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Carbono orgânico e estabilidade de agregados de um argissolo vermelho sob sistemas

forrageiros

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Goulart, R.Z.(1); Lovato, T. (1); Pizzani, R. (1); Ludwig, R.L. (1); Schaefer, P.E.(1); Rodrigues, M.F.

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Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, CEP 97905-900, e-mail:
rafaelzgoulart@hotmail.com . Apresentador

Introdução
A estrutura do solo, embora não seja considerado um fator de crescimento para as plantas,
exerce influência direta sobre movimentação de água, transferência de calor, aeração, densidade do
solo, porosidade e desenvolvimento radicular. A matéria orgânica tem efeitos indiretos sobre o solo,
atuando tanto no aumento da agregação e da porosidade quanto na diminuição da densidade do solo.
Os efeitos do manejo inadequado das pastagens contribuem para o declínio gradual da
produtividade, ocasionando baixo valor nutricional da forrageira e perda da fertilidade do solo
(Macedo, 1993), características que afetam a sustentabilidade da pecuária leiteira.
Existem evidências de que algumas práticas conservacionistas, tais como determinadas
técnicas de plantio direto, pastagens bem manejadas, florestas plantadas e sistemas agroflorestais,
podem reduzir drasticamente as perdas de carbono, mantendo-se os níveis de matéria orgânica do solo
(MOS) ou até mesmo aumentando-os, como salienta Freixo et al. (2002).
O tipo de vegetação também interfere na estruturação dos solos, ou seja, as gramíneas são
mais eficientes em aumentar e manter a estabilidade de agregados do que as leguminosas (Carpenedo
& Mielniczuk, 1990), por apresentarem um sistema radicular extenso e renovado constantemente.
O presente estudo teve como objetivo avaliar a estabilidade de agregado e carbono orgânico
total em solo cultivado com diferentes espécies forrageiras, submetidas a diferentes tratamentos em
Mata - RS, buscando indicadores que possam ser utilizados para orientar o manejo sustentável das
terras para a produção pecuária leiteira.

Material e Métodos
O estudo constou da instalação de um experimento de campo, localizado no município de
Mata, RS (Latitude: 54° 27' 29", Longitude: 29° 34' 07" e altitude 103 m) na região Central do RS. O
clima da região é classificado como sendo do tipo Cfa, segundo a classificação de Köppen, com
precipitações e temperaturas médias anuais variando entre 1,558 e 1,762 mm e 17,1 e 17,9 ºC,
aproximadamente (Brasil, 1973). O solo da área experimental é classificado como um Argissolo
Vermelho conforme Embrapa (2006).
O experimento foi instalado em agosto 2006, obedecendo a delineamento experimental em
Blocos ao Acaso com quatro repetições de cada tratamento. Em todas as parcelas que receberiam ou
não adubação de correção, que foi aplicada em superfície, realizou-se uma leve gradagem visando à
incorporação do adubo aplicado. Este manejo foi realizado com o objetivo de uniformizar a área
conforme cuidado recomendado para o tipo de delineamento experimental.
Por ocasião da implantação do experimento, foram coletadas amostras de solo nas camadas de
0-5, 5-10 e 10-20 cm de profundidade e os resultados da análise do solo foram: 168; 193 e 224 g kg-1
de Argila, pH: 6,5; 5,7 e 5,0, P: 23,9; 9,0 e 4,7 mg dm-3, K: 101,6; 70,7 e 57 ppm, MO: 1,8; 1,5 e
1,3%.
Foram usadas duas forrageiras perenes e uma anual no experimento, sendo uma leguminosas
(Arachis pintoi) e duas gramínea (Cynodon dactylon (L.) Pers cv. Tifton 85) e (Pennisetum
americanum (L.) Leeke cv. Comum), isoladas ou em consórcio, com ou sem adubação. Cada parcela
correspondeu a uma área total de 40 m2. A nomenclatura foi definida como sendo: AFAD =
Amendoim forrageiro adubado; TIAD = Tifton 85 adubado; AFTIAD = Amendoim forrageiro + tifton
85 adubado; MAD = Milheto adubado; AF = Amendoim forrageiro; TI = Tifton 85; AFTI =
Amendoim forrageiro + tifton 85; M = Milheto. No dia do plantio realizou-se a adubação química
composta de 80 kg ha-1 de P2O5, 90 kg ha-1 de K2O e 100 kg ha-1 de adubo nitrogenado dividido em
duas aplicações no desenvolvimento da cultura do tifton 85.
As coletas de solo foram realizadas no mês de outubro de 2007, nas camadas já mencionadas.
Os teores de carbono orgânico foram realizados por oxidação da MOS com dicromato de potássio e
determinação por titulação com sulfato ferroso amoniacal. A metodologia utilizada foi Tedesco et al.
(1995). Para análises de estabilidade dos agregados utilizou-se o método de Kemper & Chepil (1965).
Os resultados foram submetidos à análise da variância e quando significativos, realizou-se a
comparação de médias de Tukey em nível de 5%. As análises foram feitas utilizando o programa
estatístico Genes, do grupo de experimentos (Cruz, 2006).

Resultados e Discussão
O DMG representa uma estimativa do tamanho da classe de agregados que ocorre com maior
freqüência. Analisaram-se os agregados estáveis em água através desse parâmetro (Tabela 1), onde a
camada de 0–5 cm apresentou diferença significativa entre as médias para as culturas, diferindo entre
os tratamentos com adubação e sem adubação somente para o consórcio Amendoim forrageiro +
Tifton 85.
O solo apresentou maior agregação quando submetido a cultivo com consórcio entre
leguminosas e gramíneas. As melhores repostas para sem adubação foi com Amendoim forrageiro +
Tifton 85 e para adubados, somente com Amendoim forrageiro. Os tratamentos com adubação não
diferiram entre culturas. Esses resultados são confirmados por Carpenedo & Mielniczuk (1990), ao
verificarem que o consórcio de gramíneas e leguminosas perenes foi eficiente na agregação do solo.
As camadas mais profundas não apresentaram diferença na agregação do solo, expressa pelo
DMG. O efeito mais nocivo à estruturação do solo, que verificou-se na camada superficial, pode ser
atribuído aos sistemas de manejo que adotam revolvimento do solo e baixa adição de resíduos. Estas
práticas afetam a dinâmica da matéria orgânica do solo (MO), que é um dos principais agentes de
formação e estabilização dos agregados (Carpenedo & Mielniczuk, 1990).
A análise de agregados mostrou uma relação direta entre COT e DMG. Tisdall & Oades
(1980), também observaram relação direta entre a estabilidade de agregados e o teor de carbono
orgânico do solo, principalmente em sistema não revolvido. As afirmações podem ser confirmadas
verificando-se a Tabela 1 e as Figuras 1A e 1B, onde o consórcio Amendoim forrageiro + Tifton 85
apresentou o maior teor de COT (Figura 1) e o maior DMG (Tabela 1). Ainda, na Figura 1A, verifica-
se a concentração de carbono mais elevada na camada de 0-5 cm, decaindo com o aumento da
profundidade do solo. O menor revolvimento do solo apresentou tendência à melhoria da estrutura,
verificada pelo aumento ou pela não diminuição da quantidade de agregados, concentrados nas classes
de maior tamanho.
Na camada de 5 -10 cm o Amendoim forrageiro apresentou maior concentração de COT e o
Milheto a menor. Porém, o Milheto apresentou a distribuição mais uniforme de COT nas camadas
estudadas, devido à lenta decomposição dos resíduos vegetais. O pastejo e a fenação também
contribuem para a menor deposição de resíduos orgânicos na camada superficial, sendo, neste caso, a
melhor distribuição do COT atribuída ao efeito das raízes.
Na camada de 10-20 cm a concentração de COT foi semelhante em todos os tratamentos. Pelo
exposto, verifica-se que o COT é dependente da adição de resíduos vegetais para a manutenção de
seus valores. O COT foi semelhante entre os tratamentos com adubação e sem adubação, nesta camada
(Figura 1B). As gramíneas apresentaram um sistema radicular bastante agressivo e profundo, o que
contribui para uma melhor distribuição do COT em profundidade.
Tabela 1 – Diâmetro médio geométrico (DMG) em um Argissolo Vermelho, com e sem adubação
mineral sob diferentes culturas forrageiras. Mata, RS – 2007.
DMG (mm)
SA CA SA CA SA CA
Variáveis Camada 0-5 cm Camada 5-10 cm Camada 10-20 cm
Amendoim Forrageiro 2,5ab*B 3,2aA 1,5** 1,8 1,7** 1,6
Tifton 85 + N 2,4abA 2,5abA 2,1 2,3 1,6 1,4
Amendoim F. + Tifton 85 3,0aA 2,4bB 2,4 2,4 1,8 1,5
Milheto 2,4abA 2,7abA 1,4 1,7 1,4 1,5
*Médias seguidas por letra minúsculas distintas na coluna e maiúscula distintas na linha diferem
significativamente pelo teste de TuKey a 5% de probabilidade. SA = sem adubação; CA = com
adubação; ** Diferenças não significativas.

Conclusões
Os melhores resultados encontrados tanto para os teores de COT e estabilidade de agregados
na primeira camada solo mostram que existe uma relação direta entre os dois parâmetros. Nas demais
camadas do solo observou-se que os efeitos nocivos do revolvimento e da baixa adição de resíduos
ficam basicamente restritos a primeira camada.
Já o COT mostrou-se dependente da adição de resíduos vegetais para a manutenção de seus
valores no solo e que as gramíneas por apresentarem um sistema radicular bastante agressivo e
profundo, apresentaram as melhores distribuições dos valores de COT nas diferentes camadas do solo.

Literatura Citada
BRASIL. Levantamento de reconhecimento dos solos do estado do Rio Grande do Sul. Boletim
Técnico 30, Divisão de Pesquisa Pedológica, Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária
(DNPEA), Ministério da Agricultura. 1973. p. 431.
CARPENEDO, V.; MIELNICZUK, J. Estado de agregação e qualidade de agregados de Latossolos
Roxos, submetidos a diferentes sistemas de manejo. Revista Brasileira de Ciência do Solo,
Campinas, v.14, n.1, p.99-105, jan./mar. 1990.
CRUZ, C.D. Programa Genes: Biometria. Editora UFV. Viçosa (MG). 382p. 2006.
EMBRAPA – Centro Nacional de Pesquisas de Solos. Sistema brasileiro de classificação de Solos.
2a Edição – EMBRAPA Solos, Rio de Janeiro 2006. 306p.
FREIXO, A. A.; et al. Estoques de carbono e nitrogênio e distribuição de frações orgânicas de
latossolo do cerrado sob diferentes sistemas de cultivo. Revista Brasileira de Ciência do Solo,
Viçosa, v.26, n.2, p.425-434, abr./jun. 2002.
KEMPER, W.D. & CHEPIL, W.S. Size distribution of aggregates. In: BLACK, C.A.; EVANS,
D.D.; WHITE, J.L.; ENSMINGER, L.E. & CLARK, F.E., eds. Methods of soil analysis – Physical
and mineralogical properties, including statistics of measurement and sampling. Madison, American
Society of Agronomy, 1965. p.499-510. (Agronomy Series, 9)
MACEDO, V.R.M. Compressibilidade de um Podzólico Vermelho-Escuro fisicamente degradado
e recuperado. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1993. 88p. (Tese de
Mestrado)
TEDESCO, M. J. et al. Análise de solo, plantas e outros materiais. 2. ed. Porto Alegre:
Departamento de Solos – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1995. 174 p. (Boletim Técnico,
5).
TISDALL, J. M.; OADES, J. M. The management of ryegrass to stabilize aggregates of a red-brown
earth. Australian Journal of Soil Research, Melbourne, v. 18. 415-422, 1980, p.
COT Mg ha-1 COT Mg ha-1
4 5 6 7 8 9 10 4 6 8 10 12
0 0
a b
5 5
Profundidade (cm)

Profundidade (cm)
10 10

A. Forrageiro
A. Forrageiro
15 Tifton 85 15 Tifton 85
A. Forrageiro + Tifton 85
A. Forrageiro + Tifton 85
Milheto
Milheto

20 20

Figura 1. Carbono Orgânico Total (COT) sem adubação (a) e com adubação mineral (P e K) (b), em
um ano de implantação do experimento, na camada de 0-5, 5-10 e 10-20 cm de profundidade em um
Argissolo Vermelho, sob diferentes culturas forrageiras. Mata, RS – 2007.

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