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CHOQUE - ABORDAGEM NA
EMERGÊNCIA
10.29327/569733.3-20 147 | P á g i n a
INTRODUÇÃO fazendo vasoconstrição aumenta a pré-carga, di-
recionando o sangue para o coração, aumen-
Quando ocorre alteração na função celular tando contratilidade cardíaca (MANÇANEIRA,
de metabolismo aeróbico para anaeróbico, tere- 2018).
mos o estado de choque. Esta é uma situação clí- Vale lembrar, que o aumento da resistência
nica potencialmente crítica, caracterizada por vascular sistêmica (RVS), mantem a pressão ar-
uma oferta inadequada de oxigênio a nível celu- terial limítrofe em alguns casos, mesmo com
lar, para satisfazer as demandas metabólicas do uma diminuição do débito cardíaco (DC), pois a
organismo (MANÇANEIRA, 2018). pressão arterial é determinada pelo DC e pela
O desequilíbrio entre oferta de oxigênio e RVS. Com isso, choque não necessariamente re-
demanda, leva ao estado anaeróbico, resultando quer a presença de hipotensão. O choque pode
em acúmulo de ácido lático, um indicador de estar presente com pressão arterial normal, au-
ineficiência do sistema circulatório (MANÇA- mentada ou diminuída (POMERANTZ, 2022).
NEIRA, 2018). Porém, essas anormalidades rapidamente
O choque se desenvolve, como resultado de tornam-se irreversíveis e resultam sequencial-
condições que causam diminuição e distribuição mente em morte celular, lesão de órgão alvo, fa-
anormal do volume intracelular ou função car- lência de múltiplos órgãos e parada cardiorres-
diovascular prejudicada. Situações como febre, piratória, sendo necessário identificação e ma-
infecção, lesão, desconforto respiratório e dor, nejo precoce. (POMERANTZ, 2022).
também pode levar ao quadro de choque, por
elevarem a demanda dos tecidos por O2 e nutri- Identificação do choque, metas
entes (PALS, 2017). clínicas e estabilização inicial
Nas etapas iniciais do choque, com o au-
mento da frequência cardíaca e da elevação da Um dos estágios do choque é em relação ao
contratilidade cardíaca, o organismo consegue seu efeito sobre a pressão arterial, podendo ser
compensar o quadro, mantendo perfusão para os um choque compensado, hipotensivo ou irrever-
órgãos nobre. Além disso, o sistema nervoso sível. E outra forma de classificação do choque
simpático realiza vasoconstrição periférica e é em relação a sua etiologia, incluindo, hipovo-
meios adicionais para obtenção de energia, lêmico, obstrutivo, cardiogênico e distributivo,
como a glicólise hepática e a lipólise, tornando- que será discutido posteriormente (POME-
se fonte de energia para as células (WALTZ- RANTZ, 2022).
MAN, 2021). Choque compensado e hipotensivo
Como mencionado, uma das variáveis que o
nosso corpo consegue remanejar para manter a Choque compensado se trata da existência
perfusão é o débito cardíaco, este é o produto do completa e funcional da pressão arterial, com a
volume sistólico pela frequência cardíaca. Com presença de sinais de perfusão tecidual inade-
isso, a taquicardia é um sinal precoce de choque quada como tempo de reperfusão aumentado,
(POMERANTZ, 2022). pele fria, em crianças com choque compensado,
Outra variável é o volume sistólico e este é vale ressaltar, que esse achado também pode ser
compreendido pela pré-carga, contratilidade influenciado pela temperatura ambiente (PALS,
cardíaca e pós-carga. O sistema simpático atua 2017).
diretamente na melhora desse parâmetro, pois
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A frequência cardíaca é inicialmente au- Durante esta fase, os mecanismos compen-
mentada. Sinais de vasoconstrição periférica satórios são sobrecarregados. Sinais e sintomas
(como pele fria, pulsos periféricos diminuídos e de disfunção orgânica (como estado mental al-
oligúria) podem ser observados à medida que a terado, sendo resultado de má perfusão cerebral)
perfusão fica ainda mais comprometida (PO- aparecem. A pressão arterial sistólica cai, em-
MERANTZ, 2022). bora as crianças que perderam até 30 a 35 por
Por outro lado, no choque descompen- cento do volume de sangue circulante normal-
sado/hipotensivo os sinais de choque se asso- mente podem manter a pressão arterial sistólica
ciam à hipotensão arterial sistólica (PALS, normal (MANÇANEIRA, 2018).
2017). Abaixo na Tabela 20.1 seguem os É importante salientar que, em crianças, a
valores de referência pediátricos da frequência hipotensão é um sinal tardio e súbito de descom-
cardíaca normal, já na Tabela 20.2 seguem os pensação cardiovascular. Portanto, a pressão ar-
valores de referência pediátricos da pressão terial não é um bom indicador da homeostase
arterial para delimitar a hipotensão. cardiovascular nesses pacientes (CARLOTTI,
2012).
Tabela 20.1 Valores de frequencia cardíaca normal em
batimentos por minuto (bpm) de acordo com a idade Identificação geral do choque
(média +- 2 desvios-padrão).
Na maioria das crianças os choques se ca-
Idade Fc (bpm) / +- 2 desvios-padrao racterizam por debito cardíaco (DC) baixo,
Recém-nascido 140 +- 50 mesmo que algumas formas possam ter DC ele-
vado (sepse, anemia grave). Todas as formas de
1-6 meses 130 +- 50
choque podem comprometer as seguintes funci-
6-12 meses 115 +- 40
onabilidades vitais: cerebrais, com alteração do
1-2 anos 110 +- 40
estado de consciência (irritabilidade, agitação,
2-6 anos 105 +- 35 letargia e coma), hipotonia, crises convulsivas e
6-10 95 +- 30 alterações pupilares e renais (baixo débito uri-
>10 anos 85 +- 30 nário, filtração ineficaz) (CARLOTTI, 2012).
Condições como febre, infecção, lesão e an-
Fonte: Adaptado de Pediatric Advanced Life Support
Provider Manual, 2017. gústia respiratória podem contribuir para o cho-
que, através do aumento da demanda tecidual de
Tabela 20.2 Definição de hipotensão pelos limites de oxigênio e nutrientes (PALS, 2017).
pressão arterial sistólica (mmHg) de acordo com a idade. A avaliação clínica cuidadosa é essencial
Pressão arterial para a identificação genuína do choque, de-
Idade
Sistólica (mmHg) vendo-se estar atento às alterações da frequência
Recém-nascidos a cardíaca e da pressão arterial, e aos sinais de hi-
< 60
termo (0-28 dias)
Lactentes (1-12 meses) < 70
poperfusão tecidual. Ressalta-se que a taquicar-
Crianças 1-10 anos < 70 + (2x idade em anos) dia sinusal é um sinal inespecífico de compro-
>10 anos < 90 metimento circulatório, pois pode ocorrer em
várias situações de estresse (dor, ansiedade e fe-
Fonte: Adaptado de Pediatric Advanced Life Support
Provider Manual, 2017.
bre) (CARLOTTI, 2012).
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As crianças doentes e sob estresse apresen- Figura 20.1: Via de saída da aorta; →: válvula mitral;
tam frequentemente aumento da pressão arte- VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo; AE:
átrio esquerdo.
rial. Portanto, a pressão arterial no limite infe-
rior da normalidade pode ser inapropriada para
uma criança gravemente doente (SOUZA &
FORONDA, 2020).
A diminuição da perfusão sistêmica se inicia
nas extremidades, com diminuição e desapare-
cimento dos pulsos periféricos, e progride em
direção ao tronco, com enfraquecimento dos
pulsos centrais. A pressão de pulso é a diferença
entre a pressão arterial sistólica e a diastólica
(WALTZMAN, 2022).
O desaparecimento dos pulsos centrais é um
sinal pré-mórbido que indica a necessidade de
Fonte: Arquivo de imagens da autora.
intervenção muito rápida para evitar parada car-
díaca. A diminuição da perfusão cutânea é um
Nos pacientes em choque, é possível obser-
sinal precoce de choque. Normalmente, as mãos
var, no ecocardiograma, um padrão hiperdinâ-
e os pés encontram-se aquecidos e corados
mico, que consiste em taquicardia com variação
(WALTZMAN, 2022).
no tamanho do VE visualmente normal
Ultrassonografia Point-Of-Care no (SOUZA & FORONDA, 2020).
Para a detecção de derrame pericárdico, a
Choque
janela mais utilizada é a chamada de subxifoide
As modalidades de Pocus no choque envol- ou subcostal. O derrame aparece como uma
vem o ecocardiograma focado para emergência estrutura anecoica, portanto de cor preta, ao
e a avaliação do diâmetro da veia cava inferior redor do coração. No contexto do paciente hipo-
(VCI). O ecocardiograma, realizado pelo mé- tenso, a presença de derrame pericárdico levanta
dico que conduz o paciente crítico, objetiva ava- a possibilidade de tamponamento cardíaco
liar qualitativamente a função do ventrículo es- como causa do choque (ZAMPERLINI, 2022).
querdo (VE) e identificar o derrame pericárdico, O tamponamento ocorre quando o derrame
caso o tamponamento cardíaco seja a causa do pericárdico reduz a complacência das câmaras
choque (SOUZA & FORONDA, 2020). cardíacas, levando à diminuição do retorno ve-
Ambas as informações podem ser determi- noso, do débito cardíaco DC e da pressão arte-
nantes para guiar o tratamento do paciente. Uma rial. Nessa situação clínica, o ventrículo direito
das formas mais usadas para estimar a função do VD câmara que funciona em regime de menor
VE é a obtenção de uma janela cardíaca, cha- pressão, sofre mais precocemente os efeitos da
mada de para-esternal eixo longo, como de- compressão externa pelo líquido (ZAMPER-
monstrado na Figura 20.1 (ZAMPERLINI, LINI, 2022).
2022).
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A ausência de derrame pericárdico a USG posta basicamente por: oximetria de pulso; me-
exclui a possibilidade de tamponamento cardí- didas de PA, acompanhamento do monitor car-
aco como causa do choque (SOUZA & FO- díaco, verificação de glicemia capilar, calcemia,
RONDA, 2020). controle da temperatura e da diurese (MANÇA-
NEIRA, 2018).
Estabilização inicial
Choque hipovolêmico
Para o manejo inicial de crianças com cho-
que, além do choque obstrutivo, que são cuida- O choque hipovolêmico pode ser definido
das em um ambiente com capacidade de cui- por um volume intravascular sanguíneo insufi-
dado crítico, sugere-se a terapia-alvo usando ob- ciente que como consequência tem a redução da
jetivos fisiológicos e clínicos, incluindo pulsos pré-carga e diminuição do volume sistólico.
centrais e periféricos, tempo de enchimento ca- Esse mecanismo gera uma baixa oxigenação dos
pilar, estado mental, pressão arterial e débito tecidos prejudicando a função primária do sis-
urinário (WALTZMAN, 2022). tema cardiovascular que é fornecer oxigênio e
A avaliação rápida deve determinar preco- outros substrato para as células. A resposta com-
cemente a presença e o tipo de choque possível. pensatória a esse sistema é observada pelos sin-
Manejo inicial deve focar na ressuscitação de tomas de baixo débito que o paciente poderá
fluídos com solução cristaloide isotônica ade- apresentar diante do quadro: a taquicardia, o au-
quada ao tipo de choque e terapias farmacológi- mento da resistência vascular periférica e o au-
cas específicas, conforme indicado, uma vez mento da contratilidade cardíaca (MCKIER-
identificada a etiologia do choque (WALTZ- NAN & LIEBERMAN, 2005).
MAN, 2022). A causa mais comum de choque em crianças
As intervenções devem ser administradas é o hipovolêmico. Esse choque pode estar asso-
em rápida sequência, com avaliação de indica- ciado a muitas causas: diarreia, vômitos, hemor-
dores fisiológicos antes e depois de cada inter- ragias, ingesta insuficiente de fluídos, diurese
venção (WALTZMAN, 2022). osmótica (cetoacidose diabética), perdas para o
O cronograma ideal para o manejo inicial do terceiro espaço, queimaduras (POMERANTZ,
choque em crianças é incerto e pode ser inalcan- 2022).
çável na prática clínica, dependendo dos fatores Dessa maneira, o seu diagnóstico pode ser
e configuração. realizado de acordo com o sinal clínico do paci-
Os objetivos da primeira hora de tratamento ente e uma anamnese detalhada. Dentre os sinais
do choque são: garantir a ventilação e a oxige- e sintomas podemos encontrar sinais de desidra-
nação, manter circulação eficaz, com normali- tação, como fontanela deprimida, olhos fundos,
zação da FC e da perfusão periférica, reestabe- perda do turgor da pele; mecanismos compensa-
lecer a diurese e o nível de consciência ade- tórios a hipovolemia como taquicardia e au-
quado (MANÇANEIRA, 2018). mento da pressão arterial; entre outros sinais de
Todo paciente com quadro de choque deve hipovolemia como diminuição da pressão de
ser colocado em leito de emergência, monito- pulso, tempo de enchimento capilar prolongado,
rado e puncionado (pelo menos, um acesso ve- pele fria, alteração do estado mental e oligúria.
noso periférico). A monitoração deve ser com- A hipotensão pode estar presente em quadros de
choque descompensado, ela ocorre geralmente
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com perdas de mais de 30% do volume sanguí- A angiografia pulmonar, fornece imagem de
neo circulante (PALS, 2017). diagnóstico definitiva para embolia pulmonar
A abordagem do choque hipovolêmico pode (PE), mas só deve ser realizada em pacientes
ser realizada com ressuscitação fluída vigorosa, que respondem ao tratamento inicial de choque
restaurando a perfusão e prevenindo danos em (oxigenação, ressuscitação de fluido intrave-
órgãos-alvo. Dessa maneira é necessário para o noso e suporte vasopressor) (WALTZMAN,
sucesso do manejo em crianças com possível 2022).
choque hemorrágico traumático, realizar a imo- Em pacientes que permanecem instáveis
bilização da coluna cervical, até que uma fratura apesar da ressuscitação adequada e em que a
de coluna seja descartada; o manejo da via aérea suspeita de EP é alta, o teste definitivo é típica-
com oxigênio suplementar e o acesso vascular mente considerado inseguro. A ultrassonografia
adequado deve ser obtido para infusão rápida de transtorácica ou transesofágica de cabeceira
fluido. A ressuscitação volêmica inclui a admi- pode ser usada nesses pacientes para estabelecer
nistração de cristaloides isotônicos em bólus de um diagnóstico presuntivo de EP e usada para
20 mL/kg, seguida de avaliação dos indicadores justificar a administração da terapia trombolí-
fisiológicos de perfusão periférica (pressão arte- tica (WALTZMAN, 2022).
rial, qualidade dos pulsos centrais e periféricos, O tratamento específico deriva de determi-
perfusão cutânea, estado mental e débito uriná- nadas condições, (tamponamento cardíaco, ten-
rio). As crianças que não melhoraram após re- são do tórax por pneumotórax, lesões cardíacas
ceber um total de 60 mL/kg de fluido isotônico congênitas dependentes do canal arterial, embo-
devem ser avaliadas quanto à perda contínua de lismo pulmonar maciço), como:
sangue ou outras causas de choque (POME- • Dependente do Canal Arterial (obstru-
RANTZ, 2022). ção da via de saída do VL): - Prostaglan-
dina E¹, - Consultar um especialista.
Choque obstrutivo
• Tensão do tórax por pneumotórax: -
Trata-se do aumento da resistência vascular Descompressão por agulha, - Toraco-
causada por condições como doença cardíaca centese com tubo.
congênita com lesões ductais dependentes (por • Tamponamento cardíaco: - Pericardio-
exemplo, coração esquerdo hipoplásico) ou con- centese, - Bolus de 20 mL/kg SSN/LR.
dições obstrutivas adquiridas (por exemplo, • Embolia Pulmonar: - Bolus de 20 mL/kg
pneumotórax, tamponamento cardíaco ou em- NS/LR, repetir conforme a necessidade,
bolia pulmonar maciça) (WALTZMAN, 2022). -Considere trombolíticos, anticoagulan-
Embora a radiografia ou tomografia compu- tes, - Consultar um especialista (PALS,
tadorizada do tórax possam ser ferramentas para 2017).
auxiliar em diagnóstico, sempre que possível, Tratamento Específico do Tamponamento
pneumotórax hipertensivo e hemotórax devem Cardíaco: crianças com tamponamento cardíaco
ser identificados clinicamente ou por ultrasso- podem melhorar temporariamente com a admi-
nografia de emergência e rapidamente tratados nistração de fluidos para aumentar o débito car-
pela descompressão por agulha, seguida de to- díaco e a perfusão dos tecidos até ser possível
racocentese para inserção de tubo torácico realizar uma drenagem pericárdica. A drenagem
(WALTZMAN,2022).
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pericárdica eletiva (pericardiocentese), frequen- pelo músculo cardíaco, causando um menor dé-
temente orientada por ECO ou fluoroscopia, bito cardíaco, que consequentemente o corpo
deve ser realizada por especialistas treinados e tentando voltar para sua homeostase aumenta a
com habilidade para respectivo procedimento. frequência cardíaca assim como na pós carga do
A pericardiocentese de urgência também poderá ventrículo esquerdo e aumenta a resistência dos
ser realizada em caso de parada cardiorrespira- vasos para priorizar a perfusão de órgãos vitais.
tória sem pulso iminente ou real, quando houver Mesmo não estando com hipovolemia a princí-
forte suspeita de tamponamento (PALS, 2017). pio (somente se tiver outra causa associada), o
Tratamento Específico de Pneumotórax hi- rim reduz a filtração em uma tentativa de au-
pertensivo: deve especificamente ser identifi- mentar o débito cardíaco, porém acaba gerando
cado pelo exame clínico, e o tratamento não edema pulmonar. Ou seja. Em uma tentativa de
deve ser retardado até a confirmação por uma manter a perfusão de órgãos nobres como cora-
radiografia de tórax. A imediata descompressão ção e cérebro, acaba prejudicando outros ór-
por agulha, seguida de toracocentese para inser- gãos, como o pulmão e uma sobrecarga no ven-
ção de tubo torácico assim que possível conti- trículo esquerdo. Além disso, é muito comum
nua sendo o Gold Standard. A descompressão que o coração também sofra com uma oxigena-
por agulha de urgência, realiza-se inserindo um ção irregular, além de aumentar o uso energé-
cateter sobre a agulha (técnica de Seldinger) de tico, ele é distribuído de forma irregular, ou seja,
calibre 18 a 20 por sobre a 3ª costela (2º espaço as crianças em um choque grave, ou até mesmo
intercostal) da criança, na linha média clavicu- em um choque sustentado pode gerar sequelas
lar. Um jato de ar é sinal de que a descompres- miocárdicas (WALTZMAN, 2022).
são por agulha foi, de fato, bem-sucedida. Isso Os sinais desse choque passam pelo apare-
indica alívio da pressão que havia se formado no cimento de esforço respiratório que em geral é
espaço pleural (PALS, 2017). decorrente do pulmão edemaciado, assim como
uma insuficiência cardíaca congestiva e cianose
Choque cardiogênico – uma vez que a saturação pode ser reduzida de-
O choque cardiogênico ocorre quando há vido a injúria no pulmão. Outros sintomas apa-
uma baixa perfusão nos tecidos corporais, como recem, porém, são comuns a todos os choques
não há sangue suficiente nestes tecidos, acaba como o aumento da frequência cardíaca, da fre-
causando também uma disfunção do músculo quência respiratória, pulsos periféricos reduzi-
cardíaco, o miocárdio. Além disso, há várias dos ou até mesmo ausentes, oligúria, rebaixa-
causas desse choque relacionadas a parte cardí- mento do nível de consciência entre outros
aca e a sua contratilidade, como uma cardiopatia (PALS, 2017).
congênita, miocardite, miocardiopatia, arrit- O tratamento deve ser criterioso em relação
mias, ou até mesmo um trauma que cause lesão a hidratação, pois se rápida e precipitada pode
ao miocárdio. Há também causas por fatores ex- acabar trazendo malefícios, aumentando o
trínsecos como a sepse e a intoxicação edema no pulmão, piorando a função cardíaca,
(PALS,2017). e dessa forma, agravando os sintomas pela pato-
A história natural desse choque provém do logia descrita. Logo a hidratação deve ser lenta,
mal funcionamento do bombeamento de sangue de 5 a 10 ml/kg de líquido isotônico feito em
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bolus, deixando correr de forma mais lenta e nervoso quando é atingido acima da sexta vérte-
sempre monitorizando o paciente para que não bra torácica, causando uma falha no sistema ner-
haja situações em que o metabolismo seja au- voso simpático, que é responsável pela vaso-
mentado, como esforço respiratório, febre, agi- constrição, aumento da frequência e débito car-
tação. As crianças e lactentes podem necessitar díaco, logo, há uma vasodilatação intensa cau-
de medicações que aumentem o débito cardíaco, sando hipotensão, mas a pressão de pulso se
melhorando a contratilidade miocárdica e dessa mantém estável, porém a frequência cardíaca se
forma reduzindo a resistência dos vasos, e dessa mantém normal ou reduzida, e sem mecanismos
forma o indivíduo possa se recuperar do choque compensatórios da hipotensão, diferenciando
cardiogênico (WALTZMAN, 2022). assim do choque hipovolêmico. Outros sinto-
mas que podem ser observados é a respiração
Choque distributivo diafragmática causada também pelo trauma
Esse choque mantém um volume sanguíneo (POMERANTZ & WEISS, 2022).
normal, porém como o nome mesmo diz a sua
Choque séptico
distribuição aos tecidos corporais é feito de
forma inadequada, causando uma má perfusão Aqui vamos abordar principalmente o cho-
visualizada principalmente no baço, um órgão que séptico, que é causado por uma resposta er-
bastante vascularizado. Algumas das formas rônea ao agente infeccioso, com alta mortali-
mais recorrentes de apresentarem esse choque é dade em crianças. É utilizado um protocolo para
através do choque séptico, anafilático e até o tratamento, que constitui em colher a hemo-
mesmo o neurogênico – cada um à sua maneira, cultura, e caso não cause atraso, em seguida ini-
causando uma vasodilatação. (POMERANTZ ciar a antibioticoterapia de acordo com a sus-
& WEISS, 2022) peita do sítio infeccioso (eles devem ser inicia-
Choque anafilático é a reação do corpo a al- dos na primeira hora). Em relação ao volume, o
gum alérgeno, como um medicamento, ali- indicado é usar cristaloides para ressuscitação
mento, entre outros, essa reação gera uma res- inicial, fazer monitorização, tendo como obje-
posta corporal em minutos ou segundos após a tivo manter a pressão arterial média entre o per-
exposição, causando sinais de ansiedade, urticá- centil 5-50 para a idade, monitorar o débito car-
rias, angioedema, que é preocupante principal- díaco/índice cardíaco, o índice da resistência
mente quando atinge a glote, podendo causar dos vasos, a saturação central venosa do oxigê-
parada respiratória. A histamina é fundamental nio e acompanhar o tratamento com os níveis de
no processo, causando uma vasodilatação sistê- lactado sérico (SBP, 2022; MARTIN & FIO-
mica, o que acaba gerando uma permeabilidade RETTO, 2021)
capilar maior com perda de líquido para o ter- Em relação as drogas vasoativas diluídas em
ceiro espaço. Outro efeito que ocorre é uma va- veia periférica no início, é recomentado inicia-
soconstrição pulmonar, o que causa um au- las somente após ressuscitação volêmica de 40
mento da pressão no lado direito do coração, e a 60 ml/kg sem retorno da perfusão adequada,
também redução da pressão arterial sistêmica. É ou tiver limite para o uso de fluidos, logo, usar
uma das causas rápidas de óbito (PALS,2017). epinefrina quando há baixo débito cardíaco, no-
Já o choque neurogênico na maioria das ve- repinefrina em choque hipotensivo. Lembrar de
zes acontece devido a algum trauma no sistema associar a vasopressina ou até mesmo titular as
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catecolaminas para os indivíduos que necessi- Além disso, é importante manter a glicemia
tem de altas doses de catecolamina, se as drogas abaixo de 180 mg/dL, monitorar e manter nível
vasoativas não reduzirem a disfunção cardíaca e normal de cálcio.
a hipoperfusão, são indicados os inodilatadores É recomendado também iniciar nas primei-
(POMERANTZ & WEISS, 2022). ras 48h, quando possível, a nutrição enteral atra-
Já em relação ao suporte ventilatório na se- vés do tubo gástrico, e suspendê-la em até 7 dias
quência rápida de intubação usar cetamina e da entrada do paciente (SBP, 2022; MARTIN &
benzodiazepínico em baixa dose. FIORETTO, 2021).
Vale ressaltar que o uso de corticoide só é
recomendado se a causa do choque for devido a
exposição ao corticoide.
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