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Economia de Empresa

UNIDADE 02

Teoria dos custos e teoria da demanda

Teoria dos custos

Vamos iniciar nosso bate-papo pela diferenciação entre lucros contábeis e econômicos.
Primeiramente, cabe a ressalva de que a visão do contador sobre receitas e custos está
baseada na metodologia do Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE), que
busca avaliar o lucro da empresa a partir da perspectiva financeira, ou seja,
considerando custos operacionais fixos e variáveis, incluindo depreciação dos bens de
capital (base de desconto do imposto de renda), ao longo da vida útil da empresa. Na
enumeração dos gastos contábeis, não é considerado, por exemplo, o capital exigido
para iniciar as operações ou mesmo o valor de revenda dos ativos que compõem a
empresa ao final da vida útil do projeto, ou seja, de funcionamento da empresa.
Quando falamos de custos fixos (indiretos), nos referimos aos gastos invariáveis, à
medida que o volume de produção adotado na empresa se modifica. Esses custos são
extintos, apenas, com o fim das operações empresariais, ou seja, com o fechamento.
Entre os custos fixos, podemos elencar: despesas com vale-alimentação dos
funcionários, gastos com manutenção de maquinário, salário da equipe de limpeza,
propaganda, alguns tipos de imposto etc. Os custos fixos podem se configurar, por
exemplo, em barreiras à entrada em determinado mercado. Lembre-se de que são os
tipos de desembolso não passíveis de alteração no curto prazo, portanto se mantêm
constantes para qualquer nível de produção factível em curto prazo.

Já os custos variáveis (custos diretos), como o próprio termo dá a entender, variam


segundo o nível de produção da empresa. Quais são os exemplos que vêm à sua mente
neste caso? Gastos com matéria-prima, embalagens e com a entrega dos produtos
podem ser incluídos nesta lista, não é mesmo? Logo, consideramos, na identificação do
lucro contábil, o que concretamente constitui saída de capital do fluxo de caixa (custos
ligados à produção) e as entradas de capital decorrentes das receitas, seja pelo
aumento de preço, seja pela quantidade de unidades vendidas.

É muito importante se atentar a um detalhe quando da dúvida de classificação de


determinado tipo de custo como fixo ou variável. Isso acontece porque alguns tipos de
custo podem ser parcialmente fixos e parcialmente variáveis, a depender do horizonte
de tempo considerado. Para cada empresa, a ideia de curto e longo prazo pode ser
distinta. A premissa é de que, no curto prazo, a maioria das despesas seja fixa. Todavia,
à medida que a empresa se estabelece no mercado, sua demanda cresce e alterar o
nível de operação exigirá maior desembolso financeiro com alguns insumos, ou seja, os
dispêndios irão variar segundo os novos níveis de produção adotados. No entanto,
vamos deixar claro aqui a seguinte distinção:

IMPORTANTE
A função de custo de longo prazo diz respeito aos cenários em
que a organização produtiva terá de ajustar todos os fatores de
produção para atingir determinado nível de produto, a um custo
mínimo. Logo, no longo prazo, não há custos fixos. Já a função de
custo de curto prazo trata das despesas mínimas decorrentes de
mudanças em alguns dos fatores de produção. Portanto, ela
mede o custo mínimo de gerar certo nível de produção,
considerando determinados preços dos recursos de produção.
Agora, vamos ser mais exigentes com o desempenho das empresas?

Para os economistas, o volume de vendas que tornará determinado projeto viável será
superior ao exigido na óptica contábil, mantendo todas as demais variáveis constantes.
Isso ocorre porque o fluxo de caixa econômico visa ao uso dos recursos da maneira
mais eficiente, o que inclui contabilizar o custo de oportunidade (explícito e implícito)
total atrelado aos fatores de produção utilizados naquela unidade de produção.

Usando a linguagem da matemática financeira, que nos auxilia a avaliar o valor do


dinheiro ao longo do tempo, o que se espera é que a empresa consiga ter uma receita
que, ao menos, cubra seus custos de produção (fixos e variáveis) e seu custo de
oportunidade do capital investido. Logo, é essencial para a empresa identificar seu
Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE). Qual demanda mínima por período (ano, mês,
trimestre) gera receitas iguais aos custos econômicos, ou seja, gera Valor Presente
Líquido (VPL) nulo (valor presente das receitas igual ao valor presente dos custos), a
partir de determinado custo de oportunidade (ou taxa mínima de retorno) do capital
investido? Afinal, do ponto de vista econômico, há um custo de oportunidade para todo
investimento no setor produtivo da economia, além de aplicações alternativas para os
mesmos recursos, inclusive aquelas que rendem juros no mercado financeiro
(investimentos de renda fixa ou de renda variável).

De acordo com Samanez (2010),

o método do valor presente líquido (VPL) tem por


finalidade calcular, em termos de valor presente, o
impacto dos eventos futuros associados a uma
alternativa de investimento, ou seja, ele mede o valor
presente dos fluxos de caixa gerados pelo projeto ao
longo de sua vida útil. Não existindo restrição de capital,
argumenta-se que esse critério leva à escolha ótima, pois
maximiza o valor da empresa.

Agora, analise a expressão a seguir, que define o VPL:

n FC t
VPL = − I + ∑ t=1 t
(1+K)
#ParaTodosVerem

© Genestro / Adobe Stock. Adaptado

O PEE é a demanda mínima para que determinada empresa obtenha lucro


econômico zero. Acima desse nível de demanda por seu produto ou serviço, a empresa
entra em cenários de lucros econômicos positivos (receitas totais maiores que custos
totais), portanto com rentabilidade superior a todos custos de oportunidade de seus
fatores de produção.

Figura 1. Representação gráfica simplificada do PEE


#ParaTodosVerem

©Piscine26 / Adobe Stock. Adaptado

Atente-se à Figura 1, que retrata graficamente PEE de uma empresa hipotética. O


gráfico possui, no eixo vertical, valores de receita e, no horizontal, as unidades
vendidas, além de estarem traçadas as retas a seguir:

a. Custo fixo: paralela ao eixo horizontal, pois se trata de uma constante.


b. Custo total: cujo intercepto no eixo vertical se inicia junto à reta de custo fixo,
sendo a diferença entre a área abaixo do custo total e a área abaixo do custo fixo
equivalente ao custo variável para cada unidade.
c. Receita total: cruza esse quadrante num ângulo de 45°, pois se dá a partir do
produto entre preço de venda unitário e quantidade vendida (eixo x).

No ponto em que a reta da receita total e a do custo total se cruzam, está definido o
ponto de equilíbrio. Abaixo desse ponto, há uma área hachurada de vermelho com a
palavra “prejuízo”, pois diz respeito aos níveis de produção que geram prejuízos, ou
seja, negativos. Por outro lado, acima do PEE, há uma área hachurada de verde com a
palavra “lucro”, representando cenários de lucro positivo.
Em suma, podemos dizer que o economista está focado no desempenho da empresa de
forma ampla, social e comparativa a outras opções de uso dos fatores de produção que
emprega. Portanto, caso você avalie um projeto de investimento em uma empresa pela
óptica do economista, deverá se preocupar com os custos de utilizar os recursos
econômicos, incluindo os custos de oportunidade. Já a visão contábil se baliza pelos
demonstrativos financeiros dos ativos e passivos da empresa, a partir de despesas
correntes e da depreciação dos bens de capital.

Curvas de custo

Vamos, agora, conhecer as curvas de custo das empresas maximizadoras de lucros.


Bom, os custos totais equivalem à soma dos custos fixos e dos custos variáveis, que são
em função da quantidade produzida, certo? A partir da função de custo total,
derivamos as seguintes funções:

a. Função de custo total médio, ou seja, o custo total por unidade de produção.
b. Função de custo variável médio, ou seja, o custo variável total por unidade de
produção.
c. Função de custo fixo médio, ou seja, o custo fixo total por unidade de produção.

Aqui, vamos dar atenção a uma curva muito importante para decisões estratégicas
empresariais: a curva de custo marginal, que permite identificar a variação dos custos
totais, no caso da variação na produção, ou seja, o custo marginal é a “contribuição” da
próxima unidade produzida para o custo total. Essa curva possibilita apontar a resposta
para a seguinte pergunta: estando em determinado nível de produção, o que acontece
com os custos, num cenário de alteração no nível de produção?

Adiantamos que uma das maneiras mais conhecidas de identificar o poder de mercado
de uma empresa tem relação direta com o seu custo marginal de produção, ou seja,
avaliar a capacidade de a empresa ou grupos de empresas influenciarem o preço do
bem ou do serviço em determinado mercado.

NA LITERATURA

Pedimos sua atenção à Figura 7.1 – Curva de custos da empresa (p. 229) do livro
Microeconomia. Atente-se ao comportamento de cada uma das curvas de custo da
empresa, segundo o nível da quantidade produzida.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L.; RABASCO, E. Microeconomia. São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2013.

Você sabia que, no início da operação de uma empresa, a partir da tecnologia usada, os
fatores de produção variáveis possuem produtividade crescente, pois há recursos de
capital ainda subutilizados. Essa crescente produtividade faz com que os custos
variáveis subam menos rapidamente. Fica o alerta de que, dado que o volume de
capital disponível é fixo, em curto prazo, haverá um estágio de produção da empresa no
qual a produtividade desses insumos variáveis passará a ser decrescente, ou seja, os
custos variáveis começarão a crescer mais rapidamente.

Cabe aqui uma ressalva: a distinção feita entre custos e despesas. Os custos são as
saídas de capital do fluxo de caixa da empresa que são essenciais, compulsórias, para
fazer o processo de produção acontecer. Entre eles, estão gastos com matéria-prima,
mão de obra, empacotamento, bens de capital, salário da equipe, manutenção de
sistemas e máquinas, equipamentos, energia elétrica etc. Já as despesas envolvem os
desembolsos com bens ou serviços para manter a parte administrativa da empresa,
como, por exemplo, os setores comercial, de marketing, de desenvolvimento e
financeiro.

Repare que essa distinção se faz importante para definição de estratégias visando à
solidez financeira e à viabilidade econômica. Tanto o lucro contábil quanto o lucro
econômico serão afetados pela diferença entre o que se recebe na venda de uma
unidade do bem ou serviço oferecido pela empresa (preço de venda) e o custo variável
de produção daquela unidade. A essa diferença se dá o nome de margem de
contribuição unitária.

Teoria da demanda

A demanda de certo bem é dada pela quantidade (Qd) almejada pelos consumidores,
em determinado período. Há uma série de fatores objetivos e subjetivos que
influenciam o desejo por certo bem, não é mesmo? Você saberia dizer alguns, para
além, é claro, do preço desse ativo?
Vamos identificar esse bem como X? Bom, o preço desse ativo (P) é a variável mais
importante. Outra variável muito importante é a renda (Y) do indivíduo. A letra Y vem da
tradução de income, ou seja, renda. O fato é que, a despeito de esse consumidor
identificar o preço de um bem como justo, sua renda pode ser insuficiente, não é
mesmo?

Outra possibilidade é existir, no mercado, bens com características de uso semelhantes


a esse bem. Vamos chamar um desses bens substitutos de Y. Logo, pensando na boa
gestão do capital, você faria um levantamento do preço do substituto (Py) do bem X,
certo? Agora, pense na seguinte situação: o consumo de alguns bens não se dá de
forma concorrencial. Ao contrário, há na economia tipos de bem que são
consumidos/demandados em conjunto. Como exemplos, temos: café e açúcar, pão e
requeijão, lapiseira e grafite, impressora e tonner, celular e carregador, pincéis e
maquiagens, TV e pacotes de TV por assinatura. Use sua imaginação para pensar em
outras combinações de insumos usados pela sua empresa que se adequam a este caso.

REFLEXÃO

Ademais, deixamos aqui uma reflexão:


O aplicativo WhatsApp é substituto ou concorrente das empresas de telefonia?

Prosseguindo com nosso raciocínio, repare que dados sobre renda, preço do bem
demandado e dos bens concorrentes dizem respeito a variáveis objetivas, monetárias,
mensuráveis. Contudo, a economia, como ciência social aplicada, tem de lidar com
dados da subjetividade do consumidor, ou seja, hábitos, gostos, preferências, marca,
propaganda, status obtido pela compra desse bem e outras informações (H) difíceis de
mensurar.

Vamos, agora, construir uma expressão matemática para a função de demanda para o
bem X:

Qdx = função (P, Y, Py, H)


Qual é a relação econômica esperada entre essas variáveis e a quantidade demandada
do bem X? Trata-se de uma relação positiva ou negativa? Se o preço do bem X se eleva,
a quantidade que você demanda desse ativo cresce ou diminui? Pense nesse cenário,
considerando todas as outras variáveis constantes, para facilitar nossa análise, tudo
bem?

SAIBA MAIS
Em economia, usamos a expressão coeteris paribus, expressão
latina que equivale a tudo mais permanecendo constante.

Para facilitar o entendimento, segue um quadro-resumo com tais informações.

Quadro 1. Relação entre variáveis econômicas e quantidade demandada de certo bem


ou serviço

Variável Relação esperada Sinal da relação esperada

Preço do bem Inversa Negativo

Preço do bem substituto Direta Positivo

Preço do bem complementar Inversa Negativo

Renda Direta Positivo

Hábito, comportamento Indefinida Positivo/negativo

De forma resumida, podemos dizer que, mantendo constantes todas as demais


variáveis que influenciam a demanda de um ativo, há uma relação inversa entre o
preço desse bem ou serviço e sua quantidade demandada. Concorda? Mantendo
constantes todas as demais variáveis, se, por um lado, a alta do preço implica redução
da quantidade demandada e, por outro, há queda do preço unitário desse bem, a
quantidade demandada tende a aumentar. Essa afirmativa pode ser definida como lei
da demanda ou da procura.
EXPERIMENTE

Convidamos você agora a construir um quadro semelhante ao Quadro 1, apresentando


a análise para a demanda por aplicativos de delivery de alimentação. Para inspirá-lo,
leia o artigo Impacto da pandemia na demanda por aplicativo de delivery de
alimentação em Piracicaba/SP.
MENIGHINI, G. V. et al. Impacto da pandemia na demanda por aplicativo de delivery de
alimentação em Piracicaba/SP. Research, Society and Development, [s.l.], v. 10, n. 6,
e28310615945, 2021.

Ademais, recomendamos a leitura do Capítulo 2 – Forças de mercado: demanda e


oferta, do livro Economia de empresas e estratégias de negócios. Especificamente,
estude com atenção os fatores que deslocam a demanda e aqueles que deslocam a
oferta. A ideia é que você consolide as informações de que mudanças no preço do bem,
mantendo todas as demais variáveis constantes, implicam variações da quantidade
demandada, ou seja, graficamente, ao longo da curva (ou reta) de demanda. Afinal, se
trata de um gráfico que relaciona preço e quantidade.

Preste muita atenção no caso de mudanças em outros parâmetros, como no volume de


renda ou no preço de um bem complementar ao bem X. Nesse caso, o cenário é de
deslocamento paralelo dessas retas para a esquerda ou para a direita, daí a diferença
entre demanda e quantidade demandada e, por analogia, entre oferta e quantidade
ofertada.

Conclusão

Agora, é importante fazermos um compilado de conceitos e parâmetros importantes


que aprendemos ao longo desta semana.

Custos fixos: gastos invariáveis, mediante alteração no volume produzido.


Custos variáveis: gastos que sofrem alterações, à medida que ocorrem variações
no nível de produção.
Custo marginal: acréscimo no custo total de produção para produzir uma unidade
adicional do bem ou serviço oferecido ao mercado.
Função de demanda: expressão que relaciona a quantidade demandada de um
bem ao preço unitário desse bem, mantendo as demais variáveis inalteradas.
Trata-se de uma reta (ou curva) com inclinação negativa, pois, à medida que o
preço aumenta/diminui, a quantidade demandada sofre queda/elevação. No caso
de uma função linear, a inclinação é negativa, constante e igual ao valor da
elasticidade preço-demanda.
Função de oferta: expressão que relaciona a quantidade ofertada de um bem ao
preço unitário desse bem, mantendo as demais variáveis inalteradas. Trata-se de
uma reta (ou curva) com inclinação positiva, pois, à medida que o preço
aumenta/diminui, a quantidade ofertada se eleva/cai. No caso de uma função
linear, a inclinação é positiva, constante e igual ao valor da elasticidade preço-
demanda.
Elasticidade preço-demanda: medida da variação percentual na quantidade
demandada, mediante variação percentual no preço do bem.
Elasticidade preço-oferta: medida da variação percentual na quantidade
ofertada, mediante variação percentual no preço do bem.
Longo prazo: período de investimento produtivo em que todos os fatores de produção são variáveis.

Referências

BAYE, M. R. Economia de empresas e estratégias de negócios. Porto Alegre: AMGH,


2010.

MENIGHINI, G. V. et al. Impacto da pandemia na demanda por aplicativo de delivery de


alimentação em Piracicaba/SP. Research, Society and Development, [s.l.], v. 10, n. 6,
e28310615945, 2021. Disponível em:
https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/15945/14096. Acesso em: 13 jul.
2023.

PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson Education


do Brasil, 2013.

SAMANEZ, C. P. Matemática financeira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.


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