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The Red Bow
The Red Bow
Prólogo
Lalisa
Johnny era uma pessoa a qual Lisa admirava, sua paixão por June Carter e
pela música era o seu ar. O casal mais lindo que a humanidade pode
presenciar em histórias; eles eram imperfeitamente perfeitos.
Deixou-se refletir sobre sua vida nos últimos anos, infelizmente costumava
fazer isso mais do que se permitia admitir.
Sabe o que dizem, a vida é uma série de escolhas, você faz quem você é.
Sinceramente? Ela preferia acreditar em destino do que nessa teoria. Uma de
suas frases favoritas diz:
—•—
Chaeyoung
Ela estava sentada no sofá da sala com sua irmã mais nova e sua mãe
enquanto seu pai tentava com muito afinco consertar a vitrola empoeirada
que tinha encontrado no porão de casa.
Ella dormia com a cabeça no colo de Diana, sua mãe, e as pernas no colo da
irmã mais velha; a TV reproduzia o filme Frozen pela quinquagésima vez
naquele mês, pois era quarta à noite, dia de passar um tempo em família
segundo seu pai, Mark.
O fato é que já passava das dez da noite e apenas Diana prestava atenção no
desenho levando em conta que Chaeyoung não conseguia tirar os olhos de sua
mais nova leitura: Orgulho e Preconceito de Jane Austen.
– Aqui está! – Exclamou o homem mais velho de barba por fazer, cabelos
pretos e um enorme sorriso no rosto. Ele apontava para a vitrola ao lado do
piano. – Eu sabia que essa velharia ainda servia para alguma coisa.
Mark murmurou algo inaudível enquanto vasculhava disco por disco com
uma ruga formada na testa.
Poucos segundos depois, uma música suave que Chaeyoung reconheceu ser
Who loves you de Billie Holiday ecoou pela sala. Ela sorriu estática, a voz de
uma de suas cantoras preferidas preencheu a casa e Mark estendeu a mão
fazendo reverência para a filha que pulou o sofá em suas meias brancas e se
juntou ao pai em uma dança desengonçada pelo piso de madeira da sala.
Park Chaeyoung, com dezoito anos era estudante de música do primeiro ano
em Juillard.
Como toda adolescente em sua idade ela tinha sonhos e planos para o futuro,
mas sabia de alguma maneira que era diferente desde os seus sete anos,
quando ouviu pela primeira vez seu pai tocar piano na festa de aniversário de
seu avô materno. Foi quando sentiu pela primeira vez as batidas de seu
coração serem guiadas pela melodia da música. Depois disso, logo ela soube
que seria uma grande musicista quando ganhou seu primeiro piano aos nove
anos e um violino de sua prima Tracey. Os professores de música de
Chaeyoung ficaram impressionados com a capacidade de atenção e paixão
com que a garota tocava seus instrumentos, e enquanto as garotas de treze
anos eram apaixonadas por Boybands e seriados adolescentes, seu
compositor favorito era Mozart e sua inspiração vinha de Billie Holiday.
– Meu Deus! O que essa família se tornou? – brincou Diana segurando uma
bandeja com três copos de leite.
Mark girou Chaeyounge correu até a esposa tirando a bandeja de suas mãos
enquanto Chaeyounga puxava para o meio da sala.
Era assim que a família Park costumava ser, alegre e espontânea, talvez um
dos motivos para espirito de Chaeyoung ser tão livre e sonhador.
Observação importante:
Chaeyoung tinha o sonho de encontrar alguém que cantasse Billie Holiday
para ela.
♪♪♪♪♪♪
O dia amanheceu garoando quando Lisa se deu conta de que estava atrasada
em plena segunda-feira.
– Hm... – gemeu Momo deitada de bruços em seu beliche com o braço direito
pendendo para fora. Os cabelos loiros e ondulados até o meio das costas
cobriam seu rosto, mas Lisa tinha certeza de que denunciariam a ressaca de
um domingo a noite.
Vestiu sua camisa social azul-claro de botões, uma calça social preta e o par de
Scarpin Divalesi também preto, era seu uniforme não-tão-sua-cara. O look
original de Lisa costumava ser tênis sujos, calças apertadas e jaquetas de
couro, mas era obrigada a ceder ao social pelo curso quando estava no
estágio.
O dia era seis de setembro de 2016 e Lisa não fazia ideia de que sua vida
estava prestes a mudar para sempre.
Estacionou o carro do outro lado da rua, retocou o batom claro e pegou sua
bolsa. Havia vários alunos do lado de fora conversando animadamente,
outros nem tanto por ser uma segunda feira de manhã.
Julliard era o lugar dos perfeitinhos e disso Lisa tinha plena certeza toda vez
que cruzava com os estudantes nos corredores. Talvez sua amiga de infância,
Jennie, fosse a única fora do padrão daquela vida infinita que existia dentro
de Juilliard.
– Olhe por onde anda! – reclamou uma garota cabelo preso em um rabo de
cavalo alto, pele branca e olhos intensos a qual ela havia esbarrado. Lisa
precisou piscar algumas vezes e desviar o olhar para não ser pega no flagra. –
Você fala?
Lisa sentiu seu rosto esquentar quando questionada mais uma vez, sorriu sem
graça e agradeceu quando a garota lhe entregou a bolsa que tinha caído.
– Uma novata, uh? – a garota brincou começando a andar ao lado da Lisa que
sentiu confiança em seu sorriso, o que, automaticamente, acalmou um pouco
o seu coração.
Os olhos da garota brilharam e ela abriu a boca num sorriso surpreso, o que
fez Lisa unir as sobrancelhas.
– Então você deve ser a garota Columbia. – disse. Quando viu a expressão
curiosa de Lisa, sorriu ainda mais. – Você tem muitos admiradores secretos
por aqui. Admiradores e admiradoras. – acrescentou.
Lisa corou violentamente e virou o rosto para que não fosse descoberta. Ela
definitivamente não sabia o que pensar sobre aquela revelação.
–Tudo bem, garota. Aqui também ninguém é. – Lisa tentou não adivinhar o
que ela quis dizer com aquela frase. – Você se deu conta de que estamos
conversando por um tempo e sequer sabemos o nome uma da outra? –
refletiu se virando com a mão estendida. – Kim Jisoo.
– Lalisa Manoban.
Quando Lalisa abriu a boca para continuar, o Sr. Smith entrou em seu campo
de visão com um pequeno sorriso nos lábios.
– Bom, acho que nos vemos por ai, garota Columbia. – disse Jisoo batendo
continência em brincadeira.
– Foi um prazer, Jisoo. – sorriu e a perdeu de vista quando o Sr. Smith parou
na sua frente estendendo a mão. – Bom dia, senhor.
Jordan Smith era um advogado amigo de seu pai desde muito tempo, ela não
se lembra dele na infância, mas senhor Manoban garantiu que ele seria um
ótimo chefe e mentor em seu estágio, ele só não contava que o amigo estivesse
trabalhando em Juilliard.
Haviam seis mesas ocupadas por estagiários, a maioria deles vindo de NYU.
John e Meet tinham se tornado seus colegas ao longo das semanas que
passaram ali, já o resto da turma composta por garotas não era muito de se
misturar e Lisa não fazia nenhuma questão.
♪♪♪♪♪♪
Chaeyoung sabia que 80% daquelas pessoas não tinham tempo nem mesmo
para as próprias famílias e seu maior medo era de se tornar uma deles.
Ela sabia que em algum momento de sua vida encontraria alguém que a
fizesse querer sossegar em algum lugar, mas também temia que essa pessoa
tirasse dela sua maior paixão que era a música. Um pensamento quase bobo
se não sentido e entendido. A música era tudo o que ela tinha e Chaeyoung
sabia mais do que ninguém que abandonaria tudo para seguir seus sonhos.
– Sabe que às vezes você é muito estranha. – disse Irene entrando na sala
acompanhada de alguns alunos. – Vive nessa sala olhando pela janela, o que
há de tão especial lá em baixo?
– Várias vidas cruzadas. Histórias paralelas caminhando dia após dia por
aquelas ruas. – refletiu a pequena voltando o olhar para a janela uma última
vez. – Vê o quão excepcional é isso?
– Nah! – concluiu seguindo até a fileira de alunos com violinos. – São apenas
um bando de pessoas suadas correndo de um lado para outro.
Irene não entendia. A verdade é que ninguém além de seus pais conseguia
decifrá-la tão facilmente.
♪♪♪♪♪♪
Lisa chegou ao terceiro andar e quase foi atropelada pela enchente de alunos
daquele corredor.
Aquele era o departamento de música segundo a inscrição na parede, então
Jennie estaria enfiada em alguma daquelas salas.
Perguntou, mas não obteve resposta. Lisa começou a caminhar olhando por
cada porta aberta, a maioria estava vazia ou com alguns professores focados
em seus papéis.
Lisa parou no portal e tentou ao máximo não ser vista. Observou atentamente
o que parecia ser uma pequena orquestra, havia uma fileira de estudantes
com violoncelo e violinos no fundo da sala e de frente para eles uma garota
tocava piano delicadamente.
Enquanto sua alma dançava livremente, seu corpo preso à garota misteriosa.
Ela não conseguia ver seu rosto, mas tinha certeza de que o imaginaria todos
os dias dali em diante em seus sonhos.
♪♪♪♪♪♪
Então viu um reflexo no vidro que de inicio a deixou surpresa. Não soube
dizer quem era a pessoa, mas notou que estava sendo observada da porta da
sala e assim que finalizou a música, virou-se rapidamente em tempo de
encontrar ninguém.
Chaeyoung olhou assustada outra vez para a janela e franziu o cenho, era só o
que lhe faltava, estar tendo alucinações.
__________
Lisa foi acordada aos berros por Momo para o começo da primeira aula que
estavam, como de costume, atrasadas. A de cabelos castanhos mal teve tempo
de tomar um banho sem que Momo amaldiçoasse todas as suas vidas
passadas pela demora.
– Você é uma péssima colega de quarto, não serve nem para acordar cedo! –
Reclamava calçando o sapato e penteando o cabelo ao mesmo tempo. Lisa
apenas revirava os olhos quando saiu do quarto enxugando os cabelos com a
toalha. – Além de ser antissocial e ter o pôster de um homem que já morreu
colado na minha cama, é claro.
– Pelo menos não volto de madrugada fedendo a sexo. – Rebateu Lisa
sorrindo vitoriosa quando Momo abriu e fechou a boca.
Elas costumavam ser assim, discutiam como cão e gato, mas se amavam
incondicionalmente como irmãs. Lisa, Momo e Jennie, costumavam serem
melhores amigas de infância em Los Angeles até decidirem que seus sonhos
estavam em NY. Jennie com sua paixão pelo violoncelo conseguiu uma vaga
em Juilliard. O pai de Momo era advogado e muito amigo da família
Manoban, o que levou Lisa e Momo a entraram juntas em Columbia.
As duas conseguiram chegar a tempo para a aula do Sr. Manson antes que ele
fechasse a porta sem piedade. Era um dos professores mais odiados por Lisa,
o homem de 29 anos, cabelos aka Kurt Cobain e olhos medonhos fazia a
grande questão de não deixa-la entrar em sua aula quando se atrasava e isso
só servia para irritar Lisa ainda mais.
O problema é que naquele dia Lisa estava aérea na aula do professor que
servia de cópia mal feita de um astro do rock de 1970; ela quase não tinha
conseguido dormir com os pensamentos voltados para a sala 208.
Era como um vírus que tinha infectado seu corpo e agora estava prestes a
explodir se não encontrasse a cura.
Uma garota.
Nunca havia lhe passado pela cabeça sentir o que estava sentindo por uma
garota, ainda mais uma que nem o rosto tinha visto. É verdade que ela nunca
se apaixonou, então não sabia dizer ao certo sua sexualidade. Caramba, ela
nunca teve tempo para pensar nisso. Esteve sempre ocupada, estudando para
se tornar alguém ao nível de seu pai. "Estude, e um dia poderá administrar
nossa empresa", eram as suas palavras para uma Lisa de treze anos.
Não, aquilo não era nem um pouco convincente. E Jennie sendo Jennie, não
deixaria nada disso passar quando se encontrassem.
Ela tentou abafar o riso com a mão e recebeu alguns olhares desconfiados de
estudantes.
Me: Pode ser que sim.
Perguntava-se se teria sido estúpida por ter saído de lá antes que a garota se
virasse para ela, o medo que sentiu naquele momento a empurrou para longe
da sala, ela não queria isso, sabia que era errado, mas ao mesmo tempo se
tornava completamente certo.
♪♪♪♪♪♪
– Estamos pensando em contar para Lisa sobre nós, mas ainda tenho medo
da reação dela. – explicou fazendo bico e recebendo um tapa no braço de
Jisoo.
Chaeyoung sabia que seus olhos tinham brilhado naquele momento. Ela era a
pessoa que mais admirava aquele casal no mundo todo e sempre que havia
interações românticas entre as duas seu coração acelerava e a fazia desejar
alguém que a completasse, assim como Jennie e Jisoo se completavam.
Logo sentiu uma mão quente tocar seu braço. Chaeyoung suspirou e abriu os
olhos devagar.
– Pensei que Billie Holiday fosse sua inspiração. – comentou Jisoo por cima
de Jennie para que pudesse ver Chaeyoung melhor. – Sabe, toda aquela
velharia que você gosta costumava servir como gás.
♪♪♪♪♪♪
Lisa insistiu para que Momo a acompanhasse até Juilliard por cerca de meia
hora. Não foi nada fácil convencê-la de que sair e rever a amiga de infância
era muito melhor que passar o dia todo dormindo ou falando com o
namorado por SMS.
Claro que o caminho todo foi feito por reclamações e objeções onde Momo a
acusava de sequestro e afins, mas Lisa só podia rir do mau humor de sua
amiga.
Pela primeira vez estava indo até a instituição sem sua roupa formal; dessa
vez usava apenas sua jaqueta de couro preta, a calça skinny e seu tão amado
all star preto e branco. Gostava de sentir-se confortável e livre de qualquer
formalidade.
Então Lisa sentiu vontade de jogá-la pela janela e sabia que faria isso se não
tivessem chego a Juilliard logo em seguida. Momo desceu correndo do carro e
notou que alguns alunos ali fora encaravam Lisa pelo estilo da garota.
– Ah! Ótimo, agora vão pensar que sou a sua garota. – reclamou fechando a
cara para duas meninas que sorriram para Lisa. – Você faz sucesso aqui, não
é?
Lisa riu e puxou a amiga pelo braço para que entrassem no refeitório.
Momo olhou desconfiada para Lisa como se soubesse o que ela estava
aprontando, mas permaneceu em silêncio. Lisa localizou Jennie sentada ao
lado de Jisoo algumas mesas longe dali e arrastou Momo consigo sem tirar os
olhos de cada garota que entrava ou saía dali. Sabia que seria questão de
tempo até encontra-la.
Lisa sabia que tinha corado. Ela não tinha noção de que Jisoo e Jennie eram
amigas e agora parecia sem jeito em frente a Lisa.
– É muito bom rever você também, Jisoo. – respondeu e em seguida foi
esmagada por um abraço de Jennie. – Jennie...
– Aparentemente Lisa está procurando por uma garota com laço vermelho e
me arrastou junto para me usar de espiã. – disse Momo fazendo Lisa
engasgar com a própria saliva enquanto sentavam junto à mesa do refeitório.
Lisa se perguntou se forçar a vinda de Momo tinha sido mesmo uma boa
ideia, pois agora mais do que nunca, Jennie a olhava como se tivesse
descoberto a América e Jisoo tinha um sorrisinho de eu disse nos lábios.
A morena deu uma olhada em volta certificando-se de que a garota não tinha
entrado, então batucou impacientemente com os dedos na mesa e pensou na
melhor resposta que não a fizesse parecer uma obcecada louca.
– Eu gostei de uma música que ela tocou ontem, apenas isso. – defendeu-se
mexendo as mãos freneticamente. – Quero saber o nome da música, mas não
consegui ver o rosto dela.
Lisa desviou o olhar penetrante que recebeu e encarou as batatas fritas que
pareciam muito mais interessantes naquele momento.
Um fato curioso.
Só havia uma garota que usava laços naquele lugar, o pulso. E Jennie sabia
muito bem de quem se tratava.
Jisoo segurou a mão de Jennie por baixo da mesa, ato que não passou
despercebido por Momo que cutucou Lisa, mas Lisa não deu atenção e
continuou encarando as garotas.
– Você sabe que eu sempre fui... Diferente, certo? – Jennie continuou. Seu
lábio inferior tremia e sua pele estava ficando pálida. Lisa pensou que ela
fosse ter um infarto ali mesmo. – Nunca conversamos sobre paixões, e
quando você me perguntava, eu sempre desviava o assunto...
Estava curiosa e preocupada com o que estava acontecendo, mesmo que por
um lado tivesse suas suspeitas sobre a amiga desde a infância. Jennie
respirou fundo outra vez e olhou de Lisa para Jisoo e de Jisoo para Lisa
novamente como se Momo não existisse.
– Oh... – deixou escapar. A verdade é que Lisa não tinha a mínima ideia do
que dizer naquele momento de surpresa e choque. – Eu acho que...ok?
Jennie abaixou a cabeça constrangida, mas foi surpreendida pelas mãos de
Lisa que pegaram a sua por cima da mesa.
– Hey! Você continua sendo minha melhor amiga. – disse mantendo a voz
calma. – Eu só estou... surpresa, confesso. As duas sorriram genuinamente
uma para outra e Lisa olhou para Jisoo. – Quebre o coração dela e eu-
– Então... eu sou a única que não brinca de aranha aqui? – isso veio de Momo
que ainda tinha a mesma expressão.
– Eu não... – ela não terminou a frase. Não faria sentido discutir com Momo
quando nem ela mesma sabia qual era a resposta, então deixou que ficasse
subentendido e apenas cruzou os braços. – Você está feliz? – Lisa perguntou
para Jennie com interesse.
Sua amiga sorriu para Jisoo entrelaçando as mãos agora em cima da mesa,
visível para quem quisesse ver.
– Eu não me sentia assim há anos, Lisa! – ela respondeu em êxtase. O que fez
Lisa sorrir genuinamente. – Ainda não pretendo contar para meus pais, mas...
eu sei que é assim que sou e não pretendo deixa-los controlar essa parte da
minha vida.
Momo segurou o rosto de Jennie com as duas mãos e beijou a testa da amiga
com carinho.
– Amamos você.
As duas subiram as pressas pelas escadas. Não era permitido para visitantes
perambular pelos corredores em dias de aula, então Lisa não se importou em
apertar o passo no corredor olhando rapidamente de sala em sala à procura
de algum sinal físico da garota do dia anterior, mas nenhuma parecia bater
com a característica de sua lembrança.
Lisa acabou esbarrando em alguns alunos que passavam pelo corredor com a
distração e quando finalmente chegou à sala 208, a encontrou vazia.
– O que está fazendo? – sussurrou Momo olhando de um lado para outro com
medo de ser pega. – Lisa!
Lisa abriu a tampa do teclado, passou os dedos pelas teclas fechando os olhos
por um momento apreciando o som, ela não sabia tocar piano como sabia
tocar violão, mas só o som que aquelas teclas emitiam já eram o suficiente
para fazê-la arrepiar.
Quando abriu os olhos, deparou-se com a janela aberta, era uma vista
maravilhosa e obrigou-se a caminhar até o parapeito para olhar as pessoas
caminhando lá em baixo.
– Cada uma delas tem uma história. – Lisa sussurrou para ela mesma
sentindo a brisa gelada lhe acariciar a face.
Talvez a garota com laço vermelho no pulso fosse apenas uma ilusão de sua
mente conturbada e confusa. A pressão dos professores, seu pai reclamando
sobre seu estilo de vida, seu circulo de amizade se tornando desagradável a
cada dia. Talvez tudo o que ela precisasse, mesmo que por um instante, fosse
de uma ilusão.
♪♪♪♪♪♪
Irene não parava de falar sobre como a festa da noite passada havia sido
ótima e sobre como eles deveriam reproduzir algum clipe em alguma pista de
pouso naquele ano com o grupo da aula de música e drama. O problema era
encontrar uma pista de pouso para encher de bolas brilhantes e dançarem até
o nascer do sol, não é como se fosse apenas chegar e pedir uma pista
emprestada a um aeroporto.
Se o seu professor não a tivesse segurado na aula para ajudar Curtis a finalizar
as partituras, Chaeyoung teria conseguido chegar a tempo.
Assim que guardou o celular no bolso e caminhou até o piano, viu algo que
chamou sua atenção.
Irene reclamou sobre outros estudantes terem usado o piano, mas Chaeyoung
sabia que aquela sala só era usada por sua turma.
Talvez ela precisasse mesmo dar algumas férias à sua mente ou acabaria
enlouquecendo como Jennie gostava de frisar.
_________
Desde sua última conversa com Jennie e Jisoo, Lisa sempre arrumava uma
forma de cortar o assunto, mesmo que Jennie insistisse em perguntar sobre
sua frustrada caçada à garota.
A frustração era grande, ela sabia que estava agindo como uma louca todos
esses dias arriscando ser pega quando não estava em dia de trabalho, mas
insistia em aparecer em Juilliard depois das aulas em Columbia.
Momo também insistia que algo estava acontecendo com Lisa e por mais que
negasse, Lalisa sabia que no fundo sua amiga tinha razão. Lisa nunca mais foi
a mesma depois daquele dia.
O casal discutia sobre contar ou não aos pais de Jisoo sobre o namoro secreto.
É claro que Jennie estava totalmente insegura, com medo da rejeição uma vez
que fora criada por uma família religiosa. O Sr. RJ era o tipo de pessoa que
não se importava com alguém sendo homossexual a menos que esse alguém
fosse de sua família, e Lisa entendia bem o lado da amiga, pois vivia o mesmo
drama na própria casa.
– Meus pais são diferentes. Acho que meu pai vai ficar um pouco
decepcionado no começo, mas ele sempre diz que me ama acima de qualquer
escolha minha. – Jisoo a tranquilizou batendo infantilmente com o dedo
indicador no nariz de Jennie.
Ela gostava de passar seu tempo livre com as garotas, há muito tempo não
jogava conversa fora em uma mesa com amigos, pois apesar de Momo ser sua
amiga, não parava no dormitório e quando voltava, não estava sóbria o
suficiente para conversar.
Jisoo deu de ombros e fez sinal com o dedo indicador ao lado da têmpora
indicando que a namorada poderia ter enlouquecido.
– Você gostou mesmo dela, não é? – foi mais uma afirmação de Jennie que
pegou Lisa de surpresa. – Há mais de um mês você está procurando por
alguém que sequer viu o rosto, Lisa. Eu a vejo aqui até mesmo quando não
está trabalhando, o que significa que gostou mesmo dessa garota.
Lisa permaneceu estática sobre o comentário da amiga. Ela não tinha se dado
o luxo de parar e pensar sobre o que estava sentindo exatamente sobre a
garota. Ela só sabia que precisava encontra-la e conversar com ela, olhar em
seus olhos, sentir outra vez o que sentiu quando a ouviu tocar. Mas ouvindo
isso agora da boca de um terceiro era quase estampar em sua cara a verdade
não dita.
– Não se trata de ver ou não o rosto dela, Jennie. – disse Lalisa com a voz
baixa para que apenas as duas ouvissem. – Se trata do que eu senti quando a
ouvi tocar, foi quase como... Quase como ver e ouvir sua alma...entende? –
suspirou procurando palavras que explicassem o que realmente estava
acontecendo. – Ela é diferente, ela se expõe com a música e isso é tão raro
hoje em dia. Eu me senti conectada com essa garota assim que ouvi a melodia.
Eu só...precisava conhecê-la.
Jisoo piscou algumas vezes, não acreditava no que tinha ouvido. Jennie tinha
as sobrancelhas arqueadas, a boca meio aberta e os olhos arregalados.
– Isso foi...doce. – comentou Jisoo depois do silêncio. Olhou para a namorada
que continuava analisando Lisa. – Você nunca me disse coisas assim.
Lisa começou a rir sem graça e Jennie apenas deu um rápido beijo na testa de
Jisoo antes de se levantar com pressa.
– Às vezes eu me pergunto por que namoro com ela. – disse Jisoo voltando a
se servir de lasanha. – Então me lembro de que o sexo é ótimo. Ouch! –
gemeu quando recebeu um chute na canela por debaixo da mesa.
A verdade é que Jennie não se importou de sair correndo como uma louca.
Ela precisava desfazer a besteira que tinha feito ao achar que estava
protegendo sua amiga. Ela via agora que as intenções de Lisa eram tão puras
quanto o coração de Chaeyoung e que talvez, e só talvez, suas duas amigas
fossem a válvula de escape que estava faltando uma na vida da outra.
Não era por mal, Lisa só criava para si mesma a ilusão de que tinha
encontrado o amor de sua vida com apenas algumas palavras bonitas que
alguém lhe dissessem e isso não durava mais de duas semanas. E então um
mês se passou desde que ela viu Chaeyoung e a paixão com que ela conseguia
descrever a outra sem nem mesmo conhecê-la era uma das coisas mais
bonitas que Jennie já tinha visto, perdendo apenas para Jisoo.
Lisa tinha razão, Chaeyoung era diferente em vários níveis e talvez por isso ela
devesse vivenciar um novo sentimento tão lindo quanto a sua música.
– Pequena Mozart. – chamou Jennie subindo no palco e ligando as luzes para
que pudessem se ver melhor. – Já comeu hoje?
Jennie explodiu em risadas que ecoaram por todo o auditório, até mesmo
Chaeyoung se atreveu há sorrir um pouco.
– Você precisa de uma pausa, garota. – disse Jennie assim que se recuperou.
Deixou sua mochila no chão e com um impulso sentou-se em cima do piano
sob o olhar fuzilante da pequena. – Sabe, não adianta bater na mesma tecla
várias vezes, ela não vai funcionar se o piano estiver quebrado.
– Eu não sei o que fazer. – disse sincera folheando a partitura, mas Jennie a
tomou de suas mãos.
– Chaeyoung, eu estou sendo sincera quando digo que as únicas vezes em que
não está em frente a um instrumento, é quando está no banheiro ou
dormindo.
– Isso não é verdade! – Chae protestou não acreditando que sua amiga estava
inventando aquelas coisas. Ou não. – Ok, é verdade.
Jennie sorriu vitoriosa e viu que era a hora perfeita de por seu plano em ação.
– Você deve espairecer sua cabeça. Sair mais com seus amigos...quem sabe
namorar? - qualquer um no mundo conseguiria identificar aquela voz fingida
que Jennie estava fazendo, mas Chaeyoung era Chaeyoung e a única coisa que
foi capaz de notar foi, felizmente, a última frase.
– Namorar? – riu debochada. – Olhe para mim, acha que alguém vai querer
namorar uma garota que ouve Billie Holiday e faz de seu próprio mundo um
clichê da antiga Hollywood?
Lisa vai, pensou Jennie. Ela ouve velharias e é tão clichê quanto Chaeyoung.
Perfeitas uma para a outra, já podem se casar.
– Você não é a garota que acredita na história da outra metade da laranja?
Então...ela pode estar por ai...ou por aqui. - brincou internamente fazendo
Chaeyoung arquear uma sobrancelha.
Para ser sincera, ela estava adorando aquele trabalho de cupido, então se Lisa
queria conhecer Chaeyoung... Ah, ela iria.
Lisa sentiu o celular vibrar quando estava caminhando para a sala 208. Ela
ainda tinha meia hora de almoço e Jisoo havia se despedido para ligar para os
pais. A mensagem era de Jennie e o mais estranho era que precisavam se
encontrar imediatamente no auditório. O que de tão importante ela queria
àquela hora? Justo no curto espaço de tempo que Lisa tinha para procurar
pela garota do laço vermelho.
– Espero que não tenha um corpo lá dentro. – disse fazendo Jennie saltar de
susto com a mão no coração.
– Desculpe por isso. Você estava tão distraída bisbilhotando o que quer que
esteja lá dentro. - analisou o olhar de Jennie e então uma luz acendeu atrás de
seus olhos. – Jennie! Jisoo sabe disso? Eu não posso acreditar que você está
fazendo isso com ela...
Jennie pendeu a cabeça para o lado em confusão.
Lisa foi arrastada para dentro do auditório. Ela até tentou argumentar ou
empurrar Jennie, mas assim que se aproximaram da arquibancada, foi capaz
de ouvir uma melodia suave ecoar por todo o lugar. Ela sentiu todas as
vibrações em seu corpo quando reconheceu o perfil da garota que tocava
piano. Não sentiu quando Jennie soltou seu braço, na verdade Lisa era
incapaz de ver ou ouvir qualquer coisa que não fosse aquela maravilhosa cena,
era quase melancólica a forma como a garota se movimentava.
Lisa soube, naquele momento, que estava vulnerável diante aquela garota. A
forma como as linhas em sua testa se formavam cada vez que a melodia soava
mais e mais profunda; as preciosas mãos se movimentando como se fizessem
aquilo por toda uma vida; os lábios fechados em linha reta que vez ou outra se
abriam para uma respiração leve, e logo voltavam a selar-se.
Sim, Lisa sabia que poderia amar aquela garota simplesmente por ela estar
usando uma cacharrel branca, calça jeans e all star. Não sabia seu nome, mas
poderia chamá-la de perfeição pelo resto de vida se assim lhe fosse permitido.
– O nome dela é Chaeyoung. – ouviu a voz de Jennie ao seu lado, mas não
desviou os olhos de sua mais nova adoração. – Park Chaeyoung. E ela é uma
garota incrível, Lisa!
E por poucos segundos, Lisa permitiu-se desviar os olhos para Jennie que a
olhava com familiaridade.
– Não estrague as coisas. – foi a última coisa dita por Jennie antes de deixar o
auditório. Restava apenas Lisa, Chaeyoung e a música.
Anotação importante
A música pode até mesmo fazer os anjos chorarem.
Espere.
Aplausos?
– Titanic. – disse a voz rouca quando parou de frente ao palco. – É uma bela
música e um belo filme.
Chaeyoung ficou em pé a fim de ver melhor a garota que estava falando com
ela. Surpreendeu-se quando se deparou com a beleza vulgar daquele ser que a
olhava com certa...sedução? Adoração?
– Está brincando? Minha mãe adora aquele filme. – as duas riram. – Gosto
do grau de romantismo da história: clichê e ao mesmo tempo trágica.
Lalisa caminhou até a escada do palco e subiu para que pudesse se aproximar
mais de Chaeyoung. Ela precisava disso, precisava estar o mais perto o
possível para apreciar aquela beleza surreal.
Seu sorriso vacilou quando teve Lisa no mesmo nível que ela.
– Ele me salvou de todas as formas que alguém poderia ser salva. – recitou
Lisa, deixando os olhos castanhos massacrarem os negros de Chaeyoung.
Chaeyoung abraçou o próprio corpo sem graça. Não sabia o que aquela garota
queria, mas não estava gostando da forma com que uma estranha conseguia
fazê-la sorrir com poucas palavras.
– Sou uma fã. – Lisa disse dando um passo a frente e em reflexo, Chaeyoung
recuou um. – Meu nome é Lalisa Manoban.
– O meu é-
Ela ficou sem graça, mas admirar a perfeição daquela garota de perto estava
deixando-a extasiada. Nunca imaginou que poderia haver alguém tão bela
quanto aquela a sua frente, com feições firmes e tão delicadas ao mesmo
tempo.
– Eu sei que você deve estar se perguntando o que eu quero dizer, mas
acredite, eu passei um mês inteiro me preparando para este momento e agora
as palavras simplesmente não parecem fazer sentido.
Chaeyoung abriu a boca, mas nada conseguiu dizer. Ninguém nunca havia
parado em frente a ela e dito coisas como as que aquela garota linda estava
dizendo. Aproveitando a oportunidade, Lisa continuou:
– Eu ouvi você tocar uma vez e devo confessar que nunca tinha ouvido algo
tão profundo antes. – riu e abaixou a cabeça. Seu corpo todo estava em
chamas por simplesmente estar jogando todos aqueles sentimentos em cima
de uma pessoa que não a conhecia. – Tenho procurado por você desde então,
Park Chaeyoung.
A forma como a voz rouca de Lisa pronunciou seu nome fez o corpo de
Chaeyoung arrepiar-se intensamente. Ela orou. Orou para que seu coração
acelerado se acalmasse, mas os olhos de Lisa estavam servindo de âncora.
Silêncio.
Um longo silêncio.
Lisa abriu a boca para arremessar mais palavras que pudessem provar para a
pequena que estava sendo sincera por mais estranha que a situação fosse.
– Eu agradeço de todo o coração que tenha vindo até aqui para me dizer
coisas como estas. Você não sabe o que isso significa para uma musicista,
Srta. Manoban. – disse abraçando as partituras contra o corpo e passando por
Lisa em direção à saída do backstage. – Mas acredite quando digo que não
sou a pessoa que procura.
– Como pode ter tanta certeza? – implicou sentindo que seu coração saltaria
se não conseguisse a atenção de Chaeyoung. A outra olhou-a com pesar e
decidiu ser honesta. Respirou uma, duas, três vezes antes de dizer:
– Eu procuro por alguém que me beije em baixo de chuva. – sentiu que tinha
soado ridiculamente infantil, mas continuou. – Alguém a quem eu possa tocar
minha música sem medo de rejeição e que eu sei que vai me abraçar forte no
fim da noite. Alguém que cante Billie Holiday comigo na sala de estar e a
quem eu possa entregar meu coração sem medo de devolução. - desabafou
sabendo que a Lisa a sua frente riria dela em seguida. – Essa sou eu, Srta.
Manoban. Apenas uma garota procurando por algo que não existe.
Lisa forçou sua mente a se lembrar das músicas de Billie Holiday. Sua mãe
tinha todos os discos, ela costumava ouvir escondida no escritório quando
estava sozinha em casa. Como era aquela sobre ver uma pessoa? Ela sabia...
Eu vou estar vendo você...
- I'll be seeing you in all the old familiar places that this heart of mine
embraces all day and through...
E então aquela mulher dos olhos castanhos estava recitando uma das mais
lindas músicas de Billie Holiday a ela num pedido para que pudesse flertar.
Lisa não soube, mas um sorriso brincou nos lábios de Chaeyoung que se virou
apenas mais uma vez para dizer:
_______
Não era muito comum ela estar com a cabeça inclinada sob a mão direita
batucando levemente os dedos na cadeira com os olhos focados acima da
lousa onde estava o relógio.
Era verdade que seus pensamentos estavam em outra instituição, outro
alguém cujos olhos negros eram de um tom maravilhosamente perfeito. Deus,
e aquela risada que mais parecia com acorde dos anjos? Não que ela já tivesse
visto um anjo tocar, mas sabia que se assemelharia a Park Chaeyoung.
– Lisa? – Megan sussurrou logo atrás de sua mesa tirando-a do seu mundo
onde vários claves de sol a rodeavam simbolizando sua mais nova admiração.
– Quer sair com as meninas hoje?
Megan era de estatura média e olhos numa tonalidade azul como a do mar, os
cabelos eram longos e negros até o meio da cintura. Ela era uma de suas
amigas em Columbia juntamente de Hanbin e Somi que tinham entrado no
segundo semestre. Momo não suportava a presença deles simplesmente por a
ignorarem, mesmo que sua desculpa fosse a de que eles fedessem a maconha.
Tirou seu celular do bolso e enviou uma mensagem para Momo que estava no
lado oposto da sala perguntando a que horas poderia busca-la na casa de seu
namorado, seu plano era ir direto de Juilliard para a casa de Jackson e de lá
seguiriam para o cinema.
Momo: Por volta das oito e meia.
Perfeito! Poderia passar mais tempo com Jennie, Jisoo e quem sabe
Chaeyoung. Assim que deu seu horário, Lisa recolheu suas coisas e correu ao
dormitório trocar suas roupas lembrando-se de que era sexta; precisava ligar
para seus pais ou mandariam o FBI atrás dela.
– Sabe, você anda muito ocupada nos últimos dias. – era Megan outra vez
quando passava pelo corredor dos dormitórios, dessa vez ela estava
acompanhada de Hanbin.
Hanbin soltou uma risada irônica. Era o mais convencido da turma e também
o mais rico, Lisa se perguntava se ele sabia que não era mais segredo para
ninguém que o cabelo jogado castanho escuro jogado pra trás e lotado de
laque denunciava que ele gostava de homens.
– Não acho que sejam hippies, são? – perguntou Megan curiosa fazendo Lisa
revirar os olhos.
– Não são hippies, são apenas... – felizes. Ela quis dizer, mas aguardou o
comentário para si. – Leves.
Megan a olhou curiosa e Hanbin franziu o cenho ainda com sua cara de
deboche.
– Cuidado para não deixar sua cabeça ser infectada com a música toca a alma.
– Hanbin riu gesticulando com as mãos e fazendo Megan e até mesmo Lisa rir
um pouco. Eles eram seus amigos no final de tudo.
E com um aceno de cabeça, eles liberaram o caminho para Lisa que rumou em
direção ao seu carro.
♪♪♪♪♪
Jennie, que estava sentada ao seu lado, não parava de sorrir como idiota e
enviar mensagens que Chaeyoung sabia ser para Jisoo. Claro que no intervalo
Jennie pediria todas as suas anotações e como boa amiga que era ela cederia
mesmo contrariada. Mas dessa vez Jennie seria encurralada e nem Jisoo
poderia salvar a namorada das garras de Chaeyoung que estava disposta a
saber se ela tinha um dedo no pequeno encontro com a tal de Lalisa Manoban
no auditório.
Com um olhar fuzilante, Chaeyoung terminou suas anotações sobre harmonia
quando finalmente tinha dado o horário para a troca de aula e sem pensar
duas vezes guardou seus livros na bolsa e agarrou o braço de Jennie que
estava distraída ainda sentada com o celular nas mãos.
– Eu preciso falar com você. – disse cruzando o braço direito com o de Jennie
e começando a caminhar pelo corredor até seu ensaio. – Lembra quando me
disse que precisava contar para sua amiga sobre seu namoro com Jisoo? –
Jennie arregalou os olhos e virou o rosto para o outro lado para que
Chaeyoung não visse seu espanto.
– Sei sim. – falou olhando até para o teto, menos para Chaeyoung. – O que
tem?
Observação
Era a sala 208.
– Como era mesmo o nome dela? Lisa, não é? – Chaeyoung mantinha seu ar
desconfiado analisando cada expressão de Jennie que já tinha se entregado no
primeiro instante. – Engraçado que eu conheci uma Lisa ontem.
E para o alívio da mais velha, Jisoo também entrou na sala procurando por
elas e sorriu quando viu a namorada. Chaeyoung se afastou alguns passos
automaticamente sabendo que aquela conversa não tinha terminado ali.
Jennie abraçou o tronco da namorada e beijou sua têmpora num sinal de que
estava tudo bem.
– Você estava com muita dor ontem, amor. Não se lembra da má digestão que
teve? – fingiu Jennie segurando o rosto de Jisoo para que ela entendesse que
era para confirmar a mentira.
Chaeyoung não engoliu aquela história. Sentiu que estava sendo enganada
desde o momento em que puxou Jennie para essa conversa, mas não estava
determinada a levar isso longe demais. Sua única curiosidade era saber o
porquê de Lisa ter aparecido como um fantasma e se ela voltaria.
Jisoo e Jennie deixaram a sala pouco tempo depois quando os últimos alunos
chegaram para o ensaio. Agora Chaeyoung tinha afastado todos os
pensamentos novamente para limitar-se apenas a sua única e boa amiga de
verdade: a música.
♪♪♪♪♪♪
Lisa cumprimentou alguns alunos dos quais já era muito conhecida quando
adentrou a instituição. Dessa vez ela evitou encontrar com Jennie ou Jisoo, as
duas provavelmente gostariam de saber sobre seu – finalmente – encontro
com Chaeyoung e ela não estava disposta a perder tempo com isso.
Hoje o dia era apenas sobre Chaeyoung. Subiu as escadas em direção ao
corredor de música. Tentaria a sala 208 e depois o auditório, Lisa sairia
perguntando por Chaeyoung se fosse preciso. Cumprimentou mais algumas
garotas que sorriam bobamente para ela, ato que Lisa tentava inutilmente
ignorar enquanto seus fones de ouvido reproduziam Johnny Cash no último
volume.
Chaeyoung fechou os olhos e sorriu para si mesma. Ela tinha certeza de que
aquela garota não apareceria mais e bem, ali estava ela. Lisa passou um dos
dedos pelo piano e parou a poucos metros de Chaeyoung dando a ela seu
tempo.
– Você realmente voltou. – ela concluiu abrindo os olhos e deixando o violão
de lado para se levantar. Chaeyoung deu a volta na outra extremidade do
piano deixando seus olhos se encontrarem com os de Lisa. – É uma garota
persistente.
– Park Chaeyoung, eu posso ser uma garota muito persistente. – e seguiu até
o violão abandonado pegando-o e analisando se estava afinado. – Já faz um
tempo que não pego em um desses. Yamaha costumava ser meu preferido na
infância. – dedilhou as cordas checando ainda conseguia se lembrar dos
acordes.
– Sr. Will está uma fera com você! Por que ainda não foi para a aula? –
reclamou a ruiva parando de frente à Chaeyoung. Foi só então que ela
percebeu que Chaeyoung não estava sozinha na sala. – Ah, olá! – sorriu
abertamente para uma Lisa desconfiada.
Lisa deu um pequeno aceno juntamente com um meio sorriso forçado que
não passou despercebido por Chaeyoung que direcionou seus olhos para a
mulher de cabelos castanhos, e assim as duas ficaram se olhando
silenciosamente até Irene notar que estava sobrando.
E tentou empurrar Irene para fora, mas a ruiva não se moveu e isso só
frustrou Chaeyoung mais ainda.
Irene sorriu satisfeita e olhou para Chaeyoung como se tivesse feito o melhor
acordo do mundo, mas Chaeyoung apenas revirou os olhos.
– Perfeito! Você é amiga de Jennie e Jisoo, certo? Elas também vão à festa,
pode acompanhá-las. – explicou a ruiva dando outro aceno feliz para Lisa
antes de puxar uma Chaeyoung entediada para fora da sala.
♪♪♪♪♪♪
Irene não parava de lhe encher de perguntas a tarde toda sobre como havia se
tornado amiga de Lalisa Manoban, e por mais que Chaeyoung insistisse em
explicar que elas não estavam nem perto disso, que eram apenas conhecidas,
Irene parecia animada demais em saber detalhes que não existiam.
Chaeyoung era amante das artes e já tinha conhecido muitas pessoas amáveis,
mas com Lisa as coisas eram bem diferentes. Com apenas algumas palavras
era quase como se ela pudesse enxergar através de sua misteriosa alma e isso
era algo tão profundo que ela preferia imaginar que a morena estava apenas
sendo falsa para conseguir algo.
Mais tarde, naquele mesmo dia, sua mãe tinha preparado Clafoutis, um dos
pratos preferidos da pequena que era a única vegetariana em casa, e a família
se encontrava reunida na mesa jantando. Diana soltava exclamações alegres
por Chaeyoung finalmente deixar o quarto e socializar-se um pouco enquanto
Mark revirava os olhos por trás da mulher fazendo Chaeyoung e Ella
abafarem o riso.
– Eu espero que esteja indo tudo bem com as aulas. – comentou Mark dando
uma garfada no frango.
Diana fez um bico engraçado para a filha que fez Ella rir e Mark limpou a boca
com um guardanapo com uma expressão preocupada.
– Não é melhor livrar um pouco sua cabeça? Olha, não estou dizendo que é
sua culpa, só que talvez você esteja dando tudo de si até demais para a
música. – completou quando a filha ameaçou protestar.
– Seu pai tem razão. Sair e conhecer pessoas novas será uma ótima maneira
de aliviar a tensão. – concordou Diana segurando a mão da filha.
– Além do mais – continuou Mark. – as festas de hoje em dia não devem ser
muito diferentes do meu tempo, quando nos reuníamos na sala de casa para
ouvir Jazz e jogar conversa fora.
♪♪♪♪♪♪
– Será que já posso ir embora? – pediu aos berros para que uma Irene
dançante a escutasse. – Eu acho que não temos idade para esse tipo de
comportamento e-
E sem mais dizer, voltou para o meio dos outros estudantes deixando
Chaeyoung outra vez perdida com aquelas luzes piscando toda hora em uma
cor diferente. Ela realmente queria saber onde estava o jazz e a conversa
jogada fora nesse momento.
Num ato de desespero, caminhou desviando dos bêbados até a porta dos
fundos que ligava ao terraço onde provavelmente o som seria abafado.
No meio do caminho, Chaeyoung conseguiu avistar Jennie agarrada em Jisoo
na parede, elas se beijavam como se estivessem em um clipe ou algo assim.
Pensou em interromper, mas não queria ser surrada em plena festa por suas
amigas bêbadas. Sem alternativa, abriu a porta para o terraço e deu de cara
com alguns casais bloqueando a escada, era nojenta a forma como passavam a
mão no corpo um do outro sem nenhum respeito.
Instigada pela música, Chaeyoung abriu os olhos. Por que as coisas não
poderiam ser apenas assim? Suaves como aquela música sob um céu estrelado
de Setembro.
Ela estava atrasada demais para sua geração ou as pessoas é que tinham
interpretado errado a maneira de se usar a música?
Nesse caso elas compartilhavam o mesmo pensamento sobre fugir, cada uma
de sua forma, mas a mesma conclusão.
Chaeyoung hesitou por um instante. Elas mal se conheciam, e por mais que
Lisa mostrasse interesse em estar por perto, Chae tinha medo no que isso
poderia resultar justamente por não querer resultados desastrosos em sua
vida. Mas Lalisa estava com aquela expressão de meio sorriso e o mesmo
olhar gentil que tanto a hipnotizava. Chegava a ser quase impossível não se
render.
– Você está usando seu laço vermelho. – observou Lisa sem tirar os olhos da
beleza de sua mais nova adoração.
- Eu sempre vou guardar você comigo. Você sempre estará em minha mente.
Mas há um brilho nas sombras...eu nunca saberei se não tentar.
Terminou a música deixando que a brisa gelada falasse por si. Elas sabiam
que não precisava de continuidade, estava tudo dito em poucas frases e agora,
mais do que nunca, Chaeyoung sabia que estava caindo involuntariamente
por uma estranha.
Chaeyoung sabia muito bem sobre o que Lisa estava falando, às vezes sentia-
se da mesma forma, a única diferença entre as duas era que Chaeyoung
construía sua própria prisão.
– Não acho que nesse momento eles estejam pensando em liberdade. –
Chaeyoung comentou irônica e ganhou um sorriso de Lisa. – Mas eu me sinto
assim em relação à música. Às vezes penso que, o que deveria ser uma dádiva,
eu acabei transformando em trabalho pesado.
– Então, qual a sua história? – tentou fugir do assunto mais uma vez.
Lisa focalizou as íris castanhas nas pretas como se fosse sua única maneira de
sobrevivência. E talvez fosse.
Dessa vez nenhuma das duas desviou o olhar. Chaeyoung cedeu à luta interna
entre sua razão e emoção e trancou o olhar junto ao de Lisa. O vento era a
trilha sonora da batalha que os olhos castanhos e os negros travaram.
Finalmente Chaeyoung tinha aceitado que talvez seu coração tivesse sido
fisgado, pois era entre as encostas de seus olhares, aglomerado nos talhes de
sua alma benevolente que se encontravam duas almas solitárias procurando
por apego.
– A sua bagunça. – Lisa respondeu pendendo a cabeça para o lado para poder
observá-la melhor. Chaeyoung apenas sorriu involuntariamente. – Ela se
parece com a minha.
Não. Ela estava apenas jogando sujo para conseguir ainda mais a atenção de
Chaeyoung, não que isso fosse preciso, pois naquela altura a garota já tinha
desistido de lutar contra o que quer que esteja fazendo seu coração dançar.
– Você é muito idiota com esse sorriso charmoso. – brincou observando Lisa
dedilhar as cordas. – Eu não me importo, de qualquer forma.
– The first time ever I saw your face, I thought the sun rose in your eyes. –
ergueu os olhos para Chaeyoung sugestivamente e voltou a olhar para o
violão. – And the moon and stars were the gifts you gave to the dark and the
empty skies. And the first time ever I kissed your mouth, I felt the earth move
in my hands. Like the trembling heart of a captive bird, that was there at my
command, my love.
Lisa parou de tocar assim que viu a primeira lágrima trilhar um caminho no
delicado rosto de Chaeyoung. A pequena tentou limpar com a mão sentindo-
se envergonhada, mas acabou borrando ainda mais o lápis de olho que usava.
– Me desculpe. Eu devo estar parecendo uma idiota agora, sou tão estúpida...
Chaeyoung perdeu-se no mar de olhos da outra que estavam tão próximos aos
seus.
– A música me deixa assim e... – você. Ela queria dizer, mas era tão cedo para
tal coisa. – Sua voz é maravilhosa. Lisa franziu o cenho com a explicação. –
Acho melhor eu ligar para os meus pais me buscarem. Irene está bêbada
demais para dirigir e está ficando tarde. – falou arrumando a barra do
vestido, mas foi barrada por Lisa que bloqueou sua tentativa de ficar em pé.
– Eu posso levá-la se quiser. – disse eufórica. – Estou de carro, não me
importaria deixá-la em casa.
♪♪♪♪♪♪
Chaeyoung e Lisa fizeram todo o percurso até a casa dos Park rindo e
conversando sobre faculdade. Ambas compartilhando sobre o ambiente de
cada uma e boa parte do tempo falando sobre como Jennie tinha um dedo no
meio do encontro das duas no auditório.
Lisa explicou que não era fácil para ninguém entender que ela estava
perseguindo uma garota apenas por ouvi-la tocar e que todos estavam a
chamando de louca por essa obsessão. Chaeyoung, é claro, apenas ria e se
divertia com a forma como Lisa contava as situações tranquilamente, há
muito tempo ela não se divertia tanto com alguém.
– É aqui. A casa de cerca branca. – apontou para uma modesta casa de campo
que apesar de simples, transmitia familiaridade e aconchego. – Aqueles são
meus pais.
Na varanda da casa havia um casal sentado no banco de balanço. O homem
lia o que parecia ser um livro e a mulher tomava algo na xícara
tranquilamente.
As duas garotas ficaram em silêncio por um momento sem saber o que dizer,
aquele momento parecia bem mais fácil nos filmes.
Chaeyoung abriu a porta do carro, mas antes de descer, voltou-se para Lisa:
– Sobre sua pergunta de mais cedo, acho que você pode vir aqui amanhã à
noite e descobrir mais sobre minha história. – disse tirando um largo sorriso
de Lisa. – Meus pais vão gostar de saber que fiz novas amizades.
E com aquela desculpa esfarrapada que nem mesmo Lisa acreditou, saiu do
carro correndo até a varanda. Lisa observou a cena vendo quando os pais de
Chaeyoung notaram sua presença e olharam em direção ao carro apertando
os olhos. Contrariada, Lisa deu partida no Dodge e deu ré voltando para a
estrada
__________
Seu único plano era ver Chaeyoung durante a noite. Momo sequer tinha se
despedido quando saiu pela manhã, e, como vingança, bateu a porta do
quarto alto o suficiente para fazer Lisa pular da cama assustada e bufar
irritada.
Após a conversa da noite passada, Lisa sabia que estava caindo pela garota
que não só tocava piano e violoncelo, mas também seu coração. Isso a fez
mudar seu conceito em relação à lei da gravidade.
Era algo ruim? Sabe, render-se a alguém que mal conhecia; sentir-se entregue
e com a sensação de que seu coração poderia explodir a qualquer momento?
Talvez isso fosse estar apaixonada.
Quando o alarme de seu celular soou estridente, Lisa recolheu todo o material
e jogou o copo no lixo antes de seguir para o dormitório. Havia poucas
pessoas naquele dia, praticamente todos os estudantes do campus tinham ido
visitar os pais ou saído para festejar, e era a primeira vez que Lisa ficava em
pleno sábado enfiada naquele lugar.
Pronto, não poderia estar mais feminina. Lisa desligou o som e saiu do quarto
em direção ao estacionamento, mas não sem antes fazer seu ritual de parar na
máquina de café e comprar um cappuccino de chocolate. Sua mãe sempre
dizia que ela ainda teria problemas futuros com esse vicio, mas quem liga
quando o que pode te matar é uma das delicias da vida? Entrou no carro
deixando o café no porta copos e o ligou apreciando o ronco do motor que era
quase também um ritual para sair do estacionamento. Ás vezes Lisa se
perguntava se isso soaria estranho se dissesse a alguém, e quase sempre a
resposta era sim.
Columbia não ficava muito longe do Central Park que àquela hora, faltando
exatamente quatro horas para o inicio do espetáculo, já estava cheio. Ao longo
da Av. Fifth Avenue as calçadas eram infestadas por banners com os nomes
das bandas – que na sua maioria eram de Juilliard -, e artistas principais que
tocariam aquela noite. Lisa estacionou o carro o mais perto possível do lado
Sul do parque. Analisou sua maquiagem no retrovisor, jogou a franja franja e
tirou um pequeno embrulho e uma toalha do porta-luvas.
Me: Hey! Estou aqui. Encontre-me em baixo dessa árvore grande em forma
de L no lado Sul do palco.
Jennie também tocaria naquela noite com Chaeyoung e talvez Jisoo estivesse
por ali para lhe fazer companhia, o que era muito melhor do que ficar sozinha
no meio de milhares de pessoas.
Ela usava uma Chemisier rosa que deixou Lisa petrificada por alguns
instantes. Ela não é real, ela não é real, ela não é real, ela não é real...
Mas repetir aquele mantra para si mesma não mudaria o fato de que
Chaeyoung parecia muito mais mulher naquela roupa, com a maquiagem
definindo seu rosto e os cabelos caindo pelo ombro.
E então Lisa se apaixonou pela segunda vez pela mesma pessoa. Lalisa
escorou-se na árvore e começou a rir silenciosamente observando Chaeyoung
caminhar em sua direção até a garota estar perto o suficiente para lhe dar um
beijo na bochecha e franzir o cenho com a reação dela.
– É só que você chamou uma estranha para sair. – comentou Lisa ainda rindo
enquanto estendia o embrulho em direção à pequena. – Aqui. Isso é para
você.
– Eu fui comprar lâmpada para o abajur do meu quarto que Momo fez
questão de quebrar. – começou Lisa depois de um tempo em silêncio com
Chaeyoung apenas observando o presente. – Então eu ouvi uma melodia
suave que logo me lembrou de você quando toca piano. Eu me virei, e lá
estava uma coleção de caixinhas de música na promoção. – riu. Chaeyoung
abriu a caixinha outra vez e fechou os olhos apreciando a melodia. – Então eu
pensei: Eu seria uma estúpida se não o estivesse levando para Chaeyoung.
Algo que ela possa se lembrar de mim daqui a vinte anos.
Coisas simples.
Lisa apenas sorriu não conseguindo desviar os olhos da garota. Ela parecia
ainda mais perfeita com a luz do luar refletindo seu rosto. Chaeyoung poderia
ser considerada uma pessoa inocente, não no mal sentido, ela apenas via as
coisas de forma boa, sempre procurando o lado bom de tudo mesmo que não
existisse. Era como se ela vivesse em um mundo exclusivamente feito para
ela, e por ela. Lisa gostaria de conhecer esse mundo.
Lisa passou o dedo indicador pela tatuagem esquecida em seu pulso. Era
quase como se fosse parte dela desde sempre, como uma cicatriz, e na maioria
das vezes se esquecia de que a tinha. Um dos motivos de seus pais surtarem
quando viram o desenho.
– Claro que não. Por ser mitologia, sempre tem um final feliz. Ela foi salva por
Perseu, aquele que cortou a cabeça da medusa e tudo mais...casaram-se e
tiveram seis filhos. Um final careta se quer saber minha opinião. – disse entre
risadas.
Chaeyoung arqueou uma sobrancelha ironicamente.
– Não gosta de finais felizes?
– Não é que eu não goste, mas finais felizes só existem em contos de fadas. –
foi sincera.
Essa coisa de felizes para sempre era uma invenção para as crianças não
perderem a esperança no mundo. Chaeyoung estava curiosa sobre o que Lisa
havia dito, era quase como se processasse cada frase procurando por alguma
resposta coerente.
– Uma história não termina até que tenha um final feliz, Lisa. – retrucou e
Lisa fez uma careta engraçada, mas seus olhos logo correram até o céu
estrelado deixando de lado o comentário de Chaeyoung .
– Faça um pedido!
– O que?
– Minha avó costumava dizer que devemos fazer um pedido quando vemos
uma estrela cadente, e ele certamente se realizará. – sua voz estava séria e
calma.
Ela olhava agora para Chaeyoung com carinho. A expressão de Chae era
divertida, esperava que Lisa começasse a rir e dissesse que estava brincando
com ela, mas isso não aconteceu. Lalisa realmente esperava que ela fizesse o
pedido à estrela.
– Quem viu a estrela cadente foi você. – choramingou fazendo um bico
engraçado.
– Eu sei, mas estou passando o meu pedido para você, por isso, faça-o agora.
– Lisa apontou para o céu mais uma vez antes de fechar os olhos de
Chaeyoung com as próprias mãos.
Uma rajada de vento passou por entre as garotas fazendo Chaeyoung tremer e
esfregar os braços um no outro. Ainda não queria acreditar no que aquela
garota ao lado dela estava fazendo com ela. Suspirou e concentrou-se em seu
pedido, não era algo realmente difícil de imaginar, apenas o mesmo desejo
que pede ao pé da cama toda vez que reza.
– Você me deu seu desejo, oras! Nada mais justo do que eu compartilhar com
você, não acha?
Lisa achou graça da garota toda desengonçada procurando por algum resíduo
de sujeira em seu vestido.
– Nervosa?
– Só um pouco.
Aquela era a coisa mais fofa que Chaeyoung poderia ter visto na vida, a
expressão preocupada de Lisa sobre a frase era quase verdadeira se não
soubesse do que ela era capaz. Deu um tapa no ombro de Lisa e aproximou-se
para abraçá-la com carinho.
Sabe quando você abraça alguém desejando que o relógio seja destruído e que
o tempo seja parado? Ou quando você está nos braços de alguém se sentindo
em casa. Proteção, conforto, cheiroso. Esse era o abraço de Lisa.
– Talvez eu esteja.
– Lisa...eu preciso ir. – gemeu quando tentou sair do abraço, mas foi
impedida pela outra.
– Lisa!
Ainda.
Pouco menos de meia hora depois foi anunciada a banda sinfônica do grupo
de Chaeyoung. Os estudantes entraram no palco sendo ovacionados pela
multidão juntamente de Lisa que não pode conter um enorme sorriso quando
viu sua garota adentrar com um sorriso tímido brincando nos lábios e os
olhos de lua buscando algum ponto conhecido por entre as árvores ao lado
Sul do palco.
Bem, sua fé era forte, mas você precisava de provas. Você a viu se
banhando no telhado. A beleza dela e o luar arruinaram você. Ela amarrou
você à sua cadeira da cozinha, ela destruiu seu trono, e cortou seus cabelos.
E dos seus lábios ela tirou um aleluia.
Aquela música gritava exatamente tudo o que não podia ser dito em voz alta.
Lisa estava arruinada pela beleza da garota que tocava o piano como se o
fizesse por toda a sua vida, era tão fácil apaixonar-se apenas pela expressão de
concentração que Chaeyoung exercia sobre o piano, o maxilar trancado e vez
ou outra os olhos fechados apreciando a própria música. As lágrimas que
escorriam livres pelo rosto de Lisa não eram de tristeza, mas sim de
realização, de poder finalmente ter encontrado a esperança que as crianças
buscavam no mundo quando ouviam sobre o feliz para sempre.
Será que existe mesmo essa história de alma gêmea? Algumas pessoas sequer
pensam sobre encontrar alguém para se apaixonar. Lisa também seria assim
se não tivesse que procurar por Jennie em um dia qualquer, o dia em que
conheceu a garota do laço vermelho.
Anotação importante
_________
Primeiramente, Mark ficou extasiado com a beleza da moça que lhe sorria de
volta, mas então voltou à realidade.
– Na verdade, pode sim. – ela respondeu com uma voz doce. – O senhor é
Mark Park?
Mark olhou para os lados abrindo e fechando a boca várias vezes seguidas. A
beleza e a educação daquela garota tinha o deixado abobado, quase como se
estivesse falando com alguém de sua própria família. Ele não pode deixar de
sorrir para ela, era contagiante aquele olhar determinado e doce.
Mark não teve tempo para processar o pedido de Lisa, logo Diana apareceu
por trás do marido com uma ruga na testa.
– Algum problema, amor? – então seus olhos caíram em Lisa e em seu sorriso
encantador que fez a voz da mulher também se calar.
– A senhora deve ser Diana Park, certo? – perguntou Lisa, mesmo sabendo a
resposta. A semelhança entre mãe e filha era inegável, Lisa pensou que
gostaria de poder ver Chaeyoung naquela idade. – Lalisa Manoban, mas
podem me chamar de Lisa.
Poucos segundos depois Lisa ouviu sons abafados no andar de cima descendo
os degraus e por ultimo um salto. Diana afastou-se um pouco da porta dando
espaço a sua filha que se aproximava, mas sem tirar os olhos da garota à sua
frente.
Lisa tentou responder, mas foi impedida por braços que a rodearam e a
puxaram para dentro com animação.
Mark a olhou risonho e fechou a porta logo em seguida. Ella desceu as escadas
correndo e parou em frente à mesa de jantar abraçando a perna da mãe, seus
olhos escaneando Lisa com curiosidade.
– E você deve ser a pequena Ella. – disse Lisa com um largo sorriso deixando
o prato em cima da mesa de madeira da cozinha. – Eu já não posso mais
afirmar que Chaeyoung é a mais bonita da família. – Ella escondeu o rosto e
Diana riu. – Eu fiz essa torta de maçã, Chaeyoung disse que é a sua preferida.
Lisa piscou para Chaeyoung de uma forma desdenhosa e foi recebida por um
par de olhos cerrados em desconfiança. Lalisa analisou o lar dos Park, e os
pais da outra; ela simplesmente não conseguia parar de sorrir naquela casa
onde não existia tensão, e o respeito era algo incrível. Lisa mal os conhecia, e
já poderia dizer que se sentia em casa.
– E por que você nunca nos falou dela antes? – a ultima pergunta veio de
Mark e foi dirigida a Chaeyoung que deu de ombros.
– Jamais!
Silencio.
Mark, Diana e Ella olhavam de uma para outra sem entender a interação em
forma de discussão das duas garotas, pois ao mesmo tempo em que pareciam
discutir, emanavam um grande carinho entre a troca de olhares.
– Por que chegou tão cedo? – Chaeyoung finalmente falou abaixando os olhos
para os pés.
– Pensei em fazer uma surpresa. – a voz de Lisa mudou para algo suave,
quase rouca.
Ela tentou passar pelo portal que dividia a cozinha da sala, mas foi barrada
por Lisa que a segurou firme pelos braços. Agora estavam próximas, tão
próximas que Chaeyoung foi obrigada a se render e sustentar os olhos da
garota com os seus apesar da diferença de altura.
Chaeyoung tinha perdido a noção do tempo. Agora não era apenas Lisa que a
segurava pelos braços, Chaeyoung também tinha cravado seus dedos na pele
de porcelana deixando um rastro avermelhado. Ela suspirou e fechou os olhos
sentindo uma súbita necessidade de carinho. Pela primeira vez, Chaeyoung
tinha seu maldito coração sendo roubado.
Lisa tinha um cheiro tão bom, um perfume doce. A família Park é conhecida
na região por seu carisma, principalmente Mark que sempre encontrava uma
forma de transformar algo ruim em algo bom. Lisa complementaria dizendo
que são contagiantes e que criam uma pequena preciosidade naquela casa
aconchegante. Diana de longe tinha se apaixonado pela garota, as duas
trocaram receitas durante o almoço e conversaram um pouco mais sobre a
família de Lisa, como a originalidade do nome, trabalho, e se ainda
mantinham contato. Ella não parava de falar sobre o quão legal era o filme
E.T. e que Lisa precisava dormir lá um dia para assistir com ela. Mark, por
outro lado, estava concentrado em saber tudo sobre a faculdade. Em que ano
se formaria, se o código penal era mesmo difícil de decorar, entre outras.
Eram perguntas bizarras, mas que faziam Lalisa rir e responder com gosto.
Chaeyoung foi à única que permaneceu calada a mesa na hora do almoço. Era
raro quando se mantinha fora de algum assunto, mas naquele momento tinha
decidido que ouvir as historias de Lisa era mais importante que sua comida.
– Tenho certeza que você vai cuidar muito bem dela hoje. – e olhou por baixo
dos óculos para Lisa que assentiu um pouco sem graça. – Eu não sei onde
Chaeyoung a escondeu, mas obrigado por aparecer, Lisa.
Depois do almoço, Chaeyoung levou Lisa até seu quarto no segundo andar
onde Lalisa pediu para usar o banheiro. Não foi realmente uma surpresa se
deparar com um quarto que poderia se facilmente confundido com o de Ella.
Ele era espaçoso, havia um piano preto simples encostado na parede rosa
bebê, ao lado um violão e um violoncelo presos ao suporte. Lisa arriscou
pensar que Chaeyoung ainda insistia em aprender a tocar violão apesar de sua
má coordenação com o instrumento.
A segunda parede era revestida por fotos Polaroid, havia fotos de Chaeyoung
com os pais, Chaeyoung com Ella, Chaeyoung com crianças desconhecidas,
Chaeyoung com Jennie e Jisoo, e mais uma infinidade de fotos que deixara
Lisa extasiada.
Sério, como alguém poderia ser tão convencida? Ainda mais com aqueles
olhos que passavam confiança e segurança a quem os dirigisse. Chaeyoung
odiava pessoas convencidas e estava com uma em seu próprio quarto.
– Mais tarde meus tios vão nos fazer uma visita - Chaeyoung mudou de
assunto antes que jogasse um travesseiro na cabeça de Lisa. – Meu pai não
gostou muito porque ele também usa os domingos em família, o que
normalmente resulta em ler livros em frente à lareira ao som de Billie Holiday
ou assistir filmes. Agora sabe de onde tirei toda minha estranheza.
– Você não é estranha. Eu adoraria passar um dia apenas lendo um livro com
meus pais ao som de Johnny ou qualquer outro rock clássico. – confessou
fazendo um bico em seguida, o que arrancou um sorriso de Chaeyoung. –
Meus pais vivem trancados no escritório até mesmo quando estou em casa,
então...não é grande coisa voltar à LA. Gostei muito mais de ficar aqui com
você e seus pais.
– Pode ficar aqui se quiser. – disse sem graça. Seus dedos brincando no braço
da morena. – pode conhecer meus tios e ver como é a tradição da família Park
quando reunida.
Lisa endireitou-se surpresa com o convite. Não só tinha sido chamada para
conhecer os pais, mas como toda a família de Chaeyoung e isso sim era uma
honra.
– Vamos fazer isso! – exclamou animada jogando as costas contra a cama. –
Quero ouvir vocês cantarem Billie Holiday até o primeiro dormir.
Lisa também levantou e ficou de frente para Chaeyoung com a boca aberta
ainda não crendo que tinha ouvido aquilo. Que blasfêmia! É a mesma coisa
que insultar Jesus aos cristãos.
– Está me ameaçando?
– Estou!
– Ok.
Chaeyoung afastou-se até a prateleira de CDs procurando por algo enquanto
Lisa continuava de braços cruzados e um bico enorme nos lábios. Ela poderia
jogar Chaeyoung da janela, não poderia? Será que Mark e Diana ficariam
muito chateados tendo a filha assassinada por ela? Talvez não. A garota
voltou com um CD em mãos cuja capa estava escrito "The best of Billie
Holiday, by: Chaeyoung", e estendeu para a morena que aceitou de má
vontade.
– Você fica com um CD meu da Billie e eu fico com um seu do Johnny por
uma semana - a pequena explicou apontando para o objeto em suas mãos. –
se gostarmos, nos rendemos, senão...
– Você acha que pode ficar me empurrando como se eu fosse uma boneca ou
algo do tipo? – Lisa fingiu raiva quando se levantou andando com passos
firmes até Chaeyoung que recuou. – Você só esqueceu que tudo tem volta,
Chaeyoung.
Chaeyoung começou a correr pelo quarto com Lisa ao seu encalce. Eram duas
crianças de 4 anos brincando de pega-pega e não adolescentes cursando a
faculdade, principalmente de direito. Chaeyoung subiu em cima da cama e se
jogou do outro lado, mas foi barrada e soltou um grito quando seus corpos se
chocaram as levando direto ao chão.
– Tudo bem. Eu não fazia isso desde os meus treze anos. – comentou Lisa
ofegando e rindo ao mesmo tempo em que encarava o ventilador no teto. –
Meus músculos estão todos rígidos.
– Você é mesmo muito mole, Lisa. – brincou Chaeyoung dirigindo seus olhos
também ao ventilador. Parecia haver algo muito interessante lá já que as duas
estavam uma ao lado da outra e se virassem o rosto, poderiam ficar
perigosamente perto. – Eu poderia tirar uma foto da sua cara de cansada
agora. – assim que terminou de falar, levantou-se sob o olhar atento de Lisa e
correu até seu guarda-roupa fuçando em algumas gavetas.
– Eu tenho muito medo quando você decide procurar por algo. – disse ainda
acomodada ao chão.
E sem pedir, tirou uma foto no exato momento em que Lisa levou as mãos ao
rosto com o susto.
Chaeyoung apenas ria enquanto continuava a tirar fotos de Lisa possessa que
fazia de tudo para não deixar seu rosto descoberto.
– Eu não consegui ter meu sono da tarde porque ouvi gritos – ela explicou
inocentemente caminhando até a cama de Chaeyoung. As duas garotas ainda
estavam em posição de combate no meio do quarto e surpresas com a
garotinha. – papai disse que vocês estavam brincando de guerra de
travesseiros.
– Oh, céus.
Ella fez um bico mostrando sua decepção com a resposta da irmã mais velha.
– Você quer assistir Frozen comigo, Lisa? – perguntou esticando o DVD para
Lalisa que achou tudo aquilo muito adorável.
Lisa tirou o tênis e deitou do outro lado da cama deixando a pequena Ella
entre Chaeyoung e ela. As três assistiram ao filme totalmente em silêncio. Vez
ou outra soltavam exclamações com o Olaf, que secretamente era o
personagem favorito de Lisa. O final da tarde passou rápido; Ella cochilou
uma ou duas vezes e chegou a se aconchegar em Lisa não tendo noção do que
fazia enquanto Chaeyoung assistia a cena em silêncio se perguntando se havia
algum defeito em Lisa.
Para seu alívio, a família Park foi amável até mesmo perguntando se era
namorada de Chaeyoung, e um primo de quinze anos tentou flertar com a
Lisa, mas recebeu um olhar mortífero de Chaeyoung se dando conta de que
precisava manter distância.
Eram cerca de dez homens, quatorze mulheres e cinco crianças, todos eram
primos, tios e avós distantes que vinham de tempos em tempos visitar Mark e
Diana.
Lisa e Chaeyoung estavam sentadas em volta da fogueira que o tio mais novo
de Chaeyoung tinha feito no quintal da casa; alguns homens tocavam violão e
outros familiares dançavam animadamente assim como Mark e Diana
enquanto o resto batia palma no ritmo da música. Todos se divertiam muito e
Lisa só conseguia pensar consigo mesma que, se fossem alguns dias antes,
jamais cogitaria a ideia de existir pessoas assim, tão animadas, cheias de vida
e unidas dentro de uma família.
Mark parou de dançar com a Diana e puxou Chaeyoung para o meio da roda
com animação. Chae soltou uma exclamação surpresa, mas aceitou
começando a dançar de forma desengonçada com o pai enquanto os outros
batiam palma e gritavam. Lisa sorria como uma boba vendo Chaeyoung se
divertir, sentia como se o seu coração fosse explodir a qualquer momento com
aquele sorriso que tirava a beleza das estrelas.
Não demorou muito até Chaeyoung cochichar algo no ouvido do pai e correr
até Lisa agarrando suas duas mãos e a puxar até o meio da roda com sua
família ovacionando as duas, fazendo Lisa quase morrer de vergonha. Ela
nunca tinha dançado, pelo menos não na frente de várias pessoas bêbadas
que só se importavam em estar se divertindo.
Pode-se dizer que eram duas garotas desastradas mexendo o corpo, pois
nenhuma tinha ritmo ou jeito para aquilo, o que tornava a cena ainda mais
engraçada. E elas riram, riram muito naquela noite, elas poderiam jurar que
não havia nada mais gratificante do que estar uma nos braços da outra
dançando entre a família Park. O mundo poderia acabar no dia seguinte e elas
não se importariam porque estavam vivendo o hoje intensamente.
– Eu disse que você era mole. – brincou quando voltaram a se sentar, Lisa
quase não tinha ar nos pulmões. Chaeyoung abraçou o braço dela e
aconchegou-se mais perto. – Está com frio?
Lisa negou com a cabeça e recebeu um beijo no rosto que a fez corar quase da
cor da fogueira.
♪♪♪♪♪♪
Já se passava da meia noite quando Lisa e Chaeyoung deixaram a casa dos
Park.
– Abra os olhos. – pediu Lisa depois de caminhar com Chaeyoung por alguns
minutos.
Chaeyoung abriu os olhos no auge de sua ansiedade não contendo seus pés
grudados no chão. É claro que Jennie tinha um dedo naquilo tudo, pois até
onde ela imaginava com sua mente fértil, Lisa não escondia uma bola de
cristal onde adivinhava todas as suas vontades secretas.
Lisa bufou.
– De nada.
– Você é muito boba. Obrigada pelo que está fazendo, eu amei o lugar. – disse
sincera agarrando a borda da camisa da garota que envolveu os braços firmes
em volta de si.
– Claro.
– Você... – tentou reunir o máximo de coragem para fazer aquela pergunta,
precisava ter certeza de onde estava se metendo. – Você é lésbica?
– Sim, eu sou desde que me conheço por gente. O peito de Lisa foi tomado
por um sentimento de alivio que a deixou soltar todo o ar que prendia desde a
pergunta.
– E seus pais sabem? - Chaeyoung assentiu mais uma vez. – Nunca foi difícil
falar sobre esse assunto em casa. – respondeu com carinho ao lembrar-se do
dia em que contou a eles. – Estávamos na mesa de jantar e minha mãe estava
grávida de Ella. Eu me lembro de não ter saído do quarto a tarde toda
planejando como contar aquilo. – suspirou. Lisa estava atenta à história. –
Quando eu finalmente criei coragem, disse: Mãe, pai...eu gosto de garotas.
Sabe o que minha mãe disse?
Lisa abriu e fechou a boca não tendo uma resposta para aquela pergunta.
Qual seria a melhor forma de dizer que estava descobrindo isso ainda sem
afastar a garota dela? Ela não gostava de garotas...ela gostava de Chaeyoung.
Isso tinha que significar alguma coisa. Por que tudo se remete a rótulos?
– Eu...eu não sei realmente. – admitiu. Com Chaeyoung era tão fácil ser
apenas a garota que estava se jogando no desconhecido. – Eu nunca me
apaixonei por ninguém...apenas seguia o que fui induzida como certo e ficava
com garotos para não ser a diferente. – sentiu-se envergonhada de sua
história, então se virou de costas para a grade e abraçou o próprio corpo. – É
muito mais fácil ser alguém moldado, a ser você mesmo. As pessoas não
sabem me interpretar.
O silencio caiu sobre elas como de costume. Às vezes apenas pela troca de
olhares as duas já podiam dizer tudo o que sentiam vontade, e isso era algo
reconfortante para as garotas. Há momentos na vida em que palavras são
desnecessárias, desgastantes.
– Você pode fazer qualquer coisa no mundo, como dançar sem música. – e
lentamente começou a mover o corpo com os dedos ainda entrelaçados com
os de Lisa. Pouco a pouco, elas começaram a dançar lentamente sem nunca
abandonar os olhos da outra.
Dois corpos se movimentando como um. Duas almas colidindo uma à outra,
centenas de vezes até sentirem-se totalmente conectadas. Era isso que
acontecia dentro daquele simples coreto. Não eram duas garotas dançando,
eram dois corações batendo em apenas um ritmo.
– Não seria estranho se um dia eu pedisse a você vivesse para sempre ao meu
lado.
– Mas-
_________
Era mais uma tarde ensolarada onde os alunos andavam de um lado para ao
outro se abanando com os panfletos do evento de terça do grupo de dança do
segundo ano; o inverno parecia algo muito distante aos americanos naquele
dia.
Chaeyoung estava concentrada demais decidindo se estava amando ou
odiando o livro - por fazê-la chorar mais vezes do que se permitia admitir -,
para notar que o som das teclas havia cessado e que agora Jennie se
encontrava com os braços apoiados em cima da tampa do piano a observando
atenta como uma velha cartomante analisa seu futuro.
– Eu não passei a noite com ela – explicou fechando o livro com o marca-
página e se virando para a amiga. – dormi na parte de baixo do beliche de
Lisa, o que é bem diferente.
– Oh! Momo com certeza não ficou muito feliz de ver Lisa em sua cama.
Chaeyoung deixou o buquê em cima do piano e tirou o cartão rosa com notas
musicais em azul que estava embrenhado entre as rosas.
Ela tinha mais do que certeza de que estava corada o suficiente para ser
notada do outro lado de sala por alguns alunos que começavam a adentrar
despreocupados e entretidos na própria conversa.
– Eu gosto dela, Jennie. – confessou baixo para que apenas a amiga pudesse
ouvir. Jennie abriu os braços como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. –
Só não quero pular de cabeça em alguém que pode ser rasa demais para mim.
– abaixou os olhos sentindo a culpa lhe invadir. – O que, eu tenho quase
certeza que não é o caso de Lisa. Ela me faz sentir como mulher de verdade,
como se meu corpo despertasse por ela, entende?
– Não é isso! – ralhou outra vez certificando-se de que não estavam sendo
bisbilhotadas. – Tenho medo de me entregar e no fim Lisa ver o quão
entediante eu posso ser.
Jennie olhou indignada para a amiga como se ela tivesse acabado de dizer a
pior piada do mundo, não que ela realmente não fizesse isso, mas agora se
privando por ter medo de Lisa a achar entediante era o fim da picada.
– Eu acho que você não entendeu que Lisa é seu reflexo no quesito tédio,
minha querida amiga. Acredite quando digo, pois cresci com a menina
Manoban e suas velharias. – riu. – Mas não vou me intrometer nessa relação.
Jisoo e eu já discutimos sobre isso e não vou arriscar ter o meu bombonzinho
sem falar comigo outra vez.
– Bombonzinho? Sério?
Por mais que negasse, sabia que Lisa a estava conquistando rapidamente e
isso era algo assustador de imaginar, ela sequer cogitava a ideia de estar com
alguém na faculdade.
Chae considerava não existir pessoas clichês como ela e seu pai.
Lalisa: Humpf!
Lalisa: Vou buscá-la após a aula. Jennie e Jisoo fizeram planos para o fim
de tarde e eu auto-nos-convidei. Momo também vai.
Chaeyoung olhou para Jennie que estava distraída fazendo anotações em seu
caderno e desejou jogá-la do quinto andar por ocultar esse fato, mas não pode
conter um sorriso de satisfação por saber que sua amiga estava tentando
ajudá-la a encontrar alguém por quem se apaixonar como ela encontrou
Jisoo.
♪♪♪♪♪♪
– Eu já disse que atrasei em algumas matérias, apenas isso. – Lisa tentava
explicar a todo custo enquanto esperava por Momo no estacionamento do
Starbucks. – Eu volto no próximo final de semana. Ok, eu prometo.
– Seu pai e eu ficamos preocupados, Lisa. Você poderia ter estudado em casa,
Paul passou a noite na casa da namorada e Daniela vive o dia todo trancada
no quarto-
Lisa suspirou infeliz. Daniela sempre foi a mais sensível dos Manoban e agora
que os irmãos mal estavam em casa assim como os pais, era de se esperar que
a caçula se isolasse para a própria proteção.
– Apenas espere até eu voltar, ok? – pediu abrindo a porta do carro quando
Momo saiu da loja com várias sacolas, incluindo uma bandeja de copos. – Eu
vou conversar com Daniela, acho que ela precisa de alguém que entenda a
cabeça dela.
– Está bem, vou conversar com seu pai. Diga que mandei um beijo para
Momo e Jennie.
Momo, como sempre, estava reclamando sobre ter errado 50% da prova
surpresa e que provavelmente era culpa do professor por não gostar dela. O
ocorrido do final de semana parecia esquecido, para o alivio de Lisa que não
conseguia sentir remorso por ter furado com sua amiga para se encontrar com
Chaeyoung. Foi errado, ela sabia, mas estava vivendo o calor do momento e o
cinema sempre estaria lá para Momo e ela, mas o evento no Central Park não
e Lisa não poderia perder a oportunidade de ver Chaeyoung ser a estrela mais
brilhante daquele lugar.
– Sabe que é sua culpa, não sabe? – ironizou arriscando um olhar de canto de
olho apenas para ver Momo abrir a boca indignada para ela. – Quero dizer,
você não estuda, vive em festas noturnas dos nossos amigos e chega no outro
dia totalmente bêbada.
– Eu vou ignorar que você está dizendo isso antes que jogue esse café quente
nesse seu rosto galanteador. – Momo disse calmamente como se explicasse
algo para uma criança e Lisa riu. – Eu juro, Manoban, que se eu ficar de vela
hoje...
A ideia de arrastar Momo foi de Lisa, ela sabia que devia um passeio a sua
amiga e queria que a outra fosse incluída ao novo grupo círculo de amizade
que agora passava a maior parte de seu tempo livre com Jisoo, Jennie e
Chaeyoung.
É claro que naquele grupo Momo seria a única garota heterossexual, ou não...
Esse era um assunto que Lisa tinha deixado de lado no momento, ela não
queria preocupar sua mente com rótulos quando tudo o que ela queria era
estar ao lado de Chaeyoung, mas de qualquer forma as companhias de Momo
da faculdade não eram as melhores e Lisa queria manter os olhos na amiga.
O caminho até Juilliard foi curto e silencioso. Lisa estacionou o carro do outro
lado da rua como de costume, pegou a bandeja de café das mãos de Momo
quando desceram observando o movimento na entrada da Universidade e
atravessaram a rua.
Lisa foi sugada para a realidade quando se deu conta de que estava parada em
frente à Chaeyoung com a maior cara de trouxa enquanto suas amigas riam
sem pudor, mas Chae ainda não tinha notado sua presença devido aos fones e
a concentração nos livros; o cenho franzido para alguma cena provavelmente
tensa no livro a deixava extremamente adorável.
– Não enche. – ralhou, depois pegou dois copos da bandeja sob o olhar atento
do trio e seguiu até Chaeyoung sentindo seu corpo todo reagir à aproximação.
– Park Chaeyoung.
– Lalisa! – a garota exclamou com o sorriso mais lindo que Lisa já vira em
toda sua vida. - Eu não vi você.
– Eu trouxe um para você também. Café forte, não é? Sua mãe me contou.
Oh, então Lisa e sua mãe tinham passado um tempo falando sobre ela, que
Deus a ajude e Diana não tenha contado todos os seus feitos vergonhosos
como a vez em que fez xixi na frente de toda a classe na quarta série ou
quando se jogou de uma árvore pensando que podia voar.
Chaeyoung aceitou o copo e levantou-se depositando um beijo carinhoso na
bochecha de Lisa.
– Será que Julieta e Julieta podem andar logo? Eu tenho glicose alta. –
resmungou Momo sendo estapeada por Jennie e Jisoo ao mesmo tempo. – Aí!
Por instinto, se imaginou andando de mãos dadas com Lisa. De certa forma
isso lhe trazia segurança uma vez que apenas o olhar de Lisa tinha o poder de
lhe intimidar profundamente, mas isso ela nunca saberia. Chaeyoung nunca
falara abertamente sobre sua sexualidade por achar algo totalmente
desnecessário, sua preferência sexual não define seu caráter.
Mas, ao contrário dela, Lisa sempre vivera na base de rótulos, ela era como
um produto que veio de fábrica enquanto Chaeyoung saiu direto do campo
longe de tudo o que procurava a rotular. Por esse motivo Chaeyoung não se
permitia aceitar o que estava sentindo pela outra, por mais que esse
sentimento se parecesse cada dia mais com um trem em movimento que, por
descuido do mecânico, perdera o freio. Lisa estava vivendo na própria ilusão
no momento, mas quando a realidade batesse em sua porta exigindo o tal
rótulo, Chaeyoung é quem sairia perdendo.
O caminho até a casa dos Park foi feito sob uma amigável conversa onde Jisoo
e Chaeyoung conheciam mais sobre a história de Lisa e Momo, que também
engatou na conversa esquecendo-se por ora do mau humor.
Minutos depois Momo se meteu entre as duas no banco da frente para ligar o
rádio e procurou em alguma estação músicas animadas começando a cantar
Neon Lights no banco de trás acompanhada por Jennie.
No caminho fizeram uma parada na casa dos Kim onde Jisoo apresentou suas
novas amigas aos pais e em seguida no apartamento que Jennie dividia com
uma colega de Juilliard.
– Estamos indo ao chalé do meu pai. – explicou Jisoo apontando para uma
casa, que de pequena não tinha nada, no horizonte. – Como minha família é
grande, costumamos passar as férias aqui, temos barcos, motos de trilha,
bicicletas...
– Você não me disse que seu pai era dono de um hotel fazenda. – disse Jennie
observando a paisagem pela janela do carro.
Chaeyoung estava quieta demais todo o caminho desde que descobriu que
tudo aquilo pertencia à família Kim. Lisa estacionou no carro em baixo de
uma árvore e fingiu procurar por algo no assoalho enquanto as outras saíam
aos tropeços e empurrões, deixando apenas Chaeyoung e Lisa para trás.
Para a surpresa de Chaeyoung, Lisa a puxou pela mão e deu um beijo em sua
têmpora, um gesto carinhoso que fez Chaeyoung sentir vontade de chorar.
Ambas desceram do carro com suas mochilas e seguiram Jisoo até o chalé
onde trocaram de roupas. Chaeyoung fez questão de por o laço vermelho
propositalmente deixando Lisa paralisada por alguns instantes; Jennie quase
teve um surto de riso.
As garotas seguiram até um galpão ao lado do chalé onde havia cerca de dez
motos e dez bicicletas encostadas.
– Ainda se lembra como andar em uma, Lisa? Você quase se matou quando
tínhamos oito anos. - Momo soltou uma exclamação animada com a
lembrança; Chaeyoung ficou confusa.
– O que houve? – perguntou enquanto tiravam as bicicletas do galpão.
– Lisa pensou que poderia voar e subiu em uma rampa. – zombou Momo
pedalando em sua bicicleta verde limão em volta das garotas. – Ela precisou
de uma cirurgia no nariz e vários pontos na testa.
– Hey, você. – chamou Chaeyoung ficando lado a lado com Lisa que mal
podia olhar para o lado com medo de cair.
– Hey, você. – devolveu Lisa forçando um sorriso, mas que acabou parecendo
uma careta.
Estava com medo, precisava admitir. O trauma daquela época não tinha sido
muito legal para uma criança de oito anos. Não gostava de fechar os olhos e se
lembrar do sangue que jorrava de seu nariz, seu pai gritando com ela e os
enfermeiros imobilizando seus braços para que não pudesse tocar. Ela era só
uma menina.
– Muitas vezes meus pais se esqueciam de que tinham uma filha que estava
crescendo. Daniela e Paul eram pequenos e nós não gostávamos muito da
babá. – contou Lisa aos poucos se soltando. – Minha mente precisava por si
própria descobrir o que era brincar.
New York tem sido sua casa desde então, quando aos treze anos seu pai
recebeu uma proposta de emprego como segurança em uma galeria pouco
famosa, não ganhava lá essas coisas, mas era o suficiente para sustentar a
família.
– Um sorvete de baunilha pelos seus pensamentos. – a voz de Lisa a tirou de
suas lembranças e quando se deu conta, haviam chegado ao que parecia ser a
casa de barcos logo abaixo do morro.
– Espero que vocês ainda estejam vivas. – disse Momo tirando os sapatos,
acompanhada por Jennie e Jisoo. – Porque a diversão começa agora!
– Eu não acredito que estou fazendo isso. – comentou Lisa tirando o coturno
e apoiando-se em Chaeyoung que fazia o mesmo com o all star. Deixaram os
celulares e mochilas em um canto junto às bicicletas e se entreolharam.
– Meus pais jamais sonhariam com algo assim, mas aqui estou eu com três
malucas me jogando em um rio.
– Você está com medo? Eu não acredito que Park Chaeyoung está com medo
de água! – brincava Lisa rindo.
– Confie em mim, eu estou bem atrás de você. – dito isso, Chaeyoung a olhou
por detrás dos ombros e ambas sentiram a confiança que existia entre as
duas, havia fogo e gelo se chocando numa intensidade devastadora.
– Eu espero que não ocorra um homicídio no meu chalé. – disse Jisoo tirando
a atenção de Momo, onde foi surpreendida por Jennie que a agarrou pelas
costas e a fez afundar como vingança.
– Filha da puta! – xingou, e as duas iniciaram uma guerra onde Jisoo fazia de
tudo para separar as duas ou então acabariam mesmo se afogando.
Ali, naquele lago, longe do mundo, eram apenas Chaeyoung e Lisa em baixo
da água procurando o próprio reflexo uma na outra, o que incrivelmente não
era difícil de encontrar. Algo novo e forte dentro delas crescia, como uma
nova força, uma nova vida. Uma sensação gostosa, aconchegante que ambas
acolhiam com carinho.
– Eu juro por Deus que da próxima vez vou deixar Chaeyoung e Lisa em casa.
– resmungou Jennie abraçada a Jisoo.
Cismou Jennie quando viu o olhar das duas, mas não teve tempo de se
defender quando foi atacada por mais jatos de água onde até mesmo Momo
ajudou. Jisoo era a única que gritava ao mesmo tempo em que ria defendendo
a namorada que proferia palavrões contra suas agressoras.
Lisa a ajudou a remar até o meio do lago por ter mais força nos braços, ela
fizera parte do time feminino de Softball no colegial.
Jennie, Lisa e Momo eram as mais encantadas com a vista, as três garotas
tinha crescido na sociedade, sempre convivendo com homens engravatados,
mulheres em social e toda a tecnologia da cidade. Quando pequenas, seus pais
nem mesmo as deixavam brincar no parque próximo a rua em que moravam
para que não sujassem a roupa, que dirá comparar uma casa no campo. E
agora lá estavam elas, cercadas por árvores no meio de um enorme lago
habitado por muitos peixes.
– Eles só vieram se alimentar. – explicou Jisoo baixinho quando parou de
remar. O grupo olhou atentamente o cardume passar por baixo do barco, dar
a meia volta e refazer o caminho. – Lisa, está vendo esse pequeno saco ao lado
da sua perna?
Lisa pegou o saco e entendeu que era o alimento dos peixes, então deixou o
remo de lado e encheu a mão de ração para jogar em seguida provocando uma
reação desesperadora na água. As garotas começaram a rir e Lisa jogou mais
uma vez, depois outra até eles estarem mais calmos. Chaeyoung observava
tudo como uma criança observa uma vitrine com a boneca mais linda do
mundo e Lalisa não pode deixar de achar aquilo fofo.
– Chaeyoung! Pare de ser teimosa, é só água e você estava nela até agora! –
bronqueou Lisa segurando os braços de Chaeyoung firmemente fazendo-a a
olhar nos olhos. – Você parece uma criança mimada!
A boca de Chaeyoung abriu chocada com o que Lisa tinha dito e Momo levou
a mão à boca sabendo que agora a merda estava feita.
Quando Lisa notou que já estavam perto da margem, teve uma ideia que
arriscaria sua vida mais tarde, mas que agora valia a pena apenas por
conseguir irritar Chaeyoung. Então um sorriso sapeca nasceu em seus lábios
fazendo Chaeyoung franzir o cenho.
Chaeyoung gritou procurando por apoio, mas já era tarde e ela estava outra
vez dentro da água. Precisou ser muito ágil para não se afogar, o que não a
impediu de engolir um bom tanto de água e engasgar. Sentiu quando braços
agarraram suas pernas, e seu corpo foi lançado para o ombro de Lisa
deixando-a pendurada.
– Odeio admitir isso, mas elas nasceram uma para a outra. – comentou
Momo ajudando Jisoo a empurrar o barco para a margem.
Uma Lisa sorridente levou Chaeyoung ainda nas costas até a árvore onde
estavam suas coisas, Chaeyoung foi posta no chão ainda xingando e se
debatendo como uma louca pronta para ser levada ao hospício.
– Ah, é? E você vai fazer o que? – cruzou os braços em sinal de cinismo. – Vai
me jogar na água? Vai me bater com o piano?
– Você é ridícula!
– Obrigada!
– Eu te odeio!
– É reciproco!
– Cale a boca!
– Vem fazer!
Com essa última, Lisa deu o sorriso mais cafajeste que Chaeyoung vira na vida
e arqueou ainda mais a sobrancelha. Não se contendo, Chaeyoung pegou a
mochila no chão e a jogou em Lisa que, pelo seu bom reflexo, conseguiu
desviar.
– Você não deveria ter feito isso! – grunhiu Lisa avançando contra Chaeyoung
que arregalou os olhos e começou a se afastar.
– Não, Lisa! Eu sei o que você vai fazer, apenas não... – pediu mudando
totalmente o humor e deixando suas mãos como escudo para uma Lisa que
avançava contra ela. – Por favor, eu lhe perdoo, ok? Já esqueci. Olha, já
passou!
Porém, ela estava falando com Lalisa Manoban e essa nunca se rendia. Lisa
abriu as mãos em forma de garra indicando que faria cócegas na menina, o
que fez Chaeyoung sair correndo em disparada por entre as árvores
chamando desesperadamente por Jennie que ainda estava na casa de barco
com as outras.
A culpa invadiu Lisa no mesmo instante, ela quis se bater por ter feito
Chaeyoung se machucar.
– O que você fez com ela? – perguntou Jennie incisiva quando viu Lisa se
aproximar com uma Chaeyoung encolhida em seu colo como um gatinho.
– Chae tem mesmo uma mente suicida. – Jennie comentou com Momo como
se contasse uma novidade.
– E ai, como vai ser? – perguntou Momo que estava disposta a levar
Chaeyoung, mas a outra olhou esperançosa para Lisa.
Chaeyoung bateu palmas contente com sua vitória e com a ajuda de Jennie
sentou de lado no cano da bicicleta ficando entre as pernas de Lisa.
Não foi tão difícil quanto Lisa imaginou, Chaeyoung era leve e estava
facilitando as coisas mantendo o equilíbrio, ao contrário do que tinha feito no
barco.
– Vai mais devagar, Lisa. – pediu quando ambas pegaram mais velocidade na
estrada de terra plana, mas Lisa sempre foi muito competitiva e Momo não
estava facilitando as coisas com as provocações. – Outra vez não! Nós vamos
morrer.
– O que acha de subir até as nuvens, Chaeng? – ouviu Lisa perguntar com a
voz abafada pelo vento.
O livro estava interessante, mas seu corpo sentia falta do calor e proteção de
Lisa, então seus olhos correram até o Dodge onde a de cabelos castanhos
observava a lua se posicionar entre as estrelas que aos poucos surgiam no céu.
E agora aquela música romântica que reproduzia em seus fones não estava
ajudando em nada as imagens mentais que seu cérebro insistia em criar.
Ela estava vivendo todo o clichê que sonhava com as músicas de Billie e isso a
assustava intensamente, pois a felicidade costuma vir com uma surpresa nada
agradável no final. Sabia disso, conhecia muito bem essa história de sentir-se
inteiramente completa, sentir que poderia explodir de felicidade. Estas
alegrias violentas têm fins violentos, não é assim que dizia Shakespeare?
Estava em uma estrada sem volta, sabia que Lisa a tinha desarmado no
momento em que sorriu. Como poderia? Aqueles olhos castanhos refletirem a
própria alma doce de Lisa, como se estivesse exposta a quem quisesse
interpretá-la, pedindo por atenção. E Chaeyoung queria; Deus, como ela
queria entender todos os segredos de Lisa, conhecer sua história. Criar uma
nova história.
(Yellow - Codplay)
Lalisa desceu do carro num pulo ágil e caminhou até Chaeyoung sem quebrar
o contato visual. Elas estavam conversando, dizendo no silêncio dos olhares
que preferiam estar na companhia uma da outra. Com um sorriso tímido, Lisa
acomodou-se ao lado de Chaeyoung e a puxou para os seus braços fazendo
com que a menor deitasse de costas em seu peito. Era tão fácil para elas agir
dessa forma, como se fosse o certo sem nem mesmo terem uma definição.
Chaeyoung brincou com os dedos da mão direita de Lisa antes de voltar sua
atenção ao livro. Na primeira página havia algumas anotações a lápis que
chamaram a atenção de Lisa.
– Alguns dizem que o mundo acabará em fogo, outros dizem em gelo. Fico
com quem prefere o fogo. Mas, se tivesse de perecer duas vezes, acho que
conheço o bastante do ódio para saber que a ruína pelo gelo também seria
ótima. E bastaria.
Elas eram fogo e gelo, de mundos opostos, colidindo como água na brasa; isso
poderia causar uma erupção do outro lado do mundo se as pessoas parassem
para prestar atenção.
Chaeyoung sorriu para si mesma, Lisa parecia mais uma criança preocupada
em não ganhar seu presente de natal. E talvez ela estivesse certa, os temores
de Chaeyoung eram maiores que o sentimento que emergia em seu coração.
– Quem sabe? Talvez sim, talvez não...o melhor é aproveitar cada segundo,
não acha?
– É...talvez.
Aos poucos, Chaeyoung foi rendida pelo sono nos braços de Lisa que sorriu
deixando um beijo carinhoso no topo da cabeça da outra, assim, zelando por
seu sono até que fosse hora de ir embora.
Sim, ela era clichê ao ponto de ser apaixonada por luzes natalinas, bonecos de
neve, árvores de natal e a família reunida em volta da mesa para a ceia. É
assim que foi criada, em uma família grande onde todo ano era comemorado
o natal de forma simples, mas em união.
Lalisa estava uma fera assim como a maioria dos estudantes que tinham
marcado de assistir ao jogo no Blue Note, um bar de Jazz muito frequentado
pelos alunos de Juilliard localizado entre a 6th Avenue e o MacDougal Street.
Agora a maioria deles apenas resmungava pagando as apostas perdidas
enquanto uma jovem DJ subia ao pequeno palco e iniciava a atração daquela
noite.
– Nunca subestime os ursos, baby! – dizia Jennie eufórica enquanto virava
seu quarto copo de uísque. – Passe a grana, amorzinho.
A DJ havia iniciado a playlist com Dark Horse da cantora Katy Perry fazendo
alguns estudantes gritarem animados e a ovacionarem, a maioria já bêbada
demais para manter-se sentado.
Apesar de o local ser um bar de Jazz, o dono sempre cedia noites especiais aos
estudantes liberando pequenas baladas como a da aquela noite, para a alegria
de todos em Juilliard que adoravam aquele lugar.
– Não vai deixar que isso estrague sua noite, não é? – ouviu Chaeyoung
comentar cutucando sua perna por baixo da mesa. – Jennie está apenas
sendo Jennie, o jogo não foi grande coisa de qualquer forma.
– Você ouviu música o tempo todo. – retrucou a Lisa olhando para o lado. –
Eu vou ficar bem, daqui a pouco a raiva passa.
Ela sabia que era ridículo agir de tal forma, Jennie fazia questão de jogar esse
fato no ar a cada cinco minutos e talvez até Lisa estivesse cansada de suas
infantilidades, mas o medo era maior quando se tratava de estar amando
alguém.
Não era uma brincadeira, para Chaeyoung, o amor era algo muito além de
apenas segurar a mão e trocar beijos carinhosos; o amor era o conhecimento
da alma da pessoa, entregar-se totalmente a alguém sem medo do amanhã,
era jogar-se de uma montanha sem se importar com o que encontraria lá
embaixo.
E seu maior medo era que Lisa não a estivesse esperando no final daquela
queda livre.
Chaeyoung virou-se e, para sua decepção, Irene fazia parte de um dos grupos.
Não que a Chaeyoung não gostasse de Irene, elas eram boas colegas em
Juilliard e a ruiva sempre se provara uma boa pessoa, mas sua paixonite por
Lisa incomodava Chaeyoung que fazia de tudo para não transparecer.
Jennie apontou alegre para Irene indicando que a ruiva estava certa e zombou
da cara de Lisa enquanto Jisoo segurava o riso.
– Espero que sim. – Irene ergueu as sobrancelhas em duplo sentido, o que fez
Chaeyoung engolir em seco e Momo sentir que era hora de salvar a pátria.
– Boa noite, Irene. – pigarreou acenando para a ruiva que abriu um sorriso
quando a viu.
Lisa apenas deu de ombros para as garotas na mesa, em sua cabeça a ruiva
estava apenas sendo simpática. Ou pelo menos queria acreditar nisso já que
era boa demais para recusar qualquer coisa. Mas, ao contrário do que
imaginava, Chaeyoung observou a cena com sangue nos olhos e um aperto no
coração que fez seus olhos marejarem, mas segurou-se para não chorar ou se
arrependeria pelo resto de sua noite.
– Lisa é uma frouxa que se deixa levar pela bondade dos outros. – disse com o
maior bafo de álcool que fez Chaeyoung se retrair. – Você precisa criar
coragem e ir lá pegar a Manoban, porque sério, eu não ouvi um mês inteiro
ela falando sobre um laço vermelho que você nem usa direito para tudo
acabar assim. Se ela quer uma experiência lésbica, que seja com você, não
concordam?
Olhou para Jennie e Jisoo que não responderam, apenas analisaram a reação
de Chaeyoung ao afastar-se do abraço de Momo com o olhar confuso.
– Você não acha que Lisa é lésbica, não é? – perguntou divertida, mas quando
viu a expressão séria de Chaeyoung, logo tratou de ficar séria também. Ou
tentar. – O que? Gente, ela sempre ficou com garotos, no mínimo pode ter se
tornado bissexual, mas os pais dela a controlam tanto que provavelmente vai
acabar se casando com um o filho de algum advogado famoso.
Aquele foi o estopim para o coração de Chaeyoung avisar que estava sendo
pisoteado. A Chaeyoung levantou-se da mesa pedindo licença e saiu às
pressas esbarrando nas pessoas que dançavam na pista. Jennie pulou por
cima da mesa e agarrou a gola do moletom de Momo trazendo-a mais perto
com uma expressão letal.
– Você não tem noção do que fala não, sua babaca? – grunhiu empurrando
Momo com força de volta ao banco. Momo ficou paralisada com a reação da
outra. – Vem, Jisoo.
Jisoo ainda reclamou com Jennie dizendo que sua política sobre não se meter
em relacionamentos ainda estava de pé, mas aquela altura do campeonato era
de se esperar uma intervenção antes que aquela relação bonita entre
Chaeyoung e Lisa fosse pelos ares.
– Chae...Momo está bêbada e não sabe o que fala. Você a conhece, ela não tem
noção das coisas.
– Hm, ok. Tem certeza de que não quer conversar? – murmurou quando uma
garota completamente bêbada entrou no banheiro. – Você disse que Lisa vai
dormir na sua casa hoje, não seria legal ter um clima estranho entre vocês.
Chaeyoung subiu agradecendo aos sete ventos pelo som da música ser mais
abafado na parte superior e por estar vazio, a não ser, talvez, por um jovem
casal mais ao fundo, estavam tão colados um ao outro que poderiam se fundir
a qualquer momento.
Logo a frente havia uma sacada que dava vista para o bar todo e foi lá que
Chaeyoung se debruçou, observando as pessoas dançarem divertidas e
bêbadas, pelo menos as caixas de som estavam longe e não queimariam mais
o seu cérebro. Espere, isso seria possível? Nah, no máximo afetaria sua
audição mesmo que ainda se perguntasse como as pessoas lá em baixo não
tinham notado o quão alto e estridente aquele som estava. Talvez fosse apenas
a realidade delas, assim como a sua era apenas uma melodia suave de cordas.
As pessoas são mesmo diferentes, gostos tão distintos que as tornam ainda
mais intrigantes.
– Achei você! – surpreendeu-se ao ouvir a voz arrastada e rouca de Lisa. A
Lisa vinha caminhando com uma margarida em mãos e um sorriso cintilante.
– Não deveria estar dançando?
Houve uma troca de música onde Lisa desviou os olhos para a pista de dança
lá em baixo e depois se voltou para Chaeyoung novamente, ela precisava fazer
uma coisa de cada vez, então deu mais um passo a frente.
– Sabe que eu estive me perguntando se você estava com dor pela sua careta
quando Irene chegou. Mas foi só então quando ela me arrastou para o bar, me
embebedou e tentou me beijar que eu me dei conta de que na verdade você
estava era com ciúmes. – e com um sorriso cínico, tirou uma pétala da
margarida. – Ela me quer.
– É muita presunção sua achar que eu estava com ciúmes. – cruzou os braços
erguendo todas as suas barreiras. – E você anda assistindo muito Glee.
Lisa riu. Ela definitivamente amava esse seriado e sempre quis fazer a cena da
margarida.
– Não? Nem mesmo quando Momo falou sobre minha possível
bissexualidade e você correu ao banheiro? Ela me contou. – Chaeyoung abriu
a boca surpresa e Lisa sorriu mais ainda, tirando outra pétala. – Ela não me
quer.
– Eu não sei sobre o que está falando, Lisa. – retrucou batendo o pé esquerdo
firmemente no chão. Sentia-se encurralada. – Você bebeu demais e agora não
está assimilando bem as coisas.
O casal que estava aos amassos ao fundo passou por elas cambaleando, ambos
escorados um no outro e rindo de qualquer coisa que um deles tenha dito.
Lisa esperou até que eles longe o suficiente para continuar:
– Eu não sei mesmo, Chaeyoung? – sua expressão ficou mais séria, os olhos
estavam escuros. Chaeyoung pode jurar que sentiu seu coração petrificar com
aquele olhar. – Eu posso não ser a expert em relacionamentos ou ter ficado
com garotas antes...mas basta reparar a maneira como age perto de mim,
como me olha...até um tolo perceberia que assim como eu, você quer me
beijar. – tirou outra pétala. – Ela me quer.
Tudo o que pode fazer foi abaixar a cabeça com vergonha. Então Lisa tirou a
garrafinha de água das mãos de Chaeyoung deixando-a em cima da grade de
proteção e entrelaçou seus dedos de forma carinhosa.
– Você tem procurado por alguém que dance Billie Holiday pela sala com você
de meia e pijama; alguém que assista filmes antigos ao seu lado sem reclamar,
porque esse é o seu gosto também. E eu estou aqui, ouvi o CD de Billie que me
emprestou, pesquisei mais sobre ela na internet e aluguei Moulin Rouge, um
ótimo filme, devo admitir, mas tirando o final que me deixou bem deprimida
por alguns dias. – riu para si mesma e balançou a cabeça. – Eu estou aqui,
Chaeyoung. Você não precisa ter medo de que eu encontre um cara por quem
eu vá me apaixonar porque ninguém lá fora me faz sentir o que você faz. Eu te
encontrei naquela sala por uma razão, e eu estou aqui para descobrir qual. –
mais uma pétala. – Ela não me quer.
Lisa inclinou-se pronta para selar aquele momento com um beijo, mas foi
barrada pelas mãos de Chaeyoung em seu peito. A Chaeyoung tinha lágrimas
nos olhos ao mesmo tempo em que encostava a testa no queixo de Lisa
suspirando pesadamente.
– Eu vou estar aqui. – garantiu com um sorriso doce e torto pela embriaguez.
O relógio marcava nove e quarenta quando Lisa decidiu que estava sóbria o
suficiente para dirigir naquela noite. Sendo assim, deixou Jisoo, Momo e
Jennie suas respectivas casas
Ambas conversaram sobre Daniela, a irmã de Lisa, que tinha confessado estar
com Bulimia na última visita da irmã. Marco Manoban não ficou nada feliz
em saber que sua filha estava vomitando a comida e, como sempre, tratou o
assunto com estupidez enquanto, Charlote, a mãe de Lisa forçou Daniela a ir
ao médico antes que piorasse. Lisa estava preocupada com a irmã, e agora
Chaeyoung também.
Chaeyoung quis gritar quando sentiu o banho de água gelada, mas acordaria
seus pais e ambas levariam uma bela bronca.
– Lalisa! – exclamou praticamente pulando do colo da Lisa e a empurrando
enquanto a Lisa ria. – Você tem quantos anos? Cinco?
– Seis, ok? Tenho seis. – afirmou voltando a correr atrás de Chaeyoung que
não perdeu tempo em pular as escadas da varanda fugindo da chuva e da Lisa.
– Sh! Fique quieta. – pediu vendo uma Lisa toda ensopada chegar atrás de si
com um enorme sorriso malandro. – Meus pais vão me matar quando
encontrarem o rastro de água pela manhã. – sussurrou fechando a porta
quando entraram.
Subiram as escadas abafando o riso das piadas sem graça que Lisa tentava
fazer. O estado em que estavam era engraçado para as duas, elas pareciam
duas crianças ensopadas, mas isso já era de se esperar vindo de Chaeyoung e
Lisa.
Chaeyoung abriu a porta do quarto, mas foi empurrada por Lisa que correu
até o banheiro implorando um banho quente enquanto Chaeyoung fechava a
porta com cuidado e procurava seu pijama. A Lisa saiu devidamente trocada
em sua calça de moletom e uma camisa da faculdade dando um sorriso
enorme à Chaeyoung que ignorou passando por ela e entrando no banheiro.
– Obrigada pelo sorriso, Lisa. Ele é realmente lindo. – disse a Lisa a si mesma
tentando imitar voz de Chaeyoung.
Lisa deu de ombros quando ouviu o chuveiro sendo ligado e se jogou na cama
sentindo todo o cansaço daquela noite se manifestar em seu corpo. Passou os
olhos pelo quarto tomando cuidado em analisar cada objeto com cuidado e
sorriu quando viu algumas fotos de Jennie, Jisoo, Mark, Dian, Ella e
Chaeyoung penduradas por um fio de náilon que ligava uma parede à outra.
♪♪♪♪♪♪
– Vem aqui. – pediu a Lisa sentada na cama com seu violão em mãos.
– Eu sei que prometi deixá-la pensar, mas quando vi o violão uma música me
veio à cabeça, uma música que pode dizer tudo o que eu não sei expressar em
palavras. Eu acho que no final de tudo é Billie Holiday quem pode me ajudar a
lhe dizer isso.
O som da chuva lá fora era o único audível agora. Chaeyoung tinha emudecido
completamente, tudo o que conseguia fazer era encarar Lisa sentindo todo o
corpo tremer, as mãos apertando a toalha com força desnecessária.
Estava chovendo lá fora. E Lisa estava em seu quarto. Era quase madrugada.
Tinha um violão. E Billie Holiday também.
– Apenas ouça. Ok? – a Lisa pediu com um sorriso singelo nos lábios, e então
sua concentração caiu no violão quando iniciou os primeiros acordes. –
Someday when I'm awfully low. When the world is cold, I will feel a glow. Just
thinking of you and the way you look tonight. Oh, but you're lovely with your
smile so warm and your cheeks so soft...There is nothing for me... – Lisa
sussurrou como uma oração, alto o suficiente para que apenas Chaeyoung a
ouvisse. – But to love you, just the way you look tonight. With each word,
your tenderness grows tearing my fear apart...
Lisa deixou o violão de lado na cama com cuidado e continuou cantando aos
sussurros enquanto sua mão esquerda deslizava suavemente pelo lindo rosto
de Chaeyoung.
– And that laugh that wrinkles your nose touches my foolish heart. Lovely,
never never change, keep that breathless charm, won't you please arrange it.
Cause I love you, just the way you look tonigh.
– Isso foi lindo, Lisa. – Chaeyoung forçou-se a dizer com um pequeno sorriso.
Suas mãos tremiam, era verdade, assim como todo seu corpo, mas ela
precisava se controlar. Então se aproximou com a toalha em mãos pronta
para fugir outra vez. – Talvez o gesto mais lindo que já fizeram por mim.
– Agora vamos enxugar essa cabeleira antes que você pegue um resfriado... –
mudou de assunto entregando a toalha para a Lisa a sua frente.
Há tanto tempo que não tocava seu antigo piano. Mantinha-se sempre
concentrada em sua carreira como pianista que não se permitia pensar em
coisas do passado, como aquele velho móvel que lhe trazia lembranças
demais.
O primeiro beijo.
(Play na música Tattle Tale - Glass Vase Cello) • Link no início do capítulo.
Lisa levou os olhos para uma Chaeyoung que observava concentrada seu
trabalho com a toalha. A Lisa ainda estava sentada de frente para a garota
quando terminou de secar os cabelos, abandonando a toalha na cama e
aproximando-se um pouco mais de sua mais nova adoração.
Chaeyoung previu o ato e deixou seus olhos perderem-se nos da outra que
agora tiravam tudo dela outra vez. Podem chamá-la de covarde, ela não liga,
pois prefere seu coração são e salvo enquanto está dedicando-se a carreira.
Mas existem coisas que não planejamos, não é mesmo? Chaeyoung sabia do
risco de estar perto demais de Lisa, e mesmo assim estava desafiando as leis
de Newton. Algumas coisas simplesmente precisam ser, e nem suas aulas de
yoga quando criança ajudou na concentração quando sentiu as mãos firmes
de Lisa repousarem em sua cintura.
Quatro anos. Há exatos quatro longos anos, Chaeyoung e Lisa trocavam seu
primeiro beijo de amor, e era quase uma necessidade estar trancada no
auditório ensaiando para sua grande apresentação.
Mas aquela garota com o violão... Violão lembrava Lisa e os dias em que a
Lisa tocava para ela.
Não foi preciso pedir duas vezes. Chaeyoung sentiu seus lábios serem tocados
gentilmente pela maciez dos lábios de Lisa, só esse ato fazendo todo o seu
corpo perder a força e sua sanidade ser mandada ao inferno. Com
necessidade, Chaeyoung rapidamente pressionou seus lábios novamente
prendendo o inferior da Lisa, chupando-o, aproveitando aquela explosão em
seu coração.
Pela primeira vez, Chaeyoung não estava pensando racionalmente; seus atos
eram puramente instintivos, não controlando os suspiros pesados, invadindo
a boca de Lisa como se fosse um costume.
Então assim era beijar uma garota, lábios macios como veludo, descargas
eletromagnéticas percorrendo suas veias e atravessando seu corpo como um
raio veloz.
Deixou toda a frustração ser descontada nas teclas daquele piano sem
esconder as lágrimas. Ela merecia isso, afinal, depois de tempos afastada dos
palcos, um pouco de desabafo na música era tudo o que precisava.
Ela não precisava mais esconder de si mesma que estava se perdendo por
aquela garota, que estava pronta para pular daquele precipício sem fim que
era estar apaixonada ou se jogar na frente de um carro para salvá-la.
Era o extinto protetor, era aquela garota de olhos castanhos que a atraía como
um viciado é atraído pela sua heroína. O beijo de Lisa era como êxtase e
ambas sabiam que se não parassem, roupas começariam a ser tiradas.
Os livros estavam certos a final, beijar uma garota se tornava mágico. E tinha
gosto de morango. Primeiramente a Lisa pensou que poderia ser chiclete, mas
depois de passar minutos beijando aqueles lábios carnudos, teve certeza de
que aquele era o gosto do beijo de Chaeyoung. Era incrível que aquela fosse a
união que Lisa mais gostava no mundo, morango e Chaeyoung.
– Fale alguma coisa. – pediu a Lisa com a voz abafada pelo pescoço de
Chaeyoung.
– Estamos abraçadas.
– Hm?
– Não quebre meu coração. – pediu quase infantilmente levando sua mão
direita até a face da Lisa tirando uma mecha de cabelo que pendia entre elas e
prendendo-a atrás da orelha de Lisa.
– And then there suddenly appeared before me - Lisa cantarolou outra música
de Billie fazendo Chaeyoung sorrir gostosamente contra seu rosto. - The only
one my arms will ever hold.
O que Chaeyoung poderia fazer? Ela estava perdidamente apaixonada por sua
garota de olhos verdes.
– Me beije.
E aquela foi à noite em que Chaeyoung e Lisa tornaram-se apenas uma. Não
sexualmente falando, mas dizem que quando dois corações apaixonados
finalmente se encontram e se aceitam; o céu entra em festa.
Então talvez fosse esse o motivo dos relâmpagos e trovões, uma Chaeyoung
comemoração divina sobre o descobrimento do amor.
♪♪♪♪♪♪
Música que Lisa toca: The way you look tonight - Frank Sinatra
Música: Tattle Tale - Glass Vase Cello Case
______
Lisa olhou o relógio na cabeceira da cama e agradeceu a Deus que ainda fosse
cedo demais para a faculdade, assim pode levantar-se cuidadosamente para
não acordar Chaeyoung e caminhar sem pressa até o banheiro para a higiene.
Assim que saiu do banheiro, desligou a luz do quarto outra vez analisando a
respiração calma da Chaeyoung ainda deitada na mesma posição na cama.
Lisa começou a caminhar lentamente pelo quarto analisando cada detalhe,
desde o enfeite de bolinhas na cômoda até o violão esquecido no chão ao lado
da cama por ela noite passada, assim como a toalha que devia ter servido para
enxugar seus cabelos, mas que acabaram tendo que fazer isso por si só.
Lisa abriu a caixinha e fechou os olhos contemplando o som suave que tanto
lhe agradava, lançou um olhar rápido para Chaeyoung checando se não a
tinha acordado e deixou a caixinha em cima da cômoda outra vez mudando
para um pequeno rádio com um pen drive; ela abaixou o som e deu play
deixando que a voz de Roberta Flack interpretando The first time ever I saw
your face, sendo a música que Lisa tocara naquela noite fria no apartamento
de Irene quando estava sentada no alto do prédio, fosse sua trilha sonora
particular quando voltou à cama apenas para contemplar o sono de
Chaeyoung.
– O que está olhando? – Chaeyoung perguntou com a voz falha, quase nula.
– Você.
Foi então que Chaeyoung se deu conta do rádio ligado e em que música
estava; ela desejou afundar no travesseiro e nunca mais permitir que Lisa a
visse no estado de constrangimento em que estavam.
– Eu não sei qual o motivo de vergonha, você está linda. – rebateu Lisa
achando tudo aquilo fofo demais. - Hey, Chaeyoung. – brincou tentando tirar
as mãos da Chaeyoung do rosto. – Olhe para mim, por favor. Pare de ser
boba, eu amo muito mais te ver assim do que toda arrumada.
Contra a vontade e sabendo que a Lisa estava dizendo aquilo só por falar,
Chaeyoung abaixou as mãos e voltou a encará-la fingindo estar brava.
– Não um tempo de nós, acho que já adiei isso demais. – explicou sentindo
um arrepio na espinha quando o braço esquerdo da Lisa enlaçou sua cintura.
– Vamos apenas levar as coisas devagar, tudo bem? Deixe-me levá-la num
encontro esta noite, é sexta-feira e eu conheço o lugar perfeito para que você
conheça um pouco mais de quem eu sou.
– Você sabe que estou apaix... – Lisa tentou dizer, mas foi calada por um
selinho rápido de Chaeyoung que a fez franzir o cenho em confusão.
– Não diga isso. Você não tem certeza disso e está tudo bem, Lisa. – sussurrou
contra a boca da Lisa. – Vamos levar as coisas com calma e explorar esse
sentimento, ok?
– Tudo bem. – Lisa se rendeu espreguiçando-se mais uma vez antes de dar
um beijo na testa de Chaeyoung e sentar na cama. – Vamos nos arrumar para
a aula.
Diana estava na sala com Ella assistindo desenhos quando as duas garotas
desceram as escadas quase tropeçando uma na outra.
Meia hora depois elas entraram no Dodge seguindo para Juilliard com
Chaeyoung relatando suas experiências ao ouvir o CD de Johnny Cash que
Lisa tinha lhe emprestado; foi preciso respirar antes de admitir que sim, a
garota estava certa, as músicas eram realmente boas. Lisa sorriu convencida e
abriu o porta luvas do carro tirando o CD de Billie e o devolvendo para
Chaeyoung.
– Fico feliz que tenha gostado de Johnny tanto quanto eu gostei de sua
querida Billie. – brincou quando estacionou o carro em frente à instituição.
– Agora você pode cantar as músicas dele para mim sempre que quiser. –
sugeriu deixando os olhos se perderem nos pingos de chuva de caíam no vidro
do carro. – Eu não sei se já disse isso, mas amo quando canta para mim.
O coração de Lisa acelerou mais uma vez naquele dia e, espere! Aquilo eram
borboletas em seu estomago?
Chaeyoung ainda estava surpresa, talvez essa não fosse sua ideia de ir
devagar, mas quem se importa com Lalisa Manoban querendo seu beijo, não é
mesmo? Então apenas sorriu de volta e abriu a porta do carro quando sentiu a
mão de Lisa em seu braço.
♪♪♪♪♪♪
Lisa tinha despertado nela o melhor e o pior; o pior se devia ao seu maldito
medo de estar em uma relação, mas depois daquele beijo era como se tudo
fosse possível, e era inegável que Lisa vinha provando a cada dia que merecia
uma chance de ter o seu coração.
No almoço foi encurralada por Jennie e Jisoo que continuavam aflitas sobre
os acontecimentos no Blue Note noite passada, mas Chaeyoung continuava se
fazendo de desentendida, decidindo se deveria ou não contar o que tinha
rolado quando chegaram em sua casa.
– Ok! As coisas não foram bem assim... - disse quando já não aguentava ouvir
as lamentações de sua amiga. Jennie parou de falar no mesmo instante e
Jisoo parecia surpresa.– Aconteceram ... Coisas. - abaixo o tom de voz na
última palavra e respirou fundo. - Nós nos beijamos.
O copo de suco vazio que Jennie brincava caiu de suas mãos enquanto sua
boca formava um perfeito O. Os olhos de Jisoo poderiam saltar das órbitas a
qualquer momento tamanho seu choque. Chaeyoung achou engraçada a
reação das amigas, mas ainda sim continuava insegura sobre o assunto, então
desistiu da garrafa de água mutante e se inclinou um pouco mais na mesa
dando total atenção ao casal.
Parte dela tinha contado às duas amigas porque precisaria de ajuda muita
com o que vestiria, pois seus gostos eram muito casuais quando se tratava de
sair. Jennie e Jisoo eram o casal mais fashion que ela conhecia, tinha certeza
que não seria decepcionada.
- Isso é tão fofo! – Jennie bateu palmas fingindo que limpava lágrimas. – Eu
estou tão feliz que mal posso me conter, posso até mesmo imaginar o
casamento com arcos, ao céu aberto, fogos de artifício...
Chaeyoung abriu a boca pronta para protestar quando seus olhos captaram
uma ruiva sorridente caminhando até elas com uma bandeja em mãos. A
lembrança de Lisa lhe contando que Irene havia tentando beijá-la não
adiantava em nada seu humor agora e o casal na mesa pareceu notar sua
mudança de expressão ficando rapidamente em silêncio.
- Meu pai me ligou furioso sobre a hora, então Lisa me levou em casa.
Uma luz pareceu acender na cabeça da ruiva com a menção ao nome de Lisa e
ela engoliu o pedaço de frango rapidamente.
E sem dar mais nenhuma explicação, saiu do refeitório mais do que satisfeita
por decepcionar Irene e todas as suas intenções com Lisa.
♪♪♪♪♪♪
Lisa estava despreocupadamente sentada no chão do dormitório com as
costas apoiada no beliche enquanto jogava uma bolinha de tênis na parede
oposta que quicava, batia na parede e então voltava em suas mãos, era uma
forma de passar o tempo sem enlouquecer agora que tinha terminado todos
os seus trabalhos e ainda faltava pouco mais de duas horas para o tal
encontro.
– Eles são doentes, isso sim. Andam bebendo e fumando maconha como se
não houvesse amanhã e se acham os donos da verdade. – reclamou fechando
o livro com violência e o deixando de lado na cama para olhar para a cabeleira
castanha de Lisa lá em baixo. – Prefiro Jennie, Jisoo e Chaeyoung.
– Uhum, você provou isso ontem. – alfinetou segurando o riso porque na
verdade nada naquele dia poderia estragar seu humor.
– Momo... – Lisa quase perdeu a bolinha quando a amiga disse alto demais. –
Eu não gosto de garotas, ok? Eu gosto de UMA garota e ela é a Chaeyoung.
Pensei que já tivesse deixado isso claro.
Ouviu Momo resmungar sobre estar bêbada e não poder controlar o que diz,
mas preferiu manter-se em silêncio e se concentrar na bolinha. Pensando
melhor agora, Chaeyoung tinha seu grande medo sobre relacionamentos, e
Lisa acabara de descobrir qual era o seu: sua sexualidade.
Todo esse tempo estivera ocupada planejando em como conseguir ficar com a
mais nova, e não pensou em nenhum momento em como seria sua vida caso
se relacionasse com uma garota. Seus pais nunca aceitariam, mesmo sendo
maior de idade ou não, eram eles que a sustentavam e Lisa gostava do
conforto que tinha.
Seu ciclo de amizades... Tirando Momo, ninguém mais aceitaria vê-la com
outra garota.
Havia mais um problema: Seus pais odiavam artes. David Manoban sempre
dizia que música não levava ninguém a lugar algum e que os artistas não
tinham um trabalho de verdade.
Parou a bolinha sentindo-se mal pelos pensamentos que teimaram em
atormentá-la justo naquele dia, era verdade o que diziam sobre cair em si
apenas quando se conseguia o que almejava. Não que ela tivesse conseguido
Chaeyoung, mas elas estavam no caminho, havia algo muito especial que as
tornavam exclusivamente uma da outra. Lisa encostou a cabeça no beliche
olhando pela janela, a chuva finalmente havia cessado e o crepúsculo
substituía o dia nublado.
Era um tanto quanto irônico estar perguntando isso a alguém como Momo,
mas apesar dos pesares, a outra sempre estivera lá no pior de seus dias e no
momento era a única a quem poderia recorrer esse tipo de pergunta.
– Não precisava ser rude, eu estava brincando. – disse tirando as meias que
usava e as jogando na cama de Lisa. – Eu não sei realmente como é um
encontro, os caras com quem eu saía... Eu não sei, às vezes era como se eles se
montassem só para me impressionar, então depois eu descobria que não são
nada daquilo que mostraram ser no começo. É uma grande decepção. Jackson
e eu nos conhecemos na faculdade e nos tornamos amigos antes de qualquer
coisa, não tivemos um primeiro encontro. Apenas aconteceu, e quer saber?
Ele me faz feliz. – finalmente olhou Lisa e percebeu como a amiga parecia
ansiosa. – Vai sair com ela, não vai? - Lisa apenas acenou com a cabeça sem
ter realmente o que dizer. – Se quer um conselho meu enquanto estou sóbria,
então seja você mesma. Chaeyoung já gosta de você por quem você é; apenas
continue sendo a chata que sempre foi e ganhe o coração dela. – cutucou o
estômago da Lisa fazendo-a sorrir. – Vocês são imperfeitamente perfeitas
uma para a outra.
______
10
Duas horas mais tarde e Lisa estava parada em frente ao espelho do quarto
analisando criticamente o que usava; uma camisa jeans de manga longa da
mesma cor, calça preta detroyned e nos pés tênis brancos.
Os cabelos estavam mais lisos que o normal e caíam soltos até a altura da
cintura; a maquiagem era composta apenas por lápis de olho forte, rímel e um
batom simples.
Lisa deixou Momo na casa de Jackson e seguiu direto para a casa de sua
amada, por sorte estava vinte minutos adiantada e não precisaria ter pressa
na pista, aproveitando ao máximo sua calma enquanto colocava uma música
no rádio do carro e cantarolava junto ao cantor.
♪♪♪♪♪♪
Usar roupas coladas sempre tinha sido um problema para Chaeyoung desde
sempre, claro que seria muito melhor seu all star sujo e um short jeans do que
aquele vestido preto com um decote V na frente que não ajudava em nada
seus seios pequenos. Não estava nada mal e precisava admitir isso, Jisoo e
Jennie tinham feito um trabalho impecável até mesmo no coque meio solto
que usava.
– Agora, lembre-se do que vou dizer: Se arruinar meu vestido, eu arruíno sua
vida. Ok? – Jennie murmurou apontando pincel de forma ameaçadora, nesse
mesmo instante a campainha soou no andar de baixo e as três amigas de
entreolharam risonhas. – Sua Julieta chegou.
Chaeyoung desceu as escadas com suas duas amigas e Ella logo atrás, na
medida em que se aproximava dos últimos degraus era possível ouvir a risada
rouca de Lisa e voz animada de seu pai, os dois haviam se tornado bons
amigos e isso só servia para deixar a Chaeyoung ainda mais alegre. Ela viu a
silhueta da Lisa sentada na poltrona enquanto seus pais estavam no sofá de
três lugares logo à frente, os olhos de Lisa rapidamente caíram na escada e foi
como se o mundo todo desaparecesse ao redor.
Chaeyoung soube que Lisa estava encantada quando sua boca abriu e seus
olhos ficaram mais brilhantes do que nunca enquanto passeavam por todo
seu corpo. Então Chaeyoung sorriu quando finalmente chegou à sala sendo
recebida por uma exclamação de seus pais e os gritinhos alegres de Ella.
Jennie e Jisoo tinham ido parar ao lado de Diana e Mark que estavam em pé
agora perto da porta apenas observando a cena, era óbvio que todos naquela
sala apoiavam um relacionamento e que estavam torcendo para que algo a
mais acontecesse.
– Você está linda, Chaeyoung. – disse ainda abobada com a beleza que aquela
garota conseguia exibir mesmo quando pensava que não poderia ser mais
linda.
E era verdade, ela simplesmente amava a forma como Lisa se vestia, era quase
seu oposto perfeito que combinava totalmente com o semblante bad girl que a
Lisa exibia.
– Bom, acho que é melhor nós irmos, não é mesmo? Vocês tem a noite toda
para conversarem e o táxi acaba de chegar. – Jennie comentou lá do fundo
tirando a atenção das garotas uma da outra.
Diana correu abraçar a filha e depois Lisa dizendo o quão lindas estavam e
que se divertissem essa noite. Mark deu uma piscadela para Lisa e um abraço
em Chaeyoung, até Ella sorriu para a Lisa e deu-lhe deu um tímido abraço de
despedida.
– Por que tem um táxi nos esperando? – indagou Lisa enquanto as outras
duas se despediam dos pais de Chaeyoung. – Você não me falou nada sobre
isso.
Chaeyoung brincou com a gola da camisa da Lisa antes de puxá-la para fora
de casa onde uma lua minguante e um céu finalmente limpo as aguardavam.
– E estragar a surpresa? Seu carro pode ficar aqui, você sabe que não tem
perigo.
– Poderia ao menos ter me avisado que iriamos de táxi para esse lugar
misterioso, assim eu teria tempo de me despedir do carro. – disse se fazendo
de triste. Por um lado realmente estava sentida, seu ciúmes com o Dodge era
quase doentio.
– Sim, bem, nós não vamos de táxi. – Chaeyoung a olhou com ironia. – Ele
vai nos deixar no metrô.
Lisa continuou a encarando, esperando o momento em que ela diria que
estava brincando, mas esse momento não veio. Em que mundo ela sonharia
em andar de metrô? Nem de ônibus ela sabia andar, dificilmente de táxi, e
agora Chaeyoung tinha enlouquecido e queria arrastá-la junto.
De certa forma aquilo a tocou. Seus olhos percorreram toda a cidade pelo
vidro do carro em total silêncio, há muito tempo, ou talvez nunca, alguém a
tinha inspirado a ver o lado bonito das coisas, os mínimos detalhes.
Lisa nunca cogitou a ideia de andar de metrô por que... Não era preciso. Seus
pais sempre tiveram vários carros na garagem e não a deixavam frequentar
serviços públicos. Conclusão, ela era uma perfeita garota mimada.
A surpresa maior foi quando a Lisa se deu conta de onde estavam, era o
Brooklyn, um dos bairros que seu pai provavelmente a deserdaria se soubesse
que estava. Por um momento, Lisa pensou em pedir para voltar e combinar
outro lugar, mas Chaeyoung parecia tão determinada em abrir-se a ela que
nenhuma palavra foi dita.
– Eu gosto de vir aqui sempre preciso fugir um pouco – começou a
Chaeyoung abraçando o próprio corpo enquanto caminhavam pela rua
escura. – é um dos poucos lugares que consigo me conectar de verdade.
– Qual deles? Irene? Ela é do tipo que prefere boates e shows. Jennie e Jisoo
seriam uma boa opção, se sair com elas não fizesse de mim uma vela. – riu. –
Não, é melhor eu vir sozinha. Mas quer saber um segredo? Eu gosto. Me faz
pensar mais, refletir sobre as pessoas e o mundo. Acho que se eu não fosse
musicista, talvez me tornasse uma filósofa, o que acha?
– Sócrates que se cuide, você tem umas teorias muito mais loucas que as dele.
Ouch, Chaeyoung. – Lisa gemeu quando recebeu um tapa no braço, as duas
riram e a tensão foi esquecida. – Eu não sei, acho que você poderia ser o que
quisesse...
Mas ela precisou parar de falar quando avistou onde tinham finalmente chego
ao dobrarem a esquina. Todas aquelas luzes coloridas, música, dezenas de
pessoas chegando com os carros e a pé; os olhos de Lisa brilharam com a
surpresa que teve. Elas estavam em Coney Island.
Ela não conhecia muito de NY, nunca tinha estado naquele lado da cidade,
mas agora tudo o que ela queria fazer era abraçar Chaeyoung, aquilo era
simplesmente mágico.
Elas entraram pela porta dupla sendo recepcionadas por uma deliciosa
musica animada da banda que se apresentava ao vivo no pequeno palco mais
ao fundo. O lugar não era muito grande, mas aconchegante. A luz era fraca e
havia várias mesas espalhadas ao redor do perímetro com poucas pessoas
acomodadas, no centro ficava a pista de dança que estava vazia por ainda ser
começo de noite.
– Tem uma mesa vazia ali. – a Chaeyoung apontou para uma mesa um pouco
mais perto do palco, Lisa imaginou que Chaeyoung gostasse de estar perto
dos músicos e ficou feliz por conhecer um pouco mais esse lado romântico
dela. – Eu já sentia saudade de estar aqui.
– Srta. Park! Há quanto tempo não a vejo por aqui. - o garçom disse um
pouco animado fazendo uma pequena reverencia a garota.
– Primeiro eu pensei que essa jovem garota poderia querer roubá-lo, então vi
o caderno de música em suas mãos e o desejo mais do que evidente de tocar
aquele piano. – ele contou com animação fazendo Chaeyoung esconder o
rosto entre as mãos e Lisa sorrir. – Dois anos, querida Chaeyoung, já faz dois
anos.
– Não é?
– Lisa!
Ela estava sentada em frente àquela deslumbrante mulher loira que vinha lhe
oferecendo convites para aquele bar na 4th Avenue. Elas tinham se conhecido
semanas atrás em uma apresentação em Chicago quando sua banda sinfônica
precisou de uma solista.
Era a oitava mulher com quem saía desde que se recuperou e, infelizmente,
tentava de todas as formas encontrar algum vestígio de Lisa em alguma delas.
Porém, não estava sentindo-se confortável naquele primeiro encontro, Becca,
era o nome da mulher, não se mostrava realmente interessada em saber sobre
sua história; apenas sorria forçadamente e, quando segurou sua mão pela
primeira vez, não sentiu as malditas borboletas que precisava a todo custo
sentir novamente. Era quase como se elas tivessem ido embora com Lisa.
– Eu realmente tenho estudado muito e... desde que você entrou na minha
vida eu não tenho feito muita coisa. – explicou Chaeyoung de forma carinhosa
sem tirar os olhos de Lisa. – Não de uma forma ruim, eu só tenho dedicado
mais do meu tempo a você, então acho que isso é bom, certo?
Lisa segurou a mão da Chaeyoung por cima da mesa com uma expressão
adorável, de quem estava se apaixonando outra vez.
– Eu fico feliz que tenha compartilhado seu tempo comigo e que agora
estejamos aqui. É uma honra para mim, Chaeyoung, e eu quero muito que
você saiba disso.
Chaeyoung sorriu observando suas mãos ligadas por cima da mesa; sentia-se
tão bem nesse momento que poderia revivê-lo para sempre.
– Eu estou fazendo isso porque quero compartilhar muito mais com você,
Lisa. – disse pausadamente, tomando seu tomando para ser sincera. – Eu lhe
trouxe aqui de metrô porque é o que eu faço. Todos os dias pego o metrô para
faculdade, para cidade, para qualquer coisa. Sei que parece algo bobo querer
fazer você viver isso, mas eu vivo tudo intensamente, entende? Se vamos fazer
isso, quero que você saiba quem eu realmente sou. Meus pais não tem muito
dinheiro, eu não frequento lugares caros, tenho apenas três amigas. Duas. Já
que Irene vem tentando roubar você de mim. – sorriu tristemente. – Eu não
quero ter um coração partido...é só o que eu peço.
– Chaeyoung? – chamou Lisa com a voz baixa. – Eu quero saber tudo sobre
você e sua história, porque independente do que aconteceu, isso trouxe você
até aqui, até mim.
Era exaustivo demais procurar por detalhes dela em outras pessoas, como,
por exemplo, o olhar. Becca não a olhava com a ternura de Lisa, aquele brilho
apaixonado não estava ali, Chaeyoung não conseguia enxergá-lo por mais que
tentasse e isso era totalmente frustrante.
Um jovem garçom aproximou-se e Becca tinha se oferecido para escolher os
pedidos. Também acabou esquecendo de que Chaeyoung era vegetariana,
pedindo filé para a mesma. Lisa nunca esqueceu.
E então havia essa garota no outro lado do clube sentada com mais três
amigas no balcão que não parava de encarar Chaeyoung. Lisa tinha notado
desde que chegaram e sua perna esquerda saltava embaixo da mesa enquanto
bagunçava o cabelo quase que freneticamente.
– Sabe, você vai acabar matando a garota apenas com o olhar que está
lançando a ela. – a Chaeyoung comentou achando aquilo uma graça enquanto
servia-se com um pouco mais de vinho. Lisa fechou os olhos e era quase como
se contasse mentalmente.
Lisa bufou.
– No entanto, esse é nosso primeiro encontro e eu não vou estragar isso. –
suspirou desviando o olhar de volta para Chaeyoung e vendo o sorriso
brincalhão dela. – Desculpe-me agir como uma idiota, você deve achar que
sou uma piada.
– Eu não poderia estar mais feliz, Lisa. Todas as suas manias te tornam uma
pessoa adorável, mesmo quando tenta me tirar do sério.
Quase três horas tinham se passado e a única conversa que fluía entre as duas
era sobre apresentações e eventos. Chaeyoung estava entediada brincando
com o corpo em cima da mesa, sentia-se embriagada depois de beber tanto,
mas era a única opção para aliviar seu tédio.
A loira olhou para trás observando as pessoas dançarem com uma careta
tirando o celular do bolso e desbloqueando a tela.
– Não, obrigada. – disse desviando sua atenção ao aparelho. – Pode ir se
quiser, eu não gosto de dançar.
A banda começou a tocar uma das músicas mais famosas de Ella Fitzgerald
para a alegria de Chaeyoung que arregalou os olhos fazendo Lisa quase
engasgar com o vinho pelo susto.
– Oh, meu Deus! – exclamou tapando a boca. – Eu amo essa música, é quase
um hino das minhas noites de insônia.
Lisa pensou que talvez Chaeyoung pudesse ter algum tipo de distúrbio que os
médicos ainda não tinham descoberto. E se fosse contagioso? Em breve ela
estaria balançando a cabeça ao estilo Stevie Wonder. Observando melhor,
talvez não houvesse nada no mundo que Lisa quisesse mais que enlouquecer
ao lado de Chaeyoung.
Lisa levantou-se da mesa estendendo a mão para a Chaeyoung que demorou
alguns segundos até se dar conta da garota parada ao seu lado. Quando abriu
os olhos, sentiu vontade de chorar em alegria, era um dos seus muitos sonhos
clichês: Ser convidada para dançar.
Sem hesitar, aceitou de bom grado e deixou-se ser guiada até a pista de dança
onde poucos casais dançavam. A melhor parte de se estar no The Village é que
ninguém se importa se você é heterossexual ou homossexual, o clube era
exclusivamente para pessoas que amavam dançar um bom jazz e estar com
quem se ama ou até mesmo sozinho.
Lisa deu uma Chaeyoung piscadela para a garota antes de aproximar-se dela e
enlaçar sua cintura cuidadosamente com a outra enquanto as mãos de
Chaeyoung encontravam a nuca de Lisa iniciando um carinho gostoso no
local. Era quase protetora a forma como dançavam suavemente no ritmo da
música, a boca de Lisa inspirando o cheiro de shampoo dos cabelos macios de
Chaeyoung, deixando em seguida pequenos beijos no ombro da Chaeyoung.
– E você não está facilitando as coisas nesse vestido curto. - Continuo Lisa
Chaeyoung riu e ainda não disse nada apreciando o fato de sentir-se
totalmente protegida do mundo naqueles braços que a rodeavam.
Lisa pensou se deveria ou não ter sugerido isso, mas no momento não havia
coisa mais certa a se fazer.
Chaeyoung sabia que não era certo fazer isso consigo mesma e muito menos
com outras pessoas, então vagueou os olhos pelo lugar até encontrar uma
plaquinha que indicasse o banheiro.
Becca provavelmente pensara que era um convite para uma pequena festa no
box do banheiro, mas quando se deu conta de que estava errada, fechou a cara
e voltou a mexer no celular.
A praia não estava muito movimentada devido ao horário e o som das ondas
era uma boa forma de relaxar a tensão da pergunta delicada.
– Quando eu tinha dezessete anos, meu pai foi constatado com tumor
cerebral. Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida – sua voz era
quase inaudível devido à dificuldade de falar naquele assunto. – Eu
abandonei a escola por quase um ano, minha mãe parou de trabalhar e meu
pai precisou se afastar do serviço. Nós gastamos até o que não tínhamos com
o tratamento, demitimos a babá de Ella, vendemos algumas coisas em
casa...as coisas realmente pareciam perdidas.
Lisa não se conteve, virou Chaeyoung para ela e a abraçou de frente deixando
pequenos beijos por toda a extensão do rosto dela, até mesmo nas lágrimas
que começaram a rolar pela face da Chaeyoung.
– Foi o único momento em que parei de sonhar desde que me conheço por
gente. Foi como...como se a música de repente ficasse silenciosa e os holofotes
se apagassem. Eu só conseguia rezar a noite, eu dizia a Deus que tudo bem se
eu não conseguisse entrar em Juilliard contanto que meu pai ficasse bem. Eu
rezei dia após dia... – soluçou deixando suas duas mãos no peito de Lisa, a
testa repousando no queixo da outra. – Quando eu passava a noite no
hospital, ele me fazia prometer que independente do que acontecesse, eu
nunca deixaria a música morrer dentro de mim, que eu iria ao teste e...me
lembro de dizer aos jurados que estava dedicando minha audição ao meu pai.
Eu sei que era arriscado, mas o fiz mesmo assim porque era o certo. Era por
ele que eu estava ali. Dois dias depois ele foi operado e foi um sucesso. – a
camisa de Lisa já estava encharcada com as lágrimas furiosas de Chaeyoung,
mas ela não se importava, sentia-se comovida ao ponto de também estar
chorando silenciosamente enquanto a abraçava o mais forte que podia. – E na
mesma semana em que ele voltou para casa, recebi a carta de Juilliard
dizendo que fui aprovada.
– Eu sinto muito, Chaeyoung. – Lisa se fez de forte para a pessoa mais linda
que conhecia. Segurou o rosto da Chaeyoung entre as mãos e enxugou suas
lágrimas. – Eu sinto muito pelo que houve e também agradeço a Deus por
Mark estar vivo. Droga, eu sou tão apaixonada por você!
Elas riram entre as lágrimas e voltaram a se abraçar pelo que pareceu uma
eternidade. Quando se deram conta de que já era tarde, tomaram um táxi e
voltaram abraçadas em silêncio até a casa dos Park, estavam exaustas de uma
noite reveladora.
– Bom, eu acho que é a minha hora de ir. – Lisa disse abrindo a porta do
Dodge e voltando-se para Chaeyoung que abraçava o próprio corpo devido à
brisa fria. – Eu tive uma grande noite, Chaeyoung.
Lisa puxou Chaeyoung pela cintura para mais perto e beijou seus lábios
suavemente antes de dizer:
– Talvez porque fomos apenas as duas patetas que costumamos ser. – deu
outro beijo. – Mas também estou feliz por conhecer mais de você. Sua história
é linda, assim como você e sua família.
Foi totalmente sincera, ela amava Mark e Diana, sem contar que Ella era a
criança mais adorável do mundo e lhe tratava como uma irmã mais velha.
Chaeyoung respondeu com outro beijo que começou de forma lenta e
acanhada, levou um tempo até introduzir sua língua na boca de Chaeyoung
que suspirou com o contato.
Ser dominante era um ato totalmente novo para Lisa e ela precisava admitir
que estava gostando até demais, principalmente quando sentia as mãos
inseguras de Chaeyoung em suas costas e seu corpo todo arrepiado com a
profundidade do beijo.
A luz da varanda foi acesa e as duas pularam para trás quase num salto
quando a porta da frente foi aberta. Mark apareceu com o cabelo bagunçado e
uma Ella sonolenta no colo, ele sorriu quando viu as duas garotas e acenou
para que elas se aproximassem.
– Eu pensei ter ouvido barulho de carro e arrisquei que fosse o táxi. – disse
fazendo-se de inocente. – Espero que tenham se divertido.
– Vou levá-la para a cama. Boa noite, Lisa. Chaeyoung se despediu entrando
com Ella, pensava que a Lisa iria embora em seguida, mas ao contrário disso,
ela esperou até a Chaeyoung desaparecer nas escadas com Ella para estender
sua mão a Mark e dizer sincera:
Mark estava estático quando Lisa soltou sua mão e com um meio sorriso,
deixou a varanda. Ela estava mais do que satisfeita pela noite. Tinha superado
todas as suas expectativas sendo apenas ela mesma e conhecendo um lado de
Chaeyoung que nunca poderia imaginar.
Havia tanta coisa no mundo ainda a ser aprendido, se dava conta agora.
♪♪♪♪♪♪
______
11
Jennie e Jisoo sabiam que havia algo por trás dos abraços demorados,
enormes sorrisos e olhares brilhantes, sério, ninguém pega a mania de buscar
a amiga na faculdade todos os dias se essa amizade não for no mínimo
colorida, mas como boas amigas que eram, e a mando de Jisoo, Jennie se
manteve calada sobre o assunto e esperou que as amigas decidissem contar a
verdadeira situação quando estivessem preparadas.
Naquele dia em especifico, era uma sexta-feira ensolarada com o céu limpo e
ar fresco. Lisa e Chaeyoung tinham ido ao Central Park depois de Juilliard
para fazer o que mais gostavam: Nada.
Lalisa estava sentada com as costas apoiada numa árvore com as pernas
esticadas enquanto lia o segundo volume do livro sobre Direito Tributário
para o trabalho que o Mrs. Forbes tinha passado para a semana após o natal;
sua mão direita sustentava uma caneta marca texto amarela e a esquerda
repousava carinhosamente no peito de Chaeyoung que estava esparramada no
gramado verde com a cabeça apoiada em suas coxas.
Lalisa deixou sua cabeça pender um pouco de lado quando a leitura se tornou
enjoativa para observar a garota deitada em seu colo; ela era perfeita, não
era? Não se lembrava de sentir-se tão inteiramente feliz antes de conhecê-la e
agora elas estavam apenas ali, contemplando a companhia uma da outra
enquanto desfrutavam de um delicioso fim de tarde sem precisarem
necessariamente de palavras.
- O que?
Lisa tinha em mente que precisava controlar seu coração, ele continuava
acelerado mesmo depois de um mês.
Ele sempre acelerava. E sempre aceleraria assim como no primeiro beijo que
se tornou o segundo, e depois terceiro e quando deu por si tinha parado de
contar porque era praticamente impossível raciocinar com a língua de
Chaeyoung traçando linhas inimagináveis em sua boca.
Lisa a olhou com desdém, agora mais do que nunca tinha certeza que havia se
apaixonado por uma pessoa totalmente estranha.
- Amor, eu não quero estragar sua infância, mas não tem como se tornar um
marshmallow. – segurou o riso vendo a mais nova cerrar os olhos encarando-
a novamente. – A menos que você se fantasie de um.
– Assim como minha carta de Hogwarts que deve ter se perdido em algum
lugar. - a expressão preocupada de Chaeyoung fez a Lisa soltar um longo riso
e cobrir o rosto para que não acertasse grama em seus olhos quando foi
atacada pela Chaeyoung.
– Não seja estúpida, Manoban. Você é uma trouxa e trouxas não recebem
cartas de Hogwarts. Fim.
- Você é muito chata, sabia? – implicou dando um beijo casto nos lábios de
Chaeyoung. Mais um salto em seu coração. – Eu amo tanto você.
- Eu também amo você, Lali. – disse com doçura fechando os olhos enquanto
se aconchegava mais ao peito da Lisa. – Vou sentir sua falta esse final de
semana.
- Você disse que ela conseguiu engordar. – estranhou a outra abrindo os olhos
para encontrar os olhos de Lisa um pouco mais escuros que o normal. –
Aconteceu algo?
Lisa pensou por um momento repassando a conversa que tivera com Daniela
pelo Skype na noite anterior.
- Acho que ela está com depressão. Ela precisa de alguém que a entenda e eu
quero estar lá, sabe? Meu pai não é e nunca foi uma pessoa fácil de lidar, ele
sabe exatamente como estragar o psicológico de uma pessoa.
- É claro que eu sei. – Chaeyoung puxou a mão de Lisa que estava em seu
cabelo e entrelaçou com a dela. – Eu gostaria de conhecê-la, acho que teria
muito que conversar com Daniela.
- Falando assim parece que fazemos sexo selvagem toda noite. – a Chaeyoung
provocou mordiscando o queixo de Lisa e deixando um beijo no pescoço
perfumado. Lisa fechou os olhos amaldiçoando Chaeyoung por ser tão
provocativa quando queria. – E eu não tenho culpa se você é branca feito
porcelana.
Aqui estava ela, capaz de amar alguém que ela nunca pensou poder amar,
uma garota. Capaz de gritar em plenos pulmões para quem quisesse ouvir que
tinha encontrado sim, a sua outra metade da laranja, que contos de fadas
existiam sim, que finais felizes era questão de perspectiva. Ela estava feliz.
Como quando ganhou a boneca que batia palminhas e cantava o abecedário
no natal quando tinha sete anos, ou quando patinou pela primeira vez no lago
congelado em Ohio com dez anos; lembra-se de fechar os olhos enquanto seus
pés deslizavam com maestria no gelo como se fizesse isso desde sempre, como
se tivesse nascido para aquilo, como se não houvesse pessoas à sua volta
assistindo seu desempenho com uma interrogação no rosto devido ao seu
sorriso incontido e os olhos fechados. Porque ela estava feliz.
E era o mesmo sorriso que lhe escapava dos lábios agora observando
atentamente o peito de Chaeyoung subir e descer lentamente, a pequena pinta
localizada no começo do couro cabeludo, os lábios carnudos, convidativos. Os
olhos fechados com a leveza de quem está espiritualmente em paz.
É como quando você assiste uma hora perfeita do seu seriado preferido e não
quer ter que desligar a TV. Lisa amava o fato de conhecer Chaeyoung todos os
dias como uma pessoa nova, de conhecer cada pequeno detalhe que a tornava
ainda mais bela aos seus olhos como, por exemplo, sua antipatia por rock
pesado, a alergia ao pelo de gato, que sua cor preferida era vermelho, que
música alta lhe causava dor de cabeça; que ler livros a transportava a outros
mundos, que entre pudim e sorvete ela preferia a morte, que o café sempre
seria forte; que dias chuvosos sempre seriam melhor que dias ensolarados e
que Rachel do seriado Friends era sua personagem favorita.
Chaeyoung se mexeu despertando aos poucos com uma careta de quem não
está pronta para despertar, Chae abriu os olhos apenas para encontrar os
lindos olhos castanhos jorrando amor por ela. Lisa a puxou mais contra seu
corpo para aquecê-la e a outra respirou em seu pescoço perguntando-se
internamente se poderia nunca mais sair do seu mais novo cantinho favorito.
- Hora de ir para casa, dorminhoca. – brincou Lisa apertando seu nariz em
brincadeira. Chaeyoung bateu na mão de Lisa quando a mais velha a
estendeu para ajuda-la a levantar.
- Eu não vou me importar com isso. Mas não posso dizer o mesmo de Momo,
você sabe, ela é louca.
Chaeyoung riu lembrando-se de que Momo era a única pessoa que sabia sobre
elas uma vez que as flagrou num amasso na cama de Lisa quando,
supostamente, deveria estar na casa do namorado.
- Mal posso esperar para contar à Jennie e Jisoo. – disse Chaeyoung e esperou
até que Lisa destravasse a porta para entrar. – O que acha que elas vão dizer?
- Bom, considerando o nível de perceptividade de Jennie... Arrisco dizer que
ela já sabe. – comentou entregando a mochila para Chaeyoung com cuidado
antes de girar a chave na ignição e sair com o carro do acostamento.
– Vejo a forma como ela nos olha quando estou lá, é quase felino, como se ela
dissesse eu sei o que vocês fizeram no verão passado.
- Ela não assistiu a esse filme. Podemos assistir na próxima festa do pijama,
não é?
- Não.
- Por quê?
O silencio recaiu sobre elas onde Lisa sabia que estava sendo fuzilada pelos
olhos negros, mas tudo o que ela mais queria era segurar o riso antes que
pagasse por isso.
É claro que ela conhecia. If I ain't got you era uma das músicas mais
conhecidas de Alicia Keys e com certeza Lisa não ficou nem um pouco
confortável naquele carro com Chaeyoung imitando, ou tentando, imitar um
rebolado no banco do passageiro.
Lalisa estacionou o carro em frente à casa dos Park onde apenas a luz da sala
e varanda estavam acesas na espera de Chaeyoung.
Lisa tentou abrir a porta do carro sentindo mais calor que o necessário
naquela noite fria, mas sentiu as mãos macias de Chaeyoung a puxarem de
volta.
- O que acha que estou fazendo? – choramingou forçando seu quadril para
baixo com um pouco de força extra, fazendo a Lisa arfar.
Vinha sendo assim desde o maldito vinte oito de novembro, quando ela, sem
querer, deixou-se levar pelo momento no quarto de Chaeyoung quando Mark,
Diana e Ella não estavam em casa.
Foi uma surpresa para ambas que ficaram se encarando por um longo tempo
sem saber o que dizer e com os rostos corados. Era a primeira vez para as
duas e nenhuma delas sabia como tocar o próprio corpo, quanto mais o de
outra pessoa. O que não podiam negar, no entanto, era a onda avassaladora
que as dominava a cada nova descoberta sobre seus corpos em momentos
íntimos.
- Alguém pode ver... Amor... – tentou sem sucesso e grunhiu quando seu lábio
inferior foi sugado sem piedade por Chaeyoung. – Deus...
Ela nunca disse baby antes, parecia algo mais íntimo. Ela não sabia se poderia
continuar com isso. Não sabia o que isso significava. Não sabia se foi isso o
que fez esses lindos olhos escurecerem.
Controlado desta vez. Ela tomou a boca de Lisa e seus quadris deslizaram
deliciosamente juntos, seus peitos pressionados firmemente e os dedos de
Chaeyoung emaranhados nos cabelos de Lisa.
- Sim, eu adoraria que seu pai usasse aquela espingarda que ele tem
pendurada na sala acima da lareira.
- Você também quer me tocar. Tanto que está tremendo em baixo de mim
nesse exato momento.
- Estou confiando que você não vai fazer nada que me faça perder o controle.
– disse com a voz rouca que deixou Chaeyoung ainda mais acesa.
- Você não vai querer confiar em mim, não nessa parte, Lalisa. - ela riu e se
inclinou para pressionar os lábios no ouvido de Lisa. - Você desperta um lado
meu que nem mesmo eu conhecia...
Lisa sentia-se tão inocente por pensar que estivera em problemas antes.
Chaeyoung foi audaciosa o bastante para chupar o lóbulo de sua orelha,
depois morder sua mandíbula e atrás da orelha, onde sua língua entrou em
ação. Isso causou arrepios diretamente entre as pernas de Lisa.
- Oh, Deus! - ela gemeu e empurrou Chaeyoung para o banco do passageiro
com a respiração descontrolada.
Ela simplesmente jogou para fora o que tinha a dizer e não quis olhar a
expressão de Chaeyoung suavizar-se e um brilho terno nascer ali, as intenções
sexuais de segundos atrás sendo totalmente esquecidas.
Lisa levantou a cabeça a olhando com tanto amor que Chaeyoung duvidou
que elas estivessem realmente juntas, como um casal; que a sorte a tivesse
escolhido para que Lisa fosse dela e ela fosse de Lisa. Isso era tão perfeito.
Elas sorriram uma para a outra mostrando o amor pleno que havia em seus
olhos, somente entre elas. Estavam tão apaixonadas que começavam a
conhecer até mesmo as feições do rosto que diferenciava as mudanças de
humor uma da outra.
- Não. Dessa vez comprei um presente para a sua irmã. – fez um bico
engraçado, mas Chaeyoung apenas sorriu alegre.
Elas foram até a porta da frente e ficaram se encarando por longos momentos,
gostavam disso mais do que admitiam. Ela abaixou a cabeça e Lisa segurou
seu rosto com a mão esquerda.
Lalisa puxou Chaeyoung para os seus braços e a aconchegou com todo o amor
que tinha a oferecer. Elas ficaram assim por mais alguns minutos, Lisa
acariciando suas costas com as mãos enquanto o rosto de Chaeyoung
repousava delicadamente na curva do pescoço de Lisa aspirando o perfume
cítrico dela.
Chaeyoung aproveitou para roubar um rápido beijo de Lisa que por pouco não
teve uma síncope. Não estava acostumada com esse tipo de adrenalina.
- Logo vai começar a nevar e eu acho que todos devem ter um amiguinho para
brincar na neve. – Ella continuava sem entender, então ela tirou o embrulho
de trás das costas e o revelou para a garota que arregalou os olhos soltando
um gritinho de exclamação. – Opa! – riu quando recebeu um super abraço em
troca.
- Não acredito que Lisa está mimando essa garota, já não basta Chaeyoung. –
comentou Diana aproximando-se da Lalisa e lhe dando um abraço. –
Obrigada pelo presente, realmente não precisava.
Ella correu até o meio da sala já rasgando a embalagem, mas ela parecia ter
um pouco de dificuldade no processo então Chaeyoung foi ajudá-la.
- Eu diria que Lisa mima nossos dois bebês, Diana. – comentou Mark
chegando logo atrás com os olhos cerrados para Lisa que engoliu em seco. –
Não que isso seja algo ruim, é claro.
O casal começou a rir, era quase como se eles combinassem esse tipo de
tortura com a Lisa.
Mark abraçou a filha mais velha e os dois entraram numa conversa sobre o
natal enquanto Diana levou Lisa para a cozinha insistindo que ela passasse o
natal em sua casa caso não voltasse para LA.
O tempo passou rápido na casa dos Park, logo a Lalisa estava indo embora
com apenas um abraço apertado e muito bem disfarçado de Chaeyoung
prometendo que voltaria assim que chegasse de viagem.
Chaeyoung e Lisa trocaram olhares nesse momento porque sabiam qual seria
o real motivo da próxima visita.
♪♪♪♪♪♪
O frio que estava fazendo aquela noite era descomunal e enquanto o aparelho
ligava, ela procurou por algumas luvas e meias na gaveta rezando para que
Momo não acordasse.
- Hey, você. – a voz de Chaeyoung saiu num sussurro do outro lado da tela.
Ela estava enrolada no edredom até a cabeça e tinha um sorriso lindo
estampado na face.
- Hey, você. - sua voz saiu arrastada e seus olhos quase se fechavam. -
Aconteceu algo?
- Como assim, aconteceu algo? Estou sem sono por sua culpa... E outra coisa.
Lisa abriu a boca chocada e correu até sua própria janela para certificar-se de
que estava mesmo nevando, ficou maravilhada quando viu os flocos de neve
flutuarem do lado de fora da sua janela formando uma fina camada branca no
pátio do Campus.
Chaeyoung sorriu ainda mais do outro lado da tela e voltou para a cama.
- É nosso primeiro natal, amor. Nossos primeiros flocos de neve. – falou com
a voz tão fofa que Lisa desejou estar lá para beijá-la. – Desculpe acordá-la
essa hora, eu só queria que soubesse que sou perdidamente apaixonada por
você e que vou sentir sua falta.
Lalisa sentiu seu coração afundar com aquela confissão. Onde estavam suas
chaves do carro? Se Daniela não precisasse tanto dela, com certeza teria
optado em ficar ao lado de Chaeyoung.
- São apenas dois dias. – choramingou tocando a tela onde estava o rosto de
sua amada. – E eu vou pensar em você o tempo todo. Ah, e eu decidi contar
sobre nós à Daniela.
- Sim, ele merece saber. É como se fosse um segredo por um segredo, sabe?
Eu sei que ele vai me entender e eu preciso que pelo menos agora um membro
da minha família saiba.
- Eu quero saber detalhes, ok? E também não quero que você faça nada que
não esteja confortável. – disse mandando um beijo para a tela e Lisa fingiu
que pegou com a mão. – Boa viagem, eu amo você.
- Hey! – Lisa chamou quando a mais nova fez menção de desligar. Chaeyoung
a olhou curiosa. – Você ainda vai me amar amanhã de manhã?
Foi uma pergunta boba e inocente, mas Lisa não pôde se conter em sentir-se
apenas uma adolescente vivendo o que o amor tinha a oferecer. Com
Chaeyoung, ela tinha todas as inseguranças, incertezas e medos que esse
sentimento proporcionava ao mesmo tempo em que também tinha amor,
proteção e felicidade. E então ela não precisava de mais nada.
- Até depois disso. – foi sua resposta.
________
12
Lalisa sentiu-se mal por abandonar o clima gélido e os flocos de neve de New
York pela manhã.
Por sorte, Mark tinha permitido que ela guardasse o carro em sua casa já que
não gostava de abandoná-lo por mais de um dia no estacionamento da
república, não confiava nem um pouco nos marmanjos que andavam
aprontando de madrugada quando estavam bêbados o suficiente para fazer
coisas que não se lembrariam pela manhã.
Chaeyoung fez questão de acordar cedo – algo quase impossível –, para
desejar-lhe novamente boa viagem e sem que os pais vissem, roubar-lhe um
beijo casto.
Sorriu com essa mania boba que tinham de se chamar assim desde a pequena
viagem até o rancho de Jisoo.
Me: Admito que neste exato momento esteja sentindo inveja sua por estar
tão próxima a neve quanto eu estou do Sol.
Me: Saiba que se isso foi uma cantada, você falhou miseravelmente.
Me: Chaeyoung?????
A mulher ofereceu um sorriso quando viu Lisa, era sempre assim quando
voltava, sua mãe era a pessoa mais emocional da família, talvez por isso
Daniela tenha puxado a ela.
Me: ChaeYOUNGGGGH!!
- Eu já a chamei três vezes no corredor. Quem sabe meu próximo passo não
seja arrancar a porta do quarto dela?
Lisa guardou o celular a contra gosto no bolsinho do vestido jeans que usava,
costumava vestir-se assim sempre que voltava a LA a fim de evitar problemas
com o pai a respeito de suas roupas.
- Desculpe.
A Manoban mais nova limitou-se a dar uma breve olhada ao pai e sentou-se
de frente para Lisa que sentiu seu peito afundar com a imagem da irmã.
Daniela estava visivelmente mais magra que o normal, havia olheiras que
indicavam várias noites em claro e seu cabelo estava sem vida e oleoso.
- Quem vai agradecer? Lisa? – Marco indagou e a Lisa aceitou de bom grado
estendendo as mãos e segurando a da mãe e a da irmã por cima da mesa.
- Senhor, agradecemos a fatura em nossa mesa e pedimos que não deixe seus
filhos mais necessitados passarem fome. Agradecemos também mais um dia
em família e que dê uma olhadinha a mais para aqueles que precisam do teu
amor. Amém. – na última frase os duas irmãs trocaram sorrisos meigos e
todos repetiram amém, começando assim a comer.
Daniela levantou os olhos do prato assustada por ter seu nome mencionado
mesa e encolheu-se quando sentiu todos os olhos direcionados a ela.
- Eu acho melhor não, Lis. – disse com a voz baixa enrolando o macarrão no
garfo. – Eu prefiro ficar em casa e assistir a um filme.
Lalisa sabia que era uma mera desculpa para não estar perto de pessoas.
- Por favor? Nós podemos ficar num lugar afastado e eu vou estar ao seu lado
o tempo todo. – esperou a resposta da irmã que não veio.
Charlote segurou sem braço num pedido mudo para que deixasse Lisa
resolver o assunto.
A pior coisa naquele momento era ver a menina tão cheia de vida que vivia
correndo pela casa escondendo os brinquedos de Paul agora tão diferente do
que se lembrava. Seria possível uma pessoa mudar tanto em anos? Quase
como se não fosse mais a mesma pessoa.
- Então, como estão as coisas em New York? – seu pai perguntou e dessa vez a
atenção da mesa era nela.
Seu rosto ruborizou quando pensou nas mil e uma coisas que vinham
acontecendo nos últimos dias em sua vida. Não havia nenhuma possibilidade
de contar a eles sobre Chaeyoung, sabia que seria a última vez que os veria se
o fizesse e Lisa, apesar de tudo, amava os pais para sacrificar por algo tão...
Novo?
- Eu estou bem. Preciso preparar alguns seminários para a semana após o
natal, continuo no mesmo dormitório que Momo... – olhou para qualquer
lugar que não fosse os seus pais e pensou que talvez pudessem ter notado seu
nervosismo. – Quando não estou em Columbia, estou no dormitório
estudando ou em algumas festas com Momo e Jennie, apenas isso.
- Pai! – fechou os olhos pedindo paciência a Deus para aturar aquela conversa
outra vez. – Eu estou bem com meu estágio em Juilliard. Já tenho coisas
demais da faculdade para me preocupar em me adaptar em outro lugar.
- Não vejo sentido você estagiar em uma escola de música quando poderia
fazer isso nem um escritório. – ele rebateu deixando o garfo no prato. –
Aquelas pessoas não tem senso de fibra moral e muito menos de maturidade.
Pensam que cantar e dançar em cima de um palco...
- Pai... – fechou os olhos respirando fundo, dessa vez estava um pouco mais
irritada.
Daniela levantou a cabeça e Charlote olhou suplicante ao marido pedindo
para que se calasse.
– Jennie é uma dessas pessoas. E posso afirmar que vi com meus próprios
olhos pessoas muito maduras naquele lugar. Eu diria que muito mais
maduras até mesmo que estudantes de Columbia.
- Quando você vai criar juízo, Lalisa? Enfiar nessa sua cabeça que cada um
tem o seu lugar na sociedade e o nosso é no topo, não no meio de pessoas
que...
Lisa bateu o guardanapo na mesa e levantou-se com raiva sem pedir licença.
Charlote até tentou chamar pela filha, mas a Lalisa já batia a porta do quarto
com a raiva queimando suas veias.
Havia vezes, como essa, que sentia ódio de Marco como jamais imaginava. Ela
odiava a forma como ele a manipulava, odiava que ele conseguisse sempre
entrar em sua mente e mudar todas as suas ideologias. Ela se sentia tão
inferior a ele, como se ele fosse seu mestre e ela devesse apoiar tudo o que ele
lhe dissesse por que era assim que tinha que ser. Ela não queria ser tão
submissa quando o assunto era seu pai.
Uma certeza
O amor não pode ser parado assim como uma rocha ao deslizar de uma
montanha.
***
Dessa vez, Mark estava deitado ao seu lado observando as nuvens, eles
procuravam por formas como faziam quando ela tinha nove anos.
- Eu não acho que aquela seja uma ave. – comentou a Chaeyoung com toda a
atenção presa na nuvem. – Não tem asas.
- É claro que tem asas - ele rebateu apontando para a tal forma. – é como se
tivessem fechadas ou algo assim. E aquele é o bico, está um pouco torto, mas
podemos dizer que ele é um pássaro guerreiro.
- Guerreiro?
Ele riu.
- Bom, não dizem que nossas mentes são uma fonte inesgotável de
conhecimento? Podemos criar o que queremos. E neste exato momento estou
dizendo que aquele pássaro lutou bravamente para defender sua família, e
como lembrança, teve uma deformação no bico.
O ombro da menina caiu e ela saiu correndo até a varanda onde Diana se
encontrava sentada com o jornal e Max, o vira lata dos vizinhos que tinha
criado um buraco com os dentes na cerca e agora vivia no terreno dos Park
fazendo companhia à família.
- Não. Os médicos foram muito claros quando disseram que havia boas
chances dele não se manifestar mais. – exasperou incomodada. – Podemos
não falar sobre isso? Eu estou vivendo uma fase maravilhosa da minha vida
com... – engoliu o que ia dizer e ignorou o olhar curioso do pai. – Na
faculdade. Eu estou realmente feliz depois de muito tempo. Ella está
crescendo tão rápido... E você está bem! Sei que o seu trabalho é um pouco
exaustivo, eu me ofereci para trabalhar também e ajudar a bancar as contas...
- Chaeyoung... Tudo bem. Eu não quero que você perca sua preciosa
juventude trabalhando. Esse tempo não volta, sabia? Você deve se dedicar à
faculdade e se tornar a melhor musicista de New York, assim como eu sei que
você é.
- Mas pai... Mamãe não pode trabalhar para cuidar de Ella e as contas não
param de aumentar...
- Ok... Desculpe. Eu tenho muito medo de perder as pessoas que amo, talvez
esse seja o meu problema.
- Acha que ter medo é um problema? O medo é o que nos faz desafiar a nós
mesmos. Você é a pessoa mais sensível em relação às pessoas que eu já
conheci, Chaeyoung. – ele disse pacientemente. – Você confia e espera muito
delas, talvez isso seja mesmo um problema, mas também é o que te torna
mais humana. Pessoas vem e vão todos os dias, mas aqueles que nos ama,
nunca nos deixam de verdade.
- Podemos começar assistindo desde o primeiro, aposto que sua mãe está
preparando chocolate quente para nós.
Pensamento de Chaeyoung.
Na verdade existe, filme, chocolate quente e... Lisa.
______
13
Após o episódio catastrófico do almoço, Lisa decidiu ficar em seu quarto até
que a raiva amenizasse antes de encarar seu pai outra vez.
Chaeyoung tinha avisado que faria uma maratona de filmes com os pais e ela
decidiu não interromper aquele momento em família, então se deixou
hibernar na cama encarando seu tão conhecido teto fazendo o que gostava de
chamar vários nadas.
Já passava das três da tarde quando Daniela bateu timidamente em sua porta
e entrou com os olhos no chão e as mãos entrelaçadas na frente do corpo em
sinal de nervosismo.Lisa rapidamente sentou surpresa pela atitude ds irmã.
- Aconteceu algo? – perguntou realmente preocupada.
- Eu pensei que talvez nós pudéssemos dar uma volta na praia... – começou e
parou tomando coragem. – Já faz um pouco de tempo que não saio de casa e
acho que você é a única pessoa em quem confio.
- Eu fico feliz por confiar em mim, Dan. – confessou abraçando a irmã com
saudade. – Venha, eu não vou desgrudar de você nenhum minuto sequer, ok?
A garota concordou com um pequeno sorriso e Lisa pediu o carro de sua mãe
emprestado.
- Não acho que nossa mãe vai gostar do banco do carro cheio de areia. – foi o
primeiro comentário dela e Lisa ergueu as sobrancelhas surpresa por ser
sarcástico.
- Ela sequer usa aquele carro, Dan. É exagero terem mais de cinco na garagem
quando poderiam vender ou até mesmo dar um a você.
- Papai disse que não vai me dar um carro até que eu volte a ser normal.
Aquilo pegou Lisa totalmente desprevenida e só fez sua raiva pelo pai
aumentar.
- Ele disse isso? – a garota concordou com a cabeça sem olhá-la. – Daniela...
Você não é anormal, e quem disser o contrário é um babaca. – a menina a
olhou surpresa por chamar o pai de babaca e Lisa sorriu. – Eu amo o nosso
pai e você sabe disso, mas não posso permitir que ele nos trate como
soldados.
Então um brilho refletido pelo sol chamou sua atenção e seus olhos caíram no
objeto de prata no dedo anelar de Daniela da mão direita. De repente, tudo fez
sentido. Sentiu angustia por dentro enquanto olhava aquele anel, ela queria
poder estar usando um também neste exato momento, sem vergonha de
mostrar as pessoas que amava alguém e que estava extremamente feliz por
isso.
Lisa continuou a encará-la, havia algo errado por trás daquele nome. As mãos
da irmã agora tremiam e seus lábios tinham crispado em linha reta.
- Olha... – suspirou, não tinha experiências de vida para dar como irmã mais
velha, então decidiu tentar algo com o pouco que tinha com Chaeyoung. – Eu
não sei o que aconteceu entre vocês, mas tenho certeza que se vocês
realmente se gostarem... Humpf, eu não sei o que dizer. Ele machucou você?
– Daniela negou com a cabeça. – Ok... Ele a traiu? – negou outra vez. –
Largou? – negou agora liberando as lágrimas, isso assustou Lisa. – Daniela,
ele bateu em você?
- Eu estou grávida! – disse num fio de voz começando a chorar
desesperadamente e enfiando o rosto nas mãos como se tivesse vergonha do
que acabara de dizer.
E Lisa?
Ela continuava paralisada no mesmo lugar sem processar o que tinha acabado
de ouvir. Ela estava... O que? Sua irmã caçula? Não, não pode ser. Daniela
tem apenas dezessete anos, ela não poderia... Oh, meu Deus!
Ela não soube por quanto tempo ficou estática sentindo seu coração bater
descompassado e uma leve pontada na cabeça pelo choque.
Nada saía. A única solução foi esperar que o choro da caçula amenizasse.
- Por favor, Lalisa. Nossos pais não podem saber, papai vai me expulsar de
casa... Eu não estou preparada para isso ainda...
Ok, vamos de novo. Sua irmã de dezessete anos, que vivia batendo em sua
porta quando eram pequenas pedindo para brincar, a garotinha que vivia se
vestindo de princesa e adorava brincar de luta com Paul.
Lisa limpou a garganta e fechou os olhos. Aquilo era informação demais para
ela, precisava rápido de um analgésico ou sua cabeça explodiria.
A terra continuava girando. Não é muito fácil receber uma noticia dessas, não
que Lisa desaprovasse, passava longe disso, mas era quase como ver um bebê
tendo um bebê. Faz sentido? Não.
- Quantos meses?
- Três, não vai demorar muito para barriga começar a aparecer e por isso
estou usando camisas largas como essas. – apontou para a própria camisa que
usava. – Os pais de Brian prometeram ajudar caso meus pais me expulsassem
de casa, mas... Eu tenho dezessete anos, Lisa. Eu tenho meus amigos, nossos
pais e tanto o que conhecer ainda. Terei que abdicar de tudo isso por essa
coisinha que está crescendo dentro de mim. Não é fácil... Não é! – recomeçou
a chorar e Lisa a puxou contra seu peito, era o mínimo que poderia fazer num
momento como aquele. – Eu não sou louca, não tenho depressão... Eu só
estou assustada. Nosso pai odeia o que está fora do nosso círculo de
convivência, para ele todos são miseráveis e Brian é apenas um farmacêutico.
- suspirou. – Ele não é rico e eu pouco me importo com isso.
- Não se preocupe, eu vou estar ao seu lado. – riu e levou sua mão à barriga da
irmã. – Olá pequeno ser que cresce aí dentro. – imitou uma voz infantil. –
Acho que ainda não fomos devidamente apresentados, meu nome é Lisa e eu
sou sua tia.
Deus... é tão estranho dizer isso. As duas riram e Daniela desvencilhou-se dos
braços de Lisa.
- Agora me solte antes que as pessoas pensem que somos lésbicas. – riu
soltando-se um pouco mais, mas o comentário atingiu Lisa em cheio.
Pela segunda vez no dia ela paralisou com os olhos em Daniela. Logo, seu
pensamento correu até uma garota que tinha tocado a mais linda das canções:
A do seu coração.
Pensar em Chaeyoung a deixava tão confiante que agora vendo Daniela expor
seu segredo mais intimo a impulsionava a fazer o mesmo. Era claustrofóbico
lembrar-se de cada toque, de cada beijo trocado como juras de amor eterno e
não poder falar sobre isso.
- Hm?
- Eu conheci alguém.
Daniela abriu um sorriso meigo e ajeitou-se perto da irmã para ouvir mais a
história.
- Não é apenas uma ficada ou uma ilusão? – Lisa negou. – Caramba, Lalisa!
Isso é surpreendente vindo de alguém que se apaixonava a cada um mês.
Lisa tremeu.
- O que foi?
- Momo.
- O QUE? – gritou assustando Daniela. – Desculpe, eu... O que ela fez?
O grupo que antes estava sentado mais à frente levantou-se e passou por elas
seguindo para a orla. Daniela esperou até que todos tivessem saído para
continuar.
Foi um pouco difícil entender a mensagem, mas assim que o fez, Lisa teve
certeza que Momo não chegaria viva em casa assim que entrassem naquele
avião. Sabia que seu rosto estava totalmente corado agora pela forma risonha
como Daniela a olhava.
- Desculpe você ter descoberto assim, Momo consegue ser uma imbecil
quando quer.
- Relaxa, Lisa. Eu fiquei surpresa quando li, mas achei divertida a ideia de ter
uma irmã lésbica...
As duas ficaram se olhando em silêncio, ela odiava quando sua mãe e Daniela
faziam isso, elas a analisavam como se a pudessem ler.
- Você está em choque com isso, não está? Dá para ver no seu olhar que está
aterrorizada com o fato de estar com uma garota.
A Lisa respirou e jogou o corpo para trás deitando na areia sem se importar
em sujar o vestido.
- Talvez o meu medo seja como o seu e mais além. – falou cobrindo os olhos
do sol. – Existe toda uma sociedade pronta para nos julgar e tudo o que eu
menos quero é que Chaeyoung saia machucada nessa história.
- Espera. Então o seu maior medo é que ela saia machucada? – a caçula
perguntou com um brilho diferente nos olhos e Lisa afirmou. – Quando vou
conhecer minha cunhada?
- Bobagem. Esse negócio de tempo foi inventado por quem tem medo de
amar. Quando é para ser, não importa se leva apenas uma troca de olhar, um
mês, dois anos, nada disso importa. Apenas acontece e eu nunca te vi falar de
ninguém com esse brilho no olhar. Sou sua irmã, conheço você.
Ela tinha razão. Uma garota de dezessete anos, grávida e com trauma de tudo
o que vinha passando tinha razão sobre sua vida.
- Ela é bonita?
Automaticamente o sorriso de Lisa estampou em seu rosto como se ele fosse
feito exclusivamente para Chaeyoung e Daniela não deixou de notar isso.
Daniela começou a rir e a emitir um awn, Lisa também não conseguia parar
de sorrir porque ela tinha acabado de falar sobre seu motivo para tal coisa.
Lisa olhou para as próprias mãos como se também buscasse pelo objeto. Seu
sorriso morreu e a coragem também. Lembrou-se da promessa que tinha feito
à Chaeyoung de que quando voltasse, a primeira coisa que faria seria pedir
sua mão em namoro a Mark. E isso era tão assustador.
Ela estava apaixonada por Chaeyoung, não do tipo que gosta de curtir o
momento com a pessoa e o sexo é bom. Elas nem mesmo tinham feito sexo. O
lance que elas tinham era baseado na confiança e amizade, Chaeyoung era o
tipo de pessoa que sempre a fazia rir até mesmo com piadas sem graça, que a
forçava a fazer coisas que sempre teve vontade e mesmo assim nunca pensou
que faria.
Lalisa queria fazer loucuras por Chaeyoung, viver cada minuto intensamente,
e foi nesse diálogo interno que ela chegou ao consenso.
- Eu ia te chamar para comprar comigo agora.
E as duas foram trocando farpas até o carro, onde Daniela indicou uma loja
de joias ainda ali perto. De certa forma ela estava suando com o que estava
fazendo, nunca pensou que seria ela a pessoa que compararia as primeiras
alianças.
O domingo tinha sido atingido por uma forte nevasca que obrigou os Park a
ficarem dentro de casa. Mark ligou a boa e velha vitrola reproduzindo Nina
Simone enquanto jogavam banco imobiliário no chão da sala com Chaeyoung
ganhando todas as partidas e Mark tentando roubar.
Quase no final da tarde, a nevasca finalmente parou e Mark decidiu sair para
ver o tamanho dos estragos, felizmente o único problema seria desbloquear a
garagem da parede de neve que tinha se formado rente ao portão.
- Alô? – atendeu se contendo antes que dissesse amor na frente dos pais.
- Amoooooor, desculpe não ter falado com você ontem. Eu tive uma longa
conversa com meus pais e logo depois fui dormir. Me desculpa?
- Você sabe que sim, Lisa. Tudo bem por ai? Como está Daniela?
- Deus, nós conversamos muito ontem e descobri algo que me deixou com
cara de retardada.
- Mais?
- Amoor! Não seja má. Eu estou com saudade e não posso abraçá-la agora.
- Sim?
- Sim. Eu tentei ir contra, mas são meus pais. Eles ainda pagam minhas
contas.
- Não! É claro que não, está tudo bem. É sua família e eles vêm em primeiro
lugar. Nós temos o Skype, podemos nos ver por lá...
Engoliu em seco.
- Não. Claro que não.
- Eu também.
- Você é mais fácil de enganar do que eu imaginei. – ouviu uma voz rouca que
fez seu coração saltar do peito, Chaeyoung virou-se para encontrar uma Lalisa
vestida num sobretudo preto, botas da mesma cor, touca e luvas encostada no
táxi com um olhar sapeca.
– Feliz natal.
A primeira pessoa a correr até ela foi Ella que a abraçou contente.
Ella voltou ao chão e correu até a irmã como se para avisá-la de que Lalisa
estava ali, mas Chaeyoung tinha petrificado no meio do caminho com um
sorriso idiota e o coração berrando para que fosse entregue a aquela Lisa de
olhos que a ancoravam.
- Oh, Deus! Estou livre de preparar a janta hoje. – ela brincou pegando as
caixas das mãos da Lisa e correndo para dentro com Ella.
- É muito bom te ver, Lisa. A casa ficou vazia sem você ontem.
Mas não foi possível terminar a pergunta. Chaeyoung agarrou sua mão direita
e saiu arrastando-a até a varanda e de lá até o quarto onde trancou a porta e
virou-se com cara de poucos amigos para Lisa.
Seu próprio coração batia em seus ouvidos, então ela abriu os olhos e beijou
seu lábio superior, então o inferior, deu uma mordida e viu os olhos de Lisa
vibrarem por trás das pálpebras. Ela colocou toda a saudade em cada beijo.
Apertou os dedos em torno de cada lado do pescoço de Lisa, puxando-a para
mais perto, mais apertado, quase dentro dela.
Chaeyoung estava sedenta pela a outra, não entendia isso que vinha
acontecendo com ela, mas sabia que precisava cada vez mais dos toques dela.
Não estava apenas apaixonada. Ela estava entregue, realizada, feliz,
comprometida. Lisa não era só uma garota, ela era maravilhosa, sua garota,
sua fonte de prazer, de amor, de carinho, de confiança.
Estar com Lisa a tornava narcisista, sentia-se a pessoa mais sexy e desejada
do mundo quando sentia os toques sutis da Lisa.
A Lisa sorriu e conectou seus lábios devagar, num beijo lento e sem pressa,
apenas apreciando o sabor e o poder que Chaeyoung exercia sobre si.
Chaeyoung prendeu seu lábio superior entre os dela demorando-se assim, até
finalmente separar suas bocas que já ansiavam por mais, e recebeu um beijo
na testa seguido por um abraço apertado de Lisa.
- Eu também. Até perceber que o que eu queria estava aqui em New York -
beijou a ponta do nariz da mais nova com carinho. – meu lugar é aqui com
você. Hoje, amanhã, no natal, sempre.
- Então quer dizer que vamos passar o natal juntas? – perguntou feliz demais
para acreditar. – Tipo, trocar presentes, nos beijar, e encher o saco uma da
outra?
Lisa soltou Chaeyoung no chão, elas trocaram mais alguns beijos antes de
abrir a porta do quarto e sair.
O jantar ocorreu maravilhosamente bem, Mark contou à Lisa sobre ter subido
de cargo e a Lisa mostrou-se muito feliz pela notícia. Diana também
aproveitou para perguntar sobre sua família e Lisa decidiu não esconder sua
pequena discussão com seu pai sobre não voltar no natal à LA e sobre a
gravidez de Daniela.
A opinião do casal era a mesma de Lisa sobre apoiar a menina mesmo que os
pais não o fizessem e Chaeyoung reforçou a ideia de que gostaria muito de
conhecê-la.
No final do jantar, quando todos estavam com a barriga cheia e conversando
sobre coisas banais com Ella assistindo desenhos na sala, Lisa pigarreou e
levantou-se.
- Eu gostaria de dizer uma coisa. – Lisa parecia muito assustada, ela tremia e
evitava a todo custo encarar Mark.
Oh, está acontecendo... Fazer, ou não fazer? Fazer, ou não fazer? Fazer...
– Eu sei que não faz muito tempo que os conheço, mas gostaria de deixar
claro que em pouco tempo de convivência, Mark e Diana, vocês se tornaram
minha segunda família. Ella é minha irmãzinha mais nova. – olhou para
Chaeyoung e sentiu-se presa naquele olhar doce que lhe proporcionava calma.
Sim, ela precisava fazer. A Chaeyoung a olhava como se dissesse que estava
tudo bem e que ela estaria bem ali, sentada ao lado para segurá-la caso caísse.
Levantou os olhos novamente para o casal que a olhava com curiosidade. –
Eu conheci Chaeyoung de uma forma inusitada. Eu... Nos conhecemos através
do que ela mais ama e isso não poderia me deixar mais honrada. Eu amo a
música, mas se não amasse, passaria a amar assim que a conhecesse. Vocês
quatro são a família mais acolhedora e unida que eu já conheci, ás vezes me
sinto parte de tudo isso, e eu nunca serei grata o suficiente por isso. Mas, ao
meio disso tudo, em meio à amizade linda que Chaeyoung e eu construímos,
nasceu também o amor que eu prezava não conhecer. – Diana abriu a boca e
Mark se manteve sério. – Eu me apaixonei por Chaeyoung como nunca pensei
que pudesse ser capaz de me apaixonar. – Chaeyoung segurou a mão da Lisa
nesse momento. – E esse amor é correspondido, para a minha sorte, desde
então eu tenho sido a mulher mais feliz do mundo com ela e... Por ela. –
gaguejou, o suor escorria em sua testa. – Mark, eu não sei se você vai querer a
minha cabeça depois disso, mas eu não posso mais passar um minuto sequer
sem ser apenas a garota de Chaeyoung. Eu prometo honrá-la como ela
merece, prometo dar a ela tudo o que estiver ao meu alcance e ser feliz porque
eu sei que ela está feliz. Eu gostaria de pedir a mão da sua filha em namoro.
- Você disse coisas tão lindas sobre meu bebê. – disse Diana segurando a mão
da Lisa por cima da mesa. – Vocês são lindas juntas, você cuida dela, Lisa. E
isso é uma grande parcela do que é uma relação.
- Obrigada, Diana. Eu não vou decepcioná-la. Vou dar minha vida para que
Chaeyoung seja feliz.
A Chaeyoung, ouvindo isso, a abraçou com força como se sua vida dependesse
disso. E talvez dependesse. Não contendo a felicidade no peito, Lisa afastou-
se de Chaeyoung e tirou uma caixinha de dentro do sobretudo fazendo os
olhos de Chaeyoung duplicarem de tamanho.
- Como Mark quer algo que segue a tradição, eu vou fazer o meu papel aqui. –
deu uma piscadela para Chaeyoung antes de ajoelhar-se em frente a ela que
levou as duas mãos a boca.
Diana e Mark eram só risos quando Chaeyoung gritou que sim e se jogou nos
braços ao qual ela pertencia.
♪♪♪♪♪♪
- Isso não importa. Você merece isso e muito mais. – deixou um beijo no topo
da cabeça da Chaeyoung. – Esses flocos de neve são os primeiros de muitos
que vamos presenciar. Ano que vem quero estar assim com você, neste
mesmo lugar.
- E depois disso?
Chaeyoung riu.
- Humpf! Minha cof, cof – fingiu que estava tossindo. - namorada, cof, cof,
premeditando o dia da minha morte.
- Só estou dizendo a verdade. Você já viu como as vacas são mortas para se
transformarem na carne que você come?
- Lá vem...
- Cale a boca.
- Cale a boca.
- Humpf!
- Não quero.
- Para.
Observação espontânea
O amor também te faz idiota
♪♪♪♪♪♪
_______
14
24 de Dezembro de 2016 – Primeiro ano da faculdade.
O dia em questão era considerado o mais frio do ano. Havia três bonecos de
neve espalhados pelo quintal dos Park e luzes natalinas de todas as cores
penduradas na varanda e árvores que cercavam o terreno dando vida àquela
casa.
Na sala, uma árvore de natal de quatro metros que Lisa tinha comprado de
presente à família foi também decorada pelo jovem casal que demorou mais
que o necessário quando Chaeyoung insistiu em pendurar os enfeites em Lisa
ao invés da árvore.
Ella pendurou várias meias coloridas na lareira e deixou seu boneco Olaf em
cima desta para que o Papai Noel o visse quando chegasse na madrugada.
Diana as tinha expulsado da cozinha quando Lisa se ofereceu para ajudar com
o banquete, disse que ela precisava curtir o namoro e que poderia obter a
ajuda do marido assim que ele voltasse da cidade onde tinha ido buscar as
bebidas.
Então Lisa parou, ou melhor, esqueceu tudo o que fazia e aproximou-se com
cuidado da cama; sentou no chão cruzando os braços no colchão apoiando a
cabeça bem de frente para a garota, estavam a centímetros e a Lisa tinha
certeza que ficaria daquele jeito para todo o sempre se assim lhe fosse
permitido.
- Eu amo o jeito que você olha para mim. – disse baixinho deixando o fone
pendurado no pescoço.
Lisa piscou ainda admirando aquela garota surreal que agora levava no anelar
direito a prova de que pertencia somente a ela.
- Promete que vamos ser velhas loucas? – perguntou levando sua mão ao
rosto de Chaeyoung como se tocasse porcelana e deslizando os dedos na sua
pele levemente, o que fez a Chaeyoung fechar os olhos apreciando o toque
gentil. – Promete que vai contar nossas histórias aos nossos filhos e para
qualquer pessoa que seja digna de ouvi-la?
- Eu prometo, amor. – ela disse abrindo os olhos e puxando Lisa pela mão até
que estivessem deitadas corretamente na cama, a Lisa acomodada em seu
peito com os braços segurando sua cintura firmemente.
– Nós vamos ser o casal o mais lindo da cidade andando por ai com setenta
anos aos tropeços, ou até mesmo metidas em um asilo pelos nossos filhos.
- Tenho certeza que não vai ser de você que todas essas crianças vão sair,
então podemos ter dois e depois adotar mais três.
- E qual nome vamos dar se o primeiro for menino? – Lisa estava gostando de
entrar naquela conversa, a sensação de imaginar seu futuro ao lado de
Chaeyoung fazia seu peito inchar de felicidade.
- Mas...
- Por que você parou? – Lisa resmungou apertando ainda mais as mãos de
Chaeyoung, tirando-a do transe. – Você não pode começar uma coisa e parar,
Chaeyoung...
Antes que Lisa pudesse processar o que estava acontecendo, Chaeyoung tirou
seu moletom de Hogwarts e o jogou em algum canto do quarto que nenhuma
das duas prestou atenção.
Chae observou o pescoço nu de Lisa, clavícula e peito arfante tão alvos que
facilmente ficavam marcados por suas unhas. Ela era linda.
Chaeyoung puxou as duas alças do sutiã de renda preto para baixo, liberando
os seios médios da garota, e passou as mãos sobre sua frente nua, com os
olhos arrastando junto com elas de forma lânguida, admirando, queimando a
pele exposta à sua frente.
Oh, Deus! Era a primeira vez que tocava uma menina na sua vida e isso não
poderia ser menos maravilhoso. Então era isso que elas estavam perdendo
todo esse tempo?
Lisa abriu os olhos, aquele tom escuro que Chaeyoung tanto amava estava lá,
aquele tom que dizia de uma forma não verbal que gostava do que a mais
nova fazia.
- Amor? – chamou Lisa num fio de voz. Chaeyoung esperou. – Ah, dane-se!
Lisa sempre estava no controle da situação e dessa vez não seria diferente. Ela
segurou queixo de Chaeyoung para mantê-la no lugar e beijou intensamente,
deixando Chae impotente para fazer qualquer coisa.
Chaeyoung parou o que fazia para admirá-la: Agora, neste exato momento,
Lalisa Manoban a estava de calcinha e sutiã, ambos da cor preta e de renda.
Isso era tão...tão...tão... Sexy!
Gemeu quando Lisa mexeu seus quadris impaciente, chamando sua atenção.
Mas tudo em si gritava por Lalisa em cima dela que agora mexia seus quadris
juntos em uma dança tão sexy e quente que estava deixando sua mente turva.
Lisa ofegou com essa afirmação e abriu a calça jeans de Chaeyoung com
pressa. Ela deslizou o zíper e não se incomodou nem um pouco de tirá-lo, elas
não tinham tempo para isso. Sua mão mergulhou dentro da calça de
Chaeyoung, passando pela calcinha encharcada, direto para a umidade quente
entre as pernas de Chae.
Era uma sensação tão nova, tão única...ela só precisava lembrar-se de como
era se tocar, quais os pontos que a tiravam de órbita...ela poderia fazer isso
com Chaeyoung, sim, ela poderia dar prazer à sua garota mesmo com sua
experiência.
- E-eu realmente não tenho ideia do que estou fazendo aqui. – confessou Lisa,
seus dedos massageando o nervo rígido de Chaeyoung, que gemia baixinho
contra seu pescoço e arranhava suas costas com força.
- Isso...assim... - ela suspirou.
Lisa aumentou a pressão dos dedos no clítoris de sua garota causando uma
euforia nunca sentida antes por Chaeyoung, ela gemia cada vez mais alto,
agarrando-se ao corpo de Lisa com a sensação arrebatadora que dominava
seu corpo cada vez mais e mais...
Lisa abriu e fechou a boca não acreditando que aquele era o motivo para o
banho de água fria que tinha levado, mas antes que pudesse rebater, ouviram
alguém bater na porta e a abrir sem esperar por resposta. Nesse meio tempo,
Chaeyoung foi capaz de projetar seu corpo lançando Lisa ao outro lado da
cama que caiu estatelada no chão, logo com extinto de defesa rolou para
debaixo da cama.
- Ela foi no carro buscar algumas coisas, logo ela volta. – mentiu, mas Diana
estava tonta demais para detectar qualquer sinal da mentira e levantou a taça
de vinho que segurava dando um grito alegre antes de sair do quarto logo em
seguida.
Chaeyoung virou mais rápido que uma bala em direção a Lisa encontrando
sua namorada estirada no chão, seminua, com uma perna flexionada e os
braços servindo de apoio para a cabeça. Ok, esse não é o momento para ficar
excitada...
Pouco tempo depois o casal desceu até a sala onde cerca de quatorze pessoas
se encontravam em um clima animado. O cômodo parecia muito menor agora
do que de costume e também mais abafado, talvez fosse a lareira ou o barulho
alto das conversas, mas a única certeza de Lalisa e Chaeyoung é que oito de
quatorze pessoas estavam bêbadas.
Chaeyoung puxou Lisa até o sofá de três lugares que parecia ser o único lugar
desocupado na sala, Lalisa sentou cruzando as pernas e Chae deitou no móvel
deixando sua cabeça descansar no colo da namorada enquanto assistiam ao
alvoroço da família onde a maioria se encontrava em volta do piano no canto
direito da sala onde Mark tocava músicas animadas.
– Eu não vejo você desde que tinha dezesseis anos e usava aparelho rosa. Essa
deve ser Lana, a sua namorada, estou certa?
Agora tudo o que Lisa mais queria era se jogar na lareira e virar pó. A mulher
saiu para dançar com uma sua outra tia que chegou com uma garrafa de vinho
em mãos.
- Ao menos reconhecem que tenho uma ótima namorada. – disse Chaeyoung
convencida, e, ao encontrar os olhos de Lisa, viu algo inexpressivo neles. –
Espero que minha família não esteja assustando você.
- Eu poderia fazer isso pelo resto de nossas vidas. Ter a casa cheia de pessoas
que amo, com você ao meu lado, música...
Felizmente seu gerente a tinha liberado cedo para buscar Ella na casa de uma
amiga de escola e voltarem para casa antes do anoitecer.
Agora as duas irmãs arrumavam a mesa para a ceia de natal que costumavam
preparar juntas desde o incidente.
A casa estava mais escura, quase morta, não havia enfeites ou árvores naquele
ano. Apenas o velho boneco Olaf que nunca saíra de cima da lareira desde a
primeira vez que o colocara, Ella dizia que era uma boa lembrança de tempos
em que ela mal se lembrava.
Uma menina pequena que deveria ter a idade de Ella abraçou Chaeyoung de
surpresa e abanou a mão para Lisa, logo depois saiu correndo pela casa
deixando a Lisa perdida em pensamentos sobre o futuro que gostaria de
compartilhar com sua amada. Era um assunto que não deveria ser discutido
agora, mas que deixava seu coração acelerado.
As duas ficaram sentadas no sofá por mais ou menos uma hora e meia,
sempre uma tia ou tio de Chaeyoung sentava na poltrona ao lado para
conversar ou conhecer Lisa que estava mais do que disposta a interagir com a
família de sua namorada, ela se senti inclusa, pela primeira vez, em uma
família de verdade.
- Antes de qualquer coisa, eu gostaria de chamar minha linda sobrinha aqui. –
um dos homens, que Lisa conheceu na noite em que dançaram em volta da
fogueira, apontou para Chaeyoung que sentou ereta com um sorriso tímido
nos lábios. – Nós não podemos passar a noite sem uma apresentação da
pianista da família.
Pode-se ouvir um coral de Éeeeee onde todos se reuniram na sala outra vez e
levantaram os copos em apoio à ideia do homem. Chaeyoung até mesmo
tentou esconder o rosto nas costas de Lisa, mas a Lisa a incentivou a ir até o
piano.
- Eu preciso ouvir isso, amor. Mostre a eles a paixão que você tem, e que fez
eu me apaixonar. – recebeu um abraço apertado da menina acompanhado de
alguns awn dos que ouviram suas palavras.
- Eu não sou muito boa no canto, então relevem esse detalhe. – ela disse antes
de iniciar a melodia que Lisa reconheceu na hora ser de The Only Exception
da banda Paramore.
No mesmo instante ela soube que essa música era para ela. Chaeyoung não
gostava de músicas populares e estava tocando aquela exclusivamente para
que pudesse expressar seu amor pela namorada. Tudo o que Lisa sentiu
naquele momento foi uma intensa vontade de chorar.
- When I was younger I saw, my daddy cry and curse at the wind. He broke
his own heart and I watched as he tried to reassemble it. And my momma
swore that she would never let herself forget. And that was the day that I
promised I'd never sing of love if it does not exist. - A tia de Chaeyoung que as
tinha cumprimentado mais cedo naquela noite, lançou um sorriso enorme
para Lisa que retribuiu de forma tímida, mas seu coração estava disparado
demais no momento para se importar. - But, darling, you are the only
exception, well, you are the only exception. Well, you are the only exception.
Well, you are the only exception. - A aliança no dedo anelar da mais nova
brilhava fazendo todo o corpo de Lisa responder aos efeitos. Chaeyoung era
tão dela, e ela era tão de Chaeyoung que nem mesmo astros ou a física poderia
ir contra o que existia entre elas. - Maybe I know somewhere, deep in my soul
that love never lasts. And we've got to find other ways, to make it alone or
keep a straight face. Well, you are the only exception. Well, you are the only
exception
Chae fez uma pausa no piano e olhou para Lisa que recebeu todo o
magnetismo, o sentimento, as verdades e palavras impregnadas naquela letra.
Então ela voltou a tocar.
- Eu amo você.
Em suas mãos, seu inseparável livro Morro dos Ventos Uivantes e uma manta
do sofá para proteger suas pernas do frio cortante lá fora.
- Sabe...eu gosto disso. – Lisa suspirou brincando com os lábios nos cabelos
da namorada. – Sentar aqui com você enquanto me ignora por um livro, ter
essa maravilhosa vista da noite coberta por neve e um céu limpo, exceto por
esses flocos de neve que enfeitam a vista...a lua nos observando, como se
desse sua benção ao nosso amor.
- Ossos do oficio.
- Tem uma frase nesse livro que diz algo semelhante ao que você me
perguntou. – ela levou a mão direita ao rosto de Lisa e deu um beijo casto e
demorado em seus lábios com carinho, então encostou suas testas e sussurrou
com uma voz que fez o corpo inteiro de Lisa arrepiar: - Beije-me uma vez
mais, e não me deixe ver os seus olhos. Perdoo-lhe o que você fez. Amo a
minha assassina...mas não a sua.
Como poderia? O fluxo sanguíneo de Lisa havia desaparecido. Ela tinha plena
certeza de que estava pálida agora e a beira de um ataque cardíaco, ainda
mais com os olhos castanhos tão ancorados aos seus cheios de certeza e
maturidade.
Lisa derreteu com aquelas palavras e abraçou Chaeyoung o mais forte que
pode tentando ao máximo transmitir seus sentimentos naquele momento. Ela
estava chorando? Sim, ela estava. Esse sentimento de realização no peito
costumava ser tão revigorante.
- Espero que Jisoo esteja se divertindo na casa dos pais. – Chaeyoung cortou o
assunto voltando a se aconchegar nos braços de Lisa. – Soube que o tio de
Jisoo ficou furioso quando soube sobre a relação delas, ele não quer mais vê-
la.
- No próximo Natal vamos trazer todos para cá, o que acha? – disse com a voz
animada. – Eu trago minha irmã, convencemos Momo e Jennie a deixarem
LA só por uma vez... Jisoo pode trazer os pais. Vai ser divertido, podemos
montar cabanas aqui fora mesmo...
Chaeyoung riu com a ideia, não era nada mal ter suas amigas por perto.
- Tenho certeza que meus pais vão adorar sua ideia. Como adoram tudo o que
você faz.
Lalisa ganhou uma vitrola de Mark e Diana, eles alegaram que ela sabia
apreciar música boa e por isso merecia algo à esse nível. Ganhou também
alguns suéteres das tias de Chaeyoung e um desenho de Ella que representava
Lisa, Chaeyoung, Ella, Mark e Diana. É claro que Lisa também comprou
presente e deu para a menina uma bicicleta nova, a antiga era pequena
demais para a menina. Para Diana dera um par de brincos maravilhosos e
para Mark sapatos sociais.
Evitaram ao máximo ver o corpo uma da outra para que não houvesse mais
riscos aquela noite. Agora que estavam devidamente arrumadas para dormir
em moletons, Lisa sentou no seu lado da cama esperando até que Chaeyoung
fizesse o mesmo, mas notou que ela escondia algo atrás das costas.
- Não achou que você ia ficar sem o seu presente, não é? – ela perguntou
roubando um beijo ds Lisa quando ficou de joelhos na cama. – Feliz Natal,
amor.
Lembra-se de ter citado O Morro dos Ventos Uivantes para Lisa naquele dia, e
ironicamente, a frase de um livro clássico havia se voltado contra ela. Amo
minha assassina. Outra citação de O Morro dos Ventos Uivantes
________
15
A noite era fria e a neve ainda caía lá fora cobrindo a cidade que nunca dorme
com seu manto branco.
Já era noite e a única luz presente do lado de fora era a lâmpada fraca da
varanda e a lua que dava formas assustadoras às árvores com galhos espessos
e cobertos de neve que cercavam a residência dos Park.
– Eis minha carta ao mundo, que a mim nunca escreveu singelas notícias que
a natureza deu, com majestade e doçura, sua mensagem se destina. As mãos
que nunca verei por amor a ela, doces conterrâneos, julgai–me com ternura.
Chaeyoung lia com seu pai a acompanhando com outro exemplar de poemas,
eles revezavam a leitura e aquela era a primeira vez que Lisa a ouvia recitar
um poema.
Ela amava tudo sobre Chaeyoung, desde seu fino nariz até seu maxilar
trincado sempre que procurava por concentração. Os olhos pretos... Chae
dizia que os olhos de Lisa que a encantavam, mas ela não fazia ideia de que os
seus prendiam a Lisa num mundo paralelo onde finais felizes não eram uma
opção ou sorte. Eles apenas existiam.
Naquela manhã tinha ido pela primeira vez numa igreja com os pais de
Chaeyoung, e à tarde os cinco foram patinar no lago congelado do Queen's.
Ela poderia dizer que estava cansada e precisava dormir considerando que
teriam muito a fazer no dia seguinte com a ideia de tomar café da manhã com
Chaeyoung no The Village e a pequena festa de Jisoo à noite.
A pergunta escapou de sua boca antes que pudesse notar o que estava
dizendo, mas Diana concordou com a cabeça cruzando as mãos em cima da
mesa.
– Mark fazia parte de uma banda sinfônica quando jovem – ela começou a
contar observando a imagem do marido e da filha pelo vidro embaçado da
sala. – eu o conheci ainda na faculdade, assim como vocês. Era o último ano e
minhas amigas decidiram ir a um pequeno concerto, ele era o violonista e
também o mais charmoso, se me permite dizer. – sorriu corando. – Meia hora
depois do término da apresentação ele me chamou para sair, e nas semanas
seguintes eu o estava apresentando aos meus pais. – riu com a lembrança. –
Então eu fiquei grávida de Chaeyoung e Mark decidiu que era hora de
abandonar seus sonhos juvenis para se tornar pai de família. Eu sei que não
foi fácil para ele deixar a música, sei disso porque durante toda a gestação ele
insistia em tocar piano como se a menina fosse ouvi–lo. E acho que
funcionou. – olhou em direção à porta com Lisa seguindo seu olhar. Um
suspiro cansado escapou de seus lábios. – Na Coreia nós não tínhamos
condições financeiras para criar Chaeyoung e seguir um sonho. Mark precisou
abdicar de um dos dois.
Por algum motivo desconhecido, Lisa sentiu uma mísera vontade de chorar.
Ela queria correr lá fora e gritar para Chaeyoung que a amava com todas as
forças de seu ser, ainda que não houvesse um motivo especifico para isso.
– Mark sempre a incentivou com a música. Ele sabia que se não fosse o que
ela escolhesse para sua vida, nós a apoiaríamos com a mesma garra. Bom,
como você vê, ela puxou totalmente ao pai. Meu marido a acompanhou em
todos os concursos que participou e quando ela finalmente completou doze
anos, comprou o piano da sala com muito esforço. – seus olhos agora
começavam a marejar e Lisa sentiu vontade de abraçá–la. – Quando meu
Mark ficou doente, Chaeyoung foi o que sustentou a esperança nessa casa,
nem mesmo eu pude ser tão forte como ela. Naquele momento eu vi que ela
estava retribuindo o que ele vinha fazendo por ela todo esse tempo, eu soube
que nunca haveria uma conexão tão forte como a Chaeyoung com o pai. –
limpou uma pequena lágrima que escorreu e sorriu para Lisa segurando a
mão da Lisa por cima da mesa. – Ela nunca teve ninguém antes de você para
comparar, mas qualquer um pode enxergar o bem que você faz a ela, Lisa.
Chaeyoung merece você e eu sei que você a merece. Só... Não a machuque, por
favor. Chaeyoung não é só minha filha, ela é a coluna que sustenta essa casa e
se ela cair, tudo pode desmoronar junto. Ela é uma pessoa extremamente
sensível e está depositando em você toda a confiança que existe nela.
A pressão em seu peito apertou e por um momento chegou a sentir falta de ar.
Os olhos de Diana em si não eram de alerta e ameaça, eram suplicantes e
esperançosos. O que ela poderia dizer num momento como este?
– Vocês podem usar o quarto, não preciso dessa glicose. – resmungou Mark
passando por elas e se jogando no sofá. – Onde está Ella?
– Esperou esse tempo todo por mim? – sussurrou Chaeyoung fazendo uma
trilha de beijos no maxilar da namorada. Lisa assentiu. – Awn, amor, você é
tão fofa.
– Porta aberta, meninas. – alertou Mark do sofá. – Não quero ter que cortar
os dedos de Lisa.
Lisa a olhou feio e entrou no quarto quase correndo quando seus olhos
encontraram a cama, era tudo o que ela precisava agora, uma boa e longa
noite de...
Estranhou quando não teve resposta, mas quase morreu do coração quando
Chaeyoung deitou em cima dela deixando todo o peso do corpo a esmagar
contra a cama. Chae obrigou o corpo da Lisa a se virar até estar de barriga
para cima e ela montou em sua barriga, mas Lisa ainda continuava de olhos
fechados na esperança de que ela desistisse.
– Não! Eu prefiro ter minha zangada que não me da atenção. – fez beicinho
fazendo uma trilha com o dedo médio e indicador no braço esquerdo de Lisa.
– Nós só temos mais dois dias antes das aulas voltarem, não vou mais ter você
todos os dias na minha cama...
Era totalmente injusto ela fazer aquela voz de criança abandonada porque no
fundo sabia que era o ponto fraco de Lisa. A Lisa abriu os olhos contando
mentalmente para não jogar Chaeyoung do outro lado do quarto e entrelaçou
sua cintura com os braços.
– Você é um bebê, sabe disso, não é? – brincou subindo uma mão ao cabelo
de Chaeyoung para um leve carinho.
A Lisa riu do comentário e puxou Chaeyoung para cima até que a mais nova
tivesse enterrado o rosto na curva de seu pescoço, sua mão que antes estava
no cabelo foi direto ao pescoço quente provocando pequenos arrepios na
outra.
– Você sabe que eu vou te buscar todos os dias, e dormir aqui nos finais de
semana. Já não é o bastante?
E lá estavam elas naquele ponto que deixava Lisa desconfortável. Mesmo que
Chaeyoung não dissesse, ela sabia que Chae queria algo mais estável além das
alianças, um relacionamento assumido e não algo escondido como o que
estavam mantendo.
Lisa sabia o quão decepcionante era ter que soltar a mão de Chaeyoung ou
agir como amiga perto dos outros, mas seu medo ainda era maior que
qualquer coisa. Lisa foi criada num ambiente totalmente rígido, ela aprendeu
que as pessoas são más e que a opinião delas pode sim, afetar seu dia a dia, é
quase impossível tirar–lhe estes pensamentos uma vez que já tinham
intoxicado todo seu cérebro.
– Chaeyoung... – tentou, mas nada saiu. Ela não gostava de deixar Chaeyoung
triste, sentia–se a pior pessoa do mundo quando via os olhos negros caírem
em decepção, mas ela não sabia mais o que fazer. – Desculpe.
O problema maior era que Lisa sempre fugia do assunto sobre contar aos pais
ou assumir o namoro, e isso machucava Chaeyoung de certa forma. Um
relacionamento é constituído por duas pessoas, não funciona se uma delas
não se abre a respeito de seus sentimentos mais intensos.
– Você é linda. – disse tão baixo que se Chaeyoung não estivesse perto o
suficiente não escutaria. – Eu amo o seu sorriso, amo a forma como seus
olhos se fecham quando está sorrindo, amo o som da sua voz, a forma como
enxerga o mundo, como está sempre procurando o melhor das pessoas. –
segurou a mão de Chaeyoung em seu rosto e beijou a palma. – Eu amo você,
amo sua música, amo a forma como lê poesia, amo seu cheiro de
Marshmellow, sua pele, cada parte do seu corpo...
O coração da outra acelerou com aquelas palavras e ela não pode deixar Lisa
terminar, no momento seguinte estava beijando–a apaixonadamente. Sem
segundas intenções, apenas um beijo sentimental e carregado de amor.
– Eu só amo muito você. – disse controlando a respiração, mas ela não tinha
mais vergonha de Chaeyoung, sabia que poderia chorar sem parecer uma
idiota. – Não importa o aconteça, não se esqueça disso.
Chaeyoung não entendeu o que ela quis dizer com isso, mas puxou seu corpo
para que a Lisa deitasse em seu peito.
– Eu sei. Você provou isso no momento em que me olhou pela primeira vez,
Lisa. – respirou cobrindo as duas com o edredom. – Você não precisa provar
nada, eu posso ver na maneira como me trata.
– Eu te amo mais.
—•—
Odiava ser acordada bruscamente, odiava mais ainda ter que acordar cedo.
Tateou a mão no criado mudo até encontrar o aparelho berrante e apertou
todos os botões possíveis até finalmente o silêncio tomar conta do quarto
fazendo sua mente relaxar. Respirou aliviada procurando por um corpo
quente ao seu lado, mas tudo o que encontrou foi um amontoado de
travesseiros e edredons. Estranhou.
Olhou a hora pelo celular e bocejou constatando que Lisa já deveria estar
pronta no andar de baixo esperando por ela. Cerca de uma hora depois já
tinha tomado um banho quente e estava devidamente pronta para o café da
manhã com uma calça jeans clara, all star vermelho e cacharrel branca. Pegou
a mochila que tinha preparado na noite anterior para a casa de Jisoo e desceu
as escadas correndo pulando os degraus como uma criança de oito anos.
– Você vai acabar ficando sem namorada, Lisa. – comentou Diana da poltrona
para uma Lisa totalmente concentrada no desenho que passava na TV.
– Bom dia.
Ella estava deitada no sofá com a cabeça apoiada nas pernas da Lisa e
Chaeyoung ergueu uma sobrancelha irônica com essa visão. Quer dizer que
Lisa havia conquistado até mesmo sua irmã mais nova?
Lisa usava suas costumeiras calças jeans skinny na cor preta, um blazer bege
por cima de uma camiseta; nos pés o all star preto e branco todo surrado e os
cabelos soltos jogados no ombro direito.
– Bom, pequena, eu preciso ir, ok? – a Lisa disse a Ella que concordou com a
cabeça e ajoelhou–se no sofá para dar um beijo em sua bochecha. – Até
amanhã, Diana.
Daniela ligou enquanto elas tomavam café da manhã, disse que sentia
saudades da irmã e pediu que levasse Chaeyoung à Los Angeles no próximo
final de semana para que a conhecesse. Lisa ficou tensa com o convite.
– Eu não quero pressionar você com esse assunto – ela disse enquanto
caminhavam por Coney Island depois do café, cada uma com uma casquinha
de sorvete mista. – minha irmã vai contar aos nossos pais sobre o bebê e ela
quer que eu esteja lá. – Chaeyoung a olhou atentamente e viu o nervosismo da
namorada. – Ela também quer conhecer você antes de tudo acontecer.
Então... Chaeyoung, você quer conhecer meus pais? Seria como minha amiga,
você sabe que não estou preparada para contar...
– Vamos, acabe logo esse sorvete antes que ele derreta. – reclamou
encostando seu sorvete de baunilha no nariz de Chaeyoung e saindo em
disparada com uma outra revoltada atrás dela. Logo a tensão se esvaiu
completamente e elas estavam brincando de novo. Chaeyoung conseguiu
alcançar Lisa atrás de uma barraca fechada e a encostou na lona passando
praticamente todo o sorvete pelo rosto da Lisa que gritava e se debatia
tentando desviar, mas Chaeyoung era forte e conseguiu segurá–la sujando
todo o seu rosto com sorvete.
– Como achou isso? – perguntou extasiada com a beleza do lugar que, apesar
de estar praticamente coberto por mato e neve, tinha uma magia incrível de
quem quer que tenha morado lá.
Lisa concordou com a cabeça e olhou para a mais nova que batia os dentes
soltando o vapor frio pela boca.
Elas sorriam uma para a outra com amor antes de Chaeyoung bicar os lábios
da namorada que passou o braço direito em seu ombro a abraçando de lado
para seguirem o caminho até a casa.
– Ah, ela está. – apontou para uma placa fincada no chão logo na entrada do
rancho, mas ela estava coberta de neve e ilegível devido ao tempo. – Qual é,
Lisa. Nós moramos em New York, quem trocaria as luzes da grande cidade
por uma casa no campo?
– Nós vamos ter bancos de balanço aqui na entrada como na casa de seus
pais, não é? – perguntou interessada quando chegaram à varanda.
– Este era o plano. Então eu posso ler meu livro enquanto você toca seu violão
à noite. – abriu a porta que rangeu. Enfiou a cabeça lá dentro verificando se
estava seguro. – Vem, acho que podemos entrar.
Exploraram cada cômodo de mãos dadas, hora ou outra tapando o nariz pelo
forte cheiro de mofo. O andar de cima era o mais interessante, havia três
quartos e todos estavam mobiliados com os móveis de madeira antigos; o
banheiro principal continha uma banheira vitoriana manchada, uma pia no
mesmo estado e uma privada quebrada ao meio. A parte do teto que faltava
era a da suíte, o piso de madeira do quarto estava cheio de neve, mas o
cômodo não havia móvel algum.
– Lisa! – gritou a mais nova segurando o rosto de Lisa entre as mãos. – Você
é louca. – riu a puxando pela mão para dentro do quarto. – Ai! – exclamou
quando tropeçou numa parte solta do assoalho.
– Amor...
Chaeyoung ajoelhou–se ao lado de Lisa procurando com os olhos o que a
namorada apontava e uniu as sobrancelhas ao avistar um pacote de cartas
presas por um elástico em baixo do assoalho. As duas se entreolharam
confusas e a Lisa pegou as cartas com cuidado.
Os envelopes estavam sujos de terra, manchados pelo tempo e boa parte das
cartas quase ilegíveis devido ao grafite ter sucumbido ao tempo. Elas
recolheram todas as cartas e desceram até a sala onde era mais aquecido, Lisa
sentou em estilo indiano encostada contra a parede e Chaeyoung em frente a
ela.
Lisa a olhou com um sorriso genuíno nos lábios, daqueles sorrisos que te faz
sentir vontade de apreciá-los todos os dias como o pôr do sol enfeita o céu.
– Você acha que ele conseguiu? – perguntou com a voz baixa, fraca. – Acha
que eles tiveram o final feliz?
– Eu não sei. – Lisa sussurrou com o rosto muito próximo ao dela. – Eu torço
para que sim.
– Nós não somos eles. – disse sentindo seus lábios nos da mais nova. – Mas
eu sei de uma coisa; nós vamos nos formar, fazer um lindo casamento íntimo
e você vai ser a noiva mais linda do mundo! – riu capturando o lábio inferior
de Chaeyoung entre os seus. – Vamos comprar esta casa e reformá–la, mas
acho que teremos de aumentar o número de quarto se vamos mesmo ter sete
filhos.
– Sete filhos, Lisa? Você ficou louca? – perguntou a mais nova com expressão
assustada. – Vamos começar apenas com Ethan. Ou Sarah, caso seja uma
menina.
– Ok. Ok. Você é quem manda. – revirou os olhos. – Enfim, vamos ter Ethan
ou Sarah correndo para cima e para baixo, eu vou chegar do trabalho e ver
minha linda esposa praticando em seu piano, vou beijá–la com toda a
saudade que senti o dia todo enquanto estava escritório. Depois do jantar vou
me sentar com Ethan, ou Sarah – Chaeyoung riu e Lisa continuou. – na
varanda e lhe ensinar a tocar violão, ou ouvir você lendo seus poemas. O que
acha? Ah, é claro, um domingo podemos visitar seus pais e no outro os meus.
E nos dias em que você precisar trabalhar fora, vamos precisar de uma babá,
mas acho que Momo vai adorar cuidar do nosso filho.
O coração de Lisa se apertou. Ela queria, ela queria muito prometer que
ficariam juntas para sempre sem nenhuma interferência, mas ela também
sabia que era covarde o suficiente para não poder prometer, que não dependia
apenas de sua vontade... Droga! Ela odiava a influência que a sociedade e os
pais tinham sobre ela.
– Nós vamos lutar por isso. – respondeu quando Chaeyoung enfiou o rosto na
curva de seu pescoço. – Nós vamos lutar juntas, Chaeyoung.
– Love hurts, love scars, love wounds' and mars, any heart not tough or strong
enough to take a lot of pain, take a lot of pain. Love is like a cloud, holds a lot
of rain, love hurts, oh, oh love hurts... – a velha vitrola reproduzia a voz de
Dan McCafferty como um lembrete de que o amor a tinha destruído de todas
as formas que pudesse ser destruída.
Parte de uma vida, diria ela. A casa silenciosa e vazia parecia assustadora
agora com a chuva violenta lá fora, um galho batia freneticamente no vidro do
quarto reproduzindo um som irritante e os raios iluminavam o cômodo em
alguns momentos fazendo sua sombra esguia refletir na parede vermelha.
Talvez fosse por isso que tinha deixado sua cama em frente a ela, para que
toda vez em que se deitasse cansada demais para se lamentar sobre sua vida
de merda, pudesse olhá-la e nunca deixar que a lembrança torturante em sua
mente morresse aos poucos como deixara acontecer com seu coração.
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16
A noite estava um pouco mais fria do que de costume, mas isso não impedia
que a música alta soasse de dentro da casa 298 onde era possível ver sombras
dos convidados pela cortina da janela e seus gritos animados da calçada.
- Eu não me importo com isso, Lalisa. É claro que eu queria entrar como sua
namorada, mas muito mais que isso, ser a sua garota já basta para mim.
Trinta por cento das pessoas lá dentro desejam você, e no final da noite a
única que realmente pode ter sou eu. – selou seus lábios como que em uma
confirmação do que dizia. – Você precisa do seu tempo e eu vou te dar, sem
pressão, ok? – Lisa confirmou com a cabeça. – Eu amo você.
Foram puxadas para dentro sendo praticamente engolidas pelas pessoas que
dançavam – e pulavam -, no centro da sala. Não eram muitos, no máximo
trinta alunos, mas estavam todos aglomerados cantando o que parecia ser
David Gueta. A maioria tinha garrafas de cerveja em mãos, Chaeyoung
pensou que seus pais cortariam sua cabeça se encontrassem a casa de cabeça
para baixo como a de Jisoo estava. Copos vermelhos espalhados pelo chão,
marcas de pegadas no piso branco devido ao álcool que caía sempre que
começavam a pular com o copo cheio em mãos, e, espere! Aquilo era um sutiã
no vaso de orquídeas?
Jennie deu um grito esganiçado que assustou todos que estavam na rodinha.
Ela levou as mãos à boca e tinha os olhos praticamente saltando da órbita
quando notou o objeto brilhante no dedo anelar de Lisa. Seus olhos
automaticamente correram para os de Chaeyoung e um grito mais alto veio
em seguida.
Jennie, que estava de costas até então, girou o corpo com uma expressão
assassina para Lisa e Chaeyoung apontando o dedo acusatoriamente na cara
de cada uma.
- Essas vadias estavam aos beijos esse tempo todo! – cortou Jennie pegando
um travesseiro da cama e o lançando contra Chaeyoung. – Eu disse que
queria filmar o pedido, sua maldita, cachorra, vou te matar!
Jennie tentou avançar contra Chaeyoung, mas foi barrada por Lalisa que a
segurou pelos ombros lançando seu olhar mortal.
O olhar de Jennie suavizou e, aos poucos, Lisa a soltou dando dois passos
para trás procurando a mão de Chaeyoung que a olhou surpresa. O olhar das
outras garotas seguiu a ação da morena e agora tinham um olhar admirado,
menos Momo, que imitou o gesto de estar vomitando.
- Por que vocês combinam tanto? – o comentário veio de Jisoo que agora
sorria alegremente. – Melhores amigas é o caramba, eu sabia que tinha coisa
por trás disso.
Chaeyoung riu e deu um beijo na mandíbula de Lisa apertando mais sua mão.
- Na verdade nós somos melhores amigas, Jisoo. – disse olhando Lisa com
amor.
– Lisa e eu somos melhores amigas e amantes. – recebeu um abraço de lado
da namorada e uma série exclamações abismadas das outras. – Eu encontrei a
minha pessoa, disso eu tenho certeza.
- Eu poderia chorar com isso, socorro. – disse Jennie correndo até as duas e
as abraçando. – Eu sabia que ia conseguir juntar vocês duas, soube desde o
primeiro momento em que Lisa apareceu como retardada apaixonada.
Jisoo deu uma gargalhada e passou o braço de Jennie pelo seu ombro.
- Não liguem para ela, está toda boba porque o casal de seus sonhos está
namorando. – riu segurando a mão de Chaeyoung enquanto analisava a
aliança. – É muito linda, e eu estou realmente feliz por vocês.
Momo, que até então estava enterrada na cama, soltou uma gargalhada que
contagiou Jisoo. Chaeyoung escondeu o rosto nas costas de uma Lisa mais
vermelha que um pimentão e ergueu a mão direita para a amiga em forma de
garras dizendo por gesto que a mataria.
- Tá, tanto faz. – deu de ombros e apontou para o dedo de Lisa. – Acho
melhor vocês tirarem isso do dedo se não quiserem que as outras pessoas
tenham o mesmo surto que eu.
Chaeyoung olhou hesitante para Lisa, elas não tinham combinado sobre tirar
as alianças. Parecia errado estar no meio de outras pessoas sem aquele objeto
que mesmo contra as palavras, significava que uma era da outra.
Era verdade que comentavam as escondidas que talvez houvesse algo entre as
duas que não quisessem contar, eram grudadas demais e se olhavam de uma
forma que entregava mais do que devia.
- Nós vamos só olhar, obrigada. – disse Lisa sem graça evitando trocar olhar
com Chaeyoung.
Algumas garotas deram risadinhas e cochicharam algo entre si, algo que
deixou Lisa extremamente nervosa e receosa de olhar para Chaeyoung. Ela
queria ter certeza de que estava tudo bem com a namorada, se era melhor
entrar na brincadeira para amenizar aqueles malditos rumores, mas tudo o
que fez foi sentar-se na rodinha recebendo aplausos e sorrisos de algumas
garotas interessadas nela.
Mas era de Chaeyoung que estávamos falando, e sua sorte sempre fora uma
piada. Joy girou a garrafa que caiu exatamente em uma Lisa surpresa.
Chaeyoung cerrou o punho e recebeu olhares de Jennie, Jisoo e Momo que
pediam que ela mantivesse a calma. Lisa buscou o olhar de Chaeyoung, mas
tudo o que encontrou foi sua namorada encarando a garrafa.
- Verdade ou desafio?
- Verdade.
- Qual é o lance do carro, das jaquetas de couro, e todo esse estilo que grita
lésbica se você não é? – a pergunta não foi maldosa, Lisa sabia disso, mas seu
coração disparou em nervosismo quando todos os olhares correram até ela,
menos o de Chaeyoung.
- Verdade. – respirou fundo e repetiu consigo mesma que aquilo era só uma
brincadeira.
- Não seja babaca, Irene. – cortou Jennie. – Chae não foi porque quis, ela só
não pode.
- Ah... Verdade.
Lisa trocou risinhos com Irene, o que não passou despercebido por
Chaeyoung, e voltou-se para Lisa.
- Nós sabemos que você é heterossexual – de novo não, de novo não, de novo
não... – mas se você gostasse de mulheres, com qual garota da roda você
ficaria?
- Acho que... Eu não sei... – olhou mais uma vez para Chaeyoung que
balançou a cabeça levemente num sinal claro de que estava tudo bem mentir.
Ela sabia que não estava. – Acho que Irene.
A morena girou a garrafa sentindo suas mãos trêmulas, mas não deu muita
importância para o resto da brincadeira, seus olhos tinham se ancorado no
rosto de Chaeyoung que prestava atenção em tudo, menos nela. O que faria?
Seria da mesma forma quando levasse a mais nova à Los Angeles, agiriam
como se fossem apenas amigas na frente de todos, mas o problema maior era
que o medo de Lisa não se limitava apenas a essa festa ou Los Angeles, seu
medo era de qualquer pessoa que as visse juntas. Os comentários, os
olhares... Lisa não sabia se poderia suportar isso.
Cansada das merdas que lhe eram perguntadas, a morena decidiu mudar sua
tática.
- Desafio.
Chaeyoung segurou as lágrimas com tanta força que chegou a ter certeza de
que estaria fazendo careta naquele momento, mas não se importou. Ela
analisou Lisa, sua namorada parecia perdida e bêbada demais para tomar
qualquer decisão coerente.
Chaeyoung foi pega de surpresa quando abriu os olhos se deparando com sua
namorada prendendo seu lábio inferior entre os dentes e o puxando até que
soltasse. Ninguém naquela roda ousava respirar, Irene tinha uma expressão
totalmente emburrada enquanto Jennie segurava a pipoca entre os dedos a
meio metro da boca.
Quando Lisa abriu os olhos, pareceu cair na realidade do que tinha feito, mas
estava ocupada demais admirando Chaeyoung e sua beleza inexplicável.
- Acho que isso explica muita coisa. – uma voz soou no fundo tirando as duas
de seu mundo particular.
Pressão no peito por pensar que Lisa teria beijado Irene... Seu mundo
entregue quando seus lábios foram os escolhidos pela morena.
- Eu só... Eu não sei, Lisa. – disse sincera, estava muito cansada mentalmente.
– É muito mais difícil do que pensei fingir que não estou sentindo nada
quando na verdade queria arrancar a cabeça daquelas atiradas!
A expressão de Lisa suavizou e ela aproximou-se o máximo que pode puxando
sua garota para um abraço apertado.
- Me desculpe. – sua voz saiu embolada, como se tivesse engolido uma bola de
golfe. – Acho que agora não teremos mais problemas com isso... Não é? –
distribuiu beijos por toda a extensão do pescoço de Chaeyoung que suspirou
sentindo o efeito que a morena lhe causava. – Agora todos sabem sobre nós...
Tanto faz, também.
- Você tem certeza disso, Lisa? Está bêbada agora e raciocinando muito pouc-
Lisa a calou com o dedo indicador de uma forma engraçada.
Chaeyoung sentiu vontade de rir com a forma como Lisa disse aquelas coisas,
mas mesmo bêbada, não deixava de ser fofa do mundo. O sentimento confuso
dentro de si se desfez rapidamente.
- Poderia ir mais rápido, por favor? – pediu Lisa manhosa. Sua respiração
estava cortada e seu corpo entrava em combustão, talvez devesse beber menos
da próxima vez. Suas unhas ainda pressionavam o pescoço da mais nova e
outro suspiro foi ouvido quando Chaeyoung alcançou o outro lado do pescoço
da morena.
- Ugh!
Chaeyoung roçou seus lábios nos de Lisa e não se afastou dessa vez. Suas
línguas chocaram-se e Chae impôs um ritmo mais lento, explorando toda a
extensão da boca já conhecida de sua namorada.
Deus, como ela poderia ficar emburrada com aquele ser de outro mundo?
Como ela poderia sobreviver sem aqueles beijos; aqueles pequenos momentos
íntimos onde tudo parecia explodir felicidade?
- Jesus... La... – tentou dizer entre o beijo, mas Lisa já estava perdendo o
controle e a empurrando contra a parede mais próxima. – Oh... – gemeu um
pouco alto quando seus corpos colidiram e a cintura de Lisa pressionou a mão
contra sua intimidade. Juntando toda a força existente na terra e ainda
invocando os deuses, santos, Buda, ou qualquer um que pudesse ajudá-la,
Chaeyoung empurrou levemente o ombro da namorada ofegante. Ok. Ela
poderia morrer observando os cabelos de Lisa desarrumados, os lábios
vermelhos e inchados e aquelas íris escurecidas que ela sabia que era a causa.
Não havia sentimento melhor no mundo do que saber que poderia provocar
aquele tipo de reação em Lisa. - Você está bêbada e eu não vou fazer amor
com você assim. – disse baixinho deixando pequenos beijos na bochecha de
Lisa, bem devagar, aproveitando o contato com a pele macia.
♪♪♪♪♪♪
Lisa acordou sentindo fibra de seu corpo reclamar. A ressaca a tinha atingido
totalmente em cheio e agora até mesmo abrir os olhos era sinal de dor.
Tentou se mexer na cama, mas sentiu pernas e braços entrelaçados com os
seus. Sorriu ao constatar que Chaeyoung não perdera a mania de lhe agarrar
durante o sono como se fosse seu urso de pelúcia. Tomou cuidado ao levantar
sem acordar Chaeyoung, tomou um longo banho repassando o que tinha feito
noite passada, lembrando-se, então, do beijo. E uma lâmpada estourou em
sua cabeça. Agora todos sabiam.
Para ser bem sincera, isso não já importava mais, eles eram apenas
adolescentes que não tinham contato nenhum com seus pais ou com os
estudantes de Columbia, ninguém teria o cuidado de sair espalhando por New
York que Lisa e Chaeyoung estavam namorando quando elas eram apenas
duas adolescentes comuns em meio à tantos outros.
Lisa tirou alguns analgésicos da bolsa esperando que aquela dor de cabeça
aliviasse. Era seu primeiro dia de aula depois das férias e ainda precisava
apresentar seminário, estaria morta nas mãos de seu professor se perdesse
aquela nota.
Desceu até a cozinha já vestida com uma calça jeans preta, tênis
desamarrados e uma camiseta do The 1975. Decidiu fazer algumas panquecas
enquanto as outras meninas não acordavam. Seu pensamento correndo até o
final de semana que se aproximava e o tão esperado encontro com a família.
Chaeyoung queria isso, de certa forma, ela queria conhecer as pessoas que
deram a luz à Lisa e à Daniela. Até mesmo Paul estaria em casa dessa vez. As
coisas não poderiam ser tão ruins.
Braços finos a rodearam e Lisa quase jogou a panela longe com o susto, seu
coração batendo feito uma escola de samba na Avenida do Rio de Janeiro.
Seria sempre assim, ela sabia, perderia o foco de qualquer coisa quando a
língua de Chaeyoung estivesse em sua boca provocando sensações que nem
ela mesma pensava existir. Lisa empurrou a mais nova com o corpo até que
ela esbarrasse no balcão e, sem perder tempo, cravou seus dedos nas coxas de
Chaeyoung a colocando sentada em cima do balcão.
- Amor, as meninas... – Chaeyoung tentou falar, mas foi vencida pelos lábios
deliciosos de sua namorada.
- Que porra é essa? – berrou Momo fazendo as duas garotas saltarem com o
susto. – Mais uma vez, Lisa! Eu vou matar você sua filha da puta, desgraçada.
Ela fez uma careta engraçada ao ver Chaeyoung em cima do balcão de sua
cozinha. Jennie chegou logo atrás.
- Momo! – reclamou Lisa a fuzilando com os olhos. – Nós não estávamos faz-
- Isso ninguém me chama para ver, não é? – Jennie fez bico caminhando até a
geladeira a procura do leite.
- Você vai colocar uma calça agora, não quero mais ninguém olhando suas
coxas. – Lisa disse firme, por mais que estivesse achando graça da situação. –
Elas são minhas, só eu posso olhar, tocar, e fazer outras coisas que não
convém agora.
♪♪♪♪♪♪
A entrada de Juilliard estava movimentada naquela manhã com a volta às
aulas. Vários alunos conversavam animadamente sobre qualquer coisa que
não fosse matérias da faculdade e também tinham os casais grudentos
espalhados pela escada.
O frio tinha dado uma trégua, então Chaeyoung optou em usar uma calça
branca, sapatilhas e uma camisa social de Lisa. A morena estacionou o carro
em frente à Universidade e olhou para a namorada buscando seus perfeitos
olhos.
- Tudo sim, amor. Vejo você amanhã, ok? – pegou sua bolsa no banco de trás.
Quando Chaeyoung fez menção de abrir a porta, Lisa segurou sua mão
fazendo para que ela esperasse. A morena tirou o óculos aviador do porta
luvas para esconder suas olheiras de uma ressaca sem fim e desceu do carro
exibindo toda a sua pose de bad girl que só ela sabia fazer naquele lugar.
Chaeyoung aceitou de muito bom grado e fechou a porta do carro tendo sua
mão entrelaçada pela de Lisa enquanto caminhavam até a entrada de
Juilliard. Quase todos, pelo menos os que as conheciam, pararam para
observar, pois boa parte deles não esteve na festa de ontem e pelo jeito os
rumores ainda não tinham começado.
- Vamos dar a verdade a eles antes que comece os rumores. – explicou Lisa
em seu ouvido. – Vamos deixar claro que eu sou sua e você é minha.
- Até depois então, princesa. – disse Lisa naquele tom sedutor quando seus
rostos estavam próximos o suficiente. – Eu te amo.
Nada poderia ser mais perfeito que dois corações tornando-se apenas um.
_______
17
- Nunca imaginei ver você toda apaixonada, Chae. – Jennie abraçou os livros
contra o peito e olhou feio para um garoto que encarava Chaeyoung. – Irene
tinha certeza de que Lisa estava na dela e agora a garota está lá no auditório
resmungando a todo instante sobre as pessoas não saberem escolher hoje em
dia. – balançou a cabeça divertida com a lembrança. – Mas eu fico realmente
feliz por vocês, é uma surpresa ver Lisa enfrentar os próprios medos para ficar
com você, isso é fofo e gay ao mesmo tempo.
- Hm... – começou. Ok. São apenas estudantes com o mesmo objetivo que
você e eles não estão te julgando por estar usando um suéter verde escuro
com carneirinhos desenhados. – Escolhi essa música por hoje ser o
aniversário de Billie Holiday, eu a considero um grande ícone do jazz, então...
– viu Jennie erguer as mãos na plateia em apoio.
As mãos estavam suando frio e o coração a mais de mil por hora. Ninguém
disse nada nos segundos seguintes, o silêncio recaiu sobre o auditório na
espera da nova apresentação, ainda mais da queridinha dos professores como
Chaeyoung era chamada.
- I'll be loving you always, with a love that's true always. When the things you
plan need a helping hand will understand always, always...
Finalizou a música com um sorriso satisfeito por sua voz não ter estragado
tudo, então foi recebida não por palmas coletivas, mas sim por uma única
pessoa que se encontrava em pé na última fileira gritando animada como se
tivesse acabado de ver o ídolo. Todos viraram as cabeças para ver quem era,
mas Chaeyoung conhecia aquele jeito idiota em qualquer lugar e sorriu ainda
mais satisfeita, com a felicidade explodindo em seu peito por saber que Lisa
estava ali.
Lisa ergueu as mãos em sinal de culpa antes de sair pela porta provocando
ainda mais burburinhos dos estudantes.
- Não me diga?
Sim, ela tinha encontrado alguém que fizesse loucuras por ela.
♪♪♪♪♪♪
Finalmente as aulas terminaram pouco depois do almoço, Chaeyoung e
Jennie encontraram-se com Jisoo na pequena academia de dança e juntas, as
três seguiram até a saída comentando sobre onde passariam a virada de ano.
Jisoo e Jennie se encontrariam na casa dos Kim à noite enquanto Lisa,
Chaeyoung, Mark, Diana, Ella e Momo assistiriam ao espetáculo de fogos no
Prospect Park.
O mais estranho de tudo não era sua namorada estar a esperando quando na
verdade deveria encontrá-la em casa à noite, mas o fato de Lisa estar
encostada no Ford F-150 de seu pai.
Jennie saiu da frente revelando uma Chaeyoung corada que só a deixou mais
linda aos olhos de Lalisa. As duas trocaram olhares que por sua vez dizia tudo
que cartas de amor esquecidas com o tempo poderiam descrever.
Ali, naquele momento, em meio aos estudantes curiosos, Jennie e Jisoo
sorridentes, existia apenas Lisa e seus olhos que eram capazes de enfeitiçar
até mesmo o mais frio dos corações.
Lisa começou a rir puxando Chaeyoung de uma vez para seus braços. Tinha
passado todas as aulas em Columbia pensando nesse momento e planejando
aquele dia com a ajuda - por mais incrível que parecesse -, de Momo e uma
pequena mãozinha de Mark.
- Sério que estão nesse nível? – Jennie tinha uma sobrancelha erguida
enquanto observava o casal que a olhava ainda abraçadas. – O máximo que
Jisoo faz por mim é comprar Kit Kat quando estou de TPM.
- Jennie! Eu comprei aquele vestido de festa que você pediu! – reclamou Jisoo
cruzando os braços com um bico se formando nos lábios. – E aquela cinta que
você...
- Ainda estou me perguntando se devo mesmo confiar nesse seu plano. – ela
finalmente disse quando saíram com a caminhonete pelas ruas de New York.
– Você ainda pode ser uma assassina profissional contratada por alguém que
odeia minha família para me matar e agora, depois de ter me seduzido,
roubou a caminhonete do meu pai e está me levando até o meio do nada onde
pretende abusar de mim, me matar e desovar o corpo no Novo México.
Lisa soltou uma longa e sonora gargalhada que ecoou pela caminhonete
aumentando as batidas frenéticas do coração de Chaeyoung.
- Se apaixonou, é?
- Não, estou aqui com você porque realmente preciso te matar. - riu da cara
assassina de Chaeyoung. - Não seja idiota, veja só o que comprei para a minha
Oompa Loompa preferida. – disse tirando uma cestinha de dentro de uma
sacola do Starbucks no banco ao lado de Chaeyoung, a cesta continha dois
copos de cappuccino. – O seu é o de chocolate.
- Se eu sou uma Oompa Loompa, então você é uma ogra, Lisa. Sempre com
essas gracinhas que de engraçadas não tem nada. – franziu o cenho quando a
morena estacionou o carro no gramado do Prospect Park segundos depois. –
O que estamos fazendo aqui?
O parque estava praticamente vazio se não fosse pelo casal correndo em volta
do lago e a família fazendo piquenique na neve.
- Nós vamos ver o espetáculo de fogos, pensei que soubesse disso. – disse
simplesmente ao encostar-se no capô do veículo de frente à uma Chaeyoung
impaciente.
Chaeyoung bufou com o apelido sem graça e chutou uma pedra em Lisa que
pulou para desviar. Juntas, as duas desceram a caixa pesada até o chão e
Chaeyoung observou a morena abrir a tampa dupla revelando uma manta
grossa que cobria o que quer que esteja lá dentro.
Lisa foi interrompida bruscamente quando teve seu espaço pessoal invadido
por Chaeyoung. A morena não teve reação no começo pela surpresa, apenas
deixou-se ser beijada ternamente pela garota que tanto amava. O beijo era
carregado de carinho e amor, as línguas dançaram entrelaçadas em um ritmo
dolorosamente lento e satisfatório.
Recebeu uma mordida no lábio e vários beijos espalhados por todo o rosto.
- Você é mesmo uma graça quando tenta se fazer de forte - Lisa sussurrou de
forma sexy no ouvido da mais nova que sentiu o corpo todo arrepiar. – mas
sei que fica molhada quando nos beijamos por muito tempo.
- Lisa!
♪♪♪♪♪♪
O final da tarde passou rápido para Chaeyoung e Lisa que aproveitavam ao
máximo à base de boas risadas e histórias sobre suas famílias, elas nunca se
cansavam de conhecer uma a outra e sobre a infância que tiveram.
- Acho que Harry nunca mais voltou. – a voz de Lisa interrompeu Chaeyoung
de seu trabalho árduo em despejar o líquido no copo de plástico.
- Por quê?
- Pelo que entendi, a unidade de Harry foi uma das designadas de invadir
Altenberg. Essa carta é datada em Março de 1944. – Chaeyoung deitou a
cabeça no ombro da morena à espera da leitura abandonando seu suco de
lado. - Esta é uma memória, 27 de outubro de 1941, quando a vi pela
primeira vez. São memórias de uma noite chuvosa, de um soldado e uma
dama em baixo de uma árvore solitária. Lembranças de uma noite fria e
ventosa, em que nos metemos em um teatro para soldados e adormecemos
em uma cobertura atrás dos bastidores, os dois, presos nos braços um do
outro, e as lembranças do impacto causado ao acordar e ver que,
milagrosamente, não tínhamos sido descobertos. Lembranças da felicidade
que tivemos em tão pouco tempo e a devastação que senti quando chegou o
momento de partir. A despedida calorosa em uma praia isolada sob o céu
repleto de estrelas da noite americana e as lágrimas que não paravam de
cair enquanto, no cais, você via meu comboio ir embora ao horizonte. Nós
prometemos que estaríamos juntos novamente em casa, mas o destino sabia
mais do que nós. Nunca acontecerá e isso é tudo que posso dizer-te em
palavras. E assim, Sarah, eu espero que, onde quer que você esteja, que
essas memórias sejam tão preciosas para você como são para mim. Boa
noite, meu amor.
Ver aquela cena foi uma das várias maneiras de destruir o coração de Lisa. Ela
dobrou a carta e pegou outra a entregando à namorada.
- O que é isso?
Sabia que era injusto cuspir aquelas dúvidas infernais em Lisa mais uma vez
depois da linda tarde que a morena havia preparado. Mas o medo de perdê-la
dominava qualquer função de seu corpo, Chaeyoung podia quase sentir uma
dorzinha no fundo do peito só de imaginar-se sem sua amada.
- Eu não sei... – foi a resposta que tanto temia. Ela nunca sabia. – Já disse que
não posso prometer que nós vamos durar para sempre, mas preciso que você
confie no meu amor e tenha certeza de que é o que eu mais quero. – afastou-
se um pouco para olhá-la nos olhos. – Eu sou louca por você. É doentio que eu
precise de você de uma maneira tão forte quase como preciso de ar para
respirar. Então... Eu não sei o que vai acontecer quando eles descobrirem...
Sinto muito. Vamos viver o presente como se cada dia fosse o último... Por
favor?
A verdade fincada naqueles olhos era visível, até mesmo quando uma lágrima
solitária escapou deles trilando caminho por sua face e sendo beijada por
Chaeyoung. Lisa estava sofrendo por ser obrigada a pensar naquele assunto,
era seu verdadeiro ponto fraco.
♪♪♪♪♪♪
- Eu disse que daria certo, Billie Holiday sempre funciona... – dizia Mark
roubando alguns sachês de ketchup do carrinho.
Lisa engasgou com a saliva, precisando ser acudida por uma senhora que
estava ao seu lado.
- Obrigada. – agradeceu com um sorriso amarelo e voltou-se totalmente
corada para Mark que caminhava tranquilamente até o resto da família. –
Com todo respeito, Mark, mas Chaeyoung e eu não fizemos nada...nesse
sentido.
- O que?
Pureza? Sério? O que ele diria se soubesse que era Chaeyoung quem criava as
situações mais constrangedoras do mundo? Não acreditaria, é claro. Para um
pai sua filha é o maior tesouro do mundo, e o namorado, ou namorada,
sempre seria o mau caminho.
Ela engoliu em seco sentindo seu corpo tremer, suas pernas vacilarem e olhou
atentamente em volta tendo certeza de que poderia pedir socorro caso o
homem sacasse uma arma. Era seu sogro, afinal.
- Me escute, Lisa – ele disse com um semblante sério. – sei que você é uma
boa garota e minha filha tem muita sorte em ter você. Eu posso fazer linha
dura às vezes em relação aos horários, porta aberta e agarração, mas estou
apenas fazendo meu papel de pai, entende? – a morena concordou com a
cabeça sem hesitar. – Sei que Chaeyoung não é nenhuma santa e com certeza
vai chegar o momento em que vocês vão...fazer...coisas. – ok. Hora dos dois
ruborizarem. – Só...a faça sentir-se especial, ok? Não sei se vou estar vivo
amanhã, daqui a dois meses ou no casamento dela, mas como pai, tudo o que
eu mais desejo no mundo é que minha filha seja feliz. – o homem segurou o
ombro de Lisa e sua expressão suavizou. – Tenho você como minha filha
também, e sei que não vai me decepcionar. Tenho muito orgulho do que fez e
continua fazendo por Chaeyoung, saiba que não imaginaria ninguém melhor
como minha nora. – sorriu. – Você é uma grande mulher que Deus colocou
não só no caminho de Chaeyoung, mas também no nosso. Venha cá. – puxou
a morena para um abraço apertado.
Nada poderia se comparar à sensação de ser aceita por alguém maduro como
Mark. Ele tinha orgulho dela. Lisa abraçou Chaeyoung por trás quando
voltaram e entregou o suco para a namorada.
- Seu pai disse que tem orgulho de mim. – murmurou descansando a cabeça
no ombro dela.
- Sério? – Chae disse enquanto entrelaçava seus dedos aos de Lisa em seu
estômago. – Isso é maravilhoso, amor.
- Eu te amo, Chaeyoung.
- Faça um pedido.
- Para sempre?
- 5, 4, 3, 2, 1!
- Para sempre.
♪♪♪♪♪♪
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18
- Você não pode morar no meu pescoço, amor. - Lisa riu abraçando mais
ainda seu presente divino. - Pensei que nossa casa seria o rancho que vamos
comprar...
- Canibal.
- Sem graça.
- Você e minha irmã vão mesmo se dar bem, ambas contra mim o tempo todo.
- suspirou e bagunçou o cabelo de Chaeyoung.
Chaeyoung levantou o rosto ficando na altura do de Lisa a olhando com um
sorriso tímido e ao mesmo tempo apaixonado nos lábios, era assim que
ficavam quando tiravam alguns segundos apenas se encarando, ambas não
acreditando na sorte que tinham de se pertencerem.
- Acha mesmo que vamos nos dar bem? Digo, Daniela deve estar passando
por um momento difícil e eu não sei como agir com uma mulher grávida...
- Daniela tem apenas dezessete anos, ela continua sendo uma adolescente
normal e irritante. - suspirou. - A única diferença é o bebê crescendo dentro
dela e a reclusão com nossos pais. Mas sei que ela vai gostar de você de
primeira, que pessoa no mundo não se apaixona pela minha menina?
- Estou com medo dos seus pais. - disse incerta, com medo de ser repreendida
pela namorada por falar assim de seus pais.
- Eu sei. Desculpe não poder fazer mais que isso. Eu queria ser forte o
suficiente par-
Passou anos de sua vida concentrada na música, sem tempo para namoros, e
de um instante para outro sua vida é invadida de forma não consensual por
uma estranha com olhos capazes de hipnotizar qualquer pessoa. Chaeyoung
amava ser hipnotizada por ela.
- Estou levando o filme Mouling Rouge. Daniela diz que é um filme para
artistas e amantes indomáveis. Já assisti mais de cinco vezes e não me sinto
nenhuma dessas coisas.
- Humpf!
E lá estavam elas brigando por quem conseguia ficar por cima na Chaeyoung
beliche provocando altas risadas.
- Não sei mais o que fazer com vocês duas, deve ser algum tipo de karma
pegá-las no ato sexual. - era Momo que tinha entrado no quarto encontrando
Lisa por cima de Chaeyoung. - Nojentas.
Momo, Chaeyoung e Lisa seguiram até o primeiro andar e, com a sorte que
Lisa não possuía, deram de cara com Megan e Hanbin, os dois um pouco mais
alterados que o normal, conversando animadamente na escada com mais
duas garotas que não conhecia. Megan foi a primeira a avistá-las e sorriu
alegremente se jogando nos braços de Lisa.
Megan segurou o rosto de Lisa com as duas mãos e a morena notou que a os
olhos da garota estavam vermelhos. Maconha.
- Eu já estou ficando chateada por não ter sua presença nas festas, Lisa. -
choramingou Megan ignorando por completo Momo e Chaeyoung. - Oliver
me perguntou de você, acho que ele quer repetir a noite... Algo sobre aquele
amasso que vocês deram na festa do Matt...
- Sou de Juilliard.
Megan fingiu que segurava uma risada, mas acabou babando em si mesma.
- Estou com... - seus olhos procuraram suplicantes por Lisa, ela não sabia o
que dizer naquele momento. Mentir? Dizer a verdade? O quão confortável
Lisa se sentia com sua presença na frente dos amigos? Mas a morena parecia
tão em pânico quanto ela.
- Ela está comigo. – Momo a cortou lançando um olhar fulminante para Lisa.
- Somos amigas e vou levá-la esse final de semana à minha casa.
Momo tentou avançar contra a garota, mas foi impedida por Chaeyoung que
lhe deu um olhar dizendo que estava tudo bem. Hanbin logo apareceu ao lado
de Megan com os mesmos olhos vermelhos e a abraçou por trás soltando um
grito animado, o que talvez tenha tirado Lisa do transe.
- Relaxa, Chae. Apesar de querer sua cabeça quando decide fazer pornografias
na minha frente, criei um carinho enorme por você. Não deixaria que aqueles
babacas mexessem com você, alguém precisava ter atitude.
- Amor, me desculpe...
Ela era uma garota sonhadora que enxergava além do que as pessoas
consideradas normais conseguiam ver. Lisa é uma das pessoas normais que
mantém os pés no chão apesar de algumas vezes sua mente entrar em certa
conexão com a de Chaeyoung.
Estar com Lisa era como ter uma bomba relógio nas mãos, você nunca sabe
em que momento ela pode explodir, Chaeyoung sabia disso mais do que
nunca agora.
Talvez essa viagem à Los Angeles tenha sido um erro, ela pensava agora, Lisa
não se impôs em frente aos amigos, que dirá em frente aos pais? Dessa vez
Momo não estaria lá para ajudar.
Chaeyoung já tinha estado em Los Angeles com suas tias em passeio, mas
havia se esquecido de como o clima tropical poderia ser agradável, ainda mais
depois de passar tanto tempo dentro de blusões, casacos e roupas contra o
frio.
Chaeyoung deu um leve sorriso para a namorada, tinha decidido deixar essas
questões de lado enquanto estivesse em Los Angeles, elas precisavam estar
unidas para o que quer que aconteça naquela cidade.
- Estamos bem, Lali. - deu um beijo no rosto de Lisa quando ninguém mais
estava olhando. - Como eu disse, só precisava de um tempo.
Sorriram uma para a outra e ouviram uma buzina. Lisa ficou surpresa quando
viu seu irmão do meio, Paul, na BMW preta com Daniela no passageiro.
- Eu acho que acabei comentando sem querer com o nosso maninho. - disse
inocente.
Lisa trincou a mandíbula para a irmã que a ignorou quando desceu do carro,
sua barriga estava um pouco maior do que da última vez e a morena se
perguntou como Charlote ainda não tinha notado a diferença.
Ou talvez ela tenha notado e optado em se fazer de cega como sempre fez
desde que se casara com Marco.
- E você deve ser a tão famosa Chaeyoung, certo? - Daniela, que era uns
poucos centímetros mais baixa que Chaeyoung, a puxou para um abraço
caloroso sem dar tempo que a garota respondesse. - Eu fico muito feliz em
finalmente conhecer minha cunhada.
- O prazer é meu, Daniela. - Chaeyoung riu um pouco mais descontraída. -
Lisa também fala muito de você.
- Não seja cínico, Paul. - Lisa cutucou o irmão. - Eu tenho muito mais
qualidades que você...
- Oh, não. Não precisamos ouvir essa discussão, Chaeyoung. - Daniela tomou
a bolsa das mãos de Chaeyoung enquanto Lisa e Paul guardavam as malas.
Certamente Daniela era uma das pessoas mais adoráveis que ela conhecera.
Totalmente diferente do que Lisa tinha descrito dias antes, sobre a menina ter
se tornado reclusa e depressiva.
O caminho até a casa dos Manoban foi animado, Lisa e Paul continuavam a
discutir sobre a faculdade enquanto Chaeyoung e Daniela tinham entrado no
assunto de gravidez, a caçula dos Manoban confessou que estava muito
nervosa e com medo de como seria o almoço de domingo, quando contaria
aos pais sobre o bebê.
- Posso dizer uma coisa? - disse Daniela quando ajudava Chaeyoung a tirar as
malas do carro. A garota assentiu e Daniela continuou. - Meus pais vão ser
educados com você, eles prezam a educação acima de qualquer coisa, então
não se preocupe com isso. - viu a expressão de Chaeyoung que tinha se
tornado aflita. - Meu pai... Ele tem um sistema difícil, uma hora tudo está bem
e na outra está fazendo comentários rudes e desnecessários. Só não deixe que
isso afete você, tá?
Chaeyoung concordou com a cabeça, ainda que seu coração estivesse quase
saindo pela boca com o nervosismo. Lalisa parecia tensa ao seu lado e isso
não a ajudou nem um pouco, tinham tirado as alianças e as guardado na
mala, junto de todos os atos carinhosos que reservavam uma a outra. E mais
uma vez, eram apenas amigas.
A mansão de dois andares era de longe uma das melhores daquele bairro, com
um enorme portão de grade que dava acesso a um jardim com uma pequena
fonte em frente à porta de entrada. Pelo jeito era uma casa de muitos quartos,
só na fachada, Chaeyoung contou cerca de seis sacadas e mais três janelas que
provavelmente seriam de suítes.
Com toda certeza a família de Lisa vinha de uma linhagem com muito
dinheiro, mas aquilo nem mesmo era a cara da morena que nunca esbanjou o
dinheiro de sua família.
- Bem vinda à minha casa. - Lisa disse quando observou a namorada babar na
sala de jantar, mais especificamente na mesa de jantar com capacidade para
dez pessoas. Aquilo era mesmo incrível.
- Pai? Mãe? Estamos em casa. - Paul gritou caminhando até uma cozinha
revestida em preto e branco. Só aquela cozinha era maior que a sala da casa
de Chaeyoung. - Aqui, deixe que Denis leve suas coisas ao quarto, Chae.
- E você é?
O corpo de Chaeyoung tremeu com o olhar pesado em si. Charlote, que não
tinha notado a presença da garota até então, logo ergueu as sobrancelhas em
surpresa.
- Essa é Park Chaeyoung. - Lisa puxou a menina levemente pelo braço, sua
voz era fraca, quase trêmula. - Ela é uma amiga de New York, foi na casa dela
que passei o natal. Decidi trazê-la para conhecer LA.
- Seja bem vinda, Srta. Park. - disse o homem com um aceno de cabeça, mas
sem demonstrar emoção alguma.
Lisa respirou aliviada e deu uma rápida olhada em Chaeyoung cuja expressão
suavizou no mesmo instante. Charlote sorriu cordialmente para a menina e a
abraçou brevemente indicando a sala para que pudessem conversar melhor,
mas Paul os interrompeu dizendo que todos os adolescentes da casa sairiam
em um pequeno passeio por Los Angeles.
Chaeyoung foi deixada no quarto de hóspedes que ficava no mesmo corredor
do quarto dos três irmãos. Chae não teve tempo de se despedir da namorada
quando Charlote seguiu a filha até o quarto, provavelmente para interroga-la
sobre Chaeyoung.
- Chaeyoung - Lisa suspirou trocando olhares com Daniela. - Acho que você
ainda não entendeu as coisas. Você nunca vai nos ver conversando como uma
família normal, isso eu posso garantir.
- Até mesmo eu que vivo aqui quase não os vejo, Chaeyoung. Papai vive
trancado naquele escritório e mamãe atrás dos clientes no telefone. -
completou Daniela antes de dar um gole em seu refrigerante.
- Isso realmente não importa. Tem um Haras aqui perto, aquele que o tio
Anthony nos levou uma vez, lembra Lisa? É a nossa primeira parada.
A garota parecia alegre até demais para quem estava grávida aos dezessete
anos, prestes a contar aos pais conservadores que provavelmente não
reagiriam bem. Chaeyoung decidiu fazer o mesmo que a caçula e deixar o
verdadeiro problema para amanhã, a pior parte já tinha acontecido e ela
estava feliz por não ter sido desprezada pelos pais de sua namorada.
Paul desceu logo depois se juntando às meninas. Os quatro foram ao tal Haras
no carro do garoto que não parava de falar um minuto sequer sobre os
defeitos de Lisa e suas qualidades para o divertimento de Chaeyoung e
Daniela.
O Haras era muito diferente dos ranchos que Chaeyoung estava acostumada a
visitar; um campo amplo com várias divisas, algumas usadas para esportes e
outras para lazer com os cavalos mais caros da cidade e também as pessoas
mais ricas.
- Lisa, eu não sei se tenho dinheiro para comer aqui. - comentou quando Paul
foi escolher os cavalos.
Lisa a olhou como se tivesse ofendido Johnny Cash, com as esmeraldas cheias
de significado.
- E quem disse que você vai pagar alguma coisa? – se aproximou mais para
que apenas Chaeyoung escutasse. - Você é minha namorada, eu a convidei.
- Eu não quero que você pague alguma coisa para mim, Lisa. Me sinto baixa
quando faz isso.
Aquelas palavras feriram Lisa de alguma forma e ela sabia disso, mas seu
medo de ser vista como uma oportunista era maior, ainda mais agora que
tinha visto com os próprios olhos a verdadeira vida luxuosa que a namorada
levava.
Que vontade de beijar a garota ali mesmo, na frente de todos sem se importar
com o que pensariam. Chaeyoung engoliu em seco e limitou-se em abraçá-la
enterrando a cabeça em seu peito.
A tarde passou de forma muito leve para o casal, Lisa estava impressionada
com a forma como sua namorada e sua irmã tinham se tornado tão amigas e
próximas em apenas algumas horas, pareciam amigas de escola fofocando
sobre garotos pelos cantos.
- Você gosta mesmo dela, não é? - Paul comentou enquanto Lisa tinha os
olhos presos em Chaeyoung que estava com Daniela no outro lado do
restaurante do Haras servindo-se. - Nunca vi você tão protetora assim com
outro alguém além de Daniela e eu. Você fica toda alpha quando se trata de
Chaeyoung.
- Não. - foi direta, finalmente encarando o irmão. - Não agora. Temos que
pensar em Daniela em primeiro lugar, Chaeyoung e eu estamos juntas há
pouco tempo, acho que isso pode esperar um pouco mais.
- Está usando a Dan como desculpa? Eu sei que temos que nos preocupar com
ela agora, voltei à Los Angeles pelo mesmo motivo... Mas isso também ajuda a
ser uma desculpa para adiar as coisas, não é? Sou seu irmão, Lalisa, conheço
você o suficiente para saber que se esconde quando tem medo.
Chaeyoung deu uma piscadela a ela e correu atrás de Daniela antes de se jogar
no riacho aos gritos lançando água para todos os lados, em seguida ajudou a
caçula dos Manoban a descer com cuidado para não machucar o bebê.
- Mana, se aquela mulher não fosse sua, eu teria arrastado um prédio por ela.
O sangue de Lalisa ferveu e ela o empurrou com força para dentro da água.
Mesmo que fosse brincadeira, seu ciúme por Chaeyoung saía do controle às
vezes.
Por sorte, seu irmão sempre carregava o violão no carro - um dos gostos em
comum que tinha com Paul -, e Lisa decidiu buscá-lo para arriscar algumas
notas, era uma atividade bem interessante ao invés de se molhar como os
outros.
Gostava de ver sua princesa brincar animada jogando água em Paul e sendo
afogada por Daniela.
Lisa tirou a camisa cinza da Lana Del Rey que usava e a esticou no chão
fazendo-a de manto para não sujar o short. Manteve o tenis que usava e
prendeu o cabelo em um rabo de cavalo mal feito.
Passou um bom tempo dedilhando suas músicas preferidas enquanto ria de
seus irmãos e Chaeyoung, não queria que aquele dia acabasse nunca.
Tirou até mesmo uma foto deles com a Polaroid de Chaeyoung que tinham
trazido na viagem, pois se pudesse gravar um momento para sempre, esse
seria um de seus preferidos.
- Pensando em mim? - ouviu a voz que tanto amava próxima ao seu ouvido
enviando ondas de calor por todo o corpo. - Te assustei, bebê?
- É sempre em você. - riu e desviou a atenção aos irmãos que ainda brincavam
na água.
- Eu? Amor - ela riu. Uma risada que provocou arrepios na morena. - Eu não
tenho culpa se você está me imaginando nua e molhada em cima de você.
- E você é meu amorzinho. Amo saber que provoco esses arrepios em você. -
deslizou o dedo pelo braço dela. - Toca alguma coisa para mim, você não fez
mais isso desde que tentou me seduzir no meu quarto.
- Eu não seduzi você, apenas cantei uma música. Foi você quem cedeu aos
meus encantos e me beijou.
- Pode ser aquela do Oompa Loompa? Ai! - reclamou quando recebeu uma
cutucada na costela.
- Desculpe senhorita.
- The other night, dear, as I lay sleeping, I dreamed I held you in my arms.
When I awoke, dear, I was mistaken. So I bowed my head and I cried... -
Chaeyoung estranhou de inicio aquela escolha de musica, mas depois
entendeu que seria exatamente o que ambas sentiriam se perdessem uma a
outra em algum momento daquela jornada. - You are my sunshine, my only
Sunshine. You make me happy when skies are grey. You'll never know, dear,
how much I love you. Please, don't take my sunshine away...
Chaeyoung distribuiu vários beijos pela extensão do ombro de Lisa que virou
o rosto com um pequeno sorriso plantado nos lábios enquanto as palavras
deslizavam facilmente pelos seus lábios.
Era tão fácil cantar para aquela garota, sorrir para ela, chorar por ela, morrer
por ela.
Finalizou a música sorrindo com a língua presa entre os dentes até ter sua
boca tomada pela de Chaeyoung num beijo terno e delicioso, suas línguas
brincando uma com a outra, o mordiscar nos lábios, os suspiros que deixavam
escapar apenas por aquele contato.
Chae finalizou o beijo com vários selinhos que seguiram por todo o rosto de
Lisa provocando risadas entre elas. Então Chaeyoung parou. Seu rosto a
centímetros de Lisa, seus olhos numa batalha feroz, as respirações pesada,
corações acelerados e aquela imensa vontade de chorar por estarem apenas
ali, uma com a outra, longe do mundo.
♪♪♪♪♪♪
19
Falou com seus pais mais cedo também, Diana disse que Mark ainda não
tinha voltado do trabalho, o que era muito estranho, pois o homem nunca se
atrasava; de alguma forma Chaeyoung sabia que estavam escondendo algo
dela para não preocupá-la.
Felizmente aquele seria seu último dia em Los Angeles e logo poderia voltar
para casa e verificar com os próprios olhos o que estava acontecendo. Não que
fosse ruim estar ali, na verdade estava sendo melhor que o esperado, mas
ficar longe de seus pais era ainda pior.
Ouviu o som de leves batidas na porta do quarto, em seguida a mesma se
abriu revelando a cabeleira castanha de Lisa que tinha um sorriso tímido e o
rosto amassado de sono.
Lisa entrou na ponta dos pés fechando a porta em seguida com cuidado para
não fazer barulho, aproximou-se da cama e puxou o edredom deitando ao
lado de Chaeyoung que abandonou o livro e os óculos de leitura no criado
mudo para se deitar também em frente a ela. E assim ficaram por um tempo,
se admirando no quarto iluminado pelo abajur do lado da cama de
Chaeyoung, trocando sentimentos por olhares, expondo a própria alma para
que apenas elas pudessem ver.
- É estranho estar na mesma casa que você, mas não na mesma cama. - deu de
ombros e fez um bico infantil. - Prefiro estar aqui, é mais quente.
- Sabe que não pode dormir aqui, amor. Se os seus pais nos pegarem saindo
do mesmo quarto amanhã...
Um gemido rouco escapou da boca das duas assim que suas bocas se saparam
em busca de ar, mas Lisa mal teve tempo para se recuperar quando
Chaeyoung tomou-lhe os lábios novamente, a língua da mais nova explorava
faminta toda a extensão de sua boca e envolvendo a da morena logo em
seguida.
Era um beijo estalado, sensual, que fazia uma onda de prazer percorrer o
corpo das duas garotas fazendo-as mergulhar no desconhecido.
Lisa afastou a mão esquerda da nuca de Chaeyoung e desceu até o seio direito
da mais nova o apertando levemente para então o massagear intensamente
sem quebrar o contato com as línguas.
- O que foi? - perguntou notando os tons escuros nas íris castanhas, isso só
piorou a pulsação entre suas pernas. - Eu sinto que vou explodir se
esperarmos mais, Lisa.
- Uh...nossa reprodução?
- Lisa? - chamou sentindo que seu ventre explodiria se não fizesse alguma
coisa.
- Sim?
- Posso te pedir uma coisa? - sua voz saiu fraca, consumida pelo silêncio do
quarto e o momento de tensão entre seu pedido e a reação da namorada que a
fitou por um momento, e então concordou com a cabeça. - Se toque para
mim.
Chaeyoung tinha o olhar em chamas quando deslizou sua mão por cima da
mão de Lisa para dentro da calcinha da morena que ofegou e soltou um
gemido leve em seguida. Ela mesma prendeu um gemido enquanto apertava
suas pernas no quadril na namorada tentando conter a pulsação em seu
próprio sexo.
- Ok, esquece.
- Pequena... - Lisa suspirou, sua expressão era de alguém que estava sofrendo
de prazer.
- Por que você...por que você tem que ficar por cima? - a pergunta quase não
saiu tamanha a intensidade do prazer que estava sentindo.
- Você está sendo passiva agora, então cale a boca e me deixe continuar!
- D-Desculpe.
Lisa soltou um gemido contra a boca de Chaeyoung, seu corpo todo entrando
em frenesi com uma sensação desconhecida se formando um pouco abaixo do
estômago.
A massagem entre as pernas de Lisa era intensa agora, até mesmo a mão da
mais nova, que estava por cima da mão de Lisa, estava molhada com o fluído
da namorada; ela estava perdendo as palavras, os tremores aumentavam cada
vez mais. O que estava acontecendo?
- E eu... - tentou dizer, mas sua voz falhou, mexia seu quadril
incansavelmente contra sua mão, era praticamente uma masturbação dupla. -
Oh, Lisa... - Chaeyoung choramingou e circulou mais forte.
- Sim...
- Isso é...
♪♪♪♪♪♪
Seus pensamentos voaram direto à noite passada quando esteve por cima de
Lisa dando-lhe prazer e, inevitavelmente, a si mesma. Ok, elas não fizeram
amor e muito menos chegaram a ter contato direto naquele lugar, mas a
experiência que compartilharam noite passada valia por todos os outros
momentos que se resumiam em amassos no banco do carro e carícias.
Ouviu risos e teve certeza que Paul também estava do outro lado da porta se
divertindo às suas custas. Então Chaeyoung corou fortemente quando
imaginou Lisa vestida de enfermeira segurando uma...
- Chaeyoung!
- Argh! Meus nervos estão dançando Macarena dentro de mim. Não sei o que
dizer na hora ou como reagir ao que papai vai dizer... - a garota levou as mãos
à cabeça. Sentou na cama observando Chaeyoung entrar no banheiro com e
ouviu o barulho do chuveiro devido à porta aberta. - Brian parece confiante,
ele nunca se deixou intimidar por ninguém, disse que eu não preciso ter medo
de ser expulsa porque sempre terei um lar com ele.
Daniela suspirou.
- Então você e Brian serão bons amigos. - Daniela forçou-se a sorrir. – E meu
pai vai amar o genro e a nora que arrumou.
A transformação na áurea ao seu redor quando Lisa estava por perto seria
algo que Chaeyoung teria que se forçar a controlar. Era como se todos os
outros desaparecessem, seja numa manhã qualquer, de tarde na faculdade ou
à noite em algum encontro. A presença de Lisa deixava Chaeyoung totalmente
abalada, tendo sua atenção voltada somente às esferas verdes que eram como
imãs aos seus castanhos. E seu sorriso... Bem, ele sempre seria pela morena,
sejam eles involuntários ou não.
Quem se importa? Elas estavam ali depois de terem dado prazer uma à outra,
depois de Lisa ter escorregado no final da madrugada para a cama de sua
amada; ninguém mais fazia ideia do quanto aquelas garotas se amaram
àquela noite, ninguém nunca saberia, ninguém nunca entenderia.
Chaeyoung sorriu tímida ao garoto quando Lisa a deixou livre de seu abraço.
- Muito prazer, Chaeyoung. Vejo que somos as ovelhas negras prestes a entrar
na família. - ele tentou brincar, mas o comentário causou arrepios na mais
nova.
- Brian! - Daniela o repreendeu notando a mudança de cor no rosto de
Chaeyoung.
- Eu mentiria se não dissesse que estou nervosa com hoje - a menina começou
lançando um olhar preocupado à porta dos fundos. - mas Brian e eu
conversamos e decidimos que independente do que aconteça hoje, não
vamos... Eu não vou deixar que nos afete pelo bebê. - sorriu e seus olhos agora
estavam cheios de lágrimas. - Queremos também pedir a vocês, Paul e Lisa,
que sejam os padrinhos.
- Eu vou ser o melhor padrinho de todos, vou ensinar ele a escalar montanhas
assim como o tio! - riu fazendo uma pose convencida que fez os outros
presentes também rirem.
- Você nem sabe o sexo do bebê ainda, seu babaca. - brincou Lisa enquanto
puxava a irmã mais nova para um abraço apertado. - É claro que eu aceito, vai
ser um enorme prazer.
Daniela enxugou as lágrimas que banhavam seu rosto. Brian a abraçou por
trás deixando um pequeno beijo no ombro da namorada, como se dissesse
que ele sempre estaria ali por ela, em sua retaguarda cuidando de sua amada.
- Eu amo você intensamente, como nunca amei ninguém. Não esquece, tá? -
suspirou roubando um rápido selinho da menor.
A mesa de almoço estava farta, com vários tipos de comidas que Chaeyoung
não reconheceu. Marco se encontrava sentado na ponta da mesa lendo um
jornal enquanto Charlote preparava um prato para si mesma sentada ao lado
do marido; Brian e Daniela sentaram do lado direito da mesa enquanto Paul,
Chaeyoung e Lalisa acomodaram-se no esquerdo ao lado de Charlote.
- Paul, por que não faz o agradecimento? - disse em seu tom autoritário.
- Senhor, agradecemos pela mesa farta que temos todos os dias, por estar
mais uma vez reunido com minha amada família e amigos, pois não há graça
maior que essa. Quero pedir que abençoe todas as pessoas que necessitam de
um prato de comida, as que carecem de amor e entendimento, e quero pedir
também que proteja os que guardam medo e rancor em seus corações - Lisa,
Chaeyoung e Daniela abriram os olhos surpresas ao garoto, pois sabiam ao
que ele se referia. - que o Senhor os ensine sobre o amor. Amém.
- Excelente! - ele riu depois de uma garfada. - Pensei que seria uma droga,
mas engenharia é mesmo o meu negócio. Meu colega de quarto, o Mason, o
pai dele me ofereceu um estágio na construtora dele e eu aceitei. - deu de
ombros cortando o pedaço de carne. - Está sendo uma grande pressão os
estudos, mas estou me adaptando.
- Eu sempre soube que esse seria seu ramo, seu tio Ed estava certo o tempo
todo. - Charlote sorriu acompanhada de Lalisa, Paul e Daniela com a
lembrança do tio Ed dizendo a Paul sua verdadeira vocação enquanto lhe dava
tapinhas nas costas. - Assim como Daniela e Lisa darão ótimas advogadas.
- Sim, senhor.
- E como pensa em se sustentar com a música? - o comentário foi tão frio que
até mesmo Charlote o olhou com surpresa. - A cada dez musicistas, apenas
dois são bem sucedidos. Isso quando não passam fome antes ou depois da
carreira decolar.
Lisa trincou a mandíbula e apertou o garfo com força na mesa sentindo cada
músculo do seu corpo tencionar. Chaeyoung sentiu-se atingida com o
comentário totalmente preconceituoso de um homem inteligente que não
deveria carregar consigo tais pensamentos.
- Com todo respeito, senhor, mas os meus pais me ensinaram que a coisa mais
importante do mundo é correr atrás dos n-
Lalisa quase não respirava mais, sua mão não saiu da perna da namorada em
momento algum e seus olhos estavam cravados em Daniela que
compartilhava a mesma revolta encarando o pai com desprezo.
- Ele precisou largar a banda quando minha mãe engravidou. - a resposta saiu
mais baixa que o normal, estava completamente envergonhada e atingida pelo
olhar culposo que Marco a lançou.
- Pai! - Lisa grunhiu entredentes fazendo tanta força no garfo que o talher
chegou a entortar milímetros.
Marco pendeu a cabeça para o lado olhando Lisa com curiosidade, ela nunca
tinha levantado a voz com ele antes e a tensão na mesa foi enorme. O peito da
morena subia e descia em nervosismo, mas sentiu-se mais confiante em
enfrentar o pai pela primeira vez por alguém que amava.
- Nunca mais altere a voz com seu pai, Lisa. - ele continuou usando seu tom
calmo, mas sério o bastante para mostrar a gravidade do que estava falando. -
Que essa sua rebeldia repentina não seja devido ao convívio com pessoas com
pensamentos deslocados.
A raiva crescia gradativamente no peito de Lisa, ela viu uma lágrima escorrer
pela face de Chaeyoung e isso foi o que bastou para perfurar seu peito com
cem estacas. Ela estava prestes a levantar com violência e puxar Chaeyoung
para dentro de casa quando Daniela pigarreou alto lançando um olhar
fulminante ao pai.
Ela estava explodindo em raiva de Marco, Lisa pôde ver isso em seu rosto alvo
agora coberto por uma coloração avermelhada.
- Não trate nossa convidada assim, pai. Chaeyoung é uma ótima pessoa, o
senhor não pode falar sobre quem não conhece.
Charlote abriu a boca procurando palavras que não vinham e Marco queimou
a filha caçula com o olhar. Aquela era, talvez, a primeira frase completa que
Daniela dizia depois de meses na presença dos pais.
- Meu nome é Brian Miller, senhor. Trabalho na farmácia do meu pai e estudo
arquitetura na Barry University.
- Certo - Marco afastou o prato e descansou os cotovelos em cima da mesa
deixando sua atenção cair agora no rapaz. - e você e Daniela...?
A menina caçula estava pálida, Lisa ficou preocupada pela irmã e ainda mais
pelo sobrinho, mas também sabia que se não contassem a verdade agora,
talvez a coragem nunca mais aparecesse.
- Ele é meu namorado. - disse finalmente, cortando Brian que estava prestes a
responder e deixando o silêncio dominar por completo o momento.
- O que a faz pensar que vou permitir que namore com dezessete anos,
Daniela? – sua voz subiu três oitavas quando olhou de Daniela para Brian e
de Brian para Daniela novamente. - Você vai para a faculdade antes de
qualquer coisa, continuar o legado da família, e apenas depois pensará em
namoro.
- Isso é uma mentira. Paul nos apresentou uma namorada este ano e eu não vi
problema algum. - argumentou supostamente ofendido. - Lisa com certeza vai
conhecer um estudante de advocacia e nos apresentará em breve. Tudo no seu
devido tempo.
Foi impossível conter os olhares entre Lisa e Chaeyoung que, infelizmente, foi
captado por Charlote. Chaeyoung não queria admitir, mas imaginar um
futuro com Lisa se tornara ainda mais difícil depois de conhecer Marco e a
forma como ele domina os olhos, principalmente a mais velha.
- Não, mamãe! Eu não aguento mais! Como a senhora pôde aguentar todos
estes anos? Sempre abaixa a cabeça a ele como se fosse uma empregada.
- Vai fazer o que? Me bater? Pois bata, papai! – Daniela gritou gesticulando
descontrolada, Brian não conseguiu contê-la quando a garota soltou-se de
seus braços e se aproximou do pai sem barreira alguma os separando. - Quero
ver o que seus amigos do escritório vão dizer quando souberem que Marco
Manoban bateu em sua filha caçula que está grávida!
A bomba explodiu abalando até mesmo os que sabiam de tudo. Não era para
ser daquele jeito. O silêncio se abateu e os empregados que retiravam a mesa
mantiveram distância com medo e assustados.
Daniela tremia ao mesmo tempo em que soluçava alto, Charlote cobriu a boca
com as mãos assim que caiu sentada na cadeira, Paul se prontificou ao lado de
Brian e Lisa ao lado do pai.
- Você nunca mais ouse tocá-la! - gritou Brian tirando Daniela de perto de
Marco que ameaçou avançar contra ela, mas foi contido por Lisa e Paul. -
Nunca mais seu desgraçado! Ela está grávida, quer machucar seu neto?
- Sua vagabunda imunda! - Marco disse finalmente, ele não gritou, sua voz
tinha uma maldade impregnada que fez Chaeyoung sentir ainda mais medo. -
Eu criei você! Eu a eduquei e dei o melhor que pude... E é assim que me
retribui? Eu quero você fora da minha casa sua vadiazinha nojenta...
- Pai, o senhor está alterado, vamos nos acalmar... Por favor. - dizia Paul
ainda segurando o braço do pai.
Lisa lançou um olhar triste e preocupado à Chaeyoung que a essa altura tinha
levantado e assistia tudo de longe, ela também chorava em silêncio. Marco
soltou-se do aperto dos filhos e apontou o dedo para Daniela e Brian que
estavam abraçados um pouco mais afastados.
- Eu quero vocês dois fora da minha casa. - não havia nenhuma emoção em
sua voz, nenhuma lágrima, nenhuma dor, nada. - Não quero nunca mais vê-la
de novo, Daniela. Eu estou deserdando você, esqueça até mesmo seu
sobrenome.
- Ela é só uma criança, pai. - foi a vez de Lisa se pronunciar. - Foi um erro e
Daniela sabe disso, mas você não pode expulsá-la daqui como se não fosse sua
filha. Podemos lidar com isso como uma família...
- Eu não permito que fale assim dela! - Brian estava vermelho de raiva. - Você
é doente, já considerou a ideia de tratamento? Um doente compulsivo. Ah,
mas pode ter certezas que as desgraças na sua vida não param por ai, seu
louco...
Lisa tremeu com esse comentário, ela sabia muito bem o que ele quis dizer
com isso, sentiu-se fraca, impotente e totalmente inútil com Chaeyoung agora
ao seu lado procurando por respostas em seus olhos.
- Marta! Chame a segurança para que tirem este rapaz e Daniela daqui. O
almoço está encerrado!
- Senhor?
- Venha, eu vou mandar você para casa. - Lisa disse gentilmente puxando a
namorada pelo braço e lançando um olhar frio ao pai antes de desaparecer de
vista com Chaeyoung.
Chaeyoung não teve tempo de perguntar nada, apenas seguiu uma Lisa
furiosa para dentro de casa e a observou arrumar as malas com rapidez,
apenas as de Chaeyoung, e depois puxá-la para fora de casa em total silêncio.
O jardim da frente estava vazio, tudo o que restara fora o fantasma do choro
de Daniela; Charlote ainda chorava agora nos braços de Paul na entrada de
casa olhando a rua onde provavelmente a filha havia desaparecido.
- Me perdoe pelo que você teve que passar. - murmurou, a voz carregada e o
olhar suplicante. - Eu nunca vou me perdoar, por isso preciso que você o faça
por mim.
- Lisa, tudo...
- Não, Chaeyoung. Não diga que está tudo bem porque não está. O que
aconteceu hoje... Deus! As coisas saíram de controle, foi horrível! - suspirou
encostando suas testas. Não se importava se tinha ou não pessoas na rua, ela
estava cansada demais para tal importância. - Volte à New York e seja uma
boa garota, ok? Eu vou ficar mais alguns dias e tentar amenizar as coisas. -
deu um beijo leve nos lábios macios de Chaeyoung que abraçou seu pescoço. -
Meu pai nunca mais vai afetar você, eu prometo. Nunca vou permitir que ele,
ou qualquer outra pessoa falte ao respeito com minha mulher, entendeu? - a
mais nova balançou a cabeça em concordância. - Bom... Eu amo você, te amei
quando ainda não tinha lhe dado um rosto, amo ainda mais agora.
O portão do prédio foi aberto tirando a atenção das duas garotas. Lisa deu um
último olhar à Chaeyoung e um beijo breve antes de se virar para uma Jennie
em pijamas de carneiro e cara amassada de sono.
- O que estão fazendo aqui? O voo é daqui...
- Eu não tenho tempo para explicar, mas a Chaeyoung vai. - Lisa a cortou
correndo até o porta malas do carro e tirando as malas de lá de dentro. - Eu
preciso ir, volte com Chaeyoung à New York e tome conta dela enquanto eu
não estiver por perto, Jennie. - incitou entregando uma mochila à Chaeyoung
e as outras três para Jennie.
- Ela sabe que pode. - a morena forçou um sorriso e beijou o topo da cabeça
da namorada. - Até em breve. Eu amo você.
As coisas não seriam fáceis, tinha plena certeza agora. Os problemas estavam
apenas começando e Chaeyoung sabia disso, mas sabia também que lutaria
contra qualquer mal para ter Lisa ao seu lado.
A pergunta que não quer calar
E Lisa? Lutaria também?
_________
20
Momo: '-'
Momo: QUEISSO?????????????????????????Momo: ESPERA!!! Vocês estão
transando na faculdade?
Jisoo K: ...
Jen: ...
Jen: Esse nem é o assunto. O que houve, Lisa?
Momo: É, o que houve, Lisa? *irônica*
Jen: Lisa, cê tá bem? Já faz três dias e você não deu nenhuma notícia nesse
meio tempo.
Momo: Por falar na Virgem Maria, por que ela não tá aqui?
Jen: Lisa?
Momo: Afffffff
Jen: Tadinha da Dan, conversei com ela esses dias, espero que seu pai mude
de ideia logo.
Me: GENTE
Me: O tópico não é esse. Como vocês sabem, dia nove é o aniversário de
Chaeyoung e eu preciso da ajuda de vocês com um presente.
Momo : É CLARO que você precisa da nossa ajuda. Eu sabia que isso
aconteceria, sou sempre usada u-u
Momo: Quê?
Me: Não. Claro que não, idiota. Eu andei pesquisando alguns bailes que vão
ter neste mesmo dia, infelizmente não é a época, óbvio, mas teremos um
Sadie Hawkins no colégio U.N.H.S. na mesma noite! Incrível, certo??
Jen: Mas antes, você disse sobre ser a primeira parte da noite...? O que seria
a segunda?
[...]
A morena sentiu uma ponta de emoção transcorrer em seu corpo. Talvez fosse
alegria? Afinal, era seu sobrinho lá dentro, seu próprio sangue.
- Desculpe não tê-la visitado ontem, mamãe precisava de alguém para
conversar. – disse fitando os olhos sem emoção de sua irmã. – Como você
está?
- Tem momentos em que sinto que tudo vai ficar bem, que vou passar por isso
e criar meu filho como ele merece, com um lar de verdade. – suspirou. –
Então o medo toma conta de mim e eu penso: Como uma garota de dezessete
anos vai criar uma criança? E a minha vida? – Lisa sentiu um aperto no peito
quando os olhos da irmã marejaram e as lágrimas começaram a rolar
impiedosamente pela face da garota. – Eu tinha uma vida perfeita. Não era
líder de torcida, mas namorava o jogador de futebol e tinha um bom status no
colégio. E a faculdade parece um sonho distante agora.
- Hey! O que é isso? Onde está a garota que enfrentou a fera? – Lisa passou o
braço pelo ombro da irmã juntando seus corpos. – Você não precisa ingressar
na faculdade logo que termina o colégio, isso é coisa da cabeça de pessoas
como nosso pai. Em Columbia tem uma mulher de 38 anos cursando
psicologia, acredita? – Daniela a olhou surpresa, as lágrimas ainda se faziam
presente no rosto delicado. – Ter um filho é uma benção, Dan. Sei que não é a
hora certa, mas aconteceu e não adianta chorar pelo que aconteceu porque o
tempo não vai voltar. – deu um beijo na têmpora da irmã e recebeu um
pequeno sorriso em resposta. – Agora você precisa focar em sua família,
depois pode continuar sua vida quando parar de amamentar e arrumar uma
babá.
Uma brisa gelada tomou as duas irmãs que se encontravam abraçadas num
momento íntimo e emocional para ambas. Lisa tirou o sobretudo marrom que
usava e o estendeu nas costas de Daniela voltando a abraçá-la.
- Ah, e ele é. Sei disso agora mais do que nunca. – Lisa confessou e sentiu o
celular vibrar, era uma mensagem de Chaeyoung. – Talvez não pareça, mas eu
estou assustada com tudo isso. Não consigo me importar tanto com mamãe e
muito menos com nosso pai, mas você e Paul sempre serão a minha
prioridade, e tenho medo de não estar por perto ás vezes...
- Deixe de bobagem. Você tem sido a melhor irmã do mundo – Daniela deitou
a cabeça no ombro da morena brincando com os próprios dedos. – Tenho
certeza que você e Chaeyoung vão ser tias babonas que não param de mimar
meu filho com brinquedos.
Lisa riu divertida com o pensamento. Não seria nada mal imaginá-la
chegando na casa de Daniela com Chaeyoung ao seu lado, ambas de mãos
dadas e um presente enorme para o menino ou menina. Sim, com certeza
Chaeyoung compraria seu primeiro pianinho ou bateria, era mesmo a cara
dela.
- No começo sim, acho que agora ela está mais conformada. – lembrou-se da
conversa que teve com a namorada noite passada,
Chaeyoung disse que esperava algo assim e que só tinha sido uma surpresa
ouvir com todas as palavras. Por que ela tinha que ser tão boa? Ela não
poderia simplesmente gritar e dizer que Marco foi uma terrível pessoa e que
era tudo culpa de Lisa tê-la levado até lá? A morena não se sentiria tão
miserável.
– Mas ela sabe que você gostou muito dela, acho que vocês duas formam uma
dupla imbatível.
Foi à vez de Daniela rir alto e se desvencilhar dos braços da irmã com um
enorme sorriso no rosto.
- Ela é ótima, Lisa. – disse alegre, ás lágrimas já haviam cessado. – Você tem
mesmo muita sorte, não deixe que nada atrapalhe seu caminho... Se quiser, eu
posso gritar por você com nosso pai quando for contar a ele.
E o sorriso morreu. Lisa sentiu o peso do mundo nas costas mais uma vez ao
pensar na hipótese de contar ao pai sobre seu namoro com uma garota
estudante de música. Ela não estava grávida, o que não o impedia de dar-lhe
uma boa surra ainda mais forte, mas o que mais a assustava eram as palavras
que sairiam da boca de seu próprio pai.
- Por que sempre que toco nesse assunto sua expressão muda? – Daniela
interrompeu sua tortura pessoal. Lisa tinha uma expressão digna de pena. –
Lisa? Lalisa, não se atreva a machucar Chaeyoung!
Às vezes ter uma irmã que saiba ler você tão bem é uma merda. Daniela era
capaz de interpretar cada linha em sua expressão sem que palavras
precisassem ser ditas.
- Não! – só a ideia de deixar Chaeyoung a deixava com falta de ar. Sua mente
correu automaticamente para o dia em que deixou Chaeyoung na casa de
Jennie, se lembrava de chegar em casa e discutir com seus pais sobre Daniela.
À noite, quando todos estavam dormindo, trancou-se no escritório e tomou
sozinha um litro de Uísque de seu pai. Ela ficou bêbada e chorou o resto da
madrugada inteira no chão. – Chaeyoung é preciosa demais, Daniela. Eu
prometi que nunca mais deixaria nosso pai faltar ao respeito com ela e
pretendo cumprir. – malditas lágrimas que insistiram em descer, só a deixava
mais vulnerável. Daniela continuou a observando, esperando que
continuasse. – No começo tudo foi tão mágico. Havia a música, o sentimento
sendo descoberto, o desejo incontrolável de ter aquela garota só para mim. –
permitiu-se rir com as lembranças que a invadiram em forma de tortura. –
Mas em algum momento precisamos voltar à vida real e ela parece terrível
demais para nós duas agora. Isso não quer dizer que vou deixa-la, Deus... Só
de pensar nisso já sinto meu peito apertar. – enfiou a cabeça entre as mãos
espantando todos os pensamentos ruins para longe. – Eu só não sei mais o
que fazer.
- Por que você não conversa com ela sobre isso? Vocês se dão tão bem, duvido
que ela não entenda seu lado...
Daniela abraçou seu corpo com força e sua angústia só aumentou. As lágrimas
agora não paravam de rolar, seu rosto já estava encharcado com a dor da
possibilidade de perder Chaeyoung no final.
- Vocês vão encontrar um jeito de sair dessa, eu sei que vão. – a menina disse
com a inocência de quem está tentando ser positiva no meio de uma
tempestade.
- Às vezes eu sinto que o amor não é o suficiente. – dizer isso foi como
esmagar seu coração, mas precisava desabafar naquele momento de qualquer
forma. – Eu vou lutar por Chaeyoung, disso eu não tenho dúvidas. Vou lutar
por cada sorriso, cada beijo, cada jura de amor que possamos trocar... E
enquanto isso for o suficiente, não vou sair do lado dela.
- E depois disso?
- Eu não sei.
♫♫♫♫♫
Ela me odiava? Não acho que chegue a ser ódio, essa palavra é muito forte e
não se encaixa em Irene que tem se mostrado uma boa pessoa desde o inicio
das aulas; o problema em pauta era meu namoro com Lisa. Nós não
conversamos depois da festa na casa de Jisoo, talvez porque em meus
momentos livres eu sempre estava acompanhada de Jennie e Jisoo, e nos dias
de estágio de Lisa nós ficávamos grudadas nos intervalos, então não é como se
houvesse tempo para um diálogo, mas hoje eu sabia que ela queria algo de
mim e eu rezei mentalmente para não ganhar um olho roxo logo no meu
aniversário. Lalisa enlouqueceria e um assassinato poderia acontecer.
Por falar em Lisa, eu sinto sua falta. Temos conversado todos esses cinco dias
por telefone e mensagens de texto, mas nunca é o suficiente.
Sinto falta dos braços em volta de mim quase como uma jaula protetora, dos
beijos carinhosos que sempre recebia sem motivo algum; dos bicos infantis
que ela fazia quando estava manhosa; de suas mãos ágeis apertando minha
cintura e provocando sensações que eu só poderia sentir com ela.
Não eram borboletas que eu sentia quando estava ao lado dela, eram dragões
travando batalhas intermináveis não só em minha barriga, mas em todo o
corpo. E eu não estremecia quando suas mãos gentis me acariciavam, o termo
correto seria entrar em erupção.
Eu tenho visto o amor dos meus pais ao longo dos anos, sempre me
perguntando se nos dias atuais ainda havia amantes que também fossem
amigos e companheiros acima de qualquer coisa, e eu definitivamente poderia
dizer que Lisa era minha melhor amiga.
Não sabíamos na hora, mas ela teria uma grande importância em minha vida
daquele dia em diante. Até esse ponto, éramos duas amigas que acabaram de
se conhecer; brincando e nos tocando sem medo nenhum do mundo lá fora.
Às vezes isso pode ser sufocante, sabe? Se imaginar tão entregue a alguém,
entregar-se de corpo e alma esperando que a outra pessoa também se sinta da
mesma maneira.
Seria um crime querê-la por perto todo o tempo? Sentir-me orgulhosa em
mostrar ao mundo que aquela criatura perfeita era minha garota e apenas
minha? Porque se fosse, eu estaria condenada para sempre.
Quando a aula finalmente terminou, tudo o que fiz foi recolher meus livros
rapidamente e colocar os fones de ouvido para fugir dali o mais rápido
possível atrás de algum rosto conhecido que pudesse parar Irene caso ela
decidisse me atacar no meio do corredor.
Rolei meus olhos pelo refeitório atrás de Jennie e quando não a encontrei,
resolvi ceder ao pedido e tirar os fones de ouvido engolindo em seco.
Ela me olhou por alguns instantes como se pensasse no que dizer, eu vi agonia
em seus olhos cor de mel.
- Eu... Eu queria te dar feliz aniversário. – um sorriso inseguro nasceu em
seus lábios e eu fui pega de surpresa por suas palavras. – Não temos
conversado muito ultimamente, você está sempre ocupada e eu também, mas
não poderia deixar o dia de hoje passar em branco. Então... Feliz aniversário.
- Teremos muito tempo juntas ainda, mas obrigada por lembrar. – sorri.
- Eu também senti falta das suas teorias malucas sobre o mundo moderno. –
ela sorriu e eu a acompanhei quando nos separamos. – Não vai ter festa?
Podemos fazer algo lá em casa e chamar o pessoal...
- Na verdade meus pais vão fazer um jantar em casa. Eu não queria nada, mas
eles insistiram em convidar Jisoo, Jennie e Momo com a desculpa de que
preciso me socializar mais. – estalei a língua e balancei a cabeça me
lembrando das palavras de minha mãe.
Irene franziu o cenho e coçou a cabeça curiosa, eu sabia o que isso queria
dizer, sabia o motivo da sua confusão e também sabia que aquele seria um
assunto desconfortável entre nós se ela fizesse a pergunta de ouro. E ela fez.
- E Lisa? – soou naturalmente como se não tivesse dado em cima da minha
namorada por um bom tempo. Não que eu seja ciumenta. Longe disso.
Minha reposta saiu mais triste do que eu queria mostrar. O que eu poderia
fazer se a falta que sentia dela estava me torturando?
Hoje de manhã ouvi meu pai comentar com minha mãe que daqui alguns dias
vai precisar manter Lisa amarrada em nossa casa para manter meu bom
humor, e talvez ele estivesse certo.
Senti meu ego inflar. Não vamos nos fazer de inocentes aqui, não sou uma
pessoa daquelas que chamam atenção por onde passa; não gosto da minha
sobrancelha ; acho meus olhos muito pequenos. Em que mundo uma garota
como Lalisa Manoban se sentiria atraída por um ser mortal como eu? Então
não me culpe por sorrir igual idiota quando pensava sobre o assunto.
- Eu sei que não! Me desculpe se a fiz pensar isso – ela se desesperou tocando
meu ombro. - Não foi o que eu quis dizer. Eu apenas senti meu ego abalado
quando ela escolheu alguém que não fosse eu, é uma reação natural minha.
- É claro que não. Ela já estava na sua desde o começo. – ela suspirou vencida.
– Vocês formam um belo casal, até. Lisa te protege como uma leoa.
E dito isso, deu uma piscadela e saiu andando na direção oposta. Fechei meus
olhos e soltei o ar que vinha prendendo.
As coisas estavam saindo dos trilhos desde Los Angeles; existia esse medo lá
no fundo que não me permitia raciocinar direito quanto ao que fazer em
relação a cada problema.
E mais uma vez, meus pensamentos foram direcionados sobre o que vinha
acontecendo com meu pai, algo que eu havia fechados os olhos.
_______
21
Já não nevava mais, então as roupas de frio foram finalmente substituídas por
shorts e camisetas; eu me sentia livre longe de todo aquele peso extra, mas
ainda sim triste pela despedida dos flocos de neve.
Meus pais estavam agindo estranho durante todo o dia desde que cheguei da
faculdade e eu não entendia bem o porquê. Assim que cheguei, notei que a
casa não estava arrumada para receber visitas e minha mãe não tinha feito
nada para a janta. Estranho. Será que pediriam a comida? Ou sairíamos todos
para jantar como um presente? Bom, a pergunta rondou minha cabeça
durante todo o tempo em que os assisti conversarem aos murmúrios pelos
cantos da casa.
No final do dia, minha mãe sentou toda sorridente ao meu lado no sofá e me
estendeu um embrulho amarelo. Era um Ipad. É claro que a abracei e disse
que não precisava, eu sabia que não tínhamos condições de gastar com
marcas como Apple, mas é claro que me mostrei totalmente feliz com o
presente, e eu realmente estava.
Algumas horas depois, a campainha tocou e minha mãe foi atender. Não
precisei levantar para saber que eram Jennie, Jisoo e Momo com todo o
alvoroço de fizeram com apitos e chapéus de aniversário nas festas infantis. O
que eu tinha feito para merecer as três melhores amigas do mundo? Com
certeza eu tiraria uma foto e mandaria para Lisa, ela gostaria de dar boas
risadas com as amigas que tínhamos.
Aproveitando que as meninas foram para a cozinha com minha mãe, papai se
aproximou de mim com aquele mesmo olhar de orgulho que me fazia sentir
especial.
- Eu deveria me sentir especial quando fizesse dezoito, agora apenas sinto que
estou caminhando direto à terceira idade. – brinquei e ele riu divertido.
- A maioria das garotas da sua idade estaria em uma balada, você sabe.
E ele me abraçou mais forte como se dissesse que se orgulhava de mim por
ser diferente.
- Aqui, eu queria lhe entregar isso. – tirou algo do bolso, estava enrolada em
um pano fino de seda na cor roxa.
Quando ele tentou me entregar, de alguma forma, o objeto caiu em seu colo e
eu notei que ele tinha perdido a coordenação naquele momento. Fiquei tensa
sentindo meu coração bater forte no peito, isso não poderia estar
acontecendo.
Mas como se nada tivesse acontecido, ele pegou o objeto outra vez e me
entregou forçando um sorriso.
– Era de sua tataravó. Ignorei o sentimento ruim de ver o que, aos poucos,
estava acontecendo com meu pai, e desenrolei o pano até encontrar um colar
de madeira envernizada com o formato de plaquinha; nele havia uma
inscrição que eu já tinha lido em algum livro que não me recordava no
momento. - Eu tenho muito orgulho de você, Chaeyoung. Quando eu
abandonei a música, sabia que seria por um motivo muito maior que eu. Você
sempre vai valer a pena. – ele explicou passando o dedo pelo colar. – É uma
tradição passar esse colar ao filho mais velho, e eu acho que você já está
madura o suficiente para recebê-lo.
- Essa é a magia do colar, meu amor. – ele disse de uma maneira tranquila, e
de certa forma, aquelas palavras me acalmaram. – Você descobre na hora
certa.
- Espere aqui, ok? Vamos buscar seu presente. – disse Jennie saltando da
mesa em pulinhos com Jisoo e Momo em seu encalce.
Olhei para os meus pais com uma cara desconfiada e minha mãe deu de
ombros enquanto meu pai ignorou meu olhar mortal.
- Sei que estão envolvidos nisso também. – acusei cruzando os braços, então
mudei a pose quando um pensamento me invadiu. – Elas foram buscar Lisa?
Ela está escondida no armário?
- Você vai gostar da surpresa. Elas são suas melhores amigas, não errariam. –
o comentário veio de minha mãe, eu podia jurar que vi um olhar cheio de
significados que não pude decifrar.
Abri a boca para responder, mas fui interrompida quando Momo adentrou a
cozinha eufórica agarrando meu pulso.
- Desculpe atrapalhar, mas sua carruagem logo estará aqui. Temos pouco
tempo.
Carruagem? Oi? Fui praticamente arrastada escada acima até meu quarto.
Quando entramos, meu queixo caiu e minha boca fez um O perfeito. Jennie
segurava um vestido de alça azul escuro, um dos mais lindos que eu já tinha
visto. O decote era em V e longo com uma fenda até a coxa. Jisoo tinha em
mãos uma enorme caixa de maquiagem e na outra um par de saltos prata.
Dei um passo para trás e abri a boca diversas vezes em confusão. Momo
revirou os olhos e me puxou até a cadeira da minha escrivaninha que tinham
colocado no meio do quarto.
- O que vocês estão fazendo? Por que tudo isso? Vamos a uma festa? –
perguntei tudo de uma vez as fazendo rir.
- Mais ou menos. Tem esse baile Sadie Hawkins no colégio U.N.H.S. e como
você nunca foi... – Jennie nem mesmo teve tempo de terminar sua fala, eu
soltei um grito e tapei a boca com as mãos.
- Desculpe, mas você não parava de rodar igual uma cadela atrás do rabo.
Fechei a cara sendo obrigada a sentar na cadeira antes que recuperasse meu
celular. Eu só queria compartilhar com minha namorada o que nossas amigas
estavam fazendo por mim, tinha certeza de que ela ficaria muito feliz e diria
que gostaria de estar aqui para me acompanhar.
Ir a um baile tinha sido um dos meus sonhos de adolescente que não pude
realizar quando meu pai ficou doente. De qualquer forma, eu não era
assumida na época do colégio e não me sentiria bem se aparecesse com um
garoto como meu par, seria como ser algo que eu não era e isso seria uma
afronta contra todos os meus princípios.
- Você pode falar com ela depois, temos que arrumar você antes.
Levou cerca de três horas para estarmos todas arrumadas. Jisoo conectou o
pendrive no som, claro que a playlist inteira era da Beyoncé então meu quarto
se transformou em uma baderna. Minha mãe também subiu para ajudar a nos
arrumar e até mesmo Ella entrou na festinha particular. Eu me diverti como
nunca com aquelas garotas, seria meu primeiro aniversário com elas,
geralmente minhas festinhas de aniversário era com meus primos, eu não
gostava de chamar os colegas na época do colégio. Não imaginei que Momo
seria uma dessas pessoas na minha vida, ela com todo esse jeito marrento,
mas que me defendeu daquela menina em Columbia.
Quando o som foi finalmente desligado, corri para o espelho e não pude
conter um suspiro surpreso com o resultado. Eu estava linda. Me senti como
se realmente estivesse indo ao meu baile de formatura. Segurei o choro
porque ali não era o momento para lágrimas, eu estava feliz e era isso que
importava.
- Não tive a oportunidade de ver minha menina ir ao... Ao... – ele uniu as
sobrancelhas em confusão e meu corpo enrijeceu. De novo não. Todas nós
olhamos em expectativa para ele, esperando que a palavra viesse. Ela não
veio. - Ao baile. – finalizei com os dentes trincados.
A sensação de estar perdendo meu pai de novo para a doença fez toda a
felicidade que até então tinha me consumido se esvair. Primeiro as dores,
depois a falta de coordenação e agora o esquecimento de palavras. Todos os
malditos sintomas.
Jennie segurou meu braço em sinal de conforto quando eu abaixei a cabeça
apertando os punhos com força.
Fechei os olhos me forçando a não chorar. Droga, pai. Por que as coisas não
poderiam ser mais fáceis? Por que aquela maldita doença tinha que começar a
se manifestar outra vez como um demônio atormentando sua vítima?
- Você pode atender, Chae? Eu preciso falar com seus pais sem você ouvir
sobre o presente que vou comprar o ano que vem.
Cerrei os olhos para as meninas que me deram olhares de anjos inocentes.
Elas achavam que poderiam me enganar, mas eu sabia que tinha algo de
muito errado acontecendo, com certeza teriam convidado meus primos para
uma festa surpresa e me arrumado para que eu me sentisse especial.
Tudo porque a imagem que tive me fez dar dois passos para trás e levar uma
mão ao coração. Meus olhos estavam tentando saltar para fora, assim como
meu coração que batia forte no peito.
- O quão errado seria uma garota não ir ao baile de formatura? – ela disse
com aquele sorrisinho ainda estampado no rosto.
Tentei dizer alguma coisa, mas o meu coração estava dizendo por si mesmo
batendo tão rápido que poderia ser ouvido da casa dos McCoy. Lalisa estava
ali na minha porta, a minha Lisa. Minha namorada. Eu poderia desmaiar com
aquela surpresa, minhas pernas estavam fracas o suficiente para isso. - Park
Chaeyoung - ela continuou quando viu que eu não diria nada. – você aceita ir
ao baile comigo?
Eu estava tremendo, sim eu estava. Vê-la foi como um aviso de que eu tinha a
pessoa mais linda, fiel e maravilhosa do mundo em minha vida. Se eu tinha
orgulho dela? Tente ter sua namorada organizando uma surpresa como essa
no dia do seu aniversário e tenha sua resposta.
- Eu... Lalisa? Lalisa... Eu vou matar você. – minhas palavras saíram com
dificuldade, mas claras o suficiente para que ela jogasse a cabeça para trás
dando aquela risada perfeita que me fazia querer rir junto.
- Essa não é bem a resposta que eu esperava. – ela disse arqueando uma
sobrancelha e se aproximando mais. O cheiro amadeirado dela me fez
suspirar e ver que ela realmente estava ali, não era um sonho. – E então
minha Oompa Loompa, você aceita ir ao baile comigo?
- Eu preciso registrar esse momento, venham até aqui. – ouvi meu pai da sala
quando nos separamos.
Lisa segurou delicadamente meu rosto com uma mão e beijou meus lábios
sutilmente. Ela sorriu maliciosa e pegou meu braço esquerdo para colocar o
corsage que combinou perfeitamente com o vestido. Humpf! Eu estava
irrevogavelmente apaixonada por Lisa. Não tinha mais volta, uma vez que ela
te hipnotiza com os olhos e aquele jeito sedutor, a prisão é perpétua.
Jennie deu de ombros, Jisoo apenas riu e Momo deu sua famosa gargalhada.
Lisa passou o braço pela minha cintura e com a outra segurou minha mão.
Meu pai tirou uma foto nossa sorrindo para a câmera e outra dando um
selinho, o que me fez corar porque ainda não tinha me acostumado beijar Lisa
na frente dos meus pais.
- Odeio interromper, mas como sou a única que tem a cara de pau,
precisamos ir. – disse Momo já caminhando até a porta com as meninas.
- Obrigada mais uma vez Mark e Diana, saibam que cuidarei muito bem dessa
garota. – minha namorada piscou para eles.
Nós todos nos abraçamos mais uma vez e fomos para fora de casa onde se
encontrava o Jeep amarelo de Jisoo e o Dodge, que para a minha surpresa
estava sem a capota, de Lisa.
Lisa me olhou com todo o amor que ela tinha, eu podia ver o carinho
escorrendo em seus olhos e a beijei rapidamente antes de também me
levantar no assento e erguer os braços para o céu escuro. Não importa quanto
tempo passe, estar com Lisa sempre seria o certo.
Seguimos por uma rua sem muito movimento, caso contrario seriamos
multadas por termos três loucas em pé nos carros. Arrisquei abrir os olhos e a
sensação de liberdade invadiu meu corpo, eu poderia me acostumar a isso, me
sentir livre de toda a responsabilidade do mundo, continuar sempre em frente
voando contra o vento.
Jisoo passou por nós buzinando com Momo e Jennie gritando como duas
loucas. Eu arrisquei gritar de volta, aquela sensação era nova para mim.
Costumava ser a garota acuada que vivia trancada na sala de música
envolvida em meus instrumentos. E agora eu estava voando. Olhei para baixo
apenas para encontrar o meu rosto favorito em todo o mundo.
Lisa não tinha mesmo noção de como era linda. Estendi a mão direita a ela
que segurou. Continuei a encarando enquanto dirigia, poderia dizer que
naquela fração de segundo eu me senti ainda mais apaixonada, com uma
corrente elétrica percorrendo desde os meus braços até meu estômago. E
quando ela sorria... Eu tinha vontade de chorar.
- Ninguém aqui nos conhece mesmo, então que se dane. – ela sorriu de uma
forma graciosa e apertou sua mão na minha. – E a propósito, você está linda.
As meninas estavam um pouco mais a frente chutando alguns balões e rindo
como se estivessem bêbadas. O tema do baile era o inverno, então a quadra
toda foi tomada por isopor representando a neve e esculturas artificiais de
gelo. Uma banda local tocava no palco e os estudantes dançavam animados
com seus pares; vi alguns garotos tentando batizar o ponche e comecei a rir
achando graça de tudo aquilo. Jisoo puxou Jennie para o meio da pista de
dança, e Jennie puxou Momo pelo pulso, as três deram as mãos e começaram
a dançar em círculo como loucas. Já eu estava entorpecida demais para me
movimentar, observando uma garota chorar na escada, provavelmente por
causa de seu par, e algumas outras meninas tentando consolá-la; um
grupinho de garotos conversando animadamente sobre algum assunto
aleatório... Era tudo um sonho maravilhoso.
- Você está muito sexy nesse terninho. – eu disse sincera com a voz um pouco
alterada por causa da música. – Use-o sempre daqui para frente se quiser
matar sua mulher do coração.
- Eu poderia usar o que você quisesse pelo resto de nossas vidas. – sua voz
rouca preencheu meus ouvidos como uma música melodiosa. Naquele
momento senti um desejo incontrolável por aquela menina. – Me diga o que
quer que eu seja, e eu serei.
Me contive. Aproximei minha boca do seu ouvido e levei uma de minhas mãos
até sua nuca arranhando levemente sua pele.
- Acredite quando digo que estou me segurando para não levá-la ao banheiro
e tirar essa roupa do seu corpo.
- Você está ferrada, Chaeyoung. – seu tom saiu tão sério que minha
sobrancelha arqueou automaticamente.
Jisoo cortou o clima quando apareceu ao nosso lado com um copo de ponche
e um sorriso idiota nos lábios.
Ri com a cena. Quando Momo nos viu, soltou um grito animado e nos fez dar
as mãos formando agora um circulo de cinco, aberto o suficiente para
empurrar alguns estudantes que dançavam. A essa altura eu já tinha sido
contagiada pela alegria de minhas amigas, então tudo o que fiz foi começar a
girar com elas e a gritar rindo da cara de desespero de Lisa. Não me lembro de
uma época em que me senti tão feliz como agora, com aquelas pessoas
rodando no meio de uma quadra num baile que invadimos. Coisas simples.
Esse é o significado da verdadeira felicidade.
Porém, como tudo que é bom dura pouco, uma mulher alta se aproximou de
nós e tocou meu ombro com uma careta. Ao seu lado, um homem de porte
alto, cabelos grisalhos e um bigode aka Charlie Chaplin nos analisava também
com uma carranca enorme.
- Com licença, poderiam nos informar seus nomes para que possamos
verificar na lista? – a mulher nos disse tirando um papel dobrado do bolso do
vestido.
Nos entreolhamos segurando o riso, Lisa parecia ser a mais tensa ali e acho
que se devia ao fato de ela sempre ter vivido muito dentro das regras, mas eu
sabia que ela estava se divertindo tanto quanto eu.
Momo, como sempre sendo a sem vergonha, deu um passo à frente com um
sorrisinho cínico nos lábios.
- Meu apelido é Fê. Pode procurar na lista. – ela disse lançando um olhar de
soslaio para nós que já estávamos dando passos sutis para trás.
- Fê? – a mulher indagou olhando Momo como se ela tivesse brincando com
sua cara por dizer o apelido.
Não esperei que ela gritasse uma segunda vez. Segurei a mão de Lisa como se
minha vida dependesse disso e nós corremos empurrando qualquer pessoa
que estivesse no nosso caminho; é claro que meu coração estava saindo pela
boca, mas aquilo era tão divertido que eu só sabia rir acompanhada das
gargalhadas altas das meninas.
Meus pais com certeza não sabiam dessa parte da noite ou então teriam
proibido minha amizade com aquelas pessoas.
Lisa deu um salto perfeito com apenas uma mão apoiada na porta, já eu me
joguei de corpo e tudo caindo com as costas no banco e as pernas penduradas
para fora. Lisa riu tanto que quase não conseguiu dar partida no carro, mas
ela o fez quando a mulher e o homem saíram com dois seguranças atrás de
nós. Ouvi o Jeep de Jisoo cantar pneu e Jennie gritar:
- Vamos garotas.
Lisa também cantou pneu quando arrancou com o Dodge, então com muito
esforço, eu consegui me arrumar e sentar corretamente no banco. Respirei
aliviada abanando a mim mesma, parecia mais que eu tinha corrido uma
maratona.
- Essa foi a coisa mais louca que eu já fiz na minha vida. – Lisa gritou toda
sorridente, ainda estava eufórica com o que acabara de acontecer e eu a
entendia muito bem, pois meu corpo todo ainda reagia à adrenalina. – Nós
precisamos fazer isso de novo qualquer dia desses.
- Podemos fazer todas as vezes que tiver um baile, o que acha? Podemos até
ganhar a primeira página do jornal. Posso até ver a manchete: Universitárias
invadem escolas e badernam bailes de formatura.
Lisa apertou minha mão e me olhou com aqueles olhos verdes cintilantes.
- Eu te amo.
- Eu sei. – sorri.
_______
22
POV Lisa.
Chegamos ao destino final daquele presente. Eu tinha vendado os olhos de
Chaeyoung no meio do caminho para que ela não descobrisse a surpresa antes
que estivéssemos chego mesmo sob suas reclamações.
- Onde nós estamos? Sei que é no meio do mato, sinto cheiro das árvores e de
água, o que indica que tem algum rio aqui perto.
Dei uma risada sonora com a esperteza dela. Chaeyoung era uma garota
extremamente inteligente e com os extintos aguçados para coisas
importantes.
Desci do carro e dei a volta abrindo a porta para ajudá-la a sair também.
- Ok. Você acertou a primeira parte. Agora me diga, quais são os lugares desse
tipo que conhecemos? – fiz com que ela entrelaçasse seu braço no meu para
guiá-la até o destino. Ela pareceu pensar um pouco, ou sentir uma conexão
com a natureza, quem sabe? Ela poderia ter poderes mágicos e não ter me
contado.
- Tem a casa dos meus pais, mas não acho que você me levaria de volta para
lá. – ela ficou em silêncio enquanto eu a ajudava a subir os degraus da
varanda. – É uma casa no campo, então pode ser o chalé de Jisoo... Não, você
não dirigiu o suficiente para estar lá. – arqueei as sobrancelhas com a astúcia
dela. – Oh, não! – ela abriu a boca e soltou meus braços para tirar a venda. Eu
não tinha deixado, mas quando Chaeyoung quer uma coisa... – Lisa!
Eu não pude conter a risada com a expressão que Chaeyoung fez quando nos
viu paradas diante da casa abandonada de seus sonhos.
- O que? Não! Jesus, Chaeyoung. – eu ri com a ideia, meu pai com certeza ia
amar ver o tamanho do buraco na conta dele para a compra de uma casa
como aquela. – A surpresa está lá dentro.
- Ah, imaginei. Mas, sei lá... Vai que né? – ela brincou segurando minha mão.
Eu precisei soltar sua mão e me afastar alguns passos para observar a reação
que ela teria, e como sempre, foi adorável.
Chaeyoung cobriu a boca e ficou estática com o que viu. E não era de menos,
Jennie, Jisoo e Momo precisavam de uma boa recompensa pelo trabalho bem
feito.
Jennie tinha deixado seu rádio à bateria com adaptador USB perto da sacada
para que meu plano funcionasse melhor.
Olhei novamente para Chaeyoung que ainda não tinha proferido nenhum
som. Ela continuava na mesma posição, olhando tudo como se esperasse
acordar de um sonho. Então me aproximei e entrelacei meus braços em torno
de sua cintura acomodando sua cabeça em meu peito.
Chaeyoung afastou o rosto do meu peito e segurou meu rosto com as duas
mãos. Os olhos dela brilhavam apaixonadamente e o sorriso que se formou
naqueles lábios perfeitos foi o que bastou para que minha preocupação fosse
mandada embora.
- Eu não sei o que fiz para merecer alguém como você. – ela disse baixo. –
Está sempre fazendo surpresas para mim, uma surpresa superando a outra,
não sei o que dizer sobre isso tudo, só que eu te amo. – Chaeyoung sugou meu
lábio inferior e me deu um selinho.
– Você é a garota mais linda, mais perfeita, mais tudo nesse mundo. Isso, você
é tudo, Lisa.
Eu fazia tudo por ela apenas porque sentia necessidade. Não esperava algo em
troca, apenas o seu amor. Tudo o que fazia era apenas um instinto de sempre
querer vê-la sorrir. Mas Chaeyoung sempre dava um jeito de reforçar o
quanto me amava e o quanto eu era especial, e era isso que bastava.
- Eu te amo, Chaeng. – murmurei bicando seus lábios. – Agora tire estes
saltos e venha dançar comigo. Nós não tivemos tempo para uma dança lenta,
esqueceu?
Ela riu toda tímida, daquele jeitinho que me fazia querer abraçá-la e nunca
mais soltar. Eu tirei os meus saltos e esperei que ela se livrasse dos seus e da
jaqueta para acompanhá-la até a sacada onde liguei o rádio e acendi as velas.
- Tenho certeza que tem um dedo daquelas três nessa historia. – ela
comentou divertida enquanto me assistia escolher a música.
O céu estava estrelado e a noite calma, os grilos eram nossos amigos naquele
lugar, assim como as corujas, criando uma trilha sonora magnifica junto a
musica. Nos olhamos intensamente. Engraçado como aquela frase um olhar
diz mais que mil palavras fazia tanto sentido em momentos como esse. Eu
poderia me perder e o sentimento de ser encontrada era quase nulo.
Chaeyoung era minha perdição, tudo nela gritava para ser acariciado, beijado,
tratado como veludo.
- Eu me sinto como se fossemos Allie e Noah. – ela disse brincalhona.
Senti uma fisgada de culpa. Não, eu não pretendia deixá-la, mas toda a
situação sempre estaria contra Chaeyoung, e aos olhos de pessoas como meu
pai, eu seria a garota inocente que foi manipulada. Espantei esses
pensamentos para longe, não era o momento certo para eles, não hoje.
- E você não? Sempre que penso em nós, minha mente cria centenas de
imagens do futuro, então há muitos finais para nós.
- Você é uma famosa pianista em todos eles, Chae. Isso não é algo que possa
ser mudado, seu talento é indiscutível. – eu disse segura de minhas próprias
palavras. – E em todos eles eu estou lá te aplaudindo de pé, mesmo que você
não saiba da minha presença.
A apertei mais contra mim, ela entendeu o que eu quis dizer. Dançamos mais
algumas músicas animadas e cantamos para a escuridão da noite sendo
apenas duas adolescentes apaixonadas sem medo do mundo lá fora. Havia a
noite, as estrelas, alguns vagalumes que nos visitavam na sacada...nada
poderia ser mais perfeito.
Ah, não. Ponto para ela. Me senti com seis anos quando meu pássaro voou em
direção ao dela nas sombras. Nós entrelaçamos os braços como se eles
estivessem se beijando. Virei meu rosto que estava muito próximo ao dela e
lhe roubei um beijo estalado. Ela sorriu chegando mais perto, nossos rostos
agora a centímetros um do outro com as respirações se chocando. Nossos
braços abaixaram automaticamente e eu soube que era a hora certa para
roubar meu beijo de saudade que vinha aguardando durante toda a noite.
Eu precisava disso para sobreviver. Precisava da língua dela batalhando
contra a minha, explorando minha boca e me fazendo gemer contra a sua.
Chupei deliciosamente sua língua e ela arfou antes de nos separarmos. Ela
me olhou com tamanha intensidade que se eu me esforçasse mais um pouco,
poderia ver toda a sua vida bem ali, cravada em seus olhos. Não existia um
mundo lá fora, apenas Chaeyoung e seus lindos olhos cheios de vida e amor, o
meu amor.
Chaeyoung era dona de tudo o que existia em mim, era o meu despertar de
emoções, de fantasias e de sensações até então desconhecidas. Ela poderia ser
a menina mais insegura do mundo algumas vezes, mas ali, naquele momento,
quando seus dedos finos se enrolaram nos cabelos em minha nuca e seu rosto
se aproximou do meu outra vez com um olhar sensual e cheio de desejo, eu
soube.
E ai, como se por alguma força oculta, o espaço entre os nossos lábios pareceu
diminuir, depois, desaparecer. E nos beijamos. Ela levantou a mão para tocar
o canto da minha boca e eu comecei a tremer. Mas quando levantei a mão
para tocá-la, vi que tremia tanto quanto eu, e quando, depois de um
momento, movi meus dedos de seu pescoço para o alto de seus seios, ela se
retorceu e suspirou chegando mais perto.
Aquele cheiro me deixava eufórica quando estava ao seu lado, sob ela, ou
sobre ela me dando prazer.
- Faça amor comigo. – pedi quase num sussurro, deslizando meus lábios em
seu rosto. Chaeyoung fechou os olhos e suspirou, balançando a cabeça em
concordância logo em seguida. – Eu preciso tanto de você... - Me ajoelhei
delicadamente no edredom e a puxei pela mão para que imitasse meu ato.
- Quero que saiba que eu amo cada pequeno pedaço de você. - eu disse
espalmando seu rosto com minha mão direita e aplicando um beijo demorado
em seus lábios carnudos. – Amo seu rosto, sua pele, seu cheiro, cada
centímetro do seu corpo.
O vestido foi subindo com a maior delicadeza possível, ela me ajudou ainda
em silêncio sem tirar os olhos dos meus em momento algum. Seu vestido foi
esquecido em algum lugar no piso de madeira, e então ela estava apenas de
calcinha e sutiã diante de mim.
Eu me permiti admirar seu corpo seminu sem conter o suspiro. Senti o desejo
me tomar por completo observando suas coxas grossas, seu abdômen corado,
os seios feitos para mim. Eu amava a cor da pele de Chaeyoung.
Eu sabia que estava queimando seu corpo com meus olhos, e parece que
causou algum efeito em Chaeyoung que estremeceu quando meu olhar
finalmente chegou à altura dos seus.
Chaeyoung abriu o fecho do meu sutiã e passou as mãos sobre meus ombros
deixando meus seios livres. O sutiã voou para o chão e foi a vez de Chaeyoung
abaixar os olhos em direção ao meu corpo. Eu me senti corar naquele
momento, mas um tipo bom, que veio misturado ao desejo.
- Não mesmo!
- Apenas feche os olhos. – ela mandou, puxando meu rosto e colando nossos
lábios outra vez. – Eu quero brincar com você.
- Chaeyoung, você ainda não entendeu que não está na posição de mandar? -
capturei seu lábio inferior entre os meus e o chupei com vontade, arrancando-
lhe um gemido fraco. - Hoje somos nós duas...
Agarrei sua cintura fazendo-a deitar no edredom. Deixei meu corpo cair
suavemente sobre ela, pernas entrelaçadas e estômagos juntos. Chaeyoung
continuou rindo e cravou as unhas em minha nuca me provocando, ela estava
testando meus limites e se divertindo com isso.
- Desculpe, amor. É divertido ver você nervosa por mim. – ela brincou,
mordendo o lábio inferior e desabotoando o fecho do próprio sutiã. Meu
queixo caiu quando vi seus seios bem à minha frente, ansiando pelo meu
toque. Oh... – São todos seus.
Nossos peitos nus se uniram quando ela me puxou para um beijo apaixonado;
apertei meus olhos e pressionei mais nossos lábios entregando-me de corpo e
alma à ela.
Ofeguei contra sua boca precisando de ar, mas não precisando dele mais do
que precisava de Chaeyoung. Então eu rezei naquele momento, assim como
rezava com os Park quando me levavam à igreja; rezei para que aquela fosse
uma de outras centenas de noites que nos amaríamos sem medo do mundo lá
fora. Rezei para que Chaeyoung me amasse como eu a amava, porque sentir
aquilo sozinha seria sufocante demais.
Chaeyoung deslizou sua mão trêmula pela minha barriga até seus dedos
encontrarem minha calcinha. Eu estremeci e tentei dizer algo, mas ela foi
mais rápida e trocou as posições se acomodando sobre meus quadris de
propósito. Aquele sorriso.
Ela deixou os olhos arrastarem em meu corpo, me marcando como sua com
suas pupilas dilatadas, conhecendo o que era dela por direito agora. Eu engoli
em seco e meus olhos encontraram o teto quando ela deslizou a calcinha pelas
minhas pernas, sentia-me exposta diante de seus olhos selvagens. Eu sabia
que ela estava me olhando, poderia sentir seus olhos perfurando minha pele
e, naquele momento, eu pedi a quem pudesse atender esse tipo de pedido, que
eu fosse bonita. Eu estava tão envergonhada! Nunca outra pessoa me teve
assim, nunca outra pessoa sequer me olhou como Chaeyoung me olhava
agora, devorando com seus olhos o meu sexo mais do que encharcado por
ela.
Não havia um manual para isso, talvez eu tenha pesquisado isso ou aquilo,
havia também alguns vídeos bem estranhos, mas a sensação de estar fazendo,
ter o corpo arfante de Chaeyoung sobre o meu... Não! Que se danem os
artigos da internet!
- Uhum... – choraminguei.
Adorava ser manhosa com ela porque sempre ganhava mimos em troca. E
para aquele momento não havia pressa nenhuma. Beijei seu ombro nu e meus
dedos brincaram na calcinha rendada de Chaeyoung, a expectativa acelerava
meu coração.
- Posso?
- Quietinha. – murmurei.
- Nós estamos mesmo fazendo isso. – ela disse num fio de voz.
- Sim, princesa.
Ela gemeu quando minha perna encontrou sua umidade novamente, senti
meu próprio centro pulsar em desejo com o contato da minha pele com o
melado entre suas pernas. Eu queria tudo dela de uma vez. Estava eufórica e
ao mesmo tempo hesitante, mas precisava senti-la de todas as formas
possíveis e viver o sentimento de prazer que eu sabia que somente ela podia
me dar.
- Isso é tão bom. - ela sussurrou e eu trouxe minha coxa para cima
novamente. - Eu amo tanto você... – ofeguei e recebi um beijo trêmulo nos
lábios, apenas uma distração para que pudesse inverter as posições outra vez.
Bufei.
- Hum... - Ela beijou meu estômago, arrastou a língua pelos meus ossos do
quadril e pairou entre as minhas pernas com expectativa, o ar faltou em meu
pulmão.
Como em nossa noite em Los Angeles, senti meu corpo ser preenchido por
uma sensação ainda desconhecida para mim. Chaeyoung mordeu o lábio
inferior antes de fechar os lábios contra o meu clítoris, e uma onda de
excitação derramou sobre mim. Eu queria gritar e o fiz. Minhas mãos voaram
até a borda do travesseiro o apertando com força.
Chaeyoung serpenteou a língua para fora, deu uma lambida firme no meu
clitóris, e depois o sugou com força sem piedade alguma.
Oh. Meu coração disparou outra vez quando arrastei a mão pela frente de
Chaeyoung, deixando um rastro com os dedos, marcando sua pele.
Chaeyoung murmurou em expectativa e depois seus olhos se fecharam
quando meus dedos finalmente encontraram sua umidade pela segunda vez.
Um calor inexplicável atingiu meu corpo ao tocar a garota perfeita em baixo
de mim, ela tinha se tornado um tipo de droga viciante e, no meu caso, já não
havia volta.
- Você está me deixando louca, Lisa! – ela gemeu e me puxou mais contra si.
Ofeguei quando Chaeyoung chupou o lóbulo da minha orelha e continuou
gemendo daquela forma deliciosa em meu ouvido. Só aquilo estava me
levando ao limite. – Nós temos que fazer isso juntas.
Antes que eu pudesse processar o que ela tinha dito, Chaeyoung correu os
dedos através da minha umidade e eu entrei em colapso, meu mundo caiu e
eu me perdi completamente. Nós imitamos os movimentos uma da outra,
aprendendo um pouco mais sobre nossos pontos de prazer.
– Eu sou sua.
Dizem que a primeira experiência não costuma ser boa, mas a sensação de ter
Chaeyoung nua sob mim anulava qualquer tipo de pensamento. Deixei que
ela se acostumasse com a sensação do meu dedo dentro dela e ela fez o
mesmo comigo, sem nunca perder contato entre nossos olhos e nossos lábios.
Chaeyoung empurrou ainda mais e eu precisei parar o beijo por ser incapaz de
me concentrar em alguma coisa. Ela brincou com o dedo e num ato
totalmente inocente, o curvou. Naquele lugar. Por um momento eu me perdi
na sensação e gritei em prazer extremo esquecendo a dor momentaneamente.
Ela fez de novo e eu a imitei, satisfeita quando ela escondeu o rosto entre
gemidos longos e altos em meu pescoço.
Nos movemos juntas, quadris numa dança sensual, nossas mãos desocupadas
entrelaçadas ao lado de sua cabeça, testas coladas, olhos travando batalhas
para se manterem abertos e em contato um com o outro.
- Não, baby, Eu te amo, apenas continue. – ela disse e moveu o quadril contra
meus dedos, aumentando também o ritmo das estocadas contra mim.
- E você? Está com dor? – sua pergunta saiu baixa e fraca. Ela nem mesmo
estava prestando atenção no que dizia. Eu não a julgava.
- Está vindo... Oh, Lisa... – ela murmurou e mordeu meu ombro causando
uma dor prazerosa, o que foi o ápice para a minha explosão acontecer.
Apertei ainda mais nossa mão entrelaçada e deixei meu corpo cair em cima
dela tomando cuidado para não machucá-la. Eu estava respirando com
dificuldade quando senti as unhas dela cravarem nas minhas costas e um
grito sair entrecortado em sua garganta. Então tudo parou. Tirei meus dedos
de dentro dela e ela fez o mesmo.
Beijei o topo de sua cabeça e nos cobri com o edredom. A respiração dela ficou
pesada em sinal de que tinha se entregado ao sono. Olhei novamente para o
céu sem nunca abandonar a caricia nos cabelos.
– Obrigada por ser minha garota, Chaeyoung. – sussurrei para ela, para o céu
e para mim mesma.
_______
23
10 de Janeiro de 2017. – Primeiro ano da faculdade.
Quando abri meus olhos naquela manhã, meu corpo foi capaz de detectar
vários tipos de emoções ao mesmo tempo em que eu não sabia que seria capaz
de sentir.
Primeiro o desconforto dos meus olhos com o contato direto com a luz do sol
que atravessava o enorme rombo do teto. Depois uma leve ardência entre
minhas pernas, o que fez minha mente, até então sonâmbula, viajar à noite
anterior. E então sinto o formigar do meu braço esquerdo e meus olhos caem
numa cabeleira enfiada na curva do meu pescoço.
Lembrar dos nossos corpos suados em sincronia era uma espécie de troféu
que eu havia ganhado, daqueles que eu me recordaria como um dos melhores
dias da minha vida. Havia sido perfeito.
Tirei uma mecha de cabelo do rosto amassado em meu peito e a coloquei atrás
da orelha de Chaeyoung para admirar melhor seu rosto. Se antes havia algum
resíduo de dúvida sobre querer tê-la ao meu lado no futuro, essas dúvidas
estúpidas foram lançadas ao inferno a partir do momento em que ela se
entregou a mim de corpo e alma naquela noite, da mesma forma que eu
nunca pensei que me entregaria a alguém de tão livre e espontânea vontade.
Uma vez eu li que a noite é dos poetas, das putas e dos que morrem de amor.
Eu estava morrendo de amor todas as noites e nem mesmo me importava.
Meu dedo indicador passeou sobre a pele lisa e delicada daquela menina,
reconhecendo cada detalhe de seu rosto como meu maior presente.
Ela riu gostosamente contra minha pele provocando vários tipos de arrepios
pelo meu corpo. Eu não me lembrava de me sentir tão livre e feliz como
naquele momento.
Não pude conter um suspiro com a fofura daquela garota, não se parecia em
nada à garota desinibida de ontem à noite. Chaeyoung coçou os olhos
infantilmente e eu me inclinei para beijá-la, mas fui empurrada pelo ombro. -
Não se atreva! Não escovei os dentes e provavelmente estou com bafo. –
reclamou tapando a boca com uma mão.
Como eu ainda estava um pouco sonolenta, decidi desistir por ora de beijá-la
e inclinei meu corpo enfiando meu rosto no pescoço quente dela por um
momento, precisava criar a coragem necessária para levantar. Em um
movimento brusco, Chaeyoung me empurrou para o lado outra vez e deitou à
cabeça em meu peito, nós começamos a rir pela infantilidade daquele ser
adorável.
- Eu me sinto tão diferente... – disse ela com a voz abafada por ter
pressionado a boca na minha pele. Fiquei imaginando se isso seria uma
tentativa de não deixar que eu sinta o tal bafo. – Não quero parecer melosa,
mas agora eu me sinto muito mais sua mulher.
- Repete.
Nós rimos não só pela ironia em seus dizeres, mas pelos acasos que nos
fizeram ser quem somos hoje. Que nos tornaram um casal apaixonado há
moda antiga. Eu arriscaria dizer o casal mais lindo do mundo inteiro só pelo
fato de Chaeyoung ser a metade dele, pois nenhuma beleza poderia se
comparar aos traços daquela garota que só por me olhar, consegue me
arrancar suspiros apaixonados.
- Eu mal estava procurando por um amor. Por culpa de Jennie estou aqui nua
e enrolada em uma futura pianista. Recebi um tapa na costela e quase a joguei
do outro lado do quarto. - Nunca senti necessidade de sexo antes de nós -
mordi o lábio inferior imaginando que seu rosto estaria corando. – agora
quando estou com você é com se meu corpo reagisse ao seu, é uma sensação
tão boa e assustadora ao mesmo tempo, entende? Seria possível morrer de
amor? Se a resposta for positiva estou esperando minha alma deixar o meu
corpo agora.
Apertei mais seu corpo mole contra o meu e distribui vários beijos no topo de
sua cabeça.
- Você não perde tempo, Park. – ela riu com a voz abafada e levantou-se
enrolada no edredom branco.
Arqueei uma sobrancelha quando Chaeyoung parou de frente a mim com uma
careta engraçada, os cabelos totalmente desarrumados e vários chupões na
área do pescoço e clavícula.
- Nós vamos ter que usar nossas roupas do baile... – sorri maliciosa e também
me levantei enrolada no outro edredom. – Não vai ser tão difícil - peguei o
blazer do meu terno e vi o quão amarrotado estava. – Só vamos parecer duas
loucas que passaram a noite enchendo a cara e depois você se jogou em cima
de mim.
Chaeyoung abriu e fechou a boca parando de alisar o vestido nas mãos, senti
os olhos negros me fuzilarem. Já comentei o quão sexy ela fica quando trinca
o maxilar?
Ok. Quando sua namorada resolver te chamar pelo nome inteiro é porque
você deve correr e se esconder ou se jogar de joelhos e implorar perdão
mesmo que não tenha feito nada. Como eu gosto de correr riscos com o
monstrinho que tenho, fingi um sorriso amarelo e dei de ombros temendo
internamente pela minha vida.
- Foi à primeira coisa que me veio à mente, não seja perturbada.
Eu sequer olhei para ela, agarrei o edredom contra meu corpo, recolhi o resto
de roupas pelo chão, dois travesseiros e antes que Chaeyoung pudesse
arrancar minha cabeça, sai correndo em disparada para fora do quarto com
ela gritando meu nome em meu encalço. E eu? Eu apenas ria.
Chaeyoung é adorável até mesmo quando está com raiva, ou fingindo estar,
porque agora eu podia ouvir rindo quando chegamos à entrada da casa.
Como quando ela ri e sua voz ecoa por dentro de mim como uma maravilhosa
canção colocada no modo repeat em meus sonhos. Como quando ela sussurra
próximo ao meu ouvido que me ama e me agradece por fazê-la feliz. Um
hábito. Um costume de me agradecer quando na verdade sou eu quem deveria
fazer isso todos os dias. Porque Chaeyoung é o meu presente. O melhor de
todos, daqueles que dinheiro nenhum pode comprar.
Certo que eu poderia ter saltado para dentro como na noite passada, mas
quem disse que estava mesmo fugindo do meu monstrinho? Agora imagine:
Ambas enroladas em edredons, segurando várias peças de roupas nas mãos
além de dois travesseiros e Chaeyoung praticamente em cima de mim no capô
do meu carro.
- Agora que está tão próxima, poderia me dar aquele beijo apaixonado de bom
dia. – provoquei inclinando meu rosto em direção ao seu, mas ela foi mais
rápida e gritou surpresa com minha atitude. – Você não queria brincar? Volte
aqui, amor.
- Não Lisa, sério... – eu comecei a rir quando sua expressão mudou de irritada
para preocupada. – Não me faça beijá-la com bafo, por favor!
Paramos ao lado do carro nos encarando, eu rindo e ela com aquela carinha
de cachorrinho sem dono. Tem como resistir? É claro que não. Puxei seu
corpo encolhido contra o meu num abraço e respirei o cheiro de Marshmallow
que eu tanto amava.
- Vamos. Temos que tomar café da manhã antes de qualquer coisa. – eu disse
abrindo a porta do carro, destrancando a do passageiro para ela e jogando os
travesseiros e edredons no banco de trás. – Você vai ter que se trocar no carro
agora que me fez correr até aqui.
- Agora me diga como vamos aparecer assim em algum lugar? Eu acho melhor
nós voltarmos para a casa dos seus pais e tomar café por lá como pessoas
decentes. – resmunguei quando decidi jogar o blazer no banco de trás.
- Qual é a graça de voltarmos para casa? – ela disse dando os últimos retoques
nos cabelos. – Nós podemos ir ao The Village, tem poucas pessoas uma hora
dessas lá. – fiz uma careta com sua opção de café da manhã. – Vamos lá,
amor, nós estamos nos divertindo aqui. Qual é a coisa mais louca que você já
fez?
Nós estávamos como um casal de cinema dirigindo por New York, como
quando Chaeyoung começou a fuçar no porta luvas e encontrou meu Ray Ban
e, sem pensar duas vezes, o colocou no meu rosto. Ela também encontrou o
meu inseparável chapéu preto e o colocou na cabeça.
- Eu amo essa música, Lali. – ela disse fazendo bico e erguendo os braços para
cima deixando que sua mão cortasse o vento. - Please let me know that is real,
you're just too good to be true, i can't take my eyes off you
Segurei o riso diante da sua tentativa de me fazer cair de amores, ela sabia
como fazer meu coração amolecer. Eu conhecia a música, então deixei que
minha voz se juntasse à dela e a de Frankie Valli enquanto dirigia.
- Bom dia, Eli! – ela cumprimentou o senhor que nos atendeu no nosso
primeiro encontro, ao qual ela parecia muito amiga. Ele limpava uma das
mesinhas do lado de fora e sorriu ao ver a nossa pequena discussão sobre
como ela parecia ter engordado e estava machucando minha coluna. – Como
estamos hoje?
Parei em frente ao homem com uma careta de dor e ele rapidamente abriu um
sorriso puxando uma cadeira para que eu colocasse Chaeyoung sentada.
- Muito bem, Chaeyoung. Vejo que você e sua amiga também se divertiram
muito essa noite. – ele piscou para nós duas e eu me encolhi na cadeira
envergonhada enquanto Chaeyoung gargalhava. – Decidiu ceder?
- A Srta. Manoban provou que merecia meu amor. – ela contou animada, o
que fez o homem sorrir com sinceridade. – Acredita que ela pediu minha mão
aos meus pais e tudo?
Eli sorriu afetuosamente para mim fazendo uma pequena reverencia.
- É exatamente assim que se deve tratar uma mulher como Chaeyoung. Você
tem todo o meu respeito, minha jovem.
Particularmente, achei aquilo tudo tão adorável que não resisti em sorrir aos
dois cúmplices.
Chaeyoung então arrastou a cadeira até o meu lado e me abraçou pelo ombro.
Eli fez outra reverência em brincadeira e saiu para buscar nossos pedidos.
Pouco mais perto do almoço, nós decidimos passar na república para que eu
pegasse minhas roupas e escovasse os dentes, depois seguiríamos até a casa
de Chaeyoung onde passaríamos o resto da tarde.
- Não podemos esquecer o show do The 1975, eu ainda preciso comprar duas
camisetas para nós... – ela me contava animada enquanto eu abria a porta do
quarto.
Meu pai estava em pé ao lado da cama, usando seu terno cinza escuro e as
mãos no bolso da calça. Fui analisada de cima a baixo e senti meu sangue
gelar quando recebi aquele olhar cheio de fúria e reprovação. Naquele
momento eu o temi como nunca antes.
Eu sabia que não estava tudo bem, aquele olhar... Chaeyoung sabia tanto
quanto eu que a presença do meu pai não seria boa coisa, ainda mais agora
que ele me viu chegar nesse estado e com ela. Estendi meu moletom para ela
que aceitou e sussurrou um eu te amo, eu retribui com a voz fraca, baixo o
suficiente para que apenas ela ouvisse, e esperei que ela virasse o corredor
para respirar fundo e entrar no quarto.
- Estou vendo que investigar o que minha filha anda fazendo com meu
dinheiro em New York não foi uma perda de tempo. – ele disse como sempre
muito controlado, mas rude. Marco passou os olhos pelo quarto e voltou seus
olhos frios para mim. – O que está fazendo, Lalisa? Que roupas são essas?
Você passou a noite com aquela garota?
Dei um passo para trás engolindo em seco, não entendi em que sentido ele
quis dizer sobre passar a noite com Chaeyoung, mas rezei para que não fosse
o sentido em que realmente aconteceu.
- Teve uma festa... Momo e Jennie também estavam... Elas são amigas de
Chaeyoung e nós fomos juntas. – ele sabia que eu estava mentindo, estava
visível em minha voz. – Chaeyoung mora perto daqui e eu ia levá-la para
casa...
- Eu proíbo você de andar com essa garota! – ele esbravejou me afetando
intensamente. – O que as pessoas vão começar a dizer vendo você chegar com
ela assim? Vocês estão andando muito juntas e isso não é nada bom para a
sua imagem, Lalisa. Sabe o que dizem sobre estes estudantes de Juilliard... –
ele fez uma careta de nojo e meu estômago se contraiu de medo.
- Ela é uma boa pessoa, pai. Juilliard não a influenciou em nada, nós somos
muito amigas e os pais dela são pessoas de caráter...
- Eu não quero saber quem são ou deixam de ser os pais dessa garota! – sua
voz aumentou e eu soube que era o momento de recuar. – Você vai se afastar
dessa menina, está me ouvindo? – abaixei a cabeça em silêncio, o que eu
poderia dizer? Chaeyoung é a minha namorada, não é como se eu fosse me
afastar dela. – Responda!
- Mas, pai...
É claro que aquilo era uma enorme mentira, e mentir em nossa família era um
ato de traição sem tamanho, mas eu precisava tomar alguma atitude antes
que ele tentasse interferir em minha relação com Chaeyoung, e eu não queria
isso. Então o deixaria pensar que me afastaria até que ele voltasse à Los
Angeles. A expressão de meu pai suavizou um pouco e ele arrumou a gravata
do terno.
Mantive seu olhar frio apenas por estar com raiva dele, raiva por Daniela, por
mim, por Chaeyoung... Com certeza havia muita raiva e mágoa acumulada
durante anos.
Liguei o chuveiro e me livrei das roupas incomodas. A primeira coisa que fiz
antes de entrar em baixo da água quente foi mandar uma mensagem para
Chaeyoung avisando que não poderia vê-la hoje, pois teria compromisso com
meu pai. Algo no meu interior me dizia que aquela seria uma longa noite.
♫♫♫♫♫
- Sabe que pode nos contar tudo, não sabe? – ela começou vendo o olhar
preocupado que Chaeyoung lançava ao celular a cada cinco minutos.
- Ontem à noite... – respirou fundo e levou uma das mãos ao rosto para que
ninguém mais no restaurante pudesse ler seus lábios. Nunca se sabe quando
um agente do FBI pode estar atrás de você. – Lisa e eu fizemos amor...
- O que? – perguntou Jennie, ela não tinha ouvido de tão baixa que a voz de
Chaeyoung saiu. A mais nova revirou os olhos e elevou o tom de voz.
Jisoo prendeu o riso e cutucou Momo para que ela parasse com a risada
escandalosa.
- E só agora você decide nos contar? Como foi? Eu quero detalhes. – pediu
Jisoo toda animada.
- Foi normal, gente. Não estava nos planos da noite, mas aconteceu...
- O que querem que eu diga? Que eu a chupei? Que nós usamos dois dedos? –
disse o mais baixo possível sentindo seu rosto esquentar.
- VOCÊ CHUPOU ELA? QUE NOJO, PUTA QUE PARIU! GARÇOM A
CONTA, POR FAVOR, PORQUE JÁ TÔ IMAGINANDO UMA VAGINA
NESSE CANAPÉ!
Sim, essa foi Momo. Jennie, Jisoo e Chaeyoung largaram o dinheiro em cima
da mesa e saíram às pressas do estabelecimento deixando Momo sozinha.
Elas estavam rindo e Chaeyoung agradeceu que elas pudessem fazê-la sorrir
até mesmo em situações como essa.
Pouco tempo depois, Momo saiu xingando pela porta e as quatro garotas
entraram no Jeep de Jisoo.
- Enfim, você e Lisa tiveram uma noite de amor e pela sua cara ela é horrível
de cama. – Jennie retomou o assunto, ela estava no banco do passageiro.
- Ele foi ignorante com você? – Jisoo perguntou. Chaeyoung negou com a
cabeça e encarou o celular à espera de uma mensagem.
- Não, apenas pediu licença e fui embora.
Ela viu a preocupação nos olhos da namorada. Até mesmo Lisa estava
assustada com a presença do pai, porque Chaeyoung não ficaria?
- Tem uma garota na minha escola, ela se chama Natalie, hoje ela disse que é
errado meninas ficarem com meninas. – o coração de Chaeyoung se apertou,
ela não queria que Ella presenciasse ou vivesse com aquilo. – Então eu disse
que é mentira, porque minha irmã namora uma menina muito legal e que
sempre me compra presentes legais.
Uma lágrima escorreu sem permissão. Chaeyoung tratou de limpar, mas Ella
foi mais rápida e segurou o rosto da irmã com as duas mãos quando a viu
limpar o rosto.
- Por que está chorando, Chae? Eu defendi você e a Lisa, e sempre vou fazer
isso, tá? Natalie não vai mais falar de vocês duas.
- Estou chorando porque o mundo às vezes não é legal, Ella. Algumas pessoas
não entendem que o amor verdadeiro não precisa ser apenas entre um
menino e uma menina.
Chaeyoung riu entre as lágrimas. Sim, era algo tão simples para uma criança,
mas que os adultos faziam questão de complicar usando a ignorância para
justificar o que não conhecem.
- É simples, Ella. Mas apenas pessoas inteligentes como nós podem ver isso,
entende?
Chaeyoung decidiu verificar o celular que tinha deixado de lado desde que
tinha se juntado à Ella, e levou um soco no estômago quando leu a
mensagem.
Lali: Mee pedoe eu am vce mt
Perdoar? Perdoar pelo quê? Ela não entendeu a mensagem e teve medo que
Marco estivesse envolvido nisso. Decidiu ficar mais um pouco sentada na
varanda e enviou uma mensagem perguntando se estava tudo bem, mas não
foi preciso esperar a resposta, logo os faróis do Dodge iluminaram a noite
escura e algo no peito de Chaeyoung se apertou. Lisa estacionou o carro de
qualquer jeito e ao abrir a porta, acabou vomitando do lado de fora.
Chaeyoung praticamente saltou do banco e correu até a namorada, que para a
sua surpresa, estava completamente bêbada.
- Lisa, eu não posso acreditar que você dirigiu bêbada até aqui! – exclamou
nervosa passando as mãos pelo cabelo e ajudando a namorada a descer do
carro.
Chaeyoung abriu a porta da sala e deu graças a Deus pelos pais terem ido
dormir. Lisa cantarolava uma música aleatória e Chaeyoung precisou tapar a
boca dela para subir sem acordar a casa toda.
Lisa reclamou sobre as pernas e se jogou de barriga para cima na cama, estava
mole, ainda chorava sem motivos aparentes e dizia coisas desconexas.
Chaeyoung não entendeu o que ela quis dizer, mas sabia que não teriam uma
conversa clara com a garota bêbada.
- Sabe por que você me merece? – perguntou com um sorriso terno nos lábios
ao tirar o sutiã e a calcinha da namorada. Precisou ignorar seu corpo em
alerta ao ver Lisa nua. – Porque você me faz feliz, bebê. – a ajudou a se
levantar e caminhou com a garota triste até o banheiro.
Foi difícil dar banho em Lisa que insistia em ficar abraçada com Chaeyoung
como um coala. No final do banho, ambas estavam molhadas, e Chae precisou
trocar de roupa também.
Chaeyoung ajudou Lisa a sentar na cama. Ela agora chorava em silêncio com
os olhos perdidos, os tons castanhos que costumavam brilhar intensamente
agora eram vazios, sem vida.
Chaeyoung correu até o guarda roupa e pegou uma calcinha boxer e o
moletom de Columbia que agora a pertencia. Com todo o cuidado do mundo,
ela trocou a namorada e deixou o um beijo carinhoso em sua testa.
- Não quero mais você dizendo coisas como as que acabou de me dizer,
entendeu? – disse suavemente, mas com um pouco de mágoa. – Eu que não
mereço uma pessoa perfeita como você. Ou já se esqueceu de que é você quem
me faz essas surpresas dignas de um filme de romance?
Lisa deitou a cabeça no travesseiro macio e foi coberta pela namorada, que
depois de se arrumar, deu a volta na cama e deitou-se em frente a ela.
- Você não tem ideia do quão linda é, meu amor. – disse Chaeyoung afagando
os cabelos da namorada. – Eu não sei o que aconteceu hoje, e vou deixar que
me conte amanhã, tudo bem? Apenas durma agora, você merece um descanso
depois de um dia cheio. – Lisa suspirou frustrada, os olhos sem brilho mal
paravam abertos. – Eu vou estar aqui quando acordar.
- Me desculpe, Chaeng...
Naquele momento, Chaeyoung soube que não importava o que Lisa havia
feito, ela a amava demais para não perdoá-la.
Sobre o show do The 1975
Elas nunca foram.
________
24
A primeira coisa que viu assim que seus olhos se acostumaram com a
claridade, foi a silhueta de sua namorada sentada no chão ao lado da cama
abraçando as pernas flexionadas e o queixo apoiado no joelho.
Chaeyoung ficou surpresa por sua mãe saber que passaram a noite juntas em
seu quarto. Lisa ainda usava o moletom de Columbia e a calcinha boxer que a
deixava com um ar quase infantil apesar do rosto cansado e as visíveis
olheiras.
Lalisa concordou e a mais nova saltou da cama correndo até o banheiro com
um pouco de dificuldade devido ao sono. Tinha passado quase toda a
madrugada zelando o sono de sua amada, vindo a cair no sono pouco antes do
amanhecer. Não levou nem meia hora e já tinha tomado um rápido banho e
escovado os dentes. Lisa agora estava sentada na cama com as costas
apoiadas na cabeceira vasculhando algo em seu celular, Chaeyoung a imitou e
em seguida puxou a namorada para um beijo terno, apenas para matar a
saudade daqueles lábios deliciosos.
- Amor... Hey! Está mesmo se desculpando por isso? Eu queria matar você,
mas por ter dirigido bêbada. Sabe o quanto é perigoso, Lisa? Você é a minha
namorada, minha função é cuidar de você. Que tipo de esposa vou ser daqui a
dez anos se não cuidar da minha bolinha branca?
Os olhos castanhos brilharam e foi o que bastou para Chaeyoung sorrir
timidamente.
- Você vai ser minha esposa? - a voz de Lisa quebrou o coração de Chaeyoung,
quase como se não pudesse acreditar em suas palavras. - Eu não mereço você,
Chaeyoung...
Lalisa suspirou alto, seus olhos já estavam cheios de lágrimas antes mesmo de
começar a contar. O evento era, na verdade, na casa de um dos associados de
Marco Manoban. O lugar estava cheio de advogados com suas esposas e
filhos, todos muito bem vestidos e de classe alta; é claro que Marco sempre
fazia questão de se relacionar com a alta sociedade. Lisa estava ao lado do pai
contando os minutos para sair daquele lugar, o vestido em seu corpo era
incômodo, as pessoas um pé no saco, como sempre foram desde que se
conhece por gente e acompanhava o pai em eventos como esse. A necessidade
de pegar o celular e conversar com Chaeyoung a estava consumindo. Já
estavam naquela casa há quase quatro horas e a única coisa útil a se fazer era
comer e beber o máximo que podia enquanto seu pai ignorava sua existência e
conversava com os amigos se gabando de todo o seu dinheiro. Ela se
perguntou onde sua mãe estaria naquele momento, então se deu conta de que
ela provavelmente havia dado uma desculpa esfarrapada e ido até Daniela
cuidar da filha mais nova, era a única coisa que tinha coragem de fazer.
- Lalisa, venha até aqui. - Marco a chamou até a rodinha de engravatados.
Lisa segurou-se o máximo que pode para não revirar os olhos e seguiu até o
pai. - Quero lhe apresentar Brandon, filho do Valdez, um grande amigo meu.
- Brandon é de NYU e cursa direito, assim como você. - sentiu o olhar cheio de
significados do pai em si. - Tenho certeza de que vocês têm muito que
conversar.
Só pelo olhar que recebeu de Marco, ela soube que era uma ordem que se não
fosse obedecida, haveria consequências mais tarde. Lalisa tinha dezenove
anos, mas ainda sim dependia do pai que sempre a controlou à base do medo
usando surra de cinta como corretivo. Ela sabia que ele não hesitaria em
machucá-la assim como machucou Daniela.
O garoto que estava alheio à troca de olhares intensa entre pai e filha ofereceu
o braço direito à Lisa que aceitou a contra gosto e deixou-se ser levada até a
área da piscina, onde havia menos pessoas para o desespero da Lisa que
começara a entender as pretensões de Brandon.
- Meu pai? O que ele disse? - indagou sentindo a fúria preencher cada canto
do seu corpo.
É claro que só poderia ser obra de Marco Manoban. Brandon tentou falar
mais uma vez, mas uma mão forte agarrou o braço de Lisa com uma força
desnecessária e a arrastou para dentro da mansão entre os convidados que
encaravam a situação com surpresa.
Finalmente chegarem a uma sala vazia, e Marco empurrou Lisa com força que
acabou caindo sentada no sofá, seu rosto estava vermelho exatamente como
da última vez em que discutiu com Daniela.
- O que você pensa que está fazendo, Lalisa? - ele gritou e agarrou a filha pelos
ombros a colocando de pé novamente. - Você quer estragar a minha imagem,
é isso? Está destruindo a imagem que estou criando para o seu futuro?
Marco semicerrou os olhos para a filha, os dois estavam tão próximos agora, e
o aperto no ombro da Lisa se intensificou tanto que ela gemeu de dor.
Lisa empurrou o pai sem pensar quando ele se referiu à Chaeyoung como
garota suja, a raiva a dominou por completo e os olhos de Marco
praticamente a assassinou assim que recuperou o equilíbrio.
E sem pensar duas vezes, Lisa deu às costas ao pai saindo em disparada da
mansão.
- Eu sinto muito, meu amor. Você não merece nada disso. - ela disse
embrenhando suas mãos nos cabelos da namorada e arrastando os lábios pelo
pescoço da mesma. - Eu te amo, obrigada por me defender.
- Você não está brava? - ela perguntou desviando o rosto para que Chaeyoung
ao olhasse nos olhos. - O garoto me beijou e agora meu pai está na nossa
cola...
Chaeyoung suspirou unindo suas testas, ela nunca se cansaria da beleza da
namorada.
- Eu não estou brava, não há motivos para isso. Ele te beijou e você estava
distraída. Quanto ao seu pai... Nós vamos dar um jeito nisso.
- Nós vamos lutar por isso. Eu não vou te deixar tão fácil, e sei que você
também não vai fazer isso, certo?
Sem conseguir se conter por mais tempo, Lisa subiu a mão até a nuca de
Chaeyoung a trazendo para mais perto para dar inicio ao beijo. Chaeyoung
invadiu sua boca ferozmente iniciando o contato com a língua que fez ambas
gemeram com antecipação. Lisa agarrou ainda mais a nuca de Chaeyoung e
friccionou seus corpos, sentindo seus seios roçarem assim como seus sexos.
Um outro gemido rouco escapou das duas quando se separaram em busca de
ar.
Lisa puxou a camisola de Chaeyoung revelando seus seios médios, ela sentiu
tanta falta deles e não fazia nem um dia que os tinha amado...
Lalisa estava faminta hoje, com saudade, queria apagar o evento de qualquer
forma de sua cabeça e Chaeyoung era a sua saída, sempre fora e sempre seria.
Estar com ela significava esquecer o mundo lá fora, as sensações vividas
juntas tanto carnais quanto emocionais era algo para ser sentido
eternamente.
Chaeyoung ansiava pelo contato mais íntimo e Lisa estava apenas retardando-
o. Chae resolveu adiantar o caminho e desceu os lábios até os seios da garota
os contornando com a língua e mordendo a pele mais sensível. Lisa soltou um
gemido alto de prazer e dor agradecendo por não ter ninguém em casa
naquele momento.
Chaeyoung, por sua vez, subiu a mão à nuca de Lisa a puxando para iniciar
um novo beijo com mais desejo e mais urgência, e a Lisa aproveitou para
iniciar os movimentos dentro da namorada, começando lentamente e
aumentando a velocidade conforme Chaeyoung intensificava o beijo. Lalisa a
sentiu apertar-se contra seus dedos e quebrar o beijo, sendo incapaz de
acompanhar a velocidade de Lisa e respirar ao mesmo tempo.
Ainda era uma sensação nova para ambas, mas que fariam todos os dias se
possível.
- Eu não vou deixar meu pai nos afastar. - ela disse com uma convicção que
Chaeyoung queria muito acreditar. - Nós só precisamos tomar cuidado com os
lugares públicos, sei que meu pai seria capaz de colocar um detetive atrás de
mim.
♫♫♫♫♫
Uma semana se passou após o incidente com Marco, e todos os dias o homem
ligava para a filha perguntando sobre a faculdade e onde estava, assim como
também ligou para Columbia procurando saber sobre seu desempenho.
Graças a Deus Lisa era uma estudante dedicada e Marco só recebeu elogios
sobre a filha, assim como tem conversado muito com o Sr. Smith, chefe de
Lisa no estágio.
O relacionamento de Lisa e Chaeyoung continuava caminhando muito bem;
as duas saíam apenas ao The Village e poucas vezes ao apartamento de
Jennie, mas o lugar preferido das duas seria sempre a casa abandonada.
Aconchegante, segura e familiar.
Mesmo que todos em Juilliard soubessem sobre elas, Lisa começou a ser mais
cuidadosa, nada de beijos ou mãos dadas dentro da instituição e isso a matava
por dentro; tudo o que desejava era poder ser livre com Chaeyoung, mas sabia
que seu pai seria capaz de qualquer coisa e o que ela menos queria era
envolver a namorada com aquele homem.
E então chegou o dia em que Lisa percebeu que estava certa desde que pisou
em New York pela primeira vez: Os contos de fadas vivem apenas nos livros
infantis.
- Pense pelo lado positivo, Chae... É, não tem lado positivo. - Jennie se
lamentou quando viu um garoto fazer movimentos de penetração em uma
garota por cima da roupa.
Momo puxou Jisoo pela mão, que puxou Chaeyoung, que puxou Jennie e que
puxou Lisa; elas caminharam até a cozinha onde o balcão era revestido de
bebidas de todas as cores, sabores e tamanhos. Momo pegou um Walker e
ofereceu às meninas, apenas Lisa e Jisoo aceitaram apesar do olhar de
repreensão de Chaeyoung sobre a namorada.
- Nah! Eu sou muito nova para me prender a alguém. Não sou diabética como
Lisa e Chaeyoung, gosto de viver minha vida e Jackson quer algo sério,
alianças e tudo. - contou Momo tranquilamente, não parecia nem um pouco
abalada com o término do namoro. - Gosto de uma boa festa, não com
retardados como essa, é claro, também gosto de sair beijando por ai. - deu
uma risada irônica que fez as outras rirem. - Tudo tem um prazo de validade e
o meu com Jackson chegou ao fim.
- Às vezes você me assusta muito, Momo. - disse Jennie tirando o copo das
mãos de Jisoo e bebericando a bebida.
- Talvez eu namore uma garota. - ela riu puxando Chaeyoung para um abraço
exagerado. - Assim eu não fico de vela nessa parada LGBT que é o nosso
grupo, não é?
- Eu pensei que viesse sozinha, Lisa. - a garota olhou Jennie e Jisoo de baixo à
cima. - Eu conheço vocês?
- Lisa está estranha hoje ou eu estou bêbada com apenas um copo de uísque? -
Comentou Jisoo olhando diretamente para Chaeyoung.
- Ela está sofrendo muita pressão nos últimos dias - suspirou cansada. - Estou
tentando ser o apoio que ela precisa, mas também tem a doença do meu pai
que parece estar voltando aos poucos... Não sei o que vai acontecer daqui para
frente.
- Tudo estava bonito demais para ser verdade. - disse Jennie apertando o
ombro de Chaeyoung. - Se isso vale de consolo, vocês são o casal mais
apaixonado que eu já vi fora Romeu e Julieta, vão saber ajeitar as coisas no
final.
As três continuaram conversando por mais um tempo com a presença das três
sendo ignorada pelos estudantes até uma música eletrônica começar a tocar e
Jennie gritar exasperada que essa era sua música. Chaeyoung disse que elas
poderiam ir dançar, e observou Jisoo e Jennie seguirem até a sala onde os
demais estudantes dançavam bêbados. O segundo erro da noite.
O mesmo garoto que tinha tentado abraçar Momo mais cedo reapareceu na
cozinha lançando um sorriso cafajeste para Chaeyoung que se encolheu
contra o balcão.
- Tenho certeza que você também pode se divertir sem suas amigas, vamos lá
para cima. - ele prensou Chaeyoung com o corpo no balcão, a Chaeyoung
tentou o afastar, mas o garoto era muito maior que ela e mais forte.
- Me deixe ir, por favor. Eu namoro e você não sabe o que está fazendo.
Esse é o momento em que Jennie e Jisoo voltam logo, elas tinham que
voltar...
- Por favor... - pediu quase num murmúrio fraco quando sentiu a língua do
garoto percorrer seu pescoço, sentia-se uma inútil por não ter força para
empurrá-lo.
Quando seus sentidos voltaram à tona, abriu os olhos e pode notar que tudo
estava em silêncio. Chaeyoung congelou ao ver Lisa montada no garoto
socando seu rosto em total descontrole. Terceiro erro da noite.
Todos assistiam a cena em choque total, Momo foi única pessoa capaz de
puxar Lisa para trás antes que ela o matasse. Lisa estava descontrolada, os
olhos vermelhos e as lágrimas escorrendo, o punho cheio de sangue e a
respiração descompassada. Chaeyoung não conhecia aquela Lisa.
O problema de não manter o controle é que às vezes você pode colocar tudo a
perder. Como naquele momento, por exemplo, as pessoas a encavaram como
se ela fosse uma fera pronta para atacar.
Olhou para as mãos cheias de sangue e sentiu as lágrimas queimaram sua face
novamente, ela tinha entregado tudo. Quando ergueu os olhos, encontrou um
par de olhos negros a encarando como se não a reconhecesse mais. E talvez
nem ela mesma se reconhecesse.
Chaeyoung estava com assustada com Lisa, com medo da própria namorada,
as coisas não deveriam ser assim. Então, sem pensar duas vezes, a Lisa deu à
volta na cozinha saindo empurrando todo mundo no caminho e correndo até
o carro onde se deixou chorar intensamente.
♫♫♫♫♫
Ela mal sabia como havia chego àquele lugar, mas agora se encontrava
sentada na mesa de um pub. O lugar não estava cheio, mas Lisa escolheu a
mesinha do fundo precisando se isolar do mundo real; pediu uma garrafa de
Jackie Daniels e desligou o celular que insistia em tocar estridente em seu
bolso. Ela não precisava de pessoas a repreendendo agora.
Tirou a jaqueta que usava, estava sendo difícil até mesmo respirar. Sabia que
seus olhos estavam inchados e vermelhos, mas sorriu para o garçom quando
este perguntou se estava tudo bem. Não, não estava. Mas ele não merecia se
preocupar sua desgraça. Ninguém merecia.
O que ela tinha feito? Passou meses pedindo à Chaeyoung que fosse alguém
que não era perto de seus amigos, e no final quem estragou tudo fora ela
mesma. Que ironia. Talvez ela não fosse uma boa namorada, não depois de
ver o medo estampado naqueles olhos que tanto amava. Medo da pessoa que
deveria protegê-la do mundo, mas que estava fazendo o contrário disso.
Por mais que soubesse que as coisas não seriam fáceis em sua relação, nunca
imaginou a tempestade que seu emocional se tornaria em um curto espaço de
tempo. Sabia apenas que precisava de Chaeyoung mais do que precisava
respirar, precisava de seu pequeno amor lhe dizendo como a fazia feliz porque
Chaeyoung também a fazia sentir-se assim.
Ela só não se sentia mais digna desse amor. Não quando o medo das pessoas e
o medo de seu pai a estava fazendo agir impulsivamente e beber na mesa de
um pub observando um músico que usava suspensório por cima de uma
camisa branca.
♫♫♫♫♫
O apartamento de Jennie parecia mais frio e escuro do que de costume, ou era
apenas a mente conturbada de Chaeyoung que andava de um lado para o
outro com o celular em mãos, lágrimas nos olhos e uma expressão cansada.
Jisoo, Jennie e Momo estavam sentadas no sofá em silêncio, não havia o que
ser dito naquele momento, Chaeyoung não ouvia ninguém e estava a ponto de
chamar a policia caso Lisa não retornasse suas ligações.
Três horas. Já havia se passado três horas e nada de Lisa ligar o maldito
celular ou dar algum sinal de vida. Chaeyoung resolveu ligar para os pais e
avisar que dormiria com Jennie, avisou que algo tinha acontecido com Lisa,
mas que explicaria no dia seguinte. Diana não gostou muito da ideia, tinha
Lisa como uma filha e queria poder ajudar, mas naquele momento ninguém
seria útil quando não se sabia o paradeiro da Lisa.
- Lisa? Graças a Deus, meu amor! Onde você esteve? Como você está...?
- Oi... - a voz do outro lado soou rouca e fraca. - Me desculpe por hoje, por ter
me descontrolado, por ter sumido...
Ouviu um suspiro.
- No hospital.
- Não. Chaeyoung, eu não quero que você venha aqui. Ok? Me prometa que
não vai aparecer aqui? Não quero que me veja assim.
- Tudo bem, eu prometo. Apenas me diga o que houve e em que hospital está
agora, eu preciso saber se estão cuidando direito de você...
Uma risada fraca soou do outro lado e o coração da mais nova se apertou.
- Estou no Langone Medical Center. Depois que sai da festa, dirigi até um
pub... Eu acabei bebendo demais até... Desmaiar. - Chaeyoung pegou a
mochila em cima do sofá e a jogou no chão com violência, mas sem emitir
nenhum som com a voz, não queria que Lisa soubesse que ela estava
revoltada. - Aparentemente não estou acostumada a beber tanto...
- Você pula, eu pulo, lembra? - falou a citação de Lisa na primeira vez em que
se encontraram.
- Como eu poderia esquecer? - disse Lisa com a voz triste. - Chaeyoung? Você
ainda está ai?
Chaeyoung saiu do prédio e começou a caminhar pela calçada com uma mão
dentro do casaco, as lágrimas descendo livremente em sua face quando não
podia transmitir sua dor em palavras.
- Eu estou sim, meu amor. - respondeu fingindo estar bem. - Sobre o que você
quer falar?
- Você poderia conversar comigo sobre coisas aleatórias, gosto de ouvir sua
voz.
Queria ter o poder de tirar a dor de sua amada, abraçar Lalisa e não deixar
ninguém a ferir nunca mais. Lisa notou novamente o silêncio da namorada e
completou:
- Tudo bem. – suspirou pensando rapidamente em algo para dizer. - Era uma
vez, uma garotinha chamada...
- Sim, o nome dela era Chaeyoung. - brincou fazendo o caminho que tanto
conhecia. - Chaeyoung era uma garotinha tímida, mas muito sonhadora. Ela
gostava de música e amores que duravam para sempre.
- E elas ficaram juntas para sempre? - a voz do outro lado era cheia de
expectativas.
- Eu não sei, estou tentando descobrir isso ainda.
- Não! Elas se amavam muito, muito mesmo. Elas sabiam que não importava
o que acontecesse daquele dia em diante, o amor delas sempre estaria
guardado em seus corações.
- É por isso que existem pessoas que nunca encontram a metade de sua alma,
porque elas estão ocupadas demais sendo a metade errada de outra pessoa.
- Pode dormir agora, meu amor. Eu sei que você está com sono. - abriu uma
enorme porta dupla e adentrou o prédio sendo recepcionada pela moça gentil
que a conhecia desde pequena. Apenas precisou ser dito um nome para que
sua visita fosse liberada. - E quando você pegar no sono, eu prometo que
desligo. Ok?
- Tudo bem... Amor? - Chaeyoung fez um som nasal indicando que ela
continuasse. - Obrigada por não me julgar. Você me acalma.
A Chaeyoung continuou com o celular no ouvido, ela sabia que Lisa tinha
pegado no sono no instante em que se despediram na linha, sua respiração se
normalizou e tudo ficou silencioso.
_________
25
O pequeno boneco Olaf permanecia imóvel acima da lareira acesa que servia
de aconchego ao frio cortante da chuva forte lá fora.
Mark, Diana e Ella saíram cedo para o mercado deixando a casa num silêncio
confortável.
Chaeyoung tinha pegado no sono logo que chegou da faculdade, o dia tinha
sido exaustivo devido às apresentações em grupo de sua turma e as
reclamações do professor Will sobre seu desempenho ter decaído nos últimos
dias.
E de frente para a lareira, sentada com as costas contra o sofá, camisa social
com os primeiros botões abertos, o cabelo jogado de lado, lápis grafite entre
os dentes e em mãos alguns processos que precisava resolver até terça feira
para o Sr. Smith, se encontrava uma Lalisa concentrada. Ou era o que ela
tentava fazer. Apesar de esforçar-se para manter a mente ocupada com os
processos, o cansaço emocional e os vários pensamentos sobre seu pai ainda
rondavam sua mente.
De certa forma, odiava-se por se permitir ser tão sensível aos comentários
alheios, principalmente os de Marco. Ele a sufocava com as inúmeras
ligações, planos de trabalho e convites para o final de semana em LA; convites
estes que Lisa recusava com desculpas sobre trabalhos, mas a verdade é que
precisava dar atenção à Chaeyoung, que por mais que negasse, sofria em
silêncio pela sua repentina mania em descontar a raiva na bebida.
- Quase boa noite, amor. – ela riu e virou o rosto dando de cara com a
perfeição. Que se dane a Disney, não existe nada mais fofo que sua namorada.
– Dormiu bem?
- O som daquele despertador atormentou meu sono. – fez um bico que Lisa
não resistiu em beijar delicadamente. A Chaeyoung deu um sorrisinho meigo
entre o beijo e deleitou-se ao chupar o lábio inferior da namorada. – Hmm,
alguém está carente de atenção.
- Eu estou carente da minha Chaeng, é diferente.
Lisa revirou os olhos e a puxou mais contra si, se é que isso era fisicamente
possível.
- Eu quero meu beijo e não preciso pedir permissão porque sou sua
namorada.
Chae soltou uma gargalhada gostosa que ecoou por toda a sala. Lisa se
manteve com a cara emburrada tentando a todo custo ganhar seu beijo, mas
Chaeyoung estava com a vantagem por agora estar sentada em seu colo.
- Chaeyounggg!
- Não.
Lisa não deu tempo para que a namorada terminasse sua fala robótica quando
jogou o peso do corpo contra o dela, as duas caíram deitadas com a Lisa por
cima e um sorriso vitorioso estampado no rosto. As duas riram ainda mais
quando Lisa enfiou a cabeça no pescoço da Chaeyoung o enchendo de beijos
enquanto a mais nova gritava pedindo que ela parasse.
Lisa havia feito uma grande merda ao expor as duas naquela festa, e
inconsequentemente, saindo sem avisar aonde ia e bebendo até desmaiar;
qualquer pessoa na posição de Chaeyoung teria surtado e discutido com ela
por ser tão irresponsável. Chaeyoung não.
- Sobre o que a minha ogra está pensando? – a voz de Chaeyoung cortou seus
pensamentos filosóficos trazendo-a de volta à realidade.
A doçura que escorria dos olhos daquela garota fazia com que seu coração
dançasse uma valsa todas as vezes que tiravam um pequeno tempo apenas
para apreciar uma à outra.
Chaeyoung era linda, ela conseguia ser sexy e adorável, duas personalidades
que sempre traziam sentimentos inexplorados à Lisa.
- Johnny Cash pediu June Carter em casamento várias vezes, e em todas ela
negou. – disse fechando os olhos novamente ao receber carinho no bochecha.
– Ele tentou, tentou, e quando a encurralou em um show que faziam juntos,
ela finalmente aceitou.
Lalisa empurrou a namorada delicadamente para que ela sentasse ao seu lado
e tirou o celular do bolso procurando por alguma coisa enquanto Chaeyoung
apenas a olhava com curiosidade.
- Essa é uma carta de amor que ele escreveu para June no dia de seu
aniversário de 65 anos.
Quando levantou os olhos para Lisa, pode ver algo implícito naquelas
esmeraldas.
Chaeyoung sempre fora a garota das palavras naquela relação, sempre a que
gosta de filosofar sobre mente humana, o desconhecido, o poder da música,
mas naquele momento Lisa tinha roubado todas as suas palavras. Não havia
resposta para aquele sentimento se ambas sentiam a mesma coisa.
Em meio ao último selinho, Chaeyoung sorriu e levantou-se correndo até a
vitrola do pai. Lisa continuou sentada no chão se perguntando o que a
namorada aprontaria dessa vez, e não levou muito tempo até a voz de Etta
James preencher a sala tomada por um sorriso de orelha a orelha da mais
nova ao ouvindo a música I Got You Babe.
Assim, as duas começaram a dançar entre os sofás e até mesmo nele, como
quando Chaeyoung subiu na poltrona e se jogou nas costas de Lisa que
reclamou sobre seu peso. A Lisa a deixou no chão novamente e ambas deram-
se as mãos agora fingindo uma valsa mal executada. Lisa pisou no pé de
Chaeyoung e recebeu um tapa no braço em resposta, seguido de várias risadas
contagiantes trocadas entre as duas.
Diga-me sobre quando você está observando o pôr do sol no horizonte de uma
praia, você sente a paz preencher todo o seu ser e então respira fundo
absorvendo o odor úmido e salgado do mar. Ou, se você é uma criança,
quando ganha o presente que esperou o ano todo do Papai Noel. E se você é
um idoso, quando olha para trás e se da conta de que tem orgulho de todos os
seus feitos do passado, seus filhos, netos, esposa ou marido... É assim que
Lisa e Chaeyoung são. Elas são o pôr do sol na praia, o presente mais
esperado do ano e o feito de uma vida digna de orgulho.
Como se entrasse em transe, Lisa parou de dançar deixando que seu sorriso
morresse aos poucos. De repente, observar Park Chaeyoung dançar de
moletom e short era tudo o que ela queria poder ver quando olhasse para trás
e procurasse por algo digno em sua vida. Não se tratava de dinheiro, um
nome ou a sociedade. Era Chaeyoung. Sempre seria.
Chaeyoung parou de dançar quando pensou ter ouvido seu nome e abriu os
olhos surpresa em ver a namorada a observando sem expressão.
- Eu te amo.
A resposta foi direta e firme. Chaeyoung franziu o cenho, ela sabia que Lisa a
amava e não entendeu o motivo daquilo tudo de repente, mas não deixou de
sorrir como uma boba apaixonada por sua namorada estranha.
Quando juntaram os lábios para mais um beijo apaixonado, a porta da sala foi
aberta e as duas pularam com o susto. Ella passou correndo pela sala como
um furacão e pulou no colo de Lisa enquanto Diana, Mark e... Jennie?
Entravam logo atrás com várias sacolas.
- Não posso deixá-las sozinhas por algumas horas que minha sala vira um
motel. – disse Mark recebendo um cutucão na costela da esposa. – Ora essa!
Você viu Lisa enfiando a língua na boca da nossa menina.
- Eeew! Você estava com a língua na boca da Chae? – Ella perguntou com
espanto para uma Lisa que mais parecia um pimentão.
Jennie foi a primeira a sentar atacando tudo ao que tinha direito com Ella em
seu colo.
- Como você está passando, querida? Quase não nos falamos essa semana. –
perguntou Diana sentando-se com o cenho franzido em preocupação.
- Acho que no fundo não podemos culpar seu pai - disse Mark com uma caixa
de cereal em mãos. – essa é a forma que ele foi criado, não é fácil quando
somos obrigamos a sair da nossa zona de conforto.
Chaeyoung concordou com a cabeça, mas seus olhos estavam presos no pai
que parecia mais pálido que o normal e até mesmo desatento com o que
estava fazendo; ele nunca fora uma pessoa desastrada, mas já tinha perdido a
conta de quantas vezes Mark tinha derrubado as cenouras.
- O pai dela é um babaca mesmo. - a voz de Jennie saiu engraçada devido à
boca cheia de cookie. Ela engoliu e continuou. - Uma vez ele implicou com a
gente só porque chegamos dez minutos depois do prazo estipulado. Esse cara
é doente.
Todos começaram a rir e Jennie foi a mais exagerada como se quisesse que
todos soubessem que Chaeyoung não tinha nada de pureza quando se tratava
de Lisa.
- Conte-me mais sobre o que você vê essa mocinha e minha filha fazendo.
– Papai, papai...
Lisa ficou horrorizada ainda em seu lugar, ela nunca havia presenciado tal
crise antes e ver o homem que tanto se espelhava no chão se debatendo fora
de controle travou seu corpo antes que pudesse reagir. Mas os gritos
esganiçados de Ella a tirou de sua bolha protetora como se levasse um soco
direto no estômago.
- Jennie! Jennie! – gritou para a amiga que mantinha a cabeça de Mark entre
suas pernas tentando imobilizá-lo antes que se machucasse. – Leve-o ao
hospital, agora! - jogou as chaves do Dodge em suas mãos antes que a outra
respondesse.
– Eu fico com Ella! - Chaeyoung e Lisa não trocaram olhares nesse meio
tempo, não houve chances, Chaeyoung sequer pensava em outra coisa que
não fosse à saúde de seu pai no momento.
– Quer assistir algum filme? – Lisa tentou, mas sua voz saiu trêmula
denunciando deu desespero interno.
A menina negou com a cabeça e estendeu os bracinhos suplicando para que a
Lisa a pegasse em seu colo. Lisa abraçou Ella sentindo a tristeza e a
preocupação abalar seu estado de espírito. Estava preocupada com Mark,
estava preocupada com Chaeyoung, estava preocupada com o que acontecia
enquanto ela abraçava a pequena garota em seus braços.
- O que aconteceu com o papai? Por que ele caiu daquele jeito no chão?
Algo no peito de Lisa se apertou. Por mais que ela amasse lidar crianças, não
havia uma maneira correta de dizer a verdade sem assustá-la ainda mais. Ella
era uma criança de apenas cinco anos, ela não merecia passar por isso mais
uma vez, mesmo que não tenha noção do que aconteceu com o pai quando era
apenas um bebê.
- Seu pai ficou doente, acho que ele não dormiu direito essa noite. – explicou
enquanto subia as escadas com a menina abraçada ao seu pescoço.
Amaldiçoou-se por não saber inventar algo melhor, sua mente mal processava
o que estava acontecendo. – Isso acontece quando as pessoas não dormem,
sabe? Por isso sua mãe briga quando vai pra cama tarde.
- Isso quer dizer que papai ficou brincando de guerra de travesseiro a noite
toda?
Ah, a inocência de uma criança. Lisa abriu a porta do quarto da caçula que era
todo rosa claro, com uma casinha enorme de bonecas no canto direito, uma
mesa de estudos em baixo da janela e várias pelúcias espalhados ao lado de
um puf rosa. Lisa curvou o corpo deixando Ella na pequena cama de solteiro e
deitando-se ao seu lado.
- Ele vai ficar bem? – sua expressão esperançosa partiu o coração de Lisa.
Ela esperava do fundo do coração que sim, que o homem da casa ficaria bem
logo e traria a felicidade que todos sempre compartilharam. Lisa se agarrou às
esperanças de Ella de que as coisas não piorariam para aquela família, que o
destino ao menos uma vez deixaria a família Park viver em paz.
- É claro que ele vai. Agora os médicos vão cuidar do seu pai, ok?
Tudo o que sua namorada não merecia no momento era sofrer outra vez por
isso, ela tinha todo um futuro pela frente como a grande musicista que era
desde que nascera; desistir de tudo outra vez não era uma opção.
♫♫♫♫♫
A aflição percorria o corpo de Chaeyoung há mais de duas horas. Duas
malditas horas sentadas naquela sala de espera sem nenhuma noticia do
estado de Mark. Sua mente estava alheia ao vai e vem das pessoas naquele
corredor branco típico de hospitais, ou ao choro aflito de uma mulher dois
bancos à sua direita; ou até mesmo a criança resmungando no colo da mãe à
sua frente.
Ela se lembrava de exatamente como todo aquele inferno começou, aos seus
dezessete anos enquanto ensaiava sua peça de natal para a escola na sala de
casa. Mark ajudava Diana a montar a árvore de natal, foi rápido como tudo
aconteceu, em um momento ele comentava sobre o aumento no fluxo de
pessoas na loja de conveniência aquele ano, e no outro estava caído no chão
convulsionando. Foi, talvez, o pior dia de sua vida. Ela não sabia o que estava
acontecendo com seu pai, mas também não sabia que a partir daquele dia, sua
vida mudaria drasticamente.
Agora, quase dois anos depois, Jennie segurava sua mão naquela cadeira
desconfortável da sala de espera do tão família hospital. Diana encarava a
parede oposta com os braços cruzados, mas seus olhos estavam fora de foco,
sua mente perdida no desconhecido esperando o pior.
O homem abaixou os olhos, o que Chaeyoung entendeu como mau sinal. Ele
pigarreou e olhou diretamente nos olhos das três mulheres à sua frente antes
de continuar.
♫♫♫♫♫
- Então você namora minha irmã? – perguntou Ella enquanto suas mãozinhas
brincavam com o cabelo de Lisa.
A TV ligada agora reproduzia os créditos do filme no mudo enquanto Lisa e
Ella estavam aconchegadas tranquilamente na cama infantil. Já era noite e o
quarto era iluminado apenas pelo abajur da Miney, o celular de Lisa
anunciava uma caixa de mensagens lotada por Momo, mas não havia o que
ser dito.
Nada mais foi dito e Lisa estranhou a voz controlada da amiga, mas preferiu
conversar com a namorada pessoalmente.
Lisa segurou o riso, precisava admitir que a menina era a cópia de Chaeyoung
não só fisicamente, mas também no quesito fofura extrema.
- Você também vai me proteger? Papai disse que eu sou uma princesa.
O sorriso de Lisa vacilou ao ouvir sobre Mark, por um momento ela tinha
esquecido a atual situação em que se encontravam.
- Tudo bem, Ella. Você pode descansar e quando sua irmã chegar nós te
acordamos, ok?
Ela tinha certeza de que Chaeyoung seria a mãe perfeita de seus filhos, ambas
seriam equilibradas como mães. Chaeyoung sendo a mãe bobona e Lisa a mãe
rígida. Não como seu pai era com ela, apenas para impor limites antes que
suas duas preciosidades queimassem a casa.
Lalisa desceu as escadas em silêncio sentindo seu corpo todo arrepiar apenas
com a melodia melodramática que preenchia a sala deserta da casa, certa
angústia tomou todo o seu corpo porque ela sabia que Chaeyoung estava
tocando sua própria dor. Nenhuma palavra precisava ser proferida para que
ela soubesse o que estava acontecendo, Chaeyoung tocava lhe contando
secretamente que estava devastada.
Lisa parou no pé da escada e deixou seus olhos serem tomados pela imagem
de uma Chaeyoung encolhida no piano, tocando com os olhos fechados e uma
expressão de dor estampada em seu rosto tomado por lágrimas. As
sobrancelhas unidas, os lábios entreabertos para as respirações em pausa,
uma figura tão contida em sofrimento.
Odiava com todas as suas forças ver Chaeyoung desmoronar e não poder fazer
absolutamente nada para ajudar. Queria ser capaz de tirar toda a dor
acumulada no peito frágil de sua Chaeng e o lançar para bem longe de seu
amor, mas ela não tinha poderes mágicos, ela não tinha nada.
Lisa puxou a namorada pela nuca e a abraçou o mais forte que seu corpo
permitia quando a menina explodiu em lágrimas. Um choro desesperado,
angustiado, envolto de soluços e palavras sem sentido de uma forma que Lisa
nunca vira antes.
Sua namorada estava ruindo bem debaixo de seus olhos, e Lisa sentia como se
suas mãos estivessem atadas.
______
26
Ela estava deitada no sofá com as costas contra o encosto com uma
Chaeyoung encolhida em seus braços em um sono profundo; estavam
abraçadas com as pernas entrelaçadas, mas o desconforto do móvel causou
uma bela dor nas costas para a Lisa que sentiu sua coluna travada. Sua mente
trabalhou avidamente retomando tudo o que aconteceu antes de chegarem ao
sofá, e então ela se lembrou.
Chaeyoung chorou como uma criança necessitando de colo, ela agarrou-se à
camisa de Lisa como se tivesse medo que a Lisa lhe fosse abandoná-la. Depois
de mais algumas conversas em meio ao choro, elas acabaram pegando no
sono pela exaustão da mais nova.
Caminhou com a mão direita nas costas até a cozinha pensando no que
aconteceria quando sua menina acordasse, mas seus pensamentos mal
puderam ser consumados quando se deparou com uma Diana cabisbaixa
preparando o café da manhã, a mulher levantou a cabeça ao notar a presença
de Lisa lhe oferecendo um sorriso triste quando viu a surpresa no rosto da
nora.
- Eu cheguei agora pouco, não quis acordar vocês. – explicou e Lisa balançou
a cabeça em entendimento.
Lalisa levou a mão esquerda ao cabelo em desconforto, não sabia o que dizer e
nem com perguntar sobre Mark.
- Não, me escute. – ela pediu cansada. Lisa concordou. – Você tem cuidado de
Chaeyoung todo esse tempo com tanto carinho... Cheguei a pensar que ela
ficaria doente se continuasse trancada naquela sala de música, mas você
apareceu na vida dela e mudou isso. E ontem você cuidou de Ella, passou a
noite naquele sofá desconfortável zelando o sono de Chaeyoung... – ela deu
uma pausa e serviu o copo de café do jeito que Lisa gostava. – Nós te amamos
como uma filha, Lisa. Nunca menos que isso.
Lalisa não soube o que dizer. Não tinha pensado muito bem quando ficou com
Ella em casa, ela simplesmente sabia que era o certo, assim como deixou de
voltar ao dormitório para cuidar de Chaeyoung, não era uma opção deixá-las
sozinha naquele momento difícil, porque ela também sofria por Mark. Ter
Diana lhe dizendo que a tinha como filha era como ser oficialmente integrada
à família que tanto amava e se orgulhava.
- Eu fiquei sem palavras, desculpe... – ela sorriu sem graça. – Eu não fiz nada
que não faria pela minha família, Diana. Chaeyoung é a minha namorada e
vocês são os pais que eu nunca tive.
A mulher segurou a mão de Lisa por cima da mesa e lhe ofereceu mais um
sorriso em compreensão.
- Chaeyoung deve ter lhe contado sobre a quimioterapia. – ela disse. A voz
agora trêmula, seus olhos estavam presos no copo de café. – Eu me encontro
em um beco escuro, para ser sincera. Pensei em hipotecar a casa, mas Mark
deixou claro que não vai fazer isso, que essa casa é de Chaeyoung e Ella. Não
podemos arriscar perdê-la agora, e nossa situação com o banco não está nada
boa... Como eu devo assistir meu marido morrer sem fazer nada, Lisa? Nós
temos duas filhas e eu preciso ser forte pelas duas e...
Lisa pulou da cadeira correndo até Diana para envolvê-la em seus braços. Ela
estava vendo os Park desmoronarem um por um e, por mais que tentasse
esconder, isso estava afetando seu coração também. Ela deixou que Diana
chorasse copiosamente em seu peito, mais uma vez tinha a camisa encharcada
de lágrimas enquanto lutava para conter as suas próprias pela mulher que
dera a vida à pessoa que mais amava no mundo.
- Nós vamos dar um jeito, eu vou tentar ajudar de todas as formas que me
forem possíveis.
Sua mente divagou sobre o dinheiro que tinha no banco, mas a quantia não
servia para muita coisa, tratamentos médicos costumam ser uma fortuna; a
única chance que tinham de conseguir aquele tratamento vivia em Los
Angeles com o nome de Marco Manoban.
Seu corpo ferveu ao pensar nessa possibilidade. Marco nunca foi um homem
filantropo, ele tinha deixado claro que não queria a filha perto de Chaeyoung,
as chances de conseguir ajuda do pai eram mínimas, quase nulas.
- Me perdoe... Eu... Eu não queria jogar tudo isso em cima de você, querida...
– Diana separou-se do abraço com o rosto corado, sentia-se envergonhada. –
Por favor, me perdoe por isso, eu precisava desabafar de alguma forma. Meus
irmãos estão viajando pra cá e...
- Não precisa se desculpar por chorar, Diana. Somos humanos, chorar não é
sinal de fraqueza, muito pelo contrário. – deu um beijo na testa da sogra. –
Eu estarei sempre aqui por vocês, é uma promessa. Vou tentar ajudar de
qualquer forma.
- Eu faço questão. Quero me certificar de que ela está bem, não se preocupe
comigo. – caminhou até a sala com a mulher ao seu lado.
Deixou um beijo suave no rosto de sua namorada que ainda dormia como um
anjo cansado. – Eu te amo, princesa. – sussurrou suavemente. Virou-se para
Diana e lhe deu mais um longo abraço. – Vai dar tudo certo, eu sei disso.
- Eu tenho fé que sim. – ela deu um tapinha nas costas da Lisa e abriu a porta
da frente oferendo um pequeno sorriso à Lisa. - Bom dia, minha querida.
- Bom dia, Diana.
♫♫♫♫♫
Lisa sabia que Chaeyoung perderia algumas aulas, mas o teste seria daqui a
quatro horas, então não havia muito com o que se preocupar já que o estágio
de Lisa começava às oito e meia e o relógio marcava seis e cinquenta.
Ela precisava encontrar com Momo o mais rápido possível e se desculpar por
não responder nenhuma das mensagens que lotavam sua caixa de entrada,
além de tomar algum analgésico para a dor muscular.
Seu plano de fugir dos colegas da faculdade estava saindo muito bem até seus
olhos captarem Megan e Hanbin encostados na porta do dormitório ao lado.
Ela parou estática, tinha os ignorado depois da festa na fraternidade, mas
aquele não era um bom momento para ser interrogada. O problema é que não
havia outra opção além de enfrentar as feras que rondavam seu quarto.
Sua voz estava cética, assim como sua expressão. Hanbin cruzou os braços
atrás da amiga, seu olhar não parava de percorrer cada centímetro de Lisa.
- Eu tenho aturado a sua indiferença todos esses dias por respeito, Lisa. Eu
deixei de lado o seu sumiço repentino das festas imaginando que você teria
coisas para resolver, deixei de lado o seu comportamento estranho com a
gente, mas aquilo na festa da Tau Beta foi o ápice da minha paciência. –
cuspiu encarando Lisa com raiva.
Lalisa não se sentiu ameaçada com aquele tom de voz ou com o olhar
assassino que recebeu da garota à sua frente. Poucas coisas naquele momento
poderiam assustá-la e Megan com suas asas de fora não seria uma dessas
coisas. Então ela continuou encarando a garota com indiferença quando
parou de girar as chaves.
- Primeiro, nós nunca fomos melhores amigas, não é mesmo? Momo já ocupa
esse cargo e, se eu devo satisfações a alguém, são inteiramente a ela. – cruzou
os braços abaixo do peito e cerrou os olhos. – Segundo, eu não gosto da
maneira que vocês tratam as pessoas, é bullying e eu não vou tolerar mais isso
com meus amigos, então não se considere nem mesmo minha amiga. –
Megan abriu a boca em choque, mas Lisa continuou. – E terceiro... Não se
meta na minha vida! Josh estava abusando de Chaeyoung e NINGUÉM
naquela festa estúpida fez alguma coisa para ajudá-la!
Sua voz saiu elevada na última frase, só de lembrar-se das mãos de Josh
vagueando pelo corpo de sua namorada e dos olhos assustados de Chaeyoung
sua calma já entrava em estado de alerta. Hanbin continuou parado com a
boca aberta ao ver Lisa se impor pela primeira vez; a Lisa sempre fora o tipo
de pessoa pacífica e calada, sempre aturando calada, mas agora estava se
impondo diante de uma das garotas mais influentes da faculdade.
Megan pigarreou alto disfarçando sua falta de palavras, sua pele porcelana
agora carregava um tom vermelho, assim como suas mãos que tremiam em
fúria.
- Eu sabia que fariam uma lavagem cerebral em você naquele lugar! Eu disse
ao Hanbin e ele não acreditou em mim!
Empurrou a garota com força contra Hanbin e abriu a porta do quarto sem
dar tempo para uma resposta. Lisa entrou contendo toda a sua fúria com os
punhos cerrados e fechou a porta com força fazendo Momo pular no beliche
com o susto, ao seu lado um primeiranista que cursava engenharia em
Columbia sentou ao lado de Momo coçando os olhos devido ao barulho
desnecessário.
Ligou o chuveiro na água fria desejando mais do que qualquer coisa nunca
mais ter que sair daquele banheiro. Precisava despertar seu corpo de alguma
forma, seu pressentimento a alertava de que o dia seria conturbado, ela
precisaria de toda a energia que restava em seu corpo ou desmaiaria ainda no
estágio.
Ele sempre fora um bom homem com a família e com os amigos, Lisa o
admirou desde o dia em que o conheceu, quando levou aquela torta como
uma desculpa para agradar seus futuros sogros. Sorriu com a lembrança. Era
uma de suas preferidas.
Diana não tinha condições de bancar os tratamentos, e pelo jeito o banco não
os ajudaria mais uma vez, o que anulava qualquer opção que tivessem no
momento. Então os calafrios reapareceram quando pensou em Marco e no
que diria caso pedisse esse dinheiro ao pai.
Assim que deixou o banheiro secando os cabelos com a toalha, encontrou uma
Momo em pé encostada na porta com os braços cruzados, lábios em linha reta
e a mesma expressão de minutos antes. Dessa vez, porém, estava sozinha.
- Vai me dizer por que Megan está amaldiçoando seu nome aos quatro ventos
lá fora?
Uma súbita vontade de rir invadiu Lisa quando imaginou a cena, mas
conteve-se dando de ombros quando tirou uma calça preta social, uma camisa
de botões azul claro e os sapatos de salto médios do armário. Odiava se vestir
assim, tão fora do que realmente era, mas sabia que esse seria o seu futuro.
- Você virou gente? Finalmente tirou o rabinho do meio das pernas, Lisa! –
exclamou animada jogando-se no beliche de baixo. – Vou fazer questão de
desfilar pela faculdade e esbarrar nela.
- Epa, parou! Você contou que namora a Chaeyoung? – Lisa assentiu e Momo
soltou um gritinho esganiçado. – Agora todos vão pensar que colamos velcro
nesse quarto, que nojo! Será que eles pensam que sou lésbica também?
- Eu não sou... Lésbica. – disse com dificuldade, não entendia seu medo
ligado àquela palavra. – Eu sou de Chaeyoung. Não há rótulos, apenas nós
duas.
Momo murmurou alguma coisa inaudível que pôde ser interpretado como um
xingamento enquanto brincava com a capinha do celular.
- Quer falar sobre o Sr. Park? – recebeu um olhar curioso de Lisa. – Jennie
contou no grupo do Whatsapp, você saberia se olhasse essa merda que você
chama de celular.
- Lembra que eu te contei uma vez que Mark teve um tumor cerebral? –
Momo concordou. – Voltou. Ontem Mark teve uma convulsão na cozinha de
casa, Jennie o levou até o hospital com Chaeyoung e Diana, o médico
informou que a única opção seria a quimioterapia, mas eles não têm
dinheiro.
A expressão de Momo suavizou. Uma das raras vezes em que se podia ver a
garota séria. Momo poderia ser a pessoa mais bizarra do mundo, mas seu
coração sempre fora bondoso, um dos motivos por Lisa a considerar sua
melhor amiga.
- Eles não têm como pedir um empréstimo? A família deles é grande, alguém
pode ajudar?
- Eles já estão endividados com o banco e a família deles não tem dinheiro.
Chaeyoung está acabada, e eu sinceramente não sei mais o que fazer para
ajudá-la, Momo. É como uma nuvem negra que pairou sobre nós, primeiro o
meu pai, depois o meu maldito problema com a bebida, e agora isso.
- Eu sinto muito, não sei o que dizer. Vocês têm sido tão felizes que eu não
posso imaginar o que estão passando – sua voz era calma, transmitia paz para
Lisa.
Ela não contaria nem mesmo para sua melhor amiga sobre o pensamento que
rondava sua mente, o pensamento que envolvia Marco Manoban. Lisa ainda
criava a devida coragem dentro de si para tal ato, ter seus amigos opinando
sobre o assunto não a ajudaria em nada.
Lalisa considerou conversar com Charlote, mas ela não pode mexer no
dinheiro da família sem que Marco saiba, e Paul recebe a mesma quantia que
a irmã por mês. Não havia outro jeito.
Lisa sorriu.
- Eu digo. Se cuida.
- Eu acordei com dor nas costas, mas acho que sim. – a Chaeyoung começou a
brincar com a gola da camisa da namorada em um gesto infantil enquanto os
braços finos nunca deixavam sua cintura. – Eu pensei que tinha sido um
sonho ruim até acordar com Ella conversando com minha mãe sobre ser uma
princesa.
Lisa corou. Fechou os olhos fingindo uma careta que fez Chaeyoung sorrir
minimamente.
Chaeyoung segurou seu rosto com as duas mãos fazendo-a abrir os olhos e
encarar pela primeira vez os olhos castanhos sem vida.
- Depois da faculdade eu vou até o hospital visitar meu pai, não precisa me
esperar. – ela disse quando o carro já estava na estrada.
Chaeyoung deu sorriu fraco e descansou sua mão esquerda na perna de Lisa.
Um daqueles momentos em que você se sente bonita porque ela te olha como
se fosse. Se despediram ainda na escada com um beijo casto nos lábios e
seguiram rumos diferentes até o almoço.
♫♫♫♫♫
- A faxineira? – perguntou Lisa, mal sabia que a mulher tinha saído. – Ela foi
demitida?
- Foi. A mulher ficou louca, fez um escândalo quando foi acusada de dar uns
pegas em um estudante.
Dott, ao contrário do que pensam, não era uma velha de cabelos grisalhos. A
mulher tinha lá seus trinta anos e com tudo em cima, literalmente. Muitos
alunos em Julliard babavam pela mulher que não se poupava em desfilar
pelos corredores, Lisa sempre deixou Chaeyoung avisada de que se a visse
babando pela faxineira, ficaria sem sexo por um mês.
- É o que dizem por ai, aposto que esse processo vem pra mim. – esfregou as
mãos como que em expectativa e Lisa revirou os olhos. Quando finalmente
encontraram algumas mesas vazias mais ao fundo, Junhoe a olhou com
expectativa. – Quer sentar comigo?
Lisa rolou os olhos pelo refeitório encontrando suas amigas sentadas na mesa
de sempre.
- Não, você não vai. – Jennie rosnou jogando o saco de salgadinhos para
longe, seu corpo inclinado na mesa como se fosse atacar Chaeyoung a
qualquer momento. – Seu pai não vai aceitar isso, você batalhou muito para
estar aqui e não pode desistir de uma hor-
- Ele não tem que aceitar nada! – Chaeyoung exclamou socando a mesa com
tanta força que assustou Jennie. Seu rosto era vermelho sangue agora, a
garrafa abandonada estava totalmente amassada e os olhos castanhos
expressavam a seriedade do que estava dizendo. – Eu preciso arrumar um
emprego e ajudar minha família, Jennie! Meu pai sai amanhã do hospital e
não pode voltar a trabalhar, precisa ficar em repouso absoluto. Quem vai
pagar as contas? Minha mãe agora precisa cuidar de três pessoas, eu não
posso me dar ao luxo de continuar estudando enquanto minha família passa
fome!
Lisa sentiu náuseas com as palavras da namorada. Foi como um soco em seu
estômago, um aviso para que ela abrisse os olhos para a real situação em que
Chaeyoung se encontrava. Apenas Diana teria capacidade de cuidar dos
tratamentos de Mark em casa, e ainda havia Ella. O salário de Mark não
cobriria nem metade dos gastos somando o tratamento e o sustento da casa,
sendo assim, Chaeyoung tinha certa razão. Eles precisavam de uma nova
fonte de renda, e se Diana estaria empenhada com o marido e a filha mais
nova, a responsabilidade cairia mais uma vez em cima de Chaeyoung.
- Nós vamos dar um jeito, Chae. Por favor, não desiste desse sonho agora... –
Jisoo, a mais racional, segurou a mão de Chaeyoung por cima da mesa. –
Você conseguiu uma bolsa em Juilliard, sabe como isso é difícil? Talvez se
meu pai emprestar algum dinheiro, eu não sei, vou tentar conversar com ele.
Jennie era a única que não via a situação de um ponto de vista racional. Ela se
recusava a olhar para Chaeyoung, no entanto, pois era uma das poucas
pessoas que vira o esforço da menina nas noites em claro ensaiando até a
exaustão conseguir aquela bolsa.
Chaeyoung chorava principalmente por seu pai, mas também por ter que
desistir daquilo que sonhou e batalhou desde que se conhece por gente. Sabia
que se desistisse de Juilliard agora, não haveria uma segunda chance depois,
sem bolsa e sem o estudo de Juilliard, seu sonho se afundaria cada vez mais.
A decisão já estava tomada, entre sua família e seu sonho, a primeira opção
estaria sempre na frente e não havia desculpas para isso. Ela o fez uma vez,
quando abandonou o ensino médio por quase um ano para ser a mulher da
casa, ela podia fazer de novo. Precisava ser feito. Por ela, por Ella, por Diana e
Mark.
- Eu vou levá-la para casa, depois nós conversamos. – olhou para Jisoo que
parecia mergulhada em seus próprios pensamentos.
- Chaeyoung... – sua boca foi tomada outra vez vorazmente, podia sentir o
gosto salgado das lágrimas entre o beijo desesperado.
Seu peito subia e descia recuperando o ar em seus pulmões, mas até mesmo
respirar doía como o inferno quando tudo estava sendo arrancado de si num
piscar de olhos.
Vendo Chaeyoung desabar em seus braços deu à Lisa uma certeza que há
tempos a perseguia como um mantra; o amor não se trata apenas de juras de
amor trocadas em olhares intensos, ou de momentos compartilhados em
felicidade; não, o amor era muito mais do que apenas sorrisos, era como um
arco íris à espera do fim de uma tempestade, como a luz iluminando o fim do
túnel, como a paciência de um homem sábio para com uma criança em seu
aprendizado...
O amor requer benevolência, o amor significa não apenas ser amante, mas
também melhor amigo.
Lisa tremia, seu corpo todo reagia a angustia da garota em baixo de si.
- Faça isso parar, eu não aguento mais... – Chaeyoung chorou. O rosto virado
para o lado esquerdo, as lágrimas caindo em cascata banhando seu rosto
angelical, marcando toda a sua inocência. – O meu pai vai morrer, e eu não
posso fazer nada, Lisa... Nada!
Lalisa sentiu desespero percorrer cada fibra do seu ser, toda a agonia de sua
namorada refletindo nela naquele momento. Lisa sentiu que Chaeyoung
abdicaria de tudo para ser base da família outra vez. A garota que não foi ao
baile de formatura por estar em casa sendo adulta. A garota que não pode ser
tornar uma grande musicista, que precisou crescer mais cedo. A garota do
sorriso espontâneo e amável, que sempre procura o lado bom das pessoas. A
garota que fez amor com ela pela primeira vez, e que a agradeceu por tê-la
feito sua.
- Chaeyoung, eu preciso que você me ouça! – pediu Lisa controlando a voz
antes que desabasse. – Olhe para mim! – ordenou e Chaeyoung forçou-se a
olhar para a namorada engolindo as lágrimas. – Eu te amo! Eu sei que o amor
não cura todas as feridas, mas eu estou aqui por você! Eu sou sua amiga,
converse comigo, e nós vamos chegar a um acordo juntas, tudo bem? Você
não precisa tomar todas as decisões sozinha; sou a sua namorada por ser sua
alma gêmea, sabe o que isso quer dizer? Quer dizer que eu também carrego
sua dor comigo. Se você sofre, eu sofro. Se você chora, eu choro. Se você pula,
eu pulo.
- Perdão. – disse quase num sussurro falho. – Eu não queria atacar você, não
sei o que me deu, eu...
- Tudo bem, meu amor. – Lisa beijou uma última lágrima que escorria pelo
rosto de Chaeyoung. – Eu amo você, ser atacada em sua crise faz parte. –
sorriu fraco e deu um beijo leve nos lábios carnudos. – Você vai ficar bem, seu
pai também.
Mas Lalisa já esperava por isso; Chaeyoung não aceitaria o dinheiro de Marco
Manoban, ou de qualquer outra pessoa, nem que a obrigassem a isso.
- Apenas... Confie em mim. – Lisa fechou os olhos, sabia que estava sendo
analisada.
Mas ela não confiava. Não naquele momento, não com suas mãos tremendo e
os olhos transmitindo mais do que desejava transmitir.
- Lisa... – chamou sentindo a sensação de que algo não estava certo. – O que
você vai fazer?
Lisa finalmente abriu os olhos, estava exausta pela primeira vez desde que
entrara naquele quarto. Como seria possível tudo desmoronar em tão pouco
tempo? Seu pai aparecer e estragar seu emocional, a perseguir como se fosse
uma criminosa, aquela maldita festa da faculdade e agora a situação de Mark.
- Eu vou ajudar seu pai, é isso que vou fazer! Não se preocupe comigo, apenas
confie em mim! – disse firme transmitindo que não queria ser questionada.
Chaeyoung abriu a boca em protesto, mas recebeu um olhar tão frio que
acabou se encolhendo. - Ok. – disse Lisa levantando-se da cama. – Vá tomar
um banho quente agora.
♫♫♫♫♫
Lalisa desejou todo o caminho que o taxista fosse o mais devagar possível,
precisava respirar melhor, precisava repassar em sua mente o diria ao pai;
três horas de viagem simplesmente não parecia o suficiente para estar
preparada para esse momento.
Assim que o carro estacionou, sentiu uma imensa vontade de pedir ao taxista
que desse meia volta e retornasse ao aeroporto.
Pela primeira vez em dezenove anos, entrar em casa parecia assustador para
Lisa. Alex, o porteiro, a olhou como se soubesse que ela estava encrencada,
mas ela sabia que era coisa de sua cabeça, assim como imaginou que todos no
avião a encaravam como se soubessem de todos os seus pecados.
Aproveitou ainda para observar o gramado verde onde tanas vezes assistiu o
nascer do sol quando pequena, e parecia ser a tanto tempo agora.
Caminhou em passos lentos até a porta da frente onde sua mãe a aguardava
com as mãos no peito, e um olhar penetrante que causou arrepios em Lisa.
Lalisa reparou que era a primeira vez em muitos anos que a mãe não a
abraçava dessa forma, tão protetora.
Suspirou aliviada ao constatar que seu pai não estava ali. Charlote ajudou a
filha com a mala quando abriu passagem na porta convidando-a para entrar.
Sua mãe estava certa, a casa parecia muito mais silenciosa e vazia sem
nenhum dos filhos por perto para dar o que aquele lugar mais precisava;
esperança.
Aquilo apertou ainda mais o peito de Lalisa. Como alguém poderia ser tão frio
ao ponto de desconsiderar um filho, alguém que viu nascer, que assistiu aos
primeiros passos e a primeira palavra, por simplesmente não ser o que
esperava?
- Como foi de viagem? – a mulher perguntou com uma preocupação até então
desconhecida para a Lisa.
- Eu dormi a maior parte do voo, então não há muito que dizer. – riu sem
ânimo. – Eu vou subir agora, preciso tomar um banho.
- Seu pai... – Charlote a cortou, a voz carregada de medo. Lisa arqueou uma
sobrancelha. – Ele quer ver você.
- Onde? – ignorou a batalha interna, mas não ousou se mover temendo cair
assim que mudasse o passo.
Lisa apenas acenou com a cabeça se forçando a respirar fundo. Deixou a mala
no sofá de couro quando se obrigou a caminhar até o escritório sentindo seu
corpo como gelatina.
Não era certo um filho temer o pai daquela forma, não era justo Lalisa estar
sentindo tanto medo ao ponto de segurar as lágrimas. Simplesmente não era
justo, ela estava apenas amando alguém, nada disso era motivo para ter
medo.
O amor é um sentimento lindo, algo que deveria ser reconhecido por todos.
Amar não é errado, nunca seria.
Ao levar a mão trêmula à maçaneta, sua mãe surgiu ao seu lado segurando em
seu ombro. Lisa a olhou encontrando os olhos marejados de Charlote, uma
antecipação do que aconteceria assim que entrasse naquele escritório.
Lisa franziu o cenho para a mãe desejando que seu coração acalmasse as
batidas violentas, mas reuniu toda a coragem do mundo e girou a maçaneta
revelando o escritório em estilo vitoriano que ela tanto conhecia de suas
noites secretas, quando invadia o escritório no meio da madrugada para ouvir
os discos de vinil do pai.
Não havia vida naquele cômodo, nenhum quadro, nenhum porta retrato,
apenas as três paredes revestidas por estantes abarrotadas de livros, na sua
maioria sobre Direito, e a parede atrás da mesa de madeira sustentava uma
prateleira com vários vinhos antigos, um vaso de porcelana que pertencera ao
seu bisavô e uma coleção de discos de Johnny Cash. E, sentado atrás da
grande mesa bagunçada por pastas, estava Marco Manoban em sua camisa
social listrada com as mangas dobradas.
O homem olhou por cima do notebook quando ouviu a porta ser fechada, e
tirou os óculos de leitura ao ver a filha mais velha parada à sua frente com o
queixo erguido, deixando claro que não o temia como ele imaginava. Uma
Manoban.
- Queria me ver? – perguntou disfarçando o tremor na voz, não demonstraria
fraqueza aos olhos do pai.
Agora Marco estava tão vermelho que seu corpo todo tremia, Lisa cogitou a
ideia de sair do escritório antes que ele a machucasse ainda mais, mas nunca
seria mulher o suficiente para Chaeyoung se o fizesse.
- Eu confiei em você. – ele disse baixo, mas com ódio. Sua voz era quase um
rosnado, carregado de cólera. – Apostei todas as minhas fichas em você
quando Daniela me apunhalou pelas costas, e o que você fez? Se tornou uma
lésbica suja! – berrou contra o rosto de Lisa. Ambos tremiam por motivos
diferentes, medo e ódio. – Park Chaeyoung , esse é o nome daquela garota,
estou errado?
- Nunca mais repita isso, Lalisa! – ele esbravejou caminhando até a mesa em
passos pesados.
– O que você tem na cabeça? Ficar com uma garota, Lalisa?! Eu não quero
saber do nome da minha família envolvido em mais nenhum escândalo, já me
basta minha filha caçula grávida, e agora você me aparece com uma mulher!
- Pai... Por favor... Eu... – mas ela não tinha o que dizer, aquelas fotos eram
autoexplicativas o suficiente.
– Mark Park está doente, uh? – ele levantou a taça como em um brinde e Lisa
arregalou os olhos. – Tenho olhos onde você menos imagina, Lalisa. Você
realmente não conhece o próprio pai. – ele bufou e tomou um gole de vinho
deixando a mão livre no bolso.
– Soube que eles não têm dinheiro para o tratamento, estou certo? - Lisa
afirmou com a cabeça, a mão esquerda ainda no lábio inferior. - Talvez eu
possa ajudar. – ele continuou. Encostou-se na mesa lançando um olhar sério
para a filha, e, quando falou, Lisa soube que sua vida estava prestes a mudar.
– E em troca você vai fazer uma coisa por mim.
Voz da razão
A voz do coração diria que Lisa não deveria ter feito àquela viagem. A voz
da razão diria que ela é o motivo de tudo.
_______
27
27 de Janeiro de 2017. Primeiro ano da faculdade.
Pov Chaeyoung.
Todos esperavam que eu chegasse e dissesse algo como: "As famílias Capuleto
e Montequio viviam em conflito e nesse meio nasceu o amor de Romeu e
Julieta...".
Não, seria fácil demais contar pela perspectiva popular do romance, então
decidi revirar o livro e quebrar ainda mais a cabeça procurando pela peça
chave do meu seminário.
"Essas alegrias violentas, têm fins violentos. Falecendo no triunfo, como fogo
e pólvora que num beijo se consomem."
Já a minha professora sorriu de lado, e eu soube que estava dando a ela o que
ela queria. Então eu expliquei o que Shakespeare quis dizer com tal citação.
É quase como a lei de Newton, se há uma alegria violenta e exagerada; seu fim
não será outro senão o fim violento e exagerado.
Eu estava vivendo o romance dos meus sonhos, com a pessoa mais linda que
julguei um dia não existir; tudo era perfeito com Lisa, ela sempre fez questão
de cuidar para que tudo fosse perfeito, para que meu corpo vibrasse em
felicidade plena pelo meu primeiro e, desejo desesperadamente que seja
assim, meu único amor.
Eu estava plenamente feliz até a doença do meu pai se manifestar outra vez e
eu ter que assistir tudo o que construí durante os anos, ser jogado no lixo.
Meus dias em Juilliard estavam contados, uma decisão que meus pais ainda
não tinham conhecimento, mas que ajudaria no sustento de nossa família até
segunda mão.
Meu pai recebera alta do hospital ontem à tarde, ele parece bem, não é como
se um tumor sugasse sua vida dia após dia como um demônio sugador de
alma.
Hoje de manhã, no café, minha mãe contou que papai vai pedir empréstimo
ao dono da empresa e explicar nossa situação; não é algo certo ainda, mas ele
tem muito dinheiro e sempre ajudou os funcionários que precisaram.
Sei que elas não aceitariam o dinheiro de volta quando eu o tivesse, e esse era
um dos motivos que me fazia recusar a ajuda oferecida por elas.
Eu incrivelmente me sentia melhor agora que meu pai estava em casa, poder
tê-lo por perto tomando as decisões coerentes fazia meus pensamentos mais
fáceis de controlar e a pressão em minha cabeça diminuir, aliviando um
pouco mais o meu estresse.
- Eu pensei que te encontraria aqui. – ouvi uma voz rouca tão perto que
chegou a arrepiar meu corpo.
Levantei meus olhos sorrindo somente para encontrar uma Lisa que me
encarava com as mãos para trás e um pequeno sorriso um rosto. Mas havia
algo nela que me deixou intrigada; seus olhos... Eles não tinham brilho.
– Boa tarde.
Me afastei do tronco da árvore dando espaço à ela para que sentasse atrás de
mim, me reconfortei em seu corpo respirando o inconfundível cheiro
amadeirado que ela exalava quando seus braços me embalaram num
aconchego que me fez fechar os olhos confortavelmente.
Apesar das dúvidas rondarem minha mente sobre seu estado, eu me permiti
sentir feliz por aquele momento. Pequenos momentos. Era assim que Lisa e
eu vivíamos, apreciando cada pequeno momento que uma poderia
proporcionar a outra.
- Um pouco melhor agora que meu pai voltou para casa. – confessei
apreciando cada toque causar um efeito diferente em meu corpo. – Ele vai
conversar com o chefe sobre um possível empréstimo para os tratamentos.
Lisa se moveu atrás de mim e eu virei meu rosto encontrando o seu com um
pequeno sorriso torto.
- Sério, Chaeyoung? Eu fico feliz por isso. Assim você não precisa deixar
Juilliard, e seu pai poderá receber os devidos cuidados.
Ouvindo suas palavras tão positivas, foi possível sentir uma onda de
esperança crescer dentro de mim, algo que só ela conseguia despertar dentro
do meu peito.
Lisa suspirou e me apertou ainda mais em seus braços. Eu sabia que havia
algo de errado com ela desde que chegara, nem mesmo sua falsa alegria me
convencia, mas eu sabia que ela gostava do meu pai como o seu próprio pai.
Me virei entre suas pernas ficando de lado e descansando meu rosto na curva
do pescoço de Lisa, um dos lugares mais seguros e aconchegantes do mundo.
- Ok. Vamos esquecer isso antes que eu mude de ideia e decida espancar você.
– resmunguei me levantando e puxando-a pela mão. – Você viu seu pai?
- Não. – foi a resposta dela, mas por algum motivo eu não acreditei. - Sentiu
minha falta? – apontei o dedo em seu peito.
- Sim.
Selei nossos lábios e, para a minha surpresa, Lisa foi logo invadindo minha
boca com sua língua sem pedir permissão.
Eu me senti perdida, despreparada para tal coisa. Lisa não costumava ser tão
desesperada ou dominadora em nossos beijos, mas agora era como se a sua
vida dependesse disso.
Lisa arrastou as mãos pelo meu abdômen provocando faíscas em todo o meu
corpo, mas suas mãos não paravam, ela apertou minha bunda com força,
quase cravando as unhas, e me impulsionou contra a árvore fazendo com que
minhas pernas se entrelaçassem em sua cintura. Soltei um gemido sôfrego e
ao mesmo tempo surpreso.
Estávamos sendo levadas pela luxúria e eu nem mesmo me senti culpada por
isso, não com Lisa empurrando seu quadril contra o meu e chupando minha
língua de uma forma lenta que me tirou da órbita por belos segundos.
Eu estava simplesmente pegando fogo com aquela nova Lisa. Ela me beijava
com tanta paixão, tanto amor, como se... Como se fosse nosso último beijo.
Soltei outro gemido baixinho quando sugou meu lábio inferior e partiu o beijo
me colocando novamente no chão com as pernas bambas.
- Eu só senti sua falta. – ela disse, e eu detectei mais uma mentira aquela
tarde.
Lisa tinha uma expressão confusa no rosto enquanto pensava. Confesso que
simplesmente amava seu nariz franzido quando ela precisava se concentrar
demais, mas sempre seria suspeita ao falar de Lisa quando tudo nela se
tornava apaixonante para mim.
Sorri com seu comentário inocente e deixei minha cabeça tombar encostando
minha testa em seu ombro.
- Se Harry prensava Sarah contra a árvore para alguns amassos? Eu não faço
ideia. – brinquei.
Senti quando ela apertou o moletom de Columbia que eu usava com força,
mas ainda sim, não sorriu.
Ela sorriu de uma forma genuína e meu corpo relaxou, porque ela sempre
sorria quando me assegurava de que tudo estava bem, e eu confiava nela.
- Pode ser em uma casa abandonada com velas ao redor e sexo gostoso com
minha namorada? – provoquei descendo o zíper da jaqueta que ela usava.
Deslizei as duas mãos por baixo da camisa branca fazendo Lisa fechar os
olhos apreciando o carinho.
- Eu não sei. – respondi dando de ombros. – Acho que ia amar voltar naquele
terraço onde tivemos nossa primeira conversa civilizada. Você lembra? – ela
concordou com a cabeça ainda sem me olhar. – Seria ótimo observamos as
estrelas e New York, só você e eu...
- É isso que você quer? – ela perguntou séria. Eu percebi que estávamos
mesmo falando sobre o encontro desta noite.
- Não. – ela negou com a cabeça e desviou o olhar para longe. – Eu só quero
ter esse momento com você. Pode me emprestar seu celular?
- Alô? Irene? Aqui é Lalisa Manoban. – dei dois passos para trás totalmente
incrédula. – Será que eu posso ir com Chaeyoung até o seu apartamento hoje?
Na verdade, eu preciso usar o terraço. Não... Nós não vamos transar nele. –
corei furiosamente e encarei o pássaro voando que parecia muito mais
interessante agora. – Ok... Ok. Obrigada, até.
Lisa travou o celular e me entregou com um sorrisinho fofo nos lábios. E lá vai
meu coração acelerar outra vez.
- Eu acho que Irene vai adorar nos receber. – ela sorriu manobrando o carro
no terreno. – Nós vamos passar no meu dormitório antes e pegar o violão, ok?
O caminho todo até Columbia foi sobre mim. Eu tagarelei sobre meu pai, a
decisão de ainda deixar Juilliard caso o chefe do meu pai não ajudasse; contei
sobre Jennie ter ido até a minha casa pedindo desculpas pela forma como me
tratou. Ela tem sido muito protetora comigo desde que nos conhecemos, ver
sua melhor amiga jogar os sonhos pela janela não era algo totalmente fácil de
aceitar, e eu a entendia completamente.
Lisa apenas concordava e acenava com a cabeça, aquele jeito estranho desde
que ela chegara não tinha desaparecido, muito pelo contrário, ela parecia
mais aflita a cada tic tac do seu relógio de pulso.
Como a garota cheia de surpresas que ela era, Lisa adentrou o prédio com
uma expressão inabalável para os estudantes que estavam espalhados pelo
gramado.
Estar ao lado dela me fez sentir pequena por um momento, mas Lisa pareceu
notar isso e passou um braço pelo meu ombro deixando bem claro que
estávamos juntas, e que ela era minha.
Eu vi o queixo de muita gente cair assim como o meu, mas não ousei olhar
para cima, algo estava muito errado com Lisa e eu descobriria ainda essa
noite.
Eu esperava encontrar Momo no dormitório e matar a saudade que sentia da
minha amiga, mas ele estava vazio e completamente desorganizado; Lisa fez
uma careta quando viu uma calcinha em cima do ventilador, e eu sabia que
não era dela pelo rosto do Capitão América estampado na calcinha. Lisa odeia
o Capitão América.
- Eu não poderia me importar menos com eles agora, Chaeyoung. – ok, ela me
chamou de Chaeyoung.
Ás vezes Lisa fazia jus ao ídolo que carregava a fama entre os fãs como o
homem de preto, por usar roupas e acessórios na cor preta. Querendo ou não,
preto deixava Lisa extremamente atraente, e eu simplesmente amava isso
nela.
Quase meia hora depois, nós saímos do dormitório juntas outra vez; Lisa com
o violão nas costas e nossas mãos entrelaçadas. Nós compramos dois
copinhos de Ben&Jerry e seguimos comendo no caminho até o edifício onde
Irene morava, agora com Lisa mais quieta que o normal para o meu
desespero.
Liguei para Irene avisando que tínhamos chego assim que Lisa estacionou, e
ela nos recebeu na portaria com um sorriso sincero que eu apreciava pelo fato
de ela ter compreendido que Lisa e eu estávamos juntas.
- Eu pensei que vocês não fossem vir. – ela nos puxou para dentro do
apartamento que me levou aos flashbacks da noite da festa com todas aquelas
pessoas se pegando sem pudor e a música ensurdecedora. – Jisoo me ligou
pedindo que eu fosse à sua casa para conversar, até imagino que tenha
discutido com Jennie pela quinquagésima vez.
Franzi o cenho com o comentário. Jennie não me contou nada sobre uma
discussão com Jisoo.
- Obrigada mais uma vez, Irene. É muito legal da sua parte nos ceder seu
apartamento. – eu disse timidamente.
– Sem problemas, amigos servem pra essas coisas. – deu uma piscadela para
nós duas e apontou para a chave. - Essa é a chave do apartamento, sintam-se
em casa, só não... Vocês sabem.
Cobri o rosto com as mãos sentindo meu rosto esquentar com seu comentário
sugestivo. Lisa acenou com a cabeça acompanhando Irene até a porta e a
trancando em seguida.
Lisa olhou o piano por um momento e então desviou os olhos para mim. Eu
não sei dizer quanto tempo ficamos apenas nos olhando, mas sei que foi o
suficiente para quebrá-la por dentro.
Pela forma como ela torceu o rosto e afastou-se com os ombros caídos, eu
sabia que estava prestes a chorar. Eu só esperava que Lisa não tivesse
mentido sobre Los Angeles, e que Marco não a tivesse ameaçado outra vez
como vinha fazendo nos últimos dias caso eles tenham se encontrado.
Lalisa nunca teria noção do quanto era linda, e talvez nunca entendesse o
tamanho do amor que eu sentia por ela. Como se lesse meus pensamentos, ela
me olhou e sorriu de canto, não o sorriso que eu amava, mas um triste e
amarelo.
O silêncio era desconfortável para mim que desejava saber o que se passava
na mente de Lisa. Repousei os olhos no céu que, infelizmente essa noite,
estava sem estrelas.
- Eu acho que esse lugar é a nossa Jerusalém, ou algo assim. – ela disse em
meu ouvido. – Foi o começo de tudo, e se nos perdemos no meio do caminho,
talvez possamos nos reencontrar aqui, nesse mesmo lugar.
- Por que eu sinto que você preparou isso tudo para me dizer alguma coisa? -
eu finalmente criei coragem para perguntar.
Eu sempre tive medo de perguntar ou saber a resposta por temer estar certa.
Eu senti que Lisa estava tentando me dizer algo desde o momento em que nos
encontramos essa tarde, e eu deixei passar, tentei a todo custo imaginar que
era algo passageiro, que logo seu bom humor estaria de volta.
Então eu retribui o abraço sendo o máximo que eu poderia fazer por ela
naquele momento, acariciei seus braços em volta do meu tronco e esperei que
ela tivesse o tempo dela para se recuperar, deixando que minha mente criasse
um turbilhão de hipóteses, e nenhuma delas terminava aquela noite com um
final feliz.
Depois do que pareceram horas, Lisa levantou o rosto do meu pescoço e me
fitou desolada quando virei meu corpo para observá-la melhor; ela não
chorava, mas também não fingia estar bem.
Pela primeira vez no dia, Lisa deixou a dor ser estampada claramente em seu
rosto e a forma como ela me olhava agora balançou todos os meus sentidos.
Lisa partiu o beijo deslizando os lábios pelo meu rosto lentamente. Fechei os
olhos sentindo cada toque com o coração acelerado, arfando com os beijos
cuidadosos que ela tratou de deixar em cada Chaeyoung parte do meu rosto.
Em cada sobrancelha, no meio delas, em cada olho, no meu nariz, mandíbula,
bochechas, queixo e, por último, novamente os lábios.
Quando juntamos nossas testas, ela ainda segurava meu rosto com as duas
mãos trêmulas.
- Lembra quando você disse que preferia usar a música quando as palavras
não eram o suficiente? – ela perguntou com a voz rouca e baixa, quase como
se ela se punisse por dizer cada palavra. Eu assenti me sentindo miserável sob
aquele olhar desolado. – Eu preciso dizer uma coisa importante, e preciso que
você preste atenção.
Permaneci em silêncio quando Lisa inclinou o corpo para trás na intenção de
pegar o violão. Me virei no banco ficando de frente à ela e cruzei minhas
pernas em estilo indiano.
Lisa se endireitou agora com o violão preto nos braços, ela novamente evitava
o contato entre nossos olhos.
Esperei pacientemente que ela tivesse seu tempo para iniciar a música. Suas
mãos tremiam tanto que levou alguns bons segundos para encontrar o acorde
certo, segundos estes que esmagavam o meu coração.
Quando ela começou, notei que eu não conhecia a música, talvez fosse uma
dessas populares, então me concentrei em prestar atenção na letra.
Summer after high school when we first met, we'd make out in your
Mustang to Radiohead, and on my eighteen birthday we got matching
tattoos.
Verão, depois do ensino médio, quando nos conhecemos nós nos beijávamos
no seu Mustang ouvindo Radiohead e no meu aniversário de 18 anos, nós
fizemos tatuagens iguais
Sorri com a letra, de uma forma incerta se tornava nosso jeito de lidar com
nosso namoro. Lisa cantava com a voz rouca e suave enquanto encarava o
chão, mas nada poderia ser mais lindo que sua voz ecoando naquele terraço.
Used to steal your parents' liquor and climb to the roof, talk about our future
like we had a clue. Never planned that one day I'd be losing you.
Costumávamos roubar as bebidas dos seus pais e subir no telhado conversar
sobre nosso futuro como se soubéssemos de algo nunca planejei que um dia
eu estaria perdendo você
In another life, I would be your girl, we'd keep all our promises, be us
against the world. In another life, I would make you stay. So I don't have to
say you were the one that got away... The one that got away
Em uma outra vida, eu seria sua garota nós manteríamos todas as nossas
promessas, seríamos nós contra o mundo em uma outra vida, eu faria você
ficar assim eu não teria que dizer que você foi aquele que foi embora ...
Aquele que foi embora
Até mesmo Lisa vacilou na última parte do refrão. Eu já não sorria, o calafrio
percorreu meu corpo com as novas possibilidades se formando em minha
mente, possibilidades essas que não poderiam de nenhuma forma serem
válidas. Engoli em seco e na estrofe seguinte, a voz de Lisa saiu falha, baixa e
abalada.
I was June and you were my Johnny Cash. Never one without the other, we
made a pact. Sometimes when I miss you, I put those records on. It's time to
face the music, I'm no longer your muse...
Eu era a June e você era meu Johnny Cash nunca um sem o outro, nós
fizemos um pacto às vezes, quando eu sinto sua falta, eu coloco aqueles
discos para tocar, whoa alguém disse que você removeu sua tatuagem te
viram no centro da cidade, cantando blues é hora de encarar a música, eu
não sou mais a sua musa
Abracei meu próprio corpo evitando ser afetada por aquela letra.
O que Lisa estava tentando me dizer? Ela não poderia... Ela não estava... Não!
É claro que não... Lisa sabe que eu mal posso respirar sem ela, nós... Ela
prometeu. É, ela prometeu que nunca me machucaria então aquela letra não
fazia o menor sentido.
In another life, I would be your girl. We'd keep all our promises, be us
against the world. In another life, I would make you stay, so I don't have to
say you were the one that got away... The one that got away.
Em uma outra vida, eu seria sua garota nós manteríamos todas as nossas
promessas, seríamos nós contra o mundo, em uma outra vida, eu faria você
ficar assim eu não teria que dizer que você foi aquele que foi embora ...
Aquele que foi embora
Engoli novamente em seco, o silêncio entre nós pela primeira vez não era
desconfortável, mas sim aterrorizante, então eu tomei a frente decidida a não
deixar que ela fizesse o que eu sabia que faria.
Dei alguns passos em direção à saída com o corpo todo tremendo, fosse de
medo ou antecipação, naquele momento eu só queria sair daquele lugar e me
afastar de Lisa até que ela voltasse a ser a pessoa que eu amava.
- Nós precisamos ir, minha mãe deve ter feito janta e...
- Está frio, Lisa! – exclamei sentindo meu rosto ser banhado pelas lágrimas
que eu já não me importava em segurar. Minha frase saiu com duplo sentido,
mas eu sabia que ela tinha entendido quando pareceu afetada. – Eu estou
com frio! Vamos para casa.
- Chaeyoung, eu não vou para casa com você! – ela disse como se finalmente
cuspisse as palavras que vinha segurando desde que voltara da maldita
viagem. E então ela me quebrou.
Lisa negou com a cabeça deixando que suas mãos caíssem ao lado do corpo,
ela respirou fundo e me olhou com um brilho novo que eu não conhecia, uma
determinação que me deixou totalmente apavorada. Meu mundo caiu.
- Eu não posso mais fazer isso, Chaeyoung! Não é o problema de alguns dias
atrás, não é!
- Então por que está me machucando assim, Lisa? Se você me ama... Por que
está me deixando? – sussurrei incapaz de falar coerentemente.
O silêncio foi tomado pelos meus soluços e minha respiração alterada. Então,
quando ela falou, eu desejei que ela nunca o tivesse feito.
- Porque eu sou covarde. – ela respirou recomeçando a chorar, sua voz saiu
embargada. – Eu tenho medo das pessoas me julgando e não posso controlar
isso. Eu menti duas vezes hoje, e me odeio por isso, mas quando voltei à Los
Angeles para verificar o dinheiro da minha conta, me encontrei com meu pai,
e ele me bateu. – senti um nó se formar na minha garganta, eu já não sabia
mais se sentia raiva, ódio, medo, dor... Talvez tudo ao mesmo tempo. – Ele
descobriu tudo sobre nós e jogou coisas na minha cara que me fizeram
repensar a minha vida toda. Chaeyoung - ela respirou fundo, eu sabia que o
que ela diria a seguir me machucaria intensamente. - Eu não posso formar
uma família com você. – novamente a ânsia me atingiu, eu me curvei de lado
para o vômito, mas nada veio. Me afastei de seus braços com violência a
empurrando para longe de mim, aquela não era a Lisa que eu amava. Eu não
conhecia aquela estranha que estava me machucando. – Eu gostaria de ser
forte como você, gostaria de enfrentar os julgamentos que passaríamos
juntas, mas tudo o que eu sou é covarde. Você viu isso muitas vezes, fui uma
babaca em público com você não só uma vez, e eu não quero isso para nós. –
ela também levantou e eu ergui uma mão a intimando para que ficasse longe
de mim.
- Porque eu não me importo com eles, não mais. Columbia não existe mais
para mim a partir de amanhã. – Lisa disse, os ombros caídos denunciavam
uma garota exausta que sofria também em silêncio. – Chaeyoung, eu vou
embora para a França.
Precisei me agarrar ao pilar para não cair no chão quando meus joelhos
enfraqueceram outra vez. Tudo começou a rodar, eu sabia que desmaiaria a
qualquer momento, aquilo não podia estar acontecendo, não era real... Era
apenas um sonho. Acorde, Chaeyoung. Vamos, acorde, por favor, você precisa
acordar... Acorde. Por favor.
Lisa se aproximou, mas dessa vez eu não tive forças para impedi-la.
- Eu sei que você me odeia agora, mas saiba que ninguém nunca vai me odiar
mais do que eu mesma. – ela disse em tom de súplica. – Eu amo você,
Chaeyoung. Nunca vou ser capaz de me apaixonar tão intensamente como eu
sou apaixonada por você, esse lugar já é seu. Eu amo tudo sobre você, sua
capacidade de perdão, sua compaixão, seu lindo coração que eu tive o prazer
de ter como meu. Eu te amo tão dolorosamente que estou deixando meu
coração com você. Eu te amo tão intensamente que parte de mim morreu no
instante em que precisei tomar essa decisão. Você me fez mulher, me fez sua e
isso ninguém pode mudar.
- Não me deixa, por favor... – implorei me perdendo nos olhos que um dia me
desnudaram em amor.
Lisa piscou algumas vezes deixando mais lágrimas caírem, e então sussurrou:
- Eu preciso ir.
Meu corpo se contraiu com essas palavras, a realidade batendo de frente
quando assimilei que não poderia mais beijá-la, tocá-la ou ver o seu sorriso
que enche o meu coração. Sem momentos em minha casa, sem discussões
infantis, sem noites de amor explorando o corpo uma da outra como um
mapa desconhecido. Sem ver as minhas esferas castanhas todos os dias ao
acordar, me fitando como se eu fosse a garota mais bonita do mundo.
Eu caí sentada e Lisa ajoelhou-se de frente para mim, eu não tinha condições
de afastá-la ou segurá-la, meu corpo não obedecia nenhuma ordem que meu
cérebro ditasse.
- Eu sei que parti seu coração, meu amor, por isso me odeio tanto. - senti
quando ela encostou seus lábios nos meus sussurrando baixinho: - Beije-me
uma vez mais, e não me deixe ver os seus olhos. Perdoo-lhe o que você fez.
Amo a minha assassina... Mas não a sua. Como poderia? – uma pontada
atravessou meu coração e as lágrimas me traíram pela vigésima vez. – Eu te
amo, Chaeyoung.
Não consegui ver o seu rosto quando ela partiu. Ela apenas o fez. Lisa partiu
deixando um monte de memórias destruídas no chão daquele terraço.
♫♫♫♫♫
Pov Lalisa.
Eu dirigia tão rápido pelas ruas de New York que não me surpreenderia se
terminasse com a cara enfiada em um poste qualquer. Que se dane. Que se
danem também as multas que receberia pelos semáforos vermelhos que
atravessara. Que se dane tudo! Eu estava acabada, não existia mais uma
Lalisa Manoban. Essa tinha ficado para trás junto de Chaeyoung.
Adentrei a casa dos Park sendo recebida por uma Ella saltitante. Sorri para a
cena e a recebi em meus braços para um abraço apertado de urso, sabia que
seria a última vez que veria a pequena, e a vontade de chorar foi inevitável. Eu
me controlei ao máximo a deixando no chão, seus olhinhos pretos,
perfeitamente iguais aos de Chaeyoung, brilharam ao ver a enorme caixa que
eu tinha deixado na varanda.
– Eu posso abrir?
- É claro que você pode abrir. – abracei Diana pelo ombro e observei a menina
desembrulhar o presente quase em desespero. Seus olhos quase saltaram da
órbita quando viram a guitarra rosa claro dentro da caixa. Ella começou a
gritar abraçando a caixa, e eu não poderia me sentir mais alegre por tê-la
agradado. Diana me lançou um olhar agradecido, eu precisava ser muito forte
para não chorar. – Eu ouvi uma conversa de vocês outro dia. Ella queria
muito essa guitarra e eu sei que vocês não podem gastar dinheiro agora,
então...
Diana me abraçou outra vez com tanta força que eu pensei que fosse quebrar
as minhas costelas.
- Obrigada, Lisa. Eu já não sei mais como agradecer o anjo que você tem sido
conosco.
Meu sorriso morreu quando me lembrei do real motivo por estar lá. Eu não
era um anjo. Eu seria a devastação de Chaeyoung.
- Mark está?
Fui tirada de meus pensamentos quando uma buzina alta soou logo a minha
direita e eu me dei conta de que tinha atravessado outro sinal vermelho sem
olhar para os lados. Joguei o carro para a esquerda entrando desenfreado na
contra mão que, por sorte, estava vazia, e acabei parando no canteiro de obras
sob reclamações de alguns operários.
- Inferno! – gritei socando o volante quando voltei com o carro para a pista,
eu estava sucumbindo às lágrimas.
- Devo acreditar que está em meu quarto, tremendo, sem Chaeyoung, e com
os olhos inchados apenas para checar se eu estou bem? – Mark perguntou
depois que entrei no quarto.
Ele estava deitado na cama de casal com um edredom branco até o peito, em
suas mãos repousava o controle da TV agora desligada, e seus olhos refletiam
preocupação.
- Eu preciso que você não me odeie pelo que eu vou dizer agora.
Mark apertou os olhos em minha direção.
- Você a traiu?
- Então?
- Eu fui até LA pedir dinheiro para o seu tratamento ao meu pai. – Mark
arregalou os olhos, mas eu continuei antes que protestasse. – Eu sei, por isso
menti para Chaeyoung. O problema é que meu pai já sabia de tudo sobre nós
duas e me agrediu por isso, eu realmente não me importei em apanhar dele, já
não o considero meu pai e Chaeyoung é a minha prioridade. Sempre vai ser.
Eu o enfrentei dizendo que ficaria com ela porque estávamos namorando,
então ele pirou e começou a jogar muitas coisas na minha cara, uma delas foi
a sua doença e a falta de dinheiro para o tratamento... Eu sei, ele é um
monstro. – intercalei quando vi Mark ficar vermelho de raiva. – Então ele me
propôs deixar Chaeyoung em troca do dinheiro. Eu a deixaria, e ele bancaria
tudo o que você precisasse, esse seria o trato. Eu relutei no começo, eu juro
que tentei contestar... Até me lembrar de que Chaeyoung está disposta a
deixar Juilliard para assumir as responsabilidades de casa.
- O que? – Mark exclamou apertando o controle com força. – Ela não pode
fazer isso!
- Eu sei, por isso aceitei a proposta. – fui direta e vi o rosto de Mark passar de
vermelho para o pálido. – Eu vou sumir da vida de Chaeyoung, e em troca
você precisa me prometer que vai cuidar dela, Mark. Chaeyoung vai precisar
de todo apoio possível, e eu não posso ficar entre o sonho dela e vocês. Se o
meu desaparecimento ajudá-la a ser o que sempre sonhou e manter o herói
dela vivo, eu estou disposta a despedaçar meu próprio coração. Chaeyoung vai
sofrer nos primeiros meses, eu sei que vai, mas então ela terá que se
preocupar com a sua recuperação e o sonho em Juilliard; as
responsabilidades vão começar a fazer parte da rotina dela, e então, quando
menos esperar, ela me esquecerá.
- Apenas aceite. É o meu presente. Mas eu preciso que seja nosso segredo,
Chaeyoung nunca aceitaria o dinheiro do meu pai... Diga que vai pedir
empréstimo ao seu chefe, eu vou dar as coordenadas para você do meu novo
celular. – enxuguei as lágrimas com as costas da mão. – Não conte nem
mesmo para Diana, sabemos como ela é por Chaeyoung. Eu sei que estou
pedindo demais, mas é o futuro de Chaeyoung que está em risco aqui. E,
assim como eu, sei que você também quer vê-la realizando um sonho. Quem
sabe ela não encontre alguém que cure as feridas que eu deixar? O futuro é
um mistério agora, mas eu estou cuidando disso para Chaeyoung.
- Lisa? – ouvi uma voz conhecida. Ergui o olhar encontrando o velho garçom,
Eli, que me analisava preocupado. – Deseja alguma coisa?
Abaixei minha cabeça entre os soluços, a dor queimava tudo dentro de mim.
Senti uma mão afagar meu ombro gentilmente, eu sabia que era Eli.
- Eu não sei o que aconteceu, mas espero que a senhorita não esteja
arrependida.
- Não, eu não sou. – respondi incerta. – Ela vai encontrar alguém que seja
livre, sem um futuro já escrito pelos pais. Espero que esse alguém seja capaz
de tratá-la como a princesa que é. Que não erre a comida vegetariana e...
Espero que alguém note a forma como ela sorri e o jeito que seus olhos se
fecham como se ela vivesse tudo intensamente. Apenas eu sei disso. - Eli me
olhou curioso e eu balancei a cabeça. - Porque esse sorriso costumava ser
reservado a mim.
♫♫♫♫♫
(Play musica It's all coming back to me now - Celine Dion - escutem)
A família Park se encontrava reunida na igreja como de costume aos sábados.
Ella conversava baixinho com uma garotinha que sempre acompanhava a mãe
nas missas, Diana segurava a mão de Chaeyoung com força, desejando que
Lisa pagasse pela dor que tinha causado à sua filha.
Mark encarava o altar desejando poder se confessar logo e tirar todo aquele
peso dentro de si. O peso da verdade. Ele não conseguia lidar com o fato de
Chaeyoung acordar em meio à madrugada entre pesadelos, ou mentir para a
sua família dizendo que seu chefe tinha aceitado fazer o empréstimo. Lisa era
uma heroína, mas a dor de Chaeyoung havia sido substituída pelo ódio; ele via
isso nos olhos da filha quando o nome da Lisa era mencionado.
-... Porque o que Deus espera de nós nada mais é que o amor. Ele nos enviou
seu filho para que morresse para nos salvar, e se isso não é amor, então eu
não sei mais o que é. – ele deu uma pausa observando o silêncio dos fiéis. –
Ouvimos todos os dias falar sobre o amor para com o nosso Deus, mas nos
esquecemos de amarmos uns aos outros como Ele nos amou. E sim, eu
acredito em amor eterno, acredito também que seja o motivo de tudo.
Daniela, sua irmã, ajustou seu casaco e lhe deu um beijo suave na bochecha
oferecendo em seguida um sorriso singelo. Daniela definitivamente se
orgulhava da irmã que tinha, e cumpriria a promessa de cuidar de Chaeyoung
o máximo que pudesse.
Momo entregou a mala preta para Lisa com um sorriso forçado. Ela não
queria demonstrar, mas não queria ver sua melhor amiga partir. Momo
amava Lisa como uma irmã de infância e apesar de ver Chaeyoung em
pedaços, tudo em si doía quando olhava para Lisa, porque sua amiga estava
sacrificando a própria felicidade por amor.
Lisa abraçou Momo e as duas não se permitiram chorar naquele dia. Elas já o
tinham feito o suficiente no dormitório um dia antes, então tudo o que restava
era a certeza de um até logo.
Lalisa deu um beijo na testa da amiga e acenou para Daniela antes de virar as
costas com um suspiro pesado e desaparecer na multidão de pessoas.
♫♫♫♫♫
"Então eu lhes pergunto: Por que é tão difícil amar? Porque esse sentimento
nos machuca tanto quando deveria nos causar a felicidade plena? Eu
gostaria de ter a resposta para todas as perguntas. O que eu posso dizer por
agora, é que, no final de tudo, o amor é a única coisa que a vale a pena. Se
sorrimos, é por amor. Se choramos, é por amor. Se sofremos, também é por
amor. Porque Deus é amor e Ele está em tudo o que fazemos, sentimos e
pensamos. Deus nos deu o livre arbítrio por nos amar, então talvez o
significado desse sentimento seja deixar a outra pessoa livre para que ela
possa trilhar o próprio caminho."
Seus olhos pesaram vencidos pelo cansaço e Chaeyoung temeu fechá-los, era
torturante sempre que se deixava cair no sono. A imagem dela sempre
retornava para tirar-lhe o que restava de sanidade.
____________________
28
Seu corpo sabia o quanto Lisa estava sofrendo, fazendo questão de entrar em
estado de letárgico, como se houvessem lhe aplicado várias doses de mofina
para que o sangramento em seu coração se dissipasse. Agora, sentada no chão
com as costas apoiada no beliche, Lisa observava as sombras na parede
oposta como se fossem seus próprios demônios rindo de sua queda
emocional, ela poderia até mesmo escutar as risadas animalescas se fechasse
os olhos. O violão preto esquecido em seus braços era um suporte no
momento, seus dedos dedilhavam as cordas sem ter realmente o que tocar,
porque apesar de seus olhos estarem focados nos demônios da parede, sua
mente divagava de volta ao terraço onde deixara os restos de uma lembrança
perfeita.
- Sete filhos, Lisa? Você ficou louca? – perguntou a mais nova com expressão
assustada. – Vamos começar apenas com Ethan. Ou Sarah, caso seja uma
menina.
- Ok. Ok. Você é quem manda. – revirou os olhos. – Enfim, vamos ter Ethan
ou Sarah correndo para cima e para baixo, eu vou chegar do trabalho e ver
minha linda esposa praticando em seu piano, vou beijá-la com toda a
saudade que senti o dia todo enquanto estava escritório. Depois do jantar
vou me sentar com Ethan, ou Sarah – Chaeyoung riu e Lisa continuou. – na
varanda e lhe ensinar a tocar violão, ou ouvir você lendo seus poemas. O que
acha? Ah, é claro, um domingo podemos visitar seus pais e no outro os meus.
E nos dias em que você precisar trabalhar fora, vamos precisar de uma
babá, mas acho que Momo vai adorar cuidar do nosso filho.
- Nós vamos lutar por isso. – respondeu quando Chaeyoung enfiou o rosto
na curva de seu pescoço. – Nós vamos lutar juntas, Chaeyoung.
Mais lágrimas deslizaram por sua pele pálida, ela não as enxugou dessa vez,
não havia mais necessidade disso, não quando elas não iriam parar tão cedo,
talvez nunca, mal sabia como suas glândulas lacrimais ainda produziam
tantas delas após horas intensas de choro.
Lalisa olhou o relógio na parede constatando que Momo ainda estaria com
Chaeyoung na casa dos Park com todos a odiando, seu coração apertou ao
imaginar Diana com raiva dela. É claro que a culpa não seria da mulher, ela
não sabia que Lisa tinha sido obrigada a escolher entre os sentimentos que
desenvolvera por Chaeyoung ou o futuro da garota, e como ela sempre deixou
claro, a felicidade verdadeira de Chaeyoung sempre seria sua prioridade, essa
felicidade que estava nos pequenos momentos com a família e na música.
Lisa rolou os olhos até o CD jogado no chão do Johnny Cash que tinha
emprestado uma vez a Chaeyoung, ela automaticamente pensou na história
de Johnny e June, e sentiu vontade de rir da ironia que sua vida se tornara
quando imaginou que seu fim seria como o de seu ídolo, viver os últimos anos
ao lado da mulher que ama.
Ainda com os olhos fixos no CD, Lisa dedilhou a devastadora versão de Hurt
que Johnny regravara; uma de suas músicas preferidas e, ironicamente, a que
descrevia seu momento ao pé da letra.
- I hurt myself today – fez uma pausa e contemplou outra vez o silêncio
deixando-se abraçar pela dor. Respirou fundo fechando os olhos quando
voltou a cantar com a voz rouca e baixa. - To see if I still feel. – fez outra
pausa, era como se cada respiração machucasse seu peito. - I focus on the
pain, the only thing that's real... – o celular ao lado anunciava uma caixa de
mensagens lotada com ligações perdidas de Jennie e Jisoo. Sua voz falhou
antes de continuar. - What have I become, my sweetest friend? Everyone I
know goes away in the end...
Algo chamou sua atenção quando passou pela sala 208. Lisa parou no
portal e tentou ao máximo não ser vista. Observou atentamente o que
parecia ser uma pequena orquestra, havia uma fileira de estudantes com
violoncelo e violinos no fundo da sala e de frente para eles uma garota com
um laço vermelho amarrado em sua mão que tocava piano delicadamente.
As coisas simplesmente aconteceram. Por algum motivo, os olhos de Lisa se
prenderam nos movimentos suaves da garota ao dedilhar o piano; ela tinha
cabelo castanho escuro até a cintura e a delicadeza de uma princesa dos
contos de fadas que sua mãe costumava ler antes de dormir quando
Chaeyoung. Seus movimentos eram tão concentrados, que Lisa desejou que
ela se virasse a qualquer instante para contemplá-la ainda mais.
As lembranças queimavam por toda a parte agora. Seus dias de glória ao lado
da princesa mais bela que o mundo tem sorte de abrigar, a forma como
Chaeyoung se embrulhava em seus braços como um bebê manhoso, a maneira
intensa como ela a olhava como se pudesse enxergar seu coração, sua alma e
tomar tudo para si. Lisa sabia, sim, ela sabia que não importaria o tempo que
passasse desde dia em diante, Chaeyoung sempre estaria lá, habitando a
melhor parte dela.
- And you could have it all, my empire of dirt. I will let you down, I will make
you hurt. – cantou controlando-se para não entrar em desespero, suas mãos
tremendo tanto que chegava a errar várias notas. - I wear this crown of
thorns, Upon my liar's chair. Full of broken thoughts I cannot repair. – ela
não aguentava mais, sua voz mal saía agora que seu rosto estava banhado em
lágrimas outra vez, sua respiração ofegava como se algo bloqueasse seu
pulmão. - What have I become, my... – tentou, mas engasgou na frase e
desabou a chorar, mal se importando com sua voz elevada, ela só queria que
aquela dor passasse de uma vez, que Chaeyoung irrompesse aquela porta e a
abraçasse dizendo que tudo ficaria bem, que elas estariam bem, mesmo que
fosse errado e egoísta desejar tanto que acontecesse.
- Inferno! – gritou alto e num ato impensado, agarrou o braço do violão com
força o batendo contra a parede que abrigava as sombras de seus demônios.
A porta foi aberta e uma Momo com expressão cansada passou por ela,
ficando chocada ao ver o que restou do violão no chão. Ela olhou para Lisa
que se mantinha encolhida, as mãos cobrindo o rosto e os soluços altos do
choro que podiam ser ouvidos lá de fora.
- Shhh, não é sua culpa, Lisa. Não é culpa sua e muito menos de Chaeyoung. –
afagou os cabelos negros, seu coração rompendo pela segunda vez na noite. –
Se quer mesmo saber, você foi a pessoa mais corajosa que eu já conheci. Não é
como se qualquer pessoa fosse abdicar dos próprios sentimentos pela
felicidade de outra pessoa. Isso só prova que você a ama verdadeiramente, e
você sabe muito bem que eu nem mesmo acreditava nesse tipo de amor até
isso acontecer. – suspirou com a veracidade de suas palavras. Lisa foi se
acalmando em seu ombro, mas ainda tremia como se estivesse congelando de
frio apesar da temperatura estar alta. – Eu acho que nem mesmo você
acreditava, não é? Eu tenho tanto orgulho de você, Lisa. Eu sei que minhas
palavras não vão ajudar em nada, mas eu só queria que você soubesse disso,
que você e Chaeyoung foram a coisa mais certa que aconteceu desde essa
porcaria de mundo foi criado.
Momo tentou aliviar a tensão, mas repreendeu-se internamente por isso. Lisa
remexeu-se incomodada separando-se do abraço, seu rosto estava molhado
apesar das lágrimas terem cessado. Elas se olharam por um bom tempo antes
de Lisa perguntar:
- Apenas continue.
- Ok... Eu consegui arrastá-la até a sala ainda desacordada, mas Irene chegou
pouco depois, eu expliquei a situação a ela que me ajudou a levar Chaeyoung
em seu carro. Ela começou a acordar ainda no caminho, mas parecia drogada
ou algo assim. – enroscou seus dedos no cabelo de Lisa num carinho terno
vendo os olhos exaustos de Lisa pesarem. – Nós a levamos para casa e, como
você informou mais cedo, Mark já nos esperava na varanda, ele ficou muito
assustado, porém. – fez uma careta ao lembrar-se dos olhos assustados de
Mark. – Diana correu em desespero até nós perguntando o que tinha
acontecido com a filha, e eu mais uma vez tive que explicar, dessa vez com um
pouco de cuidado sobre alguns detalhes. Irene foi embora e Mark me ajudou a
levar Chaeyoung para o quarto, Diana não parava de chorar e, bem... Xingar
você. – Lisa enterrou a cabeça no travesseiro imaginando a cena, isso doeu
mais do que deveria. – Nós demos água a ela, e quando Chaeyoung
finalmente voltou ao mundo real, começou a perguntar por você, tentou
diversas vezes pegar o celular e ligar para você, mas eu avisei que esse número
já não existia mais. Foi quando ela desabou a chorar na cama. Merda, Lisa, eu
me vi tão perdida naquele momento. Ela não parava de se culpar dizendo que
não deveria ter pressionado você, isso me quebrou, e eu sei que quebrou Mark
por ele também saber a verdade tanto como eu. – Momo deitou-se de frente
para Lisa a cobrindo com o edredom. – Nós demos um calmante a ela, e
minutos depois ela parou de chorar até dormir. Então eu vim embora.
- Sim?
Momo franziu o cenho sentindo a dor da amiga. Faria qualquer coisa para
mudar o que estava acontecendo com suas amigas, por mais que fossem duas
garotas irritantes, elas eram irritantes juntas e isso as tornava adoráveis,
mesmo que nunca fosse dizer isso em voz alta.
- Eu sei, Lisa. Não vou dizer que logo vai passar porque estaria blefando,
então eu só posso dizer que vou estar aqui por você sempre.
O homem caminhou pelo corredor até a porta do quarto da mais velha que
tinha sido deixada aberta para casos extremos, e ele não pode deixar de correr
até a cama da filha quando a viu agarrando ao edredom com força e chorando
como se algo a machucasse no pesadelo que estava tendo pela terceira vez na
noite.
- Chaeyoung! Acorde, por favor. – ele a chamou sacudindo seu ombro com
delicadeza, controlando as próprias lágrimas para ser forte pela filha. –
Chaeyoung!
"Chaeyoung, espero do fundo do meu coração que um dia você ler essas
minhas palavras e que, quando as ler, já tenha me perdoado. Gostaria que
você tivesse algo para se lembrar de mim, algo vivo. Algo que a fizesse se
lembrar de que eu, um dia, fui real, tanto que minhas mãos escreveram
essas palavras e as minhas lágrimas molharam esse papel, assim como você
foi tão real e especial para mim. – Chaeyoung ergueu a cabeça com as
palavras do pai e viu o pedaço de papel que ele segurava em mãos, seu
coração automaticamente deu um salto cessando as lágrimas
momentaneamente, estava hipnotizada com o momento. - Perdão por todas
as vezes em que eu te deixei triste ou te fiz chorar, porque tudo o que menos
queria no mundo era ver você chorar, mas, inexplicavelmente, são as
pessoas que mais amamos que mais magoamos durante nossa vida. Lembra
quando assistimos o filme "Ps: Eu te amo."? Existe uma frase naquele filme
que faz muito sentido para mim agora: "Você foi a minha vida, mas eu fui
apenas um capitulo da sua." Queria não precisar de palavras para que você
pudesse me compreender, mas essa foi à única maneira no momento que
encontrei. Poucas coisas se mortabilizam perante o tempo, poucas, porque
nem sempre conseguimos despertar da alma humana emoções tão raras.
Por favor, não chore. Cada minuto que passei com você foi mais do que
poderia agradecer em apenas uma vida. Me perdoe também por termos tido
tão pouco tempo juntas, não consigo me lembrar de um momento que tenha
sido feliz em que você não esteja. Jamais pensei que encontraria alguém
como você, Chaeyoung. Alguém que fizesse meu coração quase saltar de
felicidade; tem noção do quanto eu amo você? Uma vez, uma pessoa muito
sábia me disse que as histórias nunca terminam até que tenham um final
feliz, talvez ela tivesse razão. Talvez essa história ainda não tenha
terminado. Não esqueça o amor que tivemos. Eu não acredito que nós
possamos amar apenas uma pessoa na vida... Não, você vai amar outras
pessoas. Talvez mais, talvez menos, talvez de outra maneira. Mas você
ainda vai amar muito. Apenas peço que esse amor que tivemos não seja
esquecido, porque eu não vou esquecer. Onde quer que eu esteja sem você
será vazio, e o que vai me fazer sentir em casa será pensar no aconchego dos
seus braços, no seu toque, e nas palavras doces que saiam de seus lábios que
tantas vezes beijei. Por isso, deixo nesta carta a verdade e a certeza. A
verdade que ainda te amo. A certeza de que nunca vou te esquecer."
Mark terminou de ler a carta boquiaberto. Ele sempre soube que Lisa era
apaixonada por Chaeyoung e isso só se provou ainda mais com as ações da
garota, mas aquelas palavras...
Aquilo era tão puro. Tão sentimental, tão lindo e ao mesmo tempo tão trágico
que ele pode sentir tudo em si mesmo. Chaeyoung, no entanto, encarava o
vazio. As palavras de Lisa surtindo efeito em todo o seu organismo, e, de
repente, ela precisou correr ao banheiro e vomitou quando seu estômago não
foi capaz de lidar com a dor rasgando seu interior.
Ela não entendia o que porque de Lisa ser tão covarde se aquelas palavras
mostravam o quanto seu amor era correspondido.
***
30 de Janeiro de 2017. – Primeiro ano da faculdade.
O avião decolou deixando tudo e a todos para trás quando ganhou o céu de
New York, Lalisa lançou um último olhar ao aeroporto a tempo de ver Daniela
e Momo acenando pela janela da sala de espera e retribuiu contra a vontade.
Sua vida em New York teve um belo início e um trágico fim. Construiria sua
própria vida na França agora. Ela fizera um acordo com Marco ainda em LA,
ele bancaria Sorbonne, uma das melhores faculdades de Paris, até que Lisa
encontrasse um emprego e pudesse se sustentar. Assim o contato entre os
dois deixaria de existir, Lalisa também deixou bem claro para Charlote que
não queria vê-la nunca mais, não quando a mulher falhara em seu papel de
mãe.
Jennie e Jisoo a tinham visitado um dia antes no dormitório em Columbia.
Não poderia ser chamada de visita amigável uma vez que Jennie estava com a
fúria estampada nos olhos quando desferiu um forte tapa no rosto de Lisa.
Momo gritou com Jennie e a empurrou para longe dizendo que ela não sabia
o que estava fazendo, mas a Lisa não a culpava, ela não sabia da verdade e,
mesmo que soubesse, o que Lisa tinha feito ainda era horrível.
Levou duas horas para serem explicadas as verdades e no fim da tarde, Jennie
era apenas mais uma chorando abraçada a Lisa enquanto se desculpava pelo
tapa de mais cedo. Ela prometeu que não contaria a verdade, por mais
achasse um erro esconder algo daquela proporção de Chaeyoung, e foi
embora se despedindo de sua amiga com um longo abraço cheio de
significados. Jisoo também a confortou dizendo que sempre estariam lá
esperando por ela, e Lisa reforçou que não voltaria, mas que sempre estaria
agradecida por tudo o que fizeram por ela.
E Chaeyoung... Bem, Lisa a viu uma última vez. Ela estava no Central Park
com Ella no café da frente comprando algumas torradas. Foi pura
coincidência do destino, mas mais nova não a viu; a Lisa escondeu-se atrás de
uma árvore na calçada e deixou-se torturar pela imagem de sua ex-namorada,
e isso agora soava tão horrível que seu estômago chegava a embrulhar,
sentada no banco de cimento sem nenhum sorriso no rosto enquanto assistia
Ella brincar com algumas crianças. Ela estava com os pés apoiados no banco e
abraçava os joelhos como se criasse uma barreira protetora. Tão frágil e tão
Chaeyoung...
Lisa se conteve na vontade de correr e abraçá-la, foi à última vez em que a viu.
E ela estava linda.
***
Cinco meses haviam se passado desde que Lisa deixara sua vida em New York
para trás.
Chaeyoung tinha se trancado outra vez em seu casulo particular onde pessoas
como Jennie, Jisoo e Momo entravam apenas como permissão.
Ella sofria sem entender o que estava acontecendo com a irmã mais velha,
mas tinha uma pequena noção quando Lisa não apareceu mais em sua casa. E
Chaeyoung já não sorria mais, e ela apenas sorria verdadeiramente com Lisa.
No segundo mês a garota voltou à faculdade, mas ela já não tocava mais
piano. Não estava pronta. Então se apegou apenas ao violino como uma
promessa muda de esquecimento à sua dor; ignorou todos os olhares curiosos
nos corredores e gritou com as pessoas que perguntavam sobre Lisa, mesmo
que inocentemente.
No terceiro mês, Daniela fez uma visita em sua casa. Foi a primeira pessoa
com quem ela finalmente conversou sobre Lisa. Conversaram por horas
seguidas com direitos a abraços apertados e choros de desabafo, e pela
primeira vez desde o acontecido, Chaeyoung sentiu algo bom dentro de si ao
ver a barriga da Manoban mais nova. Daniela contou que vivia muito bem
com Brian em um pequeno apartamento, e que agora trabalhava numa
biblioteca todos os dias depois da escola.
Depois desse dia, Chaeyoung deixou Jennie e Jisoo se aproximarem e
percebeu a falta que elas faziam em sua vida.
O contato entre amigas foi retomado e elas voltaram a sair todas juntas, sem
nunca mencionar o nome de Lisa. Por mais que a falta da Lisa ainda a
sufocasse todos os dias, Chaeyoung sentia-se bem em voltar à rotina.
Durante esse mês, o sobrenome Manoban já não machucava mais.
- Algumas pessoas nascem com a grande paixão pela música e passam parte
da vida lutando por isso. Nós não medimos apenas o talento, muitas dessas
pessoas conseguem uma vaga em Juilliard pela paixão, determinação e por
desenvolverem esse talento com o tempo. – ele se aproximou cuidadosamente
dela, o sotaque arrastado dava ao homem todo um charme europeu. – Outras
pessoas apenas nascem com esse dom, Srta. Park, assim como você. Você é
um milagre. Quando você tocou há dois dias, eu pude sentir toda uma tristeza
e melancolia que apenas músicos apaixonados possuem; ao mesmo tempo em
que traz a paz que o mundo precisa entre seus acordes; confesso que cheguei
a acreditar que a Srta. estivesse mesmo sofrendo por amor, tocando para
quem quer que seja que a tenha machucado.
Todos olharam com expectativa para a garota que tremia dos pés a cabeça. O
sentimento inexplicável que ela costumava a sentir com certa pessoa sendo
revivido agora por seu sonho.
- Eu aceito.
Nota do destino
______________
29
Uma mulher de longos cabelos loiros, olhos acinzentados e pele alva remexeu-
se preguiçosamente na cama de casal soltando um murmurou preguiçoso no
ar ao abrir os olhos.
Ela remexeu-se um pouco mais até estar com o corpo totalmente virado para
a direita, onde se deparou com Park Chaeyoung sentada contra a cabeceira da
cama com seu óculos de grau, um top preto e calcinha.
- Vendo as contas desse mês. – foi a resposta de Chaeyoung sem tirar os olhos
dos papéis. – Eu preparei o café da manhã, você pode descer e comer alguma
coisa antes de ir embora, Hannah.
A tal Hannah bufou e sentou-se na cama exibindo sua nudez, mas nem
mesmo assim teve atenção de Chaeyoung e acabou gemendo frustrada.
- Que você não quer nada sério com alguém, e ficar depois do sexo é sinal
claro de sentimentos, e blá, blá blá... – revirou os olhos impacientemente. –
Eu sei de tudo isso, Chaeyoung. O problema é que fazemos isso há três meses
e eu preciso saber se você está nessa tanto quanto eu. Estou cansada de ter
que ir embora toda manhã depois de uma noite maravilhosa de sexo.
Chaeyoung abaixou a cabeça compreendendo o rumo daquela conversa, então
analisou suas possibilidades mentalmente, não eram muitas, a julgar o fato de
que Hannah tinha toda razão quando pedia por algum sinal de Chaeyoung ...
Sinal esse que ela não tinha. Não havia nada de errado com a loira, Hannah
era uma pessoa maravilhosa, as duas se conheceram dois anos antes, no
casamento de Jennie e Jisoo quando a loira derrubou ponche no vestido de
Chaeyoung. Desde então se tornaram conhecidas pelo fato de Hannah
trabalhar na academia de dança de Jisso e Jennie, Kim Academy.
Não que ela odiasse seu trabalho. Não, ela não poderia, não quando seus
alunos eram seu bem mais precioso e a melhor parte de seu tempo. Mas era
aquela típica frase "não é você, sou eu." Que todos diziam quando não
estavam mais afim de alguém e não sabiam como dizer.
- Eu não posso ter um relacionamento agora, deixei isso bem claro desde o
inicio. – disse sem rodeios, sua voz saindo neutra e tranquila. A Chaeyoung
voltou até a loira e lhe entregou as peças. – Me desculpe, Hannah. Eu sei que
você merece todo o amor do mundo... – franziu o cenho, há tanto tempo não
dizia aquela palavra. – Mas eu não tenho isso, entende? Não posso lhe dar
algo que não tenho. –
- Eu não entendo o que aconteceu com você. – a loira insistiu quando as duas
já estavam devidamente vestidas. Chaeyoung usava uma calça jeans clara,
uma blusa branca de renda e um blazer preto por cima. - Qualquer pessoa
sonha em ter um relacionamento maduro. Já você, nunca nem toca no
assunto e ignora qualquer tentativa minha de aproximação que não seja sexo.
O silêncio tomado pelo canto dos pássaros era sua terapia da manhã sempre
que saía de casa sentindo-se sobrecarregada ou perdida de si mesma. Era
como se o mundo nunca fosse parar de pressiona-la, empurra-la para uma
corda bomba testando seus limites. Porque era assim que ela se sentia nos
últimos anos.
Ele estava lá em tudo, em seu primeiro contrato assinado, seu primeiro show,
sua primeira desilusão artística, o primeiro da fila nos shows e o que aplaudia
mais alto.
Em 2020, o tumor reapareceu ainda mais agressivo e dessa vez o fez se mudar
para o hospital. Ás vezes, quando fecha os olhos, Chaeyoung pode se lembrar
das palavras do pai naquele quarto de hospital.
Flashback
- Eu não acredito em coincidências, filha. – a voz de Mark era fraca, ele mal
podia falar. Tinha o lado esquerdo do corpo todo paralisado enquanto
olhava amorosamente para Chaeyoung sentada na cama ao seu lado. –
Você é uma grande mulher porque nunca desistiu de seus sonhos. Se eu
morrer hoje e Deus me perguntar qual é o meu maior feito de orgulho aqui
na terra, eu vou responder com o meu melhor sorriso que são minhas duas
filhas. Eu te amo tanto, Chaeyoung. Meu maior sonho foi realizado, ver você
se tornando uma grande musicista. – então ele a olhou e havia algo triste
ali, uma mágoa ou decepção. – Eu daria tudo para ver minha Chaeyoung
alegre novamente. – passou a mão pelo rosto da Chaeyoung que chorava
silenciosamente. – Você conquistou seu sonho da maneira errada, com
amargura e trancou o sorriso lindo que conquista as pessoas em algum
lugar aqui dentro. – desceu a mão até o coração da filha. – A vida é curta,
filha. Ela não espera por ninguém e eu sei muito bem a fase em que você
expelia felicidade pelos cantos da casa. – Chaeyoung fechou a cara, odiava
quando seu pai insistia em tocar nesse assunto. Mark entendeu o recado e
mudou o rumo das palavras. – Onde quer que eu esteja, estarei sempre
aplaudindo você, porque você, Ella e sua mãe são a última coisa que me
lembro antes de dormir e após acordar.
Fim do flashback.
Aquele dia ela prometeu a si mesma que nunca se apegaria em ninguém, pois
a vida pode lhe tirar essas pessoas de várias formas possíveis, e todas são
destrutivas.
Estacionou o carro em frente à sua antiga casa e sorriu ao ver Ella esperando-
a sentada nos degraus. A menina, agora com 11 anos, correu com a mochila
nas mãos até o carro e entrou depositando um beijo estalado na bochecha da
irmã mais velha.
- Hannah decidiu ser carente hoje. – respondeu e Ella fez um som engaçado
com a boca.
- Ela não vai sair do seu pé até ser dispensada, Chaeyoung. – disse enquanto
amarrava o cabelo em um rabo de cavalo. – Relacionamentos lésbicos são tão
dramáticos, ugh.
Chaeyoung riu e assentiu, Ella tinha toda a razão.
Foi quando Chaeyoung não foi capaz de conciliar o trabalho com os cuidados
em casa e decidiu abandonar tudo pela mãe e irmã. Ela conseguiu um
emprego como garçonete em um bistrô e com o dinheiro que recebia,
comprava as coisas necessárias para a despensa de casa e fez licenciatura em
música.
- Eu estou um pouco sem tempo com o trabalho, Ella. Chego cansada e...
- O que você entende disso, mocinha? Só tem 11 anos e quer mesmo falar
sobre minha vida pessoal?
Ella revirou os olhos e o assunto mudou para os trabalhos de inglês que a
pequena estava tendo dificuldade. Pouco depois, Chaeyoung estacionou o
carro em frente ao colégio de Ella e se despediu da irmã, era o mesmo trajeto
para o trabalho da Chaeyoung.
Ela pensa em retornar aos palcos? Não há uma resposta certa no momento. A
Chaeyoung já provou o suficiente do mundo artístico, e foi só depois que
começou a dar aulas que descobriu como ama ensinar as crianças tudo o que
sabe.
Assim que abriu a porta, foi recebida por vários gritinhos animados sobre a
chegada da "tia Chaeyoung", e pode-se dizer que assim como Chaeyoung os
amava, esse amor era retribuído de uma forma muito mais barulhenta.
- Olá, Ethan. Meu nome é Chaeyoung e eu estou muito feliz por ter você aqui.
- Sim, eu sei tocar piano, violão, violino e alguns outros que você vai conhecer.
Você quer?
Ethan balançou a cabeça animado e olhou para Luhan que assistia a interação
calado.
- Ela vai me ensinar a fazer música! – ele exclamou como se fosse uma grande
surpresa.
– Eu quero fazer música logo!
- Esse garoto é cada dia mais parecido com a mãe, ambos apaixonados pela
música. – ele brincou quando a Chaeyoung voltou a levantar. – Nos mudamos
há algumas semanas para os Estados Unidos e a primeira ideia que ela teve
foi de colocar o garoto em alguma escola de música. Ela diz que vai ajudar na
boa educação dele.
Foi uma verdadeira surpresa saber que Ethan não era americano. O garoto
olhava atento as outras crianças brincarem distraídas com os instrumentos
musicais infantis, Chaeyoung sabia que ele estava com vontade de se
enturmar, mas era tímido o bastante para isso.
Luhan abriu a boca em choque quando se deu conta de que Chaeyoung tinha
interpretado as coisas erradas.
- Oh, eu não me preocupo com isso, sou totalmente a favor das artes na vida
de Ethan. – olhou o relógio de pulso e arregalou os olhos. – Droga...
- Tudo bem, meu anjo. A tia está ficando louca, mesmo. – brincou e recebeu
um sorriso tímido. – Você quer se juntar aos seus novos amigos enquanto eu
passo a tarefa de hoje?
Ethan voltou seu olhar incerto para as crianças sentadas nas mesinhas de trio.
- Ethan, é claro que vão gostar de você, quem não gostaria? Você é um fofo. –
apertou suas bochechas e ele fez uma careta. – Ok, você é um homenzão? -
Ele assentiu. - Então o homenzão não vai ter medo de conhecer novos
homenzões. – brincou e Ethan olhou novamente para as crianças que
pareciam nem ter notado sua presença ali. – Pode sentar ao lado daquele
homenzão de verde, bem ali, viu? – apontou para Nicolas que insistia em
tentar abrir um pacotinho de bolacha do lado errado. Ethan bufou e torceu a
boca.
- Está namorando... – cantarolou quando Ethan caminhou até sua mesa com
o desenho pronto.
- Para, tia. Ela é menina, ew. – ele parecia mais solto também.
- Meninas não sabem brincar com carros velozes, não gostam de músicas
legais e só choram.
Luhan acenou da porta para Ethan, que por sua vez olhou Chaeyoung sem
saber o que fazer.
- Até, tia. – ele fez menção de sair, mas voltou com o olhar preso no chão.
Notas do destino
Eu sempre prego peças.
__________
30
"Um tanto quanto curioso eu te mandar esta carta? Quem sabe. A verdade é
que não sabia como começá-la, pois não colocaria "Querida Lisa", sério, eu
te odeio.
Mas enfim, indiferenças à parte. Soube por fontes seguras (sua mãe) que
voltou para os EUA. Está certa do que fez, Lisa? Digo, eu mal posso olhar
para você depois de ter me escondido tantos segredos. Mas somos mais
parecidas do que imagina, acredite, demorou muito tempo para o meu ego
aceitar esse fato.
Yeah, você já deve ter encontrado o convite junto no envelope. Junhoe ficou
carente de uns tempos pra cá e eu notei que ele me escondia algo, até
aparecer com uma barra enorme de chocolate, e dentro da embalagem tinha
um papel com o pedido.
Sim, eu sei, é gay. Mas não posso dizer não a ele, eu o amo. Então é isso,
tenho certeza de que você vai estar lá, me dando o apoio moral e psicológico
que preciso.
Bom, vou indo. O gerente do correio quer a caneta de volta e eu estou quase
sendo linchada na fila.
Sabia que estava sendo muita audaciosa em convidar Lisa para o seu
casamento sabendo que muito provavelmente Chaeyoung também estaria
presente, esta que tinha se afastado um pouco de suas amigas de faculdade
desde a formatura, quando Momo mudou-se para New Orleans por conseguir
um emprego de investigadora de policia e onde, consequentemente, conheceu
Junhoe, que na época era delegado e um galanteador filho da mãe.
Momo assistiu de longe Chaeyoung se tornar uma das musicistas mais bem
prestigiadas desde que saiu em turnê com Uto Ugh em seu primeiro ano de
faculdade.
Momo assistiu a tudo isso dessa vez, sofreu internamente sabendo que a
historia poderia ter uma diferença se o passado não tivesse tomado rumos
diferentes, Jennie também sofreu; assim como Jisoo e... Lisa.
♫♫♫♫♫
Chaeyoung leu e releu o convite mais de cinco vezes forçando sua consciência
a ter a total certeza de que se tratava mesmo de Momo se casando.
Ela se limitou a dar um sorriso ao ver a foto do casal no fundo do convite, algo
tão fora de moda que imaginou quem teria feito o design, já que Momo nunca
concordaria com aquilo.
Suspirou contendo a saudade que sentia da outra, elas tinham se visto pela
última vez quando Momo a visitou em casa cinco meses atrás. Uma visita
breve, ela estava de passagem pela cidade a trabalho. O fato é que Chaeyoung
nunca desejou perder contato com suas amigas.
No primeiro momento ela pensou ser inteiramente sua culpa o afastamento,
quando esteve de mal com o mundo e consigo mesma culpando-se pela
partida dela, era como se estar com elas lembrasse sempre o passado. Foi só
quando Daniela Manoban entrou em sua vida, que Chaeyoung se deu conta de
que o sobrenome Manoban já não a afetava mais, e estar perto de suas amigas
também não.
Hoje, sua amiga mais próxima era Daniela, que se mudou para New York com
Brian e Adam para estudar moda na NYSID. Elas se encontram sempre em
algum café perto da praia e Chaeyoung passa muito tempo na casa da
Manoban mais nova paparicando Adam, agora com seis anos, como a
madrinha babona que era.
Seus alunos continuavam distraídos com o musical infantil que ela tinha
selecionado para a quarta-feira, que era o dia do filme. Não foi surpresa
nenhuma ver Ethan deitado com a cabeça na mesa em um sono pesado.
Como a sala era improvisada com alguns colchonetes para casos como esse;
Chaeyoung tratou logo de ajoelhar-se de frente a um deles e deitar o garoto de
costas enquanto acariciava seus fios de cabelo.
Chaeyoung ficou paralisada com a palavra que saiu da boca do garoto. É claro
que ele estava inconsciente e não tinha ideia de quem estava à sua frente, mas
só essa Chaeyoung palavra causou várias sensações em Chaeyoung que ela
julgou estarem esquecidas.
Foi então que tudo fez sentido. Chaeyoung sentia-se apegada a Ethan por esse
motivo, o garoto a lembrava não só fisicamente, mas também pelos sonhos
que compartilharam em um tempo perdido no passado.
Sentiu-se frustrada por se permitir regredir tanto no tempo e limitou-se a dar
um beijo no topo da cabeça de Ethan antes de levantar-se e voltar a sua
postura profissional.
Nota
♫♫♫♫♫
– Eu não acredito que você está atrasada! Me fez esperar todo esse tempo
aflita, será que ele vem? Como você pode me abandonar? Que ninho de
passarinho é esse na sua cabeça?
Obviamente, essa era Momo carregando a barra do seu vestido de noiva nas
mãos.
Chaeyoung notou que Momo estava mais nervosa que o habitual, suas mãos
estavam inquietas. Chae sentiu-se um pouco deslocada por estar usando um
simples vestido verde e saltos Scarpin.
– Acho melhor nós nos prepararmos antes que você desmaie. - disse a
Chaeyoung puxando Momo fervorosa para um canto. - Você está pálida,
Momo!
Mas os pais de Momo apareceram pedindo para conversar com a filha, então
Chaeyoung deu seu devido espaço e se acomodou em um dos bancos vazios.
Tudo estava maravilhoso.
Não só pelo fato de ver sua amiga de longa data casando-se, mas por
finalmente ter um tempo com suas duas melhores amigas, Jennie e Jisoo.
- Vai me dizer que não gostou de se casar na praia? – brincou Daniela com um
Adam adormecido em seus braços. – Igreja é muito convencional, gosto
quando mudam o contexto, então Momo está de parabéns.
Chaeyoung sorriu e balançou a cabeça deixando que Hannah segurasse sua
mão.
Daniela não teve tempo de continuar com as ameaças, pois a marcha nupcial
rompeu o salão e todos se levantaram.
Momo estava maravilhosa naquele vestido branco tomara que caia. O buque
que segurava era de tulipas vermelhas e o sorriso em seu rosto mostrava o
quão feliz estava por estar ali ao lado de seu pai, pronta para se casar com o
homem que ela amava.
Estava vendo seus amigos encontrando alguém, se casando e tendo uma vida
estável, assistia a todos encontrarem a si mesmos enquanto ela continuava
perdida. De repente, sentiu uma pequena inveja de Momo.
- É inacreditável que você se casou, mas eu estou tão feliz! – Chaeyoung disse
sincera abraçando Momo e logo em seguida Junhoe. – Cuide muito bem dela,
ok?
- Meu bebê se casou, que orgulho meu Deus! – Jennie puxou Momo para um
abraço apertado com lágrimas nos olhos. – Esse é o momento em que
prometemos ficar juntas para sempre?
– É incrível como o tempo passou - Jisoo riu quando Momo e Junhoe foram
atender os outros convidados e a musica começou a tocar na pista de dança. -
É como se fosse ontem que ela estava pegando todos os caras da faculdade e
odiando o amor.
As meninas olharam para o outro lado do salão onde sua amiga estava
agarrada ao braço de Junhoe, não evitando sorrirem em nostalgia. A festa
estava no seu auge quando Chaeyoung decidiu desgrudar um pouco de
Hannah e buscar mais um copo de martini, não que beber fosse um hábito,
mas uma vez que começava era quase impossível parar e ela precisava de um
pouco de espaço, coisa que a loira não estava lhe dando.
Chaeyoung riu da cara de desespero da mulher e lhe deu espaço para que se
servisse no balcão.
- Estou com meu irmão e sua noiva. Chegamos atrasados porque a branquela
da minha cunhada precisou deixar o filho com a governanta e o menino
insistia em querer vir.
Chaeyoung imaginou a cena e sentiu vontade de rir.
- Vocês deviam tê-lo trazido. – pensou em voz alta. – Não é uma festa
proibida.
- Ok... Eu preciso voltar aos meus amigos. Foi bom conhecer você...?
Chaeyoung deixou-se ser levada até a pista de dança a contra gosto onde
vários casais estavam se formando.
Cover me up
Cubra-me
Cuddle me in
Afaga-me
Um círculo foi formado pelos casais para que Momo e Junhoe dançassem
juntos no meio. Chaeyoung fechou os olhos quando reconheceu a música,
uma das muitas que costumava tocar na playlist.
I'm falling for your eyes, but they don't know me yet
Eu estou me apaixonando por seus olhos, mas eles não me conhecem ainda
A mulher usava um curto vestido preto de alça que realçava suas curvas, os
cabelos castanhos claros caíam até o meio das costas e sua pele era branca,
quase pálida...
Aquilo estava errado. Não deveria deixar-se cair em tentação ao procurar pelo
seu passado em qualquer pessoa. Ela estava muito longe, na França e
provavelmente com a vida feita. Então por que sua mente insistia em criar
essas ilusões dolorosas?
– Por favor, me diga que ela não está bêbada e não vai fazer um discurso
sobre superação. - Momo resmungou para Junhoe. - Podemos sair de fininho,
amor. Ninguém vai nos ver e isso evitaria passar vergonha.
Chaeyoung ficou ainda mais curiosa sobre a pessoa que Momo mencionou e
parou ao lado da amiga. Assim que Momo a viu ao seu lado, cutucou o marido
e arregalou os olhos. A Chaeyoung não entendeu a reação de Momo, não até...
Não eram apenas dois, quatro ou oito meses; eram seis anos. Seis malditos
anos sem ver aqueles olhos estupidamente castanhos e intensos, sem ver seus
cabelos finos e macios que tanto lhe agradava acariciar quando a tinha em
seus braços, seus lábios desenhados perfeitamente e deliciosos de serem
beijados...
O pai da noiva levou a mão ao coração e olhou torto para a filha. Momo a
fuzilava tanto que estava prestes a pular em cima da mesa a qualquer minuto
e agarrar o pescoço de Lisa. Mas Lisa não estava sóbria para saber distinguir o
que poderia ou não dizer.
Uma troca de olhares depois de tanto tempo amargurada foi o que bastou,
pois agora elas tinham dezoito e dezenove anos novamente.
Elas não sabiam ao certo quanto tempo se passou em silêncio, só não podiam
desconectar os olhos devido ao choque e os milhares tipos de sensações que
as preencheu com a troca de olhares que as lançou contra a gravidade.
Foi como um clique, e os que sabiam sobre o passado se lembraram de que ela
estava falando para o casal de noivos, mesmo que aquelas fortes palavras
tenham tido significado para sua vida pessoal.
– Ela fez uma declaração de amor pra Park no meu casamento? - perguntou
Momo baixo, mais uma vez para o marido.
Lisa continuou em cima do palco encarando Chaeyoung, esta por sua vez
sentiu que desmaiaria sufocada a qualquer momento se continuasse naquele
lugar.
Quando a Chaeyoung deu dois passos para trás, Lisa percebeu o movimento e
desceu do palco apressadamente caminhando em sua direção, essa foi a deixa
para Chaeyoung virar as costas e desaparecer entre as pessoas ignorando os
chamados insistentes as suas costas.
Abriu a porta do salão com violência e fez sinal para o primeiro táxi que
apareceu.
Quando o carro estacionou, ela ouviu outra vez seu nome ser proferido pela
voz rouca que tanto lhe afetava, ela não suportaria mais isso. Lisa tornou a
abrir a porta do salão apenas para ver o táxi de Chaeyoung se afastar.
E lá estava ela, seu primeiro amor virando a esquina e levando junto uma
enxurrada de perguntas sem respostas.
_______
31
Os carros formaram uma fila única na rua estreita onde era localizado o salão
de festas em que ocorria a festa de casamento de Momo naquela noite.
É assim mesmo que acontece, você está vivendo sua vida normalmente e as
chances do seu passado bater a sua porta são mais altas do que gostaríamos
de imaginar.
O coração de Lisa batia tão forte que ela teve certeza de que poderia parar a
qualquer momento ou escapar por sua boca aberta pela afobação. Há tempos
que não se sentia tão invadida como naquele momento, com suas células
trabalhando fervorosamente, suas mãos suando frio e tremendo, e sua
atenção só foi despertada, quando ouviu mais algumas buzinas insistentes e
uma voz masculina xingar.
Lisa deu alguns passos para trás perdendo-se entre as palavras de Momo. Sua
cabeça girava em torno de uma Chaeyoung muito mais linda do que se
recordava, com mais corpo e feições maduras.
- Como você tem coragem de convidar a nós duas e não me avisar? - Rosnou
enfurecida pelo fato de ter sido tudo culpa de sua amiga. - Você sabie que nos
encontraríamos, que merda Momo...!
Jennie não deu tempo para a Lisa responder, logo se jogou em seus braços em
um abraço cheio de saudade e as lágrimas não foram impedidas. Querendo ou
não, ambas eram amigas desde que se recordam como gente, e ver Lisa partir
a seis anos atrás não havia sido uma tarefa fácil para Jennie. Desde então, elas
conversavam por Skype e mensagens, mas Lisa sempre a privava de
informações sobre sua vida pessoal, assim como privava Daniela, sua própria
irmã.
Para Jisoo, a atitude de Lisa era errada, por mais que tenha sido com boas
intenções. Sempre há outra saída, e Lisa não deu a opção de ser procurada
para Chaeyoung, ela tomou uma decisão sem o conhecimento da namorada,
simplesmente a deixando.
Por mais que sua vontade fosse de abraça-la ali mesmo, sabia que não poderia
ultrapassar os limites da mulher.
- Daniela... - Lisa tentava a todo custo parar a irmã, mas a caçula estava
determinada a espancá-la. - Uma ajuda, por favor? - olhou suplicante para
Momo que cruzou os braços, satisfeita com a cena.
E como o destino é traiçoeiro, a porta do salão foi aberta pela terceira vez,
agora dois homens passaram por ela às pressas. Um deles era Junhoe, que
lançou um pedido mudo de desculpas à Momo; o outro homem era magro e
alto, e correu até Lisa com uma expressão preocupada.
Lisa entendeu o que Momo quis dizer. Quando decidiu afastar-se de todos,
não calculou o tamanho da confusão que arrumaria quando os pedaços se
juntassem, e agora, depois de tantos segredos, ela devia muitas explicações.
Daniela tremia de raiva pela novidade sobre o noivado de sua irmã mais
velha, Lisa não tivera a capacidade de contar a verdade, nem a consideração
de compartilhar sua nova vida com alguém da família, ainda mais alguém que
a venerava como uma heroína. A situação foi desconfortável para o grupo,
Jennie foi a única a sorrir para Luhan por educação, o que não passou
despercebido pelo homem.
- Vocês podem até a minha casa na terça e eu lhes darei a minha história, o
que acham? - Lisa quebrou o silêncio desconfortável, olhando para o noivo. -
Tudo bem se elas forem?
- Oh, você não pode. - Lisa retribuiu brincando e encostou a testa no ombro
do noivo.
Daniela desviou o olhar para a cena e bufou irritada. Odiava confirmar isso
para si mesma, mas foi decepcionada com Lisa como nunca pensou que seria.
Não por ter seguido em frente, Daniela não era estúpida a ponto de esperar
que sua irmã se isolasse em uma caverna por seis anos, a decepção se referia
ao fato de Lisa não ser mais Lisa.
Onde estavam os tênis e as jaquetas de couro? Sua irmã nunca sairia sem eles.
Onde estava a garota que sempre confiava seus segredos a ela por não serem
apenas irmãs, mas cúmplices? Jennie coçou a garganta e respondeu por
todas.
- Que tal um passeio no Central Park? - agora mais do que nunca se sentia
insegura com a Lisa parada a sua frente.
- Evite sumir por seis anos. – disse Jisoo secamente quando Lisa passou por
elas com Luhan ao seu lado.
Lisa não rebateu, Jisoo estava certa. Não havia uma maneira certa de contar
que desaparecera pelo simples fato de não poder entrar em contato sem o seu
mundo desmoronar.
Levou anos para reconstruir um pedaço de sua vida, não poderia arriscar cair
mais uma vez, não agora que outra vida dependia da sua.
Luhan passou o braço esquerdo pelo ombro de Lisa e afagou seus cabelos em
sinal de que estava ali por ela. O casal continuou assistindo aos convidados
dançarem animadamente sob as luzes de efeito, fumaça e muito álcool. Lisa
perdida em seus pensamentos, culpando-se por se sentir tão atraída por outra
pessoa que não fosse Luhan, e isso se tornava uma bola de neve em sua mente
se levar em conta que Chaeyoung veio primeiro em sua vida, a outra fora sua
primeira em tudo, mesmo que agora fossem apenas duas estranhas trilhando
caminhos diferentes.
- Só você para acreditar na história das strippers, Sana. - Luhan riu e apertou
o nariz da meia irmã. - O fuso horário está afetando sua capacidade de
raciocinar.
Lisa riu. Ela amava sua cunhada desde que se conheceram no primeiro ano
em Sobornne, desde então se tornaram amigas inseparáveis e isso ajudou a
dor no peito de Lisa a se dissipar aos poucos. Ela já não chorava todas as
noites.
Foi Sana quem apresentou Luhan à Lisa, e foi Sana quem a ajudou a tomar a
decisão mais importante de sua vida, mesmo que no fundo ela não soubesse
os reais motivos.
O resto da noite passou lentamente. Sana e Luhan eram uma boa distração,
ao mesmo tempo em que estar no mesmo ambiente de Jennie, Jisoo e Daniela
era quase sufocante.
E Lisa sabia, ela teve essa certeza assim que seus olhos encontraram com os
de Chaeyoung: Ela estava ferrada.
♫♫♫♫♫
Eles estavam acomodados na cama king size e Lisa fingia analisar um dos
casos que pegaria quando voltasse de férias em seu novo escritório. Seria sua
primeira vez trabalhando em New.
Luhan virou-se com o cenho franzido, ficando de frente para a noiva com uma
expressão pensativa e tranquila, ao mesmo tempo. Ele tinha essa coisa de ser
calmo o tempo todo.
- Sobre a reação de suas amigas. Isso tem a ver com a mulher que você correu
atrás?
Pensando melhor, ela devia explicações até mesmo a Luhan. Ele só não
precisava saber de tudo.
Seus olhos se encheram de lágrimas, mas Lisa as segurou pelo próprio bem.
Olhando agora ao passado, sentia-se um monstro por todas as pessoas que
magoou, principalmente Chaeyoung, ela já não tinha tanta certeza se fez a
coisa certa seis anos atrás.
Eram infinitas perguntas que perduraram para sempre e todas sem respostas.
Chaeyoung tinha escrito sua história e Lisa também, elas não deveriam se
cruzar.
- Desculpe-me tocar nesse assunto delicado, posso ver que é difícil falar sobre
o passado e, agora mais do que nunca, eu desejaria ter feito parte dele. - disse
Luhan acariciando seu rosto.
Não. Ele não gostaria...
- Tudo bem, eu acho que mereço isso. – respirou, deixando-se ser tocada pelo
noivo. - Mantive minha vida na França em segredo até agora, é minha culpa
que não confiem em mim, e agora eu preciso lidar com as consequências.
Da mesma forma que estava assustada por fazê-lo. Ela sabia que tinha
mudado muito nos últimos anos, mesmo quando se desligou dos Manoban e
passou a ser uma mulher independente.
Sua convivência com pessoas diferentes a tornou uma nova Lisa. A mulher de
25 anos que usava roupas sociais de grife, noiva de um advogado bem
sucedido, e inatingível aos outros.
- Não diga isso, amor. – Luhan ergueu o queixo da Lisa a aplicou um selinho
demorado em seus lábios. - Se elas forem suas amigas de verdade, vão acabar
te perdoando. Você teve um motivo forte para se afastar, e mesmo que elas
não o façam, você ainda vai ter o seu noivo que te ama e sua cunhada que
largou a faculdade para se embebedar.
- Vá dormir, ok? Eu cuido do meu T-Rex. - riu e foi puxada com força para a
cama. - Luhan! - gritou e começou a rir com a sessão de cócegas e beijos no
pescoço que sofreu.
Estava dando graças a Deus pela interrupção de Sana. Ficar ao lado de Luhan
com os pensamentos direcionados a outra pessoa era tão repulsivo que Lisa
chegou a sentir vontade de se estapear.
O desespero crescia cada vez mais dentro de si enquanto se dava conta de que
a enxurrada de sentimentos não foi proporcionada por ver Chaeyoung depois
de tanto tempo, e sim por constatar que quando se tratava dela, Lisa era
apenas aquela garota de dezenove anos que ouvia Johnny Cash em seu Dodge
e usava tênis desamarrados.
O garoto era tão apaixonado por animais pré-históricos que obrigou sua mãe
a comprar uma roupa de tiranossauro uma vez, quando estavam a passeio no
shopping.
- Eu pensei que o Ben tivesse feito as pazes com o T-Rex depois de lhe roubar
algumas frutas. – comentou, franzindo o cenho para o filho que tinha uma
expressão triste no rosto. - Hmmm, será que não é culpa do Gigantossauro?
Os olhos de Ethan cresceram três vezes mais com a menção do nome, sua
pequena boca formando um O perfeito.
- A senhora conhece um?
Lisa fingia que não tinha velocidade o suficiente para persegui-lo em voltas
pelo quarto e, quando finalmente o capturou, Ethan soltou uma gargalhada
gostosa sendo foi jogado de leve outra vez na cama.
- Ethan é mais forte seu dinossauro bobão... - Lisa subiu em cima dele e o
atacou com beijos por todo o torso.
Quatro anos e ela nunca se acostumaria com a palavra mamãe. Ethan é seu
maior tesouro e o seu mundo. Ela sabe que por ele daria a própria vida e, por
mais que as pessoas pensem que o garoto tenha sido feito de supetão, não
imaginavam o significado que havia por trás de todas as suas atitudes.
- A senhora vai tocar? - ele perguntou quando a Lisa fez menção de deitar ao
seu lado.
Lisa tinha mania de tocar algumas músicas no violão para o garoto em suas
noites de insônias, ou quando acordava com pesadelos no meio da madrugada
em Paris. Talvez fosse esse o motivo por Ethan ter desenvolvido o gosto pela
música. Lisa não poderia ter mais orgulho.
- É claro que vou. – riu. Lalisa pegou o violão do suporte ao lado do guarda-
roupa embutido. - Já faz tempo que não me pede para tocar, mamãe pensou
que você tinha esquecido. Ethan coçou a cabeça, estava desconcertado.
- Gisele? - ele perguntou curioso. - É a tia Chaeyoung, oras. Ela sempre toca as
músicas que eu gosto e me chama de pequeno Ethan, mas eu não sou
pequeno, a senhora tem que dizer isso a ela.
Is beating so slow
Está batendo tão devagar
Deixou seus olhos caírem para o pequeno deitado ao seu lado, ele a
contemplava como se Lisa fosse um de seus super-heróis preferidos. Ele era o
único que pensava assim, o único a quem ela não tinha enganado e talvez o
único que a amava verdadeiramente de uma forma pura.
Than we wanted
Do que nós queríamos
We wanted
Nós queríamos
We do not know
Nós não sabemos
We do not know
Nós não sabemos
Não demorou muito para os olhinhos de Ethan fecharem aos poucos. Lisa
sentia-se protegida ao lado do garoto, e agora, mais do que nunca, estar ao
lado dele a fazia estar ao lado de uma pessoa que abandonou há anos.
To help us grow
Para nos ajudar a crescer
To help us grow
Para nos ajudar a crescer
It is not said
Isso não é dito
I always know
Eu sempre soube
Flasback.
- E qual nome vamos dar se o primeiro for menino? – Lisa estava gostando
de entrar naquela conversa, a sensação de imaginar seu futuro ao lado de
Chaeyoung fazia seu peito inchar de felicidade.
Fim do Flashback.
Naquela noite, Lisa se deu conta de que o destino sempre traria Chaeyoung
de volta.
♫♫♫♫♫
A dor de cabeça consumia Chaeyoung naquele dia. Talvez não tivesse sido
uma boa ideia encher a cara e transar com Hannah durante toda a noite como
forma de descontar sua frustração.
Sim, ela tinha ficado realmente experiente em dar prazer às mulheres e sentia
orgulho disso. O único problema era a situação em que se encontrava. Por
algum motivo filho da puta, seu coração encontrava-se apertado desde a noite
anterior quando reencontrou Lalisa Manoban.
As coisas não deveriam ser assim, tudo o que Chaeyoung precisava sentir
sobre aquela mulher se remetia a ódio e mágoa, o desejo de querer Lisa bem
longe dela, e que nunca mais voltasse a encontrá-la.
Então porque algo em seu interior clamava para que a Lisa a procurasse?
Seria ela tão estupida ao ponto de render-se ao seu antigo amor? Não, ela
poderia sentir aquelas malditas borboletas sempre que pensasse em Lisa, mas
estava determinada a não deixá-la entrar em sua vida outra vez.
Forçava um sorriso enquanto acenava para os pais que saíam aos poucos com
seus filhos, depois de uma aula tranquila onde assistiram a dois filmes, para a
alegria das crianças.
Uma mão Chaeyoung puxou sua calça chamando sua atenção, então
Chaeyoung se deparou com Ethan segurando sua mochila dos Vingadores e
uma carinha de sono que só o deixava com mais carinha de anjo.
- Seu pai ainda não chegou? - ela perguntou confusa sobre o garoto ainda
estar em sua sala enquanto os outros já tinham ido embora. Ethan negou com
a cabeça e bocejou. – Hm... Você pode ficar comigo enquanto ele não chega. O
que acha? - Ethan assentiu e segurou a mão da professora para caminharem
até o piano. - Então... O que deseja ouvir, pequeno Ethan? - sorriu quando
viu a expressão de horror do garoto com o apelido. - Desculpe, é força do
hábito.
- O que é mania?
Chaeyoung pendeu a cabeça e sentiu-se idiota por não sabe explicar isso ao
garoto.
- Eu sou adulto!
***
Passou a manhã toda roendo as unhas e mal pode estudar o caso de sua
cliente pensando no que a maluca da sua cunhada poderia fazer. E estava
certa, assim que a direção do lugar ligou perguntando se ninguém buscaria
Ethan, a Lisa surtou.
E então ela ouviu. Pela segunda vez. Uma música. No piano. Vindo da última
sala daquele corredor.
Lisa sentiu algo quente subir por seu corpo e parar em sua garganta enquanto
aproximava-se da sala, agora em passos lentos, seus movimentos traindo seu
cérebro.
Sentiu que poderia sufocar se não liberasse sua respiração, mas não se deu
conta de que a estava prendendo até o momento em que entrou na sala. Foi
preciso segurar no batente da porta. Suas pernas fraquejaram, tudo em si
fraquejou, até mesmo sua coragem.
Aquela antiga angustia tomou conta de todo o seu corpo, e Lisa sentiu
vontade de chorar. Chorar ao ver Park Chaeyoung tocando com seu filho. O
filho delas.
Tudo a sua volta começou a rodar, a Lisa sentiu que poderia desmaiar apenas
por assistir Chaeyoung de costas e seus longos cabelos caindo até a cintura.
- Mamãe, a senhora precisa conhecer a tia Chaeyoung. Ela é super legal e faz
música assim como a senhora...
A troca de olhares era tão intensa que ambas sabiam o que estavam pensando,
sabiam ler cada linha de expressão uma da outra.
_________
___________
32
9 de Julho de 2018. - Paris, França. Segundo ano da faculdade.
O Dodge tinha sido seu pequeno xodó por todo esse tempo, o ciúme que
sentia do carro era quase doentio, palavras de sua própria mãe. A questão é
que agora sentia seu peito se contrair com a decisão que vinha arquitetando
há alguns meses.
Não fora uma ideia de uma hora para a outra, mas levando em consideração a
dor que lastimava seu peito, ela sabia que algo deveria ser feito.
Foi então que, em um dia comum caminhando pelo parque Duc de Chartres's,
sentou-se ao gramado ao se deparar com um casal de mulheres brincando
com um garotinho de no mínimo dois anos.
Sua atenção foi atraída à cena como imã, e ela não pode deixar de sorrir
sozinha imaginando como seria se estivesse construindo seu futuro ao lado de
Chaeyoung. Tudo o que elas planejaram; a casa, o trabalho, os filhos...
A questão era fechar os olhos e poderia facilmente visualizá-las passeando de
mãos dadas com seu filho, o pequeno Ethan como Chaeyoung escolhera na
noite de natal de 2016. Ou até mesmo Sarah, nome que ela havia escolhido
caso fosse menina em homenagem à mulher de Harry, o soldado abatido na
segunda guerra mundial.
Lalisa não queria conhecer pessoas novas, não queria um novo amor, amigos
novos ou qualquer coisa que a impedisse de pensar em Chaeyoung. De certa
forma, sentir a dor da saudade a lembrava de que a história de ambas fora
real, e isso bastava.
Até aquele dia. Lisa sentiu-se consumida pelos pensamentos nos próximos
dias, sua concentração já não era mais a mesma, evitava conversar com Sana
sobre o assunto, pois preferiu deixar seu passado em New York, mas se
trancava todos os dias no dormitório sentindo a cabeça estourar pelo tanto de
situações que criava em sua mente envolvendo um filho.
O pior de tudo foi quando, com o passar dos tempos, pensar em Chaeyoung
tornou-se cada vez mais raro. Não porque não a amasse, o peito de Lisa se
enchia apenas com a lembrança de sua amada, mas agora ela tinha uma vida
na França abarrotada de estudos que tiravam sua concentração, e Sana e
Luhan conseguiam amenizar seus pensamentos torturantes.
Naquele momento, naquele dia, sua decisão fora tomada. Ela seguiria sua
vida na França e se tornaria a melhor advogada que Paris pudesse recorrer, e
ainda sim, manteria uma parte de Chaeyoung sempre com ela.
- Qual o motivo especial por ter me tirado da cama num sábado de manhã? –
Sana havia acabado de chegar ao bistrô com uma carranca enorme. Lisa se
ajeitou na cadeira quando a outra puxou uma cadeira para sentar-se, ela
trajava um vestido azul marinho que marcava todas as suas curvas e
sapatilhas. – Sério, se não fosse pelo seu tom urgente, eu com certeza teria
desligado o telefone na sua cara.
Talvez o motivo de ter deixado Sana entrar em sua vida venha a ser pelo
humor negro da mulher que em muito lembrava sua melhor amiga Momo. E,
apesar da imagem de vadia que passava a todos, foi a primeira pessoa a sorrir
para ela em seu primeiro dia em Surbonne quando lhe puxou para a mesa de
seus amigos na hora do almoço.
Lisa brincou com o copo de café em mãos, dando uma golada antes de coçar a
garganta e encarar a amiga que mantinha as sobrancelhas erguidas num claro
sinal de curiosidade.
- Eu preciso da sua ajuda, e também preciso que você não surte ou me chame
de louca. – disse por fim, sem nunca deixar seus olhos abandonarem os da
garota.
- Por favor, me diga que você não matou alguém e precisa da minha ajuda
para esconder o corpo! – exclamou extasiada, fazendo a Lisa pendeu a cabeça
de lado digerindo suas palavras.
- Eu vou ter um bebê. – disse sem rodeios, e esperou a expressão de Sana que
nunca veio. A garota continuou olhando-a como se ainda esperasse pela
surpresa. – Sana?
Sana abriu a boca e fechou, logo abaixando o olhar para a mesa em silêncio.
As pernas da Lisa saltavam em baixo da mesa com o nervosismo e sua amiga
não reagir de imediato só a deixou ainda mais nervosa.
A garota finalmente voltou a olhar para Lisa, mas ainda sem esboçar
nenhuma reação.
Silêncio. Sana tinha essa mania de pensar muito antes de falar e por mais que
em parte isso seja algo bom, naquele momento estava aterrorizando Lisa.
Ela não tinha coragem de ir a clinica sozinha, precisava de alguém para apoiá-
la e para desabafar quando se arrependesse, se é que isso aconteceria.
- Ok... – Sana murmurou, analisando Lisa atentamente. – E você decidiu isso
sentada aqui na mesa de café? Ou existe um motivo plausível pra você enfiar
uma criança na sua vida de uma hora para a outra?
Nem em mil anos diria que precisava ter um pedaço de seu primeiro amor
junto dela, essa era uma filosofia que poucas pessoas entenderiam, ou até
mesmo nenhuma. O que parecia loucura aos olhos dos outros, se tornava um
ato de amor aos da Lisa.
- Digamos que eu tenho esse desejo que não pode ser contido. – deu de
ombros, vendo Sana cerrar os olhos.
- Você não vai me contar, não é? – a garota suspirou ciente de que a Lisa tinha
muitos segredos em seu passado.
- Não, desculpe. – mordeu o lábio inferior, seu olhar caiu para as chaves na
mesa.
Sana ajeitou-se melhor na mesa, seus olhos ainda em análise na Lisa, Lisa às
vezes achava que a amiga tinha errado o curso, pois seu dom para a psicologia
era explícito quando decidia analisar as reações das pessoas.
Três dias depois ela o vendeu tendo assim, mais uma parte de seu coração
levado.
Lalisa não soube como reagir ao ver o os dois riscos em vermelho no teste de
farmácia. Sua primeira reação foi chorar desesperadamente de felicidade por
ter uma vida crescendo dentro dela, seu extinto maternal sempre fora
aflorado e saber que seria mãe em nove meses a deixara extasiada.
Quando contou para Sana no dormitório que dividiam, a garota faltou morrer
do coração e as duas passaram a ser como um casal de mães pelo tanto que
Sana a acompanhou em sua gravidez.
Luhan foi o próximo a saber, e para o alivio da Lisa, ficou ao seu lado assim
como a meia irmã.
O tempo foi passando arrastado, Lisa afastou-se de Daniela com medo de sua
reação sobre o bebê, e que a sua caçula contasse para Jennie e Jisoo. As três
garotas eram muito racionais, e por mais que Daniela tivesse Adam, com
certeza surtaria pela decisão repentina da irmã mais velha.
Ele respondeu alguns dias mais tarde dizendo que Lisa era uma garota rara, e
que merecia todo o amor no mundo, assim como seu bebê.
Marco e Lisa mal conversavam, ele apenas mandava o dinheiro do sustento da
filha na faculdade e ligava uma vez por semana em Surbonne para saber sobre
o desempenho da garota, por isso Lisa tratou de estudar ainda mais para que
nunca fosse preciso seu pai ser questionado sobre sua gravidez pela direção.
Logo, quando Ethan nasceu, Lisa se viu apaixonada mais do que se julgou
estar durante a gravidez. Ethan tinha se tornado seu mundo no momento em
que abriu os olhinhos, encarando aquele quarto de hospital com curiosidade.
Uma babá foi contratada para cuidar de Ethan no tempo em que Lisa
trabalhasse, e a Lisa passou a estudar à distância. Sana e Luhan não saíam de
sua casa por nada, eram as pessoas preferidas de Ethan que, com dois anos, já
os chamava de tio.
Lisa chorou intensamente quando ouviu pela primeira vez a palavra mamãe
sair da boca do garoto, é uma de suas memórias preferidas.
Durante sua gravidez, e ainda com o garoto pequeno, a Lisa costumava tocar
violão para o filho como se isso fizesse seu gosto pela música despertar, e ela
estava certa, Ethan amava quando a hora da música chegava antes de dormir.
Três anos mais tarde, em seus últimos dias de aula em Surbonne e com Ethan
completando três anos de idade, Luhan se declarou para Lisa dizendo que
fora apaixonado por ela desde o momento em que a viu na faculdade, e que se
ela aceitasse, seria o melhor pai do mundo para Ethan.
Foi um choque para Lisa no começo, ela nunca imaginou que seu amigo
nutrisse sentimentos por ela e muito menos que os fosse revelar assim, no
meio de um passeio pelas ruas de Paris.
Luhan era um cara bacana e muito dedicado aos estudos que sempre a tratou
com respeito, e a quem Ethan tinha um carinho infinito.
Internamente Lisa sabia que seu filho precisava de uma segunda figura em
sua vida, alguém que o acolhesse quando ela o bronqueasse, que fosse menos
firme que ela e que o amasse na mesma intensidade que ela o amava. E Luhan
era o cara certo.
Talvez fosse errado aceitar tê-lo em sua vida por segurança, mas ela deixou
claro desde o começo que não o amava e que não sabia se um dia o poderia
fazer. Luhan aceitou sua condição, mesmo Sana não tendo aprovado a ideia
no começo, dizia que seu irmão era muito frouxo para a amiga, mas acabou
cedendo dias depois.
E assim o tempo passou. Lisa deu uma chance a Luhan e o rapaz soube
aproveitar. Levou as coisas devagar, sempre respeitando o tempo da Lisa que
não sabia se estava preparada para beijar outros lábios que não fossem os de
Chaeyoung ou entregar-se a alguém. Luhan fazia Lisa sorrir, e sempre a
ajudava com Ethan quando a Lisa sentia-se muito pressionada com o filho,
trabalho e estudo.
Foi Luhan quem descongelou o coração partido de Lisa e acendeu uma nova
chama, mesmo que a explosão nunca voltasse a acontecer. Foi ele quem a
acolheu, amou e zelou por todo esse tempo.
Quando o rapaz recebeu uma oportunidade de emprego em New York,
conversou um pouco hesitante com Lisa sobre isso, convidando-a para
acompanha-lo. A mulher não estava disposta a bater de frente com o passado
como ela sabia que faria caso voltasse, mas aceitou por saber que seria uma
grande oportunidade ao namorado, e Sana, que era muito famosa em Paris
por abrir um clube noturno, decidiu abrir uma filial em New York.
Luhan a pediu em noivado pouco antes de se mudarem para New York. Lisa
precisou de um tempo para processar, mas não negou, pois ele era o cara
certo para fazer a ela e a Ethan felizes.
Tudo aconteceu muito rápido, Lisa ouviu uma voz fraca do outro lado da linha
que fez seu coração saltar em seu peito e quase sair por sua garganta. A Lisa
pigarreou e mudou o tom de voz, perguntando por Mark.
Processar essa frase na voz de Chaeyoung deixou Lisa atônita, fazendo-a cair
sentada no sofá de três lugares sentindo seu peito doer.
Ethan percebeu que havia algo errado com a mãe e logo se levantou do sofá,
subindo em seu colo com um semblante preocupado.
- Mommy? – ele perguntou manhoso, e Lisa o abraçou deixando suas
lágrimas rolarem em sua face sem que o filho as visse.
Ouvir a voz de Chaeyoung após anos foi como rasgar uma cicatriz que levou
anos para fechar. Enquanto a casa estava silenciosa, Lisa levantou-se e
caminhou pelo corredor até chegar ao porão onde acendeu a luz fraca ao abrir
a porta.
Tudo sobre Chaeyoung. Lisa nunca deixou de cuidar e zelar pela mulher nem
mesmo quando sua vida se resumia em trabalho, Luhan, Ethan e dormir.
Luhan sempre o levava e buscava por ser caminho do trabalho, e Lisa passava
os dias desempacotando caixas da mudança e estudando sobre seu novo caso
para quando voltasse de férias.
Até então, Lisa não sabia que seria arrastada para o passado quando recebeu
o convite de Momo pelo correio.
***
Não sabia quanto tempo havia se passado. Minutos, horas, dias, meses, quem
sabe?
O que deveria ser uma sala de aula tornou-se um capo de batalha entre
olhares frente a frente, após seis anos criando momentos como aquele em
suas imaginações.
Apesar da expressão fria que Chaeyoung portava, a Lisa sabia que a outra
estava tão afetada quanto ela, desde que começaram a namorar aprendera a
ler as expressões e a postura da mulher, e mesmo depois de tanto tempo,
ainda saberia dizer pelas mãos inquietas, sobrancelhas franzidas e lábios de
Chaeyoung que ela estava a ponto de desmaiar.
Mas Lisa não estava muito longe, o coração em seu peito martelava
descontrolado, desejando correr para os braços da mulher parada a sua
frente. A verdadeira dona dele.
Lisa deu mais um passo à frente e Chaeyoung recuou um, como se criasse um
sistema de defesa contra a Lisa.
- Eu... – a Lisa começou a dizer, mas perdeu-se nas palavras que não vinham.
Não sabia se sentia alivio ou desespero, mas o momento delas foi cortado
quando Luhan apareceu à porta da sala ofegante, com uma Sana descabelada
logo atrás.
Lisa voltou-se em choque apenas para ver uma Chaeyoung corada com os
olhos fixos em Luhan.
- Ethan está ótimo, Luhan. – ela sorriu sem graça, apontando para o garoto
que agora assistia a cena em silêncio. – Eu não o deixaria sozinho, de
qualquer forma. E, olá Sana.
E ali estava, seu passado e seu presente colidindo como dois trens em
movimento. Lisa ainda não tinha palavras na presença de Chaeyoung e isso
até mesmo Ethan poderia notar, ironicamente falando, e foi Sana quem teve a
cara de pau de se manifestar.
- Vocês duas se conhecem? Porque o clima aqui está pesado e eu não sei lidar
com isso. – ela cruzou os braços, odiava quando sua cunhada guardava
segredos, e vê-la tão sem graça na frente da professora de Ethan a fez
imaginar que tinha algo acontecendo ali que ela não sabia.
Chaeyoung abaixou a cabeça indicando que não seria ela a falar e a Lisa sentiu
a responsabilidade do mundo as suas costas.
- Isso é incrível, amor! – exclamou Luhan, Lisa quase morreu ao ouvi-lo dizer
amor. Não que não se chamassem assim, mas de repente esse ato se tornou
sufocante na presença de Chaeyoung. – Eu fico feliz por Chaeyoung ser essa
pessoa especial sobre quem você falou, Ethan adora ela, e eu com certeza a
chamaria para jantar lá em casa se...
Luhan estranhou essa atitude da noiva, mas continuou com o sorriso alegre.
- Vocês devem ter muito que conversar, eu imagino. – disse como se fosse o
óbvio e Sana concordou com a cabeça. É claro que para Luhan ele estava
apenas ajudando Lisa a se aproximar de uma de suas amigas do passado já
que as outras tinham sido tão frias com ela na festa. – E é claro que
Chaeyoung precisa experimentar meu macarrão a bolonhesa.
- É, Chaeyoung. Eu moro com eles e vai ser um prazer ter você lá em casa. –
Sana disse sorridente, nem parecia a vadia sarcástica que costumava ser no
dia a dia. – Aliás, é sobre esses dois que eu estava falando naquela noite, e o
pirralho é o Ethan.
Lisa fuzilou a cunhada e apertou as mãos com força. Estava tão fraca que se
movesse um passo seria capaz de cair no chão. Seus olhos mantinham-se
longe de Chaeyoung por segurança, ela sabia que se entregaria ainda mais se
encarasse as íris castanhas.
- Tia Chaeyoung vai lá em casa, mamãe? – a voz de Ethan fez a Lisa olhar para
baixo e ver seu pequeno a encarando com os olhos brilhantes. – Ela vai poder
tocar violão comigo no quarto?
Lisa não sabia se poderia aguentar estar no mesmo lugar que Chaeyoung e
fingir que não foram namoradas na faculdade, que já não se amavam
intensamente.
Ou ela ao menos pensava que Chaeyoung ainda a amava. E se... E essa dúvida
apareceu.
- É claro que a tia Chaeyoung vai, se ela quiser é claro. – Luhan pegou Ethan
no colo. – Que tal pedir com jeitinho a ela, hein?
Luhan disse algo no ouvido de Ethan e o garoto sorriu tapando a boca com as
mãozinhas.
Por mais que o assunto fosse Chaeyoung o tempo todo, a mulher mal tinha se
movido de sua posição e pouco fazia para deixar de encarar Lisa.
Sana e Luhan achavam que era pelo choque de encontrar sua amiga seis anos
depois, mas não tinham ideia de que ela chorava internamente odiando-se
por descobrir-se ainda loucamente apaixonado por Lisa.
- Tia Chaeyoung, eu gostaria muito que a senhora fosse na minha casa assistir
homem de ferro comigo e comer macarrão. É gostoso, eu juro!
Chaeyoung sorriu apaixonada por Ethan ao mesmo tempo em que abriu a
boca buscando por ar. Ethan era filho de Lisa. Lisa era a mãe de Ethan. A
mulher que ela amava... Mãe da criança que ela havia se apegado.
O mundo poderia ser mais louco? O que doía mais, era saber que Lisa tinha
um filho com outro homem, ou apenas saber que Ethan era filho dela?
Sua cabeça poderia explodir com tantos pensamentos, mas ela poderia
sucumbir a emoção de amar aquelas duas pessoas.
Queria tanto odiar Lisa por usar o nome que ela tinha escolhido uma vez em
seu filho com outro, mas era Ethan.
O garotinho de cabelos pretos e olhos puxados. Ele poderia ser seu filho com
Lisa em um futuro alternativo.
De volta à realidade, a pianista finalmente decidiu dizer algo para não deixar
a situação mais constrangedora do que se encontrava, e indo contra todos os
seus instintos, escolhendo sua curiosidade por querer saber mais sobre a vida
da covarde que a abandonara, ela fez sua escolha.
Ela tinha aceitado...? Park Chaeyoung estaria finalmente voltando a sua vida?
E o principal, o quanto isso poderia prejudicá-la?
_________
33
A chaleira apitou indicando que o chá que irradiava o aroma de hortelã pela
casa estava pronto.
Ela ainda não saía do quarto, mas gostava de passar horas conversando com
suas filhas e Ella vinha sendo seu porto seguro, cozinhando, limpando e
cuidando da mãe com apenas 11 anos.
- Eu trouxe chá de hortelã, seu preferido. – disse Chaeyoung sorrindo para a
mãe que retribuiu. Chae deixou a bandeja em cima da cama e subiu do outro
lado ajeitando-se contra a cabeceira e entregando uma caneca à mulher. –
Como está hoje?
- Eu não tive pesadelos essa noite também... Talvez isso seja um avanço.
Os pesadelos de que ela falava se tratava dos sonhos sobre Mark que tiravam
seu sono e a deixava extremamente nervosa.
- Eu fico feliz por isso! – sorriu amplamente e bebericou seu chá, queimando
a língua em seguida e praguejando-se por ser uma droga na cozinha. – Foi só
trocar o calmante e a senhora voltou a dormir tranquilamente, aquele outro
era fraco demais.
- Ella ganhou o concurso de poesia ontem, ela deve ter contado isso. – disse
casualmente e seguiu os olhos de Diana à TV. – Eu sempre soube que ela
tinha talento com as palavras. Lembra do jardim de infância? Ela sempre
fazia as apresentações primeiro por ser a mais inteligente. – riu com a
lembrança de acompanhar os pais nas apresentações da irmã.
Suspirou. Sentia falta das conversas jogadas fora com a mãe, sentia mais
ainda falta dos momentos em família que eram sempre importantes em certa
época de suas vidas.
O garotinho de 4 anos tinha sido gerado pela pessoa que ela mais amou em
seus 24 anos de vida.
- Lisa? – ela perguntou parecendo confusa, mas a verdade é que ela sabia
muito bem de quem se tratava.
- Sim, minha ex namorada. – dizer isso soava tão estranho. Chaeyoung mal
falou de Lisa desde que fora abandonada, então se privou de usar esse termo
quando se tratava da Lisa. – Ela é mãe de um dos meus alunos, louco, certo?
– Diana não esboçou nenhuma emoção, então ela continuou. – Ela está noiva
e tem um filho. – disse como se mal acreditasse nas próprias palavras. –
Ontem o noivo dela, Luhan, me chamou para um jantar hoje e eu aceitei. Eu
estraguei tudo, não foi? – franziu o cenho e deixou a caneca na bandeja, assim
como sua mãe. – Todo meu esforço para me manter afastada dela esses anos e
agora eu simplesmente estrago tudo entrando em sua vida outra vez.
Ouvindo de si mesma a fez cair na real o tamanho do estrago que tinha feito
no momento em que aceitou aquele jantar. Se tivesse negado, sua relação com
Luhan e Lisa seria estritamente de pais e professora. Elas se veriam quando a
Lisa fosse buscar Ethan, se cumprimentariam e só. Ainda existiria aquele
muro invisível entre elas que impedia Chaeyoung de agarrá-la como sentiu
uma insana vontade naquela sala.
Diana, que ainda tinha os olhos presos na filha como se ela contasse algo
realmente interessante, suspirou baixinho e segurou a mão de Chaeyoung.
- Lisa é uma boa menina. – disse simplesmente e voltou sua atenção para a
TV.
Era estranho ver sua mãe chamando Lisa de boa menina depois do que
aconteceu em 2017, a mulher proibiu Chaeyoung de aproximar-se da Lisa e
xingou todas as vidas passadas da menina por abandonar sua filha assim, de
uma hora para a outra.
Elas passaram anos sem tocar naquele nome e quando Chaeyoung diz que
Lisa retornou, Diana age como se fossem os velhos tempos.
Talvez fosse a depressão confundindo sua mente, afinal, Lisa não era mais
uma menina.
Já passava das 19:40pm quando Chaeyoung deixou sua antiga casa e dirigiu
sem pressa nenhuma pelas ruas de New York em direção ao endereço anotado
no papel que Luhan tinha deixado no dia anterior. As mãos de Chaeyoung
suavam no volante e sua perna esquerda saltava no assoalho, dessa vez ela
não tinha ligado o rádio e isso realmente significava alguma coisa.
Significava que ela estava indo se encontrar com Lisa. E seu noivo. E seu filho.
E sua cunhada.
Oh, não...
De repente aquela jaqueta jeans era apertada demais, ou seria seu peito se
contraindo cada vez mais enquanto procurava pelo número do prédio certo.
Ficou surpresa com o luxo em que a Lisa vivia agora, o prédio abrigava cerca
de 30 andares e de fachada acompanhava um extenso jardim que terminava
na guarita da portaria.
Não demorou muito e o segurança liberou sua entrada permitindo que ela
estacionasse em uma das 4 vagas do apartamento de Lisa.
A cada dois passos, a Chae vacilava e sua consciência gritava para voltar ao
carro e inventar uma desculpa de última hora. As coisas não precisavam ser
assim, ela não tinha pensado direito quando aceitou, talvez o tenha feito para
ver a reação de Lisa, ter o gostinho de vê-la desesperada por sua causa. Ou
apenas por saudade.
Mas, a segunda opção deveria ser ignorada por questão de sobrevivência.
- Eu espero que isso não seja uma cantada, caso contrário Lisa me mataria. –
brincou, mas Chaeyoung levou a sério e quase engasgou quando entrou no
casulo de metal.
Seria possível Lisa ter contado tudo justamente à cunhada? Pensar nessa
possibilidade fez seu cérebro trabalhar a mil por hora e não processar a
resposta da mulher.
- Vocês são grandes amigas de faculdade, não? Foi isso que a branquela disse,
me corrija se eu tiver sido enganada porque eu juro que mato...
- Tia Chaeyoung!
E a Chae desviou os olhos para a Lisa que passou pela porta do que parecia
ser a cozinha com um garotinho sentado no ombro.
- Olá, pequeno. Como é bom ver você! – Ethan deu um beijo estalado em seu
rosto e um abraço apertado. – Oh, isso tudo é saudade?
- Sim, tia. A senhora quer vê meu melhor amigo dinossauro? – ele perguntou
todo animado e segurou o rosto de Chaeyoung na expectativa.
A expectativa na sala era grande. Os irmãos esperavam que uma velha amiga
perdoasse as más atitudes de Lisa e que tudo voltasse a ser como antes.
Ethan queria apenas sua professora preferida para brincar e Lisa... Lisa se
torturava internamente para não perder o controle.
Ethan sacudiu as pernas indicando que queria descer e saiu correndo como
um jato pelo corredor da casa.
- Esse menino vai levar algum móvel junto um dia desses. – o comentário veio
de Luhan que balançou a cabeça em diversão e apontou para a porta da
cozinha. – Eu fico feliz em ter mais uma vítima para experimentar meus
pratos especiais, Lisa nunca me deixa convidar uma de suas amigas com
medo que eu as envenene.
- Talvez porque você seja bem capaz disso. – Sana comentou e puxou um
banco da bancada para Chaeyoung se sentar, imitando o ato logo em seguida.
– Seja sincera e cuspa quando sentir a queimação na garganta, Chaeyoung.
Chaeyoung riu dos irmãos, ela tinha certeza de que se divertiria muito mais
com eles se a situação não fosse outra. Se Lisa não tivesse encostada na
geladeira com os olhos cravados em si enquanto Luhan mexia algo na panela.
- Se estiver ruim vocês nunca vão saber, não sou muito sincera nesse quesito.
– fez uma careta e recebeu um som de agradecimento de Luhan.
- Você ganhou mais dois pontos comigo, Chaeyoung. – ele brincou e virou-se
procurando pela noiva. – Lisa, ofereça algo para Chaeyoung beber enquanto o
jantar não fica pronto, por favor.
- Eu espero que ainda seja o seu favorito. – foi tudo o que a Lisa disse quando
pegou um copo no armário e serviu Chaeyoung com suco de uva. – É natural
da fruta.
Chaeyoung quase caiu do balcão quando Lisa a queimou com seu olhar e por
ainda lembra que seu suco favorito sempre fora o de uva.
Sana fez bico e Luhan parecia divertido com a resposta. Lisa era a única cética
que mal parecia estar naquele mundo. O advogado, que parecia muito
interessado no que tinha ouvido, rebateu.
- E o que aconteceu? – Sana, que tinha passado por elas e as tirado do transe
pessoal, perguntou.
- Não deu certo. Ela não teve coragem o suficiente de ficar comigo e me
deixou. – respondeu cética, quase trincando os dentes querendo que Lisa
fosse atingida por suas palavras. – Ela quebrou o meu coração e não se
importou de juntar os pedaços.
Dizer aquelas coisas foi o jeito que encontrou de sentir-se aliviada, de vingar-
se, de aliviar seu coração. Parte de Chaeyoung, a recente, a que impedia
qualquer pessoa de entrar em seu coração, queria fazer Lisa sentir toda a dor
que sentiu um dia. E ao mesmo tempo, a Chaeyoung pura e sonhadora se
desfazia em pedaços por ver seu bem mais precioso tão afetada como Lisa
estava agora, inventando uma desculpa qualquer de que precisava ir ao
banheiro.
- Oh, sim. Eu sou lésbica. – disse naturalmente e seguiu os irmãos até a mesa
de jantar. – Espero que isso não seja um problema?
Ethan entrou correndo na cozinha com os braços para trás e um olhar sapeca.
Ele usava calça jeans, camisa preta e all star. Chaeyoung nunca imaginou que
poderia se apaixonar ainda mais por ele.
- Eu já disse que não sou pequeno, tia. – fez bico. – Eu já sei as falas do
homem de ferro e quando tio Luhan não está eu é que sou o homem da casa.
- Eu sou o homem da casa até mesmo quando Luhan está, pirralho. – Sana
cortou bagunçando os cabelos do garoto que deu de língua. – Oh, o que foi
isso? Um garoto atrevido?
Ethan arregalou os olhos e saiu correndo em disparada pela casa com Sana
em seu encalço. Chaeyoung e Luhan riram da situação e logo o silêncio recaiu
na mesa.
- Você deve se perguntar o porquê daquele ser ter o mesmo sangue que eu. –
ele brincou sentando-se à mesa e Chaeyoung sentou na outra extremidade. –
A verdade é que somos meio-irmãos. Ela nasceu na Coreia e eu na França,
meu pai...
- Olha a boca perto do meu filho! – Lisa chegou logo atrás tirando Ethan das
garras da mulher. Ela tinha o semblante mais relaxado e até sorriu
casualmente para Chaeyoung que não entendeu nada. – Sobre o que
conversavam?
Lisa riu como se conhecesse a historia de trás para frente, sua face relaxada e
o sorriso espontâneo fez o coração de Chaeyoung acelerar mais do que deveria
no momento.
- Você contou que seu pai quase caiu duro quando uma mulher metida à
briguenta bateu na porta da sua casa procurando por Jeff Yifan?
Sana fechou a cara para a cunhada e encheu a boca de macarrão para não
proferir um palavrão na mesa.
Decidiu ter Ethan. Ok, agora as coisas estão mais estranhas que o normal.
Então o garoto não era filho de Luhan? Lisa tinha engravidado de outro cara?
Chaeyoung sentiu a angustia bater em seu coração de forma sutil.
- Vocês são ótimas pessoas, eu me divirto muito com a relação dos dois. –
Chaeyoung tentou consertar o clima que se instalara na mesa.
- Um dia você vai encontrar alguém por quem se apaixonar e vai parar de me
encher o saco, maninha. – Luhan rebateu com uma piscadela.
- Se apaixonar é para idiotas. Toda essa baboseira de amor verdadeiro, pft!
Me diga onde está minha alma gêmea, pois só as encontro em camas de
motéis.
Elas tinham acordado por Lisa mais uma vez. Luhan parecia impressionado
com as palavras da noiva e ao mesmo tempo feliz, imaginando que tinham
sido sobre ele e Sana, bem...
- Essa foi à coisa mais gay que eu já ouvi em toda a minha vida, meu Deus do
céu! – largou o garfo e a faca no prato. – Chaeyoung, me perdoe pela minha
cunhada, ela tem ataques de filosofia algumas vezes e esquece que eu não sou
obrigada a ouvir tanto homossexualidade em uma mesma frase, e olha que eu
sou gay!
Nem mesmo o ataque de Sana fez Chaeyoung rir dessa vez, pois seus sentidos
gritavam apenas por Lisa.
- Ou podem ter motivos suficientes para fazê-lo pelo bem da pessoa amada. –
retrucou no mesmo nível de cinismo e viu Chaeyoung cerra os olhos.
– Há algo entre vocês que nós não sabemos? – e essa pergunta quase matou
Lisa do coração.
- Ela tem sido muito gentil desde que chegou, você deveria ir atrás dela e
tentar consertar seja lá o que tenha acontecido. – disse bondosamente e Lisa
quase gritou com ele para não ser tão legal com a situação.
Afim de não iniciar uma discussão, Lisa apenas levantou e caminhou pela
casa sentindo cada célula do seu corpo trabalhar mais rápido com a ideia de
estar a sós com Chaeyoung.
A primeira conversa delas não tinha saído como planejado e... Na verdade,
não havia nada planejado. Encontrar com Chaeyoung não fazia parte de seus
planos no momento e ela nunca estaria preparada para tal coisa.
Os dois pareciam ter uma conversa muito interessante para que o garoto
aceitasse ficar no colo por tanto tempo.
Lisa sentiu seu peito se encher de amor. Logo sua mente tratou de criar uma
fantasia onde era casada com Chaeyoung e todas as noites a mulher deitava-
se com Ethan para conversar antes de dormir enquanto Lisa preparava a
mamadeira.
Ela não devia deixar-se afetar tanto quando tinha um noivo que a amava e
acreditava cegamente que ela também o amava de volta. Esses sentimentos
torturosos não deviam se manifestar quando sua vida tinha dado um guinada
para frente.
- Eu posso saber sobre o que as duas crianças estão conversando? – Lisa disse
animada chamando atenção de Chaeyoung que saltou da cama no mesmo
instante envergonhada.
- Ok. Até depois, tia. – Ethan abriu os bracinhos para Chaeyoung que o
abraçou e o encheu de beijos no pescoço arrancando gargalhadas gostosas do
garoto.
- Chaeyoung...
Lisa recuou um passo surpresa com as palavras rudes. Onde estava a doce
Chaeyoung?
- Você sabe que nós precisamos conversar sobre tudo isso, não sabe? – tentou
quase num sussurro e viu Chaeyoung balançar a cabeça em desdém.
- Sobre o que? Sobre o quão fraca, covarde e cínica você é? Sobre como me
abandonou aos prantos em cima de um maldito terraço e 6 anos depois
aparece com um noivo e um filho agindo como se nada tivesse acontecido? O
que você quer, Lisa? Que eu me sente na mesa de jantar com sua família e
finja que não nos beijamos infinitas vezes, que não fui sua primeira namorada
e que não fizemos amor? Que você não foi minha primeira em tudo? – cuspiu
quase todas as palavras que vinha apertando seu peito desde que chegara
naquele lugar.
- O que quer que eu diga? Não fui eu quem a convidou para o jantar,
Chaeyoung. – defendeu-se magoada com as palavras. Chaeyoung não tinha
ideia sobre o falava. – Luhan acha que somos amigas de faculdade e que agora
não nos falamos porque eu guardei muitos segredos. Ele só quer nos
aproximar...
- Ótimo, pois diga a ele que eu não a perdoei por ser uma péssima amiga. –
quase gritou e quando se deu conta de seu ato, olhou quase em desespero
para a porta.
Ela precisava sair daquele lugar ou a qualquer momento faria alguma besteira
da qual não se arrependeria, e essa era a pior parte, pois tinha criado uma
afeição por Luhan.
- Eu vou embora. – respondeu firme e sem olha para trás. Bateu diversas
vezes no botão do elevador pedindo a Deus que ele aparecesse logo. – Diga a
Ethan que eu precisei ir embora, e avise Luhan e Sana que nossos laços são
estritamente profissionais. Eu não quero e não posso ultrapassar essa linha.
- Não precisa!
- Eu faço questão! – sua fala foi tão firme que apenas ouviu Chaeyoung
resmungar e entrar com tudo dentro do elevador quando as portas abriram.
Lisa entrou logo atrás e parou ao lado de Chaeyoung de frente para as portas
que se fecharam. O silêncio caiu como uma manta sobre as duas mulheres que
mal ousavam se encarar pelo reflexo do metal.
A musiquinha de piano que tocava no alto falante do elevador não ajudava
muito a situação, não quando seus hormônios gritavam pelo corpo uma da
outra.
Os elevadores de hoje em dia não poderiam ser mais rápidos, não? Lisa não
estava tão instigada aos hormônios, estava ferida pela forma como fora
tratada pela pessoa por que ela arriscou tudo.
- Foda-se!
Essa foi a última coisa que viu antes de ter os lábios tomados pelos da Chae
sem nenhum pingo de carinho.
Lisa sentiu toda a sua alma ser sugada quando sentiu a língua quente de
Chaeyoung invadir sua boca sem permissão e suas mãos explorarem seu
corpo com maestria e uma pegada tão forte que o gemido surgiu em sua
garganta involuntariamente e morreu nos lábios de Chaeyoung.
Não tinha como reagir aos toques e caricias que recebia. Não quando
Chaeyoung tinha as unhas fincadas em suas coxas, e quando Lisa tentou
reagir agarrando o colarinho de Chaeyoung, mas foi bruscamente empurrada
outra vez e teve os braços presos acima da cabeça, restando assim os lábios
esfomeados de Chaeyoung chupando, mordendo, tomando tudo da Lisa para
si depois de tanto tempo.
Como sentira faltas desses beijos. Não violentos como esses, mas ainda os
mesmos lábios, o mesmo sabor, a mesma língua...
Chaeyoung não respondeu, tentava a todo custo abrir a porta do carro com as
chaves, mas o desespero atrapalhava seu ato.
- Você me beijou! – Lisa exclamou possessa de raiva com a forma que estava
sendo tratada e Chaeyoung fechou os olhos franzindo o cenho.
- E você ama?
Chaeyoung olhou apenas uma última vez para Lisa antes de responder:
__________
34
- Lisa, eu não posso acreditar no que está me dizendo - Essa foi a voz de
Momo vinda do viva-voz do celular de Jennie.
Jennie tinha uma maçã parada a meio metro da boca, Jisoo - que até então
estava deitada no gramado -, tinha o corpo ereto e os olhos esbugalhados, já
sua irmã, Daniela, a olhava com raiva e seus punhos estavam fechados sobre o
colo. A única a se manifestar foi Momo, que no fim, acabou sendo
desnecessária. Mais uma vez.
Desviou o olhar para Ethan que brincava mais a frente com um chapéu em
formato de cabeça de dinossauro, ele corria atrás de Adam e os dois sorriam
alheios ao inferno particular em que a Lisa se encontrava.
- Vamos considerar que eu fui beijada por ela, pelo menos nessa parte eu não
errei. - Lisa também ficou em pé, acompanhada das outras garotas.
Lalisa estava paralisada com a falta de senso de suas amigas. Então é isso,
ninguém mais acreditava nela, pois agora até mesmo o beijo forçado - e bom -
era sua culpa.
Ninguém pensava em como ela estava depois de ter todos os sentimentos em
uma explosão contínua bem na sua cara, tendo um noivo e um filho no
mesmo teto para aumentar sua culpa.
É claro que Ethan não era um problema, o garoto era fruto do amor que elas
criaram no passado e em uma situação diferente seria filho de Chaeyoung
também. Mas, havia Luhan e todo o seu amor por Lisa.
Luhan não merecia ser traído, por mais que, mais uma vez, não tivesse sido
sua culpa o beijo no elevador, mas Lisa sentia-se mal apenas por nutrir
sentimentos por outra pessoa e agora mais do que nunca desejar estar em
outros braços que não fossem os dele.
Era errado. Chaeyoung tinha chego primeiro, mas agora era a Luhan que ela
pertencia, eles se casariam em menos de 3 meses e Lisa sabia que se não
agisse logo, perderia tudo o que tinha construído - ou ela pensava que tinha -,
ao longo dos anos.
- Ou que não estava preparada para encarar sua ex amiga, como ele pensa. -
Momo sugeriu do outro lado do telefone.
- Luhan é inocente, mas não é estúpido. - disse, cansada de rebater as ideias
que já tinha cogitado bem antes que suas amigas. - E tem Sana, ela não disse
nada ainda, mas eu sei que ela notou algo diferente entre Chaeyoung e eu.
Aquela sente o cheiro de tensão do outro lado do mundo.
Pensando melhor agora, ninguém mais poderia entender algo que nem
mesmo ela podia. Depois do beijo da noite passada, Lisa entrou atordoada no
apartamento e disse que precisava de um analgésico e dormiu.
Luhan ficou decepcionado quando soube que Chaeyoung tinha ido embora e a
Lisa precisou contar a verdade e dizer que elas haviam tido uma discussão
quando foi procurá-la, ocultando, é claro, a parte do elevador.
- Ou ela lutaria por vocês. Sabe, por você e Ethan, pois querendo ou não é a
família dela. - Jennie interpôs e recebeu concordância de Jisoo.
Lisa conteve o suspiro que se formou com a frase "Ela lutaria por vocês.".
- Isso não vai acontecer. Chaeyoung está com raiva de Lisa por pensar que ela
a abandonou por covardia, e eu tenho certeza de que Lisa não vai contar essa
parte também, não é? - Daniela disse irônica e foi fuzilada pela irmã.
- Vocês dificultam demais tudo isso, meu Deus. Acham mesmo que isso não
aconteceria? Essas duas palermas se amam, fim. A menos que Lisa volte para
a França, esses encontros vão continuar acontecendo porque é a lei da vida,
minhas queridas. Isso se chama lei da atração.
- O que? - berrou Momo e assustou a Lisa. - Sua anta, eu não disse isso com
essa intenção, era o contrário. - ouviram alguns barulhos de metais se
chocando contra o chão e Momo grunhir nervosa. - Garçom! A conta, por
favor! Lisa, deixe só eu voltar dessa porra de lua-de-mel e eu vou bater tanto
na sua cabeça que tudo o que você vai conseguir dizer pelo resto dos teus dias
é o nome de Chaeyoung!
- Você está fazendo isso para salvar seu casamento com Luhan ou por que está
com medo? - Jennie perguntou, cruzou os braços e cerrou os olhos para a Lisa
que abriu e fechou a boca procurando pelas palavras que não vieram tão cedo.
- De ser feliz de verdade outra vez. - Jisoo completou e Momo soltou um "aff"
na linha. - Sabe, vocês costumavam ser o casal mais lindo que eu já vi na
minha vida e a forma como tudo acabou foi tão injusta e dolorosa que deixou
marcas. E essas marcas permanecem nas duas. Sabemos que você a ama, Lisa.
Ethan é a prova disso. Mas, se há outra coisa que eu também sei, é que você
não deixaria de tentar lutar pelo amor de vocês agora que estão livres de
empecilhos... De verdade. - completou quando viu Lisa abrir a boca. - Luhan
sabe que você não o ama. Casamentos vem e vão, isso acontece e você não
disse o sim ainda, Lisa. Então me diga, você está ou não com medo de ser tão
feliz a ponto de explodir em felicidade como no passado?
Então era isso. Não havia uma resposta clara às palavras de Jisoo. Ela estava
certa.
O medo muitas vezes pode ser dominante, ele se alastra como uma doença
incurável e a deixa incapaz de pensar por si mesma. O medo, como o que Lisa
sentia, estava impregnado não em sua cabeça, mas em seu órgão pulsante no
lado esquerdo do peito.
- Corre que o homem tá passando com o carrinho lá do outro lado. - Lisa tirou
o chapéu da cabeça do filho e o colocou nos ombros.
- Viu, Adam? Eu sou maior que você agora! - ele bateu no peito com as duas
mãos em punho. - Eu sou o Hulk!
Ele soltou um grito surpreso e ergueu os braços rindo da cara de surpreso que
Ethan fez.
- Agora o Adam também é grandão.
- Então eu sou o Hulk do mal, e também sou mais forte. - o garoto urrou
imitando o Hulk. - Vamos, tia Jichu! Vamos chegar no sorveteiro primeiro
que o Ethan.
Jisoo e Lisa saíram correndo numa disputa infantil onde os meninos gritavam
empolgados estimulando as mulheres a serem mais rápidas.
- Não esperem que eu conte algum segredo espetacular dos deuses, pois eu
não sei de nada. - Ela resmungou e Jennie e Daniela riram.
- Essa história ainda não acabou, não é? - suspirou vencida pela ideia de que
sua amiga e sua irmã jamais conseguiriam ficar longe uma da outra.
Jennie, que também tinha desviado o olhar para a esposa e a amiga, enfiou as
mãos nos bolsos da calça e estalou a língua antes de responder.
- Ela acabou, Daniela. Mas, acabou de começar.
***
A ideia principal era chegar onde quer que ela morasse agora e lhe dizer que
não poderiam mais se ver pelo bem da humanidade e de seu noivado.
Lalisa estava indo de encontro ao precipício. Precipício esse que ela teria
prazer de se jogar.
Esse momento não veio. Procurou pelo nome tão conhecido em sua agenda e
enviou uma mensagem.
Lalisa M: Momo?
Lalisa M: Conversar...
Momo: ...
Momo: NÃO GRITA COMIGO! Ela está morando no rancho em que vocês
treparam, tchau.
Lalisa M: Obrigada.
Lisa não esperava que ela estivesse dizendo a verdade, não depois do lugar
simbólico que aquela casa se tornou.
Dirigiu o tempo todo com os pensamentos perdidos em memórias há muito
guardadas a sete chaves, silenciosamente implorando a Deus que não a
deixasse desmoronar diante de Chaeyoung como uma adolescente por seu
amor de colegial.
Logo viu o arco que costumava ser de madeira podre e com as letras
apagadas, onde agora estava escrito em tinta branca: Rancho Park.
O chão da varanda havia sido trocado por madeira MDF e uma cadeira de
balanço como a da antiga casa de Chaeyoung posta próxima à porta principal.
Do outro lado da casa, o que antes era um estábulo em ruínas, estava todo
reformado e pintado na cor vermelho alaranjado com alguns fenos
empilhados do lado de fora.
Tantas lembranças, tantos momentos vividos ali, ela poderia chorar somente
por conseguir se visualizar 6 anos mais jovem correndo pelo gramado com
Chaeyoung em seu encalce, ambas vestidas a rigor e com as roupas
amarrotadas.
Incrível o que o tempo pode fazer com as pessoas. Era quase noite e o céu
estava fechado anunciando uma tempestade em breve, como se os céus
previssem o que estava para acontecer.
Mas, atrás de Chaeyoung e com as mãos agarradas em sua cintura estava uma
mulher loira que usava um chapéu, short jeans e uma camisa listrada além
das botas.
Elas se beijaram.
Nem mesmo o chilreio dos grilos e o canto constante de um rouxinol foi capaz
de acalmar o turbilhão de pensamentos que se tornou a cabeça de Lisa.
Ela apertou o volante com força, crispou os lábios e suas narinas inflaram
expelindo raiva pela cena.
Nunca se deixara imaginar Chaeyoung beijando outra pessoa, por mais que
não fosse estupida e soubesse que isso teria acontecido muito durante esse
tempo, mas é o que dizem, o que os olhos não veem o coração não sente.
Sem conter o orgulho ferido, Lisa ligou o carro e o ronco do motor chamou
atenção das duas mulheres, quando os olhos de Chaeyoung cruzaram com o
seu, toda a raiva se dissipou dando lugar à insegurança.
Não adiantava mais fugir. Vencida pelo cansaço emocional, Lisa desligou a
chave da ignição e abriu a porta do carro.
Lalisa poderia passar com o carro por cima daquela loira e não se
arrependeria tão cedo.
A loira não era nem de longe feia, seus olhos eram chamativos pela cor
acinzentada e o cabelo ondulado caía proporcionalmente em suas costas,
assim como sua pele era alva como a de Chaeyoung.
- Lalisa? - Chaeyoung chamou com a voz firme, mostrando que não estava
abatida com a presença da Lisa. - O que está fazendo aqui?
- Eu estava passando pela área e resolvi parar aqui. - respondeu e sentiu que
sua garganta estava seca. - Eu posso ir embora se estiver atrapalhando alguma
coisa e...
- Te vejo amanhã?
Pode-se dizer que por dentro da casa as coisas eram ainda melhores. Os
móveis eram novos e sofisticados, na sala havia um lustre de cristal, dois sofás
brancos de pallet com várias almofadas.
Chaeyoung, que até então estava parada no meio da sala com as mãos nos
bolsos e analisando a expressão de Lisa, sorriu em agradecimento e levou Lisa
para conhecer o resto da casa.
A cozinha era o lugar mais moderno, por assim se dizer, já que a Chaeyoung
preferia manter o estilo clássico da casa. O banheiro mantinha o estilo
vitoriano e os quartos de hóspedes foram adotados por papéis de parede com
imagens variadas e camas de casal. 2 quartos eram de visita, e o terceiro fora
transformado em uma espécie de sala de música.
Nas paredes havia fotos de artistas clássicos, tais como Billie Holiday, Ella
Fitzgerald, BB. King, Marco Jackson, e entre eles uma foto de Johnny Cash.
Lisa quase caiu para trás.
- Você pretende voltar a tocar? - foi uma pergunta casual, seus olhos estavam
mesmo era perdidos nas partituras em cima da mesa.
- Um dia, talvez. - pelo tom de voz, a Lisa teve certeza que Chaeyoung dava de
ombros atrás de si. - Eu parei por necessidade e porque precisava por meus
pensamentos no lugar. Hoje eu levo uma vida boa com meu rancho e meu
trabalho com as crianças, gosto do que eu faço.
Nesse cômodo elas não disseram nada. O momento falava por elas. A parede
vermelha estava lá, da mesma forma que elas estavam paradas agora de frente
a ela, como há anos atrás quando discutiam sobre o vermelho. O rombo no
teto não existia mais, mas Lisa o poderia ver facilmente se fechasse os olhos,
assim como analisou atentamente o piso de madeira onde se amaram
intensamente algumas vezes.
Elas desceram até a sala onde a Chaeyoung deixou a Lisa sentada enquanto
colocava a água do café para ferver.
Lisa enfiou o rosto entre as mãos e respirou fundo pedindo calma ao seu
coração. Não havia nada com o que se preocupar, elas estavam sendo
maduras e a Lisa agradecia pela atitude de Chaeyoung.
Elas passariam por isso, logo tudo estaria terminado e ela poderia finalmente
voltar para a sua vida de mentiras.
- Acho que perdi minha habilidade com o café, então espero que esteja
aceitável. - Chaeyoung tentou brincar e deixou uma pequena bandeja na
mesinha de centro com o café, duas xícaras e um potinho com açúcar.
- Obrigada. - Lisa agradeceu, o desconforto da naturalidade entre elas
gritando em si. Ouviu quando a chuva começou a crepitar no telhado da casa
e aos poucos foi aumentando. - Acho que estou presa aqui.
Chaeyoung parou por um tempo de por o açúcar em seu café para analisar o
som e sorriu amarelo.
- Luhan o levou à um jogo de futebol, hoje é o dia dos meninos. - riu com o
pensamento, mas arrependeu-se quando viu a expressão de Chaeyoung
fechar. - Uhn, Ethan é apaixonado por futebol, assim como é pela música e
por dinossauros.
Não, Chaeyoung, não comece com essas coisas em um momento como esse.
- Sinto muito pelo que aconteceu. - Lalisa disse melancolicamente quando viu
a dor nos olhos de Chaeyoung. Ela queria poder abraçá-la. - Tenho certeza
que você sempre o toca para manter a lembrança de seu pai viva.
- Tocar sobre ele não vai o trazer de volta, Lisa. Eu aprendi isso durante 6
anos da minha vida.
Lisa quebrou com o comentário. Ela sabia que era uma indireta e que
Chaeyoung estava profundamente magoada com suas atitudes. Se ela
soubesse...
- Mesmo assim. Mark era um homem cheio de vida que a amava acima de
qualquer coisa, ele ficaria feliz onde quer que esteja se você tocasse para ela às
vezes. - Rebateu e seu olhar automaticamente pousou na pulseira de prata
que Chaeyoung usava e seu coração errou a batida.
Talvez ela estivesse ali desde a primeira vez em que se viram e ela não tenha
notado, mas estava lá, escancarado para quem quisesse ver. Chaeyoung notou
o olhar da Lisa em seu pulso e rapidamente o dobrou em sua perna, mas já
era tarde demais.
- O que você quer aqui, Lalisa? - a pergunta foi cheia de significados, daqueles
que diz, "por favor, vá direto ao assunto antes que as coisas piorem."
Lisa hesitou com o olhar triste que recebeu, e foi sem pensar que deixou sua
mão pender para o lado e o café escaldante cair em sua camisa social
queimando sua pele como brasa.
Que desastre. Derramar café em sua blusa não era o planejado para aquela
noite, na verdade ela deveria dizer o que tinha ido dizer e sair por aquela
porta para nunca mais voltar.
Notas do destino
Com a camisa aberta, Lisa se abanava com a mão direita e até pensava em sair
na chuva e deixar que a água aliviasse a queimação, sua pele alva se
encontrava avermelhada e a dor não era das melhores.
- Acho que isso vai doer um pouco, desculpe. - pediu e não esperou pelo olhar
curioso de Lisa, pois logo levou o pano ao vermelho na pele da Lisa e a ouviu
grunhir pela dor. - Eu é que sou a desastrada e você é quem se queima. - Ela
sorriu com os olhos presos na pele de Lisa, ignorando que a Lisa estava com a
camisa aberta e que todo o seu torso estava exposto, exceto pelo sutiã preto
que cobria os seios.
- Eu sei... - Chaeyoung murmurou mais uma vez, mas sem parar os beijos.
Reunindo todas as forças inexistentes em seu corpo, Lisa conseguiu levantar-
se com uma expressão abalada, a queimadura esquecida momentaneamente
enquanto seu corpo se encontrava em estado letárgico.
- Eu... Eu preciso ir. - disse com a voz perdida, os olhos correndo em qualquer
lugar que não fosse Chaeyoung. - Eu preciso ir. - Repetiu e virou as costas
deixando Chaeyoung para trás.
Turn around
Vire-se
Seu corpo estava no automático quando correu para fora de casa sem se
importar com a tempestade que caía lá fora.
Lisa foi tomada pela chuva e em poucos segundos estava encharcada e com a
camisa rasgada, ela também tinha lágrimas nos olhos por não conseguir se
conter, seu peito empurrando-a de volta para a casa e pedindo que se
entregasse a Chaeyoung.
Quando chegou ao carro, foi impedida de abrir a porta por si mesma, seus
olhos travados na lataria e o corpo fervendo mesmo sob a água fria.
Turn around
Vire-se
Lisa nada disse, mas caminhou furiosamente até ela e a prensou contra a
parede com seu corpo encharcado, deixando Chaeyoung também molhada.
De outras formas também.
Chaeyoung vacilou por um instante quando levantou suas mãos a fim de tirar
Lisa de perto dela. Afinal ela parecia não querer arriscar colocá-las
acidentalmente nos seios da Lisa. Por fim ela os colocou nos ombros de Lisa,
o que não foi bom, porque Lisa pressionou seu quadril ao dela, deixando-a
totalmente presa a ela.
Turn around
Vire-se
- Nós temos essa noite, meu amor. - murmurou. Com delicadeza ela salpicava
beijinhos pelo rosto da Lisa. E ouviu com satisfação o engate da respiração
dela. - Eu sou apenas sua essa noite, se você for apenas minha.
Com firmeza, Lisa deslizou suas mãos até a parte de trás das pernas de
Chaeyoung e num único movimento ela colocou as pernas da mulher ao redor
de sua cintura e pressionou-a contra a parede.
Ainda não satisfeita reivindicou a boca dela com paixão. Lisa não deixaria
qualquer dúvida do que queria.
Turn around
Vire-se
Turn around
Vire-se
Devagar, Lisa alcançou os lábios de que tanto sentiu falta. Com delicadeza
pressionou seus lábios aos de Chaeyoung, fez isso algumas vezes até ela
reagir.
Lisa tinha certeza que estava sendo arrastada para aquele redemoinho de
paixão onde dizem que as pessoas se perdem. Ela já estava perdida e
sinceramente? Não se preocupava em ser encontrada.
Lalisa levou Chaeyoung até o sofá, e foi cuidadosa em colocá-la lá e subir por
cima encaixando-se entre as pernas da Chaeyoung. Movimentou o quadril
para provocar um pouco de atrito entre suas intimidades e ambas
suspiraram.
Chaeyoung, por outro lado, não se fez de rogada e sem esperar por qualquer
tipo de permissão, tirou a blusa de Lisa com pressa, pois necessitava vê-la.
Livrou-se da camisa e a contemplou por um instante em seu sutiã. A saudade
já não cabia em seu peito.
Então a Chaeyoung tomou seu rosto e a beijou com ardor renovado. Suas
bocas eram uma confusão de briga por domínio.
Mas, Lisa não teria nenhuma chance. Chaeyoung a possuiria e tiraria dela
toda e qualquer ideia de deixá-la novamente.
Chaeyoung separou o beijo e analisou os lábios convidativos de Lisa, que já
estavam vermelhos e inchados e ficou de pé na frente dela. Lalisa a encarou
confusa.
Curvou-se e sem cerimônia lhe tirou a calça e calcinha. Agora quem estava
com olhos escurecidos era Chaeyoung.
But now there's only love in the dark Mas agora há apenas amor na
escuridão
- Chaeyoung, eu...
Turn around
Vire-se
Turn around
Vire-se
***
O apartamento estava silencioso e escuro.
Como previsto, Ethan estava sob as cobertas e com a cabeça apoiada nas
mãozinhas, ele dormia profundamente e Lisa deixou-se chorar por um tempo
abraçada ao filho. O pedaço de Chaeyoung que ela tinha.
Quando voltou a sala, viu que Luhan dormia desajeitadamente no sofá com a
camisa do PSG e a coberta cobrindo metade de seu corpo. Lisa parou em
frente ao noivo e abraçou ao próprio corpo sentindo-se suja e completa ao
mesmo tempo.
Seu corpo todo ainda tremia em êxtase por Chaeyoung, assim como desejava
estar naquele rancho e acordar ao lado daquela Chaeyoung pelo resto de seus
dias. Ela não merecia Luhan.
Mensagem para Momo: "Eu caí, Momo. Eu caí por alguém e não foi por
Luhan."
_________
______
35
Pov Chaeyoung
Era uma vez, eu me apaixonei. Era uma vez, eu me entreguei de corpo e alma.
Era uma vez, ela me deixou. E o felizes para sempre acabou.
Essa é a trajetória de vida não apenas minha, mas de várias pessoas. É assim
que o amor é fadado a começar e a acabar.
E da mesma forma que começou, forte, intenso, ele acabou. Não o amor. Eu a
amo com tudo de mim e não posso mais negar.
Passei anos da minha vida tentando provar a mim mesma que a tinha
superado e que o únicos sentimento que restava por ela era a mágoa. E mais
uma vez, eu estava enganada.
Eu realizei meu sonho, me tornei uma das musicistas mais bem prestigiadas
de New York e gravei dois álbuns.
Poucas foram as vezes em que vi Sana depois do jantar, eram raras as vezes
em que ela buscava o sobrinho e estava sempre apressada com os negócios.
Segundo ela, tinha conseguido um bom lugar para a boate e as coisas estavam
indo maravilhosamente bem.
Momo voltou de sua viagem e não tocou no assunto sobre minha noite com
Lisa, aliás, era como se nenhuma das meninas soubesse de nada e eu agradeci
mentalmente Lisa por isso.
***
- Eu comprei a pipoca grande porque sei que você devora a média nos
primeiros 20 minutos de filme. – brincou Ella ao aproximar-se com dois
copos de coca em uma bandeja e um pote enorme de pipoca na outra mão. –
Você comprou os ingressos?
- Tia Chaeyoung!
- Oi, meu amor! – deu um beijo estalado na bochecha de Ethan que encolheu
o pescoço envergonhado. – O que está fazendo aqui? Não me diga que veio
assistir Vingadores também?
Lalisa parecia desconfortável por estar ali, mas não deixava de sorrir e Luhan
estava se divertindo com o enteado.
- Ele não para de falar isso desde que saímos da sessão. – Luhan contou, mas
a atenção de Chaeyoung estava presa na mão esquerda do rapaz que estava
entrelaçada com a de Lisa. – E isso foi há meia hora.
Ella, que até então prestava atenção também em Ethan, olhou diretamente
para Lisa e cerrou os olhos. Ela conhecia aquela mulher de algum lugar, tinha
certeza disso...
- Aproveitando a noite de New York? – Luhan chamou sua atenção mais uma
vez e Chaeyoung foi obrigada a encará-lo. – Sana e eu ainda estamos nos
acostumando com o fuso horário. Lisa está nos levando para conhecer...
- Espere, Lisa? – Ella o interrompeu e Chaeyoung quase caiu para trás com
Ethan no colo. – Eu conheço você... – a Lisa também arregalou os olhos e
engoliu em seco, Ella poderia entregar tudo em questão de segundos.
- É claro que sim. Eu não sei por que não reconheceria a irmã de Chaeyoung
já que vocês são a cópia uma da outra. – ele riu e Chaeyoung e Lisa
acompanharam tensas. Ella não tirava os olhos de Lisa. – Então você também
é amiga de Lisa como sua irmã?
Lança um olhar psicótico para Ella que capta e entende a situação. Fique
calada e salve sua vida.
- Oh, sim. É realmente bom saber que alguém aguentou Lisa além de mim. –
Luhan tentou brincar, mas só recebeu risos forçados em troca e pela primeira
vez pareceu notar que estava sendo inconveniente. – Enfim, é melhor nós
irmos. Está ficando tarde e Ethan acorda cedo pra aula de natação amanhã.
- Meu pequeno sim. – ela rebate e bagunça dos cabelos do garoto que se
contorce até ser posto no chão e corre até agarrar a perna de Lisa. – Boa noite,
Luhan... Lalisa. – diz sem graça e dá um passo para trás evitando contato
físico.
- Aonde você quer chegar com isso, Ella? – Chaeyoung perguntou impaciente.
- Digamos que eu tenha encontrado uma carta do nosso pai para Lisa...
Chaeyoung aproveitou para jogar seu refrigerante ainda cheio de lixo e virar-
se categoricamente para Ella em desespero, algo em sua cabeça gritando que
havia muito mais coisas que ela não sabia. Ella apareceu logo depois, os
braços cruzados e uma expressão séria.
- Eu não lembro direito, faz tempo. – a menina deu de ombros. – Ele dizia
sobre você, contando sobre como você estava e suas viagens em turnê. Ele
também disse algo sobre ela seguir em frente com um cara que gostava dela,
que se fosse para vocês estarem juntas um dia isso aconteceria. Falou também
sobre o pai de Lisa e algo envolvendo os tratamentos dele, mas eu não entendi
direito porque nossa mãe entrou no quarto bem na hora e tirou de mim.
A sensação de traição que preencheu Chaeyoung a dominou por completo.
Chaeyoung cerrou os punhos e crispou os lábios ao receber tais informações.
Ella rezava para que nada acontecesse e que não tivesse falado demais, mas
obviamente sua curiosidade tinha sido maior outra vez e a terceira guerra
mundial estaria acontecendo em breve por sua culpa.
Nem mesmo a Chaeyoung fria em que ela tinha se tornado influenciava nesse
estado de humor.
______
36
O Honda Accord foi estacionado em frente à antiga casa dos Park sem um
pingo de gentileza.
A casa estava escura e Chaeyoung mal se deu o trabalho de ligar as luzes, logo
atravessou a sala subindo as escadas pulando os degraus e rumando direto ao
quarto de Diana.
Ella mal terminou de falar e Chaeyoung abriu a porta do quarto com tudo.
- Mãe. – chamou e não se intimidou quando Diana a olhou. – Você sabia que
Lisa trocava cartas com papai?
Com cuidado, Chaeyoung pegou a caixa no colo sentindo que segurava todo o
seu mundo e caminhou até a cama sentando-se com as pernas cruzadas.
- Fique onde está. – Chaeyoung alertou sem tirar os olhos do bolo de cartas
presas por um elástico.
Seu coração mal se aguentava no peito e deixava todo seu corpo em alerta.
Ninguém ousou dizer nada quando Chaeyoung tirou outro pacote da caixa,
dessa vez um pacote de fotos Polaroid. Fotos que ela conhecia muito bem.
A segunda foto foi a primeira que Chaeyoung tirou da Lisa. Era no quarto de
Chaeyoung na noite em que Lisa a levou para dançar no coreto. Na foto, Lisa
tinha as mãos na frente do rosto escondendo-se da foto.
A terceira foto era Lisa tocando violão com Chaeyoung logo atrás o queixo
encostado no ombro da Lisa e suas expressões distraídas, essa foto tinha sido
tirada por Jennie em uma das muitas vezes em que se reuniam.
Querido Mark, tantas coisas eu gostaria de expressar nessa carta, mas que
não cabem em palavras suficientes para que possa um dia compreender
meus atos.
Eu espero que o senhor não minta para mim quando responder esta carta e
me dizer como ela está. Sei que sou a culpada de sua dor e por isso aceito o
fardo da culpa.
- Leia a de número nove. – instruiu, e entregou uma das cartas para a filha.
02 de Agosto de 2017.
Alivia meu peito saber que meus atos geraram algum resultado positivo, eu
sabia que o senhor viveria por muito mais tempo. Meu pai enviou os
pagamentos esse mês? Nós discutimos outra vez e eu tive medo que ele
parasse com o dinheiro, por favor, mantenha-me informada sobre isso
sempre que possível.
Como está sua família? Ontem foi aniversário de Diana, se bem me lembro,
gostaria de poder desejar-lhe feliz aniversário, então apenas lhe dê um forte
abraço por mim, sim? E Ella? Continua a mesma garotinha curiosa e
amável de sempre? Mal posso esquecer suas perguntas que sempre me
divertiam.
Soube que Chaeyoung está indo muito bem na turnê com Uto e isso também
me deixa feliz. Apesar de a saudade me queimar todos os dias desde que a
deixei, algo me diz que esse sacrifício valeu a pena, agora ela está mais
focada na música e na carreira que são o verdadeiro amor dela.
Eu só queria que ela soubesse que ainda penso nela e peço todos os dias em
minhas orações para que Deus zele pela nossa menina. Me desculpe chamá-
la assim, mas meu instinto protetor em Chaeyoung sempre fará dela minha
garota também.
Chaeyoung não tinha mais controle de seu corpo e muito menos de suas ações
quando leu sobre sacrifício e dinheiro vindo de Marco. O que isso queria
dizer?
A verdade estava sendo muito assustadora e ainda sim ela não conseguia
entender.
- Existe outra coisa. – ela disse e apontou para a caixa de DVD's caseiros que
ficava em cima da cômoda ao lado do aparelho. Ella pegou a caixa e entregou
a mãe que agradeceu com um carinho no rosto. – Mark pediu que mostrasse
quando fosse o momento.
A Manoban mais nova ligou o DVD e aproximou-se da cama com Ella, todas
na expectativa do que apareceria em segundos na tela da TV.
Lisa segurava a câmera nas mãos e a tinha virada para seu rosto, ela estava
aparentemente caminhando em algum lugar a céu aberto. Lalisa olhou para a
lente da câmera, sorriu e pediu silêncio. Então focalizou uma Chaeyoung na
beira de um lago, o mesmo do rancho, Chaeyoung estava sentada contra a
árvore e lia um livro qualquer com seus óculos de leitura.
- Que convidados, Lisa? – Chaeyoung pergunta com a voz abafada pelo livro
e a câmera treme indicando que Lisa estava rindo.
A imagem ficou preta e cortou para outra cena. Agora outra pessoa usava a
câmera e focalizava em Chaeyoung e Lisa.
- Eu juro que ainda vou dar na cara dessas duas pelo tanto que açúcar que
uma tem com a outra. – pode-se ouvir a voz de Momo atrás e a pessoa
focalizou em Momo que se encontrava sentada ao lado de Jisoo com um
copo de refrigerante nas mãos. Momo tapou a lente da câmera. – Tiro isso
de perto de mim, Jennie. Filma o casal de estranhas porque minha beleza
não cabe nos pixels dessa câmera.
- Você não sabe fazer nada, não? – a voz de Chaeyoung também surgiu e de
repente a câmera levantou mostrando o auditório de Juilliard. – A lente
estava tampada, bebê.
Dessa vez, era Lisa sozinha e de uma forma diferente. Ela tinha os olhos
inchados e vermelhos. Ela estava chorando.
A mulher chorava tanto que chegava a parecer uma criança longe da mãe,
pedindo por conforto, por carinho, para ser amada.
- Meu Deus... – chorou cobrindo o rosto com a mão direita e não viu quando
algo gélido foi depositado na palma de sua mão esquerda.
Diana assentiu como a cabeça como se lhe dissesse que entendia o que estava
acontecendo.
– Vocês me enganaram... Meu Deus do céu... Vocês todos mentiram para mim
todo esse tempo... Por quê? Por que não me disseram logo? Assim eu poderia
ter ido atrás dela!
- Nós não sabíamos como contar algo assim, Chaeyoung. – Daniela deu um
passo à frente com Chaeyoung que se levantou um pouco desnorteada. – E
seu pai ainda estava em tratamento, não poderíamos arriscar a vida dele
assim. E quando ele morreu... Bom, você já estava tomada pela ira por Lisa e
ela estava...
- Noiva! – Chaeyoung gritou e Ella pulou com o susto. – Agora ela está noiva e
com filho! Droga, Daniela! A mulher da minha vida está com outro nesse
momento e eu não posso fazer nada!
- Você sempre vai poder fazer alguma coisa, filha. – Diana disse pela primeira
vez algo coerente e recebeu um olhar em fúria de Chaeyoung. – Essa menina
ama você como seu pai me amou.
Não queria envolver Chaeyoung e Lisa novamente, não queria causar toda a
dor de antes e deixou isso bem claro desde o começo para sua irmã. Achava
extremamente errado o que Lisa tinha feito em esconder um noivado e um
filho, mas ela sabia que o estava acontecendo agora e não poderia mais negar
que sua irmã e sua melhor amiga estavam destinadas a se amarem pelo resto
de suas vidas. Então apenas lhe restava ajudar Chaeyoung a encontrar o
caminho de volta ao amor.
Seu filho e sua mulher. Era isso, não era? Lisa sempre foi a garota que fez de
tudo naquele relacionamento nos tempos de faculdade, Lisa sempre a
surpreendia e a fazia sentir-se especial.
***
O que aquela mulher poderia querer em sua casa àquela hora da noite?
- Onde está Lisa? – foi a primeira coisa que ela perguntou passando os olhos
pelo apartamento. – Por favor, Sana, me diz que ela está aqui.
Sana cruzou os braços sem saber direito o que fazer para ajudar a mulher a
sua frente. Abriu e fechou a boca várias vezes e negou com a cabeça.
- Desculpe, mas ela foi com Luhan ao baile de máscaras. – disse e viu
Chaeyoung fechar os olhos sentindo-se atingida. – Eu disse algo errado?
Chaeyoung, tudo bem?
- Eu preciso falar com ela... Eu preciso falar com ela o mais rápido possível.
É claro que havia algo muito estranho entre sua cunhada e Chaeyoung e Sana
já fazia certa ideia do que poderia fazer.
- Eu aceito. – sorriu forçado e pensou em outra coisa. – Será que eu posso ver
Ethan antes?
Chaeyoung quase teve falência cardíaca quando viu Ethan depois de saber a
verdade. Era como olhar para o garoto com novos olhos, era como olhar para
seu filho.
***
Era tradição fazer uma festa anual com diversos temas e os moradores tinham
decidido pelo baile de máscaras.
Luhan estava mais do que feliz naquele baile, tinha encontrado vários colegas
de trabalho e já falava o inglês mais fluentemente. Ele trajava um terno preto
e capa, assim como sua máscara. Tudo nele era simples assim como sua
personalidade.
O vestido que Lisa usava era rosa com detalhes em branco, sua máscara
também era rosa e tinha pequenas bolinhas douradas. Seu cabelo caía em
ondas até as costas. Ela também estava se divertindo, as danças eram
animadas e Luhan sempre a fazia se divertir em lugares como esse.
De primeiro pensou que pudesse ser Luhan, mas os braços eram finos e mais
delicados, e quando a pessoa encostou o rosto em seu pescoço e a respiração
fez cada célula de seu corpo trabalhar mais rápido, Lisa teve sua certeza.
- O que está fazendo? – Lisa perguntou surpresa. – Pensei que nunca mais
fossemos nos falar.
Chaeyoung apertou seus braços na cintura da Lisa e colou mais seus corpos
até que suas bochechas estivessem coladas.
Sem escolha, Lisa deixou que suas mãos pousassem no ombro da mulher e
deixou-se ser conduzida pelo ritmo da música sem se importar com quem
estava olhando.
- Eu descobri tudo, Lalisa. – Chaeyoung disse um pouco alto para que a Lisa
pudesse ouvir e sentiu quando o corpo de Lisa ficou tenso junto ao seu. - Eu
amo você. Eu tenho tentado te odiar e por muitas vezes odiei porque você
quebrou o meu coração, mas eu te amo. – fechou os olhos controlando sua
voz, não queria desabar justo agora.
- Eu sei o que você fez pelo meu pai... Eu sei que você me ama, seus olhos
dizem isso e tudo em você diz isso. – aperto-a com mais força contra si como
se pudessem fundir seus corpos a qualquer momento. Lisa mal se movia,
apenas deixava-se ser dominada pelos movimentos de Chaeyoung. - Eu sei
também que você não ama o Luhan, porque eu conheço você. Eu sou você. E
eu não quero ser uma destruidora de casamentos, mas eu quero uma chance
sua pra você lembrar porque me ama.
- Me de uma chance. Lembre-se de mim e dos motivos que lhe fazem me amar
até hoje. Deixe-me ficar perto de você e se até o dia do seu casamento você
não me quiser, eu juro que desaparecerei e lhe deixarei em paz.
Watching every motion
In this foolish lover's game
Haunted by the notion
Somewhere there's a love in flames
- Não precisamos nos tocar. Você não precisa trair Luhan. Apenas, me deixe
fazer você lembrar-se de mim.
Uma lágrima caiu quando viu o rosto de Lisa molhado e os olhos conflituosos
entre o certo e o errado.
- Você deixa? – perguntou esperançosa e viu Lisa fechar os olhos com força
como se sentisse dor ao responder.
Ao longe, Luhan observava toda a cena intrigado pelo que estava vendo.
Poderia ser uma dança de amigas? Elas pareciam muito mais íntimas que
isso, Lisa parecia tão... De Chaeyoung.
_________
37
10 de Agosto de 2023. - New York City, NY.
Uma vez, quando pequena, Lisa caiu de patins em frente á casa de seus pais.
Seu joelho esquerdo recebeu 8 pontos e seu braço direito foi enfaixado por
um médico de meia idade que sorria acolhedoramente para a pequena
menina de olhos castanhos. Uma das enfermeiras lhe deu um pirulito antes
do processo e garantiu que receberia apenas uma picadinha de pernilongo no
ombro.
Ethan correu até o sofá e se aninhou aos braços da mãe enquanto os dois
assistiam Bob Esponja apenas de pijamas. Lisa amava momentos como esse
com seu filho. Ethan havia se tornado tudo em sua vida desde que deixava os
Estados Unidos pela primeira vez. Ela sabia que daria sua vida e moveria
montanhas pelo garoto, o amor que crescia cada dia mais dentro de si já não
cabia mais em seu peito. Ethan era tudo para ela. Seu sorriso doce e infantil,
seus olhos. Ah, e Lisa amava os fios de cabelo do filho, lembrava os seus de
quando ainda era pequena.
Algumas horas depois, Lisa correu com Ethan até o banheiro e os dois
tomaram um longo banho quente onde brincaram na banheira de jogar
espuma um no outro e almoçaram sozinhos no tapete da sala já que era folga
da governanta e Luhan e Sana não estavam em casa.
Ás vezes Lisa apenas queria sentir-se criança outra vez, e nada melhor que
aproveitar esses momentos com seu pequeno.
A paz da manhã foi totalmente quebrada quando Sana chegou em casa depois
de passar a madrugada na boate administrando uma festa. Ela não estava
bêbada, mas tinha os olhos assassinos para a cunhada que estava assistindo
ao Discovery Channel enquanto Ethan tirava sua soneca da tarde.
Sana estreitou os olhos para Lisa e caminhou até o sofá sentando-se de frente
para a Lisa.
- Eu vou perguntar só uma vez. – a voz de Sana saiu mais séria que o normal e
Lisa a olhou surpresa. – Quem é Park Chaeyoung?
O choque percorreu o sangue da Lisa e atingiu em cheio sua sanidade. Ok, sua
cunhada a estava questionando sobre Chaeyoung, e pelo seu tom de voz não
era sobre um possível interesse amoroso na Chaeyoung.
Controlando suas emoções para não esboçar nenhuma emoção que entregasse
seu desespero, Lisa voltou os olhos para a TV e deu de ombros.
É óbvio que Sana notou o desespero em seu olhar quando terminou de falar,
ela mal podia esconder sua mão trêmula enquanto segurava o controle
remoto da TV.
Ok... Contar a verdade para a irmã de seu noivo ou não? Arriscar perder tudo
ou inventar um desmaio e adiar a conversa?
Lisa suspirou reunindo toda a coragem que não existia dentro de si e desligou
a TV deixando que o silêncio do apartamento preenchesse a tensão entre elas.
Ao mesmo tempo em que não queria perder seu noivo e sua amiga, parte de si
insistia que Sana era sua amiga antes de qualquer coisa e que se alguém
merecia saber de toda a verdade, esse alguém era sua cunhada. Mas,
independente da amizade, Luhan e Sana eram irmãos e se Sana não a
compreendesse, algo que nem ela mesma conseguia após aceitar a proposta
maluca de Chaeyoung, sua vida poderia virar de ponta cabeça.
Lisa manteve a boca aberta uns bons centímetros sem acreditar ao que sua
cunhada estava dando prioridade naquele momento.
- Ok, você está certa, desculpe. – balançou a cabeça e voltou a sentar ao lado
de Lisa. Agora as sobrancelhas estavam unidas enquanto algo vinha a sua
mente. – Você traiu meu irmão?
- Não! – Lisa gritou e tapou a boca arrependendo-se logo em seguida, seu ato
poderia acordar Ethan. – É claro que eu não traí Luhan, você está louca? –
por dentro a Lisa odiava-se por mentir. Sim, ela traiu Luhan e foi o melhor
erro que ela poderia ter cometido em sua vida. Mas, assim como o amor delas,
aquele momento permaneceria como um segredo trancado a sete chaves. – Só
está sendo complicado tê-la em minha vida agora, depois de tanto tempo.
Lisa respirou fundo e preparou-se para voltar ao passado, quando o amor era
puro e a vida bem mais fácil por mais que elas não enxergassem isso. Quando
cada dia ao lado de Chaeyoung era valioso e ainda sim com um prazo de
término.
Lisa assentiu, os olhos já marejados que não valia a pena serem desviados.
Sana descobrira sua fraqueza e agora todas as cartas estavam na mesa.
- Gente... Isso é melhor que novela mexicana. – disse Sana com a boca aberta
expressando surpresa. – E você decidiu tê-lo...?
- Para manter uma parte dela comigo. – disse, mesmo sabendo que seria vista
como uma louca romântica, assim como foi vista por todos os outros que
sabiam a verdade. – Eu decidi que ter Ethan seria uma forma de ter
Chaeyoung comigo, seria como nosso filho. E funcionou, por muito tempo
funcionou...
E o silêncio que caiu foi significativo. Elas sabiam que tinha chego à parte em
que falariam sobre Luhan e Sana deixou que Lisa tomasse seu tempo.
- Meu filho estava crescendo e eu senti que ela precisava de uma segunda
figura na vida dele. Não me odeie por isso, por favor. Você vivia me
empurrando seu irmão e ele sempre foi tão generoso e bondoso não só
comigo, mas com Ethan. Eu vi uma oportunidade nele. Eu realmente falei
sério quando aceitei o noivado, eu queria tentar ter uma vida de verdade e
aprender a amá-lo com o tempo.
- Hm, ok. – Sana curvou o corpo e apoiou os cotovelos nos joelhos, ela ficou
em silêncio por um bom tempo filtrando o que diria para Lisa em seguida. –
Você sabe que Luhan é meu irmão e por mais que seja um panaca, meu dever
é protegê-lo, certo? – Lisa assentiu. – E, da mesma forma que tenho você
como minha melhor amiga, meu dever também é protegê-la. Sabe, uma vez,
pouco antes de nos mudarmos pra cá, Luhan me disse que sempre soube que
você não o amava. Ele disse que não ficaria no caminho caso você encontrasse
alguém e se apaixonasse, disse que te amava o suficiente para deixá-la ir.
- Eu não vou...
- Você vai. – Sana não deixou que Lisa terminasse. – Pode não ter certeza
disso agora, talvez por estar confusa e com medo, mas você vai deixá-lo no
final de tudo e no fundo sabe disso. – segurou as mãos da Lisa que agora
chorava silenciosamente. – Eu vi a maneira como Chaeyoung olha pra você e
eu posso não entender muito sobre o amor, mas aquilo que eu vi no jantar, a
forma como ela apareceu aqui procurando por você como se a vida dela
dependesse disso, isso minha querida cunhada, é amor. E você vai ser muito
estúpida se não permitir esse amor de acontecer por Luhan, seria errado com
você e com ele.
- Você não me odeia? – Lisa perguntou, esperava que fosse expulsa do próprio
apartamento quando Sana descobrisse a verdade e tudo o que estava
recebendo eram conselhos amorosos.
Sana fez um som nasal com ironia e deu palmadinhas no ombro de Lisa.
- Eu estou é feliz por saber que sempre estive certa. – piscou e recebeu um
sorriso em troca. – Então, qual a real situação de vocês?
Está ai uma boa pergunta. Qual a real situação delas? Dois dias atrás
Chaeyoung a procurou em um evento a fantasia dizendo que sabia de toda a
verdade e pediu uma chance.
Uma chance para redescobrirem juntas esse sentimento que as rodeia. Elas
não se falaram mais depois daquele dia. Chaeyoung não a procurou mais. E ao
mesmo tempo em que era um alivio, algo em si ansiava por ela a cada
segundo da batida de seu coração.
- Sabe a noite do baile? – perguntou e Sana fez uma careta como se fosse
óbvio que sabia. – Ela me procurou e pediu uma chance de me fazer lembrar o
porquê de ter me apaixonado por ela. Disse que não precisaríamos nos tocar
para que eu não traia Luhan, mas que só precisava até o dia do casamento
para me fazer mudar de ideia.
- E você aceitou?
- Aceitei. Foi um ato impensado, eu acho que não consigo reagir quando ela
está por perto.
- Nah, pelo menos agora vocês podem se conhecer outra vez sem fazer o meu
maninho ter chifres. – deu de ombros. – Ele sabe que você não o ama, Lisa,
então não tenha medo de arriscar. Apenas o deixe ciente disso o mais rápido
possível, ok? Ele também merece seguir em frente.
***
– Eu já estou acostumada com a sua ladainha, mas quem está tirando sangue
de você sou eu, perdedora! - ameaçava Momo do outro lado com um olhar
maníaco.
Entediada, e assustada, Lisa decidiu intervir antes que sua casa fosse
demolida e seu filho traumatizado.
– Muito bem, chega de jogar Street Fighter por hoje. - anunciou desligando a
TV e jogando o controle para Jennie que o escondeu em baixo do travesseiro.
Sana fez menção de jogar o controle do XBOX em Lisa, mas foi barrada por
Jisoo com um olhar de reprovação. Momo apenas se se encostou à poltrona
largando seu controle no chão e uma carranca descontente.
- Gente esse menino é a cópia da Lisa quando criança, ganhava tudo de nós
com esse olhar de gato de botas. – Jennie riu arrancando uma gargalhada de
Momo ao lembrar-se da infância.
Lisa sentiu vontade de estrangular Sana por oferecer um jogo tão violento
para Ethan, mas graças ao bom Deus a conversa foi interrompida por um
toque de celular.
– Então? - perguntou Jisoo segurando a mão de Momo para que ela parasse o
que estava fazendo e a encarasse nos olhos.
– Então o que?
Momo sorriu satisfeita vendo o queixo de Lisa cair. Jennie largou Jisoo e
correu segurar a mão da Lisa em solidariedade, acompanhada de Sana que
olhou profundamente nos olhos dela e disse séria:
Não, ela não queria fugir. Chaeyoung não merecia isso e no fundo, Lisa sabia
que queria estar na presença da mulher, era quando se sentia ela mesma,
liberta, feliz. Então não, ela não negou, apenas concordou com a cabeça e
deixou-se ser abraçada de lado por Jisoo.
Ethan abriu um dos maiores sorrisos que só ele possuía e abraçou o pescoço
da mãe.
Lisa riu gostosamente com a cena de seu filho a puxando pela mão para que
se levantasse.
- Ela já deve estar chegando, então é bom você correr logo e colocar uma
roupa bonita.
- Que tal a tia Jennie trocar o garotão aqui enquanto a mamãe Lisa se troca,
em? – piscou para a Lisa e recebeu uma exclamação animada de Ethan
quando o colocou novamente no chão. – Quem chegar por último é um bebê!
E saiu correndo pelo corredor como uma louca com Ethan em seu encalce
gritando que não era justo ela ser maior.
– Muito bem, agora posso voltar para o meu jogo lindo e maravilhoso e
descontar toda a frustração que sinto vivenciando essa história dramática
onde sou a coadjuvante gostosa que precisa juntar o casal gay principal. -
Sana pegou o controle da TV a força de Jisoo e ligou novamente o jogo.
– A menos que você seja a ativa da relação, acho que teremos que mudar isso.
- comentário veio de Jisoo que a analisava de cima a baixo.
– Não existe relação, Jisoo, estamos apenas saindo como amigas, ela sabe
disso. - corrigiu Lisa indignada tirando o moletom e a calça. - E você está
pegando o costume de Sana.
- Hm, será que eu posso dar uma opinião sincera aqui? – Momo interrompeu
o momento com o dedo indicador levantado e chamando a atenção das outras
duas. – Você agora vive de social, Lisa. Se estiver saindo com Chaeyoung,
mesmo que seja como amiga, você poderia ao menos reviver a verdadeira Lisa
aí dentro, não é? – apontou para o peito da Lisa e caminhou até o guarda-
roupa tirando uma calça jeans escura e uma cacharrel branca.
– Isso deve servir. Jisoo, peça emprestado à Sana um tênis e uma jaqueta.
Ele usava uma calça jeans clara, all star preto, uma camiseta verde com preto
do Hulk e uma jaqueta jeans por cima. É claro que na cabeça estava seu
inseparável chapéu.
Lisa assistiu Chaeyoung abraçar Ethan com tanto carinho que tudo o que ela
desejava fazer naquele momento era gravar aquela cena para sempre.
- Isso será uma surpresa, meu pequeno.O que acha que ganhar um presente
antes disso? Eu estava com saudade sua.
- Você me viu hoje, tia! – ele riu e analisou o presente nas mãos da
Chaeyoung. – O que é?
Á essa altura, Lisa, Jennie, Jisoo, Momo e Sana assistiam a interação com
atenção, Chaeyoung e Ethan mal pareciam se importar com a presença deles
no momento.
Chaeyoung deixou o garoto no chão e ajoelhou-se de frente para ele com uma
expressão séria.
Ethan sorriu feliz quando ouviu falar sobre uma pessoa especial. Lisa sempre
dizia que pessoas especiais são importantes em sua vida para sempre.
Lisa desviou os olhos segurando-se para não chorar. Ela conhecia aquela
maldita caixinha de música, ela havia dado a Chaeyoung em sua primeira
apresentação no Central Park.
Ethan olhou confuso para a Chaeyoung, é óbvio que ele não entendia as coisas
literalmente.
- A senhora vai pegar meu coração? – ele perguntou curioso.
- Você pegou o meu, pequeno. – fez cócegas na barriga dele para que o
menino esquecesse o assunto.
Quando voltou a olhar para Lisa, viu que Lalisa a encarava como se não
acreditasse no que estava vendo.
– Estão prontos?
Custou para Lisa recobrar seus sentidos, Lalisa sabia que precisava reagir,
mas sua cabeça parecia um liquidificador ligado nesse momento, absorvendo
cada centímetro de emoção.
O caminho foi feito silenciosamente até o carro com Ethan segurando a mão
de Chaeyoung e tagarelando sobre o que tinha aprendido na aula de hoje.
– Não, Chaeng! É claro que não. - riu levando a mão ao rosto. - É só que... Eu
sempre quis ir lá. Só não tive tempo.
Sua voz morreu ao mesmo tempo em que se dava conta de que estava falando
besteira.
Ela não queria chorar, e não iria. Estava sendo forte naqueles últimos dias, e o
faria até o fim. Ethan assistia á vista enquanto o carro de locomovia calado no
banco de trás, o que gerou certo desconforto entre as duas mulheres.
- Não hoje. – Chaeyoung segurou sua mão num gesto automático e logo a
voltou para o volante. – Não precisamos discutir isso hoje, vamos só
aproveitar a noite com nosso filho, tudo bem?
Lisa sentiu todo seu corpo reagir quando ouviu Chaeyoung dizer nosso filho.
Então era assim que ela o considerava também?
- Você o vê assim? – perguntou quase sem voz pela emoção que ainda
transcorria tudo em si.
Chaeyoung segurou firme no volante e lançou um olhar calmo para um Ethan
pensativo no banco de trás.
- Você o fez pensando em nós, Lisa. Ele é tão meu quanto seu, se você o
considera assim, então eu também o quero como meu. No momento vocês
dois são tudo o que me importa.
Chaeyoung estacionou o carro e logo estava de mãos dadas com Ethan, Lisa
caminhava ao lado deles sem saber ao certo para onde olhar.
Era tudo tão maravilhoso, exatamente como era descrito por seus amigos no
colégio, havia mágicos e malabaristas, mais a frente, perto da cerca que dava
acesso a praia, barracas espalhadas por todo o lado.
– Ok, isso é perfeito! - disse Lisa apontando para um homem cuspindo fogo.
Lisa observou a interação de Chaeyoung e Ethan e deu graças a Deus por tudo
estar correndo bem, soube no mesmo instante que seus olhos estavam
brilhando por ver aquela cena, de repente ela queria poder vive-la todos os
dias.
– Acho que sei do que a tia Chaeyoung precisa. - falou Lisa para o filho e
posicionou-se atrás de Chaeyoung empurrando-a com os braços para frente
com a ajuda do garoto.
Os três observaram o caçula pedir algo para a mãe e em seguida colocar uma
nota em dólar na caixinha ao lado.
Lalisa apenas ficou parada vendo toda a movimentação com Ethan agora
sentado em seus ombros.
– Eu preciso andar nela. - Chaeyoung apontou para uma roda gigante perto
da pequena casinha dos músicos, ela era maravilhosa e iluminada.
As crianças pareciam se divertir com seus pais, e até mesmo casais
acariciavam-se ao luar.
Lalisa negou com a cabeça e Ethan aceitou todo contente seu algodão doce.
Depois os três andaram na montanha russa infantil, jogaram diversos tipos de
jogos nas barracas, Ethan andou de trenzinho e comeu maçã do amor.
Pela primeira vez desde que se reencontraram, não existia tensão, mágoa ou
dor entre Chaeyoung e Lisa.
Quando a música New York de Frank Sinatra começou a soar, Lisa correu os
olhos pelo coreto até encontrar os de Chaeyoung, elas ficaram se olhando pelo
tempo que pareceu infinito, mas que durou apenas alguns segundos, e
sorriram.
(Play na música Theme From New York, New York - Frank Sinatra)
- Vem dançar com a gente, tia Chaeyoung! – chamou Ethan estendendo a mão
para a Chaeyoung que aceitou.
Assim, Chaeyoung passou seu braço direito pela cintura de Lisa a trazendo
para mais perto e com o outro braço abraçou Ethan, deixando o garoto entre
as duas.
– Sabe qual foi a melhor parte dessa noite? - Perguntou fechando os olhos e
levando o corpo de Lisa junto de si para uma eterna dança apaixonada com o
fruto desse amor.
– Eu pude me apaixonar por você outra vez. - Respondeu quase que com uma
careta, estava machucada, estava sendo torturada por estar tão próxima aos
lábios de sua amada e não poder toca-los em respeito a Ethan e Luhan.
Sem dar espaço para uma resposta, Chaeyoung separou-se da dança trazendo
Ethan que tinha adormecido em seu ombro.
Já era tarde e elas decidiram que era hora de voltar para casa, então Lisa se
ofereceu para dirigir já que estavam com pena de acordar Ethan.
- Shh! Vai ficar tudo bem, meu amor. Mamãe está aqui, ok? – Chaeyoung
sussurrou tirando alguns fios de cabelo da testa suada do garoto. - Close your
eyes, have no fear, the monster's gone. He's on the run and your mother are
here, beautiful boy– Cantarolou baixinho para que apenas Ethan escutasse.
- Before you cross the street, take my hand. Life is what happens to you while
you're busy making other plans...
Lisa estacionou o carro do outo lado da rua e pegou Ethan nos braços
agradecendo Chaeyoung pela noite.
- Obrigada por hoje, eu tive uma noite incrível, Chaeyoung. – disse sincera, o
coração apertado pela despedida.
Chaeyoung tinha as mãos enfiadas nos bolsos da calça, seu jeitinho acanhado
estava de volta e nada poderia encantar mais Lisa.
Algo simples, mas que causou o impacto de um furacão nas duas mulheres.
- Boa noite, Chaeng. – Lisa sussurrou de volta e assistiu o amor de sua vida
caminhar alguns passos de costas e entrar no carro, até por fim, desaparecer
na rua escura.
A parte mais difícil foi entrar no quarto que dividia com Luhan, ele dormia em
seus pijamas e agarrado ao edredom.
Por mais que não tenha feito nada, Lisa sentia como se o tivesse traído e por
isso era de um caráter sujo.
Mas, naquela manhã havia algo novo desperto dentro da Lisa, algo que a
impulsionava a querer mudar, a ser uma nova eu, a não seguir mais regras
nenhuma, algo a impulsionava, Chaeyoung.
_______________
Música que a Chaeyoung canta para o Ethan: Beautiful Boy (Darling Boy)
do John Lennon
___________
38
O som reproduzia Lights da cantora inglesa Ellie Goulding, a acústica criando
o ambiente perfeito para os dançarinos que se movimentavam em passos
calculados pelo piso de madeira em frente ao grande espelho de vidro.
Ninguém era louco de fazer isso. Jisoo tinha essa fama de professora psicótica
e corria alguns boatos por NY sobre algumas sessões de tortura em suas aulas,
mas o resultado era sempre brilhante e a mulher tinha desenvolvido grandes
dançarinos desde que inaugurou a Kim Academy.
A situação no momento era como uma prova de fogo e todos sabiam disso,
todos estavam cientes de que Chaeyoung estava correndo contra o tempo para
convencer Lisa a não se casar a menos de 2 meses para a Lisa ser oficialmente
de outro.
- Sabe o que eu acho? Você está muito tensa nos últimos dias, Chae. –
levantou-se de um salto e estalou os dedos como se tivesse a melhor ideia do
mundo. – Hoje nós vamos relaxar essa cabecinha dura e depois pensamos
sobre Lisa, ok? – a dançarina segurou os ombros de Chaeyoung, que também
havia levantado, e a olhou com aqueles enormes olhos. – Você vai sair com
Jennie e eu.
- Não, obrigada. – a Chaeyoung cruzou os braços. – Não vou ser vela de vocês,
sempre que saímos juntas sou eu quem sobra.
Jisoo riu.
- Momo vai estar lá. Hoje vai ser a noite das mulheres, ok? Vamos à boate de
Sana.
Chaeyoung abriu a boca em protesto, mas foi cortada pelo dedo indicador da
dançarina bem em frente ao seu rosto.
Jisoo estava certa. Elas precisavam sair e curtir a noite, pelo menos um dia
antes de voltar a rotina de sua guerra pessoal, e uma noite dançando não seria
nada mal para quem não tinha realmente o que fazer em casa. Ou estaria com
Hannah, ou iria direto para a casa de Diana e no momento nenhuma das duas
opções era viável.
Primeiro porque Chaeyoung ainda sentia-se magoada por ter sido enganada
todo esse tempo sobre as cartas. Jennie, Jisoo, Momo e Daniela haviam sido
perdoadas ainda que houvesse mágoa no coração de Chaeyoung, mas ter as
informações ocultadas de sua própria mãe e seu pai não era lá algo fácil de
aceitar. Seu pai. O homem em quem ela tanto confiou.
- Com toda certeza. – Jisoo sorriu simpática até demais, ato que a Chaeyoung
estranhou. – Até mais.
E com um enorme sorriso, fechou a porta do salão aos poucos deixando uma
Chaeyoung totalmente confusa para trás. Assim que girou o trinco, correu até
a bolsa na velocidade da luz e tirou o celular discando o tão conhecido
número.
- Espero que seja algo útil. – ouviu Momo do outro lado da linha.
- O que? Você conseguiu? Como isso? Amarrou ela, foi? – Momo se alterou.
- Não, estranha. Chaeyoung está toda depressiva achando que Lisa não vai
escolher ela, então eu inventei sobre agitarmos a noite.
***
- Era um código secreto, agora você estragou tudo, obrigada. – abafou a voz
com a mão, agora estava sentada na tampa da privada.
- Se você está falando sobre Lisa, sim, eu consegui. Falei sobre fazer uma
noite das mulheres ela e consegui convencê-la. – riu. – Luhan vai estar
ocupado com o escritório e Ethan vai ficar com Daniela.
Momo suspirou.
- Relaxe que do meu irmãozinho cuido eu. Também tenho planos para ele.
- Adeus.
***
A boate estava sendo um sucesso desde que fora inaugurada. Sua localização
próxima ao Rockaway Beach atraía as pessoas que na maioria das vezes saía
da praia direto para a boate curtir um som, dançar e tomar algumas bebidas.
O ambiente com dois andares tinha o tema da noite músicas latinas, escolhido
especialmente por Sana para a ocasião da noite que tinha sido uma completa
armação.
Chaeyoung olhou curiosa para a amiga. Não tinha considerado voltar para a
filarmônica tão cedo, não quando sua cabeça estava cheia de prioridades no
momento, a verdade é que ela mal sabia se estava disposta a voltar a tocar
profissionalmente.
- Hey, você! – Lisa finalmente chegou até elas com um sorriso bêbado, mal
parecia incomodada com a presença de Chaeyoung.
Ela estava diferente, parecia mais jovem e as roupas que usava lembrava a
Lisa da adolescência. Um short jeans, tênis, camisa preta com estampas
brancas e a jaqueta. O cabelo estava um pouco mais curto.Chaeyoung quase
caiu da cadeira.
Jennie olhou com interrogação para Momo, mas outra apenas deu de ombros
e fez Lisa sentar na cadeira ao lado de Chaeyoung.
- Logo que chegamos ela correu até o bar, não tive como segurar porque como
vocês podem ver, Lisa é um dinossauro perto de mim.
- Ethan não para de falar sobre a caixinha de música, Chaeng. – ela sorriu
bobamente e ganhou um sorriso da Chaeyoung. – Obrigada, você é incrível.
- Eu fico feliz de compartilhar algo especial com Ethan. – Chaeyoung foi doce
ao dizer tais palavras, não era atoa que seu coração amolecia na presença de
seu amor. – Você está muito bonita.
FMomo fez alguns sinais estranhos para Jisoo e Jennie por trás de Lisa
enquanto as duas mulheres estavam distraídas numa conversa informal e saiu
em busca de Sana.
Não demorou muito até chegar à cabine de Sana, a mulher segurava uma
parte do fone nos ouvidos e mexia o corpo no ritmo da música latina.
- Está tudo dentro dos conformes. – deu positivo ao gritar para que Sana a
ouvisse. – Tirando a parte em que sua querida cunhada decidiu se
embebedar.
Sana revirou os olhos.
- Como o que fazemos agora? Você é a DJ, mexa nessas coisas cheias de
botões e coloque uma música pra abalar os sentimentos daquelas duas.
Momo estreitou os olhos para Sana quando RBD começou a tocar na boate.
As pessoas gritaram em aprovação e levantaram os braços animadas
acompanhando o ritmo da música.
- O que? RBD era clássico na nossa adolescência, ok? Ok. – deu um sorrisinho
cínico para Momo. – Eu tenho tudo sob controle, apenas dê o sinal para
Jennie e Jisoo.
Chaeyoung e Lisa que estavam envoltas em uma conversa sútil sobre Ethan,
onde Chaeyoung era quem falava sobre o desenvolvimento do menino nas
aulas de músicas e Lisa ouvia tudo com o máximo de atenção que o sangue em
suas veias permitia. Elas notaram quando Jennie e Jisoo ficarem em pé
avisando que estavam indo dançar na pista e que elas deveriam fazer o
mesmo.
Pela primeira vez elas estavam conversando sem restrições e por mais que
esse fosse o efeito da bebida na Lisa, Chaeyoung queria mais disso. Ela queria
aproveitar cada momento que pudesse ter com Lisa e torná-los eternos.
- Tudo bem, mas eu já vou avisando que vou pisar no seu pé. – disse divertida
e levantou com Lisa.
Elas caminharam até a pista de dança procurando um lado que não estivesse
tão cheio, era Lisa quem guiava Chaeyoung a puxando levemente pelo braço.
Era quase impossível encontrar Jennie e Jisoo naquele escuro e no meio de
tantas pessoas, então encontraram um lugarzinho mais vazio e assim
começaram a dançar de mãos dadas.
É claro que elas riam do jeito bêbado de Lisa e nas pisadas de Chaeyoung na
Lisa, e isso as divertia.
Era tão fácil estar uma com a outra que o resto se tornava um mero detalhe.
Elas mal tinham começado a dançar e a música foi remixada para outra.
Algumas pessoas reclamaram, inclusive Lisa que tinha encontrado seu ritmo.
Quando a próxima música começou, Chaeyoung deu um passo para trás com
a boca aberta desejando correr dali, ela conhecia aquela música e por dentro
estava jurando suas amigas de morte.
Lisa, que não estava entendendo nada sobre a reação da Chaeyoung, a puxou
pelas mãos para que se aproximassem mais como os casais que se formavam
na pista de dança sem noção do que estava realmente fazendo, ela só sabia
que queria isso.
Dime si es verdad
Diga-me se isso é verdade
Me dijeron que te estas casando
Me disseram que esta se casando
Chaeyoung olhou para a cabine do DJ e viu Sana e Momo acenando para ela
de lá de cima. Ela só poderia ter jogado pedra na cruz para estar nessa
situação. Vencida e cansada de seguir regras, Chaeyoung passou o braço
direito com firmeza pela cintura de Lisa e colou seus corpos deixando os
olhares presos enquanto sua mão esquerda se entrelaçava com a direita da
Lisa.
Cuéntame
Me diz
Te estaba buscando
Eu estava te procurando
Te estaba buscando
Eu estava te procurando
Sem pensar muito, Lisa virou Chaeyoung contra seu corpo e a abraçou por
trás, suspirando quando as mãos de Chaeyoung fizeram o caminho de seus
braços até as mãos as entrelaçando em sua barriga. Lisa gostava disso, sentia
falta de estar no poder, sentia falta principalmente de estar no poder com
Chaeyoung.
Talvez fosse de propósito que a Chaeyoung rebolava a bunda contra seu
ventre causando os vários tipos de sensações que o desejo proibido pode
causar.
Es que yo sin ti
Sou eu sem você
Y tú sin mí
E você sem mim
Eso no me gusta
Eu não gosto
Eso no me gusta
Eu não gosto
- Você é muito bonita. – observou Lisa não deixando que seus olhos
perdessem o contato.
Ao chegar nessa parte da música a cabeça de Lisa fez um click e ela teve uma
pequena noção da realidade. Por poucos segundos, pois logo estava puxando
Chaeyoung para fora da boate.
- Eu quero ir à praia, você vem? – Lisa pediu com a voz um tanto enrolada.
É claro que Chaeyoung não deixaria Lisa caminhar sozinha uma hora dessas
com as roupas que estava usando, e agradeceu mentalmente pelo clima não
estar tão frio.
- Venha, vamos atravessar. – Chaeyoung deu um empurrãozinho em Lisa
para que a Lisa atravessasse a rua.
- Eu não tenho tido muito tempo... Você sabe, mesmo estando de férias ainda
preciso ocupar minha cabeça com o trabalho, e tem o Ethan.
Chaeyoung abriu a boca em choque, seu coração mal podia se conter com a
ideia de ter tido Lisa tão próxima a si.
Quebrada. Era assim que Chaeyoung estava ao ouvir aquelas palavras, mas
Lisa estava tão concentrada em sua própria reflexão que não percebeu o efeito
que estava causando na Chaeyoung.
- Sim. Eu me apeguei a coisas que lembrasse você quando parti. Passei dias
me torturando com a leitura e por fim encontrei essa frase que trago comigo
desde então. – o álcool estava lhe dando tanta coragem que mal podia tirar os
olhos de Chaeyoung. A luz do luar refletindo no rosto de Chaeyoung criava a
imagem perfeita de uma ilusão. - Olhar pra você me faz reviver os dias mais
felizes da minha vida.
Era isso. Lisa tinha ultrapassado todos os limites estabelecidos. Talvez elas
tivessem essa conversa outra hora, quando a Lisa pudesse dizer coisas
coerentes para o momento e que se lembrasse no outro dia. Quando
Chaeyoung poderia se abrir sem medo de ser esquecida.
***
Resultado? Chaeyoung levou Lisa para o rancho rezando o pai nosso para que
Hannah não estivesse por lá. E para sua sorte não estava. Foi quase
impossível tirar a Lisa sonolenta do banco do passageiro e para isso
Chaeyoung precisou de muita paciência extra.
Sing me to sleep
Sing me to sleep
I'm tired and I
I want to go to bed
Sing me to sleep
Sing me to sleep
- O que pensa que está fazendo? – Chaeyoung riu quando viu Lisa se jogar na
cama de casal. – Nós não vamos dormir na mesma cama, Lisa. – Lisa não fez
menção de se mexer, então a Chaeyoung se deu por vencida. – Ugh, ok. Eu
durmo no quarto de hóspedes.
- Chaeeeng. – Lisa resmungou virando o corpo e ficando de barriga para cima.
– Deita aqui comigo, nós não vamos fazer nada, eu juro!
- Ok, mas só porque você pode cair da cama se dormir sozinha. – brincou e foi
agarrada pelas mãos de Lisa que a puxaram com força para a cama. – Lisa! Eu
vou tomar banho ainda, me solte.
- Não vai não, eu não posso ficar sozinha, lembra? – disse com a voz abafada
pelo pescoço da Chaeyoung. – Agora vamos dormir.
Sing me to sleep
Sing me to sleep
I don't want to wake up
On my own anymore
Sing to me Sing to me
- Lalisa! – Chaeyoung chamou, mas estava presa pelos braços firmes. Aquela
não era a posição que ela pretendia dormir com Lisa, seu coração mal parava
quieto com a respiração quente batendo em seu pescoço. – Vamos estabelecer
alguns limites aqui.
- Não.
- Lisa.
- Não.
- Sabia.
A porta da sacada estava aberta e a lua iluminava boa parte do quarto, o vento
esvoaçava a cortina branca e as batidas dos corações dançavam juntas.
Silêncio.
- Chaeng?
________
Primeira música: Money Money - RBD Música que elas dançam: El Perdón -
Enrique Inglesias
Última música: Asleep - The Smiths
_________
39
Abrir os olhos e receber a claridade pela janela foi como ser atingida direto na
cabeça por adagas.
O quarto não estava tão claro, as cortinas estavam fechadas bloqueando parte
da luz, mas ainda sim a sensação de ter sido atropelada por um caminhão
estava presente.
Lalisa piscou algumas vezes até se dar conta de que estava deitada de barriga
para cima, pernas e braços abertos na cama de casal como a pessoa mais
espaçosa do mundo.
Notou também que, não sabia se felizmente ou infelizmente, estava no quarto
de Chaeyoung devido á parede vermelha expondo todos os sonhos
compartilhados e interrompidos do passado.
Coçou os olhos com as costas das mãos e observou tudo ao seu redor; o quarto
estava impecavelmente arrumado, tudo estava em seu devido lugar, exceto
Chaeyoung. Ela não estava na cama e muito menos parada de frente para a
cama exigindo explicações sobre a noite passada como Lisa imaginou que
seria, pelo contrário, pois para a surpresa da Lisa, havia uma mesinha
desmontável ao lado de um sofá com uma bandeja cheia de waffles e um copo
descartável de café para a viagem.
Ao que tudo indica, Chaeyoung tinha deixado a cama cedo para buscar seu
café da manhã. Novamente a ânsia de vômito a atingiu em cheio e por pouco
não precisou correr até o banheiro.
No cantinho do prato havia um cartãozinho que dizia:
Liguei para Luhan e avisei que você estava em minha casa. Ele pediu que
você se tranquilizasse quanto a Ethan e que voltasse quando estivesse se
sentindo bem. Aqui estão algumas roupas que podem servir em você, tome
um banho, e descanse. Vou até a cidade buscar nosso café da manhã. Xx PS:
Deixei uma escova de dente na pia do banheiro, ela está fechada e pronta
para ser sua.
Era apenas Chaeyoung, uma das pessoas mais doces que já conheceu, a garota
do piano, do livro velho intitulado Morro dos ventos uivantes, a garota que
tinha o sorriso mais belo entre os anjos. Essa mesma garota que se tornou
uma mulher segura e um pouco fria. A mulher que, mais uma vez, estava
tomando o coração de Lisa para si.
Reparando agora, Lisa teve certeza de que aquela casa era a descrição de
Chaeyoung. Cada simples detalhe estava milimetricamente em seu lugar, os
móveis não gritavam por luxo ainda que fossem caros e o conforto fazia Lisa
desejar morar naquela casa como desejou um dia.
Quando abriu a porta da frente, a Lisa foi recebida por uma maravilhosa
manhã de domingo com direito ao canto dos pássaros e o delicioso cheiro de
natureza.
Lalisa não deixou de notar o quão sexy era Chaeyoung naquelas roupas
cuidando de seu cavalo, não lembrava nem de longe a tímida Park Chaeyoung
que fazia música com o coração.
O quão bonita ela poderia ser de manhã com o rosto corado? Chaeyoung
sentia falta de vê-la acordar e receber a imensidão que eram os olhos dela.
- É, eu acho que sim. – Lisa riu de sua própria situação. As olheiras ainda
deviam estar lá e era preciso apertar os olhos devido ao sol. – Obrigada pelas
roupas, - olhou para si mesma mostrando que tinham servido. – pelo café da
manhã e pelo remédio. Você acertou em tudo.
Chaeyoung corou ainda mais e abaixou a cabeça contendo um sorriso tímido,
uma das coisas mais lindas que Lisa já vira.
- Bem melhor, obrigada mais uma vez. – disse analisando o cavalo que
parecia muito mais interessante. – O que exatamente eu deveria me lembrar?
Chaeyoung torceu os lábios decepcionada por Lisa não se lembrar. Não que
fosse uma surpresa, ela estava bêbada o suficiente para esquecer por
completo a noite passada, mas a esperança nunca a deixou, não depois da
enxurrada de sentimentos a que foi submetida com a confissão da Lisa.
A ideia de andar a cavalo depois de tanto tempo animou Lisa. Ela amava
cavalga no haras de LA com seus irmãos quando mais nova e a ideia não era
nada mal agora se não fosse por seu filho a esperando em casa. Ela tinha
responsabilidades agora.
- Eu adoraria, Chaeyoung. Mas, eu preciso ir para casa, Ethan deve ter chego e
vai ficar manhoso com Luhan se eu não estiver...
- Pronto. – disse quando num impulso subiu no cavalo. - Por que você tem
que ir na frente? – Lisa contestou cruzando os braços acima dos seios
enquanto assistia Chaeyoung dar voltinhas com Léo. – Eu costumava ir na
frente quando andávamos a cavalo, e pelo que eu me lembre, você tinha medo
como uma criancinha.
- Talvez porque os cavalos sejam meus, assim como o rancho. – riu, mas seu
sorriso morreu quando precisou engolir em seco ao sentir os braços de Lisa
rodearem sua cintura. – Você continua a mesma reclamona de sempre, sabia?
– brincando olhando por trás do ombro e recebeu um cutucão na costela.
- Vamos logo com isso antes que eu decida pegar as rédeas de você, Park.
Elas riram.
Foi o que bastou para o coração de Chaeyoung disparar a mil, assim como Léo
quando ganharam a estrada plana.
Lisa se lembrava da noite passada e ainda estava ali com ela, abraçada ao seu
corpo como num encaixe perfeito. Lisa se lembrava e não tinha fugido. Ela
tinha ficado.
"Querida Lisa, em primeiro lugar devo lhe pedir perdão pelo tempo que
passei sem escrever, meu quadro de saúde tem piorado e eu precisei voltar
para o hospital.
Não acho que tenho muito tempo, aos poucos posso sentir o enfraquecer do
meu coração cansado. Em sua última carta você me contou que decidiu dar
uma chance ao garoto Luhan e eu não me oponho a isso. Algumas vezes é
necessário seguir em frente para que possamos encontrar nosso caminho. É
preciso saber como é viver sem o amor de sua vida."
O vento esvoaçava os cabelos das mulheres e Lisa não podia deixar de rir por
ser uma boba apaixonada. Por estar se sentindo tão livre em cima de um
cavalo negro e com os braços envoltos de seu amor. Era como estar tão perto e
ao mesmo tempo tão longe.
"Muitas vezes na vida precisamos sacrificar coisas das quais não nos
imaginamos viver sem exatamente pelo mesmo motivo. É como diz aquela
frase, se você tem um pássaro, deixe-o voar, se é para ser teu ele voltará. Eu,
como um homem que presenciou muitas coisas nessa vida, acredito
cegamente que o destino tem essa coisa de brincar com a gente. Ele nos leva
a loucura em poucos instantes somente pelo fato de estar nos braços da
pessoa amada."
Se elas quisessem, poderia fugir naquele instante. Poderiam desaparecer no
mundo e viver aquele amor proibido como duas amantes indomáveis.
"Eu não sei se ainda estarei vivo quando sua resposta chegar, não sei quanto
tempo de vida mais eu tenho, então se há um pedido que eu possa fazer, é
que você viva. Viva cada momento como se fosse seu último suspiro, não
tenha medo do que os outros vão pensar ou de machucar outra pessoa. Viva
por você. Seja feliz. Se há algo para ser arriscado, arrisque! Se jogue de
cabeça. O máximo que pode acontecer é outra cicatriz, junto há outras
tantas que contam sua história."
"Eu sei que Chaeyoung ainda ama você. Ela sempre vai. Ela ama o que vocês
tiveram, você foi o primeiro amor dela, Lisa. Talvez não seja o último, mas
isso não a impede de amá-la. Eu sei que o tempo vai lhes mostrar o caminho,
e espero que quando isso acontecer, você não fuja dele. Uma vez Chaeyoung
me disse que o que vocês tiveram foi como a música mais linda que ela já
compôs. Talvez essa música ainda esteja lá, trancada em alguma gaveta
velha a espera de ser tocada novamente. Você ainda se lembra da melodia?
Com amor, Mark."
Elas passaram boa parte da manhã reunindo os cavalos com Léo e no fim Lisa
acabou escolhendo o de pelagem branca para dar contraste ao de Chaeyoung.
- Nah, você consegue ser boa em tudo o que faz. – comentou Lisa inocente,
mas recebeu um olhar agradecido de Chaeyoung quando entraram no rancho
em busca das roupas da noite passada de Lisa. – Você se arrepende de ter
deixado a música?
- Não realmente. – deu de ombros e entregou uma sacola branca para a Lisa.
– Quando tomei essa decisão, foi mais por mim do que qualquer outra coisa.
Minha mãe e minha irmã precisavam de mim por perto e as viagens não
permitiam isso. – entraram no carro e a Chaeyoung girou a chave na ignição.
– Eu realizei meu sonho, mas ao fazer isso não me senti completa. Eu me
tornei fria, como um robô que só serve para tal coisa. Eu não sou assim, você
sabe que eu não sou assim.
- É claro que você não é assim, Chaeng. Eu também conheço você. – disse e
foi o suficiente para tranquilizar a Chaeyoung.
As coisas precisavam ir devagar por mais que os dias para seu casamento se
aproximassem mais rápido do que gostaria.
Quando estavam apenas as duas, a Lisa tinha certeza de que não hesitaria em
passar o resto de seus dias ao lado de sua Chaeyoung. Mas, ao chegar em casa,
ao encontrar o pequeno Ethan que precisava ser cuidado e Luhan com seu
coração bondoso e todo seu amor por ela, Lisa sentia-se desarmada.
Sempre fora uma pessoa insegura por si, a culpa dessa insegurança era de
Marco Manoban. Agora sua insegurança se redobrava uma vez que sua
decisão machucaria Chaeyoung ou Luhan. Ela só não sabia qual valia a pena
sua escolha no momento.
O The Village. O lugar que costumava ser delas. Chaeyoung mal podia soltar
seus braços do pescoço de Lisa, ela amava estar ali e sentir seu cheiro
maravilhoso.
- Até, Chaeng.
***
Luhan apareceu pela porta da cozinha usando uma camisa social aberta,
bermuda e os chinelos, ele se divertia com as mulheres na sala e não abriu um
sorriso largo ao ver Lisa.
- Que bom que chegou, meu amor. – ele disse aproximando-se da Lisa e a
puxando para um beijo terno.
Lisa sentiu como se fosse um beijo áspero, rapidamente seu coração bateu
forte, odiando não poder sentir nada. Era como se estivesse cada dia mais
afastada do rapaz.
– Momo vai embora esta noite e queria se despedir de você, eu disse que ela
podia ficar a vontade, mas... Não pensei que fosse tanto.
Eles riram e Lisa deixou-se ser abraçada pelo advogado. Não era o mesmo que
abraçar Chaeyoung nem de longe, os braços fortes e seguros de Luhan não
eram a morada certa para Lalisa, não quando ela conheceu o calor do abraço
quente e acolhedor de Chaeyoung. Era isso, ela amava o corpo sensível e
pequeno de sua amada, não o forte e firme de Luhan.
Algo estava errado com Lisa e não era de hoje. No começo Luhan pensou que
poderia ser a questão mudança e o reencontro com suas antigas amigas, ele
até tentou reaproximá-las, prova disso é ter permitido que ela passasse a noite
na casa de Chaeyoung.
Mas, analisando melhor, algo estava errado em seu casamento. Ela estava
cada dia mais distante, não permitia que ele a tocasse e os beijos eram
mínimos. Não havia mais fogo. Não havia mais emoção. Os momentos a sós
eram raros agora, Lisa sempre arrumava um jeito de inserir Sana ou Ethan
nesses momentos.
- A mamãe foi em uma festa do pijama das meninas, meu bebê. Você queria
ir?
Ethan colocou a língua para fora e riu.
- Ew, não mamãe. Eu sou menino e meninos não vão em festas do pijama. A
tia Chaeyoung falo de mim?
- Falou. – Lisa o corrigiu. – E sim, ela falou de você, amor. Ela disse que sente
sua falta e que um dia vai te levar para andar a cavalos.
O garoto bateu palmas e se contorceu nos braços da mãe até ser posto no
chão.
- Você viu, tio Luhan? Eu vou andar de cavalo! – e pulou agora nos braços de
Luhan.
- Eu juro que seu noivo me lembra o Percy Jackson, não sei por quê. – Momo
comentou jogada no sofá.
- Você precisa ver quando os dois estão nos amassos na sala, Lisa parece o
homem da relação. – Sana contou e ganhou uma gargalhada maldosa de
Momo.
Lalisa revirou os olhos e jogou uma almofada em cada uma. As duas mulheres
se calaram e começaram a encarar Lisa a espera de algo épico.
- Você passa a noite na casa da Park e acha que não tem nada para contar?
Lisa sentiu vontade de jogar as duas pela janela ao se lembrar que foram elas
que planejaram a noite passada.
- Não tem nada para contar, apenas não se metam na minha vida. – se
afundou no sofá e começou a procurar algum canal de bom na TV.
- Sério? Você está usando as roupas dela, com os olhos brilhantes e acha
mesmo que não vamos acreditar nessa de não tem nada para contar? – Momo
pressionou e recebeu concordância de Sana.
Momo ficou olhando Lisa sem expressão alguma por um bom tempo, até por
fim dizer:
Chaeyoung sabia que mais cedo ou mais tarde encontraria Hannah naquele
dia. A loira nunca deixava de visitá-la nos finais de semana e foi quase como
que um milagre não ter chego enquanto Lisa ainda estava por lá.
- Saí para dar uma volta. – mentiu, Hannah não precisava saber de seus
passos. – O que está fazendo aqui?
- Vim passar meu tempo com você, oras. Senti sua falta. – quando puxou a
Chaeyoung pela camisa, foi barrada pelas mãos de Chaeyoung que seguraram
seus pulsos. – O que houve?
- Não vamos mais fazer isso, ok? – disse o mais calma possível.
Não sentia nada por Hannah além de desejo, o sexo entre elas era ótimo e
pronto. A relação que elas tinham, se é que pode ser chamada de relação, era
boa até Lisa reaparecer em sua vida. Até Chaeyoung acordar para a realidade
e se dar conta de que desejava ter alguém com quem se preocupar, alguém
para dormir todos os dias e acordar, e ainda mais, desejava ter um pequeno
correndo por aquela casa grande, porém vazia.
– Você é uma ótima pessoa, mas não pode depender de alguém que não quer
nada sério. – o sorriso de Hannah morreu e Chaeyoung soltou seus braços. –
Eu acho que estou amadurecendo, preciso de uma vida estável e infelizmente
você não faz parte dos meus planos.
- É ela, não é? – disse com a voz áspera. – A mulher que quebrou o seu
coração? É por ela que você está fazendo isso? Ela voltou e agora a quer de
volta.
- Eu vi uma caixa com fotos antigas em cima da sua cama há alguns dias. –
disse e viu o olhar de Chaeyoung ficar sério. – Está deixando alguém que quer
cuidar de você por alguém que mal se importou em te deixar.
"Uma hora você tem que tomar uma decisão. As fronteiras não mantêm as
pessoas para fora; elas te prendem dentro de si"
- Tenho observado você a noite toda e notei que está sozinha. É a dona desse
lugar? – Sana assentiu e a loira riu. – Prazer, meu nome é Dahyun.
"A vida é confusa mesmo, é assim que fomos feitos. Então você pode
desperdiçar sua vida desenhando linhas ou então você pode viver cruzando-
as."
I thought that
I heard you laughing
I thought that
I heard you sing
I think I thought
I saw you try
- Olá, boa tarde. Meu nome é Park Chaeyoung e eu gostaria de fazer um teste
para a orquestra sinfônica de New York.
"Mas há algumas que são perigosas demais para serem cruzadas."
Every whisper
Of every waking hour
I'm choosing my confessions
Trying to keep an eye on you
Like a hurt, lost and blinded fool (fool)
Oh, no, I've said too much
I set it up
Luhan entrou no escritório de Lisa procurando por sua pasta do novo caso
que pegara. Ele se lembrava de ter pedido a Lisa que guardasse em seu
escritório, mas a Lisa não estava em casa e ele precisava ligar para a cliente o
quanto antes.
Talvez não fosse errado dar uma olhada no escritório da Lisa, eles não
costumavam entrar no escritório um do outro respeitando a privacidade do
trabalho, mas o documento era realmente importante e Luhan sabia que Lisa
não se importaria.
Consider this
Consider this the hint of the century
Consider this
The slip that brought me
To my knees failed
What if all these fantasies
Come flailing around
Now I've said too much
Logo de cara notou vários papéis espalhados em cima da mesa, eram recortes
de jornais e fotos que ele nunca tinha visto antes.
Pensou que poderia ser algum caso que ela estava trabalhando, mas ao
analisar mais de perto uma delas, assustou-se ao reconhecer Chaeyoung.
"E aí vai o que eu sei: se você estiver disposto a jogar a precaução pela
janela e se arriscar, a vista do outro lado é espetacular."
_________
40
Era o dia perfeito para se estar no Central Park no período da tarde quando
famílias passeavam por lá com crianças e animais; casais passeavam de mãos
dadas ou sentavam na grama verde apreciando a beleza do belo parque.
Para ser sincera, aquele era o lugar perfeito apenas para se estar. Respirar.
Refletir. Sonhar. Era assim para Chaeyoung e Lisa também.
- Eu não acho que você deveria ficar triste com isso - dizia Chaeyoung para o
pequeno garoto que tinha um bico enorme nos lábios e os bracinhos cruzados.
– Nós nem vimos o filme ainda pra saber o que realmente vai acontecer.
- O pai do Jake leu os quadrinhos, ele já disse que o homem de ferro vai ser do
mal. – Ethan interpôs com a voz tristonha.
- Quem disse isso pra você, Ethan? – Lisa perguntou séria, mas já fazia uma
ideia de quem teria esse tipo de palavreado perto de seu filho.
- Eu ouvi a tia Momo dizendo pra tia Sana quando elas estavam lá em casa. –
ele deu de ombros. – É errado?
- Não é errado ele beijar meninos, mas sabe o que realmente é errado?
- O que?
O garoto não teve tempo para pensar e logo Chaeyoung projetou seu corpo
para o lado deitando-o cuidadosamente sobre a grama e o atacando com
cócegas no estômago. Ethan rapidamente desfez a carranca e começou a
gargalhar se debatendo e pedindo a ajuda de Lisa.
- Sua mãe não pode salvá-lo, garoto. Você está em minhas mãos agora...
O coração de Lisa vibrou com a cena de sua amada e seu filho brincando como
uma família de verdade, não havia dúvidas de que ela os amava intensamente
e que seriam sim, muito feliz juntos. Sem conseguir conter o leão feroz em seu
peito, decidiu juntar-se à guerra de cócegas.
Ethan gritou quando viu o olhar feroz da Chaeyoung e saiu correndo com a
mulher logo atrás com Lisa no ombro.
- Muito bem, crianças. – disse uma Lisa com a calça jeans e a camisa branca
cheia de folhas e capim. Eles estavam na calçada após uma manhã de muito
divertimento em família. Chaeyoung tinha Ethan sentado em seu ombro, o
garoto comia algodão doce, o assunto vingadores esquecido
momentaneamente e um boné dos Giants na cabeça. Agora eles prestavam
atenção como se Lisa fosse a mãe passando instruções para os filhos. – Nada
de doces, chicletes ou qualquer outra porcaria antes do jantar, entenderam?
- Entendido. – Chaeyoung e Ethan bateram continência, uma mania que os
dois haviam adquirido quando Lisa vinha com ordens.
- Ótimo. Ás sete Sana vai buscá-lo, então esteja pronto e de banho tomado. –
aproximou-se dos dois e pegou Ethan no colo enchendo-o de beijos.
- Ew, mommy! Eu não sou mais um bebê. – riu e deu um grande beijo melado
na bochecha da mãe.
- Não o deixe dormir mesmo que esteja cansado ou à noite eu terei trabalho
com meu monstrinho. – Lisa advertiu e recebeu um sorriso tímido de
Chaeyoung em troca. – O que foi?
- Ou Oompa Loompa...
- Eu quero te mostrar uma coisa hoje à noite, será que posso passar lá quando
sair do trabalho? – foi uma surpresa a atitude de Lisa, ela parecia um pouco
mais confiante conforme os dias se passavam e Chaeyoung amava esse lado
da Lisa. – Pode ser ás nove?
Lisa também sorriu e puxou Chaeyoung pela mão até estarem próximas o
suficiente para deixar um beijo carinhoso na testa da Chaeyoung.
- Acho que eu deveria ir. – Lisa disse em um sussurro. Era quase difícil
respirar com sua mão direita cravada na cintura de Chaeyoung. - Talvez.
- Até mais tarde. – Lisa voltou a se despedir, pois era impossível não ter uma
boba apaixonada por aquele ser magnifico.
- Até, Lisa.
***
- Lisa e Chaeyoung são um ex casal. – Luhan disse sem rodeios e assistiu Sana
cuspir o café que tinha acabado de levar à boca no carpete do escritório.
Luhan não tinha certeza se estava sendo traído ou não, mas o comportamento
frio de Lalisa nos últimos dias dizia muito sobre o que estava acontecendo.
Ela sempre arrumava desculpas para o sexo, os beijos sempre partiam da
parte do advogado e ainda sim eram frios, como se pertencessem à outra
pessoa.
- Como é que é? – Sana arregalou os olhos no seu melhor teatro, ou talvez ela
não estivesse fingindo se contar pelo fato de que seu irmão havia descoberto
tudo. – A Lalisa Manoban? – Luhan arqueou as sobrancelhas como se
perguntasse se sua irmã estava mesmo falando sério. – Digo, é claro que é
nossa Lisa, mas isso é um pouco estranho... Né?
Ok, talvez artes cênicas não fosse seu dom, mas o lado positivo é que Luhan
estava distraído demais em seus pensamentos para se tocar do nervosismo da
irmã.
Ele andava de um lado para o outro rodando a aliança no dedo, sua maior
preocupação era o casamento que estava previsto para menos de um mês.
- Eu não sei o que dizer sobre isso, Sana. Eu me sinto traído só pelo fato de ter
recebido Chaeyoung em minha casa... – encostou-se à mesa e cruzou os
braços, os olhos atentos em algum ponto fixo no chão. – Vocês são melhores
amigas, ela não disse nada todo esse tempo?
Sana ajeitou o blazer preto que usava e coçou o cabelo preparando-se para o
pior.
- Por quê? Você acha que ela disse? Por favor, eu teria te contado. – riu
ironicamente, mas sem nunca deixar de analisar as expressões do irmão. –
Não seria mais fácil você perguntar a ela se há algum problema?
- Eu não posso.
- Por quê?
Não era fácil ver seu irmão ser enganado, ele amava Lisa e estava disposto a
assumir um filho por esse amor, mas Luhan não poderia tomar um lugar que
ainda há dono.
- Uma vez você disse que não ficaria entre Lisa e a felicidade...
- Agora eu sei que falar é bem mais fácil. – retrucou um pouco mais alterado.
– Chaeyoung não vai me tirar o que demorei anos para construir, eu não
posso deixar isso acontecer. Lisa é minha noiva e se isso faz de mim o vilão da
história, que seja.
- Ok, faça o que você quiser. – Sana deu de ombros, nervosa pelo que poderia
acontecer. – Você é meu irmão e Lisa minha melhor amiga, não espere que eu
tome partido porque não vou. Você já é grandinho o suficiente para saber o
que faz ou deixar de fazer, apenas tenha consciência de que Lisa pode nunca
ter pertencido a você. Tenha consciência de que talvez, e só talvez, ela sempre
foi de outra pessoa e que essa outra pessoa só voltou para buscar o que é dela.
– disse apontando o dedo para o irmão que abriu a boca chocado com as
palavras. – Agora me dê licença, eu preciso correr e comentar isso com Momo
no whatsapp.
E saiu deixando Luhan enfurecido para trás com a certeza de que Sana sabia
bem mais do que demonstrava.
***
Léo corria livremente pelo campo logo atrás do rancho cortando o vento frio
de Agosto, o som da ferradora contra o solo sendo abafado pela grama fofa e
os gritos histéricos de Ethan eram tudo o que Chaeyoung precisava para
sentir-se completa naquele dia.
Lavaram alguns cavalos mais mansos, correram pelo gramado, tomaram café
da tarde e arriscaram tocar um pouco de piano.
- Posso sim, assim como existem várias pessoas com o mesmo nome, ué. –
colocou as mãos na cintura e Chaeyoung riu. – Posso ficar com ele?
- Bom, não acho que teria espaço para um cavalo no seu apartamento, certo?
- Aaaah! Tia Chaeyoung! – ele gritou e saiu correndo se debatendo com o jato
de água que recebeu da Chaeyoung, mas já era tarde e ele estava todo
encharcado. – Você me molhou, mamãe não vai gostar disso.
- Ela nunca vai ficar brava se não souber. Agora já para o banho, seu
projetinho de Manoban.
Eles tomaram banho juntos e não dispensaram a espuma por todo o banheiro.
Há muito tempo Chaeyoung não se sentia tão feliz e livre como costumava ser
uma vez, era bom sentir-se criança outra vez.
Logo após o banho, a Chaeyoung pediu pizza pela insistência de Ethan, meia
calabresa e meia vegetariana, e assim jantaram na sala assistindo desenhos
antigos.
Já passava das sete e Sana ainda não havia chego, Ethan pediu por
mamadeira e deitou na cama de Chaeyoung já com seu pijama de dinossauro.
A ordem sobre não deixa-lo dormir tinha sido clara, mas os olhinhos
pequeninos indicavam um Ethan morrendo de sono e Chaeyoung não sabia
negar nada ao garoto.
- Tenta não dormir agora, meu anjo. – Chaeyoung sussurrou acariciando os
fios de cabelo do Ethan. Eles estavam de frente um para o outro e Ethan a
observava enquanto mamava. – Acho que sua mãe vai briga com nós dois.
- Você podia ser minha mamãe também, - ele disse e o coração de Chaeyoung
disparou. – quando a mamãe Lisa brigasse comigo você ia ser legal. E quando
você brigasse comigo ela é quem seria legal. Isso seria divertido.
A felicidade foi tanta que o garoto sentou na cama e jogou seu corpo contra o
de Chaeyoung.
- E ai, tia Sana. – Ethan deu um toque na mão da tia e correu abraçar Dahyun.
– Oi Dahyun. – ele sorriu timidamente.
- Boa noite, campeão. Como você está? – a mulher brincou apertando o nariz
do pequeno que corou.
- O que você acha de apostarmos corrida até o carro de sua tia? – a mulher
perguntou e o garoto logo se animou sendo colocado no chão. – Boa noite,
Chaeyoung.
Os dois saíram em disparada pelo campo até o carro deixando que o silêncio
caísse entre Sana e Chaeyoung. Elas se olharam e pela seriedade da mulher, e
Chaeyoung soube que havia algo errado.
Sana sabia disso. Todos podiam ver o quanto ela estava tentando e arriscando
com a chance de receber nada em troca.
- Eu sugiro que você seja rápida. – Sana disse sem rodeios. – Não há tempo
para joguinhos de conquista, não há tempo para mais nada, Chaeyoung. Se
você a quer, pegue-a.
- Mas...
***
O relógio na parede marcada nove e dez, o que indicava que Lisa estava
atrasada para o pequeno encontro que teriam no meio da noite. Ela teria
desistido? Teria acontecido algo? As palavras de Sana ainda rondavam sua
mente sem uma explicação exata.
Talvez tivesse sido muito precipitado aprontar-se meia hora antes, nem
mesmo os restos de pizza da janta lhe causavam fome e recusar pizza era algo
realmente significativo para Chaeyoung.
Tic tac e ela não estava ali. Tic tac e ela poderia estar nos braços outro. Tic tac
o desespero a consumia por dentro. Tic tac e um farol iluminou o rancho.
Chaeyoung não deixou tempo para identificar o carro, ela correu até a porta e
calçou seus velhos all star que costumava usar para sentir-se confortável.
Desceu as escadas e deixou os dedos correrem pelas teclas do piano no
caminho até a porta, seu coração agora se igualava às batidas do sino Big
Bang de tão forte que estalavam em seu peito.
- Esse é ainda mais bonito que o Dodge. – Chaeyoung disse, o queixo ainda
caído pela beleza do carro. – Isso é tão você, tão a minha Lisa.
Calou-se quando se deu conta do que havia dito. Às vezes era difícil segurar a
língua quando estava em estado de transe como agora, mas Lisa não se abateu
e sorriu ainda mais largo para a Chaeyoung.
- Venha, vamos dar uma volta. – abriu a porta para Chaeyoung que deixou um
beijo em sua bochecha antes de entrar.
- Exato. – a Lisa estalou os dedos. – Assim como não existe Park Chaeyoung
sem o piano e Billie Holiday.
Ah, o jovem amor. Ele traz tantas inconsequências quando estamos cegos por
ele.
O capô do carro servia como assento para as duas mulheres que observavam a
cidade de New York do pico.
Era um lugar deserto ligado à uma estrada abandonada que poucas pessoas
conheciam, na verdade Lisa o descobriu em uma viagem secreta com Momo e
Jennie quando ainda jovens em uma de suas viagens para NY antes de se
mudarem definitivamente. E agora ela estava ali com Chaeyoung, apreciando
o silêncio e dedilhando o violão preto que trouxera consigo.
Então era isso que Lisa faria debaixo do céu estrelado e de sua mais fiel
testemunha: a lua.
A voz de Lisa levava Chaeyoung à outra dimensão, uma vida em que elas
compartilhavam tudo juntas.
Little patience
Um pouco de paciência
Estava com vergonha de Chaeyoung, não queria parecer uma abusada que traí
o noivo cantando músicas para outras pessoas. O problema é que não eram
outras pessoas. Era Chaeyoung. Sua Chaeyoung. E elas eram apenas elas.
Uma mistura estranha de rock e música clássica, de violão e piano, quente e
frio, Lisa e Chaeyoung.
- Eu sentia falta da sua voz. – Chaeyoung cortou o silêncio e deixou seu braço
descansar na perna cruzada da Lisa. – Ela é bonita demais para não ser usada
para a música.
- Por favor, não sou eu que vou arrasar no teste para a orquestra de New York.
Eu já disse que vou com você?
- Não. Estou fazendo um setlist com as melhores músicas e ouvindo uma por
dia pra ver de qual eu não enjoo.
Lisa ficou olhando a mulher como se ela fosse algum tipo de alienígena.
- Eu sempre soube que você era estranha, mas não tanto.
- Ok, Lalisa. Quem é que compra um carro antigo do nada e sem ninguém
saber mesmo? Sua inútil. Quem foi embora para outro país por 6 anos?
Lisa também saltou parando de frente para a Chaeyoung, perto até demais
para o lugar vazio, escuro e abandonado em que se encontravam. Era um
desafio plantado entre elas.
- O que? - perguntou dubitativa, sem deixar seus olhos desviarem dos lábios
rosados da Lisa.
Mas ela não estava preocupada com isso. Não agora. E então, acelerando seus
passos, puxou Chaeyoung pela mão fazendo seu corpo girar com facilidade,
chocando contra o seu.
- Lalisa, eu disse que não ia... - mas Lisa a prensou novamente com mais
força, empurrando o quadril.
- Eu prometi. - justificou.
Lisa usou a mão direita para colocar o cabelo da Chaeyoung atrás do ombro,
tendo seu pescoço livre.
Aproximou-se beijando a zona abaixo da orelha com ternura, e deslizando o
nariz pela extensão.
A caricia estava ficando cada vez mais molhada, a língua de Lisa encontrava
seu pescoço facilmente entre algumas mordidas. Chaeyoung estava entregue,
seu corpo quente e desesperado por mais contato.
Mas algo martelava em sua mente e ela novamente tentou empurrar Lisa, que
cansada de tanta resistência, desceu as mãos para bunda da Chaeyoung,
levantando-a com facilidade para que ficasse sob o capô.
Chaeyoung queria falar, apenas por orgulho ou dignidade, mas nada saía. Era
muito mais forte.
- Deus, Chaeng. Você está tão molhada. - Chaeyoung arfou sentindo os dedos
deslizarem entre seus lábios.
Sem conseguir reprimir o gemido que o contato lhe causara, mordeu o lábio
inferior de Lisa com força, sentindo seus dedos alcançarem seu clitóris. Lalisa
continuou com a massagem lenta, sentindo o rosto de Chaeyoung encaixar em
seu pescoço com a respiração leve.
- Por muito que você esteja sexy sob esse capô, eu quero sentir seu corpo em
cima do meu. - Chaeyoung já nem sequer escutava direito.
Seu corpo queimava clamando por Lisa, e por isso não se opôs quando a Lisa
a colocou no chão, abrindo a porta rapidamente e sentando-se no banco de
trás.
Afoita, Lalisa puxou Chaeyoung para seu colo, e com a mesma vontade e
desespero, começaram a tirar as roupas.
Pela postura, Chaeyoung estava mais alta que Lisa, curvando a cabeça para
baixo para não chocar contra o teto. Os seios, um tanto crescido com o passar
dos anos, estavam quase esmagando o rosto de Lisa que, apertando a bunda
de Chaeyoung com força, rodeou o mamilo esquerdo da Chaeyoung com sua
língua, saboreando-o.
- Lalisa... - suplicou, e sem parar com sua tortura, Lisa entendeu. Deslizou a
mão direita pela parte interna da coxa de Chaeyoung, arranhando de leve e
chegando ate a virilha.
- Oh! - gemeu forte quando sentiu os dedos de Lisa novamente em seu sexo.
Com a mão esquerda, Lisa arranhou por completo as costas de Chaeyoung,
admirando com devoção o balançar dos seios da Chaeyoung enquanto ela
subia e descia lentamente sob seus dedos.
Fechava os olhos por inercia, mas se forçava a olhar para Lisa, apenas para
saborear ainda mais a sensação de tê-la ali, admirando-a com o mesmo amor
de sempre.
Lisa não se arrependia do que tinha acabado de acontecer, ela era louca pelo
sexo com Chaeyoung e aquele momento, no banco de trás do Mustang entre
as respirações descompassadas, os lábios inchados, corpos suados, elas
sabiam que ser louca por sexo é ser louca por amor, por toque, por beijo, por
tudo o que é gostoso sentir na vida.
Chaeyoung abriu os olhos ainda sonolenta e sentiu a ardência nos olhos com a
luz do sol que invadia sua janela. Mais uma vez tinha esquecido de fechar a
merda da cortina, não que estivesse pensando em algo noite passada quando
foi deixada na porta de casa por Lisa e um beijo de despedida. Elas tinham
feito amor.
Nos deixamos levar pelo momento e acabamos fazendo coisas que não
faríamos se estivéssemos sóbrios de nossa própria mente.
Seu corpo ainda doía pelo pequeno espaço do banco de trás do Mustang, nada
que não valesse a pena.
- Já vai!
______
41
- Vim pedir para que deixe Lisa em paz. – ele disse de uma vez, as palavras
atingindo Chaeyoung em cheio. Os dois se enfrentavam agora de igual para
igual por um mesmo coração. – Eu descobri tudo e quero que se afaste dela.
Luhan sabia de tudo e estava reivindicando o que era seu por direito.
Chaeyoung era a suja da história. A amante. Destruidora de casamentos. Tudo
o que sempre desprezou em sua vida estava sendo usado contra ela mesma.
- Desculpe, eu acho que você não ouviu direito. – Chaeyoung disse firme e deu
um passo a frente. – Eu não vou me afastar.
Há quem diga que um olhar pode perfurar a alma de alguém. Se isso for
verdade, Luhan definitivamente o estava fazendo sem pudor algum.
Suas mãos estavam fechadas em punhos e seu rosto vermelho com o cinismo
da mulher a sua frente.
- Eu deixei que você entrasse em meu apartamento, fui bom com você. Deixei
que passasse um tempo com Lisa e o que recebo em troca? Traição! – rosnou
e em poucos segundos já não era o mesmo Luhan passivo de sempre. – Eu
estou falando sério, Chaeyoung, fique longe da minha mulher.
A musicista nunca pensou que estaria em uma situação assim um dia. Nunca
pensou que seria o pivô de uma traição e muito menos que teria o noivo na
porta de sua casa com os olhos em chamas.
- Lalisa nunca foi sua mulher, Luhan. Pelo menos não por completo e só cabe
a você aceitar isso. – abaixou o tom de voz contendo a raiva. Por um lado era
totalmente compreensível que Luhan estivesse fazendo seu papel de noivo
traído, ela não poderia imaginar a dor de ser traída pela pessoa que ama. – Se
eu pudesse ter evitado tudo isso o faria com prazer, mas aconteceu e agora
não vou desistir da única pessoa que já foi capaz de me fazer feliz. Nós somos
duas pessoas apaixonadas pela mesma mulher e o afeto que sinto por você
não vai me impedir de tê-la de volta.
- Então onde você esteve todos esses 6 anos? – ele gritou e Chaeyoung recuou
um passo assustada. – Eu a vi chorar todos os dias por quase 1 ano sem saber
o motivo! Eu consertei o coração dela enquanto você esteve aqui esse tempo
todo se escondendo do mundo. – apontou o dedo freneticamente para a
Chaeyoung, ele estava fora de si. – Não queira tirar o que eu construí, sequer
pense em destruir meu casamento, Park. Comigo Lisa e Ethan tem segurança,
e com você? Vai trazê-los para morar em um rancho? Vai sustentá-los com o
salário que ganha sendo professora de música?
- Lalisa não precisa ser sustentada, seu imbecil! – o empurrou sentindo a
raiva crescer dentro de si ao ouvir as palavras absurdas do homem. – Ela
decidiu me deixar por motivos que não cabem a mim lhe contar. Eu não fui
atrás porque estive ocupada acreditando em uma mentira que ela inventou
para o meu bem e hoje eu sei disso.
Todo o lado pacífico e cheio de amor que Chaeyoung carregava consigo foi
deixado de lado no próximo empurrão que deu no rapaz. Luhan cambaleou e
bateu as costas na porta do carro, quando se recuperou voltou-se para a
Chaeyoung pronto para enfrentá-la.
- Vai bater em uma mulher? É assim que pretende ter Lisa? – Chaeyoung o
peitou e o rapaz parece ter caído em si, então abaixou os punhos e arrumou a
gola da camisa. – Faça um favor a si mesmo e não perca seu tempo comigo,
não sou seu quem vai escolher se você fica ou não na vida de Lisa. –
Chaeyoung deu as costas ao advogado e caminhou de volta para a varanda,
mas não sem antes girar o corpo e completar: - Se você ficar no caminho eu
juro que passo por cima, Luhan. Eu amo Lalisa ao ponto de destruir isso que
chamamos de mundo estúpido.
Luhan tinha lágrimas nos olhos. Estava envergonhado pelo que tinha feito e
ainda mais furioso com o que estava acontecendo em sua vida.
Ele sabia, o rapaz sabia que não poderia ficar no caminho entre Lisa e
Chaeyoung, sabia que estava sendo a pedra no caminho das duas, sim, ele
sabia de tudo isso e mesmo assim não conseguia se libertar desse amor que o
aprisionou ao egoísmo.
18:34 PM.
Usar o The Village como escapatória no intervalo do escritório era uma ótima
forma de deixar-se envolver com a antiga Lisa.
A banda reproduzia uma calma melodia de Chet Baker e o café estava vazio,
exceto por uma mesa ocupada por um casal.
Da mesma forma que Luhan também estava estranho quando chegou noite
passada, Lalisa já tinha voltado de seu passeio com Chaeyoung e estava
sentada na cama lendo o livro Cem anos de solidão depois de brincar com
Ethan e coloca-lo na cama.
Luhan mal se deu o trabalho de perguntar como fora seu dia como de
costume, ele apenas tomou um banho demorado e deitou na cama dizendo
que estava cansado e precisava dormir.
Ela não o culpava, estava sendo distante e fria dias antes do casamento,
obviamente isso o afetava, mas Lisa também sabia que Luhan não perguntava
o que estava acontecendo por medo de ser deixado. Todos que conheciam o
rapaz sabiam o quão inseguro ele poderia ser. Esse era um dos pontos que os
ligava, duas pessoas extremamente inseguras, criados por famílias rígidas, e
bem, para algumas pessoas de mente aberta como Momo, Jennie e Jisoo
poderia ser fácil apenas abandonar o noivo e ficar com quem realmente se
ama, mas para pessoas como Lisa e Luhan é quase impossível ir contra tudo o
que fora ensinado ao longo do tempo.
Da mesma forma que é difícil para pessoas de idade aceitar as mudanças do
mundo moderno.
E ali estava ela, com uma dúvida quase cruel faltando apenas alguns dias para
o casamento. Estava decidida a deixar Luhan, isso era fato, não havia duvidas
depois de uma maravilhosa noite de amor com Chaeyoung.
Mas, como? Como contar a todos os convidados que estava tudo cancelado,
como contar a Luhan que o estava deixando por outra? Como dizer a Ethan
que o tio Luhan não estaria mais tão presente e que em seu lugar estaria
Chaeyoung? Que ela seria sua nova mãe se ele permitisse? Como enfrentar o
maldito medo da sociedade e andar por ai de mãos dadas com uma mulher e
uma criança? Como enfrentar seus colegas de trabalho e como seus clientes
reagiriam a essa informação? Como?
- Outra vez aqui, Lisa? Estou começando a achar que está apaixonada por
alguém desse lugar. – a voz de Eli cortou os pensamentos da Lisa trazendo-a
para o mundo real.
O homem, que agora aparentava ser muito mais velho e cansado, sorria
docemente e segurava seu avental em mãos.
Lisa sentia uma grande afeição pelo homem negro que um dia fora
testemunha de seu amor. Desde que voltara à New York usava o café como
refugio e Eli sempre tratava de lhe preparar um cappuccino grátis "para
aliviar o coração", dizia ele.
- Vítima de seus pensamentos outra vez, minha cara? – ele questionou, mas já
sabia a verdade. – Você é tão jovem para tais preocupações, lembro-me de
como costumava ser acanhada e ao mesmo tempo rebelde nos tempos de
glória. O que aconteceu com aquela menina?
- Nada. – Lisa respondeu por fim, dando-se por vencida ao caos que se
encontrava seu coração. – Eu não sou nada sem Chaeyoung.
Eli ergueu as sobrancelhas surpreso pela revelação de Lisa. Não que ele não
soubesse que aquelas duas ainda nutriam sentimentos uma pela outra, mas é
sempre revelador ver alguém inseguro como Lisa se abrir sobre seus
sentimentos.
- A srta. Park?
Lisa sorriu, ouvir aquele nome era como finalmente usar sua heroína
preferida depois de tanto tempo presa na reabilitação.
***
20:39 PM.
Mensagem de voz
Momo: QUE?! Não, pera! O Percy Jackson foi atrás da Chaeyoung? EU VOU
MATAR ELE!
Sana: Calma, ela soube se defender e disse que vai lutar pela magrela e blá
blá blá. Sinceramente? Eu tenho medo do que pode acontecer.
Sana: Estamos falando da Lisa, o que acha que ela vai fazer quando o barco
virar?
Momo: Eu estou ocupada com o trabalho nos últimos dias e não posso
voltar, mas assim que resolver as coisas por aqui estarei pousando em New
York. Precisamos ajudar esse casal.
Momo: Estranha.
Dahyun apareceu pouco depois com os livros da faculdade, ela cursava ciência
em NYU e depois da aula sempre passava para visitar Sana na boate.
Elas estavam se dando bem até demais, Dahyun parecia ser a única pessoa no
mundo que compreendia e até gostava do jeito da mulher.
Elas se davam bem em tantos aspectos que dentro de poucos dias tinham se
tornado melhores amigas e às vezes... Algo, além disso.
- Porque sou gostosa e uma pessoa incrível. – sorriu selando os lábios com
calma e carinho.
– E você é a pessoa mais inteligente que eu conheço, por isso sabe reconhecer
minhas qualidades.
Elas riram e ficaram com os rostos encostados por um tempo. Era bom
apenas estar uma com a outra, sentindo o abraço quente e a respiração calma
no pescoço.
- Eu estou ficando louca com essas duas, Day. E meu irmão pode fazer uma
merda a qualquer momento, mas o retardado não me escuta.
- O que aconteceu?
- Lisa está bem, mas não está em condições de falar. Estou levando-a para a
casa dos pais, aconteceu umas coisas agora a noite e ela precisa resolver por si
só.
- Lisa e Luhan discutiram feio agora a pouco, ela está arrasada e vai ficar o
tempo que for preciso na minha casa. Depois ela explica, preciso desligar.
O telefone foi desligado pela segunda vez na cara de Sana, mas ela não xingou.
***
06:04 AM.
Pessoas que a vissem no passageiro do conversível prata, diriam que ela tinha
sido resgatada de um campo de batalha. Ou talvez, a opção mais clara, e ela
tivesse passado a noite ingerindo substâncias suspeitas.
Deixou que Lisa martelasse suas ideias sozinha como deveria ser, enquanto a
levava até a casa dos Manoban, pois Lisa estava sem condições de dirigir
depois de passar a madrugada no avião.
O carro parou e foi a deixa para Lisa abrir a porta e a bater com força, mesmo
que sem querer, antes de cambalear na entrada da casa.
– Não faça nenhuma besteira, Manoban. - ela ouviu Jennie dizer calma, mais
como um pedido mascarado.
Jennie esperou até que a jovem abrisse o portão, depois de insistir em usar a
chave do carro, para acelerar seu conversível e desaparecer na primeira
esquina até a casa dos pais.
O sol já tinha tomado conta do céu azul, a luz invadia as janelas da sala
iluminando boa parte da casa.
Lisa ficou parada alguns segundos analisando o lugar em que estava, e custou
muito até atravessar o jardim e enfim abrir a porta de casa com a chave que
ainda mantinha.
O primeiro sentimento que lhe veio à mente foi nojo, e depois, raiva. Ela
derrubou o abajur que estilhaçou no chão, fazendo um som estridente.
Passou a mão pelas teclas do piano e finalmente chegou a uma mesa de canto,
onde havia fotos de família.
Ela pegou o porta retrato onde estava com seu pai e o lançou contra a parede
oposta usando toda a sua força, com o barulho, luzes foram acesas nos
corredores e uma voz grossa ecoou de lá:
Sua mãe apareceu logo em seguida com as mãos no coração e Paul desceu
correndo as escadas parando ao lado da irmã.
– Lisa? - chamou preocupado como se falasse com uma louca. Ele tinha
retornado para passar um tempo com os pais, nunca deixou de ser um baba
ovo de qualquer forma. - Você está bêbada?
Lisa não pareceu abalada com o tom de voz do pai, pelo contrário, ela apenas
conseguia sentir mais raiva e nojo daquele homem a sua frente.
– Pouco antes de ir embora do escritório, - começou sentindo a voz rouca. –
uma mulher apareceu pedindo por ajuda. Demorou um pouco até que eu a
reconheci, era Helena. – Marco petrificou. Helena costumava ser empregada
dos Manoban quando Lisa ainda era pequena. - Ela queria reclamar pensão
ao homem que a engravidou e procurou a ajuda de uma advogada. Ela só não
contava que a advogada fosse filha desse homem.
Paul deu dois passos para trás olhando diretamente nos olhos da irmã com
compreensão no olhar. Charlote ficou estática em seu lugar e Marco pareceu
ter levado um soco na face.
Os três tinham olhos arregalados para Lisa naquele momento, sua fúria
contida em cada palavra passou o ódio que estava guardado dentro daquele
coração Manoban.
Charlote tremia demais e Marco nunca esteve tão envergonhado em sua vida.
Paul estava com medo do que a irmã mais velha faria.
– Você sabia?
Paul também balançou a cabeça, incapaz de dizer algo. Lisa levantou a cabeça
para o alto perguntando-se o porque daquilo estar acontecendo com ela, tanta
dor dentro de si, a cada momento, traída pelos seus pais.
Ela abaixou a cabeça a lançou um olhar direto ao pai, não um olhar magoado
ou questionador, mas sim de ódio.
De certeza. Ela não conhecia aquele homem na sua frente, não passava de um
desconhecido.
Com dificuldade, ele olhou para a mulher e para Paul, e assim, deu as costas
ao que estava acontecendo e entrou em seu escritório, o som da chave sendo
girada pode ser ouvido, Lisa permaneceu no mesmo lugar, observando a
madeira envernizada.
– Eu não quero perder você outra vez. - disse Charlote encarando o chão com
os olhar triste.
Queria ter certeza de que sua alma estaria limpa assim que terminasse.
Caminhou de um lado para o outro abraçando a si mesma. Ouviu um soluço
alto de Charlote, e ela gaguejar nas palavras, sem saber o que dizer.
– Como você pôde perdoá-lo? Depois de tudo o que ele fez, depois de destruir
minha vida quando eu era apenas uma adolescente. Por que, mãe? - virou-se e
deu de topo com sua mãe agarrando seus braços, pedindo suplicante para que
a ouvisse.
– Eu ia embora, Lisa. Eu juro que tentei. - seus olhos ficaram vagos, como se
lembrasse daquele dia. - Tudo estava pronto, eu nunca mais voltaria. Mas,
então eu comecei a observar você, Paul e Daniela. A forma como se davam
bem, suas discussões, Deus, a casa ficava tão cheia, como uma família de
verdade. - olhou de volta para a filha, ela já não tremia mais, mas chorava. -
Eu não pude. Tem noção de como é para uma mãe perder sua família? Eu
não... Não consegui.
(Play na Música: Something inside - August Rush)
– Eu decidi ficar com ele por... Por todas as coisas boas que ele fez. - enxugou
a própria lágrima e deu um pequeno sorriso para Lisa - E não parti por um
erro. Eu decidi perdoá-lo.
The last thing you say as your saying goodbye Something inside you is
crying and driving you on
It's the first thing you see as you open your eyes
The last thing you say as your saying goodbye Something inside you is
crying and driving you on
Lisa negou com a cabeça chorando mais ainda, afastou os braços da mãe de si
e recuou alguns passos sem tirar os olhos dela.
Ela sabia por dentro que Charlote sempre fora uma pessoa boa, quase nunca
concordava com as coisas que Marco fazia. Ela só não entendia porque sua
mãe suportava tudo calada.
A última coisa que Paul e Charlote puderam ouvir, foi a porta sendo fechada
com violência. Lisa saiu descontrolada, o ódio já não a dominava como antes,
agora era apenas a tristeza, um coração partido. Estraçalhado.
Lembra-se de observar o pai quando era pequena. Ela adorava passar horas
sentada no chão do escritório olhando a forma como ele atendia o telefone,
tratava as pessoas, era tão determinado, como um Manoban.
A garotinha Lisa sonhava em um dia poder ser como ele, e agora desejava
nunca ter tido aquele sangue em suas veias.
***
Chaeyoung abriu caminho para que Lisa entrasse em sua casa em passos
lentos, absorvendo a verdade.
- Eu sinto muito pelo seu pai. - Lisa sabia que ela estava sendo sincera, e isso
a confortou. – Eu queria poder consertar esse coraçãozinho partido com
muitos beijos e carinho.
Oh, lágrimas. Coração que se refaz lentamente, aquele súbito frio na barriga
que faz o corpo inteiro arrepiar. Lisa sentiu tudo isso, pois, ao lado de
Chaeyoung, qualquer dor caía no esquecimento.
– Será que eu posso dormir aqui com você? - aquilo saiu tão infantil de Lisa,
que Chaeyoung teve vontade de ama-lá pelo resto de sua vida.
The last thing you say as your saying goodbye Something inside you is
crying and driving you on
It's the first thing you see as you open your eyes
The last thing you say as your saying goodbye Something inside you is
crying and driving you on
Se ela podia? Era tudo o que Chaeyoung mais queria, tudo o que ela mais
precisava, era isso, Lisa era dela e ela era de Lisa, era assim que as coisas
funcionavam.
Ela cuidava de sua Lisa frágil, sempre soube como fazer isso, aprendeu a
conhecer os maiores medos de Lisa, e as formas de afrontá-los dela.
As duas mulheres deitaram-se frente a frente, ainda de mãos dadas. Lisa não
tinha parado de chorar, mas ela sabia que isso aconteceria em algum
momento da noite.
Ela só precisava sentir que Chaeyoung estava perto para saber que estava
protegida, que os problemas não eram nada se ela estivesse com o seu amor.
_______
42
Dia 1.
A primeira coisa que sentiu ao abrir os olhos foi uma forte dor de cabeça.
Lisa sentiu-se tonta com a luz do sol refletida na janela do quarto, então se
forçou a fechar os olhos novamente e se espreguiçou às cegas buscando o
travesseiro para tapar o rosto da claridade que incomodava sua terrível
ressaca, e os sentimentos ruins que permaneceram da noite passada.
Lisa apalpou a cama até sentir uma mão fria e assustar-se quase caindo do
outro lado da cama. Esse movimento fez sua cabeça doer ainda mais.
– Acho que eu poderia ficar aqui e esquecer que meus pais e Luhan existem;
que um mundo lá fora existe. – disse Lisa esfregando o rosto com as mãos.
– Essa é a sua casa também, você pode ficar aqui e esquecer o mundo, amor.
– brincou a pequena aproximando-se da Lisa. – Apenas fique comigo, e eu lhe
darei toda a força que tenho, não usei quase nada, juro!
Não pode evitar ao se dar conta de que tinha puxado Chaeyoung para mais
perto e lhe dado um selinho demorado, seguido por um abraço reconfortante.
Chaeyoung deitou a cabeça em seu peito, pensava que talvez não houvesse
nada melhor do que ouvir as batidas calmas do coração de sua amada. Ela
segurou uma das mãos de Lisa com força e cantou baixinho, para que apenas
as duas pudessem ouvir:
– I know you haven't made your mind up yet, but I would never do you
wrong. I've known it from the moment that we met. No doubt in my mind
where you belong... Eu sei que você não se decidiu ainda, mas eu nunca te
faria nada de mal. Eu soube desde o momento que nos conhecemos. Não há
dúvida na minha mente de onde você pertence.
A porta foi aberta por um Luhan indiferente. Ele não carregava uma
expressão preocupada como Lisa imaginou que estaria; ele mal parecia se
importar com o que sua noiva tinha lhe contado por telefone sobre seu pai.
Lisa deu dois passos para trás sentindo o sangue em seu corpo ser sugado
para fora. Luhan balançou a cabeça encarando sua noiva com mágoa, raiva e
decepção.
– Como você sabe? – Deveria ter mais cuidado com as fotos que deixa no
escritório. – Você invadiu meu escritório sem a minha permissão? – Lisa
rebateu nervosa pela invasão de privacidade, mas ao mesmo tempo era uma
forma de adiar o assunto x da questão.
– Isso não vem ao caso agora, Lalisa. – ele afrouxou os dois primeiros botões
da camisa e olhou para os lados parecendo frustrado. Estava suado e
vermelho, um claro sinal de nervosismo que Lisa sempre soube ler no rapaz.
– Você tem me traído desde que chegamos aqui?
A pergunta foi clara e Luhan sabia a verdade, qualquer tolo teria se dado
conta da tensão entre aquelas duas mulheres à milhas de distância desde que
se encontraram, mas tudo o que ele fez foi fechar os olhos acreditando
fielmente que seu relacionamento estava a salvo, que o casamento estava
próximo e nada poderia atrapalhar.
Lisa abriu e fechou a boca contendo sua resposta. Não sabia o que dizer, não
era preciso proferir em voz alta algo que estava claro, então o advogado riu
sem humor da confirmação silenciosa e abaixou a cabeça sem saber o que
fazer.
Usar Ethan como desculpa era o mesmo que atingir o ponto fraco da Lisa e
Luhan sabia disso, essa era a pior parte, o advogado estava tão frustrado que
não podia controlar as palavras que jorravam de sua boca.
Lalisa abaixou a cabeça ferida pelas palavras do noivo, eles eram amigos há
tempo o suficiente para conhecerem os pontos positivos e negativos um do
outro, mas a Lisa não contava com esse lado descontrolado de Luhan.
Nunca, nem sequer uma vez, o vira perder o controle da situação, nem mesmo
com o pai que se igualava a Marco Manoban quando se tratava de
egocentrismo.
Encarando os fatos, aquele era o momento de libertar não somente a ela, mas
Luhan também. Ele não merecia estar preso a alguém que amava
intensamente outra pessoa, é errado, sujo e egoísta.
Ao mesmo tempo em que sua mente a incitava a dizer aquelas palavras, seu
corpo a traía não permitindo que as vocalizasse.
Sua batalha interna de culpa e medo estava de volta martelando sua cabeça
como um bombardeio incessante entre duas tropas rivais de longo prazo.
Esse é o momento. Não seja fraca. Chaeyoung merece isso e você também.
Lalisa gostaria de não ter tanto medo. Queria poder encontrar um gênio,
mágico ou até mesmo o Sr. Morte do filme Click que lhe desse um controle
remoto capaz de mudar sua vida. Pois, naquele momento, com os olhos de
Luhan vermelhos pelas lágrimas que escorriam em sua face e sua postura
frágil, a Lisa sentiu-se a pior pessoa do mundo.
Lembrou-se de seu pai quando pequena, a forma como ele sempre agia
convicto do que estava fazendo, nunca hesitava ou desistia em cima da hora.
Marco sempre foi a segurança e a certeza; nunca a dúvida e o medo.
Deixar Luhan por Chaeyoung era como dar um tiro no escuro, o problema
maior é que Ethan estava ao seu lado no escuro correndo o risco de ser
atingido.
– Não da mais. – ela disse tão forçado que saiu como um ganido. Luhan
estreitou os olhos para a expressão de dor da Lisa. – Eu não posso me casar
com você se ambos sabemos que eu vou traí-lo com Chaeyoung.
Como esperado, Luhan foi o primeiro atingido naquela escuridão. O rapaz
entreabriu a boca chocado com o que estava ouvindo, seu canal lacrimal
incapaz de deter as lágrimas que insistiam em lhe molhar a face.
– Você está terminando comigo? – ele perguntou, mas era retórico. – Lisa,
faltam apenas 17 dias até o casamento, o Buffet já foi pago, o salão, a
decoração, os garçons, tudo está pago! O que vamos dizer aos nossos
convidados?
– Nós precisamos ver como é a vida um sem o outro. Preciso que você se
acostume a ficar sem mim, Luhan...
Lalisa não percebeu que estava chorando até terminar sua história.
Provavelmente seus hormônios estavam trabalhando com mais afinco
naquele dia fazendo-a reviver avidamente todos aqueles momentos.
– Então vocês não terminaram oficialmente? – foi a pergunta chave que Lisa
já esperava.
Elas não poderiam sorrir mais entre os pequenos beijos trocados. Então
aquela finalmente era a paz que elas tanto almejavam?
– O que pretende fazer com seu pai? – Chaeyoung voltou ao assunto, mas não
deixou de distribuir pequenos beijos pelo rosto da Lisa que mantinha os olhos
fechados apreciando seu corpo se arrepiar aos toques delicados de sua amada.
– Vou procurar Helena e resolver esse assunto, se ela quer processar meu pai
quem sou eu para impedi-la? Irei apenas indicar um advogado civil, Marco
Manoban para mim está morto.
Ver uma pessoa dizer esse tipo de coisa sobre o próprio pai não era
exatamente o que Chaeyoung estava acostumada, ainda lhe causava arrepios
o tipo de pessoa que Marco poderia ser, ela simplesmente não entendia como
alguém pode submeter os próprios filhos a uma vida de medos e incertezas.
– Quero estar ao seu lado quando isso acontecer, tudo bem?
– Vou preparar o café da manhã. O que será que devo fazer para o meu bebê
manhoso? – brincou e Lisa fez outro bico e levantou as sobrancelhas como
uma criança pidona.
– Hmm. Então acho que vou confiar nessa mulher que você tanto ama.
Chaeyoung riu gostosamente e apertou o máximo que pôde sua amada, ela
sabia que naquele momento estava segurando seu mundo nos braços.
***
Minha cabeça estava bem melhor da ressaca depois de tomar o café da manhã
e alguns analgésicos, agora o que restava era apenas o sentimento de
decepção e a tristeza de ter sido mais uma vez machucada pelo meu próprio
pai.
Não era bem assim que eu planejava reencontrá-los depois de tanto tempo,
mas não deveria ser nenhuma surpresa vindo de Marco Manoban.
A única dúvida que rondava minha cabeça no momento era de Daniela estava
ciente disso, pois se não, e eu realmente acho que não, minha irmã com
certeza perderia a cabeça.
Eu já vestia minha jaqueta, tênis e calça jeans escura, estava pronta para ir
embora e ficar com Ethan na casa de Jennie e Jisoo até que minha vida
estivesse de volta aos eixos.
Era uma imagem um tanto quanto excitante vê-la daquela forma e ainda por
cima tocando uma melodia qualquer com os olhos fechados e os pés descalços
acompanhando o ritmo da música.
Eu estava totalmente ferrada, concluí, quando me dei conta de que sempre
seria louca pelo sexo com Chaeyoung. Ela era o meu desejo, minha libido se
tornava insaciável por ela e aqueles lábios, a pele Chaeyoung, os cabelos que
caíam como cascata até o meio de suas costas.
Quando ela voltou a tocar, todo meu corpo se colocou em alerta ao reconhecer
a música.
Ela estava me testando? Deus sabe que eu meu autocontrole tinha sido
mandado ao inferno há tempos.
Me aproximei mais se isso ainda era possível e afastei os cabelos para o lado
esquerdo deixando seu pescoço livre e, enquanto minha mão trabalhava
avidamente em apertar e arranhar sua coxa, comecei a distribuir beijos
molhados e algumas mordidas em seu pescoço sem me importar se ficaria
marcado ou não.
Minha outra mão adentrou o moletom por trás arranhando suas costas e
Chaeyoung vacilou outra vez um pouco mais ofegante.
Eu queria possuí-la ali mesmo, em cima daquele piano, mas provocá-la estava
sendo muito mais divertido.
– The only time I'd ever call you, I only love you when you touch me, not feel
me, when I'm fucked up, that's the real me. When I'm fucked up, that's the
real me, babe, babe...Aah... – senti todos os arrepios percorrerem meu corpo e
o sangue em minha veias ferver, cravei minhas unhas em sua coxa e ela
gemeu baixo antes de continuar – Got me looking so crazy right now, your
touch got me looking so crazy right now. Got me looking so crazy right now,
your touch got me crazy now... Now...
Aquilo foi o ápice da minha sanidade e sem pensar suas vezes, subi minha
mão direita arrastando a unha até sua intimidade. Chaeyoung gemeu como
um gatinho, do jeitinho que sempre me deixava louca e eu aproveitei o
momento para acariciá-la por cima da calcinha que já estava molhada.
Então eu me levantei e não dei tempo para que ela reclamasse, logo estava
cravando meus dedos em sua bunda e a levantando daquele banco para que
ficasse com as pernas em volta da minha cintura.
– Deus. – ela suspirou entre meus lábios quando sua intimidade, ainda que
por cima da calcinha, tocou minha barriga coberta pela jaqueta e a camisa.
Ela precisava muito ser tocada por mim, eu conhecia cada reação de
Chaeyoung para ter certeza disso, e tê-la rebolando gostosamente em meu
colo era a melhor forma de enlouquecer.
Caminhei com Chaeyoung até encontrar uma superfície sólida e a sentei,
soube depois de uns bons minutos ainda entre os beijos que era o piano, mas
isso não importava realmente.
Ela envolveu meu corpo com os braços e pernas e me abraçou com força como
se quisesse gravar aquele momento para sempre.
– Te amo.
– Lalisa... – ela gemeu meu nome baixo e eu apertei ainda mais sua coxa
afastando para que tivesse acesso livre a sua intimidade quando afastei a
calcinha azul claro.
Achei que meus joelhos fossem ceder quando meus três dedos a penetraram
de uma vez, ela arqueou as costas e gemeu alto procurando minha boca para
abafar o barulho que fazia e nem assim parecia o suficiente.
O prazer que se apossava do meu corpo apenas por penetrá-la era absurdo, eu
achava que iria desfalecer a qualquer momento e isso só piorou quando a mão
direita de Chaeyoung alcançou minha intimidade por baixo da calcinha jeans
e começou a estimular a região me levando à loucura completa.
Coloquei o rosto na curva de seu pescoço e minha outra mão subiu para os
seios medianos que estavam descobertos por baixo do moletom, nós
estávamos gemendo juntas numa sintonia perfeita, criando nossa própria
música.
Não demorou muito e Chaeyoung chegou ao ápice.
– Minha vez... – ela sussurrou e eu só entendi o que ela quis dizer quando
suas duas mãos começaram a desabotoar minha calça. Eu teria sido muito
feliz se a campainha não tivesse tocado logo a seguir jogando um balde de
água fria em ambas. Chaeyoung me olhou divertida e eu fechei a cara
recebendo seu abraço de consolo. – Mais tarde você vai ser todinha minha. –
ela disse antes de saltar do piano e correr até a porta.
É claro que eu tentei protestar sobre ela abrir a porta usando apenas moletom
que, mesmo ela tendo o puxado para baixo, suas coxas, ainda mostrava mais
do que devia. Além, é claro, de sua aparência pós-sexo, mas deixei essa passar
porque estava satisfeita do meu trabalho.
Sana e Momo estavam paradas à porta com a maior cara de cínicas do mundo
por verem nossas aparências.
– Aconteceu algo?
– Eu soube o que... Uh, o que aconteceu com Lisa e corri pra New York o mais
rápido que pude.
Olhei para Chaeyoung que agora estava ao lado do sofá rodando minha chave
no dedo.
– Eu preciso ficar com Ethan, ele deve estar confuso sobre estar com Jennie e
eu já estou há muitas horas longe dele, Chae. – falei tristemente enquanto me
aproximava. – Eu te vejo amanhã, ok?
– Não vai mesmo me deixar ir embora? – ela negou outra vez. – Ok...
Eu me afastei como quem não quer nada, mas logo me virei e corri em direção
a ela tentando pegar as chaves, mas Chaeyoung saiu correndo pela casa como
uma criança.
– Lisa, não! – ela gritou tentando pôr as chaves para cima. – Não! Não! Não!
– ela correu pela sala e eu consegui alcançá-la e jogá-la no sofá.
– É, o cheiro está bom. Pode ficar com o troco, afinal, quem vai nos
proporcionar um jantar pra comemorar nossa volta, realmente merece. Não é
mesmo, meu amor? – eu enlacei a cintura dela e a olhei de um jeito obsceno,
até mesmo para mim. Voltei minha atenção para o homem e dei um
tchauzinho silencioso com a mão para o rapaz estupefato enquanto chutei a
porta. – Você deveria ter um roupão ou qualquer coisa assim. – depositei a
comida na mesa de centro e me sentei no chão, retirando um suculento
pedaço de carne.Chaeyoung me observou por um minuto, então pegou um
brócolis de sua comida e sensualizou com ele. Ou ela pensou que estava
sensualizando. – Qual é o seu problema? – brinquei mordiscando a comida.
Ela sorriu.
– Não se preocupe, você está no topo dela.
Uma vida feliz é somente uma sequência de momentos felizes. Mas a maioria
das pessoas não permite o momento feliz porque está muito ocupada
tentando conseguir uma vida feliz. – Abraham-Hicks
Dia 2.
Apesar de aquele lugar ser familiar para mim que estive no comando por
alguns anos, era diferente voltar como alguém que desistiu de tudo.
Estava cheio.
As audições eram marcadas por hora, mas sempre havia os que tentavam a
sorte de serem encaixados entre os marcados.
– Tudo bem? – ouvi Lisa perguntar, então eu a olhei pela primeira vez desde
que entramos e encontrei meu lar, minha segurança, meu ponto de paz.
Ainda em seu colo estava um Ethan adormecido, e olhar para ele me dava
coragem para enfrentar qualquer coisa.
Eu queria estar ali? Essa era uma questão que ainda me assombrava desde
que decidi fazer o teste.
Ás vezes, quando eu tocava, era como se apenas meu corpo estivesse presente
enquanto minha alma viajava para um lugar qualquer.
Subimos ate o terceiro andar onde a sala de espera não estava tão cheia assim.
No máximo 20 pessoas esperavam para entrar no palco e serem avaliados,
todos meus concorrentes.
Então por que eu não me sentia como uma competidora? E se aquela garota
de óculos de lua, rabo de cavalo e sobrancelhas grossas fosse melhor do que
eu? Isso importa?
– Lindsay Lohan.
Estranhei ouvir aquele nome e aquela voz, então ergui o rosto e encontrei
Sana discutindo com o segurança. Lisa, que estava sentada no sofá ao meu
lado com o nosso menino adormecido em seu ombro, me lançou um olhar
incrédulo.
– É claro que tem! Cheque de novo. – ela disse de uma forma cínica, e eu
soube que era o momento certo para intervir.
O rapaz me conhecia de longa data e talvez por isso a tenha deixado passar
depois de ter mentido sobre seu nome.
Sana o fuzilou e caminhou até a sala de espera analisando todos que estavam
ali.
– Nossa, seus concorrentes são todos nerds. – ela riu e eu estalei o dedo para
que ela calasse a boca.
Ela riu.
– Vim avisar que Momo, Jennie, Jisoo, Daniela e eu vamos estar lá em baixo
com cartazes e buzinas na sua torcida. Arregalei os olhos sobre aquelas
palavras e outra vez ela começou a rir como idiota da minha cara. – Eu estou
zoando você. Estamos lá em baixo esperando e depois podemos comemorar
sua vitória no Riverside, ok?
Voltei a me sentar com Lisa e descansei minha mão sobre sua coxa.
– Avisar que estão todos lá em baixo torcendo por mim e que assim que
sairmos daqui vamos ao Riverside.
– Podemos fugir. Senti, pela sua respiração, que ela estava sorrindo.
– Chae, venha cá. O que quer aprender? – perguntou Mark quando viu sua
pequena passar correndo pela sala com uma asa de fada presa em suas costas.
Chaeyoung sempre pedia que o pai tocasse a mesma música chamada Kiss
from a rose, e o homem tinha decidido que era hora da menina aprender um
pouco mais sobre piano.
– Sim?
Fim do flashback.
Senti Lisa me cutucar pela cintura e ergui o rosto encontrando uma mulher
baixa que usava um headset e segurava uma prancheta.
– Eu amo mais.
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8...
Dei uma olhada através da cortina e pude ver os dois maestros sentados no
auditório esperando por mim.
Só então notei que minhas mãos suavam e tremiam, então tratei de esfrega-
las no vestido preto que eu usava e entrei.
Caminhei com um meio sorriso no rosto até o meio o tripé no meio do palco e
pisquei os olhos algumas vezes deixando-os que se acostumasse com a
claridade do holofote.
– É a casa do papai do céu, Chaeyoung. Foi ele quem fez tudo o que você
conhece. – respondeu Mark abraçando a pequena que brincava com sua
boneca de pano.
– Isso se chama dom da fé. Você acredita naquilo que não vê. Mas ele às vezes
prova sua existência com o milagre como o que eu tive.
– Como papai?
É incrível como uma simples melodia pode destruir seu emocional em poucos
minutos, mas ali estava eu, Park Chaeyoung, fazendo meu teste para uma das
orquestras sinfônicas mais importantes dos Estados Unidos com o rosto
inchado e banhado em lágrimas.
Levantei–me quase surtando com o silêncio que tinha tomado conta do lugar
e o Sr. Cullen parece ter notado o incômodo.
Eu agradeci com um aceno de cabeça e me virei para sair, mas outra voz me
chamou.
– Srta. Park? – era o moreno, eu me virei e esperei pelo que viria a seguir. – O
que você pensou enquanto tocava essa música?
_________
Música que a Chaeyoung canta pra Lisa quando estão na cama: Make you
feel my love da Adele.
___________
43
No capitulo anterior de The Red Bow
– Srta. Park? – era o moreno, eu me virei e esperei pelo que viria a seguir.
Dia 2.
Eu não sei bem como começou, e obviamente não sou uma x-men ou uma
supernatural com poderes fantásticos, eu apenas sinto uma pequena dor no
peito e uma vontade imensa de cancelar todos os meus afazeres dos próximos
dias para evitar um acidente, encontros ou quem sabe um adeus.
O relógio não vai parar e esperar que você decida se quer ir ao shopping ou
não. Se você quer ele ou ela. Se vale ou não a pena sair de casa aos 18.
A resposta dela pode muito bem ser não, mas ao menos eu não terei a
incerteza do que poderia ter sido se eu não tivesse a tomado para uma dança
lenta.
Duas horas atrás e eu poderia ter desistido do teste que vai decidir o meu
futuro outra vez. Isso é justo? Parece certo dois homens decidirem se sou ou
não melhor que os outros musicistas? Se eu sou boa o suficiente para estar
nos palcos? Eles podem decidir se eu estou preparada para ser uma boa mãe e
esposa?
Mas, voltando aos pressentimentos que eu costumo ter, algo me diz que em
breve meu caso com Lisa chegará ao seu limite.
Lisa estava estranha desde que saímos do Avery Fisher Hall, pensativa demais
e menos participativa do que de costume. Por que eu pressentia que seus
pensamentos não eram bons? Eu queria poder não sentir nada.
– E então eu disse "Ou você larga essa faca ou eu chuto seu traseiro, seu
babaca", então ele me olhou de baixo a cima e começou a rir da minha cara. –
Momo contava enquanto estávamos reunidas na sombra de uma árvore.
– Chutei a bunda dele, ué. – ela deu de ombros e nós rimos enquanto meus
olhos acompanhavam o sorriso amarelo de Lisa.
– Mas, falando sério agora, o que Junhoe acha dessas suas idas e vindas até
New York? – Jisoo perguntou e eu desviei o olhar novamente para a
conversa.
Momo sorriu.
– Ele entende que minha vida está aqui e que se uma amiga precisar de mim,
eu viajo no mesmo instante.
Todas zombamos com Momo fingindo que ela tinha coração e como isso era
bonito.
– Não sabia que essa coisa tinha tamanho o suficiente para sustentar um
coração. – Sana comentou e recebeu risadas em troca e um olhar fulminante
de Momo.
– Não fale assim dela, Sana. A menos que queira levar um chute. – Jennie
completou e eu abafei a risada com a mão.
– Olha só quem fala, não é? Jennie Kim a esposa babona e Sana, a apaixonada
trouxa por uma caloura da faculdade.
Jennie e Sana fecharam a cara no mesmo instante e foi a vez de Daniela deitar
na grama de tanto rir.
Lisa e eu éramos as únicas neutras no assunto, presas em nossas confusões
emocionais.
– É claro, meu amor. Você quer chamar Adam para ir com a gente?
Ethan olhou para o primo, que ainda brincava com o Pastor Alemão no
gramado, e deu de ombros.
– Ele não quer ir. – então olhou para todas nós com um sorriso tímido. –
Tias! Vocês querem ver o lago com a gente?
– Eu tenho cara de vela, menino? – Sana respondeu e foi cutucada por Jisoo.
– Ai!
– Nah, eu tô fora do passeio meloso das suas mães. – Momo disse e meu
coração parou.
Acho que o de todas pela forma que olharam para ela, assim como Ethan que
franziu o cenho confuso.
– Minhas mães? – ele perguntou olhando diretamente para uma Lisa mais
pálida do que costumava ser. – Ué, eu só tenho uma mãe, e é essa aqui.
Momo, pela primeira vez, parecia não saber o que dizer e permaneceu quieta
acompanhando as meninas na tarefa.
– A tia Momo falou sem querer, bebê. – eu disse já que Lisa estava paralisada
olhando para Ethan como se ele tivesse descoberto tudo com apenas 4 anos.
– A tia Momo está ficando maluca, mamãe. – ele abraçou a perna direita de
Lisa e eu a cutuquei no braço para que voltasse a realidade. – A senhora quer
ir, tia Chaeyoung?
É claro que eu queria, estar perto daqueles dois era meu objetivo de vida.
Então apenas assenti e levantei estendendo a mão para que Ethan a
segurasse.
– Vocês não vêm? – Lisa se manifestou pela primeira vez se dirigindo para as
meninas.
– Está ficando tarde e Adam precisar tomar banho, mas foi um belo dia,
mana. – Daniela a abraçou e depois a mim. – Aparece lá em casa pra jogar
videogame com seu primo, ok? – apertou o nariz de Ethan que franziu o
cenho em resposta.
Uma a uma as meninas foram se despedindo, com Momo pedindo mil
desculpas, restando apenas Lisa, Ethan e eu.
No fundo eu sabia que elas estavam dando nosso devido espaço, estava
estampado na cara delas sempre que nos era dado um motivo para estarmos a
sós.
Eu estava com medo porque de repente me senti com 18 anos recebendo Lisa
no dia em que ela me deixou. Era o mesmo olhar, eu só não entendia o
motivo.
Nós caminhamos em silêncio até a pequena ponte onde Ethan soltou a minha
mão e pediu colo para Lisa.
Era bonito assistir o Sol esconder-se no horizonte dali, mais bonito ainda era
observar o perfil das pessoas que eu mais amava na minha vida.
Lalisa me olhou pelo canto dos olhos e então se virou completamente. Seu
rosto banhado pela luz escaldante do último suspiro do sol me fez amá-la
ainda mais se é que isso era possível.
Eu vi amor em seus olhos castanhos, eu vi paixão e o que eu mais temia... Eu
vi medo.
– Como pode alguém amar tanto uma pessoa assim? – ela perguntou mais
para si mesma do que a mim.
– Você me ama, mas ainda está noiva de outra pessoa. – Eu finamente tomei
coragem para enfrentá-la sobre o assunto.
– Eu vou deixá-lo, Chaeng. – ela chegou mais perto e segurou meu rosto com
a mão livre. – Assim que eu o encontrar eu vou acabar com tudo isso, só me
prometa que estará lá quando nós precisarmos.
Lisa balançou a cabeça e olhou para o lago agora refletido pela luz do luar.
Eu nunca pude completar o que estava prestes a dizer. Talvez eu tenha sido
hipócrita o suficiente para agir tão íntima de Lisa em um lugar público, não
por mim, mas por ela e por Ethan.
– Lésbicas nojentas! – ouvimos uma voz masculina gritar e Lalisa saltou para
trás com Ethan ainda no colo.
– Hey! – ouvimos outra voz masculina, dessa vez vinda do outro lado da
ponte. Lisa saltou quando um rapaz trajando roupas de ginasta passou por
nós em direção aos homens. – Sumam daqui ou eu juro que chamo a polícia,
seus imbecis! Tem várias testemunhas observando pessoas covardes como
vocês atacarem duas mulheres indefesas e uma criança. Saiam!
E eu? Eu tremia tanto que precisei me agarrar à grade da ponte para não cair.
Senti a mão do homem que nos ajudou em meu ombro e de repente sua
presença era um conforto.
– O grafite foi apagado com o tempo, não dá pra ler o que está escrito no final
da página. – uma moça de cabelos negros e olhos castanhos disse.
Sua pele era alva, assim como sua mãe que se encontrava deitada na cama de
casal de uma grande suíte.
De certa forma, Sarah, como se chamava a jovem, sabia que sua mãe não
saberia sobre o que ela estava falando no estágio em que o Alzheimer se
encontrava.
– Lisa não quis voltar? Então é isso? Ela ficou com Luhan e deixou a pessoa
que amava? – a voz falha da senhora perguntou.
Ela estava um pouco debilitada por conta da idade e dos tratamentos e Sarah
decidira tirar férias do trabalho, ela era neurocirurgiã, para cuidar da mãe
doente enquanto sua outra mãe voltava de viagem.
Sarah virou a página e se deparou com a data do dia seguinte ao ocorrido,
sentiu certo alivio por saber que a história ainda continuava e sorriu
docemente para a mãe.
– Dia 04 de Dezembro de 2023, já eram quase dois dias sem falar com Lisa...
Dia 3.
Eu estava entrando em desespero sem conseguir contato com Lisa. Ela não
atendia minhas ligações, Jisoo e Jennie nada podiam fazer para forçá-lla a
falar comigo.
Em que mundo vivíamos para sermos tratadas daquela forma? Por que o ser
humano precisa ser tão ruim quando tudo o que o mundo precisa é de amor
para ser curado?
Era como se sentar ali todos os dias ao pôr-do-sol lhe trouxesse esperança de
que meu pai voltaria.
Eu queria poder ter a mesma esperança. Eu não contei a ela o ocorrido, mas
eu sabia que ela podia ler em meus olhos que nada estava bem. Ela sempre
podia.
***
É incrível como as coisas podem mudar tanto e ao mesmo tempo quase nada,
mas no final das contas você percebe que quem realmente mudou foi você.
Eu não queria estar ali, não para ser atormentada pelas lembranças que
rodeiam cada canto daquele lugar. Como a casa da árvore, agora com boa
parte destruída, que Chaeyoung e eu ajudamos Mark a construir para Ella. A
varanda em que Chaeyoung e eu passamos nosso primeiro natal como um
casal. Droga, eu ainda podia nos visualizar deitadas no gramado observando o
céu enquanto caminhava até a varanda.
Ás vezes eu queria apenas não sentir. Como o terror que percorreu todo o meu
corpo quando fomos atacadas pelo grupo de homens, aquele dia nunca sairá
de minha memória. Ethan chorou quase a noite toda assustado e pedindo pela
presença de Luhan para que nos protegesse.
Eu me pergunto o que teria sido de nós se aquele bom homem não tivesse
aparecido. Chaeyoung teria se sacrificado por nós. Eu me isolei com Ethan na
casa de Jennie até criar coragem para estar aqui. Eu precisava ver Diana e
Ella, eu precisava do perdão daquela parte do meu passado para seguir em
frente.
O problema do destino é que ele é uma merda. Pois não adianta se esconder,
ele sempre vai te encontrar.
– Boa tarde, Lisa. – a mulher me cumprimentou e meu corpo todo se
arrepiou. Ela estava tão mais velha e diferente. A expressão suave e alegre que
costumava tomar sua face fora substituída por solidão e olheiras arroxeadas.
– Eu estava me perguntando quando você viria me visitar.
Ela sorriu levemente e eu juntei minhas mãos na frente do corpo sem saber
direito o que dizer.
– Eu estive muito ocupada nos últimos dias, perdão pela minha falta de
senso, senhora. – eu disse educadamente e a vi me olhar por cima dos óculos.
– Desculpe, Diana. – me corrigi e ela sorriu mais uma vez.
– Você está tão mudada... Tornou–se uma mulher madura e bonita. – ela
continuou e eu me senti corar. – Soube que agora tem um garotinho...
– Oh, sim. Seu nome é Ethan e ele tem 4 anos... – falei orgulhosamente e
Diana pendeu a cabeça me observando atentamente. – Eu sei o que está
pensando, eu sou uma egocêntrica por usar o nome que Chaeyoung queria...
– Ela ama muito vocês dois, sabe? – a mulher me cortou e eu franzi o cenho.
Então ela explicou. – Chaeyoung.
– Oh...
– Você merece ser feliz ao menos uma vez, Lisa. – ela estendeu a mão e eu a
apanhei sentindo a pele calejada de toda uma vida. – Mark vivia dizendo o
quão orgulhoso era de você. – ela sorriu e eu senti meus olhos marejarem. –
Era Lisa pra cá, Lisa pra lá. Ele sabia que você sempre faria a escolha certa
para a nossa menina. Mas, agora você tem um pequeno que depende de você e
isso te assusta ainda mais. – eu ouvia cada palavra em choque me
perguntando como ela podia saber tanto sobre mim. – Eu sou mãe e também
amei, Lisa. Eu sei o que está sentindo, e também sei que fará a escolha certa
outra vez.
Diana levantou e consigo puxou a coberta, mas antes parou de frente a mim e
passou a mão pelo meu rosto.
– Foi muito bom te ver outra vez, minha jovem. – e sem dizer mais nada,
passou por Chaeyoung entrando em casa deixando-nos a sós.
– Porque eu não vim. – falei sem pensar e senti seus olhos pesarem em mim.
– É melhor eu ir, não sei o que dizer agora e não quero estragar as coisas...
Desci as escadas e comecei a caminhar de volta para o carro me arrependendo
amargamente de ter dirigido até aqui.
– Estragar? Lisa, as coisas não podem ficar mais estragadas do que já estão! –
ela exclamou logo atrás de mim e eu continuei andando. – É o que você vai
fazer? Continuar fugindo sempre que aparecer um obstáculo? Porra, por que
você sempre me deixa no final?
– Quantas vezes mais você vai quebrar o meu coração? – ela perguntou e
naquele instante eu senti meu mundo cair por entre minhas mãos.
Chaeyoung estava tão frágil que eu tive impulso de abraçá-la, mas seus braços
me empurraram para trás e eu senti o impacto das minhas costas contra a
porta do carro.
– Você é o meu primeiro amor, Lisa. – ela disse entre dentes e apontou o dedo
para o meu peito. – E eu quero mais do que qualquer coisa que seja o último.
Mas, enquanto você não tomar uma decisão, nós acabamos. – ela abaixou o
dedo e soluçou com as lágrimas. Eu podia ver a Chaeyoung de 18 anos na
minha frente pedindo para ser amada. – Eu vou te esperar daqui a dois dias
no The Village. Esteja lá as dezenove em ponto e me traga sua resposta.
Angel, oh oh oh oh
Knew you were special from the moment
I saw you, I saw you, yeah I said angel, oh oh oh oh
I feel you're closer every time I call you, I call you
Ela estava dando um ponto final ao que nós tínhamos? Ela estava... Deus.
– Alô? – atendi grosseiramente. – Lisa? Pelo amor de Deus, Lisa, onde você
esteve? – era Jennie do outro lado da linha, ela parecia aflita e eu
rapidamente me coloquei em alerta.
Encontrei Momo, Sana, Dahyun, Daniela, Jisoo, Jennie e... Luhan? Sentados
na sala de espera, rapidamente saltei em cima de Jennie e a agarrei pelos
ombros.
– O que houve? Onde está meu filho? Ele está bem? Responde, Jennie! – eu a
chacoalhava e Luhan precisou me tirar de cima dela ou eu a derrubaria.
Said angel, woah oh oh oh
You'll probably never take me back and I know this, yeah
I know this, aw man
I said angel, woah oh oh oh
I'm so desensitized to feeling these emotions, yeah, no emotions baby
Eu precisava vê-lo, precisava ter certeza de que meu bebê estava bem.
– Eu tentei te ligar, mas você não atendia e como Jisoo não estava em casa eu
não pensei duas vezes em ligar para Luhan. Ele nos trouxe até o hospital e os
médicos estão cuidando de Ethan. – Jennie explicou, mas eu não lhes dava
ouvidos, tudo o que eu precisava era ver Ethan.
Um médico saiu do quarto e viu meu estado. Eu ainda estava nos braços de
Luhan e chorava com a respiração descompassada, não me importava com o
mundo lá fora desde que Ethan estivesse bem.
– Ethan está bem, foi apenas um susto. O inchaço no rosto já diminuiu e ele
está respirando normalmente. – me tranquilizou e eu soltei todo o ar que não
sabia que estava segurando desde que cheguei ali. – O garoto vai ficar em
observação só por precaução, mas você pode vê–lo.
– Hey, bebê. – eu chamei sua atenção e ele me olhou ainda triste. – Como
você está? Deu um susto na mamãe.
Eu precisava me fazer de forte por ele, mas por dentro eu queria apenas
chorar e abraçá-lo.
– Uh... Eu o quebrei enquanto minha gaganta doía. – ele disse e uma lágrima
escorreu em meu rosto. – A senhora não estava lá... Por quê?
– Eu estou aqui agora, amor. Não vou sair do seu lado nunca mais, a mamãe
promete.
Ethan virou o corpo completamente até estar com o nariz colado no meu.
– Sim, bebê. Eu prometo, e também prometo comprar outro Rex pra você
assim que sairmos daqui.
****
Dia 4.
Narrador.
Naquela tarde o cemitério local estava quase vazio se não fosse pela mulher de
sobretudo ajoelhada ao lado de um túmulo com os dizeres:
Chaeyoung rezava pela alma de seu pai e pedia por um conselho. Ela sabia
que se ele estivesse vivo lhe acolheria em seus braços e diria que o tempo
mostraria todas as respostas.
***
Ela tinha voltado por insistência do garoto e de Luhan que dizia sentir falta
dos dois, mas Lisa não queria estar ali. Ela queria estar no rancho com uma
suíte que possuía uma estranha parede vermelha de frente para a cama.
Lalisa colocou Ethan em sua cama e voltou para a sala preparando-se para
desfazer as malas.
– Eu sei que você a ama. – Luhan disse logo atrás, mas Lisa não se virou para
encará-lo, ela continuou observando a chuva. – Eu sei disso e também sei que
é algo que não posso mudar. Mas, Lisa, eu posso te dar o que você e Ethan
precisam. Eu nunca faria você chorar e eu sempre cuidaria de vocês dois. – ele
deu uma pausa e a Lisa suspirou. – Eu não vou impedi-la de ir embora se é o
que você quer, apenas saiba que eu posso fazê-la feliz se você me der essa
chance.
Dia 5.
Narrador.
Chaeyoung sentia-se deslocada pela primeira vez naquele lugar que tanto a
agradava, sentia-se vazia e seus olhos não desgrudavam da porta sempre que
a sineta tocava anunciando a chegada de algum cliente.
Flashback.
Lisa parou de andar quando finalmente chegou perto da professora. Ethan
saiu correndo pegar sua mochila e esse foi o momento exato entre as duas
para continuarem conversando por olhares.
Fim do flashback.
– Não é?
– Lisa!
Fim do Flashback.
Ela tinha perdido a conta de quantas vezes chorara naquele dia, mas isso não
fazia diferença, tudo doía, estar longe de Chaeyoung a machucava tanto que
às vezes a dor se tornava insuportável.
Ela se odiava por estar fazendo isso mais uma vez consigo mesma e com a
Chaeyoung. Sabia que qualquer um a odiaria somente por ouvir essa história,
mas só ela sabia como era estar em sua própria cabeça, só ela sabia como era
precisar proteger o filho acima de tudo.
***
– Amar significa deixar seu coração exposto esperando que a outra pessoa o
tome para si e não o machuque.
– Esse é o meu problema, Eli; meu coração sempre é machucado pela mesma
pessoa.
***
Luhan sentou–se a mesa do escritório e abriu a gaveta a procura das fotos que
guardara consigo.
Lisa não sabia, mas ele havia tirado cópias de suas fotos antigas como
Chaeyoung para usar como provas caso necessário, mas agora servia apenas
como tortura.
Olhando para elas agora, ele via o olhar sorridente de Lisa que ele jamais vira
enquanto estavam juntos. Ele não queria Lisa infeliz... Mas, por que é tão
difícil deixá–la ir? O que Chaeyoung tinha que ele não possuía?
Ella queria poderia odiar Lisa por fazer sua irmã sofrer, mas ela não entendia
porque não podia.
– Chegou isso pra você. – ela estendeu uma carta para Chaeyoung.
A senhora virou o rosto para a filha que tinha os olhos marejados. Ela
estendeu a mão e Sarah entendeu que ela queria se levantar, o que era outro
bom sinal, pois ela não saía daquela cama há quase três semanas.
Eu poderia até mesmo me esquecer da música que estava tocando esta tarde
quando uma estranha invadiu o auditório e me aplaudiu reproduzindo falas
do filme Titanic. Mas, eu nunca me esquecerei daqueles olhos castanhos.
______
44
_____
Narrador.
O quarto parecia bem menor do que ele realmente era desde que tudo
começou. Ou como Lisa costumava pensar, desde tudo terminou.
As janelas fechadas, luz apagada e TV ligada no mudo servindo apenas como
fonte de luz para o ambiente, era assim que Lisa se encontrava nos últimos
dias. Depressão? Não. Ela havia se trancado do mundo por vontade própria,
por sentir vergonha de si mesma e de sua covardia com Chaeyoung.
Lalisa sabia que todos a julgavam e mesmo assim decidiu não os confrontar,
ninguém pode entender o que não conhece; ninguém está em sua cabeça
sendo atormentado por demônios da infância.
"Não há céus sem tempestades, nem caminhos sem acidentes. Não tenha
medo da vida, tenha medo de não vivê–la intensamente. Talvez seu maior
medo fosse viver intensamente."
Luhan não tocou mais no assunto, o rapaz sabia que sua relação com Lisa
estava entre um fio e que se mexesse mais poderia perder tudo, ao mesmo
tempo em que ele assistia sua noiva se afundar na infelicidade de se entregar
a outro, seu amor egoísta continuava sendo maior que qualquer auto
sacrifício.
E ele se orgulhava de Lisa e de tudo o que ela fez por Chaeyoung no passado,
algumas vezes se pegava pensando se um dia teria coragem de tal ato.
Por mais que alguns dissessem que sua noiva era uma covarde, ele sabia que
ela era forte. Eles tinham se afastado do escritório para os preparativos finais
do casamento, se é que Lisa ajudava em alguma coisa. Ela apenas dizia sim ou
não para as opções que Luhan lhe dava e dedicava os momentos livres com
Ethan.
A porta do quarto foi aberta com um pouco de violência fazendo Lisa saltar da
cama, ela sabia que não poderia ser Luhan, pois o noivo tinha saído com Sana
e Ethan estava na escola, e ninguém mais sabia o código de acesso do seu
apartamento a não ser Momo.
Lisa conhece Momo desde que se conhece por gente, elas têm sido melhores
amigas e compartilho desde o primeiro aniversário, até segredos como o
primeiro beijo, o primeiro namorado, as loucuras com Jennie que ninguém
além delas três sabiam. Lisa conhecia cada reação dela e cada expressão da
outra, mas naquele dia o que havia em seu rosto ia muito além de raiva ou
mágoa.
Momo fechou a porta e ligou a luz fazendo com que Lisa fechasse os olhos até
que se acostumasse com a claridade.
– Eu sou a sua melhor amiga, Lisa. – disse Momo, sua voz era tão séria que
por um momento Lisa se perguntou se estava sonhando. – Eu vi você crescer
sendo atormentada pelo seu pai, eu assisti você apanhar dele, lembra?
Quando se impunha para defender Paul e Daniela, você não se importava de
levar a culpa desde que seus irmãos saíssem ilesos. – ela continuou e a Lisa
sentiu-se atingida pelas palavras, então a ardência no rosto fora esquecida. –
Eu vi você arquitetar grandes sonhos para a sua vida, mas nunca realmente
realizá-los. Você sonhava em viajar o mundo, o que aconteceu? – ela deu um
passo à frente, sua áurea era pesada fazendo Lisa sentir medo. – O que
aconteceu com a minha melhor amiga?
– Sim, eu sei que você precisou crescer cedo demais. Eu estava lá! Eu vi você
cuidar dos seus irmãos quando sua mãe deveria fazê-lo, mas fazendo isso você
sacrificou a sua infância e adolescência. Lisa, você já percebeu que está
sempre colocando as pessoas em primeiro lugar? – por mais que não
quisesse, as lágrimas já rolavam por sua face, Momo não deveria tocar em seu
ponto fraco, Lisa estava tão cansada que muitas vezes desejou ir dormir e não
acordar mais. Estava cansada, fraca, exausta do peso do mundo em suas
costas. E Momo sabia disso. – Quando vai começar a se por em primeiro lugar
também?
– Eu não queria ser assim, Momo. Eu juro que tentei mudar, deixar Luhan e
ficar com a única pessoa que seria capaz de me fazer feliz. Eu a amo tanto,
tanto, tanto...
Dia 20? O dia do seu casamento? Sim, destino, você é um filho da mãe.
– Eu fico feliz que ela esteja recomeçando a vida dela, quero mais do que
qualquer coisa que Chaeyoung seja feliz.
***
– Que tal uma rapsódia original? – Chaeyoung disse e teve todos os olhares
voltados a ela. Estava cansada da mesmice de sempre e se eles queriam
inovar, teriam sua ideia. – Estamos sempre usando outros compositores, por
que não algo nosso? Vamos dar algo para essas pessoas se lembrarem, algo
que elas não conheçam, mas que gostem quando ouvir.
– O que?
– Sim, eu assistia suas entrevistas na época. Você disse que escreveu uma
rapsódia e que tinha o sonho de apresentá-la como maestrina. – os olhares
correram até Jonathan, o regente, que encarava Chaeyoung com um pequeno
sorriso singelo. – As pessoas não sabem sobre a volta de Chaeyoung para a
filarmônica, podemos usá-la como elemento surpresa quando subir no palco
como maestrina. Eles a amam e sentem sua falta, como não poderia ser um
momento a ser lembrado?
Como uma partida de ping pong, todos viraram a cabeça novamente para
Chaeyoung que tinha a boca entreaberta sem saber o que dizer. Ela estava a
um passo de realizar um de seus sonhos e isso a deixava totalmente
assustada.
– Eu... Eu escrevi ainda na faculdade – ela não sabia o que dizer, sentiu
vontade de chorar, mas se conteve. – acho que posso fazer alguns ajustes e lhe
apresentar até amanhã.
Jonathan sorriu ainda mais e piscou para a Chaeyoung como se dissesse que
estava orgulhoso dela.
– Muito bem, já temos o ato de abertura e o elemento surpresa... – o assunto
continuou, mas Chaeyoung estava perdida entre suas emoções.
Ela estava sendo obrigada a seguir em frente outra vez com a diferença de que
agora ela não se fecharia para o mundo.
Lisa tinha feito a escolha dela, e por mais que a ferisse como agulhas estar
longe de sua Lisa e de Ethan, ela seguiria na direção certa, ou na que ela
achava que era a certa.
Dizem que precisamos errar até conseguir acertar, então era isso que
Chaeyoung faria.
– Veja, esse é o Quinto trítono musical, mudança chave aqui e aumenta com
os oboés... – ela explicava, na sua mente não havia espaço para mais nada.
Lisa abriu a porta do escritório pela insistência de Luhan do outro lado, ela só
não esperava encontrar Charlote Manoban segurando uma bolsa na frente do
corpo e olhando-a esperançosa.
Luhan estava logo atrás da mulher segurando duas malas, ele sorriu para Lisa
e ela soube que tudo era armação do rapaz.
– Não, ele está com Paul em Los Angeles. – a mulher respondeu e analisou o
escritório antes de se voltar para a filha. – Eu o deixei. – Lalisa abriu a boca
em choque e se aproximou da mãe preocupada. – Você deve estar se
perguntando o porquê de eu ter feito isso depois de tantos anos.
Charlote observou a filha. Tão jovem e tão abalada por uma vida injusta, uma
vida que ela poderia ter ajudado a ser melhor se não fosse submissa ao
homem com quem se casou.
– Quando conheci o seu pai eu era apaixonada por outro homem. – Charlote
continuou como se não tivesse sido interrompida. Ela caminhou até um
quadro na parede com um retrato de Lisa segurando um Ethan ainda bebê
nos braços. – Nós éramos muito pobres e sua avó havia acabado de ter outro
filho, seu tio Ben. Eu ainda me lembro da noite em que cheguei em casa após
uma noite maravilhosa com Adrian, meu pai estava na sala com um homem e
um garoto que aparentava ter minha idade. Todos me olharam e algo me dizia
que as coisas mudariam dali em diante. – a mulher suspirou e voltou a
caminhar pelo escritório, Lisa ouvia tudo atentamente. – O homem era o Sr.
Manoban e seu herdeiro. Seu avô entregou minha mão ao garoto arrogante e
marcou o casamento para o mês seguinte. Eu chorei dias e dias por ter que me
separar de Adrian, nós até mesmo decidimos fugir juntos, mas na noite em
que nos encontraríamos próximo ao riacho da fazenda...
Lisa franziu o cenho quando viu Charlote parar de falar e seus olhos se
perderem como se revivesse aquele dia.
– Mas, a senhora disse que amou Marco. – Lisa indagou ao se lembrar das
palavras da mulher na última vez em que esteve em LA.
– Eu fui omissa em muitas coisas, Lalisa. Eu não fui sua mãe quando você
precisou, não me opus quando Marco colocou sua felicidade em jogo e
escondi uma traição. Você é o meu bem mais precioso junto com Paul e
Daniela, eu não posso mais vê-la jogar sua vida no lixo agora que é uma
mulher independente. Ver você nessa linha de fogo, mesmo que de longe, me
deu coragem suficiente para ser uma mulher de verdade também e deixar
Marco.
Charlote estava defendendo o que Lisa sentia por Chaeyoung ou ela bebera
Whisky demais?
– A senhora está...
20 de Dezembro de 2023.
Dia do casamento.
Narrador.
– Você poderia ser um pouco mais amável agora que vai ficar famosa outra
vez. – cruzou os braços e virou o rosto para o vidro.
Ela pensou muitas vezes em levar Ella para morar com ela no rancho, mas
deixar Diana não era uma opção e a mulher não deixaria aquela casa por
nada.
Ao contrário de Chaeyoung que não voltaria a morar naquele lugar para não
ser assombrada pelas memórias de seu pai.
***
Ela não tinha conversado muito com Luhan ao longo da semana e por mais
que amasse o rapaz como seu melhor amigo, não conseguia ao menos fingir
estar feliz por se entregar a ele. E Luhan estava mais calado que o normal,
vivia falando ao telefone e na hora de dormir não puxava assunto como
sempre fazia, eram como dois estranhos vivendo sob o mesmo teto.
Ele assistia aos desenhos da manhã enquanto Lisa o abraçava o mais forte que
podia.
– A tia Chaeyoung não vai mais me dar aula? – a menção da Chaeyoung fez o
corpo de Lisa estremecer. – Agora é outra moça que me ensina piano e eu tô
com saudade dela.
Como mentir para uma criança inocente sobre algo que o envolvia também?
Parecia que aquele sofrimento nunca iria acabar, pois cada vez que olhasse
para Ethan veria Chaeyoung no garoto.
– Seria legal ter a tia Chaeyoung como minha mamãe também. Eu sinto falta
dela e dos abraços de urso que ela me dava. – ele sentou na cama e olhou para
a mãe que não tinha suportado a dor e agora chorava. – Por que a senhoratá
chorando? Sente falta dela também? – Lisa assentiu com a cabeça incapaz de
dizer qualquer coisa. – Eu prometi que ia pedir pra senhora ir morar lá na
casa dela comigo pra gente andar sempre de cavalo, mas eu esqueci e agora
ela foi viajar, né? – ele fez um bico triste e aconchegou–se ao peito da Lisa.
***
O Central Park estava tão cheio quanto Chaeyoung se lembrava nas últimas
vezes em que esteve ali.
Suas mãos suavam e estavam gélidas como no dia do teste, mas agora era
diferente, agora ela estava por conta própria.
Momo, Daniela, Jennie, Jisoo, Sana e Dahyun não puderam estar lá por
serem as madrinhas de Lisa, mas prometeram ir a todos os outros shows e a
Chaeyoung estava grata por isso.
Ter apenas sua mãe e Ella na plateia era o que mais importava. Quando
Daniela buscou Diana, em um favor para Chaeyoung que estaria ocupada se
preparando, a Manoban mais nova parecia sem graça, ela mal trocou palavras
com a Chaeyoung além de boa sorte e que a amava.
Sabe, as pessoas não precisam estar com medo de ela surtar aquela noite caso
o casamento fosse mencionado, Chaeyoung não tinha enlouquecido, na
verdade ela tinha bloqueado todas as suas emoções para estar única e
exclusivamente ali.
Ser aplaudida era um dos grandes prazeres de ser musicista, mesmo que ela
tivesse aceitado o plano de entrar no palco apenas quando fosse apresentar
sua rapsódia para causar mais impacto ao público, mas enquanto assistia,
enquanto via centenas de celulares acesos acompanhando a música e o coro
da plateia acompanhando o coral seu coração acelerava.
Então por que algo em seu coração lhe dizia que ainda faltava algo?
***
– Eu juro que se eu ver algum fotógrafo babaca tirando fotos minhas eu vou
rodar a bolsinha na cara deles. – Momo reclamou enquanto ajustava o vestido
na altura dos seios na salinha de reuniões.
Elas estavam à espera de Daniela que tinha se comprometido em buscar Lisa
também.
Momo tentou avançar contra Sana, mas foi barrada por Jennie.
***
Daniela assistiu Lisa sair pelo saguão do apartamento e sorriu ao ver o que a
irmã vestia.
Era seu sonho ser maestrina ao menos uma vez na vida, e ali estava ela sendo
capaz de mostrar a outros jovens que sempre seria possível realizar sonhos se
não desistissem deles.
A surpresa maior foi ver a grande pianista Park Chaeyoung subir no palco,
mas não dirigir ao piano e sim ao pequeno degrau de regente.
– Isso é por você, pai. – sussurrou ela antes de erguer a batuta e dar inicio ao
espetáculo.
***
(Play musica August Rush, Rhapsody)
Daniela dirigia tranquilamente pela cidade, ainda faltava meia hora para o
casamento, mas quem se importava, não é mesmo?
Não quando sua irmã roía as unhas no banco do passageiro nervosa para o
que estava por vir.
Ela amava Lisa. Via na irmã mais velha um espelho e uma inspiração, nunca
se esqueceria das vezes em que viu a irmã sofrer em seu lugar para protegê-
la.
***
Com a igreja cheia e o Padre em seu lugar, todos esperavam pela entrada do
noivo que estava prestes a acontecer a qualquer momento.
– Valeu, Percy. – Momo tocou em seu ombro e jogou o buque que segurava
longe. – Agora eu vou correr porque essa novela eu não perco.
Jennie pegou o pequeno Ethan nos braços e saiu correndo com o menino,
junto das outras mulheres, em direção ao único lugar em que Lisa poderia
estar.
Sana foi à única que ficou para observar os convidados esvaziarem a igreja
com Luhan que tinha sentado no degrau do altar.
O carro mal estacionou e Lisa já saltou para fora ajustando sua jaqueta no
corpo.
O Central Park estava tão cheio, mas Lisa podia ouvir que o espetáculo já
tinha começado. Ela esperou por Daniela que saiu do carro tirando os saltos e
as duas deram as mãos para se embrenhar no meio da multidão.
***
Chaeyoung conduzia sua rapsódia com paixão e amor, tudo o que ela sempre
deu para a música.
Ouvir ao vivo sua própria composição era de tirar o fôlego, tanto que ela
desejou que duas das pessoas que ela mais amava no mundo estivessem ali.
De certa forma, Mark estava com ela, ele sempre estaria, mas Lisa neste exato
momento estaria dizendo o seu sim, o sim que apagaria o passado perfeito
que tiveram juntas.
***
As pessoas não queriam abrir caminho, eram tantas que chegava a ser
sufocante.
Lalisa precisou empurrar algumas delas e arrastar Daniela para que fizesse o
mesmo ou se perderiam uma da outra no meio de tanta gente. Conforme se
aproximavam, o som ficava mais nítido e o coração da Lisa acelerava mais.
– Lisa! – Daniela puxou seu braço quando finalmente chegaram à frente do
palco e tiveram visão do que estava acontecendo. – É Chaeyoung.
Ela apontou para o palco e Lisa abriu a boca quando viu sua menina
comandando uma filarmônica.
De todas as vezes que ela teve vontade de chorar apenas por ver Chaeyoung,
aquela foi a primeira em que realmente se permitiu.
***
Algo a incomodava, algo lhe dizia que o quebra cabeça estava se movendo
mais uma vez enquanto seu corpo e sua alma eram dominados pelo final da
harmonia.
E então Chaeyoung abriu os olhos, e mesmo que aquele não fosse o momento
para as palmas, ela ouviu.
Ao longe e fraco por conta da distancia do palco para a plateia, mas ela ouviu.
E uma lágrima escorreu em seu rosto.
Chaeyoung se virou.
E, no meio de tantas pessoas curiosas que assistiam em silêncio a finalização
de sua música, estava uma mulher de olhos castanhos. E ela a aplaudia.
***
– Pare com isso, estamos passando vergonha! – Daniela bateu em seu braço
obrigando-a a parar.
Lisa não desviou os olhos dos de Chaeyoung, mas sentiu seu coração se
apertar quando viu que, ao finalizar a música, a Chaeyoung correu do palco.
Lisa havia perdido Daniela de vista e agora não sabia como falar com
Chaeyoung.
Ela precisava encontrar a Chaeyoung, ela precisava dizer tudo antes que fosse
tarde demais.
Seu celular vibrou e a Lisa viu que era uma mensagem de sua irmã:
Daniela: Sua retardada, onde pensa que está?
Flashback
Fim do Flashback.
***
Chaeyoung abriu a porta do club em prantos. Sua noite estava sendo perfeita
até aquela maldita com os olhos castanhos mais lindos do mundo estragar
tudo.
Por que ela tinha que fazer isso? Por que ela não estava na droga daquele
casamento aceitando ser de Luhan?
Lalisa sempre atormentaria seu coração, era como se fosse uma sina, como se
ela tivesse nascido para ter o coração quebrado por Lisa de novo, de novo e de
novo...
– Por que eu tenho a impressão de que vocês usam este lugar como refugio
uma da outra? –
Eli parou bem a frente da mesa em que Chaeyoung havia ocupado. Ele
segurava uma xícara de cappuccino para a Chaeyoung sem ela ter feito o
pedido. Ele apenas sabia.
Apesar de cheio, dessa vez o The Village não era desconfortável para
Chaeyoung, quando ela se prendia no próprio mundo o que havia ao redor se
tornava um nada.
– Talvez isso não seja uma escolha dela, querida. – Eli piscou e saiu para
atender outras mesas.
Chaeyoung não entendeu o que ele quis dizer, mas não quis pensar sobre o
assunto. Sentia-se envergonhada por ter deixado tudo daquela forma, mas o
susto que levou, o choque que percorreu seu corpo foi maior e a trouxe para o
único lugar que a refugiaria do mundo lá fora.
Então ela deu inicio a melodia e todos pararam de falar para ouvir.
– If it takes forever I will wait for you for a thousand summers I will wait for
you, till you're back beside me, till I'm holding you, till I hear you sigh here in
my arms. – Lisa não tinha olhos para mais nada que não fosse uma
Chaeyoung banhada em lágrimas a poucos metros. Sua voz estava ofegante
pela rapidez que dirigiu e por correr até o palco e pedir para tocar, mas tudo
valia a pena se ela estivesse lutando por Chaeyoung. – Anywhere you wander,
anywhere you go every day remember how I love you so in your heart believe
what in my heart I know that forevermore I'll wait for you... The clock will tick
away the hours one by one, then the time will come when all the waiting's
done, the time when you return and find me here and run straight to my
waiting arms.... if it takes forever I will wait for you
for a thousand summers I will wait for you
till you're here beside me, till I'm touching you
and forevermore sharing your love...– finalizou recebendo aplausos das
pessoas e um olhar indignado de Chaeyoung. – Eu amo você, Chaeyoung. –
falou ainda no microfone, e quando levantou e deixou o violão com um dos
musicistas, viu Chaeyoung levantar para sair do Club.
Ela viu Chaeyoung correr com as mãos ainda cobrindo o rosto e as lágrimas e
não hesitou em correr atrás, pedindo para que ela parasse, buscando coragem
em seu íntimo para fazer o certo dessa vez.
Chaeyoung virou e estremeceu ao ter Lisa tão perto, tão real, de repente toda
a raiva que sentia se dissipou.
– Chaeyoung eu errei tantas vezes com você, por favor, me dê mais uma
chance para que eu possa acertar dessa vez. – disse totalmente ofegante. – Eu
deixei Luhan, eu não me casei, eu não sou de outro porque eu sempre serei
sua. Eu sou sua, Chaeyoung. Por favor, seja minha também.
– Eu te odeio tanto, Lisa! Eu chorei noites por você, eu me acabei por te amar
e fui humilhada quando você o escolheu! Você quebrou o meu coração de
todas as formas que ele poderia ser quebrado.
Ouvir aquelas coisas não era fácil, mas a Lisa não esperava menos. Ela sabia
que tinha errado, sabia que tinha sido uma filha da puta com Chaeyoung, mas
não desistiria agora. Nem agora, e nem nunca.
– Eu sei, eu sei... Caramba, como eu sei. – aproximou-se mais ficando a
centímetros da Chaeyoung que abraçava o corpo. – Eu amo você, eu quero
uma família com você. Eu, você e o Ethan, o que acha? Podemos ter a nossa
pequena Sarah também, eu não me importo. Vamos ter quantos filhos você
quiser, é só me dar mais uma chance e eu prometo, Chaeyoung, eu prometo
que vou te fazer a mulher mais feliz do mundo.
– Lisa...
– O que você tem a perder? – Lisa quase implorou com a voz pidona.
Chaeyoung segurou o rosto de Lisa com as duas mãos e encostou suas testas.
Sarah era a única pessoa que Chaeyoung ainda reconhecia, ela não se
lembrava de mais ninguém, poucas vezes eram seus surtos de lembrança, mas
cada dia que passava suas memórias morriam aos poucos e chegaria um dia
em que nem mesmo de sua filha ela se lembraria.
– Espero que não esteja lendo pornografia para a mamãe. – aquela voz tão
conhecida soou pelo quarto e Sarah sorriu deixando o diário de lado.
O rapaz que usava um terno preto, barba rala, cabelos curtos entrou no quarto
acompanhado de uma mulher que aparentava ter a mesma idade de
Chaeyoung. Ela usava uma roupa social e tinha olhos castanhos claro e
intensos.
– E eu espero que isso seja amor entre vocês dois. – a mulher brincou e
deixou a mala que carregava no canto do quarto. Sarah pulou para
cumprimentar a outra mãe que a abraçou fortemente. – Como você está, meu
amor?
– Bem, eu tenho cuidado da mamãe desde que vocês viajaram. Ontem ela se
lembrou de algumas coisas.
– Sério? – indagou Lisa surpresa e correu os olhos até Chaeyoung que a
olhava confusa. – Deixe–me ficar um pouco a sós com ela, ok?
– Sou sua nova enfermeira, Sarah me contratou para deixar a senhora feliz. –
brincou e a Chaeyoung pareceu relaxar. Lisa olhou para o diário na cabeceira
da cama e sorriu ainda mais. – Uhn, ela estava lendo a história de Lalisa e
Chaeyoung? É um belo romance.
Ela não era uma pessoa nervosa com estranhos, os médicos disseram apenas
para não forçar sua memória dizendo que ela conhecia tal pessoa e que
deveria se lembrar.
Então sempre que Chaeyoung se esquecia, Lisa fingia ser alguém para estar
próxima a ela.
– Oh, sim. É uma história famosa, as pessoas hoje em dia se inspiram muito
no amor que elas viveram.
Chaeyoung ficou pensativa na cama e Lisa notou isso. Lalisa se dirigiu até a
TV e a ligou procurando alguma coisa.
– Eu gostaria de ter tido um amor assim. – a voz de Chaeyoung quebrou o
silêncio e Lisa sorriu para si mesma.
– Quem sabe você não teve? – ela disse e quando finalmente encontrou o que
queria, deixou a música tocar e se dirigiu até a Chaeyoung. – Sabe, dizem que
vivemos muitas vidas. Você pode ter encontrado um amor assim em muitas
delas.
– Você acha?
– É, eu acho que costumava. – ela disse e levantou sendo guiada com cuidado
por Lisa até o meio do quarto.
Chaeyoung apoiou-se no ombro de Lisa passando seus braços por seu pescoço
enquanto a advogada a abraçava pela cintura.
A dança era muito lenta para acompanhar o ritmo de Chaeyoung, mas
nenhuma das duas se importava no momento.
Era estranho olhar para as órbitas castanhas da enfermeira, algo nelas lhe
trazia paz e confiança, assim como eram tão familiares.
– E o que aconteceu?
Chaeyoung não sabia, mas ela sentia saudade daquela mulher sem nem ao
menos conhecê-la.
– Para sempre.
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– O que você tem a perder? – Lisa quase implorou com a voz pidona.
Chaeyoung segurou o rosto de Lisa com as duas mãos e encostou suas testas.
Tudo era sobre duas mulheres paradas na calçada inertes do mundo em que
habitavam, procurando nos olhos uma da outra a moradia que sempre
encontravam quando estavam juntas. Era sobre como Chaeyoung ainda
processava de boca entreaberta o pedido que acabara de receber.
– O que você disse? – o vapor que saiu de sua boca bateu contra os lábios
secos, pelo frio, de Lisa.
E antes que se dessem conta, estavam mais uma vez se beijando sem se
importarem com o local.
Nada importava naquele momento, elas estavam noivas. Elas estavam juntas.
Elas eram apenas uma.
***
Elas precisavam decidir o que fazer a partir de agora, e nada mais justo que
voltar ao apartamento de Lisa e avisar aos demais sobre o ocorrido dessa
noite, elas sabiam que todos, principalmente Momo e Sana, estariam
arrancando os cabelos sem noticias delas.
E ainda havia Ethan, o menino inocente que não fazia ideia do que estava
acontecendo a sua volta, e novamente, só de pensar no garoto o coração de
Chaeyoung aqueceu como um bom copo de chocolate quente em uma manhã
de nevasca. Ela finalmente entraria na vida de Ethan como sua mãe, e
naquela noite ela não tinha ganho apenas sua Lisa. Ela tinha uma família
agora.
"PARK CHAEYOUNG! Onde você pensa que está? Se vocês não aparecerem
aqui agora, eu juro que a última coisa que você vai ver na sua vida será a
perseguida de Lisa, porque eu mesma terei o prazer de costurar, ouviu bem?
Eu sou cardíaca, querida, não posso ficar nervosa assim, acha que eu
mereço ficar curiosa? – Momo praticamente gritava. Pode–se ouvir um
barulho estranho do outro lado da linha. – Solte meu celular, Minatosaki.
Eu ainda não acabei de dizer o quanto eu as amo..." – e a ligação foi
encerrada.
– Sei muito bem o que está se passando nessa cabecinha de vento. – a voz de
Lisa fez o sorriso da Chaeyoung aumentar. O elevador subia lentamente pelos
andares deixando aquele pequeno momento reservado apenas para as duas. –
A primeira vez que foi ativa comigo.
O sorriso de Chaeyoung morreu e ela lançou um olhar mortal para Lisa que
não poupou uma gargalhada. Ela realmente não sabia brincar com fogo, não
horas depois de terem reatado.
Chaeyoung girou o corpo ficando de frente para a Lisa e deu três passos até
ela prensando-a novamente na parede de metal com o corpo.
Ela tinha se esquecido de como Chaeyoung poderia ser uma boa provocadora.
Lisa apareceu logo atrás comovida com a cena. Todas estavam agora reunidas
em torno da Chaeyoung assistindo as lágrimas escorrer em seu rosto
enquanto uma mão abraçava o corpinho de Ethan e a outra afagava os
cabelos.
Dizem que nos apaixonamos apenas uma vez na vida, mas Chaeyoung poderia
afirmar que todos estavam errados, é possível apaixonar-se pela pessoa com
quem você escolhe dividir o resto de sua vida e pelo milagre gerado desse
amor. Chaeyoung nunca se sentiu tão sortuda.
– Eu voltei por vocês, pequeno. – Chaeyoung disse com a voz abafada contra
o pescoço do menino. Quando eles se separaram, foi uma grande surpresa ver
os olhos de Ethan lacrimejados. – Eu amo tanto vocês que não poderia ficar
longe, nem de você e nem de sua mãe.
– Mommy? – ele pediu manhoso e todas olharam para a Lisa. – Por favor? Eu
prometo tomar banho sozinho e não chupar mais chupeta se a senhora deixar.
Lisa fez suspense torcendo o nariz e fingindo pensar. Ela estava aproveitando
o momento, há anos não se sentia tão completa e alegre como agora, era
quase como se o seu coração pudesse explodir.
– Tudo bem, nós vamos morar com a Chaeyoung. – beijou a testa de Ethan e
recebeu outro abraço, agora mais forte e eufórico de seu filho que não parava
de comemorar.
Ethan puxou Chaeyoung pelo pescoço unindo assim suas duas mães e não
parava de falar sobre tudo o que fariam juntos.
–... E andar a cavalo, nadar na piscina e... Oh, eu posso ter um cavalo?
Chaeyoung não se limitou em puxar Lisa pela mão para que sentassem no
sofá, mãos entrelaçadas e sorrisos espontâneos.
– Eu esperei tanto por isso, o casal que eu juntei. – Jennie dizia sem parar,
gabando-se por te ajudado no encontro das duas garotas no inicio de tudo. –
Vocês merecem, parabéns.
E após receber o cumprimento de cada uma, e um tapa da cabeça de Momo,
todas estavam sentadas nos sofás e poltronas esperando ansiosamente pela
história.
Lisa sabia que precisava ser a primeira a falar, pois ninguém além de Sana
sabia o que havia se passado com Luhan horas antes do casamento.
– Eu fiquei fora de mim depois que escolhi me casar com Luhan. – explicou, o
silêncio se estabelecendo entre elas. – Era como se eu estivesse entregando
apenas o meu corpo, pois minha alma continua pertencendo à Chaeyoung. –
olhou para Chaeyoung e recebeu um sorriso de conforto. – Eu não sabia que
não seria capaz de fazer isso até ontem, quando acordei com o peso de um
casamento que eu não queria. Não era justo, é loucura recusar o amor. – disse
e seus olhos se perderam na mesinha de centro, lembrando-se do ocorrido do
dia anterior.
Flashback.
O vestido de noiva parecia tão apertado em seu corpo agora, como se não
pertencesse a ela, como se gritasse para que o arrancasse e nunca mais
olhasse para trás.
Já estava atrasada para o cabeleireiro, mas isso não importava mais, ela não
poderia usar um vestido para se casar se não fosse com Chaeyoung. Não seria
real. Não há votos se eles não serão apenas de sua Chaeyoung e o pior de tudo
era se dar conta de tudo isso em cima da hora.
Lisa sentia-se a pior pessoa do mundo tendo machucado seu amor mais uma
vez, os calafrios que percorriam seu corpo só por imaginar seu sim sendo de
outro eram o aviso que ela precisava para cair em si.
Viu a silhueta de Luhan surgir na porta pelo reflexo do espelho e virou-se para
contemplá-lo em seu terno. Ele estava lindo, um homem deslumbrante que
qualquer mulher teria o prazer e a sorte de casar-se.
– Você não vai, não é? – ele perguntou com a voz baixa, quase rouca.
E por mais que sua razão implorasse pelo sim, pela primeira vez Lisa estava
disposta a seguir seus sentimentos.
O silêncio que prosseguiu foi a forma de um dizer ao outro que sentiam muito
pela situação em que estavam.
Lisa o abraçou o mais forte que pode, nunca duvidou do caráter de Luhan e
estava certa.
Sua emoção não podia ser contida naquele momento, era como uma
enxurrada de sentimentos preenchendo seu peito e a deixando sem fôlego.
– Alguém precisa avisar que não haverá mais casamento, eu faço isso. Depois
disso partirei imediatamente para a França. Não – intercalou quando viu a
Lisa protestar. – eu não acho que posso ficar um minuto a mais no mesmo
ambiente que você sem me arrepender do que estou fazendo agora. – os olhos
avermelhados e tristes de Luhan quebraram Lisa por inteira. – Foi um prazer
conhecê-la, Lisa. Obrigado por ter preenchido meu coração por todos esses
anos. – sorriu e beijou a testa da Lisa carinhosamente. – Eu vou indo... Você
tem uma apresentação para assistir.
E sem dizer mais nada, deu as costas com a promessa silenciosa de nunca
mais voltar.
Fim do Flashback.
– Por que eu sinto que elas estão escondendo algo? – comentou Jennie com
um olhar de acusação.
– Eu estou grávida!
O clima era muito tenso, era possível ouvir Ethan brincar no quarto e a perna
de Momo bater impacientemente no sofá.
– Então tá. – disse Jennie batendo as mãos e assustando uma Jisoo estática
ao seu lado. – Nós vamos para casa agora, precisamos processar os
acontecimentos de hoje e nada melhor que um bom sexo para relaxar. –
puxou a esposa pela mão e despediu-se de casa uma, parando em Momo para
abraçá-la mais firmemente. – Amo você. – Momo resmungou e empurrou
Jennie, ela estava corada. – E vocês– apontou para Lisa e Chaeyoung. – Eu
estou tão feliz. Vocês merecem ser feliz.
– Obrigada, Jennie. Nós devemos muito a você. – Lisa abraçou a amiga com
um sorriso no rosto.
Aos poucos, uma a uma foi se despedindo até restar apenas Sana, Lisa e
Chaeyoung na sala.
– Eu criei uma vida aqui. Tenho minha boate que está crescendo, tenho
Dahyun e planos em New York.
– Você pode ficar aqui se quiser. – disse Lisa. – Depois do casamento eu vou
me mudar, você pode ficar no apartamento.
– Parabéns pelo noivado. – Sana, assim como Momo, não era uma pessoa de
muitos abraços. Mas, os poucos que ela se limitava a dar eram os mais
verdadeiros, fortes e puros que alguém poderia ter o privilégio de receber. –
E, Chaeyoung... – olhou para a outra que estava um pouco mais atrás
assistindo a cena. – chute a bunda dela quando for preciso.
– Ah, não. – Sana revirou os olhos. – Eu não mereço ouvir isso em plena
madrugada, façam-me o favor.
Contrariada, Sana saiu resmungando sobre ser dócil uma vez na vida e
receber provocações em troca.
Lisa era seu alvo de adoração, tudo nela se transformava em perfeição. Lalisa
não era dona de um corpo atlético e barriga definida, pelo contrário, ela era
uma mulher normal com um corpo normal que só a deixava ainda mais
perfeita do jeito que ela era e sem e envergonhar disso.
Mas, como sempre, tudo era sobre Lisa e Chaeyoung. Estava escrito.
Lisa era a minha pessoa. E eu a amava com cada partícula que formavam
quem eu sou.
Depois que fui embora do apartamento de Lisa minha vida tomou um rumo
diferente do esperado. Eu liguei para Jonathan e expliquei por cima os
acontecimentos. Ele alegou ter ficado chateado apenas pelo fato de eu não ter
visto a explosão do publico ao término da rapsódia. E, de fato, ele tinha razão.
Na manhã do dia seguinte meu rosto estava em todas as bancas e a CNN fez
questão de transmitir um trecho da apresentação dizendo o quão orgulhosos
eles estavam pelo meu retorno.
Imediatamente marquei uma reunião com a equipe e tomei uma decisão por
mim e pelo meu futuro: Eu não seria mais uma artista solo, já provei desse
trunfo e confesso que não foi a melhor parte da minha vida. É solitário e para
pessoas que estão dispostas a deixar tudo pela música, ao contrário de mim
que tinha prioridades agora que estava noiva.
– Eu amo a sua voz, amo sua forma de ver o mundo, e pela primeira vez tenho
certeza de que estou fazendo a coisa certa.
Lisa tinha esse poder sobre mim, ela sabia como conseguia me afetar e não
poupava esforços para fazê-lo.
Sinto os lábios de Lisa nos meus, e isso me faz parecer que o mundo
desapareceu por alguns instantes.
– Você me ama, você não vive sem mim, sempre foi assim. – falou Lisa dando
tapinhas de leve na cabeça de Sana que riu exageradamente.
– Não brinque com isso, Manoban! – disse ofendida. – Ontem à noite sabe
com o que eu sonhei? Saaaaaabe o que eu sonhei? – Dahyun abafou o riso e
virou o rosto para que ninguém visse sua reação.
Abri a boca, mas não disse nada me perguntando se Sana estava andando
demais com Momo.
– Bom, o problema daquelas fanfics era os autores insistirem que Lisa é ativa,
por favor! – lançou um olhar entediado para a minha Lisa, que retribuiu com
um sorrisinho falso. – Momo costumava ser normal, foi nessa parte que o
sonho ficou estranho. Eu era sempre a garota gostosa. – Dahyun deu um beijo
na bochecha da namorada e olhou para nós com doçura enquanto Momo
fingia vomitar. – Algumas dessas fanfics descrevem o sexo até mesmo melhor
do que é na vida real, mas foi nojento ter que ler sobre vocês duas transando.
– e apontou para nós.
Lisa revirou os olhos e me apertou em seus braços como se pedisse ajuda, mas
Momo ria maleficamente da situação.
– Vocês não deveriam estar se arrumando para a festa, tipo, bem longe daqui?
– perguntou Lisa.
– Nós viemos deixar o presente de Ethan que Luhan mandou pro meu
endereço. – se explicou Momo levantando-se e caminhando pelo jardim. –
Mas, como podem ver, tenho coisas mais importantes para fazer, como
procurar a caixa de cereal que a Park sempre esconde.
E foi assim que deixou nos deixou totalmente confusas acompanhando sua
deixa.
***
Minha mãe e Ella tinham montado uma enorme árvore de natal e organizado
todos os presentes em baixo desta, a decoração estava linda como eu me
recordava ser nos tempos de adolescente. Eu estava tão orgulhosa por ver
minha mãe finalmente aprender a controlar a depressão, sorrir por ter a casa
cheia e ser tão educada com nossos convidados. Ela estava feliz, e isso
também me deixava feliz.
Meu corpo enrijeceu quando senti braços quentes envolverem meu corpo e
me apertarem. Lisa apoiou o queixo em meu ombro e analisou nosso reflexo
no espelho, tão perfeitas, tão certas uma para a outra.
– Nós fizemos tantos planos nesse quarto. – ela sussurrou contra meu ouvido
e eu me senti arrepiar. – O destino sempre nos leva para o mesmo lugar.
Me apertei a ela com mais força, nunca me cansaria de tê-la por perto ou
dizendo coisas como essa.
– Chaeyoung...
Eu invadi sua boca novamente com necessidade, eu sabia que ela também
sentia o mesmo, talvez até mais.
O beijo estava gostoso demais para ser quebrado e meu corpo rígido demais
para ser separado do de Lisa, mas eu precisava de mais, eu precisava ter
aquela mulher, e gemi em senti satisfação quando Lisa pressionou seu quadril
no meu com necessidade, como se não fosse o suficiente.
– Puta que pariu! – xingou Lisa e eu entendia sua frustração. Era engraçado o
fato de Lisa estar louca para ser passiva por mim desde nossa última vez em
que, como sempre, fomos interrompidas por Momo e Sana. – Já vamos!
Empurrei seu corpo com o meu até que ela estivesse prensada contra a
parede. Eu estava perdendo a cabeça com aquela mulher, meu corpo todo
gritava por ela, meu centro pulsava pedindo por alívio, pelo corpo que eu
amava.
Deixei que minha mão livre passeasse por seu abdômen por baixo do casaco
de lã, sentindo sua pele quente como num dia de verão e lisa como seda. Meus
lábios correram até os dela com necessidade, e Lalisa tremeu quando chupei
sua língua com volúpia fazendo de minha boca a moradia de seus gemidos
descontrolados.
Eu não estava mais sendo gentil, não com aquela mulher gemendo tão
gostosamente em minha boca. Lisa agarrou os cabelos em minha nuca com
força e cravou as unhas no meu ombro.
– Não vou descer no seu colo, Lisa, me solte! – exigi e me agarrei em seu
tronco quando ela abriu a porta do quarto e começou a descer comigo pela
escada. – Eu vou morrer, socorro.
A sala ficou em silêncio que nos viu na ponta da escada na posição em que
estávamos. Eu tenho certeza que fiquei mais vermelha que um pimentão e
acabei escondendo meu rosto com as mãos.
– Mommy? – a voz de Ethan fez com que eu virasse o rosto para vê-lo nos
olhando confuso. – O que a senhora está fazendo com a tia Chaeyoung?
– Ooooh, você é muito novo para saber o que elas estavam fazendo. – brincou
Sana,
– É tão bom ver a casa cheia, não é? – ela parecia muito feliz e apontou para
nossa mãe que sorria enquanto conversava com Charlote.
Ela tentava conter um Adam que insistia em querer enfiar o dedo no bolo.
Sorri com a cena, eu a amava demais e nunca me cansaria de dizer isso.
Aquele sorriso era o motivo dos meus batimentos cardíacos se alterarem.
Não foi fácil conseguir reunir todos em volta da mesa, os mais bêbados
precisaram levar uma bronca por isso e Junhoe não parecia nem um pouco
feliz em ver sua esposa xingar Lisa de passiva na frente de todos.
Minha mãe pediu para que eu fizesse o discurso, ela não se sentiria
confortável falando para todos.
– É importante que essa casa esteja cheia, pois todos nós somos uma família,
sabe? Cada pessoa aqui tem sua importância em minha vida, alguns de longa
data, outros que tive o prazer de conhecer esse ano. – suspirei e olhei para
Momo. – Em breve nossa família estará maior, não mesmo, Momo? – Ela riu
descontrolada e recebeu aplausos e os parabéns de todos na sala. – E acho
que algumas pessoas acompanharam minha vida desde o inicio da minha
carreira... Vocês sabem que eu não tive um caminho muito fácil a morte do
meu pai. – me segurei para não chorar, falar dele era como mexer no meu
ponto fraco. – Tudo o que tenho hoje sou eternamente grata à ele e a minha
mãe. E sei que hoje ele está aqui, comemorando o natal ao nosso lado. – sorri
e abracei minha mãe de lado, ela tinha ficado triste então decidi que era a
hora de mudar o rumo do discurso. Olhei para Ethan que estava no colo de
Lisa ao meu lado e sorri. – Esse ano, quando eu pensei que tudo estava
perdido, Deus me mostrou que sempre haverá aquela luzinha ano fim do
túnel. Eu recebi não só uma benção, mas uma enxurrada delas. – sorri mais
ainda pegando o menino em meus braços. – Eu ganhei um filho, – Ethan
ficou envergonhado e tampou o rosto com as mãos, mesmo sem entender
sobre o que eu estava falando. – ganhei uma noiva. Minha mãe está muito
melhor, minha carreira está finalmente no ponto certo e eu tenho os amigos
mais valiosos ao meu lado. – olhei para cada pessoa naquela sala, eles
importavam muito. – Eu quero que isso sirva de lição para cada um, nunca,
jamais, pensem em desistir de algo que amam, no final sempre vai valer a
pena. – ergui minha taça e todos me acompanharam. – Feliz Natal.
A porta da varanda foi aberta novamente e uma Lisa eufórica passou por ela
com Ethan nos braços.
– Aqui está ela. – Lisa disse para Ethan, o menino esticou os bracinhos e
passou para o meu colo. Eu o aninhei em meus braços vendo que estava
sonolento. – Ele não queria dormir sem dizer boa noite para a tia Chaeyoung.
Nós ainda não tínhamos explicado a real situação para Ethan, mas ele sendo o
menino inteligente que sempre foi entenderia quando chegasse a hora. Dei
um beijo no rostinho quente do menino e senti Lisa sentar ao meu lado.
– Nós não vamos abrir os presentes? – ele perguntou com a voz arrastada.
Ain't nothing better
We beat the odds together
I'm glad we didn't listen
Look at what we would be missing
– Feliz Natal, mommy. Amo você. – murmurou. – Amo você, tia Chaeyoung.
Meu coração quase saiu pela boca naquele momento. Foi a última coisa que
Ethan disse antes de cair em um sono profundo em meus braços, então eu
pude olhar manhosa para Lisa e vê-la rir da minha reação.
– Se está assim com ele dizendo que a ama, quero só ver quando chama-la de
mamãe. – ela brincou e meu coração deu outro salto.
– Eu acho que posso ter uma falência cardíaca nesse momento. – comentei. –
Será que alguém notaria se eu começasse a gritar que amo vocês dois?
Lisa olhou para trás observando pela janela a festa dentro de casa e balançou
a cabeça.
– Eles mal notariam se uma de nos desmaiasse.
– Não ouse citar Morro dos ventos uivantes. – ela brincou e eu ri.
Observação do Destino
_________
46
Era a primeira vez que dormíamos juntas, sóbrias e sem problemas nos
aguardando no dia seguinte. Tudo refletia paz quando a aninhei em meu peito
e conversamos por um tempo até sua respiração pesar e suas frases se
tornarem monossilábicas.
Infelizmente, ainda não fora inventada uma máquina do tempo que pudesse
me ajudar a voltar no tempo e consertar as coisas. Ter descoberto a doença de
Mark com antecedência e ter tido tempo para conseguir o dinheiro do
tratamento. O que me restava era viver intensamente os dias que me foram
concedidos ao lado da mulher que eu amava, dessa vez eu estava disposta a
fazer dar certo a definição de "nós".
– Eu acordei e você não estava lá. – ela resmungou com a voz abafada pelo
meu pescoço.
– Você poderia ter voltado a dormir, sabe que eu não fugiria. – concluí
bebericando meu achocolatado.
– Não?
– Não.
– Hm. – passei meu braço em volta do seu corpo e beijei seus cabelos
bagunçados. – Bom dia então, amor.
Como eu poderia explicar que estava apaixonada por ela simplesmente por
estar sentada no sofá com as pernas cruzadas segurando aquela xícara que
emanava vapor?
Ela corou e deixou a xícara em cima da mesinha para logo depois esconder o
rosto atrás das mãos cobertas pela manga do moletom.
– Não faça isso agora, sério. Eu estou parecendo a Amanda Lepore depois da
cirurgia.
Comecei a rir histericamente de sua comparação e puxei suas mãos
descobrindo seu rosto. Chaeyoung fez um bico que eu beijei com prazer e a
puxei para que ficasse em pé quando no mesmo momento começou a tocar
White Paultmas.
Juntei nossos corpos e ela sorriu docemente quando se deu conta de que
estávamos dançando pela sala como costumamos fazer.
Chaeyoung juntou nossas testas e brincou com seus lábios nos meus.
– Eu amo o fato de você ter sido a única pessoa a lembrar noite passada que
eu era vegetariana. – ela riu. – Eu deveria me desculpar com peru por estar
sendo servido em nossa mesa, imagina a família dele...
Chaeyoung não merecia viver no mesmo ambiente que outros seres humanos,
ela era rara e especial demais para isso, mas o máximo que eu poderia fazer
era me certificar de que ela sempre estaria por perto de mim e do meu filho.
– É isso. Vamos contar a ele que você será a mãe dele também, vamos fazer
isso agora.
– Você acha que é uma boa ideia? – ela perguntou enquanto subíamos as
escadas. – Não quero acordá-lo de manhã, ele pode ficar irritado.
Ele virou o corpo dessa vez ficando de costas para mim e Chaeyoung começou
a rir silenciosamente da minha cara de tacho.
– Ok, Lisa. – ela disse com uma voz fingida. – Vamos embora, acho que o
Ethan não quer abrir os presentes...
E antes que ela terminasse a frase, meu filho sentou na cama todo
desengonçado olhando para os lados como se procurasse pelos presentes no
quarto. Eu abri a boca indignada pelo monstrinho interesseiro que estava
criando, mas não pude deixar de sorrir apaixonada por ele.
– Bom dia, meu amor. – dei um beijo em sua testa e o abracei deixando
nossos corpos tombarem na cama. Estiquei meu braço por trás da cabeça de
Ethan chamando por Chaeyoung e ela se deitou do outro lado, nós estávamos
praticamente o esmagando, mas ele era incrivelmente carinhoso e afetuoso. –
A tia Chaeyoung e eu precisamos falar com vocês antes de abrirmos os
presentes.
– Você não está de castigo, Ethan. Sua mãe precisa explicar uma coisa antes
de vocês irem morar comigo, ok? Você promete prestar atenção?
Ethan assentiu e olhou para mim curioso sobre o que eu tinha para dizer, e
incrivelmente naquele momento eu não estava nervosa para tal ato. Respirei
fundo e cruzei os braços encarando os olhos que refletiam os meus.
– Você lembra que a mamãe ia se casar com o tio Luhan e ele seria o seu pai?
– perguntei calma, e mais uma vez Ethan assentiu. Eu tinha inventado no dia
após o casamento que Luhan precisou fazer uma viagem urgente para
justificar sua ausência. – Isso não vai mais acontecer. – falei e vi os olhos de
Ethan crescerem em surpresa. – Você gosta do Shrek, certo? Então me diz
uma coisa, por que a princesa Fiona gostou do Shrek sendo que ele era feio?
– Exato. Sabe quando a mamãe diz que não importa o que a pessoa é por fora,
o importante é o que ela te faz sentir por dentro?
– Sim.
– A mamãe se sente da mesma forma por alguém que não é o tio Luhan.
– Tudo bem? – perguntei preocupada, ela tinha lágrimas nos olhos quando
voltou a se deitar.
E ele sorriu. O sorriso mais lindo que eu já vira em minha vida acompanhado
com o de Chaeyoung.
– Tá brincando? Vai ser o máximo ter duas mães e a tia Chaeyoung vai me
ensinar muitas coisas, não é? – ele olhou esperançoso para Chaeyoung que eu
sabia estar se contendo para não chorar. Ela assentiu. – O meu amigo da
escola, o Josh, ele tem duas mamães também e alguns meninos zombam dele.
– fechou a cara e eu olhei para Chaeyoung preocupada, essa era a parte que
eu temia.
– Eu sinto muito que você tenha que passar por isso também. – afirmei um
pouco triste, mas Ethan segurou meu rosto com as duas mãozinhas.
Uma criança não mede sua felicidade em rótulos imbecis. Uma criança não se
preocupa com o que os outros vão dizer. Uma criança acredita que o amor
pode curar o mundo. Uma criança nunca procura o lado ruim de uma pessoa,
pelo contrário, se você for legal com ela estará automaticamente ingressando
em seu mundo particular.
Era 25 de Dezembro de 2023 e aquele poderia ser o dia mais feliz da minha
vida.
***
Ethan ficou extasiado quando descemos para abrir o presente do Papai Noel
que tinha sido deixado em baixo da árvore de madrugada pelo bom velhinho.
– Então quer dizer que os dois planejaram tudo pelas minhas costas esse
tempo todo, uh? – dei de língua e puxei o embrulho que pela silhueta já dava
para ter uma noção do que era. – O que será que é? – olhei para Ethan que
assistia tudo ansioso. – Puxei o embrulho preto e aos poucos um violão preto
foi sendo revelado.
– Eu sempre soube que você gostava de tocar com Yamaha. Esse é um C70,
perfeito para você. – disse Chaeyoung com os olhos brilhantes.
– Eu amei esse violão, filho. Muito brigada, eu amo muito vocês dois. – falei
sorrindo.
– Lalisa. – seu sorriso morreu e pela sua expressão de choque eu podia chorar
que seu coração estava tão acelerado quanto o meu.
Me aproximei dela e tomei a caixinha de suas mãos. Ethan assistia tudo agora
sentado com as pernas cruzadas, ele tinha total atenção sobre o que acontecia
com suas mães no momento.
– Oh, você tem razão. Eu acho que o Papai Noel confundiu o quarto com a
cozinha. – levantei e corri até a cozinha onde tinha deixado o presente para
que ele não visse. – Será que esse o presente que você pediu?
***
Depois de tomarmos café da manhã e trocar presentes com Ella e Diana,
decidimos que era o momento certo para a diversão. Eu encapotei Ethan com
casacos, duas calças de moletom, gorro e bota e todos foram para fora brincar
na neve. Diana ficou na varanda assistindo enquanto Ella, Chaeyoung, Ethan
e eu brincávamos de guerra na neve.
– Assim não vale, Lisa. – Ella ralhou. – E você não ria, Chaeyoung. – e antes
que a Park mais velha pudesse protestar, levou uma bolada de neve no rosto
deixando-a inteiramente branca.
Desviei o olhar para a varanda onde Diana assistia tudo divertidamente e logo
tive uma ideia. Montei uma bolinha de neve pequena e entreguei para Ethan
apontando para a mulher na varanda, ele rapidamente entendeu meu recado
e correu até ela.
Outra bolinha de neve atingiu o braço da mulher e nós vimos Ella tentar
disfarçar, mas já era tarde.
_________
47
Lalisa foi levada de mim por Sana e Momo com a desculpa de que não
poderíamos nos ver antes do casamento, aquela velha bobeira de má sorte,
como se nós já não tivéssemos tido tudo de pior por muito tempo.
Ethan ficou com Daniela e Adam, e eu fui cuidada pelas minhas madrinhas
Jisoo, Jennie e Dahyun.
– Ok, Chae, você está pálida e já vomitou duas vezes só essa manhã, tem
certeza de que não está grávida?
Olhei incrédula para Jennie que parecia falar muito séria enquanto me
ajudava a entrar naquele vestido.
– Na última vez que chequei Lisa, ela tinha uma vagina. – rebati de mau gosto
e fiquei de frente para o espelho deixando que Dahyun fechasse meu vestido
por trás. – Eu estou nervosa, Jennie. É o meu casamento, tem noção disso?
Eu estou me casando com a mulher que amo.
Olhei pela janela checando se estava tudo certo com o pessoal da montagem
da tenda, eu estava com medo de que algo desse errado até o anoitecer,
qualquer coisa poderia acontecer e eu já estava entrando em desespero. Meu
estômago revirava inquieto criando aquele frio que percorria toda a minha
espinha.
– Coque.
– Momo não para de mandar mensagem xingando, ela disse que Lisa parece
outra louca em desespero. – Dahyun contou rindo e pegou o celular. – Vocês
foram feitas uma para a outra.
***
– Eu acho que vou ter meu filho agora se você continuar andando de um lado
para o outro. – disse Momo de seu canto. – É sério, estou ficando tonta. –
Revirei os olhos para seu comentário e parei pressionando meu estômago
com as duas mãos. – Vocês são tão estranhas, no dia do meu casamento eu
dormi até três horas antes da cerimônia. – continuou Momo e eu olhei para
Sana indicando que a jogaria daquele andar a qualquer momento.
– Momo, você poderia ser amável pelo menos uma vez na sua vida? – Sana
resmungou e eu agradeci mentalmente por isso. – Venha me ajudar com esse
vestido.
Elas usavam novamente o vestido rosa bebê e tenho certeza que a moça da
loja deve ter pensado que eu sou louca por me casar duas vezes em um tão
curto espaço de tempo. Que se dane a moça da loja, estou divagando para
conter o nervosismo que me deixou totalmente inquieta.
– Eu nunca pensei que veria você em um vestido de noiva tão lindo. – ela
disse e eu me senti envergonhada.
– Você é a minha filha, por que está me agradecendo por eu fazer o meu dever
de mãe?
Dei de ombros. Falar sobre família não era um assunto muito fácil para mim
uma vez que fui negligenciada pela minha, principalmente por minha mãe
que sempre foi submissa aos erros do meu pai em relação a mim. Por mais
que eu não quisesse, ainda existia mágoa no meu peito e eu não fazia ideia de
um dia ela se dissiparia.
– Eu estou me casando com uma mulher, mãe. Desde pequena você dizia que
era...
– Seu pai dizia. – ela me corrigiu. – Seu pai sempre disse que era errado, eu
apenas... – Assenti abaixando a cabeça, mas ela segurou meu queixo e o
levantei me fazendo a olhar nos olhos. – Eu amo você, Lisa. Você pode se
casar com homem ou mulher, e eu ainda vou amar você. Eu sou a sua mãe, e
se Chaeyoung a faz feliz, então eu também a amo. – maneou a cabeça e sorriu
tristemente. – Eu nunca vou me perdoar por ter sido omissa ao que seu pai
fez a você e a ela. Ele destruiu algo tão bonito, eu quero pelo menos fazer
parte desse momento tão especial em sua vida.
Fechei os olhos e a abracei o mais forte que pude. Charlote era minha mãe,
não importa o que tinha acontecido, eu tinha prometido a mim mesma que
viveria um dia de cada vez e perdoaria aqueles que merecessem.
Paul foi a paz que eu precisava naquele apartamento, como um bom irmão
que me conhecia, me contou sobre sua vida agora em Chicago. Ele tinha se
tornado um grande engenheiro e estava noivo de uma modelo que não pode
estar presente devido a uma viagem.
Recebi muitos conselhos e nós brincamos um com a cara do outro durante o
tempo em que ficamos enfurnados sem ter o que fazer.
Meia hora antes de sairmos, Sana e Charlote me ajudaram com o véu e Momo
pegou o buquê.
– Espero que você case dessa vez. – Momo disse quando finalmente saímos
do apartamento.
Charlote, Sana foram no carro de Momo enquanto Paul foi o meu motorista
no Mustang.
Eu estava tão nervosa, sentia um show de bateira no meu peito que refletia
nas minhas mãos suadas e frias. Tudo o que eu podia pensar era que em breve
eu seria totalmente, completamente e orgulhosamente de Chaeyoung.
Ouvir isso diretamente de Paul amoleceu meu coração já fraco pelo momento.
Eu o amava intensamente assim como amava Daniela, eles eram minha
família e eu não me arrependo nenhum segundo sequer de todas as vezes que
levei a culpa para protegê-los.
Meu irmão ligou o rádio em uma estação qualquer e eu me permiti observar a
vista de New York. Era um fim de tarde bonito, o céu alaranjado tinha o toque
de romance que Chaeyoung e eu precisávamos.
Paul entrou na estrada de terra que era sinalizada por tochas, meu coração
mal se continha no peito. Quando ele estacionou o carro em frente ao arco do
Rancho com o nome Park, eu soube que tinha chegado o momento.
Era o momento. Assim que desci do carro ouvi os acordes do piano de Jennie.
Eu senti uma imensa vontade de chorar por simplesmente ser uma das
músicas que eu mais amava, e Chaeyoung tinha acertado mais uma vez
quando me pediu para cuidar dessa parte.
Entrelacei meu braço com o de Charlote e nós esperamos até que minhas
madrinha começassem a entrar ficando 3 de cada lado.
Flashback
Chaeyoung virou-se erguendo os olhos para o que parecia ser uma casinha no
terraço, ela não sabia se era de força ou do quê, só sabia que Lisa estava
sentada lá em cima com as pernas balançando e um olhar genuíno.
Fim do Flashback.
Sorri com a lembrança que invadiu minha mente, eu nunca me esqueceria dos
olhos sonhadores de Chaeyoung.
Eu olhei para as meninas que sorriam abertamente para mim, foi a primeira
vez que notei o vestido marcando a pequena barriga de 2 meses de Momo. Ela
estava esplêndida.
Abri a boca procurando por ar, mas não havia mais nada que pudesse aliviar
meu pulmão do que eu estava sentindo no momento em que vi Chaeyoung
entrar pelo arco com Diana.
Sabe, algumas pessoas são bonitas, outras pessoas... Eu não saberia descrever
a beleza de Chaeyoung nem que me fosse dado o dom das palavras.
Ela era minha. Meu tudo, meu motivo procurar no amor a felicidade que o ser
humano tanto busca e muitas vezes não encontra. Eu chorei.
Chorei porque a amava mais do que a mim mesma e isso poderia soar doentio
se não fosse tão certo. Eu chorei porque nem mesmo no final de minha vida
eu me acostumaria com aqueles olhos e o sorriso que tanto me detém. Me
chamem de tola, se quiserem, me chamem do que quiserem desde que eu
esteja ao lado de Chaeyoung. Levem tudo de mim, mas nunca me deixe sem o
amor da minha vida.
Flashback
– Você acha que ele conseguiu? – perguntou com a voz baixa fazendo os pelos
da nuca de Lisa se arrepiarem. – Acha que eles tiveram o final feliz?
– Eu não sei. – sussurrou com o rosto muito próximo do dela. – Eu torço para
que sim.
– Acha que vamos ter o nosso final feliz?
Fim do flashback.
***
Minha intenção era sorrir e acenar para todos os convidados, ser educada
com as pessoas que de depuseram de seu tempo para estar aqui hoje. Mas,
todos os meus planos foram por água abaixo quando eu a vi.
Ela estava linda. Lalisa sempre seria linda, usando moletons ou vestidos.
Minha mãe deu um leve puxão no meu braço me fazendo acordar dos meus
devaneios. Eu beijei sua bochecha e ela se juntou à Charlote no lado direito do
altar.
Meu coração deu um salto quando senti uma mão gélida me segurar pelo
braço e quando me virei, lá estavam os olhos me encarando com amor
escorrendo por eles.
– Você vai estar lá? – brinquei e minha voz saiu totalmente trêmula.
Acho que ela gostou porque sorriu e me puxou para mais perto sussurrando:
O ministro pediu que todos se sentassem e Lisa apertou minha mão, eu sabia
que ela estava tão nervosa quanto eu.
O que ele disse ficou para os convidados ouvir. Eu juro que tentei prestar
atenção, mas Lisa olhava para mim e sorria com os olhos. Eu sabia que ela
estava sendo sapeca e brincando comigo, era quase uma disputa para ver
quem iria rir primeiro e eu com certeza não a deixaria ganhar.
Deus, aquele dia era totalmente sobre amor e corações flutuando ao redor da
minha cabeça. Lisa apertou minha mão com um pouco de força como se
dissesse "Veja, ai vem nosso filho". E eu não poderia estar mais orgulhosa.
Nós duas abaixamos para recebê-lo e o fotógrafo pediu para que tirássemos
uma foto com Lisa e eu beijando as bochechas do menino. Ethan abraçou a
nós duas pelo pescoço e sorriu para o homem enquanto nós o beijávamos.
– Você está lindo, meu príncipe. – eu disse pincelando o nariz dele com o
dedo e ele corou.
– Amo vocês. – ele sussurrou para que apenas nós duas ouvíssemos e
entregou as alianças para Lisa.
A música terminou e todos voltaram a sentar. O ministro pediu para que
fizéssemos nossos votos e eu achei melhor começar por estar mais nervosa
que Lisa, e ela entendeu isso sem que eu precisasse proferir em palavrar.
– Eu, Park Chaeyoung, entrego hoje o que sempre foi seu, Lisa. Você pula, eu
pulo, lembra? Hoje nós estamos pulando juntas na imensidão confusa que é a
vida, mas eu sei que se você estiver ao meu lado, tudo vai se tornar mais fácil
como sempre foi. Eu quero ouvi-la tocar violão todas as noites, quero mimá-la
quando chegar estressada do trabalho, quero fazê-la sentir-se a mulher mais
amada e desejada do mundo. – suspirei totalmente entregue ao momento,
entregue aos olhos que eu amava. – Eu já experimentei uma vida sem você e
foram os piores dias da minha vida. Você me encontrou naquela sala por um
motivo, talvez esse motivo fosse o destino brincando de conto de fadas e
decidindo agora nos dar um final feliz. Eu prometo amá-la e respeitá-la todos
os dias de minha vida até que a morte nos separe. Prometo nunca me
esquecer dos dias mais felizes de minha vida que você me proporcionou, e
caso isso aconteça, sei que você estará me guiando sempre de volta para o
nosso amor. Eu amo você. – terminei encaixando a aliança em seu dedo.
O homem nem bem terminou de falar e Lisa já me puxou com força contra si
colando nossos lábios em um beijo roubado.
– Finalmente, Srta. Manoban. – disse Lisa segurando meu rosto com as duas
mãos. – Você é minha oficialmente.
I give my hand to you with all my heart
I can't wait to live my life with you, I can't wait to start
You and I will never be apart
My dreams came true because of you
***
Vários casais se juntaram na pista de dança após minha primeira dança com
Lisa ao som de Love Me Tender, que foi escolha de Lisa.
Nos braços de Lisa, dançando uma música que dizia tudo sobre nós, eu sorri
vendo Jennie enchendo o rosto de Jisoo de beijos. Dahyun com os braços em
volta do pescoço de Sana lhe dando uma bronca e rindo ao mesmo tempo.
– Eu queria testar uma coisa.– ela riu me abraçando com tanta força que
meus pés saíram do chão. – Vamos adotar um cãozinho, ok? E chama–lo de...
– Rex! – eu disse ao mesmo tempo em que ela e nós começamos a rir. – Por
falar nisso, onde está nosso pequeno Rex?
– Você roubou frango antes da hora? – ralhei, mas ela apenas me lançou um
olhar mortal e apontou o frango ameaçadoramente para mim.
– Eu estou com uma coisa devoradora aqui dentro que está comendo até as
minhas tripas, então se eu quiser comer até você eu como. – fechou a cara e
mordeu o frango sem nenhuma classe.
Junhoe chegou logo depois chamando Dave para tomarem um drink ou ele
ficaria louco com a esposa. Daniela se despediu do marido e segurou minha
mão analisando a aliança.
– Ela é tão linda apaixonada, eu acho que me casaria com ela. – disse coma às
lágrimas rolando em sua face. Até mesmo Ethan e Adam olhavam para ela
como se fosse louca. – Meus hormônios estão me matando, eu preciso dançar.
Sana assustou de inicio, mas logo puxou Momo para que se juntasse a ela e
Dahyun na dança.
– Lisa... – ela chamou e Lisa a olhou. – Já viu o tamanho da minha mão caso
a machuque, certo?
***
Narrador
A noite era contemplada por um céu estralado e a tão fiel lua que tinha se
transformado na testemunha do amor das duas. A felicidade era o tema da
festa que ocorria na tenda atrás do rancho Park. As pessoas dançavam sem se
importar com o amanhã, mexiam seus corpos como se ninguém estivesse
vendo.
Diana estava feliz dançando com Charlote. Ella se divertia com seus primos.
As crianças corriam em volta dos adultos brincando e Lisa e Chaeyoung eram
o centro das atenções na pista de dança.
Elas formaram uma rodinha com Jennie, Jisoo, Momo, Sana, Dahyun e
Daniela, dançavam umas com as outras como se tivessem 18 anos conhecendo
a vida na faculdade.
– Como nos velhos tempos. – Jennie gritou para Lisa e ela entendeu o recado.
– Esses são tempos novos, Jennie. Vão ser os melhores de nossas vidas,
escreva o que estou dizendo.
Seu trabalho com Chaeyoung e Lisa tinha terminado por ali, então agora ele
poderia voltar para o lugar celestial onde decidiria o caminho de outras
pessoas.
_________
48
Laura, a enfermeira mais nova, informou que Chaeyoung estava sedada, mas
que em breve acordaria.
No começo todos pensavam que era apenas exaustão dos shows que estava
afetando seu sono, mas então os esquecimentos se agravaram para a música.
Logo em seguida veio a depressão e com ela alguns problemas para dormir e
dificuldade para movimentos bruscos.
Elas tinham uma bela casa, trabalhavam com o que amavam, tinham dois
lindos filhos e uma vida perfeita. O suficiente para ser arruinado pela doença
que afetou não só os quatro membros da família, mas todos os amigos do
casal.
Lisa deixou a própria dor de lado para suportar a de Chaeyoung, foi paciente,
carinhosa e jamais pensou em desistir, nem mesmo quando, em um dos
ataques, Chaeyoung pediu para que ela seguisse sua vida e não perdesse
tempo com uma pessoa que a esqueceria.
Lisa arriscou tudo levando sua esposa para fora do país, mas não poderia
deixar de realizar o sonho dela. A viagem foi cansativa e foi preciso que
Chaeyoung tomasse seus calmantes para dormir no avião, e durante todos os
passeios Lisa empurrava a cadeira de rodas para que ela não se cansasse ou
fazia questão de levá-la no colo em um ato romântico pelas ruas de Paris.
A noticia da aposentadoria e doença de Chaeyoung foi manchete durante
semanas, assim como os vários perfis e contas em redes sociais foram criados
em apoio a pianista e ao que Lisa estava fazendo.
Mesmo sob a desgraça de uma doença, o amor entre elas era o necessário para
manter Chaeyoung sã.
Momo, Ella e Daniela são as únicas permitidas para a visita e as outras três
aparecem quando ela está dormindo.
– Eles deram um sedativo mais forte dessa vez. – deu um beijo no rosto da
mãe e voltou a encarar Chaeyoung em um sono profundo. – Ela perguntou
pela vovó antes de apagar.
Lalisa assentiu.
Ethan tinha se casado aos 36 anos com uma publicitária adorável chamada
Jennifer. A mulher era dois anos mais nova que ele e tinha longos cabelos
loiros, olhos castanhos e um corpo invejável. Jennifer sempre visitava
Chaeyoung e incentivava Lisa a nunca abaixar a cabeça para a doença.
– Eu passei o caso da Sra. Davis para o Harry, ele vai cuidar de tudo.
Ela dizia que éramos duas crianças juntos e que não podia nos deixar
sozinhos que já fazíamos travessuras, mas como eu poderia negar alguma
coisa para Ethan?
Era a minha folga, eu queria passá-la com meu filho e de quebra ainda me
diverti muito no videogame que Sana dera para Ethan.
Ela usava um robe lilás e coçava os olhos de uma forma adorável. Ethan e eu
pausamos o jogo e nos encolhemos no sofá, um olhando para o outro sabendo
que estávamos encrencados.
Menino atentado.
– Hm... – ela continuou caminhando até nós e deu um beijo no topo da
cabeça de cada um, até ver o que estava em cima da mesa. – Lalisa! O que eu
disse sobre refrigerante durante a semana?
– Foi ele quem me persuadiu. – chacoalhei Ethan na frente dela. – Diz que foi
você, garoto.
– Não fui eu, não fui eu, não fui eu... – ele gritava se debatendo nos meus
braços.
Por fim, Chaeyoung cruzou os braços abaixo dos seios e parou em frente à
televisão encarando nós dois. Agora ela parecia a mãe de duas crianças que
fizeram arte e agora mereciam castigo.
– Eu não sei mais o que fazer com os dois. – resmungou e se jogou no sofá ao
lado de Ethan. – A mãe babona está estragando o meu filho com refrigerante
e videogame. Inclusive, não vejo graça nessa coisa que vocês jogam.
Chaeyoung o pegou pelos pés e o arrastou até que estivesse em seu colo. O
ataque de cócegas começou na barriga do garoto que gritava se debatendo em
seus braços, e eu assistia a tudo achando a coisa mais adorável do mundo.
Meu coração estava acelerado com o que eu acabara de ouvir, e minha esposa
mal piscava olhando para o nosso filho que tinha lágrimas nos olhos.
Ethan franziu o cenho como se Chaeyoung fosse uma estranha por lhe fazer
aquela pergunta.
– Eu sou sua mamãe... – ela murmurou. E então olhou para mim com a boca
entreaberta e voltou a olhar Ethan. – Deus, eu sou sua mamãe!
Machucava Lisa que sua amada não reconhecesse mais a voz de Billie
Holiday.
– Você acordou. – sorriu docemente para a esposa e deu um pequeno beijinho
em seu nariz. Chaeyoung franziu o mesmo e abriu os olhos por completo
observando as esmeraldas a sua frente. – Tudo bem, meu anjo?
In my solitude
You haunt me
With dreadful ease
Of days gone by
Mesmo depois de anos, Chaeyoung ainda era um bebê que usava o corpo de
Lisa como travesseiro.
In my solitude
You taunt me
With memories
That never die
– Assim que o médico ter certeza de qual calmante te dar. – deixou sua mão
perder-se nos cabelos de Chaeyoung em um carinho gostoso. – Em breve você
vai estar em casa enchendo o saco de Sarah com as roupas.
– Sim, ela é uma mulher bem sucedida, amor. Nós criamos o nosso bebê
muito bem.
I sit in my chair
And filled with despair
There's no one could be so sad
With gloom everywhere
I sit and I stare
I know that I'll soon go mad
– Uh?
– Estou com medo. – suspirou e deu uma pausa para refletir. – Eu estou
começando a me esquecer de nós, isso me assusta. Eu não quero me esquecer
de você. – uma lágrima escapou de seus olhos e caminhou solitária pelo seu
rosto magro e abatido. – Eu tenho medo de um dia acordar e não reconhecer
os seus olhos.
Lisa prendeu a respiração, não queria chorar naquele momento, precisava ser
forte pelo seu amor.
– Se isso acontecer, eu vou estar lá para te lembrar todos os dias, ok?
– Você promete?
– Eu prometo.
– Ok, ok. Vamos falar sobre sua volta aos palcos, esse realmente foi um
retorno triunfante para uma pessoa tão jovem, não acha?
Matt assentiu, ninguém na platéia ousava dizer nada. Eu, é claro, estava
emocionada com ela contando tão abertamente sobre sua ascensão e queda.
– Eu tinha usado todo meu dinheiro para comprar o rancho em que vivo hoje
em dia, então encontrei um emprego como garçonete nos primeiros meses.
– E as pessoas não te reconheciam?
A plateia fez um coro de "awww". É claro que eles já sabiam toda a história
sobre Chaeyoung, Ethan e eu. Nós decidimos compartilhar com todos tudo o
que enfrentamos para estarmos juntas hoje.
– Algo me diz que tem a ver com aquela mulher sentada na platéia? – disse
Matt divertido e a câmera focou em mim.
– Exatamente. Ela e a pequena réplica sentada em seu colo. – ela riu com
amor e a câmera voltou a focar em seu rosto. – Eu dei aula ao Ethan sem
saber que ele era filho da minha ex-namorada. Incrível, não é? Como o
destino trabalha, ele é imprevisível.
– Foi uma história muito angustiante a que vocês viveram nesse período?
– Ela estava noiva, Matt. – disse Chaeyoung um pouco sem graça. – Quando
nos encontramos novamente foi como se eu ainda tivesse 18 anos e a amasse
ainda mais. O que eu poderia fazer com o amor da minha vida estando noiva?
Foram meses de tortura, eu me sentia suja por lutar por alguém
comprometida, mas ao mesmo tempo era tão certo.
Ethan me olhou curioso enquanto Chaeyoung falava.
– E agora temos mais uma Park a caminho, uh? – disse Matt animado.
– Sim, essa é a Sarah. Uma das três coisas mais valiosas da minha vida.
Quando Chaeyoung foi dispensada, Ethan fez manha pedindo para que
fossemos comer pizza, e Chaeyoung sempre vai ser comprada facilmente com
pizza.
– Apenas faça o que sua mãe está mandando, depois nós conversamos sobre
isso. – disse Chaeyoung mais calma.
Eu fiz questão de segurar a mão de Chaeyoung e caminhar com ela até que
estivéssemos frente a frente com o causador de tudo.
– Depois de tantos anos e você ainda continua sendo uma aberração, Lalisa.
Logo você, depois da educação que eu...
Revirei os olhos, a melhor sensação do mundo era não sentir mais medo
nenhum por aquele homem arrogante a minha frente.
– Essa mulher tem nome e é Chaeyoung. Essa mulher é minha esposa. Essa
mulher é a mãe dos meus filhos. – avancei contra ele que recuou.
Pensei que a veia em seu pescoço fosse explodir quando terminei de falar. Ele
estava vermelho, com as mãos fechadas em punhos e tremia de raiva.
– Você é uma ingrata, você é a pior coisa que eu poderia ter feito.
– Eu sempre vou agradecer ao senhor por tê–la feito, então considere como se
a tivesse dado de presente a mim, ok? O melhor presente do mundo que o
senhor não soube aproveitar. E já está na sua hora.
– Saia daqui. – eu mandei com a voz firme. – Saia da minha casa e não volte
mais, entendeu? Eu não quero nunca mais ver a sua cara, quero que você
suma da minha vida e esqueça que teve quatro filhos. – me aproximei mais
ficando a centímetros de seu rosto e sorri vitoriosa. – Você vai morrer
sozinho, sendo odiado pelas pessoas que você mais afetou durante sua vida.
Enquanto eu? Eu estou vivendo feliz com a pessoa que amo. – ele tinha sido
afetado com minhas palavras, eu sabia disso. Sua expressão caída dizia. – Isso
é um adeus, Marco.
Já era o décimo oitavo dia de fisioterapia de Chaeyoung. Nos últimos dias não
tem sido muito fácil, ela tem se negado a comer e suas crises pioraram, ela
mal tem forças para chorar. Seu corpo debilitado não parava em pé e segundo
o médico, seus ossos podem se atrofiar se ela continuar sem sair da cama.
Eu não sei em que momento isso aconteceu, mas ela já não se lembra mais de
mim há quase 1 ano, e é por isso que eu sempre preciso fingir ser a sua nova
enfermeira para que de alguma forma eu possa me aproximar. Dói. É uma dor
insuportável não ser lembrada pela pessoa que você mais ama no mundo.
Mas, eu prometi a mim mesma que nunca a deixaria e estarei cumprindo essa
promessa até o meu último dia de vida. Ela carrega consigo o meu coração e
por mais que não saiba disso, eu sou a única pessoa que ela não tem atacado
nos últimos dias.
Algumas vezes eu a sinto olhar bem no fundo dos meus olhos como se
pudesse me reconhecer, mas seu cérebro está danificado demais para
processar tal coisa.
– Venha, você consegue. Mantenha sua concentração no que vai fazer agora, é
só elevar a perna direita... – eu dava as instruções para Chaeyoung que se
agarrava nas barras com dificuldade, ela estava com dor.
Eu estava cuidando dela aquela noite e fui acordada por seu choro incessante
no meio da madrugada, ela não tinha forças para se mexer e quando não
reconheceu quem estava deitada com ela na cama, entrou em desespero.
Ela babava e estava suada com os cabelos presos no rosto. Uma enfermeira
entrou e começou a administrar o sedativo no soro, e eu cai sentada no sofá.
Estava tão exausta, tão machucada.
Darling, hold me in your arms the way you did last night
And we'll lie inside for a little while, here oh
I could look into your eyes until the sun comes up
And we're wrapped in light, in life, in love
Ethan cavalgava com o cavalo Rex pelo campo do rancho, o garoto tinha 16
anos e estava no seu auge de paixão pelos animais.
Ele estava apostando corrida com Chaeyoung que montava o filho de Léo, que
havia falecido anos antes, enquanto eu vinha logo atrás em um cavalo pardo
com Sarah o guiando.
– Você já foi mais rápida, mãe. – riu Ethan quando ganhou de Chaeyoung na
competição.
– Já pensou que eu posso tê-lo deixado ganhar? – Chaeyoung rodeou Rex
com Bernard e riu quando Ethan fechou a cara. – Own, não vai cantar vitória
agora?
Put your open lips on mine and slowly let them shut
For they're designed to be together, oh
With your body next to mine our hearts will beat as one
And we're set alight, we're afire in love
Noites de quinta feira eram reservadas para contarmos histórias aqui neste
mesmo lugar, eram basicamente de terror, mas todos estavam abertos para
novas histórias.
– Eu começo, mamãe. – pediu a menina ajustando o pequeno laço branco em
sua cabeça.
– Seus olhos... São meu universo preferido. – ela diz e um pequeno sorriso
triste surge em seus lábios.
– Chaeyoung! Por favor, meu Deus! – a advogada não podia se conter, ficou
em pé e segurou a mão de Chaeyoung com as duas mãos. – Eu amo tanto
você, Chaeng.
– Você... Você foi a melhor coisa que me aconteceu, Lisa. – a frase finalmente
saiu completa. Fraca, mas completa. Elas se olhavam intensamente e
choravam por finalmente se encontrarem outra vez na sanidade de
Chaeyoung. – Eu amo você.
Dizem que quando uma pessoa está em seu leito de morte, sua vida toda
passa bem diante de seus olhos.
Se eu tinha certeza de uma coisa, é que Chaeyoung nunca perderia sua alma
infantil e inocente que enxerga as pequenas coisas da vida. Ela vê esperança
em um pequeno sorriso, ela vê o arco íris depois da tempestade, ela vê a sua
alma antes mesmo que você o perceba.
O cemitério estava cheio naquele dia. Várias pessoas em suas roupas pretas
representando o luto que sentiam ao perder uma pessoa tão querida.
O padre falava alguma coisa, mas poucas pessoas entendiam, todos estavam
perdidos em sua própria dor. A pressão de Jennie caiu significativamente e
ela precisou de uma cadeira para sentar com Jisoo sendo seu apoio. Momo
estava abraçada em Junhoe chorando silenciosamente. Sana usava óculos
escuros e nada dizia, ela apenas encarava o caixão negro como se não
acreditasse no que estava vendo. Daniela estava ao lado de Lisa, que por sua
vez nada dizia, nada fazia, mal de movia. Ethan era o suporte de Sarah, a
mulher que chorava copiosamente ao lado do caixão.
Ela nunca mais daria um de seus sorrisos que iluminavam o dia, nunca mais
contaria suas piadas sem graça, nunca mais seria uma criança feliz ou daria
suas broncas.
E naquele momento, Lalisa odiava Chaeyoung. Odiava por ela ter sido tão
egoísta e ter levado tudo de si com ela, por ter partido e não a levado junto.
Como ela viveria em um mundo sem Chaeyoung? Não existe Chaeyoung sem
Lisa.
Era possível ouvir o choro baixinho de várias pessoas, mas nenhuma delas
poderia sentir a dor que Lisa sentia. Ninguém nunca entenderia o que ela
estava sentindo, era quase uma dor suicida.
Flashback
– Você acha que pode ficar me empurrando como se eu fosse uma boneca ou
algo do tipo? – Lisa fingiu raiva quando se levantou andando com passos
firmes até Chaeyoung que recuou. – Você só se esqueceu de que tudo tem
volta, Park Chaeyoung.
Chaeyoung subiu em cima da cama e se jogou do outro lado, mas foi barrada e
soltou um grito quando seus corpos se chocaram e caíram no chão.
Fim do flashback.
Sua voz embargou devido a dor que não parava de aumentar em seu peito.
Sentiu a mão de Ethan em seu ombro e por um momento sentiu-se protegida,
mas nunca seria o suficiente, não sem o amor de sua vida.
Flashback
– Faça um pedido.
– Faça, Lisa!
– Para sempre?
– 5, 4, 3, 2, 1!
– Para sempre.
Fim do flashback.
A advogada tirou da bolsa um livro velho e surrado que ela conhecia tão bem.
– Para que você possa se lembrar de mim sempre que olhar para cá. Eu te
amo. – murmurou alisando a lápide que continha as inscrições:
***
Vários flashes iluminavam a pequena mesa onde o rapaz coçava a barba mal
feita e sorria timidamente para os fãs.
O livro contava uma história verídica que todos sabiam ser das mães do autor,
e aquela história vinha servindo de incentivo para milhares de pessoas que se
sentiam na pele de Lalisa Manoban aos 19 anos. O livro se chamava The Red
Bow.
"Ninguém sabe. Não de verdade. Talvez ela esteja por ai isolada em algum
lugar fazendo aulas de piano ou viajando o mundo."
O Mustang preto reproduzia You are my sunshine de Johnny Cash enquanto
era guiado pela estrada vazia.
Lisa usava seus óculos escuros e com uma mão segurava um copo de
cappuccino, em seu rosto um pequeno sorriso que costumava carregar sempre
que certas músicas a fazia lembrar-se de certa pessoa.
"Lalisa sempre será uma incógnita até mesmo para mim. Vamos relevar o
fato de que ela virou sua vida de cabeça para baixo apenas para se
encontrar. Você faria o mesmo? Você teria coragem de abandonar tudo se
isso lhe desse 1% de chance de encontrar a felicidade?"
O adeus de Eli.
_______
__________
49
É como se... Como se a sua pele alva dos 19 anos estivesse de volta, sem as
marcas de uma longa vida. Presenciando com seus próprios olhos a mudança
de jovialidade, ela correu em direção ao lago. Seu corpo muito mais disposto e
enérgico, ela poderia pular e correr ao mesmo tempo se quisesse, pois aquela
era a melhor sensação do mundo. Sentir-se leve, sem as dores no corpo que
vinha sentindo nos últimos meses.
Gargoyles standing at the front of your gate trying to tell me to wait but I
can't wait to see you
So I run like a mad to heaven's door
I don't wanna be bad
I won't cheat you no more
O brilho do sol bloqueava sua visão do rosto da pessoa que estava de joelhos
na beira do lago, mas os cabelos longos e tingidos de rosa denunciavam ser
uma garota.
– Hey, você! – chamou ansiosa quando estava perto o suficiente, mas quando
a garota levantou, tudo pareceu fazer sentido.
Lisa queria chorar, mas não haviam lágrimas a serem derramadas. Ela pensou
que seu coração poderia saltar de seu peito, mas o órgão não estava mais ali.
A garota segurou a mão de Lisa que pousava em seu rosto e a entrelaçou com
a sua.
As duas garotas analisaram suas mãos juntas, naquele encaixe perfeito que
elas tanto conheciam, e enfim se olharam.
– Nós estamos juntas agora, Lisa. Sem medo, sem negação, sem nos esconder.
– beijou entre os dedos da amada e a fez passar o braço direito por cima de
seu ombro em um meio abraço. – Você veio até mim como sempre o fez, você
me encontrou.
Lisa assentiu acariciando os cabelos com aquela tintura rosa. Ela estava tão
feliz agora que poderia gritar naquele campo até perder a voz, ela estava
finalmente com a sua Chaeyoung.
Chaeyoung saiu do abraço da Lisa e segurou seu rosto com as duas mãos, o
pequeno sorriso denunciando certa malícia e os olhos transbordando amor.
– Agora nós cuidamos uma da outra até que nossa vez de voltar a terra
chegue. – beijou carinhosamente os lábios macios de Lisa e encostou suas
testas. – E então teremos que nos encontrar outra vez.
– Espero que não seja tão difícil dessa vez. – comentou Lisa em brincadeira.
– Vocês estão me fazendo perder tempo aqui. – a voz de Charlote soou e ela se
aproximou com Diana ao seu lado. – Filha, oi. Eu falo com você depois, estes
dois estão trapaceando na corrida.
Quando Lisa finalmente voltou à realidade, encarou uma Chaeyoung que ria
bobamente da cena.
Aquela não era uma despedida da terra, mas sim a promessa de um até logo.
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50
O dia era chuvoso no lado de fora do rancho. Apesar de três anos terem se
passado, poucas foram as coisas que realmente mudaram no lugar onde tudo
começou, de certa forma.
Havia agora uma piscina de fibra com cerca no fundo da mansão, uma casa na
árvore construída na antiga árvore de Harry e Sarah, próxima ao lago. Havia
um novo cavalo também e seu nome era Rex. Acho que vocês podem imaginar
de quem era o cavalo. O antigo carro de Chaeyoung foi substituído por uma
SUV enquanto o Mustang fora mantido também na garagem. Algumas coisas
simplesmente não precisavam serem mudadas.
A vida de casadas não havia caído na rotina como grande parte dos casais
reclamam após o matrimônio, mas seria mentira dizer que não havia suas
discussões acaloradas onde até mesmo o divórcio chegava a ser mencionado.
Lalisa era uma pessoa difícil de lidar, e Chaeyoung uma mulher sentimental
demais para suportar certos momento. Somando oito e oitenta, elas
descobriram que o amor nem sempre se trata de bons momentos.
Mas havia algo que as trazia de volta à órbita sempre que as coisas saiam do
controle: um pequeno garoto. Além de que, a parede vermelha sempre estaria
lá para lembra–las do porquê de estarem juntas.
Então, é disso que se trata o amor. Reconhecer os próprios erros e ceder até
mesmo quando você estiver certo. Trata–se de escolhas, trata–se de escolher
entre deixar–se levar pelos maus momentos a lembrar–se dos bons. E como
sempre, Chaeyoung e Lisa sempre encontravam equilíbrio uma na outra. É
assim que almas gêmeas são.
Chaeyoung precisava disso agora que havia retornado de uma turnê de duas
semanas em Londres; ela precisava de sua família e um belo dia de descanso.
Quando abriu os olhos, não se conteve em suspirar apaixonadamente com a
primeira visão que teve: Lalisa Manoban dormia serenamente de bruços bem
diante de seus olhos, como um anjo lindo que nunca perderia sua auréola.
É incrível que, mesmo após todos esses anos, juntas e separadas, Chaeyoung
mantinha consciência de que nunca se acostumaria a presença daquela
mulher tão forte ao seu lado.
Lalisa era uma advogada muito requisitada em New York, uma ótima amiga
que sempre fazia questão de manter o círculo de amizade por perto, uma mãe
coruja e uma maravilhosa companheira.
Mas, para Chaeyoung, ela sempre seria todas essas coisas e muito mais. Lisa
sempre seria a garota insegura que temia ao pai e se importava com as
opiniões alheias. Mas ela também sempre seria a garota altruísta que desistiu
do próprio amor pela felicidade da pessoa amada. Muitas pessoas a
chamariam de covarde; Chaeyoung a chama de sua heroína.
Se não fosse pela mulher de olhos castanhos, ela teria desistido de Juilliard e
talvez não tivesse tempo com seu pai. Seu sonho se afundaria, seu coração
seria levado com seu pai, e não restaria nada para ela no final, apenas o que
sobraria de uma Chaeyoung quebrada.
Haveria dor de uma forma ou de outra, e ela fez a escolha dela. E, por mais
que o destino tenha feito com que se cruzassem novamente anos mais tarde,
Chaeyoung sabia que ela também fez a coisa certa ao desistir de tudo pela
segunda vez, pensando na segurança de Ethan. Ela não entendeu isso na
época, mas hoje seus olhos estão abertos, e ela se pergunta se teria coragem
de colocar outras pessoas em primeiro lugar como Lisa costuma fazer.
Afastou uma mecha do cabelo que cobria o rosto sereno. Seu cabelo estava
mais curto agora, e as feições de seu rosto haviam amadurecido durante esses
três anos. Lalisa definitivamente havia se tornado uma mulher completa, em
todos os sentidos.
Lisa usava apenas uma calcinha, tendo seu corpo coberto parcialmente pelo
edredom branco e os cabelos espalhados pelo travesseiro.
Sua respiração era calma como a de quem está tendo um sonho bom,
tranquilo. Os lábios vermelhos levemente partidos e um pequeno chupão
próximo a garganta que, graças a pele de sua mulher, tornava–se ainda mais
evidente à claridade que atravessava a porta de vidro.
Chaeyoung simplesmente adorava acordar antes da Lisa para observa-la
dormir, velando seu sono como uma verdadeira adoradora da arte que ela
era.
O relógio marcava pouco mais de três da tarde, o que indicava que seu sono
havia sido totalmente perdido pela leve cólica que a acordara e não lhe restava
outra alternativa além de preparar um café.
Era rotina o casal intercalar entre quem acordaria às cinco da manhã para
soltar os cavalos e quem levantaria mais tarde para limpar o celeiro e o feno.
E elas gostavam dessa vida. Era um estilo que fugia totalmente do padrão de
um advogado da cidade, mas que agradava Lisa por justamente não ser mais
obrigada a seguir padrões. Acordar cedo, cuidar dos cavalos, levar Ethan para
a escola e Chaeyoung para Juilliard – onde a Chaeyoung era voluntária como
instrutora de música em seu tempo livre –, uma rotina que para muitos se
torna enjoativa, mas que para o casal não passa de amor.
Mas hoje a chuva havia prendido não só os cavalos no celeiro, mas também a
família na casa de madeira.
Ainda grogue de cansaço pela turnê e com o corpo dolorido pelo desempenho
de Lisa noite passada devido à saudade acumulada, Chaeyoung saiu da cama
revelando sua nudez e caminhou até o banheiro para sua higiene.
Depois de um bom banho quente, vestiu uma camisa velha, shorts de algodão
e penteou o cabelo molhado.
Lançou um último olhar para sua esposa que ainda dormia e saiu do quarto
sentindo-se mais disposta, mesmo que a cólica ainda a incomodasse.
Em silêncio, abriu a porta com a plaquinha "Ethan" pendurada e sondou o
quarto iluminado por um abajur, sorrindo ao ver a silhueta magra de seu filho
com um braço pendendo para fora da cama.
Chaeyoung sentou–se na cama com cuidado e deixou que sua mão repousasse
nas costas do garoto, que usava um pijama de dinossauros na cor branco e
verde.
– Ok. Vou preparar cereais e acho que alguém vai ficar sem.
– Mãe!
– O que?
– Você dormiu quase a tarde toda e ainda está reclamando? Hoje é sábado,
dia de passar o dia com a família. – ralhou a Chaeyoung em brincadeira.
– Vem, vamos acordar a sua versão mais velha antes que sua tia Momo
chegue.
– Que porra...?! – uma Lisa assustada olhava para todos os lados, puxando o
edredom para cobrir seu tronco nu.
Chaeyoung fez sinal de positivo ainda no chão, dando à Ethan apenas a visão
de sua mão erguida.
– Não há nada que você já não tenha visto, Ethan. E vocês dois precisam
parar de criar planos mirabolantes para me acordar, na última vez eu quase
joguei Chaeyoung na lareira sem querer.
Chaeyoung gemeu quando aceitou a mão de sua esposa e logo estava de pé,
com um sorrisinho inocente nos lábios e um falso pedido de desculpas no
olhar.
***
O cheiro de café pela casa atraiu uma bela mulher de olhos castanhos até a
cozinha, onde encontrou seu filho ainda de pijama sentado no balcão e sua
esposa preparando cereais e café.
–...mas nos quadrinhos diz que ela matou o Visão, então acho que prefiro os
filmes – contava Ethan, e Lisa teve uma ideia de que seu filho estava
reclamando sobre a verdadeira identidade de sua heroína preferida dos
vingadores.
Lisa até tentou mostrar alguns filmes do mundo Marvel para a Chaeyoung,
mas a mesma sempre acaba dormindo em seus braços para as reclamações de
Ethan.
– Não dê ouvidos ao que sua tia diz, Ethan. Isso é coisa de adulto. – explicou a
Lisa, roubando alguns cereais do prato do garoto. – O que vamos fazer hoje?
A atenção de Chaeyoung foi desviada quando sentiu sua cólica voltar ainda
mais forte, e uma sensação sufocante preencher seu peito, e subir cada vez
mais.
– Eu preciso ir ao banheiro.
E sem dizer mais nada, correu para o andar de cima apertando a barriga como
se fosse conter o que estivesse vindo.
Mas Chaeyoung sabia que precisaria estar preparada para muito mais se os
seus planos estivessem dando certo, e foi pensando neles que correu de volta
até o quarto de casal e revirou sua bolsa atrás da caixa de papel que escondia
de sua esposa.
***
Sendo assim, o resto de tarde foi passado no sofá de casa jogando videogame
com Ethan e sentindo seu estômago roncar devido ao cheiro delicioso de
bolo.
Lisa pensou por uns instantes arqueando uma sobrancelha, então uma luz
estourou atrás de seu cérebro e ela se levantou com o garoto preso ao seu colo
como um coala.
Who loves you de Billie Holiday, começou a ser reproduzida e logo Ethan
entendeu que era o momento de dançar.
Ela adorava mostrar videos de Johnny Cash para o garoto desde que o mesmo
nascera, e Chaeyoung não perdera tempo em apresentar Billie desde que
passaram a morar juntos.
– Dança comigo?
– Park – Completo Lisa, o sorriso alegre enfeitando seus lábios. – Você está
muito misteriosa hoje, não está com uma amante na cozinha, está?
Chaeyoung riu.
– Mamãe, o que quer dizer isso? – a voz de Ethan a fez voltar para a órbita.
– É um presente para a sua mãe, mas eu acho que ela é lerda demais para
notar qualquer coisa – comentou a Chaeyoung, recebendo uma careta de Lisa.
– Aí meu Deus! – finalmente Lisa caiu em si, levando as duas mãos a boca e
arregalando os olhos. Chaeyoung riu da reação de sua esposa, mas as lágrimas
já escorriam pelo seu rosto. – Chaeyoung, isso é real? Você não está
brincando comigo? Eu vou ser mesmo mãe outra vez?
– E não deu. Mas eu mandei congelar alguns óvulos seus sem que você
soubesse, eu queria fazer uma surpresa. – explicou paciente. – Algum tempo
depois eu retornei à clínica e tentei outra vez, e...bem, deu certo.
Levou alguns segundos para que a Lisa piscasse uma dúzia de vezes e saltasse
contra sua esposa, a prendendo num abraço apertado e escondendo o rosto
contra a curva do pescoço.
Mas era quase impossível dizer alguma coisa entre tantas lágrimas e soluços.
Chaeyoung entendia, ela sentia que poderia explodir de felicidade a qualquer
momento se pensasse que estava carregando um filho de Lisa no ventre. Um
filho delas e mais um herdeiro para aquela história de amor.
Chaeyoung desviou os olhos para Ethan que estava mais distraído em cutucar
o chantili do bolo, mas que teve sua atenção presa em Chaeyoung assim que
sentiu os olhos da mãe em si.
– Por mais que eu ainda ache que será um garoto, sim, nós podemos.
Apesar de estarem eufóricas com a notícia, alguém não havia manifestado sua
reação e agora isso preocupava as duas mulheres.
– Filho? – chamou Lisa, atraindo a atenção de Ethan. – Você não está feliz?
– Nós somos uma família, pequeno. Ninguém ama mais que ninguém aqui,
ok?
– E você vai ser o homem da casa quando Sarah chegar. – explicou Lisa.
Chaeyoung revirou os olhos.
– Ou Limario.
– Você não vai chamar nosso filho com esse nome ridículo!
– Vou sim! Sua mãe disse que esse seria o seu nome caso você fosse menino.
E lá vamos nós...
– Você que pensa. – Lisa sorriu vitoriosa. – Mas, de qualquer forma, sei que
será uma menina.
– Você também.
– E eu te odeio!
– É recíproco.
– Idiota!
– Só sua. – riu Lisa, puxando Chaeyoung para um beijo suave.
Logo a campainha tocou tirando o casal de sua bolha. Ethan lambeu os dedos
com chantili e correu até a porta ouvindo os resmungos de Momo.
– Será que dá pra abrirem logo? Eu estou parecendo um pinto molhado aqui
fora!
Ethan abriu a porta com um sorriso enorme e foi surpreendido por uma
Momo realmente encharcada pela chuva lá fora.
– Siiim! Por favor, tia! – pediu Ethan, olhando esperançoso para Momo.
Yane é o alter ego de Momo, mas ele costuma se apresentar apenas quando
Momo está sob efeito de álcool. É uma versão mais engraçada e menos
rabugenta da verdadeira dela.
Lisa riu como se realmente fosse uma piada engraçada, mas Chaeyoung sabia
que ela estava tão feliz que poderia rir de qualquer coisa no momento.
Mais tarde naquele mesmo dia, a chuva ainda batia fortemente contra a
madeira da casa quando todos decidiram se recolher.
Momo se trancou no quarto de hóspedes aos berros com Junhoe para dar a
notícia da gravidez e Chaeyoung e Lisa permitiram que Ethan dormisse com
elas, devido ao medo do garoto de trovões.
Já Lisa não parava de falar sobre como o quarto vago deveria ser decorado e
sobre a compra do enxoval de bebe.
– Eu quero que você preste atenção na letra, como em tantas outras vezes. –
disse a Lisa, para uma Chaeyoung surpresa.
There's a smile, there's a truth in your eyes (Há um sorriso, há uma verdade
em seus olhos)
Ela sabia o que estava falando quando se referia ao sorriso de Chaeyoung. Ele
sempre seria cheio de significados e fases. Ela sempre teria um sorriso para
cada motivo e Lisa conhecia todos eles, assim como também conhecia suas
lágrimas.
Sim, Lisa sabia que amara Chaeyoung assim que colocara seus olhos na sala
naquele dia que nunca mais sairia de sua memória.
Talvez não exista amor à primeira vista, talvez seja apenas elas. Algo que era
para ser, que estava escrito.
It is finally clear to me
(Está finalmente claro pra mim)
You're the home my heart searched for so long (Você é o lar que o meu
coração procurou por muito tempo)
And it is you I have loved all along
(E é você que eu tenho amado o tempo todo)
Lalisa fez uma pausa na música quando sentiu sua garganta fechar. Elas
haviam passado por tantas coisas ao decorrer do tempo que só o pensamento
de não ter tido seu final com Chaeyoung a assustava como o inferno.
And I am filled
(E eu sou preenchido)
– Não seja boba, Lalisa. Ele tem semanas, e nem barriga eu tenho ainda. –
forçou o corpo de Lisa até que Lalisa se deixasse deitar contra ela, o rosto
escondido em seu pescoço. – Foi uma linda canção. Ethan ama essa música.
– Sim, e eu amo você, amo ele e amo a nossa Sarah. – brincou a Lisa,
erguendo o rosto de seu lugar seguro e recebendo um olhar cheio de amor. –
Eu te amo tanto que chega a doer, Chaeyoung. Bem aqui. – apontou para o
coração.
– Chae.
– Hm?
– Você acredita em outras vidas? Acha que podemos nos encontrar em outros
lugares depois que partimos?
– Sempre?
– Sempre.
_____
______
O novo bebê
Mês 2
– Lalisa.
– Lisa!
– O que?
Elas deveriam estar no obstetra há dez minutos se não fosse a repentina líbido
de Chaeyoung puxando uma Lalisa lesada de volta ao banheiro e pedindo,
sem um pingo de pudor, que transasse com ela.
Chaeyoung dava pequenos saltos na pia e seus seios balançavam para o delírio
de Lisa, que amava admirá-los e tê-los em sua boca. Ela tinha tanta sorte.
– Lalisa, você está diminuindo o ritmo e eu não vou sair dessa casa enquanto
não tiver um orgasmo! – grunhiu Chaeyoung, suas mãos se infiltrando nos
cabelos de Lisa e os puxando em deleite.
E Lisa logo voltou a estocar dentro de sua esposa sentindo cada fibra do seu
corpo responder aos toques da mulher abaixo de si. É incrível como uma
pessoa poderia amar tanto a outra a ponto de sentir seu peito explodir de
felicidade até mesmo na hora do sexo, tendo a imagem dos lábios inchados e
cabelos desarrumados de Chaeyoung era o seu delírio e também a sua morte.
Mês 4
Uma de suas colegas de orquestra, Jennifer, caminhou até ela com um sorriso
sapeca nos lábios. A jovem abriu as duas mãos para Chaeyoung lhe
oferecendo – para a surpresa de uma Lalisa na platéia –, um laço vermelho.
Lisa foi parabenizada por diversas pessoas, mas sua atenção estava presa
apenas em Chaeyoung, e sem seu sorriso cúmplice quando deixou a postura
ereta na banqueta e a luz do palco diminuiu. Ela sabia que estava ferrada
assim que os dedos de Chaeyoung deslizaram pelas teclas do piano.
Play na música River Flows in You na versão Cello & Piano Orchestral
A sua garota de dezoito anos conduziu a música com a mesma maestria que
possuída antes mesmo de ser reconhecida, quando apenas Lisa visualizava o
incrível futuro que ela teria quando terminasse a faculdade; quado sua única
platéia se tratava de uma Lisa com os olhos mais intensos que ela já vira na
vida.
Chaeyoung sabia que sim, agora ela entendia o significado da palavra destino.
Tudo estava escrito, tudo sempre estaria escrito.
Mês 6
Mas Chaeyoung era louca e os hormônios a deixavam ainda mais louca. Ela
estava sempre pedindo mais forte e mais fundo, o que fazia a Lisa travar nas
últimas semanas e deixá-la irritada sem um orgasmo.
Dra. Morgan era uma colega de faculdade de Dahyun, noiva de Sana, então
havia certa familiaridade entre as três moças desde que a obstetra ruiva de
olhos verdes costumava acompanhá-las até a boate de Sana.
Lisa fizera questão de fazer uma inspeção na vida da mulher antes de entregar
sua mulher e seu bebê nas mãos da mesma, qualquer amigo de Sana entraria
para a lista de pessoas a desconfiar. Mas a médica era muito profissional e
também bondosa e paciente, como estava sendo agora enquanto esperava que
uma das duas mulheres a sua frente falasse.
Chaeyoung e Lisa trocaram olhares agoniados. Como pedir ajuda sobre sua
vida sexual sem parecer duas idiotas?
– Por acaso, o problema de vocês tem a ver com o sexo? – A pergunta foi
simples e direta, deixando Chaeyoung e Lisa boquiabertas.
– Sana.
Toda a cor do rosto de Chaeyoung sumiu e sua mão procurou a de Lisa como
reflexo.
Agora Chaeyoung sabia que sua esposa buscara explicações com outras
pessoas e estava prestes a chorar.
– Eu não sei mais o que fazer! – Explodiu Lisa, olhando em desespero para
sua esposa chorona e para a Dra. Morgan. – Eu já passei por isso, mas na
época não tinha relações sexuais e não me preocupei em me informar sobre o
assunto, mas agora...e se eu o machucar?
Chaeyoung rolou os olhos e cruzou os braços com um bico enorme nos lábios.
– Ela está me deixando sem sexo há semanas, eu estou quase subindo pelas
paredes! – Grunhiu. Lisa olhou assustada para a mulher – E não me olhe
assim porque você sabe que é verdade! Me desculpe te desapontar, mas seus
dedos não atingem o fundo!
Dra. Morgan pigarreou alto quando viu a boca de Lisa cair em descrença,
aquele assunto estava indo por um caminho muito perigoso.
Chaeyoung olhou com desdém para uma Lisa extremamente vermelha como
se dissesse "eu avisei".
Dra. Morgan decidiu que era hora de intervir antes que alguma guerra fosse
iniciada e pediu para que Chaeyoung se deitasse na cama para a
ultrassonografia.
Elas estavam desde o quarto mês tentando descobrir o sexo do bebê, mas o
feto estava sempre com as pernas cruzadas para a tristeza de suas mamães.
– Por favor, pequena Sarah, seja mesmo a pequena Sarah! – Lisa cruzou os
dedos quando posicionou-se ao lado de Chaeyoung, a mesma apenas riu. –
Ethan também está esperando que seja uma menina, assim ele poderá ser o
homem da casa.
– Assim como eu sou com você. – sorriu Lisa, entrelaçando sua mão com a da
Chaeyoung enquanto a Dra. Morgan passava o gel pelo relevo na barriga de
Chaeyoung.
Era engraçado para a doutora observar aquele casal tão diferente de todos os
outros que passavam pela sua sala todos os dias. Ela conhecia casais sérios,
casais alegres, casais em tensão, e diversos outros, mas Chaeyoung e Lisa
carregavam vários deles com elas. Poderiam estar a ponto de se atacarem,
mas se uma precisasse da outra, logo a tensão seria desfeita e tudo esquecido
para que se cuidassem como peças frágeis de um museu.
– Ethan será o homem da casa, uh? – Ela comentou com uma risada,
trazendo uma explosão de felicidade para Lisa que não se aguentou e levantou
os braços em vitória.
Ele faria uma festa, Chaeyoung sabia disso, ele chamaria toda a família e eles
se reuniriam em volta da fogueira como nos velhos tempos. Pensar em seu pai
trouxe uma pontada em seu coração, mas a felicidade logo a abraçou outra
vez assim que sentiu os lábios de Lisa salpicando beijinhos por todo o seu
rosto.
– Tenha paciência com sua esposa, ela só está tentando proteger você. –
Murmurou a Dra. Morgan para Chaeyoung, enquanto esperavam por Lisa que
fora buscar o carro.
—x—
– Tem outros trezentos bolinhos dentro das sacolas, amor! – Lisa defendeu-se
quando chegou até a Chaeyoung, que fizera questão de bater a porta do carro
com força – Como eu ia imaginar que você choraria por um bolinho?
Chaeyoung nunca seria assim em seu estado normal, mas não estava sendo
assim desde o começo da gravidez, e parece que estava piorando.
Mas, para a Chaeyoung, ver a sua esposa com a bolsa verdes bebê pendurada
no pescoço, algumas sacolas mais pesadas nas mãos e uma expressão caía, foi
o que bastou para destabilizá-la emocionalmente e fazê-la se dar conta da
merda que estava fazendo. Então ela chorou.
– Amor, me perdoa, eu não queria agir como louca – Deitou a cabeça no peito
de sua esposa que tinha uma interrogação enorme na face. – Esses hormônios
estão me matando e eu só queria o bolinho...
– Tudo bem, eu acho que entendo. – Lisa passou um braço pelo corpo de
Chaeyoung e beijou o topo de sua cabeça. – Vamos entrar e eu preparo um
chocolate quente pra você, ok? Sana, Momo e Ethan devem estar andando a
cavalo e nós podemos ter a casa em silêncio pra você descansar.
Mas não era uma música qualquer, e foi o que fez Chaeyoung e Lisa se
entreolharem confusas.
Ao abrir a porta da sala sorrateiramente, não puderam evitar abrir a boca com
a cena que se desenvolvia bem no meio da sala de estar: os móveis foram
afastados de modo que Momo, Sana e Ethan tivessem espaço em frente à TV.
Eles não estavam apenas dançando como no vídeo que era reproduzido na
tela, eles também estavam vestidos de collant, munhequeiras, tornozeleiras e
uma faixa preta na cabeça.
O casal assistiu ao trio que girava, agachava, ficava na ponta dos pés e muitas
vezes também tropeçavam entre si.
Tendo certeza que já vira o bastante, Lisa bateu a porta da sala com força.
– Mommy! – Exclamou Ethan correndo até Lisa e saltando em seu colo que o
pegou com o braço livre. – Tia Momo e tia Sana estou me ensinando a dançar,
o que a senhora achou?
– Eu quase pari esse filho que a Chaeyoung ta levando com esse susto,
Manoban! Poderia avisar que estava chegando.
– Chegar buzinando, você diz? Só assim para que nos ouvissem. – Reclamou
Lalisa.
– Ok, por hoje já chega– Anunciou Chaeyoung erguendo as mãos para que
notassem sua presença. – Ethan, vá trocar de roupa, Sana e Momo... – olhou
confusa para as duas que apenas ergueram as sobrancelhas em expectativa. –
Apenas não coloquem fogo na casa.
Lisa riu da expressão afetada de Momo e deixou Ethan no chão, que correu
escada acima.
– Cuidado por onde anda, bola de basquete – Uma voz resmungou, mas
Chaeyoung não soube dizer de quem se tratava, pois as duas estavam viradas
uma para a outra fingindo mexer em seus celulares.
O chá de bebê estava próximo, e Lisa começara a temer pela vida de sua
esposa perto de duas sociopatas.
Mês 8
Ter uma barriga enorme não estava tendo uma tarefa fácil desde que Sarah
resolvera que tomaria todo o espaço de Chaeyoung, e Chaeyoung ainda
esperava pelo dia em que não precisaria mais andar e sairia rolando pela casa
como era previsto.
E por falar em Sarah, essa garota seria uma verdadeira jogadora de futebol se
continuasse a chutar bolas como chutava Chaeyoung diariamente, sem folga,
mas era algo que Chaeyoung amava e seu amor por aquela coisinha não
parava de aumentar. Ela estava ansiosa para ver o rostinho de sua filha,
imaginava como seria se ela parecesse Lisa como Ethan, seria demais para ela
lidar. Mas outra criança com a característica de Lisa seria perfeita se tirasse
apenas a parte da lerdeza.
– Lisa...não.
–Ok, melhor não mesmo.
Elas ficaram em um silêncio confortável por alguns minutos, Lisa jurando que
poderia ouvir o coração de sua filha, Chaeyoung aproveitando a carícia
gostosa de sua esposa em sua barriga.
– Mamãe está ansiosa para conhecê-la, bebê. – Lalisa imitou uma vez de bebê
que derreteu o coração de Chaeyoung – Nós compramos roupinhas rosa,
amarelo, azul, roxo, vermelho e uma infinidade de cores para que você possa
escolher – Riu e não resistiu em deixar um beijo na barriga nua de sua esposa.
Chaeyoung usava um top preto devido à insistência de suas convidadas que
afirmavam que o chá de bebê deveria ser feito à tradição. – Eu comprei um
berço lindo e sua mãe chata reclamou do preço, mas eu sei que ela vai
esquecer isso quando ver seus olhos, iguais aos dela.
– Ou como os seus.
– Uma vida é mesmo muito curta perto de você, sabe? Eu apenas quero que
nós quatro sejamos a família mais feliz desse mundo.
– E nós somos! – Lisa ergueu o corpo e deitou de lado, inclinando o corpo
para beijar os lábios de Chaeyoung. – Eu amo você e Ethan, amo o meu
trabalho, amo nossos amigos e familiares, e agora você carrega algo meu aí
dentro, algo que eu já amo sem nem mesmo ter visto o rosto. – Riu com a
ironia de sua observação. – Assim como eu amei você.
Lisa abriu a boca para responder, mas foi interrompida por batidas
insistentes na porta.
– Lisa, você tem visita lá em baixo. – Dessa vez era Diana, com uma voz séria
que surpreendeu até mesmo Chaeyoung.
Lisa só não esperava encontrar seu pai, Marco, parado na varanda com óculos
escuros; surpresa maior foi vê-lo, pela primeira vez, desarmado. Sua postura
não era rígida e seu olhar não era prepotente...não, havia algo diferente neles.
– O que você quer aqui? – A voz de Lisa saiu clara, e a Chaeyoung sabia que
aquela era de longe a Lisa do passado.
Marco abriu e fechou a boca optando por não emitir nenhum som. Marco
Manoban estava sem fala diante de Lalisa, algo inédito para a Lisa que já não
se importava.
– Não temos nada para conversar, Marco. Nossa conversa acabou há dez
anos, no seu escritório, quando mandou que eu escolhesse entre Chaeyoung e
a felicidade dela.
Marco ficou pálido com as palavras da filha, mas não rebateu ou ficou furioso
como normalmente ficaria.
– Lalisa, será que você pode me ouvir só mais uma vez? – Era um pedido e
não uma ordem. Lisa engoliu em seco, mas nada respondeu. – Por favor.
Por favor. Uma palavra que nunca saíra da boca daquele homem. Algumas
oxidas realmente mudavam, pensou Lisa, ela só não esperava que fosse tanto.
– Tudo o que tem a me dizer pode ser dito diante de minha esposa, e aqui
mesmo. Eu tenho um chá de bebê para festejar a chegada da minh filha,
portanto não tenho tempo para você.
Pela primeira vez desde que chegara, Marco olhou para Chaeyoung e de
Chaeyoung para sua barriga enorme, arregalando os olhos em seguida.
Sua ansiedade pareceu piorar assim que ele tirou o óculos e começou a mexer
o objeto em suas mãos freneticamente.
Tomada pelo instinto protetor, Chaeyoung puxou o rosto de Lisa com as duas
mãos obrigando-a a encara-la. Ela uniu sua testa a da Lisa transmitindo
calma e sabedoria, pois ela sabia que Lisa também estava tremendo e à beira
de um ataque de pânico.
– Tudo bem...tudo bem. – Acariciou o rosto de sua amada e deixou um beijo
casto nos lábios de Lisa, sem se importar com Marco. – Você não é ele, ouviu?
Você não é ele.
E Lisa entendeu o que ela queria dizer. Lisa não era Marco, ela não guardava
rancor ou maldade em seu coração.
O ar pesou entre as três pessoas, mas o único sozinho ali era Marco, pois Lisa
tinha Chaeyoung e Chaeyoung tinha Lisa.
– Nós estamos indo para o jogo, tio Brian vai comprar sorvete depois pra
gente!
Marco encarou o garoto com curiosidade e tristeza, ele nunca o tinha visto tão
perto e estava reconhecendo os traços Manoban no pequeno.
– Ethan, esse é o seu avô, Marco – disse a Chaeyoung como se não fosse algo
realmente importante.
– Ele é meu pai, filho. – Lisa explicou. – E ele já está de saída, então por que
você não da um abraço nele, sim?
Ethan olhou Marco pendendo a cabeça e estendendo a mão direita, que foi
aceita por Marco.
– Uh, eu volto depois. – Disse Ethan para o avô. Marco separou-se do garoto
e o olhou com o rosto banhado em lágrimas. Ethan enxugou uma lágrima do
rosto do homem e deu palmadinhas em seu ombro. – Eu vou jogar hóquei e
tomar sorvete, eu vou trazer um para o senhor também, tá? E depois nós
podemos andar no Rex, o senhor vai gostar dele. – Marco assentiu pincelando
o dedo indicador na testa de seu neto. – Eu tenho que ir agora, até mais,
vovô.
O garoto deixou um beijo na ar para uma Chaeyoung chorona e uma Lisa que
segurava-se ao máximo para manter-se firme.
—x—
– Muito bem! Agora a parte mais esperada pelo público, senhoras e senhores!
– Exclamou Momo em alto e bom som para que todas as mulheres ouvissem.
Haviam algumas cadeiras no gramado e Chaeyoung estava sentada em uma
delas, usando apenas top, e os olhos vendados. – Chaeyoung vai pagar
prendas!
Chaeyoung tinha um bico nos lábios em aflição pelo que viria com aquelas
loucas.
– Vamos lá: Ela é linda, cheirosa, faz os melhores cupcakes do mundo e tem
dedos maiores que alguns pênis por aí! – disse Momo quando as mulheres
ficaram em silêncio.
Diana tapou o ouvido com a última sentença para o divertimento das
mulheres. Lisa olhou em desdém para Jennie que analisava as próprias mãos
e perguntava baixinho para Jisoo se Momo estava dizendo a verdade.
Essa descrição pegou até mesmo Lisa de surpresa. Jisoo, Daniela, Momo,
Diana e Clare já estiveram grávidas, mas elas nunca precisavam ser dopadas.
– E quando foi que estipulamos regras, Chae? – Riu Jisoo batendo high five
com a esposa. – Apenas responda, prometemos pegar leve com você.
Chaeyoung trancou a respiração por alguns segundos.
– Jisoo?
– Eu vou matar vocês! – Rosnou, mas foi ignorada pela irmã que passou por
ela toda animada – Não faça nada que vá se arrepender, Daniela.
– O que ela desenhou? – A pergunta de Chaeyoung foi tão inocente que Lisa
sentiu pena.
– Errou, é a Momo. – Riu Daniela, passando a caneta para uma Momo com
expressão maléfica.
Lisa abraçou Clare no intuito de esconder seu rosto no pescoço da mãe e não
assistir a tortura de sua esposa.
Diana parecia mais um tomate vermelho ao ver a filha daquele jeito, mas as
mulheres estavam se divertindo e aquele era o momento delas, um momento
que não voltaria tão em breve.
– Sana?
Houve outra explosão de risadas, menos Sana que fechou a expressão e era
constantemente atormentada elas amigas.
– Lisa.
A mulher olhou para a Lisa que apenas deu de ombros, um sinal claro de
"aqui se faz, aqui se paga" estampado em seu rosto.
– Pois você errou! Era Dahyun, mas quem vai escolher sua prenda serei eu! –
Bateu palmas chamando atenção de Momo que entendeu o que ela quis dizer.
– Ei! – Lisa exclamou puta da vida. – Vocês estão pegando pesado, não acha?
– Eu tive que fazer strip-tease no meu chá de bebê, Manoban, deixe de ser
super protetora que ninguém vai tirar teu bebê e sair correndo com ele não.
– Chaeyoung, você vai dançar para a Lisa ao som de Elvis. – Disse Sana com
animação.
Chaeyoung paralisou por alguns segundos quando se deu conta de que teria
que dançar na frente de várias pessoas, inclusive sua mãe e sua sogra.
Sana tirou a venda de Chaeyoung que votou furiosamente e evitou olhar para
qualquer pessoa que não fosse Lisa, outra que também estava corada e com
um bico infantil nos lábios.
– Eu disse que elas pegariam pesado. – Murmurou para que apenas Lisa
ouvisse. – Eu devo estar horrível!
Uma música lenta do Elvis começou a ser reproduzida, um ritmo que não
tinha nada a ver com uma dança sensual, mas ela só precisava fazer isso.
Mas ela não ligava. Lisa não estava rindo dela, Lisa estava concentrada em
seus olhos e apenas neles.
Mês 9
O humor dela vinha se tornando mais bipolar que o de uma pessoa realmente
bipolar.
Hoje era sexta e ela tinha se reunido no shopping para jantar com Sana,
Jennie e Momo; Lisa estava no escritório e Ethan na casa de Daniela com
Alysha, o que havia tornado seu dia extremamente entediante até ter a
magnífica ideia de jantar com suas amigas.
Jennie e Sana estavam trocando farpas devido ao fato de Dahyun estar
chateada com a noiva por ela prolongar tanto o pedido de casamento.
– Ela está há quase dois anos esperando que você pare de ser uma bunda
mole e tome uma iniciativa – Jennie engoliu uma batata e apontou para Sana.
– Então pare de ser frouxa e faça o pedido.
E Chaeyoung a cortou. Era decima vez que repetia o assunto e Jennie e Sana
não chegavam ao mesmo ponto de vista.
– Não fale assim. Quer que eu conte para a Dahyun que você está dando uma
de donzela em perigo desejando ser resgatada?
– Nem brinque com isso, Chae. Lisa não está aqui e eu realmente não quero
ver suas partes íntimas em um shopping. – Brincou Momo, tomando um gole
de suco.
For the Lord's gonna come in his heavenly airplane Pois o Senhor vai
chegar em seu avião celestial
Sana infligiu umas cinquenta leis de trânsito e tinha certeza de que isso
acarretaria umas boas multas, mas a prioridade agora era Chaeyoung.
– Jennie, pegue Ethan na casa de Daniela e avise Lisa que eu estou sendo
levada para a sala de parto...
– Onde ela está? – Perguntou à Sana, mas uma enfermeira logo indicou o
caminho para a Lisa que não perdeu tempo em correr.
Lisa não conseguia tirar os olhos de uma Chaeyoung que gritava em dor e
apertava a beirada da cama, seu rosto estava vermelho tanto pela força que
fazia quanto pela dor.
– Amor? Eu estou aqui, ok? Jesus, minha filha está nascendo, Dra. Morgan! –
Exclamou pondo a máscara e posicionando-se ao lado de Chaeyoung e
apertando sua mão.
– Eu acho que sei disso. – Comentou a obstetra com a voz abafada devido ao
pano que cobria sua cabeça. – Vamos lá Chaeyoung, continue empurrando.
– Eu...eu estava no shopping... – Ela disse quase sem forças, então gritou e
empurrou outra vez e Lisa quase chorou com a pressão exercida em sua mão.
– Quando a bolsa...estourou... Ah!
Chaeyoung sorriu fraca e fechou os olhos com força para empurrar uma
última vez, até que ouviram um choro infantil preencher o quarto.
Lisa paralisou. Seu organismo entrou em ação e ela sentiu que ia desmaiar.
Quando a doutora reapareceu segurando uma pequena figura nos braços e
uma enfermeira assumiu seu lugar, tudo o que Lisa pode fazer foi chorar.
Ela chorou. Chorou muito. Uma enfermeira precisou segurá-la, pois ela
parecia uma criança chorando e Chaeyoung apenas sorria bobamente. Ela
tinha dado à luz para uma vida. Ela tinha trazido ao mundo um pedaço dela e
de Lisa e nada poderia fazê-la mais feliz.
– Lisa? – chamou a Dra. Morgan vendo que a Lisa não reagia. – Lisa, sua
filha.
– Oi, amor. – Ela disse com a voz embargada. – Eu sou a sua mãe. – Riu com
o que disse, virando-se para uma Chaeyoung quieta que apenas a observava.
Quando a Chaeyoung viu a filha nos braços de sua amada, sorriu entre as
lágrimas. – E esta é a sua mamãe.
Chaeyoung se ajeitou na cama para ver melhor a filha. Lisa a colocou em seus
braços com carinho deixando um beijo nos lábios secos da esposa.
– Oi, Sarah. Eu sou a sua mamãe também. – Disse uma Chaeyoung chorona,
enfiando o dedo indicador na mãozinha da menina que o segurou. – Mas você
já sabe disso, não é? – Lisa limpou as lágrimas e curvou-se na cama
encostando sua cabeça na de Chaeyoung para observarem a menina.
– Eu preciso levá-la agora para exames. – Avisou, dando espaço para que a
enfermeira pegasse Sarah. – Assim que eu a levar ao berçário vocês podem
vê-la outra vez.
Lisa deixou o lenço que usava de lado e acariciou o rosto de Chaeyoung com
as costas dos dedos.
– Principalmente agora.
Lalisa estava deitada no centro da cama de barriga para cima, Ethan dormia
agarrado ao seu torso direito, e ao lado esquerdo, repousava a pequena Sarah
sob a proteção do braço da Lisa.
Era uma cena típica para guardar na memória, como naquelas fotografias em
polaroid que ela costuma guardar.
Foi pensando nelas, que Chaeyoung tirou uma foto de seu trio preferido em
todo o mundo, e caminhou para o quarto de troféus, onde havia uma espécie
de varal com várias fotos penduradas.
The end