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Filosofia

Filosofia da ação

O que é a Filosofia da ação?


Filosofia da ação é a área da filosofia que se relaciona com outras disciplinas filosóficas como
a ética ou a filosofia social e política.
Procura explicar a natureza e racionalidade da ação humana e responder a questões como “o
que são ações e o que é agir” e “O que distingue as ações das não ações?”, entre outras.
O que são ações?
«Tudo o que fazemos faz parte da nossa conduta, mas nem tudo o que fazemos constitui uma
ação»
- Filosofo Mosterín
Ação – o termo deve ser filosoficamente reservado apenas e só para aquilo que fazemos de
forma consciente, voluntária e deliberada, isto é, para os atos intencionais.
Apenas os seres racionais, o ser humano, executa ações, logo, apenas elas são agentes.
Agente da ação
Agente – é o autor da ação, ou seja, a pessoa de quem a ação procede (o sujeito que escolhe,
decide o que fazer e como fazer).
Devido a isso, identifica simultaneamente o responsável pela ação, ou seja, aquele que
responde pelos atos por si livremente praticados.
O agente é também ator, ou seja, desempenha vários papéis diariamente como o de primo/a;
tio/a, pai/mãe, entre outros.
O agente da ação é o centro de convergência da rede conceptual da ação.
Atos e ações são coisas distintas.
Ato
Ato voluntário – é movido pela vontade e requer um agente livre que, antes de praticar a
ação, pondera os atos, escolha de modo responsável os meios para pôr em prática e pensa
nas consequências que poderão surgir.
Ato involuntário – é movido por forças exteriores.
É possível dizer que ação não é o mesmo que ato, no entanto, um ato voluntário pode ser
considerado uma ação, mas um ato involuntário não.
Distinção entre fazer e acontecer
- Há coisas que acontecem (ocorrências do universo são acontecimentos)
- Há coisas que nos acontecem (limitamo-nos a ser recetores desses acontecimentos, que,
embora não dependam de nós, nos afetam – o movimento da Terra, envelhecimento das
células, ser roubado; escorregar, etc.…);
- Há coisas que fazemos (todos os acontecimentos que partem de nós, são realizações nossas
– mover o braço);
- Há coisas que fazemos inconscientemente (não sabemos que estamos a executar –
ressonar; ser sonâmbulo; falar enquanto dormimos), etc;
- Há coisas que fazemos conscientemente, mas involuntariamente (sabemos que estamos a
realizar, mas não dependem da nossa intenção – tremer de frio; espirrar, transpirar, respirar, e
pôr o lixo, etc);
- Há coisas que fazemos consciente e voluntariamente (dizemos que temos a intenção, o
propósito de fazer algo; conversar, namorar, ver um filme, escrever, estudar, etc;).
Uma ação exige:
- Um agente (sujeito da ação, capaz de se reconhecer como o autor da ação);
- Consciência (perceção de si como autor da ação);
- Intenção: é o propósito ou a finalidade da ação e, neste sentido, remete para o espaço
mental do agente. Serve para identificar a ação (o seu objeto, o seu projeto).
- Motivos: o porquê da ação (razões que justificam); necessidades/desejos que movem a
vontade de agir;
- Deliberação: corresponde à ponderação das vantagens e inconvenientes das diferentes
possibilidades de ação; examinam-se e ‘discutem-se’ os motivos que nos levam a agir, os
procedimentos necessários para concretizar o projeto e antecipam-se as consequências da
ação.
- Decisão: momento em que o agente toma a decisão de como agir, isto é, opta por uma das
possibilidades de ação (rejeita as outras).
- Liberdade: para decidir a realização da ação;
- Finalidade: responde á pergunta “Para quê”; as ações humanas têm sempre um sentido, uma
direção, uma finalidade; é o último objetivo da ação.

Determinismo e liberdade na ação humana

Ação humana – ação que apenas é executada pelo ser humano (decide, reflete, delibera, etc…).
Os animais não têm liberdade, seguem o instinto animal.
Livre-arbítrio
Corresponde ao exercício livre e responsável de um agente racional que é capaz de escolher
entre várias possibilidades, sem que lhe seja imposto qualquer coação ou constrangimento.
A ação humana pressupõe e exige liberdade de escolha, condição de toda e qualquer ação
intencional, exige livre-arbítrio.
A liberdade é uma condição fundamental para a existência do ser humano na medida em que
é a partir dela que cada pessoa escolhe o seu percurso, exprime a sua identidade e estabelece
a sua individualidade.
Liberdade no sentido negativo
- Ausência de constrangimento a ação.
- Liberdade de não se ser impedido de escolher.
Resulta do desejo que o individuo tem de se autodeterminar, de ser sujeito e não objeto.
As decisões partem de si próprio, não estando determinadas por forças exteriores.
A nossa convicção de liberdade/livre-arbítrio entra em conflito com uma importante hipótese
científica.
Determinismo: nega a existência da liberdade. Defende que tudo está organizado em torno de
leis fixas e imutáveis – com base nos seguintes argumentos:
- Se o Homem está inserido num mundo físico, sujeito a leis e relações de causa-efeito, não
pode ser exceção e dificilmente consegue escapar e exercer livremente a sua vontade;
- O ser humano tem a aparente ilusão de que age livremente e isso deve-se somente ao facto
de ainda não ter sido possível descobrir todas as leis que regem os vários níveis da realidade –
ilusão por ignorância.
Determinismo radical: Afirmam que tudo no universo é regido por uma relação de causa-
efeito e que, desta forma, todos os acontecimentos são procedidos por uma causa anterior,
sejam acontecimentos naturais ou de origem humana.
Determinismo moderado: Afirmam a autonomia humana no exercício da sua vontade –
concretizada por um poder de escolha – apesar do determinismo existente no mundo físico e
natural.
Causalidade: conexão entre dois acontecimentos em virtude da qual o segundo – o efeito – se
torna univocamente previsível a partir do primeiro – a causa.

Condicionantes da ação humana

Entende-se por condicionante da ação humana todo e qualquer fator – seja ele interno ou
externo – que influencie a possibilidade de escolha. Podemos considerar diversos tipos de
condicionantes.
Condicionantes físico-biológicas
Os seres humanos são organismos constituídos por partículas que obedecem a leis físicas,
químicas e biológicas, tal como acontece com todas as outras formas de vida existentes no
mundo. A morfologia e a fisiologia do nosso corpo são condicionantes do modo como agimos
e reagimos nas diferentes circunstâncias.
São um conjunto de fatores relacionados com as leis físicas, químicas e biológicas que regem
os nossos corpos vivos,
As condicionantes físico-biológicas podem ser perspetivadas a partir de dois níveis distintos,
mas, ainda assim, interdependentes.
Condicionantes físico-biológicas da espécie: quando se atende à estrutura e organização do
corpo humano, isto é, quando consideramos as características morfológicas e fisiológicas que
cada se humano partilha com todos os indivíduos da sua espécie. Ao contrário de outras
espécies, por exemplo, o ser humano possuí braços e mãos e não asas ou barbatanas.
Condicionantes físico-biológicas individuais: quando consideramos apenas as características
físicas e biológicas particulares de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos. A estrutura
única do nosso património genético individual, por exemplo, estabelece a base da nossa
unicidade e de características físicas como a estatura, determinando também a nossa
resistência ou predisposição para determinadas doenças.
Condicionante histórico-culturais: Conjunto de fatores relacionados com o mundo co-humano
do ambiente histórico, social e cultural (hábitos, crenças, valores, padrões de conduta), a
partir dos quais se constrói a nossa humanidade e se definem modos de ser, estar e sentir.
Estes fatores, tais como os anteriores, por um lado fixam limites à liberdade do agente e, por
outro, abrem-lhe possibilidades.
A história de cada ser humano e o nosso modo de ser, pensar e agir constroem-se através
das relações interpessoais.
As condicionantes chegam para anular a liberdade?
Para os defensores do livre-arbítrio, as condicionantes desempenham um papel causal na ação,
mas tal não significa que a liberdade seja uma ilusão. As condicionantes são as causas ou
condições que tornam possível a ação, isto é, as causas na ausência das quais seria possível o
exercício de uma vontade livre, consciente e intencional.

Axiologia ou teoria dos valores

É o ramo da filosofia que estuda o que a natureza dos valores e dos juízos valorativos em
geral.
Procura responder a questões como “A que característica, ou que conjunto de características,
de um objeto nos referimos quando afirmamos que “é vaidoso” ou que “possui ator”? Os juízos
de valor são objetivos ou subjetivos?”
Valores e valoração
Caracterização dos valores
Valor: Filosoficamente, designa o que deve ser objeto de preferência e orientar a ação. É a
qualidade daquilo que é desejável e digno de escolha. Envolve aspirações e refere-se aos
símbolos que um indivíduo ou uma cultura reconhecem como ideais. Divide o campo da ação
humana entre o desejável e o indesejável: justo/injusto [valores éticos], belo/feio [valores
estéticos], sagrado/profano [valores religiosos].
Os valores conduzem a nossa vida, ajudam-nos a tomar posição, a preferir ou a escolher, logo,
são guias fundamentais da ação humana.
Os valores podem se vistos como:
- Subjetivos: consideram os valores como pessoais, de opinião-
- Objetivos: acreditam que a escolha pode ser justificada através de um critério racional
independente.
Hierarquização: Os valores organizam-se em escalas, de acordo com a importância relativa
que lhes atribuímos. Consideramos que há valores superiores e inferiores. Todos valem, mas
uns valem mais do que outros. Quando se trata de decidir, e sempre que haja conflito entre
diferentes valores, os valores inferiores tendem a ser preteridos em favor dos superiores. As
hierarquias não são, contudo, nem rígidas nem predeterminadas. São construções dos
indivíduos e das sociedades, sujeitas a alterações, ajustamentos e inversões.
Polaridade: A um valor positivo corresponde sempre um valor negativo.
Éticos Estéticos Religiosos
Bom/mau Belo/feio Sagrado/profano

Justo/injusto Gracioso/tosco Divino/demoníaco

Leal/desleal Elegante/deselegante Sobrenatural/natural

Juízos de facto: uma descrição objetiva da realidade, uma afirmação teoricamente suscetível
de ser verificada.
Exemplos: - A Terra é o maior planeta do sistema real.
- Os tradicionais livros em papel serão substituídos pelos livros eletrónicos,
- Os críticos classificam o último filme de Tim Burton como genial.
- A vaca é um animal sagrado para o hinduísmo.
Estes juízos fornecem informação, dizem como as coisas são ou como acreditamos que são.
Os juízos de facto podem ser confirmados ou infirmados por qualquer observador que esteja
na posse dos meios adequados [racionais ou experimentais]. Se estiverem de acordo com a
realidade, são verdadeiros, caso contrário, como acontece com o primeiro exemplo, são falsos.
A verdade ou falsidade dos juízos de facto é independente de qualquer opinião ou preferência
subjetiva.
Juízo de valor: é a expressão ou manifestação de uma preferência ou de uma escolha.
Exemplos: - A música de Mozart é insuperavelmente bela.
- Faltar à verdade é admissível em certas circunstâncias.
- O direito à vida é sagrado e inaliável.
- É mais agradável ler um livro em papel do que através de um ecrã.
Estas afirmações expressam preferências valorativas, isto é, avaliações sobre diferentes
aspetos de realidade. Se estas apreciações podem ou não ser verificadas, à semelhança do que
acontece com os juízos de facto, é uma questão filosófica complexa que entronca num dos
debates centrais da teoria dos valores: a subjetividade ou objetividade dos juízos de valor.
Subjetivismo axiológico: a verdade dos juízos de valor depende exclusivamente da perspetiva
do sujeito que avalia, isto é, depende dos seus sentimentos. crenças, desejos e vivências. Nesta
perspetiva, os critérios valorativos apenas existem enquanto preferências individuais e
nenhuma preferência é objetivamente correta ou incorreta. Se A afirma que «a pena de morte
é cruel e injusta» ou que «os filmes de Tim Burton são magníficos», A está apenas a exprimir
as suas opiniões particulares, A verdade dos juízos de valor é subjetiva e, por conseguinte,
relativa a cada um dos sujeitos que a avalia.
Objetivismo axiológico: a verdade dos juízos de valor é independente dos estados mentais ou
dos sentimentos dos indivíduos que avaliam. Os juízos de valor são assim afirmações objetivas
e absolutas acerca da realidade, sendo possível, pelo menos em teoria, justificar racionalmente
a sua verdade ou falsidade. Para um objetivista, as afirmações de que «a pena de morte é
cruel e injusta» ou que «os filmes de Tim Burton são magníficos» são comparáveis a juízos de
facto, mesmo que possa ser difícil, com os dados que possuímos hoje, chegar a um consenso
quanto a estas matérias.
Subjetivismo valorativo: A verdade dos juízos de valor depende exclusivamente da perspetiva
do sujeito que a avalia
Segundo os defensores do subjetivismo, os valores são sempres 100% individuais, só o sujeito
entende o seu verdadeiro alcance.
Sustentam com o argumento da discordância:
- Os subjetivistas dizem que, relativamente aos juízos de valor, só há discordâncias, no
entanto, há objeções em que não discordamos quanto a tudo e quanto a todos.
Sustentam como argumento do conflito de valores:
- Os subjetivistas dizem que, quando há conflitos relativamente a um juízo de facto há
maneiras de o solucionar. Quanto a um juízo de valor, não há maneiras objetivas de os
resolver, uma vez que não são subjetivos.
Relativismo valorativo: Os valores não são relativos a indivíduos mas sim a sociedades (o
indivíduo reflita a sociedade em que se encontra inserido).
Os juízos de valor são apenas preferências sociais.
Sustentam com o argumento de diversidade cultural:
- Os relativistas afirmam que diferentes sociedades têm padrões e códigos morais
completamente diferentes, ou seja, diferentes sociedades aceitam diferentes juízos de valor.
- Há objeção: um juízo que é aceite por uma sociedade e rejeitado por outra é um juízo
relativo. Esta ideia não está correta, há bastantes casos em que não há diversidade de valores
nas diferentes sociedades.
Sustentam com o argumento da tolerância:
- Os relativistas dizem que se não aceitarmos o relativismo dos valores seremos intolerantes,
logo, como não devemos ser intolerantes, devemos aceitar que os valores relativos.
- Há objeções: o argumento pressupõe nomeadamente que deveremos aceitar todos os
valores em outras sociedades. No entanto, há práticas costumes e valores que, por colocarem
em causa a dignidade e integridade humana, não podem ser aceites.
Objetivismo valorativo: afirmam que a verdade dos juízos de valor é independente dos estados
mentais ou dos sentimentos dos indivíduos por que avaliam.
Os juízos de valor são afirmações objetivas e absolutas acerca da realidade, sendo possível
(pelo menos em teoria) justificar racionalmente a sua verdade ou falsidade.
Segundo um objetivista, os juízos de valor e de facto são iguais uma vez eu os valores são
independentes do ser humano.
Sustentam com o argumento da tolerância:
- Sendo os objetivistas, a tolerância não é um valor meramente relativo às sociedades, uma
vez que, se isso acontecesse, seria aceitável que todas as sociedades não fossem tolerantes.
Sustentam com o argumento da imparcialidade:
- A objetividade é a imparcialidade, logo, os juízos de valor são objetivos e imparciais.
- Há objeções: nem sempre os juízos de valor são imparciais ou as nossas ações são
imparciais. Se não agíssemos assim, não daríamos mais atenção a umas pessoas do que a
outras.

Ética ou Filosofia Moral

Há pensadores que defendem que ética e moral são noções distinta, dizendo que:
- moral é o conjunto de normas que, dentro de cada sociedade específica, regulam o
quotidiano dos indivíduos.
- Ética corresponde a uma reflexão teórica de determinados códigos morais, as normas que
seguimos no quotidiano (princípio moral), ou seja, reflete sobre o que é moral.
No entanto, a sua distinção é problemática e confusa, uma vez que em quase tudo o que se
escreve, os pensadores, incluindo os que defendem a sua distinção, usam indiferentemente as
noções de ética e moral.
Código moral: Depende de cada sociedade, no entanto, entre todas, há alguns pontos em
comum o que permite a convivência mundial.

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