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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL GUAXUPÉ

LETÍCIA DE FREITAS RODRIGUES

EFICÁCIA DO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE FACE AO DIREITO


FUNDAMENTAL À INFORMAÇÃO

Guaxupé – MG
2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL GUAXUPÉ

LETÍCIA DE FREITAS RODRIGUES

EFICÁCIA DO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE FACE AO DIREITO


FUNDAMENTAL À INFORMAÇÃO

Trabalho de conclusão de curso do curso de Direito


do Centro Universitário da Fundação Educacional
Guaxupé, como requisito parcial, para obtenção do
grau de Bacharel em Direito.

Área de concentração: Direito Administrativo

Orientador: Prof. Me. Humberto Luis Versola

Guaxupé- MG
2021
LETÍCIA DE FREITAS RODRIGUES

EFICÁCIA DO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE FACE AO DIREITO


FUNDAMENTAL À INFORMAÇÃO

Trabalho de conclusão de curso do curso de Direito


do Centro Universitário da Fundação Educacional
Guaxupé, como requisito parcial, para obtenção do
grau de Bacharel em Direito.

Aprovada em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

_____________________________

_____________________________

_____________________________
AGRADECIMENTOS

O encerramento de mais essa etapa da minha vida acadêmica, conquistada com tanto
esforço, dedicação e maestria se deve primeiramente à Deus e a Nossa Senhora Aparecida e
em grande medida ao apoio que encontrei em tantas pessoas que são e outras que se tornaram
essenciais em minha vida e em toda experiência que obtive graças ao curso de Direito.
Aos meus pais, Ricardo Donizete Rodrigues e Maria Irene de Freitas Rodrigues, por
me ensinarem o real significado da perseverança, dignidade e honradez e que muitas vezes
renunciaram aos seus sonhos para que eu pudesse conquistar os meus.
Ao meu namorado, Christian Ribeiro de Almeida, por toda compreensão, paciência,
apoio, afeto e torcida ao longo desses cincos anos de caminhada.
A Kátia Fidanza Rodrigues Mancini, uma grande e eterna amiga que se tornou uma
segunda mãe e cuidou de mim como filha nos anos em que estive como estagiária no Juizado
Especial da Comarca de Guaranésia, me ensinando acima de tudo que sinceridade, lealdade,
transparência e amor são armas poderosíssimas para o sucesso em qualquer área de nossas
vidas.
Aos meus amigos conquistados durante o curso de Direito, em especial à minha
primeira amiga Isabela Marina de Souza Coelho, ao meu amigo Vitório dos Santos por
acreditar na minha capacidade intelectual; à minha amiga Thuany Barbosa por todo apoio,
conversas e ajuda durante esses cinco anos de caminhada.
Ao Pró-reitor administrativo Dr. André Melo pelo incentivo e apoio não só no curso
de Direito, mas em todas as conquistas relacionadas à área jurídica e acadêmica.
A minha querida amiga Prof. Me. Ana Cristina Mascarenhas, que se tornou um
espelho de profissional, mãe e mulher ao longo dos nossos 10 anos de convivência.
Aos meus queridos Mestres que me mostraram o caminho a seguir e como seguir
durante todos esses anos, mesmo diante a um cenário não habitual no qual fomos pegos de
surpresa e pela dedicação devotada ao curso em que me orgulho de estar concluído.
Ao meu orientador Prof. Me. Humberto Luis Versola, que nunca economizou
paciência para com esta graduanda.
Ao Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé, seus professores, seus
abnegados e atenciosos funcionários que contribuíram para minha formação.
Ao Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, por toda experiência que me foi
concedida durante os dois anos de estágio no Juizado Especial da Comarca de Guaranésia.
À família forense da Comarca de Guaranésia pelo companheirismo, amizade e por
me ensinar que uma equipe pequena, porém capacitada, é capaz de realizar grandes trabalhos.
“Pergunte a si mesmo o que é realmente importante.
Então, tenha coragem e sabedoria para construir a
sua vida dentro de sua resposta.”
Lee Jampolsky
“O que segue a justiça e a benevolência achará
a vida, a justiça e a honra.”
Provérbios, 21:21
RESUMO

RODRIGUES, Letícia de Freitas. Eficácia do princípio da publicidade face ao direito


fundamental à informação. Trabalho de Curso de Graduação em Direito fls. 61. Centro
Universitário da Fundação Educacional Guaxupé, Guaxupé- MG, 2021.
O Princípio da Publicidade é mais um dos princípios que rege o Estado Democrático de
Direito. Tal princípio fortalece os princípios da moralidade e da legalidade. Os efeitos do
princípio da publicidade torna público todo o ato administrativo, exterioriza a vontade da
administração pública, torna exigível o conteúdo do ato pela sociedade e permite que haja o
controle de legalidade nos atos praticados. Na atualidade, o Princípio da Publicidade ganhou
um forte aliado chamado Internet. No que tange ao acesso à informação, a internet assume
papel essencial no relacionamento entre a Administração Pública e a população. Tal meio,
explorado de forma coerente, eleva o princípio da eficiência das políticas públicas. O
Princípio da Publicidade garante ao cidadão que ele participe de forma ativa dos atos
realizados pelo agente público de forma que tenha acesso às informações devidamente
motivadas referentes à atuação estatal. É através da participação da coletividade nos atos da
administração pública que o Princípio da Publicidade se torna eficaz, pois garante
transparência à atividade administrativa e permite o acesso aos motivos pelos quais tais atos
foram praticados, sua finalidade, proporção e abrangência. O Brasil, desde o século XX,
passou a ser um país Democrático, isso quer dizer que acarreta um governo fundado em leis e
não apenas do interesse do ocupante da função pública. Ao falar em democracia, há de se
dizer também sobre a imposição da possibilidade de participação dos cidadãos em questões de
igualdade de condições através do voto que demonstra a vontade do povo. Isto posto, o
Estado Democrático de Direito, exerce o cumprimento do dever de alcançar o interesse
público mediante o uso de poderes instrumentalmente necessários conferidos pela ordem
jurídica atuando em face aos princípios da Constituição Federal, que, de forma impessoal,
eficaz, legal, moral e pública faz com que o cidadão sinta-se como parte de um todo e a
Democracia por vez, atue para garantir seus direitos enquanto cidadão também de deveres e
obrigações e que estas também sejam cumpridas. A Publicidade Administrativa em relação à
informação destinada ao público se faz atributo indispensável para que se concretize o regime
do Estado Democrático de Direito que possibilita a qualquer cidadão o livre acesso para
acompanhar as atividades administrativas e opinar nos atos realizados pelo agente público. A
publicação da Lei nº 12.527 de 18 de Novembro de 2011, representou um marco na conquista
já que, com sua ausência, a sociedade ficava a mercê de uma administração transparente. Com
a sua promulgação, o Brasil passou a ser o 89º país a ser uma legislação especial que
regulamenta o assunto. A adoção de uma lei específica de acesso à informação foi tema de
grandes discussões internacionais, sendo inclusive, recomendada pela ONU. Tal legislação
trouxe a definição dos mecanismos, prazos e procedimentos adotados para que a informação
seja solicitada á administração pública pelos cidadãos e com o apoio da internet, teremos uma
sociedade melhor informada, mais ativa, participativo e claro, com seus direitos protegidos,
através de uma administração pública mais eficiente, transparente e eficaz, o que promove
consequentemente uma população mais consciente de seus direitos e que é capaz de participar
de forma ativa da consolidação do Estado Democrático de Direito.

Palavras-chave: Princípio da Publicidade. Administração Pública. Acesso à informação.


Transparência. Estado Democrático de Direito.
ABSTRACT

RODRIGUES, Letícia de Freitas. Effectiveness of the principle of publicity vis-à-vis the


fundamental right to informationUndergraduate Law Course Work pgs. 61. University
Center of the Guaxupé Educational Foundation, Guaxupé-MG, 2021.

The Advertising Principle is another of the principles that govern the Democratic Rule of
Law. Such a principle strengthens the principles of morality and legality. The effects of the
principle of publicity make the entire administrative act public, externalize the will of the
public administration, make the content of the act enforceable by society and allow for the
control of legality in the acts performed. Currently, the Advertising Principle has gained a
strong ally called the Internet. With regard to access to information, the internet plays an
essential role in the relationship between the Public Administration and the population. This
means, explored in a coherent way, raises the principle of efficiency in public policies. The
Publicity Principle guarantees citizens that they actively participate in the acts performed by
the public agent so that they have access to duly motivated information regarding the state's
actions. It is through the participation of the community in the acts of public administration
that the Publicity Principle becomes effective, as it guarantees transparency to the
administrative activity and allows access to the reasons for which such acts were practiced,
their purpose, proportion and scope. Brazil, since the 20th century, has become a Democratic
country, which means that it entails a government based on laws and not just in the interest of
the occupant of the civil service. When talking about democracy, one must also say about the
imposition of the possibility of citizens' participation in issues of equality of conditions
through the vote that demonstrates the will of the people. That said, the Democratic State of
Law, exercises the fulfillment of the duty to achieve the public interest through the use of
instrumentally necessary powers conferred by the legal order acting in light of the principles
of the Federal Constitution, which, in an impersonal, effective, legal, moral way and public
makes the citizen feel like part of a whole and Democracy, in turn, acts to guarantee their
rights as a citizen also of duties and obligations and that these are also fulfilled.
Administrative Advertising in relation to information intended for the public is an
indispensable attribute for the realization of the Democratic State of Law regime, which
allows any citizen free access to monitor administrative activities and give an opinion on the
acts performed by the public agent. The publication of Law No. 12,527 of November 18,
2011, represented a milestone in the achievement since, in its absence, society was at the
mercy of transparent administration. With its enactment, Brazil became the 89th country to
have a special legislation that regulates the subject. The adoption of a specific law on access
to information was the subject of great international discussions, including being
recommended by the UN. Such legislation brought the definition of mechanisms, deadlines
and procedures adopted so that information is requested from the public administration by
citizens and with the support of the internet, we will have a better informed, more active,
participative and clear society, with its rights protected, through a more efficient, transparent
and effective public administration, which consequently promotes a population that is more
aware of its rights and capable of actively participating in the consolidation of the Democratic
Rule of Law.

Keywords: Advertising Principle. Public administration. Access to information.


Transparency. Democratic state.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10
1 - DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 12
1.1- Do Poder Administrativo. 13
1.1.1 - Do Poder Administrativo Vinculado. 13
1.1.2 - Do Poder Administrativo Discricionário. 13
1.2 - Da Administração Pública Objetiva e Subjetiva. 14
1.3 - Da Administração Pública Direta. 15
1.3.1 - Da Administração Pública Indireta. 15
1.4 - Do Regime Jurídico da Administração Pública. 16
1.5 - Dos Princípios. 17
1.5.1 – Dos Princípios Implícitos - Princípio da Supremacia do Interesse Público e a
Indisponibilidade do Interesse Público 18
1.5.2 - Do Princípio da Supremacia do Interesse Público. 19
1.5.3 - Do Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público. 20
1.5.4 - Dos Princípios Explícitos ou Expressos. 21
1.5.5 - Do Princípio da Legalidade. 23
1.5.6 – Do Princípio da Impessoalidade. 24
1.5.7 - Do Princípio da Moralidade. 24
1.5.8 - Do Princípio da Eficiência. 26
1.5.9 - Do Princípio da Publicidade. 27
1.5.9.1 - Da Motivação para a publicação do ato. 30
1.5.9.2- Da Informação à coletividade. 31
1.5.9.3 - Da participação do cidadão nos atos administrativos. 31
2- DA GESTÃO PÚBLICA E DO DIREITO FUNDAMENTAL À INFORMAÇÃO. 33
2.1 - Da Democracia e do Direito Fundamental à informação. 33
2.2 - Da Transparência e Publicidade Administrativa. 35
2.2 - Do Acesso à Informação. 36
2.2.1 - Do Remédio Constitucional e da Garantia ao Acesso à Informação. 37
2.3 - Da Lei de Acesso à Informação. 38
2.3.1 - Das Modalidades de Transparência à Informação. 39
2.4 - Dos Instrumentos de Acessos às Informações. 41
3- DA EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS E GARANTÍAS ATRAVÉS DO PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DA PUBLICIDADE NO ÂMBITO DA LEI Nº 12.527/11. 43
3.1 - DA Legislação. 44
3.2 - Da Legislação em Prol da Coletividade. 46
3.3 - Do Acesso às Informações Públicas, 48
3.4 - Do Caráter Informativo e Impessoal das Informações. 49
3.5 - Da Classificação da Publicidade e dos Atos Administrativos. 51
3.5.1 - Da Publicidade Proativa e Reativa. 51
3.6 - Da Moderação à Publicidade, dos Atos e Sigilo. 51
3.7 – Lei Geral de Proteção de Dados ( LGPD) 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS 56
REFERÊNCIAS: 58
10

INTRODUÇÃO

Administração Pública compreende competências orientadas à realização de


determinados fins, no caso da função administração, trata-se de efetivar os direitos garantidos
pela Constituição Federal, sendo direitos fundamentais e garantias pertinentes à sociedade em
que irá atuar.
Para a construção de uma verdadeira democracia, se torna cada vez mais indispensável
o livre acesso às informações de forma rápida, de fácil acesso, clara e principalmente, que seja
transparente. A participação de forma ampla popular, sem dúvida, fortalece o Estado
Democrático de Direito, o que resulta, em ganhos tanto para a administração pública quanto
para o principal fim que é a população.
O sigilo de informações, além de gerar desconfiança por parte da população, facilita a
corrupção e cria de certo modo, uma barreira invisível ao desenvolvimento e à participação da
população.
Não obstante, o livre acesso à informação não se faz suficiente para combater os atos
corruptos, mas é uma alternativa que se tona indispensável para a promoção dos direitos e
garantias fundamentais e essenciais da nossa constituição.
Complementar o acesso à informação utilizando-se de meios alternativos de
comunicação é o mecanismo mais acessível, rápido e eficiente para que a população se torne
mais participativa e consequentemente mais confiante em seus governantes.
Para tanto, promulgou-se além da Constituição Federal de 1988, a Lei Nº12.527 de 18
de novembro de 2011, com o objetivo de ditar normas e assegurar a proteção do direito
fundamental à informação amparado pela constituição. Tal Lei vem de encontro com os
procedimentos estatais em manter sigilo dos atos administrativos, mas, utilizando-se do
sistema de freios e contrapesos, também expressa a exceção do sigilo em determinadas
situações.
Utilizar-se de todos os meios possíveis e disponíveis para que se efetive a
transparência dos atos administrativos, não garante que a administração pública irá funcionar
de forma correta, mas talvez sem esses meios, a atividade da administração pública sequer
seria de forma razoável ao bem estar e efetivação dos direitos e garantias.
A Publicidade Administrativa em relação à informação destinada ao público se faz
atributo indispensável para que se concretize o regime do Estado Democrático de Direito que
possibilita a qualquer cidadão o livre acesso para acompanhar as atividades administrativas e
11

opinar nos atos realizados pelo agente público. O que ocorre, como já dito, é que nem todo
cidadão tem conhecimento de que tem autorização e direito para acessar informações
públicas.
Uma vez bem informado, o cidadão tem consequentemente, melhores condições de
conhecer e acessar outros direitos essenciais, como educação, saúde e benefícios sociais, pois,
garantir o acesso à informação através do Princípio da Publicidade, aumenta o fluxo de
informações e favorece a tomada de decisões além é claro, da inclusão do cidadão nos atos
praticados pela administração pública.
No primeiro capítulo, evidencia-se a visão geral do que é a Administração Pública,
suas particularidades, formas de administrar, suas funções diretas e indiretas e seus poderes
perante a sociedade.
No segundo capítulo, os princípios que norteiam a Administração Pública demonstram
seus papéis que são essenciais e estão expressos em nossa Constituição Federal, como o
princípio tema do presente trabalho, o Princípio da Publicidade dos atos administrativos, que
nos transmite diretamente ao Direito à Informação, também amparado pela constituição como
uma garantia fundamental do ser humano de se manter informado e participar ativamente de
forma política da administração pública e exercer seu papel de cidadão.
Por vez, o terceiro e último capítulo, nos traz os meios disponíveis e utilizáveis para
que tal direito seja cada vez mais positivado, além de evidenciar a importância das legislações
que regulamentam o Direito à Informação, que instituem que tal direito se torne cada vez mais
presente e eficaz para o real Estado Democrático de Direito.
Para a elaboração de todo conteúdo aqui presente, utilizou-se primordialmente a
pesquisa qualitativa, onde foram observados e analisados os conteúdos das teorias publicadas
em volta do tema. A pesquisa desenvolvida assume também caráter de procedimento
bibliográfico, baseada em livros, artigos e publicações de profissionais do Direito, legislação,
revistas científicas e jurisprudências.
12

1 - DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.

Para adentrarmos ao tema, é necessário primordialmente entendermos o conceito de


Administração Pública.
A expressão Administração Pública, intitula o conjunto de entidades, órgãos e agentes
estatais que são essenciais para o exercício da função administrativa, seja no âmbito
municipal, estadual ou federativo.
Embasada no critério material ou objetivo, por vezes, é confundido com a função
administrativa. Nesta perspectiva, parte da doutrina moderna, familiariza a Administração
pública por suas tarefas, sendo o Poder de Polícia, a prestação de serviços públicos, a
regulação de atividades do interesse público e o fomento de atividades que gerenciam o
controle da atuação do Estado.
Para sua efetivação, a Administração Pública se baseia e é disciplinada por um
conjunto harmônico de princípios e regras que convalidam e instruem as atividades
desempenhadas para a total efetivação do Estado Democrático de Direito de modo que
satisfaça os interesses da coletividade, respeitando os direitos fundamentais do cidadão.
Segundo Bandeira de Mello1, “administrar é gerir interesses, segundo a lei, a moral e a
finalidade dos bens entregues à guarda e conservação alheias. Se os bens e interesses geridos
são individuais, realiza-se administração particular; se são da coletividade, realiza-se
administração pública. Administração pública, portanto, é a gestão de bens e interesses
qualificados da comunidade no âmbito federal, estadual ou municipal, segundo os preceitos
do Direito e da Moral, visando ao bem comum.”
Nesta acepção, administrar é utilizar-se de instrumentos necessários para que se
consiga alcançar o interesse da coletividade.
Sendo assim, a Administração Pública2, tem por direito e dever promover a satisfação
de interesses sociais relacionados com a promoção dos direitos fundamentais, cujo seus atos
exigem organização estável e permanente através do agente público, figura esta que é
responsável pela execução dos atos frente à Administração Pública, pois a função
administrativa se traduz concretamente no ato de administrar.
Administração Pública compreende competências orientadas à realização de
determinados fins, no caso da função administração, trata-se de efetivar os direitos garantidos

1
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 28 Ed. revista e atualizada até e
Emenda Constitucional 67 de 22.12.2010. São Paulo: Malheiros, 2011.
2
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo.- 4ª Ed. Rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2009.
13

pela Constituição Federal, sendo direitos fundamentais e garantias pertinentes à sociedade em


que irá atuar.
Ao executar as ações dentro da administração pública, o agente público deve observar
o seu caráter instrumental, para que suas ações não sejam caracterizadas como abuso de
poder, excesso de poder e desvio de poder, já que toda atuação do administrador público é
vinculada em lei. Ante ao exposto, pode-se dizer que administrar3 é garantir a aplicação diária
das leis, cuidar das relações entre os cidadãos e a administração pública. É objetivar a
satisfação das necessidades de interesse coletivo, identificadas pelos agentes públicos que
possuem a função de aplicar as normas, decisões e distribuições de verbas emanadas pelo
Estado.
Sucintamente, a Administração Pública trata-se de atividades inerentes ao ato
administrativo, que objetiva priorizar o interesse coletivo atuando de acordo com a legislação
pertinente.

1.1- Do Poder Administrativo.


1.1.1 - Do Poder Administrativo Vinculado.

Como o próprio nome já diz, poder vinculado é aquele que está diretamente subjugado
à legislação, estabelecendo critérios objetivos para a atuação do agente público, não
possibilitando-o agir fora dos parâmetros estabelecidos ou de própria escolha do agente, o
que faz menção diretamente ao princípio da legalidade, onde o agente público deve agir
somente dentro do que a lei lhe estabelecer.

1.1.2 - Do Poder Administrativo Discricionário.

Ao contrário do poder vinculado, o poder discricionário abre uma margem de atuação


para o administrador público, dando-lhe possibilidades de ações que sejam mais convenientes,
que se adequem oportunamente ao caso e que o seu conteúdo seja plausível, respeitando o
limite do imposto pela própria legislação de modo que não se torne anulável. Presume-se que,
o poder discricionário flexibiliza as ações do agente público, dando-lhe a opção da
modalidade a seguir.

3
ALLAND, Denis e RIALS, Stéphane. Dicionário de Cultura Jurídica – São Paulo: WMF Martins Fontes,
2012.
14

Deve-se atentar que, o poder discricionário é um poder exclusivo da administração


pública e não um poder jurisdicional, por isso, fica a critério do agente público, dentro dos
limites impostos pela lei, definir qual a melhor forma de atuação para atender a coletividade.
A atuação do poder judiciário frente à atuação do administrador público será permitida
neste contexto, quando houver ilegalidade em seus atos e o magistrado justificá-la. Desta
forma, conclui-se que, embora o poder discricionário não seja um poder jurisdicional, decorre
de controle judicial, pois os atos administrativos decorrem de lei, podendo o poder judiciário
anular o ato do agente público que extrapolar, exceder ou desviar os atos descritos em lei. O
que não é admitido é o magistrado substituir a oportunidade de conveniência do agente
público pela oportunidade de conveniência própria, pois não cabe ao magistrado fazer
controle de mérito, mas sim, o controle dos atos discricionários no que tange a legalidade.
Ao escolher o ato administrativo discricionário, o agente público deve se atentar ao
princípio da razoabilidade, de forma que respeite os princípios constitucionais dentro da
margem de escolha que lhe é imposta. Tal entendimento trata-se do conceito jurídico
indeterminado, onde o limite do mérito é o princípio da razoabilidade.4

I.II - Da Administração Pública Objetiva e Subjetiva.

A Administração Pública, se efetiva através do poder Executivo, sendo dividida em 2


aspectos: Objetivo e Subjetivo. O aspecto objetivo, também chamado de aspecto material,
trata-se do conjunto de funções ou atividades públicas destinadas a concretizar direta ou
indiretamente os fins constitucionais atribuídos ao Estado, sendo um conjunto de bens e
direitos necessários ao desempenho da função administrativa. Já o aspecto subjetivo, também
denominado de aspecto orgânico, trata-se do conjunto de pessoas de direito público e agentes
públicos que constituem a estrutura formal da administração pública.
Sob o ponto de vista de Odete Medauar5, a Administração Pública pode ser
compreendida a partir de dois aspectos: o funcional e o organizacional. No primeiro, a
Administração Pública é um conjunto de atividades do Estado que auxiliam as instituições
políticas de cúpula no exercício de funções de governo, que organizam a realização das
finalidades públicas postas por tais instituições e que produzem serviços, bens e utilidades
para a população. Já do aspecto organizacional, Medauar diz que "Administração Pública

4
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 9ª ed. São Paulo: JusPodium, 2019.
5
MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 19. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
15

representa o conjunto de órgãos e entes estatais que produzem serviços, bens e utilidades para
a população, coadjuvando as instituições de cúpula no exercício das funções de governo."
Esse aspecto, denominado como subjetivo por Pestana (2012, p. 24)6, corresponde às "pessoas
jurídicas, órgãos e agentes públicos que tem o objetivo de exercer a função administrativa."

1.3 - Da Administração Pública Direta.

A Administração Pública Direta caracteriza-se pela realização da atividade


administrativa de forma centralizada, ou seja, pela própria unidade federativa.
É composta por órgãos diretamente ligados ao poder central, no âmbito federal,
estadual e municipal. A Administração direta, no entanto, é o conjunto da União, dos
governos e das prefeituras, de modo que não possuem personalidade jurídica própria nem
patrimônio.
A Administração Pública Direta é formada por órgãos públicos, ou seja, partes de uma
pessoa jurídica como os Ministérios, as Forças Armadas, a Receita Federal, portanto, pode-se
considerar que a Administração Pública Direta é o ente em um todo, com toda sua estrutura
estatal.

1.3.1 - Da Administração Pública Indireta.

Tal modelo de administração caracteriza-se pela formação do conjunto de pessoas


jurídicas que exercem as atividades administrativas de forma descentralizada que estão
vinculadas, mas não subordinadas à administração direta.
Dentro da Administração Pública Indireta, suas atividades são exercidas de forma
descentralizadas, ou seja, as competências são distribuídas para uma nova pessoa jurídica,
sendo as autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista,
conforme expresso em nossa Constituição Federal em seu artigo 37, XIX 7:

Art.37, XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a
instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação,

6
Marcio Pestana. – PESTANA, Marcio. Direito Administrativo Brasileiro. Rio de Janeiro: Campus, 2012.
7
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 02 de Agosto de
2021.
16

cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

Ao descentralizar suas atividades, a administração pública não possui vínculo de


hierarquia ou subordinação com tais entidades, sendo que as mesmas passam a responder
juridicamente pelos seus atos ou prejuízos causados a terceiros.
A administração pública indireta é composta por autarquias, fundações públicas,
empresas públicas e sociedades de economia mista e suas criações e respectivas extinções
decorrem de lei.

1.4 - Do Regime Jurídico da Administração Pública.

Ao se falar em regime jurídico administrativo, devemos nos lembrar de que a


Constituição Federal (CF) traz um conjunto de princípios e normas que norteiam o
desempenho do papel do agente público. Maria Sylvia Zanella Di Pietro8 explana que “a
expressão regime jurídico administrativo é reservada tão somente para abranger o conjunto de
traços, de conotações, que tipificam o Direito Administrativo, colocando a Administração
Pública numa posição privilegiada, vertical, na relação jurídico-administrativa.” Regime
jurídico da Administração Pública, portanto, determina os regimes de direito público e
privado ao qual se submetem a Administração Pública. 9Ao dizer que a administração pública
se refere a um regime jurídico de direito público, diz que há regras e princípios jurídicos
específicos para os atos administrativos que não incidem sobre atos privados. Já no regime
jurídico de direito privado, prevalecem os princípios como o da livre iniciativa e da autonomia
da vontade, onde pode-se desenvolver qualquer atividade ou adotar qualquer linha de conduta
que não lhes seja vedada pela ordem jurídica. Deste modo, o regime jurídico de direito
público é responsável por conduzir os atos administrativos. Posto isto, fica a caráter do direito
privado fazê-lo de forma supletiva, ou seja, em caráter subsidiário e sem contrariar o
regramento fundamental dos atos públicos.
Maria Sylvia Zanella di Pietro10 ensina que “a expressão regime jurídico
administrativo é reservada tão somente para abranger o conjunto de traços, de conotações, que
tipificam o Direito Administrativo, colocando a Administração Pública numa posição

8
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 19ª edição. Editora Atlas. São Paulo, 2006.
9
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 20 ed. ver. amp. Atua. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Juris. 2008.
10
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 19ª edição. Editora Atlas. São Paulo, 2006.
17

privilegiada, vertical, na relação jurídico-administrativa. Basicamente, pode-se dizer que o


regime administrativo resume-se a duas palavras apenas: prerrogativas e sujeições. ”

1.5 - Dos Princípios.

Para Carvalho Filho11, princípios administrativos “são os postulados fundamentais que


inspiram todo o modo de agir da Administração Pública. Representam cânones pré-
normativos, norteando a conduta do Estado quando no exercício da atividade administrativa.”
O doutrinador Miguel Reale12 leciona ainda, que “princípios são verdades fundantes
de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido
comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como
pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis.”
Em síntese, os princípios refletem valores. São normas que validam a construção
jurídica originária da Constituição Federal, as quais orientam as ações do administrador nos
casos concretos, mas, todavia, não estabelecem efeitos jurídicos específicos. Objetivam, de
acordo com Uadi Lammêgo Bulos, “garantir a unidade da Constituição Brasileira; orientar a
ação do intérprete, balizando a tomada de decisões, tanto dos particulares como dos órgãos do
legislativo, executivo e judiciário; e preservar o Estado Democrático de Direito.” 13
São divididos em dois grupos: os implícitos que são o princípio da supremacia do
interesse público e o princípio da indisponibilidade do interesse público e os princípios
explícitos ou também chamados de expressos, que não aqueles expressamente notados em
nossa constituição.

11
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 20 ed. ver. amp. Atual. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Juris. 2008.
12
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 26 ed. Ver. – São Paulo: Saraiva, 2002.
13
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional- 9. Ed. rev. e atual. de acordo com a Emenda
Constitucional n.83/2004 e os últimos julgados do Supremo Tribunal Federal – São Paulo: Saraiva, 2015.
18

1.5.1– Dos Princípios Implícitos - Princípio da Supremacia do Interesse Público e a


Indisponibilidade do Interesse Público

14
As regras e princípios expostos acima são expressos sob a forma de princípios sendo
eles o princípio da supremacia do interesse público e da indisponibilidade do interesse
público.
O princípio da supremacia do interesse público constitui a existência das prerrogativas
ou dos poderes especiais da administração pública, dos quais decorre a denominada
verticalidade nas relações administrativas-particular. Destarte, havendo conflito entre
interesse público e os interesses particulares, os interesses públicos devem prevalecer.
O outro princípio, o da indisponibilidade do interesse público, faz consonância ao
primeiro. Ao mesmo tempo em que tem poderes especiais e elevados, a administração sofre
restrições em sua atuação que não existem para os particulares. Essas limitações decorrem do
fato de que a administração pública não é titular do interesse público, mas sim da
coletividade.
Diante ao exposto, pode-se citar como exemplo da decorrência do princípio da
indisponibilidade do interesse público, a necessidade em realizar concursos públicos para
admissão de empregados e servidores públicos em caráter efetivo.
Ao tratar da administração pública, a nossa Constituição Federal não traz de maneira
explícita os princípios da supremacia do interesse público e da indisponibilidade do interesse
público. Contudo, o artigo 3715 , enumera alguns dos mais importantes princípios
administrativos, sendo princípio da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)

Tais princípios dispostos no referido artigo estão diretamente ligados a validade,


conduta, agilidade, ética e transparência nos atos do agente público e na respectiva

14
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 20 ed.rev. e atual.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo, METODO, 2012.
15
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 08 de Junho de
2020.
19

administração pública, pois, todo ato praticado só terá validade ao respeitar os princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

1.5.2 - Do Princípio da Supremacia do Interesse Público.

Trata-se de um princípio implícito, ou seja, não está enunciado no texto constitucional,


mas é decorrente de instituições adotadas no Brasil. Trata-se de um princípio característico do
regime de direito público e é um dos dois pilares do regime jurídico administrativo como já
exposto. Tal princípio fundamenta todas as prerrogativas 16 especiais de que dispõe a
Administração como instrumentos para a consecução dos fins que a Constituição e as leis lhe
impõem.
Decorre de tal princípio, que, existindo conflito entre o interesse privado e o interesse
público, o interesse público deverá prevalecer, pois se trata de interesse tutelado pelo Estado e
deve-se respeitar os direitos e garantias individuais expressos na Constituição Federal.
Vale dizer, que embora seja postulado de maneira fundamental do denominado regime
jurídico administrativo, o princípio da supremacia do interesse público não está diretamente
presente em toda e qualquer atuação da Administração Pública.
O princípio da supremacia do interesse público tem incidência nos atos em que a
Administração Pública manifesta poder de império, ou seja, o poder extroverso. Os atos de
império são aqueles que impõem de maneira coercitiva a Administração ao administrado,
criando obrigações ou restringindo o exercício de direitos ou atividades privadas. Pode-se
dizer que o poder de império dá origem às relações jurídicas entre o particular e o Estado
caracterizadas pela verticalidade e pela desigualdade jurídica. Esses atos, portanto, são
fundados diretamente no princípio da supremacia do interesse público.
De acordo com Marcelo Alexandrino17, “são exemplos de prerrogativas de direito
público da Administração Pública, derivadas diretamente do princípio da supremacia do
interesse público: I- as diversas formas de intervenção na propriedade privada, como a
desapropriação, a requisição administrativa em que o interesse público autoriza o uso da
propriedade privada sem remuneração; II- a existência das denominadas cláusulas
exorbitantes nos contratos administrativos, possibilitando à administração a modificar ou
rescindir unilateralmente o contrato; III- as diversas formas de exercício do poder de polícia

16
Direito próprio de ofício, cargo ou profissão.
17
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 20 ed.rev. e atual.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo, METODO, 2012.
20

administrativa, traduzidas na limitação ou condicionamento ao exercício de atividades


privadas, tendo em conta o interesse público; IV- a presunção de legitimidade dos atos
administrativos, que impõem aos particulares o ônus de provas eventuais vícios que entendem
existir no ato, a fim de obter uma decisão administrativa ou provimento judicial que afaste a
sua aplicação.”
Noutro giro, vale ressaltar que, ao atuar, a administração pública deve se orientar por
um só caminho, ou seja, buscar o interesse público, o interesse da coletividade. Nesta
acepção, deve-se lembrar de que a supremacia do interesse público, por parte da doutrina,
ainda pode ser dividida entre supremacia do interesse público primário e secundário. O
primeiro trata-se exclusivamente das principais necessidades da sociedade, ou seja, aquelas
que estão ligadas diretamente à nossa Constituição Federal que são responsáveis por positivar
a dignidade da pessoa humana em seus princípios primórdios para estabelecer uma sociedade
digna e humanizada.
Por vez, a supremacia do interesse público secundário, dispõe sobre os deveres e atos
da administração pública para manter o bom funcionamento administrativo, relativo à
contratação, serviços, tributações que se fazem necessários para manter ativo a supremacia do
interesse público primário. Desta forma-se, analisa-se que, a Administração Pública funciona
como uma balança, sem uma atividade não se pode manter outra, o que faz jus, aos atos
necessários do agente público, para manter, primordialmente, as necessidades da coletividade
dentro dos parâmetros exigidos e de direito garantidos pela nossa Constituição.

1.5.3 - Do Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público.

O princípio da indisponibilidade do interesse público é o segundo pilar do denominado


regime jurídico administrativo. Dele, derivam-se todas as restrições especiais impostas à
atividade administrativa, pois tais restrições decorrem do fato de não ser a Administração
Pública proprietária da coisa pública, mas sim a gestora de bens e interesses da coletividade.
Em razão desse princípio, permanece vedado ao administrador quaisquer atos que
impliquem renúncia a direitos do Poder Público ou que injustificadamente onerem a
sociedade, pois, trata-se de um princípio implícito e dele decorrem diversos princípios
expressos que norteiam a atividade administrativa, como o princípio da legalidade, da
impessoalidade, moralidade e o princípio da eficiência.
21

Vale ressaltar, que o princípio da indisponibilidade do interesse público está presente


em toda e qualquer atuação da Administração Pública, diferentemente do que ocorre com o
princípio da supremacia do interesse público, que de forma direta, fundamenta essencialmente
os atos de império do Poder Público. De fato, tal princípio manifesta-se tanto no desempenho
das atividades-fim, quanto no das atividades-meio, ou seja, tanto quando a Administração
Pública atua visando o interesse público primário, como quando visa o interesse público
secundário, tanto quanto atua sob regime de direito público como quando atua sob regime de
direito privado.
Não se admite segundo Marcelo Alexandrino18, por exemplo, “que a Administração
Pública renuncie ao recebimento de receitas devidas ao Estado, como multas, tributos, tarifas,
salvo se houver enquadramento em alguma hipótese de renúncia expressamente prevista em
lei, pois tais receitas são públicas, logo, só a lei pode dispensar sua exigência. Ainda, não é
possível que à Administração, alienar qualquer bem público enquanto estiver afetado a uma
destinação pública específica.”

1.5.4 - Dos Princípios Explícitos ou Expressos.

Os princípios explícitos decorrem do texto constitucional, impondo ao gestor público


as normas gestoras dos atos administrativos. As decisões tomadas pela Administração Pública
e visando a supremacia do interesse público, precisam ser orientadas pelos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Todos os atos praticados pelo agente público devem ter consonância com os princípios
constitucionais para que se tornem válidos, pois quando um princípio é violado, todo o ato
19
deve ser anulado, em contrapartida, todas as escolhas compatíveis com certo princípio e
respeitando os demais, podem ser praticadas. 20A função dos princípios explícitos, no entanto,
consiste em excluir a validade das opções que sejam contraditórias com os valores neles
consagrados. Alexy21 ensina que “os princípios são normas que ordenam que algo seja
realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes.

18
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 20 ed.rev. e atual.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo, METODO, 2012.
19
LIMA, André Canuto de F.. A teoria dos princípios de Robert Alexy. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-
4862, Teresina, ano 19, n. 4078, 31 ago. 2014. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/31472. Acesso em: 17
jun. 2020.
20
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo – 4. Ed. rev.atual.- São Paulo: Saraiva, 2009.
21
ALEXY, Robert. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2008
22

Portanto, os princípios são mandatos de otimização, que se concretizam porque podem


cumprir-se em diferente grau e que a medida devida de seu cumprimento não apenas depende
das possibilidades reais, mas também das jurídicas”.
23

1.5.5 - Do Princípio da Legalidade.

O princípio da legalidade, em simples palavras, é a subordinação do administrador à


lei, ou seja, o administrador só pode realizar atos que estejam previstos em legislação.
Está previsto no artigo 5º, II da Constituição Federal22, como exposto:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei;

No que concerne a Administração Pública, a legalidade perfaz a ideia de que o


administrador público poderá realizar qualquer ato se o mesmo estiver expresso em lei que o
determine ou autorize, observando os termos, condições e limites impostos em sua letra.
Sucintamente, conforme leciona Marcelo Alexandrino,23 “o princípio da legalidade é o
postulado basilar de todos os Estados de Direito, consistindo, a rigor, no cerne da própria
qualificação deste (o Estado é dito “de Direito” porque sua atuação está integralmente sujeita
ao ordenamento jurídico, vigora o império da lei”).
Ao atuar dentro do princípio da legalidade, a administração pública exprimir que todos
os conflitos existentes são e serão solucionados por lei, lei esta que só existe para o bom e
perfeito funcionamento da administração pública, onde o agente público fazendo o uso estatal
de seu poder, não pode praticar condutas sem que haja embasamento legal específico. Desta
forma, pode-se afirmar que a administração pública é subordinada à lei. Conclui-se então, que
não havendo previsão legal, a atuação do administrador público está proibida e qualquer
conduta fora do texto legal é considerada ilegítima.
Como toda regra existe exceção, com a administração pública não poderia ser
diferente, como observado através do artigo 62 da Constituição Federal 24:

22
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 18 de Junho de
2020.
23
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 20 ed.rev. e atual.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo, METODO, 2012.
24
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 25 de Agosto de
2021.
24

"Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar


medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao
Congresso Nacional.”

Em determinadas situações, a administração pública é autorizada através da


Constituição Federal a atuar de forma excepcional, às margens das disposições legais, para a
edição de medidas provisórias em que se encontre em situações de estado de defesa e de
estado de sítio.

1.5.6 – Do Princípio da Impessoalidade.

O princípio da impessoalidade25 é responsável por estabelecer um dever de


imparcialidade na tutela, defesa do interesse público, vedando discriminações e promoção
pessoal do gestor público, pois, tal figura pública, deverá conduzir os negócios
administrativos desvinculados de sua imagem pessoal, de tal modo que os atos
administrativos serão atribuídos ao Estado e não a pessoa do agente. Vejamos o que diz o
artigo 37, § 1º da CF26:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não
podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
de autoridades ou servidores públicos.

Ao observar que o ato do agente público está contrário á moral conforme exposto no
artigo mencionado acima, o mesmo não deve ser revogado, mas sim declarado nulo, pois faz
jus ao princípio da moralidade.

25
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 08 de Novembro
de 2021.
26
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 18 de Junho de
2020.
25

1.5.7 - Do Princípio da Moralidade.

O princípio da moralidade está ligado à percepção de probidade e da boa-fé, conforme


disposto no § 4º27, do artigo supra, que trata da improbidade administrativa:

§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos


políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Deste modo, os atos do administrador público devem estar em conformidade com a lei
como também com a moral administrativa é vinculada diretamente ao interesse da
coletividade de modo leal, impedindo assim atitudes corruptas por parte dos administradores.
Pode-se definir moralidade como o conjunto de valores éticos que estabelecem um
padrão de condutas que devem ser necessariamente observados pelo agente público como
condição para uma gestão amparada na honestidade, lealdade e eficiência ao desempenho da
atividade, conforme exposto no artigo 2º da Lei nº 9.784/99 28:

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Ao garantir que os atos do gestor público estão dentro dos parâmetros do princípio da
moralidade, a titularidade do Estado está mostrando à coletividade que a função
administrativa, seja ela municipal, estadual ou federal, está segura e amparada pela boa-fé,
lealdade e obediência para que se cumpra com as funções necessárias e essenciais para a
população.
Podemos citar como exemplo, a nomeação de parentes próximos em cargos
comissionados, onde o agente fazendo uso de seu poder comete ato ilegal e imoral que vai
contra o princípio que norteia a boa-fé, o bom sendo e a ética administrativa.

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. NEPOTISMO. CARGO EM


COMISSÃO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA MORALIDADE
ADMINISTRATIVA.
Servidora pública da Secretaria de Educação nomeada para cargo em comissão no
Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região à época em que o vice-presidente do

27
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 19 de Junho de
2020.
28
LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999.Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm>. Acesso em: 19 de Junho de 2020.
26

Tribunal era parente seu. Impossibilidade. A proibição do preenchimento de cargos


em comissão por cônjuges e parentes de servidores públicos é medida que
homenageia e concretiza o princípio da moralidade administrativa, o qual deve
nortear toda a Administração Pública, em qualquer esfera do poder.29

Podemos citar ainda, a Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal 30 que


trata também da nomeação de cargos na administração pública:

Pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, a nomeação de cônjuge,


companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica
investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo
em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

Podemos nos valer ainda da Resolução de nº 07 de 18 de outubro de 2005 do Conselho


Nacional de Justiça31 que norteia os tribunais sobre nepotismo, ou seja, nomeação de parentes
em cargos públicos.

Resolução n. 7, de 18 de outubro de 2005


Conselho Nacional de Justiça (Brasil) (CNJ) - 14 nov. 2005 - Disciplina o exercício
de cargos, empregos e funções por parentes, cônjuges e companheiros de
magistrados e de servidores investidos em cargos de direção e assessoramento no
âmbito dos órgãos do Poder Judiciário.

Partes dos doutrinadores consagram o princípio da moralidade como a “moralidade


jurídica”, pois acreditam que, tal princípio assegura a boa administração pública.
Não podemos confundir a moralidade com a moral social, que por fez, traz uma
distinção do que é o bem e o mal praticado pelos administradores perante a sociedade. Por
vez, como já dito, a moralidade jurídica evidencia as atitudes do bom administrador que tem
por principal objetivo com seus atos, alcançar o bem estar social da coletividade.

29
MANDADO DE SEGURANÇA 23.780-5 MARANHÃO. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86021 Acesso 20 de Agosto de 2021.
30
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Súmula vinculante nº 13 . Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menusumario.asp?sumula=1227 Acesso em 20 de Agosto de 2021.
31
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 14.nov.2005. Resolução n.7 de 18 de Outubro de 2005.
Disponível em: https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/13460 Acesso em 20 de Agosto de 2021.
27

1.5.8 - Do Princípio da Eficiência.

O princípio da eficiência está ligado diretamente a boa gestão, de modo econômico,


qualitativo e eficaz, onde o agente público deve procurar sempre a produtividade e a
economia, e claro, evitar desperdícios do dinheiro público o que compele a execução da
administração direta e indireta com funcionalidade, celeridade, maestria e eficiência
funcional, conforme expresso no artigo 70 da CF:

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial


da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade,
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será
exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de
controle interno de cada Poder.

No que leciona Carvalho Filho32, “a eficiência não deve ser confundida com a eficácia
nem com a efetividade. A eficiência transmite sentido relacionado ao modo pelo qual se
processa o desempenho da atividade administrativa: a ideia diz respeito, portanto, à conduta
dos agentes.” 33Deste modo, conclui-se que o agente público deve ser eficiente e garantir bons
resultados ao exercer sua atividade de modo que seus atos reflitam de modo imparcial,
cumprindo contudo, o princípio da impessoalidade.

1.5.9 - Do Princípio da Publicidade.

O princípio da publicidade é mais um dos princípios que rege o Estado Democrático


de Direito. Tal princípio fortalece os princípios da moralidade e da legalidade. Através desse
princípio a Administração Pública deve manter a transparência de seus comportamentos e atos
administrativos de modo a evitar condutas sigilosas.
Tal princípio está vinculado também a eficácia e a validade dos atos administrativos.
A publicidade não constitui elemento formativo, uma vez que o mesmo preexista à sua
publicação. Todavia, é condição de eficácia, visto que a conduta do agente público somente
produzirá efeito após sua divulgação. Sobre a validade, funciona como um mecanismo de
verificação da adequação do ato às normas jurídicas.

32
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 20 ed. ver. amp. Atual. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Juris. 2008.
33
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2007.
28

Os efeitos do princípio da publicidade tornam público todo o ato administrativo,


exterioriza a vontade da administração pública, torna exigível o conteúdo do ato pela
sociedade e permite que haja o controle de legalidade nos atos praticados.
Hely Lopes Meirelles34 define o Princípio da Publicidade como “a divulgação oficial
do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos. Daí por que as leis, atos e
contratos administrativos que produzem consequências jurídicas fora dos órgãos que os
emitem exigem publicidade para adquirirem validade universal, isto é, perante as partes e
terceiros. A publicidade não é elemento formativo do ato; é requisito de eficácia e moralidade.
Em princípio, todo ato administrativo deve ser publicado, porque pública é a Administração
que o realiza, só se admitindo o sigilo nos casos de segurança nacional, investigações policiais
ou interesse superior da Administração (...);”
Publicidade, de acordo com o Dicionário da Cultura Jurídica 35 “é um ato que torna
pública e notória a informação(...) É o ato que tende à divulgação autêntica de um texto(...)
Publicidade, que nada mais é que a situação que, sem dúvida, pode resultar de um ato de
publicação(...) O direito atribui, em segundo lugar, uma função material à publicação. É nesse
sentido que se pode dizer que ela atende à divulgação autêntica de um texto.
Em face de tal definição, compreende-se que todo e qualquer texto publicado é um ato
que, uma vez exposto, é considerado conhecido, pois a publicidade através de tal princípio
leva a informação ao conhecimento coletivo. Desse modo, instituiu então, que ao fazer o uso
do Princípio da Publicidade, a Administração Pública, tem o dever de expor à população os
atos que realiza e que, estejam de acordo com os princípios elencados na Constituição
Federal, pois a ausência de um dos princípios expressos anula todo o ato.
Utilizar a publicidade é, portanto, imprescindível ao gestor público, visto que, tal
princípio estabelece que a Administração Pública tenha o dever de levar à sociedade todos os
atos realizados e que sejam de interesse público, pois se trata de uma condição dos atos
administrativos e decisões que são essenciais para a transparência, eficácia, legalidade e
moralidade perante a coletividade.
Na atualidade, o Princípio da Publicidade ganhou um forte aliado chamado Internet.
No que tange ao acesso à informação, a internet assume papel essencial no relacionamento
entre a Administração Pública e a população. Tal meio, explorado de forma coerente, eleva o
princípio da eficiência das políticas públicas.

34
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros, 2013.
35
ALLAND, Denis e RIALS, Stéphane. Dicionário de Cultura Jurídica – São Paulo: WMF Martins Fontes,
2012.
29

A exigência em publicar um ato em um órgão oficial é um requisito de eficácia dos


atos administrativos, que consequentemente devem produzir seus efeitos externos perante a
coletividade a partir de sua publicação, haja vista que, eficácia é a capacidade das normas
supremas do Estado produzirem seus efeitos36. De acordo com Marcelo Alexandrino, “não se
pode dizer que o ato já esteja inteiramente formado (perfeito) enquanto não ocorrer sua
publicação (...) vale dizer, o que seja obrigatoriamente publicado é um ato imperfeito (não
concluído) enquanto sua publicação não ocorra.”37
Destarte, o Princípio da Publicidade obriga a Administração Pública a levar à
sociedade todos os atos que produz e que sejam de interesse público, inclusive seus
fundamentos e sua motivação. Publicar os atos, portanto, concerne de componente
indispensável à gestão pública democrática, sendo, igualmente, “condição essencial dos atos e
decisões administrativas”, conforme leciona Demócrito Ramos.38
O Princípio da Publicidade apresenta uma dupla acepção39 para que o acesso às
informações se efetive, quais sejam: a exigência de publicação e de transparência da atuação
administrativa.
A exigência de publicação se trata da exigência em fazer pública a informação em
órgão oficial como se efetive o princípio da eficácia para que surtam seus efeitos externos.
Nesta perspectiva, a publicidade dos atos não está ligada a nulidade do ato, mas sim em sua
eficácia, ou seja, enquanto não houver sua publicação, o ato não está apto a produzir seus
efeitos objetivos e subjetivos. Deste modo, pode-se dizer que um ato não publicado é um ato
imperfeito.
Em um Estado Democrático de Direito, é inadmissível que os atos realizados pelo
agente público sejam sigilosos quando devem ser publicados para produzirem seus efeitos.
Neste contexto, a Lei nº 9.784/1999 40, evidencia a obrigatoriedade no âmbito dos
processos administrativos federais de positivar os atos administrativos:

Art. 4º São deveres do administrado perante a Administração, sem prejuízo de


outros previstos em ato normativo:

36
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional- 9. Ed. rev. e atual. de acordo com a Emenda
Constitucional n.83/2004 e os últimos julgados do Supremo Tribunal Federal – São Paulo: Saraiva, 2015.
37
ALEXANDRINO, Marcelo. PAULO, Vicente. Direito Administrativo descomplicado. Ed 20. Rio de
Janeiro.
38
REINALDO, Demócrito Ramos. “A publicidade dos atos e decisões administrativas”, in Revista Forense, v.
344, out-dez/1998
39
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo descomplicado 20 ed.rev. e atual. Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo, METODO, 2012.
40
LEI Nº 9.784 DE 29 DE JANEIRO DE 1999. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm> Acesso em: 25 de Agosto de 2021.
30

I - expor os fatos conforme a verdade;


IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o
esclarecimento dos fatos.

Por vez, a exigência de transparência dos atos administrativos, deriva do princípio da


indisponibilidade do interesse público, onde a administração pública, da forma mais ampla
possível, efetive o dever de controle da Administração por parte da coletividade.
Como já mencionado, o dispositivo que elucida tal acepção é o inciso XXXIII do
artigo 5ª da nossa Constituição Federal41:

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

Em decorrência da transparência dos atos da Administração Pública, fica caracterizado


que a transparência é uma regra geral onde os atos administrativos devem ser motivados, o
que possibilita o efetivo controle da legitimidade pela coletividade e órgãos competentes.

1.5.9.1- Da Motivação para a publicação do ato.

Todo ato realizado pela administração pública deve ter um motivo pelo qual se deu, ou
seja, deve estar congruente com a lei. Para realizar qualquer ato administrativo, é obrigatório
que se relate os fatos e fundamentos jurídicos conforme a Teoria dos Motivos Determinantes.
Tal teoria evidencia que a Administração Pública está sujeita ao controle
administrativo e judicial, ou seja, que se tenha legitimidade ou legalidade em seus atos,
relativo à existência e à pertinência da prática de um ato. A mesma teoria defende que o ato
administrativo deve ser compatível com a situação de fato que gerou a manifestação da
vontade do agente, desta forma, tais motivos são responsáveis pela determinação e
justificação do ato e, por isso, deverá haver perfeita correspondência entre os atos e os fatos.
De tal modo, esta teoria é responsável por vincular o administrador ao motivo que ele
declarou necessário realizar tal ato, condicionando que sua existência seja válida e legal. O

41
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 18 de Junho de
2020.
31

aspecto da motivação do princípio da publicidade está inclusive positivado na Lei Nº


9.784/1999 em seu artigo 50,§ 1º42:

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e
dos fundamentos jurídicos, quando:
§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em
declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações,
decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.

De forma genérica, a coletividade necessita da exigência de motivação, haja vista que


esta se faz essencial para assegurar o efetivo controle administrativo, inclusive, o controle
popular.

1.5.9.2 - Da Informação à coletividade.

Conforme disposto na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, mais


precisamente, inciso XXXIII:

“todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;”43.

Tal menção mostra que não basta apenas a motivação à Administração Pública, pois, o
Princípio da Publicidade faz com que a administração garanta que qualquer pessoa tenha
acesso às informações referentes aos atos administrativos praticados, preferencialmente de
maneira clara e amplamente publicada.
O inciso XXXIII do artigo 5º da Constituição Federal estabelece o direito à
coletividade de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse, seja particular,
coletivo ou geral, que deverão ser prestadas no prazo estabelecido em lei.

42
LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999.Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm>. Acesso em: 08 de Julho de 2020.

43
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 08 de Julho de
2020.
32

1.5.9.3 - Da participação do cidadão nos atos administrativos.

O Princípio da Publicidade garante ao cidadão que ele participe de forma ativa dos
atos realizados pelo agente público de forma que tenha acesso às informações devidamente
motivadas referentes à atuação estatal.
É através da participação da coletividade nos atos da administração pública que o
Princípio da Publicidade se torna eficaz, pois garante transparência à atividade administrativa
e permite o acesso aos motivos pelos quais tais atos foram praticados, sua finalidade,
proporção e abrangência.
33

2- DA GESTÃO PÚBLICA E DO DIREITO FUNDAMENTAL À INFORMAÇÃO.

2.1 - Da Democracia e do Direito Fundamental à informação.

O Brasil, desde o século XX, passou a ser um país Democrático, isso quer dizer que
acarreta um governo fundado em leis e não apenas do interesse do ocupante da função
pública. Ao falar em democracia, há de se dizer também sobre a imposição da possibilidade
de participação dos cidadãos em questões de igualdade de condições através do voto que
demonstra a vontade do povo. Dizer que pertence a uma Democracia, é o mesmo que dizer
que o poder político é de titularidade do povo conforme disposto no artigo 1º, parágrafo único
da Constituição Federal:

Art. 1º. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.44

Isto posto, o Estado Democrático de Direito, exerce o cumprimento do dever de


alcançar o interesse público mediante o uso de poderes instrumentalmente necessários
conferidos pela ordem jurídica atuando em face aos princípios da Constituição Federal, que,
de forma impessoal, eficaz, legal, moral e pública faz com que o cidadão sinta-se como parte
de um todo e a Democracia por vez, atue para garantir seus direitos enquanto cidadão também
de deveres e obrigações e que estas também sejam cumpridas.
Para que a Democracia45 surta efeitos perante a sociedade no âmbito municipal, as
decisões tomadas pela Administração Pública através de seus atos administrativos tendo em
vista a supremacia do interesse público, precisa guiar-se pelos princípios explícitos adotados
constitucionalmente. Toda e qualquer decisão que reflete direto no cidadão é essencial na
regulamentação normativa da efetivação de seu direito à informação, que obriga a
administração pública a garantir que qualquer pessoa tenha acesso às informações referentes
aos atos administrativos praticados, preferencialmente de maneira clara e amplamente
difundida.
Para este fim, o art. 4ª, inciso I, considera informação:

44
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 15 de Julho de
2020.
45
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo.28 Ed. revista e atualizada até e
Emenda Constitucional 67 de 22.12.2010. São Paulo: Malheiros, 2011.
34

I - informação: dados, processados ou não, que podem ser utilizados para produção e
transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato;

A Democracia também deve garantir não apenas que o cidadão tenha acesso à
informação devidamente motivada referente à atuação estatal, mas também se façam uso de
mecanismos que possibilitem a sua participação. Tal participação se dá por diversos
mecanismos procedimentais como consultas públicos de acordo com o interesse do cidadão,
conforme nos mostra o art. 6º da Lei Nº 12.527/1146 e seus respectivos incisos:

Art. 6º - Cabe aos órgãos e entidades do poder público, observadas as normas e


procedimentos específicos aplicáveis, assegurar a:
I - gestão transparente da informação, propiciando amplo acesso a ela e sua
divulgação;
II - proteção da informação, garantindo-se sua disponibilidade, autenticidade e
integridade; e
III - proteção da informação sigilosa e da informação pessoal, observada a sua
disponibilidade, autenticidade, integridade e eventual restrição de acesso.

A Publicidade Administrativa em relação à informação destinada ao público se faz


atributo indispensável para que se concretize o regime do Estado Democrático de Direito que
possibilita a qualquer cidadão o livre acesso para acompanhar as atividades administrativas e
opinar nos atos realizados pelo agente público. O que ocorre, como já dito, é que nem todo
cidadão tem conhecimento de que tem autorização e direito para acessar informações
públicas. Vejamos que a nossa Constituição nos traz de forma expressa em seu artigo 5º,
inciso XXXIII47:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; (Regulamento) (Vide Lei nº
12.527, de 2011).

46
LEI Nº 12.527 , DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011.Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 30 de Abril de 2021.
47
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 22 de Agosto de
2021.
35

Diante a tal expressividade, é preciso ainda enfatizar que a publicidade administrativa


ou o acesso à informação constituem um suporte inegável do que se pode chamar de
Democracia ativamente participativa.
A concepção de que o direito à informação na administração pública é indispensável
para que a própria administração possa funcionar de maneira mais eficiente, legal, moral e
transparente, muda também a acepção da sociedade, pois, se é transparente, logo, é para que
seja visto, e se é para ser visto, é de interesse de todos.
Diante ao exposto, entende-se que a administração pública ao trabalhar para que haja
uma sociedade aberta, todo caminho está sujeito à informação e mais do que isto, a dar
publicidade aos atos administrativos, não pelo fato de mostrar atuação diante daqueles que
confiaram seu voto, mas sim, a luz de uma democracia administrativa participativa.
O artigo 9º da Lei de acesso à informação, preconiza que, não basta o cidadão saber
que ele possui o direito em ter acesso à informações da administração pública, mas cabe
também à própria administração incentivar e orientar o cidadão quanto à esse acesso:

Art. 9º O acesso a informações públicas será assegurado mediante:


I - criação de serviço de informações ao cidadão, nos órgãos e entidades do poder
público, em local com condições apropriadas para:
a) atender e orientar o público quanto ao acesso a informações;

2.1.1 - Da Transparência e Publicidade Administrativa.

Pode parecer cômico, mas “publicidade” e “transparência” não são sinônimos. Há uma
grande diferença que não é apenas morfológica, mas também política e história.
Publicidade é a divulgação das atividades realizadas pela administração pública. É o
modo como ela é disposta para se ter acesso. Publicidade remete ao público, e o que é
público, é para todos. Dentro da administração pública, a publicidade deve conter
características no âmbito educativo, informativo ou de orientação social conforme disposto no
artigo 37, § 1º da Constituição Federal:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não
podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
de autoridades ou servidores públicos.
36

Por vez, a transparência trata-se de um termo moderno que requer nitidez aos atos
administrativos, que garanta o acesso da sociedade à informação e permita seu controle por
parte de cada cidadão, sendo a transparência legitimada pelo estado de direito, enquanto a
publicidade tem sua fonte na democracia. Nas palavras de Bobbio 48:

Para poder viver e reforçar-se, uma democracia necessita da máxima extensão da


relação de confiança recíproca entre os cidadãos, e, portanto da eliminação, tão
completa possível, da estratégia da simulação e do engano.

De forma efetiva, podemos dizer que, a finalidade do princípio que garante aos
cidadãos acesso às informações, é levar ao conhecimento do público os atos praticados no
exercício da função administrativa do agente público, seja na esfera municipal, estadual ou
federal. Em uma constituição onde se diz ser um Estado Democrático de Direito, é inegável
que se limite o acesso à informação pelos cidadãos, já que estes, por mais que não saibam, são
pessoas de direitos e deveres perante a democracia.
Não só como um mecanismo de transparência pública, mas o acesso à informação e a
transparência pública, possibilitam a fiscalização dos órgãos competentes.
Tal prerrogativa é assegurada através do próprio texto constitucional como já
mencionado, mas também devemos enaltecer o artigo 5º, em seu inciso LXXII que nos
confere como remédio constitucional o habeas data, que possibilita solucionar qualquer
controvérsia quando tal direito seja violado.

2.2 - Do Acesso à Informação.

O acesso à informação permite que o cidadão enquanto ser de direitos e deveres dentro
de um Estado Democrático de Direito controle as atividades administrativas, o que possibilita
a fiscalização de possíveis irregularidades, atos ilegais e a corrupção.
A necessidade de participação do cidadão na tomada de decisões da administração
pública através do acesso à informação cria o que chamamos de assimetria de dados, sendo
que de um lado está o órgão administrativo possuidor de todos os dados e informações e, de
outro lado, o cidadão. O acesso à informação coloca o cidadão em linha reta com a
administração pública e é onde se concretiza a democratização da transparência e da
publicidade administrativa.

48
BOBBIO, Norberto. Elogio da Serenidade e outros escritos morais. 2.ed. Tradução de Marco Aurélio
Nogueira. São Paulo: Unesp, 2011.p.98-99.
37

O acesso à informação pública é uma garantia constitucional prevista do artigo 5º,


inciso XXXIII, da nossa Constituição Federal, que dispõe:

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

Ainda na Constituição Federal, podemos observar o artigo 216, §2º que diz:

§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação


governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela
necessitem.

Diante de tais garantias, percebe-se que a sociedade através de tal inciso goza de maior
capacidade de escolha, pois está dotada de livre acesso à informação e é capaz de ter
determinado esclarecimento sobre todos os fatos, atos e operações realizadas pela
administração pública. Destarte, uma sociedade informada e com livre acesso à informação
pública não necessita ser tutelada pelo Estado, pois automaticamente têm afastado o meio
errôneo.

2.2.1 - Do Remédio Constitucional e da Garantia ao Acesso à Informação.

O direito à informação é garantido pelo habeas data, conforme disposto no artigo 5º,
inciso LXXII a seguir exposto:

LXXII - conceder-se-á "habeas-data":


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;

A partir de tal disposto, observa-se que tal remédio constitucional atua de forma
restritiva.
De outro modo, o direito à informação deve ser assegurado pelas vias ordinárias ou
por mandado de segurança, haja vista que, nenhuma lesão ou ameaça a direito pode ser
recusada diante da apreciação do Poder Judiciário, conforme exposto também no artigo 5º,
inciso XXXV:
38

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a


direito;

O direito à informação está disciplinado pela Lei N 9.507/97 49. Seu parágrafo único do
primeiro artigo nos diz:

Art. 1º (VETADO)
Parágrafo único. Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados
contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que
não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das
informações.

Tal texto nos deixa claro que o direito à informação que é protegido pelo habeas data
somente poderá ser exercido quando a informação esteja depositada em órgão ou entidade que
forneça dados a terceiros, não cabendo direito de impetrar tal remédio constitucional caso a
informação seja para uso exclusivo do próprio órgão ou entidade.
O direito à informação através do habeas data é exercido mediante requerimento
dirigido ao órgão ou entidade depositária do registro ou banco de dados e dever ser deferido
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. Após esse prazo, o órgão tem o prazo de 24 (vinte e
quatro) horas para comunicar o requerente.

2.3 - Da Lei de Acesso à Informação.

A Lei de Acesso à Informação, Lei nº 12527 de 2011, estabelece procedimentos


destinados a assegurar o direito fundamental de acesso à informação e determina ainda que é
dever do Estado garantir tal acesso de forma transparente em linguagem clara e de fácil
compreensão conforme artigos 3º e 5º:

Art. 3º Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a assegurar o direito


fundamental de acesso à informação e devem ser executados em conformidade com
os princípios básicos da administração pública e com as seguintes diretrizes:
I - observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção;
II - divulgação de informações de interesse público, independentemente de
solicitações;
III - utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da informação;
IV - fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência na administração
pública;

49
LEI Nº 9.507 DE 12 DE NOVEMBRO DE 1997.Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9507.htm>. Acesso em: 30 de Abril de 2021.
39

V - desenvolvimento do controle social da administração pública.

Art. 5º É dever do Estado garantir o direito de acesso à informação, que será


franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e
em linguagem de fácil compreensão.

A Lei nº 12.527 de 2011, assegura o acesso à informação pertinente à administração


do patrimônio público e utilização dos recursos públicos sem contratos administrativos. A lei
objetiva a obtenção de significativos avanços no acesso à informação da atividade dos entes
públicos e dos atos praticados pelo agente administrativo.
Embora o direito de acesso à informação esteja expresso em nosso texto
constitucional, o direito à informação demandava de um instrumento legal que regulasse tal
direito.
A publicação da Lei nº 12.527 de 2011, representou um marco na conquista já que,
com sua ausência, a sociedade ficava a mercê de uma administração transparente.
Com a sua promulgação, o Brasil passou a ser o 89º país a ter uma legislação especial
que regulamenta o assunto. A adoção de uma lei específica de acesso à informação foi tema
de grandes discussões internacionais, sendo inclusive, recomendada pela ONU.
Tal legislação trouxe a definição dos mecanismos, prazos e procedimentos adotados
para que a informação seja solicitada à administração pública pelos cidadãos. Garante também
que o ente público deve zelar pela transparência nas informações a serem prestadas tanto às
pessoas físicas quanto às pessoas jurídicas como forma de efetivação através de sua
disponibilidade, autenticidade e integridade.
Além da Lei que regulamenta o acesso à informação, o Decreto Nº 7.724 de 16 de
Maio de 2012, define os procedimentos a serem adorados, determinada o significado de
terminologias, caracteriza os trâmites da solicitação do pedido para ter acesso às informações,
prazos obedecidos, fiscalização para que haja o controle efetivo e fiel por parte da
administração pública.
Evidencia-se que o acesso à informação disciplinado pela Lei Lei nº 12.527 de 2011 e
pelo Decreto Nº 7.724 de 16 de Maio de 2012 não podem ser aplicados: I- às hipóteses de
sigilo previstas na legislação, como fiscal, bancário, de operações e serviços no mercado de
capitais, comercial, profissional, industrial e segredo de justiça; e II- às informações referentes
a projetos de pesquisa e desenvolvimento científicos ou tecnológicos cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, na forma do §1 do art. 7 da
Lei 12.527/2011.
40

2.3.1 - Das Modalidades de Transparência à Informação.

A Legislação traz duas modalidades, sendo a Transparência Ativa e a Transparência


Passiva.
Na Transparência Ativa, os órgãos públicos devem promover independente de
requerimento (com autonomia e vontade) a publicação de seus atos através de meios
acessíveis para que a informação chegue de forma rápida e objetiva até o cidadão, conforme
expresso em seu artigo 8ª50:

Art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de


requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas
competências, de informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou
custodiadas.
§ 1º Na divulgação das informações a que se refere o caput, deverão constar, no
mínimo:
I - registro das competências e estrutura organizacional, endereços e telefones das
respectivas unidades e horários de atendimento ao público;
II - registros de quaisquer repasses ou transferências de recursos financeiros;
III - registros das despesas;
IV - informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os respectivos
editais e resultados, bem como a todos os contratos celebrados;
V - dados gerais para o acompanhamento de programas, ações, projetos e obras de
órgãos e entidades; e
VI - respostas às perguntas mais frequentes da sociedade.
§ 2º Para cumprimento do disposto no caput, os órgãos e entidades públicas deverão
utilizar todos os meios e instrumentos legítimos de que dispuserem, sendo
obrigatória a divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores
(internet).
§ 3º Os sítios de que trata o § 2º deverão, na forma de regulamento, atender, entre
outros, aos seguintes requisitos:
I - conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso à informação de
forma objetiva, transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão;
II - possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive
abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise
das informações;
III - possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos em formatos abertos,
estruturados e legíveis por máquina;
IV - divulgar em detalhes os formatos utilizados para estruturação da informação;
V - garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis para acesso;
VI - manter atualizadas as informações disponíveis para acesso;
VII - indicar local e instruções que permitam ao interessado comunicar-se, por via
eletrônica ou telefônica, com o órgão ou entidade detentora do sítio; e
VIII - adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade de conteúdo para
pessoas com deficiência, nos termos do art. 17 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro
de 2000, e do art. 9º da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
aprovada pelo Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008.

50
LEI Nº 12.527, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 30 de Abril de 2021.
41

Por vez a Transparência Passiva está prevista no artigo 9ª da referida Lei, conforme a
seguir exposto:

Art. 9º O acesso a informações públicas será assegurado mediante:


I - criação de serviço de informações ao cidadão, nos órgãos e entidades do poder
público, em local com condições apropriadas para:
a) atender e orientar o público quanto ao acesso a informações;
b) informar sobre a tramitação de documentos nas suas respectivas unidades;
c) protocolizar documentos e requerimentos de acesso a informações; e
II - realização de audiências ou consultas públicas, incentivo à participação popular
ou a outras formas de divulgação.

Ou seja, a administração pública deve facilitar o acesso do cidadão às informações


prestadas através do Serviço de Informações ao Cidadão (SIC) , que deverá atender e orientar
a população informando sobre a tramitação de documentos e se for o caso, registrar e
protocolar pedidos de acesso à informação.

2.4 - Dos Instrumentos de Acessos às Informações.

A divulgação tradicionalmente oferecida pela administração pública se dá através do


Diário Oficial, mas hoje, os meios eletrônicos e as mídias ganham espaços cada vez maiores
por se popularizarem como meio de obtenção de informação.
A utilização de instrumentos de informação eletrônica e digital assegura uma
importante função para o bom funcionamento da administração pública, com o objetivo de
viabilizar mecanismo eficiente e ágil para divulgação de dados do interesse coletivo.
Com o passar dos anos e com a alta tecnologia, o acesso aos meios eletrônicos
possibilita cada vez mais que a divulgação de informações por parte da administração pública
se amplie.
Nota-se que cada vez mais o acesso à informação torna-se mais valioso para a
máquina estatal, de modo a aperfeiçoar seu funcionamento e seu controle diante da população.
Podemos citar ainda como exemplo de fiscalização as regras contidas na Lei
Complementar nº 101/200051, onde estabelece que os planos, orçamentos e leis de diretrizes
orçamentárias devem ser transparentes, conforme os seus artigos 48, § 1º e 2º e 48-A

51
LEI COMPLEMENTAR Nº 101, DE 4 DE MAIO DE 2000. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm> Acesso em 30 de Abril de 2021.
42

Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada
ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos,
orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo
parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de
Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.
§1o A transparência será assegurada também mediante: (Redação dada
pela Lei Complementar nº 156, de 2016)
I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os
processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e
orçamentos; (Incluído pela Lei Complementar nº 131, de 2009).
II - liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo
real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em
meios eletrônicos de acesso público; e (Redação dada pela Lei Complementar nº
156, de 2016)
III – adoção de sistema integrado de administração financeira e controle, que atenda
a padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União e ao
disposto no art. 48-A. (Incluído pela Lei Complementar nº 131, de 2009)
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disponibilizarão suas
informações e dados contábeis, orçamentários e fiscais conforme periodicidade,
formato e sistema estabelecidos pelo órgão central de contabilidade da União, os
quais deverão ser divulgados em meio eletrônico de amplo acesso público.
Art. 48-A. Para os fins a que se refere o inciso II do parágrafo único do art. 48, os
entes da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a
informações referentes a: (Incluído pela Lei Complementar nº 131, de
2009).
I – quanto à despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da
execução da despesa, no momento de sua realização, com a disponibilização mínima
dos dados referentes ao número do correspondente processo, ao bem fornecido ou ao
serviço prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando for
o caso, ao procedimento licitatório realizado; (Incluído pela Lei
Complementar nº 131, de 2009).
II – quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades
gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários.

Hoje se tornou muito mais fácil e rápido o acesso às informações administrativas


através de sites e mecanismos eletrônicos que possibilitam a checagem das informações de
interesse público, pessoal ou coletivo.52
Viabilizar o acesso do cidadão através do Site Oficial e mídias sociais como Facebook
e Instagram, garantem uma maior interação e proximidade do ente público com a coletiva,
além de ser de baixo custo para a própria administração pública, mas, nada impede que os
atos administrativos sejam publicados através de jornais e revista idôneos, apesar de sua
abrangência, em era de tecnologia, ser bem menor.
A nossa realidade quanto aos meios de comunicação superou qualquer outro meio de
comunicação antes existente, mas mesmo diante de tanta inovação não se pode deixar de
assegurar a segurança e a inviolabilidade dos meios utilizados.

52
BINENBOJM, Gustavo. O princípio da publicidade e a eficácia da divulgação de atos do poder público
pela internet. RBDP nº 13, p-89-111, abr/jun 2016.
43

Os instrumentos de acesso à informação, além de levar até aos cidadãos as


informações sobre os atos praticados pela administração pública, como parece óbvio, se torna
uma excelente ferramenta para o controle do poder exercido, oferecendo oportunidades de
participação da sociedade nas tomadas de decisões dos agentes públicos, 53pois uma sociedade
com livre acesso às informações e esclarecida, se torna mais participativa perante os fatos e
atos da administração.

53
BOBBIO, Norberto. Elogio da serenidade e outros escritos morais, op. cit, p.83; id, Estado, governo,
sociedade. Para uma teoria geral da política. 9 ed. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Paz e Terra,
1987. p.30.
44

3 - DA EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS E GARANTÍAS ATRAVÉS DO PRINCÍPIO


CONSTITUCIONAL DA PUBLICIDADE NO ÂMBITO DA LEI Nº 12.527/11.

O Direito de acesso à informação é um direito fundamental para a vida em sociedade e


para a efetivação dos direitos constitucionais através de suas garantias. A base deste direito é
fundamentada no princípio de que todo e qualquer cidadão tem direito de ter acesso às
informações e saber como o poder público investe e utiliza as verbas públicas e como as
mesmas estão sendo aplicadas e quais os retornos esperados dentro da sociedade em que vive.
Tal direito exige não somente do cidadão o dever de cobrar o acesso às informações,
bem como a imposição à administração de efetivar suas obrigações por parte do agente
público. Primeiro, o poder público tem a obrigação de disseminar qual informação será levada
a público e como será levada e sua essencialidade e segundo, o agente público tem a
obrigação de receber de qualquer cidadão pedidos de informações e respondê-los de modo
que a sociedade tenha um respaldo originário de um ente que de acordo com a Constituição,
tem o dever de prestar contas à todos.
O Princípio da Publicidade não está ligado apenas ao ato já pronto e acabado, mas tem
ligação essencial com seus fundamentos e os procedimentos utilizados para alcançá-lo.
Tal princípio decorre originalmente da probidade que deve nortear os representantes
do povo no poder executivo em um meio democrático de direito, e passar a funcionar como
uma garantia em todos os atos estatais.
Desta forma, podemos pensar que, se os agentes públicos são probos e seus atos
revestidos de presunção de probidade, veracidade, moralidade, legalidade, impessoalidade e
eficiência, não há justificativa para que tal ato não se torne público através do princípio da
publicidade e do direito de acesso à informação.54

3.1 - DA Legislação.

A importância de um amparo legal específico sobre acesso à informação foi


reconhecida e recomendada por organizações internacionais como a ONU, OEA e OSCE –
Organização para Segurança e Cooperação na Europa.
Sua criação objetivou ditar normas para assegurar a proteção deste direito fundamental
de acesso à informação.

54
RDA- Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v.266, p89-123, agosto de 2014.
45

O conceito de informação é dado pela própria lei, que define “como dados,
processados ou não, que podem ser utilizados para a produção e transmissão de
conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato".55
Conforme o artigo 2º da Lei 12.527/11, os procedimentos previstos nesta legislação
aplicam-se à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, porém, não se limita a eles.
Contempla, também, quaisquer órgãos públicos integrantes da administração direta dos
Poderes Executivos, legislativos, incluindo Cortes de Contas, e Judiciário e do Ministério
Público.
A Criação da Lei 12.527/2011, veio ao encontro da tendência da burocracia estatal em
manter sigilo dos seus atos. Seu texto contém diretrizes dentre as quais a observância da
publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção, uma vez que o domínio da
informação seria uma inegável fonte de poder, conforme exemplifica o inciso III, art 4º da
mencionada lei de acesso à informação:

Art. 4º Para os efeitos desta Lei, considera-se:


III - informação sigilosa: aquela submetida temporariamente à restrição de acesso
público em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do
Estado.

Um cidadão bem informado tem melhores condições de conhecer e acessar outros


direitos essenciais, como saúde, educação e benefícios sociais. Na cultura de acesso, o fluxo
de informações favorece a tomada de decisões, a boa prática da gestão pública e a inclusão do
cidadão.
Desta forma, o acesso à informação constitui uma ferramenta essencial para combater
a corrupção, transforma em realidade o princípio da transparência na gestão pública e melhora
a qualidade de vida de forma geral, conforme exemplifica Guilherme Canela e Solano
Nascimento:

A população saberá que as informações públicas são um bem de propriedade de


todos os brasileiros [...] e não um instrumento de poder deste ou daquele governante,
deste ou daquele funcionário público. Os corruptores e os corruptos que se
escondem sob o manto da desinformação e do segredo serão expostos pelo dever da
56
transparência, pela luz do dia. A ética e os éticos só tendem a ganhar.

55
LEI Nº 12.527 , DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 30 de Abril de 2021.

56
CANELA, Guilherme; NASCIMENTO, Solano (Coord.). Acesso à informação e controle social das
políticas públicas. Brasília: Artigo 19, 2009.
46

Com a efetiva prática do Princípio da Publicidade através de legislação pertinente para


um satisfatório Estado Democrático de Direito através de tecnologias busca-se cada vez mais
um governo visível, seja ele Federal, Estadual ou Municipal, controlável e responsável, para
que possa proclamar e ter clareza de seus atos praticados e que os disponibilize com a
transparência necessária para que surta seus efeitos.
No cumprimento da Lei, devem ser assegurados pelos órgãos e entidades do Poder
Público: a gestão transparente da informação, propiciando amplo acesso a ela e sua
divulgação; a proteção da informação, garantidos e sua disponibilidade, autenticidade e
integridade; e a proteção da informação sigilosa e da informação pessoal, observada a sua
disponibilidade, autenticidade, integridade e eventual restrição de acesso.
Quanto à transparência passiva, refere-se às informações que, apesar de não serem
espontaneamente apresentadas pelo Governo, podem ser requeridas pelo cidadão, mediante
identificação do requerente e dispensada à motivação.
Nesse sentido, a Lei determina que o pedido deva ser possibilitado no portal oficial do
órgão ou entidade e, se não for possível a entrega imediata do que é pedido, define o prazo
máximo de vinte dias (prorrogáveis por mais dez) para que seja realizada. Se o documento
estiver em forma digital, será entregue ao Requerente da mesma forma, e se a informação
estiver disponível “universalmente”, será informado o local onde pode ser obtido. Se o
documento estiver impresso e forem necessárias cópias, apesar do serviço de busca e
fornecimento da informação ser gratuito, será cobrado o valor relativo à reprodução, salvo se
o requerente for pobre nas acepções legais.

3.2 - Da Legislação em Prol da Coletividade.

Ao obter informações dos órgãos públicos, o cidadão tem a possibilidade de


acompanhar como o dinheiro público está sendo utilizado e passa a ser um fiscal da correta
aplicação desses recursos. “O “cidadão-fiscal” é um agente relevante no processo de
fiscalização da utilização responsável dos recursos públicos, atuando como elemento inibidor
da corrupção, de fraudes e da malversação de recursos públicos”57

57
Transparência pública. 2011. Disponível em: http://www.portaltransparencia.gov.br/pagina-interna/603399-
controle-social. Acesso em: 02 de Setembro de 2020.
47

“Com esta lei o Brasil dá mais um importante passo para a consolidação do seu regime
democrático, ampliando a participação cidadã e fortalecendo os instrumentos de controle da
gestão pública”
Neste sentido, Banisar58 afirma que:

“Os países que implementaram legislação para garantir o acesso à informação


tornaram-se mais eficientes e menos suscetíveis à corrupção”.

Não obstante, o livre acesso às informações produzidas pelos órgãos públicos


constitui-se em um dos alicerces para a consolidação da democracia, ao fortalecer a
capacidade do cidadão de participar, de modo eficaz, da tomada de decisões que os atinja.
Aduz-se, desta forma, que a edição da lei 12.527/11 terá o condão de produzir uma
sociedade melhor informada, com seus direitos fundamentais mais protegidos, com gestões
públicas mais transparentes e eficazes, refletindo em uma população mais consciente de seus
direitos, contribuindo assim para a consolidação da democracia.
A Lei nº 12.527/11 assegura o acesso à informação pertinente à administração do
patrimônio público e utilização dos recursos públicos sem contratos administrativos. A lei
objetiva a obtenção de significativos avanços no acesso à informação da atividade dos entes
públicos e dos atos praticados pelo agente administrativo.
Embora o direito de acesso à informação esteja expresso em nosso texto
constitucional, o direito à informação demandava de um instrumento legal que regulasse tal
direito.
A publicação da Lei nº 12.527 de 2011, representou um marco na conquista já que,
com sua ausência, a sociedade ficava a mercê de uma administração transparente.
Com a sua promulgação, o Brasil passou a ser o 89º país a ser uma legislação especial
que regulamenta o assunto. A adoção de uma lei específica de acesso à informação foi tema
de grandes discussões internacionais, sendo inclusive, recomendada pela ONU.
Conforme disposto na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, mais precisamente,
inciso XXXIII, “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade

58
BANISAR, David. Liberdade de informação combate corrupção, diz sociedade civil. In: FÓRUM
GLOBAL DE CORRUPÇÃO, 4., 2005, Brasília. Anais eletrônicos... Brasília: CGU, 2005. Disponível em: .
Acesso em: 02 de Setembro de 2020.
48

e do Estado”59. Tal menção mostra que não basta apenas a motivação à Administração
Pública, pois, o Princípio da Publicidade faz com que a administração garanta que qualquer
pessoa tenha acesso às informações referentes aos atos administrativos praticados,
preferencialmente de maneira clara e amplamente publicada.
Destarte, o Princípio da Publicidade obriga a Administração Pública a levar à
sociedade todos os atos que produz e que sejam de interesse público, inclusive seus
fundamentos e sua motivação. Publicar os atos, portanto, concerne de componente
indispensável à gestão pública democrática, sendo, igualmente, “condição essencial dos atos e
decisões administrativas”, conforme leciona Demócrito Ramos.60

3.3 - Do Acesso às Informações Públicas,

Qualquer pessoa natural ou jurídica poderá formular pedido de acesso à informação.


A Lei de acesso à informação define os mecanismos, prazos e procedimentos para a
entrega das informações solicitadas à administração pública pelos cidadãos, o que aqui
podemos ressaltar que os órgãos públicos deverão zelar pela transparência nas informações a
serem prestadas aos solicitantes seja pessoa física ou jurídica, assegurando a gestão
transparente da informação, propiciando amplo acesso a ela e sua divulgação, a proteção da
informação, garantindo-se sua disponibilidade, autenticidade e integridade; e a proteção da
informação sigilosa e da informação pessoal, observada a sua disponibilidade, autenticidade,
integridade e eventual restrição de acesso.
O Decreto nº 7.724 de 16 de maio de 2012 estipula os procedimentos, determina o
significado de terminologias, especifica os trâmites da solicitação do pedido ao acesso as
informações, prazos, recursos em caso da negativa do órgão responsável, responsabilidades
dos servidores, fiscalização e controle para o bom e fiel cumprimento por parte da
administração pública da aplicação e prática do direito de informação.
A busca e o fornecimento da informação são gratuitos, ressalvada a cobrança do valor
referente ao custo dos serviços e dos materiais utilizados, tais como reprodução de
documentos, mídias digitais e postagem, o que no caso do solicitante não puder prover com
condições em razão de sua situação econômica não lhe permita fazê-lo sem prejuízo do
59
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 08 de Julho de
2020.
60
REINALDO, Demócrito Ramos. “A publicidade dos atos e decisões administrativas”, in Revista Forense,
out-dez/1998
49

sustento próprio ou da família, estará isento de proceder com o ressarcimento quanto aos
custos dos serviços e dos materiais utilizados, o que aqui se aplica o definido da prova
documental no caso da declaração de pobreza conforme previsto na Lei 7.115/1984.
A abrangência para a solicitação ao acesso às informações está sujeita perante aos
órgãos da administração direta, as autarquias, as fundações públicas, as sociedades de
economia mista e as demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União.
As informações relativas à atividade empresarial de pessoas físicas ou jurídicas de
direito privado obtidas pelo Banco Central do Brasil, pelas agências reguladoras ou por outros
órgãos ou entidades no exercício de atividade de controle, regulação e supervisão da atividade
econômica cuja divulgação possa representar vantagem competitiva a outros agentes
econômicos, nãos estão sujeitas ao disposto no que foi regulado pelo Decreto
7.724/2012 (regulamento do direito ao acesso à informação).
Cumpre ressaltar que o acesso à informação disciplinado pela Lei e pelo Decreto não
se aplica: I - às hipóteses de sigilo previstas na legislação, como fiscal, bancário, de operações
e serviços no mercado de capitais, comercial, profissional, industrial e segredo de justiça; e II
- às informações referentes a projetos de pesquisa e desenvolvimento científicos ou
tecnológicos cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, na forma
do §1 do art. 7 da Lei 12.527/2011.

3.4 - Do Caráter Informativo e Impessoal das Informações.

A publicidade dos atos, obras, serviços, programas e até mesmo campanhas


publicitárias administrativas dos órgãos públicos, devem obedecer primordialmente a natureza
educativa, informativa e social. Tal prerrogativa nos remete ao princípio da impessoalidade e
moralidade, onde os atos do agente público devem evidenciar a imagem da administração
pública como um órgão do poder executivo e não quem os executa.
As informações dos atos realizados pelo agente público não podem conter nomes,
símbolos ou imagens que o favoreçam em caráter pessoal.
A informação de caráter informativo pressupõe que a publicidade dos atos seja feita de
forma clara e objetiva que facilite a compreensão pelo público em geral, sem fazer distinção
de grau de cultura e escolaridade.
50

Neste parâmetro devemos observar a Lei Complementar Nº 95 de 26 de fevereiro de


1998, que traz em seu texto diretrizes necessárias para que as leis sejam elaboradas de forma
clara e precisa, conforme disposto em seu artigo 11, incisos I, II e III:

Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem
lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas:
I - para a obtenção de clareza:
a) usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a norma
versar sobre assunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura própria
da área em que se esteja legislando;
b) usar frases curtas e concisas;
c) construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e
adjetivações dispensáveis;
d) buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto das normas legais, dando
preferência ao tempo presente ou ao futuro simples do presente;
e) usar os recursos de pontuação de forma judiciosa, evitando os abusos de caráter
estilístico;
II - para a obtenção de precisão:
a) articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita compreensão
do objetivo da lei e a permitir que seu texto evidencie com clareza o conteúdo e o
alcance que o legislador pretende dar à norma;
b) expressar a ideia, quando repetida no texto, por meio das mesmas palavras,
evitando o emprego de sinonímia com propósito meramente estilístico;
c) evitar o emprego de expressão ou palavra que confira duplo sentido ao texto;
d) escolher termos que tenham o mesmo sentido e significado na maior parte do
território nacional, evitando o uso de expressões locais ou regionais;
e) usar apenas siglas consagradas pelo uso, observado o princípio de que a primeira
referência no texto seja acompanhada de explicitação de seu significado;
f) grafar por extenso quaisquer referências a números e percentuais, exceto data,
número de lei e nos casos em que houver prejuízo para a compreensão do
texto; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
g) indicar, expressamente o dispositivo objeto de remissão, em vez de usar as
expressões ‘anterior’, ‘seguinte’ ou equivalentes; (Incluída pela Lei Complementar
nº 107, de 26.4.2001)
III - para a obtenção de ordem lógica:
a) reunir sob as categorias de agregação - subseção, seção, capítulo, título e livro -
apenas as disposições relacionadas com o objeto da lei;
b) restringir o conteúdo de cada artigo da lei a um único assunto ou princípio;
c) expressar por meio dos parágrafos os aspectos complementares à norma
enunciada no caput do artigo e as exceções à regra por este estabelecida;
d) promover as discriminações e enumerações por meio dos incisos, alíneas e itens.

Diante de tais informações, pode-se dizer que, a publicidade independe do seu fim, é
um meio, um instrumento que viabiliza e garante a realização de outros valores sociais que
estimulam o desenvolvimento individual e coletivo da sociedade, sendo, portanto, condição
essencial para o efetivo exercício de outros direitos fundamentais, como o direito à
informação, direito à participação política, expressão e opinião.61

61
RDA- Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v.266, p89-123, agosto de 2014.
51

3.5 - Da Classificação da Publicidade e dos Atos Administrativos.

A publicidade dos atos administrativos pode ser dividida em Publicidade Oficial e


Publicidade Ampla. A primeira decorre essencialmente do próprio ato de publicar, ou seja,
decorre para a própria publicação através dos meios oficiais para que possa produzir seus
efeitos. A Publicidade Oficial é requisito para que se cumpra o princípio da eficácia, sendo
primordial para que se analise a possibilidade do ato se tornar nulo, anulável ou convalidado.
Através da Publicidade Oficial, atinge-se o principal objetivo do Princípio da Publicidade que
é tornar público o ato para que ele possa cumprir seus efeitos.
Por vez, a Publicidade Ampla, decorre do dever da administração pública em prestar
informações do próprio poder que exerce, fazendo jus à amplitude necessária para que a
informação tenha caráter informativo, extensão conglobante, conteúdo plural, e legitimidade
ativa universal no meio em que irá surtir seus efeitos.

3.5.1 - Da Publicidade Proativa e Reativa.

A Publicidade Proativa consiste no dever da administração pública de forma autônoma


e por iniciativa própria, em publicar e tornar a informação acessível à coletividade. Trata-se
de uma obrigação por parte da administração pública em manter as informações disponíveis
sem que ela seja provocada para praticar tal ato.
Por vez, a Publicidade Reativa depende da reação do cidadão, ou seja, depende de
solicitação para que se obtenha a informação desejada. O mesmo pode-se dar perante o habeas
data como já citado anteriormente.62

3.6 - Da Moderação à Publicidade, dos Atos e Sigilo.

Como sabemos tudo que é exagerado, incomoda. E com as informações não é


diferente. Transparência unida à publicidade formam um conjunto que favorece os princípios
expressos em nossa Constituição Federal. Todavia, os requisitos de tais princípios não são tão
convalidados quando estão sendo expostos em excesso, pois, quanto maior a publicidade dos
atos maior é a abertura que a própria administração dará para a população em exigir

62
NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. São Paulo: Método, 2018.
52

prestações de contas. Não que isso não seja pertinente à sociedade, pelo contrário, mas tudo
que é em excesso acaba sendo prejudicial, como diz o próprio ditado “ dar corda para se
enforcar”.
Para respeitar os limites das informações e publicidade dos atos praticados pela
administração pública, deve-se analisar alguns critérios para denotar que o ato é passível de
publicação ou não, sendo eles: I- a natureza do instrumento que deve ser esclarecido; II-
patologias e aberturas para diagnósticos; III- condições para aumentar a transparência de tal
ato e IV- contribuição do ato para o efetivo controle de qualidade da democracia.
A inobservância de alguns desses critérios ao publicar os atos, pode fazer com que
algumas necessidades artificiais possam dominar necessidades reais, principalmente por conta
da forte influência das mídias e Fake News nos meios de comunicação social.63
Por vez, os dados e informações sigilosos devem ser classificados de acordo com o
disposto no artigo 23 da Lei Nº12.527/11 64:

Art. 23. São consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado e,


portanto, passíveis de classificação as informações cuja divulgação ou acesso
irrestrito possam:
I - pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a integridade do território
nacional;
II - prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações
internacionais do País, ou as que tenham sido fornecidas em caráter sigiloso por
outros Estados e organismos internacionais;
III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população;
IV - oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou monetária do
País;
V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das Forças
Armadas;
VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e desenvolvimento científico
ou tecnológico, assim como a sistemas, bens, instalações ou áreas de interesse
estratégico nacional;
VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridades nacionais ou
estrangeiras e seus familiares; ou
VIII - comprometer atividades de inteligência, bem como de investigação ou
fiscalização em andamento, relacionadas com a prevenção ou repressão de infrações.

Os dados e informações que são tidos como sigilosos são classificados em três
modalidades também conforme a Lei anteriormente mencionada, em seu respectivo artigo 24,
§1º e 2º65 :

63
RDA- Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v.266, p89-123, agosto de 2014.
64
LEI Nº 12.527 , DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011.Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 30 de Abril de 2021.

65
LEI Nº 12.527 , DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011.Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 30 de Abril de 2021.
53

Art. 24. A informação em poder dos órgãos e entidades públicas, observado o seu
teor e em razão de sua imprescindibilidade à segurança da sociedade ou do Estado,
poderá ser classificada como ultrassecreta, secreta ou reservada.
§ 1º Os prazos máximos de restrição de acesso à informação, conforme a
classificação prevista no caput, vigoram a partir da data de sua produção e são os
seguintes:
I - ultrassecreta: 25 (vinte e cinco) anos;
II - secreta: 15 (quinze) anos; e
III - reservada: 5 (cinco) anos.
§ 2º As informações que puderem colocar em risco a segurança do Presidente e
Vice-Presidente da República e respectivos cônjuges e filhos(as) serão classificadas
como reservadas e ficarão sob sigilo até o término do mandato em exercício ou do
último mandato, em caso de reeleição.

Desta forma, observa-se que o grau de sigilo deve ser qualificado por uma autoridade
competente, fundamentado em lei que fixe os parâmetros necessários dentro de sua
classificação, impedindo que a escada de sigilo ou a informação publicada dependa da
discricionariedade do servidor que detém a guarda de determinada informação.

3.7 – Lei Geral de Proteção de Dados ( LGPD)

A Lei Federal n. 13.709, de 14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados –


LGPD), além das disposições sobre o tratamento de dados pessoais tantos nos meios físicos e
digitia,s trouxe também amparo legal para os dados pessoais utilizados pela Administração
Pública.
Se tratando de um ente público, deve-se observar primeiramente que a Administração
Público encontra-se ampara pelo princípio constitucional da legalidade, ou seja, seus atos
devem ser legais e isso mesmo antes da promulgação da referida lei.
Os dados pessoais, que trata a Lei Federal n. 13.709, de 14 de agosto de 2018,
preconiza que os dados pessoais processados pela Administração Pública, deverá ser realizado
independentemente do consentimento do titular, conforme nos mostra o artigo 11, inciso II 66:

Art. 11. O tratamento de dados pessoais sensíveis somente poderá ocorrer nas
seguintes hipóteses:
II - sem fornecimento de consentimento do titular, nas hipóteses em que for
indispensável para:
a) cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador;

66
Lei Federal n. 13.709, de 14 de agosto de 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em 04 de
Novembro de 2021.
54

b) tratamento compartilhado de dados necessários à execução, pela administração


pública, de políticas públicas previstas em leis ou regulamentos;
c) realização de estudos por órgão de pesquisa, garantida, sempre que possível, a
anonimização dos dados pessoais sensíveis;
d) exercício regular de direitos, inclusive em contrato e em processo judicial,
administrativo e arbitral, este último nos termos da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de
1996 (Lei de Arbitragem) ;
e) proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiro;
f) tutela da saúde, em procedimento realizado por profissionais da área da saúde ou
por entidades sanitárias; ou
f) tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais de
saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária; ou
g) garantia da prevenção à fraude e à segurança do titular, nos processos de
identificação e autenticação de cadastro em sistemas eletrônicos, resguardados os
direitos mencionados no art. 9º desta Lei e exceto no caso de prevalecerem direitos e
liberdades fundamentais do titular que exijam a proteção dos dados pessoais.

Para tanto, a Lei Geral de Proteção de Dados, permite que a Administração Pública
faça o uso das informações de seus bancos de dados, observando claramente o artigo 6º da
lei67:

Art. 6º As atividades de tratamento de dados pessoais deverão observar a boa-fé e os


seguintes princípios:
I - finalidade: realização do tratamento para propósitos legítimos, específicos, explícitos
e informados ao titular, sem possibilidade de tratamento posterior de forma
incompatível com essas finalidades;
II - adequação: compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas ao titular,
de acordo com o contexto do tratamento;
III - necessidade: limitação do tratamento ao mínimo necessário para a realização de
suas finalidades, com abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não excessivos
em relação às finalidades do tratamento de dados;
IV - livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta facilitada e gratuita sobre a forma e
a duração do tratamento, bem como sobre a integralidade de seus dados pessoais;
V - qualidade dos dados: garantia, aos titulares, de exatidão, clareza, relevância e
atualização dos dados, de acordo com a necessidade e para o cumprimento da finalidade
de seu tratamento;
VI - transparência: garantia, aos titulares, de informações claras, precisas e facilmente
acessíveis sobre a realização do tratamento e os respectivos agentes de tratamento,
observados os segredos comercial e industrial;
VII - segurança: utilização de medidas técnicas e administrativas aptas a proteger os
dados pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de
destruição, perda, alteração, comunicação ou difusão;
VIII - prevenção: adoção de medidas para prevenir a ocorrência de danos em virtude do
tratamento de dados pessoais;
IX - não discriminação: impossibilidade de realização do tratamento para fins
discriminatórios ilícitos ou abusivos;
X - responsabilização e prestação de contas: demonstração, pelo agente, da adoção de
medidas eficazes e capazes de comprovar a observância e o cumprimento das normas de
proteção de dados pessoais e, inclusive, da eficácia dessas medidas.

67
Lei Federal n. 13.709, de 14 de agosto de 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em 04 de
Novembro de 2021.
55

Com a promulgação da Lei Geral de Proteção de Dados, espera-se dos entes públicos
que acima de tudo seja respeita a privacidade, a liberdade de expressão, informação e
principalmente, a disponibilidade de informações para a população, desde que inerentes nos
pressupostos da lei.
Desta forma, ao agir fora da legislação, o ente público, será responsabilizado pela
Autoridade Nacional, a qual deve informar quais serão as medidas cabíveis para que se faça
cessar à violação cometida, além de sugerir que a Administração Pública faça uma melhor
estão com profissionais capacidade, de seus dados respeitando o exposto em lei.
56

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após estudo de todo o conteúdo utilizado para realizar o presente trabalho, verifica-se
a necessidade cada vez mais ampla de disseminar perante a sociedade o seu pleno e livre
direito de exigir da administração pública a publicidade de seus atos de forma transparente,
objetiva, clara e de fácil acesso principalmente conforme disposto constitucional e legal
específico.
Como visto, trata-se de um direito amparado constitucionalmente que é positivado
através de um princípio expresso que é basilar para a administração pública.
O direito à informação, muito mais do que um ato, é uma promoção democrática para
que a sociedade participe de forma ativa dos atos realizados pelo agente público.
Com a promulgação da Lei 12.527, veio à tona os procedimentos que devem ser
observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios para que se promova a ampla
efetivação deste direito humano fundamental garantido pela nossa constituição. Tal Lei, vem
ao encontro do paradigma da burocracia estatal em manter sigilo dos atos administrativos,
mas traz também diretrizes onde a publicidade se torna um preceito geral e o sigilo se torna
uma exceção, haja vista que, tornar a informação pública é uma inegável fonte de poder nas
mãos da população.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o acesso à informação foi
levado ao patamar de direito fundamental conforme exposto nos incisos XIV, XXXIII,
XXXIV, LXXII do artigo 5º e artigo 37.
O livre acesso à informação como direito fundamental também é reconhecido pela sua
importância para o Estado Democrático de Direito, pela comunidade internacional como a
Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Ao falarmos em acesso à informação, devemos nos lembrar do Princípio da
Supremacia do Interesse Público da Administração Pública, onde todo e qualquer ato deve ser
realizado objetivando o bem-estar da coletividade. Neste âmbito, a participação da população
se faz essencial para que se possa garantir não só o bem de um, mas de todos.
Podemos observar que mecanismos democráticos dentre os quais se insere o acesso à
informação, publicidade administrativa e transparência, são indispensáveis para a promoção
cada vez maior da legalidade, moralidade, eficiência e imparcialidade.
Tal princípio fundamental nos mostra que a participação popular se faz cada vez mais
essencial para a promoção da transparência e assim, consequentemente, diminuir a corrupção
administrativa e efetivar a atuação maciça do sistema de freios e contrapesos.
57

À vista disso, promover o acesso à população aos atos realizados pelo administrador
público, oportuniza a confiança da coletividade no gestor e enseja a sua prestação de contas,
além de ser uma ferramenta de suma importância no combate à corrupção passiva e ativa e
outras formas de irregularidades por parte da administração pública.
Não menos importante e talvez o meio mais essencial atual, a celeridade que a
tecnologia nos trouxe faz com que a informação tenha um alcance amplo através dos meios de
comunicação sociais. Utilizar a tecnologia a favor da comunidade transformou a maneira
como os cidadãos utilizam a informação e podem interagir com mais proximidade da
administração pública. A tecnologia nos trouxe uma elevada possibilidade da população se
utilizar também do “poder de polícia” quanto à fiscalização do poder público e ser mais ativa
na participação de tomada de decisões. Acredito, portanto, que a tecnologia trouxe visão e
clareza para a população e, consequentemente, aumentou sua vontade em participar, de
expressar sua opinião não só através do voto, mas como um ser de direito e deveres perante a
administração pública.
A criação de leis, que regularizam o acesso à informação, permite que as políticas
públicas sejam potencializadas, desde seu planejamento até a sua execução. Mas para que as
propostas das leis sejam efetivadas, é necessário que se desenvolva uma cultura de
transparência através de estratégias consistentes de implementação que abranja uma ampla
gama de ações coordenadas que possam possibilitar, facilitar e estimular acima de tudo o
acesso às informações e não a negação de prestação de informações por parte da
administração pública e desinteresse por parte da população.
Para que se tenha uma publicidade administrativa e acesso à informação positivados, é
necessário por parte da administração pública, órgãos e entidades, utilizar todos os meios e
instrumentos legítimos possíveis de que se dispuserem, de tal maneira que a legislação seja
cumprida fazendo com que os sítios oficiais sejam utilizados primordialmente e como forma
alternativa, os meios de comunicação disponíveis que se adequarem para tal determinação.
Ao obedecer às diretrizes impostas pela legislação, teremos uma sociedade melhor
informada, mais ativa, participativa e claro, com seus direitos protegidos, através de uma
administração pública mais eficiente, transparente e eficaz, o que promove consequentemente
uma população mais consciente de seus direitos e que é capaz de participar de forma ativa da
consolidação do Estado Democrático de Direito.
Com a Lei Geral de Proteção de Dados - Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018, uma
grande inovação e segurança também rondou os entes públicos quanto à exibição e proteção
dos dados utilizados pela administração pública de seus cidadãos, uma vez que ao administrar
58

deve observar os parâmetros obedecidos por lei, o que faz com que a administração seja
beneficiada pelo princípio constitucional da legalidade.
Para tanto, com a nova Lei, espera-se por parte dos entes públicos que acima de tudo
seja respeitada a privacidade, a liberdade de expressão, informação e principalmente, a
disponibilidade de informações para a população, pois trata-se de um direito garantido
fundamentalmente pela nossa constituição.
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