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CONTRA A ESPADA DE DÂMOCLES O MEU GRITO DE REVOLTA!

UNIDADE E LUTA É O CAMINHO!

João Vasconcelos (*)

Sou membro do Conselho Nacional da Fenprof e também faço


parte do Movimento Escola Pública pela Igualdade e Democracia. Mas
acima de tudo sou um modesto professor. Um professor que
discordou – tal como todos os professores do meu Agrupamento que
reuniram no Dia D - do Memorando de Entendimento assinado entre o
Ministério da Educação e a Plataforma Sindical de Professores. E
porquê? As razões encontram-se expostas num artigo que escrevi no
passado dia 14 de Abril (antes do Dia D, 15 de Abril e em que a
Plataforma já anunciara que aceitava o Memorando). Este artigo, com
o título “Vitória Pírrica?”, circulou pelos blogues e até motivou a
criação do blogue http://fenixvermelha.blogspot.com/, (aqui se
encontra como 1º artigo), perante o grande descontentamento e
revolta face à previsível assinatura do memorando. Na reunião do
Conselho Nacional da Fenprof, de Junho, continuei a discordar do
acordo e, a realidade dos últimos desenvolvimentos – com apenas um
mês de aulas – estão a provar a justeza das minhas posições (e de
todos aqueles que não aceitaram o memorando, um pouco por todo o
país).
Escrevi em “Vitória Pírrica?” que o «Memorando (…) se
transformará numa grande vitória de Sócrates e da Ministra e numa
profunda e dramática derrota dos professores, se estes não
continuarem vigilantes e mobilizados. Afinal o que se conseguiu com
o Memorando? Muito pouco, tendo em conta que vieram 100 mil
professores para a rua. A Marcha da Indignação do passado dia 8 de
Março é a prova provada do descontentamento e da revolta de uma
classe profissional como nunca se viu neste país. E tudo levava a crer
que os professores estavam dispostos a continuar uma luta que só
agora a iniciaram em força. Ficamos com um sentimento de vazio e
com uma sensação de que era possível ir muito mais além.
Conseguiram os professores uma vitória pírrica? Se assim foi, vão ser,
nos próximos tempos, inevitável e clamorosamente derrotados. E a
Escola Pública vai ser, inexoravelmente destruída».
Efectivamente, digo e reafirmo hoje que os professores
conseguiram “uma mão cheia de nada” e a questão central – esta
avaliação de desempenho - apenas foi protelada no tempo. Com uma
agravante: bem muito pior do que julgou a Plataforma Sindical.
Passou apenas um mês de aulas e os docentes estão fartos, já não
aguentam mais. Tal como no início do ano, a sua revolta surda sente-
se e ouve-se nas escolas e vai explodir de novo. É por isso cedo para
Sócrates e a Maria de Lurdes cantarem vitória, pois os professores
vão mobilizar-se de novo e voltar à rua, não obstante ter sido
assinado um Memorando de entendimento. A próxima vitória não
poderá ser à moda de Pirro – as consequências para a classe docente
seriam desastrosas.
Voltando ao artigo, sublinhava a dado passo: «Só nos meses de
Junho e Julho de 2009 – como prevê o Memorando – é que haverá ‘um
processo negocial com as organizações sindicais, com vista à
introdução de eventuais modificações ou alterações’ do modelo. Mas
então não se trata de um modelo de avaliação altamente burocrático,
injusto, punitivo, subjectivo, arbitrário, economicista, quer vai manter
as quotas e assente numa estrutura de carreira dividida em duas
categorias? É este o cerne da questão – o Estatuto da Carreira
Docente tem de ser revisto, alterado, revogado e os professores
jamais poderão aceitar estarem divididos, de forma arbitrária, em
duas categorias. O grito dos professores mais ouvido foi: ‘categoria
só há uma, a de professor e mais nenhuma’. Disto não podemos
abdicar».
Reafirmo que aqui reside o cerne da questão – trata-se de um
modelo de avaliação que divide os docentes em duas categorias e
que é economicista, punitivo, subjectivo, arbitrário, injusto e
terrivelmente burocratizado. Veja-se o que está a acontecer nas
nossas escolas – são reuniões e mais reuniões, grelhas para tudo e
para nada, objectivos individuais que não têm ponta por onde se
pegue, mais instrumentos para isto e para aquilo, são os inúmeros
planos de aula, as aulas assistidas por titulares com formação
científica diferente dos assistidos, é o receio da não obtenção de
créditos e a penalização daí decorrente, é a conflitualidade nas
escolas a aumentar (e infelizmente há sempre os mais papistas que o
Papa). São medidas que não promovem a melhoria pedagógica e
científica, antes pelo contrário e que visam o controlo administrativo
dos professores e a proibição de ascenderem ao topo da carreira. É a
Espada de Dâmocles que se encontra suspensa sobre a cabeça dos
professores e educadores deste país. Nunca, em caso algum, a
Plataforma Sindical –e em particular a Fenprof, como a estrutura
sindical mais representativa da classe docente – devia ter assinado
um acordo que contemplasse a manutenção do actual ECD. E os
professores estavam dispostos a continuar com a luta.
Concluía em “Vitória Pírrica?” que os professores «terão de
continuar a lutar (…), mostrando à Plataforma Sindical que é possível
obter conquistas bem mais significativas (…). A Plataforma deverá
continuar a manter a unidade e continuar a ser a porta-voz dos
anseios e reivindicações dos professores. Um passo precipitado ou
mal calculado poderá deitar tudo a perder, depois será tarde demais
para voltar atrás. Por mim não assinava o acordo e continuava com a
luta. Há razões muito fortes para tal. Temos a força de 100 mil
professores na rua. Este é o nosso ponto forte e, simultaneamente, o
ponto fraco de Sócrates, de Maria de Lurdes e do governo».
Os 100 mil professores que protagonizaram a Marcha da
Indignação no passado dia 8 de Março nas ruas de Lisboa,
responderam em uníssono aos apelos dos Sindicatos e dos
Movimentos. A unidade foi a razão da nossa força e todos
compreenderam isso. Cometeu-se um erro com a assinatura do
Memorando. Mas tudo isto pode ser ultrapassável continuando a
apostar na unidade e de novo na luta. Um novo passo errado
acarretará, certamente, consequências desastrosas para o
movimento docente e para a Escola Pública, que perdurará por largos
anos. Respondendo aos anseios, aspirações e revolta dos professores
alguns Movimentos convocaram uma manifestação nacional, para
Lisboa, dia 15 de Novembro. Mais uma vez os Movimentos se
anteciparam aos Sindicatos, não havendo nenhum mal nisto. Já não
vivemos nos séculos XIX e XX, a vida mudou, os tempos são outros –
só não mudou a exploração e a opressão dos poderosos sobre os mais
fracos, antes agravou-se. E os Movimentos hoje fazem parte da vida e
das lutas dos Povos. Assim como os Sindicatos continuam a ser
imprescindíveis – quem não compreender isto não percebe a
realidade onde se movimenta.
A divisão será o pior se acontecer no seio dos professores e em
nada acrescentam as declarações anti-sindicais ou anti-movimentos.
Todos fazemos falta, tal como aconteceu no passado dia 8 de Março.
Quem protagonizar a divisão só irá dar mais força a um governo que
despreza, massacra e procura destruir a classe docente e a Escola
Pública e, será meio caminho andado para, mais cedo do que espera,
ficar arredado da marcha inexorável da História.
O meu apelo é para que todos se entendam – Sindicatos e
Movimentos de Professores – chegando a um consenso para a
realização, em conjunto, de uma poderosa Manifestação Nacional no
mês de Novembro. Condição indispensável para a obtenção da
vitória. Os professores irão provar que têm voz e que têm força.
Entendimento sim, mas desde que se aniquile o “monstro” (esta
avaliação de desempenho e o ECD). Caso contrário, seremos
devorados. Contra a “Espada de Dâmocles” o meu grito de revolta!
Unidade e luta é o caminho!

(*) Membro do Conselho Nacional da Fenprof, do Movimento Escola


Pública e Delegado Sindical na Escola E. B. 2, 3 D. Martinho de Castelo
Branco – Portimão

Nota: Caso considerem útil, agradeço a divulgação pelos vossos


contactos e blogues.

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