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HISTORIA DOS MOVIMENTOS E LUTAS SOCIAIS A Construgdo da Cidadania dos Brasilei Edigées Loyola Rua 1822 n® 347 — Ipiranga 04216-000 Sao Paulo, SP Caixa Postal 42.335 04218-970 Sao Paulo, SP & (O*#11) 6914-1922 ® (0**11) 6163-4275 Home page e vendas: www.loyola.com.br Editorial: loyola@loyola.com.br Vendas: vendas@loyola.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrénico ou mecénico, incluindo fotocdpia e gravagéo) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissdo escrita da Editora. ISBN: 85-15-01154-9 38 edicao: abril de 2003 © EDIGOES LOYOLA, Sao Paulo, Brasil, 1995 INDICE APRESENTACAO ....cssssessssesssssseessecssesssesnsesssanavsnnvansnsnsnanesseseeees 7 MAPEANDO A CONSTRUGAO DA CIDADANIA DAS CLASSES SOCIAIS NO BRASIL . ss Introdugao a EsBOGO DE UM MAPEAMENTO DAS LUTAS w.sssssssssssesesssssesseeee 17 Movimentos e Lutas Sociais no Brasil no Século XIX .. 12 A Heranga do Século XVIII: As Lutas e os Movimentos pela Independéncia ... Mapeando os Retecedenit 1789 — 1800 ...... A Primeira Metade do Século XIX — As Lutas, Movimentos ic Rebelides Nativistas: O Radicalismo Democratico e Popular. 22 Lutas e Movimentos na Primeira Metad é xX A Segunda Metade do Século XIX — As Lutas dos Escravos, a Questao Militar e o Surgimento do Movimento das Sociedades e AssociagGes Mutualistas........csssmernecrsneessners 39 Movimentos e Lutas de 185021900 AD Movimentos e Lutas Sociais no Brasil no Século XX . Primeira Fase — As Lutas Sociais da Primeira Republica........ Mapeamento das Lutas e Movimentos — 1900-1930............ Segunda Fase — As Lutas Sociais apés a Revolugao de 1930 até a Queda do Estado Novo Lutas e Movimentos: 1930-1945 Terceir: — i Populist FQ4S 64 cis asscs cotta cconnterinssa snes 90 Os Movimentos e as Lutas da Fase Populista — 1945-1964... 92 Quarta Fase — A Resisténcia durante o Regime Militar: 1964-74 103 Os Movimentos e as Lutas do Periodo de 1964 a 1974... 106 Quinta Fase — As Lutas Pela Redemocratizagao — 1975-82.. 113 19 20 Sexta Fase — A Epoca da Negociacio e a Fra dos Direit 1982-95 Movimentos e Lutas entre 1981 e 1995 .... Os Destaques no Mapeamento Realizado If — Cultura e participagao popular em Sao Paulo INICIO DO SECULO XX CONCLUSOES as REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ......s0sseseeesesssessesseeereresseesvesses LZO Ill — Demandas Populares Urbanas no Brasil SECULOS XVI A XX .. INTRODUGAO ..... 1. A Relacao Povo-Poder no Século XVI 2. A Relagao Povo-Poder no Século XVII..... 3. A Relagdo Povo-Poder no Século XVIII 4. A Relacao Povo-Poder no Século XIX 5. Conclusées .. ConclusGes: A CONSTRUGAO DA CIDADANIA AO LONGO DOS SECULOS .. 193 1. A Construcdo da Cidadania ao Longo dos Séculos ............ 195 2. A Transicao nas Lutas Sociais pela Cidadania nos anos 9 das Lutas Populares para as Lutas Civicas 3. Conquistas Contemporaneas da Cidadania Brasileira: A Introducao do Principio da Participacao Popular no Governo da Coisa Publica — A Questdo dos Conselhos.... 210 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. movimentos e as lutas das camadas populares em diferentes tegides do Brasil, nas décadas de 1960-70 e 80, e a influéncia que os estudos histéricos passaram a ter sobre nossas pesqui- sas nos anos 90, particularmente os estudos da historiografia inglesa, em especial os de Eric Hobsbawm, E. P. Thompson, George Rudé, e de alguns pesquisadores do movimento fran- cés da Ecole dos Annales, como Michel Volvelle e seu estudo sobre as mentalidades. Destes estudos temos retirado a ins- piragdo para as pesquisas, a metodologia de trabalho e as linhas te6ricas gerais para sua interpretagdo tedrica!. Este livro comp6e-se de trés capitulos que correspondem a trés ensaios. O primeiro, mais extenso, trata das “Lutas e Movimentos Sociais: Mapeando a Construgao da Cidada- nia das Classes Sociais no Brasil”. O objetivo principal deste ensaio foi o de realizar um mapeamento das a¢oes ocorridas nos séculos XIX e XX. Elas foram agrupadas por fases historicas. E importante registrar que nao objetivamos fazer uma mera cronologia de eventos mas apresentar, den- tro de certos periodos histéricos, 0 conjunto das agdes so- ciais coletivas, articuladas em frentes de lutas, movimentos ou organizagées de protesto. O evento € para nds a forma de expresséo momentanea de um processo social. A novidade que pretendemos é apresentar uma cronologia de eventos captando o avesso da Historia oficial, ou seja, uma cronolo- gia das acdes coletivas a partir dos atores da sociedade civil. Sabemos que “a Historia € mais que uma cronologia de eventos. Enquanto esta se resume a juntar os eventos segun- do a ordem de sua sucessdo, aquela esforca-se por explicar, nado apenas a ordem da sucesséo dos acontecimentos, mas também a razdo pela qual se deu a ordem, a razao pela qual se fez surgir um acontecimento a outro, razdo esta funda- 1. HOBSBAWM, E. Rebeldes Primitivos. Rio de Janeiro, Zahar Ed., 1970. Os Tra- balhadores. Rio de Janeiro Paz e Terra, 1981; A Era das Revolugées, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977; RUDE, George. Ideologia e Protesto Popular. Rio de Janeiro, Zahar, 1980; THOMPSON, E. P. A miséria da Teoria. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1887; VOVELLE, Michel. Ideologias e Mentalidades. Sao Paulo, Brasiliense, 1987. mentada num principio de validade universal”. Assim sen- do, a sintese da conjuntura hist6rica apresentada no inicio de cada conjunto dos eventos mapeados como fases (ou etapas) do processo de constru¢ao da cidadania, pretende ser o fio condutor explicativo dessas fases. A periodizacao elaborada para a aglutinacaéo das acdes obedece critérios dados pela propria conjuntura sécio-econé- mica e politica da época, ou seja, os momentos de ruptura ou de inflexao da ordem sociopolitica predominante. Ao final do primeiro ensaio realizamos uma listagem dos principais pontos observados no mapeamento realizado sobre os eventos de lutas dos séculos XIX e XX. O segundo ensaio trata da “Cultura e Participagao Po- pular no inicio do século XX em Sao Paulo”. Trata-se de um estudo realizado a partir de levantamentos nos Arquivos Edgard Leuenroth, da Unicamp, e da leitura de estudos sobre a Primeira Reptblica. O objetivo basico foi o de resgatar teivindicagdes decorrentes de necessidades presentes no co- tidiano das classes populares naquele periodo. Este ensaio constitui-se no capitulo II e nele retomamos alguns movi- mentos registrados no mapeamento do capitulo I, relativo as primeiras décadas do século XX, assim como alguns movi- mentos ocorridos nos anos 60, 70 e 80 desse mesmo século. O terceiro e Ultimo ensaio aborda as “Demandas Popu- lares Urbanas no Brasil nos séculos XVI a XX”. Enfase especial € dada aos aspectos da cultura e da educacao nesse ensaio, pois um de seus objetivos basicos € o de resgatar elementos da cultura politica nacional que foram se sedi- mentando ao longo dos séculos, decorrentes da forma como se desenvolveu a relacgdo povo- poder, em questées relativas as necessidades para a sobrevivéncia das diferentes camadas sociais no cotidiano, no meio urbano. Esse ensaio, apresenta- 2. REHFELD, Walter Israel. “O Principio da Esperanga — Das Profecias Biblicas aos Neomarxistas”, Revista Sintese, n° 62. Belo Horizonte, Loyola, 1993. do como o capitulo III deste livro, aborda movimentos e lutas anteriores ao eventos destacados nos capitulos I e II (séculos XIX e XX). Ele objetiva delinear alguns caminhos para um mapeamento futuro sobre as lutas e os movimentos nos séculos XVI e XVII. Ao final da apresentagdo dos trés ensaios elaboramos algumas conclusées. Escolhemos como eixo articulat6rio da leitura que fizemos sobre as lutas e os movimentos ao longo dos séculos a Questéo da Cidadania. Com este trabalho estamos iniciando uma nova etapa em nossos estudos e pesquisas sobre a tematica da participacdo sociopolitica da sociedade civil, por meio de lutas, movimen- tos, organiza¢oes, associa¢des etc. Estamos voltando-nos para a Histdria, em busca dos registros, da memoria e, também, de explicagGes que nos esclaregam aqueles periodos, assim como de elementos para a compreensdo do presente. Neste livro objetivamos também atingir um novo publico: o de professores do Segundo Grau. Buscamos preencher uma lacuna no mercado editorial de textos histdricos, que é a da produgao de textos didaticos, acessiveis na sua compreensdo e entendimento, tanto ao publico de especialistas como ao cor- po docente das escolas de 2° Grau e universitarios. Finalmente, este livro destina-se também ao publico direta- mente envolvido na tematica da participagao social, ou seja, os militantes dos movimentos sociais, as organiza¢Oes e os grupos de assessorias que desenvolvem trabalhos junto aos movimen- tos sociais; assim como aos técnicos dos 6rgéos ptblicos esta- tais, responsaveis pelo gerenciamento das agdes envolvendo a populacao. O carater didatico do livro revela-se em seu contet- do, por meio da grande énfase dada aos aspectos informativos, deixando os aspectos analitico-argumentativos como sinteses dos periodos hist6ricos examinados. Ao iniciar 0 mapeamento de um ciclo de lutas ou movimentos, sempre apresentamos um panorama da conjuntura sociopolitica da época, conjuntamen- te com as énfases do sistema produtivo vigente. Ao final, ela- 10 boramos algumas conclusdes, em termos comparativos, bus- cando delinear as caracteristicas basicas daqueles ciclos de agdes e lutas sociais. Dedico este livro a todos os lideres das lutas e dos movi- mentos sociais brasileiros que morreram por acreditar e de- fender algumas causas coletivas. Alguns desses lideres entra- ram para a Historia como herdis, como Tiradentes no século XVIII, Frei Caneca e Ant6nio Conselheiro no século XIX, e Santos Dias e Chico Mendes neste século. A maioria, entre- tanto, além de ter perdido suas vidas nas lutas, foi relegada ao esquecimento, ou faz parte de alguns pés de paginas de textos que, usualmente, n4o lhe atribuem importancia histé- tica. A divida que a sociedade brasileira tem para com esses personagens sO podera ser paga a medida que sua dignidade — muitas vezes aviltada pela incompreensao, violéncia e mes- quinharia de nossos antepassados, assim como, infelizmen- te, também por alguns contemporaneos — for resgatada. re ] LUTAS E MOVIMENTOS SOCIAIS: Mapeando a Construcéo da Cidadania das Classes Sociais no Brasil INTRODUGAO O trabalho objetiva realizar um véo sobre a historia bra- sileira dos ultimos dois séculos, buscando resgatar movimen- tos e lutas empreendidos pela sociedade civil, e em especial pelas camadas populares, em torno de demandas e de reivin- dicag6es ocorridas no espaco urbano, constituidoras do con- junto de elementos que vieram a formar a fragil cidadania conquistada, paulatinamente, pelas camadas populares e pela sociedade civil em geral. Os pontos basicos a ser abordados sao: 0 esboco de um mapeamento dos movimentos e das lutas sociais ocorridos no Brasil nos séculos XIX e XX, a partir de estudos e de Tegistros existentes; a recuperacaéo da dimensdo de resistén- cia e de combatividade daquelas agdes no meio popular; a negacao das abordagens que analisam aquelas lutas como simples revoltas ou atos de insubordina¢des das massas; e 0 registro das acdes de desobediéncia civil na luta pela cidada- nia. A questao da cidadania sera retomada na conclusdo do livro, destacando as alteragGes que foram ocorrendo em sua propria concepcao, assim como resgatando seus principios articulatérios e as conquistas efetuadas a respeito, particular- mente em relacdo as camadas populares. Na realidade este capitulo constitui-se numa sintese de um projeto a ser desenvolvido a longo prazo. Para este momento a preocupacao basica sera a de registrar e localizar, no tempo e no espago, as principais lutas e movimentos sociais. Para a primeira metade do século XIX faremos um breve resumo dos 1s movimentos ocorridos devido a sua importancia para o desen- volvimento da cidadania no Brasil. Usualmente eles tém sido caracterizados como momentos de desvio da ordem, desrup¢ées, agées selvagens de poucos contra os poderes constituidos. Para o século XX apresentaremos os movimentos e as lutas citando ano e local de ocorréncia, detendo-nos apenas em alguns as- pectos dos movimentos para uma sintese analitica. Algumas vezes registraremos eventos que nao constituem propriamente uma luta ou movimento, visto serem fatos sociopoliticos, como a fundacao de uma associacao ou a promulgacao de alguma lei. Mas todos séo eventos que advém de lutas ou processos participativos da sociedade civil. As fontes basicas de dados sao estudos historicos sobre a tealidade brasileira, nos periodos em analise. Nesse sentido, registro meu agradecimento aos historiadores e demais pesqui- sadores da realidade brasileira citados no decorrer do texto, por terem sido as fontes basicas para a releitura que este trabalho contempla. Cumpre registrar também que estamos trabalhan- do com uma concep¢ao ampla de movimentos e lutas sociais. Na realidade estamos incluindo em nosso mapeamento, que tem um carater preliminar e nao se pretende exaustivo, as principais agGes coletivas que a maioria dos historiadores bra- sileiros tem registrado como reivindicacées, revoltas, rebelides, atos de insubordinagGes, insurrei¢ées, protestos, confabulagdes etc., independentemente do paradigma teérico epistemolégico daqueles historiadores. Procuramos registrar 0 nome mais consensual, ou usual, dado ao acontecimento. A ordem de apresenta¢io e andlise dos eventos obedecera ao critério cronoldgico. Subdividiremos os acontecimentos por séculos, e cada século por fases demarcadas pela conjun- tura politica. A cada fase faremos uma breve introducao apresentando suas principais caracteristicas, objetivando delinear o cenario onde as a¢Ges transcorreram. Os eventos do século XIX, especificos, séo apresentados de forma cir- cunscrita. Para o século XX, particularmente nas décadas mais recentes, alguns eventos sao registrados de forma glo- balizante, como por exemplo um ciclo de greves ou o movi- mento de favelas. O numero de acontecimentos, organiza- 16 gdes e ocorréncias em cada evento dos exemplos citados é enorme. Nos limites deste texto nao caberia listar todos, mas sim registra-los em bloco. Uma Ultima observagéo quanto ao procedimento meto- doldégico: como nossas fontes sdo textos sobre a Histéria do Brasil, os eventos cobrem diferentes regides do pais. Em al- guns casos, existe uma concentragéo de informagdes em determinadas regides, como Sao Paulo, devido a aglutinac¢ao de pesquisas nessas regides. Resta-nos ainda esclarecer como conciliamos 0 trabalho de registro de eventos, a maior parte com forte recorte politico, com a inspira¢do a partir da Ecole dos Annales. Recorremos a Peter Burke quando assinala: “O retorno 4 historia politica esta vinculado 4 reacgao contra o determinismo, que, como vimos, também inspirou a viragem antropologica. A preocupa¢ao com a liberdade humana, juntamente com o interesse pela micro- histéria, fundamenta também o recente renascimento da bio- grafia histérica, fora e dentro dos quadros dos Annales”?, Ou seja, inspiramo-nos nos trabalhos da terceira geragéo dos Annales, aquela que destaca a importancia do agir humano, das mentalidades, de forma que a histdria politica, a historia dos eventos e a narrativa dos acontecimentos se entrelacam, construindo o processo. Estrutura e conjuntura se entrecruzam, totalidade e cotidianidade se complementam. ESBOCO DE UM MAPEAMENTO DAS LUTAS Movimentos e Lutas Sociais no Brasil no Século XIX Usualmente todo estudante da Histéria do Brasil aprende, desde os primeiros anos escolares, sobre uma série de lutas e movimentos desenvolvidos a partir da populagao civil, nor- 3. BURKE, Peter. A Escola dos Annales. Sao Paulo, Ed. UNESP, 1992. 17 malmente entre as camadas mais pobres ou sem poder na sociedade. Essas lutas séo apresentadas como rebelides contra a ordem estabelecida, e na maioria das vezes o relato se detém na histéria de seus algozes, ou seja, dos militares, tiranos ou qualquer outro tipo social, apresentados como herdis. Se aten- tarmos para a natureza daqueles conflitos no periodo do Brasil- Colénia e Império, e para as problematicas que envolviam, observaremos que, a despeito da extensdo territorial do pais e da falta de comunicag¢4o existente entre as ent4o provincias da época, existe uma grande unidade de aglutinacao das reivindi- cagdes. Assim, podemos sistematizar as seguintes categorias de problematicas no século XIX: 1 — Lutas em torno da questao da escravidao. 2 — Lutas em torno das cobrang¢as do fisco. 3 — Lutas de pequenos camponeses. 4 — Lutas contra Legislagdes e Atos do Poder Publico. § — Lutas pela mudanga do regime politico (pela Repi- blica ou pela restauragdo da Monarquia). 6 — Lutas entre categorias socioeconémicas (comercian- tes brasileiros x comerciantes portugueses). Todas as categorias de lutas assinaladas envolviam conflitos que abrangiam zonas rurais e urbanas, pois dado o sistema produtivo existente, baseado na hegemonia da monocultura do café, a produgao ocorria no campo mas a comercializagao, do produto e da mio-de-obra, ocorria na cidade. Essas lutas irromperam-se em diferentes pontos do pais. As relativas a questao dos escravos e a proclama¢aéo da Reptblica tornaram- se as mais famosas na Historia, pelo fato de estarem diretamen- te relacionadas com os elementos fundamentais do pais, ou seja, o sistema produtivo e o sistema do poder e controle po- litico. Entretanto, outras lutas, igualmente importantes, nao ganharam tanto destaque na Histéria do Brasil. A este respeito, Manuel Correia de Andrade observa’: 4. ANDRADE, Manuel Correia de. O Povo e o Poder. Belo Horizonte, Oficina do Livro, 1991, pp. 8-9. 18 “Movimentos populares liderados por homens do povo, como a reacdo indigena, os quilombos negros, as revoltas do periodo regencial e imperial — Cabanada da Amaz6nia, Balaiada do Maranhio e Piaui, Guerra dos Cabanos de Pernambuco e Alagoas, revolta dos negros Malés da Bahia, Quebra-Quilos da Paraiba e Pernambuco etc.—, foram praticamente expulsos ou escondidos da nossa histéria’. E ainda conclui: “S6 recente- mente é que se vém realizando estudos a respeito desses mo- vimentos e se dando cidadania a lideres populares antes clas- sificados como barbaros e como chefes de bandidos”. Para mapear as lutas e os movimentos do século XIX devemos situar alguns de seus antecedentes, construidos no século XVIII. A Heranca do Século XVIII: As Lutas e os Movimentos pela Independéncia As lutas sociais desta fase tem como caracteristica comum © desejo de libertagéo da Metrépole. Varios historiadores do periodo assinalam os seguintes aspectos peculiares da Indepen- déncia brasileira: ela foi promulgada nao pelos lideres que por ela lutaram, ou por um lider que tenha chefiado numerosas e gloriosas lutas populares, mas, ao contrdrio, por um principe herdeiro de uma monarquia decadente, com o apoio da con- servadora elite rural do pais, que andava temerosa sO de ouvir os ecos das lutas que eclodiam na Europa, e com medo de perder os privilégios que a vinda da Corte lhe tinha concedido. Os lideres das rebeliGes nesta fase eram “liberais radicais”, inspirados nos modelos da Revolucao Francesa e da Revolucao Norte-Americana. Eles tomavam como bandeira pontos em comum das lutas contra o colonialismo, a saber: a liberdade de comércio, a liberdade, a igualdade a representagao popular so- berana e, em alguns casos, o anticlericalismo exacerbado. A seguir apresentaremos os principais movimentos e lu- tas do século XIX. Nos mais importantes, por sua dimensdo 19 na historia politica do pais, faremos breves resumos, desta- cando: localizacao, objetivos, composi¢ao social e, em al- guns casos, fatos de seu desenrolar. Entretanto iniciaremos a listagem a partir de quatro movimentos ocorridos ainda no século XVIII, devido 4 importancia que tiveram para o pré- prio século XIX. Mapeando os Antecedentes: 1789 — 1800 1789 — Inconfidéncia Mineira. Luta pela independéncia do 20 Brasil, até entéo colénia de Portugal. Este foi o primeiro movimento a definir com clareza 0 objetivo da separagao da metrépole. Lutas e movimentos anteriores haviam tangenciado a questéo de forma parcial, apresentando reivindicagdes pontuais como a questéo dos impostos. As causas do movimento podem ser sistematizadas em trés dimenséGes, a saber: econémica, politica e ideolégica. A primeira, econd- mica, era dada pelos resultados da cobranga de pesados impostos, entre as quais se destacava o “quinto”. Quando a produgao do ouro decaiu, a Coroa conti- nuou a exigir grandes quantidades do metal, estabe- lecendo uma cota fixa de cem arrobas anuais. Como a producdo nao atendia ao quantum programado, a Coroa resolveu cobrar a “derrama”, ou seja, a popu- lacdo deveria pagar o que faltava, independente de ser minerador ou nao. A segunda dimensao que levou a eclosdo da Inconfidéncia foi de ordem interna, da politica interna da Capitania de Minas Gerais. O en- tao governador da Capitania desenvolveu uma admi- nistragao despotica, cometendo inumeras arbitrarie- dades. A terceira dimensdo era de ordem ideol6gica: a influéncia do liberalismo inglés, de fil6sofos da épo- ca, como Rousseau, Voltaire, Diderot e Montesquieu, com suas idéias e producées, particularmente na Enciclopédia Francesa. A Inconfidéncia Mineira foi um movimento composto basicamente de elites intelectuais e mineradores ricos ou proprietarios rurais, além de clérigos e militares. Ela foi frustrada pela delacéo de um de seus partici- pantes. Seu lider principal, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (assim chamado por ter exercido a profissdo de dentista, mas na realidade era alferes da cavalaria militar), foi enforcado e esquartejado. Os demais sofreram a pena do degredo. E interessante destacar que Tiradentes era um dos tinicos lideres da Inconfidéncia que nao tinha grandes recursos econdémicos. 1794-95 — Conjuragao do Rio de Janeiro. Sob os auspicios do Marqués de Lavradio, um grupo de escritores fundou a Academia Cientifica do Rio de Janeiro em 1771. Com o tempo essa academia passou a congregar membros que discutiam questées cientificas e politicas. Destas, destacavam-se as criticas 4 politica obscuran- tista da rainha de Portugal, D. Maria I. Eles também admiravam Pombal, desdenhavam os religiosos e tinham simpatia pelas idéias da Reptiblica. O grupo foi delatado, sofreu processo de devassa e foi absolvido por falta de provas (as Unicas provas encontradas foram a de sustentarem conversas em que fizeram a defesa da Reptblica e criticaram a monarquia, e seus livros, destacando-se as obras de Rousseau). 1797 — Revoltas Populares de Mulatos e Negros, na Bahia. 1798 — Conspiragao dos Alfaiates, Bahia. Também conhe- cida como Conjura¢aéo dos Alfaiates, foi um movi- mento social caracterizado por Affonso Ruy como “A Primeira Revolucao Social Brasileira”’. Ele era composto por membros de duas categorias sociais: baianos brancos, pertencentes as elites locais e in- 5. RUY, Afonso. A Primeira Revolugdo Social Brasileira — 1798. Sao Paulo, Editora Nacional, 1942. 21 fluenciados pelas idéias da Revolucdo Francesa, e baianos pobres, brancos e negros, artesdos, soldados, Oficiais e escravos. Entre os artesios predominavam os alfaiates, dai o nome do movimento. O primeiro grupo fundou a sociedade secreta “Cavalheiros da Luz”. Entretanto, alguns membros da sociedade tinham vis6es e perspectivas revolucionarias mais amplas, como o médico Cipriano Barata e o Padre Agostinho Gomes. Eles politizaram a Conjuracao, que veio a se tornar um verdadeiro movimento social popular. Mas a diferenciacdo de classes no interior do movimento tornou-se um complicador quando suas ag6es cresceram. O desejo de liberdade dos escravos se exacerbou, chocando-se com as posi¢Ges dos se- nhores brancos da sociedade dos Cavalheiros da Luz. A Conjuracao foi delatada nas vésperas de sua defla- gracao. As liderancas populares foram todas presas e condenadas 4 morte ou ao degredo. Dos conspiradores brancos, somente os pertencentes as classes populares foram punidos. O processo de desmantelamento da Conjuragao Baiana oficializou a pratica da delacdo e das dentincias, com prémios, recompensas e benesses oficiais. Ou seja, as praticas da corrupgao, do cliente- lismo e do fisiologismo foram legitimadas pelo poder publico, entrando, oficialmente, como valores da cultura brasileira (distorcidos, é dbvio). A Primeira Metade do Século XIX — As Lutas, Movimentos e Rebelides Nativistas: O Radicalismo Democratico e Popular A série de movimentos e lutas sociais ocorridos no Brasil entre 1800-1850, e registrados pela historiografia tradicional como levantes e insurreigGes, constituem eventos importantes para a construgao da cidadania sociopolitica do pais. Se consi- derarmos as condi¢6es de desenvolvimento econdmico do Brasil 22 na época, e as dificuldades de comunicacao em todas as areas e setores, observaremos que aquelas lutas se constituiram em atos revolucionarios. Ainda que condicionados e moldados por ideologias liberais, os “tevolucionarios” da época foram pessoas que conseguiram romper 0 provincialismo que suas condigdes concretas de existéncia geravam. As principais caracteristicas das lutas e movimentos sociais do periodo séo: eram motins cadticos; faltava-lhes projetos bem delineados ou estavam fora do lugar, importados de outros paises; as reivindicagdes basicas giravam em torno da constru- ¢ao de espacos nacionais, no mercado de trabalho, nas legisla- ¢Ges, no poder politico etc. A escravidio nao era uma questao a ser tratada ou eliminada em grande parte dos movimentos, isto porque no se questionava a estrutura de produgao exis- tente, mas o modo como ela estava organizada, privilegiando apenas as elites ligadas aos interesses da Coroa. Membros do clero tiveram participagaéo expressiva em int- meros movimentos e lutas no periodo, assim como cidadaos das camadas médias pertencentes ds elites intelectuais e a estru- tura militar. Eles atuavam como lideres ou idedlogos, assesso- rando lideres das camadas populares. Consideramos estes da- dos relevantes, pois corroboram nossas hip6teses sobre a im- portancia do trabalho das assessorias e dos grupos de apoio aos movimentos sociais. Nossas pesquisas nos tém indicado que nao existem movimentos puros, isolados, descontextualizados de qualquer grupo, partido ou institui¢do. Os movimentos tinham dificuldades de se estabelecer ou de permanecer no poder, sendo em maior ou menor tempo massacrados, nas varias regides do pais, pelas forgas da legali- dade colonial ou imperial. As aliangas de classe existentes eram ténues e contraditorias. Homens brancos livres (pequenos pro- dutores ou comerciantes) almejavam diminui¢ao dos impostos e liberdade para a comercializagdo; soldados e outros militares queriam aumentos de soldos; padres e religiosos queriam a nao-restrigéo a seus trabalhos, entéo perseguidos pelas leis pombalinas; indios-trabalhadores, como no Para, queriam a 23 liberdade de viver segundo seus costumes e cultura; negros alforriados queriam empregos etc. Ou seja, a realizacéo dos desejos passava por caminhos diferentes. Entéo, as conspira- goes eram eficazes para armar as ag6es, ja que a insatisfacao era geral, mas na hora de gerenciar 0 poder — apés detonada a Revolucaéo, o motim, ou a revolta — tinha-se grande dificulda- de para dar sentido e direcdo as lutas. Na grande maioria dos casos faltava um projeto politico-social que fundamentasse as ag6es. Tudo ocorria por conta da revolta e do calor da luta, em agOes pragmaticas, sem nenhuma ou pouca estrutura¢ao racio- nal. O elemento racional, quando existia, era usualmente des- locado, pois correspondia a idéias desenvolvidas em outras realidades sociais, cujo modo de produ¢do econémica e cuja estrutura das relagdes sociais da sociedade construiam outras tramas e enredos, muito diferentes da correlagao de forcas po- litico-sociais e culturais do Brasil. A falta de unidade criava espaco também para as delacées e traicOes. O antagonismo das lutas era sempre canalizado para os ele- mentos estrangeiros, fazendo com que a questao da nacdo sobre- pujasse a das classes. Por isto as propostas e idéias eram defen- didas por membros de elites agrarias que tiveram contato com novas doutrinas e novas concep¢ées de sociedade, por meio de livros ou de viagens ao exterior. E importante destacar também O papel que a imprensa teve na maioria dos acontecimentos, como aglutinadora de polos de resisténcia e divulgadora de idéias. A questao da escraviddéo nao era posta também porque o problema era eliminar as restri¢Ges impostas aos nativos, tanto no plano econdmico como no politico. Nao se tratava de criar um mercado de forca de trabalho com liberdade de venda da forca de trabalho, bandeira da burguesia industrial européia, em seu nascedouro quando desempenhou um papel histérico na transformagao das relagdes de produgdo. Os inimigos dos lideres dos movimentos nacionais eram os comerciantes es- trangeiros, os politicos da Corte e a Metrépole em geral. Entretanto, as massas populares nado estiveram excluidas dos movimentos e das lutas do periodo. Ao contrario, em al- 24 guns casos, como na Cabanagem no Para e na Revolugao Prai- eira em Pernambuco, elas participaram como grupo de frente e n&o apenas como massa de apoio mobilizada no calor dos acontecimentos. Mas a falta de clareza, de politizagdo, de pro- jetos claros e as ambigiiidades das aliangas, agucadas pelas contradigées das camadas médias, fizeram com que as camadas populares fossem sempre as mais reprimidas. Abaixo demons- traremos que, quando havia condenac6es 4 morte, em varios casos s6 eram executados os individuos das classes populares; ou elas tinham perdas maiores que os outros setores partici- pantes, no que diz respeito a direitos, como nas lutas em torno da Constituigao de 1824 e na Assembléia Constituinte que a precedeu, quando as massas populares ficaram totalmente ex- cluidas. Mas essa mesma exclusdo veio a se constituir no mével basico motivador de suas rebeliGes durante todo o periodo imperial de D. Pedro I e na fase da Regéncia. A nao-unidade das a¢ées durante o periodo de 1800-1850 propiciava as elites dominantes o desmonte das lutas, carac- terizadas como agées de “assassinos”, “barbaros”, “selvagens” etc. Os conflitos entre as diferentes fac¢des das elites da aris- tocracia rural faziam com que as massas também fossem utilizadas como joguetes, nas manobras e pressdes pelo poder local. As rebelides usualmente escapavam ao controle daque- les que as arquitetavam e tomavam carater popular, revestin- do-se de grande violéncia, de ambos os lados, devido ao 6dio e as paixdes envolvidas, mas também devido a nao-existén- cia de canais e formas civilizadas de negociar e encaminhar os conflitos. A democracia era uma idéia e nado uma pratica. Aparecia como aspiragéo longinqua e contraditéria, como na Revolugao de 1817 na Bahia. As idéias socialistas tampou- co se fizeram presentes, exceto em manifestagdes confusas e utopicas, como na revolugao dos “Praieiros”. A conciliacao foi a estratégia utilizada em larga escala pelas elites dirigen- tes para apaziguar os a4nimos, apds a represséo dos movi- mentos. O carater conciliador adquiriu tal proporcdo que se criou um Poder Moderador, para funcionar como um quarto poder na sociedade, como se fosse um rbitro. 25 Em suma, as lutas e os movimentos que listaremos a seguir, ticos em taticas e estratégias de resisténcia e de propostas para a construgdo da cidadania nacional, nao sobreviveram devido a suas proprias ambigiiidades; os ideais de solidariedade, frater- nidade e igualdade tinham dificuldade para se realizar, nao apenas pela for¢ga e brutalidade de seus oponentes, mas tam- bém pela incoeréncia interna de seus objetivos e propésitos. Lutas e Movimentos na Primeira Metade do Século XIX 1801 — Luta Sete Povos das Missées. Conquista pelos luso- -brasileiros do territério das missGes, entéo em poder dos castelhanos. 1801 — Conspiracao dos Suassunas, Pernambuco. Propagou idéias liberais entre setores da pequena burguesia, 0 clero e profissionais liberais. Eram adeptos da Maconaria. O nome advém de um de seus chefes, 0 Bardo de Suassuna, embora fosse conhecida também como “Conjuragdo dos Cavalcanti”, devido ao sobrenome de seus outros dois chefes: Luis Francisco e José Francisco Cavalcanti. Eles foram influenciados pelas idéias de Napoleao e pretendiam criar uma Republica em Pernambuco. Também eram membros da sociedade “AreOpago de Itambé”, criada em 1798 pelo Padre Arruda Camara. 1802-17 — Movimento de Macons. Cria¢éo de Lojas da Maconaria em Pernambuco, na Bahia e no Rio de Janeiro. Elas tinham ligagdo com o “Grande Oriente” francés. Varias Academias surgiram, destacando-se a do Paraiso, a Universidade Secreta e as Seitas dos Pedreiros Livres da Col6nia. 1806 — Atos de Insubordinagao de Cléricos, Rio Grande do Norte. 1807 — Revolta de Escravos, Bahia. Em 1807 teve inicio o ciclo das revoltas de escravos na Bahia, estendendo- 26 1815 — 1817 — -se até 1835, com a insurreigéo dos escravos mucul- manos. Em 1807-1808-1809-1813-1822-1823-1826 e 1830, ocorreram os levantes na Bahia. Em 1814 houve uma grande revolta escrava em Alagoas. Ajuntamento de Pretos, Olinda, Pernambuco. Em homenagem aos festejos de Nossa Senhora do Ro- sario, os negros solicitaram autorizagéo do Ouvidor para realizarem os festejos. O Ouvidor a concedeu, mas o fato gerou grande rea¢gaéo por parte do go- vernador, que via no ato uma grave ameaga 4 ordem social. O fato gerou tumultos e revoltas. Revolugéo Pernambucana. Luta contra o governo da Metrépole. Buscou a instauragéo de um governo tepublicano no Brasil. De inspira¢ao liberal, sofreu influéncias de filosofos e das revolucdes Francesa e Americana. A época em que ela ocorreu corresponde aum periodo de recessdo generalizada da economia nordestina. E corresponde também a uma fase de aumento de cobranga de impostos nas regides de exportagdo (Pernambuco vivia do comércio expor- tador), para sustentar os grandes gastos que a pre- senca da familia real gerava para a nagao. A Revolucao de 1817 era composta de lideres comer- ciantes brasileiros e varios padres, principalmente da Ordem dos Carmelitas, destacando-se Frei Caneca (foi chamada também de Revolug4o dos Padres). Eles chegaram a tomar o poder em Recife e a implantar um Governo Provisério, elaborando uma Lei Organi- ca para orientar o novo regime até a promulgagao de uma nova Constituicao para o pais, a qual deveria ser elaborada por uma Assembléia Constituinte. Assim como outros movimentos da época, a Revolucéo de 1817 foi esmagada e varios de seus lideres presos e mortos. E interessante registrar que o sentimento antilusitano existente entre os participantes levou-os a criar novas formas de tratamento pessoal: “patriota” e “nds”. 27 1817-20 1820 — 1821 — 28 — Movimento de Monte Rodeador, Pernambuco. Movimento messianico que pregava a volta do rei D. Sebastido, morto em combate na Africa, no século XVI. A origem deste movimento esté em Portugal devido ao tempo glorioso que aquele pais teve durante o reinado de D. Sebastiaéo e o desejo da volta da pujanga por meio de uma ressurei¢éo mistica. Os sebastianistas pernambucanos foram massacrados por tropas enviadas pelo governo. Atos de Adesdes 4 Revolucdo no Porto, Rio de Janeiro e Sao Paulo. As noticias da Revolucdo em Portugal (agosto de 1820) chegaram ao Brasil em outubro-no- vembro do mesmo ano. De norte a sul do pais houve fermentac6es, mas o Rio e a Bahia foram palco de explosées, tumultos, passeatas, rebelides, pronuncia- mentos de tropas, e até confraternizacgdes entre por- tugueses e brasileiros. A Revolugaéo do Porto teve um carater liberal e constitucionalista, e no Brasil desper- tou entusiasmo em grupos politicos de diferentes ten- déncias, pois todos eles viam na Revolugao uma forma de viabilizar seus projetos na Colénia. O primeiro efeito da Revolucdo no Brasil foi a transformacao das capitanias em provincias. Agitacgdes politicas de rua em torno da partida de D. Joao VI para Portugal. No Rio de Janeiro, grupos populares chefiados pelo Padre Gamboa e por um jovem, Luis Duprat, reuniram-se na praca do Comércio, exigindo que D. Joao cumprisse a Constituigéo Espanhola enquanto nio se ultimava a portuguesa. O conflito acabou dividindo os radi- cais brasileiros, que nao queriam que D. Joao partis- se, e os portugueses. E se prolongou com a reivin- dicacaéo dos brasileiros de que o Rei deveria deixar as jOias e os bens do tesouro na Colénia, no caso de a partida ser inevitavel. O resultado foram mortes e prisdes. 1822 — “Bernarda”, Sao Paulo e Rio de Janeiro. Movimento politico de rebelido nas Forgas Armadas com apoio de civis. Iniciou-se por meio de uma série de pronun- ciamentos e representacOes as Camaras locais contra os governos das provincias. 1822 — Movimento de Goiana, Recife. Movimento com- posto por uma alianga entre elites proprietarias de terras e camadas médias urbanas objetivando a auto- nomia da Colonia. 1822 — Proclamagao da Independéncia do Brasil. A partir do crescimento do sentimento de “lusofobia” e do agravamento da crise nas relagées com a Corte, 0 principe D. Pedro | chefia um processo politico do qual era um figurante, alias um figurante de oposicao. O povo discutiu, segundo o registro de historiadores do periodo, nas ruas, os acontecimentos, sem ter par- ticipado diretamente do ato. 1822-23 — Rebelides contra as Juntas Constitucionais e Infantarias Lusas na Bahia, Para, Piaui e Paraiba. Foram revoltas com intensa participac¢éo popular seguidas de declaragdo de apoio 4 Independéncia, pelo povo. Os professores Anténio Mendes Junior, Luiz Roncari e Ricardo Maranhdo assinalam que: “A historiografia tradicional tem, quase sempre, minimizado o papel desempenhado pela verdadeira insurrei¢éo popular nas lutas pela independéncia no nordeste, procurando salientar apenas a acéo das tropas militares e da ajuda inglesa”®. Os autores concluem que a participagao do povo em armas foi fundamental na vitéria sobre os representantes do colonialismo lusitano. 1823 — Motins de Pedroso, Recife, Pernambuco. Série de conflitos entre a Junta de Governo e 0 Governador 6. JUNIOR, Antonio Mendes, RONCARI, Luiz, MARANHAO, Ricardo. Brasil Historia — Império, Sao Paulo, Brasiliense, 1983, 4* Edicao. 29 1824 — 1824 — 30 das Armas com grande participacdo popular. Resul- tou dos conflitos a mudanga de Governador. O novo governo tinha idéias republicanas e contou com grande apoio da populac¢ao citadina. Confederacgéo do Equador. Revolta liderada por Frei Caneca, carmelita, e pelo jornalista Cipriano Barata, em Recife. Eles se recusaram a participar do processo Constituinte pés-Independéncia, nao acei- tando também a Constitui¢éo que este gerou. Eles pregavam o direito de representacdo do povo no governo. A Confederacéo abrangeu as provincias da regiao norte do pais, buscando aglutina-las de forma federalista, com um governo representativo e republicano. Convocou uma Assembléia Consti- tuinte e preparou um projeto de Constituicaéo. Tam- bém suspendeu o trafico de escravos e criou uma nova bandeira para o pais. A Confederacgao do Equa- dor foi um movimento que deu continuidade aos ideais da Revolucéo de 1817. Ela representou também uma reagdo contra o absolutismo de D. Pedro I, sendo ainda o principal foco de resisténcia ao centralismo imperial. Na Confederagao teve-se intensa participagao popular organizada por meio de “brigadas populares”, as quais eram constituidas de parcelas da populacao livre: mulatos, pretos for- ros, e militares de baixa patente. Havia também os batalhées armados, milicias. A Confederacgéo do Equador tem sido comparada com o movimento dos sans-cullotes franceses. Houve grande radica- lidade por parte da massa popular. Em 1824 a Con- federagdo foi massacrada e dezenas de seus lideres mortos, inclusive Frei Caneca. Constituicgéo de 1824. Foi a primeira Constituigao Brasileira. Consignava aos parlamentares altos poderes e ao Imperador, poderes absolutos; os direitos politicos 1825-28 1827 — 1829 — 1829-31 1830 — eram hierarquicos, e eram considerados como “cida- daos ativos” os trabalhadores livres: os criados, os caixeiros das casas comerciais, e todos os que auferiam valores liquidos anuais inferiores ao valor de 150 al- queires de farinha de mandioca. Os escravos nao eram considerados sequer brasileiros, mais tarde este dispo- sitivo se alterou, mas continuaram nao votando por nao serem considerados cidadaos. Foi uma das pri- meiras constituigdes modernas sobre a obrigatoriedade do ensino. — Guerra Cisplatina. Conflito bélico envolvendo Brasil e Argentina, na regiado do Rio da Prata, de conseqliéncias desastrosas para as duas nacées pela perda tanto de vidas humanas quanto material. Cul- minou com a perda da regiao Cisplatina pelo Brasil, dando origem a Republica do Uruguai. Revolta dos Roma, Pernambuco. Conspiracao militar da qual participaram os irmaos Roma. Tinha um sentido republicano. Revolta Popular em Afogados, Recife, Pernambuco. Coordenada pelos irmaos Roma, foram novamente derrotados e tiveram de se retirar para o interior do estado. — Conflitos entre brasileiros e portugueses. O jornal “Abelha Pernambucana”, criado em 1929 por Borges da Fonseca para combater as denominadas “Colunas do Trono e do Altar” (organizagoes secretas de portugueses ultraconservadores), assim como os jornais oposicionistas “O Constitucional” e “A Bus- sola da Liberdade”, participam ativamente das lutas politicas do periodo em defesa da Constituicado e da difuséo de principios federalistas. Atos de Protesto, Ouro Preto, Minas Gerais, durante a visita do imperador D. Pedro I, pelo assassinato 31 1830-41 1831 — 1831 — 1832 — 32, do jornalista italiano Libero Badar6, criador de varios jornais, entre eles “O tribuno do Povo”. —A Balaiada, Maranhio. Revolta de negros (escravos) e sertanejos pobres (homens livres, usualmente vaqueiros que trabalhavam no regime de quarta). Foi resultado das crises politicas do periodo regencial. A questao nativista, defendida sob a Otica dos interesses das elites locais, que queriam a expulsdo dos portu- gueses e a restricao dos direitos dos adotivos, foi a brecha criada para a irrup¢ao das manifestagdes po- pulares. O nome “Balaiada” advém da profisséo de um de seus principais lideres, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, construtor de “balaios”, espécie de cestos para o acondicionamento e o transporte de mercadorias, particularmente utilizado no transporte via animais. Setembrizada, Pernambuco. Foi uma revolta contra o poder com a participacdo de militares, estudantes de Direito e populares, logo apds a abdicagao de D. Pedro I. Os rebeldes saquearam casas comerciais e propriedades de portugueses. Foi sufocada por sol- dados da milicia. A Novembrada, Pernambuco. Revolta militar com o apoio e a participagao de estudantes. Eles reivindica- vam a expulsao dos portugueses e a proibicao da imi- gracao lusitana para a Provincia de Pernambuco. O nome advém do més em que eclodiu a revolta, assim como a Setembrada. Junto com esta altima, consti- tuiram importantes movimentos nativistas gerados na crise que se seguiu a abdicacao. Revoltas dos “Exaltados”, Rio, Minas, Bahia, Sao Paulo, Santos etc. Grupos de liberais radicais que dirigiram seu proselitismo para as massas populares urbanas mobilizadas em torno do 7 de abril. Eles se reuniam na “Sociedade Federal” e propugnavam re- formas politicas mais profundas, como a descentra- 1832 — 1831-35 1832 — 1832 — lizagao politica. Borges da Fonseca, Cipriano Barata, Miguel de Farias e Vasconcelos, Teéfilo Ot6ni, entre outros, compunham o grupo. “Caramurus”, Rio de Janeiro. Movimento conser- vador que objetivava a volta de D. Pedro I e a restau- racéo do absolutismo disfarcado que existia antes. O grupo era liderado por José Bonifacio e tinha base social junto a nobreza burocratica remanescente do periodo joanino. Reuniam-se na Sociedade Con- servadora. — Os Chimagos. Era composto por liberais modera- dos, que queriam algumas reformas na Constitui¢ao para evitar o despotismo, mas defendiam 0 escravismo ea politica de privilégios. Eles estavam agrupados em torno da “Sociedade Defensora da Liberdade e Inde- pendéncia Nacional”. A preocupacao basica dos Chi- magos era reforcar os poderes locais de represen- tacéo nos municipios e evitar 0 excessivo dominio do governo central, segundo Raymundo Faoro. Ti- nham ainda como preocupacao combater os “Cara- mutus” e os “Exaltados”. O Padre Anténio Feij6é eo jornalista Evaristo da Veiga eram os principais lide- res dos Chimagos. Movimento Cabanada, Pernambuco, Maranhao, Alagoas e Piaui. Movimento pela restauragao do im- perador D. Pedro I, deposto em 1831. A Cabanada de Pernambuco tinha portanto objetivos totalmente opostos aos dos Cabanos do Para. O movimento per- nambucano foi uma insurrei¢gaéo de carater conserva- dor. A rebelido durou dois anos e foi comandada por grupos de origem popular, sob a lideranga de caris- miaticos. A morte de D. Pedro I em 1834 fez com que © movimento perdesse seu impeto. A Abrilada. O Movimento, ocorrido em abril, tam- bém aspirava a volta de D. Pedro | ao poder e era, 33 1831 — 1834-35 1835 — 34 como a Cabanada Pernambucana, de carater conser- vador. Eles controlaram Recife mas foram rendidos em trés dias. Noite das Garrafadas, Rio de Janeiro. A noite de 13 de marco, em que se exigia a abdicacdo de D. Pedro I, entrou para a histéria como a “Noite das Garrafadas” devido a forma como os manifestantes populares de origem brasileira foram reprimidos pelos de origem portuguesa, num quarteirao de moradia de lusitanos. De varandas, janelas, telha- dos e portas, choveram garrafas sobre os manifes- tantes brasileiros, que clamavam pela soberania do pais. A policia reprimiu duramente os manifestantes nacionais, que caiam sobre os cacos das garrafas, num espetaculo sanguindrio da histéria brasileira. Apesar da repressado, no dia 6 de abril, véspera da rentncia do imperador, a populagéo armada pro- moveu varias manifestagdes de rua. — As Carneiradas, Pernambuco. Foi a tltima revolta do periodo regencial no Estado. Teve este nome devido a seus lideres, os irmaos Anténio e Francisco Carneiro Rios. Eles exigiam a perseguicao e a punic¢do dos Cabanos restauradores. A peculiaridade dos lideres deste movimento € que eles ja tinham experiéncia anterior em revoltas e, apés a Carneirada, ainda participaram da Revolucao Praieira. Movimento Cabanagem, Belém do Para. Rebeliao social de negros, indios, mulatos, cafusos, mesti¢os, tapuios (indios destribalizados) e brancos das ca- madas mais pobres da sociedade, os quais habitavam em cabanas a beira dos rios e igarapés. As origens das acdes estao nas lutas pela independéncia do Brasil, mas foi a partir de 1822 que a agitacao social tomou gradativamente feigSes populares, até desem- bocar num movimento armado em 1835, que toma o poder da Provincia e expulsa o entao representante 1835 — 1835-45 da corte imperial. Mas o desenrolar efetivo do mo- vimento ocorreu entre 1835 e 1836, quando os caba- nos no poder, em Belém do Para, constituem o primeiro e Unico governo popular de base indio- camponesa da Histéria do Brasil no periodo Impe- rial. A gestéo dos Cabanos, no periodo mais efeti- vo, durou dez meses’. Em 1836 as forgas da Corte recuperaram o poder na Provincia do’ Para. Até 1840 houve repressdo aos Cabanos, numa fase sangrenta da historia do pais em que morreram cerca de 30.000 pessoas, corres- pondentes a 30% da populagao do Estado do Para na é€poca. Varios historiadores brasileiros, entre eles Caio Prado Junior, consideram a Cabanagem do Para como “o mais notavel movimento popular do Brasil”*. A Revolta dos Malés, Bahia. Grande insurreicdo de escravos de origem mugulmana. Foi 0 ponto culmi- nante de um ciclo de insurreigdes que vinha desde 1807. — A Guerra dos Farrapos, Rio Grande do Sul. Um exército de cerca de 5.000 homens derrubou o governo da entéo Provincia do Sul e instaurou um governo com apoio de caudilhos, o qual distribuia armas, cava- los, roupas, erva-mate, rum e salarios a seus adeptos. Mas distribuia também terra, gado e escravos aos estan- cieiros-oficiais e nado pertencentes a camadas populares, em troca de seu apoio. A Farroupilha foi o mais longo movimento de revolta armada da Historia brasileira no século XIX. Organizados em companhias de guer- tilhas, os gatichos varreram as tropas imperiais dos pampas. A nao existéncia de grande massa escrava e 7. CHIAVENATO, Jillio. Cabanagem. O Povo no Poder. Sao Paulo, Brasiliense, 1984. 8. PRADO, Caio Junior. Evolu¢do Politica do Brasil. Sao Paulo, Brasiliense, 1957, 2? ed. 35 1836-38 1837 — 36 a existéncia de uma grande quantidade de homens livres, nao proprietarios e pobres, s4o argumentos utili- zados por varios historiadores para explicar a longa duragao da luta. Obrigados a se render diante dos ataques das forgas imperiais comandadas por Caxias e atacados ao sul pelos uruguaios, os Farrapos conseguiram varias con- dicgdes que nao foram concedidas a outros grupos re- voltosos e também subjugados. O nome “Farroupilha advém da expressao “farrapos”, isto é, vestido de rou- pas rasticas, em farrapos. Com o tempo a expressao se generalizou no Brasil e passou a ser considerado farroupilha todo aquele que se ligava as lutas do povo. Estas, na fase imperial, eram catalogadas pelos diri- gentes conservadores como “anarquia”. — Movimento Messianico Sebastianista, Bahia. Pregava o reaparecimento do rei D. Sebastiao e sua Corte, trazendo riquezas para aqueles que acredita- vam neles. Foram reprimidos por tropas estaduais por praticarem sacrificios humanos. A Sabinada, Bahia. Revolta urbana resultante da instabilidade da Provincia da Bahia diante do poder central. A diferenciagaéo deste movimento é dada pelo fato de ele ter sido precedido de ampla campanha de opiniao, coordenada por liberais radicais pertencentes as camadas médias da populacdo. Eles se utilizaram da imprensa da época (a Bahia teve 60 jornais entre 1831 e 1837) para preconizar que a solugéo para o Brasil estava nas armas. Grupos macons participavam do movimento. Quando ele eclodiu, em novembro de 1837, seu principal lider, Francisco Sabino Alvares da Rocha Vieira (dai o nome Sabinada), conseguiu a adesdo de tropas do governo e chegou a proclamar a Republica na Provincia. Em 1838 ela foi esmagada com a mesma brutalidade com que o foram a Caba- nagem e a Farroupilha. 1838 — 1841 — 1842 — 1842-44 1847-49 Revoltas Escravas, Maranhao e Minas Gerais. Algumas destas revoltas geraram quilombos famosos como o de “Bateeiro” em Minas. Criacao do Falanstério de Sai e do Palmital, Santa Catarina. Col6énias fundadas por franceses, sob a inspiragdo dos socialistas-utépicos, com a autoriza- ¢ao de D. Pedro II. Delas participaram cerca de 250 pessoas e fracassaram seis anos depois. Rebelido Liberal, Sao Paulo. Rebeliado liderada por Tobias Aguiar, em resposta as reformas instituidas por leis conservadoras promulgadas por D. Pedro II em 1841. A revolta atingiu varias cidades do interior do Estado, alastrando-se para o Vale do Paraiba, em diregéo ao Rio de Janeiro. — Rebelido Liberal, Minas Gerais. Com os mes- mos propOsitos e as mesmas estratégias da rebeliao paulista e utilizando-se de taticas de continua mobilidade nos combates armados, escaramucas e ataques-surpresa, os rebeldes foram vencidos pelas tropas de Duque de Caxias, o mesmo que sufocou a rebeliao em Sao Paulo. — Revolugdo Praieira, Pernambuco. O nome do evento advém do nome do partido politico que abri- gava a maior parte de seus lideres: o Partido da Praia, que assim se denominava por estar situado na Rua da Praia, e se opunha aos partidos Liberal e Con- servador existentes. O Partido da Praia formou-se em 1842 e se aglutinou em torno do jornal Didrio do Povo. O movimento, a exemplo da maioria dos movimentos e lutas sociais da primeira metade do século XIX, contou com a participacaéo marcante de elites intelectuais e politicas. Entretanto, a Praieira teve a participa¢éo popular de dois mil homens em armas e tinha uma perspectiva de mudanga social diferente da do projeto das oligarquias rurais lati- 37 fundiarias, pois teve, em sua ala radical, a Reforma Agraria e a abolicado do latiftindio como palavras de ordem. Na realidade, a luta nasceu entre as camadas populares bem antes dos anos 40. Podemos localizé- -la na década de 20, com as lutas do povo e seus anseios pela Independéncia. Mas a Revolucao Praieira foi também uma das tltimas reagdes populares con- tra o estabelecimento da monarquia baseada na aristo- cracia agraria escravista. Alguns autores véem no movi- mento colorag6es do socialismo utdépico pelo fato de haver questGes de igualdade e liberdade em suas pro- postas. Na verdade, o movimento foi bastante in- fluenciado pelos acontecimentos europeus da época, a “A Era das Revolugées”, no dizer de Hobsbawm. Mas o “socialismo” dos praieiros tinha adaptacdes tupiniquins, para adequar as ideologias liberais de seus lideres e a estrutura social do pais na época, que se assentava no trabalho escravo. De fato, combatia- se o latiffindio, enquanto base de poder das elites agrarias, mas nao as bases que propiciavam aquele poder, e sua fonte de acumulagéo econdémica, que era a escravidao. Assim sendo, a Revolucdo Praieira foi um movimento de defesa das camadas médias urbanas e de pequenos proprietarios e arrendatarios agricolas, além de humildes vassalos de grandes proprietarios. Os registros histdéricos a respeito assinalam, em seus discursos, apenas a defesa dos homens: brancos, mu- latos e negros livres. As reivindicag6es basicas dos “Praieiros” possuiam contet- dos profundamente antilusitanos. Reivindicava-se a naciona- lizagéo do comércio pelo fato de este estar, em Pernambuco em especial, inteiramente monopolizado pelos estrangeiros, de ponta a ponta, ou seja, da importa¢do a comercializacao, passando pelos servicos dos caixeiros e demais empregados do ramo. Também os poucos servigos artesanais nacionais, apresentados como artes (os servi¢os de alfaiate, sapateiro, ferreiro etc.) nao resistiam 4 concorréncia dos precos baixos 38

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