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Bruno Lemes Marques Descomplicando a NEUROCIENCIA Aprenda o bdsico que vocé precisa saber sobre o seu cérebro Um pouco sobre mim Ola! Meu nome é Bruno Marques, eu sou biomédico formado pela Universidade Federal de Goias - UFG, e trabalho com neurociéncia ha mais de 5 anos. Antes mesmo de entrar na faculdade eu ja tinha muita paixao por entender o cérebro e imaginava que um dia eu iria estudar coisas como nossa memoria e as doengas neuroldgicas. Esse sonho se realizou mais do cedo do que imaginava. Consegui entrar em um laboratério que trabalhava especificamente com neurofarmacologia - uma area das neurociéncias que visa criar medicamentos que agem no cérebro - j4 no primeiro semestre da faculdade! Nesse laboratorio eu aprendi nao somente sobre as técnicas utilizadas na pesquisa em neurociéncia, como também os principios que regem o sistema nervoso e, no fim das _ contas, nosso comportamento. Com a_ criagdo do _ canal Neurociéncia Descomplicada, eu resolvi trazer um pouco de informacgao sobre o cérebro de forma simples e didatica. Foi justamente com esse mesmo intuito que fiz esse ebook: para que vocé consiga aprender 0 basico que vocé precisa saber sobre seu cérebro! Vamos comegar nossa jornada? 7 Neurociéncia Descomplicada Océrebro em naimeros O cérebro humano pesa em média 1,4kg, possui um comprimento médio de 16.7cm, uma altura de 9,7cm, uma largura de 14cm e cerca de 78% dele é feito de agua. Além disso, cerca de 60% do seu peso seco é feito de gordura, podendo ser considerado como um dos 6rgaos mais gordurosos do corpo humano. Ele é feito de células diferentes como os neur6nios, astrocitos, oligodendrécitos e microglia. Possuimos, em média, cerca de 86 bd bilhGes de neurénios que chegam $ a formar mais de 1 trilhao (sim é W uma quantidade absurda mesmo!) de q conex6es sinapticas. Essa quantidade é tao assustadora, que um pedaco do cérebro do tamanho de um grao de areia chega a conter mais de 100 mil \ neurénios. w Um impulso nervoso viaja, em 74 < média, numa velocidade de 120 ) m/s, porém alguns _ impulsos t especificos como aqueles a relacionados com o processamento Ty da dor podem ser mais lentos, chegando apenas a 30 m/s. Neurociéncia Descomplicada Océrebro em naimeros Seu cérebro é responsavel por apenas cerca de 2% da sua massa corporal, contudo, ele utiliza mais de 20% de toda a energia e oxigénio produzidos e consumidos diariamente pelo nosso corpo. Sim, ele pode ser pequeno, mas ele é 6rgao que mais demanda energia para o funcionamento, e nao é tao dificil entender 0 porqué disso nao é mesmo? E falando em energia, nosso N\, cérebro produz cerca de 25 watts de poténcia por dia, nada comparado com o que computadores _necessitam LJ para computar informacdes muito menos complexas. De fato, nosso cérebro computa cerca de 10 quatrilhdes de operacdes por segundo (eu sinceramente ndo sei nem mensurar esse numero!) Tudo isso que estou lhe contando é apenas para demonstrar como 0 cérebro é um_ dos mais _intrigantes orgaos do corpo humano. E muito legal pensar, também, como ele é 0 unico que pode ter o privilégio de estudar a si mesmo... Neurociéncia Descomplicada Do que é feito o cérebro? A Chgadendrcts O sistema nervoso representa uma rede de comunicacées e controle que garante que oO nosso organismo consiga interagir tanto com o meio externo, como com 0 nosso proprio meio interno. O sistema nervoso é composto por células, por tecido conjuntivo e por vasos sanguineos. Os neurdnios (células nervosas) e a neuréglia (“cola nervosa”) so os principais tipos de células presentes no sistema nervoso. O neurénio é a unidade funcional do sistema nervoso, sendo agrupado em circuitos neurais que, essencialmente, sao milhdes de neur6nios que fazem comunicagdes entre si através das conexdées sindpticas. A neuroglia, ou células de suporte, é composta por astrocitos, oligodendrécitos, células de Schwann, micrdéglia e células ependimarias. Todas essas diferentes celulas estao espalhadas pelo sistema nervoso, possuindo a funcao de suporte para atividade neuronal, bem como de produgao de liquido cefalorraquidiano e protecaéo imune contra possiveis invasdes de patdgenos. 8 akin Snaes © aos Neurociéncia Descomplicada Do que é feito o cérebro? Um neurénio tipico tem quatro regides morfologicamente definidas: o corpo celular, os dendritos, 0 axonio e os terminais pré-sinapticos. Cada regiao tem um papel distinto na geracao de sinais e na comunicacéo com outras células nervosas. O corpo celular, também conhecido como soma, é 0 centro de processamento do neur6nio. Nele temos o nucleo, que possui os genes das células e o reticulo endoplasmatico, onde varias proteinas sao sintetizadas. Desse corpo ramificam-se duas estruturas: os dendritos e os ax6nios. Os dendritos sao o principal aparato de recepgao de sinais que os neur6nios possuem, enquanto os axdnios sao 0 principal aparato de envio de sinais. Um ax6nio pode transportar sinais elétricos por longas distancias, de 0,1 mm a 2 m. Esses sinais elétricos, chamados potenciais de acao, sao iniciados em uma zona especializada de disparo (zona de gatilho) préxima a origem do axénio. Potenciais de agao sao os sinais pelos quais 0 encéfalo recebe, analisa e transmite a informacao (iremos falar mais pra frente sobre eles). Para aumentar a velocidade de condugao dos potenciais de acao, grandes axénios sao enrolados em uma_substancia lipidica isolante, a mielina, tanto pelas células de Schwann como pelos oligodendrécitos. Terminagao inbidora Arborizagio tormrenal Cone axdaico — Axtnio Torminagiio ‘excitatéria al Elemento possindptico Neurociéncia Descomplicada | Do que é feito o cérebro? Proximo ao seu final, 0 axdnio se divide em finas ramificagdes que contatam outros neurénios em zonas especializadas de comunica¢gao chamadas sinapses. A célula nervosa que esta transmitindo o sinal ¢é chamada de célula__pré- sinaptica, enquanto a celula receptora do sinal é a célula p6s-sinaptica. A maioria dos terminais pré- sinapticos termina nos dendritos dos neurénios pds- sindpticos, mas os terminais podem também fazer contato com 0 corpo celular ou, menos frequentemente, no inicio ou extremidade do ax6nio da célula receptora. As células gliais sao muito mais numerosas do que os neur6nios - ha 2 a 10 vezes mais glia do que neur6nios no sistema nervoso central. Essas células circundam os corpos celulares, axdénios e dendritos dos neurénios. Embora nao gerem potenciais de agdéo, as células _ gliais recentemente foram descritas como participantes nos processos de sinalizacao neurénio-gliais. O significado dessa sinalizagao ainda é pouco compreendido, mas ela pode ativamente auxiliar na regulacao do desenvolvimento e funcionamento da sinapse. Neurociéncia Descomplicada Divisées do Sistema Nervoso Sistema Nervoso Periférico O sistema nervoso pode ser 1a Nervoso si feet 7 tral dividido nas areas central + Encéfalo e periférica, e cada uma del as apresenta subdivisdes. O sistema nervoso periférico (SNP) representa interface entre o meio ambiente e o sistema nervoso central (SNC). Ele inclui os neurénios sensitivos (ou aferentes primarios), neurénios motores somaticos e neur6nios motores auténomos. De forma geral, podemos dividir o sistema nervoso em diversas formas diferentes. Olhando anatomicamente, o SNC é composto pelo encéfalo (que contém o cérebro) e a medula espinhal, enquanto o SNP é composto pelos nervos, ganglios e terminagées nervosas. O encéfalo humano, erroneamente chamado de cérebro, é a parte do SNC alojada no cranio. Essa parte é formada por bilhdes de neurénios e ode ser dividida em cérebro, talamo, ipotalamo, mesencéfalo, cerebelo, ponte e bulbo. A medula espinhal, que se aloja no interior da coluna, é um _ cordao cilindrico que possui como funcgado transmitir mensagens vindas do encéfalo para outras partes do corpo e levar os estimulos recebidos até o encéfalo. E da medula que partem os nervos conhecidos como espinhais. Neurociéncia Descomplicada | Divisées do Sistema Nervoso ‘SUBSTANCIA CINZENTA NUCLEOS ‘SUBSTANCIA BRANCA SUBSTANCIA BRANCA No sistema nervoso podemos notar —duas regides bem definidas: a substancia cinzenta e a substancia branca. Na_ substancia_ cinzenta, encontramos corpos celulares dos neurénios e seus dendritos, enquanto na substancia branca é predominante a presenca le axénios. Os axdnios mielinizados tornam essa regiao mais clara, por isso lenominacao “substancia ranca”. Olhando de forma funcional, podemos dividir o sistema nervoso em somatico (tambem dividido em aferente, eferente) e visceral (que pode ser dividido em aferente e eferente — ou aut6nomo). Por fim, 0 Sistema Nervoso Auténomo ainda pode ser dividido em Simpatico e Parassimpatico. Muitas palavras né? Mas essas divisoes nos ajudam a entender de forma mais simples a integragao das diferentes funcdes do nosso sistema nervoso. Divisdo parassimpatica Siva Divisao simpatica Neurociéncia Descomplicada O que é0 potencial de agGo? Todas as células, incluindo os ®g0 ears ° neur6nios, tem potencial de a o ee 38 fo repouso, tipicamente, em omens 9 OG @ OO torno de -70 mV. Esse potencial de repouso esta relacionado com a distribuigao de cargas elétricas tanto fora quando dentro das células. De forma geral, as células jossuem. um meio intracelular mais carregado negativamente (com mais anions), enquanto o meio extracelular é mais carregado positivamente (com mais cations). A redugao ou reversao da separacao de cargas, levando a um potencial de membrana menos negativo, ¢ chamada de despolarizagao. O aumento da separacao de cargas, levando a um potencial de membrana mais negativo, é chamado de hiperpolarizagao. Quem mantém o potencial de repouso de membrana sao tanto os canais de ions de repouso, que essencialmente se mantem sempre abertos e deixam ocorrer a livre passagem de fons entre o meio intracelular e extracelular, bem como as bombas de ions, que sao proteinas que se utilizam de energia quimica para o bombeamento ativo de ions para fora ou para dentro da célula. A eo oO m SO > ° vce cropermetes 0 pagent de © OK 0 Aieensto sek o _O man gos “101 1G) 2. Neurociéncia Descomplicada | O que é0 potencial de agdo? Toda vez que ocorre um estimulo (um neurénio ativa os receptores de outro, ou um neurénio sensorial do olho recebe luz), ocorre uma alteracéo no balanco de cargas intracelulares através da atividade de uma proteina que chamamos de canal de sédio voltagem-dependente. De forma simples, esse canal é uma porta para a entrada de sédio que se ativa toda vez que ocorre alteracao da voltagem intracelular. Essa porta se abre e permite a entrada de sddio na célula, 0 que por sua vez promove a despolarizacao e, caso atinja o limiar necessario, promove o potencial de acao. Ao atingir 0 seu pico, esses aioe aad, canais de sddio se fecham, absoto Telativo e outros canais chamados de canais de potdssio se abrem. Enquanto os __ primeiros | permitiam a entrada de =z ° sédio na célula, esses ultimos permitem a saida de potdssio, em uma 7° danca das cadeiras que faz com a célula volte a ficar hones mais negativa. Esses canais de potdssio sao um pouco mais lentos para se fecharem, promovendo| uma __ leve _ hiperpolarizagéo momentanea no neuronio. Isto é, ele acaba fleando mais negativo do que ele geralmente é durante o potencial de repouso. Com o lento fechamento dos canais de potassio, o potencial de membrana se restabelece em repouso e garante que o neurénio possa ser estimulado novamente. De forma interessante, durante o pico de despolarizacao, o neur6énio nao pode sofrer outro potencial de acao, Chamamos esse momento de periodo refratario absoluto. J4 depois que ocorre a repolarizagéo, enquanto esta acontecendo a hiperpolarizacao por conta do lento fechamento dos canais de potassio, o neurénio pode ser estimulado novamente. Chamamos esse momento de periodo refratario relativo. Neurociéncia Descomplicada | Importdancia da Mielinizagado A velocidade de condugao na fibra nervosa é determinada pelas propriedades elétricas do citoplasma e da membrana plasmatica do neurénio. Muitas fibras nervosas sao revestidas por mielina, sendo referidas como mielinizadas. A mielina é ormada pela membrana plasmatica das células de Schwann (localizadas no sistema nervoso periférico) ou da oligodendréglia (no sistema nervoso central), que se enrosca em torno da fibra nervosa, isolando-a. A bainha de mielina consiste de algumas a mais de 100 camadas de membrana celular. A bainha de mielina apresenta interrupgoes a cada 1 a 2 mm, conhecidas como nodos de Ranvier, com cerca de 1 pm. A velocidade de conducgao de todos os axOnios mielinizados é muito maior do que a das fibras nao-mielinizadas, pois a bainha de mielina restringe os potenciais de acdo aos nodos de Ranvier, em um fendmeno chamado conducao saltatéria. Em algumas doengas, conhecidas_ como disturbios da desmielinizacao, ocorre a deterioragao da bainha de mielina. Na esclerose miultipla, a desmielinizacao dispersa e progressiva, no SNC, resulta na perda do controle motor. A neuropatia comum em casos graves de diabetes melito, é causada pela desmielinizagao dos ax6nios periféricos. Se a desmielinizagao for muito acentuada, o potencial de acao pode chegar ao proximo nodo de Ranvier sem forca suficiente para desencadear o potencial de acao, tornando o axénio incapaz de propagar potenciais de acao. =\_ = sa pad Const de Serwann Tae ic etna Neurociéncia Descomplicada | Codificagao Sensorial Como abordado anteriormente, os neur6nios sensoriais sdo responsaveis pela codificacao dos estimulos. No processo de transdugao do sinal, ou seja, no processo de passagem da informagao de um lado ao outro do sistema nervoso, varios aspectos diferentes do estimulo devem ser codificados para que possam ser interpretados pelo SNC. A informacao codificada é¢ uma abstracéo baseada nos receptores sensoriais ativados, nas respostas dos receptores sensoriais aos estimulos e no processamento da informagao na via sensorial. Alguns aspectos dos estimulos que podem ser codificados incluem modalidade sensorial, localizacao espacial, limiar, intensidade, frequéncia e duracao. Uma_ modalidade sensorial é uma classe de sensacdes imediatamente identificaveis. Por exemplo, a sensagaéo de quando tocamos em alguma coisa é processada através da codificagao do estimulo mecanico que essa coisa produz sobre nossa pele. Outro bom exemplo é 0 calor, que € processado pelo estimulo térmico sobre nossa pele. Outras modalidades nao cutaneas (que nao sao relacionadas com a nossa pele) sao a visao, audi¢ao, posi¢ao, paladar e olfato. A codificagaéo da modalidade sensorial é feita por canais sensoriais especiais na maioria dos sistemas sensoriais e derivam de receptores sensoriais especificos localizados no inicio dos canais sensoriais. Por exemplo, a via visual inclui os fotorreceptores, a via gustativa e olfativa possuem os quimiorreceptores e as vias do tato possuem os mecanorreceptores. FOTORRECEPTOR Neurociéncia Descomplicada Transmiss@o sinaptica A transmissao sindptica é o principal processo de comunicagao entre as células do sistema nervoso (ou entre neur6nios e células musculares). Antes, a_transmissao sinaptica era imaginada apenas como a interagao entre dois neurénios em juncoes especializadas chamadas de sinapses, mas hoje sabemos que ela é um processo que envolve os neurOnios, os astrécitos e outras células da glia. Além disso, sabemos também que, em muitos casos, os neurotransmissores liberados durante a_ transmissao sindptica atuam em um territério muito maior do que apenas na sinapse na qual foi liberado. Existem, classicamente, dois tipos de sinapses: elétricas e quimicas. Vamos entender um pouco sobre 0 primeiro tipo. A sinapse elétrica (ou juncgaéo comunicante) é, efetivamente, via de baixa resisténcia que permite que a corrente flua, diretamente, entre as células e, de modo geral, permite o compartilhamento de pequenas moléculas entre elas. Elas estado presentes entre as celulas da glia, bem como entre os neurénios. Uma jungao comunicante é a correlacéo morfoldgica de uma sinapse elétrica. Essas juncdes sao estruturas semelhantes a placas, nas quais as membranas plasmaticas de duas células acopladas estao intimamente ligadas (0 espaco intercelular diminui para cerca de 3 nm), sendo preenchido com material eletrodenso. As sinapses elétricas sao rapidas (essencialmente, sem retardo sinaptico) e bidirecionais (i. e., a corrente gerada em uma das células pode fluir através da juncaéo comunicante para influenciar a outra célula). Neurociéncia Descomplicada | TransmissGo sinadptica Ao contrario do que ocorre nas sinapses elétricas, nas sinapses quimicas nao existe comunicagao direta entre o citoplasma das duas células. As membranas celulares estaéo separadas por uma fenda sinaptica de 20 ym e as interacoes entre as células ocorrem por meio de intermediarios quimicos conhecidos como neurotransmissores. Sinapses quimicas sao, em geral, unidirecionais e, assim, pode-se referir a elementos pré e pés-sinapticos. O elemento pré-sindptico, geralmente, 6 formado pela extremidade terminal de axonio, repleto de pequenas vesiculas, cuja forma e tamanho exatos variam de acordo com o neurotransmissor que contém. Além disso, a membrana sinaptica, que se opde ao elemento pos-sinaptico, apresenta regides, conhecidas como zonas ativas, de material eletrodenso, que correspondem as proteinas envolvidas na liberacao do transmissor. A membrana pos-sindptica também 6é caracterizada pela presenca de material eletrodenso, o que, neste caso, corresponde aos receptores para o neurotransmissor. A imagem abaixo representa como é uma sinapse quimica: Neurociéncia Descomplicada Neurotransmissores Os neurotransmissores sao as moléculas que realizam a sinalizacao quimica entre Os neuronios. Para que uma certa substaéncia seja considerada um neurotransmissor, ela precisa preencher varios critérios, como estar presente no terminal pré-sindptico, ser liberada durante a despolarizacao desse terminal e possuir receptores especificos espalhados nos terminais pos-sinapticos. Mais de 100 substancias foram identificadas como potenciais neurotransmissores por preencherem_ parcialmente ou totalmente esses critérios. Podemos dividir essas substancias em trés categoriais principais: moléculas pequenas, peptideos e transmissores gasosos. As moléculas pequenas podem ser subdivididas em acetilcolina, aminoacidos, aminas biogénicas e purinas. Os primeiros trés grupos da lista de moléculas pequenas contém o que sao considerados neurotransmissores classicos. O restante inclui substancias que foram adicionadas mais recentemente, apesar de muitas delas ja serem conhecidas, ha muito tempo, como moléculas biologicamente importantes em outros contextos. Neurotransmissores exeltatérios Neurotransmissores Inibitéries Neuromoduladeres Neurohorménios Neurociéncia Descomplicada Acetilcolina No sistema nervoso periférico, a acetilcolina é o transmissor nas jungdes neuromusculares, nos ganglios simpaticos e parassimpaticos e fibras pés-ganglionares dos ganglios parassimpaticos e alguns ganglios simpaticos (Fibras importantes no sistema nervoso auténomo). Ela também é um transmissor no SNC, mais proeminente nos neur6nios de alguns nticleos do tronco cerebral, varias partes do cértex pré-frontal (nticleos septais e nticleos da base) e nucleos da base e na medula (p. ex., colaterais do axénio do neur6énio motor). Geralmente definimos os neurénios que secretam acetilcolina como neurénios colinérgicos. Os neurénios colinérgicos do cortex pré-frontal se projetam, difusamente, pelo neocortex e para 0 hipocampo e amigdala, tendo sido implicados nas iuncdes de memoria. A Acetilcolina atua em dois grandes tipos de receptores: os receptores nicotinicos e os receptores muscarinicos. Hypothalamus Hippocampus Neurociéncia Descomplicada Acetilcolina Os receptores nicotinicos sao divididos em trés classes principais: os tipos musculares, ganglionar e do SNC. Sao exemplos tipicos de canais iénicos regulados por ligantes, Ou seja, sao receptores que se ativam e permitem a entrada ou saida de ions na célula, toda vez que estes sao acoplados a acetilcolina. Os receptores musculares sao confinados a juncao neuromuscular esquelética. Os receptores ganglionares sao responsaveis pela transmisséo nos ganglios simpaticos e parassimpaticos. Por fim, os receptores de tipo SNC encontram-se disseminados no cérebro e sao heterogéneos quanto a sua composi¢ao. Os receptores muscarinicos sdo receptores metabotrépicos acoplados a proteina G, dispostos em intimeros tecidos diferentes, incluindo o cérebro. Eles possuem esse nome metabotropico por serem capazes de modular o metabolismo celular a fim de promover a passagem de informagao. Estes receptores sao proteinas que ficam dispostas sobre as membranas das células, sendo capazes de desencadear uma resposta intracelular (geralmente envolvendo a ativagao de uma série de fosfo-proteinas) toda vez que sao ativadas pela ligacao com a acetilcolina. Existem cinco subtipos de receptores muscarinicos de acetilcolina (M1 a M5). Todos sao receptores metabotrépicos; entretanto, estao ligados a proteinas G diferentes e, assim, podem apresentar efeitos distintos nas células. 2A protwina G3. Subunidades da protein G 6 atvade ou ntraceluiares ‘modula os eanais énucos Neurociéncia Descomplicada Glutamato O glutamato ¢ o neurotransmissor presente na grande maioria das sinapses excitatérias no SNC, ou seja, nas sinapses que promovem o aumento de despolarizacao dos neur6nios pés-sinapticos. Apesar de estar presente em todo lugar, inicialmente, foi dificil identificar neurénios especificos como glutamatérgicos porque o glutamato esta bastante presente dentro das células: ele desempenha papel importante em _ miltiplas vias metabdlicas e 6 precursor do GABA, o principal neurotransmissor inibitério do SNC. Os neurénios glutamatérgicos fazem conexées com diversas areas diferentes do cérebro. Uma das rotas mais longas tem sua origem no cortex cerebral, onde os seus axOnios descem até fazerem ramificagdes na ponte e tronco cerebral, excitando neur6énios motores de diversos mtisculos. Outra rota também importante para o controle motor tem neur6nios que se projetam do cortex para o neoestriado, sendo importantes para a manutencao da atividade motora. Além disso, outra via| muito importante de neurdnios glutamatérgicos é a utilizada pelo hipocampo, no qual os axOnios projetam-se através de uma area chamada fornix até chegar ao que chamamos de corpo mamilar. Essa via é muito importante para 0 processamento de memoria realizado no cérebro através das conexdes hipocampais. Key Glutamate Pathways brainstem nourotransmto:| ‘contors Neurociéncia Descomplicada | Glutamato Assim como_ocorre com os_receptores colinérgicos, os receptores glutamatérgicos sao divididos entre receptores ionotrépicos (canais idnicos que promovem a passagem de fons pela membrana celular) e receptores metabotrépicos. Os receptores ionotrépicos de glutamato medeiam as respostas sinapticas excitatérias rapidas. Esses receptores sao canais seletivos de ions constituidos por multiplas subunidades que, ao serem ativadas, permitem o fluxo de fons. Existem trés subtipos principais de canais de ions regulados pelo glutamato, classificados de acordo com a sua ativacgao pelos agonistas seletivos AMPA, cainato e NMDA. Dentre esses receptores, o de NMDA é um dos que possuem mais papeis no SNC, sendo crucial para processos como o neurodesenvolvimento, neuroplasticidade, aprendizado, memoria, bem como na __fisiopatologia de doencas neurodegenerativas como o Alzheimer e o Parkinson. Os receptores metabotropicos de glutamato (mGluR1-5) sao receptores acoplados a diferentes protefnas G, responsaveis por mediar respostas mais lentas que envolvem alteragdes do metabolismo celular dos neur6énios pos-sinapticos, podendo tanto promoverem 0 aumento do potencial excitatério, como o aumento do potencial inibitério. o Estria wramerca Recenter de AMPAICainato Neurociéncia Descomplicada GABA O Acido gama-aminobutirico (GABA) ¢ o principal aminoacido neurotransmissor inibitério do SNC. Diferente do que acontece com o glutamato, um aminoacido excitatério que promove o aumento da despolarizagao no neuronio _ pré-sinaptico, o GABA é_ responsavel pela diminuicao dessa excitabilidade, isto ¢, pelo aumento da atividade inibitoria sobre a sinapse. O GABA é utilizado como neurotransmissor por uma classe importante de interneurénios inibitérios na medula espinal. No encéfalo, ele é o principal neurotransmissor de varios neuronios e interneurénios inibitdrios, como neurénios espinhosos médios do estriado, interneurénios estriatais, células em cesto cerebelares e hipocampais, células de Purkinje do cerebelo, células granulares do bulbo olfatério e células amacrinas da retina. I Glutamatergic Pathways 1 GABAergic Pathways Neurociéncia Descomplicada | GABA Da mesma forma como acontece com_os_ receptores lutamatérgicos, temos dois grandes tipos de receptores de ABA: receptores ionotrépicos (GABAa e GABAc), e receptores metabotrépicos (GABAb). Enquanto os receptores ionotrépicos sao canais ativados por ligantes que promovem, ao se ligarem ao GABA, a entrada de ions negativos como o Cl- (cloreto), tornando, portanto, o meio intracelular mais hiperpolarizado e dificultando a neurotransmissaéo, os receptores metabotrépicos modulam tanto a entrada de ions negativos como a saida de ions positivos, através da atividade de intmeras proteinas intracelulares que regulam o funcionamento dos canais de ions espalhados pelos neurénios. A disfungao da atividade de receptores GABA esta relacionada a uma gama de doengas neurologicas diferentes, em especial nos disttrbios de despolarizacao neuronal aberrante, como na epilepsia. ° Suburidade + { jt | ee ‘Tempo (s) Correrte do CI Neurociéncia Descomplicada Dopamina A dopamina é um neurotransmissor pertencente a classe das aminas biogénicas ou catecolaminas (a qual também pertence a serotonina e a noradrenalina). De forma interessante, a molécula de dopamina é 0 precursor para os outros neurotransmissores catecolaminérgicos. As vias de catecolaminas no cérebro possuem o que chamamos de organizacao de “fonte unica-divergente”, ou seja, elas meio que partem da mesma area, mas saem para locais distintos do cérebro. Todas essas catecolaminas modulam a_fungao da neurotransmissao excitatoria e inibitéria em diversas dreas do cérebro, influenciando a atividade de neurdnios glutamatérgicos, gabaérgicos e colinérgicos, e atuando em proceeds cognitivos complexos como a atencao, emocao e umor. Existem essencialmente quatro grandes vias dopaminégicas que partem da drea tegmentar ventral: a via nigro- estriatal, a via mesocortical, a via mesolimbica e a via tuberoinfundibular. Sao muitos nomes, mas a ideia é que cada uma dessas vias é responsavel pelo controle de funcoes como _motivacgéo, recompensa, atividade motora voluntaria e involuntdria, bem como a secrecao de horm6nios como a prolactina (horménio responsavel pela produgao de leite). Vias Dopaminérgicas Ganglios da base ? 5 Hipotélamo 3 Hipot ‘Tegmento Neurociéncia Descomplicada | Dopamina Existem duas grandes familias de receptores de dopamina: classe D1 (com os subtipos D1 e D5) e a classe D2 (com os subtipos D2, D3, D4). Todos esses receptores sao metabotrépicos e acoplados 4 proteinas G, ou seja, sao receptores que modificam o metabolismo celular do neurénio para poder promover o aumento ou a diminuicaéo da excitabilidade celular. Esses receptores sao expressos de forma distinta por todas as vias dopaminérgicas do cérebro. Por exemplo, enquanto os receptores D1 e D2 estao altamente expressos no estriado (e, portanto, na via nigro-estriatal), na via tuberoinfundibular temos a maior expressdo de D2 e menor expressdo de D1. Além disso, existe uma alta expressdo de receptores D3 no sistema limbico e baixa expressdo de D5 no hipocampo e hipotalamo. Como vocés podem perceber, a sinalizagao de dopamina é bastante complexa e cada subtipo especifico de receptor possui uma atividade diferente em cada via dopaminérgica. Existem varias doencas que hipoteticamente estao relacionadas com o disttrbio da atividade dopaminérgica. Dentre elas, a esquizofrenia e a Doenga de Parkinson sao as mais conhecidas. De forma interessante, enquanto supde-se que haja um aumento de atividade de dopamina na via mesolimbica na esquizofrenia (o que teoricamente estaria relacionado com os sintomas de psicose), sabe-se que ocorre uma diminuicéo drastica de atividade dopaminérgica na via nigro-estriatal na Doenga de Parkinson, justamente por conta da morte massiva de neurénios por conta do curso dessa doenca neurodegenerativa. Neurociéncia Descomplicada Serotonina A serotonina é outra molécula neurotransmissora pertencente a classe das aminas biogénicas, sendo produzida através do aminoacido triptofano. De forma interessante, ela pode ser produzida tanto pelos neur6énios_ serotoninérgicos do sistema nervoso central, quanto nas células enterocromafins do trato gastrointestinal. Mas aqui vamos focar em sua producao e atividade sobre o sistema nervoso. Acredita-se que a serotonina possua atividade importante na regulacao da saciedade, equilibrio do desejo sexual, controle de temperatura corporal, atividade motora e fungées perceptivas e cognitivas, principalmente no estado de humor. Ela atua_ em_conjunto com os _ outros transmissores catecolaminérgicos (noradrenalina e dopamina). As vias de serotonina partem dos neur6nios do nucleo da rafe. Os corpos celulares desses neur6nios ficam na rafe, enquanto suas projecdes axonais se partem para diversos locais diferentes como o neocortex cerebral, a medula espinhal, o talamo, o estriado, o sistema limbico e 0 hipotalamo. SEROTONIN Neurociéncia Descomplicada | Serotonina Os Teceptores de serotonina sao, talvez, os mais complexos ja estudados pela neurociéncia. Eles possuem intmeros subtipos diferentes, espalhados em intimeros locais diferentes do cérebro, sendo quase todos metabotrépicos (com excegao do receptor 5HT3 que ¢ ionotrépico). De forma geral, nds temos os seguintes subtipos de receptores: SHT1A, 5HT1B, SHTIC, 5HTID, 5HT2A, 5HT2B, 5HT2C, 5HT3, 5HT4, SHT5, SHT6 E 5HT7, mas ainda temos varios que ainda nao foram bem caracterizados. Como vocé pode ver, é uma infinidade de subtipos que podem atuar tanto inibindo como aumentando a excitabilidade neuronal em partes diferentes do cérebro, fazendo com o que o sistema de serotonina seja talvez o mais complexo de se estudar! Sabemos que varios transtornos estéo relacionados com disfungdes no sistema de serotonina, dentre os quais os Transtornos de humor (Transtorno Bipolar e Depressao) e os Transtornos de Ansiedade sao os principais. Sabemos que 0 desbalango da atividade de serotonina esta relacionado tanto com a variagao de humor presente nos transtornos de humor, como com os sintomas de ansiedade, principalmente aqueles relacionados com a preocupac¢ao excessiva. \ a Teper \ ear vlad) Ss eroetetetara ct "| A se — serctoina Neuréaia ‘serotoningrgico Neurociéncia Descomplicada Noradrenalina e Adrenalina A adrenalina e noradrenalina sao substancias pertencentes a classe das aminas biogenicas muito importantes para diversas respostas tanto a nivel de sistema nervoso central, como no sistema nervoso periférico, em especial sobre o sistema nervoso aut6nomo. De forma geral, a noradrenalina atua especificamente como um neurotransmissor, enquanto a adrenalina geralmente atua como horménio (uma molécula produzida por uma glandula, que entra na corrente sanguinea e atua em outro orgao). ‘Ambas as moléculas sao produzidas a partir da tirosina, um aminoacido. Enquanto a_noradrenalina geralmente é produzida nos neurénios autonémicos, a adrenalina é produzida na medula das glandulas supra- renais (que ficam acima dos rins). Olhando especificamente para o cérebro, as vias de noradrenalina partem de uma area chamada Locus Ceruleus, um ntcleo de neurénios noradrenérgicos (que liberam noradrenalina) que possuem conexdes com diversas partes diferentes do encéfalo, como o cértex pré-frontal, o hipotalamo, a amigdala, o hipocampo, o cerebelo e a medula espinhal. De forma interessante, a transmissdo noradrenérgica se mostra muito importante para a regulacao do estado de alerta, do controle motor, do processamento sensorial, da atencao e de respostas emocionais. Neurociéncia Descomplicada Noradrenalina e Adrenalina Os receptores adrenérgicos podem ser ativados tanto pela noradrenalina, como pela adrenalina e até mesmo pela dopamina (por serem bastante parecidas quimjcamente). Eles sao divididos em receptores alfa e beta adrenérgicos, com os subtipos alfa-1, alfa-2, beta-1, beta-2 e beta-3. Todos esses subtipos sao receptores metabotrépicos, ou seja, atuam modulando o metabolismo celular, modificando a excitabilidade celular através da mudanca de atividade de canais idnicos e producao de outras proteinas. De forma interessante, no sistema nervoso central, os neur6nios contém receptores B1 e B2 adrenérgicos e al e a2. Esses quatro tipos de receptores também sao encontrados em varios orgaos além do cérebro. O receptor B3 é encontrado fora do sistema nervoso central, principalmente no tecido adiposo (gordura). Todos esses receptores tém efeitos excitatérios e inibitdrios. Por exemplo, o receptor a2 geralmente tem um efeito liquido de diminuir a noradrenalina (inibitéria) liberada. Enquanto o restante dos receptores normalmente produz_ efeitos excitatérios observaveis. A disfuncao da atividade adrenérgica_a nivel central esta relacionada com transtornos como o TDAH (Transtorno de Déficit de Atengao e Hiperatividade) bem como em transtornos psiquiatricos como a depressao e ansiedade. Adeenatn, Norasrenain Contiagio do amigo da Contagion Imvieculo HO beragio de do nwineuto tanemissores lise ‘riseuto Hao, shcogenstise. Neurociéncia Descomplicada Sistema Somatossensorial O sistema somatossensorial é responsavel por comunicar ao sistema nervoso central sobre o estado do corpo e do seu contato com o mundo externo. E literalmente um mensageiro/auditor que fica toda hora se perguntando como o corpo esta em niveis de energia, posigao, temperatura corporal, bem como quais os tipos de estimulos fisicos e quimicos ele esta recebendo. Isso é feito por meio de diversos receptores sensoriais que fazem a transdugado_ de energias mecanicas (pressao, alongamento e vibragdes) e térmicas em sinais elétricos (como oS mecanoceptores, termorreceptores e quimioceptores que ja falamos anteriormente). Esses sinais elétricos (também chamados de potenciais geradores) ocorrem na extremidade dos axonios dos neur6nios somatossensoriais, sendo transportados até o corpo desses neurénios que, em geral, fica na raiz dorsal de medula espinhal ou nos nervos cranianos. A organizac¢ao do sistema somatossensorial é bem distinta da organizacao dos outros sentidos, o que representa implicagdes experimentais e clinicas. Em particular, os receptores de outros sistemas sensoriais estao localizados em um s6 6rgao, onde estao presentes em altas concentragoes (p. ex., o olho, no caso do sistema visual). Em contrapartida, os receptores somatossensoriais sao distribuidos ao longo do corpo (e da cabega). Neurociéncia Descomplicada Sistema Somatossensorial Com base na_ distribuicaéo de seus receptores, o sistema somatossensorial recebe trés grandes categorias de informagodes. Sua divisao exteroceptiva é responsavel pela informagao sobre o contato da pele com objetos do mundo exterior e diversos receptores mecanoceptivos, nociceptivos (dor) e térmicos sao usados para essa finalidade. O componente proprioceptivo fornece informagées sobre a posicao e o movimento do corpo e de partes do corpo e se aseia, primariamente, nos receptores_ encontrados nas articulagoes, nos musculos e nos tend6es. Finalmente, a diviséo enteroceptiva tem receptores que monitoram o estado interno do corpo e inclui mecanorreceptores que detectam distens6es no intestino ou a bexiga cheia. As fibras aferentes (que recebem o estimulo sensorial) que levam essas modalidades sensoriais ao SNC sao de tamanhos diferentes. A informacao sobre a sensacao tatil é transportada, primariamente, por fibras grossas mielinizadas, enquanto a informagao sobre dor e temperatura é transportada por fibras de menor didmetro, com pouca mielina e fibras nao mielinizadas. a & Neurociéncia Descomplicada Cértex somatossensorial As principais areas receptoras somatossensoriais do cértex sao chamadas de S-I e S-II. O cortex S-I (ou cértex somatossensorial primario) esta localizado no giro poscentral, enquanto o cortex S-II (cértex somatossensorial secundario) encontra-se na borda superior da fissura lateral. Ambas as areas possuem o que chamamos de mapa somatotropico, isto é, um mapa que tem correlagao espacial com os estimulos sensoriais de diferentes partes do corpo. No cortex S-I, a face estd representada na parte lateral do giro pos-central, acima da fissura lateral. A mao e o resto do membro superior estao representados na por¢ao dorsolateral do giro pds-central e o membro inferior encontra-se na superficie medial do hemisfério cerebral. Um mapa da superficie do corpo e da face do ser humano, no giro pos-central, é chamado de homidnculo sensorial. O mapa é¢ distorcido porque o volume de tecido neural, dedicado a uma regiao corporal, é proporcional 4 densidade da sua inervacao. Assim, nos humanos, a regiao perioral, polegar e os outros dedos ocupam drea desproporcionalmente grande do cértex em relacao ao seu tamanho. Neurociéncia Descomplicada Cértex somatossensorial Além de ser responsdvel pelo processamento inicial da informagao somatossensorial, 0 cortex S-I também da inicio a processamentos mais complexos, como a extragao de atributos. Por exemplo, determinados neuronios da area I respondem, preferencialmente, a estimulos que se movem em uma diregao, mas nao na dire¢ao oposta. Presumivelmente, tais neurénios contribuem para a capacidade _perceptiva de reconhecer a direcao do estimulo aplicado e poderiam ajudar a detectar o movimento de um objeto sendo seguro pela mao. A lesao no cortex S-I de seres humanos produz alteragdes sensoriais como a perda somatossensorial, que pode ser restrita, por exemplo, 4 face ou a perna, ‘dependendo da localizagao da lesdéo em relacao ao homunculo sensorial. As modalidades_ sensoriais mais afetadas sao 0 tato discriminativo e o sentido de posigao. A grafestesia e a estereognosia, ou seja, a capacidade de reconhecer objetos, como moedas e chaves por exemplo, ao manusea-los, sao, especialmente, afetadas. A dor e sensacgao térmica podem ser relativamente conservadas, apesar de a perda da sensacao de dor poder ocorrer em lesGes corticais. maser meerenoecnenepsntte: —_— — LTT de FF ow F mw uF eh ——eteentnnpramerenbeeeed i os ly u R R U aan secegsemeeet " t —_r— _-— RW RF uw tothe 1 segundo Neurociéncia Descomplicada Sistema nociceptivo As sensacoes de dor e temperatura estao relacionadas e, em geral estao agrupadas, pois séo mediadas por conjuntos de receptores que se sobrep6em e sao transportados pelo mesmo tipo de fibra, no SNP, e as mesmas vias no SNC. Como _consequéncia, as sensagoes de dor, de modo especial, nao sao decorrentes, apenas, da intensa ativagao das vias do tato, como se pode, inocentemente, imaginar. A capacidade de determinar estimulos danosos aos tecidos (mecanicos, térmicos ou quimicos) é mediada pelos chamados nociceptores. Esses receptores tém algumas caracteristicas em comum com os mecanorreceptores, mas apresentam diversas diferencas, como a capacidade de se sensibilizar. A primeira distincao funcional que pode ser feita no sistema de dor encontra-se na distingao entre a transmissao rapida e transmissao lenta, feita por fibras diferentes. Os axénios que realizam a transmissao mais rapida no sistema nociceptivo é responsavel pelo que chamamos de primeira dor, enquanto os neurénios mais lentos sao responsaveis pela segunda dor. Assim, depois de estimulo lesivo, sente-se primeiro sensagao bastante localizada, intensa, aguda (primeira dor), seguida de sensacao menos aguda, mais difusa e de queimacao (segunda dor) oe yo Medlla ooonasta Deeussaion of ‘medial emacs ” omen erty 10) Devns otema-mdilarnicalpatneny Neurociéncia Descomplicada Organiza¢gado motora Os movimentos representam o modo principal pelo qual interagimos com o mundo. A maior parte de nossas atividades, como correr, esticar os bragos, comer, fazer sexo, e até mesmo ler, envolve atos motores. Assim, ’o controle motor é a principal fungao do sistema nervoso e, do ponto de vista da evolugao, é, provavelmente, a principal razio para o desenvolvimento do sistema nervoso. As contragdes das fibras musculares esqueléticas sao responsaveis pelos movimentos do corpo. Essas fibras sao inervadas por neurdnios grandes, chamados_ neur6énios motores, presentes tanto na medula espinhal como nos nervos cranianos. Esses neurénios sao grandes, multipolares, medindo cerca de 70 ym de didmetro. Os axénios motores sao distribuidos para os miusculos esqueléticos apropriados pelos nervos periféricos, terminando em sinapses chamadas jungdes neuromusculares ou placas motoras nas fibras musculares esqueléticas. A unidade motora é um neurénio motor e todas as fibras musculares esqueléticas que seu axdnio inerva. Em nds humanos, cada fibra muscular esquelética 6 inervada por um sO neurénio motor, Entretanto, determinado neurdnio motor pode jinervar numero variavel de fibras musculares Pequeléticas. Esse ntmero depende do quao fino deve ser o controle motor. Fememciwes lnemagdo henge ro Seog fc ne ‘aaom" Neurociéncia Descomplicada Organiza¢gado motora O reflexo é resposta involuntaria, relativamente previsivel e estereotipada, ao estimulo. O circuito basico do reflexo é o arco reflexo. O arco reflexo pode ser dividido em trés partes: o ramo aferente (receptores e axOnios sensoriais), que transporta a informacao para 0 SNC, 0 componente central (sinapses e interneurénios no SNC) e o ramo eferente (neurénios motores), responsavel pela resposta motora. O reflexo patelar, produzido quando o médico percute o tendao patelar com martelo de reflexos, 6 exemplo comum de reflexo medular e ilustra os diversos componentes da definigao de arco reflexo. ) cétuia ORG eZ Na realidade, a percusséo no tendao causa breve estiramento do mtsculo quadriceps (estimulo desencadeador), ativando receptores sensoriais (fibras nos fusos musculares). A ativagéo dos __ receptores sensoriais resulta em _ sinal excitatério que é transportado para a medula para ativar os neurénios motores que voltam ao quadriceps e fazem com que ele contraia, resultando na extensio da perna (resposta estereotipada). Estiramento Estiramento linear Percussdo sinusoide Liberagao: Resposta PEE Ee Estimulo ginamica __A__ A/\f\, Grupo ta |} IHIDIINIIIN LLM LL | Ui) UL LL Grupo | YLUHMMILNIN LUT LLL LUMI) WML LY LLL Neurociéncia Descomplicada Organiza¢gado motora Vamos olhar agora para movimentos mais complexos e voluntarios. Por exemplo, para fazer movimento com seu braco para alcancar alguma coisa, é preciso, antes de mais nada, que vocé identifique seu alvo (ou objetivo) e o localize no espaco externo. A seguir, deve-se determinar a trajetoria para o brago, com base na sua representacao interna, e, em especial, de sua mao, em relacgdo ao alvo. Finalmente, diversas forgas necessarias para gerar a trajetoria desejada devem ser determinadas. De orma geral, isso envolve um esforgo intenso de computacao de diversas areas do cortex cerebral. As areas motoras sao definidas como as que podem evocar movimentos em resposta a estimulo de pequena intensidade. Sao elas 0 cértex motor primario, no giro pré-central, a area pré-motora, imediatamente 4 frente do cdrtex motor primatio, o cortex motor suplementar, na porcao medial do emisfério cerebral e trés dreas motoras cinguladas, localizadas nas paredes do sulco cingulado do lobo frontal. Margeen so eulce enguiado A Viata tera 8 Neurociéncia Descomplicada | Organiza¢gado motora O cértex motor primario (ou apenas cértex motor) pode ser definido como a regiao do cortex que evoca movimentos com a menor intensidade de estimulacao elétrica. Com base nos estudos iniciais de mapeamento, descreveu-se o cortex motor como tendo organizacao topografica paralela 4 do cértex somatossensorial (possuindo inclusive um homtnculo proprio, assim como o homtinculo sensorial). A area motora suplementar (AMS) localiza-se, em sua maior parte, na superficie medial do hemisfério, imediatamente anterior ao cortex motor primario. A remocao do cértex motor suplementar retarda o movimento das extremidades opostas e pode causar movimentos forgados de agarrar pela mao contralateral. A area pré-motora esta a frente do cortex motor primario. Ela pode ser diferenciada do cértex motor primario_ por requerer estimulos de maior intensidade para produzir movimentos. Ja as areas motoras do cingulado estao localizadas no sulco cingulado. A atividade espontanea dos neurénios das 4reas motoras do cingulado esta relacionada com a preparacao e a execugao dos movimentos. Neurociéncia Descomplicada Sistema Nervoso Aut6énomo Em geral, consideramos o sistema nervoso auténomo como parte do sistema motor. Contudo, ao invés de ser responsavel pelo controle dos misculos esqueléticos, ele controla os musculos lisos, cardiaco e as glandulas, modulando, portanto, o controle motor das visceras. E justamente por conta disso que ele pode ser também chamado de sistema nervoso vegetativo (que vem de visceras). Auxiliar na manutengao do ambiente corporal interno constante (homeostasia) é funcdo importante do sistema nervoso aut6nomo. Quando estimulos internos sinalizam que é necessaria alguma regulacgao do ambiente corporal, o sistema nervoso central (SNC) e seu fluxo auton6émico emitem comandos que levam a agdes compensatorias. Por exemplo, aumento stibito da pressao arterial ativa os barorreceptores (receptores de pressao) que, por sua vez, modificam a atividade do sistema nervoso auténomo, de forma que a pressao arterial volte a seu nivel anterior. O inverso também acontece! A expressao sistema nervoso auténomo, em geral, se refere aos sistemas nervosos simpatico e parassimpatico. Neurociéncia Descomplicada | Sistema Nervoso Aut6énomo A acetilcolina é 0 neurotransmissor classico dos ganglios autoOnomos, sejam eles simpaticos ou parassimpaticos. As duas classes de receptores de acetilcolina nesses ganglios incluem os receptores nicotinicos e muscarinicos. Os neur6énios simpaticos pdés-ganglionares liberam, tipicamente, noradrenalina, que excita algumas células efetoras enquanto inibe outras células. Os receptores nas células alvo podem ser receptores adrenérgicos a ou B. Enquanto isso, a acetilcolina é o neurotransmissor liberado pelos neur6nios parassimpaticos pés-ganglionares. Suas acdes sao mediadas por receptores muscarinicos. O controle aut6nomo de diversos alvos depende de circuitos reflexos locais e de sinais de areas do SNC. Ambos os sistemas controlam intmeras agoes distintas em varios 6rgaos. Olhando especificamente para_a pupila, a ativacdo da inervacao simpatica do olho dilata a pupila, o que ocorre durante momentos de excitagaéo emocional e, também, em resposta a estimulos dolorosos. Jé o sistema nervoso parassimpatico apresenta efeito contrario ao do sistema nervoso simpatico no tamanho da pupila, promovendo a contracao da pupila. Olhando para a bexiga, a atividade parassimpatica contrai o alguns musculos e esfincteres. Essas acdes resultam na miccéo ou eliminacéo de urina. A ativacgao do sistema simpatico possui efeito contrario, inibindo a miccao. nereagio Cs Neurociéncia Descomplicada Centros Aut6énomos Cerebrais Um centro auténomo consiste na rede local de neurénios que respondem a impulsos provenientes de uma fonte em particular, que influencia neurénios distantes por longas vias eferentes. Por exemplo, o centro de micgao é o centro aut6nomo na ponte que regula a mic¢ao. A maior concentracao de centros auténomos, provavelmente, esta localizada no hipotalamo. O hipotalamo pode ser subdividido em_trés regides: regides supraquiasmatica, tuberal e mamilar. Uma das grandes fungoes desse centro aut6nomo é a regulacao da temperatura. As informacées sobre a temperatura externa sao fornecidas por termorreceptores na pele (e, provavelmente, em outros orgaos, como os musculos). A temperatura interna é monitorada por neur6nios termorreceptivos centrais na parte anterior do hipotdélamo. Os termorreceptores centrais monitoram a temperatura do sangue. Sinais de erro, que representam um desvio da temperatura normal, desencadeiam respostas que tendem a restabelecer a temperatura corporal. Essas respostas sao mediadas pelos sistemas aut6nomo, somatico e endécrino. Por exemplo, se vocé sair de casa em um local frio desagasalhado, vocé vai comecar a tremer para aumentar a produgaéo de calor (por conta da contragao muscular), e provavelmente vai pensar em por um casaco (por conta da atividade do hipotalamo sobre centros de tomada de decisao como 0 cértex pré-frontal). ooo oT [rom scucmctr "farms warmest / com’ Neurociéncia Descomplicada | Centros Aut6nomos Cerebrais Outra funcgéo importante do hipotdlamo é o controle da ingestéo de alimentos. Glicorreceptores localizados no hipotdlamo, sao sensiveis aos niveis glicémicos e usam essa informagao para controlar a ingestao de alimentos. Sua principal acéo ocorre quando a glicemia esta reduzida. Peptideos opioides e 0 polipeptideo pancreatico estimulam a ingestao de alimentos, enquanto a colecistocinina a inibe. A insulina e os glicocorticoides da suprarrenal também afetam a ingestao de alimentos. A estimulagdo elétrica da regido lateral do hipotalamo estimula a ingestao de alimentos. Essas observagdes sugerem que a regiao lateral do hipotalamo contenha o centro de alimentacao. O oposto ocorre estimulando-se o nticleo ventromedial do hipotalamo. Lesao nessa regiao causa hiperfagia, aumento na ingestao de alimentos que pode levar a obesidade, enquanto a estimulacao elétrica dessa area interrompe 0 comportamento alimentar. Essa regiao do hipotalamo é conhecida como centro da saciedade. Glandula pineal Hipotdlamo, j Cérebro Adeno-hipofise Hipdfise (glandula pituitdria) Medula espinhal : Neuro-hipéfise Neurociéncia Descomplicada Fungées Cerebrais Superiores As interagoes das diversas partes do cértex cerebral e entre ele e as outras partes do cérebro sao responsaveis por muitas das fung6es superiores que caracterizam os humanos. A superficie do cortex é muito convoluta e dobrada em cristas conhecidas como giros. Os giros sdo separados por sulcos (se forem rasos) ou fissuras oe forem profundas). O cértex cerebral pode ser dividido em dois hemisférios, esquerdo e direito, e subdividido em diversos lobos, incluindo os lobos frontal, parietal, temporal e occipital. Esses lobos devem seus nomes aos ossos cranianos que os recobrem. A atividade nos dois hemisférios do cértex cerebral é coordenada por conexGes pelas comissuras cerebrais. A maior parte do neocértex, nos dois hemisférios é conectada pelo corpo caloso. Fungdes especificas do cértex cerebral podem ser associadas a diferentes lobos dos hemisférios cerebrais. Giro pré-cortral ‘Sulco pré-contrat Soleo trontat superior Giro trontal superior Giro tontal mécio Sudco frontal terior Poo trontal —| iro frontal inferior: Neurociéncia Descomplicada | Fungées Cerebrais Superiores Uma das principais fungdes do lobo frontal é o comportamento motor. As 4reas motoras, pré-motora, cingulada motora e motora suplementar estao localizadas no lobo frontal, bem como o campo visual frontal. Essas areas sdo cruciais no planejamento e na _ execucao do comportamento motor. A area de Broca, essencial para a geracao da fala, fica localizada na parte inferior do giro frontal do hemisfério dominante para a linguagem nos humanos. Além disso, o cértex pré-frontal, na parte rostral do lobo frontal, desempenha papel importante na personalidade e no comportamento emocional. O lobo parietal contém o cértex somatossensorial e 0 cértex de associagao parietal adjacente. Esse lobo esta envolvido no processamento e na_ percepgao da informagao sensorial. Conexdes com o cértex_ frontal permitem que informagdes_ somatossensoriais afetem a atividade motora. Informacgdes visuais do lobo occipital chegam ao cortex de associacao parietal e ao lobo frontal, onde também ajudam a guiar os movimentos voluntarios. A funcao primaria do lobo occipital é 0 processamento e a percepcao visuais. As conexdes dos campos visuais frontais afetam os movimentos oculares e a projecao para o mesencéfalo auxilia no controle dos movimentos oculares. (ooo pieced — creep Cine .) [Bl uccecccpat — [Eftcnopant — (isnormnpat — ficco rien tasers Neurociéncia Descomplicada | Fungées Cerebrais Superiores O lobo temporal tem diversas funcgdes. A audicdo, que depende do processamento e da percepgao de informagoes relacionadas aos sons, é uma delas. O processamento da informagao vestibular é outra de suas fungdes. Descobriram-se diversas areas visuais no lobo temporal; consequentemente, esse lobo também esta envolvido no processamento visual mais elevado. O lobo temporal medial pertence ao sistema limbico, que participa do comportamento emocional e regula o sistema nervoso autondmico. A formagao hipocampal esta envolvida no aprendizado e na meméria. Neurociéncia Descomplicada Uae M iat D Leltoh a] Pronto!! Acredito que agora vocé teve uma breve e basica introducao sobre o seu cérebro. Espero que a partir de agora vocé consiga ter maior autonomia para entender como € 0 funcionamento desse 6rgao tao complexo (e meio misterioso) que eu adoro estudar. Se vocé sentiu dificuldades ou se a linguagem nao foi tao clara, vocé pode sempre comentar no canal suas duvidas, que eu estarei de prontidao para te responder! Espero que a partir desse resumo basico vocé tenha agucado sua curiosidade sobre o cérebro, e, quem sabe, até se apaixonado por saber mais sobre como ele funciona (assim como eu sou! Haha). Se vocé gostou do contetido ensinado aqui, que tal mandar para algum amigo seu que iria gostar de saber mais sobre isso? PNM BUCO TM ereLe( ams eee ele leLUVear ese (ess interagindo com a comunidade do Neurociéncia Descomplicada no Youtube. Minha missao é divulgar ciéncia e descomplicar a neuro para o maior numero de pessoas possiveis, e um like ou compartilhamento seu ja é uma grande ajuda para o crescimento do projeto! 7 Neurociéncia Descomplicada Referéncias Editora Guanabara Koogan, 2002. -GUYTON, A.C. e Hall J.E.- Tratado de Fisiologia Médica. BEAR, M F; Connors, BW; Paradiso, MA. Neurociéncias - Desvendando o Sistema Nervoso. 4° Edicao, Artmed, 2017. BERNE e LEVY - Fisiologia - Traducao da 7* Edicao. Editores Bruce M. Koeppen e Bruce A. Stanton. Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2018. As Bases Farmacolégicas da Terapéutica. Goodman & Gilman. Brunton, Laurence L. Editora McGraw-Hill, Artmed, 12? edigao, 2012. Principios de Farmacologia. A Base Fisiopatologica da Farmacologia. GOLAN, David E. e col. Editora Guanabara Koogan, 3° edigao, 2014. KANDEL, E.R. Principios de Neurociéncias Porto Alegre Ed. MC HILL Sa. Edigao 2014. 7 Neurociéncia Descomplicada

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