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A HITÓRIA DOS HOMENS E A HISTÓRIA EM DEUS - Lutero Ainda...
A HITÓRIA DOS HOMENS E A HISTÓRIA EM DEUS - Lutero Ainda...
Cartas
21 Agosto, 2007
Amado Caio:
Obrigado pela sua resposta a minha carta, especialmente pelo enriquecedor e esclarecedor
relato da vida de Lutero, sua psicose e contradições.
Quando em minha carta ressaltei os aspectos da vida de Lutero que me lembravam que tenho
visto na sua caminhada, ressaltei aquelas que referenciavam o aspecto mais contundente da
pregação que tenho ouvido: Graça, Amor e consciência do Evangelho.
Não entrei em detalhes como o interesse político e pessoal da conveniência de uma ruptura da
Alemanha com o papado; tampouco na vida polêmica de Lutero; nem de sua formação
intelectual, na melhor tradição católica. São fatos que creio, não farão parte daquilo que Deus
singelamente começou através de sua vida e dos mentores que a você se agregaram.
Certamente Deus usa a Seu tempo, quem achar melhor para cumprir os seus propósitos – seja
mula, Paulo, Lutero ou Caio.
Li o “Sem Barganhas com Deus” e concordo que institucionalização da Reforma, que prevalece
até hoje dentro das denominações evangélicas (qualquer que seja sua vertente) é herança de
Roma e que o “carma” de Lutero é intensamente presente no cotidiano de muitos que se dizem
“crentes”. Hoje se converter significa na grande maioria das vezes somente mudar de papa.
Creio piamente que este não é, e nem será nosso caminho.
Eliézer.
_____________________________________________________________
Resposta:
É claro que entendi que sua associação original tinha a ver como filme (que é belo, bem feito,
resumido, e bem carregado da essência da mensagem de Lutero). Portanto, não pense o
contrário. Eu, todavia, decidi aproveitar sua carta e expandir algo que me parece importante; ou
seja: a desbeatificação de Lutero, a fim de que haja a desbeatificação da Reforma.
Ora, é inegável o impacto histórico, social, econômico, ideológico, intelectual, psicológico, ético,
e de projeto de sociedade [que seria de democracia capitalista] que a Reforma provocou.
Ora, eles [esse eventos-adventos] provocaram profundos impactos na Terra e nos fenômenos
do mundo [especialmente todos aqueles fenômenos que são filhos do dinheiro; incluindo a
política]. Mas, segundo o Evangelho, podem não ter significado quase nada. Afinal, na fé, o
maior rio do mundo não é o Amazonas, mas o Jordão. Assim como o maior dentre os nascidos
de mulher não foi Nabucodonozor, nem Alexandre, nem César, nem Gandhi, mas João Batista,
que não teve quase qualquer impacto na História, exceto por falar a verdade acerca de Jesus.
A Igreja de Jesus é um fenômeno sutil, sem aparência, sem beleza a ser fotografada, sem
poder a ser demonstrado, sem nada súbito que a ponha num patamar de glória ou de
reconhecimento.
Assim, a verdadeira História da Igreja não aparece nos “Livros de História da Igreja”. São atos
apostólicos somente inscritos nos corações.
Por isso a Igreja-Caminho não sabe nem de onde vem e nem para onde vai... É duro, mas tem
que ser assim.
Dessa forma [como para Jesus o que é elevado entre os homens é abominação diante de
Deus], se virar culto histórico, é porque é elevado diante dos homens, e já não tem [se é que
teve] significado para Deus.
Na História só se pode mesmo fazer Re-Forma. A História tem forma. Torna-se fixa. Portanto, o
melhor a se fazer na História é uma Reforma.
No reino, no entanto, não se faz Reforma jamais; pois, é como por vinho novo em odre velho, ou
remendo de pano novo em veste velha.
Ora, no reino tudo tem a ver com o Dia Chamado Hoje. Foi isto que Jesus disse ao moço que
queria primeiro sepultar seu pai. “Deixa os da história carregarem a história. Tu, porém, vai e
prega o reino de Deus.”
Não que isso nos conduza a qualquer forma de niilismo histórico. Ao contrário, passa-se a
desejar conhecê-la ainda mais; pois, nela, na História, reside o germe de nossa grande tentação;
posto que a História é a vida eterna dos mortais.
Entretanto, foi a perspectiva inversa o que fez de Jerusalém o centro do mundo e não Roma;
apesar de historicamente o centro do mundo ter sido Roma, enquanto Jerusalém não era nada.
Digo isto para dizer que o fenômeno da Reforma Protestante tem todas as características dos
fenômenos humanos, conforme todos os que se tornaram História.
A Igreja, por exemplo, foi se tornando... Assim como o reino: uma sementinha aqui, outra ali;
uma sombra aqui, outra ali; uma lâmpada aqui, outra ali, e outras acolá. E não veio como uma
montanha de sal, ao contrario, o sal apareceu conforme existisse massa a ser salgada. E mais:
o sal só cumpre seu papel se dissolver-se na massa; pois, sal visível não serve para nada.
A única manifestação de fogo e chamas do Novo Testamento só aconteceu para 120 pessoas.
Ora, isso para não falar que Jesus não só resistiu à tentação de pular do Pináculo do Templo,
como também não foi aos céus do Pináculo do Templo.
Ora, por isto até hoje se discute se Jesus foi ou não histórico; e o debate sobre o Cristo
Histórico apenas prova a minha tese. Afinal, um Jesus esmagadoramente histórico não seria
discutido; pois estaria “fixado”. Ele, entretanto, se faz história nas historias dos outros, e não em
Sua própria, visto que Ele não é como uma torre de Salvação numa Paris mundial. Ao contrário,
Ele é invisível aos olhos da História, só sendo visto pelos que vêem a história que somente se
discerne pela fé.
O descaso de Jesus para com a fixidez da História é chocante. Pode ser bem ilustrado pelo fato
de Ele escrever no chão [sabia escrever], e não ter deixado nada escrito de Si mesmo. Para
Jesus o que não fosse ato não merecia virar ata. E mesmo o que era ato, Ele só escrevia nos
corações; deixando que outros escrevessem não “A História de Jesus”; mas, antes disso, a
história de como eles O viram. Daí cada evangelho ter sua própria ótica. E tudo não fixo.
As coisas do reino não dão para serem afixadas em portas de Catedrais; essa é a verdade. Não!
Elas são invisíveis aos olhos; são suaves e poderosas; e esmagam pela sutileza.
“Pelo mar foi o Seu caminho; porém, não se acham os Seus vestígios”.
Ou seja: o mar abre, mas ninguém sabe como.
“É o vento”, dizem.
Se quisermos que a Reforma seja ainda impregnada do vírus do Evangelho, então, esse culto às
Tábuas da Lei de Lutero e à Revelação Institutas de Calvino, precisam acabar; e necessitam ser
apenas o que foram: eventos históricos, com coisas boas e outras ruins; e, nada mais...
Além disso, achei que era bom mostrar como um pregador da Graça como Lutero pôde viver
tão pouco do beneficio dela em si mesmo.
O chamado não é para fazer Reforma. O chamado é para crescer na Graça e no conhecimento
de Jesus; não como texto de doutrina ou teologia, mas como experiência da Graça se
expandindo na totalidade de nosso ser, e não apenas como fenômeno de poder e influencia do
lado de fora.
Um grande beijo com todo carinho, mesmo sem saber se meu paizinho ainda estará na Terra
amanhã!
Caio
20/08/07
Manaus
AM
Desde ontem que papai já foi e voltou algumas vezes. Hoje ele passou
o dia “ido”, mas agora à noite Deus derramou um sereno de alegria
sobre nós, abrindo uma sementinha de recuperação para ele. Mas, se
vivemos para o Senhor vivemos; e se morremos, para o Senhor morremos;
quer, pois, vivamos ou morramos, nós somos do Senhor!
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