (1995-2006) e o movimento sindical dos professores do ensino oficial do
estado de São Paulo (Mestrado em Ciências Sociais, UNESP, 2012), orientado pelo Prof. Dr.
Jair Pinheiro, que contém uma análise sobre a prática sindical propositiva da APEOESP e as
políticas implantadas no período. Utiliza a perspectiva marxista althusseriana para o aporte
teórico da pesquisa, que elencou estado, política de estado, sindicalismo de participação e
movimento sindical como categorias de análise. Conclui que a ação da entidade, classificada
pelo autor como sindicalismo de participação, não ofereceu resistência às políticas neoliberais
implantadas pelo governo.
24) Em sua dissertação para a obtenção do título de Mestre em Educação, Cássio Hideo
Diniz Hiro (UNINOVE, 2012) desenvolveu a pesquisa História e consciência de classe na
educação brasileira: lutas e desafios políticos dos trabalhadores em educação de Minas Gerais
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(1979-1983), orientado pelo Prof. Dr. Carlos Bauer, onde concluiu que a história do movimento
sindical docente mineiro emergiu juntamente com o desenvolvimento da consciência de classe
dos trabalhadores. Utilizou-se pesquisa bibliográfica, de fontes primárias (jornais, panfletos,
etc.) e também entrevistas. O modelo teórico declarado é o materialismo histórico dialético e
autores como Marx, Thompson, Sanchez Vásquez e Lukács têm destaque.
25) Thais da Silva Alves Martins desenvolveu a pesquisa A docência em suas dimensões
profissionais, políticas e culturais: um estudo sobre a Escola do Professor do SINPRO-Rio
(2000-2010) para a obtenção do título de Mestre em Educação na Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ, 2012). A autora busca compreender o caráter educativo da entidade, à luz de
autores como Claudia Vianna e Maria da Gloria Gohn, a partir de pesquisa bibliográfica,
documental e história oral. Orientada pela Profª. Dra. Libânia Xavier, apresenta uma retomada
da história do sindicalismo no Brasil e no Rio de Janeiro, além de uma análise detalhada do
conteúdo oferecido na escola objeto de estudo. Conclui a importância da ação formadora do
sindicato para reaproximar-se da base.
26) Em sua dissertação, Ivone Meznek realizou a pesquisa A universidade brasileira no
período de 1960 a 2000: influência empresarial em questão (para obtenção do título de Mestre
em Educação junto à Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE, 2012), utilizando
a categoria universidade operacional (Chauí) e construindo um importante registro de como o
ensino superior brasileiro está associado ao mercado. Pesquisa bibliográfica e documental
orientada pelo Prof. Dr. Adrian Estrada, com realização de entrevistas. Conclui que a
universidade brasileira vem sendo utilizada como instrumento de manutenção do poder, e que
sempre mantém sua organização voltada aos interesses e necessidades políticas de cada período.
27) Em seus estudos durante o Mestrado em História na Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (UNISINOS, 2012), Júlio Cesar de Oliveira desenvolveu o estudo Professores e o
sindicalismo público municipal. Algumas experiências em destaque: São Leopoldo e Bagé-RS
(1988-2005), onde estuda as alterações legais e estruturais no período, principalmente após a
nova carta constitucional, sob a orientação da Profª. Dra. Marluza Harres. Utilizou-se de
histórias orais, combinadas com pesquisa bibliográfica e documental. O referencial teórico
apresenta como principais autores Thompson e Gramsci, para traçar o caminho de percepção
que os professores têm sobre a atuação sindical e também sobre sua própria identidade.
28) Em sua tese de doutoramento em Educação na Universidade federal de Uberlândia
(UFU, 2012), Wander Pereira desenvolveu o estudo intitulado A ordem política e a reforma
universitária: o processo de federalização da Faculdade de Odontologia de Uberlândia (1968-
46

1978), apresentando um importante levantamento sobre a história da educação no período


militar e as políticas que culminaram no processo de federalização, com o olhar sobre
federalização, expansão do ensino superior e políticas educacionais. Além de pesquisa
bibliográfica e documental, recorreu à historiografia interpretativa, a partir das entrevistas
realizadas, para então escrever a história inédita da instituição, orientado pelo Prof. Dr.
Humberto Guido.
29) Junto ao programa de Mestrado Acadêmico de Ciências da Informação na Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG, 2012), e sob a orientação do Prof. Dr. Carlos Alberto Ávila
Araújo, Flavia Virginia Melo Pinto apresentou a pesquisa Práticas informacionais na
organização político sindical dos professores da rede municipal de Belo Horizonte.
Considerando as novas exigências do mundo do trabalho, a autora afirma que a organização
também sofreu impacto, e não apenas os trabalhadores - sendo inseridos no universo da
burocratização. O estudo buscou compreender a maneira dos professores produzirem,
disseminarem e apropriarem de informações para a sua organização político-sindical, onde a
apreciação das falas se deu através da teoria de Bourdieu. Conclui que a os dirigentes sindicais
acabam concentrando mais informações do que os professores de base, devido ao
enfraquecimento da organização no local de trabalho e à burocracia da estrutura sindical.
30) Aline Veiga dos Santos apresentou pesquisa intitulada A governança da educação
superior privada: sobre implicações da formação dos oligopólios no trabalho docente em sua
dissertação para Mestrado em Educação na Universidade Católica de Brasília, 2012), sob a
orientação da Profª. Dra. Ranilce Guimarães-Iosif. O estudo analisa o caso da Companhia
Anhanguera Educacional, segundo maior grupo de ensino superior do mundo. Os dados foram
interpretados à luz da análise de conteúdo proposta por Bardin e discutidos em quatro
categorias: política e governança da educação superior - concepções e contradições;
Anhanguera Educacional - aquisições institucionais e abertura de capital na bolsa de valores;
relações e condições de trabalho dos docentes; consciência política dos docentes - sindicalismo
e engajamento social. Concluiu que este novo modelo intensifica a exploração da subjetividade
do trabalho docente e enfraquece as organizações coletivas.
31) Para a obtenção do título de Mestre em Educação junto à Universidade Federal de
Sergipe (UFSE, 2012), Maria Oliveira dos Santos apresentou a dissertação intitulada Prática
sindical docente e seus nexos com a formação política dos professores, sob a orientação da
Profª. Dra. Solange Lacks. Trata-se de um estudo empírico junto ao Sindicato dos
Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe (SINTESE), na
47

observância de sua resistência ao projeto neoliberal na educação, através do materialismo


histórico-dialético, tendo o militante cultural (Taffarel) como categoria central da análise de
dados, além de formação política e projeto sindical. Concluiu que a sociedade capitalista
dificulta consideravelmente a transformação, pelas mãos daqueles que a desejam.
32) Andrea Cristina Oliveira Duarte Silva, em sua dissertação de Mestrado em Educação
(UFRJ, 2012), desenvolveu a pesquisa Caminhos do sindicalismo: trajetória de vida dos
professores do SEPE/Baixada Fluminense, onde propõe um diálogo entre a História da
Educação e a Sociologia da Educação para compreender de que forma nove professores
sindicalizados desenvolveram sua militância (escala social reduzida), orientada pela Profª. Dra.
Miriam Waidenfeld Chaves. As categorias utilizadas no estudo são socialização, disposição
política, configuração social, identidade social (Lahire, Elias e Dubar). Concluiu que cada
sujeito construiu sua disposição por caminhos bastante diferentes, mas com algumas
possibilidades em comum: formação da escola básica, capital social, colegas de profissão
sindicalizados e relação com a Igreja Católica e seus movimentos populares.
33) Sob a orientação do Prof. Dr. José Adelson da Cruz, João Ferreira Araújo Junior
defendeu dissertação O trabalhador da educação e a acumulação flexível do capital: um estudo
do posicionamento do Sintego frente à política educacional de Goiás em seu Mestrado em
Educação na Universidade Federal de Goiás (UFG, 2013), onde buscou compreender o
entendimento e o posicionamento da entidade a partir das políticas implantadas pelo governo
que encaminham os processos para a privatização da educação estadual, na opinião do autor. O
referencial teórico declarado é bastante amplo: Harvey, Cruz, Corrágio, Saviani, Paro, Enguita,
Tumolo e Bezs, Canezin, Schwartzman e Cox, Boito Jr. Concluiu que a entidade sindical
conhece a perversidade nas políticas, mas ainda não conseguiu fazer com que a questão se
tornasse bandeira de luta da base.
34) Em nossa dissertação de mestrado (Educação, UNINOVE, 2013), apresentamos a
pesquisa intitulada O jornal sindical e a formação política: o caso da UDEMO junto aos
diretores de escola da rede estadual paulista, onde buscamos identificar a ação pedagógica da
entidade a partir da análise exclusiva de seu jornal sindical. Sob a orientação do Prof. Dr. Miguel
Henrique Russo, identificamos as principais políticas implantadas pelo governo desde a década
de 1990, situamos o Sindicato de Especialistas da Educação do Magistério Oficial do Estado
de São Paulo (UDEMO) no contexto do sindicalismo docente brasileiro e realizamos a análise
dos dados a partir das categorias: unificação curricular (Souza), gerencialismo (Shiroma),
meritocracia e bonificação (Souza), campanha salarial, forma de acesso ao cargo (Enguita),
48

formação política (Newton Duarte e Saviani). Concluímos que o sindicato por muitas vezes se
isentou de aprofundar as discussões junto à base através de seu jornal, e que demonstrou um
pensamento conservador em diversas matérias publicadas.
35) Risalva Bernardini Neves, para a obtenção do título de Mestre em Linguística (UnB,
2013), realizou pesquisa denominada Discursos sobre mobilização grevista dos professores em
Brasília: “prejuízo para todos”? onde, sob a orientação da Profª. Dra. Viviane Sebba Ramalho,
se concentrou na cobertura do jornal Correio Brasiliense e a construção de sentidos
potencialmente ideológicos. Uma pesquisa qualitativa, predominantemente documental e
sincrônica, baseada na abordagem da análise de discurso crítica (Chouliaraki, Fairclough,
Ramalho e Resende), que concebe a linguagem como parte da vida social interligada com outras
partes, em uma relação dialética. A pesquisa bibliográfica apoiou-se em Thompson (ideologia),
Apple e Gentili (neoliberalismo e educação). Constatou a predominância do discurso
hegemônico neoliberal, além de depreciativo dos docentes.
36) Em sua dissertação de mestrado em Educação junto à Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP, 2013) Juan Carlos da Silva apresentou o estudo A política educacional
do governo José Serra (2007-2010): uma análise da atuação da APEOESP, de cunho
bibliográfico e documental (boletins do sindicato), sob a orientação do Prof. Dr. Salvador
Sandolval. As categorias de análise são políticas educacionais como estado em ação (Marx),
estado burguês (Draibe), reformas do estado (Draibe), ideologia neoliberal (Sanfelice),
sindicalismo em geral (Dal Rosso) e sindicalismo dos professores do setor público (Dal Rosso).
Conclui que boa parte das reivindicações e da organização sindical do período estava centrada
apenas nas questões de interesse laboral e salarial.
37) O sindicalismo docente da educação básica no Maranhão: da associação à emergência
do sindicato é o título da tese de doutoramento apresentada por Robson Santos Câmara Silva
(Ciências Sociais, UnB, 2013), sob a orientação do Prof. Dr. Sadi Dal Rosso. Uma reconstrução
histórica da organização coletiva docente no estado, numa perspectiva materialista histórico-
dialética que se propõe a apresentar um levantamento empírico dos processos por meio dos
quais se deu a construção do sindicalismo docente maranhense, utilizando-se das categorias
organização de trabalhadores, novo sindicalismo e prática sindical.
38) Maria Manuel Branco Calvet de Magalhães Gomes Ricardo, em seu doutoramento
(Educação, Lusófona, 2015) apresentou a tese intitulada Os grupos de estudo do pessoal
docente do ensino secundário, 1969-1974: as raízes do sindicalismo docente, um estudo em
história-social orientado pelo Prof. Dr. António Teodoro, realizado numa perspectiva
49

sociopolítica, realizado através de pesquisa documental e bibliográfica, além de entrevistas


semiestruturadas. A pesquisa buscou identificar os grupos de estudo portugueses em várias
dimensões: modelo organizativo, intervenção pedagógica, laboral, associativa e política,
consciência organizativa e escola de sindicalistas. Concluiu que a existência dos grupos exerceu
importante influência da formação de um pré-sindicalismo docente.
39) Mercantilização da educação e precarização das relações de trabalho docente: o
ensino superior privado e a atuação do Sindicato dos Professores de Guarulhos é o título da
dissertação de Andrea Luciana Harada Sousa (Mestrado em Educação, UNICAMP, 2015). Sob
a orientação do Prof. Dr. Evaldo Piolli, a partir de pesquisa bibliográfica e documental, a autora
apresenta o quadro de ampliação do ensino superior privado, acompanhado da precarização do
trabalho docente. Em seguida, reconstrói a história do Sindicato dos Professores e Professoras
de Guarulhos (SINPRO-Guarulhos) no contexto do sindicalismo docente brasileiro e analisa a
atuação da entidade frente às mudanças na configuração laboral de sua base por um viés crítico
dialético. Constatou o aumento significativo na instabilidade dos professores, o que enfraquece
o enfrentamento organizativo, utilizando as categorias prática sindical, precarização do trabalho
docente e trabalho.
40) Osvino Toillier, em sua dissertação de mestrado (Gestão Educacional, UNISINOS,
2015), desenvolveu a pesquisa A negociação coletiva no ensino privado gaúcho: o olhar de um
protagonista-gestor dos processos de negociação (2004 – 2013), a partir de pesquisa
documental, memórias do autor e estudos bibliográficos. As unidades de análise utilizadas são:
tempo de duração da negociação; respeito às diferenças; e processo democrático, valendo-se de
referencial teórico com destaque para Clea Macagnan, com categorias delimitadas em
competência, liderança, demandas políticas e relações de poder. Sob a orientação da Profª. Dra.
Beatriz Fischer, concluiu que a liderança deve realizar a negociação com serenidade e firmeza.
41) Miriam Maria Bernardi Miguel, em seu doutoramento em Educação junto à UNINOVE
(2016), orientada pelo Prof. Dr. Carlos Bauer, desenvolveu a pesquisa intitulada História da
educação brasileira e seus personagens invisíveis – práticas sindicais e políticas do Sindicato
dos Funcionários e Servidores da Educação do Estado de São Paulo – AFUSE (1978-1992). A
autora localizou a AFUSE na história, abordando a invisibilidade da entidade e comprovando
a importância da presença deste sindicato na construção e na defesa de uma educação pública
de qualidade. Utilizou-se de pesquisa bibliográfica, entrevistas e fontes documentais para
localizar esses trabalhadores da educação no campo da construção da história social da
educação e do sindicalismo.
50

42) Luís Roberto Beserra de Paiva apresentou o estudo Sindicalismo e associativismo


docente universitário na América Latina - história e embates políticos na contemporaneidade
(1990-2010) para a conclusão de seu Mestrado em Educação (UNINOVE, 2016). O autor,
orientado pelo Prof. Dr. Carlos Bauer, se aprofunda na compreensão da ação sindical dos
professores universitários no período de consagração das políticas neoliberais na América
Latina, uma fase de precarização das condições de trabalho, com intensificação da exploração
e do controle da atividade docente. O autor entrevistou vinte e cinco docentes (argentinos,
brasileiros, colombianos e mexicanos), além de extensa pesquisa bibliográfica e documental,
fazendo uma análise comparativa que identifica elementos comuns e distintos nas entidades dos
diferentes países.
43) Vanessa Amorim Dantas apresentou em 2016 a sua dissertação de Mestrado em
Educação (UNINOVE), orientada pelo Prof. Dr. Carlos Bauer, intitulada Aspectos históricos e
políticos da Associação de Professores do Estado do Maranhão (1976-1989), um resgate da
trajetória do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica das Redes Públicas Estadual e
Municipais do Estado do Maranhão (SINPROESEMMA), partindo de entrevistas, documentos
e pesquisa bibliográfica, com o objetivo de identificar as motivações e percalços que levaram à
organização. Escreveu um capítulo sobre a fundamentação teórica e metodológica, outro sobre
conjuntura brasileira e as relações com o Maranhão e um terceiro sobre a entidade.
44) Sob a orientação do Prof. Dr. Carlos Bauer, Cassio Hiro defendeu tese para seu
doutoramento em Educação (UNINOVE, 2017) intitulada Da invisibilidade à conquista do
espaço social: história concisa das lutas políticas e sindicais dos trabalhadores em educação
da Universidade de São Paulo (1978-1988), uma investigação sobre a organização dos
trabalhadores em educação do setor administrativo da USP, por meio da Associação dos
Servidores da Universidade de São Paulo (ASUSP) - atual Sindicato dos Trabalhadores da
Universidade de São Paulo (SINTUSP) - , procurando compreender a dinâmica interna desta
entidade e o papel que assumiram na derrubada da ditadura civil-militar, considerando-a uma
das mais combativas entidades do movimento sindical brasileiro nas últimas décadas. Usando
como base teórica o materialismo histórico dialético, amparado em Thompson, tem na
consciência de classe a principal categoria de análise, relacionada à questão da invisibilidade.
45) Emerson Feliciano Mathias realizou a pesquisa História da gênese e consolidação
política da Associação dos Professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
APROPUC (1976-1985), orientado pelo Prof. Dr. Carlos Bauer, para a obtenção do título de
Mestre em Educação junto à UNINOVE (2017), um resgate da história da entidade durante o
51

esgotamento da ditadura civil-militar no Brasil, onde assistimos a grande expansão da rede


privada de ensino. O trabalho dimensiona o papel da APROPUC num período de tensões
políticas e sociais, considerado um divisor de águas no ordenamento político social. Apresentou
um capítulo sobre as condições de emergência do associativismo no ensino superior privado,
outro sobre a emergência da entidade e um terceiro sobre as lutas e reivindicações no recorte
temporal.
46) Maria Crisneilândia Bandeira de Oliveira, em sua pesquisa durante o Mestrado em
Educação (UNINOVE, 2017), realizou o trabalho História, embates políticos, sindicais e
organizativos dos professores das Instituições do ensino privado de Osasco e região
(SINPROSASCO) (1985-1992), uma análise da atuação do Sindicato dos Professores de Osasco
e Região, no período de retomada da democracia brasileira, que seguiu permeada dos preceitos
e das políticas neoliberais. Orientada pelo Prof. Dr. Carlos Bauer, a autora apresentou
importante capítulo sobre a importância das fontes impressas e documentais para estudos sobre
sindicalismo docente numa perspectiva histórica, um outro sobre a gênese da participação
política no contexto do novo sindicalismo e o último sobre a história do SINPROSASCO.

1.2.2. Observações sobre a produção acadêmica estudada

As investigações sobre associativismo e sindicalismo dos trabalhadores em educação,


ainda que não configurem um campo de estudo com grande amplitude e presença consistente
no território acadêmico em geral, vêm despertando o interesse de cada vez mais pesquisadores
nos últimos anos, sinalizando uma crescente não só quantitativa, mas também qualitativa, sobre
a compreensão da relevância do tema e seus desdobramentos para a história da educação
brasileira.
Realizada a leitura das pesquisas, foi possível constatar algumas características
importantes para a organização e realização de nossa investigação. Inicialmente pelo aspecto
quantitativo, constatamos que, dos quarenta e seis trabalhos, dezoito são teses de doutorado e
vinte e oito são dissertações de mestrado. A grande maioria, num total de trinta pesquisas, são
resultado de estudos realizados junto a programas de Educação, isso significa que 67% da
totalidade de estudos sobre sindicalismo docente não estão nos programas de Ciências Sociais
e Sociologia, mas, sim junto aos programas de Educação, conforme demonstra a Tabela 1.
52

Tabela 1 – Pesquisas por área/Programa

Elaborado pela autora.

Consideramos relevante registrar aqui a presença dos estudos sobre história do


sindicalismo docente junto a programas de Educação, seja sobre os sujeitos coletivos numa
abrangência geral, seja sobre o percurso específico de alguma entidade. Os trabalhos, na maioria
das vezes, empenham-se em resgatar e reconstituir a história da educação pela ótica das
organizações coletivas.
A leitura do material começou no início de 2014, quando a presente pesquisa se
encontrava em estágio inicial de elaboração e, ainda que não tenhamos a pretensão de
apresentar, neste estudo, um estado da arte completo sobre as pesquisas no campo do
sindicalismo docente, consideramos necessário ressaltar a imensa contribuição que esse
levantamento inicial nos ofereceu, desde uma aproximação maior com a bibliografia, até uma
visão mais panorâmica sobre os estudos realizados, bem como seus aspectos metodológicos,
suas categorias de análise e seus referenciais teóricos.
No conjunto dos trabalhos que tivemos acesso, observamos algumas características
comuns no que diz respeito às categorias de análise, percebendo uma maior incidência de
pesquisas sob a ótica da prática sindical, do trabalho, das políticas educacionais, da identidade
docente, da consciência de classe, da greve e da negociação. Além disso, constatamos que estes
estudos estão, em sua quase totalidade, apoiados em referencial teórico marxista.
Num aspecto mais amplo dos estudos, seguimos a trajetória de Claudia Vianna (2001)
que, há quase duas décadas, analisou a produção acadêmica sobre organização docente entre
1980 e 1997, quando percebeu os trabalhos divididos em dois grandes blocos: a) um primeiro
que considera a prática sindical dos professores por um viés bastante otimista, como uma
potência de formação da consciência de classe e motor de transformação social; b) um segundo
que analisa as entidades a partir da crise, priorizando suas dificuldades e entraves. Segundo a
53

autora, o recorte entre os dois blocos é temporal e se delimita na medida em que o novo
sindicalismo se implementa nas organizações, percebidos nas pesquisas mais especificamente
a partir de 1991.
No período agora por nós alisado, percebemos que os estudos apresentam os dois lados
da questão, ou seja, reconhecem o sindicato como um local de possibilidades, reforçam as ações
positivas e combativas por eles realizadas, mas não deixam de identificar e compreender
também os seus impasses, dificuldades, entraves e erros. Por este viés, entendemos que o
objetivo central da pesquisa não deve ser determinar se a organização é boa ou ruim, combativa
ou pelega, formativa ou assistencialista, mas sim de compreender os caminhos percorridos que,
certamente são sempre permeados de vitórias e derrotas.
Julian Gindin (2009) também se debruçou acerca da produção acadêmica do
sindicalismo docente no período que vai de 1980 a 2008, identificando questões importante
sobre a regionalização, interferência neoliberal nas entidades e percepção disso nas pesquisas,
além de ter situado a militância sindical em parte significativa dos pesquisadores, o que
percebemos ser uma condição mantida também nos últimos doze anos.

Trata-se de uma produção extensa, em parte, porque militantes e ex militantes


sindicais docentes estudam nas universidades e decidem pesquisar
sistematicamente os temas sobre os quais se interessaram ou se interessam na
sua atividade político sindical. Isto outorga uma riqueza muito grande a alguns
trabalhos e também contribui a explicar, pelo menos parcialmente, o caráter
militante de boa parte da produção (GINDIN, 2009, p. 5).

Com relação às organizações pesquisadas, identificamos a predominância de estudos


sobre entidades de trabalhadores em educação no setor público, mantendo o campo do setor
privado ainda numa condição de pouco estudado, o que nos motivou ainda mais à realização da
presente investigação. A escolha em estudar a história da organização sindical dos professores
da cidade de São Paulo tem também, entre os seus elementos motivadores, o reconhecimento
de que a reflexão sobre essa trajetória permanece praticamente inédita, não sendo
sistematicamente trabalhada e, por conseguinte, se mostra desconhecida mesmo para alguns
dos pesquisadores preocupados com essa temática.
54

1.3. Os alicerces teóricos e metodológicos da pesquisa

Este estudo apresenta a análise de alguns aspectos da trajetória do Sindicato dos


Professores de São Paulo (SINPRO-SP) no período compreendido entre 1975 e 1985, a última
década da ditadura civil-militar brasileira, numa perspectiva de colaborar com a construção e a
ampliação do escopo temático da história da educação. A pesquisa foi desenvolvida a partir de
uma compreensão historiográfica educacional, que procura se apoiar no referencial teórico
marxista e na assunção de que o materialismo histórico-dialético nos serviu como base para
algumas reflexões e análises que apresentamos sobre a sociedade, o trabalho, a alienação e o
capitalismo. Neste sentido, temos a compreensão de que a organização política e intelectual da
sociedade é determinada pelas características de seu modo de produção, ou seja, na atual etapa
histórica, pelo capital. A realidade não é encarada como uma espécie de coisa definitiva e
estática, mas, sim, precisa ser compreendida dialeticamente, e as possibilidades de mudança
podem ser encontradas nas contradições e antagonismos dessa própria realidade.
Aliás, como nos alertaram os precursores do materialismo histórico e dialético, a
“consciência não têm história, nem desenvolvimento, mas os homens, ao desenvolverem sua
produção material e seu intercâmbio material, transformam também, com esta sua realidade,
seu pensar e os produtos do seu pensar. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida
que determina a consciência” (MARX & ENGELS, 1989, p. 37).
Para muitos dos seus intérpretes, o sindicato deve ser um centro de organização e
formação da base de uma determinada categoria de trabalhadores para a luta econômica, política
e social contra a exploração do trabalho reinante no seio da sociedade capitalista; Engels (1975),
por exemplo, afirmou que a classe proletária é escravizada através do trabalho operário,
reconhecendo as condições de exploração a que estavam submetidos.
Referenciamos também Edward P. Thompson (1987, p. 10), que muito colabora na
compreensão sobre a construção da história social da classe trabalhadora a partir de seu próprio
fazer-se, visto que é definida pelos próprios homens enquanto vivem e produzem a sua história.

A classe acontece quando alguns homens, como resultado de experiências


comuns (herdadas ou partilhadas), sentem e articulam a identidade de seus
interesses entre si, e contra outros homens cujos interesses diferem (e
geralmente se opõem) dos seus. A experiência de classe é determinada, em
grande medida, pelas relações de produção em que os homens nasceram – ou
entraram involuntariamente. A consciência de classe é a forma como essas
experiências são tratadas em termos culturais: encarnadas em tradições,
sistemas de valores, ideias e formas institucionais. Se a experiência aparece
como determinada, o mesmo não ocorre com a consciência de classe.
55

Podemos ver uma lógica nas reações de grupos profissionais semelhantes que
vivem experiências parecidas, mas não podemos predicar nenhuma lei. A
consciência de classe surge da mesma forma em tempos e lugares diferentes,
mas nunca exatamente da mesma forma.

Um reconhecimento de que a classe se constrói a partir de suas próprias relações e


experiências, assim como a consciência de pertencimento a uma classe surge apenas com o
desenrolar de uma trajetória histórica dos trabalhadores, não apenas em percursos coletivos,
mas também individuais e desencadeadas a partir das relações de produção a que pertencem.
Lênin também foi chamado a colaborar, visto que desenvolveu importantes reflexões e
registros sobre as organizações coletivas dos trabalhadores a partir das concepções marxistas,
defendendo o sindicato e sua função educativa na formação política dos trabalhadores.

A moral a extrair disso é simples: se começamos por estabelecer uma


organização de revolucionários, forte e sólida, poderemos assegurar a
estabilidade do movimento em seu conjunto, atingir simultaneamente os
objetivos sociais-democratas e os objetivos propriamente sindicais. Mas, se
começamos por constituir uma organização operária ampla, pretensamente a
mais "acessível" à massa (na realidade, a mais acessível aos policiais e que
tornará os revolucionários mais acessíveis à polícia), não atingiremos nenhum
desses objetivos (LENIN, 1902, p. 64).

Ainda sobre o sindicalismo em geral, trouxemos os escritos de Alves (1996, 1999,


2000), Almeida (2007), Antunes (1986, 1991) e Boito Jr. (1991, 2012), para que fosse possível
um levantamento crítico e contextualizado sobre o percurso do sindicalismo no Brasil em seus
aspectos conservadores, em suas transições e transformações, e em suas crises e embalos.

A explosão do sindicalismo no Brasil nos anos [19]80 indica, por outro lado,
um complexo de debilidades estruturais, políticas (e ideológicas) que
tenderiam a explicitar-se – e a assumir novas proporções – diante do
surgimento de um novo (e precário) mundo do trabalho. Por isso, o novo
complexo de reestruturação produtiva iria colocar, de modo claro, novas
determinações para a crise do sindicalismo no Brasil (ALVES, 2000, p. 113).

Sobre o sindicalismo docente, podemos destacar os estudos de Bauer (1995, 2010, 2012,
2013, 2015), Dal Rosso (2011), Ferreira Jr. (1998) e Gindin (2011), dentre vários outros
pesquisadores da Rede Aste. Assim o fazemos com o objetivo de apresentar um panorama sobre
a representatividade docente no período histórico estudado e, principalmente, obter elementos
de análise sobre a história e atuação da entidade que congrega, sindicalmente, os professores
que vendem sua força de trabalho no âmbito do ensino privado paulistano.
56

A presente investigação procurou realizar a análise dos dados pela ótica do materialismo
histórico-dialético, que não se restringe a um mero receituário de pesquisa, pois, é a própria
forma de investigar e de se apropriar da realidade que, por sua vez, deve ser encarada em sua
totalidade e dinâmica não acabada, na busca do rompimento de um modo de pensar
hegemônico. Buscamos interpretar o objeto de estudo a partir de suas particularidades e
especificidades, mas, dialeticamente, também apresentando suas relações com a conjuntura
política, social, econômica e cultural, bem como as contradições nessas relações.

É importante enfatizar que a dialética, para ser materialista e histórica, não


pode constituir-se numa “doutrina” ou numa espécie de suma teológica. Para
ser materialista e histórica tem de dar conta da totalidade, do específico, do
singular e do particular. Isto implica dizer que as categorias totalidade,
contradição, mediação, alienação não apriorísticas, mas construídas
historicamente (FRIGOTTO, 2001, p. 73).

Uma síntese que leva em consideração a tese e a antítese, mas que surge como fruto do
processo da contradição dialética, deixando espaço para novas discussões, novas teses, antíteses
e sínteses, sem desmerecer as anteriormente já discutidas, pois entendemos que as pesquisas
desenvolvidas por este método,

[...] questionam fundamentalmente a visão estática da realidade implícita nas


abordagens anteriores. Esta visão esconde o caráter conflitivo, dinâmico e
histórico da realidade. Sua postura marcadamente crítica expressa a pretensão
de desvendar, mais que o “conflito das interpretações”, o conflito dos
interesses. Essas pesquisas manifestam um “interesse transformador” das
situações ou fenômenos estudados, resguardando sua dimensão sempre
histórica e desvendando suas possibilidades de mudanças (GAMBOA, 2010.
p. 107-108).

Considerando as especificidades e necessidades colocadas pelo próprio objeto, bem


como pelos objetivos traçados, este é um estudo qualitativo. Mas não deixamos de inserir
também elementos de cunho quantitativo sempre que possível ou necessário, com o intuito de
complementarem a análise. Entendemos que o qualitativo e o quantitativo não estão em
oposição, mas sim em complementação um do outro, de acordo com a necessidade e o
andamento da investigação, considerando que “as opções metodológicas não constituem em um
princípio em si, mas são fortemente afetadas pelos tipos de problemas que o pesquisador se
dispõe a enfrentar” (MARQUES, 1997. p. 21).
Em busca dos objetivos, foram utilizados três tipos de instrumentos de coletas de dados:
fontes orais, com declarações concedidas a partir de entrevistas e depoimentos; fontes
57

documentais, com material da imprensa sindical e registros oficiais da entidade; e fontes


bibliográficas em livros, teses, dissertações e artigos sobre o tema.
Esta é uma pesquisa na área da educação, preocupada em estudar a história do
sindicalismo docente que se faz do ensino privado paulistano, onde nos valemos de
diversificada fortuna documental, mas, também, de fontes orais, a partir da análise de
depoimentos concedidos por professores que atuaram na base da entidade durante o período da
ditadura.
Existem divergências acadêmicas com relação às fontes orais, entre outras coisas, em
razão da subjetividade que lhe é própria, desencadeando encanecidos debates sobre o
compromisso com a credibilidade e com as evidências.
Reconhecemos o ponto de vista construído a partir das ideias de Paul Thompson, que
nos lembra que presença da subjetividade é uma característica de todas as fontes históricas, não
sendo uma exclusividade dos resgates orais.

Para a maior parte dos tipos existentes de história, provavelmente o resultado


crítico dessa nova abordagem será propiciar evidência vinda de uma nova
direção. O historiador de política da classe operária pode justapor as
afirmações do governo ou dos dirigentes do sindicato e a voz das pessoas do
povo – sejam ela apáticas ou militantes. Não há dúvida alguma de que isso
deve contribuir para uma construção mais realista do passado. A realidade é
complexa e multifacetada; e um mérito principal da história oral é que, em
muito maior amplitude do que a maioria das fontes, permite que se recrie a
multiplicidade original de pontos de vista. Mas essa vantagem não é
importante apenas para escrever história. Em sua maioria, os historiadores
fazem julgamentos implícitos ou explícitos – o que é muito certo, uma vez que
a finalidade social da história requer uma compreensão do passado que, direta
ou indiretamente, se relaciona com o presente. Os historiadores profissionais
modernos são menos francos quanto a suas mensagens sociais do que
Macaulay ou Marx, uma vez que se considera que os padrões acadêmicos
conflitam com um viés declarado (THOMPSON, 1992, p. 25-26).

Tais premissas nos remeteram a conhecer o pensamento dos sindicalistas e dos


professores com relação à ação coletiva docente no período da ditadura civil-militar brasileira,
valorizando suas opiniões com relação ao sindicalismo em geral e também com relação ao
SINPRO-SP, as derrotas e vitórias que guardam em suas memórias, bem como a descrição dos
obstáculos e táticas utilizadas na superação da repressão militar.
Como observa Bauer (2010, p. 65-66) “a realização de entrevistas e a tomada de
depoimentos são passos importantes no resgate da memória do protagonista desse complexo
processo de construção da identidade dos professores”.
58

Considerando que a formação da presença coletiva dos professores da rede particular de


ensino se deu apoiada em diferentes experiências e incontáveis pontos de vista, com o
envolvimento de inúmeros sujeitos inseridos numa conjuntura política que dificultava a ideia
de pertencimento de classe, advindos de culturas e credos diferentes, é necessário que tenhamos
um olhar mais paciente e específico a respeito das particularidades e especificidades de cada
faceta dessa história.

A memória, principal fonte dos depoimentos orais, é um cabedal infinito, onde


múltiplas variáveis – temporais, topográficas, individuais, coletivas –
dialogam entre si, muitas vezes revelando lembranças, algumas vezes, de
forma explícita, outras vezes de forma velada, chegando em alguns casos a
ocultá-las pela camada protetora que o próprio ser humano cria ao supor
inconscientemente, que assim está se protegendo das dores, dos traumas e das
emoções (NEVES, 2006, p. 16).
59

CAPÍTULO 2 – A ESTRUTURAÇÃO SOCIAL DO BRASIL CONTEMPORÂNEO

A partir do exame das obras de autores como: Álvaro Vieira Pinto (1956, 1960), Octávio
Ianni (1977), Vanilda Paiva (1973, 2000), Caio Navarro de Toledo (2004, 2009), Laura Veiga
(1982), Luís Antônio Cunha (1985, 1988, 1991,2004), Virginia Fontes (2010), Barbara Freitag
(1986), Nelson Werneck Sodré (1997) e Florestan Fernandes (1966, 1975, 1978, 1989);
podemos dizer que a estruturação social do Brasil, entre os fins da década de 1960 e dos anos
1970, tinha suas origens na objetivação dos caminhos que vinham sendo adotados desde a
metade do século XX, com o intuito de modernizar as relações capitalistas no país.
Em que pese algumas controvérsias interpretativas e diversificada argumentação
histórico-sociológica, foi a partir desse instante, mormente, por meio de uma intervenção
política estatal, consubstanciada pelo Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), com o seu
propalado Plano de Metas que, com base na intervenção do Estado, se procurou estabelecer as
condições necessárias para a instalação de amplas unidades produtivas do capital industrial
estrangeiro, com seus investimentos voltados para a fabricação de bens de consumo duráveis,
como é o caso da indústria automobilística e toda rede de acessórios que essa atividade tende a
abrigar.
Nesse momento histórico, o Estado no Brasil explicitou seu nítido caráter de classe, com
uma intervenção monopolista 12 , associada ao capital transnacional e procurando intervir,
diretamente, nas esferas produtivas e no incremento da infraestrutura, como também,
subsidiando impostos, facultando financiamentos e aprovando leis favoráveis a atuação das
grandes corporações estrangeiras, com grandes encargos financeiros, que foram decisivos para
oferecer ao país uma parcela industrial criadora de produtos fundamentais nos campos da
siderurgia e da atividade energética. Embora tenhamos que estar atentos e, como lembrou
Florestan Fernandes (1978), examinar criticamente nossas próprias classes dominantes, em
muitos casos defensores empedernidas do capitalismo a qualquer custo, cruéis com as massas
trabalhadoras, mas incapazes de questionar e romper sua subalternidade frente aos capitais
estrangeiros.
Os anos que imediatamente antecederam a Segunda Guerra Mundial influenciaram
muito e trouxeram sérias consequências à economia brasileira, materializadas na queda
repentina da exportação de produtos agrícolas tradicionalmente produzidos no país e a

12
Para o aprofundamento dessa discussão, recomendamos a obra de Harry Braverman, Trabalho e capital
monopolista, publicado no Rio de Janeiro, pela Zahar, em 1980.
60

dependência de produtos importados, como carvão, gasolina, máquinas e insumos industriais.


Surgiram vários dilemas em que as perspectivas de desenvolvimento econômico, exigiram a
“formulação e utilização de novos instrumentos”, caracterizando a forte tendência para o
planejamento político econômico e o pensamento técnico científico.
Para Octávio Ianni (1977, p. 55-60), a combinação privilegiada da “economia de guerra,
desenvolvimento industrial, defesa nacional, reestruturação do poder político e do Estado, nova
constelação de classes sociais” redimensionou o conteúdo político administrativo como um
componente técnico do planejamento. Essa configuração histórica perdurou entre 1930-1945 e
abriu as possibilidades de redefinição da economia e política do Estado brasileiro para
reorientar as relações de dependência com o capitalismo mundial.
Nos anos vindouros, entre 1946 e 1950, podemos considerar a vigência da tentativa de
superação das políticas econômicas marcantemente nacionalistas do período anterior. Inclusive,
nas palavras de Ianni (1977, p. 91), a relação entre Estado e a economia do país, passou a ser
fortemente amparada nas doutrinas próprias do liberalismo econômico e, paulatinamente, foram
produzindo considerável influência sobre a “reelaboração das condições de dependência” no
desenvolvimento econômico mundial da hegemonia estadunidense, como importantes
iniciativas do Estado, o autor destaca a política cambial, o Plano SALTE13, Missão Abbink14 e
a política salarial adotadas no período.
Na análise realizada por Octávio Ianni, (1977, p. 105) a compreensão dessa etapa da
política nacional passa pelo entendimento dos acordos econômicos e financeiros liberais
construídos entre os Estados Unidos da América e o Brasil, para favorecer os interesses
empresariais do setor privado. Para atingir seus objetivos e promover certa “estabilidade
financeira”, a política de Estado adotou uma série de medidas, dentre elas o “confisco salarial”
da classe trabalhadora, fato que acirrou as relações entre trabalhadores e os donos dos meios de
produção.
Os governos que se instalaram nos primórdios dos anos 1960, receberam como herança
do período anterior, uma estruturação econômica do país marcada por grandes problemas
sociais, formidável endividamento externo e interno e inflação crescente, sem contar uma
indústria nacional próxima de desaparecer diante do avanço inexorável do capital estrangeiro.

13
Iniciais de Saúde, Alimentação, Transporte e Energia. Plano econômico apresentado pelo presidente Eurico
Dutra ao Congresso Nacional em 1948 com o objetivo de estimular o desenvolvimento de setores de saúde,
alimentação, transporte e energia no país.
14
Nome com que se tornou conhecida a Comissão Brasileiro-Americana de Estudos Econômicos, formada em
1948 por um grupo de técnicos norte-americanos enviados ao Brasil sob a direção de John Abbink e por um grupo
de técnicos brasileiros chefiados por Otávio Gouveia de Bulhões. O objetivo era analisar os fatores que tendiam a
promover ou a retardar o desenvolvimento econômico brasileiro.
61

Num cenário como esse, João Goulart procurou estabelecer uma alternativa de cunho
nacionalista e calcada em reformas sociais de base, mas foi tragado pelas forças golpistas,
entreguistas e comprometidas com a integração do Brasil nos processos de mundialização do
capital.
Mas, também é importante lembrar que, nesse mesmo momento, inclusive, pensadores
como Álvaro Vieira Pinto, questionavam os ditames do imperialismo norte americano e
procuravam difundir a ideia de que a educação seria fundamental para o desenvolvimento do
país daquela época. Mais do que isso, que a escolarização das massas seria de grande
importância nas estratégias desenvolvimentistas, pretendendo, irredutivelmente,

[...] fazer valer a razão, alcançar o consenso nacional e colocar o Estado a


serviço do desenvolvimento nacional, implica, reconhecer como central, a
questão da educação e da organização ideológica das massas. Neste momento
em que a comunidade brasileira atinge o limiar da consciência nacional,
caracterizada por inédita representação de sua realidade, e se dispõe a projetar
e empreender o desenvolvimento dos recursos materiais, que a deve conduzir
a outro estágio de existência, torna-se indispensável criar um novo conceito
de educação, como parte essencial daquele projeto, e condição do seu
complexo êxito (VIEIRA PINTO, 1960, p.43).

O golpe de 1964 derrubou um governo que dispunha de grande apoio popular, que havia
sido eleito democraticamente e, procurando construir um bloco de alianças, políticas e sociais,
apostava numa perspectiva de caráter nacionalista para o desenvolvimento do país. Ocorre que,
pelo menos desde 1945, esse projeto, agora, liderado por João Goulart, sofria duros ataques e
todo tipo de restrições.
Não foi por acaso, portanto, que alinhados à uma parcela do empresariado industrial,
financeiro e comercial, que buscava estabelecer vínculos mais sólidos com o capital
internacional, a amplos setores da Igreja Católica e à parcela da sociedade mais sensível as
pregações ideológicas de caráter conservador, que dizia se sentir ameaçada pelo avanço do
comunismo e do sindicalismo, os militares tomaram de assalto o controle do Estado, trazendo
à tona o modelo autoritário de governo, o controle tirânico da vida política e social e priorizando
o crescimento econômico a qualquer preço, o que desencadeou a dependência ao financiamento
externo e alinhamento às exigências do monopólio capitalista internacional.
Com a chegada dos anos de 1970, o capitalismo mundial passou a enfrentar mais uma
crise, só que não se tratava de mais uma de suas crises cíclicas comumente percebidas na
história, mas, sim, de uma crise estrutural, que encaminhou a um processo de reestruturação
dos modelos de produção e também dos modelos de regulação social. Não demorou muito para
62

que as consequências sociais desse novo modelo surgissem, com intensa precarização das
condições de trabalho, aumento do desemprego e retirada de direitos dos trabalhadores.
O padrão de acumulação, até então vigente nos países considerados desenvolvidos,
entrou em colapso e fez surgir outro, chamado de “acumulação flexível”, denominação dada
por David Harvey (1992, p. 140), que nos esclarece que
[...] ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de
trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento
de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento
de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A
acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do
desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas,
criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego chamado ‘setor de
serviços’, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões
até então subdesenvolvidas [...]. Ela também envolve um novo movimento
que chamarei de ‘compressão do espaço-tempo’ no mundo capitalista - os
horizontes temporais da tomada de decisões privada e pública se estreitaram,
enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte
possibilitaram cada vez mais a difusão imediata dessas decisões num espaço
cada vez mais amplo e variegado.

É neste cenário político e econômico que está situada a presente pesquisa, num tempo
em que os objetivos estavam centralizados em flexibilizar as relações de trabalho, reconfigurar
o mercado de consumo, e redefinir as funções do Estado para possibilitar a transferência de
muitas delas para o setor privado, além de forte estreitamento com o imperialismo. Nestes
aspectos, não foi diferente no panorama brasileiro, que durante a ditadura militar cujo “principal
mecanismo de dominação foi a união dos representantes dos monopólios com os políticos
burgueses, a camada superior da burocracia estatal, a cúpula das Forças Armadas e as sucessivas
‘equipes técnicas governamentais’ ” (BAUER, 2012, p. 39).
63

2.1. O golpe civil-militar de 1964

O golpe de Estado civil-militar de 31 de março de 1964, e os governos que deles


sobrevieram, procurou acelerar os processos de inserção política e econômica do Brasil
iniciados na década anterior, mas, dos seus antecessores, como foi o caso de Juscelino
Kubitschek, o fez de forma violenta, autoritária e extremante centralizado.
Via de regra, o seu modelo econômico se pautou numa política de arrocho salarial e
cortes nos gastos sociais, priorizando os investimentos em infraestrutura e no financiamento do
capital estrangeiro, estímulo à produção de bens de consumo duráveis realizados pelas empresas
transnacionais, efetivação de uma política de concessão de terras e créditos aos grandes
empreendimentos agroindustriais, às exportações dos gêneros alimentícios do campo e à
perseguição aos pequenos e médios produtores rurais. Enfim, transformou o Estado no principal
fiador da atuação e da expansão do capital estrangeiro no Brasil.
O desenvolvimento desse ideário político somente pode ser garantido com a adoção de
um sem número de medidas arbitrárias e coercitivas, comportamento autoritário, policialesco e
a utilização de mecanismos de repressão e perseguição política que causaram o banimento, a
morte e a utilização da tortura contra milhares de brasileiros.
Na acepção da professora Virgínia Fontes (2010, p. 304), também por essa época
ditatorial, o Brasil experimentou uma gama considerável de mudanças em sua estrutura
econômica, social e política, com desdobramentos até os dias de hoje, tornando o país
completamente integrado “no circuito internacional da divisão de trabalho capitalista”,
obedecendo uma sequência de marcos.

[...] sob a ditadura civil-militar de 1964, ocorreu impactante impulso à


monopolização da economia, ao lado da implantação de um sistema
financeiro. Não houve ruptura ou quebra de continuidade nesse processo de
concentração monopólica e dependente, desde então. Nem a chamada década
perdida, nem a abertura dos mercados promovida pelo governo Collor e seu
aprofundamento sob o governo Fernando Henrique, assim como as duas fortes
crises econômicas em 2000 e 2008, reduziram o impulso concentrador do
capital no país. Ao contrário, quanto mais dramática foi a crise social, mais
parecem ter saído fortalecidos os setores mais concentrados. Sem negar o
impacto econômico de tais crises, vale lembrar que elas atuaram como
facilitadoras para massivas expropriações, em todos os setores da vida social
(terras, águas, direitos laborais e outros etc.).

Do ponto de vista social mais amplo, em suas origens essas transformações trouxeram
um acelerado e incontrolado processo de urbanização, resultante da imensurável concentração
64

fundiária, da crescente utilização da mecanização pelos grupos agroindustriais e a irresistível


atração exercida sobre as populações subalternizadas pelas consequências da política
econômica adotada pela ditadura no campo.
Ocorre que a expansão da atividade e produtividade industrial não foi capaz de absorver
o formidável contingente de força de trabalho, pelo contrário, nos fins da década de 1970,
empregava bem menos de 20% dos trabalhadores do país. Com isso, o que se viu foi a
impressionante expansão do comércio e do setor de serviços que atingiu perto de 43% do total
das pessoas empregadas no país, mas esses dados não foram capazes de, pelo menos, atenuar a
não menos significativa criminalidade e a marginalidade reinante no período.
Porém, é preciso se ter uma compreensão mais aprofundada de algumas das
problemáticas sociais, políticas e econômicas estruturais, que engendraram e produziram as
condições para o estabelecimento dessa realidade, como também não se pode deixar de
reconhecer que

[...] em toda a história republicana brasileira, o golpe contra as frágeis


instituições políticas se constituiu em permanente ameaça. O fantasma do
golpe rondou, em especial, os governos democráticos no pós-1946 e, com
maior intensidade, a partir dos anos 1960. Pode ser dito que o governo Goulart
nasceu, conviveu e morreu sob o espectro do golpe de Estado. Em abril de
1964, o golpe – permanentemente reivindicado por setores privilegiados da
sociedade civil – foi, então, definitivamente vitorioso. O golpe paralisou um
rico e amplo debate político, ideológico e cultural que ocorria em órgãos
governamentais, partidos políticos, associações e sindicatos de classe,
entidades culturais, meios editoriais e de comunicação, etc. Nos anos 1960,
conservadores, liberais, nacionalistas, socialistas e comunistas formulavam
publicamente suas propostas e se mobilizavam politicamente para defender
seus projetos sociais e econômicos. Se o governo Goulart e os setores
progressistas tiveram alguma parcela de responsabilidade pelo agravamento
da crise política no pré-1964, deve-se, contudo, enfatizar que quem planejou
e desencadeou o golpe contra a democracia política foram as classes
dominantes — apoiadas por setores médios e incentivadas por órgãos
governamentais norte-americanos (Embaixada dos Estados Unidos,
Departamento de Estado, Pentágono e outras agências de segurança) — e pela
alta hierarquia das Forças Armadas brasileiras (TOLEDO, 2009, s/n).

Uma das características mais interessantes produzidas naqueles difíceis anos, foi o
crescente engajamento e a mobilização das populações proletarizadas, envolvidas diretamente
na organização de associações de moradores e na urdidura de movimentos sociais e
reivindicativos, preocupados em estabelecer condições dignas de vida para os habitantes das
periferias das grandes cidades brasileiras.
65

Como uma das consequências do desenvolvimento industrial, comercial e de serviços,


tanto de importância pública, quanto de utilidade para o capital, tivemos a diversificação da
constituição de uma crescente classe trabalhadora, própria das novas necessidades operadas
pela instalação e expansão do capitalismo em sua etapa monopolista, tanto no que se refere à
composição e estruturação da força de trabalho, no que tange a sua qualificação e
especialização, quanto às questões, ditas essenciais, ao capitalismo, que dizem respeito ao
consumo e ao mercado interno.
Por sua vez, na esfera do ensino superior público, conforme sinalizado pela professora
Laura Veiga (1982, p. 2), a “estrutura organizacional” também foi alvo de agitações entre os
catedráticos e os professores jovens que reivindicavam maior espaço decisório e uma formação
menos segmentada. E uma terceira que se deu em relação ao “conteúdo do ensino”,
especialmente para um ensino inovador, capaz de formar profissionais necessários ao
desenvolvimento do país. Essas desavenças remetiam a tempos idos, mais precisamente

[...] a partir da década de [19]50, dois grupos se configuram incorporando


estas propostas modernizadoras: um reunido em torno de Darcy Ribeiro,
apoiando a criação de uma universidade moderna e livre dos freios e vícios
burocráticos das instituições de ensino superior brasileiras, outro de
composição predominante estudantil sob o comando da UNE, que propunha
um movimento amplo de reforma que fosse capaz de alterar inclusive, a
composição social e o caráter de todo o sistema universitário. São estes dois
grupos os que, no início dos anos sessenta, se mobilizam e procuram refinar
suas propostas de modo a transformá-las em alternativas de política
educacional. As propostas radicais, representadas pela UNE, dividiram-se em
duas versões. Uma reformista, mais característica das formulações iniciais, de
crítica aguda ao caráter discriminatório do ensino superior e comprometida
com o nacional desenvolvimentismo. E a segunda versão identificada como
pré-revolucionária, principalmente a partir de 1962, lutava para alterar a
composição de classe da universidade brasileira e transformar a universidade
em espaço capaz de agir em favor dos grupos subalternos (VEIGA, 1982, p.
43).

Por outro lado, como veremos mais adiante, por essa época, tivemos também uma
significativa proliferação do chamado ensino particular, voltado, em grande parte, ao
atendimento das necessidades advindas do crescimento das camadas ditas médias da população
assalariada nas cidades brasileiras, preocupados com a escolarização de seus jovens e crianças.
De fato, a partir dos números oficiais, na ótica de Florestan Fernandes (1966, p. 23-24),
seria possível diagnosticar uma distribuição vertical das oportunidades educacionais. Assim em
meados da década de 1960, das 6.465.579 matrículas no ensino primário, havia apenas 26.879
66

matrículas no ensino elementar “extra primário”, 972.894 no ensino médio e 85.753 no ensino
superior. Para ele, os dados mostravam que entre os alunos que se matriculavam no primário,
havia somente alguns “bem-sucedidos” que conseguiam superar o chamado funil da seleção e
chegar ao ensino superior. As informações eram inequívocas: a cada 100 crianças que
conseguiam concluir o ensino primário, apenas 32 alcançavam as condições necessárias
frequentar o ensino médio, sendo que somente 3 cumpriam a proeza de chegar ao ensino
superior.
Nesse ponto, a análise de Florestan Fernandes era taxativa, reconhecendo que a política
brasileira favorecia a expansão das escolas particulares leigas ou confessionais, que raramente
adotavam ideais democráticos, em prejuízo aos problemas educacionais que o país ainda havia
de enfrentar e, principalmente, em detrimento da criação de um sistema oficial de ensino
fundamentado na justiça social.
Ao fazer um balanço das propostas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) que haviam sido discutidas no início da década de 1960, Florestan Fernandes afirmou
que foram aprovadas contando com várias concessões às correntes privatistas, que se
articulavam para impor seus interesses e influenciar as decisões do poder político,
impossibilitando a superação do atraso educacional. Asseverando, ainda, que a “débil
resistência dos homens públicos ou das instituições políticas” apadrinhou arranjos privatistas e
transações espúrias que minaram as expectativas do povo brasileiro com a edificação de um
sistema nacional de educação pautado na justiça social.

Muitos brasileiros ainda não se colocaram as opções que precisamos arrostar


em nossa época, entre o atraso e o progresso, entre o mandonismo e a
liberdade, entre a ignorância e a instrução. No comportamento político desses
senadores não devemos enxergar o temor da coação ou o cálculo frio, ditado
pela aritmética eleitoral. Há, vigoroso e ostensivo, o apêgo a uma mentalidade
que desdenha da educação popular, teme a democratização do ensino e se opõe
à expansão da rêde de escolas públicas (FERNANDES, 1966, p. 348).

Sobre a questão dos mecanismos institucionais inerentes à expansão do ensino privado,


registrada no período, Barbara Freitag (1986) nos informa que, em outubro de 1964, a Lei nº
4.440 instituiu o salário-educação, proveniente de recursos das empresas. Em linhas gerais,
podemos dizer que salário-educação foi a forma de contribuição das empresas para a
escolarização de seus empregados, estando de acordo com a lei, onde a empresa que oferecesse
ensino primário gratuito ou se dispusesse a repassar os recursos para o Estado através de 2,5%,
67

poderia mesclar isso às alíquotas estaduais e federais. A lei que regulamentou o salário-
educação determinou, entre outras coisas,

[...] a arrecadação de dois por cento do salário mínimo da região, a ser pago
pelas empresas à Previdência Social em relação a todos os empregados. A
distribuição das importâncias arrecadadas se dá pelo seguinte esquema: 50%
ficam à disposição dos governos das unidades da Federação para desenvolver
o ensino fundamental e os outros 50% são controlados pela União que, através
do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, os aplica em medidas
de fomento do ensino fundamental nas unidades da Federação menos
privilegiadas (FREITAG, 1986, p. 56).

Luís Antônio Cunha (1985) observa que os donos das escolas particulares estavam bem
contentes com o relacionamento junto aos governantes, que haviam instituído o salário
educação, pois a lei também previa que as empresas ficariam isentas do salário-educação se
instituíssem convênio com as escolas particulares por meio do sistema de bolsas de estudo.
Portanto, foi justamente nessa época que as Secretarias e os Conselhos Estaduais de Educação
passaram a ser ostensivamente ocupados pelos donos de colégios particulares e seus prepostos,
que tinham todo o interesse em aprovar convênios que beneficiavam, antes de tudo, as empresas
de ensino de sua propriedade ou as quais prestavam seus “serviços”.
Nesse ponto é importante fazer um parêntese e refletir sobre o dinâmico e diversificado
desenvolvimento econômico e das atividades financeiras, das forças produtivas e da
estruturação e movimentação das classes sociais na cidade de São Paulo, operado ao longo das
décadas de 1960 e 1970, suas consequências na instituição de sua subjetividade, perspectiva
histórica, consciência política e interferências objetivas no comportamento dos chamados
setores médios da população, entre os quais os professores que atuavam nas escolas privadas
da urbe paulistana. Lembrando, ainda, que naquele conturbado momento histórico, haveria de
exigir a aglutinação das forças políticas comprometidas em pôr abaixo o estado ditatorial
vigente no país e contribuir com a sua redemocratização.
Dizemos isso porque nos parece ser significativo termos atenção para as formas e
elementos específicos que as transmutações do capital assumem, no tempo e no espaço, sem
desconsiderar suas condições mais gerais, mas, tendo em conta, as contradições específicas
engendradas ao longo de sua instalação diante das realidades nacionais e regionais, muitas
vezes, diferentes entre si, com elementos particulares e capacidade de impingir elementos
particulares em sua mundialização histórica.
68

Desta sorte, fechamos esse parêntese e, ato contínuo, a presente seção, observando que
estaremos atentos a compreensão da realidade e os desafios que se colocaram para a sociedade
brasileira naqueles dias, considerando a presença e o comportamento assumidos pelos
professores paulistanos na defesa das suas concepções educacionais, dos seus interesses
corporativos, efetivação dos seus esforços organizativos e sindicais e, simultaneamente, como
se relacionaram com a luta pela democratização do país e com os desafios mais gerais colocados
para a sociedade naquele intricado momento da história brasileira.
69

2.2. A ampliação da rede privada de ensino

Entre os muitos objetivos do governo militar, mediante as políticas educacionais, estava


o de colocar as instituições escolares a serviço do próprio regime, de forma que fossem
utilizadas como verdadeiras agências de propaganda das políticas e projetos governamentais.
Para buscar esse propósito, lançaram mão de um intenso aparato normativo e legislador,
alterando significativamente o modelo de educação no país.
Mas é preciso destacar que educação conservadora e a formação de sujeitos reacionários
não foi um projeto exclusivo da ditadura civil-militar brasileira. Muitos foram os debates e as
políticas, anteriores a este período, que já defendiam e conduziam o país para um modelo de
educação escolar, que colaborasse com a manutenção dos interesses de uma minoria.
Como também é inegável que, anteriores ao regime, também havia muitos debates
contrários a essa condução ideológica, e que foram completamente reprimidos com a chegada
dos militares ao governo, que não admitiam nenhum obstáculo ao projeto econômico e político
que impunham ao país.

Um Poder Executivo hipertrofiado e repressor controlava os sindicatos, os


meios de comunicação, a universidade. A censura, os expurgos, as
aposentadorias compulsórias, o arrocho salarial, a dissolução de partidos
políticos, de organizações estudantis e de trabalhadores chegaram para ficar
por longo tempo. Pouco mais tarde, introduzir-se-ia também a prática da
tortura. Com esses recursos os militares, de fato, contiveram a crise
econômica, abafaram a movimentação política e consolidaram os caminhos
para o capital multinacional (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2011,
p. 28).

A legislação, os projetos implantados e também os discursos, direcionaram a educação


para um viés economicista muito rapidamente. Inclusive, os próprios economistas assumiram a
frente do planejamento educacional no governo, o que tornou a ação muito fácil e ligeira,
colocando a política educacional do período a serviço da ideologia do regime, defendendo que
a estrutura de capital humano do país deveria ser assegurada pelo modelo educacional.
Os objetivos mais importantes das políticas educacionais eram a ampliação da oferta do
1º grau e, por consequência, a garantia de acesso ao ensino técnico profissionalizante. A
obrigatoriedade de escolarização passou de quatro para oito anos. Desta forma, ficava clara a
intenção de formar mão de obra barata e com pouco (ou nenhum) entendimento sobre política,
filosofia e humanidades em geral. Este era o destino educacional das camadas populares.
70

Por um lado, uma concepção produtivista da educação, que buscava alcançar o máximo
de resultados com o mínimo de investimento, com princípios apoiados na racionalidade, na
eficiência e na produtividade. Um modelo bastante atrativo aos olhos dos cidadãos comuns, que
não conseguiam perceber a intencionalidade submersa nas políticas implantadas.

A reforma do ensino dos anos 1960 e 1970 vinculou-se aos termos precisos
do novo regime. Desenvolvimento, ou seja, educação para a formação de
“capital humano”, vínculo estrito entre educação e mercado de trabalho,
modernização de hábitos de consumo, integração da política educacional aos
planos gerais de desenvolvimento e segurança nacional, defesa do Estado,
repressão e controle político-ideológico da vida intelectual e artística do país
(SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2011, p. 29).

Por outro lado, o governo também se preocupava em formar mão de obra altamente
qualificada, para ocupar altos postos de trabalho na indústria emergente e também no próprio
setor público, visando o fortalecimento da modernização que tanto prometia e divulgava e que,
na verdade, não passava de importação do aparato tecnológico. Neste viés, a universidade
transformou-se em um terreno muito fértil para a formação de aliados do regime.
Durante o ano 1968, o mundo inteiro viveu uma série de revoltas, manifestações e
explosões, não sendo diferente no Brasil. Ainda que a repressão fosse severa, as próprias
condições de arrocho e de falta de liberdade, colaboraram para a eclosão de grandes
movimentos estudantis e operários. Com relação aos estudantes organizados pela esquerda,
defendiam basicamente ensino público e gratuito para todos, a democratização do ensino
superior e o fim da ditadura, com passeatas gigantescas, tratadas com extrema violência e,
inclusive, mortes. Pelo viés da repressão e da tortura, e com a ajuda das ações terroristas do
Comando de Caça aos Comunistas (CCC), os movimentos foram sendo esvaziados e
derrotados, e apenas dez anos depois voltariam a surgir.

Em 15 de outubro, foi desmantelado o Congresso da União Nacional dos


Estudantes (UNE), em Ibiúna, no interior paulista. Todos os presentes foram
presos, cerca de 700 universitários, selando a derrota do movimento estudantil
brasileiro de 1968. Vários de seus integrantes passariam, então, a concentrar
suas atividades na militância política clandestina contra a ditadura, em
organizações de esquerda, vinculados inclusive à luta armada que se
desencadeou nos anos seguintes (ANTUNES & RIDENTI, 2007, p. 82-83).

O que o governo desejava é que em todos os lugares e níveis, os sistemas de educação


escolar e superior fossem transformados em fortes aparelhos de propaganda do regime. Um
71

bom exemplo disso está no oferecimento obrigatório das disciplinas Estudos dos Problemas
Brasileiros (na universidade) e Educação Moral e Cívica (na escola básica).
As publicações de normas, decretos e leis colaboraram para que o Estado tivesse total
controle político e ideológico sobre todas as instituições de ensino, bem como sobre os sujeitos
nela inseridos. A publicação da Lei 5540/68 realizou grande reforma no ensino superior. A Lei
5692/71 fez grandes alterações no ensino de 1º e 2º graus, e valorizava excessivamente a
formação de mão de obra através de cursos técnicos e profissionalizantes. Nessas duas leis está
a base das reformas e políticas educacionais do período, que seguiam as recomendações
contidas nos acordos MEC-USAID (Ministérios da Educação/ United States Agency for
International Development)15.
Além delas, muitas outras leis e decretos foram publicados no período. Cinco deles16
merecem destaque, pois regulamentavam o controle sobre duas questões específicas: o
movimento estudantil e o comportamento dos professores. Ou seja, um aparato legal foi
organizado para garantir a hegemonia ideológica do regime, fazendo com que muitas pessoas
acreditassem que o país atravessa os melhores dias da sua história.

A falácia da função profissionalizante da escola trouxe, como uma de suas


mais graves consequências, a desarticulação da já precária escola pública de
2º grau. Um crime cujos efeitos só fizeram se agravar com as políticas
educacionais posteriores. Não se pode deixar de reportar ao fato de que o
acentuado descompromisso do Estado em financiar a educação pública abriu
espaço para que a educação escolar, em todos os seus níveis, se transformasse
em negócio altamente lucrativo (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA,
2011, p. 29).

A Reforma Universitária de 1968 levou às instituições um modelo de ensino mais


alinhado ao padrão acadêmico americano, com uma concepção elitista e seletiva. Em momentos
anteriores da história, já era perceptível o desejo por essa estrutura, ou seja, ele não surgiu
apenas com o advento da ditadura. Mas apenas o regime ditatorial conseguiu colocá-lo
efetivamente em prática, a partir da Lei 5540/68, conforme concluiu Fernandes (1975), quando
constatou que a reforma situou a universidade como paciente e não como agente. Uma lei que
foi projetada por membros do Conselho Federal de Educação em conjunto com professores

15
Acordos que davam aos técnicos da agência americana (USAID) amplos poderes de decisão sobre a reforma do
sistema educacional brasileiro.
16
Lei 4.464/64, sobre a participação estudantil; Decreto 57.634/66, que suspendeu as atividades da UNE; Decretos
53/66 e 252/67, que modificaram a representação estudantil e reestruturaram as universidades federais; Decreto-
lei 228/67, que permitiu que reitores e diretores de escola enquadrassem o movimento estudantil nos termos da lei;
Decreto-lei 477/69, proibia manifestações políticas de estudantes e professores.
72

universitários, todos alinhados ao idealismo alemão e ao pensamento de Fitche na formulação


dos novos princípios da educação superior brasileira.
Se a doutrina da reforma universitária de 1968 foi elaborada com base no
idealismo alemão, modelo organizacional proposto para o ensino superior
brasileiro era norte-americano. Não se tratava de fazer tábula rasa do ensino
superior existente no Brasil, mas de promover sua modernização na direção
do modelo norte-americano, pelo menos na direção de certos aspectos desse
modelo, devidamente selecionados pelos dirigentes do aparelho educacional
(CUNHA, 1988, p. 18, grifos no original).

Surgiu, então, um novo padrão oficial de educação superior, apoiado num discurso de
modernização da rede pública combinada a altos investimento na rede privada. Não foi preciso
muito tempo para que a ampliação da oferta de vagas fosse feita apenas na rede particular, que
não parava de crescer, posto que a educação superior foi transformada num negócio altamente
lucrativo, levado pelas mãos de empresários que, na maioria dos casos, lançaram mão de
estratégias perversas para garantir lucros, deixando em segundo plano a vertente da pesquisa,
fazendo com que as instituições se consolidassem como meros espaços de transmissão de
conhecimento, imergidos na intencionalidade da formação profissional, mas absolutamente
esvaziados de objetivos relacionados à formação de intelectuais que pudessem repensar a
sociedade de forma crítica.
Além de introduzirem nas instituições o modelo empresarial de administração em busca
de lucro, também foram muito competentes na inserção do controle ideológico e de
comportamento.

[...] ao analisar o Relatório do Grupo de Trabalho da Reforma Universitária.


Ao compará-lo com o Relatório MEC-USAID para o ensino superior, notamos
de imediato as grandes semelhanças: a concepção empresarialista da
universidade e o paradigma explícito da universidade norte-americana a
mostrar o caminho para a brasileira. Em reforço a esse (pré) conceito, o
Relatório MEC-USAID, só publicado em 1969, dizia que a versão preliminar
havia sido levada como subsídio ao Grupo de Trabalho da Reforma
Universitária (CUNHA, 1988, p. 24-25).

Ao abrir mão de construir um modelo apoiado nas necessidades nacionais e buscar


inspiração no modelo internacional, um vasto espaço de interferência foi cedido, permitindo
que a influência internacional ocorresse. Além desse consentimento, é preciso também ressaltar
que, ao chegarem no país, os técnicos americanos já encontraram um terreno muito fértil para
algumas implementações.
73

Trata-se da associação entre uma série de iniciativas legislativas, de práticas e


discursos gerados antes e durante os governos militares, que encontraram no
contexto pós-1964 condições favoráveis para sua realização. [...] Não se trata
de minimizar o papel desempenhado pelos militares no poder, bem como no
desenvolvimento das políticas educacionais, mas sim de tornar evidente a
heterogeneidade que caracteriza o processo de mudanças no ensino superior
(MINTO, 2006, p. 112, 115).

Em boa parte dos casos, escolas isoladas foram se transformando em instituições de


ensino superior. Isso se deu em razão de dois fatores principais: o primeiro, relacionado à
demanda e ao mercado, tornando essa fatia muito interessante aos empresários do ramo; o
segundo, não menos perverso, em razão da diminuição de alunos na rede privada para a
educação básica, resultado de ampliação da rede pública. Os empresários da educação superior
foram se alinhando à ideologia proposta e, com isso, construindo forte afinidade política com o
governo militar que, por sua vez, foi abrindo espaço para que tais empresários ocupassem cada
vez mais cadeiras nos conselhos de educação, conforme nos alerta Cunha (2004, p. 802).
A população, gradativamente, ampliava o desejo pela formação técnica, seguida do
ensino superior, colaborando não apenas para suas supostas condições de vida e prosperidade,
mas principalmente com o constante crescimento do número de instituições privadas destinadas
a essa importante fatia de um mercado que se tornava cada vez mais lucrativo. Na graduação,
metade dos universitários já pertencia à rede privada em 1975, chegando a mais de 60% em
1980; de 140 mil universitários em 1964, para 1,4 milhão em 1985 (LEHER & SILVA, 2014,
p. 15).
As políticas para o ensino superior ampliaram a rede pública de universidades federais,
mas também passaram a permitir o repasse de dinheiro público para instituições privadas,
proporcionando um crescimento gigantesco na quantidade de instituições. Entre 1968 e 1972 o
Conselho Federal de Educação recebeu quase mil pedidos de autorização para cursos
superiores, tendo aceito setecentos e cinquenta.

Em ambas as iniciativas, o regime ampliava a sua base de sustentação política:


satisfazia o orgulho ornamentado das oligarquias provincianas e atendia às
classes médias, que, beneficiadas pelo “milagre”, pressionavam cada vez mais
por seu acesso à universidade (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA,
2011, p. 32).

As instituições privadas também contavam com uma série de facilidades e incentivos e


isso foi, cada vez mais, retirando o dinheiro da educação pública e o colocando na educação
74

particular. Com esta atitude, entendemos que o governo se absteve do compromisso de uma
educação de qualidade para todos.
Os programas de pós-graduação foram reformados e adequados ao modelo norte-
americano, tornando-se muito atrativos. Para que se tenha uma ideia da ampliação, de acordo
com Leher e Silva (2014, p. 7), saltamos de 36 programas em 1965, para 1.116 em 1985. Uma
situação bastante paradoxal visto que, ao mesmo tempo em que investia altamente em
programas de formação científica, o governo permanecia subsidiando muitas instituições de
pequeno porte, que ofereciam cursos de graduação que mais se pareciam com formação de nível
técnico, pois, além da baixa exigência e de práticas voltadas à mera transmissão de
conhecimentos, não tinham nenhuma preocupação efetiva com o desenvolvimento da pesquisa,
e sim apenas com o ensino.
Ou seja, apenas o mínimo para a maioria, e o máximo para poucos. Um projeto bastante
perverso, visto que “a universidade reproduz o modo de produção capitalista dominante não
apenas pela ideologia que transmite, mas também pelos servos que ela forma”
(TRAGTENBERG, 1982, p. 14).
A ampliação da oferta de vagas, tanto nos bancos escolares, quanto nos universitários,
naturalmente ampliou também e, consideravelmente, a quantidade de professores no país. Já
não se tratava mais de um trabalho a ser exercido apenas pelos filhos da chamada classe média,
mas sim de uma categoria de trabalhadores formada por sujeitos de todas as camadas sociais.
Na mesma medida em que a categoria cresceu, aumentou também o arrocho salarial,
conduzindo o magistério a uma precarização gradativa, que perdura até os dias de hoje.
Importante ressaltar que as perdas não foram apenas salariais ou de condições laborais,
mas também com relação à formação dos novos docentes que se juntavam à categoria, oriundos
de programas de licenciatura sintetizados e aligeirados, para diminuição do tempo e ampliação
do atendimento à demanda. Mesmo assim, não demorou muito para que os professores
formassem a maior categoria de trabalhadores do país que, de modo geral, se posicionavam
contra a ditadura.
Mas, apenas ao final da década de 1970, com o regime já enfraquecido, foi possível ver
ressurgir os anseios por novas propostas para a educação, que se consolidaram na bandeira de
luta dos professores nos primeiros anos da década de 1980. Com o agravamento da crise
econômica, muitos professores, que eram contra a ditadura, conseguiram se reorganizar em
associações docentes, fazendo (re)nascer muitos dos sindicatos dos trabalhadores em educação
existentes na atualidade.
75

O arrocho salarial foi uma das marcas registradas da política econômica do


regime militar. No conjunto dos assalariados oriundos das classes médias, o
professorado do ensino básico foi um dos mais atingidos pelas medidas
econômicas que reduziram drasticamente a massa salarial dos trabalhadores
brasileiros. O processo da sua proletarização teve impulso acelerado no final
da década de 1970 e a perda do poder aquisitivo dos salários assumiu papel
relevante na sua ampla mobilização, que culminou em várias greves estaduais
entre 1978 e 1979 (FERREIRA JR. & BITTAR, 2006, p. 1166).

A partir de 1982, com a eleição direta para governadores, os sistemas estaduais de ensino
conquistaram certa independência, pois a oposição conseguiu vencer as eleições em
importantes estados do Sul e do Sudeste. Mas, a força do governo militar conseguiu criar
empecilhos, impedindo que melhorias fossem construídas. Como a maioria dos novos
governadores eleitos não eram opositores ao regime, não foi difícil manter obstáculos através
de políticas de centralização e repasse de recursos, impedindo que qualquer avanço saísse do
papel.
Neste período, metade das crianças brasileiras repetia ou evadia ainda na 1ª série do 1º
grau; 30% da população eram analfabetos; 23% dos professores eram leigos e 30% das crianças
não frequentavam a escola. Como se não bastasse, mais de 8 milhões de alunos do 1º grau
tinham mais de 14 anos e 60% da população brasileira viviam abaixo da linha da pobreza. Com
o final oficial do regime em 1985, vimos a entrada de José Sarney na presidência, para a qual
foi indicado após a morte de Tancredo Neves. Um governo que se mostrou bastante conservador
e autoritário, mantendo a democracia, que era um desejo tantos brasileiros, confinada à
condição de uma “solução longínqua, perdida no emaranhado retórico das correntes políticas
organizadas” (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2011, p. 37-8).
A compreensão e a análise de algumas das contradições que se manifestaram no Brasil,
de 1975 a 1985, é o que orientou nossos estudos sobre a atuação dos professores, no âmbito da
educação privada paulistana, evidentemente, reconhecendo os limites para que se faça uma
plena compreensão dessa intricada relação.
Dito de outra forma, consideramos que as transformações causadas pelo
estabelecimento do capitalismo, em sua fase monopolista, foram acompanhadas, ao mesmo
tempo, pelas lutas que se travaram em busca da democratização e pelo agravamento da crise
social, política e econômica que varreu o país no período estudado.
Temporalidade essa que podemos caracterizar como sendo própria da transição política
que se anunciava no país, pelo menos, desde as eleições de 1974, mas, que não pode ser
76

considerada de forma linear e progressiva. Mesmo porque o controle da mesma continuava de


posse das mesmas forças, militares, empresariais e civis, que haviam mantido o poder e o
regime instalado com o golpe de Estado de 1964.
A ditadura continuou ainda por muito anos perseguindo, aprisionando e lançando mão
de expedientes pautados na crueldade e na barbárie, com o uso da tortura e do extermínio físico
dos seus adversários. Como dispunha de ardis, que lhe conferiam uma aura de legalidade, que
era própria do aparato jurídico e legislativo que havia instalado, buscavam o objetivo de manter
sobre o mais rígido controle as forças políticas oposicionistas e os movimentos sociais que
procuravam se organizar e atuar no país.
O momento histórico estudado foi marcado pela ambiguidade, amalgamando elementos
de uma etapa de luta aberta e franca pela democratização, com a edição e a efetivação de
medidas repressivas e autoritárias. Isso fez com que tivéssemos um singular período de
transição, atravessado por uma longa instabilidade econômica e social, com a emergência de
novos personagens na cena política, mas sem a existência de um governo que gozasse de
respeito e credibilidade popular para conduzi-lo.
A partir de 1964, o caráter antidemocrático e avesso aos interesses nacionais do
desenvolvimento capitalista, calcado em monopólios, se tornou visível na cotidianidade social
pela impressionante exclusão das classes populares dos benefícios e dos direitos sociais mais
elementares, mormente, o educacional. Por conta disso, as condições de vida de amplas parcelas
da população foram marcadas pela precariedade, enquanto o processo de concentração de renda
e usufruto privatista da riqueza crescia de forma vertiginosa.
A educação pública foi abandonada e as autoridades viraram as costas para as questões
que afligiam a sociedade brasileira, como era o caso do combate ao analfabetismo, oferta de
vagas no ensino básico, recursos para a expansão do ensino superior e da pesquisa no país, que
poderiam contribuir com a melhoria das condições de vida e o desenvolvimento cultural da
população.
A essência do comportamento educacional se mostrou, de forma escancarada, no
incentivo a privatização do ensino, revelando-se plenamente no ensino superior, quando os
jovens provenientes das camadas abastadas, que haviam estudado nas melhores escolas e
cursinhos particulares, ocupavam a quase totalidade das vagas oferecidas pelas universidades
públicas.
Ao mesmo tempo, aqueles que haviam nascido no seio da classe trabalhadora, não
conseguiam alcançar ou, mesmo concluir, o ensino secundário. Quando alguns dos seus
77

conseguiam romper com esse perverso cerco, tinham que estudar nas instituições de ensino
superior privadas.
Do ponto de vista mais geral, a ditadura contribuiu sobremaneira com a expansão do
ensino privado, adotando políticas governamentais que pudessem favorecer os interesses
privatistas da pré-escola à universidade, passando pelo incremento dos cursos técnicos, de
suplência e dos famigerados cursinhos pré-vestibulares, com inegável crescimento de
matrículas e oferta de trabalho docente pelo país afora.

2.2.1. A presença dos interesses privados na educação

A presença dos interesses privados na educação está muito longe de quaisquer


possibilidades de se constituírem de forma coesa e homogênea, grosso modo, se materializando
em grandes agrupamentos de interesses nitidamente financeiros e empresariais, organizações
filantrópicas, religiosas e uma miríade de instituições calcadas nos mais diversificados e
díspares objetivos. O que, de certa forma, não lhe têm conferido coesão interna e consistente e
longeva capacidade organizativa para interferir com peso ainda mais significativo na
organização do aparelho do Estado, de tal modo a obter vantagens jurídicas ou políticas na
assunção de mecanismos coercitivos que tornassem possível a mais completa subalternização
e sujeição dos professores que empregam.
A expansão dos seus objetivos, que giram em torno do congraçamento do direito à
educação privada, atingiu praticamente todos os estados do país, evidentemente, com
velocidade e intensidade extremamente diferenciadas, o que, por sua vez, não permitiu
estabelecer plenas condições para o ordenamento salarial do trabalho dos professores de forma
absoluta e ferrenha.
Esse quadro mais geral, talvez, nos ajude a entender, no caso do SINPRO-SP, o porquê
da rotineira e aguardada publicação, por anos à fio, em seu jornal, de um ranking de salários
das instituições de sua base de atuação, nos oferecendo ainda alguns indícios das motivações
econômicas, que impulsionavam os professores para atuarem nessa esfera do mundo do
trabalho educacional. Para uma parcela desses trabalhadores, o estimulo salarial constituía-se
em um elemento objetivado do comportamento político obsequioso dos professores, que
atuavam em certas instituições do ensino privado e os tornassem avessos ao engajamento e a
participação na cotidianidade da vida sindical.
Dimensionar os valores das horas/aulas disponíveis no mercado privatista do trabalho
educacional, também desmascara a tragédia da proletarização que está em curso, de forma
78

conflituosa e espantosa, atingindo, em seu âmago, as visões meramente ideológicas do papel e


as formas de inserção dos professores na sociedade de classes engendradas no mundo do capital.
Ocorre que, gradativamente, organismos da burguesia educacional se constituíram,
inclusive, com o objetivo de ordenar o seu domínio sobre o conjunto dos professores,
legitimando-o do ponto de vista jurídico, político e ideológico. Esses aspectos estão,
irremediavelmente, interligados, e subtraem a necessidade da coação pelo uso da força e da
intimidação, pelo contrário, produziram condições para que seus interesses financeiros e
econômicos, bem como valores morais ou ideológicos, fossem assimilados como expressão da
vontade geral ou mesmo de uma subordinação, consentida e obediente, no seio da escola.
Esse quadro pode ter contribuído para a não formação de uma vanguarda 17 de
professores, com a devida legitimidade, social e política, com capacidade de organizar e
conduzir as lutas dessa categoria profissional nos marcos da independência de classe que
interessa aos que vivem do próprio trabalho no mundo educacional.
Aqui é necessário abrir um parêntese para observar que estamos entendendo os
professores como parte da classe trabalhadora. Isso, porque, como já observamos em escritos
anteriores, a utilização do balizamento conceitual dos trabalhadores da educação como parte da
classe trabalhadora possa não ser plenamente aceito, pois, o mesmo, “jamais delineou um
determinado conjunto de pessoas, mas foi antes uma expressão para o processo social em curso”
(Braverman, 1977, 31).
Ocorre que, para os nossos objetivos de compreensão generalizante das relações
políticas, econômicas e sociais, a sua utilização procura representar aqueles que vivem do
próprio trabalho nos países capitalistas.
Para Braverman (1977, p. 32), evidentemente, por certo, existem limitações definidoras,
consequências das inúmeras e ininterruptas mudanças registradas no mundo do trabalho,
“quando quase todas as pessoas foram colocadas nesta situação, a ponto de que a definição
englobe camadas ocupacionais das mais diversas espécies”. Desta sorte, seguimos com esse
autor, “não é a definição estéril que importa, mas sua aplicação”.
Logo, a compreensão de como a massa salarial foi composta e distribuída entre os
professores constituintes de variadas situações empregatícias, pelos diversificados setores
privatistas da educação, nos parece ser algo relevante de ser buscado e analisado. Isso porque,
é, muitas vezes, a condição de penúria que mergulha aqueles que vivem do próprio trabalho

17
Entendemos por vanguarda um setor da categoria que, embora esteja à frente das lutas e resistências, não precisa
estar, necessariamente, organizada em um partido político.
79

para as condições de sordidez e marginalidade social, mas também para o caminho da


organização política e sindical.
Do ponto de vista das questões imediatas e da contemporaneidade histórica educacional
à qual estamos aprisionados, é preciso refletir, cada vez mais, sobre os interesses privatistas
transnacionais, empresariais e multifacetados dos mantenedores educacionais que,
gradativamente, vem sendo os dos oligopólios mercantis do ensino; paulatina e organicamente
aglutinados com o objetivo de pressionar o poderio estatal, mormente federal, visto que este,
pelos preceitos constitucionais, não pode descartar a adoção de marcos comum para o
estabelecimento e o desenvolvimento educacional brasileiro, mormente, o seu financiamento.
Mas, via de regra, no tempo social que nos dispomos estudar, essa clarividência
empresarial-político-organizativa ainda estava por se fazer. De fato, inexistindo uma
consciência empresarial comum, com postulados muito claros e definida, no âmbito do debate
público e da sociedade civil, por exemplo, favorável a transformação das instituições de ensino
em empresas de capital aberto, com ações sendo oferecidas nas bolsas de valores e a
internacionalização do mercado educacional brasileiro.
Nesse aspecto, portentosos organismos empresariais, como é caso dos Institutos
Millenium e Itaú, o Todos pela Educação, a Fundação Lemann e o Instituto Ayrton Senna, são
paradigmáticos e merecedores de toda a nossa atenção quando nos dispomos a compreender o
papel dos intelectuais da burguesia na disseminação ideológica da valorização dos interesses
privatistas educacionais na concretude social produzida no Brasil contemporâneo.
Desde os efervescentes e tumultuados dias da década de 1930, em se tratando do Estado
de São Paulo, os mantenedores estavam articulados em torno de entidades que pudessem
representá-los publicamente, na defesa dos seus interesses junto aos governantes e
parlamentares, como podemos conferir nessas informações disponíveis no portal do Sindicato
dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo18.

No dia 16 de outubro de 1932, 13 colégios reuniram-se na sede da antiga


Escola Comercial da Mooca, com a finalidade de “fundar uma federação das
escolas de comércio desta capital e do interior, tendo em vista satisfazer
cabalmente o andamento do ensino comercial, forma que as escolas do
comércio, unidas formando um todo, possam ver realizados os seus interesses
de serem instrutivas, e judiciais, que perante as juntas competentes, terceiros
e entre si, e consequentemente a solução de problemas como: intercâmbio
intelectual, proteção aos diplomados, vigilância à execução das leis que regem
o ensino comercial e as respectivas profissões”, segundo palavras escritas na

18
O endereço do site é http://www.sieeesp.org.br. Acesso em 25 set. 2016.
80

primeira ata oficial. Estava, assim, formada a Federação das Escolas de


Comércio de São Paulo. No ano seguinte, a Federação mudou de nome,
passando a ser conhecida como Associação Profissional do Estado de São
Paulo. Em janeiro de 1945, época em que recebeu sua primeira Carta Sindical,
a instituição passou a chamar-se Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino
Comercial no Estado de São Paulo. Entretanto, foi somente em 1987 que a
Comissão de Enquadramento Sindical do Ministério do Trabalho concedeu
nova Carta Sindical que estendia a representatividade para todas as escolas do
Estado, com exceção para o Ensino Superior, Auto e Moto-escolas. Após essa
mudança é que a entidade recebeu a denominação oficial de Sindicato dos
Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo.

Os professores que trabalhavam nas instituições de ensino privado, por sua vez, estavam
agrupados em diferentes associações, tendo inúmeros fatores objetivos, ideológicos e legais que
dificultavam a sua aglutinação em organizações, propriamente ditas, sindicais. Com a chegada
de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, começou a se desenvolver uma legislação trabalhista,
culminando, em 1931, com a promulgação do Decreto n. 19.770 de 19 de março, que pode ser
considerada a primeira lei sindical a estimular a efetivação do sindicalismo de Estado no Brasil,
passando a influenciar, de forma determinante, na organização sindical docente. De fato, para
muitos analistas, com essa “Lei de Sindicalização” estariam criados os pilares do sindicalismo
no Brasil.

Na apresentação deste decreto, assim se pronunciou Lindonfo Collor, primeiro


ministro do Trabalho do governo Vargas: ‘Os sindicatos ou associações de
classe serão os para‐choques destas tendências antagônicas. Os salários
mínimos, os regimes e as horas de trabalho serão assuntos de sua prerrogativa
imediata, sob vistas cautelosas do Estado’ (ANTUNES, 1986, p. 41).

Como parte desse contexto histórico, de acordo com o seu atual presidente, professor
Luiz Antônio Barbagli, o sindicato foi fundado no dia 18 de dezembro de 1940, com o nome
Sindicato dos Professores do Ensino secundário e primário, sendo que, perto de três décadas
depois, no dia 27 de junho de 1978, a entidade passou a ser nomeada de Sindicato dos
Professores de São Paulo (SINPRO-SP).
81

2.3. Sindicalismo e resistência política e econômica docente durante a ditadura

Antes do golpe que deu início ao governo militar, era muito possível perceber diferentes
correntes sindicais bem definidas no panorama brasileiro. Havia o sindicalismo vermelho que,
mesmo com muitas tendências, mantinha alinhamento principalmente com os comunistas
filiados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e também com os nacionalistas do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). Também existia o sindicalismo dos renovadores (ou amarelo),
defendido pelos trabalhadores alinhados ao Ministério do Trabalho e com simpatia recíproca
por Getúlio Vargas, muitos deles provenientes da Igreja Católica e, além desses, também havia
a corrente dos anticomunistas, que defendiam a colaboração de classes em detrimento ao
combate. Uma fase de muita luta, inclusive entre as diferentes correntes.
Os vermelhos ocupavam a direção da maioria dos sindicatos, numa orientação populista
e hierarquizada, em que os líderes sindicais convocavam os trabalhadores para manifestações e
greves. Também era emergente a boa relação entre o então presidente João Goulart e os
sindicatos, que recebiam apoio às suas manifestações.
A partir do golpe de 1964, deu-se início a intensa perseguição contra as entidades
organizativas dos trabalhadores, determinando uma brusca interrupção no movimento sindical,
que vinha crescendo significativamente.

O medo de uma ‘República Sindicalista’ durante o governo João Goulart fez


com que uma violenta repressão fosse desencadeada: além da prisão de
lideranças operárias, foram extintas sumariamente as organizações sindicais.
Reformulou-se, redinamizou-se e, o que foi pior, fez-se cumprir toda a
legislação sindical defensora da ‘paz social’ e da negação da luta de classes.
Reforçou-se, através de novos instrumentos legais, o papel do sindicato como
mero órgão assistencialista e de agente intermediário entre o Estado e a classe
trabalhadora. Tratava-se, por parte do Estado e das classes dominantes, de
criar as condições mínimas indispensáveis para a retomada da expansão do
imperialismo no Brasil, que, durante os anos anteriores a 1964, encontrou
sérias barreiras, dada a pujança que cada vez mais adquiria o movimento
operário (ANTUNES, 1986, p. 75-76).

Os sindicatos mais ativos foram rapidamente depredados e fechados. Desde o golpe, em


1964, até o final de 1968, quase mil entidades foram fechadas por determinação do governo,
com seus dirigentes presos sob a acusação de subversão. Em muitos casos, os sindicatos foram
reabertos sob o comando de dirigentes nomeados pelo próprio governo, em busca de alinhar a
ação coletiva aos desejos do regime. Aqui está a gênese do pavor que muitos operários
82

começaram a desenvolver com relação às organizações. Amedrontados, já não encontravam


estímulo para qualquer tipo de resistência ou organização coletiva, muitas vezes afastando-se
da luta.
Além dos ataques às entidades sindicais, o governo tratou de enfraquecer os
trabalhadores também economicamente, desencadeando uma política de arrocho salarial, com
desvalorização da mão de obra e fragilização das relações de trabalho e a retirada de direitos.
“Mesmo submetidos a toda sorte de perseguições e represálias, o movimento operário não
deixava de desenvolver suas lutas e perspectivas de resistência diante das atrocidades da
ditadura militar” (BAUER, 1995, p.120); ou seja, se havia trabalhadores se afastando da luta
em razão do medo à repressão, também havia muitos outros se organizando em comissões de
fábricas, de forma horizontal e também clandestina (uma prática bastante comum pelas mãos
dos comunistas de todo o mundo), e outros tantos se esforçando para manter as organizações
sindicais vivas e distantes da acefalia imposta pelo governo.
Não bastasse a política de arrocho apoiada em reajuste anual unificado, também foram
abruptamente retirados alguns direitos importantes dos trabalhadores. Os maiores exemplos
estão no fim da estabilidade de emprego 19 , proibição a greves 20 e limitações à autonomia
sindical.
Durante os idos dos anos de 1960, um sem número de organizações de esquerda
surgiram no cenário nacional, formando o que Carlos Bauer (1995, p. 136) batizou como
“constelação de grupos”. De acordo com o autor, muitos foram os fatores que determinaram
este quadro, dentre eles a expectativa sombria, a ampliação da repressão, a ausência de
prosperidade econômica e a incapacidade de um regime, que representava apenas uma pequena
parcela da população. Muitos destes grupos não enxergavam outra alternativa que não fosse a
luta armada.

A esquerda brasileira converteu-se, em pouco tempo, num mosaico de dezenas


de pequenas organizações políticas. Elas divergiam quanto ao caráter da
revolução brasileira (nacional-democrática ou socialista), sobre as formas que
a luta revolucionária deveria assumir (pacífica ou armada; se armada,
guerrilheira ou insurrecional; centrada no campo ou na cidade), sobre o tipo

19
A estabilidade de emprego era concedida aos trabalhadores quando completavam dez anos de serviço, mas esse
direito foi retirado pelo Decreto 53.914/64, que substituiu a estabilidade pelo FGTS – Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço.
20
A Lei 4330/64, mais conhecida como lei antigreve, não proibia explicitamente as paralisações, mas apresentava
um rol tão imenso de exigências para que elas acontecessem que as tornou praticamente impossível de serem
realizadas. Ainda, se não bastasse, as punições a quem não cumprisse o que estava determinado eram muito
severas.
83

de organização política necessária para conduzir a revolução (partido leninista


ou organização guerrilheira). Entretanto, havia em comum a proposta de fazer
frente à ditadura. O PCB buscava alianças com a oposição legal e moderada,
buscando “derrotar” politicamente o regime militar. Já a maioria dos demais
grupos de esquerda, apesar de suas diferentes propostas, convergiam na
necessidade de “derrubar” a ditadura pelas armas (RIDENTI, 2014, p. 33).

Em contrapartida, o governo demonstrou grande capacidade tática ao formar quadros


para concorrer às novas lideranças sindicais, que apresentavam discursos muito atrativos, de
viés democrático, conquistando a simpatia daqueles que já não suportavam mais a ideia de
qualquer embate, em razão do pavor à repressão. Desse modo, muitos novos dirigentes foram
eleitos, mas boa parte deles estava alinhada a esse modelo muito próximo ao então modelo
americano de sindicalismo, o chamado sindicalismo autêntico, que defende o trabalhador dentro
dos limites da lógica do capital.
Mesmo sob a vertente de um sindicalismo forjado, os trabalhadores ampliaram a
mobilização nos anos de 1967 e 1968, inseridos numa atmosfera internacional que se inspirava,
principalmente com as então recentes revoluções na China e em Cuba. Somados aos estudantes,
que também faziam crescer seus movimentos organizados, e também acrescidos da resistência
das pastorais de bairro.
Por dentro das fábricas, uma nova proposta de sindicalismo se construía, fortalecendo a
união dos operários, cuja organização mais conhecida foi o Movimento Intersindical contra o
Arrocho (MIA) que lutava pela livre negociação e também pela reforma agrária, dentre outras
pautas. Em 1968 o movimento operário ganhou força com as greves dos metalúrgicos em
Contagem e Osasco, que marcaram profundamente a memória sindical brasileira.
A greve de Contagem, em Minas Gerais, durou uma semana e conquistou 10% de abono
estendido nacionalmente à categoria. Em Osasco, a paralisação se estendeu por seis dias.

Os operários, no primeiro dia de greve, ocupam a fábrica e criam piquetes de


autodefesa. Ao mesmo tempo prendem, dentro da fábrica, 16 diretores e
engenheiros. Só seriam soltos quando a fábrica aceitasse a reivindicação de
35% de aumento. O Exército foi logo enviado para Osasco. Ocupou a cidade,
entrou nas fábricas, com um enorme aparato repressivo, invadiu o Sindicato
dos Metalúrgicos e prendeu a direção mais de 500 grevistas. A greve acabou
dias depois. Mas ficaram a demonstração de resistência e a experiência da
Comissão de Fábrica da Cobrasma como exemplos para a futura organização
dos trabalhadores (GIANNOTTI, 2007, p. 199).

Em resposta à intensificação das lutas dos trabalhadores, e ao reconhecimento da


capacidade organizativa da classe, em 1968 o Estado instaurou uma nova ordem através do Ato
84

Institucional nº.5 21 (AI-5). Tudo veio por terra, tamanha força de repressão e violência
destinada a qualquer pessoa que tentasse se empenhar em organizações coletivas de
trabalhadores que não atendessem os modelos estabelecidos pelo governo. Em razão disso,
cresceram os adeptos à guerrilha armada, que não viam outra saída de luta. Mas muitos
trabalhadores permaneceram atentos nas fábricas, exercendo a militância clandestinamente
pelas margens, utilizando outros aparelhos (residências, igrejas, porões) para seguir o trabalho
de organização da classe, visto que os sindicatos estavam absolutamente nas mãos do governo,
representados pelos dirigentes por ele escolhidos. Apenas nos idos da década de 1970 as
organizações sindicais voltaram a retomar potência crescente de resistência e luta.

Nos piores anos da repressão, entre 1968 e 1978, o total de sindicatos oficiais
na área urbana saltou 53,3%, foi de 2.616 a 4.009. Nas regiões rurais houve
crescimento ainda mais expressivo, ligado à iniciativa da ditadura militar, que
atrelava os sindicatos ao sistema previdenciário e a convênios assistenciais:
de 625 sindicatos em 1968, o total chegou a 1.669 em 1975, conforme dados
do IBGE organizados por Armando Boito (1991). Esses números, bem como
a trajetória inicial de Lula, são indicativos das relações complexas também
dos trabalhadores do campo e da cidade com a ditadura, que reprimia os
líderes dos sindicatos mais combativos, mas incentivava os que se integravam
à nova ordem e seu sistema assistencial, buscando assim legitimar-se
(RIDENTI, 2014, p. 40).

Com relação ao movimento coletivo docente, sabemos que os professores foram muito
perseguidos durante a ditadura, desde seu início até a reabertura política. Somente em 1964,
mais de oitenta professores foram cassados pelo regime, estando entre eles Paulo Freire, Anísio
Teixeira e Darcy Ribeiro. A partir de 1968, com o AI-5, mais cento e sessenta e oito professores
foram cassados, incluindo o Massacre dos Manguinhos, caso dos dez cientistas da Fiocruz
aposentados compulsoriamente. Certamente, estamos apresentando aqui apenas os números que
constam nos registros da história, mas é sabido que o resgate dessa memória ainda está em
processo, e corremos o risco de nunca ter conhecimento da verdadeira quantidade de
professores que sofreram com a repressão no período.

No primeiro ano do novo governo, 409 sindicatos, 43 federações e quatro


confederações sindicais sofreram intervenções, tendo suas diretorias

21
O Ato Institucional nº 5, baixado em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do general Costa e Silva, foi
a expressão mais acabada da ditadura militar brasileira (1964-1985). Vigorou até dezembro de 1978 e produziu
um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros. Definiu o momento mais duro do regime, dando poder de
exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime ou como tal considerados.
Informações disponíveis em http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies /FatosImagens/AI5. Acesso em 09 fev. 2018.
85

destituídas e ocupadas por pessoas nomeadas pelo Ministério do Trabalho. Até


o fim de março de 1964, a primeira onda repressiva baseada no Ato
Institucional nº 1 implicou na suspensão dos direitos políticos de 378 pessoas
(inclusive três ex-presidentes da República e 55 membros do Congresso); na
demissão de 10 mil funcionários públicos (inclusive militares), na colocação
de 50 mil pessoas sob investigação da polícia política, e na apreensão de
milhares de exemplares de livros e revistas (só em São Paulo, o Departamento
de Ordem Política e Social – DOPS recolheu 25 mil livros de 25 autores
diferentes) (CUNHA 1988, p. 24).

Por outro lado, também havia muitos professores que declaravam apoiar o golpe, vários
deles organizados em agências como o IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) e o IBAD
(Instituto Brasileiro de Ação Democrática)22, mas não foram raros os casos de docentes que se
recusaram a participar de tais organizações, optando pelo exílio espontâneo, vivendo
clandestinamente por muitos anos fora do país.
A ação docente foi um importante instrumento no processo de combate à ditadura, em
busca da reabertura política. Durante o regime militar, houve significativa ampliação da
quantidade de escolas e universidades, situação impulsionada principalmente pelo intenso
fortalecimento da rede privada de ensino em todos os níveis e modalidades. Isso não rejeita o
fato de ter havido também uma ampliação da oferta na educação pública, mas não se deu na
mesma proporção que a rede particular.
Havendo mais instituições de ensino, certamente que também foram ampliados os
quadros docentes para atendimento da demanda, bem como o apressamento da formação
licenciada, para garantir que todas as vagas estivessem ocupadas pelos professores, fossem eles
mais experientes ou não. Não apenas na educação básica houve crescimento, mas também no
ensino superior, que contava com cento e quarenta mil estudantes em 1964, passando a quase
um milhão e meio deles em 1985.
O aumento na quantidade de professores durante o regime, não garantiu melhores
condições de trabalho, muito pelo contrário. Não foi preciso muito tempo para que a categoria
percebesse forte desvalorização salarial e também social.

Para se ter uma ideia da velocidade da deterioração dos salários, os professores


da rede estadual paulista recebiam, em média, 8,7 vezes o salário-mínimo
horário, em 1967; em 1979, essa relação havia baixado para 5,7 vezes. E
continuou caindo, apesar das greves pela reconstituição do valor dos salários,
a partir da segunda metade da década de 1970, em todo o país. No Rio de
Janeiro, de onde se dispõe de séries mais longas, o salário equivalia (no

22
O complexo IPES/IBAD assumiu a frente das formulações ideológicas e das diretrizes básicas para os governos
militares em variados campos, inclusive na educação, onde buscava “restabelecer a ordem e a tranquilidade entre
os estudantes, trabalhadores e militares” (DREIFUSS, 1981, p. 468).
86

Distrito Federal ou na rede estadual situada no município da capital) a 9,8


vezes o salário mínimo em 1950, despencando para 4 vezes em 1960 e
atingindo 2,8 vezes em 1977 (CUNHA, 1991, p. 75).
.
Mesmo com a intensa repressão, foi inevitável o surgimento das resistências docentes a
partir da segunda metade da década de 1970, posto que as condições eram muito ruins. O
modelo de luta dos professores se alinhava ao modelo das outras categorias de trabalhadores,
com centralidade nas questões salariais reivindicadas a partir de manifestações e greves, e
fazendo com que muitos docentes se alinhassem a partidos políticos, potencializando a
capacidade de organização coletiva destes trabalhadores.
Certamente que esses coletivos organizados não agregavam a totalidade da categoria,
mas, já iniciavam um debate importante que ia além das questões econômicas, passando a
abranger assuntos de caráter mais amplo, aspectos da política e da economia, e também
reflexões de caráter social e cultural, tratando ainda de questões sobre as responsabilidades
educação escolar no modelo de sociedade e sobre a potencialidade que essa educação carrega
em ser formadora ou transformadora.

Apenas a mais ampla das concepções de educação nos pode ajudar a perseguir
o objetivo de uma mudança verdadeiramente radical, proporcionando
instrumentos de pressão que rompam a lógica mistificadora do capital. A
maneira de abordar o assunto é, de fato, tanto a esperança como a garantia de
um possível êxito (MÉSZÁROS, 2008, p. 48).

A legislação não permitia que servidores públicos se organizassem em sindicatos, isso


obrigava que os professores dessa importante parcela da categoria estivessem unidos em
associações que, por sua vez, poderiam até ter uma estrutura bastante aproximada de uma
entidade sindical, mas não eram reconhecidas pelo aparato estatal, o que impedia qualquer tipo
de reivindicação oficial ou negociação.

Premida pelo achatamento salarial e pela rápida queda no seu padrão de vida
e de trabalho, a categoria profissional dos professores públicos de 1º e 2º graus
foi desenvolvendo uma consciência política que a situava no âmago do mundo
do trabalho, tal como já estava posta para a classe operária fabril. Em outros
termos: incorporou a tradição da luta operária – nos marcos da expressão
sindical – e transfigurou-se numa categoria profissional capaz de converter as
suas necessidades materiais de vida e de trabalho em propostas econômicas
concretas (FERREIRA JR & BITTAR, 2006, p. 1169).
87

A ditadura desenvolveu características muito específicas na educação, buscando utilizar


as instituições como instrumentos de propaganda ideológica do regime. Para tanto, foi preciso
criar um aparato de leis e normas que amparassem o objetivo, que era obter o total controle
sobre as escolas e universidades, determinando suas práticas, currículos, programas, ementas,
disciplinas e discursos. Da mesma forma, os movimentos estudantil e sindical também sofreram
fortes repressões e proibições durante o período, numa tentativa do governo de impedir que
qualquer tentativa de resistência fosse levantada.
Muitas dessas tendências e práticas institucionalizadas permanecem vivas até os dias de
hoje, bem como algumas heranças políticas e laborais. A ideologia do regime, a privatização
do ensino, a precarização do trabalho docente, os problemas da escola pública, a interferência
de agências norte-americanas, a simpatia pela militarização das escolas, o tecnicismo e o
enorme desejo pela tecnologia, podem ser alguns exemplos.
Não estamos aqui afirmando que antes da ditadura não havia problemas, mas sim,
reconhecendo que a história caminha desta forma, com grandes interferências de um período
no outro, determinando heranças que podem ser boas ou ruins, e que podem perdurar por mais
ou menos tempo.

Para além da ideologia tecnicista que caracterizou a educação, há de se


considerar ainda que a herança deixada pela ditadura militar repercute até hoje
no sistema educacional brasileiro. Vários elementos que estrangulam, por
exemplo, a qualidade de ensino da escola pública, são remanescentes das
reformas educacionais executadas pelos governos dos generais-presidentes.
Destacamos, a título de ilustração, dois aspectos significativos da condição de
ser professor do ensino básico, na atual realidade brasileira, que deitam liames
profundos na política educacional legada pelo regime militar: o processo
aligeirado de formação científico-pedagógico e a política de arrocho salarial a
que são submetidos. A combinação desses dois elementos constitutivos da
vida cotidiana dos professores brasileiros representa, até hoje, um nó górdio
que estrangula a qualidade de ensino da escola pública brasileira. E esse nó
tem uma origem: a política educacional herdada da ditadura militar
(FERREIRA JR. & BITTAR, 2008, P. 351).

As políticas educacionais determinaram grandes transformações em todos os níveis de


ensino e, por consequência, no modo de trabalho dos professores. Trata-se de um período
importante para a história do país, da educação e do sindicalismo, pois, ao mesmo tempo em
que desencadeavam a proletarização da categoria docente, é preciso reconhecer que também
colaboraram para o fortalecimento dos movimentos sindicais e das resistências contra o próprio
regime.
88

Mesmo em condições tão desfavoráveis, os professores brasileiros conseguiram


fortalecer as organizações coletivas e a resistência da categoria, apesar da severa repressão e
perseguição exercida pelo governo. A retomada da democracia significou uma enorme vitória
política a todos os trabalhadores e estudantes, mas é preciso reconhecer que a manutenção de
políticas educacionais semelhantes às do regime fizeram com que os professores ficassem
mantidos em condições salariais e laborais muito semelhantes.

A organização dos educadores na referida década pode, então, ser


caracterizada por meio de dois vetores distintos: aquele caracterizado pela
preocupação com o significado social e político da educação, do qual decorre
a busca de uma escola pública de qualidade, aberta a toda a população e
voltada precipuamente para as necessidades da maioria, isto é, a classe
trabalhadora; e outro marcado pela preocupação com o aspecto econômico-
corporativo, portanto, de caráter reivindicativo, cuja expressão mais saliente é
dada pelo fenômeno das greves [...] (SAVIANI, 2010, p. 404).

Nesse aspecto, corroborando com a avaliação do professor Saviani, também podemos


dizer que os anos que constituíram a década de 1970 foram intensamente mascados por uma
combinação dialética de, pelo menos, três fatores que se amalgamaram, se fortaleceram e
ditaram os rumos das transformações econômicas e sociais de caráter monopolista que se
produziram na sociedade brasileira naquele agudo período histórico. Essas mudanças
modernizaram de forma acelerada o país, mas, conservando e reproduzindo alguns dos mais
antigos traços de sua formação histórica e social, mormente, subtraindo a ampla maioria da
população dos benefícios da riqueza material socialmente produzida, a ampliação da
dependência em relação ao capital estrangeiro e ao imperialismo, não deixando de se mencionar
a estrutura da propriedade da terra, baseada na grande propriedade e no incentivo do setor
agrário exportador.
89

Figura 1 – A alta dos preços

Folha de São Paulo, 08/04/1979, Anexo 81

Em 1979, os debates sobre a inflação ocupavam destaque não apenas entre as discussões
dos especialistas, mas também na vida dos cidadãos em geral. Os preços em constante alta
colocavam os trabalhadores num constante prejuízo e rebaixamento em suas condições básicas
de vida. Da mesma forma, as campanhas salariais carregavam a responsabilidade de corrigir,
ao menos, a defasagem imposta pelos índices inflacionários.

A inflação constitui um mal. Daí porque os governos de todos os países terem


como meta a estabilidade de preços. O problema maior, entretanto, é que ela
não é um mal para todos. Beneficia a alguns, que passam até a achá-la uma
boa coisa, desde que dentre certos limites, e prejudica outras, em geral a
maioria, com menor poder de influência sobre os mecanismos de controle da
economia [...] Analisam criticamente o quadro onde as autoridades imploram
aos sindicatos que sejam comedidos em suas reivindicações por salários
monetários, apelando para o patriotismo, assinalando que o comércio da nação
90

pode se prejudicar com a elevação dos custos (Eduardo Suplicy, Folha de São
Paulo, 08/04/1979).

Na ocasião, Suplicy referiu-se aos autores Robinson e Eatweel que, ao analisarem países
industrializados, concluíram que a inflação era um mal que não atingia todos. Ao trazer a análise
para a realidade brasileira, ele pontuou que os acordos voluntários não eram ainda viáveis no
país, diante da intransigência e da intervenção unilateral do governo, mas reconheceu que uma
parcela pequena da população se beneficiava do galope inflacionário, da mesma forma que os
autores ingleses perceberam acontecer nos países desenvolvidos.
Como já foi caracterizado por outros autores, o caráter conservador dessa modernização
é o que melhor explica o fato de que nenhum dos graves problemas do país tinha sido
equacionado a contento, mas sim agravados, como foi o caso da violência perpetrada contra os
movimentos de luta pela terra e defesa da reforma agrária.
Exemplo disso está na campanha salarial do SINPRO-SP, de 1979, quando a parcela de
professores que se localizava em oposição à diretoria da entidade, denunciou que as
negociações eram obscuras e repletas de vícios e manobras por parte do sindicato e também da
federação à qual pertencia. Com a inflação em níveis altíssimos, e vendo seus salários sendo
corroídos pelo modelo econômico em curso, os professores desejavam um índice de reajuste
muito diferente do que foi negociado pelos seus representantes oficiais.
Os documentos mostram também a queda do chamado “milagre brasileiro”,
denunciando a fantasiosa manipulação com que procurou “vender” ao país uma política
econômica anticolonial, antipopular e antidemocrática, bem como escamotear seus funestos
resultados, como é o caso da escalada inflacionária e a política de arrocho salarial, amplamente
caracterizadas e denunciadas pelos citados boletins sindicais.
91

Figura 2 – Greve e luta pela democracia

Porandubas, Maio/1979, Anexo 86

Na clássica interpretação gramsciana, o papel desempenhado pela universidade está


articulado a duas ordens de necessidades.

Pode-se observar, em geral, que na civilização moderna todas as atividades


práticas se tornaram tão complexas, e as ciências se mesclaram de tal modo à
vida, que cada atividade prática tende a criar uma escola para os próprios
dirigentes e especialistas e, consequentemente, tende a criar um grupo de
intelectuais especialistas de nível mais elevado, que ensinem nestas escolas.
Assim, ao lado do tipo de escola que poderíamos chamar de 'humanista' (e que
é o tipo tradicional mais antigo), destinado a desenvolver em cada indivíduo
humano a cultura geral ainda indiferenciada, o poder fundamental de pensar e
de saber orientar-se na vida, foi-se criando paulatinamente todo um sistema
de escolas particulares de diferentes níveis, para inteiros ramos profissionais
ou para profissões já especializadas e indicadas mediante uma precisa
especificação (GRAMSCI, 2000, p. 32-33).

Partindo dessa interpretação, a especialização e a sofisticação das atividades produtivas


tenderiam a gerar escolas (de nível técnico) para cada profissão ou ramo profissional, enquanto,
num nível mais elevado, tal desenvolvimento material exigiria a formação de intelectuais
92

capazes de produzir tecnologias e transmitir os conhecimentos necessários ao desempenho das


várias profissões que surgem no bojo desse processo.
Em setembro de 1981 foi realizado o Encontro Regional de Professores Universitários
da Rede Particular – SP, com o título “Situação do ensino particular, condições de trabalho e
desemprego”, organizado pela Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior
(ANDES).

Figura 3 – A situação do professor na rede privada

Trecho do material de divulgação, Anexo 172

Simultaneamente, a universidade tem a responsabilidade essencial, na sociedade


capitalista, de manutenção e de reprodução da dominação ideológica burguesa, por intermédio
da difusão dos valores e da filosofia, dos métodos e das ideias das classes dominantes e dos
93

quadros políticos e culturais dirigentes, cooptando os seus frequentadores para gerir a sociedade
políticas e os negócios de acordo com os interesses das classes dominantes. Não é de outra
maneira que a universidade se constitui numa das instituições através da qual a burguesia exerce
a sua hegemonia cultural, política e ideológica na sociedade capitalista.

Figura 4 – As instituições de Ensino Superior

Apropuc Debate, Anexo 173

Uma visão mecanicista e a-histórica dessa constatação traria como resultado a


perspectiva de que a universidade sob a égide do modo de produção capitalista, sempre esteve,
e sempre estará prostrada diante dos interesses burgueses. Logo, não se deve acalentar qualquer
ilusão em formular propostas progressistas ou ainda revolucionárias, que possam interferir no
rumo dessa situação.

Figura 5 – Concentração de renda

Apropuc Debate, Anexo 173

Esse tipo de abordagem, de cunho reprodutivista, parece nos eximir de uma análise mais
concreta da especificidade da atividade universitária e não permite compreender a universidade
como um espaço de reflexão, de crítica, de indagação e questionamento social, sem o qual o
94

pensamento científico e a cultura, de um modo geral, não poderiam jamais sobreviver. Essa é a
razão pela qual, mesmo nos momentos históricos em que a dominação política e ideológica se
dá através do uso indiscriminado dos métodos mais repressivos, repugnantes e totalitários, é
importante lembrar daqueles que reivindicam o seu papel na liberdade de investigação e
reflexão como fizeram os professores que participaram do encontro.
Pelo que pudemos apurar, havia, como objetivo dos professores que atuavam na base
do SINPRO-SP e procuravam se situar como oposição da direção sindical, o compromisso de
estabelecer uma presença constante e permanente nas escolas, no impulsionamento do
movimento docente no interior das estruturas sindicais oficiais, como uma exigência
fundamental no desenvolvimento de suas políticas, que julgavam representar as aspirações da
maioria dos professores e para articulação entre as aspirações e os interesses mais gerais dos
trabalhadores.
Foi nesses termos que procuraram conceber a organização docente como um firme
alicerce de luta pela democracia e interesse classista.

Figura 6 – É hora de mexer com a classe!

Programa da Chapa 2, 1981, Anexo 174


95

CAPÍTULO 3 – O SINDICATO E A HISTÓRIA

O SINPRO-SP foi fundado em 1943 com o nome de Sindicato dos Professores do


Ensino Secundário e Primário, sendo seu primeiro presidente o Sr. Manoel Gândola Mendes.
Quase três décadas depois, a entidade passou a ser nomeada de Sindicato dos Professores de
São Paulo (SINPRO-SP), após sua fusão com o Sindicato dos Professores do Ensino Comercial
(SPEC). Em 1º de junho de 1978, na Circular nº 001/JG/78, a entidade comunicou aos
associados que a fusão entre os dois sindicatos resultara em junta governativa: Presidente: Sr.
Camilo Silva; Tesoureiro: Sr. Claudino Busko; Secretário: Prof. Odércio Justolin, com sede à
Rua 24 de maio, 104 – 6º andar, conjunto B, na capital.

Figura 7 – Fusão dos sindicatos

Circular Junta Governativa, 1978, Anexo 07


96

3.1. O SINPRO-SP na atualidade

O Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO-SP) é a entidade representativa do


magistério da rede privada no município paulistano, em todos os níveis e modalidades de
ensino. Atualmente é filiado à Federação dos Professores do Estado de São Paulo (FEPESP),
que, por sua vez, é filiada à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de
Ensino (CONTEE).
O sindicato está estabelecido, em sede própria, na Rua Borges Lagoa, 208, no bairro
paulistano de Vila Clementino, com uma estrutura bastante adequada e sólida, oferecendo aos
professores um atendimento organizado e competente. Além dos imóveis que o compõem,
todos na mesma calçada - um em sequência ao outro, percebemos também o alto investimento
em recursos humanos e materiais, demonstrando a intenção da diretoria na construção e
manutenção desse aparato.
No estatuto, em seu Artigo 2º, são apresentadas as prerrogativas do sindicato:
I - representar os interesses e os direitos individuais e coletivos da categoria
profissional diferenciada dos professores, com o objetivo de dar efetividade
aos fundamentos, princípios e garantias constitucionais, concernentes aos
direitos fundamentais individuais e sociais, no âmbito administrativo e
judicial;
II - celebrar contratos, convenções e acordos coletivos de trabalho;
III - eleger ou designar os representantes da respectiva categoria;
IV – estabelecer contribuição a todos que participem da categoria
representada;
V – fundar e manter agência de emprego;
VII - criar fundos de investimento e de previdência.
(SINPRO, 2014, p. 1)

Na cidade de São Paulo, o SINPRO-SP é atualmente o mais importante porta-voz dos


interesses corporativos dos professores que atuam no impressionante mosaico de instituições
de ensino privadas que tem sede nessa municipalidade: professores de educação infantil, da
educação básica, do Sistema S23 e do ensino superior, somando um total de vinte e dois mil
associados, desencadeando a necessidade de diferentes negociações, interpretações e
convenções, visto que há uma grande diversidade no patronato, e tudo representado pelo mesmo
sindicato.

23
Sistema “S” é a representação do conjunto das seguintes redes: SESI, SESC, SENAI, SENAC, SENAT, SEST
e SEBRAE.
97

O SINPRO-SP mantem em seu portal24 que:

[..] há mais de 60 anos, o Sinpro-SP representa os interesses dos professores


que trabalham nas escolas particulares de todos os níveis e graus da cidade de
São Paulo. Nesse longo período, tem sido o Sindicato, graças ao apoio que
recebe de sua categoria, o principal responsável pela ampliação sistemática
dos direitos e garantias que cercam nossa atividade profissional.

Mantendo muito das características assistencialistas de um passado não tão distante, um


de seus objetivos primordiais permanece sendo o oferecimento de assistência jurídica,
observando, claramente, que “todo professor sindicalizado conta com o Departamento Jurídico
do Sindicato, que possui advogados altamente especializados para mover ações trabalhistas
individuais ou coletivas”. Importante ressaltar que tal atendimento é de extrema relevância para
a categoria, não apenas para orientações sobre direitos, mas também para o acompanhamento
durante os casos de rescisão contratual. Além disso, é importante informar que a entidade se
compromete também a oferecer:

[...] para o descanso e lazer dos associados nos períodos de férias, de recesso,
feriados e finais de semana a sua Colônia de Férias. Localizada na Vila
Caiçara, na Praia Grande, a Colônia de Férias possui 20 apartamentos para
atender os professores sindicalizados. Além disso, conta com quadra
poliesportiva, duas piscinas (sendo uma delas infantil), alimentação e uma
ótima infraestrutura.

Desta sorte, ao que nos parece, a fundação do SINPRO-SP traduzia as preocupações e


o esforço objetivo de parte dos professores com a consolidação e a manutenção dos seus direitos
trabalhistas, benefícios corporativos e ganhos salariais que os tornavam parte de uma pretensa
classe média urbana e do alardeado e milagroso desenvolvimento do consumismo nacional.
Ainda assim, são inegáveis os avanços construídos pela entidade no âmbito da
ampliação de suas lutas, no empenho em colaborar com a formação política de sua base e,
também, na garantia dos direitos da categoria que representa. O próprio estatuto, em sua última
versão, apresenta algumas mudanças que, embora pareçam sutis, significam a ampliação da
entidade que vem, cada vez mais, se colocando no campo crítico das políticas educacionais.
Um exemplo simples, mas explícito, está nas prerrogativas do sindicato. Quando, em
janeiro de 2014, estávamos realizando os estudos iniciais para essa investigação, a primeira
prerrogativa que constava no estatuto vigente, com registro em 2010, era “representar os

24
http://www.sinprosp.org.br/index.asp. Acesso em 25 set. 2016.
98

interesses gerais da categoria profissional diferenciada dos Professores ou os interesses


individuais dos associados, relativos à atividade profissional”. O atual estatuto, registrado no
decorrer de 2014, transformou o texto dessa prerrogativa, que agora fala em “representar os
interesses e os direitos individuais e coletivos da categoria”. A entrada dos direitos demonstra
uma mudança importante e fundamental para a conduta da entidade que, desde então, não vem
se furtando de posicionamentos e lutas não mais apenas pela categoria que representa, mas pela
educação de uma maneira geral.
Em seu portal, canal oficial de comunicação entre a entidade e a base, foram publicadas
inúmeras notícias sobre conjuntura política, golpes contra os trabalhadores, reformas, golpe
parlamentar de 2016, projeto de escola sem partido, e tantos outros assuntos, com o sindicato
construindo um claro posicionamento de esquerda desde então, juntamente à postura de
assistência à categoria.
Figura 8 - Ato dos Professores Av. Paulista

Facebook – SINPRO-SP- 23/05/2018

No primeiro semestre de 2018, o SINPRO-SP esteve à frente de uma difícil batalha entre
os professores da educação básica e os empresários do ramo, lembrando-se que estava em vigor
as discussões em torno da reforma trabalhista 25 , o que colocava em risco uma série de

25
Reforma Trabalhista foi o nome dado ao desmonte de direitos do trabalhador que foi implantado pela Lei 13.467
de 2017, causando mudanças significativas na CLT, com o argumento de combater o desemprego no país.
Atualmente, com mais de um ano de reforma, os números do desemprego não param de crescer, comprovando que
a chamada reforma só serviu para prejudicar os trabalhadores e beneficiar os patrões.
99

conquistas, dificultando a renovação dos sessenta e cinco itens que integravam a convenção
coletiva. Essa discordância entre SINPRO-SP e o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no
Estado de São Paulo (SIEEESP), foi o motor para um movimento grandioso e vitorioso, que
surpreendeu boa parte da sociedade de forma positiva.
Contando com a participação de professores, alunos e pais de alunos, o movimento
ganhou força e foi vitorioso, colocando o SINPRO-SP ao lado das entidades que não se omitem
perante a retirada dos direitos da classe trabalhadora.

Figura 9 - Boletim Eletrônico

Fonte: Facebook – SINPRO-SP- 07/06/2018


100

3.2. A ditadura, a categoria e a classe

Durante a ditadura civil-militar, a eclosão de movimentos grevistas e protestos de toda


ordem se tornariam cada vez mais frequentes no âmbito do exercício do magistério nas
instituições públicas de ensino. Na verdade, por aqueles dias, estava

[...] superada a época em que os educadores originavam-se das classes médias


altas ou das elites brasileiras e, portanto, não mais fazia sentido denominá-lo de
“professor. Melhor naquela conjuntura, era considerá-lo nominalmente como
“trabalhador’ da educação, o que, pressupunha a sua aliança política com os
funcionários da escola pública (FERREIRA JR. & BITTAR, 2006, p. 87).

Porém, no desenvolvimento desta pesquisa, não tivemos o registro de movimentos,


ações, ou posturas políticas que pleiteassem a unificação das lutas das entidades dirigentes dos
professores das instituições públicas e privadas paulistanas. Embora, em alguns momentos da
história recente da educação brasileira, tenha sido possível vislumbrar, uma busca de atuação
unitária, como foi o caso do movimento pela formulação e aprovação da LDB, mas, pelo menos,
naquela oportunidade, isso acabou não ocorrendo.
Poucos anos mais tarde, no cerne do período que pesquisamos, sua força representativa
havia alcançado significativos patamares de adesão, em uma base social de alguns milhares de
professores trabalhando a soldo do ensino privado paulistano.
Esse formidável crescimento pode ser explicado pela crescente ampliação dos
investimentos dos setores privados que atuam no mercado educacional, mas também pelo
abandono da escola pública por parte das autoridades estatais, o que gerou o seu sucateamento
e desprestígio social. Além de que o desenfreado crescimento trouxe também disputa entre os
mantenedores e o seu resultado mais visível foi a intensa mercantilização e a
internacionalização da educação brasileira.
Essa problemática atinge diretamente as condições de trabalho dos professores atuantes
no âmbito do ensino privado, na medida em que esse movimento tende a transformar a educação
em mercadoria, disputada pelo mercado internacional, nas bolsas de valores, aponta para os
caminhos da deterioração das relações e direitos trabalhistas dos professores, substancialmente
daqueles que vendem sua força de trabalho nas instituições que passaram a conceber a educação
como fator de investimentos baixos, mas de lucros fáceis e vantajosos!
A convivência entre os professores das instituições públicas e privadas paulistanas, até
o presente momento histórico, em uma mesma entidade que os representassem, não foi possível
de se constituir política e socialmente. Mesmo nos anos das agudíssimas mobilizações sindicais
101

e políticas, dos fins da década de 1970 e dos inícios dos anos 1980, que trouxeram para a cena
política nacional a presença da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a unidade entre os
trabalhadores mostrava-se imperiosa para impor a derrocada da ditadura, isso não aconteceu!
O projeto de criação de uma entidade sindical, que fosse capaz de representar os
interesses particulares, conjunturais e históricos dos professores paulistanos, nos idos da década
de 1950, pareceu-nos ser parte inalienável do grau de consciência em si dos professores:
mergulhada no próprio meio em que havia surgido de forma ingênua e preocupada em
responder aos problemas imediatos e compreender a realidade que a circundava, mas, ainda
muito afastada de um projeto que fosse capaz de integrá-la nas lutas históricas e políticas
emancipatórias do conjunto da classe trabalhadora pela transformação da realidade concreta.
A gênese sindical estava em sintonia com os desdobramentos da legislação varguista e
a sua ambição de penetrar profundamente nas organizações reivindicativas que são próprias do
mundo do trabalho.
Analisando a terminologia utilizada pelo SINPRO-SP, na redação de sua auto
apresentação, disponível no portal da entidade, é possível revelar alguns traços reacionários ou
mesmo de corte autoritário que estão presentes nas condutas rotineiras da patronal da educação,
senão, vejamos:
Ao longo da história da educação brasileira, o trabalho do professor foi
acompanhado de uma simbologia de abnegação que mais serviu para ocultar
as péssimas condições em que ele era desenvolvido do que para sua
valorização. Por conta de uma imagem que os transformava em "sacerdotes"
desprovidos de reivindicações, os educadores deram muito de si para as
escolas privadas, que acabaram por se constituir num setor econômico onde,
na maioria das vezes, os interesses financeiros estão acima de quaisquer outras
considerações. Têm sido numerosos os momentos em que os donos de escola
tentam ludibriar o Direito; e, a cada ano, os professores têm que redobrar os
esforços para manter inalteradas as conquistas obtidas até aqui. Ou porque
apostam na desarticulação social promovida pelo Estado neoliberal, ou porque
imaginam que a esperteza pode se transformar na pauta de conduta com que
os empresários lidam com seus trabalhadores, as escolas particulares inventam
de tudo para escapar do compromisso de respeito que os professores exigem.
Em qualquer hipótese, a maior e mais eficaz arma de que dispomos é o
Sindicato. Daí porque é necessário fortalecê-lo sempre e retribuir com
consciência e participação aquilo que nossa entidade tem oferecido
historicamente à categoria que representa (SINPRO-SP26).

A dificuldade da patronal educacional parece crônica no encaminhamento do


atendimento das demandas profissionais e o uso sistemático de ações coercitivas, punitivas e

26
http://www.sinprosp.org.br/index.asp. Acesso em 25 set. 2016
102

de cunho intimidatório contra os esforços organizativos e reivindicativos dos trabalhadores da


educação tem se constituído em um dos traços mais peculiares e estruturais de sua conduta
empresarial. Mas, desde quando o sindicato tem se posicionado dessa forma?
Essas características também decorrem, provavelmente, do caráter fragmentário e
extremamente diversificado da origem, consolidação e expansão das instituições educacionais
privadas instaladas na cidade de São Paulo, como de resto em todo o país. Não sendo raro que
muitos empresários educacionais nem mesmo considerassem os professores como
trabalhadores, providos de direitos sociais e trabalhistas assegurados por lei, mas que
desempenhavam o seu ofício como uma espécie de favor, que lhes foram concedidos pelo
diretor, leia-se, o dono da escola.
Isso esclarece o fato de termos, na cotidianidade do mundo do trabalho educacional,
uma espécie singular de mais valia relativa que é o trabalho dado que se produz em abundância
nas dependências escolares privadas espalhadas, literalmente, por todo o Brasil.
Essa modalidade de entrega compulsória da força de trabalho incorpora elementos
morais, na medida em que o exercício do poder é praticamente direto, sem quaisquer mediações
ou intermediações no trato das questões de ordem trabalhistas, como é caso das incontáveis
horas de trabalho, que são literalmente dadas ao patronato educacional, nos momentos que se
realizam atividades culturais e pedagógicas extraclasses, festejos de datas cívicas, excursões
etc., resultando em avançados patamares de exploração dos professores inseridos nessa
invisível e largamente empregada dinâmica de exploração laboral.
Ao tecer alguns comentários sobre as questões de ordem ideológica que estiveram
intensamente presentes ou apenas permearam a vida política dos professores que atuaram no
ensino privado da cidade de São Paulo, nos idos das décadas de 1960 e 1970; o fizemos
procurando lembrar que – tal qual já havia ocorrido com os trabalhadores dos mais
diversificados ramos de atividades econômicas e dos setores de serviços – esses também haviam
procurado se mobilizar, organizar e fortalecer sua entidade sindical.
Essa premissa pode ser comprovada quando localizamos e analisamos alguns
documentos sindicais impressos ou entrevistamos alguns dos seus ativistas daquele tumultuado
período, que se fez com incontáveis repercussões e desdobramentos em todas as esferas
educacionais brasileiras.
Entre esses acontecimentos, rapidamente, podem ser lembrados: os longos debates que
culminaram na aprovação daquela que é considerada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei 4.024/1961); os movimentos de base que questionavam a escola como
103

mero fator de preparação e reprodução da força de trabalho; o malfadado Decreto 4.464/1964,


que haveria de extinguir a União Nacional dos Estudantes (UNE); os Decretos 228/1967 e
477/1969 que, respectivamente, coibiam a existência de associações estudantis ao âmbito da
própria instituição e puniam, severamente, os membros da comunidade universitária acusados
de subversivos e desenvolverem atividades contrárias ao regime ditatorial; e, com a
consolidação dos golpistas de 1964 no poder, não poderia deixar de ser mencionada a Reforma
Universitária de 1968 (Lei 5540/1968), que trouxe um momento bastante amargo, de
perseguições, prisões e mortes de estudantes e professores, banimentos e aposentadorias
forçadas de técnicos e docentes e também a cooptação de muitos dos seus quadros que
marcaram de forma indelével essa página da história da educação brasileira.
Por esses dias, o aparato repressivo estatal foi largamente ampliado com inestimável
colaboração empresarial, nacional e estrangeira e utilizado para garantir o controle social e
combater o inimigo interno, considerado, então, o principal adversário do regime ditatorial.
Ocorre que, como já havia sido preconizado pelo ministro da propaganda nazista, Joseph
Goebbels (1897-1945), em sua máxima, de que uma mentira repetida mil vezes torna-se uma
verdade, e que somente a utilização da força física, a truculência militar e a desenfreada
repressão política e social não são suficientes para conter aqueles que se organizam e lutam
contra arbítrio, tornar-se-ia também necessário lançar mão do controle ideológico da sociedade
para que as tiranias possam se manter.
Na esfera do ensino superior, a ação reformista de 1968 foi extremamente crivada de
elementos ideológicos associados à chamada teoria do capital humano, que trouxeram para a
cena educacional um modelo centrado em mecanismos de seletividade, acadêmica e social, e a
expansão do acesso aos cursos universitários canalizados para o setor privado.
Com isso tivemos o necessário estímulo à organização de verdadeiras empresas
educacionais, inclusive, com recursos financeiros e a colaboração pública, previamente,
assegurados pela Constituição de 1967.
Na ferina análise realizada por Florestan Fernandes (1975, p. 51-5) o ensino privado
caracterizava-se por uma espécie de mosaico de instituições organizadas a partir de
estabelecimentos isolados, voltados para a mera transmissão de conhecimentos de cunho
marcadamente profissionalizantes e distanciados da atividade de pesquisa. Dessa sorte, pouco
poderia contribuir com a formação de um horizonte intelectual crítico para a análise da
sociedade brasileira e das transformações de nossa época.
104

Cercada de grande propaganda ideológica, as premissas e o modelo de ensino superior


que se colocou em vigor não guardavam quaisquer similitudes como aqueles que se haviam
constituído no passado recente ou, mais precisamente, entre 1945 e 1961, se organizando como
empreendimentos voltados para o lucro e o atendimento imediato, dinâmico, acelerado e
crescente mercado educacional no Brasil.
A consolidação desse modelo privatista e mercadológico do ensino superior, mas com
consideráveis reflexos na educação básica, trouxe um impacto muito grande para os professores
que haviam se formado e construído suas concepções, entre os meados das décadas de 1940 e
1960, centradas nos ideários do ensino, da pesquisa, da extensão, na defesa da autonomia
docente e universitária, como também no compromisso político com a causa pública e a
soberania nacional.
Agora, com os seus estudantes transformando-se em clientes e ávidos consumidores do
mercado educacional, isso seria difícil de fazer realizar. Mas, ironicamente, abriria as portas
para o mundo do trabalho educacional para um significativo, expressivo e até antão
inimaginável número de professores universitários.
Tudo isso acompanhado do sonho dos chamados setores ou camadas médias da
população de realizar sua ascensão social pelos caminhos de meritocracia universitária. Esse
quadro trouxe a instauração de um irrefreável pragmatismo no ensino superior, entre outros
fatores, por exemplo, com o objetivo de se ampliar o número de vagas, as instituições privadas
foram autorizadas a substituir o vestibular pelos exames classificatórios e recursos públicos,
humanos e financeiros foram constitucionalmente alocados para a sua planejada expansão.
Nesse processo de vertiginoso e acelerado crescimento, o ensino superior privatista e
mercadológico organizou-se social e politicamente, trazendo, de forma consistente, para o
debate público e a defesa dos seus interesses empresariais, junto aos governantes e setores da
sociedade civil, instituições como a Associação Brasileira de Mantenedores do Ensino Superior
(ABMES), o Sindicato de Estabelecimentos de Ensino Comercial no Estado de São Paulo,
atualmente, Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (SIEEESP) e o
Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de
São Paulo, presentemente, denominado de Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior
(SEMESP).
E os professores, como se organizaram nesse período? É o que veremos no próximo
subitem.
105

3.3. Os professores da rede privada enquanto categoria profissional

O SINPRO-SP assumiu nos idos de 1940, a condição de representante legal na defesa


dos interesses corporativos e profissionais dos docentes que atuam no ensino privado da cidade
de São Paulo. Do ponto de vista da sua organização, o seu objetivo primordial foi o de procurar
estabelecer as condições necessárias para a categoria poder fazer frente às estruturas patronais
que atuavam pela sujeição do trabalho dos professores no interior das escolas e pelo controle
repressivo e ideológico em seus domínios.
Em que pese o fato de muitos anos terem se passado, desde os primórdios da organização
sindical, pelo menos, até os fins da década de 1960, o comportamento do patronato educacional
havia mudado muito pouco em relação ao trato com os professores.
A busca de dominação ideológica também parece ter sofrido pouquíssimas
modificações, de tal sorte que os interesses dos empresários educacionais continuaram sendo
formulados imbuídos de irretocável altruísmo e apresentados como sendo os do conjunto da
comunidade escolar. Na maioria das instituições, o empresário educacional jamais poderia ser
encarado como um patrão, mas, deveria sim, ser visto como um amigo de todas as horas, o
diretor e, até mesmo, um emérito professor da escola.
Essa compreensão ideologizada e largamente difundida do patronato educacional
representou uma gama adicional de dificuldades para aqueles que buscavam organizar
sindicalmente os professores desde o seu local de trabalho. Enquanto os empresários
avançavam e consolidavam sua organização e representação classista, os professores ainda não
haviam despertado para a importância de sua força organizativa, não se mobilizavam e nem
adquiriam experiência sindical condizente com a sua presença social.
A atuação do SINPRO-SP, desde a segunda metade do século XX, ficou marcada por
direções estáveis e que, gradativamente, foram se incrustando no aparelho sindical. Isso, em
nossas hipóteses, como uma espécie de ardil com a finalidade de promover a defesa dos
professores que assumiam essas responsabilidades de comando contra as perseguições do
patronato educacional, mas, não descartamos que houve também uma forte pressão
burocratizante sobre a vida desses dirigentes sindicais e que precisariam ser mais bem
explicitadas.
Entre os meados das décadas de 1960 e 1970, os estabelecimentos educacionais
multiplicavam-se de forma acelerada, correspondendo a um número impressionante de milhares
de professores lecionando a soldo do ensino privado paulistano.
106

Tabela 2 – Alunos matriculados em SP

Ensino básico - alunos matriculados em São Paulo (Estado)


Rede/ Ano 1964 1968 1972 1976 1980 1984
Públicas 2.177.515 2.639.470 3.784.206 4.012.165 4.351.469 4.904.572
Particulares 434.034 466.911 470.060 576.308 722.713 716.646
TOTAL 2.611.549 3.106.381 4.254.266 4.588.473 5.074.182 5.621.218

Elaborado pela autora a partir de dados do Anuário Estatístico do Brasil – IBGE, 1964 a 1985.

No ensino superior, os números 27 também nos dizem muito. Saltamos de 30.162


docentes em 1964, para 113.844 em 1984 (sendo 49.599 em estabelecimentos da rede privada).
Em 1964, eram 142.386 alunos matriculados em cursos de graduação no país, saltando para
1.399.539 em 1984 (sendo 827.660 em instituições particulares).
Esses dados nos chamam a atenção e nos permitem observar o acelerado processo de
crescimento do ensino privado na cidade de São Paulo e, por conseguinte, dimensionar a
fabulosa expansão da quantidade de horas/aulas disponíveis no mercado de trabalho
educacional. Dados como esses nos ajudam a compreender o porquê da periodização que
adotamos no processo constituinte dessa pesquisa, na medida em que, mesmo com a escassez
de estudos acadêmicos e dados empíricos substanciais, nos parece ficar claro que no primeiro
quarto da década de 1970 começa a ficar cada vez mais visível que estava em curso no país um
assombroso e irresistível avanço do ensino privado no país.
Provavelmente, houve a exposição pública de algumas contradições e disputas
econômicas e financeiras entre os mantenedores, mas que não haveriam de se constituir em
conflitos incontornáveis no seio dos organismos erigidos pela fração de classe da burguesia
educacional para aglutinar e defender os seus interesses.
As vertiginosas transformações experimentadas pelo ensino privado na capital paulista,
a partir de 1964, trouxe uma considerável ampliação da oferta de trabalho para os professores
dispostos a venderem a sua força de trabalho nas escolas particulares. Embora seja possível
mensurar esse enorme crescimento de sua atividade profissional, os professores não
conseguiram granjear forças políticas e sindicais capazes de operar mudanças substanciais nas
suas condições de trabalho e valorização dos salários recebidos pela ampla maioria da categoria.

27
Sinopses Estatísticas do Ensino Superior – MEC (disponíveis em www.inep.gov.br). Acesso em 08 fev. 2017.
107

Tabela 3 – Professores em SP

Ensino básico - quantidade de professores em São Paulo (Estado)


Rede/Ano 1964 1968 1972 1976 1980 1984
Redes Públicas 79.120 107.322 186.271 219.081 209.533 214.602
Rede privada 20.666 27.060 29.041 38.735 41.273 49.195
TOTAL 99.786 134.382 215.312 257.816 250.806 263.797

Elaborado pela autora a partir de dados do Anuário Estatístico do Brasil – IBGE, 1964 a 1985.

Exceto o caso de uma minoria de professores atuantes no ensino privado que dispunha
de polpudos vencimentos, a maioria estava imersa em uma massa salarial constituída de baixa
remuneração e a possibilidade de elevá-los ou mesmo equilibrá-los mostrava-se muito longe de
ser alcançada, mas esse intento deveria ser perseguido pela direção sindical.
Em matéria assinada por Antônio Góis e publicada, em 10 de março de 2007, pela Folha
de S. Paulo, temos uma pequena amostra dessa impressionante diversidade de salários nas
escolas particulares de São Paulo que, então, variavam até 624%:

Os salários de professores da rede privada de São Paulo variam mais de 600%


por escola, de acordo com um ranking feito pelo Sinpro-SP (Sindicato dos
Professores de São Paulo) na educação básica e superior privada paulistana.
O levantamento mostra também que há casos de professores de 5ª a 8ª série
ganhando mais do que seus colegas em universidades.
Segundo o Sinpro, na educação infantil e de 1ª a 4ª série do ensino
fundamental, os maiores salários são pagos pelo colégio Porto Seguro
(Morumbi, zona sul), com R$ 4.151 por turno de 22 a 25 horas semanais.
Esse é um valor 624% superior aos R$ 573 recebidos pelos professores de
educação infantil da Escola Floresta Encantada (Santana, zona norte) ou 548%
maior do que os R$ 640 pagos aos mestres de cinco escolas (Rumo Certo,
Meta Educacional, Nossa Senhora das Graças, Sena Miranda e Gonçalves
Gallo).
A partir da 5ª série, os salários são calculados por hora-aula. Tanto de 5ª a 8ª
quanto no ensino médio, os maiores são pagos pelo Colégio Santa Clara (Vila
Madalena, zona oeste), com R$ 42,41. Os piores de 5ª a 8ª estão nas escolas
10 de Maio (Jardim São Bernardo, zona sul) e Grajaú (Grajaú, zona sul): R$
7,57 por hora/aula. No ensino médio, o menor, segundo o Sinpro, é o dos
professores do Cidade Canção (Parque das Árvores, zona sul): R$ 8,43.
O salário pago no colégio Santa Clara, de acordo com o sindicato, chega a ser
mais do que o dobro do pago em instituições de ensino superior, como a Unisa
(R$ 18,89 por hora/aula), a Faculdade Ítalo Brasileira (R$ 18,77), a Unib (R$
15,68) e a Unip (R$ 13,38).
108

Clientela
Na avaliação do presidente do Sinpro, Luiz Antônio Barbagli, a variação de
mais de 600% nos salários tem relação direta com o público atendido.
"Há muita variação entre as escolas particulares de São Paulo. Aquelas que
atendem a um público de mais alta renda têm mais condições de cobrar uma
mensalidade maior e, por conseqüência, pagar salários melhores para atrair
bons profissionais. Há escolas situadas em bairros mais pobres, no entanto,
que cobram mensalidades menores e pagam salários muito mais baixos", diz
ele.
O mesmo argumento é usado por Barbagli para explicar por que algumas
escolas de nível fundamental pagam salários maiores do que universidades.
"As escolas de elite atendem a uma clientela de alto poder aquisitivo, que
tendem a entrar em universidades públicas. Muitas instituições privadas, no
entanto, trabalham com um público diferente. De olho nos alunos de menor
renda, cobram mensalidades muito mais baixas. Para justificar isso, pagam
pouco ao professor e, às vezes, colocam mais de 100 alunos em sala de aula."

Nessa linha de atuação, na busca do equilíbrio salarial, entre os seus representados, o


SINPRO-SP postulou medidas de negociação que protegessem os professores e reclamando do
patronato educacional a outorga de direitos sociais.
Parece-nos importante ressaltar que, diante do avassalador crescimento do mercado
educacional paulistano, proporcionado pelos estímulos políticos e materiais provenientes do
governo ditatorial e da, não menos impressionante, discrepância salarial reinante entre os
empregadores, a perspectiva de se garantir os direitos sociais para os professores mostrou-se
como uma das condutas de atuação mais contumazes do sindicato.
Pode-se, então, inferir que houve uma clara opção da direção sindical pelo
fortalecimento dos mecanismos de negociação, mormente, em separado, com os diferentes e
incrivelmente diversificados representantes do patronato educacional paulistano. Essa
proposição nos obriga a procurar desvelar as formas de relacionamento que se operaram entre
os representantes das partes interessadas em dirimir os conflitos trabalhistas na esfera da
educação privada paulistana em plena vigência da ditadura civil-militar.
Os baixos salários pagos, em média, aos professores, contrastaram com os crescentes
lucros e a expansão do ensino privados registrados no período. Quais condições teriam
explicado, então, a não formação de uma vanguarda sindical, com peso, representatividade e
envergadura política, capaz de conduzir a categoria de forma unitária e massificada, contra um
patronato, cada vez mais próspero, coeso e fortalecido, política e socialmente?
A direção do SINPRO-SP, embora claudicante e demonstrando tendências
burocratizantes e apego ao aparato sindical, longe de conseguir aglutinar amplamente os seus
representados e sem poder impor ao patronato os seus reclamos, conseguiu se firmar e obtiver
109

algumas vantagens no processo de acelerada expansão do ensino privado que se objetivava em


nosso país.
Pelo menos, desde os meados da década de 1960, o ensino privado objetivou-se e
irradiou-se com forte e impressionante aceitação da sociedade em geral, por meio de claros
mecanismos de proteção dos interesses privados pela ação estatal, inclusive, na formação e
qualificação da força de trabalho representada pelos professores, na difusão ideológica de sua
primazia em detrimento da escola pública e também na criação de todo um aparato legislativo,
jurídico e de relações políticas, financeiras e econômicas, irremediavelmente, presos aos seus
interesses expansionistas.
A ditadura civil-militar, instaurada em 1964, haveria de criar condições efetivas para o
constructo e para o ordenamento expansionista da exploração da educação pelo capital, quando
necessário, lançando mão de mecanismos coercitivos contra aqueles que ousavam questionar
os seus desígnios políticos educacionais.
Na trajetória do SINPRO-SP estava posto o desafio e a necessidade de compreender e
incrementar a melhor maneira de se relacionar com um patronato educacional, com fortes
vínculos governamentais, havidos de lucros e planos expansionistas, hegemonizados de valores
liberais burgueses, mas, substancialmente, impulsionados por um Estado militarizado,
policialesco e fadado a colocar fim à democracia liberal e restringir a participação política
apenas daqueles que concordassem com seus desígnios.
Em que pese, em suas hostes, houvesse o derramamento de algumas lágrimas de
crocodilo, com o sacrifício da democracia liberal burguesa no país, o setor privado da educação
estava muito satisfeito com a forma pela qual o Estado assumia as responsabilidades de sua
expansão, como também afirmava a tendência de dominação assentada em mecanismos de
coerção e repressão policial contra todo e qualquer adversário disposto a questionar o seu
poderio político e social.
Em um quadro como esse, a dificuldade organizativa dessa parcela dos professores
brasileiros foi notória. Desde o seu local de trabalho até fóruns mais amplos de discussão, sua
organização política e sindical não possibilitou um enfretamento claro e direto contra as
arbitrariedades patronais e a violência institucionalizada do Estado que se abateu sobre muitos
dos seus porta-vozes.
Os anos da segunda metade da década de 1970 se inscreveriam nas páginas da história
dos conflitos das classes sociais de forma nevrálgica, trazendo as vozes, o comportamento e a
organização política dos trabalhadores para o centro da cena política e do combate da ditadura
110

instalada no Brasil em 1964. Foi um tempo tumultuado em que a convergência de classe se


mostrava no horizonte político como uma possibilidade de superação das múltiplas
divergências ideológicas enraizadas na práxis social e na densa capilaridade no seio das
organizações sindicais.
Esse também foi tempo em que as atenções com a expansão do ensino privado foram
largamente incentivadas, potencializadas e colocadas na ordem do dia, mas, com a chamada
crise do “milagre econômico brasileiro”, que se aprofundava desde 1974, ameaçava todo esse
sucesso. Isso porque,
[...] por não poderem pagar as anuidades, ou por terem de trabalhar para ajudar
suas famílias a enfrentar a crise, muitos estudantes abandonavam os cursos
das faculdades privadas, assim como, pelas mesmas razões, diminuía o
número de vestibulandos. Os empresários do setor armaram, então, um plano
bem urdido para salvar seus empreendimentos (CUNHA, 1985, p.48).
111

3.4. Os professores da rede privada e sua presença no cenário político da transição


democrática brasileira

Quando procuramos caracterizar e conceituar um período histórico e, no caso específico


da presente tese, aquele se convencionou chamar de transição democrática brasileira, não o
entendemos apenas de forma teórica ou, mesmo, abstrata. Longe disso, procuramos vislumbra-
lo pela presença de homens e mulheres que o povoam, o constituem, interferem e atuam na sua
construção e presença no tempo e no espaço da vida social.
É no tumulto da vida que se edifica o entendimento, mesmo que parcial e insuficiente,
que temos sobre o período que estamos trabalhando, numa compreensão que, não deixando de
valorizar os aspectos teóricos, metodológicos, históricos, políticos e sociais que lhe são
inerentes, considera também esse processo de transição materializando-se e se amalgamado na
vida e na intervenção das pessoas.
É importante lembrar que autores como o Lênin (1922), por exemplo, pensam o
sindicato como uma escola ou, até mesmo, em alguns casos, uma espécie de pré-escola da
formação e da intervenção política daqueles que estão localizados no mundo do trabalho.
A premissa leninista defendia que os sindicatos eram uma “escola de guerra”, mas,
evidentemente, não eram ainda a própria guerra, afirmando que a consciência apenas sindical
era uma consciência que deveria avançar para além dos reclamos e das reivindicações de caráter
meramente corporativos, por mais legitimidade que os mesmos poderiam ter, não seriam
capazes de questionar e trazer a superação das visões e de ordenamento burguês do mundo.
No estudo que realizamos encontramos um significativo e importante registro dos
professores que participaram da dinâmica sindical, dos processos de organização oposicionista,
das chapas que haveriam de constituir a direção do SINPRO-SP, e que chegaram a desempenhar
um papel altivo e longevo em sua trajetória, sendo um dos casos mais notórios, aquele
representado pela presença do professor Celso Napolitano em seu comando.
Não deixa de ser muito interessante reconhecer que muitos desses educadores que
protagonizaram esse exercício de intervenção política serão cruciais na realização de inúmeras
atividades culturais, econômicas, partidárias, educacionais, literárias, entre tantas outras, que
substanciaram e tornaram possível a vigência histórica desse período de transição democrática.
No mais das vezes, essas se empenharam e desenvolveram seu labor no ensino superior,
dedicando-se à pesquisa, à publicação de livros, à militância partidária, à criação de partidos
políticos, a cargos no legislativo e executivo, ou seja, que estiveram em posições importantes,
colaborando direta ou indiretamente com o percurso social no período ulterior.
112

À guisa da lembrança da presença de alguns dos professores, apresentamos uma seleta


desses nomes.
Alcides Ribeiro Soares, candidato da oposição ao SINPRO-SP em 1978, era professor
da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP), onde permaneceu até 2006, quando se
aposentou. Atualmente, é professor visitante da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho
(UNESP) de Franca, com a disciplina Economia Política e Realidade Brasileira para os alunos
de Mestrado e Doutorado em Serviço Social. Também é membro do Grupo de Trabalho nº 13
da Comissão Nacional da Verdade, sobre Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao
Movimento Sindical.
Ana Mercês Maria Bock, candidata da oposição ao SINPRO-SP em 1978, professora da
PUC-SP até os dias de hoje, em Psicologia Social. Tem diversos livros publicados, alguns deles
empenhados em tratar dos Direitos Humanos no ensino de Psicologia.
Antônio Carlos Mazzeo, é professor Livre-Docente junto ao Departamento de História
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo
(USP), Programa de História Econômica e junto ao Departamento de Fundamentos do Serviço
Social da Faculdade de Serviço Social da PUC-SP. Militante do Partido Comunista Brasileiro
(PCB) há cinquenta anos, chegou a ser candidato ao senado pelo mesmo partido, em 2010.
Antônio Celso Ferreira, candidato da oposição ao SINPRO-SP em 1978, é professor
titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Exerceu o cargo de
Coordenador do Centro de Documentação e Memória (CEDEM) da UNESP. Participou da
diretoria regional de São Paulo da Associação Nacional dos Professores Universitários de
História (ANPUH) e também da diretoria nacional dessa entidade.
Augusto Petta, oposicionista do Sinpro-Campinas durante a ditadura, e aliado da
oposição do SINPRO-SP, atualmente é Coordenador do Centro de Estudos Sindicais e do
Trabalho da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e membro da
Comissão Sindical Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Foi presidente da
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (CONTEE).
Benauro Roberto de Oliveira, falecido em 2011, dedicou toda a vida ao ensino de
história. Militante da juventude do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), chegou a ser
preso em 1979. Mestre em Filosofia da Educação (PUC-SP, 1983) com diversos trabalhos de
coordenação e assessoria, ministrando diversos cursos, palestras e seminários e trabalhando na
produção de recursos audiovisuais para fins educacionais, de treinamento e desenvolvimento.
113

Gumercindo Milhomem Neto, militante do Movimento de Oposição Aberto dos


Professores (MOAP) na década de 1970, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT)
em 1980, no ano seguinte elegeu-se presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial
do Estado de São Paulo (APEOESP), cargo que ocupou por três vezes consecutivas até 1986,
quando foi eleito a uma vaga de deputado federal constituinte. Candidato à reeleição em outubro
de 1990, obteve uma suplência encerrando o mandato em janeiro de 1991. Assessor da prefeita
de São Paulo, Luísa Erundina, foi candidato a vice-prefeito de Eduardo Suplicy nas eleições
municipais de outubro de 1992.
Heródoto Barbeiro, antes de ser jornalista, foi professor de história durante vinte e cinco
anos. Concorreu, sem vitória, a uma cadeira de deputado estadual pela Aliança Renovadora
Nacional (ARENA) em 1974. Em 1980, junto com Leonel Brizola e Terezinha Zerbini
participou da fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Em 1986, filiou-se
ao Partido dos Trabalhadores (PT), em sessão do Diretório Municipal com a presença do
professor Florestan Fernandes, José Américo, Eduardo Suplicy e outros. No mesmo ano, foi
convidado pelo partido para ser candidato a deputado federal. Ficou na terceira suplência da
bancada do PT na Câmara. Foi filiado e contribuinte do partido por dezenove anos. Desfilou-
se em janeiro de 2003, primeiro mês da presidência de Lula, por achar que poderia criar um
conflito de interesse com a profissão de jornalista, uma vez que agora o partido estava no poder.
João Guilherme Vargas Netto, foi expulso da universidade após o golpe de 1964 e
tornou-se militante e dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e militante muito ativo
junto aos sindicatos, o que conseguiu fazer sem ser preso até 1975, quando houve forte
repressão que o forçou a fugir, exilando-se na França. Anistiado em 1979, voltou para São Paulo
e seguiu a atividade de Consultor Sindical voltada a sindicatos de trabalhadores de diversas
áreas, trabalho que realiza até os dias de hoje.
Nelson Frateschi foi militante do Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP)
durante a ditadura civil-militar, envolveu-se no movimento pela construção do PT, com a vitória
eleitoral do partido na cidade de São Paulo, assumiu as responsabilidades de Administrador
Regional da Lapa.
Nelson Rodrigues da Silva foi um dos fundadores da Convergência Socialista (CS), uma
importante corrente política que haveria de contribuir com a fundação do Partido dos
Trabalhadores (PT), com a construção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), entidades entre as quais
114

ocupou posição dirigente. Posteriormente, participou da fundação do Partido Socialista dos


Trabalhadores Unificado (PSTU), sendo membro da direção nacional.
115

CAPÍTULO 4 – AS AÇÕES DO SINPRO-SP DURANTE A ÚLTIMA DÉCADA DA


DITADURA

Neste capítulo, damos destaque às ações do SINPRO-SP no período compreendido entre


1975 e 1985, sendo a sua construção realizada a partir da análise dos documentos colhidos e
das fontes orais que foram coletadas durante a execução da pesquisa. Para tanto, optamos por
organizar a exposição da análise a partir de algumas preocupações temáticas: projeto sindical,
oposição sindical, jornal sindical, eleições sindicais, campanhas salariais, greves e relações
intersindicais.
Entendemos que, em diversos momentos, esses assuntos se entrelaçam e estabelecem
interlocução entre si, mas acreditamos que a compreensão dos fatos não seria a mesma se
tivéssemos optado por uma análise dos documentos apenas de forma cronológica, sem
classificar os assuntos ou categorizar as ações.

4.1. Projeto sindical

Nesta seção, buscamos encontrar elementos que demonstravam o projeto sindical do


SINPRO-SP junto aos seus associados, ou seja, qual o plano da entidade para com a base,
incluindo seus objetivos e suas estratégias.
Iniciamos a análise a partir de ações relacionadas à transparência da diretoria com
relação ao tamanho da entidade. Pelos documentos que localizamos, em 1981 o SINPRO-SP
anunciara a marca de cinco mil associados, chegando a vinte por cento da base sindicalizada.
Essa informação nos pareceu contraditória, pois, em 1979, o presidente já havia anunciado
cinco mil e trezentos. O número total de sindicalizados parecia ser um segredo, sendo
pouquíssimas vezes revelado pela diretoria, ainda que com algumas contradições.
Em entrevista, o professor Celso Napolitano nos informou que, ao vencer as eleições
sindicais e assumir a diretoria em 1988, a oposição encontrou uma entidade com
aproximadamente dois mil e setecentos sócios, apenas.
Até mesmo nos balancetes publicados no jornal do sindicato nos anos de 1970 e 1980,
a prestação de contas era feita apenas pela quantidade de serviços prestados, e nunca pela
quantidade de associados, ou pela quantidade de dinheiro que havia recebido, conforme mostra
o exemplo abaixo.
116

Figura 10 - Prestação de Contas

Jornal Novos Rumos, Março/Abril, 1984, Anexo 189

Portanto, nos propusemos a analisar a relação da diretoria sindical com a sua base,
mesmo sem saber, ao certo, a quantidade de membros associados que a entidade contava. Em
nosso ponto de vista, valorizar a divulgação dos números do sindicato pode demonstrar,
inicialmente, uma boa vontade por parte da diretoria em manter relações transparentes e
verdadeiras com a base que organiza. Mas percebemos que a entidade não tinha a intenção de
trabalhar com transparência, já dificultando a relação com os professores a partir desse critério,
numa relação aparentemente permeada com formalidade excessiva, quase hierárquica, que
buscava colocar o sindicato como algo acima do bem e do mal.
Em circular aos professores emitida pela entidade, em novembro de 1977, a diretoria
esclarece, de maneira bastante formal, sobre a importância do registro profissional dos
professores junto à Delegacia Regional do Trabalho (DRT). Na relação dos documentos
exigidos, atestado de antecedentes fornecido pelo Departamento Estadual de identificação
Criminal (DEIC) e atestado de idoneidade moral.
117

Figura 11 – Circular Novembro/1977

Arquivo do SINPRO-SP, Anexo 03

É possível constatar a ausência de contato entre a diretoria sindical e a base da categoria,


mostrando a entidade muito mais próxima do aparelho estatal e, em razão disso, distante dos
professores, conforme já havia nos anunciado o professor Celso Napolitano durante a entrevista
que nos foi concedida (Anexo 197). Na emissão da circular, apenas as informações necessárias
para que o documento fosse providenciado. Nenhuma crítica ou ponderação, nenhum
esclarecimento ou posicionamento por parte da diretoria.
Em fevereiro de 1978, numa circular denominada Protocolo Salarial 28 , com catorze
itens, o sindicato apresentou aos professores o acordo firmado entre SINPRO-SP e SIEEESP
(Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo). No início do texto,
encabeçando os tópicos, é usado o termo “convencionam as partes que”, demonstrando a gênese
do que hoje conhecemos como Convenção Coletiva.

28
O documento está disponível na íntegra em Anexo 03.
118

No primeiro item, a garantia do aumento salarial de 40% com a validade de um ano,


custeando a reposição da inflação29, com detalhes esclarecidos até o item quarto, com paridade
e proporcionalidade garantidas.
No quinto tópico, a garantia de cálculo salarial feito com base em cinco semanas, onde
já estaria incluído o descanso semanal remunerado. Em seguida, a possibilidade de os
estabelecimentos manterem o cálculo em 4,5 semanas, desde que incluam o descanso sem
prejuízo previdenciário.
No sétimo item, a garantia de gratuidade integral para filhos de professores, mas apenas
para os sindicalizados. No oitavo tópico, a obrigatoriedade de remuneração das janelas, que
pode ser dispensado mediante declaração do professor afirmando estar de acordo e ter
entendimento do horário. No tópico nono, a obrigatoriedade de abonar as faltas em razão de
doença, desde que mediante a apresentação de atestado médico do sindicato, da própria escola
ou da rede pública. No décimo, a observação de menor duração das aulas noturnas sem prejuízo
ao professor.
No item de número onze, a obrigatoriedade de se pagar os salários até o quinto dia útil
do mês subsequente. No décimo segundo tópico, a estabilidade provisória da professora
gestante por sessenta dias após o término da licença maternidade. Posteriormente, o abono de
ponto para as assembleias da entidade, desde que realizadas aos sábados à tarde, mediante
apresentação de comprovante. Por último, no tópico catorze, o desconto de 5% do salário dos
professores que todas as escolas deverão realizar, e depositar em conta do SINPRO-SP para
“criação, manutenção ou ampliação dos seus serviços assistenciais, bem como do fundo
patrimonial do sindicato, na conformidade do deliberado pela Assembleia Geral
Extraordinária”.
Portanto, em apenas duas páginas datilografadas, estava posto o acordo entre
representantes dos trabalhadores e patrões para o período de um ano. Certamente que são itens
importantes que estão colocados, porém, acreditamos ser necessário um destaque para o fato de
apenas os filhos dos professores sindicalizados terem direito às bolsas escolares, justamente
num período em que a entidade não aparentava ter o menor interesse em aumentar o quadro de
associados. Não bastasse isso, também é preciso ressaltar o texto do último tópico, destacado
no parágrafo acima, que demonstra a valorização do sindicato pelas ações assistencialistas, uma
característica muito marcante na época no sindicalismo em geral.

29 O índice de inflação em 1977 foi de 38,78%; em 1978 foi 40,81%. Fonte: IGP-DI/FGV.
119

Em junho de 1978, em circular destinada aos associados, informam a criação de uma


junta governativa que estará responsável pela entidade, que acabara de se juntar a uma segunda,
até que as eleições sejam realizadas em setembro do mesmo ano. Nessa circular, informam que
os serviços assistenciais oferecidos pelas duas entidades envolvidas na fusão serão todas
mantidas, não havendo prejuízo aos associados, reforçando a ideia de que o sindicato estava ali
para garantir assistência e benefícios.
Em agosto de 1978, alguns meses após a fusão entre o Sindicato dos Professores de
Ensino de 1º e 2º Graus de São Paulo (SINPRO) e o Sindicato do Ensino Comercial de São
Paulo (SPEC), foi aprovado em assembleia o Estatuto do Sindicato dos Professores de São
Paulo (SINPRO-SP),

[...] constituído para fins de estudo, coordenação, proteção e representação


legal da categoria profissional diferenciada de Professores compreendida no
1º Grupo do Plano da Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Estabelecimentos de Educação e Cultura, na base territorial da Capital de São
Paulo e demais Municípios do mesmo Estado, de conformidade com o
apostilamento na respectiva Carta Sindical, conforme estabelece a legislação
em vigor sobre matéria e com o intuito de colaboração com os poderes
públicos e nas demais associações no sentido da solidariedade social e da sua
subordinação aos interesses nacionais (Estatuto do Sindicato dos
Professores de São Paulo, Art. 1º, 1978, grifos nossos).

Não diferente de outras entidades, e considerando que este modelo era condição sine
qua non para a existência de um sindicato durante o regime militar, o SINPRO-SP garantiu em
seu estatuto os aspectos da estrutura de um “Sindicato de Estado” denunciados por Boito Jr.
(1991), ou seja, um sindicato marcado pela tutela do Estado, que garantia a unicidade e
valorizava demasiadamente o imposto sindical, características construídas na década de 1930,
mantidas durante as democracias populistas, e posteriormente muito bem potencializadas - e
utilizadas com destreza - pelos governantes durante a ditadura civil-militar. O autor classifica
o sindicato de estado como um aparelho de tipo particular do governo, dotado de características
e funções permanentes, que “articula uma estrutura, uma ideologia e uma prática sindical
específicas” (p. 12).

Art. 2º - São prerrogativas do Sindicato:


a) Representar perante as autoridades administrativas e judiciárias os
interesses gerais da categoria profissional diferenciada de Professores ou os
interesses individuais de seus associados, relativos à atividade profissional;
b) Celebrar contratos coletivos de trabalho e acordos intersindicais;
c) Eleger ou designar os representantes da respectiva categoria;
120

d) Colaborar com o Estado, como órgão técnico e consultivo, no estudo


e solução dos problemas que se relacionem com a sua categoria profissional
diferenciada de Professores;
e) Impor contribuição a todos aqueles que participarem da categoria
representada, nos termos da legislação vigente;
f) Fundar e manter agências de colocação (Estatuto do Sindicato dos
Professores de São Paulo, 1978, grifos nossos).

Nas prerrogativas do SINPRO-SP, estão presentes as características analisadas por


Boito Jr (1991), sem que isso nos trouxesse nenhum tipo de surpresa, pois, mesmo que estivesse
em nossas hipóteses a possibilidade do sindicato ter tido uma postura mais combativa, nos
período estudado, sabemos que isso não constaria em seus documentos e registros oficiais, sob
pena de que houvesse a intervenção estatal na direção sindical que foram muito comuns durante
o regime militar.

O aparelho do sindicato oficial é um ramo, e um ramo subalterno, do aparelho


burocrático do Estado. Não é correto afirmar que o sindicato, no Brasil, é
subordinado ao Estado, já que o aparelho sindical é parte do Estado (...) A
necessidade de reconhecimento do sindicato pelo Estado é elemento essencial.
Contudo, por si só, ele não assegura a estrita dependência e subordinação do
sindicato oficial à cúpula da burocracia de Estado. Dois outros elementos,
derivados, mas que desempenham um papel decisivo nessa subordinação, são
a unicidade sindical e as contribuições sindicais obrigatórias por força de lei
(BOITO JR., 1991, p. 26-27).

Sobre as condições de funcionamento, fica explícita a mão pesada da moralidade do


estado de exceção, uma constante naquele momento histórico, quando um conjunto de regras e
exigências estatais deviam ser obrigatoriamente inseridas nos estatutos de todas as entidades do
país, torando os estatutos mecanizados e bastante semelhantes entre si, posto que não eram
elaborados pelos trabalhadores da base sindical, mas sim determinados pelo Ministério do
Trabalho.

Art. 4º - São condições para o funcionamento do Sindicato:


g) Observância das leis e dos princípios de moral e compreensão dos
valores cívicos;
h) Abstenção de qualquer propaganda, não somente de doutrinas
incompatíveis com as instituições e os interesses nacionais, mas também de
candidatura a cargos eletivos estranhos aos Sindicato;
i) Inexistências do exercício de cargos eletivos cumulativamente com os
empregos remunerados pelo Sindicato, ou por entidade de grau superior;
121

j) Na sede do Sindicato encontrar-se-á, segundo modelo aprovado pelo


Ministério do Trabalho, um livro de registros de associados, autenticado pela
autoridade competente em matéria de trabalho e do qual deverão constar, além
do nome, idade, estado civil, nacionalidade, profissão ou função e o
estabelecimento ou lugar onde exerce a sua profissão ou função, o número e a
série da respectiva carteira profissional e o número da inscrição na instituição
de previdência a que pertence e o número do respectivo Registro Profissional,
quando exigido;
k) Gratuidade do exercício dos cargos eletivos, ressalvada a hipótese de
afastamento do trabalho, para esse exercício, na forma do que dispõe a lei;
l) Abstenção de quaisquer atividades não compreendidas nas finalidades
mencionadas em lei, inclusive as de caráter político-partidário;
m) Não permitir a cessão gratuita ou remunerada da sede à entidade de
índole político-partidária;
n) Não poderá filiar-se a organizações internacionais nem com ela manter
relações sem prévia licença concedida por Decreto do Presidente da
República, na forma da lei (Estatuto do Sindicato dos Professores de São
Paulo, 1978; grifos nossos).

Das trinta e uma páginas do Estatuto, dezesseis estavam reservadas para o Capítulo III
– Da eleição sindical, votação e processo eleitoral, com detalhamento de todas as exigências e
atividades para a eleição da diretoria, pois a “tutela das eleições sindicais pelo Estado é um
outro efeito mecânico da estrutura” (BOITO JR., 1991, p.44). O atual Estatuto do SINPRO-SP,
registrado em 2014, tem dezessete página, sendo apenas seis delas destinadas ao assunto.
Já no final de 1978, após vitória na eleição sindical, a diretoria emitiu uma circular aos
professores, agradecendo a confiança dos votos para a permanência da chapa na entidade,
quando também valorizou a importância dos serviços oferecidos pelo sindicato aos docentes:
departamento odontológico, departamento jurídico, máquina de xerox, reforma da sede social
e da colônia de férias. Nessa circular, também nos chamou a atenção o fato de não haver uma
única linha sequer destinada à conjuntura política nacional, nada a respeito das condições de
trabalho dos professores e também um silencia absoluto sobre a expansão do ensino privado
que corria em larga escala. Tratava-se de um período muito específico da história brasileira,
pois João Figueiredo acabara de ser escolhido, por eleição indireta, para ser o Presidente da
República e, desde seu antecessor, Ernesto Geisel, as ações para a redemocratização do país já
estavam declaradas e sendo lentamente executadas pelo regime. Mesmo assim, silêncio
absoluto no SINPRO-SP, que se limitou a oferecer uma entidade assistencialista e burocrática.
122

Figura 12 - Informe Dezembro/1978

Arquivo do SINPRO-SP, Anexo 68

O professor Gumercindo Milhomem conta que a ditadura era de classe, fazendo com
que os trabalhadores fossem reprimidos e, por consequência, as organizações também. O
SINPRO-SP tinha sobrevivido, “mas estava em low profile. Os jovens que chegavam, achavam
que o sindicato não prestava, pois não combatia a ditadura. Muitos não queriam se sindicalizar
por causa disso. Outros, porque tinham medo” (MILHOMEM, 2017).
Isso colabora com a compreensão de que o projeto sindical do SINPRO-SP comportava,
naquele momento, uma concepção alinhada às políticas de moderação e mediação que
conjuminavam, simultaneamente, com as premissas preconizadas pelo Partido Comunista
Brasileiro (PCB) e também com o desejo daquelas vozes conciliatórias que ocupavam o
aparelho estatal.
Em janeiro de 1979 o presidente José Leopoldino de Azevedo divulgou Edital de
Convocação para Assembleia Geral para o dia onze do mesmo mês. A pauta apoiava-se em
apenas duas questões: aumento salarial e garantia da taxa assistencial.
123

Figura 13 - Convocação de Assembleia

Jornal A Gazeta, Anexo 72

Cinquenta e dois professores compareceram à atividade, lembrando-se que, para o


período, trata-se de um número razoável e significativo de participantes. Tal episódio gerou
muitas controvérsias entre a direção da entidade e a oposição sindical, chegando à imprensa as
denúncias de que a assembleia era apenas uma fraude para que fosse dado um golpe na
negociação salarial. Como resultado das divergências e da dificuldade explícita de articulação
com a base, a categoria conquistou um reajuste bem abaixo do esperado, definido no mês de
março do mesmo ano.
Dois meses depois, em maio, um abaixo-assinado foi entregue ao presidente, com a
assinatura de duzentos e quinze associados, solicitando uma assembleia geral no prazo de cinco
124

dias para deliberar sobre: a) reabertura e revisão das negociações salariais; b) ações para garantir
a fiscalização do sindicato em busca de instituições que não cumprem protocolos salariais; c)
organização e ativação, pelo sindicato, de campanha permanente de sindicalização para
fortalecimento da entidade. O documento contava com quarenta e sete páginas, separadas por
instituição de ensino, com um total de duzentas e quinze assinaturas.
Alguns dias depois, o presidente emitiu ofício indeferindo a solicitação, alegando que
não estavam atendidas as exigências previstas no estatuto, mas sem esclarecer quais.

Figura 14 - Abaixo Assinado

Arquivo do SINPRO-SP, Anexo 91.


125

Figura 15 - Resposta ao Abaixo Assinado

Arquivo do SINPRO-SP, Anexo 93.

Amparados em Boito Jr. (1991), foi possível a identificação da ideologia da legalidade


sindical. O autor nos ensina que o populismo tem a sua ideologia no fetiche do estado protetor
e que, com relação à ação sindical, esse fetiche é enraizado no extremo apego às normas legais,
fortalecendo o estatismo populista no terreno sindical a partir da adesão ao sindicalismo de
Estado.

Esses sindicalistas, quando as circunstâncias exigem, justificam a sua atuação


centrada, toda ela, no interior dos sindicatos oficiais, tanto como diretores dos
sindicatos quanto como oposição às diretorias do momento, como uma
necessidade tática. São, garantem, pela autonomia sindical, mas, para chegar
lá, precisam atuar no interior dos sindicatos atrelados, pois seria aí que se
encontrariam as massas. É comum a referências à brochura de Lenin, na qual
o dirigente bolchevique defende a necessidade dos revolucionários atuarem
nos sindicatos reacionários. Não há dúvida de que a atuação no interior dos
sindicatos oficiais pode representar, de fato, um recurso tático na luta contra a
126

estrutura sindical. Mas para evidenciar que a atuação desses sindicalistas no


interior do sindicato de Estado é mais do que um recurso tático, representando,
na verdade, o apego ao Sindicalismo de Estado, basta mostrar, de um lado,
que as correntes sindicais não pelegas defendem os componentes essenciais
da estrutura sindical e, de outro lado, que sempre atuaram e atuam no seu
interior, independentemente de saber onde se encontram as massas (BOITO
JR. 1991, p. 96-97).

Não demorou muito para que uma parcela dos professores, sindicalizados ou não,
compreendem-se os múltiplos problemas que se manifestavam no seio da categoria e se
empenhassem na construção de um bloco de oposição.
127

4.2. O surgimento e a consolidação da oposição sindical

A análise descrita neste item não se deu apenas sobre documentos oficiais do SINPRO-
SP, mas também nos boletins, jornais e circulares do movimento oposicionista que se constituiu
a partir de 1977, que teve papel fundamental em sua consolidação ulterior e não está apartado
da sua própria historicidade.
No início da segunda metade da década de 1970 localizamos uma nova movimentação
no sindicalismo docente paulista, fazendo surgir duas correntes importantes para a trajetória
que estava por vir: o Movimento pela União de Professores (MUP) e o Movimento de Oposição
Aberto de Professores (MOAP). Os membros dos dois grupos vinham de diversos partidos da
esquerda brasileira e, em razão de seus diferentes agrupamentos, pontos de vista e estratégias,
se dividiram.
A segunda era uma dissidência da primeira. Ambas, depois da greve de 1978,
articulavam-se na Comissão Pró-Entidade Única para fazer oposição sindical
à Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, ao
Centro do Professorado Paulista e ao Sindicato dos Professores de São Paulo
(FERREIRA JR., 1998, p. 89-90, grifo nosso).

De uma maneira geral, os materiais produzidos pelo MOAP de 1975 a 1985 apresentam
reivindicações de uma parcela da categoria que enxerga, em sua entidade representativa,
problemas relacionados principalmente às dificuldades de filiação sindical e às negociações
salariais. Ou seja, denunciam uma entidade aparelhada, mas que não atende aos reais anseios
dos trabalhadores que representa. Um sindicato que é gigante em sua estrutura, mas que constrói
essa grandiosidade sobre uma base propositalmente pequena, em detrimento aos interesses da
classe trabalhadora.
Em agosto de 1977, o Jornal do Movimento de Oposição Aberto dos Professores
(MOAP) denunciou as dificuldades impostas pela diretoria para que novos professores
pudessem se sindicalizar, argumentando que sindicato vazio interessava apenas aos patrões e à
diretoria traidora. O professor Celso Napolitano (2018, Anexo 197), na entrevista que nos
concedeu, esclareceu que

[...] era difícil sindicalizar naquela época. Ele não sindicalizava quem ele tinha
desconfiança que ia voltar contra ele quando. Tanto que quando a gente
assumiu o sindicato, nós entramos em fevereiro de 88, havia duas 2000 quase
3000 em condição de voto. Em outubro de 88 já tinha 10 mil sindicalizados.
Só das fichas que nós tiramos das gavetas.
128

Uma lamentável e perversa atitude da diretoria na época, que evitava ao máximo a


associação de novos docentes para se garantir nas eleições, havendo até uma carteirinha
específica para não-sócios, que poderiam usufruir dos benefícios da entidade, como
atendimento médico e colônia, enquanto a diretoria não aprovava a filiação.
De acordo com o professor Celso Napolitano, na maioria das vezes essa aprovação não
acontecia nunca, mas os professores, na maioria das vezes, não se incomodavam, pois queriam
apenas usufruir dos benefícios que o sindicato oferecia, e a carteirinha de não-sócio resolvia
isso.
.

Figura 16 – Trecho - Jornal do MOAP – Ago/1977

Arquivo do SINPRO-SP, Anexo 02.


129

O MOAP lançou um novo jornal em abril de 1978, chamado Quadro Negro. Na primeira
edição, o editorial denunciava uma piora drástica na situação dos professores, em razão do
processo de degeneração pelo qual passaram os salários e as condições de trabalho.
Responsabiliza o sindicato pela ausência de resistência e de combate às políticas de arrocho e
desvalorização que a categoria atravessava.

Figura 17 – Capa - Jornal Quadro Negro – Abr/1978

Arquivo do SINPRO-SP, Anexo 05

Identificamos aqui o que Vito Giannotti (1987) caracterizou como sendo um período de
intensa valorização dos sindicatos enquanto parte da engrenagem estatal, para então garantir a
desvalorização da vida sindical, ou seja, o sindicato sendo utilizado como um aparelho de
130

assistencialismo e serviços, para evitar qualquer tipo de conflito ou resistência por parte dos
trabalhadores. Um sistema completo de conciliação e calmaria, que ia em total desencontro aos
anseios do MOAP.
Em março de 1979, o Quadro Negro denunciou uma suposta manobra realizada pela
Federação, em conjunto com os sindicatos associados, na campanha salarial dos professores de
Santos, São Paulo e Campinas. Alegando que as assembleias para aprovação da campanha
foram realizadas com quantidade ínfima de participantes. Naquele momento, o SINPRO-SP
contava com dois mil associados (numa base de sessenta mil professores), mas apenas cinquenta
e dois compareceram para legitimar a proposta da federação que, na opinião do MOAP, foi
capciosa, pois impossibilitou uma negociação real com os patrões, visto que reivindicou um
índice muito alto desde o início, tornando inviável qualquer tipo de diálogo.

Figura 18 – Trecho - Jornal Quadro Negro – Mar/1979

Arquivo do SINPRO-SP, Anexo 75


131

O caso foi noticiado pela imprensa e o impasse se arrastou durante todo o ano, tornando-
se o principal alicerce da oposição, que não se cansava em afirmar que a diretoria do SINPRO-
SP não permitia a participação da base, utilizando o episódio da campanha salarial como
principal exemplo da conduta reclamada.

Figura 19 - Professores pedem 66,2%

Folha de S. Paulo – 19/03/79, Anexo 76


132

Em 1980, a oposição empenhou em realizar trabalho de embate contra as reformas que


o governo federal buscava emplacar, principalmente o anteprojeto da CLT. Criticavam o
governo, afirmando que vinha acenando com várias reformas, em diversos âmbitos da vida dos
brasileiros, mas que, na verdade, as ditas reformas nada mais seriam do que maior prejuízo e
exploração dos trabalhadores.
Desde 1977, com seu surgimento, o movimento de oposição à diretoria do SINPRO-SP
seguiu apresentando suas propostas, buscando aliados junto à base, lutando pela abertura na
sindicalização e pelo acesso da base à entidade sindical. Participou enquanto candidata em todas
as eleições sindicais que ocorreram no período, sendo vitoriosa apenas em 1987 e assumindo a
direção do sindicato a partir de 1988, até os dias atuais.
133

4.3. Jornal Novos Rumos

Podemos afirmar que, durante o longo período da ditadura civil-militar, a imprensa


sindical permaneceu em produção, mas sofreu severa repressão que resultou em diminuição das
edições, censura e conteúdo alterado, tornando-se “instrumento de controle e desmobilização,
ocupando seu espaço com artigos sobre assistência e lazer, exaltando as diretorias pelo
crescimento do patrimônio das entidades” (MOMESSO, 1997, p.49).
Em 1979 o Departamento Cultural do SINPRO-SP passou a emitir um jornal oficial da
entidade, chamado Novos Rumos. Assinavam a responsabilidade do material os professores
Dagoberto Barbato, Julián Garrido Pérez e Antônio Baptista de Oliveira, todos da recém-eleita
Chapa 1.
Nos chama a atenção o fato dele ter o mesmo nome de um importante jornal semanal da
esquerda, editado pelo Partido Comunista Brasileiro de 1959 até 1964, quando ainda se
chamava Partido Comunista do Brasil. Novos Rumos foi fundado pelo PCB para substituir o
Voz Operária, tornando-se uma espécie de órgão de comunicação semioficial do partido que,
sempre às terças-feiras, estava disponível aos militantes e ao público assinante.

O jornal veiculou a orientação política inaugurada com a ‘Declaração de


março de 1958’. Mas, em suas páginas, não encontramos moderação política.
Não há, em Novos Rumos, a imagem que ficou, para as gerações posteriores,
de um Partido Comunista que abandonou a luta revolucionária, optando pela
via institucional dentro das regras da democracia-liberal ou, ainda, o
reboquismo ao governo de João Goulart. Novos Rumos foi jornal de oposição
a Jango pelo menos até fins de 1963 e, fazendo coro com a Frente de
Mobilização Popular, exigia a decretação imediata das reformas e um governo
formado exclusivamente pelas esquerdas (FERREIRA, 2011, p. 10).

Antes de seguirmos com a análise do jornal, acrescentamos que também está registrada
a presença de João Guilherme Vargas Netto no SINPRO-SP. Um carioca dirigente do PCB que
foi enviado pelo partido a São Paulo depois do AI-5, atuando com muitos grupos e também
com o movimento sindical. “Havia uma estreita ligação entre o PCB e os sindicatos. Eu
trabalhava com o Bonfante e nos aproximávamos das direções sindicais”, esclarece ele em
depoimento, quando também explicou que a repressão na capital era severa e que, após a morte
de Vladimir Herzog, não havia mais condições de permanecer no país (VARGAS NETTO,
2018).
Ainda que não tivéssemos como objetivo encontrar elementos documentais que
comprovassem a ligação do PCB com o sindicato dos professores, entendemos que essa relação
134

aconteceu e gerou frutos, mas não temos condições de saber em que medida, para isso seria
necessário cotejar os documentos produzidos pelo partido, com os eram veiculados pela direção
ou pela oposição sindical, feito isso, o vínculo seria, então, rapidamente, verificado pelo teor e
similitude dos mesmos.
Se o jornal do partido não demonstrava quaisquer configurações de alinhamento com o
Estado, em que pese, a postura conciliatória adotada pelo PCB desde então, não podemos
afirmar o mesmo sobre o jornal do SINPRO-SP que, por inúmeras vezes, apresentou em seu
instrumento de imprensa uma explícita postura alinhada aos interesses dos patrões e do Estado.
Certamente que não pretendemos tecer comparações entre os dois instrumentos
jornalísticos, pois, além de terem sido editados em períodos diferentes da história, as condições
eram muito diversas no que tange à liberdade política das organizações políticas e sindicais.
Entendemos que “a comunicação sindical é uma arma em potencial nas mãos dos
trabalhadores para defender sua ideologia, sua política” (COSTA, 2010, p. 65), mas
reconhecemos que, a partir do golpe de 1964, os sindicatos foram forçados a se transformar em
instrumentos passivos e alinhados ao governo, o que determinou que a temática de seus boletins
e jornais também fosse alterada, passando a abordar com predominância apenas as denúncias
de instituições que não arcavam com as obrigações salariais, propagandas do assistencialismo
promovido pela entidade, recortes de jornais da grande imprensa e textos normativos ou
legislação na íntegra.

Nos primeiros anos da década de [19]70 a imprensa sindical dá sinais de


querer se reanimar. Mas é a partir de 1978 que ela se revitaliza, em decorrência
das mudanças políticas, da ampliação das lutas operárias, do crescimento
organizativo do movimento sindical e da elevação do nível de consciência de
classe dos trabalhadores. Algumas oposições venceram as eleições de
categoria. Em outras, esse avanço obrigou diretorias a se reciclarem e
redimensionarem a sua ação sindical (MOMESSO, 1986, p. 36).

De nossa parte, não analisamos tal revitalização em Novos Rumos do SINPRO-SP,


muito pelo contrário. Em todas as edições analisadas, o jornal manteve o mesmo tipo
configuração, abstendo-se de discussões e posicionamentos políticos, isentando-se de posturas
mais combativas e, desta forma, colaborando para que sua categoria construísse uma noção de
pertencimento de classe bastante influenciada por tal postura da entidade.
Um bom jornal sindical não pode ficar restrito “às notificações institucionais da
diretoria, não pode cair na mesma prática dos grandes meios e ser utilizada como forma de
135

exacerbação do poder e da dominação de uma diretoria em relação à sua base” (DUTRA, 2001,
p. 12).
Em todas as edições analisadas do jornal, identificamos um padrão de organização que
deixava clara a preocupação da entidade em transmitir aos seus associados uma ideia de luta
sindical atrelada ao poder legislativo, ou seja, várias matérias ressaltando ofícios, encontros e
solicitações feitas a parlamentares para que projetos de lei fossem aprovados ou reprovados, de
acordo com a opinião da diretoria sindical.
Na primeira edição do jornal, um exemplo dessa prática, quando publicam um ofício
enviado ao Senador Franco Montoro, numa explícita demonstração de competência e
movimentação sindical, apresentando aos associados que a diretoria está em defesa dos direitos
da categoria:
Figura 20 - Ofício ao Senador Franco Montoro

Jornal Novos Rumos – Maio, 1979, Anexo 95


136

Uma outra característica de Novos Rumos estava em sempre apresentar denúncias contra
instituições que não cumpriam os acordos salariais, a partir de reclamações feitas por
professores. Em quase todas as edições, encontramos estampados os nomes de várias escolas e
faculdades e, com o tempo, esta seção do jornal passou a ser chamada de Boca Livre, sempre
iniciada com o apelo da entidade para os professores fizessem as denúncias, mesmo que
anonimamente e por telefone. Manter um canal de denúncias sempre aberto é uma ação
importante no combate aos abusos cometidos por muitos empresários do ramo educacional.
Um outro assunto abordado em todas as edições do jornal sindical do SINPRO-SP é a
taxa assistencial atrelada aos benefícios que a entidade oferecia aos associados, transformando
Novos Rumos em algo muito próximo de um instrumento de propaganda do SINPRO-SP, em
detrimento de um instrumento de comunicação e formação política.
A Colônia de Férias era enaltecida, os convênios de assistência médica exageradamente
divulgados e a inauguração da nova (e atual) sede foi abordada como um grande acontecimento.
A preocupação constante em manter convencida a base de que a taxa assistencial era importante
e estava sendo bem utilizada em benefício da categoria.

Figura 21 - Colônia de Férias

Jornal Novos Rumos – Fevereiro, 1980, Anexo 113


137

Foram páginas e mais páginas inteiras dedicadas a esse tipo de convencimento


centralizado na relevância do dinheiro que o sindicato recebia, e de como ele era utilizado, além
de vários balancetes e prestações de contas.

Figura 22 - Inauguração da nova sede

Jornal Novos Rumos – Agosto/Setembro, 1981, Anexo 171


138

Acreditamos ser de extrema relevância a transparência de uma entidade sindical para


com a sua base, sendo a prática de divulgação dos investimentos e das despesas muito apreciada
por todos que buscam ter acesso à verdade. O problema é quando a ação sindical parece estar
limitada apenas a isso, apresentando aos leitores uma ideia de sindicato que está limitada à boa
administração dos recursos, furtando-se da responsabilidade principal, que é organizar e
representar os trabalhadores.
Além das questões já tratadas acima, buscamos também encontrar no jornal matérias
que pudessem colaborar com a formação política dos professores, pois entendemos que esta
também é a função de um instrumento de imprensa sindical. Neste quesito, não encontramos
nenhum empenho da entidade em fomentar reflexões críticas a respeito não apenas da condição
de categoria, mas também da condição de classe.
Das publicações realizadas no período, apenas duas delas apresentaram entrevistas: a
primeira (Outubro-1979) com José Leopoldino, presidente do SINPRO-SP, e a segunda
(Setembro-1980) com Geraldo Mugayar, presidente da Federação dos Trabalhadores em
Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (FETEE).

Figura 23 - José Leopoldino

Jornal Novos Rumos, Outubro, 1980, Anexo 108


139

José Leopoldino Azevedo, ao ser questionado sobre a sua participação no recente


Encontro Nacional de Dirigentes Sindicais, respondeu que a liberdade e a autonomia sindical
foram o assunto central do encontro, visto que o modelo de sindicalismo adotado no Brasil o
coloca muito submetido à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e, portanto, ao Ministério
do Trabalho (MT).

Acredito que o sindicalismo deve ser consciente, bem estruturado e livre.


Todavia, de nada adianta a liberdade, sem consciência e estrutura.
Sindicalismo consciente é que aquele em que se estuda, analisa, pensa, age,
de forma que, através da atuação possa ser construtivo, respeitando-se as
normas vigentes. A liberdade implica em se fazer o que se deve e não o que
se quer, desordenadamente, sem princípios. Esses princípios estão nos
estatutos: o que se quer é que o sindicalismo seja desatrelado do Ministério do
Trabalho e que as decisões sejam tomadas soberanamente por assembleias,
respeitados os Estatutos que também poderão ser modificados pela mesma
assembleia, se a categoria assim o desejar (Jornal Novos Rumos, Outubro,
1980, p. 3).

Desta forma, o presidente deixou claro o seu posicionamento quanto à estrutura sindical
que almeja e, principalmente ao modelo de ação que defende para a entidade organizativa dos
trabalhadores que, na opinião dele, “só pode construir através de entendimentos organizados,
negociações, através do diálogo, a partir de análises que levarão a ações de pressão
verdadeiramente coerentes e eficientes (Jornal Novos Rumos, Outubro, 1980, p. 3).

Figura 24 - Geraldo Mugayar

Jornal Novos Rumos, Outubro, 1980, Anexo 122


140

Na entrevista com Geraldo Mugayar, o parágrafo de apresentação afirma que ele quase
não tem tempo para sua vida pessoal, em razão de tantos compromissos com a FETEE, visto
que “é um apaixonado pela causa dos trabalhadores e defende sua categoria com uma raça
incomum” (Jornal Novos Rumos, Setembro, 1980, p. 5). Feito isso, apenas três perguntas sobre
política salarial e a importância do reajuste semestral em razão do disparo da inflação.
Não houve mais nenhuma entrevista publicada no jornal durante os seis anos em que analisamos
as publicações, deixando subentendido que as opiniões de outras pessoas não eram importantes
para a entidade e, por consequência, não deveriam interferir na formação da opinião dos
trabalhadores.
A ausência de outros sujeitos em Novos Rumos se confirmou quando constatamos que,
além de não haver entrevistados, também não houve nenhuma publicação de textos, artigos
científicos, crônicas ou qualquer outro material que, redigido por autores ou pesquisadores do
ramo, pudessem colaborar na construção dos saberes daquela categoria. Os assuntos tratados
eram quase sempre os mesmos: campanha salarial, leis, ofícios, denúncias, direitos e assistência
sindical.
Poucas vezes constatamos a existência de outros temas nas páginas do jornal, quando
pequenos textos, escritos por professores associados, traziam informações sobre avanços na
ciência, dicas de gramática, primeiros socorros na escola, homenagem a Monteiro Lobato e
homenagem a Casemiro de Abreu. Todos os textos muito interessantes e úteis, mas nenhum
deles com viés de reflexão política ou sindical.
Nas palavras do professor Celso Napolitano, ao buscar expressar a ausência de formação
e informação política por parte do SINPRO-SP,

[...] Naquela época você tinha uma direita envergonhada, os conservadores


eles não se mostravam muito tal porque o país estava sendo redemocratizado,
o que aconteceu agora é que essa direita envergonhada ressurgiu com força
total e virou à direita desavergonhada. Direita hoje em dia não tem vergonha
alguma né, é uma direita que vai para o confronto mesmo, dá tiro no ônibus
do ex-presidente, e é uma turma de sessenta pessoas, você não vai dizer que a
cidade a favor ou contra, mas é uma turma de sessenta ou setenta que se
organizam, e que são milícias mesmo. E aí bloqueia estrada, dá tiro, etc. e tal.
[...] Eu participei de duas chapas de oposição justamente por causa de, vamos
assim dizer, essa falta de atuação do SINPRO. Se o SINPRO naquela época,
a classe dirigente, não era apoiadora da ditadura, pelo menos era conivente.
Como eu te disse, os principais elementos da diretoria, vários elementos da
diretoria, vinham dos principais redutos conservadores aqui de São Paulo
(NAPOLITANO, 2018, Anexo 197).
141

4.4. Eleições sindicais

Em outubro de 1978 houve eleições no SINPRO-SP, entidade surgida após a fusão entre
o Sindicato dos Professores de Ensino de 1º e 2º Graus de São Paulo (SINPRO) e o Sindicato
do Ensino Comercial de São Paulo (SPEC). Os meses que antecederam o pleito foram marcados
por uma acirrada campanha entre a Chapa nº 1 e a Chapa nº 2.
A primeira, com candidatos da situação, manteve seus alicerces de campanha alinhados
ao argumento de somente quem já tem experiência sindical poderia fazer um bom trabalho.
Ainda assim, recusava ser chamada de “situação”, alegando que estavam todos num sindicato
novo, recém-criado, e que por esta razão não poderia haver nem situação, nem oposição,
acusando a Chapa nº 2 de se utilizar do rótulo de “oposição” apenas como uma manobra
demagógica para atrair simpatizantes.
Em carta divulgada aos eleitores, a Chapa nº 1 afirma que seguirá a campanha “na
mesma linha de conduta, levando aos mestres paulistanos sua mensagem de trabalho e
conciliação” (a carta está disponível na íntegra em Anexo 13), situando-se no campo de um
sindicalismo que não pretende ser combativo. No mesmo documento, um outro trecho nos
chamou a atenção, quando percebemos uma certa confusão conceitual da entidade no que diz
respeito a postura classista e ideologia:

Adotamos uma filosofia eminentemente classista. Sem ideologias, as quais, se


existirem, dentro do princípio do livre arbítrio, devem ser perfilhadas fora das
entidades sindicais; estas jamais poderão ser transformadas em organismos de
divulgação de estranhas filosofias. Nossa meta é uma só: o professor e o
magistério. Melhores condições de vida e de ensino, dignificando aquele e
aprimorando este.

A Chapa nº 1 era composta pelos seguintes professores (com a localização dos seus
respectivos locais de trabalho):

José Leopoldino de Azevedo Santo Agostinho, Santa Cruz, Paes Leme


José Omar Bertoncello Barão de Mauá, Alvorada
José Xavier Soares José de Anchieta
Dagoberto Barbato Mackenzie
Pedro Maestrelli Oswaldo Cruz, Santo Agostinho
Juvenal Roxo Beatíssima Virgem Maria
Paulo Ulysses Torres Rio Branco, Visconde de Porto Seguro, São Marcos
José Erico Silveira Borelli Bandeirantes, Jabaquara
Antonio Batista de Oliveira Arquidiocesano
142

Anadyr Nogueira França Filho Dante Alighieri


Julián Garrido Pérez Arquidiocesano, Imaculada Conceição
Oswaldo Biasio Menon Mackenzie
Aristarcho Lobo Neto Álvares Penteado
Iorlando Beletti Jabaquara, Faculdades Metropolitanas Unidas
Rubem Dario Sosa Cabrera Imaculada Conceição, São Luís
Silvio Fescina Liceu Coração de Jesus
Fabio Edurado Zambon São Luís, Paes Leme
Sergio Pellegrino Paschoal Moscardini São Judas Tadeu
Wagner Martins Rebello Faculdade de Guarulhos, Pequenópolis
Luiz Antonio Barbagli Faculdade São Caetano, Oswaldo Cruz
Alaerte Verderosi Álvares Penteado
Antonio Júlio Bezerra Objetivo
Mário Rodrigues Correa Álvares Penteado

A Chapa nº 2, bancada pelo Movimento de Oposição Aberto dos Professores (MOAP),


teve muitas dificuldades de campanha e de consolidação de suas propostas. Em Carta aos
Professores (Documento na íntegra em Anexo 16), o Movimento declarou que

[...] a luta travada desde fins de 1976 pelos movimentos de oposição para a
abertura do sindicato, resultou em pequenos avanços, caracterizados este ano
pelo protocolo salarial que já apresentou interferências dos professores em
alguns itens, como estabilidade para gestantes e abono de faltas para
professores participantes de assembleias do sindicato. Estes pequenos avanços
já permitiram a formação de um movimento de oposição pró-chapa que
concorrerá ao sindicato resultante da unificação do SINPRO com o SPEC.
Apesar de relativamente numeroso, este movimento ainda é embrionário e se
caracteriza por uma diretoria política vacilante, devido a não assumir de forma
decidida a perspectiva de combate à estrutura sindical existente e também não
se propor a uma atuação política em conjunto com outros setores oprimidos
da sociedade, sob alegações diversas, como falta de tradição de luta da
categoria, desorganização, etc. Assim, cabe a nós professores do MOAP,
através da dinamização da nossa atuação nas escolas e de uma participação
ativa e politicamente coesa no movimento, disputar a sua direção política
tendo como pontos básicos a linha apontada na plataforma e não nos
esquecendo de buscar unidade na ação de modo a fortalecer um trabalho
conjunto das diversas tendências políticas que atuam no movimento e
efetivamente tomar o sindicato com a força de um movimento amplo.

A plataforma de trabalho estava organizada em quatro pontos centrais: melhores


condições de vida e trabalho, liberdade sindical e democratização do sindicato, política
educacional e liberdades democráticas. Em seu detalhamento, exigiam a revogação imediata da
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 5692/1971, a reintegração dos professores aposentados
143

compulsoriamente pelo Ato Institucional nº. 5 (AI-5) e o fim do atestado ideológico30 para o
exercício do magistério.
A Chapa 2 foi lançada em assembleia com cerca de duzentos participantes, com os
seguintes candidatos, que foram derrotados nas eleições.

Alcides Ribeiro Soares Escola de Sociologia e Política de São Paulo, PUC


Ana Mercês Bahia Bock PUC-SP
João Rerminal Medina Rodrigues Santa Inês
José de Arruda Penteado Mackenzie
José Giuzio Danelon Santa Inês
Marcos Romeu Piza de Oliveira Dinâmico
Miriam Nalini Marques Eucabrás
Antonio Celso Ferreira Santa Inês
Armando Toshiaru Tachibana Supletivo dos Metalúrgicos
Celso Napolitano São Luís
Gerson Rodrigues Marins Santa Inês
Jair Pereira dos Santos FEI, Oswaldo Cruz
Luiz Fernando de Moraes Santa Inês
Quincas Cruz Neto Santa Inês
Décio Ferroni Santa Inês
José Domingos Teixeira Vasconcelos Equipe
José Mario Gama São Luís, Politécnico
Flora Christiana Bender Santa Inês
José Carlos Valentini Santa Inês
Nilton Francisco Allonso Santa Inês
Francisco Hernani Alverne Santa Inês
Maria José Trevisan Santamarense
José Roberto Zan Módulo, Objetivo
Pedro Ivo Bastos Anglo-Latino

Durante o processo eleitoral do sindicato em 1981, a oposição formou a Chapa 2 para


concorrer à diretoria, não obtendo sucesso. Durante a campanha, acusavam a então atual
diretoria de permanecer isolada dos professores, burocratizando e dificultando a sindicalização
de novos colegas, além e ser absolutamente fechada ao diálogo, permitindo que apenas uma
pequena parcela da base tenha contato com a entidade.

30
O Atestado de Antecedentes Políticos e Sociais, mais conhecido como atestado ideológico, era um documento
fornecido pela Divisão de Ordem Política Social (DOPS) da Polícia Federal, apenas aos que não eram fichados.
144

A linha central de campanha da Chapa 2 era a democratização do sindicato, para fazer


com que ele fosse forte e atuante. Além disso, defendiam a valorização do professor, novas
políticas educacionais, atividades assistenciais e envolvimento do SINPRO-SP com o
movimento sindical geral.

Figura 25 - Chapa 2 - 1981

Arquivo do SINPRO-SP, Anexo 178

Em setembro do mesmo ano, a Folha de São Paulo publicou nota informando que o
candidato da Chapa 1 (situação) estava se recusando a debater com o candidato da Chapa 2,
mediante convite realizado pela redação do jornal.

Leopoldino alegou que, devido a seus afazeres, está impossibilitado de


comparecer ao auditório da ‘Folha’ até o início das eleições, marcadas para os
próximos dias 21, 22 e 23. Essa alegação foi transmitida ao jornal uma semana
depois de formalizado o convite para o debate (aceito sem hesitação pelo
professor Orlando Joia) e após insistência em obter uma resposta. Há dois dias,
por exemplo, o presidente do Sinpro disse que não podia dar uma resposta
porque ainda estava ‘surpreso’ com o convite. Alegou também que no dia
inicialmente proposto para o debate teria de ir a Brasília. Ante a concordância
da ‘Folha’ em alterar a data, disse que sua agenda de compromissos estava
lotada (Folha de São Paulo, 11/09/1981, Educação, p. 23).
145

A carta programa da Chapa 1 foi divulgada em boletim aos professores, e estava apoiada
em três eixos centrais: a) atuação trabalhista; b) assistência social; c) conquistas e realizações.
A atuação trabalhista era o eixo com mais propostas. Estabilidades, rotatividade,
reajuste semestral, piso salarial, aposentadoria especial e mais alguns outros itens, todos
centrados em ações específicas de um sindicato que olhava apenas para dentro de si mesmo,
desconsiderando a conjuntura política e sindical do momento em que o país estava
atravessando. No eixo de assistência, uma série de serviços e benefícios oferecidos e
prometidos aos sócios, a maioria ligados a consultas médicas e à colônia de férias. Por último,
a futura criação de câmaras para que estudassem e enviassem projetos ao legislativo, visando a
melhoria da educação e também a criação de uma comissão intersindical para estudar o
sindicalismo no país, mas sem citar a participação ou integração do SINPRO-SP em ações ou
eventos.
Na composição da Chapa 1, encontramos os nomes dos professores Luiz Antônio
Barbagli (atual presidente da entidade) e Fabio Eduardo Zambon (atual vice-presidente),
confirmando o que o professor Celso Napolitano nos informou na entrevista, quando esclareceu
que ambos haviam se unido à Chapa 1, numa tentativa de conseguir conquistar a base e o
sindicato por dentro dele.

Aí me aproximei de um grupo que estava dentro do sindicato, Luiz Antônio


Barbagli, Fábio Zambon, o Wagner, Antônio Hélio – Antônio Hélio não
estava no sindicato. Mas eles participavam da diretoria do sindicato com a
perspectiva de ganhar por dentro porque era muito difícil você ganhar eleição
por fora. Tanto que, quando a gente entrou, a primeira coisa que a gente fez
foi democratizar as eleições do sindicato. Quero dizer, hoje o estatuto diz
quando é a eleição, quando sai o edital. Naquela época para a gente descobrir
o edital foi um custo né, porque eles escondiam o edital (NAPOLITANO,
2018, Anexo 197).

As eleições aconteceram e a vitória da Chapa 1 foi grandiosa, com 82,12% dos votos,
contra 17,14% para a Chapa 2 e 0,74% de brancos e nulos. Em boletim divulgado, a Chapa 2
denunciou que foi derrotada porque os números de associados e de eleitores válidos foram
manipulados pela diretoria. Reclamaram também que muitos professores foram impedidos de
votar por não terem quitado seus pagamentos com dez dias de antecedência, e que essa
exigência não estava esclarecida.
146

Figura 26 - Resultado da eleição - 1981

Arquivo do SINPRO-SP, Anexo 179

A postura da diretoria do SINPRO-SP durante o processo eleitoral, bem como as


dificuldades denunciadas pela oposição, comprova o pouco interesse da entidade em ter a base
147

da categoria junto á participação e à tomada de decisões. A ausência de transparência nos dados,


os obstáculos na filiação de novos associados, a maneira de tratar com a mídia e o uso da
burocracia em defesa dos próprios interesses, demonstram a quem servia o sindicato naqueles
anos.
148

4.5. Campanhas salariais

O SINPRO-SP tinha como prática central valorizar fortemente as campanhas salariais


junto à base, chegando a vangloriar-se das conquistas, demonstrando um comportamento típico
de um Sindicato de Estado. Em geral, as campanhas não passavam de negociações burocráticas
entre as entidades, realizadas em escritórios fechados, sem nenhum tipo de participação da base.
Feito isso, o sindicato anunciava o índice de aumento como se aquilo fosse o resultado de uma
luta exorbitante e exaustiva, e não como uma simples tratativa que atendia ao interesse de todos
os senhores, principalmente dos patrões.
Durante a campanha salarial de 1978, a Chapa 2 - Oposição, que estava concorrendo à
diretoria do SINPRO-SP, precisou prestar esclarecimentos à Delegacia Regional do Trabalho
(DRT), afirmando que o boletim divulgado, convocando os professores para assembleia, não
havia sido elaborado por nenhum dos integrantes da Chapa 2, e que daquele momento em
diante, seriam responsáveis apenas pelos informes divulgados oficialmente, desde que
numerado e com original assinada pelo Sr. Alcides Soares, então candidato à presidência da
entidade.
O boletim original que apresenta esse esclarecimento está em A Chapa 1 pediu a
impugnação da candidatura da Chapa 2. Na época, o caso foi noticiado pelos principais jornais
e causou muita polêmica entre a categoria e a entidade.
A campanha salarial de 1979 também foi marcada pela denúncia, por parte de muitos
professores e também da oposição organizada, de que o SINPRO-SP não havia convocado a
base para as tratativas e assembleias. O caso ganhou visibilidade na mídia, chegando a ser
matéria na Folha de São Paulo.

De seu lado, o Sr. José Leopoldino de Azevedo garante que haverá acordo:
“...estamos fazendo tratativas para o acordo, há predisposição para o acordo.
O presidente do Sinpro não especificou, ontem, quais os resultados de tais
conversações, quando elas foram encetadas, ou que bases tinha para fazer tal
afirmação ontem. [...] Segundo o Sr. José Leopoldino de Azevedo, a
Federação está autorizada a negociar apenas o índice, não o piso hora-aula, a
estabilidade, etc. O presidente do Sinpro refutou, ainda, críticas de professores
sobre a atuação da entidade que preside: “sobre a acusação de negligência,
nada tenho a declarar”. Sobre o fato de docentes afirmarem não ter sido
convocados À assembleia de 11 de janeiro, o Sr. Leopoldino de Azevedo
disse: “se vinte de oposição não participaram e oitenta participaram, não
entendo porque dizer que fazemos ‘assembleia fantasma’, a assembleia foi
amplamente divulgada pelos jornais”. De seu lado, alguns professores dizem
149

que houve de fato a divulgação, mas em apenas um jornal de pouca circulação,


que não é lido por professores (Folha de São Paulo, 20/03/1979).

Os professores queriam 66% de reajuste, o sindicato pediu 80% e o aumento


conquistado foi de apenas 48%. Boa parte da categoria ficou insatisfeita e este quadro fortaleceu
significativamente a oposição sindical. Numa aparente tentativa de apaziguar a questão, o
SINPRO-SP publicou uma circular aos professores, apresentando esclarecimentos e
justificativas sobre o acordo salarial firmado.
No mesmo documento, vários parágrafos recomendando o recuo na greve unificada que
acontecia no serviço público, demonstrando uma postura pouco combativa e absolutamente
favorável ao término imediato da paralisação do funcionalismo.

Apostar no caos social, numa convulsão de sociedade, é total


irresponsabilidade. Estimular a conjunção da greve do funcionalismo com as
greve dos metalúrgicos (a ser deflagrada provavelmente dia 13) é não avaliar
os riscos que tal fato traria para o movimento sindical (e, portanto, para o
conjunto de forças democráticas) e ignorar que esta conjunção em nada
beneficiaria o movimento do funcionalismo, que seria relegado
inevitavelmente a um segundo plano. Quanto mais este movimento se
aproximar da greve dos metalúrgicos, mais apertadas serão suas saídas [...] A
questão toda, pois, é reconhecer que a luta pode continuar, inclusive num nível
melhor, com o retorno ao trabalho (SINPRO-SP, Circular aos Professores,
09/05/1979).

Trataremos do posicionamento do sindicato sobre as greves na próxima seção, mas não


antes de reforçar nossas observações acerca do modo de sua atuação sobre as campanhas
salariais, quando, sem nenhuma exceção, mostrava-se à categoria como excelente negociador e
garantidor dos direitos dos professores, reforçando cada vez mais o fetiche da legalidade
sindical como um aparato do Estado.
150

Figura 27 - Acordo Salarial - 1981

Novos Rumos – Mar/Abr., 1981, Anexo 155


151

4.6. Greves

Com relação ao assunto greve, o SINPRO-SP não se mostrou favorável em nenhuma


das fontes utilizadas para essa pesquisa.
Em agosto de 1978 os professores das redes municipal e estadual organizaram uma
greve unificada, conseguindo uma adesão significativa da base. Não demorou muito para que
o movimento de oposição ao SINPRO-SP solicitasse a convocação de uma assembleia cuja
pauta sugerida abordava a elaboração de um documento de apoio aos colegas da rede pública e
também possíveis encaminhamentos, incluindo paralisação, dos professores da rede privada. A
assembleia aconteceu em 02/09/1978 e foi noticiada pela Folha de São Paulo do dia seguinte,
informando sobre a paralisação então agendada para 14/09/1978.

Figura 28 - Professores da rede privada estudam aumento

Folha de S. Paulo, 03/09/1978, Anexo 33


152

O Jornal da Tarde também deu destaque ao movimento grevistas dos professores,


apresentando as dificuldades da categoria em desmentir as armadilhas dos patrões e do governo.

Figura 29 - Greve nas escolas particulares

Jornal da Tarde, 04/09/1978, Anexo 35

Em abril de 1979 os professores do Capi Vestibulares entraram em greve por atraso no


pagamento e solicitaram a presença do sindicato para que a situação fosse resolvida. O
presidente compareceu à escola e, ao conversar com professores e direção, constatou que os
salários estavam com dois meses de atraso. “Interpondo-se como mediador, o prof. Leopoldino
conseguiu que os mestres voltassem às suas atividades, com a condição de que o pagamento
fosse realizado até o dia 11 de maio” (Novos Rumos – Mai/Jun., 1979, p. 2 ).
Em outra ocasião, durante a campanha salarial de 1981, a categoria deparou-se com a
seguinte notícia no jornal da entidade:
153
Figura 30 - Sinpro afasta greve para manter reajuste

Novos Rumos, Ago./Set, 1981, Anexo 171

Contra a possibilidade de suspensão do reajuste semestral que havia sido cogitada pela
Associação do Ensino Superior do Estado de São Paulo (AESP), o SINPRO-SP informa que
poderá convocar uma assembleia geral da categoria para iniciar processo de mobilização.

Entretanto, a direção do Sinpro diz pretender evitar a radicalização e afastar a


possibilidade, mesmo remota, de uma greve dos professores, preferindo
garantir os direitos da categoria pela via judicial [...] O Sindicato tem
plenos poderes para ingressar em juízo contra qualquer escola que se recuse a
cumprir o reajuste semestral. E não é preciso que o professor se exponha, pois
a ação não precisa ser nominal. Nós concordamos com a tese de que a
categoria deve ser mobilizada, mas o momento é de cautela e não se trata
de frouxidão, renúncia ou de amedrontamento. Na opinião da diretoria do
Sinpro, apenas, é preciso informar antes a categoria, mobilizá-la
conscientemente, para que a posição de um professor, individualmente, não se
imponha ao interesse de todos. (Idem, p.2, grifos nossos).

Importante destacar que, no início da década de 1980, os professores e os bancários se


assemelharam às outras categorias mais combativas na luta sindical, como nos alerta Giovanni
Alves em depoimento gravado para o SINPRO-SP, esclarecendo que isso não significa a não
existência de sindicalismo docente anteriormente, mas é que esse movimento não tinha o viés
classista ainda, o salário não era tão ruim e o professor não se reconhecia como um trabalhador
(ALVES, 2017).
A terceira e última menção que encontramos sobre greve por parte da diretoria, foi no
jornal sindical publicado no final de 1985.

Queremos inicialmente deixar bem claro que o SINPRO-SP não é fã


incondicional das greves como solução para todos os problemas trabalhistas
do País. Toda a nossa sistemática de ação nas negociações com a classe
patronal durante a existência desse Sindicato aí está a testemunhar nossa
154

disposição de esgotar todos os recursos do diálogo, da dialética, da retórica,


do bom-senso e do equilíbrio, antes de apelarmos para a última arma legal, às
vezes perigosa e violenta, de que dispõe o trabalhador para fazer valer seus
direitos e a justiça de suas reivindicações [...] Foram as seguintes escolas que
entraram em greve: COLÉGIOS Logos Escola de 2º Grau, Luís de Camões e
Alumni; FACULDADES Álvares Penteado, Belas Artes, Brás Cubas, FAAP,
FEC do ABC, Medianeira, Metodista, Moema, OSEC, Oswaldo Cruz, PUC,
São Judas, Sociologia e Política Tibiriçá. Trata-se, como se pôde ver, de
greves isoladas, pois não havia clima para a decretação de uma greve geral,
ante à constatação de que muitas escolas vinham espontaneamente
concedendo reajustes superiores aos determinados pela lei. As greves, porém,
foram bem sucedidas, tendo sido atendida a quase totalidade das
reivindicações, e revelam ser uma experiência bastante proveitosa, que tende
a repetir-se em outras oportunidades e em âmbito bem mais amplo, desde
que tal medida extrema volte a fazer-se necessária (Novos Rumos, Nov., 1985,
p. 4, grifos nossos).
155

4.7. Relações externas e atividades intersindicais

4.7.1. CNTEEC

Fundada em 1966, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos


de Educação e Cultura (CNTEEC) tinha, como uma de suas fundadoras, a Federação dos
Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (FETEE), da qual o
SINPRO-SP era filiado.
Na análise das fontes utilizadas para esta investigação, a única vez em que encontramos
uma referência à CNTEEC, foi numa pequena nota de rodapé do jornal sindical, informando
sobre a eleição de conselheiros da Confederação.

Você sabia que o Conselho Fiscal da Confederação Nacional dos


Trabalhadores em Estabelecimentos de Educação e Cultura será eleita no
próximo dia 14 de outubro? A sede da entidade é em Brasília e “Novos
Rumos” pretende trazer ao professor um estabelecimento maior sobre toda a
estrutura sindical existente em sua área. Você precisa conscientizar-se sobre a
regulamentação legal da vida dos trabalhadores do Brasil (Novos Rumos,
Outubro, 1979, p. 6).

Ainda que tenha havido o compromisso de manter o professor atualizado, o assunto não
voltou a ser tratado em nenhum momento durante o recorte temporal deste estudo.

4.7.2. FETEE

Durante todo o período compreendido no recorte temporal dessa investigação, o


SINPRO-SP esteve filiado à Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do
Estado de São Paulo (FETEE). Não encontramos nenhum documento oficial do registro dessa
filiação, mas os registros dos acordos salariais realizados, sempre estavam encabeçados pela
FETEE. Há também, um certo enaltecimento por parte da diretoria do sindicato, que sempre
fez questão de valorizar quase que exageradamente a pessoa do então presidente da federação,
Sr. Geraldo Mygayar, garantindo a ele certo destaque nos eventos da entidade, nas circulares e
também no jornal sindical.
156

Considerando que uma parte dos professores sindicalizados estava organizada em


oposição à atual diretoria, também consideramos importante registrar a constante
descontentamento apresentado por este grupo com relação à postura da federação.
Em depoimento, o professor Augusto Petta esclarece que os grupos de oposição sindical
de São Paulo e de Campinas eram bastante próximos em suas propostas e objetivos, mas que o
grupo dele conseguiu vencer a eleição no SINPRO-Campinas bem antes, em 1981. Seguiram
juntos até que a vitória da oposição acontecesse também na capital, em 1988.
Além disso, pertenciam à mesma FETEE, “uma federação que pensava muito igual à
gestão anterior, e nós não concordávamos e muitos sofremos ameaças subjetivas em razão
disso, o que já nos remetia à ideia de criar uma nova federação” (PETTA, 2017).

4.7.3. ENTOES

Com intensa crise financeira, a partir de 1974 o regime militar se viu pressionado a
estender sua política e, aos poucos, o movimento sindical foi encontrando espaço para dialogar
entre si. Em 1977, as reuniões intersindicais já eram uma constante no movimento dos
trabalhadores, quando estouraram as greves no ABC paulista que desencadearam um
movimento em vários lugares do país.
No início da década de 1980, pelo menos dois momentos foram importantes no processo
de centralização política das forças do sindicalismo combativo no Brasil. Organizados
originalmente através de encontros envolvendo apenas oposições sindicais e, depois, por
intermédio de reuniões envolvendo as oposições e as diretorias dos sindicatos que tinham
afinidades políticas e ideológicas.
O Encontro Nacional das Oposições Sindicais (ENOS) foi organizado pelo Movimento
de Oposição Sindical dos Metalúrgicos de São Paulo, na capital paulista, nos em maio, contando
com quarenta representantes de dez estados da União. Discutiu questões sobre a importância
do trabalho sindical vinculado organicamente às bases nos locais de trabalho, a luta pela
liberdade e autonomia sindical e as propostas de unificação entre os trabalhadores do campo e
da cidade numa única Central Sindical.
O ENOS possuía um alcance limitado, mas trouxe como um de seus grandes méritos,
ter se desdobrado no Encontro Nacional dos Trabalhadores em Oposição à Estrutura Sindical
(ENTOES).
157

O ENTOES foi realizado nos dias 13 e 14 de setembro de 1980, no Rio de Janeiro,


precedidos pela realização de encontros estaduais convocados com os mesmos objetivos do
encontro nacional.
Chama-nos atenção à disposição da direção cogitar a presença do SINPRO-SP, ao lado
de expressivos nomes do sindicalismo nacional, como é o caso de Luís Inácio da Silva (do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), Daniel de Moraes (do Sindicato dos Jornalistas de SP),
de José Ibrahim (do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco/SP), Jacó Bittar (do Sindicatos dos
Petroleiros de Paulínia/SP), Paulo Skromov (do Sindicatos dos Couros de São Paulo), dentre
tantos outros.
O período que se seguiu às grandes mobilizações da segunda metade da década de 1970
e os primeiros anos de 1980 se caracterizaram pela participação dos trabalhadores na criação
ou na localização de partidos políticos inseridos em suas lutas cotidianas, na criação de
organismos de representação de base nos locais de trabalho e na disposição de criar uma
organização sindical nacional independente do Estado.
A carta de propostas para o ENTOES, assinada pelo SINPRO-SP juntamente com outras
entidades representativas, estava centrada em três eixos básicos: 1) plataforma de lutas e
campanhas; 2) organização do ENTOES; 3) CONCLAT, Inter-Sindicais e Comitês de Apoio.
No primeiro eixo, destaque para a luta contra o desemprego, reajuste trimestral de
salários, direito de greve, devolução e reintegração dos sindicatos cassados pela ditadura,
salário mínimo real unificado e campanha contra os atentados fascistas. Esta foi a única vez em
que comprovamos o envolvimento do SINPRO-SP em ações que não fossem bastante
específicas da categoria dos professores e, além disso, questões da classe trabalhadora
colocadas por um viés mais combativo e posicionado à esquerda no âmbito da política,
nitidamente opositor ao regime militar.
No segundo eixo, a solicitação de uma organização interna bem articulada para o evento,
com o compromisso de agendamento de outros encontros, nacionais e regionais. No último e
terceiro eixo, o desejo manifestado de que fosse realizado um Conferência Nacional da Classe
Trabalhadora (CONCLAT)31 com caráter unitário, democrático e independente.

31
A sigla CONCLAT surgiu quando os sindicalistas pressionaram pela organização da I Conferência Nacional da
Classe Trabalhadora, uma denominação congênere à Conferência Nacional das Classes Produtoras (CONCAP –
realizado em 1979). A fundação da CUT ocorreu em 1983, no I Congresso Nacional da Classe Trabalhadora,
utilizando a mesma sigla, que também foi empregada pela Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora.
158

4.7.4. CONCLAT – CGT

A Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora (CONCLAT) foi criada em 6 de


novembro de 1983, com o objetivo de fortalecer a perspectiva unitária do sindicalismo
brasileiro, mas como oposição à Central Única dos Trabalhadores (CUT), criada em agosto do
mesmo ano. Em março de 1986 a CONCLAT se transformou na Central Geral dos
Trabalhadores (CGT) 32 , e era resultado de um racha ocorrido na Conferência Nacional da
Classe Trabalhadora, quando o bloco da Unidade Sindical não teve acordo com a criação de
uma central única, defendendo a manutenção da estrutura que já existia, com a permanência de
entidades organizadas nacionalmente por categoria, mantidas pelo imposto sindical. Importante
ressaltar que o bloco aliava os sindicalistas mais moderados, o Partido Comunista Brasileiro
(PCB), o Partido Comunista do Brasil (PC do B) e o Movimento Revolucionário 8 de outubro
(MR-8).
Pelo que pudemos apurar, as posições abaixo são do PCB e se expressam na direção
sindical. Seu questionamento deverá exigir uma discussão mais aprofundada da retomada dos
caminhos que estavam postos para o movimento sindical, de então, produziu sua divisão e se
refletiram na fundação da CUT e da CGT.
Sobre a Carta da Praia Grande, documento resultante do evento, o sindicato também
se manifestou.

Basta passar os olhos por este resumo de itens para chegar-se à conclusão de
que o documento é meramente político e pouco ou nada tem a ver com os
problemas dos trabalhadores. Observamos: a Carta defende eleições diretas
para a presidência da República, pretende a formação de uma Constituinte;
reivindica ampla liberdade de organização para os partidos políticos...; exige
a revogação da lei de Segurança Nacional...; propõe a liberdade sindical;
quanto à dívida externa, quer uma declaração de moratória unilateral,
defendida pelos simpatizantes do MR-8... Trata-se, pois, de um verdadeiro
manifesto partidário; já que a lei não permite a formação de certos partidos,
a tática utilizada por seus dirigentes é a infiltração nos organismos e
agremiações já legalmente constituídos e a manipulação dos encontros de
trabalhadores para a consecução de seus objetivos [...] Diante de tamanha
farsa, reiteramos nossa posição: ESSE CONCLAT FOI MANIPULADO,
TENDENCIOSO E IMORAL! (Novos Rumos, Nov./Dez., 1983, p. 4, grifos
nossos)

32
Mesma sigla utilizada pelo Comando Geral dos Trabalhadores, uma organização intersindical não reconhecida
pelo MT, criada em 1962 e dizimada pelo golpe civil-militar de 1964.
159

Em novembro de 1983, a diretoria do SINPRO-SP participou do CONCLAT organizado


pela Unidade Sindical, na cidade de Praia Grande/SP. Meia página do jornal da entidade foi
dedicada ao registro da opinião da diretoria sobre o evento.

Lamentavelmente, o movimento, que em seu embrião era sindical e autêntico,


passou a ser eminentemente político e partidário, haja vista a carta resultante
do Encontro. Grandes interesses ideológicos assenhoraram-se da vida sindical
brasileira. Partidos políticos legais e ilegais passaram a estabelecer confrontos
e medir forças de arregimentação e proselitismo, dirigindo suas atenções para
as bases sindicais e usando-as como degraus para uma escada ascendente,
tanto política como ideológica. [...] Respeitamos posições políticas e
ideológicas, porém fora do campo sindical (Novos Rumos, Nov./Dez.,
1983, p. 4, grifo nosso)

Com tais posicionamentos, os segmentos dirigentes do SINPRO-SP apresentavam o seu


posicionamento com relação ao papel do sindicato na inteireza da vida social, repudiando
posicionamentos ideológico e políticos, explicitam a sua intenção em permanecer como um
agenciador burocrata dos interesses coorporativos da categoria que diziam representar.
.
160

CONCLUSÃO

Defendemos na presente tese que a disposição de estudarmos a história do SINPRO-SP


durante os idos de 1975 a 1985, tem grande relevo social e político se considerarmos que esse
período da histórica brasileira foi marcado por uma violenta e cruel escalada da violência e
repressão estatal contra os movimentos sociais e populares e os organismos políticos e sindicais
dos trabalhadores.
O Estado buscou, por todos os meios e subterfúgios, com prisões e extermínio de
militantes e oposicionistas, desarticular a organicidade dos movimentos estudantis e sociais,
com o objetivo de controlar pelo “alto” a chamada “distensão” ou “abertura” política da qual
as classes trabalhadoras, sua organização e vanguarda política deveriam estar ausentes. Hoje,
todos sabemos disso, o SINPRO-SP se transformou numa verdadeira e potente máquina sindical
largamente burocratizada, atuando como uma espécie de “sindicato de Estado” na busca do
apaziguamento e no encaminhamento ordeiro das relações entre o capital e o trabalho no mundo
do ensino privado paulistano, mas esse é um fator secundário neste estudo. O que nos importa
destacar diz respeito ao processo de organização experimentado pelos seus ativistas sindicais a
partir de 1975, num quadro histórico, político e econômico muito peculiar.
Simultaneamente, tínhamos nesse período as dificuldades e os percalços do processo de
abertura, numa sociedade marcada pelo conservadorismo e pelo autoritarismo, tradicionalmente
comprometidos com a subtração das classes trabalhadoras e populares do cenário político,
convivendo com uma crise econômica institucional de grande magnitude.
Não bastassem esses fatores conjunturais, o ativismo e a direção sindical dos professores
se mostraram reduzidos, provavelmente em decorrência da situação da repressão e do arbítrio
reinantes no país, fazendo, ainda, com que ficassem afastados das bases e dos professores que
trabalhavam nas escolas privadas paulistanas, razão pela qual raramente conseguiam se
manifestar sobre os diversos problemas que perpetravam seus locais de trabalho naquele tempo
já distante.
O debate desses problemas, possivelmente, deveria ser capaz de aguçar a combatividade
de todos os militantes do SINPRO-SP, para os capacitar a enfrentar as dificuldades que se
apresentavam no curso do processo de organização sindical, num tempo histórico que cobrava
a busca pela unidade política e ideológica, orgânica e de ação pela redemocratização do país.
Os documentos sindicais que encontramos dispersos e reunimos, mostram preocupações
com a censura que se fazia à imprensa, questionamentos contra a vigência do ensino público
pago, às práticas de “rotatividade” de mão de obra que eram adotadas pelas empresas, críticas
161

aos decretos do poder executivo e à pouca participação do legislativo nas discussões que
interessavam ao país e à crescente presença da especulação financeira na vida econômica da
nação.
A questão central do trabalho sindical foi o combate à política salarial da ditadura que
precisava, então, ser conhecida, estudada e compreendida pelos professores que se aglutinavam
em torno das fileiras do SINPRO-SP. Mas os documentos localizados nos permitiram mostrar
a preocupação com a existência dos aparatos de repressão, a defesa da anistia ampla, geral e
irrestrita, a revogação da legislação de exceção, do AI-5, ou ainda a reivindicação da
convocação de uma assembleia nacional constituinte, por exemplo.
A análise dos documentos produzidos por aqueles que atuavam no SINPRO-SP
demonstra que os professores paulistanos não se furtaram de encarar a luta pela democracia
como sendo, ao mesmo tempo, a luta em defesa dos seus direitos corporativos e sociais, algo
que implica uma visão totalizadora da realidade social do país, levando-se em conta as múltiplas
variáveis que estavam presentes na complexa sociedade brasileira daqueles dias.
Nos meados da década de 1970, as transformações provocadas pelo desenvolvimento
do capitalismo de caráter monopolista, geravam uma situação na qual se combinavam,
dialeticamente, uma tendência à democratização com um caminho de agravamento da crise
econômica e social do país. Essa situação, particularmente, no que se refere à tendência
democratizante, como demonstram os documentos sindicais estudados, não pode ser
compreendida de forma absoluta e desconectada de retrocessos e impasses.
Por conta disso, caracterizamos esse como um período de transição, no qual tínhamos,
pelo menos, uma tendência à democratização do país, posta em marcha desde as eleições de
novembro de 1974, mas com retrocessos tragicamente identificados no Massacre da Lapa em
1976 e nos assassinatos de Vladimir Herzog em 1975, Fiel Filho em 1976 e Nelson Pereira de
Jesus em 1978, perpetrados pelo Estado capitalista, alçado à condição de garantidor da ordem
e dos interesses dos proprietários dos meios de produção.
Cerca de cem professores compareceram ontem à Câmara Municipal de São
Paulo para participar de um ato público em favor das liberdades sindicais. A
manifestação, organizada por integrantes da chapa 2 (oposição) para as
eleições do Sindicato dos Professores de São Paulo, recebeu apoio de diversas
entidades e sindicatos do Estado. Os oradores fizeram críticas à estrutura
sindical vigente no País, ao Ministério do Trabalho, ao regime militar, às
eleições indiretas para presidente e à legislação que proíbe a greve em diversas
categorias trabalhistas. O assassinato do operário Nelson Pereira de Jesus foi
lembrado por todos os integrantes da mesa e fez-se uma coleta de fundos para
apoiar o movimento grevista dos operários da Metalúrgica Alfa. (Folha de
São Paulo, 22/10/1978, Anexo 58).
162

Logo, quando falamos que estávamos num período de transição, não procuramos
entendê-lo linear e desprovido de processualidade. Ainda mais se nos atentarmos para o fato de
que a sua direção, com pouquíssimas alterações, continuou nas mãos das mesmas forças que se
mantiveram durante todos aqueles anos do regime instalado pelo golpe de 1964.
A colheita documental do SINPRO-SP nos sinaliza que o regime não havia ainda
esgotado suas possibilidades de manobra, dispondo de todo um aparato “legal” e de
instrumentos coercitivos e repressivos, com os quais procurava manter sob o controle as
manifestações oposicionistas de toda ordem, políticas e sindicais.
Quando pensamos a transição, procuramos reconhecer que, manobrando e direcionando
a iniciativa política, o regime explicitado, através de ações governamentais, abarcava uma
enorme ambiguidade que caracterizou todo o período que estudamos. Combinando elementos
de uma etapa dita democrática com medidas e ações de caráter truculento, repressivo e
autoritário, os governos de então, sem jamais renunciar à essência do regime, vivenciaram um
complexo período de transição. Daí decorre a enorme instabilidade política pela qual passou o
país, marcado pela necessidade e instauração de um período de transição, mas sem um governo
que pudesse traduzir e legitimar tal aspiração.
No caso concreto da categoria de professores do ensino privado paulistano, os
documentos que localizamos e analisamos demonstram que o sindicato procurou atuar não
apenas no encaminhamento para as questões mais específicas, como a luta por melhores salários
e a garantia no emprego, mas também no sentido de contribuir para a formulação de uma
política educacional e cultural ampla e democrática para a conjuntura do país.
Para tanto, havia a clarividência de seus ativistas para a necessidade de um
aprofundamento e uma real inserção sindical na realidade da categoria, com o intuito de
conhecer melhor os seus problemas, e visando definir a política do sindicato para os professores
e para as questões da educação.
Pelos documentos que encontramos e pudemos analisar, havia uma parcela dos
professores que atuava no interior das fileiras do SINPRO-SP e que estava ciente de que os
fundamentos antidemocráticos e antinacionais do processo de instauração do capitalismo
monopolista à ampla maioria da população pelo regime ditatorial, manifestava-se sobremaneira
sob a forma de uma perversa e profunda exclusão dos “setores da sociedade” de quaisquer
benefícios sociais.
Como consequência direta desse quadro, a qualidade de vida dos trabalhadores sofreu
vertiginoso declínio, ao mesmo tempo em que se assistiu ao enriquecimento de uma parcela
163

ínfima da população e o aumento da influência dos monopólios no aparelho do Estado e a


ampliação do aparato repressivo ditatorial civil-militar.
Passados alguns anos, parece ter ficado para os analistas daquele período que, da mesma
forma em que rebaixou a qualidade do atendimento médico, negligenciou por completo a
questão do saneamento básico e se furtou de apresentar qualquer proposta pela problemática da
moradia popular e da reforma agrária, a política do regime fez cair a níveis muito baixos todo
o sistema educacional do país, a tal ponto que os professores, mesmo em condições adversas,
denunciaram a profunda crise no ensino, até então, sem paralelo, na história da educação
brasileira.
Esse período da história foi marcado pela ausência de uma política governamental de
atender as necessidades básicas da população, como as de superação do analfabetismo, escolas
em número suficiente, recursos para o ensino e a pesquisa, garantias de gratuidade do ensino,
democratização da universidade e da sociedade brasileiras.
Para os professores que atuavam na base do SINPRO-SP nos fins da década de 1970, a
situação da educação no Brasil se caracterizava, acima de tudo, pelo seu caráter
antidemocrático, excludente e marginalizador, sendo que a sua essência se mostrava de forma
a lapidar na intensa privatização que se fez no ensino por aqueles dias.
De fato, não é de hoje que, no ensino privado paulistano, coexistem escolas de todas as
ordens e graus; temos escolas infantis, de ensino fundamental, de ensino médio e instituições
de ensino superior (faculdades isoladas, centros universitários e universidades), sendo que estas
se subdividem ainda em filantrópicas, confessionais, comunitárias e aquelas claramente
voltadas para a obtenção do lucro e a compreensão do ensino como uma mercadoria.
O grande contingente de docentes se espalha por centenas de bairros, experimentando
situações empregatícias extremamente distintas e diversificadas, com expectativas e níveis de
mobilização não menos diferenciados e dispersos até mesmo no encaminhamento de suas
reivindicações salariais, normalmente, considerada a base para a unificação de qualquer
categoria profissional.
Basta lembrar, nesse aspecto, no que diz respeito ao ensino superior, como eram
distintas, nos meados dos anos 1970, as condições de vida, trabalho, relações acadêmicas,
políticas e culturais dos professores que lecionavam no interior de uma grande universidade
privada confessional, como é o caso da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
SP), em comparação com os seus colegas que atuavam nas incontáveis faculdades localizadas
nas periferias da cidade.
164

E foi em função desta realidade multifacetada e dinâmica da categoria, que os ativistas


do SINPRO-SP procuraram atuar junto aos professores paulistanos e ao seu movimento
associativo e representativo, num momento da história marcado por inúmeras dificuldades,
impasses políticos e ações repressivas estatais para aqueles que buscavam efetivar esse intento.
Por conta disso, pelo que pudemos apurar nos depoimentos orais e na massa documental
levantada, os professores que atuavam na base do SINPRO-SP, procuraram, partindo das
escolas, fortalecer a presença do sindicato nas unidades educacionais, valorizando-as e
procurando contribuir para a renovação democrática da sociedade, desenvolvendo, ao mesmo
tempo, uma ação unitária, unificadora e permanente junto à categoria, com o intuito de
fortalecer e consolidar sua entidade sindical, reconhecendo a sua diversidade e o seu caráter
extremamente heterógeno .
Tanto os documentos lançados pela oposição sindical, quanto aqueles que foram
produzidos e socializados pela direção do SINPRO-SP, em que pese suas enormes diferenças
políticas e ideológicas, sinalizavam a preocupação e o entendimento de que a questão
educacional deveria trazer, num sentido amplo, os alicerces para a formulação de uma política
consequente para o conjunto dos professores.
Nesse sentido, a compreensão política que tinham partia do pressuposto de que os
professores e sua vanguarda, enquanto intelectuais, se reconheciam e se afirmavam na luta por
uma educação democrática, crítica e, mesmo atuando nas fileiras do ensino privado, afirmavam
o seu compromisso na defesa do ensino público, gratuito e laico para todos.
Todavia, deixando de lado as possíveis comparações de concepções ideológicas e
políticas reinantes e em permanente disputa no interior do SINPRO-SP, as direções sindicais
que se seguiram ao longo dos anos, conferiram a necessária respeitabilidade social ao sindicato,
ainda nos marcos das conturbadas relações de classe que se colocaram em marcha a partir de
1964 no país.
Em termos mais gerais, podemos dizer que o estudo que realizamos demonstrou que foi
na luta contra a política educacional do regime ditatorial, pela valorização do papel social e do
trabalho do professor, pela democratização da escola e pela participação dos professores na
formulação de uma “nova” política educacional que os ativistas do SINPRO-SP vislumbraram
que poderiam encontrar os difíceis elementos de unificação da categoria e de seu movimento.
A gênese da história do SINPRO-SP o mantém aprisionado a um campo gravitacional
eivado de valores ideológicos contraditórios e em permanente disputa no interior de suas
fileiras; ora conservadores e reticentes quanto a constatação de que os seus representados fazem
165

parte do mundo do trabalho; ora enfrentando as dificuldades organizativas diante da


diversificada composição dos professores no que se refere a miríade de escolas particulares
paulistanas; ora apontando questionamentos as mazelas causadas pela crise econômica, o
desemprego e a recessão; ora procurando entender e saber como enfrentar a intensificação do
processo de monopolização das escolas particulares pelas empresas e corporações do capital;
ora apontando caminhos e posições compromissados com a democratização do país, mas que
tem a sua narrativa escrita pelas transformações que são geradas e se colocam em movimento
pela dinâmica da luta de classes que é própria da modernização conservadora que se operou na
da sociedade brasileira a partir da década de 1970.
Esse momento histórico por nós estudado exigiu enormes sacrifícios, tenacidade e muito
da capacidade de resistência, disposição de organização, política e sindical, da classe
trabalhadora no Brasil, levando-a a formular posicionamentos e a efetivar projetos de grande
envergadura e consciência política, em um enfrentamento direto da escalada da violência estatal
que marcou indelével e profundamente a nossa história social.
As políticas adotadas pelo SINPRO-SP, muitas vezes, estavam voltadas quase que
inteiramente ao atendimento dos propósitos corporativistas, como é o caso da defesa dos
salários e de melhores condições de trabalho. Essa situação também nos oportunizou
compreender as razões e o papel dos grupos ou frações, em franca e declarada oposição às
direções sindicais que tenderiam a manter-se por anos a fio a frente e no comando do sindicato.
Podemos inferir, então, que o SINPRO-SP se manteve, muitas vezes, como
representante de uma ínfima fração da classe trabalhadora, formada pelos professores
paulistanos, com uma conduta rotineira, burocratizada e interminável de defesa dos interesses
corporativos gradativamente institucionalizados na esfera do ensino privado multifacetado e
empresarial, monopólico e expansionista que se opera no Brasil, como o conhecemos, pelo
menos, desde os meados do século XX.
O que, no mundo do capital, não é pouca coisa, pois, traduz formas desiguais e
combinadas de resistência, que são próprias do mundo do trabalho, demonstrando que é
possível almejar o exercício qualitativo do labor educativo, assegurando condições dignas para
os seus profissionais e o registro do seu percurso na história da educação brasileira.
166

Diretas Já. Praça da Sé, 1984.


Foto: Arquivo Agência Estado. Disponível em http://es.estadaoconteudo.com.br. Acesso em 03 Jan. 2019.
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associação à emergência do sindicato. 2013. 258 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) -
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do Vale do Rio dos Sinos, Porto Alegre, RS, 2015.

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2009. 225 f. Tese (Doutorado em Educação) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas,
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177

3. FONTES PRIMÁRIAS

3.1. Fontes orais

3.1.1. Entrevistas

NAPOLITANO. Celso. Entrevista em áudio, em 28 mar. 2018.

3.1.2. Depoimentos

ALVES, Giovanni. Depoimento em vídeo. Central de Memórias – SINPRO-SP, 2017.


MILHOMEM, Gumercindo. Depoimento em vídeo. Central de Memórias – SINPRO-SP,
2017.
PETTA, Augusto. Depoimento em vídeo. Central de Memórias – SINPRO-SP, 2017.
MUGAYAR, Geraldo. Depoimento em vídeo. Central de Memórias – SINPRO-SP, 2018.
VARGAS NETTO, João Guilherme. Depoimento em vídeo. Central de Memórias –
SINPRO-SP, 2018.

3.2. Dados estatísticos

IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1964.


IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1965.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1966.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1967.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1968.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1969.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1970.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1971.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1972.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1973.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1974.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1975.
178

IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1976.


IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1977.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1978.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1979.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1980.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1981.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1982.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1983.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1984.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1985.

3.3. Legislação

BRASIL. Decreto nº 19.770 de 19 de março de 1931. Regula a sindicalização das classes


patronais e operárias e dá outras providências.

__________ . Lei nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação


Nacional.

__________ . Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964. Dispõe sobre a manutenção da


Constituição Federal de 1946 e as Constituições Estaduais e respectivas Emendas, com as
modificações introduzidas pelo Poder Constituinte originário da revolução Vitoriosa.

__________ . Lei nº 4.440 de 27 de outubro de 1964. Institui o Salário-Educação e dá outras


providências.

__________ . Decreto nº 4.464 de 9 de novembro de 1964. Dispõe sobre os Órgãos de


Representação dos Estudantes e dá outras providências.

__________ . Ato Institucional nº 2, de 27 de outubro de 1965. Mantem a Constituição Federal


de 1946, as Constituições Estaduais e respectivas Emendas, com as alterações introduzidas pelo
Poder Constituinte originário da Revolução de 31.03.1964, e dá outras providências.

__________ . Decreto nº 57.634 de 14 de janeiro de 1966. Suspende as atividades da União


Nacional dos Estudantes (UNE).

__________ . Ato Institucional nº 3, de 3 de fevereiro de 1966. Fixa datas para as eleições de


1966, dispõe sobre as eleições indiretas e nomeação de Prefeitos das Capitais dos Estados e dá
outras providências.

__________ . Decreto-Lei nº 53 de 18 de novembro de 1966. Fixa princípios e normas de


organização para as universidades federais e dá outras providências.
179

__________ . Ato Institucional nº 4, de 7 de dezembro de 1966. Convoca o Congresso Nacional


para se reunir extraordinariamente, de 12 de dezembro de 1966 a 24 de janeiro de 1967, para
discursão, votação e promulgação do projeto de Constituição apresentado pelo Presidente da
República, e dá outras providências.

__________ . Decreto-Lei nº 252, de 28 de fevereiro de 1967. Estabelece normas


complementares ao Decreto-Lei nº 53, de 18 de novembro de 1966, e dá outras providências.

__________ . Decreto-Lei nº 228 de 28 de fevereiro de 1967. Reformula a organização da


representação estudantil e dá outras providências.

__________ . Lei nº 5540 de 28 de novembro de 1968. Fixa normas de organização e


funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras
providências.

__________ . Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968. São mantidas a Constituição


de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições Estaduais; O Presidente da República poderá
decretar a intervenção nos estados e municípios, sem as limitações previstas na Constituição,
suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos
eletivos federais, estaduais e municipais, e dá outras providências.

__________ . Decreto-Lei nº 477 de 26 de fevereiro de 1969. Define infrações disciplinares


praticadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino
público ou particulares, e dá outras providências.

__________ . Lei nº 56972 de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de
1° e 2º graus, e dá outras providências.

3.4. Acervo de documentos

Todos os documentos abaixo relacionados, devidamente organizados em ordem


cronológica, estão disponíveis na íntegra em Anexos, no volume que segue anexado a este
trabalho.

Anexo Título Autor Data

1 Nós, Professores MOAP 1977

2 Nós, Professores MOAP ago/77

3 Circular SINPRO-SP nov/77


180

4 Circular nº3/78 SINPRO-SP 15/02/1978

5 Quadro Negro - Ano I - Nº 1 MOAP abr/78

Boletim Informativo do Jornal "Quadro Negro" - Ano I


6 MOAP mai/78
- Nº 1

7 Circular nº 001/JG/78 SINPRO-SP 01/06/1978

8 Propostas aprovadas Assembleia de 11/6/78 MOAP jun/78

9 Pontos de Consenso SINPRO-SP jun/78

Comissão de
10 3ª Assembleia dos Professores do Santa Inês 23/06/1978
Professores

11 Piso para salários de professores Folha de São Paulo 26/06/1978

12 Boletim do Jornal Quadro Negro MOAP jun/78

13 Carta - Colega Professor(a) SINPRO-SP 27/06/1978

14 Quadro Negro - Ano I - Nº 2 MOAP jun/78

15 Organização e Funcionamento do MOAP MOAP jul/78

16 Nós, Professores MOAP jul/78

17 Encontro Nacional dos Professores na SBPC SINPRO-SP jul/78

Professores do Santa Inês na Chapa Sindical de


18 MOAP jul/78
Oposição

19 Circular nº 002/JG/78 SINPRO-SP 27/07/1978

20 Quadro Negro - comunicado MOAP ago/78

21 Oposição Sindical dos professores faz reunião hoje Folha de São Paulo 06/08/1978

22 Oposição sindical lança chapa Folha de São Paulo 07/08/1978

23 Chapa de oposição define o programa A Gazeta 07/08/1978


181

24 Os professores estão protestando Jornal Última Hora 07/08/1978

25 Estatutos do SINPRO SINPRO-SP 05/08/1978

26 Quadro Negro - Ano I - Nº 3 MOAP ago/78

27 Quadro Negro - comunicado MOAP ago/78

28 Boletim Informativo Comando de Greve 23/08/1978

29 Nós, Professores MOAP 23/08/1978

30 Boletim Informativo Nº 4 Comando de Greve ago/78

31 Convocação aos Educadores das Escolas Particulares Comando de Greve ago/78

32 Jornal Folha de São Paulo - matérias Folha de São Paulo 02/09/1978

33 Professores da rede privada estudam aumento Folha de São Paulo 03/09/1978

34 Quadro Negro - Jornal MOAP set/78

35 Em dez dias, greve de professores particulares? Jornal da Tarde 04/09/1978

36 Lançada a Chapa Dois do Sinpro Folha de São Paulo 05/09/1978

37 DRT - Termo de Comparecimento DRT set/78

38 Quadro Negro - Boletim Informativo MOAP set/78

39 Oposição ao SINPRO vai recorrer da impugnação Folha de São Paulo 19/09/1978

40 Conselho Federal impugna a chapa vencedora do CRM Folha de São Paulo 20/09/1978

41 Professores discutem o Estatuto em assembleia Folha de São Paulo 24/09/1978

42 Comunicado aos Professores (1) SINPRO-SP set/78

43 Quadro Negro - Ano I - Edição Especial SINPRO-SP set/78


182

44 Quadro Negro - Ano I - Nº 4 SINPRO-SP set/78

45 A chapa de oposição foi impugnada. Questão política? Jornal da Tarde 06/10/1978

46 A oposição ao SINPRO denuncia pressão sofrida Folha de São Paulo 06/10/1978

47 Proposta Central Sindical Folha de São Paulo 08/10/1978

48 Eleição Sindical Folha de São Paulo 08/10/1978

49 Mais representantes no sindicato Folha de São Paulo 09/10/1978

50 Ontem foi aprovado o Estatuto Folha de São Paulo 11/10/1978

51 Boletim Nº 2 Chapa 2 11/10/1978

52 Organização dos mestres está no estágio incial Folha de São Paulo 15/10/1978

53 Quadro Negro - Chapa 2 - Oposição MOAP out/78

54 A oposição ao Sinpro quer realizar debate Folha de São Paulo 18/10/1978

55 Debates entre as chapas 1 e 2 dos professores Folha de São Paulo 19/10/1978

56 Para Chapa 1 é desnecessário o debate amanhã Folha de São Paulo 21/10/1978

57 A Chapa 2 suspeita de fraude nas eleições de amanhã Folha de São Paulo 15/10/1978

58 Professores protestam por liberdade sindical Folha de São Paulo 22/10/1978

59 Comunicado aos Professores Chapa 2 out/78

60 Comunicado aos Professores SINPRO-SP out/78

61 Comunicado aos Professores SINPRO-SP out/78

62 Professores vão eleger diretoria do Sindicato Folha de São Paulo 26/10/1978

63 Quórum garantido Diário de São Paulo 28/10/1978


183

64 Já há quórum para a eleição ter validade Folha de São Paulo 29/10/1978

65 Comunicado aos Professores SINPRO-SP out/78

66 Circular SINPRO-SP out/78

67 Comunicado aos Professores Chapa 2 out/78

68 Comunicado aos Professores SINPRO-SP dez/78

69 Ampliação da Colônia de Férias SINPRO-SP dez/78

70 Comunicado aos Professores SINPRO-SP 1978

71 MOAP - Proposta Chapa 2 - 1978

72 Edital de Convocação A Gazeta 08/01/1979

73 Quadro Negro - comunicado MOAP jan./79

74 Professores insistem nos 70% Folha de São Paulo 04/03/1979

75 Quadro Negro - Ano I - Nº 5 MOAP mar/79

76 Professores pedem 66,2% Folha de São Paulo 19/03/1979

77 Docentes apresentam suas reivindicações Folha de São Paulo 20/03/1979

Federações e
78 Acordo Salarial de 1979 21/03/1979
Sindicatos

79 Particulares terão nova reunião amanhã Folha de São Paulo 27/03/1979

80 Mais uma CONQUISTA do seu sindicato SINPRO-SP abr./79

81 Inflação, um mal que não atinge a todos Folha de São Paulo 08/04/1979

82 Particulares desejam uma complementação Folha de São Paulo 08/04/1979

83 TRT: ilegal a greve no Rio Folha de São Paulo 20/04/1979


184

84 Quadro Negro - comunicado MOAP abr./79

85 Boletim Informativo do MOAP SINPRO-SP abr./79

86 Porandubas - nº 20 PUC-SP mai./79

87 APROPUC Debate - nº 3 APROPUC mai./79

88 Versus - especial Versus abr./79

A atual Campanha Salarial Unificada chegou a uma


89 SINPRO-SP 09/05/1979
fase crítica

90 Comunicado aos Professores da rede particular MOAP mai./79

91 Ementa - Abaixo-assinado para requerer Assembleia MOAP 18/05/1979

92 Quadro Negro - comunicado MOAP mai./79

93 Comunicado aos Professores SINPRO-SP 23/05/1979

94 Todos ao 1º Encontro Nacional de Professores APEOESP, SEP-RJ jun./79

95 Novos Rumos - Ano 1 - Nº 2 SINPRO-SP jun./79

Democratização do Sindicato dos Professores de São


96 MOAP jun./79
Paulo

97 Não autorização SINPRO-SP 1979

98 Rumo à entidade única e democrática do professorado MOAP, APEOESP 19/06/1979

Aos professores da rede particular de ensino de São


99 SINPRO-SP jun./79
Paulo

100 APROPUC Informa - nº 6 APROPUC, PUC-SP ago./79

101 1º Encontro Nacional de Professores APEOESP 07/07/1979

102 Novos Rumos SINPRO-SP 1979

103 Encontro Metropolitano - Professores - rede particular MOAP 16/09/1979


185

104 Sobre o Ante-Projeto da CLT MOAP 04/09/1979

105 Anteprojeto da CLT criticado por docentes Folha de São Paulo 15/09/1979

Resolução do Encontro Metropolitano de Profs. da


106 MOAP set/79
Rede Particular
Conclamação ao Debate sobre a Unificação Sindical
107 Diversos set/79
dos Professores

108 Novos Rumos - Ano 1 - Nº 3 SINPRO-SP out/79

109 O domínio do ensino superior particular Folha de São Paulo 08/11/1979

110 Jornal de Campanha - nº1 SINPRO-SP nov./79

Federações e
111 Acordo Salarial de 1980 27/02/1980
Sindicatos

112 A sociedade brasileira está dividida em duas classes CBB - Belém-PA fev./80

113 Novos Rumos - Ano 1 - Nº 4 SINPRO-SP fev./80

114 Novos Rumos - Ano 1 - Nº 5 SINPRO-SP jun./80

115 Boletim Nacional das Associações de Docentes Nº 4 ENExAD jul./80

Sindicato dos
116 Folha Bancária - Edição Extra Nº 3 jul./80
Bancários
Sindicato dos
117 Suplemento Diário da Folha Bancária - Nº 50 11/09/1980
Bancários
Direção Supletivo
118 Esclarecimento 18/08/1980
Santa Inês
Sindicato dos
119 Chapa 2 - Oposição - Nº 4 ago./80
Metalúrgicos PR

120 Nadir Kfouri vence eleições na PUC Folha de São Paulo 28/08/1980

121 Contribuição Para a Unidade dos Trabalhadores Unidade Sindical ago./80

122 Novos Rumos - Ano 1 - Nº 6 SINPRO-SP set/80

123 Docentes discutem em Brasília greve geral de três dias Folha de São Paulo 02/09/1980
186

124 Greve de docentes já decidida por vinte universidades Folha de São Paulo 03/09/1980

O Estado de São
125 Professores lamentam situação e vão á greve 04/09/1980
Paulo
O Estado de São
126 Universidades enfrentam agora a sua maior crise 05/09/1980
Paulo

127 Crescem as diferenças salariais de docentes Folha de São Paulo 07/09/1980

Oposição
128 Propostas para o ENTOES-SP set/80
Metalúrgica SP

129 Teses para o ENTOES Aeroviários set/80

130 Propostas para o ENTOES-SP (2) Diversos set/80

131 ENTOES-SP - Resumo ENTOES-SP 10/09/1980

132 ENTOES - Convocatória ENTOES ago./80

133 Resoluções - I ENTOES - Pará ENTOES abr./80

O Estado de São
134 Professores insistem nos 48% 10/09/1980
Paulo

135 UNE afirma que 900 mil alunos aderiram à greve Folha de São Paulo 11/09/1980

O Estado de São
136 Educação ameaçada de ficar como está 14/09/1980
Paulo

137 Termina em Nova Iguaçu o Encontro de Trabalhadores Jornal O Globo 15/09/1980

138 Docentes querem rever o sistema de atualização Folha de São Paulo 18/09/1980

139 Docentes param na Medicina ABC Folha de São Paulo 19/09/1980

140 Os professores de Campinas repudiam atos de sindicato Folha de São Paulo 30/10/1980

O Estado de São
141 Morre Piaget, um educador do século XX 17/09/1980
Paulo

142 Natanael explica projeto e docentes criticam Folha de São Paulo 02/11/1980

DCI - Edital de Convocação - Assembleia geral


143 DCI 19/12/1980
extraordinária
187

144 Docentes denunciam assembleia-fantasma Folha de São Paulo 24/12/1980

145 Sinpro deverá responder hoje à impugnação Folha de São Paulo 20/01/1981

146 Boletim da ADPUC Diretoria da ADPUC 22/01/1981

Proposta para uma entidade nacional de docentes


147 ADUFRGS jan./81
universitários

148 Constituir as bases da Entidade Nacional ADUFPb CG jan./81

Aldo Rebelo,
149 Comunicado Conjunto 29/01/1981
Hermes Zaneti

150 O parecer sobre a reunião do Sinpro já está em Brasília Folha de São Paulo 08/02/1981

151 Manifesto aos Colegas Universitários UNATE 17/02/1981

152 Congresso Nacional de Docentes Universitários - CNAD fev./81

153 Carta ao Delegado Regional do Trabalho FETEE-SP fev./81

154 Aumento dos professores vai a dissídio coletivo Folha de São Paulo 24/02/1981

155 Homologado o acordo salarial SINPRO-SP mar/81

156 Reajuste - Março 1981 SINPRO-SP mar/81

157 Novos Rumos - Edição Especial SINPRO-SP mar/81

158 Oposição do Sinpro faz reunião hoje Folha de São Paulo 07/03/1981

159 Quadro Negro - comunicado MOAP 07/03/1981

160 A oposição do Sinpro irá ao dissídio no TRT Folha de São Paulo 09/03/1981

161 Particulares assinam o acordo salarial de 81 Folha de São Paulo 13/03/1981

162 Oposição do Sinpro quer Assembleia Folha de São Paulo 22/03/1981

163 Acordo Salarial de 1981 FETEE-SP 12/03/1981


188

164 Comunicado à imprensa - dissídio coletivo Chapa 2 29/03/1981

165 TRT julga hoje dissídio coletivo Folha de São Paulo 31/03/1981

166 Convite aos Professores de São Paulo APROPUC mar/81

167 Docentes promovem paralisação hoje Folha de São Paulo 23/04/1981

168 Coordenadores criarão entidade profissional Folha de São Paulo 26/04/1981

169 Novos Rumos - Edição Especial SINPRO-SP mai./81

170 Comunicado Chapa 2 12/07/1981

171 Novos Rumos - Edição Especial (3) SINPRO-SP ago./81

Encontro Regional Professores Universitários da Rede


172 APROPUC 25/08/1981
Particular

173 APROPUC Debate - nº 8 APROPUC, PUC-SP set/81

Programa da Chapa 2 do Sindicato dos Professores de


174 Chapa 2 set/81
São Paulo

175 Leopoldino não aceita debate com a oposição Folha de São Paulo 11/09/1981

176 CHAPA 1 (Realizações e Luta) PROGRAMA Diretoria - Chapa 1 set/81

Democratização do Sindicato - Campanha de


177 Chapa 2 set/81
Sindicalização

178 Vote Chapa 2 Chapa 2 set/81

179 Avaliação da chapa 2 sobre as eleições no SINPRO-SP Chapa 2 out/81

180 Circular - Setembro 81 SINPRO-SP set/81

181 Campanha Salarial 1982 MOAP 1982

182 Novos Rumos - Fevereiro/Março 1982 SINPRO-SP fev./82

183 Tabela de cálculo – Acordo Salarial SINPRO-SP mar./82


189

184 Novos Rumos - Abril/Maio 1982 SINPRO-SP abr./82

185 Novos Rumos - Julho/Agosto 1982 SINPRO-SP jul./82

186 Novos Rumos - Setembro/Outubro 1982 SINPRO-SP set/82

187 Novos Rumos - Nº 1 - 1983 SINPRO-SP abr./83

188 Novos Rumos - Nº 2 - 1983 SINPRO-SP jul./83

189 Novos Rumos - Nº 3 - 1983 SINPRO-SP set/83

190 Novos Rumos - Nº 4 - 1983 SINPRO-SP nov./83

191 Novos Rumos - Nº 1 - 1984 SINPRO-SP mar/84

192 Novos Rumos - Nº 2 - 1984 SINPRO-SP set/84

193 Novos Rumos - Nº 1 - 1985 SINPRO-SP abr./85

194 Novos Rumos - Edição Especial SINPRO-SP nov./85

195 Novos Rumos - Nº 2 - 1985 SINPRO-SP nov./85

196 Novos Rumos - Nº 3 - 1985 SINPRO-SP dez/85


190

Posse de João Figueiredo, 1979.


Foto: Arquivo Agência Estado. Disponível em http://es.estadaoconteudo.com.br. Acesso em 28 Dez. 2018.
UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

HÉLIDA LANÇA

História do Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO-SP) em tempos de conflitos


sociais e expansão do ensino privado (1975-1985)

ANEXOS

São Paulo
2019
HÉLIDA LANÇA

História do Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO-SP) em tempos de conflitos


sociais e expansão do ensino privado (1975-1985)

Tese apresentada como requisito parcial para a


obtenção do título de Doutor em Educação, junto ao
Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da
Universidade Nove de Julho (UNINOVE), sob a
orientação do Prof. Dr. Carlos Bauer.

São Paulo
2019
SUMÁRIO - ANEXOS

ANEXO 01 - Boletim do Movimento de Oposição Aberto dos Professores – 1977 .......................... 206
ANEXO 02 - Jornal do Movimento de Oposição Aberto dos Professores – Ago/1977...................... 210
ANEXO 03 - Circular SINPRO-SP - Nov/1977 ............................................................................... 215
ANEXO 04 - Circular SINPRO-SP sobre Protocolo Salarial de 1978............................................... 219
ANEXO 05 - Quadro Negro - Ano I - Nº 1 – Abr/1978.................................................................... 221
ANEXO 06 - Boletim Informativo do Jornal "Quadro Negro" - Ano I - Nº 1 ................................... 225
ANEXO 07 - Circular nº 001/JG/78 ................................................................................................ 226
ANEXO 08 - Propostas aprovadas para a Plataforma na Assembleia de 11/6/78 .............................. 227
ANEXO 09 - Pontos de consenso referentes às propostas aprovadas SINPRO-SP ............................ 229
ANEXO 10 - 3ª Assembleia dos Professores do Santa Inês – 23/06/1978......................................... 230
ANEXO 11 – Folha de São Paulo – 26/06/1978 .............................................................................. 235
ANEXO 12 – Boletim do Jornal Quadro Negro - Jun/78.................................................................. 236
ANEXO 13 – Carta – Colega Professor – 27/06/1978 ...................................................................... 238
ANEXO 14 – Quadro Negro – Jun/1978 ......................................................................................... 241
ANEXO 15 – Comunicado Do MOAP – Jul/1978 ........................................................................... 245
ANEXO 16 – Jornal do MOAP -0 Jul/1978 ..................................................................................... 246
ANEXO 17 – Informativo sobre o Encontro Nacional dos Professores na SBPC.............................. 256
ANEXO 18 - Professores do Santa Inês na Chapa Sindical de Oposição – 1978............................... 258
ANEXO 19 - Circular nº 002/JG/78 ................................................................................................ 259
ANEXO 20 - Comunicado informando sobre a fusão do SINPRO – 1978........................................ 260
ANEXO 21 – Folha De São Paulo – 06/08/1978.............................................................................. 261
ANEXO 22 – Folha De São Paulo – 07/08/1978.............................................................................. 262
ANEXO 23 – A Gazeta – 07/08/1978.............................................................................................. 263
ANEXO 24 – Jornal A Última Hora – 07/08/1978 ........................................................................... 264
ANEXO 25 – Estatuto do SINPRO-SP – 1978 ................................................................................ 265
ANEXO 26 – Jornal Quadro Negro - Ano I - Nº 3 – Ago/1978 ........................................................ 295
ANEXO 27 – Comunicado Quadro Negro – Ago/1978 .................................................................... 299
ANEXO 28 – Informativo Comando Geral da Greve dos Professores – Ago/1978 ........................... 302
ANEXO 29 – Jornal do MOAP – Ago/1978 .................................................................................... 304
ANEXO 30 – Boletim Informativo Nº. Comando Geral da Greve .................................................... 307
ANEXO 31 - Convocação aos Educadores das Escolas Particulares – Ago/1978 ............................. 309
ANEXO 32 – Folha de São Paulo – 02/09/1978 .............................................................................. 310
ANEXO 33 – Folha De São Paulo – 03/09/1978.............................................................................. 312
ANEXO 34- - Informativo Quadro Negro – Set/1978 ...................................................................... 313
ANEXO 35 – Jornal da Tarde – 04/09/1978 .................................................................................... 314
ANEXO 36 – Folha De São Paulo – 05/09/1978.............................................................................. 315
ANEXO 37 – DRT - Termo de Comparecimento ............................................................................ 316
ANEXO 38 – Boletim Informativo Quadro Negro – Set/1978 ......................................................... 318
ANEXO 39 – Folha de São Paulo – 19/09/1978 .............................................................................. 320
ANEXO 40 – Folha de São Paulo – 20/09/1978 .............................................................................. 321
ANEXO 41 – Folha de São Paulo – 24/09/1978 .............................................................................. 322
ANEXO 42 – Comunicado aos Professores – Chapa 1 – Set/1978 ................................................... 323
ANEXO 43 - Quadro Negro - Ano I - Edição Especial .................................................................... 327
ANEXO 44 - Quadro Negro - Ano I - Nº 4 ...................................................................................... 330
ANEXO 45 – Jornal da Tarde – 06/10/1978 .................................................................................... 334
ANEXO 46 – Folha de São Paulo – 06/10/1978 .............................................................................. 335
ANEXO 47 – Folha de São Paulo – 08/10/1978 .............................................................................. 336
ANEXO 48 – Folha de São Paulo – 08/10/1978 .............................................................................. 337
ANEXO 49 – Folha de São Paulo – 09/10/1978 .............................................................................. 338
ANEXO 50 – Folha de São Paulo – 11/10/1978 .............................................................................. 339
ANEXO 51 – Boletim Nº. 02 – Chapa 2 .......................................................................................... 342
ANEXO 52 – Folha de São Paulo – 15/10/1978 .............................................................................. 344
ANEXO 53 – Informativo Quadro Negro – Out/1978 ...................................................................... 346
ANEXO 54 – Folha de São Paulo – 18/10/1978 .............................................................................. 347
ANEXO 55 – Folha de São Paulo – 1910/1978................................................................................ 348
ANEXO 56 – Folha de São Paulo – 2110/1978................................................................................ 349
ANEXO 57 – Folha de São Paulo – 2510/1978................................................................................ 350
ANEXO 58 – Folha de São Paulo – 2210/1978................................................................................ 351
ANEXO 59 – Comunicado Chapa 2 Out/1978 ................................................................................. 352
ANEXO 60 - Informe sobre as eleições do SINPRO-SP .................................................................. 353
ANEXO 61 - Informe sobre a Chapa 1 ............................................................................................ 354
ANEXO 62 – Folha de São Paulo – 2610/1978................................................................................ 355
ANEXO 63 - Diário de São Paulo – 28/10/1978 .............................................................................. 357
ANEXO 64 – Folha de São Paulo – 2910/1978................................................................................ 358
ANEXO 65 - Comunicado sobre acordo salarial e reajuste .............................................................. 359
ANEXO 66 - Circular sobre protocolo de reajuste salarial ............................................................... 360
ANEXO 67 – Comunicado aos Professores ..................................................................................... 361
ANEXO 68 - Informe sobre serviços prestados pelo SINPRO-SP – Dez/1978 ................................. 362
ANEXO 69 - Comunicado sobre a Colônia de Férias do SINPRO-SP – Dez/1978 ........................... 363
ANEXO 70 – Comunicado aos Professores ..................................................................................... 364
ANEXO 71 – Propostas da Chapa 2 – 1978 ..................................................................................... 367
ANEXO 72 – A Gazeta – 08/01/1979.............................................................................................. 369
ANEXO 73 – Comunicado Quadro Negro – Jan/1979 ..................................................................... 370
ANEXO 74 – Folha de São Paulo – 04/03/1979 .............................................................................. 372
ANEXO 75 - Quadro Negro - Ano I - Nº 5 ...................................................................................... 373
ANEXO 76 – Folha de São Paulo 19/03/1979 ................................................................................. 377
ANEXO 77 – Folha de São Paulo 20/03/1979 ................................................................................. 378
ANEXO 78 – Acordo Salarial – 1979.............................................................................................. 379
ANEXO 79 – Folha de São Paulo – 27/03/1979 .............................................................................. 381
ANEXO 80 – Comunicado aos Professores ..................................................................................... 382
ANEXO 81 – Folha de São Paulo – 08/04/1979 .............................................................................. 389
ANEXO 82 - Folha de São Paulo – 08/04/1979 ............................................................................... 391
ANEXO 83 - Folha de São Paulo – 20/04/1979 ............................................................................... 392
ANEXO 84 – Comunicado Quadro Negro ....................................................................................... 393
ANEXO 85 – Boletim Informativo MOAP ...................................................................................... 395
ANEXO 86 – Porandubas Extra – Mai/1979.................................................................................... 397
ANEXO 87 – APROPUC Debate nº. 8 – Mai/1979 ......................................................................... 405
ANEXO 88 – Versus – Abr/1979 .................................................................................................... 412
ANEXO 89 – Comunicado aos Professores – Mai/1979 .................................................................. 419
ANEXO 90 – Comunicado MOAP – Mai/1979 ............................................................................... 423
ANEXO 91 – Ementa abaixo-assinado ............................................................................................ 424
ANEXO 92 – Comunicado Quadro Negro ....................................................................................... 425
ANEXO 93 – Comunicado aos Professores – 23/05/1979 ................................................................ 427
ANEXO 94 – Todos ao Primeiro Encontro Nacional de Professores ................................................ 428
ANEXO 95 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 2...................................................................................... 429
ANEXO 96 – Comunicado aos Professores – Jun/1979 ................................................................... 435
ANEXO 97 – Não autorização – Taxa Sindical ............................................................................... 438
ANEXO 98 – Rumo à entidade única e democrática ........................................................................ 439
ANEXO 99 - Convite - Comitê dos professores pela libertação dos presos de Itamaracá .................. 441
ANEXO 100 – APROPUC Informa nº. 06 ....................................................................................... 442
ANEXO 101 - 1º Encontro Nacional de Professores - Reunião Preparatória - Boletim nº 1 .............. 448
ANEXO 102 - Novos Rumos – Suplemento Especial ...................................................................... 450
ANEXO 103 - Encontro Metropolitano - Professores - rede particular ............................................. 453
ANEXO 104 – Sobre o Ante-Projeto da CLT – Set/1979 ................................................................. 455
ANEXO 105 – Folha de São Paulo – 15/09/1979............................................................................. 458
ANEXO 106 - Resolução do Encontro Metropolitano de Professores da Rede Particular ................. 459
ANEXO 107 – Debate sobre Unificação Sindical dos Professores ................................................... 461
ANEXO 108 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 3.................................................................................... 463
ANEXO 109 – Folha de São Paulo – 08/11/1979............................................................................. 471
ANEXO 110 – Jornal de Campanha Salarial – Nov/1979 ................................................................ 473
ANEXO 111 – Acordo Salarial 1980 ............................................................................................... 477
ANEXO 112 – Texto da CBB - Comissão dos Bairros de Belém-PA ............................................... 479
ANEXO 113 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 4.................................................................................... 483
ANEXO 114 – Novos Rumos - Ano 1 - Nº 5 ................................................................................... 491
ANEXO 115 - Boletim Nacional das Associações de Docentes Nº 4................................................ 499
ANEXO 116 – Folha Bancária – Jun/1980 ...................................................................................... 507
ANEXO 117 – Suplemento Diário da Folha Bancária – 11/09/1980 ................................................ 510
ANEXO 118 - Esclarecimentos - Escola Santa Inês ......................................................................... 511
ANEXO 119 – Folha de São Paulo – 22/08/1980............................................................................. 512
ANEXO 120 - Texto resultado do I Congresso Nacional dos Profissionais de Educação .................. 514
ANEXO 121 – Texto da Unidade Sindical....................................................................................... 516
ANEXO 122 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 6.................................................................................... 520
ANEXO 123 – Folha de São Paulo – 02/09/1980............................................................................. 528
ANEXO 124 – Folha de São Paulo – 03/09/1980............................................................................. 529
ANEXO 125 – O Estado de São Paulo – 04/09/1980 ....................................................................... 530
ANEXO 126 – O Estado de São Paulo – 05/09/1980 ....................................................................... 531
ANEXO 127 – Folha de São Paulo – 07/09/1980............................................................................. 532
ANEXO 128 – Propostas para o ENTOES - Metalúrgicos ............................................................... 533
ANEXO 129 – Teses para o ENTOES – Aeroviários ....................................................................... 535
ANEXO 130 – Propostas para o ENTOES....................................................................................... 537
ANEXO 131 – Resumo dos Trabalhos - ENTOES........................................................................... 540
ANEXO 132 – ENTOES - Convocatória ......................................................................................... 544
ANEXO 133 - Resoluções - I ENTOES – Pará ................................................................................ 547
ANEXO 134 – O Estado de São Paulo – 10/09/1980 ....................................................................... 551
ANEXO 135 – Folha de São Paulo – 11/09/1980............................................................................. 552
ANEXO 136 – O Estado de São Paulo – 14/09/1980 ....................................................................... 553
ANEXO 137 – Jornal O Globo – 15/09/1980................................................................................... 555
ANEXO 138 – Folha de São Paulo – 18/09/1980............................................................................. 556
ANEXO 139 – Folha de São Paulo – 19/09/1980............................................................................. 557
ANEXO 140 – Folha de São Paulo – 30/101980.............................................................................. 558
ANEXO 141 – O Estado de São Paulo – 17/09/1980 ....................................................................... 559
ANEXO 142 – Folha de São Paulo – 02/11/1980............................................................................. 560
ANEXO 143 – Edital De Convocação – DCI 19/12/1980 ................................................................ 562
ANEXO 144 – Folha de São Paulo – 24/12/1980............................................................................. 563
ANEXO 145 – Folha de São Paulo – 20/01/1981............................................................................. 564
ANEXO 146 – Boletim da ADPUC – 22/01/1981 ........................................................................... 565
ANEXO 147 – Proposta de entidade nacional – ADUFRGS - 1981 ................................................. 569
ANEXO 148 – Construir as bases da entidade nacional – ADUFPB - 1981...................................... 571
ANEXO 149 - Carta conjunta da UNE e CPB sobre o movimento sindical dos professores.............. 574
ANEXO 150 – Folha De São Paulo – 08/02/1981............................................................................ 575
ANEXO 151 – Fundação da UNATE .............................................................................................. 576
ANEXO 152 – Congresso Nacional de Docentes Universitários - 1981 ........................................... 577
ANEXO 153 – Carta da Federação ao Delegado Regional do Trabalho ........................................... 580
ANEXO 154 – Folha de São Paulo – 24/02/1981............................................................................. 587
ANEXO 155 – Acordo Salarial – Março 1981 ................................................................................. 588
ANEXO 156 – Comunicado sobre o reajuste ................................................................................... 589
ANEXO 157 – Novos Rumos – Edição Especial ............................................................................. 590
ANEXO 158 – Folha de São Paulo – 07/03/1981............................................................................. 594
ANEXO 159 – Comunicado Quadro Negro ..................................................................................... 595
ANEXO 160 – Folha de São Paulo – 09/03/1981............................................................................. 597
ANEXO 161 – Folha de São Paulo – 13/03/1981............................................................................. 598
ANEXO 162 – Folha de São Paulo – 22/03/1981............................................................................. 599
ANEXO 163 – Acordo Salarial 1981 ............................................................................................... 600
ANEXO 164 – Comunicado à imprensa – 29/03/1981 ..................................................................... 605
ANEXO 165 – Folha de São Paulo – 31/03/1981............................................................................. 607
ANEXO 166 – Convite aos professores ........................................................................................... 608
ANEXO 167 – Folha de São Paulo – 23/04/1981............................................................................. 610
ANEXO 168 – Folha de São Paulo – 26/04/1981............................................................................. 611
ANEXO 169 – Novos Rumos – Edição Especial – Mai/1981........................................................... 612
ANEXO 170 – Criação da Chapa de Oposição ................................................................................ 616
ANEXO 171 – Novos Rumos – Edição Especial – Ago/1981 .......................................................... 617
ANEXO 172 - Encontro Regional de Professores Universitários da Rede Particular - SP ................. 621
ANEXO 173 – APROPUC Debate Nº. 8 ......................................................................................... 625
ANEXO 174 – Programa da Chapa 2 – SINPRO-SP 1981 ............................................................... 632
ANEXO 175 – Folha de São Paulo – 11/09/1981............................................................................. 635
ANEXO 176 – Chapa 1 – Programa - 1981 ..................................................................................... 636
ANEXO 177 – Chapa 2 – Campanha de Sindicalização ................................................................... 641
ANEXO 178 – Chapa 2 – Material de Campanha ............................................................................ 645
ANEXO 179 – Chapa 2 – Avaliação das Eleições ........................................................................... 651
ANEXO 180 – Circular – Set/1981 ................................................................................................. 655
ANEXO 181 – Campanha Salaria 1982 ........................................................................................... 656
ANEXO 182 – Novos Rumos – Fev-Mar/1982................................................................................ 658
ANEXO 183 – Tabela de Cálculo - Acordo Salarial ....................................................................... 665
ANEXO 184 – Novos Rumos – Abr-Mai/1982................................................................................ 666
ANEXO 185 – Novos Rumos – Jul-Ago/1982 ................................................................................. 674
ANEXO 186 – Novos Rumos – Set-Out/1982 ................................................................................. 682
ANEXO 187 – Novos Rumos - Nº 1 - 1983 ..................................................................................... 689
ANEXO 188 - Novos Rumos - Nº 2 - 1983 ..................................................................................... 696
ANEXO 189 - Novos Rumos - Nº 3 - 1983 ..................................................................................... 704
ANEXO 190 - Novos Rumos - Nº 4 - 1983 ..................................................................................... 711
ANEXO 191 – Novos Rumos - Nº 1 - 1984 ..................................................................................... 719
ANEXO 192 – Novos Rumos - Nº 2 - 1984 ..................................................................................... 731
ANEXO 193 – Novos Rumos - Nº 1 - 1985 ..................................................................................... 741
ANEXO 194 – Novos Rumos – Edição Especial ............................................................................. 748
ANEXO 195 – Novos Rumos - Nº 2 - 1985 ..................................................................................... 750
ANEXO 196 – Novos Rumos - Nº 3 - 1985 ..................................................................................... 756
ANEXO 197- Entrevista com Celso Napolitano .............................................................................. 757
206

ANEXO 01 - Boletim do Movimento de Oposição Aberto dos Professores – 1977


207
208
209
210

ANEXO 02 - Jornal do Movimento de Oposição Aberto dos Professores – Ago/1977


211
212
213
214
215

ANEXO 03 - Circular SINPRO-SP - Nov/1977


216
217
218
219

ANEXO 04 - Circular SINPRO-SP sobre Protocolo Salarial de 1978


220
221

ANEXO 05 - Quadro Negro - Ano I - Nº 1 – Abr/1978


222
223
224
225

ANEXO 06 - Boletim Informativo do Jornal "Quadro Negro" - Ano I - Nº 1


226

ANEXO 07 - Circular nº 001/JG/78


227

ANEXO 08 - Propostas aprovadas para a Plataforma na Assembleia de 11/6/78


228
229

ANEXO 09 - Pontos de consenso referentes às propostas aprovadas SINPRO-SP


230

ANEXO 10 - 3ª Assembleia dos Professores do Santa Inês – 23/06/1978


231
232
233
234
235

ANEXO 11 – Folha de São Paulo – 26/06/1978


236

ANEXO 12 – Boletim do Jornal Quadro Negro - Jun/78


237
238

ANEXO 13 – Carta – Colega Professor – 27/06/1978


239
240
241

ANEXO 14 – Quadro Negro – Jun/1978


242
243
244
245

ANEXO 15 – Comunicado Do MOAP – Jul/1978


246

ANEXO 16 – Jornal do MOAP -0 Jul/1978


247
248
249
250
251
252
253
254
255
256

ANEXO 17 – Informativo sobre o Encontro Nacional dos Professores na SBPC


257
258

ANEXO 18 - Professores do Santa Inês na Chapa Sindical de Oposição – 1978


259

ANEXO 19 - Circular nº 002/JG/78


260

ANEXO 20 - Comunicado informando sobre a fusão do SINPRO – 1978


261

ANEXO 21 – Folha De São Paulo – 06/08/1978


262

ANEXO 22 – Folha De São Paulo – 07/08/1978


263

ANEXO 23 – A Gazeta – 07/08/1978


264

ANEXO 24 – Jornal A Última Hora – 07/08/1978


265

ANEXO 25 – Estatuto do SINPRO-SP – 1978


266
267
268
269
270
271
272
273
274
275
276
277
278
279
280
281
282
283
284
285
286
287
288
289
290
291
292
293
294
295

ANEXO 26 – Jornal Quadro Negro - Ano I - Nº 3 – Ago/1978


296
297
298
299

ANEXO 27 – Comunicado Quadro Negro – Ago/1978


300
301
302

ANEXO 28 – Informativo Comando Geral da Greve dos Professores – Ago/1978


303
304

ANEXO 29 – Jornal do MOAP – Ago/1978


305
306
307

ANEXO 30 – Boletim Informativo Nº. Comando Geral da Greve


308
309

ANEXO 31 - Convocação aos Educadores das Escolas Particulares – Ago/1978


310

ANEXO 32 – Folha de São Paulo – 02/09/1978


311
312

ANEXO 33 – Folha De São Paulo – 03/09/1978


313

ANEXO 34- - Informativo Quadro Negro – Set/1978


314

ANEXO 35 – Jornal da Tarde – 04/09/1978


315

ANEXO 36 – Folha De São Paulo – 05/09/1978


316

ANEXO 37 – DRT - Termo de Comparecimento


317
318

ANEXO 38 – Boletim Informativo Quadro Negro – Set/1978


319
320

ANEXO 39 – Folha de São Paulo – 19/09/1978


321

ANEXO 40 – Folha de São Paulo – 20/09/1978


322

ANEXO 41 – Folha de São Paulo – 24/09/1978


323

ANEXO 42 – Comunicado aos Professores – Chapa 1 – Set/1978


324
325
326
327

ANEXO 43 - Quadro Negro - Ano I - Edição Especial


328
329
330

ANEXO 44 - Quadro Negro - Ano I - Nº 4


331
332
333
334

ANEXO 45 – Jornal da Tarde – 06/10/1978


335

ANEXO 46 – Folha de São Paulo – 06/10/1978


336

ANEXO 47 – Folha de São Paulo – 08/10/1978


337

ANEXO 48 – Folha de São Paulo – 08/10/1978


338

ANEXO 49 – Folha de São Paulo – 09/10/1978


339

ANEXO 50 – Folha de São Paulo – 11/10/1978


340
341
342

ANEXO 51 – Boletim Nº. 02 – Chapa 2


343
344

ANEXO 52 – Folha de São Paulo – 15/10/1978


345
346

ANEXO 53 – Informativo Quadro Negro – Out/1978


347

ANEXO 54 – Folha de São Paulo – 18/10/1978


348

ANEXO 55 – Folha de São Paulo – 1910/1978


349

ANEXO 56 – Folha de São Paulo – 2110/1978


350

ANEXO 57 – Folha de São Paulo – 2510/1978


351

ANEXO 58 – Folha de São Paulo – 2210/1978


352

ANEXO 59 – Comunicado Chapa 2 Out/1978


353

ANEXO 60 - Informe sobre as eleições do SINPRO-SP


354

ANEXO 61 - Informe sobre a Chapa 1


355

ANEXO 62 – Folha de São Paulo – 2610/1978


356
357

ANEXO 63 - Diário de São Paulo – 28/10/1978


358

ANEXO 64 – Folha de São Paulo – 2910/1978


359

ANEXO 65 - Comunicado sobre acordo salarial e reajuste


360

ANEXO 66 - Circular sobre protocolo de reajuste salarial


361

ANEXO 67 – Comunicado aos Professores


362

ANEXO 68 - Informe sobre serviços prestados pelo SINPRO-SP – Dez/1978


363

ANEXO 69 - Comunicado sobre a Colônia de Férias do SINPRO-SP – Dez/1978


364

ANEXO 70 – Comunicado aos Professores


365
366
367

ANEXO 71 – Propostas da Chapa 2 – 1978


368
369

ANEXO 72 – A Gazeta – 08/01/1979


370

ANEXO 73 – Comunicado Quadro Negro – Jan/1979


371
372

ANEXO 74 – Folha de São Paulo – 04/03/1979


373

ANEXO 75 - Quadro Negro - Ano I - Nº 5


374
375
376
377

ANEXO 76 – Folha de São Paulo 19/03/1979


378

ANEXO 77 – Folha de São Paulo 20/03/1979


379

ANEXO 78 – Acordo Salarial – 1979


380
381

ANEXO 79 – Folha de São Paulo – 27/03/1979


382

ANEXO 80 – Comunicado aos Professores


383
384
385
386
387
388
389

ANEXO 81 – Folha de São Paulo – 08/04/1979


390
391

ANEXO 82 - Folha de São Paulo – 08/04/1979


392

ANEXO 83 - Folha de São Paulo – 20/04/1979


393

ANEXO 84 – Comunicado Quadro Negro


394
395

ANEXO 85 – Boletim Informativo MOAP


396
397

ANEXO 86 – Porandubas Extra – Mai/1979


398
399
400
401
402
403
404
405

ANEXO 87 – APROPUC Debate nº. 8 – Mai/1979


406
407
408
409
410
411
412

ANEXO 88 – Versus – Abr/1979


413
414
415
416
417
418
419

ANEXO 89 – Comunicado aos Professores – Mai/1979


420
421
422
423

ANEXO 90 – Comunicado MOAP – Mai/1979


424

ANEXO 91 – Ementa abaixo-assinado


425

ANEXO 92 – Comunicado Quadro Negro


426
427

ANEXO 93 – Comunicado aos Professores – 23/05/1979


428

ANEXO 94 – Todos ao Primeiro Encontro Nacional de Professores


429

ANEXO 95 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 2


430
431
432
433
434
435

ANEXO 96 – Comunicado aos Professores – Jun/1979


436
437
438

ANEXO 97 – Não autorização – Taxa Sindical


439

ANEXO 98 – Rumo à entidade única e democrática


440
441

ANEXO 99 - Convite - Comitê dos professores pela libertação dos presos de Itamaracá
442

ANEXO 100 – APROPUC Informa nº. 06


443
444
445
446
447
448

ANEXO 101 - 1º Encontro Nacional de Professores - Reunião Preparatória - Boletim nº 1


449
450

ANEXO 102 - Novos Rumos – Suplemento Especial


451
452
453

ANEXO 103 - Encontro Metropolitano - Professores - rede particular


454
455

ANEXO 104 – Sobre o Ante-Projeto da CLT – Set/1979


456
457
458

ANEXO 105 – Folha de São Paulo – 15/09/1979


459

ANEXO 106 - Resolução do Encontro Metropolitano de Professores da Rede Particular


460
461

ANEXO 107 – Debate sobre Unificação Sindical dos Professores


462
463

ANEXO 108 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 3


464
465
466
467
468
469
470
471

ANEXO 109 – Folha de São Paulo – 08/11/1979


472
473

ANEXO 110 – Jornal de Campanha Salarial – Nov/1979


474
475
476
477

ANEXO 111 – Acordo Salarial 1980


478
479

ANEXO 112 – Texto da CBB - Comissão dos Bairros de Belém-PA


480
481
482
483

ANEXO 113 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 4


484
485
486
487
488
489
490
491

ANEXO 114 – Novos Rumos - Ano 1 - Nº 5


492
493
494
495
496
497
498
499

ANEXO 115 - Boletim Nacional das Associações de Docentes Nº 4


500
501
502
503
504
505
506
507

ANEXO 116 – Folha Bancária – Jun/1980


508
509
510

ANEXO 117 – Suplemento Diário da Folha Bancária – 11/09/1980


511

ANEXO 118 - Esclarecimentos - Escola Santa Inês


512

ANEXO 119 – Folha de São Paulo – 22/08/1980


513
514

ANEXO 120 - Texto resultado do I Congresso Nacional dos Profissionais de Educação


515
516

ANEXO 121 – Texto da Unidade Sindical


517
518
519
520

ANEXO 122 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 6


521
522
523
524
525
526
527
528

ANEXO 123 – Folha de São Paulo – 02/09/1980


529

ANEXO 124 – Folha de São Paulo – 03/09/1980


530

ANEXO 125 – O Estado de São Paulo – 04/09/1980


531

ANEXO 126 – O Estado de São Paulo – 05/09/1980


532

ANEXO 127 – Folha de São Paulo – 07/09/1980


533

ANEXO 128 – Propostas para o ENTOES - Metalúrgicos


534
535

ANEXO 129 – Teses para o ENTOES – Aeroviários


536
537

ANEXO 130 – Propostas para o ENTOES


538
539
540

ANEXO 131 – Resumo dos Trabalhos - ENTOES


541
542
543
544

ANEXO 132 – ENTOES - Convocatória


545
546
547

ANEXO 133 - Resoluções - I ENTOES – Pará


548
549
550
551

ANEXO 134 – O Estado de São Paulo – 10/09/1980


552

ANEXO 135 – Folha de São Paulo – 11/09/1980


553

ANEXO 136 – O Estado de São Paulo – 14/09/1980


554
555

ANEXO 137 – Jornal O Globo – 15/09/1980


556

ANEXO 138 – Folha de São Paulo – 18/09/1980


557

ANEXO 139 – Folha de São Paulo – 19/09/1980


558

ANEXO 140 – Folha de São Paulo – 30/101980


559

ANEXO 141 – O Estado de São Paulo – 17/09/1980


560

ANEXO 142 – Folha de São Paulo – 02/11/1980


561
562

ANEXO 143 – Edital De Convocação – DCI 19/12/1980


563

ANEXO 144 – Folha de São Paulo – 24/12/1980


564

ANEXO 145 – Folha de São Paulo – 20/01/1981


565

ANEXO 146 – Boletim da ADPUC – 22/01/1981


566
567
568
569

ANEXO 147 – Proposta de entidade nacional – ADUFRGS - 1981


570
571

ANEXO 148 – Construir as bases da entidade nacional – ADUFPB - 1981


572
573
574

ANEXO 149 - Carta conjunta da UNE e CPB sobre o movimento sindical dos professores
575

ANEXO 150 – Folha De São Paulo – 08/02/1981


576

ANEXO 151 – Fundação da UNATE


577

ANEXO 152 – Congresso Nacional de Docentes Universitários - 1981


578
579
580

ANEXO 153 – Carta da Federação ao Delegado Regional do Trabalho


581
582
583
584
585
586
587

ANEXO 154 – Folha de São Paulo – 24/02/1981


588

ANEXO 155 – Acordo Salarial – Março 1981


589

ANEXO 156 – Comunicado sobre o reajuste


590

ANEXO 157 – Novos Rumos – Edição Especial


591
592
593
594

ANEXO 158 – Folha de São Paulo – 07/03/1981


595

ANEXO 159 – Comunicado Quadro Negro


596
597

ANEXO 160 – Folha de São Paulo – 09/03/1981


598

ANEXO 161 – Folha de São Paulo – 13/03/1981


599

ANEXO 162 – Folha de São Paulo – 22/03/1981


600

ANEXO 163 – Acordo Salarial 1981


601
602
603
604
605

ANEXO 164 – Comunicado à imprensa – 29/03/1981


606
607

ANEXO 165 – Folha de São Paulo – 31/03/1981


608

ANEXO 166 – Convite aos professores


609
610

ANEXO 167 – Folha de São Paulo – 23/04/1981


611

ANEXO 168 – Folha de São Paulo – 26/04/1981


612

ANEXO 169 – Novos Rumos – Edição Especial – Mai/1981


613
614
615
616

ANEXO 170 – Criação da Chapa de Oposição


617

ANEXO 171 – Novos Rumos – Edição Especial – Ago/1981


618
619
620
621

ANEXO 172 - Encontro Regional de Professores Universitários da Rede Particular - SP


622
623
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625

ANEXO 173 – APROPUC Debate Nº. 8


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628
629

,
630
631
632

ANEXO 174 – Programa da Chapa 2 – SINPRO-SP 1981


633
634
635

ANEXO 175 – Folha de São Paulo – 11/09/1981


636

ANEXO 176 – Chapa 1 – Programa - 1981


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639
640
641

ANEXO 177 – Chapa 2 – Campanha de Sindicalização


642
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ANEXO 178 – Chapa 2 – Material de Campanha


646
647
648
649
650
651

ANEXO 179 – Chapa 2 – Avaliação das Eleições


652
653
654
655

ANEXO 180 – Circular – Set/1981


656

ANEXO 181 – Campanha Salaria 1982


657
658

ANEXO 182 – Novos Rumos – Fev-Mar/1982


659
660
661
662
663
664
665

ANEXO 183 – Tabela de Cálculo - Acordo Salarial


666

ANEXO 184 – Novos Rumos – Abr-Mai/1982


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670
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ANEXO 185 – Novos Rumos – Jul-Ago/1982


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680
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682

ANEXO 186 – Novos Rumos – Set-Out/1982


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687
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689

ANEXO 187 – Novos Rumos - Nº 1 - 1983


690
691
692
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694
695
696

ANEXO 188 - Novos Rumos - Nº 2 - 1983


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702
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ANEXO 189 - Novos Rumos - Nº 3 - 1983


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ANEXO 190 - Novos Rumos - Nº 4 - 1983


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ANEXO 191 – Novos Rumos - Nº 1 - 1984


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ANEXO 192 – Novos Rumos - Nº 2 - 1984


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ANEXO 193 – Novos Rumos - Nº 1 - 1985


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747
748

ANEXO 194 – Novos Rumos – Edição Especial


749
750

ANEXO 195 – Novos Rumos - Nº 2 - 1985


751
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753
754
755
756

ANEXO 196 – Novos Rumos - Nº 3 - 1985


757

ANEXO 197- Entrevista com Celso Napolitano

Hélida Lança - Nessa pesquisa fazendo todo o início do trabalho teórico, constatamos uma mudança
identitária no professor, na categoria, porque expandiu muito a rede privada a partir da ditadura.
Celso Napolitano - Principalmente o ensino superior.
Exatamente. Então, aí começamos a buscar alguns personagens que, ainda que não militassem, faziam
parte da categoria, e foi aí que o professor Bauer disse que era preciso falar com Celso.
Então, qual é o período que você, você está considerando período ditadura até 1978 ou ainda o período
Figueiredo?
Eu estou no período dos anos (19)60 e (19)70, não passo disso porque senão eu não dou conta, porque
senão entra em características da redemocratização que abririam uma outra porta para meu estudo e eu
não daria conta.
Então, nesse período eu estava fazendo política Universitária. Eu estava na USP. Eu era estudante da
Comunicação – da ECA, e da Matemática na PUC então eu entrei no magistério em 1973. Eu tinha feito
três anos de Engenharia. Aí larguei Engenharia fui fazer Matemática.
Podemos ligar os dois gravadores?
Lógico, dois é sempre melhor que um. Quem tem um tem zero. Lembro do meu irmão que teve que casar
de novo.
Que horror! (risos)
(risos) Porque o fotógrafo deu pau na máquina do fotógrafo, e ele sumiu desesperado, saiu desesperado,
saiu correndo. Meu irmão casou na Capela da PUC, foi meio dia, 11 horas, sei lá, e o fotógrafo ficou tão
desesperado que saiu correndo. E eu estava lá de padrinho, olhava e dizia, o cara foi embora. Aí o que eu
fiz? Saí correndo, aquela época não tinha tudo aberto, anos 70, eu fui lá na Francisco Matarazzo e consegui
pegar um fotógrafo aberto, estava fechando, trouxe ela para PUC e aí a gente casou de novo. Chamou o
padre e o padre casou de novo (risos). Porque senão não teria registro.
Ficou bem casadinho!
Não teria registro do casamento. Eu pedi para segurar os convidados, pelo menos para fazer uma numerária
lá.
Que história, hein!
Então, eu entrei eu entrei na universidade em 70 fui fazer engenharia. E aí eu fiz dois anos e pouco de
Engenharia, larguei e prestei vestibular novamente aí eu fui para ECA e para Matemática. Eu fazia a ECA
à tarde e a Matemática. ECA na USP e Matemática na PUC. E aí logo em seguida o São Luiz, o colégio
São Luiz me convidou para dar uma aula de reforço, para dar um curso de reforço nas férias e 1973. Eu
entrei na ECA em 72 – na ECA e na Matemática. Aí eu entrei fui fazer já foi reforço nas férias de julho, o
professor que dava o curso pegou o período integral na USP então o reitor disse para eu ficar até o final do
ano. Então eu comecei a dar aula no São Luiz em 73. Eu dava aula de manhã, fazia ECA a tarde e fazia
Matemática à noite. E aí eu fazia naquela época eu fazia política Universitária, eu participei do Centro
Acadêmico da ECA, com esse pessoal todo aí Paulo Marcun, Augusto Nunes que naquela época era de
esquerda né? Por incrível que pareça o Augusto Nunes já foi de esquerda. (risos)
Não sei que pílula eles tomam, né? (risos)
Eu sei. Eu sei o que ele usa. Eu sei. Acabou com os neurônios dele. E a gente fez toda uma política contra
a ditadura na época, foi quando morreu o Minhoca, o Alexandre Vanucci, que a gente fez aquela missa, etc
758

e tal. Eu participei da Congregação da ECA, eu era representante discente lá, que era o CID na época que
fazia as vezes da Congregação da ECA, então eu comecei a lecionar no ensino básico, me sindicalizei logo
depois e parti de cara para ser oposição a primeira Chapa praticamente de oposição ao sindicato que foi 78,
cujo candidato a presidente Heródoto Barbeiro, em 78. E tenho amizade com ele até hoje por conta disso.
Aí perdemos a eleição para o Leopoldino, foi a primeira eleição do Leopoldino, se não me engano, eu
continuei militando e trabalhando no São Luiz, depois no Palmares, etc., aí fui para segunda tentativa minha
com o Joia, que o Joia era o candidato a presidente, que acho que era do Santa Cruz, e perdemos de novo
em 83. Aí me aproximei de um grupo que estava dentro do sindicato, Luiz Antonio Barbagli, Fábio Zambon,
o Wagner, Antônio Hélio – Antonio Helio não estava no sindicato. Mas eles participavam da diretoria do
sindicato com a perspectiva de ganhar por dentro porque era muito difícil você ganhar eleição por fora.
Tanto que, quando a gente entrou, a primeira coisa que a gente fez foi democratizar as eleições do sindicato.
Quero dizer, hoje o estatuto diz quando é a eleição, quando sai o edital. Naquela época para a gente descobrir
o edital foi um custo né, porque eles escondiam o edital. Então nesse período todo eu estava militando,
assim não organicamente, estava na base. Eu trabalhava num colégio entre aspas Elite que era considerado
base de apoio ao sindicato. Tanto que eu consegui me sindicalizar porque havia um diretor do sindicato que
trabalhava no São Luís, o professor de educação física Rubem Dario, do Paraguai, e aí eles sindicalizavam
naquele momento em algumas escolas para garantir os votos. E eu molecão, começando, Dario encostou
em mim e eu me sindicalizei, porque era difícil sindicalizar naquela época. Ele não sindicalizava quem ele
tinha desconfiança que ia voltar contra ele quando (risos). Tanto que quando a gente assumiu o sindicato,
nós entramos em fevereiro de 88, havia duas 2000 quase 3000 em condição de voto. Em outubro de 88 já
tinha 10 mil sindicalizados. Só das fichas que nós tiramos das gavetas. Tinha um monte de ficha na gaveta,
esperando que a diretoria autorizasse a sindicalização. E punham um filtro. Quem é da PUC eu não
sindicalizo. E tinha outra coisa, quem era desses colégios sindicalizados, ele não mandava cobrar, então na
época de eleição você não tinha condição de voto porque você era inadimplente (risos). Uma coisa que nós
fizemos também para ganhar eleição, primeiro a gente ganhou uma assembleia, e propôs uma espécie de
anistia, quer dizer, um valor único para quem estava atrasado, para se reabilitar. E depois a gente pegava
essas pessoas e ia lá na PUC, nos locais que eram reduto de oposição, levava o recibo para o cara. A gente
pagava, levava o recibo para o cara e o cara reembolsava. Aí a gente pagava mais, levava para o outro e tal.
Então esse período eu não sei te dizer como é que funcionava o SINPRO, eu sei que na ditadura vários
sindicatos foram coniventes com ditadura. O grande problema que a gente tinha na base com o SINPRO
era exatamente isso. Um sindicato que se não era apoiador da ditadura, por que eu não posso dizer, mas
havia muita gente da direita que era da diretoria do SINPRO, então colégios redutos de direita estavam lá,
tipo Dante Alighieri, Arquidiocesano, Mackenzie, então a gente conseguiu inclusive ganhar eleição porque
mudou muito voto dentro do Mackenzie porque a turma dos antigos já não fazia mais a cabeça dos jovens
que estavam entrando lá. Eu me lembro que no dia da eleição os muros Mackenzie apareceram pichados
que o PC do B apoiava a nossa chapa. Dizer no Mackenzie que você era comunista ou alguma coisa, era
um absurdo né, imagina o Mackenzie, mas mesmo assim a gente conseguiu virar muito voto lá dentro. O
Arquidiocesano também, então havia redutos da direita, que ou eram coniventes ou que apoiaram a ditadura,
mantenedores que – eu não digo os professores, por exemplo, a Igreja Católica, grande parte da Igreja
Católica tradicional apoiou a ditadura, lógico que houve aquela renovação toda com Dom Paulo, o
stabelishment da Igreja Católica apoiava, o cardeal de São Paulo era um apoiador. E então esses colégios
tradicionais, das famílias tradicionais, Dante Alighieri, o São Luís era um pouco renovado, mesmo assim
eu quase fui demitido porque me candidatei na primeira eleição. A primeira vez que eu participei e que eu
perdi e quase fui demitido. Eu só me mantive no São Luiz Por que assumiu a Reitoria um padre que era
mais progressista, um padre que tinha estudado na Bélgica, Padre Petris, tinha chegado aqui que hoje é
presidente da FEI, do Instituto Padre Saboia e ele havia chegado da Bélgica, estava fazendo um trabalho
interessante, aí disse para mim ‘olha eu tenho chance de ser reitor, se eu for reitor você está garantido, se
eu não for você está na rua’ (risos). Porque havia aquele sentimento mais de direita, ou mais conservador
759

vamos dizer assim. E jesuíta é conservador. Jesuíta não participou de nenhum movimento dominicano, nada
né, mas os novos, a geração nova dos jesuítas era mais progressista. Não vou dizer que era da teologia da
libertação, mas era um pouco mais progressista. Naquela época você tinha uma direita envergonhada, os
conservadores eles não se mostravam muito tal porque o país estava sendo redemocratizado, o que
aconteceu agora é que essa direita envergonhada ressurgiu com força total e virou à direita desavergonhada.
Direita hoje em dia não tem vergonha alguma né, é uma direita que vai para o confronto mesmo, dá tiro no
ônibus do ex-presidente, e é uma turma de sessenta pessoas, você não vai dizer que a cidade a favor ou
contra, mas é uma turma de sessenta ou setenta que se organizam, e que são milícias mesmo. E aí bloqueia
estrada, dá tiro, etc. e tal. Então eu voltei com tudo nessa questão de um de um trabalho mais voltado para
o sindicato, para categoria, em 1987 mais ou menos né, porque aí eu estava meio cansado das coisas estavam
acontecendo nessa época eu já tinha saído do São Luís, eu tinha saído do Palmares, e eu estava num projeto
novo que era o Colégio Magno, estava dirigindo ensino médio do Colégio Magno. Então, mas eu ajudei a
montar o segundo grau lá no Colégio Magno ainda no São Luiz (e também no Palmares) aí escola foi
evoluindo e eu fui eleito pelos professores como coordenador, e depois (e eles me impuseram praticamente
para dona da escola) e depois eu virei o diretor do ensino médio. Então neste momento dirigindo a escola
eu puxei a greve lá no Magno por que os nós do ensino médio ganhávamos muito bem e os no ensino básico
ganhar muito mal, então nós resolvemos apoiar o movimento deles, e em 1987 cresceu o movimento aqui
em São Paulo, houve uma greve depois generalizou e que culminou em 88/89 um movimento muito bonito,
mas que já começou a ser preparado em 87. E aí que a gente começou a discutir, como eu conheci o Zambon
que trabalhava com ele no São Luiz ele me apresentou outras pessoas: o Luiz Antônio (que estava por
dentro) e angariarmos outras pessoas de colégios importantes e aí que gente começou o movimento
importante de oposição né. Foi nesse período do início de 87 até outubro de 87. De março a outubro de 87
que a gente soltou a chapa, a esquerda para variar rachou, porque havia um grupo que se considerava mais
à esquerda que queria que a ANDES assumisse o sindicato, e nós não fechamos acordo e eles disseram que
iam lançar a terceira Chapa. E aí nós dissemos, poxa se lançar a terceira chapa o Leopoldino ganha. Eles
não conseguiram montar aí eles fizeram o movimento voto nulo que também ia dar a vitória, mas felizmente
eles não foram não tiveram sucesso. O número de votos nulos foi pequeno.
A história da esquerda brasileira, não é?
A história da esquerda é complicada. Aí a gente entrou e fez um trabalho de redemocratização, hoje a gente
tem 22 mil sócios, o sindicato tem um trabalho importante nessa área. Teve que fazer uma modificação
toda em termos de atuação com a base, havia um projeto assistencialista no sindicato por isso que precisava
ter pouco sócio né. Você tinha dentista todo dia lá, então como é que você pode atender 20 mil pessoas, né?
A gente foi muito da, quando Luiz Antônio assumiu, e aí ele fez uma organização administrativa muito
interessante, convencemos a categoria de que sindicato não é para dar assistência, que você consegue isso
nas lutas, conseguimos plano de saúde, cesta básica, etc. e tal, e hoje a gente redemocratizou sindicato.
Agora nesse período então da década de 70 eu era ou um estudante fazendo política universitária, ou um
professor recém entrado na carreira.
Mas é esse professor que mais me interessa. Quando falei de expansão do ensino privado, o senhor disse
‘principalmente no ensino superior’. O que se percebe como principal manifestação desse crescimento?
Como enxergavam? Na época já se percebia esse avanço?
Eu percebi isso, vamos dizer que tive mais informações, vamos dizer que eu tive um olhar mais privilegiado
sobre isso porque o meu pai ele era professor também, e o meu pai era professor de uma escola comercial.
Meu pai era contador. E tinha uma escola de ensino técnico comercial lá na Barra Funda, na Avenida Rudge,
que depois virou Uniban agora virou outra coisa. E o dono dessa escola era uma pessoa com relações com
o sindicato patronal, ele chegou até ser presidente do sindicato patronal, porque o sindicato patronal havia
dois sindicatos naquela época, um do ensino comercial e outro da educação privada e depois eles se
juntaram, que era o tal do Doutor José Carlos Gaiotto e meu pai faleceu em 69, mas a gente tinha muito
760

relação porque eu morava no bairro aliás eu comecei dar aula em 70, quando eu entrei na faculdade, dava
aula nesse colégio para poder custear uma parte da faculdade porque meu pai havia falecido 69 e eu tinha
muita relação de amizade tal, e o meu pai também dirigiu essa escola etc. E em 68 aconteceu o movimento,
então eu vivi muito essa fase, muito interessado sempre por educação que eu fui, e tal e em 68 a gente dava
aula para os outros alunos, faziam um grupo de estudantes que dava aula, eu dava aula em curso de admissão
(aquela época precisava fazer admissão ao ginásio) não tinha a tal da madureza, então esse colégio mesmo
admitia pessoas com uma idade mais avançada e precisava fazer uma espécie de um curso de admissão,
que ele dava gratuitamente, como uma forma de propaganda e da pessoa também que já tinha saído muito
tempo da escola, pudesse depois acompanhar o curso. Isso do fundamental que se chama hoje fundamental
1 para o fundamental 2. Do primário para o ginásio, imagina o déficit que tinha da educação. E naquela
época havia o fenômeno do excedente, a figura do excedente. O que era excedente? Era o aluno que passava
no exame vestibular (porque exame vestibular era aprovatório) o que acontecia era que quem tinha mais
que nota 5,0 passava. O problema é que ele era aprovado, mas não tinha vaga, então ele era considerado
excedente. Ontem mesmo naquele negócio das efemérides da Folha, dos que tem a 50 anos atrás a 100 anos
atrás tinha uma manchete lá ‘tanto dinheiro para os excedentes’. As passeatas eram dos excedentes. Eu fui
aprovado, como é que não tem vaga pra mim? E o ministro da educação acho que 67/68 era o Passarinho,
que inventou Mobral e tal, aí ele inventou, houve por aí 67/68 uma reformulação do ensino universitário,
acabou a cátedra, acabou a figura da cátedra, e ele inventou o exame classificatório. Você não era mais
aprovado, você era classificado. Isso era simplesmente esconder a sujeira para baixo do tapete. Você não
sabia se tinha sido aprovado ou não, você era classificado, portanto ele extinguiu de uma hora pra outra a
figura do excedente. Não tem mais excedente. Se você não é classificado, você não é excedente. Esse monte
de gente que estava fora, como não interessava a eles investir muito mais em universidade pública, porque
universidade pública era ninho de comunista, é porque se o cara pensava muito, virava progressista, essa
coisa toda, tinha todo o charme da Europa, naquele 68 foi o ano que não acabou. Então o que nós vamos
fazer? Vamos juntar a fome com a vontade de comer. O útil ao agradável. Vamos dar oportunidade para
escola, para iniciativa privada, e ao mesmo tempo a gente ganha um dinheirinho, né?
A gente ganha e os nossos amigos também...
A gente ganha, os amigos, os apoiadores e ganha um dinheirinho. Porque os ministros montavam escolas
particulares. Eu não posso provar nada do que eu vou dizer agora mas esse Doutor Gaiotto, 68 por aí meu
pai tá vivo ainda, mais em 68 ele falou comigo, ele comentou e eu participei de conversas eu tinha 18 para
19 anos, que o Delfim Neto tinha um grupo que montava faculdades, já conseguia autorização do MEC
também porque aquela época, você pagava uma grana, vinha o pacote completo e ele dizia assim, no
primeiro vestibular você recupera o investimento. Porque como o gargalo era muito grande, tinha muita
gente que queria fazer vestibular, e o vestibular era caro (risos). E ele dizia olha, você me dá esse dinheiro,
o grupo era chamado de Delfim Boys o pessoal que enriqueceu à sombra do Delfim. Nós montamos o curso
todo, colocamos professor e blá blá blá e no primeiro vestibular você recupera o dinheiro. E tinha uma
demanda reprimida, uma classe média disposta a pagar. Eu me lembro inclusive de um grande amigo do
meu pai, cujo filho era vestibulando de medicina, depois ele veio a ser pediatra dos meus filhos, e ele tentou
três vezes e ele não conseguia, mesmo sendo um baita estudioso. E aí ele já tinha resolvido parar, o pai dele
tinha um escritório de contabilidade e ele falou, bom eu vou ajudar meu pai quando abriu vaga na Santa
Casa, a Santa Casa se dispôs a fazer o curso de medicina, e ele foi da primeira turma da Santa Casa, aí ele
entrou. Ele era excedente, 3 anos seguidos, e que não sabia mais que era excedente, porque primeiro ele era
excedente e depois ele era não classificado, e é um excelente médico, quer dizer, ia se perder uma vocação
tremenda. Então a medicina é um grande negócio. Eu não digo que a Santa Casa entrou no esquema porque
a Santa Casa era uma escola de respeito. Mas havia Pinheiros naquela época, eu acho que Botucatu já estava
aberto e Paulista, sei lá, devia ter o que, 200/300 vagas para um contingente muito grande e pessoas com
disponibilidade financeira, boa parte da classe média, média-alta, não entrava no vestibular, não era
classificado...
761

Mas tinha dinheiro para pagar...


Exato, tinha dinheiro para pagar. Então as grandes famílias, ou melhor, as famílias de educadores
transformando-se em mantenedores do ensino superior. São Judas, família Mesquita, um outro colégio, a
família Anadeu que era do colégio 12 de Outubro então virou Faculdade Zona Leste, depois virou UNICID,
e UNICSUL era um coleginho mambembe lá em São Miguel Paulista, mambembe, virou uma faculdade
que hoje é uma universidade. O Gaiotto não topou essa história. São Marcos que era a família Bicudo
também virou mantenedor. Então as pessoas que tinham curso básico basicamente, família de educadores,
e que tinham boas relações na ditadura, conseguiram. FMU família Alves da Silva, Erivaldo Alves da Silva
que montou um curso de direito para formar escrivães, para que escrivães virassem delegados. Era o curso
da Polícia praticamente, eu sei porque um grande amigo do meu pai era escrivão e ele fez o curso lá, um
curso de direita, Erasmo Dias era professor então era um arauto da direita, uma porcaria de um curso, que
depois foi melhorando, mas virou essa potência que foi vendida por um bilhão de reais. E o grande chamariz
o que era? Não tem fins lucrativos. Começou como concessão do Estado e não tem fins lucrativos. Ele não
pode dar lucro mas ele pode dar resultados, entendeu? O que tem que fazer com o resultado, aplicar na
própria empresa. O que ele faz? Quebra a parede e constrói outra ao custo de 20 milhões. Então eles
começaram a surrupiar dinheiro da mantida para o mantenedor, esquentando mesmo né? O Veronezi em
Guarulhos, essas famílias todas que viraram proprietárias. E ganharam muito dinheiro porque havia uma
demanda reprimida. Não havia muito professor naquela época, tanto que não havia exigência de mestrado
e doutorado, um monte de gente dava aula, eu tinha o registro no MEC sendo simplesmente graduado. Eu
comecei a dar aula na Economia do São Luís, na medianeira, comecei no ensino superior assim,
simplesmente com autorização do MEC, não tinha nem especialização.
Porque era uma grande abertura no mercado de trabalho docente...
Porque não tinha, Hélida. Não havia. Eu te falei da ECA. A ECA era um curso novo. Quem era doutor em
comunicação? Ninguém. Quem que dava para gente aula era Doutor em filosofia, Doutor em história... Mas
em comunicação não, eu me lembro sempre que o maestro Olivier Toni que era o chefe departamento de
música, dizia pra gente assim, ‘não me chama de professor aqui não, aqui eu quero que você me chame de
maestro’ porque aqui eu sei o que que é professor, lá fora pode me chamar de professor, mas ele não tinha
título Acadêmico. O Walter Zanini era o chefe departamento de artes plásticas um tremendo artista, mas
não tinha doutorado fora, em lugar nenhum. Começou a fazer aquela época.
Você conheceu o Janô por lá, Antonio Januzzelli?
Não, não conheci. Eu saí de lá em 75.
Era contemporâneo, mas era de Cênicas. Foi meu professor.
Cênicas era o Clóvis Garcia, mas ele também não era Doutor (risos). Quem era Doutor?
O próprio Janô foi fazer o doutorado muito tempo depois...
Quem era doutora? Francesca Cavalli, que era de História. Manuel Nunes Dias, que era de História. Virgilio
Noya Pinto que era sociólogo. Egon Chaden, que era antropólogo. Esses eram, tinham um título, mas eles
foram emprestados para ECA. Quem era doutor em Engenharia no Brasil? Pouquíssima gente. Então, havia
muitos professores bons de Física, etc. e tal que eram angariados para dar aula, e havia muitos engenheiros
que davam aula prática, né? Que davam nas matérias profissionalizantes.
E você percebeu dessa nova parcela da categoria, vamos assim chamar, que foi migrando para o ensino
privado basicamente no ensino superior. Esses professores estavam organizados ou iniciando as suas
organizações?
Não, não. Era uma casta ‘ação entre amigos’. Quando eu entrei no São Luis, tinha um pessoal bem antigo
do São Luis. Eu quando entrei no São Luis a minha lista no diário de classe parecia uma lista telefônica.
762

Tinha Rangel Pestana, Vieira de Carvalho aqueles tradicionalão, né? Eu tinha uma turma de primeiro ano
do Ensino Médio, 1º colegial, que tinha um terço do PIB nessa turma. Filho do Maluf, filho do Scarpa, filho
do Bornhausen, filha do Aidar. Eu entrava lá eu dizia, opa olha o PIB brasileiro aqui. E os professores mais
antigos eram aqueles que tinham um grande conhecimento teórico, não tinha título, mas tinha um grande
conhecimento teórico e estavam indo para as faculdades. Então tinha um grupo lá que era da FEI, o São
Luís era o reduto da FEI. O Bandeirantes, onde eu fiz o científico, era reduto da Mauá. Então Albaneze,
Amadeu, Rosemberg, o Rosemberg depois foi o presidente do IMT. E esses professores rodavam entre si.
Chamavam: ‘o Rodrigo você quer dá aula comigo lá?’ então era um grupinho. Eu me lembro que que eles
davam aula na faculdade de Engenharia de Barretos. Tem um amigo meu que entrou em Barretos, a gente
tirou o maior sarro dele, e ele disse olha, o Bandeirantes inteiro está aqui, depois ele foi o melhor da minha
turma porque ele casou com a filha de um fazendeiro. Desculpe o que vou dizer agora, mas durante o curso
ele se amasiou com uma prostituta da zona, ele era mantido por ela (risos), aí depois ele casou com uma
fazendeira. O Aroldo foi o cara que deu mais certo na minha turma (risos) Ele era vagabundão e hoje é
milionário.
Garantiu a vida, né?
Então esse grupo que dava aula. Qual era a militância deles? Nenhuma. Era um grupo de direita. Eu não
vou chamar de direita, mas era um grupo conservador.
Sem uma preocupação sindical?
Nenhuma! Então o curso superior tem essa gênese, eu vou dizer. Como é a coisa foi um pouco diferente?
Nas universidades tradicionais, PUC, etc. e tal. Essas faculdades isoladas que nasceram, nasceram para
suprir essa demanda, entendeu? Então onde se produzia conhecimento? Na PUC, pouco no Mackenzie (que
também era tradicionalão), mas quem produzia conhecimento na particular era a PUC. Além da USP. Nos
outros eles transmitiam o conhecimento, ministravam conhecimento. Então essa é a origem da Escola
Superior particular no país, e que eles foram angariando mais direitos e se estabeleceram pra valer em 88,
na Constituinte. Então na nova constituição deixou de ser concessão do Estado e a iniciativa privada passou
a ser um direito constitucional. Eles fizeram um lobby tremendo, né? Porque os deputados percebem que
eles podem fazer cabeça de aluno, né? Eles têm um grande campo para fazer as propagandas e ao mesmo
tempo eles tem financiamento, a bancada do livro lá no Congresso Nacional é uma bancada importante,
que defendem a iniciativa privada. Aí eles dominaram os Conselhos, o único período em que o Conselho
foi mais democrático foi Lula e Dilma, porque Lula e Dilma respeitaram as indicações. Pega o Conselho
de São Paulo, nossa, só tem patrão, só tem mantenedor. A tua patroa, a mulher do Carbonari estava lá, o
Rubert que é braço direito do Aguiar estava lá, o Aguiar foi presidente do Conselho, Guimar de Mello,
Rose Neubauer... Tem um projeto do Gianazzi na Assembleia para democratizar, mas não passa. Você
conhece todos os conselhos estaduais, a maioria dos conselhos são democráticos; aqui é um braço de tucano,
há vinte anos que essa tucanada não sai daí! Então no governo Lula mudou de nome, de Conselho Federal
para Conselho Nacional, tanto que uma das primeiras iniciativas do Temer foi capar o Conselho, e aí ele
nomeou outros caras. Quem está lá hoje? Representantes dos interesses privados. Há poucas pessoas com
um pouco mais de independência: Cesar Callegari, por exemplo, que naquela composição ele virou...
Parecendo ser de extrema esquerda, compreendo é verdade.
Então tem representante da FGV, tem representante do Senai... Nossa, nós vivemos um problema, eu sou
professor da GV, nós vivemos um problema sério lá, de uma intervenção da mantenedora sobre a mantida,
nós tínhamos uma democracia aqui na escola administração, elegíamos o diretor, de repente assumiu o
sobrinho do Simonsen lá na FVG, com uma influência política muito grande do Dornelles, quem controla
o conselho diretor da FGV é o Dornelles, que botou lá o sobrinho do Simonsesn, Carlos Ivan, numa briga
com a Dona Celina, que é neta do Getúlio. Veja só o nome da Celina, Celina Vargas do Amaral Peixoto
Moreira Franco. Neta go Vargas, filha do Amaral Peixoto e foi casada com Moreira Franco. Eu tive bom
763

relacionamento com a Dona Celina, uma pessoa aberta, intelectual, perdeu a briga lá, assumiu Carlos Ivan
que chegou e colocou braço de ferro. Chegou falando acabou a brincadeira aqui e praticamente destituiu,
acabou com a congregação, a congregação era um órgão democrático, acabou com eleição de diretor,
demitiu vinte professores, inclusive um ex-diretor professor Michael, que em ação na Justiça estão todos
sendo reintegrados por que ele não podia demitir. porque tinha que passar pela Congregação, havia um
regimento antigo, mudou o regimento e aí nós fomos ao Conselho discutir a questão da GV, e o conselho
ó (dando com as mãos). Porque havia representante da GV lá dentro que barrava tudo. E mais ainda, as
pessoas com as quais ficava o caso da GV, para relatar, queriam um emprego na GV (risos). Então esse é
o Conselho naquela época Federal, virou Nacional e agora tem essa composição. Então os professores do
ensino superior na sua grande maioria, fora aqueles que faziam o conhecimento, que estudavam e que se
dedicavam a isso, eram professores angariados muitas vezes no ensino básico, então tinha uma excelente
didática, tudo isso, o fundamento do curso era muito bom, mas não tinha sentido de classe nenhum, né? Por
que essa categoria ela foi formada assim, depois com outras exigências, e depois houve o outro fenômeno,
do mestrados e doutoramentos a dar com pau, especializações a dar com pau, e que deu dinheiro;
especialização deu dinheiro pra caramba! Muita gente ficou rica com essa história de especialização.
Professor, e as condições de trabalho nesse período de grande expansão, das condições de trabalho dos
professores, você tem lembrança de algum detalhe, alguma especificidade?
Veja, eu estou no ensino superior desde 1987. Quando eu fui para a GV. A GV é um caso à parte porque a
GV foi criada com dinheiro americano para cumprir um determinado papel que era formar executivos
inclusive para administrar as empresas multinacionais, ou para criar uma elite administradora que seguisse
o modelo americano, então os professores, veja só, os professores da Fundação Getúlio Vargas foram
angariados num determinado momento, do mercado, e foram enviados para os grandes centros formadores
de professores são St Fort e Chicago. Então foram mandados pra lá, voltaram, então criou-se assa elite aí.
E aí tinha um princípio na GV, que era o professor que era um oásis dentro do universo brasileiro, um
mantenedor do ensino superior descobriu a tal da hora-aula né, então contrata o professor por hora-aula
porque está na CLT, mas na GV o professor era contratado por tempo, então trinta e cinco horas por
semana, oito créditos, oito aulas e vinte sete fora da sala de aula. Então ele ia produzindo conhecimento
porque ele foi forjado pra isso, né? Mas houve um tempo de vacas magras que o pessoal foi para o mercado.
E a GV sempre adorou que o cara vá para o mercado, para poder voltar, aquela coisa toda, então houve um
tempo em que diminuiu esse número de professores, que era muito caro. Quando eu entrei lá, eu era aulista,
mas aulista era apenas pra tapar buraco. Então os professores de carreira, por exemplo, pediam um
abatimento de crédito para escrever um livro, abatimento de crédito porque dava panarício no dedo, então
precisava de alguém para dar aula e aí, principalmente eu que sou da área de Métodos Quantitativos, então
a GV tinha um esquema bem diferente em relação a isso. Eu não sei o que que você tinha perguntado...
Mas antes da GV, você na educação básica, anos 70 e 80, independente de ensino superior ou não, a
condição de trabalho desse professor da rede privada...
No trabalho do ensino era uma condição razoavelmente boa no particular, porque aí coincidiu
universalização do ensino e a deterioração das condições de trabalho no ensino público.
E eram os mesmo professores?
Basicamente. Eu por exemplo nunca trabalhei no ensino público, mas grande parte sim. Porque entrei direto
no São Luiz, depois eu fui pro Palmares, aí no São Luís eu fiz um monte de coisa lá dentro, então mas os
meus amigos todos se formaram comigo, começaram no ensino público; o concurso era interessante
inclusive, as condições de trabalho não eram muito diferentes, tinha alguns colégios que pagavam muito
mais, mas aí isso coincidiu com excesso, porque aí, vamos lá: universalizou ensino, precisou de mais mão
de obra, o Estado teve que investir muito mais pra essa universalização, ao mesmo tempo aumentou o
gargalo, muita gente foi formado, muita gente foi para licenciatura etc. e tal. Precisava de tanto professor
764

que inventaram a Licenciatura Curta, vai lá, faz um pouquinho de coisa e tal, e vai dar aula. Mas aí a oferta
foi muito grande e as condições de trabalho se deterioraram. Com essa universalização também abriu uma
janela de oportunidade para o ensino particular, e aí muitas escolas se formaram.
Então estamos falando de uma expansão que não foi apenas no ensino superior...
Certamente que não. No superior era mais controlada. Era interessante para o governo ter um controle sobre
o ensino superior. Porque isso custava dinheiro, né? E isso podia ser um tiro no pé... Mas a ideia soava
interessante: ‘não é qualquer um que pode oferecer ensino superior’. Então você cria dificuldade para
vender facilidade. Naquela época para você ter um curso superior era uma grana preta, tanto que algumas
escolas tradicionais foram sendo adquiridas por outras. A tal da Uniban da vida. Ela comprou parte da
Medianeira que era o São Luís,
E uma imensa competição também entre as mantenedoras, não é? Uma grande disputa.
E aí além, dessa competição, o que acontecia é que havia ainda demanda e eles queriam mais, ter
possibilidade de investir mais. Quanto mais cursos você tem, mais de escala é sua economia. E para eles
crescerem só tinha um jeito, comprando outras. Então foram comprando esses cursos das faculdades
confessionais, que não se interessavam muito por isso, e foram se juntando e criando, porque havia muita
dificuldade de criar cursos novos. Havia despachantes, o tal do Carbonari enriqueceu muito com essa
história de abrir cursos etc e tal; e ele abriu um monte de faculdades ao longo da Via Anhanguera por isso
que se chamou de Anhanguera. Pegava sócio aqui, sócio lá e tal, até que ele encontrou um investidor
principal que era o Gabriel. Então as condições de trabalho foram se deteriorando também, porque como a
demanda era muito grande, você oferecia menos e o cara aceitava. Então houve uma deterioração nas
condições de trabalho do ensino básico e nas condições de trabalho do ensino superior. Quando eu comecei
a dar aula, cursinho etc. e tal, a gente ganhava uma nota. Eu brinco que teve uma época no cursinho que eu
ganhava um Fusca por mês. Época do intensivo e tal. Com a abertura também das vagas no ensino superior,
acabou o cursinho também. Porque antes você fazia cursinho para entrar na Mauá; hoje se você passar na
porta da Mauá você entra, tem quatrocentas vagas e é uma escola boa. Então aí as condições de trabalho
foram se deteriorando também, mas nessa década de 70, início de 80, os salários da iniciativa privada eram
interessantes.
Nesse período de 70/80, que lembranças tem do SINPRO enquanto entidade, enquanto atuação sindical,
mediante a ditadura?
Nesse momento é que eu comecei a militar na questão sindical, porque o SINPRO não tinha uma atuação
muito efetiva, então havia um grupo de uma oposição latente, e que estava tentando então assumir o
sindicato.
A história do SINPRO é muito difícil, porque ela não está registrada em lugar nenhum. Então estou
tentando registrar essa história, Luiz Antônio vem colaborando, porque considero uma história
importante. E o que estou percebendo, pelo menos até o momento, é que o SINPRO (uma característica
muito comum de qualquer entidade naquele período, principalmente no setor privado) carrega uma
história de finalidades muito corporativas, muito conciliador, que visa apenas a questão salarial, e
valoriza as questões assistencialistas. Nesse momento, aproximando do final oficial da ditadura, tivemos
os professores da rede pública mobilizados junto com estudantes lutando pelo processo de
redemocratização, ou seja, tiveram um papel fundamental na derrubada da ditadura. Então pergunto, e
o SINPRO?
Pois é. Não tenho notícia. Eu participei de duas chapas de oposição justamente por causa de, vamos assim
dizer, essa falta de atuação do SINPRO. Se o SINPRO naquela época, a classe dirigente, não era apoiador
da ditadura, pelo menos era conivente. Como eu te disse, os principais elementos da diretoria, vários
elementos da diretoria vinham dos principais redutos conservadores aqui de São Paulo.
765

Aí eu fico pensando no professor... Uma maioria trabalhava na rede pública e também na rede privada,
como acredito que até hoje ainda haja muitas pessoas assim. Aí o professor milita na rede pública, faz
greve e tal, mas na rede privada ele vai e trabalha em silêncio?
Na rede privada ele vai, porque é o tal negócio, apesar da rede pública ainda não ter os salários muito
deteriorados, mas já a rede privada pagava mais, além de ter menos garantias e tinha uma repressão danada
E zero de estabilidade...
Eu tinha colega na rede privada que dizia assim, aqui eu dou aula a tantos tantos dinheiros, lá eu dou aula
a tantos dinheiros. Entendeu? Havia esse sentimento aí. Ah, eu vou investir mais agora no meu final de
carreira para eu poder me aposentar com mais dinheiro, etc. e tal. As pessoas mais velhas, mas quem
militava nas duas redes, fazia greve, mas não tinha, na minha concepção, os amigos que eu tinha, não tinha
muito sentimento de classe.
Entendo.
Entendeu? Quem tinha mais sentimento de classe era quem militava exclusivamente na rede pública. É a
impressão que eu tenho. Tanto que a primeira grande greve foi no governo Montoro, que romperam os
portões e tal. E eu dizia, caramba meu, logo com o Montoro vocês foram fazer? Tinha que fazer isso com
o Maluf. Porque o Montoro estava querendo conciliar,
Havia já uma intenção se se construir um movimento maior, mas ele não ia, né?
Sim, mas foi um momento político interessante quando foi criado o PT e eu dizia para meus amigos, mas
espera um pouquinho, dá uma chance para o Montoro, tanto que o Montoro não reprimiu, eles foram lá,
quebraram as grades do Palácio, e o Montoro não reprimiu. Quando é que eclode esse movimento na escola
particular? Em 87, foi quando a gente apareceu. Porque a escola particular até aquele momento estava então
segura, vamos dizer.
Então na tua vivência, na tua trajetória, você não tem lembrança do sindicato ao menos se incomodar
com esse período? Eu tento buscar no sindicato um viés formativo.
Um exemplo do que você está dizendo Hélida, no ensino superior, foi a ANDES. Então o que começou a
aparecer naquele momento? Associações de docentes. Como o sindicato não se mexia, então começou a
aparecer associação de docentes. Associação de docentes do Oswaldo Cruz, da PUC, associação de
docentes de várias universidades. Tanto que quando entrei na GV em 87, o pessoal estava discutindo a
formação da associação lá, e nós fizemos uma associação de funcionários. Eu mesmo disse, pera aí, todo
mundo aqui é empregado, que história é essa de docente? Eu nunca acreditei que numa empresa, como tem
na PUC e na USP, Sintusp e Adusp, Apropuc e Afapuc qual é? Tanto que os funcionários, quando a gente
negociava junto diziam olha, eu sou funcionário, e eu respondia, eu também! Porra, tá escrito aqui. Só que
eu sou funcionário docente e você é funcionário não docente. Então nós fizemos lá a AFAESP, Associação
dos Funcionários Docentes e Não Docentes da Escola de Administração. Então começou a haver um
movimento que se contrapunha ao sindicato, porque o sindicato não tinha representação nenhuma. Por isso
que culminou naquilo que eu te disse, havia grupo de professores que queria que a ANDES fosse o
presidente do sindicato, mas a gente disse, não, nós é que vamos fazer isso aí. Então havia, na escola básica
antiga não lá muito movimento, mas na superior, por iniciativas da federais, começou o movimento de
criação de associações. Quando nós assumimos o sindicato, as associações foram incorporadas, aí elas se
sentiram representadas, quem que continuou nesse universo? A Apropuc, só. Porque a Apropuc tem uma
outra organização. A associação da GV por exemplo, virou uma associação assistencialista. O pessoal
alugava vídeo, eu já deixei de participar. Mas é isso daí, então havia essa movimentação porque o sindicato
ele não se manifestava. E o ensino superior pior ainda.
766

Então o SINPRO, naquele período, a gente pode arriscar em dizer, ainda que precocemente, que a
expansão do ensino privado, independente da maneira que isso estivesse acontecendo, não era um
incômodo para a entidade? A expansão do ensino privado de uma maneira geral, não incomodava o
SINPRO?
Então, veja, a expansão do ensino privado tem dois vieses. O viés dos mantenedores e o viés dos
professores. Dos professores, o que aconteceu? Uma organização paralela. Dos mantenedores, eu de fora,
o Luiz Antônio estava por dentro naquela época já né, tentando ganhar por dentro, mas eu de fora via como
uma conivência com os patrões do ensino superior.
Porque esse viés formativo, ou a essência sindical em forma a consciência de classe...
Ah, naquela época nada.
Nada?
Nada. É um período que eu digo pra você, a minha impressão, sem militar diretamente nele, saindo do
movimento estudantil universitário, e começando a militar, começando a constituir família, num
determinado momento preocupado só com a minha formação, meu trabalho, fui fazer pós na PUC, eu tive
um convite para trabalhar na PUC não fui, porque a PUC não pagava um terço do que eu ganhava no São
Luís, que aquela época a PUC atrasava para caramba, eu disse para o professor que me convidou, doutor,
pô eu tenho família e tal...
Acho que foi quando começou a trazer de volta que estavam exilados e eles trabalhavam de graça na
PUC...
Foi em 76, por aí. A PUC não tinha dinheiro, tinha uma confusão lá, eu fiz uma besteira danada, mas eu
estava fazendo pós lá, etc, mas de qualquer maneira não havia essa consciência mesmo.
Não era o cerne da entidade?
Não, naquele momento, e eu militando muito mais no ensino básico, porque eu fui pra vale para o ensino
superior só em 87, a percepção que eu tinha era de um sindicato que se não era apoiador, era conivente,
conciliado com o regime, e não soube avançar na redemocratização. Então 83, qual é a participação do
SINPRO no movimento das Diretas? Zero. Nada. Qual é a participação do SINPRO nas eleições? Alguns
diretores apoiaram o Fernando Henrique.
Individualmente.
Não enquanto categoria. Não como sindicato. Nem fez nada para mudar. Houve alguma manifestação do
sindicato junto à categoria no movimento das Diretas? Naquela época eu estava no Palmares, era um reduto
de esquerda, diferente do São Luís que era de direita, porque o Palmares tinha muito pai da USP, etc. e tal,
nós fizemos um movimento interno lá no Palmares, mas só o Palmares, os professores do Palmares. No São
Luís não se falava nada de Diretas Já. Mas no Palmares eu participei de um movimento lá, fomos para a
Praça, levamos alunos, mas no São Luís se eu abrisse a boca eu era demitido. E grande parte do meu salário
vinha de lá. Mas o sindicato não fez movimentação alguma. Em 88 quando a gente assumiu, aí nós tivemos
uma participação importante na Constituinte. Aí o SINPRO teve uma participação.
De representatividade...
Sim! Além dos problemas, nós defendemos muito o corporativismo, mas nós fomos além do
corporativismo. Se você pegar todas as publicações da gente até aquela época a gente investiu muito nessa
história começamos a participar muito inclusive com o DIAP, lá que a gente começou a conhecer o DIAP,
hoje eu sou presidente do DIAP. Mas naquela época o DIAP era, começou em 1983, então a gente teve uma
participação muito importante.
E como que o DIAP – Departamento, participava da luta contra a ditadura em 1983?
767

Eu conheci o DIAP em 87, eu não conhecia em 83. Não conhecia, o sindicato não dava notícia nenhuma.
Em 88 eu era vice-presidente do sindicato, eu fazia a imprensa do sindicato. Então a gente criou no jornal
uma coluna “Você sabia?”. Você sabia que o sindicato “tal” tem coisa e nós não temos? A nossa Convenção
Coletiva era uma convenção tímida.
Eu escrevi um artigo sobre esse jornal e fui apresentar na Argentina. Mas eu fiz do Quadro Negro, virou
capítulo de livro, inclusive.
Quadro Negro! Fui eu que inventei. Depois deixou de ser Quadro Negro quando veio o politicamente
correto. E aí também houve uma outra orientação, mas naquela época eu descia o pau, descia o cacete, eu
era o diretor responsável. Eu tomei dois processos naquela época.
Eu estudei bem e percebi esses processos.
Você pegou aquele do Maluf, “farinha do mesmo saco”?
Eu vou te mandar um livro.
Aquela capa, “farinha do mesmo saco”, que era o Maluf e o Collor, Maluf estava disputando com Fleury
aqui, e a gente decidiu que Maluf nunca mais, se disputar Maluf e cachorro, eu vou latir, né? E aí a
APEOESP tinha soltado um jornal contra o Maluf e esse jornal tinha sido apreendido. Então eu bolei o
seguinte, nós vamos fazer um jornal para valer, para ferrar o Maluf, e na época quem imprimia o jornal era
a Folha, e nós vamos sair direto da Folha para a Vila Leopoldina onde eram expedidos os malotes. Então
foi tudo feito direitinho, aquela coisa de CEP estava começando, e mandamos para a casa dos professores.
Deixamos quinhentos no sindicato. Duas horas depois a polícia estava lá prendendo os quinhentos. Mas a
gente já tinha enviado dez mil (risos). Aí o Maluf me processou, aí o nosso advogado falou assim, gente aí
nessa história você vai entrar em cana. Então precisa arrumar um tranca rua que é o Malheiros. Então ele
conversou com o Malheiros e eu fui primeira vez na Polícia Federal sem levar tapa, eu fui lá na Rua Piauí
falar e dar tal depoimento para um delegado. E quem foi comigo foi a Flavia Rahal que depois virou
advogada do Valerio. Foi presidente dos advogados, uma advogada brilhante além de ser muito bonita e
ela foi comigo lá aí o delegado disse para mim, aí professor e tal. Eu falei, a responsabilidade é minha,
porque a jornalista na época perdia o MTB se ela fosse processada. Aí ele falou sabe que a minha mulher é
professora, puxa gosta muito do trabalho de vocês, então professor é o seguinte, a gente sabe que o Maluf
rouba, mas não pode não pode escrever (risos). Bom, o Malheiros deu um jeito lá, segurou o processo cinco
anos, e aí prescreveu. Entendeu, por isso que o Malheiros é chamado de Tranca Rua (risos). Aí um dia a
Flávia me liga e diz, professor parabéns! Hoje é o aniversário, tem cinco anos, prescreveu, acabou! É aí que
estou dizendo, nós começamos a tomar partido da história, foi nesse período. Antes disso o sindicato não
produzia um jornal. Nada. Absolutamente nada. O sindicato era uma instância burocrática. Ah, tá bom,
tinha uma convenção coletiva, garantia alguns direitos, mas era uma instância burocrática que era
assistencialista. Então quem era amigo do rei tinha dentista de graça. Hélida, você sabe que tem uma carteira
de não-sócio? Você sabia disso? Está no Centro de Memória Sindical. Carteira de Não-Sócio do Sindicato
dos Professores. Porque eu fazia a ficha para me sindicalizar, e a diretoria tinha que abonar, e nunca a
diretoria abonava. Eu dizia, porra Leopoldino, eu quero ir para a Colônia, eu quero ir ao médico, então
enquanto a diretoria não decide, eu te dou uma carteirinha que você tem direito ao serviço assistencial, mas
não é sócio, não pode votar. Então eu não tinha certeza se você estava do meu lado ou não, e você parava
de me encher o saco. Tá bom? Pronto! Aí você ia pra Colônia, e aí vamos ver se eu te ganhava, ganhava o
teu voto, aí você virava sócio. Essa carteira está no Centro de Memória Sindical. Quando nós entramos
tinha carteira de não-sócio, tinha todas essas fichas engavetadas. Eu abria a gaveta e tirava ficha. Aí eu
chamava o professor e dizia, você está sócio. Ah, estou, que legal! Então de fevereiro a outubro nós fizemos
sete mil sócios. E fizemos o “Baile dos Dez Mil” em outubro.
E antes disso, dois mil?
768

Na eleição tinha dois mil e setecentos, por aí, coisa do tipo. Nós ganhamos a eleição por cento e sete votos,
para você ter uma ideia, que foram os votos do Mackenzie e do Arquidiocesano, basicamente. Então a
inserção do sindicato no movimento era nula. Eu sei que o movimento sindical tinha problemas, começou
a emergir com os Metalúrgicos em 80. Mas o Sindicato não surfou nessa onda, muito pelo contrário, ficou
retraído. O maior exemplo que eu te dou é 83. Onde todas as escolas praticamente deveriam estar discutindo
isso, e o movimento era sufocado, eu te dei o exemplo, São Luís e Palmares. No Palmares a gente
participava, discutia com aluno, e no São Luís nem abria a boca. E o sindicato não me dava elemento algum
para isso. E eu devia me apoiar no sindicato, não é? Onde estava o Sindicato nas Diretas Já? Sei lá! Sei lá!
Então esse era um dos motivos que a gente tinha inclusive para disputar contra o sindicato. Isso aconteceu
em 78 e depois em 83. Naquela época Demetrio Magnoli era LIBELU ainda.
Então o sindicato se isentou da luta em momentos cruciais, se absteve?
Não tinha esse sentimento política de classe. Era assistencialismo. A maior conquista que esse sindicato
teve em 83 foi um ano de estabilidade para todos os professores e trabalhadores. Por quê? Porque o
Leopoldino ia se candidatar de novo em 83 e ele acertou isso com o patrão. Então teve um ano que você
não podia mandar professor embora.
É porque do nosso ponto de vista, e eu imagino que do seu também, a expansão do ensino privado alterou
muito a configuração social. É nesse sentido que vem a minha preocupação, quando eu falo de
consciência de classe, não são só as questões classistas, mas questões sociais simples mesmo. Não
precisaria nem chegar na classe, mas de entender como isso afetaria o mundo – e afetou – a gente está
aqui hoje vendo o que está acontecendo.
O sindicato não fez essa avaliação. Por exemplo, hoje a nossa maior preocupação é com essa
mercantilização, e de alguma maneira precisamos atingir esses professores. Nós encomendamos uma
Pesquisa Quali, para dar uma pensada nesse professor. Nós já fizemos uma há cinco anos atrás, eu não sei
se o Luiz Antônio te deu a pesquisa...
Ainda não...
Fizemos uma há cinco anos atrás para saber como que o professor se enxerga, como é que o professor do
ensino superior enxerga a profissão, fizemos focos, dois grupos. Quem orientou a pesquisa foi a empresa
da Clarice Herzog que era muito boa na época, mas hoje ela está fora do mercado. Mas chegamos à
conclusão, Hélida, que o professor do ensino superior não se enxerga como professor.
Não se enxerga como trabalhador?
Como professor! Como trabalhador é ainda outra coisa. Pegamos um colega seu, isso muito cá entre nós,
da Uninove, esse grupo eu assisti atrás do espelho, a mediadora diz para ele, o senhor faz o que? Eu trabalho
na Uninove. Quantas horas? 40 horas. Pesquisador, coordenador, pititi, pototó, muito bem. Quando o senhor
preenche uma ficha, o senhor se identifica como? Biólogo. Mas o senhor não é biólogo, o senhor é
professor. Se eu falar para a minha mãe que eu sou professor, ela acha que eu dou aula para criança no
ensino primário. Você acredita que um pós-doutor falou isso? (risos)
Que pena, não é?
Um dos que estava no grupo era diretor de um curso de engenharia, que estava na profissão há vinte e cinco
anos. E o senhor? Eu sou engenheiro. Mas há quanto tempo que o senhor não exerce a engenharia? Ih, acho
que há uns vinte e cinco anos, mas eu pago o CREA, porque eu sou engenheiro!
E tinha gente da medicina?
Não. Mas médico, por exemplo, é médico. Eu só tenho um exemplo melhor, que é a Santa Casa. Lá tem
dois tipos de médicos. Um que vai até o segundo ano, que ele se considera professor, eu trabalhei muito
769

com esse pessoal. Eu fiz o trabalho sindical lá dentro, maravilhoso. A partir do segundo ano, ele é médico.
Ele nem é registrado como professor. Porque na Santa Casa o cara vai para o hospital no terceiro ano. E
aqui eu sou teu tutor, mas eu sou médico. Agora, até o segundo ano tem uma consciência social maravilhosa.
Um dia a gente, falando para os caras, para com isso não aguento mais esse cheiro, a gente fazia reunião lá
perto do necrotério, do laboratório lá embaixo, aquela Santa Casa é lida. Um dia nós buscamos deliberar
greve tinha três médicos lá dentro e um grupo de enfermeiras, que também é, eles chamam de medicina
social; aí eu falei, vamos deliberar a greve aqui? Vamos deliberar a greve. Já topamos, só vamos votar.
Com três? Sim, com três. Tá bom, fica tranquilo amanhã todo mundo tá parado. E era verdade. No dia
seguinte a Santa Casa estava parada. Impressionante a união e a capacidade de comunicação. Mas isso nos
dois primeiros anos! Mas no Hospital nem entro lá porque o cara diz que eu sou leigo, não tenho avental,
não tenho DR na frente... Agora, nos outros cursos de medicina o cara é médico, isso fora de qualquer
cogitação. Porque ele tem que ser médico Hélida, eu não quero ter aula com um cara que é teórico que não
meche em paciente. Tá certo? Então ele tem que ser médico. Agora nas matérias básicas, anatomias, etc.,
ele continua sendo médico, na Santa Casa não. Nessas matérias básicas o cara se considera professor. Agora
nas outras profissões, que o cara, o tal do engenheiro da vida, o tal do biólogo, você pega um cara, e eu quis
orientar a pesquisa para isso, porque eu que sugeri essa pesquisa, de escolas, como chamar, não do primeiro
time, que pagam mais, em termo de salário, e como esse professor se enxerga na profissão. Então é um
problema sério, pois nós chegamos à conclusão de que o professor não se vê como professor. Então como
é que você vai discutir uma consciência de classe com um cara que não se enxerga como tal? Pega lá um
Nóvoa da vida, profissão professor etc.
Nem como categoria ele se reconhece, imagina como classe...
Exatamente.
E a UNINOVE continua sendo o maior empregador do SINPRO?
Sim, hoje é. Depois a UNIP. Mas a UNINOVE é o maior. Aqui no SINPRO, né, porque a Anhanguera tem
muito no ABC. E a UNINOVE é o grande empregador. Tempos difíceis, mandaram muita gente embora
para contratar recém-formado para ser tutor. Primeiro que nós, movimento sindical, não nos entendemos
com relação ao tutor. Faz cinco anos que alerto para isso.
Há uma divergência interna?
Isso, interna. Eu coordeno a negociação e faz cinco anos que eu estou dizendo para os meus pares, nós
vamos nos ferrar, nós vamos nos ferrar, tutor não é professor universitário. Ele é professor, mas não é
professor universitário. Então vamos escrever um capítulo à parte para ele, porque a pior coisa que pode
acontecer é esse tutor ser considerado não docente. Faz cinco anos que estou dizendo que vai acontecer e
aconteceu, saiu o parecer do Conselho Nacional, que está nem carne nem peixe, daquele tal do Dourado
que veio no nosso congresso e enganou a gente, disse que ia falar que (eu chamo ele de Humberto Costa de
bochecha porque ele é parecido com o Humberto Costa e ele é bochechudo) ele fez todo mundo gritar
“Dourado” na hora que apresentou o parecer ele escamoteou. E hoje eles podem contratar negociamos no
ensino superior um capítulo E hoje eles podem contratar, e nós não negociamos no ensino superior um
capítulo, e hoje eles podem contratar um tutor como administrativo, e precisa ter só graduação, acabou.
Então essa molecada que sai do curso de graduação, coloca como tutor por mil reais por mês, dando
assistência para dois mil alunos. Como funcionário administrativo, sem nenhuma garantia. E agora temos
que correr atrás do prejuízo. Se você não convence nem o Conselho Nacional disso, que tutoria é docência,
vai convencer o juiz. Mas não adianta, é como a hora tecnológica, eu saí berrando pela hora tecnológica,
inventei a história do professor de 30 horas, tivemos uma boa penetração de imprensa, mas nós batalhamos
nisso? Não. Hélida, preciso encerrar querida, tenho uma reunião que já estou atrasado.

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