Você está na página 1de 2

a) Nos termos do art.

1º, IV, da Lei nº 7347/85, a medida judicial cabível a ser


adotada pelo MPT seria a ação civil pública, haja vista se tratar de caso de danos
causados aos trabalhadores que inalam a substância XYZ, altamente cancerígena.

b) De acordo com a OJ 130 da SDI-II do TST, em se tratando de dano de âmbito


regional, a competência é de uma das Varas do Trabalho da Capital do Estado em
questão, no caso, de uma das Varas de Cuiabá.

No polo passivo da referida demanda, figuraria a Associação dos Produtores de


Soja do Estado do Mato Grosso, na qualidade de representante dos produtores e
empresas do setor, bem como qualquer produtor ou empresa produtora que não
esteja ligada à referida Associação, haja vista que o polo passivo da ação civil pública é
abrangente e permite que seja incluído como réu qualquer pessoa física ou jurídica, ou
entre da administração pública, que tenha causado danos aos direitos da coletividade
descritos na lei.

c) O Direito do Trabalho surgiu, principalmente, por conta do adoecimento e


exaustão dos trabalhadores que eram explorados no seu máximo, física e
mentalmente, a partir da Revolução Industrial, no século XIX. As reivindicações dos
trabalhadores eram e, ainda são nos dias atuais, relacionadas ao meio ambiente
laboral para melhores condições de trabalho. Por isso, um meio ambiente de trabalho
saudável é um verdadeiro direito humano (STF) e está integrado ao direito ao meio
ambiente equilibrado que envolve não só o meio ambiente ecológico (conceito de três
ecologias de Félix Guttari: mental, social e ambiental). Nesses termos, o art. 3 da
DUDH; o art. 7º, “b”, do PIDESC; o art. 7º, “e”, do Protocolo de San Salvador; e as
Convenções 155 e 161 da OIT (“core obligations”).

No plano nacional, a CF/88 em seu artigo 225, considera o meio ambiente


equilibrado um direito difuso, nele incluído o meio ambiente do trabalho (art. 200, VIII,
CF). Também, no plano infraconstitucional, a CLT dedica capítulo exclusivo sobre o
meio ambiente do trabalho (art. 154 e seguintes).

Nesse sentido, os principais argumentos de mérito seriam com relação ao uso


do produto XYZ no plantio de soja que, apesar de autorizado pela ANVISA, é altamente
cancerígeno, colocando a saúde dos trabalhadores em risco, conforme laudo pericial.
Verifica-se que os efeitos desse uso serão sentidos no futuro, haja vista que doenças
como o câncer se manifestam após anos de submissão a substâncias químicas, como é
o caso do cigarro, por exemplo.

Com base nos princípios da precaução e da prevenção, bem como o comando


do art. 7º, XXII, da CF, que exalta o dever de o empregador cuidar da higidez física e
mental do ambiente laboral (art. 225, § 3º e 200, VIII, da CF), a autorização da ANVISA
não se sobrepõe aos fatos que mostram a nocividade do uso deste agrotóxico.

Deste modo, estando presente o perigo manifesto à saúde dos trabalhadores, o


principal pedido do MPT seria que os produtores de soja se abstivessem de usar
qualquer produto que contenha como princípio ativo o XYZ (tutela inibitória – art. 497,
CPC), em curto prazo, independentemente do trânsito em julgado da demanda, sob
pena de multa diária.

Ainda, necessário se faz o pedido de dano moral, que, no caso, se dá “in re


ipsa”, pelo uso contínuo de componente tóxico que macula a saúde dos trabalhadores,
gerando abalo à honra, integridade física, violando a própria dignidade (art. 1º, III, da
CF) de tais pessoas, direitos que devem ser protegidos (art. 5º, V e X, da CF) e
respeitados ante a eficácia horizontal de direitos fundamentais, devendo ser revertido
individualmente a todos os trabalhadores que utilizaram o produto, em rol a ser
juntado pelo MPT.

Ainda, por ser um produto que é dispersado por máquinas e aviões, seu uso
pode afetar toda a comunidade (bairros, escolas, dentre outros) ao redor, colocando
toda a coletividade em risco (dano difuso, art. 81, I, do CDC), bem como ao desrespeito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 200, VIII e 225, § 3º, CF), podendo
contaminar rios e matas. Desse modo, também se faz necessário o pedido de dano
moral coletivo.

Por fim, caso haja comprovação de distúrbios de saúde já existentes em


trabalhadores ou pessoas afetadas pela dispersão do agrotóxico, necessário o pedido
de danos materiais, estabelecendo-se o nexo causal, inclusive com antecipação de
tutela para os tratamentos necessários às doenças.

Você também pode gostar