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Dinâmica de Rotação e Momento de Inércia

André de Oliveira Bezerra, Marcelo Dorea Lima, Leticia Cardoso da Vitória


Profº Marlon Luiz Hneda
Curso de Engenharia Civil, Departamento de Física, Universidade Federal do Espírito Santo,
Caixa Postal 9011, Vitória, Espírito Santo, 29060-970, Brasil
e-mail: andre.bezerra@edu.ufes.br, marcelo.d.lima@edu.ufes.br, leticia.vitoria@edu.ufes.br,
marlon.hneda@ufes.br
Código da Disciplina: FIS09057

Resumo. Este relatório tem como seu objetivo é abordar o experimento realizado sobre Dinâmica
de Rotação e Momento de Inércia. Para o experimento, foi montado um sistema com um giroscópio
contendo um disco de raio maior e um tambor com raio menor com uma massa inserida em um fio
enrolado ao tambor. Ao soltar a massa, o disco começou a rotacionar em torno de um eixo fixo
fazendo com que a massa caísse, passando por cinco sensores fotoelétricos que estavam espaçados
com espaçamentos iguais abaixo do sistema, medindo o tempo que o objeto levou para passar por
cada um deles. O experimento foi realizado cinco vezes e foi possível estudar a relação entre o
tempo de queda e a altura. Por meio dessa relação pôde-se determinar o momento de inércia do
disco e comparar esse resultado com o valor previsto teoricamente. Após isso, foi possível concluir
que a equação teórica para o momento de inércia é válida, com a presença de pequenas variações
que podem ser corrigidas com uma maior precisão na medição da massa que contribuiu, de fato,
para a inércia do sistema.

Palavras chave: dinâmica de rotação, momento de inércia, giroscópio, física.

Suportes Acopláveis, um Tripé, cinco Sensores, um


Introdução Multicronômetro, Trena e Paquímetro.
Com os materiais em mãos, montamos o
Assim como um corpo massivo apresenta sua giroscópio de maneira que ficasse nivelado na
tendência de permanecer em seu estado inicial de maneira correta, para que o experimento pudesse ser
movimento com uma velocidade constante – que
realizado. Os cinco sensores fotoelétricos foram
inclusive pode ser zero, no caso em que o somatório
posicionados verticalmente com espaçamento de 15
das forças atuantes é nulo – também existe uma
cm entre cada, totalizando 60 cm de espaço coberto
resistência à mudança no movimento rotacional.
por eles. O tambor do giroscópio possuía um fio
Esta resistência à mudança em sua velocidade enrolado nele e na ponta deste foi adicionado um
angular é conhecida como momento de inércia do
objeto de massa 𝑚, de forma que o disco maior do
respectivo corpo.
giroscópio girasse quando o objeto fosse liberado.
Além disso, sabe-se que um corpo em rotação
O esquema de montagem do sistema está
possui um certo torque associado ao seu movimento.
representado na Figura 1, abaixo:
Torque é uma medida de força que pode causar um
objeto girando ao redor de um eixo. Assim como a
força é o que faz um objeto acelerar em cinemática
linear, torque é o que faz com que um objeto adquira
aceleração angular. Torque é uma grandeza vetorial.
O sentido do vetor torque depende do sentido da
força no eixo.
Desse modo, esse relatório tem como objetivo
realizar o estudo da dinâmica de rotação por meio de
experimentos utilizando um giroscópio, um
dispositivo utilizado no ensino de física para
demonstrar a Conservação do Momento Angular. Ao
fim, deverão ser verificados os princípios de
momento de inércia e de torque.

Procedimentos
Figura 1: Esquema de montagem do
Para a realização do experimento, foi utilizado os experimento
seguintes materiais: Giroscópio, Massas com
Antes do início do experimento, foi realizada deslocamento da massa causou um torque no disco
todas as medições necessárias: a espessura do disco de raio 𝑟. O disco de raio maior 𝑅 = (0,1230 ±
maior e seu respectivo raio, a massa do objeto, assim 0,0005)𝑚 , o qual se deseja obter o momento de
como o raio do tambor do giroscópio. inércia 𝐼𝑅 , e possui espessura 𝑒 = (0,02825 ±
Após essa etapa concluída, o experimento, que 0,00005)𝑚 e massa específica equivalente a 𝜌 = 900
consistia em soltar a massa e cronometrar o tempo 𝑘𝑔/𝑚³, tal valor de 𝜌 corresponde a massa específica
gasto para que ela passasse pelos sensores, foi do material que constituía o disco. Vale ressaltar que
realizado cinco vezes e teve todos os seus para determinação dos raios, foram aferidos os
respectivos valores anotados. Em todas as repetições diâmetros e esses foram divididos por 2, sendo
foi tomado o devido cuidado, para que a massa fosse mantida a sua respectiva incerteza.
liberada na iminência do sensor 0 (S0), Para experimentação da Dinâmica de Rotação e
aproximadamente, 1 mm acima desse sensor. Momento de Inércia foi utilizada, no
multicronômetro, a função F1 que entrega os tempos
Resultados e Discussões entre os sensores. Nesse sentido, a Tabela 1, a seguir,
relaciona cada tempo de passagem 𝑡ℎ𝑖 em segundos
O experimento foi realizado com uma massa
𝑚 = (0,15698 ± 0,00001)𝑘𝑔 que pela ação da com suas respectivas posições 𝐻 em metros. Já na
gravidade 𝑔 = (9,79 ± 0,01)𝑚/𝑠² foi acelerada. Tabela 2, apresenta os valores de 𝑡ℎ𝑖 para cada
Por estar amarrada ao disco menor de raio 𝑟 = repetição 𝑛.
(0,02255 ± 0,00005)𝑚, a força provocada pelo

Tabela 1: Tempo associado a uma posição

𝐻(𝑚) ∆𝐻(𝑚) 𝑡𝐻𝑖 (𝑠)


S0 - S1 0,1490 0,0005 𝑡𝐻1
S0 - S2 0,2970 0,0005 𝑡𝐻2
S0 - S3 0,4430 0,0005 𝑡𝐻3
S0 - S4 0,5960 0,0005 𝑡𝐻4

Tabela 2: Tempos de passagem entre os sensores

𝑛 𝑡𝐻1 (𝑠) 𝑡𝐻2 (𝑠) 𝑡𝐻3 (𝑠) 𝑡𝐻4 (𝑠)


1 1,38770 2,13610 2,71135 3,20590
2 1,37055 2,11835 2,69260 3,19880
3 1,34580 2,08375 2,65670 3,14960
4 1,35980 2,10070 2,66475 3,15130
5 1,36585 2,10070 2,65290 3,13160

Foi calculado, para cada tempo 𝑡𝑖 , um tempo 𝑡


Tabela 3: Tempos médios com incerteza
da forma 𝑡𝐻 = (𝑡𝐻 ± ∆𝑡𝐻 ) 𝑠, sendo 𝑡𝐻𝑚 o tempo
médio determinado por média aritmética e ∆𝑡𝐻 , a 𝑡𝐻1 (𝑠) 𝑡𝐻2 (𝑠) 𝑡𝐻3 (𝑠) 𝑡𝐻4 (𝑠)
incerteza calculada pelo desvio médio. As Equações
𝑡𝐻𝑚 1,37 2,11 2,68 3,17
1 e 2 foram utilizadas para determinar 𝑡𝐻𝑚 e ∆𝑡𝐻 ,
respectivamente. Os resultados obtidos estão ∆𝑡𝐻 0,01 0,02 0,02 0,03
expostos na Tabela 3:
Sabemos que, para esse experimento, o tempo de
𝑡 𝐻𝑖
𝑡𝐻𝑚 = ∑𝑛𝑖=1 (1) queda é determinado pela fórmula, seguidamente,
𝑛
exposta pela Equação 3:
|𝑡𝐻𝑚 −𝑡𝐻𝑖 |
±𝑡𝐻 = ± ∑𝑛𝑖=1 (2) 2𝐼𝑅 +2𝑚𝑟 2
𝑛 𝑡𝐻2 = ∙𝐻 (3)
𝑚𝑔𝑟 2
Observando a Equação 3, é possível notar que é 𝑡𝐻2 dá forma 𝑡𝐻2 = (𝑡𝐻2𝑚 ± ∆𝑡𝐻2 )𝑠 2 . A Tabela 4 está
necessário elevar os tempos 𝑡𝐻𝑖 ao quadrado para representada abaixo com os respectivos valores de
linearizar a função, consequentemente, será 𝑡𝐻2 :
produzido um gráfico 𝑡𝐻2 × 𝐻, assim como informa
a Equação 3. Desse modo, os valores da Tabela 2
serão colocados ao quadrado para adquirir valores de
Tabela 4: Tempos de passagem entre os sensores ao quadrado

n 𝑡²𝐻1 (𝑠²) 𝑡²𝐻2 (𝑠²) 𝑡²𝐻3 (𝑠²) 𝑡²𝐻4 (𝑠²)


1 1,92571 4,56292 7,35142 10,27779
2 1,87841 4,48741 7,25009 10,23232
3 1,81118 4,34201 7,05805 9,91998
4 1,84906 4,41294 7,10089 9,93069
5 1,86555 4,41294 7,03788 9,80692

As Equações 4 e 5 foram utilizadas para traçar a reta que melhor aproxima os pontos e
determinar 𝑡𝐻2𝑚 e ∆𝑡𝐻2 , respectivamente. Os encontrar seus coeficientes angular e linear.
resultados obtidos estão expostos na Tabela 5: Com isso, organizamos as informações na Tabela
6 que associa cada tempo ao quadrado a sua
𝑡²𝐻𝑖 respectiva posição e na Figura 1, expõe o gráfico
𝑡²𝐻𝑚 = ∑𝑛𝑖=1 (4) resultante dessa associação.
𝑛

|𝑡²𝐻𝑚 −²𝑡𝐻𝑖 |
±𝑡²𝐻 = ± ∑𝑛𝑖=1 (5) Tabela 6: Tempo ao quadrado associado a
𝑛
posição
Tabela 5: Tempos médios ao quadrado com 𝐻(𝑚) 𝑡𝐻2 (𝑠²)
incerteza
0,149 ± 0,0005 1,87 ± 0,03
𝑡²𝐻1 (𝑠²) 𝑡²𝐻2 (𝑠²) 𝑡²𝐻3 (𝑠²) 𝑡²𝐻4 (𝑠²) 0,297 ± 0,0005 4,44 ± 0,07
𝑡²𝐻𝑚 1,87 4,44 7,2 10,0 0,443 ± 0,0005 7,16 ± 0,11
∆𝑡²𝐻 0,03 0,07 0,1 0,2 0,596 ± 0,0005 10,03 ± 0,18

Com os dados da posição 𝐻 e do tempo ao


quadrado 𝑡𝐻2 é possível gerar um gráfico 𝑡𝐻2 × 𝐻,

Figura 2: Método dos quadrados mínimos para obtenção dos coeficientes angular e linear da reta que melhor
aproxima os pontos
A equação do gráfico foi obtida com o auxílio do Sendo assim, podemos usar a Equação 17 para
software SciDAVis. O coeficiente angular 𝑎 da encontrar M.
função, comparando com a Equação 3, corresponde
à: 𝑀 = 𝜌𝜋𝑅²𝑒 (17)

2𝐼𝑅 +2𝑚𝑟 2 Substituindo a Equação 17 na Equação 16,


𝑎= (6)
𝑚𝑔𝑟 2 temos:
Já o valor de 𝑏, corresponde ao tempo inicial ao 1
𝐼𝑅 = ∙ 𝜌𝜋𝑅²𝑒𝑅2 (18)
quadrado, tendo em vista que é o valor que intercepta 2
o eixo vertical. 1
Como é desejado que seja determinado o valor 𝐼𝑅 = ∙ 𝜌𝜋𝑅4 𝑒 (19)
2
𝐼𝑅 , e como ele está presente no coeficiente angular 𝑎
como mostra a Equação 7, ele é isolado, conforme Com a Equação 19, por conseguinte, calcula-se
mostram as Equações 7 a 12, para encontrar a 𝐼𝑅 teórico:
expressão que o determina. Nesse caso:
1
𝐼𝑅 = ∙ 𝜌𝜋𝑅4 𝑒 (20)
2𝐼𝑅 +2𝑚𝑟 2 2
𝑎= (7)
𝑚𝑔𝑟 2
1
𝐼𝑅 = ∙ (900) ∙ 𝜋 ∙ (0,1230 ± 0,0005)4 ∙
2 2 2
𝑎 ∙ 𝑚𝑔𝑟 = 2𝐼𝑅 + 2𝑚𝑟 (8) (0,02825 ± 0,00005) (21)
𝑎𝑚𝑔𝑟 2 − 2𝑚𝑟 2 = 2𝐼𝑅 (9) 𝐼𝑅 = (0,0183 ± 0,0003) 𝑘𝑔 ∙ 𝑚² (22)
𝑎𝑚𝑔𝑟 2 −2𝑚𝑟 2
= 𝐼𝑅 (10)
2
Com os dois valores de 𝐼𝑅 determinados, é
𝑎𝑚𝑔𝑟 2 possível calcular o desvio 𝑑 do valor teórico, a fim
𝐼𝑅 = − 𝑚𝑟 2 (11) de conferir a discrepância dos resultados. Abaixo,
2
está descrito, o cálculo para o desvio, sendo o
𝑎𝑔
𝐼𝑅 = 𝑚𝑟 2 ∙ ( − 1) (12) resultado final em módulo:
2

A partir da Equação 12, é possível determinar o 𝑑 = 𝐸𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 − 𝑇𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 (23)


valor de 𝐼𝑅 experimental:
𝑑 = (0,0069 ± 0,0002) − (0,0183 ± 0,0003)
𝑎𝑔
𝐼𝑅 = 𝑚𝑟 2 ∙ ( − 1) (13) (24)
2

𝐼𝑅 = (0,15698 ± 0,00001) ∙ (0,02255 ±


(18,0±0,3)∙(9,79±0,01)
0,00005)2 ∙ ( − 1) 𝑑 = (0,0114 ± 0,0005)𝑘𝑔 ∙ 𝑚²
2
(25)
(14)
Os valores apresentaram uma diferença relativa
de 𝑑 = (0,0114 ± 0,0005)𝑘𝑔 ∙ 𝑚². Essa diferença
deve-se pelo fato de o disco maior não ser um
𝐼𝑅 = (0,0069 ± 0,0002)𝑘𝑔. 𝑚² (15)
cilindro perfeito e no cálculo da estimativa da massa
𝑀, o disco foi considerado como sendo um. Além
Partindo para parte teoria de momento de inércia,
disso, o eixo do giroscópio pode ter atrapalhado no
temos que 𝐼𝑅 pode ser obtido a partir da Equação 16,
cálculo dos resultados, tendo em vista que o encaixe
demonstrada abaixo, e M corresponde a massa do
do disco no aparelho ocorre por sua fixação no eixo
disco maior:
que atravessa a seção do disco diminuindo a massa e
1 afetando o cálculo.
𝐼𝑅 = ∙ 𝑀𝑅2 (16)
2
Conclusão
Não se conhece a massa 𝑀 do disco, entretanto é
conhecida a massa específica 𝜌 do material Considerando os resultados obtidos, foi possível
constituinte do disco. Para determinar a massa 𝑀, conferir se as previsões teóricas acerca do estudo da
dinâmica de rotação e do momento de inércia. Com
então, basta multiplicar 𝜌 pelo volume 𝑉. O volume
o material disponibilizado para realização do
V é calculado a partir dos dados já conhecidos de
experimento, foi anotado os dados necessários para
raio e espessura, obtidos no início do experimento.
realização do estudo e foram alcançados resultados Referências
satisfatórios.
Para o momento de inércia, foi verificado que a YOUNG, Hugh; FREEDMAN, Roger. Física I:
diferença entre o valor experimental e teórico foi Mecânica, 12ª edição. São Paulo: Addison Wesley,
de(0,0114 ± 0,0005)𝑘𝑔 ∙ 𝑚². Então, podemos 2008.
concluir que a equação teórica utilizada para o
cálculo da inércia é válida, com pequenas
discrepâncias ocorrendo devido a não identificação
correta das massas que contribuíram para a rotação
do sistema, além de outras interferências externas.
De forma geral, alcançou-se com êxito
conhecimentos acerca dos experimentos
laboratoriais relacionados ao estudo da dinâmica de
rotação e do momento de inércia.

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