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| | Iniree folalsgo cena i i é Lahorgue. © Todos os direitos reservados Pa? Josiele Bené Lahorgs lustracdo: Galvio Bertazz / Revisio e Adaptacio: Apoliana Regind a co Rus Revisio ortogrifica e gramatical: Ana Paula Evaris Projeto Grifico ¢ Editoracio: Liquidificador Conselho editorial: ‘Aline Assumpgio Charles Steuck Carla Fernanda da Silva Daiana Schvartz Edio Raniere Gregory Haertel Jamil Anténio Dias Ricardo Machado L184) Lahorgue, Josiele Bené. Jovens, politica(s), cidade(s): didlogos na urbe e suas (im)possibilidades / Josiele Bené Lahorgue. - 1. ed. — Florianépolis : Liquidificador, 2016. 197 pail. Inchui bibliografia. ISBN 978-85-63401-13-7 1. Jovens ~ Politicas pt j publicas. 2. Juve _ Movimento estudantil. I. Titulo, siete Ficha Catalogrifica claborada pela Bi CDD 22 - 305.23 Pele Bibloteciria Sandra Cristina da Silva, Msc. — CRB 14/945 Liquidificador wwwiliquidificad 2016 pcarcbr JOVENS “Eu acredito é na Que segue em frente € segura 0 rojio (..) Eu vou no bloco dessa mocidade Que nio té na saudade € constr6i A manha desejada” (Acredito na Rapagiada ~ Gongaguinha) As ciéncias modernas compreendem a vida dos sujeitos através de categorias universais, consideradas como necessarias para a compreensio do desenvolvi- mento humano (GROPPO, 2000). Essas categoria: que se definem através de limites etarios » econdmicos e sociais, sofreram alteragGes ao longo dos séculos XIX e XX, assim como os conceitos de adolescéncia, juventude e puberdade, que foram divisGes criadas, recriadas e suprimidas ao sabor das mudan- gas sociais, culturais, e de mentalidade, pelo reco- nhecimento legal ¢ na pratica cotidiana. [...] cada termo se refere a um tipo de transformacio que 0 individuo sofre nesta fase da vida (GROPPO, 2000, p. 13). dade foi ctiado pelas ciéncias médicas nsformagées no corpo da corpo adulto; encontra-se, Jaa psicolo- O termo pube como referéncia 4 fase de tra: crianga, assim, relacionado gia, a psicanilise ea pedagogia adolescéncia buscando retratar as a personalidade e no comportamento do su 1 ; em transigao para a fase adulta da vida. A sociologia cunhou o conceito de juventude para tratar do “perio- des sociais da infancia e€ as (GROPPO, 2000, que se tornara um C 4 maturacio bioldgica. criaram o concelto de Iteragdes ocorridas na jeito quando do intersticio entre as fun fungdes sociais do homem adulto” p.14). ‘As discussdes sobre esses conceitos sio muitas na atualidade e diversos estudos (COIMBRA; BOCCO; NASCIMENTO, 2005; GROPPO, 2000; MARGULIS; URRESTI, 2000; GONZALES; GUARESCHI, 2008), problematizam a compreensao da adolescéncia e da ju- ventude como categorias universais. Ao longo dos ul- timos anos, a utilizacio desses conceitos em pesquisas nas ciéncias humanas tomou caminhos diversos. O conceito de adolescéncia foi difundido pelas teorias psicolégicas ao longo dos séculos XIX e XX como uma fase de preparacao para a vida adulta e para a insergio do sujeito na sociedade. E considerada uma fase importante para a definicao da personalidade e da individualidade de cada pessoa (GROPPO, 2000). demon nitt delle (2005) compreen- rias a a Cinctlada 3s te" da vida pela qual ne seni lo considerada uma etapa obrigatoriamente passam. No oraneidade, as ciéncias humanas e entanto, na contemp' isio sobre ela. Muitos pro- sociais transformaram a Vv! fissionais, sejam eles médicos, psicdlogos, pedagogos, identificam essa “fase” nao mais sob a 6tica desenvolvi- mas pelo viés patoldgico, encarando-o como storno e sofrimento onde cada sujeito cas no curso de sua vida. mentista, uma etapa de tran\ é 0 responsavel pelas mudan Se por um lado algumas ciéncias da modernidade buscam enquadrar o sujeito em um padrao (logica de- senvolvimentista), outras perspectivas cientificas enfa- tizam que o processo de constituicio dos sujeitos se dé de forma natural (légica individualista). Com énfase na responsabilidade de cada sujeito sob seu desenvolvi- mento, a perspectiva individualista determina que cada um precisa ter a certeza de que, no momento certo, ira despertar em si as transformacdes necessarias para sua faixa etaria, transformacées estas que foram estudadas e categorizadas como pertencentes a cada grupo de idade (GROPPO, 2000; COIMBRA; BOCCO; NASCIMEN- TO, 2005; SCHWERTNER; FISCHER, 2012). Nesta perspectiva, os conceitos de adolescéncia e de desenvolvimento visam 4 homogeneizagao e ao con- trole das praticas sociais dos sujeitos. Assim, podemos afirmar que ser adolescente remete a tentativa de padro- nizagao dos sujeitos a um modelo que é vendido como © unico possivel; muitos acabam comprando-o e, em decorréncia, 0 processo de constituir-se sujeito resulta por ser serializado. Buscamos, em consonancia com Coimbra, Bocco € Nascimento (2005), auxilio nas teorias de Deleuze e © © 5 para explicar 0 processo que denominamos attari para ©" ee Pp. esses autores Gu Li a das subjetividades. Para esses autores, a de serializaca jenn” : s suiel pjetividade capitalisuca © consumida pelos sujeitos, subjetiv! que acabam por com a referencial identificavel, enqua ran ivacd i buscando, portanto, pjetivagao dominante € uno, Oa le ser adolescente (GUATTARI; ROL- stituirem-se através de um unico jo-se em um modo um jeito unico d NIK, 2010). Criticando essa normatiza ciedade capitalistica, Coimbra, Bi (2005) oferecem a proposta de subversio do conceito io imposta pela so- occo e Nascimento de adolescéncia e optam por trabalhar com os concel- tos de jovem ou juventude € defendem que, cubverter a nocio de adolescéncia é uma agao poli- tica importante nesse momento em que ha tanta in- sisténcia em individualizar e interiorizar as questes sociais, e em psiquiatrizar e criminalizar os ditos desvios das normas impostas a todos nés. O con- ceito de juventude poderia permitir a abertura de espacos para a diferenga que existe nos processos € nos acasos dos encontros [...] (COIMBRA; BOC- CO; NASCIMENTO, 2005, p. 7). Alguns autores da sociologia da juventude definem © conceito “juv >» . . . juventude” a partir de trés perspectivas: ela a i Pela concepcao geracional, como categoria social e pela concepcao de moratoria social. A 5 : LA c (MANNHEIM, 1982; PAIS, ‘oncepgao geracional de como uma constru for , 1996) apresenta a juventu- mee cen : igo Social, diferenciando-se con- exto historico no qual se constitui, ao mes- 9 ‘dera “como um momento do om que a consi tem| oer : woe xn a x ya we vida de todo individuo em relagio 4 condi¢ao ciclo ¢ adulta” (ANSCHAU, 2011, p. 60). Quando considerada como categoria social, a ju ude € percebida como importante no desenvolvi- mento da sociedade moderna, para O entendimento de suas diversas caracteristicas €, mento. Reconhecé-la como uma categoria so- funcional s cial é remeté-la ao pertencimento a uma classe social, uma etnia, um yent principalmente, de seu género, uma fa¢a, entre outros descrito- res que constituem Os jovens (GROPPO, 2000). A juventude, caracterizada a partir dos principios de uma moratéria social, é reconhecida como um espa- go de possibilidades aberto a alguns setores € limitado a alguns periodos historicos. Para compreender essa afir- magio é necessario ter conhecimento do que ocorria em meados do século XIX e inicio do século XX, quan- do alguns setores sociais ofereciam aos jovens a possi- bilidade de adiarem as exigéncias sociais impostas aos adultos, podendo, portanto, permanecerem por mais tempo em uma condi¢io alheia as exigéncias reconhe- cidas como caracteristicas da vida adulta MARGULIS; URRESTI, 2000). As camadas médias e altas podiam oferecer aos seus filhos capacitacao e especializagéo em algum tra- balho especifico. Os jovens de algumas classes sociais ee maior poder aquisitivo - podiam des- ter flhos, ae rene e adiar as eapencias de casar e€ as classes ae ituir suas familias, No entanto, para ¢ poder aquisitivo, os filhos precisa- ajudar financel amente em casa. Ou constituir suas vam trabalhar para entio, saiam cedo da casa dos pals para assim seriam uma boca a (MARGULIS: URRI menos para os , 2000). familias, pois pais alimentarem ra juventude como mora- toria social é reconhecé-la como “am tempo de espera em que 0 jovem se prepara para assumir responsabilida- des do mundo dos adultos” (GONZALES; GUARES- CHI, 2008, p. 474). Portanto, seja pela idade, por uma ategoria geracional, ou como categoria social, a juventude é sempre definida € mitam seu inicio € seu Desta forma, considera: posigao sécio-cultural, por uma C demarcada por critérios que, deli fim. clarecem Schwertner e Fischer que: o termo “juventude” comeca a ser utilizado nos anos 50 do século XX e oscila entre varios registros: de uma simples fase da vida, muitas vezes associada as nocdes de vitalidade, otimismo e descoberta, a uma forca social renovadora (em certas situagées épocas tornando-se sindnimo de rebeldia e até de delinquéncia..). [..] ou, para além de uma etapa cro- noldgica, de um tempo de quase irresponsabilidade ¢ dependé modo de existéncia proprio (2012, p. 397). cia, ao momento de constituigao de um Para Bourdieu (2003, p. 152), “é-se sempre velho ou jovem para alguém”, e neste sentido, velhice e ju- ventude sao construidas socialmente, ainda que cons deradas de forma naturalizada, Afirma, também, que as classificagées por idade (mas também por sexo ou, evidentemente, por classi ; ~-) equivalem sempre a impor limites e a produzir uma ordem 4 qual cada um se deve ater, na qual cada um deve manter-se no seu lugar (p. 152). Portanto, essa classificagao e ordenagao dos luga- res sociais evidenciam a disputa do que ele chama de “divisio do poder”. Com base em estudos desenvolvidos por pesqui- sadores da psicologia (ASSIS, 2011; COIMBRA; BOC- CO; NASCIMENTO, 2005; LEVITAN; FURTADO; ZANELLA, 2009; SCHWERTNER; FISCHER, 2012; GONZALES; GUARESCHI, 2008), percebemos que diversos trabalhos problematizam também 0 uso do conceito juventude. Apresentam a necessidade de rever a compreensio desta como fase de preparaciio para a vida adulta, definida por uma faixa ia, onde ha a ace- leragio do desenvolvimento cognitivo e a estruturagao da personalidade. Segundo Assis (2011), muitas teorias do século XX, referentes ao campo da Pedagogia, Pediatria e Psicolo- gia, tratam a juventude como uma fase natural, universal pela qual todos os sujeitos irao passar, e assim se prepa- rar e amadurecer para entrar na vida social adulta. Esta ebOnaEc a também € presente nas teorias psicologicas criticadas por Coimbra, Bocco e Nascimento (2005). ‘ Se) consideramos importante apresentar as ee ee eee ‘ase fixa e imutavel, como um Processo sociocultural demarcado por padrées de co portamentos. = N c i Nao podemos homogeneizar a nogio de juventude por uma faixa etitia, Embora a ONU ia entre os 15 € os 24 € enquad a defina como a anos ¢ mesmo existind emelhantes entre os sujeitos, a homoge- a possibilidade de lo caracteristicas bioldgicas subjetiv neizagio vai na contramao d compreensio da multiplicidade de experiéncias dos jovens e das singulatidades que os conotam (ASSIS, 2011, p. 90). Portanto, no lugar de juventude e adolescéncia, uti- lizar juventudes, no plural, “como pluralidade constituida na tessitura do contexto social, econdmico, histérico em que os jovens se inserem” (ASSIS, 2011, p. 90), € re- conhecer que a juventude nao é uma fase imutavel, mas sim uma “condicio existente em varios grupos sociais, mas que pode ser significada distintamente por cada um deles, enfatizando os diferentes modos de vivéncia de tal momento” (LEVITAN; FURTADO; ZANELLA, 2009, p.285). Consideramos, porém, que “a simples troca de pa- lavras, [...], no nos garante a quebra de naturalizagdes [..}” (COIMBRA; BOCCO; NASCIMENTO, 2005, p. 8). E necessario subverter esses conceitos (adolescén- cia, juventude, juventudes) instituindo um outro olhar para os sujeitos, ndo a partir de categorias, mas com a compreensao de que cada época social produz maneiras de ser e se relacionar com o mundo. Portanto, a escolha do conceito jovens nesse estudo diz tespeito 4 compre- ensao de que esses “sio sujeitos concretos que se apro- ximam ou nao, em seus modos de vida, dos sentidos produzidos por esses discursos em cada época particu- lar” (GONZALES; GUARESCHI, 2008, p- 466). Os jovens e a produgao de subjetividade Ser um jovem branco, homem, classe média é dife- rente de ser jovem, negro, homem, classe média. Assim como ser jovem, mulher, branca, de classe popular € diferente de ser jovem, homem, branco, classe popular. Ou seja, as variagdes na raga, etnia, classe social e gé- nero sdo constituintes dos modos de ser e viver desses jovens, porém nio os definem enquanto sujeitos. Desta forma, é necessdrio compreendé-los “como resultado de um processo que determina a representagio que eles fazem da sua realidade e o significado que dio as suas agées [...]” (MACHADO, 2011, p. 32). As pesquisas dos tltimos dez anos buscam “com- preender os fendmenos de maneira complexa [...]”, re- conhecendo que os jovens “tanto reproduzem praticas sociais quanto criam possibilidades de agenciamento” (SCHWERTNER; FISCHER, 2012, p. 399). E desta forma que compreendemos os jovens como sujeitos que nao se adaptam 4 tealidade, mas dela se apropriam e a transformam, sendo cada pessoa produto e produtora das relagdes estabelecidas com outros sujeitos e com o contexto em que vivem. Apresentam-se, desta maneira, principios éticos, epistemoldgicos e politicos que permitem uma anilise J lialdviea e eritica acerea do sujeito e de suas relagdes cabe esclarecer, se pautou coma sociedade, ‘Tal anilise, aquilo que em por um olhar para o sensivel, par ifetos, sem dicotomias € polar dos encontros @ de i ces, trabalhando com os discursos a partir das relagdes de tensdes existentes nestes, ou seja, nuMA perspectiva dialdgica, pois, “o sujeito como tal nao pode Sore cebido e estudado como coisa porque, como sujcito € permanccendo sujeito, nao pode tornar-se mudo; con- 6 sequentemente, 0 conhecimento que se tem dele s pode ser dialigico” (BAKHTIN, 2011, p. 400, grifo do autor). A como ativos na construgao das cidades a parti da anali- im, Nos propusemos a compreender os jovens se das relagdes sociais das quais ativamente participam. Portanto, no encontro com os jovens é€ preciso afirmar pensamentos ¢ existéncias sem model a repetir, sem verdades a determinar 0 modus vivendi, Pensa- mentos ¢ existéncias que exigem criaco inven- sao, que esto no plano dos acontecimentos € se evidenciam nos movimentos que possibilitam a inauguragio de outras formas de vida (COIMBRA; BOCCO; NASCIMENTO, 2005, p. 07). Optamos por uti ‘ar o termo jorens para demarcar a compreensa to com a qual trabalhamos neste estudo, pois nao vamos tratar de um jovem tinico e homogé- Aco, tampouco de uma categoria social, mas de jovens —no plural, tal qual a diversidade de gu: , , as condigdes € estilos de vida, Re sobre 0s jovens como atores € niio como simples re- amos a importincia de “depositar um olhar produtores daquilo que vivenciam ¢ experimentam” (SCHWERTNER; FISCHER, 2012, p. 399), Concor- damos com Guattari e Rolnik (2010, p. 43) quando afirmam que 0 sujeito “resulta de um entrecruzamento de determinagées coletivas de varias espécies, nio sd sociais, mas econdmicas, tecnoldgicas, de midia e tantas outras”. Portanto, consideramos o sujeito na relagio com o contexto social, nao apenas como um “recipiente”, mas principalmente como sujeito em devir, disposto a cria- co de algo novo; compreendemos que “€ no encontro, neste meio de proliferagio, que os Corpos expressam sua poténcia de afetar e ser afetado. [3 nele que o desejo flui cria mundos agenciando modos de expressio ea conectividade da vida em suas miultiplas experimenta- des” (NEVES, 2010, p. 195) Sob esta perspectiva, utilizar 0 conceito jovens, con- trapondo-se assim aos demais conceitos apresentados ha décadas nos estudos académicos, deve set conside- tado como um posicionamento politico no modo de compreender a producao da subjetividade. Estudos sobre jovens, politica, cidade Nos ultimos 20 anos, no Brasil, os jovens foram tema de varios estudos produzidos nao somente no campo académico, mas também no setor publico, nos institutos privados e em organizagées nfo governamen- tais (SPOSITO; BRENNER; MORAES, 2009; BO- GHOSSIAN; MINAYO, 2009). Para nos aproximar de alguns destes estudos, rea- lizamos um levantamento de artigos, livros e pesquisas sobre jovens, politica € cidade’, Destacamos aqui alguns trabalhos que de algum modo dialogam com nossa temitica de estudo, como é 0 caso da pesquisa reali- zada por Boghossian e Minayo (2009), que apresenta uma revisio da literatura sobre a participagao juvenil. ‘As autoras relacionam os temas principais de pesquisas publicadas em lingua inglesa e portuguesa, no periodo de 1999 até 2009, Consideram que ha certo desinteres- se dos jovens pelas tradicionais formas de atuagao na politica, o que acarreta em uma baixa participagao em conselhos e féruns, bem como no processo eleitoral. A este desinteresse, acoplam-se diversos entraves que envolvem “a estrutura das instituigdes, preconceitos, di- ficuldades dos atores e uma conjuntura social e politica que engendra crescentes formas de exclusio” (p. 413). Constata-se que a maioria dos estudos concentra o debate em duas percepgées principais: por um lado, aquela que considera que os jovens nao tém partici- pado da politica e, por outro lado, a de que os jovens participam politicamente sob uma nova perspectiva (BOGHOSSIAN; MINAYO, 2009). Contudo, pode- mos constatar a dificuldade encontrada em diferenciat 5 A lista de trabalhos encontrados no levantamento que realiza- sponivel nas Referéncias complementares deste livro. a participagao politica institucional de uma definicao de politica baseada no ja exposto anteriormente. Muitos trabalhos apresentam a conclusio de que os jovens nao se encontram satisfeitos com as dimens6es sociais, sentem necessidade de mudangas, acreditam que a participa¢ao politica é importante e sentem-se as- sim predispostos a participar (SPOSITO; BRENNER; MORAES, 2009; BOGHOSSIAN E MINAYO, 2009; CASTRO, 2008). Portanto, as manifestagdes politicas da juventude sio baseadas em criticas as praticas tradicionais encon- tradas em nossa sociedade e se diferenciam assim das “velhas” praticas dos movimentos sociais. Os jovens participam da vida publica, resistindo ao modo de vida encontrado na sociedade nao mais da forma pragmatica com que as instituigdes atuam, mas inovando nas prati- cas politicas (SOUSA, 2005). Assim, [..] as identidades de suas ages coletivas esto rela- cionadas a um discernimento partilhado, com con- vicgdes de contetido ético, mas, também, ideolégi- co quando aplicadas em praticas de resisténcia que se contrapdem a aces convencionais de interesse pragmatico sobre as estruturas sociais ¢ politicas (SOUSA, 2005, p. 262). Para Castro (2008), a forma institucionalizada de se fazer politica ja nao da conta das demandas dos jovens; no entanto, a autora afirma que, se nao esto institucio- nalizados eles participam de forma pontual, em con- textos e condigées diversificados. Assim, “as formas convencionais da acao politica permanecem em tensio com outras escolhas de engajamento ¢ de participagio na sociedade” (p. 253). A autora destaca que OS convites feitos aos jovens para participarem da vida politica sao frequentemente nteresses, negando assim a mo, negando sua participagao nos mas de se fazer politica. recheados de i possibilidade de inovacio, ou mes: processos de definigao das fo! Com essa caracteristica, deixam que 0S através das praticas ja defini- jovens partici- pem da politica somente das pelos adultos e referendads @ os jovens encontram-se s por tradi¢ao. Muitos dos estudos apresentam qu desinteressados em participar desta politica tradicional, embora se interessem por temas relevantes socialmente. Importante destacar que a politica tradicional, nes- te estudo, € compreendida como os espagos das orga- nizacées estudantis (grémios, centros e diretérios aca- démicos), partidos politicos, associagSes comunitarias entidades juvenis das igrejas, entre outros espacos ins tuidos e legitimados socialmente. Mesmo constatando que os jovens nao querem mais participar da politica tradicional encontrada em nossa sociedade, muitos estudos e pesquisas ainda se realizam nesses contextos, seja na escola, no grémio es- tudantil, no partido politico, na associac’o comunitaria, entre outros. O levantamento que realizamos permitiu constatar que poucas investigacées abordam os jovens nas ruas, nas pracas, nos bosques, nos shoppings, entre outros “espacos” que eles tém frequentado.

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