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“Abordagens ambientais integradas” ea dimensao cultural Interdigitagbes/conexdes A introdugao empfrica, pela ago humana, de modificagées cada vez ‘mais extensas ¢ profundas no meio fisico faz do préprio homem a vitima potencial da degradacio do ambiente. Em nosso pais, j4 se fazem sentir os efeitos de intensa degradacao, envolvendo grandes extensées de territério,' paralelamente a um nimero consideravel de acidentes e problemas localizados. Dois fatores se integram para a ocorréncia desse aparente paradoxo, que é a degradacio ambiental de um pais em processo de ocupagio: de um lado, os préprios meca- nismos histéricos de colonizacao e, de outro, as reagées pouco conhe- cidas de certos ambientes tropicais. A manutengio de conceitos e a influéncia de civilizacbes de regides frias ou temperadas criaram um ambiente pouco permedvel a pesquisas ¢ a recomendagdes inova~ doras. Colaborando com a manutencio de preceitos tradicionais, nossa grande extensio territorial vem permitindo a translagao de atividades rurais ou extrativistas para terras virgens, mascarando 10s fracassos. A inesperada fragilidade do meio fisico tropical implica a necessidade de um conhecimento detalhado para qualquer tipo de uso. Integradas a outras areas do conhecimento, as condicio- nantes geoldgicas e geotécnicas mostram-se indispensdveis, tanto na previsto de susceptibilidade a degradacao do meio fisico, quanto na concepgao dos modos de prevensio e correcao das degradacies ambientais (ANTUNES, 2004; CORDANI; TAIOLI, 2003). ' Op Cerados, por exemple, ‘enti criamente degradadas ‘incorporados aos"tersi- \érloscorponificads' da soja o que colaca em ricco copes anima e vegeta sbsolutamente partic lars, tipicasdesse bioma, ( Cerrado correspond, a proposita,amaisrica strana do miandal ECONOMIA POLITICA DO MEI AMBIENTE: [ATENTATIVA DE CONSTRUCAO DE UM NOVO ARCABOUCO ‘CONCEITUAL E METODOLOGICO PARA AS INVESTIGACOES CIENTIFICAS NO CONTEXTO HISTORICO RECENTE A integracio de diferentes reas da Ciéncia caracteriza as abordagens das questdes ambientais que procuram enfrentar todas as contradi¢5es da realidade, buscando captar toda sua riqueza e abrangéncia. B a relacio de exchisio entre natureza esociedade em queantes sefunda- mentava a organizacio do saber tem sido cada vez mais questionada pelos pensadores e filésofos na atualidade, Ademais, hé mais de um século um teérico classico como Engels (1991) surpreendentemente i alertava que somos a cada passo advertidos de que nao podemos dominar a natureza como um conquistador... como alguém situado fora da natureza! As transformagées provocadas na biosfera pelos efeitos do crescimento industrial e urbano colocam em evidéncia a profunda interdependéncia das relacdes homem-natureza. E uma abordagem consequente dos problemas ambientais s6 poderd ser viabilizada através da vealizacio de estudos globalizantes, que integrem, a0 mesmo tempo, as variaveis sociais e as naturais. ‘Abusca de uma abordagem te6rica totalizante para a questo ambiental nos remete a discussées de carter nitidamente politico e filos6- fico, pois a incapacidade de se visualizar de forma abrangente a realidade pode aprisionar o pensamento nos limites das concepgées mecanicistas, que, em geral, tendem a confundir totalidade com sistema (0 todo nao é 0 composto de diferentes partes - um sistema, embora um sistema seja um todo...); e a confundir 0 conereto com ovistvel. Uma abordagem totalizante para a questao ambiental nio deve considerar relevante também a busca de solugdes puramente ‘técnicas, no Ambito do planejamento estatal, pois responder a proble~ ‘mética ambiental com uma atitude cientificista ou legalista signi- ficaria se aceitar a neutralidade do Estado e da ciéncia. E devemos, a0 contrario, questionar as propostas de se utilizar a ciéncia como discurso que serve para legitimar a politica... e denunciar 0 discurso da tecnocracia, que se reivindica “neutra” e sempre preocupada com o bem comum. As iniciativas empreendidas no sentido de se tentar viabilizar reformas na legisla¢io que possar promover a preservacio ambiental confrontam-se invariavelmente com as limitagdes das leis, que muitas vezes refletem os interesses daqueles que estéo mais organi- zados para defendé-las (grupos econdmicos, corporacdes, sindicatos, partidos...), ou que possuem mais forca para impedir que leis que no se alinhem com seus interesses sejam implementadas. A engenharia ambiental a servico do Estado muitas vezes absolutiza os projetos, que so apresentados in loco & populacio como dados inquestionaveis (AMORIM FILHO, 1999; CUMMINGS, 1990). E em geral, a popu- lagao que vive nos locais de implantagao de projetos é visualizada at apenas como “componente ambiental” e forgada a se submeter e a se adaptar as exigéncias ¢ ingeréncias do Estado, que se identifica af com uma sociedade envolvente abstrata, que encara as sociedades concretas locais como mero objeto passivo de sua intervencao. © enfrentamento da questo ambiental aponta em uma sé direcao 2 da qualidade de vida - parametro que coloca em discussao todo um relacionamento que envolve de um lado, a natureza, € de outro, 2 sociedade. Historicamente, entretanto, as abordagens globali- zantes da questio ambiental frequentemente enfrentaram fortes obstaculos em termos da ideologia vigente. Como observam Lago 2 Padua (1984), até o final do século XX, vigorava uma ideologia extremamente difundida, elevada quase a categoria de “dogma”. Era a ideologia do crescimento ilimitado, que classicamente postulava que o crescimento acelerado nao sé era possivel e necessario, como definia © proprio nivel de progresso de um pais. Foi a partir dessa ideologia que se estabeleceu a visio linear e reducionista que classifica os paises em “desenvolvidos” e “subdesenvolvidos” ~ uma classificagao que se utiliza de critérios quantitativos e que desconsidera fatores como o meio ambiente, a qualidade de vida e aqueles de natureza social ou cultural Foi também a partir da ideologia do crescimento ilimitado que socie- dades minoritérias que negam o tecnicismo opressivo da racionali- dade capitalista (ou marxista), como os indios das Américas, foram caracterizadas como povos pouco evoluidos, “selvagens”. Como assinala Tuan (1980, p. 78), em relacio as tribos do Novo México (EUA), os indios “nao consideram a natureza como algo a ser dominado por simples razées econ6micas”, Para a Confederacao das Seis Nacdes Iroquesas dos Grandes Lagos (América do Norte), existe uma moti- vacio evidente para o genocidio dos indios das Américas: os povos nativos foram exterminados porque eram um elemento nao assimilével pelas civilizagdes europeias, com sua visio produtivista < igmnpeyosnatvos e mercantilista. De fato, na logica da producio e da acumulagao da daAfiene das Américas, empresa capitalista que se fundamenta na maximizacao dos lucrose —_

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