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Dosimetria Da Pena
Dosimetria Da Pena
A DOSIMETRIA DA PENA
Luanda, 2022
Índice
Título............................................................................................................................................3
I. INTRODUÇÃO...................................................................................................................3
Metodologia.............................................................................................................................5
Objectivos................................................................................................................................5
Geral.....................................................................................................................................5
Específico.............................................................................................................................5
II.I. Conceito............................................................................................................................5
III. Teorias da pena.................................................................................................................7
III.I As teorias Absolutas..........................................................................................................7
III.II – As Teorias Relativas.....................................................................................................8
III.II.I A Doutrina da Prevenção Geral.................................................................................9
III. II. As Teorias mistas.....................................................................................................12
IV. Dosimetria da Pena.........................................................................................................13
Pena de prisão, que consiste na privação temporária da liberdade, tem duração mínima
de 3 meses e a duração máxima de 25 anos, podendo excepcionalmente se extender até aos 35
anos;.......................................................................................................................................13
Pena de multa.................................................................................................................13
A dosimetria na sentença condenatória..................................................................................14
V. Conclusão...........................................................................................................................16
VI. Bibliografia....................................................................................................................18
Título
A abordagem do presente tema se justifica no quadro de avaliação contínua do
módulo de Penologia. A sua escolha deve-se a actualidade do tema e a necessidade de
se conhecer e entender como funciona a determinação da pena objectivamente. Uma
visão sobre o conceito de pena, função e o dever ser da mesma. Não menos importante,
será tentar entender que critérios orientam a determinação da medida da pena no
ordenamento jurídico angolano.
Nélson Jahr Garcia 2 faz referência que Cesare Beccaria “estabelece limites entre a
justiça divina e a justiça humana, entre os pecados e os delitos; condena o direito de vingança
e toma por base do direito de punir a utilidade social; declara a pena de morte inútil e reclama
a proporcionalidade das penas aos delitos, assim como a separação do poder judiciário e do
poder legislativo”
I. INTRODUÇÃO
A liberdade é um valor que ao longo da história da humanidade sempre suscitou
no Homem engenho para mantê-la e preservar. O estado selvagem do homem, o mais
livre, também representou o período de maior perigo a mesma liberdade. No estado
primitivo, o Homem vivia isolado e livre, porém debatia-se a cada dia com a incerteza e
a insegurança apresentada por cada um.
Segundo Beccaria (Da Lei e das Penas), para que o Homem pudesse vencer a
incerteza e sustentar a segurança, era necessário que cedesse parte da sua liberdade.
1
Cesare Beccaria, Dos Delitos e das Penas, 1764, Ed. Ridendo Castigat Mores, pg. 9.
2
Cesare Beccaria, Dos Delitos e das Penas, in Apresentação, pg. 3, disponível na web:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/eb000015.pdf
mil maneiras, os primeiros homens, até então
selvagens, se viram forçados a reunir-se. Formadas
algumas sociedades, logo se estabeleceram novas, na
necessidade em que se ficou de resistir às primeiras, e
assim viveram essas hordas, como tinham feito os
indivíduos, num contínuo estado de guerra entre si. As
leis foram as condições que reuniram os homens, a
princípio independentes e isolados sobre a superfície
da terra. Cansados de só viver no meio de temores e de
encontrar inimigos por toda parte, fatigados de uma
liberdade que a incerteza de conservá-la tornava inútil,
sacrificaram uma parte dela para gozar do resto com
mais segurança. A soma de todas essas porções de
liberdade, sacrificadas assim ao bem geral, formou a
soberania da nação; e aquele que foi encarregado
pelas leis do depósito das liberdades e dos cuidados da
administração foi proclamado o soberano do povo3.”
3
Cesare Beccaria, Dos Delitos e das Penas, 1764, Ed. Ridendo Castigat Mores.
4
Jean Jacques. Do Contrato Social, Ridendo Castigat Mores, disponível in:
https://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/contratosocial.pdf
Metodologia
Para o presente trabalho de investigação apoiou-se no método de pesquisa
bibliográfica para de forma qualitativa buscar o conceito do tema em análise.
Objectivos
Geral
Compreender e conhecer as penalidades constantes do Código Penal Angolano.
Específico
Conhecer as penas privativas de liberdade;
Conhecer os critérios de dosimetria da pena.
II.I. Conceito
Embora o foco seja identificar a função da pena, como abordada pelos autores
clássicos, é fundamental que a criminologia, a partir se perspectiva a visão de pena,
tenha em conta a complexidade e multidimensionalidade da pena. Como antes se
abordou, o conceito que aqui se trará assenta na construção e justificação da pena
enquanto mecanismo de controle social, construída pelos primeiros doutrinadores.
A pena é definida como “o castigo previsto por uma lei positiva para quem se
torne culpado de uma infração”5. A sua aplicação impõe requisitos legais e judiciais. E
deve observar um justo processo, onde se possa garantir que o Estado, enquanto
detentor do ius puniendi não abuse desse poder.
Outra definição é citada por Cezar Robert Bitencourt 6, que define “a pena é um
mal que se impõe por causa da prática de um delito: conceitualmente, a pena é um
castigo”.7
5
DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1998, pg. 31.
6
Cezar Robert Biteencourt, Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1, 19ª Ed., Editora Saraiva.
7
Cezar Robert Biteencourt, Tratado de Direito Penal – Parte Geral, pag. 132.
A pena consiste basicamente na privação ou restrição de um bem jurídico.
Entende-se por bem jurídico também a liberdade (total ou parcial) ou até mesmo a
própria vida (como em casos de países que adotam penalidades nesse sentido). Em
Angola a Constituição da República proíbe a pena de morte, a tortura e tratamento
degrante8.
Sobre os limites do exercício desse poder de punir, dizia Beccaria que “não
bastava, porém, ter formado esse depósito; era preciso protegê-lo contra as usurpações
de cada particular, pois tal é a tendência do homem para o despotismo, que ele procura
sem cessar, não só retirar da massa comum sua porção de liberdade, mas ainda
usurpar a dos outros.”9
As respostas dadas ao problema dos fins das penas reconduzem-se a três teorias
fundamentais:
As teorias absolutas ligadas às doutrinas da retribuição ou da expiação
As teorias relativas, onde se analisam duas doutrinas:
o As doutrinas da prevenção geral;
o As doutrinas da prevenção especial, e;
Teorias mistas ou ecléticas (unificadoras)
Nos dias que correm é assente que o critério de se aferir a pena é a culpa do
agente e não a retribuição. Porque se o que está em causa é tratar o homem segundo a
sua liberdade e a sua dignidade pessoal, então isso conduz-nos ao princípio da culpa
como máxima de todo o Direito Penal humano, democrático e civilizado, que nos leva
ao principio segundo o qual, não há pena sem culpa e a medida da pena não pode em
caso algum ultrapassar a medida da culpa.
culpa e a medida da pena não pode em caso algum ultrapassar a medida da culpa.
Kant na obra fundamentação metafísica dos costumes outorgou uma
função retributiva à pena, com caráter eminentemente ético. Não há outra
finalidade. A justificação da pena é de ordem ética, com base no valor moral da
lei penal infringida pelo autor culpável do delito.
O autor concebia a lei como imperativo categórico, ou seja, como
mandamento universal que representasse uma ação em si mesma, sem referência
a outro fim, como objetivamente necessária. Para ele, quem não cumpre as
disposições legais não é digno de cidadania.
cisterns that were otherwise used for the storage of grain. Bit kili, another Babylonian.”
Na sua visão, a pena não pode ser aplicada como meio de procurar outro
bem, mas pela simples razão de ter cometido crime. O homem não é passível de
instrumentalização, ou seja, não pode ser usado como meio para outras
finalidades. O homem deve ser um fim em si mesmo. Logo, o direito de castigar
não pode encontrar fundamento em razões de utilidade social, pois isso não seria
eticamente permitido.
Kant defendia, quando possível, o ius talionis para expressar a quantidade
e a qualidade da pena.
Outro defensor da teoria absolutista foi Hegel, que defendia que o crime
surgia como negação do direito e a pena como negação da negação (ou seja, do
crime). Em sua visão, a pena surgia para reestabelecer o direito.
Hegel atesta que dar qualquer utilidade de prevenção a pena seria como
“levantar um pau contra um cão e tratar o ser humano não segundo a sua honra
e liberdade, mas como um cão” 11 .
Kant e Hegel convergem no sentido de não se instrumentalizar o homem
como meio de prevenção, seja ela qual for o sentido da prevenção.
Como teoria dos fins das penas, a doutrina da retribuição deve ser recusada.
Logo porque ela não é uma teoria dos fins das penas; ela visa justamente o contrário,
isto é, a consideração da pena como entidade independente de fins. Deve ser recusada
ainda pela sua inadequação à legitimação, à fundamentação e ao sentido da intervenção
penal. Estas podem apenas resultar da necessidade que ao Estado incumbe satisfazer, de
proporcionar condições de existência comunitária, assegurando a cada pessoa o espaço
possível de realização livre da sua personalidade.
Outro foco destas teorias incidia sobre a questão de saber em que medida se
devia proceder a retribuição, compensação ou igualação do mal causado pelo crime
praticado pelo agente com a pena a lhe ser aplicada. A superação deste debate acabou
concluindo que este critério de retribuição deveria ser apenas normativo e não fático.
11
Figueiredo Dias, 2001, Temas Básicos da Doutrina Penal, pag. 69.
12
Figueiredo Dias, ob. Cit. Pag. 70
III.II – As Teorias Relativas
A construção do conceito de pena enquanto reação direta e proporcinal ao mal causado
a sociedade não é consensual. Por está razão surgiu outra visão sobre a finalidade da pena que
incide sobre a prevenção. A lógica assenta em o crime não se repetir, quer seja considerando o
agente do crime, quer seja considerando a comunidade em que o agente do crime está inserido.
13
Cezar Robert Biteencourt, Tratado de Direito Penal – Parte Geral, pag 347
Para esta visão da pena, ela serve apenas como ameaça da lei aos cidadãos para
que se abstenham de cometer crimes, é, pois, uma coação psicológica com a qual se
pretende evitar o fenómeno criminoso14.
Outra censura reside no fato de que esta doutrina apenas concebe o cumprimento
da lei com recurso a coação, sem ter em conta a questão da legitimidade.
14
Vide Cezar Robert Bitencourt, ob. Cit. Pag.144.
15
Figueiredo Dias, ob. Cit., pag 75.
Na prevenção geral positiva se atribui à pena uma função de integração social derivada
de um reforço de fidelidade ao Estado, assim como de uma promoção de conformismo por parte
dos cidadãos frente ao ordenamento jurídico. Por conseqüência, concebe-se o Direito Penal
como uma afirmação das convicções jurídicas fundamentais, como uma consciência social das
normas e como uma atitude de respeito pelo Direito.
Jakobs, citado por Bitencour, defende que ao Direito Penal cabe garantir a
função orientadora das normas jurídicas. As normas jurídicas, na sua conceção, buscam
estabilizar e institucionalizar as experiências sociais, servindo como orientação da
conduta que os cidadãos devem observar nas suas relações sociais. A norma violada não
deixa de existir pela infração, e por isso mantém a sua função orientadora.
Critica-se está doutrina por conceber que a proteção bens jurídicos apenas possa
ocorrer através da pena, mesmo quando ela seja desnecessária a sua proteção.
A prevenção especial
Bitencourt cita que Von Liszt defende, segundo a qual “a necessidade da pena
mede-se com critérios preventivos especiais, segundo os quais a aplicação da pena
obedece a uma ideia de ressocialização e reeducação do delinquente à intimidação
daqueles que necessitam ressocializar-se e também para neutralizar os incorrigíveis”19.
18
Bitencourt, ob. Cit., pag. 152
19
Bitencourt, ibdem, pag. 153.
20
Ibdem, pag. 155.
A ideia de nothing Works, ou seja, de que a teoria da prevenção especial não é capaz
de alcançar o objetivo da ressocialização.
Esta teoria reúne elementos das duas anteriores, ou seja, serve tanto para a
punição direta do indivíduo, quanto para a sinalização de alerta à sociedade, no sentido
de desmotivar que outros cidadãos cometam o mesmo crime.
Essa dialética é defendida por Claus Roxin que resumindo, pode dizer-se acerca
da segunda fase de eficácia do direito penal, que a aplicação da pena serve para a
proteção subsidiária e preventiva, tanto geral como individual, mede bens jurídicos e de
prestações estatais, através de um processo que salvaguarda a autonomia da
personalidade e que, ao impor a pena, esteja limitado pela medida de culpa.
21
Vide CPA art.º 44º.
Na articulação das penas, as de prisão podem ser substituídas pelas de multa sempre
que “a prisão aplicada em medida não superior a 6 meses é substituída por igual
número de dias de multa ou por outra não privativa de liberdade...”22
22
Vide art.º 45º do CPA
23
Manual Prático das Decisões Penais. Zorz, Antônio de Maria Patiño/Lunardi, Fabrício Castagna ett ali,
2018, Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados Ministro Sálvio de Figueiredo
Teixeira – Enfam: in: https://criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/manual-dosimetria.pdf
1. Facto criminoso praticado pelo arguido (ainda que com
sentença penal condenatória transitada em julgado) depois da
data do facto delituoso objecto da sentença;
2. Inquéritos policiais e acções penais em curso
3. Actos infracionais;
4. As condenações judiciais transitadas em julgado cujo
cumprimento da pena tenha se dado antes dos seis anos da
prática do crime que é imputado ao arguido não podem servir
para efeitos de reincidência24, mas podem ser utilizadas como
maus antecedentes, conduta social ou personalidade, desde
que sejam diferentes as condenações consideradas, sob pena
de vedado bis in idem;
6. A valoração negativa da conduta social não pode incluir factos relacionados à
própria prática delitiva – a referida circunstância diz respeito à inserção do
agente em seu meio (comportamento do arguido na comunidade ou em seu
grupo familiar) – ou o facto de o agente não estudar nem ter emprego
7. A valoração negativa da personalidade do agente deve apoiar-se em
circunstâncias concretas, o que afasta a simples afirmação genérica de que o
arguido tem “personalidade voltada para o crime” ou, ainda, que registra actos
infracionais em sua adolescência;
8. As consequências do crime incrementam a sanção apenas se for demonstrado
que se apresentam como consequências delitivas anormais do delito para a
vítima ou para terceiros, como, por exemplo, quando o crime patrimonial ou
contra a administração pública ocorre em elevado valor, bem superior ao
comum, ou quando há evidências de abalos psicológicos à vítima que superem
os normalmente decorrentes do delito (caso em que a circunstância deve vir
amparada em alguma prova nesse sentido);
9. O comportamento da vítima nunca pode ser valorado negativamente, pois se
trata de circunstância judicial que apenas pode abrandar a pena, inviabilizando,
por consequência, qualquer fundamentação que agrave a pena sob a razão de que
o comportamento da vítima não teria contribuído para o crime;
10. Nos crimes contra a liberdade sexual, a experiência sexual anterior ou a
orientação sexual da vítima não desnaturam o delito praticado nem servem para
justificar a diminuição da pena-base, a título de comportamento da vítima;
11. A lei penal estabelece, para alguns crimes, circunstâncias judiciais específicas a
ser analisadas, como indicado, por exemplo, no art. 71º do CPA;
12. Por não haver, na primeira etapa da dosimetria, previsão legal da quantidade de
pena que deve ser acrescida ou reduzida em razão de cada circunstância judicial,
deve-se guiar pelo princípio da proporcionalidade para determinar tais
acréscimos e reduções de pena;
24
Art.º 76º do CPA.
13. Na segunda fase da dosimetria, a incidência da atenuante da confissão
independentemente de ela ter sido integral ou parcial, especialmente quando
utilizada para fundamentar a condenação;
Do acima exposto, fica claro que a primeira regra para aplicação da pena assenta na
culpa do agente, como referimos acima, este critério da escola clássica se afigura como
grande contributo das doutrinas retributivas.
A pauta legal dos critérios de dosimetria penal constam do art.º 70º e seguintes do
CPA.
VI. Conclusão
A pena surgiu então como garantia de defesa do grupo ante o ataque a ordem e a
violação das liberdades de todos e de cada um, porém nem sempre foi pacífica a sua
justificação e a busca para determinar os critérios de dosificação das mesmas.
Sobre a pena vimos que a sua defesa acenta em basicamente três teorias:
Pode-se afirmar que é nas teorias ecléticas ou mistas que assenta hoje a
fundamentação da pena. E, aqui buscando a melhor construção das anteriores
doutrinas. A pena é vista como meio de recuperação do delinquente, e o período de
internamento serve exatamente para dá-lo ferramentas para não voltar a delinquir.
Outra consequência desta visão está relacionada com a criação de penas não
privativas de liberdade, isto como meio de reação ao estigma que muitas vezes as
penas de prisão acabam criando e por isso dificultando a integração social do
delinquente.
1. Cesare Beccaria, Dos Delitos e das Penas, 1764, Ed. Ridendo Castigat Mores;
2. Cezar Robert Biteencourt, 2023, Tratado de Direito Penal – Parte Geral, 19ª
Edição.
3. DOTTI, René Ariel. 1998, Bases e Alternativas para o Sistema de Penas. São
Paulo: Revista dos Tribunais.
4. Figueiredo Dias, 2001, Temas Básicos da Doutrina Penal, Coimbra Editora
5. Jean Jacques. Do Contrato Social, Ridendo Castigat Mores, disponível in:
https://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/contratosocial.pdf
6. Manual Prático das Decisões Penais. Zorz, Antônio de Maria Patiño/Lunardi,
Fabrício Castagna ett ali, 2018, Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrados Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira –
Enfam: in: https://criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/manual-dosimetria.pdf