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REVISTA DO INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS an Mteratura folel6rica” (p. 213). Ao estudar essas manifestagdes, J. A.C. des- tea a importincia de José Bonificio e de Borges de Barros, cuja poesia encon- tra ressonineia em escritores posteriores ¢ se estende pelo Romantismo adentro. Examinando os centros irradiadores de vida cultural e Uteréria, J. A. C. ressalta © papel da Sociedade Filométiea de Sio Paulo, em cuja revista Joio Salomé Quelroga fala numa “poesia nacional , inspirada em motives populares © escrita fem “lingua brasilelra’” (p. 231). A grande importincla da Revista da Soc. Filomética esté em que 0 “pensamento eritico e renovador, que ela exprime, projeta-se na Niterst — Revista Brasiliense” (p. 236). considerada porta-vor do Romantismo no Brasil. Encerra a obra uma sintese final em que J. A. C. enteixa es determinantes de uma expressio artistico-literdria que masce no séeulo XVI como mero prolon- gamento da Literatura Portuguésa, até 0 momento em que ela adqulre feigfo propria, gracas a um conjunto de moditicasées, vindo a transformar-se numa fexpressio literéria distinta da inicial e com elementos que lhe so préprios © pecullares, Como boa perspectiva histérica e clareza na exposicio, J. A.C. pdde realizar obra bastante significativa para interpretar os “momentos decisivas" de nossa formagéo literéria, apontando os elementos que aos poucos foram distinguindo © fato Uterdrio produzido no Brasil infcialmente pelo colonizador e depois pelo brasileiro, nato ou de elelcdo, Obra rica de informacées, bem documentada, € pega essencisl para quem quiser conhecer 0 nascimento, desenvolvimento & formagio da Literatura Brasileira, dentro de uma perspectiva geral em que of efeitos tém explicadas as suas eausas. — José Carlos Garbuglio BOSI, Alfreco — A Literatura Brasileira — O Pré-Modernismo, “Roteiro das Grandes Literaturas”, vol V. Séo Paulo, Cultrix. 1968, 162 pp. Dentro da programagso da Editéra Cultrix, reletivamente & histéria da Lite, ratura Brasileira, pretendendo estudé-ln desde o infelo até 2 atualidade, temos ‘agora 0 volume dedicado as manifestagdes pré-modernistas. Entregue a tarefa ‘9 professor Alfredo Bosi, afelto & colsa llteréria fora dos limites do historicismo, pocemos afirmar que se desincumbiu satisiatdriamente, gragas 20 seu talento, sensibilidae © formagio sélida, presentes na sintese feliz désse ditfell perfodo da Literatura Brasileira. Tratando-se de um momento pouco estudado, soube movi- ‘mentar-se com seguranga e clareza de idéias, sustentando um equilforio’ raro no fate de esertores em geval exaltados ou ‘subestimades sem base de caréter clentitico, Assim uina vez definidos os eritérios estético © eronolégico que orientam os objetives da obra e a atitude em face do fato literdrio, Alfredo Bost estabelece 2s limites de seu campo de aco sos dois primeires dectnlos déste século, em ‘que convivem tradigdes de passadismo e a anunciagfo, ainda que péilida, de nova ealidade lteréria. Caminhando nesses dols extremes, 0 A. aponta os elementos caracterizadores das obras como reflexe de wma ou outra posigio e muites vézes as duas posigées ao mesmo tempo. Desta maneira, verltica que a poesia parnaslana ou neoparnasiens, que anima © momento, “traduz uma concepeio estética obsoleta” ¢p. 20), J4 superada nos nicleos onde viveu sem grange vitalidade, mas persistente entre nés na vor uz RESENHAS. frouxa e cansada de elguns epfgonos, onde transperece vez ou outra um alento ‘menos freco, Sem procurar arrolamento exaustifo, Bosl enumera og principals ‘autores, cujas obras tiveram algum mérito, Nessa dirego, examina 0 aristo- cexftico © neocléscico José Albencjo estilista ‘consorvador e estoleo Amadeu Ama- ral € 0 exéticd e arcalzante Goulart de Andrade, mostrando euss diferencas © ppoculiatidades: “um clissico, um estofco e um virtuose — aproximam-se os ‘trés da Imagem corrente do Neopamnestanismo, enquanto tendén ‘eGo de certa linguagem poética tradicionalista.” (p. 27.) J& dentro a: do imobilismo reinante”, ainda contaminado pelo sensualismo roméntico persis- tente, 0 A. coloca Martins Fontes, ¢ “entre o formalisine parnasiano e as inquiela- ses simbolistas", Hermes Fontes cujo obra “oscil entre © fausto sonoro e certs veleidade filosojante”. Lugar a parte ocupa o esteta apaixonado da forma e de cbr, Raul de Leéni, eujo mundo Tuminoso é animado por uma contida vibragdo, ‘que os modernos souberam apreciar. A importincia que assume Augusto dos Anjos, no marasmo comum, {sz que A. Bosi Ihe dedique um capitulo inteiro, onde considera com justeza convineente “a dimensdo césmica e a angiistia moral de sua poesia” (p. 44), reflexo do comportamento de torturado de um homem, premido por uma visio do mundo que Ihe aparéeia em process de fatal decom- posigio. Enquanto a poesia “representa o elemento conservador”, a prosa da época anuncia na voz de seus melhores escritores of interésses da geragdo moder- ist no que tem de mais original e auténticamonte brasileiro, © acérto dessa ‘obsorvagio, com as ressalvas colocedas pelo A. mostra o dominio de uma pers: ectiva literdria e histériea que the permite tragar o quadro lterdtio do momento Ge transigéo, que é 0 Pré-Modernisno. De sorte que. em térmos de sintese. Alfredo Bosi examina a obra de Afonso Arinos, posta entre a tradigdo parna. siana da linguagem e os elemenios regionalistas; de Valdomiro Silveira. preo- cupada “com o registro exato dos costumes interiorancs” (p. 62); de Sides Lopes Neto, “o exemplo mais feliz de prosa regionalista no Brasil antes do Mo- demismo” (p. 05), e que é, verdadeiramente, um artisin que tem algo de si para ‘fansmitir; de Aleides Maia, préso ainda aq Parnasianismo e sem frees para “abrir caminhos para 0 futuro” (p. 66); de Hugo de Carvalho Ramos nos conots sobre a natureza © a vida social goianes que perpassarem pela sua obra com sabor peculiar, a despeito de sua inseguranca; de Montelro Lobato, 0 mals impor tante de todos pelo czréter pelémico de sua obra. pela ironia e pela atitude Bragmética e perticipante de seu espirito. Se exerce militineia, confirmada no Gecorrer de sua carreira. tem, por outro lado, uma “posigo ambivalente”, pols. homem de vanguards. sfasicu-se do Modernismo de 2, como faz ver Alfredo Bosi. Jé Adelino de Mayalhies tem sua obra posta em cheque pelo A., dado que sua constante prescupacio com cenas vulgares e crtas esté “aquém do nivel dos sentimentos e fora de qualquer intengio sublimadora” (p. 71). Passando ao estudo do “romance entre 0 documento e o ornsmento”, Alfredo Bosi procura enquadrar Coclho Neto em sua época, a fim de “eompreendé-lo em situagiio histérica” (p. 85). Aprecia-o com bastante “lucidez, depois de anali- sar-lhe sucintamente 2 parte mals importante da obra, Com isto, consegue evitar @ atitude exaltadora ox demolidera e permanecor numa posigéo de equilfbrio para demonstrar sem paixio os defetios e as qualidades do escritor. Afrinio Peixoto ¢ Xavier Marques, colocades na linha do regionalismo, ape- ‘nas ronolégicamente so considerados pré-modernistas, pois suas obras se tin- gem ainda de tonnlidades rominticas, ao paso que Lindolfo Gomes e Anténio REVISTA DO INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS ay Sales te projetam como “precursores do romance regionallsts moderne” (p.' 68), ‘a0 surpreender temas que seriam retomados depols. E assim repama outros autores compreendides dentro do mesmo espisito de compromissos regionals, Numa sintese feliz, pelo que examina ¢ esclarcce, surge a obra de Lima Barreto. polémico romancista-jornallsta carloca, o ressentido e multas vézes contraditérlo fanti-passndista que detestou certas formes de modernizagio, Nao obstante esa atitude, inscreveu-se como um dos malores vultos da prosa pré-moderaista pela Grande forca expressiva © raro poder documental da vida brasileira do Blo de Janeiro de sua época. Também preocupado com problemas brasilelzos © com ‘nossa realidade. Graga Aranha antecipa “a tomada de consciéneia dos moder aistas” (p. 108), pelos temas tratados, apesar dos desnivels © dos prejulzos de sua obra em que estio presentes elementos dispares e até mesmo opostes, enquanto osigéo de espirito. Nessa linha de procedimento, o A. situa com objetividade ox eseritores, extraindo déles os componentes de malor signiticagio e abre caminho ara melhor compreensio da literatura por Ales eriada, Em Rui Barbosa, divisa o representante tipico da mentalldade que se instalow no Brasil a partir dé 1870 © perdurou até ao advento do Modernismo. Mostra-o ‘nos dois polos em que se moveu: tedricamente progressista, praticamente conser vador “porque seu concelto de liberdade néo 0 movia a lutar pela condigdes, ‘concretas dessa mesma liberdade” (p. 116). Expressas num estilo tergo, antes portugues tradicional que brasileiro em sua formacio, suas idéias “reboardnt formidavelmente em virtude do talento verbal que as defendia” (p. 117), contra 9 que se insurgit violentamente o Modernismo, J4 Euclides da Cunha, maiz dentro de nossa realldede, por férca do convivio, observou-a sem os formalismos de. ‘Rul ¢, vivendo-e, denunciou-a com poder extraordindrio, extraindo dal “a face tragica que contemplamos em Os Series” (p. 121), a despeito do prejulzo dew correntes dos ensinamentes da época. Com a seguranca jé referida, aponta na obra de Euclides da Cunha os elementos que definem no panorama da Literatura Brasileira como transigio entre dus fases de nossa vida cultural A personalidade do escritor, como sua obra, inclinava-se para “os conflitos violentos”, observa Bost, daf a forga de comunlcaglo. forte © aspera como a realidade que vi. A seguir, passa 2 consdierar aquéles escritores que deixaram alguma contel- bulsfo tipiea no Pré-Modernismo, como Oliveira Viana que aplicou & histéris ma clonal cfnones sociolégleos, pelos quals refulava os fécels esquemas evoluctonis tas de Sponcer" (p, 127); ou como Alberto Torres que teve a lucide: de eubsti- Rar 9 fator étaico, ao contrério do corrente; ou come Oliveira Lima. histeriador ‘protissional, avésso As teorizagées", ltheral, ‘mantendo-se em equilfbrio entre as {forges opostas; ou como Joio Ribeiro, “tipo exempler de humanista moderno", a Sravitar em varios campos. do poesia & filologis, com passos Intermedidrios; ‘ot somo Ronald de Carvatho, eritico e poeta entre o academicismo ¢ 2 literatura de vanguarda; ou como Nestor Vitor que teve o mérito de compreender a pocsin imbolista, © que niio havia ocorrido com Jodo Ribeiro © Ronald de Carvalho. Considerasses mais demoradas recebe Farias Brito. euja falta de repercussio se dove ao fato de estar x sua obra dealigada da realidade brasileira, o que alld acontece com qunse téda a literatura da época. A Farlas Brito se liga Jackson, te Figuetredo, responsivel pelo enriquecimento da cultura religiosa brasileira, Transportando-a para © jornelismo militante, af delxou paginas de apaixonada Posigio ideolégica e polltc De “linguagem oltocentista"", mas de “intenglio moderna”. Alfredo Bosi con- sidera a Vicente Licinlo Caréoso, o naclonslista intransigente de contexto filoss- fico Taue] excluta © componente mistico de Jackson de Figuelredo". Represen aa RESENHAS ‘tundo o ecletismo e a toleréncia de temperamento, surge Gilberto Amado, o en- de prosa fluente e macia que “recortava de preferéneia aspectos da vida fem nossa terra” (p. 143). Por fim, faz um balango da atividede do Jor Balismo militante na época, destacando, entre outros, “o cronista atraente da vida carloca, Jodo do Rio” (p. 144). es fatos ¢ dificulta, senio impossibilita, a visio justa dos autores © do momento, Alfredo Bos! conseguiu manter-se em pasigfo de: equilfbrio e assim tragar com propriedade o panorama de uma fase da nossa literatura ainda pouco estudada, — José Carlos Garbugtio, MM. CAVALCANTI PROENCA. José de Alencar na Literatura Brasileira, Rio, Editéra Civilizagio Brasileira $.A., 1066, 147 pp. A critica & obra de Alencar, por fdrge ¢2 grandeza dessa mesma obra, tem ‘assade por varias temperaturas. desde a frieze glacial dos primelros tempos. ‘motivo de fundsdas mégoas do romancista, até o entusieamo de eriticos moder ‘nos, surpreendido nas opinides revalizadoras e anéllses estéticas que endem a hharmonizar-se com a consciente claboragio axtistica do escritor. ‘Sem intuitos preconcebides de refutar restrigSes feltas a Alencar, mas revendo gua obra & luz de perscrutagSes serenas, tanto quanto profundss, Cavalcintt Proenga, neste ensalo, que fora exerito 0 nGo se Umitou a uma simples “introdusfo", mas tentou uma interpretaglo: original que. se nfo esgota © assunto (mesmo porque no era tempo © lugar), desperta interésses novos e sugere, impllcliamente, os estudos fundamentais que ‘ainda nflo se fizeram do romancista de Senhora, ‘Aqui, mais ums vez, ganha foros de verdade a afimmagao de que o estilo é © homem. A linguagem simples e cativante, pelo seu vontede, que nada tem de superticisl, lembra todo momento a personalidade humanissima do ensalsta, que sempre encara os problemas de literatura com acentuada dose de compreen ‘séo ¢ simpatin © sabe, na seguranga de sua formulagio, que os verdades da vida © da arte, sem prejuizo do espirito critics, podem ‘ser ditas sem atavio complicados ou ares exagerados de seriedade caturra. Sle prefere o tom ameno das conversas informais. disciplinadas apenas pelas indispensivels exigéneias de Mngua escrita. | Assim, na tonda embaladora dessa prosa, 0 leitor percorre sf paginas do livrinho e vai aprendendo muito e multo da’ pessoa humana e da ‘emuberante personalidade artistica de Alencar. A “Adverténcia do Autor” explica as lim{tagées impostes 20 ensaio, contldo, spesar de abranger aspectos bem diversos da vida e da obra do escritor; note-se, or exemplo, como as cltagées esto excessivamente policiadas. diserigio éitade Corrobora essas observacées a brevidade dos capitulos, a cometar por “Uma ‘Vida... um Destino", em que se sintetizam informer importantes sdbre a infin.

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