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Vídeo - Para sua Ciência: "Mulheres, Violência e Justiça Restaurativa: Reflexões em Tempos

de Pandemia"

A entrevistada, Juliana Touch, aduz que o marco inaugural da JR no Brasil foi em 2005, quando
foi inaugurado os três projetos piloto: 1) um em São Caetano do Sul, onde ela fez maior parte
da sua pesquisa; 2) Porto Alegre; 3) Núcleo bandeirante, no DF.

Entre as suas abordagens durante seus anos de pesquisa, a entrevistada iniciou com a
sociologia das profissões, sociologia da punição, criminologia (teoria da racionalidade penal
moderna – prof. Álvaro Pires).

Em seu Pós-doutorado, ela busca estudar a aplicação da justiça restaurativa para os casos que
envolve a violência contra a mulher, buscando mapear as opiniões contra e a favor da aplicação
da JR.

Elucida que hoje existe uma pluralidade de definições sobre o que é JR, não existindo uma
definição única, mas buscando definir de forma simplificada que “é uma forma
autocompositiva de administração de conflitos, ou uma forma não violenta de gestão de
conflitos”. Porém ressalta que por muito tempo utilizou a seguinte definição: “formas
alternativas de gestão de conflitos”.

Esse termo “alternativa” tem sido muito criticado pelo fato de as pessoas não entenderem
como sendo algo alternativo ao modelo atual de justiça, tendo em vista que esse modelo já foi
reconhecido pelo Judiciário e em especial pelo CNJ. Mas a Juliana ainda prefere colocar como
sendo uma “forma alternativa”, pois “embora a JR esteja sendo realmente apropriada, ela
coloca uma contraposição muito forte e muito importante com relação ao nosso sistema de
justiça oficial, especialmente no ramo criminal do nosso sistema de justiça”.

Ela pontua que a JR é um conjunto de práticas diferentes do que se encontra nos ritos do
Judiciário. Dentre esses conjuntos ela cita a “comunicação não violenta, formatos circulares,
uso da fala, incentivo ao diálogo, participação ativa de todos os envolvidos, inclusive a vítima”
sendo o principal ganho a restauração que não pode ser confundida com conciliação ou
perdão.

A restauração é uma forma de restaurar relações abaladas pelo conflito, pois “não se trata mais
da punição, mas sim da restauração. Não se trata mais da culpabilização, mas da
responsabilização”. Por isso que as partes devem participar de forma voluntária.

A entrevistadora questiona qual a diferença entre JR e Mediação de conflitos, tendo em vista


semelhança entre elas no que tange as suas técnicas. A Juliana explica que existe como técnica
da JR a “mediação vítima e ofensor”, elucidando que na mediação é considerado que as partes
estão no mesmo patamar de igualdade, diferente do que acontece na JR (não entendi bem
essa parte 18:20). Outro aspecto diferente é que na Conciliação o conciliador pode propor algo
para o fechamento do conflito. Na Mediação o mediador pode orientar um caminho para obter
o fechamento do conflito e, na JR não tem a ideia de um terceiro imparcial que vai interferir na
resolução do conflito, mas sim as próprias partes que devem chegar em um consenso de qual
seria a melhor forma de resolver aquele conflito.
Juliana citou ainda as Resoluções do CNJ, na qual tem incentivado e colocado a JR como uma
política pública nacional de justiça, sendo incentivado nos casos de violência doméstica contra
a mulher.

No tocante as posições das pessoas, temos aqueles que são contrárias a JR, na qual tem uma
incerteza com relação as práticas, ou seja, “será que essas práticas de JR elas dão conta de
trabalhar com essa questão que é tão complexa como a violência de gênero?”. Outro ponto é
argumentativo nesse sentido é diz respeito a forma como ele era utilizado pelos crimes de
menor potencial ofensivo. Temos ainda uma terceira linha argumentativa que “parte do
pressuposto que a lei Maria da Penha não é aplicada em sua integralidade” e, com base nesse
pensamento, se a referida lei ainda não conseguiu ser aplicada em sua integralidade de forma
correta “já vai desistir para tentar aplicar outra coisa?”.

E o último argumento, na qual a Juliana ressalta que acha “mais instigante”, “é que existe uma
associação direta entre: valorização social, ou reconhecimento social da violência como
resposta penal”. Ou seja, se a JR não é utilizada nos crimes patrimoniais, por que se deve
utilizar nos crimes contra a mulher? Ela explica que é como se “oferecer uma resposta
diferente da resposta penal, significasse uma desvalorização do que significa o cometimento
daquela violência”.

Iniciando os questionamentos dos telespectadores, foi feita a seguinte pergunta: “Quais os


obstáculos hoje nos locais onde se tenta implementar a JR?”. Em resposta, a Juliana disse que
“são várias as dificuldades”, sendo interessante destacar é “a pessoalização dos programas”, na
qual ainda fica centrada na figura de algumas pessoas, ou seja, se algum magistrado, por
exemplo, sair da sua comarca e ir para outra, “o risco é muito grande da JR acabar” naquela
comarca. Ela cita ainda o trabalho voluntário dos facilitadores, o desconhecimento da
população.

https://www.youtube.com/watch?v=mShvJ1AnyAc

Vídeo - Violências, mortes e confinamento para além da pandemia: reflexões a partir de


pesquisas realizadas no Laboratório de Estudos sobre o Crime e Sociedade da UFBA. 2020.
https://www.facebook.com/congressoufba/videos/290520-sala-a-0830-congresso-virtual-
ufba/725305534677311/

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