Você está na página 1de 143

M TEXTOS DE MATEMÁTICA

EDITORA INSTITUTO DE MATEMÁTICA

MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES


E APLICAÇÕES ÀS EQUAÇÕES
DE EVOLUÇÃO

— ALVÉRCIO MOREIRA GOMES —

S(t) = e −t∆

1a. Edição Digital– 2022


SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

E APLICAÇÕES ÀS EQUAÇÕES DE EVOLUÇÃO

ALVÉRCIO MOREIRA GOMES

Instituto de Matemática
Universidade Federal do Rio de Janeiro

1a edição digital

Rio de Janeiro, 2022


Gomes, Alvércio Moreira, 1916 - 2003.
G633s Semigrupos de Operadores Lineares e Aplicações às Equações
de Evolução / Alvércio Moreira Gomes. - 1a Ed. Dig. - Rio de Janeiro:
UFRJ/IM, 2022.
142p.; 23cm.
Inclui bibliografia / inclui índice remissivo.
ISBN: 978-65-86502-06-0

1. Equações diferenciais parciais. 2. Semigrupos de operadores.


I. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Matemática.
II. Título.
Prefácio da 1a Edição

Este livro reproduz as notas de aulas do curso de Semigrupos Lineares que desenvolve-
mos no Instituto de Matemática da UFRJ, para os alunos da Pós-Graduação no segundo
semestre de 1984. Pode ser considerado como introdução ao curso de Equações Diferenci-
ais e Semigrupos de Contrações Não Lineares dos Espaços de Hilbert (Textos de Métodos
Matemáticos no. 15, IM-UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil) que reproduz as notas do curso
de Semigrupos Não Lineares que também ministramos no Instituto de Matemática da
UFRJ para os alunos da Pós-Graduação.
No Capítulo 1 são estudados os semigrupos de classe C0 incluindo-se, aí, os semi-
grupos diferenciáveis, os holomorfos, as Teorias da Perturbação e da Aproximação. São
demonstrados o teorema de Hille-Yosida, o de Lumer e Phillips e os resultados de Trot-
ter, Kato e Chernoff. Todo o material do Capítulo 1 é usado no estudo das equações de
evolução desenvolvido no Capítulo 2.
Os pré-requisitos são, além da integral de Lebesgue, alguma familiaridade com a Aná-
lise Funcional, noções sobre os Espaços de Sobolev e as Equações Elíticas. por exemplo,
Brézis [5]. O Apêndice consta de alguns esclarecimentos sobre a função exponencial e
sobre as funções vetoriais.
Queremos expressar nossos agradecimentos aos nossos alunos pelas inúmeras corre-
ções e observações feitas durante as aulas o que foi para nós preciosa ajuda. Ao colega
professor Luiz Adauto Medeiros desejamos exprimir nossa gratidão não só por seus co-
mentários, correções, preciosos conselhos e sugestões, especialmente na redação da parte
final do §4, mas também pelo estímulo, apoio e ajuda permanente que dele temos rece-
bido e sem o que o presente trabalho possivelmente não teria aparecido. Por fim uma
palavra de agradecimento a Wilson Góes pelo zelo com que datilografou este livro.

O autor
Prefácio da 2a Edição

Nesta segunda edição1 procuramos não só corrigir erros da primeira mas também tornar
o texto mais claro e completo. O tópico referente aos semigrupos holomorfos foi reescrito
e o referente ao problema de Cauchy abstrato foi ampliado com a inclusão do estudo das
equações do calor, de ondas e de Schrödinger.
Somos profundamente gratos aos nossos alunos pelas críticas e valiosas sugestões e
ao colega Luiz Pedro San Gil pelo esmero com que digitou estas notas.

O autor

1
A presente edição digital é idêntica à segunda edição física
Alvércio Moreira Gomes (1916-2003)
Uma breve biografia

Alvércio Moreira Gomes (1916 – 2003)

Alvércio não plantou árvores, não deixou filhos, mas, dedicou sua vida à matemática.
Amou uma mulher, Hilda Pires dos Reis, pianista, professora na UFRJ e tinha veneração
por sua mãe, Dona Julieta, falecida aos 97 anos. Sua diversão, fora da matemática, era
a marcenaria, deixando belas construções em madeira.
É originário de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Membro de uma famí-
lia de muitos irmãos, teve o pai falecido cedo causando sérias dificuldades. Cursou aí
o ensino fundamental concluindo o Instituto de Educação, tornando-se professor, sua
vocação. A família transferiu-se para o Distrito Federal (Rio de Janeiro), capital do país
na época, onde as oportunidades de educação eram melhores. Ingressou no Curso de
Matemática, Faculdade de Ciências da Universidade do Distrito Federal (UDF), trans-
formada em 1936 na Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) da Universidade do Brasil
(UB) aí iniciando sua vida profissional como assistente da Cátedra de Análise Matemá-
tica e Superior. Tive a oportunidade de conhecê-lo em 1948, quando ingressei, como
aluno do Curso de Matemática da FNFi. Esta foi uma época de progresso da Matemá-
tica no Distrito Federal. O Departamento de Matemática da FNFi teve como Professor
Antonio Aniceto Monteiro, também com vocação para o ensino, desenvolvendo conside-
ravelmente a Matemática no Departamento. Por sua sugestão foram visitantes Adrian
Albert, que ministrou o primeiro curso de Álgebra no Departamento e Marshall Stone
que desenvolveu uma série de palestras que ele denominou Anel de Funções Contínuas
onde aparecia, entre outros, o atualmente conhecido Teorema de Weierstrass Stone.
O corpo discente e alguns professores da FNFi participavam ativamente da discussão
de certos problemas que afligiam a sociedade brasileira na época. Entre estes, havia
o problema da exploração do petróleo com a campanha “O Petróleo é Nosso”. Havia
reações públicas o que não era legal no regime ditatorial em que vivia a sociedade bra-
sileira. Assim, os que participaram deste processo foram penalizados nesta época como
pertencentes à “esquerda” o que seria negativo para sua vida universitária. O Alvércio e
vários outros foram assim caracterizados do ponto de vista político trazendo dificuldades
futuras. É claro que ele se manteve fiel às suas convicções. A seguir será feita uma
análise de algumas atividades profissionais do Alvércio.
Antes de 1964
Este ano será um marco na história do nosso país. Ao redor dos anos 50 o Departa-
mento de Matemática da FNFi (DM-FNFi) viveu sob a influência dos três matemáticos
mencionados anteriormente. Recorde-se que Aniceto Monteiro também saiu de Portugal
por motivos análogos em face do regime ditatorial instalado em seu país. Monteiro pro-
cedia de Paris, tendo trabalhado com M. Fréchet, trazendo ideias novas para o Brasil.
A Matemática que se desenvolvia na FNFi tinha influência de matemáticos italianos,
muito clássica, notadamente cálculo das variações e equações diferenciais, elasticidade,
nos moldes da época. Monteiro trazia consigo ideias já nos moldes das novas correntes do
pensamento matemático. Ministrou várias disciplinas sobre topologia geral, com o pensa-
mento de Bourbaki, análise funcional, ramo nascente da matemática, teoria de sistemas
ordenados que se denominava reticulados ou estruturas. Monteiro escreveu boas notas
didáticas que posteriormente foram publicadas em uma coleção denominada: Notas de
Matemática. É oportuno salientar que esta coleção foi realizada por Alvércio.
Neste período, Alvércio concluiu, de sua própria autoria:

• Decomposition of Partially Ordered Systems (Received in March 1950), Rev. Ci-


entífica, Ano 1, (1950), pp. 12-26.

• Completion by Cuts of a Ditributive Lattices (Received in August 1952), Rev.


Científica, Ano 3, (1952), pp. 56-68.

• Medidas em Álgebras de Boole, 1949. (Tese apresentada para a obtenção do Título


de “Livre Docente”). Não foi realizado o concurso.

Os dois primeiros trabalhos foram citados por O. Ore em seu texto clássico, "Theory
of graphs", editado pela AMS em 1962.
Entre outras contribuições dirigidas aos estudantes registra-se: um texto para o ensino
de álgebra, um para cálculo de variações e outro sobre séries de Fourier. Em 1964, por
ocasião da instalação do regime militar no Brasil, foi aposentado e impedido de participar
no nosso processo educacional.

Após 1980
Retornou à Universidade, agora UFRJ, com estrutura acadêmica, totalmente distinta
da Universidade do Brasil. Voltou às salas de aula dos cursos básicos do IM-UFRJ e
rapidamente se adaptou ao pensamento matemático da época. Para iniciar, fez uma
exposição semanal sobre as notas de Haïm Brezis, intitulada Operators Maximaux Mo-
notones et Semi-Groupes de Contractions Dans Les Espaces de Hilbert, Université de
Paris VI, 1971. Com base nestas exposições escreveu um texto publicado pelo IM-UFRJ
na coleção Textos de Métodos Matemáticos.
Sempre se interessou por Análise Matemática e decidiu iniciar o estudo de Semi-
grupos de operadores. Ensinou várias vezes esta disciplina no IM-UFRJ e escreveu as
monografias:

• Equações Diferenciais e Semigrupos de Contrações Não Lineares nos Espaços de Hil-


bert - Textos de Métodos Matemáticos no 15, IM-UFRJ, Rio de Janeiro - RJ,1982.

• Semigrupos de Operadores Lineares e Aplicações às Equações de Evolução - Textos


de Métodos Matemáticos no 19, IM-UFRJ, Rio de janeiro - RJ, 1985.

• Semigrupos Não Lineares e Equações Diferenciais nos Espaços de Banach, IM-


UFRJ (304 páginas), 2a ed., 2003.

• Semigrupos de Operadores Lineares e Aplicações às Equações de Evolução, IM-


UFRJ, 1a ed., 2001.

Esta é a segunda reimpressão do livro anterior adotado no IM-UFRJ.


Para concluir registra-se que Alvércio foi um professor fiel ao seu pensamento filosó-
fico, durante toda sua vida, mesmo em seus últimos momentos. Grande é o numero de
seus alunos que continuaram seu trabalho acadêmico por meio do ensino da matemática.
Assim é a vida dos mestres.
Agradeço à Maria Darci e Ivo Lopez pelo idealismo em re-organizar esta coleção de
livros do IM-UFRJ.
De resto, concordo com José de Alencar, imaginativo romancista cearense, quando
diz: “Tudo passa sobre a terra”.

Rio de Janeiro, 2011.


L. A. Medeiros
Sumário

1 Semigrupos de Operadores Lineares 1


1.1 A função Exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Semigrupos de Classe C0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3 Semigrupos Diferenciáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.4 Geração de Semigrupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.5 Grupos de Classe C0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.6 Fórmulas Exponenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
1.7 Semigrupos Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1.8 Semigrupos Holomorfos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
1.9 Teoria da Perturbação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

2 Problema de Cauchy Abstrato 75


2.1 A Equação Homogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
2.2 Equação Não Homogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
2.3 Equação Não Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

Bibliografia 97

A Sobre a Exponencial e Funções Vetoriais 103


A.1 Operadores Lineares Limitados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
A.2 A Função Exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
A.3 Derivação das Funções Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
A.4 Integração das Funções Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
A.5 Integrais Impróprias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
A.6 Funções Holomorfas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
A.7 Espaços Lp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
A.8 Transformação de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
A.9 Espaços de Sobolev . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Índice alfabético 127

i
ii
Capítulo 1

Semigrupos de Operadores Lineares

1.1 A função Exponencial


A função exponencial, etA , onde A é um número real e t uma variável real, pode ser
definida pela fórmula
X∞
(tA)n
etA = (1.1.1)
n=0 n!
A série que figura no segundo membro de (1.1.1) converge para todos os valores de t,
donde define uma função em R (corpo dos reais). Sem dificuldade alguma, como se
mostra no Apêndice, estende-se esssa definição ao caso em que A é um operador linear
limitado de um espaço de Banach, X; neste caso a série (1.1.1) converge na topologia
uniforme de L(X) e, portanto, para cada t ∈ R, sua soma é um operador linear limi-
tado desse espaço (L(X) = álgebra dos operadores lineares limitados de X). Problema
bastante delicado, porém, é definir a “função exponencial” quando A não é limitado.
Uma das razões do interesse em tal função está no fato que ela é, formalmente, solução
do seguinte problema de Cauchy: dado um operador linear não limitado, A, de um
espaço de Banach X, determinar uma função u(t) definida em R+ (R+ = [0, ∞)), cujos
valores pertençam a D(A) (D(A) = domínio de A) e que satisfaça as equações

du
= Au, u(0) = x,
dt
onde x é um elemento de X, dado.
Quando A ∈ R e t ≥ 0 a exponencial etA é uma função E : R+ → R que tem as
seguintes propriedades:
a) E(0) = 1,
b) E(t + s) = E(t)E(S),
2 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

c) lim E(t) = 1,
t→0+
e, como será demonstrado abaixo, é a única função definida em R+ , com valores em R,
que tem essas propriedades. O mesmo ocorre quando E toma seus valores na álgebra
dos operadores lineares de qualquer espaço de dimensão finita. Nesse caso o número 1
que aparece em a) e em c) deve ser interpretado como o operador identidade I : X → X
e, a multiplicação em b), como a composição de operadores lineares. Para ver o que
se passa quando X tem dimensão infinita tem-se que levar em conta que, nesse caso,
três topologias são usualmente introduzidas na álgebra L(X) dos operadores lineares
limitados de X, correspondendo, a cada uma delas, uma maneira distinta de interpretar
o limite em c). Assim, podemos interpretá-lo como o limite uniforme, o forte e o fraco.
Relembremos que I é o limite uniforme de E(t) quando t → 0+ se ||E(t) − I|| → 0
quando t → 0+ ; é o limite forte se ||E(t) − I)x|| → 0 ∀ x ∈ X e é o limite fraco se
h(E(t) − I)x, x∗ i → 0 ∀ x ∈ X e ∀ x∗ ∈ X ∗ , onde X ∗ é o dual de X. Quando em c) o
limite é tomado no sentido da topologia uniforme tem-se uma situação bastante simples
como se mostra no teorema a seguir.
1.1.1. Teorema. Uma função E : R+ → L(X) satisfaz as condições
a) E(0) = I,
b) E(t + s) = E(t)E(S),
c’) ||E(t) − I|| → 0 quando t → 0+ ,
se, e só se, E(t) = etA , onde A ∈ L(X) e etA é definida por (1.1.1).
Demonstração: Seja A ∈ L(X) e ponhamos

X (tA)n
etA = ·
n=0 n!

Como, para cada t ≥ 0,



X (tA)n
n=0 n!

converge na topologia uniforme de L(X), etA é uma aplicação de R+ em L(X). Trivial-


mente etA satisfaz a) e, da fórmula

(t + s)p X tn sm
= · ,
p! m+n=p n! m!

resulta que etA satisfaz b). Além disto, de


∞ ∞
X (tA)n X (tA)n
etA = =I+ ,
n=0 n! n=1 n!
vem
||etA − I|| ≤ t||A||et||A|| ,
1.1. A FUNÇÃO EXPONENCIAL 3

donde
||etA − I|| → 0
quando t → 0+ , i.e., etA satisfaz c’).
Reciprocamente, vamos supor que E : R+ → L(X) satisfaz a), b) e c’). Demonstre-
mos, em primeiro lugar, que ||E(t)|| é uma função limitada em todo intervalo limitado.
Dado ε > 0 existe, por c’), um δ > 0 tal que

||E(t) − I| ≤ ε ∀ t tal que 0 ≤ t ≤ δ

e, como
| ||E(t)|| − ||I|| | ≤ ||E(t) − I||,
tem-se
||E(t)|| ≤ 1 + ε = M, ∀ t tal que 0 ≤ t ≤ δ.
Além disso, para cada real t ≥ 0, existe um inteiro não negativo, n, tal que t = nδ + r,
onde 0 ≤ r < δ. Por b) temos, então,

||E(t)|| = ||E(nδ + r)|| = ||E(δ)n E(r)|| ≤ ||E(δ)n || · ||E(r)|| ≤


≤ M n+1 = MM n ≤ MM t/δ = Meωt ,

onde ω = δ −1 log M > 0.


Portanto, se t ∈ [0, T ], então ||E(t)|| ≤ Meωt , i.e., ||E(t)|| é limitada em [0, T ]. Observe-
mos, a seguir, que E é contínua na topologia uniforme de L(X) porque, se h > 0,

||E(t + h) − E(t)|| = ||E(t)(E(h) − I)|| ≤ ||E(t)|| · ||E(h) − I|| → 0

quando h → 0 e, se 0 < h ≤ t,

||E(t − h) − E(t)|| = ||E(t − h)(I − E(h))|| ≤ ||E(t − h)|| · ||E(h) − I|| → 0

quando h → 0 porque ||E(t−h)|| é, como se mostrou, limitada em [0, t]. Da continuidade


de E, relativamente à topologia uniforme de L(X), resulta ua integrabilidade no sentido
de Riemann e Z
1 h
lim E(t) dt = E(0) = I,
t→0 h 0

relativamente a essa mesma topologia (Corolário A.4.3 do Apêndice). Segue-se daí que
podemos determinar um ρ > 0 tal que
Z
1 ρ
E(t) − I < 1,
ρ 0

o que implica que Z


1 ρ
E(t) dt
ρ 0
4 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

e, consequentemente, Z ρ
E(t) dt,
0

é inversível em L(X). Além disto,


Z Z Z
E(h) − I ρ 1 ρ 1 ρ
E(t) dt = E(t + h) dt − E(t) dt =
h 0 h 0 h 0
Z ρ+h Z h
1 1
= E(t) dt − E(t) dt.
h ρ h 0
donde Z Z ! Z −1
E(h) − I 1 ρ+h 1 h ρ
= E(t) dt − E(t) dt E(t) dt
h h ρ h 0 0

e como o membro da direita dessa igualdade converge na topologia uniforme de L(X), o


mesmo acontece com o da esquerda. Seja, então, A o limite uniforme de (E(h) − I)/h
quando h → 0+ . Tem-se A ∈ L(X). Isto significa que E(t) é derivável à direita no ponto
0, relativamente à topologia uniforme de L(X) e

d+ E(0)
= A.
dt
Ainda mais, por b), ∀ h > 0,
E(t + h) − E(t) E(h) − I
= E(t)
h h
e, como o segundo membro converge na topologia uniforme para E(t)A, resulta que E é
derivável à direita em todo t ≥ 0 relativamente à topologia uniforme de L(X) e
d+ E(t)
= E(t)A.
dt
Analogamente,
d+ E(t) d− E(t) d+ E(t)
= AE(t) e = , ∀ t > 0.
dt dt dt
Consideremos, por fim, a função

φ(t) = E(t)e(u−t)A , t ≥ 0.

Temos
dφ(t) dE(t) (u−t)A
= e − E(t)Ae(u−t)A = E(t)Ae(u−t)A − E(t)Ae(u−t)A = 0.
dt dt
Consequentemente (Teorema A.3.1 do Apêndice) φ é constante. Mas φ(0) = euA . Logo

E(t)e(u−t)A = euA , ∀ t ≥ 0,
1.2. SEMIGRUPOS DE CLASSE C0 5

donde E(t) = etA , q.e.d. .


Nos espaços de dimensão finita as três topologias apontadas acima coincidem com a
topologia usual desses espaços e como, na demonstração do Teorema 1.1.1, não foi feito
apelo à dimensão do espaço, esse teorema tem validade nos espaços de dimensão finita.
Fica justificada, dessa forma, a afirmação, feita anteriormente, que a)–c) caracterizam
etA quando o espaço é de dimensão finita.
Além disso, como a convergência uniforme implica convergência forte, o Teorema 1.1.1
vem mostrar que a definição a seguir generaliza a de função exponencial.

1.2 Semigrupos de Classe C0


1.2.1 Definição. Seja X um espaço de Banach e L(X) a álgebra dos operadores lineares
limitados de X. Diz-se que uma aplicação S : R+ → L(X) é um semigrupo de operadores
lineares limitados de X se:
I) S(0) = I onde I é o operador identidade de L(X);

II) S(t + s) = S(t)S(s), ∀ t, s ∈ R+ .


Diz-se que o semigrupo S é de classe C0 se

III) lim+ ||S(t) − I)x|| = 0 ∀ x ∈ X.


t→0

Mostraremos a seguir que são válidas para os semigrupos de classe C0 as propriedades


fundamentais da função exponencial.
1.2.2 Proposição. Se S é um semigrupo de classe C0 , então ||S(t)|| é uma função
limitada em todo intervalo limitado, [0, T ].
Demonstração: Em primeiro lugar, existe δ > 0, e M ≥ 1 tais que

||S(t)|| ≤ M, ∀ t ∈ [0, δ].

Com efeito, se isto não acontecesse existiria uma suceção (tn ), tn → 0+ , tal que ||S(tn )| ≥
n, ∀ n ∈ N (N = conjunto dos números naturais). Mas então, pelo Teorema da Limitação
Uniforme, ||S(tn )x|| não seria limitado para pelo menos um x ∈ X, o que estaria em
contradição com III). Além disto, M ≥ 1 porque ||S(0)|| = 1, por I).
Seja, agora, t ∈ [0, T ]. Então t = nδ + r, para algum inteiro não negativo n e algum
real r tal que 0 ≤ r < δ. Logo, como no Teorema 1.1.1,

||S(t)|| = ||S(nδ+r)|| = ||S(δ)n S(r)|| ≤ ||S(δ)||n ||S(r)|| ≤ M n+1 =


= MM n ≤ MM /δ = Meωt ,

onde ω = δ −1 log M ≥ 0. Portanto, se t ∈ [0, T ], então ||S(t)|| ≤ MeωT , i.e., ||S(t)|| é


uma função limitada em [0, T ].
6 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

1.2.3 Corolário. Todo semigrupo de classe C0 é fortemente contínuo em R+ ,i.e., se


t ∈ R+ então
lim S(s)x = S(t)x ∀ x ∈ X.
s→t

Com efeito, seja t ∈ R . De h > 0 vem


+

||S(t + h)x − S(t)x|| = ||S(t)[S(h) − I]x|| ≤ ||S(t)|| · ||(S(h) − I)x|| → 0

quando h → 0+ e, de 0 < h < t,

||S(t − h)x − S(t)x|| = ||S(t − h)(I − S(h))x|| ≤ ||S(t − h)|| · ||(S(h) − I)x|| → 0

quando h → 0+ em virtude da Proposição 1.2.2. Logo,

lim S(s)x = S(t)x ∀ x ∈ X.


s→t

1.2.4 Observação. Os semigrupos de classe C0 são conhecidos por semigrupos forte-


mente contínuos o que encontra justificativa no Corolário 1.2.3.
Viu-se, na demonstração da Proposição 1.2.2, que existem M ≥ 1 e ω ≥ 0 tais que

||S(t)|| ≤ Meωt ∀ t ≥ 0,

resultado que será, agora, melhorado.


Preliminarmente demonstraremos o lema a seguir sobre as funções subaditivas em R+ ,
isto é, funções p : R+ → R tais que p(t + s) ≤ p(t) + p(s).
1.2.5 Lema. Seja p uma função subaditiva em R+ e limitada superiormente em todo
intervalo limitado. Então, p(t)/t tem um limite quando t → +∞ e
p(t) p(t)
lim = inf · (1.2.1)
t→∞ t t>0 t
Demonstração: Pondo
p(t)
inf = ω0 ,
t>0 t
temos −∞ ≤ ω0 < +∞. Seja ω > ω0 . Então existe T > 0 tal que p(T )/T ≤ ω. Se t > 0
e n é tal que t = nT + r, com 0 ≤ r < T , temos
p(t) p(nT + r) np(T ) + p(r)
ω0 ≤ = ≤ =
t t t
nT p(T ) p(r) nT p(r)
= + ≤ ω+ ·
Tt t t t
Mas p é limitada nos intervalos limitados e r < T , donde p(r)/t → 0 quando t → ∞.
Logo,
p(t) p(t)
ω0 ≤ lim inf ≤ lim sup ≤ω
t→∞ t t→∞ t
1.2. SEMIGRUPOS DE CLASSE C0 7

donde (1.2.2) pela arbitrariedade de ω.


1.2.6 Proposição. Seja S um semigrupo de classe C0 . Então
log ||S(t)|| log ||S(t)||
lim = inf = ω0 (1.2.2)
t→∞ t t>0 t
e para cada ω > ω0 , existe uma constante M ≥ 1 tal que

||S(t)|| ≤ Meωt , ∀ t ≥ 0. (1.2.3)

Demonstração: Como

log ||S(t + s)|| = log ||S(t)S(s)|| ≤ log ||S(t)|| ||S(s)|| =


= log ||S(t)|| + log ||S(s)||

a função log ||S(t)|| é subaditiva em R+ ; pelo Proposição 1.2.2 é limitada superiormente


em todo intervalo limitado. Logo, pelo Lema 1.2.5, com p(t) = log ||S(t)||, tem-se (1.2.2).
Se ω > ω0 pode-se, então, determinaar t0 tal que para t > t0 tem-se
log ||S(t)||
< ω. (1.2.4)
t
Além disto, ||S(t)|| é limitado em [0, t0 ], i.e., ||S(t)|| ≤ M0 ∀ t ∈ [0, t0 ] e como ||S(0)|| =
||I|| = 1, M0 ≥ 1. Se ω ≥ 0 tem-se, então, de (1.2.4),

log ||S(t)|| ≤ ωt + log M0 , ∀ t ≥ 0

donde, pondo M = M0 tem (1.2.3). Se ω < 0, ainda de (1.2.4) tem-se

log ||S(t)|| ≤ ωt − ωt0 + log Mo , ∀ t ≥ 0

donde, pondo M = M0 e−ωt0 tem-se, ainda, (1.2.3). Em ambos os casos M ≥ 1, q.e.d. .


1.2.7 Definição. Quando ω0 < 0, existe M ≥ 1 tal que

||S(t)|| ≤ M, ∀ t ≥ 0.

Nesse caso diz-se que S é um semigrupo uniformemente limitado de classe C0 . Se, além
disto, M = 1, S é dito semigrupo de contrações de classe C0 .
1.2.8 Definição. O operador A definido por
( )
S(h) − I
D(A) = x ∈ X; lim x existe
h→0 h
S(h) − I
Ax = lim x ∀ x ∈ D(A)
h→0 h
8 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

é dito gerador infinitesimal do semigrupo S.


Vamos designar por Ah o operador linear limitado (S(h) − I)/h, h > 0.
1.2.9 Proposição. D(A) é um subespaço vetorial de X e A um operador linear.
Demonstração: Consequência imediata da Definição 1.2.8.
1.2.10 Proposição. Seja S um semigrupo de classe C0 e A o gerador infinitesimal de
S.
i) Se x ∈ D(A), então S(t)x ∈ D(A) ∀ t ≥ 0 e

d
S(t)x = AS(t)x = S(t)Ax. (1.2.5)
dt

ii) Se x ∈ D(A), então


Z t Z t
S(t)x − S(s)x = AS(r)x dτ = S(r)Ax dτ ; (1.2.6)
s s

Z t
iii) Se x ∈ X, então S(τ )x dτ ∈ D(A) e
0

Z t
S9t)x − x = A S(τ )x dτ. (1.2.7)
0

Demonstraçao: Seja t > 0 fixado. Para todo h > 0

S(t + h) − S(t)
x = Ah S(t)x = S(t)Ah x.
h
Se x ∈ D(A), o membro da direita desta igualdade tem um limite quando h → 0 o
mesmo acontrecendo, portanto, com os outros dois. Logo, S(t)x ∈ D(A) e

d+
S(t)x = AS(t)x = S(t)Ax. (1.2.8)
dt
Por outro lado, para 0 < h < t temos

S(t − h) − S(t)
x = S(t − h)Ah x = S(t − h)(Ah x − Ax) + S(t − h)Ax.
−h

Mas pela Proposição 1.2.2, ||S(t − h)|| é limitado para 0 < h < t e, como x ∈ D(A), o
primeiro termo do membro da direita desta igualdade tende a zero quando h → 0, além
disto, pela continuidade forte de S (Corolário 1.2.3), S(t − h)Ax → S(t)Ax. Logo

d−
S(t)x = S(t)Ax. (1.2.9)
dt
1.2. SEMIGRUPOS DE CLASSE C0 9

De (1.2.8) e (1.2.9) temos i). Integrando (1.2.5) de s a t temos (1.2.6), o que demonstra
ii). Demonstra-se iii) observando que, ∀ x ∈ X,
Z Z
t 1 t
Ah S(τ )x dτ = (S(h) − I)S(τ )x dτ
0 h 0
Z Z
1 t+h 1 t
= S(τ )x dτ − S(τ )x dτ
h t h 0
Z Z
1 t+h 1 h
= S(τ )x dτ − S(τ )x dτ
h t h 0

e que, quando h → 0, o membro da direita desta igualdade tende a S(t)x − x, pela


continuidade forte de S.
1.2.11 Proposição. i) O gerador infinitesimal de um semigrupo de classe C0 é um
operador linear fechado e seu domínio é denso em X.
ii) um operador linear A, fechado e com domínio denso em X, é o gerador infinitesi-
mal de, no máximo, um semigrupo de classe C0 .
Demonstração: i) Seja S um semigrupo de classe C0 e A seu gerador infinitesimal.
Pondo, para cada x ∈ X e h > 0,
1Zh
xh = S(t)x dt
h 0
tem-se, por iii) da Proposição 1.2.10, xh ∈ D(A) e como xh → x quando h → 0, resulta
que x ∈ D(A). Logo D(A) = X. Seja (xn ), n ∈ N, uma sequência de elementos de D(A)
tal que xn → x e Axn → y quando n → ∞. Por ii) da Proposição 1.2.10 temos
Z h
S(h)xn − xn = S(t)Axn dt. (1.2.10)
0

Mas, pela Proposição 1.2.2, existe um M tal que ||S(t)|| ≤ M para todo t ∈ [0, h]; logo,
se t ∈ [0, h]

||S(t)Axn − S(t)y|| ≤ ||S(t)|| · ||Axn − y|| ≤ M||Axn − y||,

donde S(t)Axn tende a S(t)y, uniformemente em [0, h]. No limite, quando n → ∞,


temos, então, por (1.2.10)
Z h
S(h)x − x = S(t)y dt.
0
Logo
Z
S(h)x − x 1 h
= S(t)y dt
h h 0
e, como o segundo membro dessa igualdade tende a y quando h → 0, resulta que x ∈ D(A)
e Ax = y. Logo A é um operador fechado, o que completa a demonstração de i).
10 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

ii) Suponhamos que A seja gerador infinitesimal dos semigrupos S1 e S2 de classe C0 .


Se 0 ≤ s ≤ t < ∞, para cada x ∈ D(A), a função

φ(s)x = S1 (t − s)S2 (s)x

é diferenciável no intervalo 0 ≤ s ≤ t (§3 do Apêndice) e, de acordo com i) da Proposi-


ção 1.2.10,
d
φ(s)x = S1 (t − s)AS2 (s)x − S1 (t − s)AS2 (s)x = 0.
ds
Segue-se do Teorema A.3.1 do Apêndice que φ(s)x é constante para 0 ≤ s ≤ t. Tem-se,
então,
S1 (t)x = φ(0)x = φ(t)x = S2 (t)x ∀ x ∈ D(A),
donde
S1 (t)x = S2 (t)x ∀ x ∈ X,
pois D(A) é denso em X e S1 (t), S2 (t) ∈ L(X).

1.2.12 Exemplos:
1) As restrições das funções exponenciais a R+ são exemplos de semigrupos de classe
C0 , o que decorre do Teorema 1.1.1 e do fato que a convergência uniforme implica a
convergência forte. O gerador infinitesimal de etA é A porque
ehA − I
x − Ax ≤ ||A||(eh||A|| − 1)||x|| → 0
h
quando h → 0.
2) Seja C(R) o espaço de Banach das funções reais, uniformemente contínuas e limitadas
em R, com a norma
||u|| = sup |u(x)|.
x∈R

Para cada t ≥ 0 e u ∈ C(R) ponhamos

S(t)u(x) = u(x + t) = ut (x).

Para cada t ≥ 0 e cada u ∈ C(R) tem-se ut ∈ C(R), como é óbvio, isto é, S(t) é
uma aplicação de C(R) em C(R). É evidentemente uma aplicação linear que é limitada
porque de
sup |u(x + t) = sup |u(x)|
x∈R x∈R

vem ||S(t)|| = 1. Logo,


S : R+ → L(C(R)).
Obviamente S satisfaz I) e II) e, além disto, para cada u ∈ C(R)

||S(t)u − u|| = sup |u(x + t) − u(x)| → 0


x∈R
1.2. SEMIGRUPOS DE CLASSE C0 11

quando t → 0+ porque u é uniformemente contínua. Logo S é um semigrupo de contra-


ções lineares de classe C0 . Se u ∈ D(A), então existe
u(x + h) − u(x)
lim+ Ah u(x) = lim+
h→0 h→0 h
uniformemente em x e esse limite pertence a C(R). Logo u é derivável à direita e
d+ u(x)/dx ∈ C(R). Segue-se, pelo Lema de Dini (Lema A.3.2 do Apêndice), que u é
derivável e u′ ∈ C(R). Reciprocamente, se u ∈ C(R) e u′ ∈ C(R), então de
u(x + h) − u(x) 1Zh ′
− u′ (x) = [u (x + t) − u′ (x)| dt
h h 0
decorre que existe lim+ Ah u(x), uniformemente em x, quando h → 0 e esse limite é u′ (x)
h→0
(Proposição A.3.4 do Apêndice). Logo u ∈ D(A) e, assim,

D(A) = {u ∈ C(R); u′ existe e pertence a C(R)}

e Au = u′ . S é conhecido por semigrupo das translações à esquerda em C(R).


O exemplo ainda é válido quando se substitui C(R) por Lp (R), C(R+ ) e Lp (R+ ),
1 ≤ p < ∞.
3) Seja Nt , t > 0, a função definida em Rn por
2 /4t
Nt (x) = (4πt)−n/2 e−|x| ,

onde |x|2 = x21 + · · · + x2n se x = (x1 , . . . , xn ).


Da bem conhecida integral
Z  n
−a|x|2 π 2
e dx =
Rn a
resulta imediatamente que Nt ∈ L1 (Rn ) e ||Nt ||L1 (Rn ) = 1. Pelo Teorema A.7.4 do
Apêndice tem-se, então,
Nt ∗ u ∈ L2 (Rn ) ∀ u ∈ L2 (Rn ).
Portanto, definindo S(t) por S(0)u = u e
Z
2 /4t
(S(t)u)(x) = (N1 ∗ u)(x) = (4πt)−n/2 e−|x−y| u(y) dy (1.2.11)
Rn

se t > 0, S(t) é um operador de L2 (Rn ), obviamente linear e

||S(t)u||L2(Rn ) = ||Nt ∗ u||L2 (Rn ) ≤ ||u||L2(Rn ) ,

i.e., S(t) é uma contração linear de L2 (Rn ). Vamos mostrar que S é um semigrupo de
classe C0 de L2 (Rn ). Pela definição de S já se tem S(0) = I, i.e., a condição I) da
Definição 1.2.1 é satisfeita. Pelo que está dito no §8 do Apêndice tem-se
[
N
n
c c
∗ Ns (x) = (2π) 2 Nt (x)Ns (x)
12 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

e como pelo Exemplo A.8.1, ainda do Apêndice,


n 2
c (x) = (2π)− 2 e−t|x| ,
Nt

segue-se que
[
N
n
c c n
− n −t|x|2
t Ns (x) = (2π) 2 Nt (x) · Ns (x) = (2π) 2 (2π) 2 e
n 2
(2π)− 2 e−s|x| =
n 2
c (x).
= (2π)− 2 e−(t+s)|x| = Nr+s

Daí vem
Nt ∗ Ns = Nt+s
e, portanto,

S(t + s)u = Nt+s ∗ u = (Nt ∗ Ns ) ∗ u = Nt ∗ (Ns ∗ u) = S(t)S(s)u,

para todo u ∈ L2 (Rn ). Logo, S satisfaz II) da Definição 1.2.1. Como de


\
(S(h)u − u)∧ = (Nh ∗ u − u)∧ = Nh ∗ u − û = (e
−h|·|2
− 1)û

vem
Z
2 2
||(S(h)u − u)∧ ||2L2 (Rn ) = ||(e−h|·| − 1)û||2L2 (Rn ) = |(e−h|ξ| − 1)|2 |û(ξ)|2 dξ
Rn
Z
2
e pelo Teorema da Convergência Dominada, |e−h|ξ| − 1|2 |û(ξ)|2 dξ → 0 quando
Rn
h → 0+ segue-se que

||S(h) − I)u||L2 (Rn ) → 0, quando h → 0,

visto que a transformação de Fourier é uma isometria de L2 (Rn ). Portanto, S é um


semigrupo de contrações lineares de L2 (Rn ), de classe C0 .
Vamos agora determinar o gerador infinitesimal de S. Temos
!∧
S(h) − I S(h) − I
u−v = u−v =
h L2 (Rn )
h L2 (Rn )

\
Nh ∗ u − û
2
e−h|·| û − û
− v̂ = − v̂ =
h h L2 (Rn )
L2 (Rn )
−h|·|2
e −1
û − v̂
h L2 (Rn )

d
donde Au = v se, e só se, −| · |2 û = v̂. Mas, sabe-se que, −|x|2 û(x) = ∆u(x), onde ∆
é o operador de Laplace tomado no sentido das distribuições. Logo, Au = v se, e só se,
d = v̂ e, portanto, se, e só se, ∆u = v. Conclui-se daí que:
∆u

D(A) = {u; u ∈ L2 (Rn ) e ∆u ∈ L2 (Rn )}


1.2. SEMIGRUPOS DE CLASSE C0 13

e
Au = ∆u ∀ u ∈ D(A).

4) Seja S um semigrupo de classe C0 , A seu gerador infinitesimal e ponhamos


e
S(t) = eλt S(t).

Vamos mostrar que Se é, igualmente, um semigrupo de classe C0 e que seu gerador


infinitesimal é A − λI.
Com efeito, as I) e II) são obviamente satisfeitas e, como
e
S(t) − I = e−λt S(t) − I = e−λt (S(t) − I) + (e−λt − 1)I

segue-se que quanto t → 0+ ,


e
||(S(t) − I)(x)|| → 0, ∀ x ∈ X,

uma vez que S é um semigrupo de classe C0 e e−λt − 1 → 0 quando t → 0+ . Logo Se é


um semigrupo de classe C0 . A igualdade
e
S(h) −I e−λh (S(h) − I) e−λh − 1)I
x= x+ x
h h h
e de S
mostra que o gerador infinitesimal A, e é dado por A
e = A − λI.

1.2.13 Definição. Seja S um semigrupo de classe C0 e A seu gerador infinitesimal.


Ponhamos A0 = I, A1 = A e, supondo que An−1 esteja definido, vamos definir An
pondo:

D(An ) = {x; x ∈ D(An−1 ) e An−1 x ∈ D(A)}


An x = A(An−1 x), ∀ x ∈ D(An ).

1.2.14 Proposição. Seja S um semigrupo de classe C0 e A seu gerador infinitesimal.


Temos:

i) D(An ) é um subespaço de X e An é um operador linear de X;

ii) Se x ∈ D(An ), então S(t)x ∈ D(An ), ∀ t ≥ 0 e


dn
n
S(t)x = An S(t)x = S(t)An x, ∀ n ∈ N;
dt

iii) É válida a fórmula de Taylor: se x ∈ D(An ), então


n−1 Z
X (t − a)k k 1 t
S(t)x = S S(a)x + (t − τ )n−1 An S(τ )x dτ ;
k=0
k! (n − 1)! a
14 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES
Z t Z t
iv) (S(tI )n x = ... S(τ1 + · · · + τn )An x dτ1 . . . dτn ∀ x ∈ D(An );
0 0
T
v) D(An ) é denso em X.
n

Demonstração: i) e ii) são triviais; iii) é obtida por indução observando que por inte-
gração por partes do resto tem-se
Z t
1
(t − τ )n−1 An S(τ )x dτ =
(n − 1)! a
Z
(t − a)n n 1 t
= A S(a)x + (t − τ )n An+1 S(τ )x dτ.
n! n! a
A iv) é uma generalização imediata de ii) da Proposição 1.2.10 com s = 0. Vamos
demonstrar v). Seja Y o conjunto dos elementos de X da forma
Z ∞
y= ϕ(t)S(t)x dt (1.2.12)
0

onde ϕ : R → R é uma função infinitamente diferenciável e com suporte compacto contido


em [0, ∞). Como ϕ(t)s(t)x é uma função contínua, definida em R+ , com valores em X
e que se anula fora de um intervalo limitado, a integral (1.2.12) existe. Temos

1Z∞
Ah y = ϕ(t)[S(t + h) − S(t)]x dx =
h 0
Z ∞
1 1Z∞
= ϕ(t − h)S(t)x dt − ϕ(t)S(t)x dt =
h Zh h 0
1 ∞
= [ϕ(t − h) − ϕ(t)]S(t)x dt
h 0
porque
Z h
ϕ(t − h)S(t)x dt = 0
0

uma vez que o suporte de ϕ está em [0, ∞). Como, por hipótese,h−1 (ϕ(t−h)−ϕ(t)) tende
uniformemente a −ϕ′ em R, quando h → 0 (Proposição A.3.4 do Apêndice), segue-se
que Z ∞
lim Ah y = − ϕ′ (t)S(t)x dt,
h→0 0

T
i.e., y ∈ D(A) e Ay ∈ Y . Por indução, y ∈ D(An ), ∀ n ∈ N, donde Y ⊂ D(An ).
n=1

T
Vamos mostrar que Y não é denso em X e, consequentemente, que D(An ) é denso
n=1
em X. Vamos supor que Y não seja denso em X. Então, pelo Teorema de Hahn-Banach,
existe um x0 ∈ X e um x∗ ∈ X ∗ tais que

hx∗ , x0 i = 1, e hx∗ , yi = 0, ∀ y ∈ Y.
1.2. SEMIGRUPOS DE CLASSE C0 15

Mas então
Z ∞  Z ∞ 
∗ ∗
ϕ(t)hx , S(t)xidt = x , ϕ(t)S(t)x dt = hx∗ , yi = 0 (1.2.13)
0 0

para todo x ∈ X e para todo ϕ nas condições indicadas. Mas hx∗ , S(t)x0 i é uma função
contínua em [0, ∞) que no ponto t = 0 toma o valor 1. Consequentemente, é positiva
em (0, T ) para algum T tal que 0 < T < ∞. Portanto, para a função ϕ definida por
  


 1
 exp 

−  2 

2  se 0 < t < T
ϕ(t) =  T
− T
−t
 2 2



0 se t ≤ 0 ou t ≥ T,

que está nas condições indicadas, cujo suporte é [0, T ] e é positiva em (0, T ), tem-se
Z ∞
ϕ(t)hx∗ , S(t)x0 idt 6= 0
0

o que contradiz (1.2.13).


1.2.15 Lema. Seja A um operador linear fechado de X. Pondo, para cada x ∈ D(Ak ),
k
X
|x|k = ||Aj x|| (1.2.14)
j=0

o funcional | · |k é uma norma em D(Ak ) munido da qual D(Ak ) é um espaço de Banach.


Demonstração: Como já foi visto na Proposição 1.2.14, D(Ak ) é um subespaço de
X e, como é imediato, | · |k é uma norma em D(Ak ). Se xn ∈ D(Ak ), n = 1, . . . , e
|xm − xn |k → 0 quando m, n → ∞, então, de acordo com (1.2.14),

||Aj xm − Aj xn || → 0, j = 0, 1, . . . , k

e, portanto, (Aj xn ) é uma sucessão convergente, j = 0, 1, . . . , k. Em particular, (xn )


é convergente. Seja x = lim xn . Como Aj é fechado e (Aj xn ) converge segue-se que
n→∞
x ∈ D(Aj ) e Aj xn → Aj x, j = 0, 1, . . . , k. Logo |xn − x|k → 0 o que mostra que D(Ak )
com a norma (1.2.14) é um espaço normado completo, i.e., um espaço de Banach.
1.2.16 Definição. A norma (1.2.14) é dita norma do gráfico. O espaço de Banach que
se obtém munindo D(Ak ) da norma (1.2.14) será representado por [D(Ak )].
1.2.17 Observação. Resulta de (1.2.14) que se u : [0, ∞) → X é uma função tal que

i) u(t) ∈ D(Ak ), ∀ t ∈ A ⊂ [0, ∞), Λ aberto;

ii) u admite n derivadas e


dj u
∈ D(Ak ) ∀ t ∈ Λ, j = 1, . . . , n;
dtj
16 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

iii) as funções
dj u dj u j
k d u
, A , . . . , A , j = 1, . . . , n
dtj dtj dtj
são contínuas em Λ;

então
u ∈ C n (Λ, [D(Ak )]).

1.2.18 Proposição. Se A é o gerador infinitesimal de um semigrupo, S, de classe C0 ,


então, ∀ x ∈ D(An ), S(t)x ∈ C n−k ([0, ∞); [D(Ak )]),k = 0, 1, . . . , n.
Demonstração: De x ∈ D(An ) vem x ∈ D(Aj ) e Aj x ∈ D(An−j ), j = 0, 1, . . . , n. Como,
dj
pela Proposição 1.2.14, de x ∈ D(Aj ) vem S(t)x ∈ D(Aj ) e j S(t)x = Aj S(t)x =
dt
S(t)Aj x e de Aj x ∈ D(An−j ) vem S(t)Aj x ∈ D(An−j ), t ≥ 0, tem-se
dj
j
S(t)x ∈ D(An−j ) ∀ t ≥ 0.
dt
Mas se 0 ≤ j ≤ n − k e, portanto, k ≤ n − j, então D(An−j ) ⊂ D(Ak ). Logo
dj
S(t)x : [0, ∞) → D(Ak ), 0 ≤ j ≤ n − k.
dtj
além disto, para 0 ≤ j ≤ n − k as funções
dj
Ai S(t)x = Ai Aj S(t)x = S(t)Ai+j x, 0 ≤ i ≤ k,
dtj
são contínuas. Logo, de acordo com a Observação 1.2.17,

S(t)x ∈ C n−k ([0, ∞); [D(Ak )]), k = 0, 1, . . . , n.

1.3 Semigrupos Diferenciáveis


1.3.1 Observação. Foi visto em i) da Proposição 1.2.10 que se x ∈ D(A) então S(t)x ∈
D(A), ∀ t ≥ 0; portanto, S(t)D(A) ⊂ D(A), ∀ t ≥ 0. Essa propriedade não é, em geral,
válida para todo x ∈ X porque de S(t)X ⊂ D(A) ∀ t ≥ 0 vem X = IX = S(0)X ⊂ D(A),
isto é, D(A) = X e, assim, de acordo com o Teorema do Gráfico Fechado, A é um
operador linear limitado, recaindo-se no caso particular da convergência uniforme, já
estudado no Teorema 1.1.1. Isto não acontece, contudo, se S(t)X ⊂ D(A) apenas para
t > 0 e, de um modo mais geral, apenas para t > t0 ≥ 0. É esse caso particular que
vamos considerar agora.
1.3.2 Definição. Diz-se que um semigrupo, S, de classe C0 , com gerador infinitesimal
A, é diferenciável para t > t0 ≥ 0 se S(t)X ⊂ D(A) ∀ t > t0 . Diz-se que S é diferenciável
se S é diferenciável para t > 0.
1.3. SEMIGRUPOS DIFERENCIÁVEIS 17

1.3.3 Teorema. Seja S um semigrupo diferenciável para t > t0 e S (n) (t) o operador
linear definido por S (n) (t) = An S(t), A0 = I, n = 0, 1, . . . . Então:
i) O operador S (n) (t) tem as seguintes propriedades:

a) ∀ t > (n + 1)t0 e todo s tal que t − t0 > s > nt0 tem-se

S (n) (t)x = S(t − s)S (n) (s)x, ∀ x ∈ X, n = 0, 1, . . . ; (1.3.1)

b) S (n) (t) é limitado para todo t > nt0 , n = 0, 1, . . . ;


h  in h  in
c) S (n) (t) = AS t
n
= S (1) t
n
, ∀ t > nt0 , n = 1, . . . ;

ii) ∀ x ∈ X a função S(t)x é n vezes continuamente diferenciável em todo t > nt0 e

dn
S(t)x = S (n) (t)x, n = 1, . . . ;
dtn
iii) S (n) é uma função contínua na topologia uniforme de L(X) em todo t > (n + 1)t0 ,
n = 0, 1, . . . ;
iv) A função S é n vezes diferenciável na topologia uniforme de L(X) em todo t >
(n + 1)t0 e
dn
n
S(t) = S (n) (t), n = 1. . . . .
dt
Demonstração: i) De t > t0 e t−t0 > s > 0 vem t−s > t0 e, como t0 ≥ 0, t−s > 0. Por
II) da Definição 1.2.1 tem-se, então, S (0) (t)x = S(t)x = S(t − s)S(s)x = S(t − s)S (0) (s)x
∀ x ∈ X. Portanto a) é válida para n = 0. Suponhamos válida para n e seja t > (n + 2)t0
e t − t0 > s > (n + 1)t0 . Observe-se que se τ > (n + 1)t0 , então, da hipótese de
indução, (1.3.1), resulta que S (n) (τ )x ∈ D(A) ∀ x ∈ X. Logo, de s > (n + 1)t0 vem
S (n) (s)x ∈ D(A) ∀ x ∈ X. Daí, por i) da Proposição 1.2.10,

S(t − s)S (n) (s)x ∈ D(A)

e
AS(t − s)S (n) (s)x = S(t − s)AS (n) (s)x ∀ x ∈ X.
Mas t > (n + 2)t0 > (n + 1)t0 e t − t0 > s > (n + 1)t0 > nt0 . Pela hipótese de indução
segue-se, então, que
S (n) (t)x = S(t − s)S (n) (s)x ∀ x ∈ X
donde

S (n+1) (t)x = AS (n) (t)x = AS(t − s)S (n) (s)x =


S(t − s)AS (n) (s)x = S(t − s)S (n+1) (s)x ∀ x ∈ X,
18 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

i.e., a) é válida para n + 1. Logo é válida para n = 0, 1, . . . .


b) Para n = 0, b) é trivial. Suponhamos b) válida para n e seja t > (n + 1)t0 . Daí
vem t > nt0 , donde S (n) (t) é, pela hipótese de indução, um operador limitado de X
e, portanto, fechado. Analogamente A é fechado pois é o gerador infinitesimal de um
semigrupo de classe C0 . Logo S (n+1) (t) é fechado pois S (n+1) (t) = AS (n) (t). Além disto,
de t > (n + 1)t0 segue-se, por (1.3.1), que S (n) (t)x ∈ D(A) ∀ x ∈ X e, daí, que S (n+1) (t)
é definido em todo o espaço X. Pelo Teorema do Gráfico Fechado segue-se, então, que
S (n+1) (t) é um operador limitado.
c) Para n = 1 a fórmula c) é trivial. Suponhamos válida para n e seja t > (n + 1)t0 e
t − t0 > s > nt0 . Daí vem, por a),
  n
(n+1) (n) (n) s
S (t) = AS (t) = AS(t − s)S (s) = AS(t − s) AS
n
e, como da hipótese vem t − t0 > nt/(n + 1) > nt0 , podemos fazers = nt/(n + 1). Então
   n 
(n+1) t t
S (t) = AS AS
n+1 n+1
  n+1   n+1
t t
= AS = S (1) .
n+1 n+1
ii) Por hipótese, se t > t0 , então S(t)x ∈ D(A) ∀ x ∈ X. Portanto, se t > t0 , existe o
limite de Ah S(t)x quando h → 0+ e

lim Ah S(t)x = AS(t)x, ∀ x ∈ X,


h→0+

i.e., S(t)x é derivável à direita em todo t > t0 e

d+
S(t)x = AS(t)x ∀ x ∈ X.
dt
Seja t > s > t0 . Então, por i), AS(s) é um operador linear limitado e, como

AS(t) = AS(s)S(t − s),

tem-se que, para |h| < t − s,

||AS(t + h)x − AS(t)x|| = ||AS(s)S(t + h − s)x − AS(s)S(t − s)x|| ≤


≤ ||AS(s)|| · ||S(t + h − s)x − S(t − s)x|| → 0

quando h → 0, visto que S é fortemente contínuo. Logo, AS(t)x é contínua em todo


t > t0 , ∀ x ∈ X. Segue-se, pelo Lema de Dini, que S(t)x é continuamente diferenciável
em todo t > t0 , ∀ x ∈ X, e
d
S(t)x = AS(t)x = S (1) (t)x,
dt
1.3. SEMIGRUPOS DIFERENCIÁVEIS 19

o que demonstra ii) para n = 1. Suponhamos ii) válida para n e seja t > (n + 1)t0 e
t − t0 > s > nt0 . Por (1.3.1) temos, então,

S (n) (t)x = S(t − s)S (n) (s)x ∀ x ∈ X.

Mas t − s > t0 , donde S(t − s)S (n) (s)x é continuamente diferenciável pois ii) é válida
para n = 1. Logo, ∀ x ∈ X, S (n) (t)x é continuamente diferenciável para t > (n + 1)t0
donde, pela hipótese de indução, S(t)x é n + 1 vezes continuamente diferenciável para
t > (n + 1)t0 , ∀ x ∈ X, e

dn+1 d (n)
n+1
S(t)x = S (t)x = AS(t − s)S (n) (s)x = AS (n) (t)x = S n+1 (t)x
dt dt
o que completa a demonstração de ii).
iii) Seja t > t0 , s tal que t > s > t0 e |h| < t − s. Daí vem, por ii),
Z t+h
S(t + h)x − S(t)x = AS(τ )x dτ, ∀ x ∈ X.
t

Se τ > s tem-se
AS(τ )x = AS(s)S(τ − s)x ∀ x ∈ X.
Daí vem, para os pontos τ tais que τ > s, ||AS(τ )x|| = ||AS(s)S(τ − s)x|| ≤ ||AS(s)|| ·
||S(τ − s)|| · ||x|| ∀ x ∈ X, uma vez que, por i), AS(s) é um operador linear limitado. Em
particular, para os pontos τ do intervalo de extremos t e t+h tem-se ||AS(τ )x|| ≤ M||x||,
onde M é uma constante, pois ||S(τ − s)|| é limitada nos intervalos limitados. Logo,

||S(t + h)x − S(t)x|| < M|h| · ||x|| ∀ x ∈ X,

donde ||S(t + h) − S(t)|| < M|h| → 0 quando h → 0, i.e., S é contínua, na topologia


uniforme de L(X), no ponto t > t0 . Deste modo, iii) é válida para n = 0.
Seja, agora, t > (n + 1)t0 e t − t0 > s > nt0 . Daí vem t − s > t0 , donde se
|h| < t − s − t0 , então t + h − t0 > s > nt0 e (t + h) > (n + 1)t0 . Logo, por (1.3.1),

S (n) (t) = S(t − s)S (n) (s)

e
S (n) (t + h) = S(t + h − s)S (n) (s).
Agora, tendo em vista que S (n) (s) é, por i), um operador linear limitado, pois s > nt0 ,
e que, pelo que já foi demonstrado, S é uma função contínua, na topologia uniforme de
L(X), no ponto t − s, segue-se que

||S (n) (t + h) − S (n) (t)|| ≤ ||S(t + h − s) − S(t − s)|| · ||S (n) (s)|| → 0

quando h → 0, i.e., S (n) é contínua na topologia uniforme de L(X) para t > (n + 1)t0 .
20 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

iv) Seja t > (n + 1)t0 e |h| < t − (n + 1)t0 . Por ii) tem-se
Z t+h
S (n−1) (t + h)x − S (n−1) (t)x = S (n) (τ )x dτ ∀ x ∈ X. (1.3.2)
t

Mas, por iii), S (n) é contínua, em todo τ > (n + 1)t0 , na topologia uniforme de L(X);
logo, S (n) é integrável no intervalo de extremos t e t + h e
Z t+h
S (n) (τ )x dτ
t

é um operador linear limitado. Portanto,


Z "Z #
t+h t+h
(n) (n)
S (τ )x dτ = S (τ )dτ x
t t

e daí, por (1.3.2),


"Z #
t+h
(n+1) (n−1) (n)
[S (t + h) − S (t)]x = S (τ )dτ x ∀ x ∈ X,
t

donde Z t+h
(n−1) (n−1)
S (t + h) − S (t) = S (n) (τ )dτ.
t
Dividindo ambos os membros por h e passando ao limite quando h → 0 temos
d (n−1)
S (t) = S (n) (t) ∀ t > (n + 1)t0 . (1.3.3)
dt
Para n = 1 tem-se, pois,
d
S(t) = S (1) (t) ∀ t > 2t0 ,
dt
i.e., iv) é verdadeira para n = 1. Suponhamos verdadeira para n − 1, i.e.,

dn−1
S(t) = S (n−1) (t) ∀ t > nt0 , (1.3.4)
dtn−1
e seja t > (n + 1)t0 . Então t > nt0 e por (1.3.3) e (1.3.4)

d (n−1) dn
S (n) (t) = S (t) = n S(t) ∀ t > (n + 1)t0 ,
dt dt
o que completa a demonstração.
1.3.4 Corolário. Se S é um semigrupo diferenciável, então S é n vezes diferenciável
na topologia uniforme de L(X) em todo ponto t > 0 e

dn
S(t) = S (n) (t) = An S(t) = [AS(t/n)]n , ∀ n ∈ N. (1.3.5)
dtn
1.4. GERAÇÃO DE SEMIGRUPOS 21

1.4 Geração de Semigrupos

1.4.1 O Resolvente de um Operador. Seja A um operador linear de X. O conjunto


dos λ ∈ C, (C = corpo dos números complexos) para os quais o operador linear λI − A
é invertível e seu inverso é limitado e tem domínio denso em X, representado por ρ(A),
é dito conjunto resolvente de A. O conjunto σ(A) = C\ρ(A) é dito espectro de A. O
operador linear (λI − A)−1 , λ ∈ ρ(A), representado por R(λ, A), é dito resolvente de A.
Para simplificar a escrita, quando não houver possibilidade de confusão, escreveremos
simplesmente λ − A em lugar de λI − A.
Observe-se que, quando o operador linear A é fechado, R(λ, A) é igualmente fechado,
logo, ∀ λ ∈ ρ(A), R(λ, A) é um operador linear limitado e fechado em um conjunto denso
em X. Seu domínio é, pois, X.
No caso particular em que X = C, todo operador linear A de X é da forma Ax = ax
onde a ∈ C. Nesse caso particular tem-se, pois, R(λ, A) = (λ − a)−1 . Além disto a é o
gerador infinitesimal do semigrupo (função exponencial) eta e, como é imediato,
Z ∞
1
R(λ, A) = = e−λt eat dt, Re λ > Re a.
λ−a 0

Portanto, o resolvente do gerador infinitesimal é a transformada de Laplace do semigrupo.


Essas considerações estendem-se facilmente aos operadores A ∈ L(X), qualquer que seja
o espaço de Banach X. É natural, pois, indagar se tal representação não seria válida
quando A não é limitado. O teorema a seguir mostra que é.
1.4.2 Teorema. Seja S um semigrupo de classe C0 com gerador infinitesimal A. Se
Reλ > ω0 , onde
log ||S(t)||
ω0 = lim ,
t→∞ t
então λ ∈ ρ(A), existe a integral
Z ∞
e−λt S(t)x dt, ∀ x ∈ X,
0

e Z ∞
R(λ, A)x = e−λt S(t)x dt, ∀ x ∈ X. (1.4.1)
0

Demonstração: Seja Re λ ≥ µ > ω > ω0 . Então existe, pela Proposição 1.2.6, uma
constante M ≥ 1 tal que
||S(t)|| ≤ M eωt , t ≥ 0.
Logo, ||e−λt S(t)x|| ≤ M e(zω−Re λt ||x|| ≤ M e(ω−µλ)t ||x||. Mas
Z ∞ 1
e(ω−µ)t dt =
0 µ−ω
22 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

e como a função e−λt S(t)x é contínua segue-se, pelo teste de Weierstrass, (A.5.1 do
Apêndice), que a integral
Z ∞
Rλ (x) = e−λt S(t)x dt, Re λ > ω, x ∈ X,
0

é convergente. Além disto, Rλ é, obviamente, linear e é limitado porque ||Rλ || ≤


M
. Temos
(Re λ − ω)
1 Z ∞ −λt 1 Z ∞ −λt
Ah Rλ (x) = e S(t + h)x dt − e S(t)x dt
h 0 h 0
Z Z
eλh − 1 ∞ −λt eλh ∞ −λt
= e S(t)x dt − e S(t)x dt,
h 0 h 0
donde
lim Ah Rλ (x) = λRλ x − x, ∀ x ∈ X.
h→0+

Segue-se daí que


Rλ (x) ∈ D(A) ∀ x ∈ X e (λI − A)Rλ (x) = x. (1.4.2)
Por outro lado, de x ∈ D(A) vem, levando em conta que, pela Proposição 1.2.11, A é
fechado e que, pela Proposição 1.2.10, S(t)Ax = AS(t)x,
Z ∞
Rλ (Ax) = e−λt S(t)Ax dt =
0
Z ∞ Z ∞
−λt
= Ae S(t)x dt = A e−λt S(t)x dt = ARλ (x).
0 0

Daí e de (1.4.2) vem


Rλ (λI − A)x = x, ∀ x ∈ D(A)
que, juntamente com (1.4.2) mostra que

Rλ = (λI − A)−1 = R(λ, A),

o que completa a demonstração.


1.4.3 Corolário. Nas mesmas condições do Teorema 4.2:
dn
R(λ, A) = (−1)n n!R(λ, A)n+1
dλn (1.4.3)
Z ∞
dn
R(λ, A) = e−λt (−t)n S(t)x dt, ∀ x ∈ X.
dλn 0

Demonstração: A primeira das fórmulas (1.4.3) está demonstrada no Apêndice (Coro-


lário A.1.4 do Apêndice). Como de ω0 < ω < µ ≤ Re λ vem

||eλt tn+1 S(t)x|| ≤ M||x||tn+1 e(ω−Re λ)t ≤ M||x||tn+1 e(ω−µ)t = M(t)


1.4. GERAÇÃO DE SEMIGRUPOS 23

e a função que figura no membro da direita dessa desigualdade é contínua e positiva e


sua integral em relação a t converge em [0, ∞) e, além disto, e−λt tn+1 S(t)x é contínua,
segue-se, pelo teste de Weierstrass, (A.5.1 do Apêndice) que a integral
Z ∞
e−λt tn+1 S(t)x dt
0

converge uniformemente no semiplano Re λ ≥ µ. Logo, pelo Teorema A.5.2 do Apêndice,


é permitida a diferenciação sob o sinal de integração em
Z ∞
e−λt tn S(t)x dt
0

e
d Z ∞ −λt n Z ∞
e t S(t)x dt = − e−λt tn+1 S(t)x dt, Re λ > ω0
dλ 0 0

pela arbitrariedade de µ e ω.
Por indução tem-se, então, a segunda das fórmulas (1.4.3).
1.4.4 Teorema. (Hille-Yosida). Para que um operador linear A, definido em D(A) ⊂ X
e com valores em X, seja o gerador infinitesimal de um semigrupo S de classe C0 , é
necessário e suficiente que:

i) A seja fechado e seu domínio seja denso em X;

ii) Existam números reais M e ω tais que para cada real λ > ω se tenha λ ∈ ρ(A) e

M
||R(λ, A)n || ≤ , ∀ n ∈ N.
(λ − ω)n
Demonstração: 1) Necessidade. Seja S um semigrupo de classe C0 . A Proposi-
ção 1.2.11 demonstra a necessidade de i). Para cada

ω > ω0 = lim [(log ||S(t)||)/t]


t→∞

existe, pela Proposição 1.2.6, um M tal que

||S(t)|| ≤ M eωt , ∀ t ≥ 0.

Pelo Teorema 1.4.2, se λ > ω então λ ∈ ρ(A) e, pelo Corolário 1.4.3,


Z ∞
n 1
R(λ, A) x = e−λt tn−1 S(t)x dt. (1.4.4)
(n − 1)! 0

Logo, Z ∞
n M M
||R(λ, A) || ≤ tn−1 e−(λ−ω)t dt = , n ∈ N,
(n − 1)! 0 (λ − ω)n
24 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

i.e., a condição ii) é necessária.


2) Suficiência. A demonstração da suficiência consiste em pôr

Bλ = λ2 R(λ, A) − λf, λ>ω

e mostrar que o semigrupo (função exponencial) etBλ tem para limite forte, quando
λ → ∞, um semigrupo de classe C0 cujo gerador infinitesimal é A.
a) Vamos mostrar, em primeiro lugar, que

lim Rλ x = Ax, x ∈ D(A). (1.4.5)


λ→∞

Como, por definição,


R(λ, A)(λI − A) = I
tem-se
λR(λ, A) − I = R(λ, A)A
donde, se x ∈ D(A),

||λR(λ, A)x − x|| = ||R(λ, A)Ax|| ≤ M||Ax||(λ − ω)−1 → 0

quando λ → ∞, isto é,

lim λR(λ, A)x = x, ∀ x ∈ D(A).


λ→∞

Mas, como, por hipótese,

||λR(λ, A)|| ≤ M|λ|(λ − ω)−1

tem-se
||λR(λ, A)|| ≤ 2M,
para λ suficientemente grande. Segue-se daí que

lim λR(λ, A)x = x, ∀ x ∈ X,


λ→∞

uma vez que D(A) é, por hipótese, denso em X. Logo, levando em conta que Bλ =
λR(λ, A)A, para cada x ∈ D(A) tem-se

lim Bλ x = lim λR(λ, A)x = Ax.


λ→∞ λ→∞

b) Da definição de Bλ e das hipóteses tem-se


2 R(λ,A)−λI)

X (λ2 t)n ||R(λ, A)n ||
||etBλ || = ||et(λ || ≤ e−λt ≤
n=0 n!

X (λ2 t)n −1
≤ M e−λt n
= M etωλ(λ−ω) .
n=0 n!(λ − ω)
1.4. GERAÇÃO DE SEMIGRUPOS 25

Mas, ωλ(λ − ω)−1 é uma função de λ que tende a ω quando λ → ∞. Logo, se γ > ω,
existe λ(γ) tal que ωλ(λ − ω)−1 < γ, para todo λ > λ(γ) e, assim,

||etBλ || ≤ M etγ , ∀ λ > λ(γ). (1.4.6)

c) Vamos mostrar agora que etBλ tende fortemente para um operador linear limitado
quando λ → ∞. Ponhamos, por simplicidade, Eλ (t) = etBλ . Como, para cada λ e cada
µ, R(λ, A) comuta com R(µ, A), segue-se que Bλ Bµ = Bµ Bλ . Levando em conta que

tBλ
X tn Bλn
Sλ (t) = e = ,
n=0 n!

segue-se que Bµ Sλ = Sλ Bµ . Logo,


Z Z t
t d
Sλ (t)x − Sµ (t)x = [Sµ (t − τ )Sλ (τ )x]dτ = Sµ (t − τ )Sλ (τ )[Bλ − Bµ ]x dτ,
0 dτ 0

donde, levando em conta (1.4.6),

||Sλ(t)x − Sµ (t)x|| ≤ M 2 t etγ ||Bλ x − Bµ x||, ∀ λ, µ > λ(γ), γ > ω.

Mas, por (1.4.5), tem-se ||Bλ x − Bµ x|| → 0 quando λ, µ → ∞, ∀ x ∈ D(A). Logo,


∀ x ∈ D(A), Sλ (t)x converge, a convergência sendo uniforme em relação a t em cada
intervalo compacto [0, T ] e isto é válido ∀ x ∈ X pois, D(A) é, por hipótese, denso em X
e Sλ (tg) é limitado quando λ → ∞. Segue-se, pelo Teorema de Banach-Steinhaus, que
existe um operador linear limitado S(t) tal que

lim Sλ (t)x = S(t)x, ∀x ∈ X (1.4.7)


λ→∞

e a convergência é uniforme nos intervalos limitados.


d) Vamos demonstrar que S é um semigrupo de classe C0 com gerador infinitesimal A.
Como, para cada λ > ω, Sλ é um semigrupo, temos

S(0)x = lim Sλ (0)x = x


λ→∞

Sλ (t + s)x = lim Sλ (t + s)x = lim Sλ (t)Sλ (s)x = S(t)S(s)x,


λ→∞ λ→∞

para cada x ∈ X e t, s ≥ 0. Além disto, S(t)x é o limite uniforme de Sλ (t)x, donde


contínua. Consequentemente S é um semigrupo de classe C0 .
e) Resta demonstrar que o gerador infinitesimal de S é A. Temos, para λ > λ(γ) e todo
x ∈ D(A),

||Sλ (t)Bλ x − S(t)Ax|| ≤ ||Sλ (t)Bλ x − Sλ (t)Ax|| + ||Sλ(t)Ax − S(t)Ax|| ≤


≤ ||Sλ (t)|| · ||Bλ x − Ax|| + ||Sλ (t)Ax − S(t)Ax|| ≤
≤ Mt etγ ||Bλx − Ax|| + ||Sλ(t)Ax − S(t)Ax||
26 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

e como, por (1.4.5), ∀ x ∈ D(A), Bλ x → Ax quando λ → ∞ e, por (1.4.7)

Sλ (t)Ax → S(t)Ax

uniformemente em relação a t em todo intervalo limitado, essa desigualdade mostra que


Sλ (t)Bλ x converge a S(t)Ax, uniformemente em relação a t, em todo intervalo [0, T ],
∀ x ∈ D(A). Logo, passando ao limite, quando λ → ∞, ambos os membros da igualdade
Z t
Sλ (t)x − x = Sλ (τ )Bλ x dτ
0

temos Z t
S(t)x − x = S(τ )Ax dτ, ∀ x ∈ D(A).
0
Portanto, se B é o gerador infinitesimal de S, temos
Z
S(t)x − x 1 t
Bx = lim+ = lim+ Sλ (τ )Ax dτ = Ax,
t→0 t t→0 t 0

para cada x ∈ D(A). Consequentemente A ⊂ B. Mas, por hipótese, λ ∈ ρ(A) ∀ λ > ω e,


como B é o gerador infinitesimal de S segue-se, pelo Teorema 1.4.2, que λ ∈ ρ(B) para
cada λ suficientemente grande, logo, se λ é suficientemente grande temos λ ∈ ρ(A)∩ρ(B).
Para tais valores de λ temos

(λI − A)D(A) = X, (λI − B)D(B) = X

e como B ⊃ A tem-se

(λI − B)D()A) = X, (λI − A)D(A) = X

donde,
D(A) = (λI − B)−1 X = D(B).
Logo A = B e, assim, A é o gerador infinitesimal de S, o que completa a demonstração.
1.4.5 Corolário. Para que um operador linear A seja gerador infinitesimal de um
semigrupo de ckasse C0 tal que ||S(t)|| ≤ eωt , t ≥ 0 é necessário e suficiente que A seja
fechado, seu domínio seja denso e se λ > ω, então λ ∈ ρ(A) e
1
||R(λ, A)|| ≤ ·
λ−ω
Com efeito, como ∀ n ∈ N,
1
||R(λ, A)n || ≤ ||R(λ, A)||n ≤ ,
(λ − ω)n
o operador A satisfaz as condições do Teorema 1.4.4 com M = 1.
1.4. GERAÇÃO DE SEMIGRUPOS 27

1.4.6 Corolário. Para que um operador linear A seja gerador infinitesimal de um


semigrupo de contrações lineares de classe C0 é necessário e suficiente que A seja fechado,
seu domínio seja denso, (0, ∞) ⊂ ρ(A) e, ∀ λ > 0,

||λR(λ, A)|| ≤ 1.

Demonstração: Caso particular do Corolário 1.4.5 com ω = 0.


1.4.7 Corolário. Seja um semigrupo de classe C0 e A seu gerador infinitesimal. Se
Bλ = λ2 R(λ, A) − λI, λ > ω > ω0 , então

S(t)x = lim etBλ x, ∀ x ∈ X. (1.4.8)


λ→∞

1.4.8 Notação. Para simplificar a linguagem vamos escrever A ∈ G(M, ω) para expri-
mir que A é o gerador infinitesimal de um semigrupo de operadores lineares limitados
de classe C0 , S, que satisfaz a condição ||S(t)|| ≤ M eωt , ∀ t ≥ 0.
1.4.9 Proposição. A − ω ∈ G(M, 0) se, e só se, A ∈ G(M, ω).
Com efeito, por [λ − (A − ω)] = [(λ + ω) − A] vê-se que λ ∈ ρ(A − ω) ⇔ λ + ω ∈ ρ(A),
donde
R+ ⊂ ρ(A − ω) ⇔ R+ + ω ⊂ ρ(A) (1.4.9)
e
M
||R(λ, A − ω)n || ⇔ ||R(λ + ω, A)n || ≤
, λ > 0.
λn
Portanto, pondo λ no lugar de λ + ω no segundo membro dessa última equivalência,
M M
||R(λ, A − ω)n || ≤ ∀ λ > 0 ⇔ ||R(λ, A)n || ≤ , ∀ λ > ω. (1.4.10)
λ n (λ − ω)n

Além disto,
D(A − ω) = X ⇔ D(A) = X (1.4.11)
e
A − ω é fechado ⇔ A é fechado. (1.4.12)
A asserção feita decorre, agora, de (1.4.10)-(1.4.12), pelo Teorema 1.4.4.
Poder-se-ia, agora, indagar se, em vez de III) da Definição 1.2.1, fosse suposto que
III’) lim hx∗ , (S(t) − I)xi = 0 ∀ x ∈ X e ∀ x∗ ∈ X ∗ ,
t→0+

não se teria uma generalização dos semigrupos de classe C0 e, portanto, uma condição
menos restritiva que a estabelecida por Hille e Yosida para os geradores infinitesimais
desses semigrupos? A resposta é negativa porque, como se mostra, todo semigrupo de
operadores limitados de X (Definição 1.2.1) que satisfaz III’) satisfaz também III). No
28 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

caso dos semigrupos, III) e III’) são, pois, equivalentes. A demonstração encontra-se em
[24] e em [67].
Será feita a seguir uma outra caracterização dos geradores infinitesimais dos semigru-
pos de contrações lineares de classe C0 devida a Lumer e Phillips.
Seja X um espaço de Banach, X ∗ o dual de X e h · , · i a dualidade entre X e X ∗ .
Ponhamos, para cada x ∈ X,

J(x) = {x∗ ∈ X ∗ ; hx, x∗ i = ||x||2 = ||x∗ ||2 }.

Pelo Teorema de Hahn-Banach, J(x) 6= ∅ ∀ x ∈ X. Uma aplicação dualidade é uma


aplicação j : X → X ∗ tal que j(x) ∈ J(x), ∀ x ∈ X.
Imediatamente se vê que ||j(x)|| = ||x||.
1.4.10 Definição: i) Diz-se que o operador linear A : X → X é dissipativo se, para
alguma aplicação dualidade, j,

RehAx, j(x)i ≤ 0 ∀ x ∈ D(A). (1.4.13)

ii) Diz-se que A é m-dissipativo se for dissipativo e I(λ − A) = X para algum λ > 0
(I(λ − A) = imagem de λ − A).
iii) Diz-se que A é acretivo (m-acretivo) se −A for dissipativo (m-dissipativo).
1.4.11 Proposição. Se A é dissipativo, então

||(λ − A)x|| ≥ λ||x|| ∀ λ > 0 e ∀ x ∈ D(A). (1.4.14)

Com efeito, se λ > 0 e A é dissipativo, então de

h(λ − A)x, j(x)i = λ||x||2 − hAx, j(x)i

vem

λ||x||2 ≤ Reh(λ − A)x, j(x)i ≤ |h(λ − A)x, j(x)i| ≤


≤ ||(λ − A)x|| · ||j(x)|| = ||(λ − A)x|| · ||x||, ∀ λ > 0 e ∀ x ∈ D(A),

donde (1.4.14).
1.4.12 Proposição. Se A é m-dissipativo e I(λ0 − A) = X, λ0 > 0, então:

i) λ0 ∈ ρ(A) e A é fechado;

ii) (0, ∞) ⊂ ρ(A);

iii) I(λ − A) = X, ∀ λ > 0.


1.4. GERAÇÃO DE SEMIGRUPOS 29

Demonstração: i) Por hipótese I(λ0 − A) = X, ∀ λ0 > 0, e como, por (1.4.14), λ0 − A


é injetiva; (λ0 − A)−1 existe, ainda por (1.4.14), ∀ x ∈ X,

||x|| = ||(λ0 − A)(λ0 − A)−1 || ≥ λ0 ||(λ0 − A)−1 x||,

i.e., (λ0 − A)−1 ∈ L(X). Logo, λ0 ∈ ρ(A) e A é fechado.


ii) Tem-se λ0 > 0, por hipótese, e λ0 ∈ ρ(A), por i). Portanto o conjunto

Λ = ρ(A) ∩ (0, ∞)

não é vazio e como ρ(A) é aberto, Λ é aberto em (0, ∞). Vamos mostrar que Λ é fechado
em (0, ∞). Seja λn ∈ Λ e λn → λ, λ ∈ (0, ∞). De λn ∈ Λ segue-se que

I(λn − A) = X, ∀ n ∈ N,

pois A é fechado, como já se viu. Logo, se y ∈ X, existe, para cada n ∈ N, um xn tal


que (λn − A)xn = y. Novamente por (1.4.14) temos

||xn || ≤ λ−1 −1
n ||(λn − A)xn || = λn ||y|| < C, (1.4.15)

e, ainda por (1.4.14),

λn ||xn − xm || ≤ ||λn (xn − xm ) − A(xn − xm )||. (1.4.16)

Da definição de xn vem

λn xn − λm xm − A(xn − xm ) = 0

e, portanto,
λn xn − λn xm + λn xm − λm xm − A(xn − xm ) = 0,
donde
λn (xn − xm ) + (λn − λm )xm − A(xn − xm ) = 0.
Logo
λn (xn − xm ) − A(xn − xm ) = (λm − λn )xm . (1.4.17)
De (1.4.16) e (1.4.17) vem

λn ||xn − xm || ≤ ||(λm − λn )xm || ≤ |λm − λn | ||xm || ≤ |λm − λn |C,

donde, tendo em vista que λn → λ > 0, segue-se que (xn ) é uma sucessão de Cauchy.
Seja xn → x. Como λn → λ temos, então, λn xn → λx, donde Axn → λx − y. Mas, como
já foi visto, A é fechado; logo Ax = λx − y ou seja (λ − A)x = y e, como y é um elemento
arbitrário de X, I(λ − A) = X. Daí e de λ > 0 segue-se, por i), que λ ∈ ρ(A). Portanto
λ ∈ Λ e, assim, Λ é fechado em (0, ∞). Logo, Λ = (0, ∞) donde (0, ∞) ⊂ ρ(A).
30 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

iii) De λ > 0 vem λ ∈ ρ(A), por ii), donde (λ − A)−1 é um operador linear limitado e
fechado com domínio denso em X. Logo I(λ − A) = X.
1.4.13 Teorema. (Lumer-Phillips). A ∈ G(1, 0) se, e só se, A é m-dissipativo e
densamente definido.
Demonstração: Se A ∈ G(1, 0) então, pelo Corolário 1.4.6, A é densamente definido,
fechado e (0, ∞) ⊂ ρ(A), donde I(λ − A) = X ∀ λ > 0. Além disto, para cada aplicação
dualidade, j, tem-se

RehS(t)x, j(x)i ≤ |hS(t)x, j(x)i| ≤ ||S(t)x|| · ||j(x)|| ≤ ||x||2

visto que, por hipótese, ||S(t)x|| ≤ ||x||, ∀ x ∈ X. Portanto,

RehS(t)x − x, j(x)i = RehS(t)x, j(x)i − ||x||2 ≤ 0,

donde, dividindo por t e passando ao limite quando t → 0 tem-se

RehAx, j(x)i ≤ 0 ∀ x ∈ D(A)

e, assim, A é dissipativo. Reciprocamente, se A é m-dissipativo, então, pela Proposi-


ção 1.4.12, A é fechado, (0, ∞) ⊂ ρ(A) e, por (1.4.14)

||x|| = ||(λ − A)(λ − A)−1 x|| ≥ λ||(λ − A)−1 x||

ou seja,
||(λ − A)−1 x|| ≤ (1/λ)||x||, ∀ x ∈ X e ∀ λ > 0.
Logo,
1
||R(λ, A)|| ≤ ∀λ > 0
λ
e, portanto, A ∈ G(1, 0) pelo Corolário 1.4.6.
Observação: Do teorema de Lumer-Phillips resulta imediatamente que se A é m-
dissipativo e densamente definido então RehAx, j(x)i ≤ 0 para toda aplicação dualidade,
j, e para todo x ∈ D(A). Vamos indicar por B ∗ o adjunto do operador B (A.1.5 do
Apêndice).
1.4.14 Teorema. Seja X um espaço de Banach reflexivo e S um semigrupo de classe
C0 com gerador infinitesimal A. Então, definindo S ∗ : R+ → L(X ∗ ) por S ∗ (t) = S(t)∗
∀ t ∈ R+ , S ∗ é um semigrupo de classe C0 e A∗ seu gerador infinitesimal.
Demontração: Como, por hipótese, X é reflexivo e A é fechado e densamente definido,
A∗ é, igualmente, fechado e densamente definido (Teorema A.1.6 do Apêndice). Tem-se,
além disto, pela Proposição A.1.8 do Apêndice que

λ ∈ ρ(A) ⇒ λ ∈ ρ(A∗ ) e R(λ, A)∗ = R(λ, A∗ ).


1.4. GERAÇÃO DE SEMIGRUPOS 31

Pelo Teoreema 1.4.4 existem ω ∈ M tais que, λ > ω ⇒ λ ∈ ρ(A) e

||R(λ, A)n || ≤ M/(λ − ω)n ∀ n ∈ N, λ > ω.

Mas então, para λ > ω, λ ∈ ρ(A∗ ) e tendo em vista a Proposição A.1.7 do Apêndice,

||R(λ, A∗ )n || = ||R(λ, A)∗n || = ||R(λ, A)n∗ || = ||R(λ, A)n || ≤ M/(λ − ω)n

∀ n ∈ N, λ > ω,
donde, ainda pelo Teorema 1.4.4 A∗ é o gerador infinitesimal de um semigrupo, T , de
classe C0 . Pelo Corolário 1.4.7 temos ∀ x∗ ∈ X ∗
2 R(λ,A∗ )t−λt 2 R(λ,A)t−λt
T (t)x∗ = lim eλ x∗ = lim (eλ )∗ x∗ = S(t)∗ x∗ .
λ→∞ λ→∞

1.4.15 Corolário. Um semigrupo S, de classe C0 , é auto-adjunto (S(t)∗ = S(t) ∀ t ∈


R+ ) se, e só se, A é um operador auto-adjunto (A∗ = A).
1.4.16 Observação. O teorema de Lumer-Phillips será usado, agora, para descrever
uma importante classe de operadores do tipo G(1, ω). Inicialmente serão apontados
alguns resultados da teoria das equações diferenciais elíticas, essenciais à compreensão
do assunto.
Seja Ω um aberto do Rn . Representa-se por H m (Ω) o espaço de Sobolev de ordem
m sobre Ω, com produto escalar
X Z
(u, v)m = D α u · D α v dx

|α|≤m

e norma induzida  1
X Z 2

||u||m =  |D α u|2 dx .


|α|≤m Ω

O espaço de Sobolev H 0 (Ω) reduz-se ao espaço L2 (Ω), com produto escalar


Z
(u, v) = uv dx

e norma Z 1
2
2
||u|| = |u| dx ;

Como H0m (Ω) representa-se aderência de C0m (Ω) em H m (Ω).
O conjunto Ω será sempre um aberto e limitado do Rn cuja fronteira, Γ, é uma
variedade infinitamente diferenciável, de dimensão n − 1, e Ω está do mesmo lado de Γ.
Sejam aαβ , |α| ≤ m, |β| ≤ m funções complexas, infinitamente continuamente dife-
renciáveis em Ω. Considere-se o operador diferencial
X
L= (−1)|α| D α (aαβ )E β . (1.4.18)
|α|≤m,|β|≤m
32 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

Associa-se a L a forma sesquilinear


X Z
a(u, v) = (u, Lv) = aαβ D α u · D β v dx,

|α|≤m,|β|≤m

definida em H0m (Ω), conhecida por forma de Dirichlet de L. Quando |α| = |β| = m = 1,
por exemplo,
X n Z
∂u ∂v
a(u, v) = aij · dx
i,j=1 Ω ∂xi ∂xj
é a forma de Dirichlet do operador diferencial
n
!
X ∂ ∂
L=− aij ·
i,j=1 ∂xi ∂xj

Quando, em particular, aij = δij , onde δij é o delta de Kronecker, tem-se


n Z
X ∂u ∂v
a(u, v) = dx,
n=1 Ω ∂xi ∂xi

forma de Dirichlet do operador de Laplace


n
X ∂2
L=− 2
= −∆.
i=1 ∂xi

1.4.17 Proposição. A forma a(u, v) é contínua em H0m (Ω), i.e., existe uma constante
C > 0 tal que
|a(u, v)| ≤ C||u||m · ||v||m ∀ u, v ∈ H0m (Ω).

Demonstração: De acordo com as hipóteses as funções |aαβ | são limitadas em Ω. Logo,


pela Desigualdade de Cauchy-Schwarz e a definição da norma de H0m (Ω), tem-se
X Z
|a(u, v)| ≤ |aαβ | |D αu| |D β v| dx ≤

|α|≤m,|β|≤m
X Z X
≤C |D αu| |D β v| dx ≤ C ||D αu|| ||D β v|| ≤
|α|≤m,|β|≤m Ω |α|≤m,|β|≤m
s X s X
≤C ||D α u||2 · ||D β v||2 ≤ C||u||m · ||v||m
|α|≤m |α|≤m

∀ u, v ∈ H0m (Ω).

O operador diferencial L, definido por (1.4.18), diz-se fortemente elítico em Ω, se


existir uma constante γ > 0 tal que
X
Re aαβ (x)ξ α ξ β ≥ γ|ξ|2m
|α|=|β|=m
1.4. GERAÇÃO DE SEMIGRUPOS 33

∀ x ∈ Ω e ∀ ξ ∈ Rn . Note-se que se α = (α1 , . . . , αn ) e ξ = (ξ1 , . . . , ξn ), então

ξ n = ξ1α1 · ξ2α2 · · · · · ξnαn .

Está nesse caso o operador −∆. Será admitido sem demonstração o lema a seguir.
1.4.18 Lema. (Desigualdade de Garding). Se L é fortemente elítico, então existem
duas constantes c0 > 0 e γ0 ≥ 0 tais que

Re a(u, v) ≥ c0 ||u||2m − γ0 ||u||2

para todo u ∈ H0m (Ω).


A demonstração encontra-se em [1], [15] e [67]. No caso do operador −∆, a desigual-
dade de Garding é imediata pois, neste caso,
n Z
!2
X ∂u
Re a(u, u) = Re dx = ||∇u||2 = ||u||21 − ||u||2.
i=1 Ω ∂xi

Uma forma sesquilinear B(u, v), definida em um espaço de Hilbert, H, é dita coerciva
se existir uma constante k > 0 tal que Re B(u, u) ≥ k||u||2, ∀ u ∈ H. A Desigualdade
de Garding exprime que, se L é fortemente elítico, a forma

aγ : H0m (Ω) × H0m (Ω) → C, γ ≥ γ0 .

definida por aγ (u, v) = a(u, v) + γ(u, v), evidentemente sesquilinear, é coerciva:

Re aγ (u, v) ≥ c0 ||u||2m , ∀ u ∈ H0m (Ω). (1.4.19)

Será admitido, também sem demonstração, ([1] e [42]) o Lema de Lax-Milgram que
assim se enuncia:
1.4.19 Lema. Se B(u, v) é uma forma sesquilinear, contínua e coerciva em espaço de
Hilbert H, então, para toda forma, f , linear e contínua em H, existe um único vetor
u ∈ H tal que
B(v, u) = hv, f i ∀ v ∈ H.
O adjunto formal L∗ de L é definido por
X
L∗ ϕ = (−1)|β| D β (aαβ D α ϕ) ∀ ϕ ∈ C0∞ (Ω).
|α|≤m,|β|≤m

Com integrações por partes vê-se que

(ϕ, Lψ) = a(ϕ, ψ) = (L∗ ϕ, ψ), ∀ ϕ, ψ ∈ C0∞ (Ω), (1.4.20)

donde pela densidade de C0∞ (Ω) em H0m (Ω),

(L∗ ϕ, u) = a(ϕ, u) ∀ ϕ ∈ C0∞ (Ω) e ∀ u ∈ H0m (Ω). (1.4.21)


34 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

Diz-se que a função u de L2 (Ω) é solução fraca da equação

Lu = f, f ∈ L2 (Ω),

se
(L∗ ϕ, u) = (ϕ, f ), ∀ ϕ ∈ C0∞ (Ω).
Pode-se, agora, demonstrar o resultado que segue.
1.4.20 Proposição. Seja L fortemente elítico e γ ≥ γ0 . Para cada f ∈ L2 (Ω), a
equação
Lu + γu = f (1.4.22)
tem uma única solução fraca em H0m (Ω).
Demonstração: Observe-se, inicialmente, que para cada f ∈ L2 (Ω), (v, f ) é uma forma
linear em H0m (Ω). É contínua em H0m (Ω) porque

|(v, f )| ≤ ||f || · ||v|| ≤ ||f || · ||v||m , ∀ t ∈ H0m (Ω).

Além disto, ∀ γ ≥ γ0 , aγ é uma forma sesquilinear, contínua e coerciva em H0m (Ω). Pelo
Lema de Lax-Milgram existe, então, um único vetor u ∈ H0m (Ω) tal que

aγ (v, u) = (v, f ) ∀ v ∈ H0m (Ω).

Portanto, um único vetor u ∈ H0m (Ω) tal que

aγ (ϕ, u) = (ϕ, v) ∀ ϕ ∈ C0∞ (Ω),

uma vez que C0∞ (Ω) é denso em H0m (Ω). Por (1.4.21) segue-se que

(ϕ, f ) = aγ (ϕ, u) = a(ϕ, u) + γ(ϕ, u) = (L∗ ϕ, u) + γ(ϕ, u)


= ((L∗ + γ)ϕ, u) = ((L + γ)∗ ϕ, u) ∀ ϕ ∈ C0∞ (Ω).

Logo, u é solução fraca de (1.4.22), q.e.d. .

1.4.21 Lema. A solução fraca (1.4.22) pertence a H 2m (Ω).


Este fato é demonstrado nos cursos de equações diferenciais elíticas e será admitido
sem demonstração (Teorema A.9.2 do Apêndice no caso de −∆).
1.4.22 Definição. Seja L um operador fortemente elítico de ordem 2m. Define-se um
operador em L2 (Ω), representado ainda por L, por

D(L) = H 2m (Ω) ∩ H0m (Ω)


X
Lu = (−1)|α| D α (aαβ D β u) ∀ u ∈ D(L). (1.4.23)
|α|≤m,|β|≤m

1.4.23 Proposição. Se L é definido por (1.4.23) e u ∈ D(L), então ∀ γ ≥ γ0


1.4. GERAÇÃO DE SEMIGRUPOS 35

i) Re(u, (L + γ)u) ≥ c0 ||u||2m

ii) |(u, (L + γ)u)| ≤ k||u||2m , k ≥ 0.

Demonstração: De (1.4.20) segue-se que ∀ u ∈ D(L), (u, Lu) = a(u, u). Logo, por
(1.4.19)

Re(u, (L + γ)u) = Re(u, Lu) + γ(u, u) = Re a(u, u) + γ(u, u) =


Re aγ (u, u) ≥ c0 ||u||2m

∀ u ∈ D(L), o que demonstra i). Pela Proposição 1.4.17 temos

|(u, (L + γ)u)| = |(u, Lu) + γ(u, u)| = |a(u, u) + γ(u, u)| ≤


|a(u, u)| + γ||u||2 ≤ c||u||2m + γ||u||2 ≤ (c + γ)||u||2m = k||u||2m ,

o que demonstra ii).


1.4.24 Teorema. Se L é o operador de L2 (Ω) definido por (1.4.23), então

−L ∈ G(1, γ), ∀ γ ≥ γ0 .

Demonstração: Como H 2m (Ω) ∩ H0m (Ω) é denso em L2 (Ω), o operador −(L + γ),
γ ≥ γ0 , é densamente definido. Além disto, por i) da Proposição 1.4.23, é dissipativo e
como, pela Proposição 1.4.20,

I(µ − (−(L + γ))) = I(L + γ + µ) = L2 (Ω), ∀ µ > 0,

segue-se que é m-dissipativo. Logo, pelo Teorema de Lumer-Phillips, −(L + γ) ∈ G(1, 0),
∀ γ > γ0 , donde −L ∈ G(1, γ), γ > γ0 , pela Proposição 1.4.9.
1.4.25 Corolário. O operador ∆ de L2 (Ω), definido por


 = H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω).
D(∆)
n ∂2u
P (1.4.24)

 ∆u = ∀ u ∈ D(∆),
 2
i=1 ∂xi

pertence a G(1, 0).


Demonstração: Pelo Teorema 1.4.24 basta mostrar que a constante γ0 que figura na
Desigualdade de Garding relativa a −∆ é 0.
Se ϕ ∈ C0∞ (Ω) temos, integrando por partes, (fórmula de Green),
!2
XZ ∂ϕ
(ϕ, −∆ϕ) = dx = ||∇ϕ||2. (1.4.25)
i=1 Ω ∂xi
36 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

Por outro lado, da Desigualdade de Poincaré-Driedrichs, ||ϕ| ≤ λ||∇ϕ||, onde λ é uma


constante, vem
||ϕ||21 = ||ϕ||2 + ||∇ϕ||2 ≤ (1 + λ2 )||∇ϕ||2
e, portanto, ||∇ϕ||2 ≥ c||ϕ||21 , com c > 0. Logo, no caso do operador −∆,

(ϕ, −∆ϕ) ≥ c||ϕ||21 , (1.4.26)

desigualdade essa que é válida para todo ϕ ∈ C0∞ e, portanto por densidade, para todo
u ∈ H01 (Ω). Logo γ0 = 0 e, assim, ∆ ∈ G(1, 0), q.e.d. .
Como se acaba de ver, o operador ∆ de L2 (Ω), definido por (1.4.24), pertence a
G(1, 0), donde é m-dissipativo e densamente definido. Além disto, se u, v ∈ H 2 (Ω) ∩
H01 (Ω) então
Z Z Z
(∆u, v) = (∆u)v = − ∇u ∇v = u ∆v = (u, ∆v)
Ω Ω Ω

i.e., ∆ é simétrico; logo é auto-adjunto pelo Teorema A.1.9 do Apêndice. Vamos mos-
trar que os semigrupos gerados por operadores com essas duas propriedades, i.e., m-
dissipativos e auto-adjuntos são diferenciáveis. Iniciemos a demonstração com os dois
lemas a seguir.
1.4.26 Lema. Seja A um operador dissipativo de um espaço de Hilbert, H, e u : [0, ∞) →
H uma função continuamente diferenciável em [0, ∞) e que satisfaz a condição
du
= Au, t ≥ 0. (1.4.27)
dt
Então ||u|| é uma função decrescente.
Demonstração:
! Multiplicando internamente
! por u ambos os membros de (1.4.27) tem-
du du 1 d 1 d
se , u = (Au, u) e, como Re ,u = ||u||2, tem-se ||u||2 = Re(Au, u).
dt dt 2 dt 2 dt
Integrando de s a t, 0 ≤ s ≤ t, tem-se
Z
1 1 t
||u(t)||2 − ||u(s)||2 = Re(Au(τ ), u(τ )) dτ ≤ 0
2 2 s

pois A é, por hipótese, dissipativo. Logo, ||u(t)| ≤ ||u(s)||; 0 ≤ s ≤ t.


1.4.27 Lema. Seja A um operador dissipativo e auto-adjunto de um espaço de Hilbert,
H, e u ∈ C 2 ([0, ∞); H) uma função que satisfaz as condições

du d2 u
= Au e 2
= A2 u.
dt dt
Então
du 1
(t) ≤ ||u(0)||.
dt t
1.4. GERAÇÃO DE SEMIGRUPOS 37

du
Demonstração: Pelo Lema 1.4.26, é uma função decrescente, donde para T > 0
dt
tem-se !
Z Z 2 2
T du T du T2 du
Au, t dt = t dt ≥ (T ) · (1.4.28)
0 dt 0 dt 2 dt
!
du
Mas, como A é auto-adjunto e Au, é, de acordo com as hipóteses, um número real,
dt
tem-se ! ! !
d du du du
(Au, u) = A , u + Au, = 2 Au,
dt dt dt dt
donde, integrando por partes,
Z !
T du 1Z T d
Au, t dt = (Au, u)t dt =
0 dt 2 0 dt
Z (1.4.29)
1 1 T
= (Au(T ), u(T ))T − (Au, u)t dt;
2 2 0
!
du 1 d
Novamente, como A é auto-adjunto, de , u = (Au, u) vem ||u||2 = (Au, u) e,
dt 2 dt
portanto, Z
1 1 T
||u(T )||2 − ||u(0)||2 = (Au, u) dt. (1.4.30)
2 2 0

Logo, por (1.4.28), (1.4.29) e (1.4.30) tem-se


2
T 2 du 1 1
(T ) ≤ (Au(T ), u(T ))T − ||u(0)||2.
2 dt 2 4

Mas A é dissipativo e (Au, u) é real. Segue-se que

du 1
(T ) ≤ ||u(0)||.
dt T

1.4.28 Proposição. Se A é um operador m-dissipativo e auto-adjunto de um espaço


de Hilbert, H, então o semigrupo S, de classe C0 , gerado por A, é diferenciável.
Demonstração: Seja x ∈ H. Pela Proposição 1.2.14, D(A2 ) é denso em H, donde
existe uma sucessão (xn ) convergente a x e tal que xn ∈ D(A2 ), n = 1, . . . . Mas

||S(t)xn − S(t)x|| ≤ ||S(t)|| ||xn − x||,


1
pois S(t) é um operador linear limitado; além disto, ||AS(t)xn −AS(t)xm || ≤
||xn −xm ||
t
pelo Lema 1.4.27. Logo, quando n → ∞, S(t)xn converge a S(t)x e AS(t)xn converge em
todo intervalo [δ, ∞), δ > 0. Mas, então, como A é um operador fechado, S(t)x ∈ D(A)
∀ t ≥ δ > 0 e, portanto, ∀ t > 0. Logo S é um semigrupo diferenciável.
38 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

1.4.29 Teorema. Seja A um operador m-dissipativo e auto-adjunto de um espaço de


Hilbert, H, e S o semigrupo de classe C0 gerado por A. Então, ∀ x ∈ H e inteiros não
negativos n e k,
S(t)x ∈ C n ((0, ∞) [D(Ak )]). (1.4.31)

Demonstração: Pela Proposição 1.4.28, S é um semigrupo diferenciável. Mas, então,


por ii) do Teorema 1.3.3, ∀ x ∈ H e m = 1, . . . S(t) é m vezes continuamente diferenciável
em (0, ∞) e
dm
S(t)x = Am S(t)x.
dtm
Portanto, ∀ x ∈ H a função S(t)x : [0, ∞) → H satisfaz, em (0, ∞), a condição

dj
j
S(t)x ∈ D(Ak ), j, k = 0, 1, . . . ,
dt
e as funções
dj
At S(t)x i, j = 0, 1, . . . ,
dtj
são contínuas em (0, ∞). Logo, pela Observação 1.2.17,

S(t)x ∈ C m ((0, ∞); [D(Ak )]), k, n = 0, 1 . . . .

1.5 Grupos de Classe C0


1.5.1 Definição. Diz-se que uma aplicação S : R → L(X) é um grupo de operadores
lineares limitados de X se

I) S(0) = I, onde I é o operador identidade de L(X).

II’) S(t + s) = S(t)S(s), ∀ t, s ∈ R.


Diz-se que S é um grupo de classe C0 se

III’) lim ||(S(t) − I)x|| = 0 ∀ x ∈ X.


t→0

O gerador infinitesimal de S é definido por:


( )
S(h)x − x
D(A) = x ∈ X; lim existe ,
h→0 h
S(h)x − x
Ax = lim , ∀ x ∈ D(A).
h→0 h

1.5.2 Proposição. Para que A seja gerador infinitesimal de um grupo de operadores


lineares limitados de classe C0 , é necessário e suficiente que +A e −A sejam geradores
infinitesimais de semigrupos de classe C0 .
1.5. GRUPOS DE CLASSE C0 39

Demonstração: Seja A gerador infinitesimal de grupo de operadores lineares limitados


de classe C0 , S. A restrição de S a R+ , é obviamente, um semigrupo, S+ , de classe C0 ;
o mesmo ocorre com a aplicação S− : R+ → L(X) definida por S− (t) = S(−t).
O gerador infinitesimal de S+ é A. De fato, seja A+ o gerador infinitesimal de S+ .
Se x ∈ D(A), então existe o limite de

S(h)x − x
h
quando h → 0 e, em particular, quando h → 0+ . Portanto, existe o limite de

S+ (h)x − x
h
quando h → 0+ e
S+ (h)x − x S(h)x − x
lim+ = lim+ = Ax,
h→0 h h→0 h
donde x ∈ D(A+ ) e A+ x = Ax, il.e., A ⊂ A+ . Por outro lado, sex ∈ D(A+ ), então

S(h)x − x S+ (h)x − x
lim+ = lim+ = A+ x,
h→0 h h→0 h
e
S(−h)x − x S− (h)x − x S+ (h)x − x
lim+ = lim+ = lim+ S− (h) = A+ x,
h→0 −h h→0 −h h→0 h
pois S− é um semigrupo de classe C0 . Logo, existe o limite de

S(h)x − x
h
quando h → 0 e tem-se
S(h)x − x
lim = A+ x
h→0 h
o que mostra que se x ∈ D(A) e A+ x = Ax. Desse modo D(A+ ) = D(A) e A+ x = Ax,
∀ x ∈ D(A), i.e., A+ = A. Analogamente vê-se que o gerador infinitesimal de S− é −A.
Logo, a condição é ncessária.
Reciprocamente, vamos supor que A e −A sejam geradores dos semigrupos de classe
C0 , S+ e S− , respectivamente. Pelo Corolário 1.4.7 sabe-se, então, que
2 R(λ,A)−λI)x
S+ (t)x = lim et(λ
λ→∞
2 R(λ,−A)−λI)x
S− (t)x = lim et(λ .
λ→∞

Logo, S+ (t) comuta com S− (t) donde, ponto T (t) = S+ (t)S− (t), T (t) é um semigrupo,
como se verifica imediatamente; como S+ é um semigrupo de classe C0 , ||S+ (t)|| é
40 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

limitado em todo intervalo limitado. Levando em conta a continuidade forte de S+ e a


de S− temos

||T (t)x − x|| ≤ ||S+ (t)S− (t)x − S+ (t)x|| + ||S+ (t)x − x|| ≤
≤ ||S+ (t)|| · ||S− (t)x − x|| + ||S+ (t)x − x|| → 0,

quando h → 0+ , i.e., T é de classe C0 . Além disto, como de x ∈ D(A) = ( − A) e h > 0


vem
T (h)x − x S+ (h)S− (h)x − x S− (h)x − x S+ (h)x − x
= = S+ (h) + =
h h h h
= −Ax + Ax = 0;

segue-se que
T (h)x − x
lim+ = 0, ∀ x ∈ D(A).
h→0 h
Logo, se B é gerador infinitesimal de T , D(A) ⊂ D(B) e B(x) = 0 ∀ x ∈ D(A). Como
D(A) é denso em X, D(A) é densoo em D(B) e como B é fechado tem-se B(x) = 0
∀ x ∈ D(B). Por (1.2.7) temos, então, T (x) = x ∀ x ∈ X, i.e., T (t) = I, ∀ t ≥ 0.
Assim, S− (t) = S+ (t)−1 o que permite definir um grupo S de classe C0 , com gerador
infinitesimal A, por 
S (t) se t ≥ 0
+
S(t) =
S (−t) se t < 0

Realmente, tem-se S(0) = S+ (0) = I, i.e., I) é satisfeita. Para demonstrar II’) observe-se
que: a) se t > 0 e s > 0, então

S(t + s) = S+ (t + s) = S+ (t)S+ (s) = S(t)S(s);

b) se t < 0 e s < 0, então

S(t + s) = S− (−t − s) = S− (−t)S− (−s) = S(t)S(s);

c) se t > 0, s < 0 e t + s > 0, então

S(t + s) = S+ (t + s) = S+ (t + s)S+ (−s)S+ (−s)−1 = S+ (t)S− (−s) = S(t)S(s);

d) se t > 0, s < 0 e t + s < 0, então

S(ts ) = S− (−t − s) = S− (−t − s)S− (t)S− (−t)−1 = S− (−s)S+ (t) = S(t)S(s).

Portanto II’) é válida. Temos

lim ||S(h)x − x|| = lim+ ||S+ (h)x − x|| = 0, ∀ x ∈ X,


h→0+ h→0

lim ||S(h)x − x|| = lim + +||S− (−h)x − x|| = 0, ∀ x ∈ X,


h→0− −h→0
1.5. GRUPOS DE CLASSE C0 41

donde III’) é válida. Logo, S é um grupo de classe C0 . Seja B o gerador infinitesimal


de S. Então, de x ∈ D(A) vem
S(h)x − x S+ (h)x − x
lim+ = lim+ = Ax
h→0 h h→0 h
S(h)x − x S− (−h)x − x
lim− = − lim+ = Ax,
h→0 h h→0 −h
donde x ∈ D(B) e Bx = Ax ∀ x ∈ D(A), i.e., A ⊂ B. Se x ∈ D(B), então
S+ (h)x − x S(h)x − x
lim+ = lim+ = Bx,
h→0 h h→0 h
donde x ∈ D(A) e Ax = Bx, i.e., B ⊂ A. Logo, A = B.
1.5.3 Teorema. Para que A seja gerador infinitesimal de um grupo de classe C0 é
necessário e suficiente que A seja fechado, densamente definido e existam constantes
reais M e ω tais que se λ é real e |λ| > ω, então λ ∈ ρ(A) e
M
||R(λ, A)n || ≤ , n ∈ N. (1.5.1)
(|λ| − ω)n

Demonstração: Seja A o gerador infinitesimal de um grupo S de classe C0 ; então, pela


Proposição 1.5.2, A é o gerador infinitesimal do semigrupo S+ , restrição de S a R+ e
−A é o gerador infinitesimal de S− definido por S− (t) = S(−t). Consequentemente, A é
fechado densamente definido e existem reais M± e ω± tais que se λ > ω+ , então λ ∈ ρ(A)
e
M+
||R(λ, A)n || ≤
(|λ| − ω+ )n
e se λ > ω− , então λ ∈ ρ(−A) e
M−
||R(λ, −A)n || ≤ ·
(|λ| − ω− )n
Seja ω = max{ω+ , ω− }, M = max{M+ , M− } e |λ| > ω. Então, se λ > ω tem-se λ ∈ ρ(A)
e
M
||R(λ, A)n || ≤ , (1.5.2)
(λ − ω)n
e se −λ > ω tem-se −λ ∈ ρ(−A) e, portanto, λ ∈ ρ(A) donde, tendo em vista que
R(λ, A) = −R(−λ, −A),
M
||R(λ, A)n || = ||[−R(−λ, −A)]n || = ||R(−λ, −A)n | ≤ ·
(−λ − ω)n
Daí e de (1.5.2) vem (1.5.1). Logo, a condição é necessária. Reciprocamene, suponhamos
A fechado e densamente definido e (1.5.1) satisfeita. Então, de λ > |ω| vem |λ| = λ > ω
donde λ ∈ ρ(A) e
M M
||R(λ, A)n || ≤ ≤ ,
(λ − ω) n (λ − |ω|)n
42 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

e portanto, +A é o gerador infinitesimal de um semigrupo S de classe C0 . De λ > ω


vem | − λ| > |ω| ≥ ω donde −λ ∈ ρ(A) e, portanto, λ ∈ ρ(−A) e
M M
||R(λ, −A)n || = ||R(−λ, A)n || ≤ ≤ ,
(λ − ω) n (λ − |ω|)n
donde −A é gerador infinitesimal de um semigrupo S de classe C0 . Logo A é gerador
infinitesimal de um grupo S de classe C0 , pela Proposição 1.5.2.
1.5.4 Proposição. Seja S um semigrupo de classe C0 . Se, para algum t0 > 0, S(t0 )−1
existe e S(t0 )−1 ∈ L(X), então S(t)−1 existe e S(t)−1 ∈ L(X) para todo t ≥ 0.
Demonstração: Da existência de S(t0 )−1 e de S(t0 )−1 ∈ L(X) decorre que S(t0 ) é
injetiva e sobrejetiva. Da injetividade de S(t0 ) segue-se a de S(nt0 ) = S(t0 )n . Seja t ≥ 0,
n tal que nt0 > t e S(t)x = 0. Então, S(nt0 )x = S(nt0 − t)S(t)x = 0 donde x = 0 o que
mostra S(t) é injetiva para todo t ≥ 0. Da sobrejetividade de S(t0 ), i.e., de I(S(t0 )) = X,
onde I(S(t0 )) é a imagem de S(t0 ), vem I(S(nt0 )) = I(S(t0 )n ) = X. Se t ≥ 0 e n é tal
que nt0 > t, de S(nt0 ) = S(t)S(nt0 − t) decorre que X = I(S(nt0 )) ⊂ I(S(t)) donde
S(t) é sobrejetiva para todo t ≥ 0. Portanto, S(t)−1 ∈ L(X), ∀ t ≥ 0, pelo Teorema do
Operador Inverso de Banach.
1.5.5 Proposição. Seja S um semigrupo de classe C0 e A o gerador infinitesimal de S.
Se, para algum t0 > 0, S(t0 )−1 existe e S(t0 )−1 ∈ L(X), então A é o gerador infinitesimal
de um grupo de classe C0 .
Demonstração: Pela Proposição 1.5.4, S(t)−1 existe para todo t ≥ 0 e S(t)−1 ∈ L(X).
Pondo, então, T (t) = S(t)−1 resulta que T é uma aplicação de R+ em L(X) e

T (0) = S(0)−1 = I −1 = I
T (t + s) = S(t + s)−1 = S(s + t)−1 = [S(s)S(t)]−1
= S(t)−1 S(s)−1 = T (t)T (s),

isto é, um semigrupo. Como S(t)X = X ∀ t ≥ 0, se x ∈ X e τ > 1, então existe y ∈ X


tal que x = S(τ )y. Portanto para 0 < t < 1 tem-se x = S(τ )y = S(t)S(τ − t)y e

lim+ T (t)x = lim+ S(t)−1 x = lim+ S(t)−1 S(t)S(τ − t)y =


t→0 t→0 t→0

= lim+ S(τ − t)y = S(τ )y = x,


t→0

isto é, T de classe C0 . Além disto, de x ∈ D(A) vem

T (h)x − x S(h)−1 x − x S(h)x − x


+ Ax = + Ax = −S(h)−1 + Ax =
h h" # h
1 S(h)x − x
= S(h) S(h)Ax − ·
h
1.5. GRUPOS DE CLASSE C0 43

Como S(t)−1 = T (t) e T é um semigrupo de classe C0 , então ||T (t)|| ≤ Meωt para algum
M e algum ω reais. Logo,

T (h)x − x S(h)x − x
+ ax ≤ Meωt S(h)Ax − →0
h h

quando h → 0+ , i.e.,
T (h)x − x
lim+ = −Ax.
h→0 h
Logo, designando por A o gerador infinitesimal de T , segue-se que D(A) ⊂ D(A′ ) e

A′ (x) = −Ax, ∀ x ∈ D(A). Analogamente mostra-se que se x ∈ D(A′ ), então

S(h)x − x
lim+ = −A′ x.
h→0 h
donde D(A′ ) ⊂ D(A). Logo, A′ = −A donde, pela Proposição 1.5.2, A é o gerador
infinitesimal de um grupo de classe C0 .
1.5.6 Nota. Satisfeitas as hipóteses da Proposição 1.5.5, o grupo W gerado por A é,
pela Proposição 1.5.5, dado por

S(t) se t ≥ 0
W (t) =
S(−t) −1 se t < 0

1.5.7 Definição. Um grupo S de operadores lineares limitados de um espaço de Hilbert


é dito grupo unitário se S(t)∗ = S(t)−1 , ∀ t ≥ 0.
Tem-se ||S(t)x|| = ||x|| para todo semigrupo unitário, S, pois

||S(t)x||2 = (S(t)x, S(t)x) = (S(t)∗ S(t)x, x) = (S(t)−1 S(t)x, x) =


= (x, x) = ||x||2 .

1.5.8 Teorema de Stone. Um operador linear, A, de um espaço de Hilbert, X, é o


gerador infinitesimal de um grupo unitário de classe C0 se, e só se, A∗ = −A.
Demonstração: Seja A gerador infinitesimal de um grupo unitário, S, de classe C0 .
Pela Proposição 1.5.2, A e gerador infinitesimal do semigrupo S+ e −A gerador infinite-
simal do semigrup S− . Pelo Teorema 1.4.14 A∗ é o gerador infinitesimal do semigrupo
S+∗ . Então, de S+∗ (h) = S+ (h)∗ = S(h)∗ = S(h)−1 = S(−h) = S− (h), vem

S+∗ (h) − I S− (h) − I


=
h h
donde D(A∗ ) = D(A) e A∗ x = −Ax, ∀ x ∈ D(A). Logo, A∗ = −A.
44 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

Reciprocamente, seja A∗ = −A. Da existência de A∗ segue-se que D(A) é denso em


X. Para todo x ∈ D(A) temos

(Ax, x) = (x, A∗ x) = −(x, Ax) = −(Ax, x),

e, portanto, Re(Ax, x) = 0. Logo os operadores ±A são dissipativos. Segue-se pela


Proposição 1.4.11 que i ± A são operadores injetivos e ∀ x ∈ D((±A)−1 ) tem-se ||x|| =
||(I±A)(I±A)−1 x|| ≥ ||(I±A)−1 x|| donde ||(I±A)−1 || ≤ 1. Além disto, como o operador
adjunto é fechado, segue-se, de A∗ = −A, que (I ± A)−1 são fechados. Portanto, para
demonstrar que I(I ± A) = X é bastante demonstrar que I(I ± A) = D(I ± A)−1 é
denso. Seja, para isso, y ⊥ I(I ± A). Então, ∀ x ∈ D(A) temos ((I ± A)x, y) = 0 ou seja,
(Ax, y) = (x, ±y), donde y ∈ D(A∗ ) e −Ay = A∗ y = ±y. Logo, Re(Ay, y) = ∓||y||2 e,
como Re(Ay, y) = 0 tem-se y = 0. Portanto, I(I±A) = X. Pelo Teorema 1.4.13 segue-se,
então, que +A e −A geram semigrupos de classe C0 donde, pela Proposição 1.5.2, A gera
um grupo, S, de classe C0 . Falta apenas demonstrar que S é unitário. O semigrupo
S− é gerado por −A = A∗ donde, pelo Teorema 1.4.14, S−∗ é gerado por A∗∗ = A.
Portanto, S− (t)∗ = S(t) e como S− (t) = S(−t) = S(t)−1 tem-se (S(t)−1 )∗ = S(t), i.e.,
S(t)−1 = S(t)∗ , q.e.d. .
1.5.9 Nota. Observe-se que A∗ = −A se, e só se, iA é auto-adjunto pois se A∗ = −A,
então (iA)∗ = iA∗ = −i(−A) = iA, i.e., iA é auto-adjunto e se iA é auto-adjunto, então
iA = (iA)∗ = iA∗ = i(−A∗ ), i.e., A∗ = −A. Logo, pelo Teorema de Stone, A gera um
grupo unitário de classe C0 se, e só se, iA é auto-adjunto.
1.5.10 Exemplos. 1) Seja A0 o operador de L2 (Ω) definido por

D(A
0) = H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω)
A = i∆u, ∀ u ∈ D(A0 )
0u

onde ∆ é o laplaciano e Ω satisfaz as condições estipuladas em 1.4.16. Vamos mostrar


que −iA0 é auto-adjunto. Resultará daí que iA0 é auto-adjunto donde, pela Nota 1.5.9,
que A0 é gerador infinitesimal de um grupo unitário de classe C0 .
Tem-se que −iA0 é densamente definido e, ∀ u, v ∈ D(A0 ),

(−iA0 u, v) = (∆u, v) = (u, ∆v) = (u, −iA0 v), (1.5.3)

i.e., −iA0 é simétrico. Pelo Corolário 1.4.25, −iA0 ∈ G(1, 0), donde 1 ∈ ρ(−iA0 ), pelo
Corolário 1.4.6, e I(1 − (−iA0 )) = L2 (Ω), pelo Teorema de Lumer-Phillips. Logo, −iA0
é auto-adjunto pelo Teorema A.1.9 do Apêndice.
2) Seja A1 o operador de L2 (Rn ) definido por

D(A
1) = H 2 (Rn )
A = i∆u, ∀ u ∈ D(A1 ),
1u
1.5. GRUPOS DE CLASSE C0 45

onde ∆ é o laplaciano. Como no exemplo anterior, vamos mostrar que −iA1 é auto-
adjunto donde resultará que iA1 é auto-adjunto e, portanto, que A1 é o gerador infinite-
simal de um grupo unitário de clase C0 , pela Nota 1.5.9.
Pela definição de A1 , −iA1 é densamente definido donde simétrico porque a relação
(1.5.3) continua válida quando nela se substitui o operador A0 pelo operador A1 . Além
disto, −iA1 é dissipativo pois

(−iA1 u, u) = (∆u, u) = −(∇u, ∇u) = −||∇u||2.

Daí, pela Proposição 1.4.11, segue-se que, ∀ u ∈ D(A1 ), ||(1 − (−iA1 ))u|| ≥ ||u||,
donde I − (−iA1 ) é injetivo e, portanto, invertível e, se (1 − (−iA1 )u = u, então
||(1 − (−iA1 )−1 v|| = ||u|| ≤ ||v||, i.e., (1 − (−iA1 )−1 é um operador limitado. Logo,
1 ∈ ρ(−iA1 ). Além disto, pelo Teorema A.9.2 do Apêndice, a equação iA1 u + u = v tem
uma solução em H 2(Rn ) ∀ v ∈ L2 (Rn ) e, portanto, I(1 − (−iA1 )) = L2 (Rn ). Segue-se,
pelo Teorema A.1.7 do Apêndice, que −iA1 é auto-adjunto.
3) Seja (Ω, A, µ) um espaço medida e q : Ω → C uma função A mensurável. O
operador Mq de X = L2 (Ω, A, µ), definido por

D(Mq ) = {u ∈ X; qu ∈ X}
Mq u = qu ∀ u ∈ D(Mq ),

é dito operador multiplicação.


Vamos mostrar que se q é real, então iMq é o gerador infinitesimal de um grupo
unitário de classe C0 . Pela Nota 1.5.9 é bastante demonstrar que −Mq é auto-adjunto.
Seja, para isto, En = {x ∈ Ω; |q(x)| ≤ n, n ∈ N}. Se u ∈ X temos
Z Z
|q u χEn |2 dµ ≤ n2 |u|2 dµ < +∞,
Ω Ω

i.e., uχEn ∈ D(Mq ), n = 1, . . . . Como lim uχEn = i tem-se lim ||uχEn − u|| = 0,
n→∞ n→∞
pelo Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue. Logo, D(Mq ) é denso em X.
Além disto, para u, v ∈ D(Mq ) tem-se (Mq u, v) = (qu, v) = (u, qv) = (u, Mq v), i.e., Mq
é simétrico. Portanto o adjunto Mq∗ de Mq satisfaz as condições D(Mq ) ⊂ D(Mq∗ ) e
Mq∗ u = Mq u ∀ u ∈ D(Mq ). Vamos mostrar que D(Mq ) = D(Mq∗ ). De (±iI + Mq )u =
(±iI +Mq )v vem, imediatamente, u = v, i.e., os operadores ±iI +Mq são injetivos. Temos
| ± i + q(x)| ≥ 1 ∀ x ∈ Ω, donde de v ∈ X e | ± iv/(±i + q)| ≤ |v| vem ±iv/(±i + q) ∈ X
e, portanto,
qv ±iv
=v− ∈ X.
±i + q ±i + q
Logo,
v v
∈ D(Mq ) e (±iI + Mq ) = v,
±i + q ±i + q
46 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

i.e., os operadores ±iI + Mq são sobrejetivos. Suponhamos que D(Mq ) 6= D(Mq∗ ). Então,
iI + Mq∗ não é injetivo e, portanto, existe v 6≡ 0 tal que iI + Mq∗ v = 0, donde Mq∗ v = −iv.
Para u ∈ D(Mq ) tem-se, então,

(Mq u, v) = (u, Mq∗ v= (u, −iv) = (iu, v),

donde ((−iI + Mq )u, v) = 0 e, como (−iI + Mq )D(Mq ) = X tem-se v = 0, uma contra-


dição. Logo D(Mq ) = D(Mq∗ , donde Mq é auto-adjunto e, portanto, −Mq é, realmente,
auto-adjunto.

1.6 Fórmulas Exponenciais


1.6.1 Como foi visto anteriormente, apenas os semigrupos uniformemente contínuos ou
seja, as funções exponenciais, admitem representação da forma (1.1.1). Esses semigrupos
admitem, além dessa, as seguintes representações:
 
tA n
a) e = lim I +
tA
;
n→∞ n
b) etA = lim etAλ , onde lim Aλ = A;
λ→∞ λ→∞
 
tA −n
c) etA = n→∞
lim I − ,
n
onde A é seu gerador infinitesimal e, portanto, um operador limitado. A representa-
ção da forma a) é, também, própria dos semigrupos uniformemente contínuos; mas já
demonstramos (Corolário 1.4.7) a validade de uma representação do tipo b) para os se-
migrupos apenas fortemente contínuos. Agora vamos demonstrar para esses semigrupos
uma outra representação do mesmo tipo. Uma representação da forma c) será mostrada
posteriormente.
1.6.2 Teorema. (Primeira Fórmula Exponencial de Hille). Se S é um semigrupo de
classe C0 então
S(t)x = lim+ etAh x, (1.6.1)
h→0

onde Ah = (S(h) − I)/h, e o limite é uniforme em todo intervalo compacto, [0, T ].


Demonstração: Sejam M ≥ 1 e w reais tais que ||S(t)|| ≤ Mewt e, A o gerador
infinitesimal de S. Suponhamos w > 0, o que não é restritivo. Como Ah é um operador
linear limitado, podemos escrever
∞  n ∞  n
tAh t
S(h)−I
− ht t
S(h) − ht
X t S(h)n −th
X t S(nh)
e =e h =e e h =e =e
n=0 h n! n=0 h n!

donde,
∞  n
X
t t ||S(nh)|| t wh
||etAh || ≤ e− h ≤ Me h (e −1)
n=0 h n!
1.6. FÓRMULAS EXPONENCIAIS 47

e, se 0 < h ≤ 1,
w −1)
||etAh || ≤ Met(e ; (1.6.2)
Como Ah comuta com S(t), o mesmo se dá com etAh e S(t) donde, para x ∈ D(A) temos,
levando em consideração que dS(t)x/dt = AS(t)x,
d (t−τ )Ah
e S(τ )x = e(t−τ )Ah AS(τ )x − Ah e(t−τ )Ah S(τ )x

= e(t−τ )Ah S(τ )[Ax − Ah x].

Daí vem, para x ∈ D(A),


Z
tAh
t d (t−τ )A)h
||S(t)x − e x|| = e S(τ )xdτ ≤
0 τ
Z t
≤ ||(t−τ )Ah || · ||S(τ )|| · ||Ax − Ah x||dτ
0

e, se 0 < h ≤ 1, temos por (1.6.2)


w +w−1)
||S(t)x − etAh x|| ≤ tM 2 et(e ||Ax − Ah x||.

Desta última desigualdade resulta que a relação (1.6.1) é válida para x ∈ D(A), uma vez
que lim+ Ah x = Ax. Mas D(A) é denso em X e ||S(t)|| e ||etAh || são limitados em todo
h→0
intervalo compacto [0, T ]. Logo (1.6.1) é válida para todo x ∈ X, q.e.d. .

1.6.3 Seja !
n
X n
∆nh S(t) = (−1)n−m S(t + mh)
m=0 m
a enésima diferença de S(t). Imediatamente se tem
!n
∆nh S(t) S(h) − I
= S(t) = (Ah )n S(t).
hn h

1.6.4 Proposição. Para todo semigrupo S de classe C0 tem-se


∞  n
X t ∆nh S(0)
S(t)x = lim+ x, (1.6.3)
h→0
n=0 h n!

uniformemente em [0, T ], 0 < T < ∞.

1.6.5 Tomemos para X o espaço das funções uniformemente contínuas e limitadas em


R+ e consideremos o semigrupo de classe C0 , S, dado por [S(t)f ](x) = f (x + t), já
estudado no Exemplo 2) de 1.2.12. Nesse caso temos, por (1.6.3),
∞  n
X t ∆nh f
f (x + t) = lim+ (x) (1.6.4)
h→0
n=0 h n!
48 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

e o limite é uniforme em cada [0, T ]. A fórmula (1.6.4) é uma generalização da série de


Taylor

X (x − a)n (n)
f (x) = f (a)
n=0 n!
que dá o desenvolvimento de f (x) em uma vizinhança V de a quando f admite derivadas
de todas as ordens em V e |f (n) (x)| ≤ M em V . Observe-se que, nesse caso,

(∆nh f )
lim+ (x) = f (n) (x).
h→0 hn
Fazendo uso de (1.6.4) facilmente se demonstra o Teorema de Weierstrass segundo o
qual as funções contínuas em [0, 1] podem ser aproximadas por polinômios. Seja, com
efeito, f uma função contínua em [0, 1] e ponhamos f (x) = f (1), ∀ x > 1. Então f é
uniformemente contínua e limitada em [0, ∞), donde f admite a representação (1.6.4),
para todo x ∈ [0, ∞) e todo t ∈ R+ . Em particular para t ∈ [0, 1]. Dado ε > 0 tem-se
então, para h > 0 e suficientemente pequeno,
 n

X 1 t ε
f (t) − (∆nh f )(0) < , 0≤t≤1
n=0 n! h 2

e, para N suficientemente grande,


 n  n

X 1 t N
X 1 t ε
(∆nh f )(0) − (∆nh f )(0) < , 0 ≤ t ≤ 1.
n=0 n! h n=0 n! h 2

Para h e N assim determinados tem-se, pois,


N  n
X 1 t ε
f (t) − (∆nh f )(0) < , 0≤t≤1
n=0 n! h 2

e, portanto, o polinômio
 n
N
X 1 t
(∆nh f )(0)
n=0 h! h

aproxima f (t), a menos de ε, uniformemente em [0, 1].

1.7 Semigrupos Compactos


1.7.1 Definição. Diz-se que um semigrupo S de classe C0 é compacto se, para cada
t > 0, S(t) é um operador compacto.
Observe-se que se S(t) for compacto para t = 0, i.e., se o operador identidade de X
for compacto então necessariamente X tem dimensão finita.
1.7.2 Teorema. Seja S um semigrupo compacto. Então:
1.7. SEMIGRUPOS COMPACTOS 49

i) a função S é contínua na topologia uniforme de L(X) em todo ponto t > 0

ii) R(λ, A) é um operador compacto ∀ λ ∈ ρ(A).

Reciprocamente, seja S um semigrupo de classe C0 que satisfaz i) e

ii’) Para algum λρ(A), R(λ, A) é um operador compacto.

Então, S é um semigrupo compacto.


Demonstração: i) Seja S um semigrupo compacto, m uma constante positiva tal
que ||S(t)|| ≤ m, 0 ≤ t ≤ 1 e ε um real positivo. Para cada t > 0, a aderência de
{S(t)x; ||x|| = 1} que, por hipótese, é compacta, pode ser recoberta por uma família fi-
nita de esferas Vi , i = 1, . . . , n, com centro em S(t)xi e raio ε/2(m + 1). Para cada x tal
que ||x|| = 1 existe, pois, um xi , tal que ||S(t)x−S(t)xi || < ε/2(m+1). Como, além disso,
S é fortemente contínuo, existe um h0 , 0 < h0 < 1, tal que ||S(t + h)xi − S(t)xi || < ε/2
se 0 < h < h0 , i = 1, . . . , n. Logo, se 0 < h < h0 temos, para ||x|| = 1,

||S(t + h)x − S(t)x| ≤ ||S(h)|| · ||S(t)x − S(t)xi ||+||S(t + h)xi − S(t)xi ||+
+ ||S(t)xi − S(t)x|| < ε,

donde a continuidade de S à direita na topologia uniforme de L(X). Além disto, se


0 < h < t e 0 < δ < t − h, então

||S(t − h) − S(t)|| = ||S(t − h + δ − δ) − S(t)|| ≤ ||S(t − h − δ)|| ||S(δ) − S(h + δ)||

donde a continuidade à esquerda pois ||S(t − h − δ)|| é limitado quando h → 0 e ||S(δ) −


S(h + δ)|| → 0 quando h → 0, pela continuidade à direita.
ii) Recorde-se que a família, L0 (X), dos operadores compactos de X é um ideal
bilateral de L(X), fechado para a topologia uniforme de L(X). Como S é contínua na
topologia uniforme de L(X) em todo ponto t > 0, para ε, ρ > 0 existe a integral
Z ρ
R(ε, ρ) = e−λt S(t) dt
ε

no sentido de Riemann, estando L(X) munido de sua topologia uniforme. O operador


R(ε, ρ) é, pelas propriedades de L0 (X), compacto e, como existem w > w0 e M ≥ 1 tais
que ||S(t)|| ≤ Mewt , segue-se que R(ε, ρ) converge para um operador compacto quando
ε → 0 e, se Re λ > w, converge, analogamente, para um operador compacto quando
ρ → ∞. Logo, Z ∞
R(λ, A) = e−λt S(t) dt, Re λ > w > w0 (1.7.1)
0
é um operador compacto. Da Primeira Equação Resolvente

R(λ, A) = R(µ, A) + (µ − λ)R(λ, A)R(µ, A)


50 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

resulta, agora, que se R(µ, A) for compacto então R(λ, A) será compacto para todo
λ ∈ ρ(A) porque, como se disse acima, L0 (X) é um ideal bilateral de L(X).
Reciprocamente, vamos supor que i) e ii’) sejam verificados. De i) e de λ > 0,
λ > w > w0 , segue-se da validade de (1.7.1), donde
Z ∞
λR(λ, A)S(t) − S(t) = λe−λτ (S(t + τ ) − S(t)) dτ.
0

Portanto, para cada δ > 0,


Z δ
||λR(λ, A)S(t) − S(t)|| ≤ λe−λτ ||S(t + τ ) − S(t)|| dτ
0
Z ∞
+ λe−λτ (||S(t + τ )|| + ||S(t)||) dτ ≤ sup ||S(t + τ ) − S(t)||
δ 0<τ <δ
!
λδ
λe
+ M ewt−δτ +1 .
λ−w

Mas daí vem

lim ||λR(λ, A)S(t) − S(t)|| ≤ sup ||S(t + τ ) − S(t)||


λ→∞ 0≤τ ≤δ

donde
lim ||λR(λ, A)S(t) − S(t)|| = 0
λ→∞

pela continuidade de S na topologia uniforme de L(X) e a arbitrariedade de δ. Como


R(λ, A) é compacto para cada λ > w, visto que, como já se observou acima, ii’) ⇒
ii), e como L0 (X) é fechado na topologia uniforme de L(X), segue-se que S(t) é com-
pacto. q.e.d. .
Representemos por σp (T ) o espectro pontual do operador T de X, isto é, o conjunto
dos autovalores de T .
1.7.3. Lema.

i) Se µ ∈ σp (A) então 1/(λ − µ) ∈ σp (R(λ, A)), ∀ λ ∈ ρ(A) e se Ax = µx então


R(λ, A)x = x/(λ − µ), ∀ λ ∈ ρ(A).

ii) Se µ ∈ σp (R(λ, A)) para algum λ ∈ ρ(A) então (λµ−1)/µ ∈ σp (A) e se R(λ, A)x =
µx então Ax = (λµ − 1)x/µ.

Demonstração: i) Seja µ ∈ σp (A) e x um autovetor de A associado a µ. Teremos,


∀ λ ∈ ρ(A)

x = R(λ, A)(λ − A)x = λR(λ, A)x − R(λ, A)Ax =


= λR(λ, A)x − µR(λ, A)x = (λ, µ)R(λ, A)x,
1.7. SEMIGRUPOS COMPACTOS 51

donde
x
R(λ, A)x = ·
(λ − µ)
ii) Seja, para algum λ ∈ ρ(A), µ ∈ σp (R(λ, A)) e x um autovetor de R(λ, A) associado
a µ. Teremos
x = (λ − A)R(λ, A)x = (λ − A)µx = λµx − µAx
e, portanto,
λµ − 1
Ax = x.
µ
1.7.4 Lema. Seja S um semigrupo de clase C0 com gerador infinitesimal A. Então,
etσp (A) ⊂ σp (S(t))
e se x é um autovetor de A associado ao autovalor µ então x é autovetor de S(t) associado
ao autovalor etµ .
Z t
Demonstração: O operador R(λ, t) definido por R(λ, t)x = e−λs S(s)x ds é obviamente
0
linear e limitado. Além disto,
Z
S(h) − I eλh − 1 1 −λs
R(λ, t)x = e S(s)x ds
h h h
Z Z
eλh t+h −λs 1 h −λs
+ e S(s)x ds − e S(s)x ds
h t h 0
e, como ∀ x ∈ X o segundo membro tende a λR(λ, t)x + e−λt S(t)x − x quando h → 0
segue-se que R(λ, t)x ∈ D(A) e AR(λ, t)x = λR(λ, t)x + e−λt S(t)x − x, ∀ x ∈ X. Mas,
para todo x ∈ D(A), AR(λ, t)x = R(λ, t)Ax, visto que A é um operador fechado. Logo,
R(λ, t)(λ − A)x = x − e−λt S(t)x, ∀ x ∈ D(A). Segue-se daí que, se µ ∈ σp (A) e x é um
autovetor de A associado a µ e, portanto, (µ − A)x = 0, então x − eµt S(t)x = 0, ou seja,
S(t)x = eµt x, o que demonstra a asserção feita.
1.7.5 Lema. O espectro de um operador compacto é um conjunto finito ou enumerável
cujo único possível ponto limite é o ponto do espectro, diferente de zero, pertence ao
espectro pontual.
Demonstração. Propriedades dos operadores compactos bem conhecidas.
1.7.6 Proposição. Seja S um semigrupo compacto e A seu gerador infinitesimal. En-
tão,
i) σ(A) = σp (A) = {λn }, n = 1, . . . e (λn ) não tem ponto limite no plano complexo;

ii) R(λ, A) existe e é compacto para todo λ ∈ C, λ 6= λn e, se xn é qualquer autovetor


de A associado a λn , então
xn
R(λ, A)xn = , n = 1, . . . ,
λ − λn
S(t)xn = etλn xn , n = 1, . . . .
52 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

Demonstração: Seja S compacto e A seu gerador infinitesimal. Por ii) do Teo-


rema 1.7.2, R(λ, A) é compacto para todo λ ∈ ρ(A). Pelo Lema 1.7.5, σ(R(λ, A)) é
um conjunto finito ou enumerável e σp (R(λ, A)) = σ(R(λ, A))\{0}. Seja µ ∈ ρ(A)
µγn − 1
e σp (R(µ, A)) = {γn ; n = 1, . . . }. Pelo Lema 1.7.3, pondo λn = , tem-se
γn
λn ∈ σp (A). Vamos mostrar que σ(A) = σp (A) = {λn }. Com efeito, se λ 6= λn ,
1 1
n = 1, . . . , e λ 6= µ, então 6= γn , n = 1, . . . , donde ∈/ σ(R(µ, A)). Logo
µ−λ µ−λ
1 1
∈ ρ(R(µ, A)), i.e., − R(µ, A) é invertível e seu inverso é um operador linear
µ−λ µ−λ
limitado. O mesmo acontece, pois, com o operador I − (µ − λ)R(µ, A), i.e.,

(I − (µ − λ)R(µ, A))−1 ∈ L(X). (1.7.2)

Mas,

λ − A = λ − µ + µ − A = (µ − A) − µ + λ =
= (I − µ(µ − A)−1 + λ(µ − λ−1 )(µ − A)) =
= (I − (µ − λ)(µ − A)−1 )(µ − A) = (I − (µ − λ)R(µ, A))(µ − A).

Por (1.7.2) segue-se que λ − A é invertível e seu inverso pertence a L(X). Logo λ ∈ ρ(A)
e, portanto, σ(A) = σp (A) = {λn }.
Além disto, σ(A) não tem ponto limite no plano complexo pois se λ fosse ponto limite
1
de σp (A) então, pelo Lema 1.7.3, seria ponto limite de σp (R(µ, A)) diferente de
µ−λ
zero, o que contraria o Lema 1.7.5. Logo i) é válida. A ii) é uma consequência imediata
do Teorema 1.7.2 e dos Lemas 1.7.3 e 1.7.4.

1.8 Semigrupos Holomorfos


Vamos designar por ∆(α) o setor do plano complexo definido por

∆(α) = {z ∈ C; z 6= 0, | arg z| < α, 0 < α ≤ π}.

1.8.1 Definição. Diz-se que uma função S : ∆(α) ∪ {0} → L(X), onde 0 < α ≤ π/2, é
um semigrupo holomorfo de classe C0 em ∆(α) se:

I) S(0) = I;

II”) S(z1 + z2 ) = S(z1 )S(z2 ), ∀ z1 , z2 ∈ ∆(α);

III”) lim S(z)x = x ∀ z ∈ X, z ∈ ∆(α − ε), 0 < ε < α;


z→0

IV) S é holomorfa em ∆(α).


1.8. SEMIGRUPOS HOLOMORFOS 53

A restrição de todo semigrupo holomorfo de classe C0 ao eixo real não negativo que é,
obviamente, um semigrupo de classe C0 , diferenciável, satisfaz uma condição adicional
que será estudada a seguir.
Seja S um semigrupo holomorfo de classe C0 em ∆(α) e A o gerador infinitesimal da
restrição de S a R+ .
Se t > 0, o círculo de centro t e raio t sen ϕ, onde 0 < ϕ < α ≤ π/2, está contido na
região ∆(α), onde S é analítica. Portanto, pela Fórmula Integral de Caychy,

1 Z S(z)
AS(t) = dz. (1.8.1)
2πi |z−t|=t sen ϕ (z − t)2
Com argumento semelhante ao usado na Proposição 1.2.2, vê-se que existe uma constante
M ≥ 1 tal que ||S(z) ≤ M ∀ z ∈ Σ, onde

Σ = {z ∈ C; 0 < Re z ≤ 2, | arg z| ≤ ϕ}.

Logo, se 0 < t ≤ 1, temos, por (1.8.1), ||AS(t)|| ≤ M/t sen ϕ donde se segue que existe
uma constante N ≥ 1 tal que

||tAS(t)|| ≤ N, 0 < t ≤ 1. (1.8.2)

Vamos mostrar que, reciprocamente, todo semigrupo, S, de classe C0 , diferenciável e


que satisfaz a condição (1.8.2), admite uma extensão holomorfa em um setor ∆(α), para
algum α tal que 0 < α ≤ π/2.
Realmente, satisfeitas essas hipóteses, de 0 < t/n ≤ 1 vem, por i) do Teorema 1.3.3,
  n  n
t n
||An S(t)|| ≤ AS ≤ Nn
n t
e, portanto,
 
(z − t)n n |z − t|n n n n |z − t|n n nn
A S(t) ≤ N = N n ≤
n! n! t n! t
n
!n (1.8.3)
|z − t| |z − t|
≤ n
N n en = Ne ·
t t

P(z − t)n n
Logo, se |z − t| < t/Ne, a série A S(t) converge, donde define uma função
n=0 n!
e holomorfa no círculo de centro t e raio t/Ne. E como t é arbitrário, S
S, e é uma função
holomorfa para Re z > 0 e sen | arg z| < 1/Ne, i.e., holomorfa no setor ∆(α), onde
α = arc sen 1/Ne. Portanto, IV) é válida para Se com α = arc sen 1/Ne. Como, por i)
e
do Teorema 1.3.3, An S(t) ∈ L(X) para cada n ≥ 0 e cada t > 0, S(z), z ∈ ∆(α), é o
e
limite uniforme de uma sequência de elementos de L(X), onde S(z) ∈ L(X). Portanto,
Se : ∆(α) → L(X) e, pondo S(0)
e = I, tem-se Se : ∆(α) ∪ {0} → L(X) e I) é válida.
54 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

Se |z1 − t1 | ≤ t1 /Ne e |z2 − t2 | ≤ t2 /Ne, i.e., se z1 e z2 pertencem aos círculos


de convergência de S, e de centros t e t , respectivamente, então |z + z − t − t | ≤
1 2 1 2 1 2
e de centro t + t . Logo
(t1 + t2 )/Ne, i.e., z1 + z2 pertence ao círculo de convergência de S, 1 2
tendo em vista a fórmula elementar
(z1 + z2 − t1 − t2 )p X (z1 − t1 )n (z2 − t2 )m
= ·
p! m+n=p n! m!
segue-se que

e

X [(z1 + z2 ) − (t1 + t2 )]p p
S(z1 + z2 ) = A S(t1 + t2 ) =
p=0 p!

X X (z1 − t1 )n (z2 − t2 )m m+n e )S(z
e
= · A S(t1 + t2 ) = S(z1 2)
p=0 m+n=p n! m!

donde a validade de II”). Como Se é holomorfa em ∆(α), se z0 ∈ ∆(α) tem-se lim S(z)
e =
e e e
S(z0 ) quando z → _0 e z ∈ ∆(α) e, portanto, lim S(z)S(t) = lim S(z + t) = S(t),
quando z → 0, z ∈ ∆(α) e t > 0, os limites sendo tomados no sentido da topologia
uniforme de L(X). Daí resulta que
e
lim S(z)S(t)x = S(t)x ∀ z ∈ X, quando z → 0, z ∈ ∆(α) e t > 0.

Logo, quando z → 0, z ∈ ∆(α),


[
e
lim S(z)y = 0, ∀ y ∈ X0 = S(t)X.
0<t≤1

Mas, em virtude de III), X0 é denso em X; logo, III”) ficará demonstrada quando


e
demonstrarmos que ||S(z)|| é uma função limitada na região Σ(ν) ⊂ ∆(α), onde
( )
(Ne)2 − ν 2 ν
Σ(ν) z ∈ C; 0 < Re z < , | arg z| < arc sen ,0 < ν < 1 ,
(Ne) 2 Ne
e
uma vez que, supondo ||S(z)|| ≤ M(ν) ∀ z ∈ Σ(ν) e escolhendo um t0 > 0 tal que
ε
||S(t)x − x|| ≤ , 0 < t < t0 ,
2(M(ν) + 1)
e um δ > 0 tal que
e ε
|||S(z)S(t)x − S(t)x|| < , Re z < δ, z ∈ Σ(ν)
2
teremos
e
||S(z)x e
− x|| ≤ ||S(z)x e
− S(z)S(t)x|| e
+ ||S(z)S(t)x−S(t)x|| + ||S(t)x−x||
εM(ν) ε ε
≤ + + = ε, Re z < δ, z ∈ Σ(ν),
2(M(ν) + 1) 2 2(M(ν) + 1)
1.8. SEMIGRUPOS HOLOMORFOS 55

e
isto é, lim S(z)x = x, quando z → 0, z ∈ Σ(ν), que é a III”).
Vamos, então, mostrar que ||S(z)||e é limitado em Σ(ν). Pondo t = |z|/ cos | arg z|
teremos |z − t|/t = sen | arg z| donde, se x ∈ Σ(ν) então |z − t|/t ≤ ν/Ne e, além disto,
Re z = |z| cos | arg z| = t cos2 | arg z| donde
Re z Re z
t= ≤ ≤ 1.
cos2 | arg z| (N e)2 −ν 2
(N e)2

Logo, por (1.8.3),


|z − t|n
||An S(t)|| ≤ ν n , n = 1, . . .
n!
e assim,
∞ ∞
e
X |z − t|n n
X ν
||S(z)| ≤ ||A S(t)|| ≤ ||S(t)|| + νn ≤ m +
n=0 n! n=1 1−ν
onde m = sup ||S(t)||, t ≤ 1. Acabamos, assim, de demonstrar o teorema a seguir.
1.8.2 Teorema. Para que um semigrupo de classe C0 admita uma extensão holomorfa
de classe C0 em um setor ∆(α), para algum α tal que 0 < α ≤ π/2, é necessário e
suficiente que esse semigrupo seja diferenciável e satisfaça a condição (1.8.2).
1.8.3 Corolário. Se S é um semigrupo de classe C0 , diferenciável, e

lim+ sup t||AS(t)|| < e−1 ,


t→0

então A é um operador linear limitado e S admite uma extensão holomorfa em todo o


plano complexo.
Com efeito, da hipótese resulta que existe um ρ, 0 < ρ < 1, e um δ > 0 tais que
t||AS(t)|| < ρe−1 , para cada t tal que 0 < t < δ. Neste caso tem-se, pois, N = ρe−1 .
Mas, por (1.8.3), a série,
e

X (z − t)n n
S(z) ≤ A S(t)
n=0 n!
t 1
converge se |z − t| < ; logo, converge se |z − t| < e, desse modo, seu círculo de
Ne ρ
convergência contém a origem, uma vez que |0 − t| = t < t/ρ. Logo S(t) é diferenciável
na origem, o que significa que A é um operador linear limitado. Consequentemente,
S(t) = etA , donde S admite a extensão ezA , holomorfa em todo plano.
Deste corolário resulta que se o gerador infinitesimal, A, de um semigrupo holomorfo
de classe C0 é não limitado, então
1
lim sup t||AS(t)|| ≥ ·
t→0+ e

1.8.4 Definição. Seja A um operador linear de X. Vamos dizer que A é de classe


(θ, M), onde π/2 < θ ≤ π e M > 0, e escrever A ∈ (θ, M) se
56 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

i) A é fechado e seu domínio é denso em X;

ii) ∆(θ) ⊂ ρ(A);

iii) ||R(λ, A)|| ≤ M/|λ|, ∀ λ ∈ ∆(θ).

Seja A ∈ (θ, M), ε > 0 tal que 2ε < θ − π/2 e Γ a curva do plano complexo composta
dos arcos τ ei(θ−ε) e τ e−i(θ−ε) , 1 ≤ τ < ∞, e dos segmentos que ligam os pontos ei(θ−ε) e
e−i(θ−ε) ao ponto 1, orientada de −∞ e−i(θ−ε) para +∞ ei(θ−ε) .
Pela condição ii) da Definição 1.8.4, a função eλz R(λ, A), z ∈ ∆(α), onde α =
θ − π/2 − 2ε, toma seus valores em L(X) e é contínua sobre Γ. Portanto, se Γτ = {λ ∈
Γ; |λ| ≤ τ ; τ ≥ 1}, a integral
Z
Sτ (z) = eλz R(λ, A) dλ, z ∈ ∆(α),
Γτ

pertence a L(X). Além disto, como π/2 + ε < arg λz < 3π/2 − ε, λ ∈ Γ, |λ| ≥ 1 e
z ∈ ∆(α), a estimativa
M
||eλz R(λ, A)|| ≤ eRe λz , |λ| ≥ 1,
|λ|

mostra que, para cada z ∈ ∆(α), a integral de Dunford-Taylor,


Z
1
S(z) = eλz R(λ, A) dλ, (1.8.4)
2πi Γ

converge absolutamente e, assim, define um operador linear limitado, S(z), em X. Vamos


mostrar que S é um semigrupo holomorfo de classe C0 . Iniciemos com os lemas a seguir.
1.8.5 Lema. Se z ∈ ∆(α) então:
1.8. SEMIGRUPOS HOLOMORFOS 57
Z
eλz
i) dλ = 0 ∀ λ′ situado à direita de Γ;
Γ λ′ − λ
Z
eλz
ii) dλ = 2πi;
Γ λ
Z
iii) eλz dλ = 0;
Γ
Z

iv) R(λ, A) = 0;
Γ λ
Z ! Z !
λ λζ dλ λζ λ dλ
v) e R ,A = e R ,A onde ζ = z/|z|.
|z|Γ |z| |z| Γ |z| |z|

Demonstração i) Sejam λτ = τ ei(θ−ε) e λτ = τ e−i(θ−ε) , τ ≥ 1. Portanto λτ e λτ são os


extremos do arco Γτ = {λ ∈ Γ; |λ| ≤ τ }. Seja Cτ , τ ≥ 1, o arco da circunferência de
centro na origem, raio τ , situado à esquerda de Γ e de extremos λτ e λτ . Pelo Teorema
de Cauchy tem-se
Z
eλz
dλ = 0 (1.8.5)
Γ∪Cτ λ′ − λ

pois a função eλz /(λ′ − λ) é holomorfa sobre Γ e na região situada à esquerda de Γ. Mas
de λ ∈ Cτ vem λ = τ eiϕ , onde θ − ε ≤ ϕ ≤ 2π − θ + ε, donde pondo z = ρeiϕ , |ψ| < α,
tem-se
Z Z 2π−θ+ε π
eRe λz |dλ| = eτ ρ cos(ϕ+ϕ) τ dϕ ≤ 2τ eτ ρ cos( 2 ) (π − θ + ε) → 0 (1.8.6)
Cτ θ−ε

quando τ → ∞, pois π/2 + ε ≤ ψ + ϕ ≤ 3π/2 − ε. Como de mτ = inf{|λ′ − λ|; λ ∈ Cτ }


vem mτ → ∞ quando τ → ∞, tem-se, por (1.8.6),
Z
eλz 1 Z
dλ ≤ eRe λz |dλ| → 0
Cτ λ′ − λ mτ Cτ

quando τ → ∞. Daí e de (1.8.5) vem i).


ii) Pela Fórmula de Cauchy tem-se
Z
0z 1 eλz
1=e = dλ.
2πi Γτ ∪Cτ λ
Mas de λ ∈ Cτ vem |λ| = τ ≥ 1. Logo, por (1.8.6),
Z Z
eλz
dλ ≤ eRe λz |dλ| → 0
Cτ λ Cτ

quando τ → ∞, donde a validade de ii).


58 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

iii) Como eλz é holomorfa em todo o plano complexo temos, pelo Teorema de Cauchy,
Z
eλz dλ = 0.
Γτ ∪Cτ

Mas, por (1.8.6), Z Z


λz
e dλ ≤ eRe λz |dλ| → 0
Cτ Cτ

quando τ → ∞. Logo iii) é válida.


iv) A função R(λ, A)/λ é, por ii) da Definição 1.8.4, holomorfa na região do plano
complexo situada à direita e sobre Γ. Logo, se D, é o arco da circunferência de centro
na origem, raio τ ≥ 1, situado à direita de Γ e de extremos λτ e λτ , então, pelo Teorema
de Cauchy, Z

R(λ, A) = 0.
Γτ ∪Cτ λ
Mas, orientando Dτ de λτ para λτ temos, por iii) da Definição 1.8.4,
Z
dλ MZ 2M(θ − ε)
R(λ, A) ≤ 2 |dλ| = →0
Dτ λ τ Dτ τ

quando τ → ∞. Logo, iv) também é válida.


v) Se |z| > 1 a curva |z|Γ é a união do arco |z|Γ1 com as duas semiretas Γ\Γ|z| . Os
extremos do arco |z|Γ1 são os pontos λ|z| e λ|z| que são justamente os extemos do arco
Γ|z| . Assim, !para |z| > 1, Γ|z| ∪ |z|Γ1 é um contorno simples e fechado e, como a função
λ
eλζ R , A é holomorfa no interior e sobre ele tem-se, pelo Teorema de Cauchy,
|z|

Z !
λζ λ dλ
e R ,A = 0.
Γ|z| ∪|z|Γ1 |λ| |z|
1.8. SEMIGRUPOS HOLOMORFOS 59

Logo,
Z ! ! !
λζ λ dλ Z λζ λ dλ Z λ dλ
e R ,A = e R ,A + eλζ R ,A =
|z|Γ |z| |z| |z|Γ1 |z| |z| Γ\Γ|z| |z| |z|
Z ! Z ! Z !
λζ λ dλ λζ λ dλ λζ λ dλ
= e R ,A + e R ,A = e R ,A ,
Γ|z| |z| |z| Γ\Γ|z| |z| |z| Γ |z| |z|
i.e., v) é válida para |z| > 1. Se |z| < 1, então |z|Γ = ! Γ\Γ1 ∪ |z|Γ1 /|z| , Γ1 ∪ |z|Γ1/|z| é
λ 1
um contorno simples e fechado e a função eλζ R ,A é holomorfa no interior e
|z| |z|
sobre ele. Desse modo, com argumentação análoga à do caso |z| > 1, vê-se que v) ainda
é válida se |z| < 1, z ∈ ∆(α). Para |z| = 1, v) é trivial.
1.8.6 Lema. Seja Γ′ a curva do plano complexo definida por

Γ′ = {λ′ ∈ C; λ′ = λ + δ, λ ∈ Γ, δ > 0},

com a orientação induzida pela de Γ. Então, ∀ z ∈ ∆(α):


Z Z
i) eλz R(λ, A) dλ = eλz R(λ, A) dλ;
Γ Γ′
Z ′
eλ z
ii) ′
dλ′ = 2πi eλz , ∀ λ situado à esquerda de Γ′ .
Γ′ λ −λ

Demonstração: Os pontos λτ , λτ e o arco Γτ foram definidos no lema anterior. Seja


Γ′τ o arco de Γ′ de extremos λτ + δ e λτ + δ, Lτ o seguimento de reta de extemos λτ e
λτ + δ, Lτ o de extremos λτ e λτ + δ e Λτ o contorno Γτ ∪ Lτ ∪ Γ′τ ∪ Lτ . Pelo Teorema
de Cauchy tem-se Z
eλz R(λ, A) dλ = 0 (1.8.7)
Λτ
60 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

pois, por ii) da Definição 1.8.4, eλz R(λ, A) é holomorfa à direita Γ e sobre Γ. Mas, para
τ suficientemente grande, tem-se Re(λτ + δ) < 0 e, nesse caso, |λ| ≥ |λτ + δ|, ∀ λ ∈ Lτ .
Além disto, para τ suficientemente grande tem-se arg λz > π/2 + ε/2 ∀ λ ∈ Lτ . Logo,
para τ suficientemente grande tem-se |λ| > |λτ + δ| e Re λz < 0 ∀ λ ∈ Lτ , donde, por
iii) da Definição 1.8.4,
M M
||eλz R(λ, A)|| ≤ eλz ||R(λ, A)|| ≤ ≤ ∀ λ ∈ Lτ .
|λ| |λτ + δ|
Daí, orientando Lτ de λτ para λτ + δ, vem
Z

lim eλz R(zλ, A) dλ ≤ τlim = 0,
τ →∞ Lτ →∞ |λr + δ|
pois δ é uma constante. Segue-se que
Z
lim eλz R(λ, A) dλ = 0
τ →∞ Lτ

e, analogamente, orientando Lτ de λτ para λτ + δ, tem-se


Z
lim eλz R(λ, A) dλ = 0.
τ →∞ Lτ

Daí e de (1.8.7) vem i).


ii) Seja τ suficientemente grande para que λ esteja situado no interior da curva fechada
Γ′τ ∪ Lτ ∪ Cτ ∪ Lτ = Λ′τ . Pela Fórmula de Cauchy tem-se
Z ′
eλ z
dλ′ = 2πi eλz . (1.8.8)
Λ′τ λ′ − λ
Mas, se µτ = inf{|λ′ − λ|; λ′ ∈ Lτ }, então
Z ′ Z
eλ z 1 ′


dλ′ ≤ eRe λ z |dλ′ | → 0
Lτ λ −λ µτ Lτ

quando τ → ∞, uma vez que µτ → ∞ quando τ → ∞ e para τ suficientemente grande


tem-se Re λ′ z < 0 ∀ λ′ ∈ Lτ ; logo
Z ′
eλ z
lim dλ′ = 0 (1.8.9)
τ →∞ Lτ λ′ − λ
e, analogamente
Z ′
eλ z
lim dλ′ = 0. (1.8.10)
τ →∞ Lτ λ′ − λ

Além disto, por (1.8.6) tem-se, para mτ = inf{|λ′ − λ|; λ′ ∈ Cτ },


Z ′ Z
eλ z ′ 1 ′
dλ ≤ eRe λ z |dλ′| → 0
Cτ λ′ − λ mτ Cτ
1.8. SEMIGRUPOS HOLOMORFOS 61

quando τ → ∞. Daí e de (1.8.8)-(1.8.10) vem ii).


1.8.7 Teorema. Seja A ∈ (θ, M). Então, para cada ε > 0 tal que 2ε < θ − π/2, A
é o gerador infinitesimal da restrição a R+ de um semigrupo holomorfo de classe C0 no
setor ∆(θ − π/2 − 2ε) e uniformemente limitado nesse setor.
Demonstração: Vamos mostrar que a função S : ∆(α)∪{0} → L(X) dada por S(0) = I
e Z
1
S(z) = eλz R(λ, A) dλ, z ∈ ∆(α), α = θ − π/2 − 2ε, (1.8.11)
2πi Γ
é um semigrupo holomorfo de classe C0 , uniformemente limitado no setor ∆(θ−π/2−2ε)
e A é o gerador infinitesimal da restrição de S a R+ .
Por i) do Lema 1.8.6 tem-se
Z
1 ′
S(ω) = eλ ω R(λ′ , A) dλ′ , ω ∈ ∆(α), α = θ − π/2 − 2ε. (1.8.12)
2πi Γ′

Logo, para z, w ∈ ∆(α),


Z Z
1 ′
S(z)S(w) = eλz+λ w R(λ, A)R(λ′ , A) dλ′ dλ =
(2πi) Γ Γ′
2
Z Z " #
1 ′
λz+λ′ w R(λ, A) − R(λ , A)
= e dλ′ dλ,
(2πi)2 Γ Γ′ λ′ − λ

por (1.8.12) e a bem conhecida Primeira Equação Resolvente. Como Γ está à esquerda
de Γ′ e λ′ ∈ Γ′ temos, por i) do Lema 1.8.5 e ii) do Lema 1.8.6,
Z Z ′
eλz eλ w
dλ = 0, dλ′ = 2πi eλw .
Γ λ′ − λ Γ′ λ′ − λ
Logo, Z
1
S(z)S(w) = eλ(z+w) R(λ, A) dλ = S(z + w), w ∈ ∆(α),
2πi Γ
pelo Teorema de Fubini e por (1.8.12) o que demonstra II”).
Fazendo em (1.8.11) a mudança de variáveis λ′ = |z|λ, z ∈ ∆(α), a curva Γ será
transformada na curva |Z|Γ e temos por v) do Lema 1.8.5
Z ! Z !
1 λ′ ζ λ′ dX ′ 1 λ′ ζ λ′ dX ′
S(z) = e R ,A = e R ,A ,
2πi |z|Γ |z| |z| 2πi Γ |z| |z|
(1.8.13)
z
ζ= = ei arg z .
|z|
Mas, pela hipótese iii), tem-se
!
λ′ M|z|
R ,A ≤ ·
|z| |λ′ |
62 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

Logo,
M Z λ′ ζ |dλ′ | M Z Re λ′ ζ |dλ′ | M Z Re λ′ ζ |dλ |

||S(z)|| ≤ |e | ′ = e + e ≤
2π Γ |λ | 2π Γ1 |λ′ | 2π Γ\Γ1 |λ′ |
(1.8.14)
Me Z ′ M Z ∞ τ cos( π +ε) dτ
≤ |dλ | + e 2 = M0 (ε) < ∞, ∀ z ∈ ∆(α),
2πτ0 Γ1 π 1 τ
onde τ0 = inf{|λ|; λ ∈ Γ1 }, i.e., o semigrupo S uniformemente limitado em ∆(α).
Seja z ∈ ∆(α), |z| < 1. Para cada x ∈ D(A) vem por ii) do Lema 1.8.5 e por
λR(λ, A) − I = R(λ, A)A,
Z Z
1 1 dλ
S(z)x − x = eλz [R(λ, A) − λ−1 ]x dλ = eλz R(λ, A)Ax ·
2πi Γ 2πi Γ λ
Como a norma do integrando é limitada por M||Ax||/|λ|2 temos, pelo Teorema da Con-
vergência Dominada e por iv) do Lema 1.8.5,
Z
1 dλ
lim (S(z)x − x) = R(λ, A)Ax = 0 ∀ x ∈ D(A).
z→0 2πi Γ λ
Mas, pela hipótese i), D(A) é denso em X e, por (1.8.14), ||S(z)|| ≤ M0 (ε) ∀ z ∈ ∆(α).
Logo, S(z)x → x quando z → 0, z ∈ ∆(α), ∀ x ∈ X, o que demonstra III”). Viu-se,
anteriormente, que a integral (1.8.4) converge. Vamos mostrar, agora, que a convergência
é uniforme em ∆(α). Fazendo a mudança de variáveis µ = |z|λ, tendo em vista v) do
Lema 1.8.5 e pondo z/|z| = ζ temos, para τ ≥ 1,
Z Z !
1 1 µ dµ
S(z) = eλz R(λ, A) dλ = eµζ R ,A =
2πi Γ 2πi |z|Γ |z| |z|
Z ! Z !
1 µζ µ dµ 1 µζ µ dµ
= e R ,A = e R ,A +
2πi Γ |z| |z| 2πi Γτ |z| |z|
Z ! !
µζ µ dµ
+ e R ,A ·
Γ\Γτ |z| |z|

Logo, se µ = ρeiϕ então


! !
1 Z µζ µ dµ 1 Z µ dµ
S(x) − e R ,A = eµζ R ,A ≤
2πi Γτ |z| |z| 2πi Γ\Γτ |z| |z|
Z Z " #∞
M Re µζ d|µ| M ∞
ρ cos(π/2+ε) M eρ cos(π/2+ε)
≤ e ≤ e dρ = =
2π Γ\Γτ |µ| π τ π cos(π/2 + ε) τ
M eρ cos(π/2+ε)
= →0
π cos(π/2 + ε)
uniformemente em ∆(α) quando τ → ∞. Logo,
Z
1
eλz R(λ, A) dλ → S(z)
2πi Γτ
1.8. SEMIGRUPOS HOLOMORFOS 63

uniformemente em ∆(α). Pelo Teorema A.6.2-iv) do Apêndice segue-se que por (1.8.11)
pode ser diferenciada sob o sinal de integração. Portanto S é holomorfa em ∆(α) o que
demonstra IV).
Resta apenas mostrar que o gerador infinitesimal do semigrupo S : R+ → L(X) é
A. Seja, para isto, x ∈ D(A). De R(λ, A)(λI − A) = I vem, tendo em vista iii) do
Lema 1.8.5,

d 1 Z λz 1 Z λz
S(z)x = e λR(λ, A)x dλ = e [R(λ, A)A + I]x dλ =
dz 2πi Γ 2πi Γ
Z
1
= eλz R(λ, A)Ax dλ = S(z)Ax,
2πi Γ
i.e.,
d
S(z)x = S(z)Ax ∀ x ∈ D(A). (1.8.15)
dz
Em vista de (1.8.15) tem-se
Z
S(h)x − x 1 h
= S(t)Ax dt, h > 0,
h h 0

donde
S(h)x − x
lim+ = Ax ∀ x ∈ D(A)
h→0 h
o que vem mostrar que se B é o gerador infinitesimal do semigrupo S : R+ → L(X),
então A ⊂ B. Como ρ(A) ∩ ρ(B) 6= ∅, a demonstração de que A = B é feita com
argumentos já usados na demonstração da suficiência do Teorema 1.4.4.
π
1.8.8 Corolário. Seja A ∈ (θ, M). A extensão S, holomorfa em ∆(α), α = θ − − 2ε,
2
do semigrupo gerado por A, satisfaz as condições:

i) Para todo n ≥ 1, S(z)x pertence ao domínio de An , ∀ x ∈ X e ∀ z ∈ ∆(α);

ii) Para todo n ≥ 1 existe Mn (ε), constante que só depende de ε, tal que

Mn (ε)
||An S(z)|| ≤ , ∀ z ∈ ∆(α).
|z|n

iii) ||A[S(t) − S(s)]|| ≤ M2 (ε) · (t − s)/st, 0 < s ≤ t.

Demonstração: Como S é holomorfo, S(z)x ∈ D(A) para todo x ∈ X e para todo


z ∈ ∆(α). De An S(z) = [AS(z/n)]n segue-se, então, que S(z)x ∈ D(An ), ∀ x ∈ X,
∀ z ∈ ∆(α) e ∀ n ≥ 1, o que demonstra i).
64 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

Como, por hipótese, A é fechado tem-se, por (1.8.13), levando em conta que AR(λ, A) =
λR(λ, A) − I,
Z !
1 λ dλ
AS(z) = eλζ AR ,A =
2πi Γ |z| |z|
Z " ! #
1 λζ λ λ dλ
= e R ,A −I , ∀ z ∈ ∆(α).
2πi Γ |z| |z| |z|

Logo,
Z
M +1 dλ
||AS(z)| ≤ eRe λζ ≤ M1 (ε)/|z|, ∀ z ∈ ∆(α),
2π Γ |z|
o que demonstra a asserção para n = 1. Desta última desigualdade vem
  n  
n z z n nn M1 (ε)n
||A S(z)|| = AS ≤ AS ≤ , ∀ z ∈ ∆(α),
n n |z|n

o que demonstra ii).


Temos
Z t Z t
||A[S(t) − S(s)]|| = A As(u)du = A2 s(u)du ≤
s s
Z t du
≤ M2 (ε) = M2 (ε)(t − s)/st,
s u2

o que demonstra iii).

1.8.9 Teorema. Seja S um aemigrupo de classe C0 , holomorfo e uniformemente limi-


tado em um setor ∆(α), 0 < α ≤ π/2, e A o gerador infinitesimal de sua restrição a R+ .
Então, ∀ ε > 0 existem constantes θε e Mε positivas tais que A − εI ∈ (θε , Mε ).

Demonstração: Se ε > 0, ε + iτ ∈ ρ(A) pois S é, por hipótese, uniformemente limitado.


Assim Z ∞
R(ε + iτ, A) = e−(ε+iτ )t S(t) dt.
0

Podemos substituir a curva de integração dessa integral, que é o eixo real não negativo,
por um raio z = u e−iΦ , 0 < |Φ| < α. Com efeito, se τ > 0 tomemos Φ > 0 tal que
Φ < α e designemos por Pd d os arcos das circunferências de centro no ponto 0
Q e AB
e raios ρ e τ , respectivamente, ρ < τ , compreendidos entre os raios R+ e u eiΦ . Se C
é o contorno composto dos arcos Pd Q e ABd e dos segmentos P A e QB de R+ e u e−iΦ ,
respectivamente, orientado no sentido de A para B, temos, pelo Teorema de Cauchy,
Z
e−(ε+iτ )z S(z) dz = 0,
C
1.8. SEMIGRUPOS HOLOMORFOS 65

d é z = τ e−iϕ ,
uma vez que, por hipótese, S é holomorfo em ∆(α). Como a equação de AB
0 ≤ ϕ ≤ Φ, temos, supondo ||S(z)|| ≤ M, z ∈ ∆(α), M ≥ 1,
Z Z Φ iϕ
e−(ε+iτ )z S(z) dz = e−(ε+iτ )τ e S(τ e−τ ϕ )d(τ eiϕ ) ≤
c
AB 0
Z Φ Z Φ
≤ Mτ e−(ε cos ϕ+τ sen ϕ)τ dϕ ≤ M τ e−τ ε cos Φ dϕ =
0 0
= M τ Φe−τ ε cos Φ .
Z
Logo, e−(ε+iτ )z S(z) dz → 0 quando τ → ∞. Analogamente,
c
AB
Z
e−(ε+iτ )z S(z)dz ≤ MρΦe−ρε cos Φ → 0 quando ρ → ∞.
PcQ

Desse modo, se τ > 0 e 0 < Φ < α, então


Z ∞ Z ∞
−(ε+iτ )t −iΦ
R(ε + iτ, A) = e S(t) dt = e−(ε+iτ )ue S(ue−iΦ )e−iΦ du.
0 0

Se τ < 0 tomamos Φ < 0 tal que |Φ| < α e a argumentação é a mesma.


A seguir, seja τ > 0 e 0 < Φ < α. Tem-se
Z ∞ M
||R(ε + iτ, A)|| ≤ M e−(ε cos Φ+τ sen Φ)u du ≤ ≤
0 ε cos Φ + τ sen Φ
M M1
≤ = ·
τ sen Φ τ
Analogamente, se τ < 0 e Φ < 0, |Φ| < α, tem-se,
M M M2
||R ∗ ε + iτ, A)|| ≤ = = ·
τ sen Φ (−τ )(− sen Φ) −τ
Logo,
M2
||R(ε + iτ, A)|| ≤ (1.8.16)
|τ |
onde M3 é uma constante positiva. Além disto, pelo Teorema A.1.2 do Apêndice, se
ε + iτ − µ||R(ε + iτ, A)|| ≤ k < 1, então µ ∈ ρ(A), a série

X
(ε + iτ − µ)n R(ε + iτ, A)n+1
n=0

converge e sua soma é R(µ, A). Tendo em vista (1.8.16), isto se dá, pois, se µ é tal que
M3 1 |τ |
|ε + iτ − µ ≤ e em particular, se µ = σ + iτ e |ε − σ| < · Portanto, pondo
|τ | 2 2M3
( )
|τ |
∆1 = µ ∈ C; µ = σi τ, |σ| < ,
2M3
66 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

tem-se que, se µ = σ + iτ ∈ ∆1 + ε, então µ ∈ ρ(A) e ||R(µ, A)|| ≤ 2M3 /|τ |. Daí resulta
que se λ ∈ ∆1 e, portanto, λ+ε ∈ ∆1 +ε, então λ+ε ∈ ρ(A) e ||R(λ+ε, A)|| ≤ 2M3 /|τ | ou
equivalentemente, ||R(λ, A−εI)|| ≤ 2M3 /|τ |. Além disto, em ∆1 temos |σ|; |τ | < 1/2M3 ,
donde (σ 2 + τ 2 )/τ 2 < (1 + 4M32 ) e, portanto, 2M3 /|τ | ≤ C|λ|, onde C é uma constante
positiva. Logo,
2M3 C
||R(λ, A − εI)|| ≤ ≤ ∀ λ ∈ ∆1 . (1.8.17)
|τ | |λ|
Analogamente, pondo

∆2 = {λ ∈ C; λ = σ + iτ, λ 6= 0, σ ≥ |τ |/2M3 },

tem-se
1 C
≤ ∀ λ = σ + iτ ∈ ∆2 . (1.8.18)
σ |λ|
Como S é por hipótese, uniformemente limitado tem-se, em particular, ||S(t)|| ≤ M,
t ≥ 0. Logo, designando por Se o semigrupo gerado por A − εI tem-se, de acordo com o
Exemplo 1.2.12-4),
e
||S(t)|| = ||e−εt S(t)|| ≤ eεt M ≤ M
e, portanto, Z ∞
e M
||R(λ, A − εI|| ≤ e−σt ||S(t)||
· dt ≤ (1.8.19)
0 σ
para todo λ = σ + iτ tal que σ > 0 e, em particular, para λ ∈ ∆2 . Logo, por (1.8.18) e
(1.8.19),
M MC
||R(λ, A − εI|| ≤ ≤ ∀ λ ∈ ∆2 (1.8.20)
σ |λ|
e, pondo MC = Mε , temos por (1.8.17) e (1.8.20),

||R(λ, A − εI|| ≤ ∀ ∆1 ∪ ∆2 ,
|λ|
1.8. SEMIGRUPOS HOLOMORFOS 67

uma vez que M ≥ 1. Daí se θε = arctg(−2M3 ), então π/2 < θε < π e ∆(θε ) = ∆1 ∪ ∆2 .
Portanto, ∆(θε ) ⊂ ρ(A − εI) e ||R(λ, A − εI|| ≤ Mε /|λ| ∀ λ ∈ ∆(θε ), o que completa a
demonstração uma vez que, obviamente, A − εI é fechado e densamente definido.

1.8.10 Será mostrado, agora, que os operadores definidos por (1.4.23) são essencial-
mente, geradores infinitesimais de semigrupos holomorfos.
A seguinte notação será usada:

a) Seja A um operador linear de um espaço de Hilbert, X. Com ν(A) será represen-


tada a imagem numérica de A, i.e.,

ν(A) = {λ ∈ C; λ = (Ax, x), x ∈ D(A), ||x|| = 1}.

b) Seja Γ ⊂ C e λ ∈ C. Com δ(λ, Γ) será representada a distância de λ a Γ, i.e.,

δ(λ, Γ) = inf {|λ − γ|}.


γ∈Γ

1.8.11 Lema. Seja A um operador linear de um espaço de Hilbert, X. Se ρ(A) ∩


(C\ν(A) 6= ∅ então:
1
i) ||R(λ, A) ≤ , ∀ λ ∈ ρ(A) ∩ (C\ν(A));
δ(λ, ν(A))

ii) ρ(A) contém toda componente conexa de C\ν(A) cuja interseção com ρ(A) é não
vazia.

Demonstaçao: Para cada x ∈ D(A), ||x|| = 1, e cada λ ∈ C tem-se, pela Desigualdade


de Cauchy-Schwarz,

δ(λ, ν(A)) ≤ |λ − (Ax, x)| = |((λ − A)x, x)| ≤ ||(λ − A)||x.

Se λ ∈ C\ν(A) e, portanto, δ(λ, ν(A)) = d > 0, tem-se, pois, ||(λ − A)x|| ≥ d para cada
x ∈ D(A) tal que ||x|| = 1. Logo, ||(λ − A)x|| ≥ d||x||, ∀ x ∈ D(A). Segue-se daí que se
λ ∈ ρ(A) ∩ C\ν(A), então

||x|| = ||(λ − A)(λ − A)−1 x|| ≥ ||(λ − A)−1 x|| ∀ x ∈ I(λI − A).

Logo
1
||R(λ, A)| ≤ , ∀ λ ∈ ρ(A) ∩ C\ν(A) (1.8.21)
d
o que demonstra i). Seja Γ uma componente conexa de C\ν(A) tal que ρ(A) ∩ Γ 6= ∅.
Então ρ(A) ∩ Γ é, obviamente, um subconjunto relativamente aberto de Γ. Além disto,
68 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

seja λ ∈ Γ e λn ∈ ρ(A) ∩ Γ tal que λn → λ. Como de λ ∈ Γ vem δ(λ, ν(A)) > 0, segue-se
1
que existe um n0 tal que ∀ n > n0 tem-se |λ − λn | < δ(λ, ν(A)) e, portanto,
2
|λn − λ| < δ(λ, ν(A)),

donde, por i)
|λn − λ| ||R(λn, A)|| < 1.
Logo, λ ∈ ρ(A) e, assim, ρ(A) ∩ Γ é relativamente fechado em Γ. Como Γ é conexo,
ρ(A) ∩ Γ = Γ, donde Γ ⊂ ρ(A), o que demonstra ii).
1.8.12 Teorema. Seja L o operador de L2 (Ω) definido por (1.4.23). Então para cada
γ ≥ γ0 , existem constantes θγ e Mγ tais que −(L + γI) ∈ (θγ , Mγ ).
Demonstração: Ponhamos, para simplificar a escrita, Lγ = L + γI, γ ≥ γ0 . Pelo
Teorema 1.4.24, −Lγ é fechado e densamente definido, i.e., −Lγ satisfaz a condição i) da
Definição 1.8.4. Pela Proposição 1.4.23,

Re(Lγ u, u) ≥ c0 ||u||2m , c0 > 0,

e
| Im(Lγ u, u)| ≤ |(Lγ u, u)| ≤ k||u||2m , k ≥ 0,
onde, com Im z indica-se a parte imaginária do complexo z. Portanto, (Lγ u, u) é um
número complexo do primeiro ou quarto quadrante e
| Im(Lγ u, u)| k||u||2m k π
| arg(Lγ u, u)| = arctg ≤ arctg = arctg < α0 < ,
Re(Lγ u, u) 2
c0 ||u||m c0 2

visto que c0 > 0. Portanto, ν(Lγ ) ⊂ ∆(α0 ) e, como ν(−Lγ ) = −ν(Lγ ), tem-se ν(−Lγ ) ⊂
C\∆(π − α0 ). Como, pelo Teorema 1.4.24 e a Proposição 1.4.9,−Lγ ∈ G(1, 0), de
Re λ > 0 vem λ ∈ ρ(−Lγ ). Logo,

ρ(−Lγ ) ∩ (C\ν(−Lγ )) 6= ∅.

Pelo Lema 1.8.11 segue-se, então, que ρ(−Lγ ) contém toda componente conexa de
π
C\ν(−Lγ ) cuja interseção com ρ(−Lγ ) é não vazia. Mas se θγ é tal que < θγ < π − α0 ,
2
então
ρ(−Lγ ) ∩ ∆(θγ ) 6= ∅
e como ∆(θγ ) é conexo e ∆(θγ ) ⊂ C\ν(−Lγ ) segue-se que, ∆(θγ ) ⊂ ρ(−Lγ ), e assim,
−Lγ satisfaz também a condição ii) da Definição 1.8.4. Resta apenas mostrar que satisfaz
π
iii). Seja, para isto, λ ∈ ∆(θγ ). Se | arg λ| ≤ − α0 , então |λ| ≤ δ(λ, ν(−Lγ )). Se
2
π
| arg λ| > − α0 então
2
δ(λ, ν(−Lγ )) ≥ |λ| sen(π − α0 − | arg λ|) ≥ |λ| sen(π − α0 − θγ ).
1.9. TEORIA DA PERTURBAÇÃO 69

Em ambos os casos tem-se, então,

δ(λ, ν(−Lγ )) ≥ |λ| sen(π − α0 − θγ )

e daí por i) do Lema 1.8.11,


1 1 Mγ
||R(λ, −Lγ )|| ≤ ≤ = ,
δ(λ, ν(−Lγ )) sen(π − α0 − θγ ) |λ|
para todo λ ∈ ∆(θγ ), onde Mγ = 1/ sen(π − α0 − θγ ), o que completa a demonstração.
1.8.13 Corolário. Para cada ε > 0, existem constantes θv e e Mε tais que ∆ − εI ∈
(θε , Mε ), onde ∆ é o operador definido por (1.4.24).
Com efeito, por (1.4.25) a imagem numérica de −∆ está contida em R+ e, portanto,
ν(∆) ⊂ R− . O corolário segue, então, do Teorema 1.8.12.

1.9 Teoria da Perturbação


1.9.1 Vamos agora estudar o comportamenteo dos semigrupos quando seu gerador
infinitesimal é perturbado por outro operador linear.
1.9.2 Teorema. Seja A ∈ G(1, 0) e B dissipativo relativamente a alguma aplicação
dualidade. Se D(B) ⊃ D(A) e existem constantes a e b, 0 ≤ a < 1 e b ≥ 0 tais que

||Bx|| ≤ a||Ax|| + b||x|| ∀ ??? ∈ D(A), (1.9.1)

então A + B ∈ G(1, 0).


Demonstração: Como A ∈ G(1, 0), A é dissipativo relativametne a toda aplicação
dualidade (Teorema 1.4.13). Seja B dissipativo relativamente a j. Então A + B é
dissipativo relativamente a j, como é óbvio. Além disto, D(A + B) = D(A) é denso em
X. Portanto, pelo Teorema 1.4.13, para demonstrar que A + B ∈ G(1, 0) é bastante
mostrar que I(λ − (A + B)) = X, para algum λ > 0. Mas, como D(A) ⊂ D(B) e de
λ > 0 vem λ ∈ ρ(A), tem-se

I[λ − (A + B)] = I[(λ − (A + B))(λ − A)−1 ] = I[I − B(λ − A)−1 ] =


= I[I − BR(λ, A)],

donde é bastante demonstrar que, para algum λ > 0, I − BR(λ, A) é invertível em L(X)
e, portanto, que ||BR(λ, A)|| < 1. Mas, por (1.9.1),

||BR(λ, A)x|| ≤ a||AR(λ, A)x|| + b||R(λ, A)x|| =


= a||[λR(λ, A) − I]x|| + b||R(λ, A)x|| ≤ 2a||x||+
!
b b
+ ||x|| = 2a + ||x||, ∀ x ∈ X.
λ λ
70 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

Seja a < 1/2. Então, para λ suficientemente grande, 2a + b/λ < 1, i.e., ||BR(λ, A)|| < 1.
Portanto se (1.9.1) for satisfeita para a < 1/2, então A + B ∈ G(1, 0), isto é, o teorema
é válido nesse caso particular. Para demonstrá-lo no caso geral, seja α um número tal
que 0 ≤ α ≤ 1 e seja x ∈ D(A). Teremos

||(A + αB)x|| ≥ ||Ax|| − α||Bx|| ≥ ||Ax|| − ||Bx|| ≥ (1 − a)||Ax|| − b||x||

e se o inteiro n é tal que a/n < (1 − a)/4,


1 a b 1−a b
Bx ≤ ||Ax|| + ||x|| ≤ ||Ax|| + ||x|| ≤
n n n 4 ! n
1 b b
≤ ||(A + αB)x|| + + ||x||.
4 n 4

Portanto, pelo que já foi demonstrado, se A + αB ∈ G(1, 0) o mesmo acontece com


A + αB + (1/n)B. Mas A ∈ G(1, 0), por hipótese, donde A + (1/n)B ∈ G(1, 0); daí,
pelo mesmo argumento, A + (2/n)B ∈ G(1, 0) e, deste modo, esse argumento repetido n
vezes nos dá A + B = A + (n/n)B ∈ G(1, 0), q.e.d. .
1.9.3 Proposição. Se A ∈ G(1, 0) e B ∈ L(X) então A + B ∈ G(1, ||B||).
Demonstração: Para cada aplicação dualidade, j, tem-se

Reh(B − ||B||I)x, j(x)i = RehBx, j(x)i − ||B|| ||x||2 ≤


≤ ||B|| ||x||2 − ||B|| ||x||2 = 0,

i.e., B − ||B||I é dissipativo. Como ||(B − ||B||I)x|| ≤ 2||B|| ||x|| ∀ x ∈ D(A), A e


B − ||B||I satisfazem as hipóteses do Teorema 1.9.2 com a = 0 e b = 2||B||. Segue-se
que A + B − ||B||I ∈ G(1, 0) e, pela Proposição 1.4.9, que A + B ∈ G(1, ||B||), q.e.d. .
1.9.4 Lema. Se A ∈ G(M, 0), então existe uma norma, | · |, em X tal que

||x|| ≤ |x| ≤ M||x||. (1.9.2)

e na qual A ∈ G(1, 0).


Demonstração: Se X é o semigrupo gerado por A temos

||S(t)|| ≤ M, ∀ t ≥ 0. (1.9.3)

Ponhamos
|x| = sup ||S(t)x||. (1.9.4)
t≥0

É imediato que | · | é uma norma em X; além disto,

||x|| = ||S(0)x|| ≤ sup ||S(t)x|| = |x|


t≥0
1.9. TEORIA DA PERTURBAÇÃO 71

e, por (1.9.3),
|x| = sup ||S(t)x|| ≤ sup ||S(t)|| ||x|| ≤ M||x||,
t≥0 t≥0

o que demonstra (1.9.2). Com X munido da norma | · |, S(t) é uma contração ∀ t ≥ 0


visto que de (1.9.4) vem

|S(t)x| = sup ||S(τ )S(t)x|| = sup ||S(t + τ )x|| ≤ sup ||S(t)x|| = |x|,
τ ≥0 τ ≥0 t≥0

i.e., A ∈ G(1, 0) estando X munido da norma | · |.


1.9.5 Teorema. Se A ∈ G(m, w) e B ∈ L(X), então A + B ∈ G(m, w + M||B||).
Demonstração: Seja S semigrupo gerado por A e consideremos o semigrupo Se = e−wt S.
Seu gerador infinitesimal é, pelo Exemplo 4 de 1.2.12, Ae = A−wI. Pela Proposição 1.4.9,
Ae ∈ G(M, 0). Pelo Lema 1.9.4 existe uma norma | · | em X tal que

||x|| ≤ |x| ≤ M||x|| ∀ x ∈ X e Ae ∈ G(1, 0). (1.9.5)

As normas | · | e || · || sendo, por (1.9.5), equivalentes, B ∈ L(X) estando X munido


da norma | · |. Logo, pela Proposição .9.3, Ae + B ∈ G(1, |B|) donde, pela Proposi-
ção 1.4.9, Ae + B − |B|I ∈ G(1, 0), isto é, A + B − (w + |B|)I ∈ G(1, 0). Novamente pela
Proposição 1.4.9, A + B ∈ G(1, w + |B|). Daí e de (1.9.5) vem

||R(λ, A + B)n x|| ≤ |R(λ, A + B)n x| ≤ |R(λ, A + B)n | |x| ≤


M||x||
≤ , ∀ λ > w + |B|,
[λ − (w + |B|)]n
∀ x ∈ X. Logo
M
||R(λ, A + B)n || ≤ , λ > w + |B|. (1.9.6)
[λ − (w + |B|)]n
Por fim, como de
|Bx| ≤ M||Bx|| ≤ M||B|| ||x|| ≤ M||B|| |x|
vem |B| ≤ M||B|| e, portanto, de λ > w + M||B|| vem λ > w + |B|, tem-se, por (1.9.6),
M
||R(λ, A + B)n || ≤ , λ > w + M||B||,
[λ − (w + M||B||)]n

i.e., A + B ∈ G(M, w + M||B||), q.e.d. .


1.9.6 Teorema. Seja A ∈ (θ, M) e B um operador linear fechado tal que

1) D(B) ⊃ D(A)

2) ||Bx|| ≤ a||Ax|| + b||x|| ∀ x ∈ D(A),


72 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES

onde a e b são constantes, b ≥ 0 e 0 ≤ a < 1/(M + 1). Então, existem constantes δ, θ′


e M ′ tais que A + B − δI ∈ (θ′ , M ′ ).
π
Demonstração: Seja θ′ tal que < θ′ ≤ θ, θ′ < π. Observe-se inicialmente que existem
2
duas constantes positivas α e β para as quais as desigualdades

µ ≤ α|λ + µ| (1.9.7)

|λ| ≤ β|λ + µ| (1.9.8)


são válidas para todo λ ∈ ∆(θ′ ) e todo µ > 0. Ainda mais, para todo λ ∈ ∆(θ′ ) e
todo µ > 0 tem-se λ + µ ∈ ∆(θ′ ). Logo, como ∆(θ′ ) ⊂ ρ(A) tem-se, por 2), ∀ x ∈ X e
∀ λ ∈ ∆(θ′ ),
||BR(λ + µ, A)x|| ≤ a||AR(λ + µ, A)x||+
+ b||R(λ + µ, A)x|| ≤ ||((λ + µ)R(λ + µ, A) − I)x||+
! (1.9.9)
bM bM
+ ||x|| a(M + 1) + ||x||.
|λ + µ| |λ + µ|
De (1.9.7) vem 1/|λ + µ| ≤ α/µ → 0 quando µ → ∞, donde existe δ > 0 tal que
bM
< 1 − a(M + 1) ∀ λ ∈ ∆(θ′ ).
|λ + δ|
Daí e de (1.9.9) vem ||BR(λ + δ, A)|| ≤ c < 1. Portanto I − ||BR(λ + δ, A)|| é invertível
e
−1
X∞
n

X 1
||[I − BR(λ + δ, A)] || ≤ ||BR(λ + δ, A)|| ≤ cn = · (1.9.10)
n=0 n=0 1−c
Além disto tem-se ∀ λ ∈ ∆(θ′ )

R(λ + δ, A)[I − BR(λ + δ, A)]−1 = [I − BR(λ + δ, A)(λ + δ − A)]−1


= (λ + δ − A − B)−1 = R(λ + δ, A + B),

donde resulta que λ + δ ∈ ρ(A + B) e, portanto, λ ∈ ρ(A + B − δI). Como A ∈ (θ, M)


segue-se, então, tendo em vista (1.9.8) e (1.9.10), que ∀ λ ∈ ∆(θ′ ) tem-se

||R(λ, A + B − δI)|| = ||R(λ + δ, A + B)|| ≤


≤ ||R(λ + δ, A)||| · ||[I − BR(λ + δ, A)]−1 ||
M 1 Mβ 1 M′
≤ · ≤ · = ,
|λ + δ| 1 − c |λ| 1 − c |λ|
onde M ′ = Mβ/(1 − c). Além disto, D(A + B) = D(A) é denso e A + B é fechado. Logo
A + B − δI ∈ (θ′ , M ′ ).
1.9.7 Corolário. Se A ∈ (θ, M) e B ∈ L(X) então existem δ, θ′ e M ′ tais que
A + B − δI ∈ (θ′ , M ′ ).
1.9. TEORIA DA PERTURBAÇÃO 73

Demonstração: Caso particular do Teorema 1.9.6 com a = 0 e b = ||B||.


1.9.8 Corolário. Se A ∈ (θ, M) e B é um operador linear fechado tal que ||Bx|| ≤
a||Ax|| para todo x ∈ D(A) e a é uma constante tal que 0 ≤ a < 1/(M + 1), então
existem constantes δ, θ′ e M ′ tais que A + B − δI ∈ (θ′ , M ′ ).
Demonstração: Caso particular do Teorema 1.9.6 com b = 0.
74 CAPÍTULO 1. SEMIGRUPOS DE OPERADORES LINEARES
Capítulo 2

Problema de Cauchy Abstrato

2.1 A Equação Homogênea

2.1.1 Seja X um espaço de Banach, A um operador linear de X e consideremos, para


cada x ∈ X o problema de Cauchy abstrato,


 du
= Au(t) t > 0
dt (2.1.1)


u(0) = x.
Por solução de (2.1.1) entende-se toda função u : R+ → X, contínua para t ≥ 0,
continuamente diferenciável para t > 0, tal que u(t) ∈ D(A) para todo t > 0 e que
satisfaz (2.1.1). A segunda equação que figura em (2.1.1) será dita condição inicial do
problema e x, seu valor inicial.
2.1.2 Teorema. Se A é o gerador infinitesimal de um semigrupo de classe C0 então,
para cada x ∈ D(A), (2.1.1) tem uma só solução, continuamente diferenciável em todo
t ≥ 0.
Demonstração: Com efeito, a existência e a diferenciabilidade da solução resultam da
Proposição 1.2.10. Seja A gerador do semigrupo de classe C0 , S, e u(t) uma solução de
(2.1.1). Se 0 ≤ s ≤ t < ∞ tem-se, por i) da Proposição 1.2.10,
d
(S(t − s)u(s)) = S(t − s)Au(s) − S(t − s)Au(s) = 0,
ds
donde S(t − s(y(s) é independente de s. Para s = 0, S(t − s)u(s) toma o valor S(t)x e
para s = t, o valor u(t). Logo u(t) = S(t)x, ∀ t ≥ 0.
Dos Teoremas 1.4.24 e 2.1.2 decorre, imediatamente, que ∀ u0 ∈ H 2m (Ω) ∩ H0m (Ω) o
problema 
 ∂u + Lu = 0

∂t

u(0) = u ,
0
76 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO

onde L é o operador definido em (1.4.23), tem uma única solução continuamente diferen-
ciável em todo t ≥ 0. Em particular ∀ u0 ∈ H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω) o problema

 ∂u

− ∆u = 0
∂t

u(0) = u ,
0

tem uma única solução, continuamente diferenciável em todo t ≥ 0. A recíproca do


Teorema 2.1.2 será examinada a seguir. Inicialmente alguns lemas.
2.1.3 Seja A um operador linear fechado de X. Como ficou estabelecido no Lema 1.2.15,
pondo, para cada x ∈ D(A),
|x| = ||x|| + ||Ax|| (2.1.2)
o funcional | · | é uma norma em D(A), a norma do gráfico, aqui representada simples-
mente por | · |, com a qual D(A) é um espaço de Banach. Portanto, no que segue,
|x| = ||x|| + ||Ax|| ∀ x ∈ D(A).
Observe-se que, se A é o gerador infinitesimal de um semigrupo C0 e x ∈ D(A) então,
pelo Teorema 2.1.2, a solução do problema (2.1.1) satisfaz a condição

u ∈ C([0, ∞); [D(A)]) ∩ C 1 ([0, ∞); X).

2.1.4 Lema. Seja A um operador linear fechado. Vamos supor que, para cada x ∈ D(A),
o sistema (2.1.1) tenha uma só solução u(x, t), continuamente diferenciável em [0, ∞).
Então, para cada τ ∈ N, existe uma constante Mτ tal que

sup |u(t, x)| ≤ Mτ |x|. (2.1.3)


0≤t≤τ

Demonstração: Como A é fechado podemos introduzir em D(A) a norma do gráfico.


A seguir vamos definir uma aplicação

Tτ : [D(A)] → C([0, τ ]; D(A)]) (2.1.4)

Pondo Tτ x = u(t, x), 0 ≤ t ≤ τ , onde C([0, τ ]; [D(A)]) é o espaço das funções u : [0, τ ] →
[D(A)], contínuas, munido da norma do supremo. Se x, y ∈ [D(A)] e v(t) = αu(t, x) +
βu(t, y), então

dv(t) du(t, x) du(t, y)


=α −β =
dt dt dt
= α Au(t, x) − .β Au(t, y) = Av(t). v(0) = αx − βy,

isto é, v(t) é a solução correspondente ao valor inicial αx+βy. Mas então, pela unicidade
da solução, u(t, αx + βy) = αu(t, x) + βu(t, y) donde Tτ é linear. Seja xn → x em [D(A)]
e suponhamos que Tτ xn → v em C([0, τ ]; [D(A)]). Isto significa que, quando n → ∞,
2.1. A EQUAÇÃO HOMOGÊNEA 77

u(t, xn ) → v(t) e Au(t, xn ) → Av(t) e, portanto, du(t, xn )/dt → Av(t), na norma de X,


uniformemente em [0, τ ]. Daí resulta que v(t) é uniformemente diferenciável em [0, τ ] e
dv(t)/dt = Av(t). Vamos estender v a R+ definindo v em (τ, ∞) por v(t) = u(t−τ, v(τ ));
então v(t) é uma solução de (2.1.1) com valor inicial x e continuamente diferenciável em
[0, ∞). Logo v(t) = u(t, x), pela hipótese da unicidade, donde Tτ é fechada. Segue-se
daí, pelo Teorema do Gráfico Fechado, que Tτ é limitada, donde existe Mτ tal que

sup |u(t, x)| ≤ Mτ |x|.


0≤t≤τ

2.1.5 Lema. Seja A um operador linear fechado, densamente definido e tal que ρ(A) 6=
∅. Então D(A2 ) é denso em X.
Demonstração: Seja λ ∈ ρ(A). Então existe (λ − A)−1 e (λ − A)−1 ∈ L(X). Como
(λ − A)−1 X = D(A) tem-se (λ − A)−1 D(A) ⊂ D(A). Logo, de y ∈ (λ − A)−1 D(A) vem
y ∈ D(A) e, se y = (λ − A)−1 x, então

(λ − A)y = (λ − A)(λ − A)−1 x = x ∈ D(A),

donde Ay ∈ D(A). Segue-se que y ∈ D(A2 ), i.e., (λ − A)−1 D(A) ⊂ D(A2 ). Como
(λ − A)−1 ∈ L(X) e os operadores lineares limitados transformam conjuntos densos em
seus domínios em conjuntos densos em suas imagens, D(A2 ) é denso em D(A), donde
em X, q.e.d. .
2.1.6 Teorema. Seja A um operador linear fechado, densamente definido e tal que
ρ(A) 6= ∅. Vamos supor que para cada x ∈ D(A), o sistema (2.1.1) tenha uma e uma
só solução, continuamente diferenciável em [0, ∞). Então, A é o gerador infinitesimal
de um semigrupo, S, de classe C0 e S(t)x = u(t, x), onde u(t, x) é a solução com valor
inicial x.
e : [D(A)] → [D(A)] pondo S(t)x
Demonstração. Vamos definir, para cada t ≥ 0, S(t) e =
e
u(t, x). Como no Lema 2.1.4, da unicidade da solução de (2.1.1) decorre que S(t) é, para
e
cada t ≥ 0, um operador linear. O Lema 2.1.4 implica que S(t) é limitado e as hipóteses
sobre a derivabilidade e a continuidade implicam que

e
|S(t)x − x| = |u(t, x) − u(0, x)| = ||u(t, x) − x|| + ||Au(t, x) − Ax|| → 0

quando t → 0, isto é, que S(t) é fortemente contínuo relativamente à topologia de [D(A)].


e
Além disto, S(0)x = u(0, x) = x, ∀ x ∈ [D(A)] e como de


 d
u(t + s, x) = Au(t + s, x),
dt

u(0 + s, x) = u(s, x)
78 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO

e


 d
u(t, u(s, x)) = Au(t, u(s, x)),
du

u(0, u(s, x)) = u(s, x)

vem, pela unicidade,


e + s)x = u(t + s, x) = u(t, u(s, x)) = S(t)
S(t e S(s)x,
e ∀ x ∈ [D(A)] e t, s ≥ 0,

segue-se que Se é um semigrupo de classe C0 no espaço de Banach [D(A)].


e
Vamos estender S(t) a X. Ponhamos, para y ∈ D(A2 ),
Z t
v(t) = y + u(s, Ay) ds.
0

Teremos v ′ (t) = u(t, Ay) e


Z Z
t d t
u(t, Ay) − Ay = u(s, Ay) ds = Au(s, Ay) ds.
0 ds 0

Logo, Z Z
t t
v ′ (t) = Ay + Au(s, Ay) ds = Ay + A u(s, Ay) ds = Av(t)
0 0
e, como v(0) = y, v é a solução de (2.1.1) com valor inicial y. Portanto, v(t) = u(t, y),
pela unicidade da solução de (2.1.1). Mas, então, Au(t, y) = v ′ (t) = u(t, Ay) ou seja
e
AS(t)y e
= S(t)Ay ∀ y ∈ D(A2 ). (2.1.5)

Seja x ∈ D(A) e λ ∈ ρ(A) (ρ(A) 6= ∅, por hipótese). Então (λ − A)−1 existe e (λ −


A)−1 D(A) ⊂ D(A). Logo, pondo y = (λ − A)−1 x, tem-se y ∈ D(A). Além disto,
(λ − A)y = (λ − A)(λ − A)−1 x = x ∈ D(A); logo Ay ∈ D(A) e, portanto, y ∈ D(A2 ).
Por (2.1.5) tem-se, então,
e
||S(t)x|| e
= ||S(t)(λ e
− A)y|| = ||(λ − A)S(t)y|| e
≤ M ′ |S(t)y| ≤
≤ M n ewt |y| = M ′′ ewt (||y|| + ||Ay||).
e
onde w > w0 = inf{log |S(t)|/t, t > 0}. Mas y = (λ − A)−1 x = R(λ, A)x e, portanto,

||y|| = ||R(λ, A)x|| ≤ ||R(λ, A)|| ||x|| = M1 ||x||.

Além disto, Ay = λy − x, donde

||Ay|| = ||λy − x|| ≤ |λ| ||y|| + ||x|| ≤ |λ| M1 ||x|| + ||x|| = (λM1 + 1)||x||.

Logo,

||y|| + ||Ay|| ≤ M1 ||x|| + (|λ| M1 + 1)||x|| = ((|λ| + 1)M1 + 1)||x|| − M||x||


2.1. A EQUAÇÃO HOMOGÊNEA 79

onde M = M ′′ ((λ + 1)M1 + 1) e, assim,

e
||S(t)x|| ≤ M ewt ||x|| ∀ x ∈ D(A).

Como, por hipótese, D(A) é denso em X, segue-se daí que S(t) e admite uma extensão
linear limitada, S(t), a todo o conjunto X. Portanto, ∀ t ≥ 0, S(t) é um operador linear
limitado de X e, como se vê imediatamente, S : R+ → L(X) é um semigrupo. Como
e
S(t) é extensão contínua de S(t) e
ainda se tem ||S(t)|| ≤ M ewt . Daí, de ||S(t)x − x|| → 0
quando t → 0 , ∀ x ∈ D(A) e de D(A) denso em X, segue-se que ||S(t)x − x|| → 0
+

quando t → 0+ , ∀ x ∈ X, i.e., S é um semigrupo de classe C0 .


Vamos mostrar agora que o gerador infinitesimal de S é A. Seja B o gerador infini-
e
tesimal de S. Se x ∈ D(A), então S(t)x = S(t)x = u(t, x). Logo,

d
S(t)x = AS(t)x ∀ t ≥ 0
dt
que, para t = 0, dá A ⊂ B. Por outro lado, por (2.1.5), temos para y ∈ D(A2 ) e A ⊂ B,

AS(t)y = S(t)Ay = S(t)By

donde, se λ é tal que Re λ > w,


Z ∞ Z ∞
A eλt S(t)y dt = e−λt S(t)By dt
0 0

ou seja, AR(λ, B)y = R(λ, B)By e, daí,

AR(λ, B)y = BR(λ, B)y ∀ y ∈ D(A2 ). (2.1.6)

Mas, BR(λ, B) é limitado, A é fechado e D(A2 ) é denso em X, pelo Lema 2.1.5; logo
(2.1.6) é válida para todo y ∈ X e, então,

D(A) ⊃ I(R(λ, B)) = D(B)

e, portanto, B ⊂ A, q.e.d. .
Quando A é o gerador infinitesimal de um semigrupo diferenciável, o Teorema 2.1.2
pode ser melhorado como se vê a seguir.
2.1.7 Teorema. Se A é o gerador infinitesimal de um semigrupo diferenciável, então
para cada x ∈ X, (2.1.1) tem uma única solução; se x ∈ D(A) a solução é continuamente
diferenciável em todo t ≥ 0.
Com efeito, a existência da solução resulta do Teorema 1.3.3, a diferenciabilidade, da
Proposição 1.2.10 e a unicidade é demonstrada como no Teorema 2.1.2.
80 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO

Tendo em vista os Teoremas 1.4.24 e ]1.8.12, segue-se pelo Teorema 2.1.7 que se
γ > γ0 , então ∀ u0 ∈ L2 (Ω) o problema
du
+ Lu + γu = 0, u(0) = u0
dt
tem uma única solução; se u0 ∈ H 2m (Ω)∩H0m (Ω) a solução é continuamente diferenciável
para t ≥ 0.
2.1.8 Aplicações:
1) Equação de Ondas. Seja Ω ⊂ Rn satisfazendo as condições estipuladas em 1.4.16 e
consideremos o problema



 ∂2u


 2
− ∆u = 0 em (0, ∞ × Ω (2.1.7)
 ∂t


u = 0 em (0, ∞) × ∂Ω (2.1.8)



 ∂u

 = u0 , (0) = v0 em Ω, (2.1.9)
u(0)
∂t
onde, u0 ∈ H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω) e v0 ∈ H01 (Ω). Vamos mostrar que existe uma única função,
u, que satisfaz (2.1.7), (2.1.8) e (2.1.9) e

u ∈ C([0, ∞); H 2(Ω) ∩ H01 (Ω)) ∩ C 1 ([0, ∞); H01(Ω)) ∩ C 2 ([0, ∞); L2(Ω)).

Além disto,
2
∂u
||∇u(t)||2L2(Ω) + (t) = ||∇u0||2L2 (Ω) + ||u0 ||2L2 (Ω) , ∀ t ≥ 0.
∂t L2 (Ω)

A equação (2.1.7) é equivalente ao sistema




 ∂u



− v = 0 em (0, ∞) × Ω
 ∂t



 ∂v

 − ∆u = 0 em (0, ∞) × Ω
∂t
ou seja, à equação
∂U
− AU = 0,
∂t
onde ! !
0 I u
A= e U= ·
∆ 0 u
   
u1 u2
Sejam H = H01 (Ω) × L2 (Ω) e U1 = v1
, U2 = v2
pontos de H. Levando em conta que,
Z
pela Desigualdade de Poincaré-Friedrichs (Medeiros [42]), a integral ∇u1 ∇u2 dx define

2.1. A EQUAÇÃO HOMOGÊNEA 81

um produto interno em H01 (Ω), equivalente ao definido na Observação 1.4.16, podemos


definir um produto interno em H pondo
Z
(U1 , U2 ) = (∇u1 ∇u2 + v1 v2 ) dx

e com ele H é um espaço de Hilbert. Ponhamos

D(A) = (H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω)) × H01 (Ω).

Então, A : D(A) ⊂ H → H e o sistema (2.1.7), (2.1.9) é equivalente ao sistema



 ∂U


 − AU = 0
∂t ! (2.1.10)

 u0

U(0) =
v0

Temos
! !! Z
v1 u2
(AU1 , U2 ) = , = (∇v1 ∇u2 + v2 ∆u2 ) dx =
∆u1 v2 Ω
Z
=− (∇u1 ∇u2 + v1 ∆u2 ) dx =

= −(U1 , AU2 ) = (U1 , (−A)U2 ),

donde A+ = −A. Logo, pelo Teorema de Stone, A é o gerador infinitesimal de um grupo


unitário, S, de classe C0 . Portanto, pelo Teorema 2.1.2, o problema (2.1.10) tem uma
única solução, U(t) = S+ (t)U0 , continuamente diferenciável para t ≥ 0, isto é,

U ∈ C([0, ∞); [D(A)]) ∩ C 1 ([0, ∞); H) (2.1.11)

e, além disto, U é uma isometria e, portanto,

||U(t)||H = ||U0 ||H , ∀ t ≥ 0. (2.1.12)


!
u
Como toda função de H satisfaz (2.1.8) segue-se de (2.1.11) que se U = , então u é
v
a única função que satisfaz (2.1.7), (2.1.8) e (2.1.9) e

u ∈ C([0, ∞); H 2(Ω) ∩ H01 (Ω)) ∩ C 1 ([0, ∞); H01(Ω)) ∩ C 2 ([0, ∞); L2(Ω)).

Além disto, de (2.1.12) tem-se ||∇u(t)||2L2(Ω) + ||v(t)||2L2(Ω) = ||∇u0||2L2 (Ω) + ||v0 ||2L2 (Ω) , ou
seja,
2
∂u
||∇u(t)||2L2(Ω) + (t) = ||∇u0||2L2 (Ω) + ||v0||2L2 (Ω) , ∀ t ≥ 0,
∂t L2 (Ω)

pois, v = ∂u/∂t.
82 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO

Consideremos agora o problema


 2

 ∂ u

 2 − ∆u = 0 em (0, ∞) × Ω (2.1.13)
∂t

 ∂u

 u(0) = u0 , (0) = v0 em Ω, (2.1.14)
∂t
onde Ω é um aberto do espaço Rn .
Como no caso já estudado, (2.1.13) é equivalente à equação
∂U
− AU = 0
∂t
onde ! !
0 I u
A= e U= ·
∆ 0 v
Seja H = H01 (Ω) × L2 (Ω) munido do produto interno definido por
Z
(U1 , U2 ) = (∇u1 ∇u2 + u1u2 + v1 v2 ) dx,

! !
u1 u2
onde U1 = , U2 = ∈ H.
v1 v2
Com o produto interno assim definido, H é um espaço de Hilbert. Pondo D(A) =
(H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω)) × H01 (Ω)) tem-se, para U ∈ D(A),
Z
((−I + A)U, U) = (AU, U) − (U, U) = (∇u∇v + uv + v∆u) dx−
Z Z Ω

− (|∇u|2 + u2 + v 2 ) dx = − (|∇u|2 + u2 + v 2 − uv) dx ≤ 0,


Ω Ω
!
f
i.e., −I + A é dissipativo. Além disto, se F = ∈ H, a equação 2U − AU = F é
g
equivalente ao sistema 
2u − v =f
2v − ∆u = g.
ou seja, à equação −∆u + 4u = 2f + g, a qual tem uma solução, u, em H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω)
(Proposição 1.4.20 e o Teorema A.9.2 do Apêndice). Logo, v = 2u − f ∈ H01 (Ω) e,
portanto, a equação
2U − AU = F
!
u
tem uma solução U = , em D(A), i.e., o operador 2I −A = I −(−I +A) é sobrejetivo.
v
Como D(−I + A) é denso temos, pelo Teorema de Lumer-Phillips, −I + A ∈ G(1, 0),
donde A ∈ G(1, 1), pela Proposição 1.4.9. Pelo Teorema 2.1.2 o problema

 ∂U

− AU = 0
∂t

U(0) = U0 ,
2.1. A EQUAÇÃO HOMOGÊNEA 83

onde U0 ∈ D(A), tem uma única solução U, continuamente diferenciável para t ≥ 0, i.e.,
U ∈ C([0, ∞); D(A)]) ∩C 1([0, ∞); H). Logo, se u0 ∈ H 2 (Ω) ∩H01 (Ω) e v0 ∈ H01 (Ω), então
existe uma única função u tal que

u ∈ C([0, ∞); H 2(Ω) ∩ H01 (Ω)) ∩ C 1 ([0, ∞); H01(Ω)) ∩ C 2 ([0, ∞).L2 (Ω))

e que satisfaz (2.1.13) e (2.1.14). Além disto, multiplicando ambos os membros de (2.1.13)
∂u
por e integrando em Ω tem-se
∂t
Z Z
∂ 2 u ∂u ∂u
dx + (−∆u) dx = 0.
Ω ∂t2 ∂t Ω ∂t
Mas
Z Z 2
∂ 2 u ∂u 1 ∂ ∂u
dx = , dx
Ω 2
∂t ∂t 2 ∂t Ω ∂t
e Z Z Z Z
∂u ∂u ∂ 1 ∂
(−∆u) dx = ∇u∇ dx = ∇u ∇u dx = |∇u|2 dx.
Ω ∂t Ω ∂t Ω ∂t 2 ∂t Ω
Logo,
1 ∂ Z ∂u 1 ∂ Z
2
dx + |∇u|2 dx = 0
2 ∂t Ω ∂t 2 ∂t Ω
ou seja
Z 2 Z
∂u
dx + |∇u|2 dx = constante.
Ω ∂t Ω

Portanto,
Z Z 2 Z Z
2 ∂u
|∇u| dx + dx = |∇u0 |2 dx + |u0|2 dx
Ω Ω ∂t Ω Ω

exatamente como no caso em que Ω é limitado.


Com os mesmos argumentos chega-se a essas mesmas conclusões quando Ω = Rn .
Nesse caso põe-se H = H(Rn ) × L2 (Rn ) e toma-se para D(A) o espaço H 2 (Rn ) × H 1(Rn ).

2) Equação de Schrödinger. Consideremos a equação de Schrödinger em L2 (Rn )


1 ∂u
= ∆u − qu,
i ∂t
onde ∆ é o Laplaciano e q é uma função real e mensurável em Rn . Vamos definir, como
nos Exemplos 1.5.10, os operadores A1 e Mq de L2 (Rn ) pondo A1 u = i∆u, u ∈ H 2 (Rn ) =
D(A1 ) e Mq u = qu ∀ u ∈ D(Mq ) = {u ∈ L2 (Rn ); qu ∈ L2 (Rn )}. Os operadores −iA1 e
−Mq são simétricos, donde −iA1 − Mq é simétrico e, se D(Mq ) ⊃ H 2 (Rn ), −iA1 − Mq é
densamente definido. E, como será mostrado a seguir, com adequadas restrições à função
q tem-se, não só, D(Mq ) ⊃ H 2 (Rn ) como, também, I(λ0 − (−iA1 − Mq )) = L2 (Rn )
84 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO

para algum λ0 ∈ ρ(−iA1 − Mq ). Portanto, com apropriadas restrições a q, o operador


−iA1 −Mq é auto-adjunto (Teorema A.1.7 do Apêndice), o mesmo acontecendo, pois, com
o operador iA1 +Mq , donde pela Nota 1.5.9, o operador A1 −iMq gera um grupo unitário
de classe C0 . Resultará daí que, para cada u0 ∈ H 2 (Rn ), a equação de Schrödinger tem
uma única solução, u, com valor inicial u0 e continuamente diferenciável para t ≥ 0.
Além disto, ||u(t)||L2(Rn ) = ||u0||L2 (Rn ) , t ≥ 0.
Vamos nos restringir aos três casos a seguir.

a) q(x) = 0 ∀ x ∈ Rn .

b) q ∈ L∞ (Rn ).

c) i) D(Mq ) ⊃ H 2 (Rn ) e existem constantes a e b, 0 ≤ a < 1 tais que

||Mq u||L2(Rn ) ≤ a||iA1 u||L2(Rn ) + b||u||L2(Rn ) ∀ u ∈ H 2 (Rn );

ii) q ≥ 0 quase sempre em Rn .

No primeiro caso temos Mq = 0, donde D(Mq ) = L2 (Rn ) ⊃ H 2 (Rn ) e, como já foi


visto no Exemplo 1.5.10-2), I(I − (−iA1 )) = L2 (Rn ),1 ∈ ρ(−iA1 ). Portanto, I(I −
(−iA1 − Mq )) = I(I − (−iA1 )) = L2 (Rn ) com λ0 = 1 ∈ ρ(−iA1 ) = ρ(−iA1 − Mq ).
No segundo caso, Mq é um operador linear limitado de L2 (Rn ) pois, nesse caso, de
u ∈ L2 (Rn ) vem Mq u = qu ∈ L2 (Rn ) e
Z 1 Z 1
2 2
2 2
||Mq u||L2 (Rn ) = |Mq u| dx = |qu| dx ≤ ||q||L∞ (Rn ) ||u||L2(Rn )
Rn Rn

i.e., Mq é limitado e ||Mq ||L2 (Rn ) ≤ ||q||L∞(Rn ) .


Além disto, como foi visto no Exemplo 1.5.10-2 I(I − (−iA1 )) = L2 (Rn ) e como
−iA1 é densamente definido e dissipativo, segue-se que −iA1 ∈ G(1, 0), pelo Teorema
de Lumer-Phillips. Logo, −iA1 − Mq ∈ G(1, ||Mq ||L2 (Rn ) ), pela Proposição 1.9.3, donde
−iA1 − Mq − ||Mq ||L2 (Rn ) I ∈ G(1, 0) e, daí,

I(λ − (−iA1 − Mq − ||Mq ||L2 (Rn ) I) = L2 (Rn ), λ > 0,

pelo Teorema de Lumer-Phillips. Portanto,

I(λ0 − (−iA1 − Mq )) = L2 (Rn ) com λ0 = λ + ||Mq ||L2 (Rn ) ∈ ρ(−iA1 − Mq )

que é o que se queria demonstrar.


No terceiro caso, de ii) resulta que −Mq é operador dissipativo e, como −iA1 ∈
G(1, 0), tem-se −iA1 − Mq ∈ G(1, 0) pelo Teorema 1.9.2. Logo, I(λ0 − (−iA1 − Mq )) =
L2 (Rn ) para algum λ0 > 0 e, portanto, λ0 ∈ ρ(−iA1 − Mq ), c.q.d. .
2.1. A EQUAÇÃO HOMOGÊNEA 85

Se, em particular, q ∈ Lp (Rn ), com p > n/2 e p ≥ 2, a condição i) de c) é satisfeita.


Seja, com efeito, u ∈ H 2 (Rn ) e ponhamos v(x) = u(x/ρ), ρ > 0. Tem-se v ∈ H 2 (Rn ),
donde a função (1 + |x|2 )vb(x) ∈ L2 (Rn ); além disto, de p > n/2 resulta que a função
(1 + |x|2 )−1 pertence a Lp (Rn ) ([42] pág. 97). Logo, pondo s = 2p/(p + 2) e, portanto,
1/s = 1/p + 1/2 e tendo em vista que vb(x) = (1 + |x|2 )−1 (1 + |x|2 )vb(x) tem-se vb ∈ L2 (Rn )
e Z 1 Z  1 Z 1
2 2 2
|vb(x)|2 ds ≤C (1 + |x|2 )−p x |(1 + |x|2 )vb(x)|2 dx
Rn Rn Rn
pela Desigualdade de Hölder Generalizada (A.7.2 do Apêndice). Mas (1 + |x|2 )vb(x) =
(v(x) − ∆v(x)∧ donde, pelo Teorema de Plancharel,
Z 1 Z 1
2 2
2 2 2
|(1 + |x| )vb(x)| dx = |v(x) − ∆v(x)| dx =
Rn Rn
= ||v − ∆v||L2 (Rn ) ≤ ||∆v||L2 (Rn ) + ||v||L2(Rn ) .
Z 1
2
2 −p
Logo, pondo ap,n = (1 + |x| ) dx tem-se ||vb||L2(Rn ) ≤ ap,n (||∆v||L2(Rn ) +
Rn
||v||L2(Rn ) . Seja τ o conjugado de s, i.e., 1/τ + 1/s = 1. Como 1 ≤ s ≤ 2 tem-se
 
1
n −1
||v||Lτ (Rn ) = ||vb||Lτ (Rn ) = ||vbb||Lτ (Rn ) ≤ 2π) 2 p
||vb||Lτ (Rn ) ,
pelo Teorema de Hausdorff-Young (Teorema A.8.9 do Apêndice) aplicado à função vb.
Portanto, ||v||Lτ (Rn ) ≤ a1p,n (||∆v||L2(Rn ) + ||v||L2(Rn ) ), onde a1p,n depende apenas de p e n.
Mas v(x) = u(x/ρ). Logo,
 
n n (n−2) n
||u||Lτ (Rn ) = ρ− τ ||v||Lτ (Rn ) ≤ ρ− τ a1p,n ρ 2 ||∆u||L2(Rn ) + ρ 2 ||u||L2(Rn )

donde,
||u||Lτ (Rn ) ||q||Lp(Rn ) ≤ a||∆u||L2(Rn ) + b||u||L2(Rn ) ,
com 0 ≤ a < 1 e b ≥ 0, para ρ convenientemente escolhido. Além disto, 1/p + 1/τ = 1/2
donde, pela Desigualdade de Hölder Generalizada, qu ∈ L2 (Rn ), e, portanto, D(Mq ) ⊃
H 2 (Rn ) e
||Mq ||L2 (Rn ) = ||qu||L2(Rn ) ≤ ||q||Lp (Rn ) ||u||Lτ (Rn ) ≤ a||∆u||L2(Rn ) + b||u||L2(Rn ) ,
0 ≤ a < 1 e b ≥ 0.

3) Equação do Calor. Seja Ω ⊂ Rn um conjunto aberto satisfazendo as condições


estipuladas em (1.4.16) e consideremos o seguinte problema: determinar uma função
u : [0, ∞) × Ω → R tal que


 ∂u

 − ∆u = 0 em (0, ∞) × Ω (2.1.15)

 ∂t

 u = 0 em (0, ∞) × ∂Ω (2.1.16)



 u(0, x) = u0 (x) em Ω, (2.1.17)
86 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO

onde ∆ é o operador de Laplace.


A equação (2.1.15) é conhecida por equação do calor.
Definindo, como anteriormente, o operador A de L2 (Ω) por

D(A) = H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω)


Au = ∆u ∀ u ∈ D(A),

o problema pode ser posto sob a forma



 du

− Au = 0 em (0, ∞) × Ω (2.1.18)

dt

u(0, x) = u0 (x) em Ω, (2.1.19)

uma vez que se u ∈ D(A), então u satisfaz (2.1.16).


Pelo Teorema 2.1.2, se u0 ∈ H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω), então o semigrupo gerado por A é uma
solução, continuamente diferenciável para todo t ≥ 0, do Problema (2.1.18)-(2.1.19).
Tendo em vista a Observação 2.1.3 e que a norma do gráfico é, neste caso, equivalente
à do espaço H01 , segue-se que, para u0 ∈ H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω), a solução, u(t) = S(t)u0 , do
problema (2.1.18)-(2.1.19), satisfaz a condição

u ∈ C([0, ∞); L2 (Ω)) ∩ C 1 (]0, ∞); L2(Ω)) ∩ C 2 ([0, ∞); H 2(Ω) ∩ H01 (Ω)),

e, de modo mais geral, paa todo u0 ∈ L2 (Ω)

u ∈ C([0, ∞); L2(Ω)) ∩ C 1 ([0, ∞); L2(Ω)) ∩ C 2 ([0, ∞); H 2(Ω) ∩ H01 (Ω)),

uma vez que S é um semigrupo diferenciável pela Proposição 1.4.28.


Além disto, pelo Teorema 1.4.29, ∀ u0 ∈ L2 (Ω),

u(t) = S(t)u0 ∈ C n ((0, ∞); [D(Ak )]) ∀ k, n ∈ N.

Mas,
D(Ak ) = {u ∈ H 2k .u = ∆u = · · · = ∆k−1 u = 0 sobre ∂Ω}.
Logo,
u(t) = S(t)u0 ∈ C n ((0, ∞); H 2k ) ∀ k, n ∈ N,
donde, pelos teoremas de imersão dos espaços de Sobolev,

u(t) = S(t)u0 ∈ C n ((0, ∞); C m(Ω)), ∀ n, m ∈ N,

onde C n (Ω) é o espaço das funções f : Ω → R que, juntamente com suas derivadas D‘α f ,
0 ≤ |α| ≤ n, são uniformemente contínuas em Ω, munido da norma

||f || = max sup |D α f (x)|.


0≤|α|≤n x∈Ω
2.2. EQUAÇÃO NÃO HOMOGÊNEA 87

2.2 Equação Não Homogênea


2.2.1 Seja A o gerador infinitesimal de um semigrupo, S, de classe C0 , f : R+ → X
uma função contínua e consideremos o problema de Cauchy abstrato

 d


 u(t) = Au(t) + f (t), t>0
 dt
(2.2.1)





u(0) = x.

2.2.2 Definição. Uma função u : R+ → X é dita solução forte de (2.2.1) se u é contínua


para t ≥ 0, continuamente diferenciável para t > 0, u(t) ∈ D(A) ∀ t > 0 e u satisfaz
(2.2.1).
Seja u uma solução forte de (2.2.1) e ponhamos g(s) = S(t − s)u(s), 0 ≤ s ≤ t.
Teremos g ′(s) = S(t − s)f (s) donde, integrando de 0 a t, 0 < t < ∞,
Z t
u(t) = S(t)x + S(t − s)f (x) ds (2.2.2)
0

que é uma condição necessária para que u seja solução forte de (2.2.1).
Satisfeitas as hipóteses estipuladas em (2.2.1), a função S(t−s)f (s) é contínua e, por-
tanto, a fórmula (2.1.2) tem sentido quer u seja ou não solução forte de (2.2.1). Dizemos,
então, que (2.2.2) é uma solução generalizada de (2.2.1). As soluções generalizadas não
são necessariamente soluções fortes como se vê tomando para f (t) a função S(t)y ∈ / D(A),
t > 0 e y ∈ X; nesse caso, u(t) = S(t) + tS(t)y é uma solução generalizada que não
é uma solução forte porque essa função não é diferenciável para t > 0. Portanto, para
que uma solução generalizada seja uma solução forte é necessário que A ou f satisfaçam
condições adicionais, algumas das quais serão estudadas aqui.
Como conseqüência imediata de (2.2.2) temos:
2.2.3 Proposição. O sistema (2.2.1) tem no máixmo uma solução forte.
2.2.4 Teorema. O sistema (2.2.1) tem uma solução forte para todo x ∈ D(A), se, e só
se, a função v dada por Z t
v(t) = S(t − s)f (s) ds (2.2.3)
0
é continuamente diferenciável para todo t > 0.
Demonstração: Quando (2.2.1) tem uma solução forte para x ∈ D(A), a função v é,
por (2.2.2), diferença de duas funções continuamente diferenciáveis em todo t > 0; logo
continuamente diferenciável em todo t > 0. Reciprocamente, como
Z
v(t + h) − v(t) 1 t+h
Ah v(t) = − S(t + h − s)f (s) ds (2.2.4)
h h t
88 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO

se v é continuamente diferencável em todo t > 0, então o segundo membro de (2.2.4)


tem um limite quando h → 0+ , ∀ t > 0, o mesmo acontecendo, portanto, com o primeiro.
Logo, no limite, quando h → 0+ , Av(t) = v ′ (t) − f (t). Além disto, v(0) = 0. Logo, a
função u, dada por u(t) = S(t)x + v(t), é solução forte de (2.2.1).
2.2.5 Corolário. Se v(t) ∈ D(A), ∀ t ≥ 0, e Av é contínua, então o problema (2.2.1)
tem solução forte ∀ x ∈ D(A).
Demonstração: De (2.2.4) vem
Z
v(t + h) − v(t) 1 t+h
− Ah v(t) + S(t + h − s)f (s) ds,
h h t

cujo segundo membro, de acordo com as hipóteses, tende para Av(t) + f (t) ∀ t > v. Logo
v é derivável à direita em todo t > 0 e d+ v(t)/dt = Av(t) + f (t). Mas, por hipótese,
f (t) e Av(t) são contínuas; logo d+ v(t)/dt é contínua. Pelo Lema de Dini (Lema A.3.2
do Apêndice), é continuamente diferenciável para t > 0. Pelo Teorema 2.2.4 o sistema
(2.2.1) tem uma solução forte que é dada por (2.2.2), q.e.d. .
2.2.6 Proposição. Seja A o gerador infinitesimal de um semigrupo de classe C0 ,
f : R+ → X uma função contínua e suponhamos que f satisfaça uma das seguintes
condições:

i) f é continuamente diferenciável em todo t ≥ 0;

ii) f (t) ∈ D(A) ∀ t ≥ 0 e Af é contínua.

Então, ∀ x ∈ D(A), (2.2.1) tem uma solução forte.


Demonstração: i) De
Z t Z t
v(t) = S(t − s)f (s) ds = S(s)f (t − s) ds
0 0

vem, para h > 0,


Z
v(t + h) − v(t) 1 t
= S(s)(f (t + h − s) − f (t − s)) ds +
h h 0
1 Z t+h
+ S(s)f (t + h − s) ds
h t
e, como o segundo membro tem um limite contínuo quando h → 0+ , pois pela Proposi-
1
ção A.3.4 ao Apêndice, (f (t+ h−s)−f (t−s))→f ′ (t−s) uniformemente, segue-se, pelo
h
Lema de Dini, que v é continuamente diferenciável. Logo, pelo Teorema 2.2.4, o sistema
(2.2.1) tem uma solução forte.
ii) De f (s) ∈ D(A), 0 ≤ s ≤ t, vem, pela Proposição 1.2.10, S(t − s)f (s) ∈ D(A) e
AS(t − s)f (s) = S(t − s)Af (s). Mas Af é, por hipótese, contínua, donde S(t − s)Af (s)
2.2. EQUAÇÃO NÃO HOMOGÊNEA 89

é contínua e, portanto, AS(t−s)f (s) é contínua. E, como S(t−s)f (s) também é contínua
e A é fechado segue-se, pelo Teorema A.4.4 do Apêndice, que v(t) ∈ D(A) ∀ t > 0 e
Z t Z t
Av(t) = A S(t − s)f (s) ds = AS(t − s)f (s) ds
0 0

i.e., v(t) ∈ D(A) ∀ t > 0 e Av é contínua; pelo Corolário 2.2.5, o sistema (2.2.1) tem uma
solução forte, ∀ x ∈ D(A).
Do Teorema 1.4.24 e da Proposição 1.12.6 decorre imediatamente que se f : R+ →
L2 (Ω) é contínua e satisfaz i) ou ii) da Proposição 2.2.6, então, ∀ u0 ∈ H 2m (Ω) ∩ H0m (Ω),
o problema 
 ∂u + Lu = f

∂t

u(0) = u
0

tem uma solução forte.


Em particular, se f : R+ → L2 (Ω) é contínua e satisfaz i) ou ii) da Proposição 2.2.6,
então, ∀ u0 ∈ H 2 (Ω) ∩ H01 (Ω), o problema

 ∂u

− ∆u = f
∂t

u(0) = u
0

tem uma solução forte.


2.2.7 Definição. Diz-se que uma função f : R+ → X é contínua no sentido de Hölder
para t ≥ 0 se
||f (t) − f (s)|| ≤ L(t − s)k , 0 ≤ s ≤ t, (2.2.5)
onde L e k são constantes e 0 < k ≤ 1.
2.2.8 Teorema. Seja A ∈ (θ, M) e f (t) contínua no sentido de Hölder para t ≥ 0.
Então, para cada x ∈ D(A), o sistema (2.2.1) tem uma solução forte.
Demonstração: Pelo Corolário 2.2.5 é bastante demonstrar que v(t) ∈ D(A) ∀ t > 0 e
Av é contínua. Temos
Z t Z t
v(t) = S(t − s)f (s) ds = S(t − s)[f (s) − f (t)] ds+
0 0
Z t
+ S(t − s)f (t) ds = v1 (t) + v2 (t).
0

Pela Proposição 1.2.10, item iii), v2 (t) ∈ D(A) e Av2 (t) = (S(t) − I)f (t); como f é
contínua, Av2 (t) é contínua.
Vamos pôr
Z t
v1 (t, ε) = S(t + ε − s)[f (s) − f (t)] ds = S(ε)v1 (t), ε > 0.
0
90 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO

Pela continuidade forte de S segue-se, daí, que v1 (t, ε) → v1 (t) quando ε → 0. Como,
por hipótese, S é diferenciável, v1 (t, ε) ∈ D(A) ∀ ε > 0 e, portanto, tem sentido a integral
Z t
Av1 (t, ε) = AS(t + ε − s)[f (s) − f (t)] ds.
0

pelo Teorema 1.3.3, AS = S (1) é contínua em ε, donde se segue que

AS(t + ε − s)[f (s) − f (t)] → AS(t − s)[f (s) − f (t)]

quando ε → 0. Por outro lado, pelo Corolário 1.8.8-ii)

||AS(t + ε − s)[f (s) − f (t)]|| ≤ ||AS(t + ε − s)|| · ||f (s) − f (t)|| ≤


M1 (ε)
≤ · L|t − s|k ≤ M1 (ε)L|t − s|k−1 ε > 0.
|t + ε − s|

Segue-se, pelo Teorema da Convergência Dominada, que AS(t−s)[f (s)−f (t)] é integrável
em [0, T ] e
Z t
AS(t − s)[f (s) − f (t)] ds = lim ε → 0 Av1 (t, ε)
0

e como A é um operador fechado, v1 ∈ D(A), ∀ t > 0. Falta apenas demonstrar que Av1
é contínua. Temos
Z t+h
Av1 (t + h) − Av1 (t) = AS(t + h − s)[f (s) − f (t + h)] ds −
0
Z t Z t
− AS(t−s)[f (s)−f (t)]ds = A[S(t+h−s)−S(t−s)][f (s)−f (t)]ds+
0 0
Z t Z t+h
+ AS(t+h−s)[f (t)−f (t+h)]ds + AS(t+h−s)[f (s)−f (t+h)]ds =
0 t
= w1 + w2 + w3 .

Seja k < 1. Pelo Corolário 1.8.8-iii) e por (2.1.5) temos


Z t
||w1 || ≤ ||A[S(t + h − s) − S(t − s)]|| · ||f (s) − f (t)||ds ≤
0
Z t Z t
−1 k−1
≤ M2 (ε)Lh (t + h − s) (t − s) ds = M2 (ε)Lh (s + h)−1 sk−1 ds ≤
0 0
Z ∞
k −1 k−1 k
≤ M2 (ε)Lh (s + 1) s ds = M2 (ε)Lh Γ(k)Γ(1 − k) =
0
π
= M2 (ε)Lhk = C1 hk .
sen kπ
Por (1.2.10), (1.8.14) e (2.1.5)

||w2 || ≤ ||S(h) − S(t + h)|| · ||f (t) − f (t + h)| ≤ 2M0 (ε)Lhk = C2 hk .


2.3. EQUAÇÃO NÃO LINEAR 91

Por ii) do Corolário 1.8.8 e por (2.1.5)


Z t+h
||w3 || ≤ ||AS(t + h − s)|| · ||f (s) − f (t + h)|| ds ≤
t
Z t+h
≤ M1 (ε)L (t + h − s)−1+k ds = C3 hk .
t

Logo, ||Av1 (th ) − Av1 (t)|| ≤ Chk , donde Av1 é contínua no sentido de Hölder. Se k = 1,
então
Z t Z t
||w1 || = M2 (ε)Lh (t + h − s)−1 ds = M2 (ε)Lh (s + h)−1 ds =
0 0
= M2 (ε)Lh(log(t + h) − log h) → 0.

Analogamente, quando h → 0, ||w2|| → 0 e ||w3 || → 0. Logo Av1 é contínua, o que


completa a demonstração.
Dos Teoremas 1.8.12 e 2.2.8 resulta, imediatamente, que se f : R+ → L2 (Ω) é uma
função contínua no sentido de Hölder, então, ∀ u0 ∈ L2 (Ω), o problema

 ∂u

+ Lu + γu = f, γ ≥ γ0 ,
∂t

u(0) = u0

tem uma única solução forte.


Em particular, do Corolário 1.8.13 resulta que se f : R+ → L2 (Ω) é uma função
contínua no sentido de Hölder, então, ∀ u0 ∈ L2 (Ω), o problema

 ∂u

− (∆ − ε)u = f,
∂t

u(0) = u
0

tem uma solução forte.

2.3 Equação Não Linear


2.3.1 Consideremos agora o problema de Cauchy abstrato não linear


 d
u(t) = Au(t) + f (t, u(t))

dt (2.3.1)

u(0) = u0

onde A é o gerador infinitesimal de um semigrupo de classe C0 em X e f : R+ × X → X


é uma função contínua.
92 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO

Argumentação análoga à desenvolvida após a Definição 2.2.2 mostra que se S é o


semigrupo gerado por A, toda solução forte, u, de (2.3.1) satisfaz a condição
Z t
u(t) = S(t)x0 + S(t − s)f (s, u(s)) ds. (2.3.2)
0

Note-se, porém, que uma solução da equação (2.3.2) nem sempre é solução do sistema
(2.3.1) porque nem sempre é diferenciável. Vamos chamar as soluções de (2.3.2), ainda,
de soluções generalizadas de (2.3.1) e mostrar que impondo condições restritivas a f , o
problema (2.3.1) tem solução generalizada.
Recorde-se que
2.3.2 Lema (Picard-Banach). Seja M um espaço métrico completo com métrica d.
Suponhamos que para algum n ∈ N a aplicação T : M → M satisfaça a condição
d(T m x.T n y) ≤ θd(x, y) (2.3.3)
para todo x, y ∈ M, onde 0 ≤ θ < 1. Então T tem um e só um ponto fixo, i.e., existe
um e só um x ∈ M tal que T x = x.
Demonstração bem conhecida.

2.3.3 Teorema. Seja Ω um subconjunto aberto de X e x0 ∈ Ω. Vamos supor que f seja


contínua em [0, τ ] e uniformemente lipschitziana em Ω, com constante L = ℓ(τ ), i.e.,
||f (t, x) − f (t, y)|| ≤ L||x − y|| (2.3.4)
∀ x, y ∈ Ω e ∀ t ∈ [0, τ ]. Então para τ suficientemente pequeno existe uma e uma só
solução generalizada, u, de (2.3.1) e y ∈ C([0, τ ]; Ω).
Demonstração: Seja τ > 0, V ⊂ Ω uma bola fechada de centro x0 e
M = {u; u ∈ C([0, τ ]; X), u(0) = x0 e u([0, τ ]) ⊂ V },
C([0, τ ]; X) munido da norma do supremo. Então M é um espaço métrico completo.
Vamos definir T : M → C([0, τ ]; X) por
Z t
T u(t) = S(t)x0 + S(t − s)f (s, u(s)) ds.
0

Como S é um semigrupo de classe C0 existem M e w > 0 tais que ||S(t)|| ≤ M ewt , t ≥ 0.


Logo, indicado por | · | a norma de C([0, τ ]; X) temos
|T u − T v| =
Z t
= sup ||T u(t) − T v(t)|| ≤ sup ||S(t − s)[f (s, u(s)) − f (s, v(s))]||ds ≤
0≤t≤τ 0≤t≤τ 0
Z τ Z τ
≤ Mewτ ||f (s, u(s)) − f (s, v(s))||ds ≤ MLewτ ||u(s) − v(s)||ds ≤
0 0
≤ MLewτ τ sup ||u(t) − v(t)|| = MLewτ τ |u − v|.
0≤t≤τ
2.3. EQUAÇÃO NÃO LINEAR 93

Como MLewτ → 0 quando τ → 0, para τ suficientemente pequeno, T é uma contração


estrita de M. Portanto, pelo Lema 2.3.2, T tem um e um só pono fixo. Mas os pontos
fixos de T sendo justamente as soluções generalizadas de (2.3.1), está demonstrada a
existência e a unicidade das soluções generalizadas de (2.3.1). Além disto, T u é contínua
∀ u ∈ M; logo, a solução generalizada de (2.3.1) é contínua.
2.3.4 Teorema. Seja f : R+ × X → X contínua em t e suponhamos que, para cada
τ > 0, existe uma constante L = L(τ ) tal que

||f (t, s) − f (t, y)| ≤ L||x − y||

∀ x, y ∈ X e ∀ t ∈ [0, τ ]. Então, para cada x0 ∈ X, (2.3.1) tem uma e uma só solução


generalizada, u, contínua em [0, τ ]. Além disto, x0 → u é uma aplicação contínua de X
em C([0, τ ].X).
Demonstração: Com a notação adotada no teorema anterior e argumentação alí de-
senvolvida vê-se que para cada τ > 0 tem-se

||T u(t) − T v(t)k ≤ MLewτ t|u − v|

donde por indução


|u − v|
||T n u(t) − T n v(t)|| ≤ (MLewτ t)n (2.3.5)
n!
pois, supondo (2.3.5) verdadeira para n, tem-se
Z t
n+1 n+1
||T u(t)−T v(t)|| ≤ ||S(t − s)|| · ||f (s, T nu(s)−f (s, T nv(s)||ds ≤
0
Z Z

t
n |u − v|
n wτ wτ n
t
≤ MLe ||T u(s)−T v(s)||ds ≤ MLe (MLe ) sn ds =
0 n! 0
|u − v|
= (MLewτ t)n+1 ·
(n1 )!

Para n suficientemente grande,

(MLewτ )n
θ= <1
n!
donde, por (2.3.5),

|T n u − T n v| ≤ θ|u − v| ∀ u, v ∈ C([0, τ ]; X), , θ < 1.

Portanto, pelo Lema 2.3.2, T tem um e um só ponto fixo em C([0, τ ]; X), i.e., (2.3.1)
tem uma e uma só solução generalizada u e u ∈ C([0, τ ]; X), com τ > 0 arbitrário, o
que demonstra a primeira asserção. Para demonstrar a segunda, seja v uma solução
94 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO

generalizada de (2.3.1) com valor inicial v(0) = y0 . De (2.3.2) vem, então,

||u(t) − v(t)| ≤
Z t
≤ ||S(t)x0 − S(t)y0 )|| + ||S(t − s)||.||f (x, u(s)) − f (s, v(s))||ds ≤
0
Z t
wτ wτ
≤ Me ||x0 − y0 || + MLe ||u(s) − v(s)||ds,
0

donde, pelo lema de Gronwall,



||u(t) − v(t)|| ≤ Mewτ eM Lτ e ||x0 − y0 || ∀ t ∈ [0, τ ],

e daí,

|u − v| ≤ Mewτ eM Le ||x0 − y0 ||
o que completa a demonstração.
Vejamos agora um teorema devido a Pazy, cuja demonstração se baseia não no Teo-
rema do Ponto Fixo de Picard-Banach mas no de Schauder. Recorde-se que
2.3.5 Lema (Schauder). Toda aplicação contínua de um espaço de Banach real, que
aplica um conjunto convexo e fechado em um subconjunto precompacto desse conjunto,
tem um ponto fixo.
Demonstração: Bem conhecida.
Recorde-se, também, que
2.3.6 Lema (Arzelà-Ascoli). Seja X um espaço métrico compacto, Y um espaço métrico
completo, C(X, Y ) o espaço das funções contínuas de X em Y com a topologia uniforme
e F ⊂ C(X, Y ) uma família equicontínua. Se, para cada x ∈ X, o conjunto dos pontos
f (x), f ∈ F , é precompacto em Y , então F é precompacta em C(X, Y ).
Demonstração: Bem conhecida.
2.3.7 Teorema (Pazy). Seja f : [0, τ ] × X → Y contínua e S um semigrupo compacto.
Então, ∀ x0 ∈ X a equação integral
Z t
u(t) = S(t)x0 + S(t − s)f (s, u(s))ds
0

tem uma solução local u ∈ C([0, τ ]; X), onde 0 < τ ′ ≤ τ .


Demonstração: Sejam t1 > 0, e ρ > 0 tais que ||f (s, x)|| ≤ N para 0 ≤ s ≤ t1 e
||x − x0 || < ρ, seja ||S(t)|| ≤ M para 0 ≤ t ≤ τ e t2 > 0 tal que ||S(t)x0 − x0 || < ρ/2
para 0 ≤ t ≤ t2 . Ponhamos
 
ρ
τ ′ = min t1 , t2 , τ,
2MN
2.3. EQUAÇÃO NÃO LINEAR 95

e designemos por Y o espaço de Banach C([0, τ ′ ]; X). A aplicação T de Y em Y definida


por Z t
T u(t) = S(t)x0 + S(t − s)f (s, u(s))ds
0

aplica a bola Y0 = {u ∈ Y ; u(0) = x0 , ||u(t) − x0 || ≤ ρ} em si própria porque para u ∈ Y0


tem-se ||f (s, u(s))|| ≤ N e, portanto,
ρ ρ
||T u(t) − x0 || ≤ ||S(t)x0 − x0 || + tMN ≤ + = ρ.
2 2
Vamos mostrar que a imagem de Y0 por T , i.e., a família de funções {T u; u ∈ Y0 } é
equicontínua. Seja, para isto, t2 > t1 ≥ 0. Teremos

||T u(t2) − T u(t1 )|| ≤ ||S(t2 )x0 − S(t1 )x0 ||+


Z t1 (2.3.6)
+N ||S(t2 − s) − S(t1 − s| |ds + (t2 − t1 )MN.
0

Pelo Teorema 1.7.2, a compacidade de S(t) para t > 0 implica a continuidade de S(t)
para t > 0 na topologia uniforme de L(X). Desse modo, o membro da direita de (2.3.6)
tende a zero quando t2 −t1 tende a zero e, como não depende de u, a família {T u; u ∈ Y0 }
é, de fato, equicontínua. Vamos, agora, demonstrar que para cada ponto t, 0 ≤ t ≤ τ ′ ,
o conjunto {T u(t); u ∈ Y0 } é precompacto em X. Para t = 0 isto é imediato pois, por
definição u(0) = x0 ∀ u ∈ Y0 . Seja, então, t > 0 e 0 < ε < t. Teremos
Z t−ε
Tε u(t) = S(t)x0 + S(t − s)f (s, u(s)) ds = S(t)x0 +
0
Z t−ε
+ S(ε) S(t − ε − s)f (s, u(s)) ds
0

e como S(t) é um operador comapcto para t > 0, o conjunto {Tv eu(t); u ∈ Y0 } é


precompacto em X, para cada ε tal que 0 < ε < t. Além disto, para cada u ∈ Y0 e cada
t fixo temos
Z t
||T u(t) − Tε u(t)|| ≤ ||S(t − s)f (s, u(s))|| dx ≤ MNε ,
t−ε

donde decorre que {T u(t); u ∈ Y0 } é precompacto. Segue-se, pelo Lema 2.3.6, que
{T u; u ∈ Y0 } é um conjunto precompacto. Finalmente, pelo Lema 2.3.5 segue-se que T
tem um ponto fixo em Y0 o qual é a solução cuja existência desejávamos demonstrar.
96 CAPÍTULO 2. PROBLEMA DE CAUCHY ABSTRATO
Bibliografia

[1] Agmon, S., Lectures on Elliptic Boundary Value Problems, Van Nostrand Mathe-
matical Studies no 2.

[2] Balakrishnan, A.V., Applied Functional Analysis, Springer-Verlag, (1976).

[3] Beals, R., On the Abstract Cauchy Problem, J. Funct. Anal. 10 (1972), 281-299.

[4] Beurling, A., On Analytic Extension of Semi-Groups of Operators, J. Funct. Anal.


6 (1970), 387-400.

[5] Brezis, H., Analyse Fonctionnelle, Masson, (1983).

[6] Butzer, P. e Berens, H., Semi-Groups of Operators and Approximation, Springer-


Verlag, (1967).

[7] Chazarain, J., Problèmes de Cauchy Abstraits et Applications à Quelques Problè-


mes Mixtes, Jour. Func. Anal. 7, (1971), 386-446.

[8] Chernoff, P.R., Note on Product Formulas for Operators Semigroups, J. Funct.
Anal. 1, (1968), 238-242.

[9] Chernoff, P.R., Semigroup Product Formulas and Addition of Unbounded Opera-
tors, Bull. Amer. Math. Soc. 76, (1970), 395-398.

[10] Chernoff, P.R., Perturbations of Dissipative Operators with Relative Bound One,
Proc. Amer. Math. Soc. 33, (1972), 72-74.

[11] Dunford, N. e J.T. Schwartz, Linear Operators, Vols. I e II, Interscience (1958,
1963).

[12] Fattorini, H.O., Ordinary Differential Equations in Linear Topological Spaces, I.


Jour. Diff. Equat. 5, (1968), 72-105, II. Jour. Diff. Equat. 6, (1969), 50-70.

[13] Feller, W., On the Generation of Unbounded Semigroups of Bounded Linear Ope-
rators, Ann. of Math. 58, (1953), 166-174.

97
98 BIBLIOGRAFIA

[14] Folland, G.B., Introduction to Partial Differential Equations, Princeton Univ. Press
and University of Tokyo Press, (1976).

[15] Friedman, A., Partial Differential Equations, Holt, Rinehart and Winston, New
York, (1969).

[16] Goldstein, J., Semigroups and Second Order Differential Equations, Jour. Funct.
Anal. 4, (1969), 50-70.

[17] Goldstein, J., Abstract Evolution Equations, Trans. Amer. Math. Soc. 141, (1969),
159-185.

[18] Goldstein, J., Semi-groups of Operators and Abstract Cauchy Problems, Tulane
Univ. Lecture Notes, (1970).

[19] Goldstein, J., Some Developments in Semigroups of Operators Since Hille-Phillips,


Integral Equation and Operator Theory, vol. 4, no 3, (1981), 350-365.

[20] Hasegawa, M., A note on the Convergence of Semigroups of Operators, Proc. Japan
Acad. 40, (1964), 262-266;

[21] Hasegawa, M., On the Convergence of Resolvents of Operators, Pacif. Jour. of


Math. 21, (1967), 35-47.

[22] Hille, E., On the Differentiability of Semigroups of Operators, Acata Sci. Math.
(Szeged) 12B, (1950), 19-24.

[23] Hille, E., Une Généralization du Problem de Cauchy, Ann. Inst. Fourier (Grenoble)
4, (1953), 31-48.

[24] Hille, E., Phillips, R.S., Functional Analysis and Semi-Groups, Amer. Math. Soc.
Coll. Publ., vol. 31, Providence, R.I., (1957).

[25] Hörmander, L., The Analysis of Linear Partial Differential Operators.

[26] Kato, T., Integration of the Equation of Evolution in Banach Space, J. Math. Soc.
Japan 5, (1953), 208-234.

[27] Kato, T., On Linear Differential Equations in Banach Spaces, Comm. Pure Appl.
Math. 9, (1956), 479-486.

[28] Kato, T., Remarks on Pseudo-Resolvents and Infinitesimal Generators of Semi-


Groups, Proc. Japan Acad. 35, (1959), 467-468.

[29] Kato, T., A Characterization of Holomorphic Semigroups, Proc. Amer. Math. Soc.
25, (1970), 495-498.
BIBLIOGRAFIA 99

[30] Kato, T., Linear Evolution Equations of “Hyperbolic” Type, J. Fac. Sc. Univ.
Tokyo 17, (1970), 241-258.

[31] Kato, T., Perturbation Theory for Linear Operators, Springer-Verlag, N.Y., (1966).

[32] Kato, T., Linear Evolution Equations of “Hyperbolic” Type, II, J. Math. Soc.
Japan, vol. 25, no 4, (1973).

[33] Kurtz, T.G., Extension of Trotter’s Operator Semigroups Approximation Theorems,


Jour. Funct. Anal. 3, (1969), 111-132.

[34] Kurtz, T.G., A General Theorem on the Convergence of Operator Semigroups,


Trans. Amer. Math. Soc. 148, (1970), 23-32.

[35] Ladas, G.E. e V. Lakshmikantham, Differential Equations in Abstract Spaces, Aca-


demic Press, (1972).

[36] Lapidus, M.L., Perturbation d’un Semi-Groupe par un Groupe Unitaire, C.R.
Acad. Sci. Paris, Ser. A 291, (1980), 535-538.

[37] Lumer, G. e R.S. Phillips, Dissipative Operators in Banach Space, Pacific J. Math.
11, (1961), 676-698.

[38] Medeiros, L.A., Problema de Cauchy em Espaços de Banach, Atas da 1a e 2a


Quinzenas de Análise Funcional e Equações Diferenciais Parciais, vol. 3, (1970),
Rio.

[39] Medeiros, L.A., An Application of Semigroups of Class C0 , Port. Math. vol. 26,
fasc. 1, (1967).

[40] Medeiros, L.A. e E.A. de Mello, A Integral de Lebesgue, Textos de Métodos


Matemáticos 18, Instituto de Matemática da UFRJ.

[41] Medeiros, L.A., Initial Value Problem for Non-Linear Wave Equation in Hilbert
Space, Trans. Amer. Math. Soc., (1969), 305-327.

[42] Medeiros, L.A. e M.M. Miranda, Introdução aos Espaços de Sobolev e às Equações
Diferenciais Parciais, Textos de Métodos Matemáticos 25, Instituto de Matemática
da UFRJ, (1989).

[43] Neuberg, J.W., Analyticity and Quasi-Analyticity for One-Parameter Semigroup,


Proc. Amer. Math. Soc. 25, (1970), 488-494.

[44] Oharu, S., On the Convergence of Semigroups of Operators, Proc. Japan Acad.
42, (1966), 880-884.
100 BIBLIOGRAFIA

[45] Oharu, S. e H. Snnouchi, On the Convergence of Semigroups of Linear Operators,


J. Funct. Anal. 6, (1970), 292-304.

[46] Pazy, A., On the Differentiability and Compactness of Semigroups of Linear Ope-
rators, Jour. Math. and Mech. 17, (1968), 1131-1141.

[47] Pazy, A., Approximation of the Identity Operator by Semigroups of Linear Opera-
tors, Proc. Amer. Math. Soc. 30, (1971), 147-150.

[48] Pazy, A., Semi-groups of Linear Operators and Applications to Partial Differential
Equations, Applied Mathematical Sciences, vol. 44, Springer-Verlag.

[49] Phillips, R.S., On the Generation of Semi-Groups of Linear Operators, Pac. Jour.
Math. 2, (1952), 343-369.

[50] Phillips, R.S., Perturbation Theory for Semi-Groups of Linear Operators, Trans.
Amer. Math. Soc. 74, (1953), 199-221.

[51] Phillips, R.S., A Note on the Abstract Cauchy Problem, Proc. Nat. Acad. Sci.
USA, 40, (1954), 244-248.

[52] Rudin, W., Functional Analysis, McGraw-Hill, (1973).

[53] Sobolevskii, P.E., Equations of Parabolic Type in Banach Space, Trudy Moscow
Math. Obs̆ c̆ 10, (1961), 297-350 (Russo). Tradução para o inglês em Amer. Math.
Soc. Translations, Ser. 2, 49, (1966), 1-62.

[54] Stone, M.H., On One-Parameter Unitary Group in Hilbert Space, Amer. Math.
33, (1932), 643-648.

[55] Taira, K., Analytic Semigroups and Semilinear Initial Boundary Value Problems,
London Math. Society Lectures Notes Series 223.

[56] Tanabe, H., Remarks on the Equation of Evolution in Banach Space, Osaka Math.
Jour. 12, (1960), 145-166.

[57] Tanabe, H., On the Equation of Evolution in Banach Space, Osaka Math. Jour.
12, (1960), 363-376.

[58] Tanabe, H., Equations of Evolution, Pitman Publ. Ltd., London, (1979).

[59] Thayer, F.J., Notes on Partial Differential Equations, Inst. Mat. Pura e Aplic.
(1980).

[60] Trotter, H.F., Approximation of Semigroups of Operators, Pacif. J. Math. 8, (1958),


887-919.
BIBLIOGRAFIA 101

[61] Trotter, H.F., On the Product of Semigroup Operators, Proc. Amer. Math. Soc.
6, (1970), 387-400.

[62] Yosida, K., On the Differentiability and Representation of One-Parameter Semi-


group of Lineaar Operator, J. Math. Sec. Japan 1, (1948), 15-21.

[63] Yosida, K., On the Differentiability of Semigroups of Linear Operators, Proc. Japan
Acad. 34, (1958), 337-340.

[64] Yosida, K., On the Integration of the Equation of Evolution, J. Fac. Sci. Univ.
Tokyo 9, (1963), 397-402.

[65] Yosida, K., Time Dependent Evolution Equations in a Locally Convex Space, Math.
Ann. 162, (1966), 83-86.

[66] Yosida, K., Some Aspects of E. Hille Contribution to Semigroup Theory, Integral
Equation and Operator Theory, vol. 4, no 3, (1981), 311-329.

[67] Yosida, K., Functional Analysis, Springer-Verlag, Berlin, (1966).


102 BIBLIOGRAFIA
Apêndice A

Sobre a Exponencial e Funções


Vetoriais

A.1 Operadores Lineares Limitados


Sejam X e Y dois espaços de Banach (reais ou complexos). Com L(X, Y ) representa-se a
família dos operadores lineares limitados com domínio X e imagem em Y , i.e., a família
dos operadores lineares A : X → Y tais que

||A|| = sup ||Ax|| < +∞.


||x||≤1

Com a norma assim definida, L(X, Y ) é um espaço de Banach. No caso em que Y = X


escreve-se, simplesmente, L(X) em vez de L(X, X).
Se A, B ∈ L(X), o produto de A por B é definido por AB = A ◦ B, onde A ◦ B
indicou-se a transformação composta de A e B. Vê-se, então que L(X), é uma álgebra
e que de A, B ∈ L(X) vem AB ∈ L(X) e

||AB|| ≤ ||A|| · ||B||, (A.1.1)

i.e., L(X) é uma álgebra de Banach.


Recorde-se que a sucessão (An ), An ∈ L(X, Y ), n = 1, . . . ,, diz-se convergente se
existir A ∈ L(X, Y ) tal que

||An − A|| → 0 (A.1.2)


quando n → ∞. Escreve-se, neste caso, An → A. Recorde-se, também, que para que
(An ) seja convergente é necessário e suficiente que (An ) seja uma sucessão de Cauchy,
i.e., dado em ε > 0 exista N > 0 tal que

||Am − An || < ε

103
104 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

para todo m, n : N. Se An → A a relação

| ||An || − ||A|| | ≤ ||An − A||,

cuja demonstração é análoga à do caso numérico, mostra que ||An || → ||A||, i.e., a norma
é uma função contínua.
A convergência de uma série

X
An , An ∈ L(X, Y ), (A.1.3)
n=1

é definida exatamente como no caso numérico: diz-se que (A.1.3) converge para A ∈
L(X, Y ) se a sucessão (Sp ), p = 1, . . . , das somas parciais
p
X
Sp = An
n=1

for convergente para A. Nesse caso a (A.1.3) é dita convergente e A, soma de (A.1.3).
A série (A.1.3) é dita absolutamente convergente quando a série

X
||An || (A.1.4)
n=1

é convergente. Se m > n tem-se

||Sm − Sn || = ||An+1 + · · · + Am || ≤ ||An+1 || + · · · + ||Am ||,

por onde se vê que toda série absolutamente convergente é convergente e que



X ∞
X
An ≤ ||An ||.
n=1 n=1

A série de Neumann ∞
X
I + A + A2 + · · · = An ,
n=1

onde I é o operador indentidade de X e convencionou-se escrever A0 = I, é absolutamente


convergente se ||A|| < 1. Designando sua soma por S temos, multiplicando termo a termo
por A,
AS = SA = S − I.
Portanto,
(I − A)S = S(I − A) = I,
i.e.,
S = (I − A)−1 .
A.1. OPERADORES LINEARES LIMITADOS 105

Logo, se ||A|| < 1 o operador I − A é invertível e

I + A + A2 + · · · = (I − A)−1 ,

como no caso numérico.


A.1.1 Lema. Seja Y um subespaço de um espaço de Banach, X, tal que Y 6= X e
0 < θ < 1. Então existe um y0 ∈ X tal que ||y0 || = 1 e ||y0 − y|| ≥ θ ∀ y ∈ Y .
Demonstração: Por hipótese existe um y1 ∈ X tal que y1 ∈ / Y e, portanto, tal que a
distância δ(y(i , Y ) de yi a Y é um)número d > 0, i.e.,( inf{||y1 − y||; y ∈)Y } = d > 0. Mas
θy1 θy θy1
daí vem inf − ; y ∈ Y = θ donde inf − y ; y ∈ Y = θ. Ponhamos
d d d
θy1
= y2 . Então inf{||y2 − y||; y ∈ Y } = θ donde existe um y ′ ∈ Y tal que 0 ≤
d
||y2 − y ′ || ≤ 1. Pondo, então, y0 = (y2 − y ′ )/||y2 − y ′ || tem-se ||y0 || = 1 e ∀ y ∈ Y

y2 − y ′ y2 − y ′ − ||y2 − y ′|| y
||y0 − y|| = − y = =
||y2 − y ′|| ||y2 − y ′ ||
1
= ′
||y2 − (y ′ + ||y2 − y ′|| y)|| ≥ θ
||y2 − y ||
pois y ′ + ||y2 = y ′ || y ∈ Y .
Seja A um operador linear de X, i.e., A : D(A) → X, D(A) ⊂ X, e ρ(A) o conjunto
resolvente de A, i.e., o conjunto dos números complexos λ tais que o operador λI − A
é invertível e seu inverso é limitado e densamente definido. Se λ ∈ ρ(A) o operador
(λI − A)−1 é representado por R(λ, A).
1
A.1.2 Teorema. Se µ ∈ ρ(A) e |µ − λ| < , então λ ∈ ρ(A), a série
||R(µ, A)||

X
(µ − λ)n R(µ, A)n+1 (A.1.5)
n=0

converge e

X
R(λ, A) = (µ − A)n R(µ, A)n+1 . (A.1.6)
n=0

Demonstração: Temos, para µ ∈ ρ(A),



X ∞
X
(µ − λ)n R(µ, A)n+1 = R(µ, A) (µ − λ)n R(µ, A)n .
n=0 n=0

1
Portanto, a série (A.1.5) converge se ||(µ−λ)(µ, A)|| < 1 ou seja, |µ−λ| <
||R(µ, A)||
e tem-se ∞
X
(µ − λ)n R(µ, A)n+1 = R(µ, A)[I − (µ − λ)R(µ, a)]−1 .
n=0
106 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

Temos

R(µ, A)[I − (µ − λ)R(µ, A)]−1 (λ − A) =


= ([I − (µ − λ)R(µ, A)](µ − A))−1 (λ − A) = (λ − A)−1 (λ − A) = I

(λ − A)R(µ, A)[I − (µ − λ)R(µ, A)]−1 =


= (λ − µ + µ − A)R(µ, A)[I − (µ − λ)R(µ, A)]−1 =
= [I − (µ − λ)R(µ, A)][I − (µ − λ)R(µ, A)]−1 = I.

Logo, λ − A é invertível e

X
−1
||(λ − A) || = (µ − λ)n R(µ, A)n+1 ≤
n=0

X ||R(µ, A)||
≤ ||R(µ, A)|| |µ − λ|n · ||R(µ, A)||n ≤ ,
n=0 1 − |µ − λ| ||R(µ, A)||

i.e., (λI − A)−1 é um operador linear limitado. Além disto, (λI − A)D(A) = X. De
fato, suponhamos o contrário e seja |µ − λ| ||R(µ, A)|| < θ < 1. Pelo Lema A.1.1
existe y0 ∈ X tal que ||y0|| = 1 e ||y0 − y|| ≥ θ ∀ y ∈ (λI − A)D(A). Seja yn ∈ X,
n = 1, . . . , tal que yn → y0 e, xn = R(µ, A)yn . Temos que xn ∈ D(A), (µ − A)xn = yn
e (λ − A)xn = (λ − µ)xn + (µ − A)xn , donde (λ − A)xn = (µ − A)xn = (λ − µ)xn e,
portanto,
||(λ − A)xn − (µ − A)xn || = |λ − µ| ||R(µ, A)|| ||yn||.
Mas como (λ − A)xn ∈ (λ − A)D(A) tem-se

θ ≤ ||y0 − (λ − A)xn || ≤ ||y0 − (µ − A)xn || + ||(µ − A)xn − (λ − A)xn || ≤


≤ |λ − µ| ||R(µ, A)|| ||yn||.

No limite, quando n → ∞ temos o absurdo

θ ≤ |λ − µ| ||R(µ, A)|| < θ.

Logo, λ ∈ µ(A) e

X
R(λ, A) = (µ − λ)n R(µ, A)n+1.
n=0

A.1.3 Corolário. O conjunto resolvente ρ(A) é aberto e R(λ, A) é uma função contínua
em ρ(A).
Demonstração: Pelo Teorema A.1.2 se µ ∈ ρ(A), então o círculo de centro µ e raio
1
está contido em ρ(A) donde ρ(A) é um conjunto aberto. De (A.1.6) vem,
||R(µ, A)||
lim (λ, A) = R(µ, A), donde R(λ, A) é contínua.
λ→µ
A.1. OPERADORES LINEARES LIMITADOS 107

A.1.4 Corolário. R(λ, A) é uma função analítica em ρ(A) e


dn
R(λ, A) = (−1)n n”′ R(λ, A)n+1 . (A.1.7)
dλn

Demonstração: Pela bem conhecida Fórmula Resolvente

R(λ, A) − R(µ, A) = (µ − λ)R(λ, A)R(µ, A)

e tendo em vista o corolário anterior vem, passando ao limite quando µ tende a λ,


d
R(λ, A) = −R(λ, A)2 .

Por indução tem-se a fórmula (A.1.7).

A.1.5 Operador Adjunto. Como é bem sabido o produto cartesiano X ×Y dos espaços
de Banach X e Y , munido de uma adição e de um produto por escalares definidos por

α1 (x1 , y1 ) + α2 (x2 , y2 ) = (α1 x1 + α2 x2 , α1 y1 + α2 y2 )

e de uma norma definida por


 1
||(x, y)|| = ||x||2 + ||y||2 2

é um espaço de Banach.
O gráfico de um operador linear A : X → Y é o subespaço G(A) = {(x.Ax); x ∈ D(A)}
do espaço X×Y . Diz-se que A é um operador fechado se G(A) for um subconjunto fechado
de X × Y . Verifica-se que A é fechado se, e só se, for satisfeita a condição

xn ∈ D(A), xn → x e Axn → y ⇒ x ∈ D(A) e Ax = y. (A.1.8)

Diz-se que o operador linear A : X → Y é fechável se o fecho de G(A) em X × Y


é o gráfico de um operador linear. Imediatamente se vê que A é fechável se e só se for
satisfeita a condição:

xn ∈ D(A), ∀ n ∈ N, xn → 0 e Axn → y ⇒ y = 0.

Seja A : X → Y um operador linear com domínio, D(A), denso em X. Para cada


y ∈ Y ∗ , o conjunto dos x∗ ∈ X ∗ tais que hy ∗, Axi = hx∗ , xi ∀ x ∈ D(A), se não for vazio,

consta de um único elemento. Com efeito, se x∗1 , x∗2 ∈ X ∗ e satisfazem tal condição, então
hx∗1 , xi = hx∗2 , xi ∀ x ∈ D(A), donde x∗1 = x∗2 uma vez que D(A) é denso em X. Pode-se,
pois, definir um operador A∗ : Y ∗ → X ∗ pondo:

D(A∗ ) = {y ∗ ∈ Y ∗ , ∃ x∗ ∈ X ∗ satisfazendo a condição


hy ∗, Axi = hx∗ , xi ∀ x ∈ D(A)}
108 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

e
A∗ y ∗ = x∗ .
Tal operador, obviamente linear, é dito adjunto de A.
Tem-se, imediatamente,

hy ∗, Axi = hA∗ y ∗ , xi ∀ x ∈ D(A) e ∀ y ∗ ∈ D(A∗ ). (A.1.9)

A.1.6 Teorema. Seja A : X → Y um operador linear densamente definido. Então:


i) o adjunto de A, A∗ , é um operador fechado;
ii) se Y é reflexivo e A é fechável, então A∗ é densamente definido.
Demonstração: i) Seja yn∗ → y ∗ e A∗ yn∗ → x∗ . Então, por (A.1.9)

hyn∗ , Axi = hA∗ yn∗ , xi ∀ x ∈ D(A)

donde
hy ∗, Axi = hx∗ , xi ∀ x ∈ D(A).
Logo, y ∗ ∈ D(A∗ ) e A∗ y ∗ = x∗ , pela definição de A∗ . Portanto A∗ é um operador fechado.
ii) Seja y ∗∗ uma forma linear sobre Y ∗ nula em D(A∗ ). Pelo Teorema de Hahn-
Banach, para demonstrar ii) é bastante que y ∗∗ ≡ 0. Como Y é reflexivo podemos supor
que y ∗∗ é um elemento y0 de Y . Portanto, por hipótese,

hy ∗ , y0i = 0 ∀ y ∗ ∈ D(A∗ ). (A.1.10)

Como A é fechável, G(A) é o gráfico de um operador linear Ae : X → Y . Supondo, pois,


que y0 6= 0, tem-se (0, y0 ) ∈ e = G(A) donde existe, pelo Teorema de Hahn-Banach,
/ G(A)
uma forma linear (x∗ , w ∗) ∈ (X × Y )∗ = X ∗ × Y ∗ e α ∈ R tais que

e
h(x∗ , w ∗ ), (x, Ax)i e
< h(x∗ , w ∗), (0, y0)i = hw ∗ , y0 i ∀ x ∈ D(A).

e é um subespaço vetorial de X × Y donde


Mas G(A)

e
h(x∗ , w ∗), (x, Ax)i e
= 0 ∀ x ∈ D(A)

e, portanto,
hw ∗, y0 i =
6 0. (A.1.11)
e temos, então,
Como D(A) ⊂ D(A)

h(x∗ , w ∗), (x, Ax)i = 0 ∀ x ∈ D(A)

e como
h(x∗ , w ∗ ), (x, Ax)i = hx∗ , xi + hw ∗, Axi ∀ x ∈ D(A)
A.1. OPERADORES LINEARES LIMITADOS 109

segue-se que
hw ∗ .Axi = h−x∗ , xi ∀ x ∈ D(A)
o que mostra que w ∗ ∈ D(A∗ ). Portanto por (A.1.11) temos hw ∗ .y0 i =
6 0 como w ∗ ∈
D(A∗ ), o que está em contradição com (A.1.10). Logo, y0 = 0 e assim, D(A∗ ) é denso
em Y ∗ .
A.1.7 Proposição. O adjunto de um operador linear limitado, A : X → Y , com domí-
nio D(A) = X, é um operador linear limitado, A∗ : Y ∗ → X ∗ com domínio D(A∗ ) = Y ∗
e ||A∗ || = ||A||.
Demonstração: A função ϕ : X → R definida por

ϕ(x) = hy ∗, Axi, y∗ ∈ Y ∗,

é, obviamente um funcional linear de X. Além disto,

|ϕ(x)| = |hy ∗, Axi| ≤ ||y ∗|| ||Ax|| ≤ ||y ∗|, ||A|| ||x|| ∀ x ∈ X,

isto é, ϕ é limitado. Logo ϕ ∈ X ∗ e, portanto, para todo y ∗ ∈ Y ∗ existe x∗ = ϕ ∈ X ∗ tal


que hy ∗, Axi = hx∗ , xi ∀ x ∈ X, isto é, y ∗ ∈ D(A∗ ) e, assim, D(A∗ ) = Y ∗ . Além disto,

||A∗ y ∗|| = sup |hA∗ y ∗ , xi| = sup |hy ∗, Axi| ≤


x∈X x∈X
||x||≤1 ||x||≤1

≤ sup ||y ∗|| ||A|| ||x|| = ||A|| ||y ∗||,


x∈X
||x||≤1

donde ||A∗ || ≤ ||A||. Por outro lado,

||Ax|| = sup |hy ∗, Axi| = sup |hA∗ y ∗, xi| ≤


y∈Y ∗ y∈Y ∗
||y ∗ ||≤1 ||y ∗ ||≤1

≤ sup ||y ∗|| ||A∗|| ||x|| = ||A∗ || ||x||.


y∈Y ∗
||y ∗ ||≤1

Logo ||A|| ≤ ||A∗ ||. Portanto, ||A∗ || = ||A||.


A.1.8 Proposição. Seja A um operador linear fechado de um espaço de Banach, X,
com domínio denso em X. Então, de λ ∈ ρ(A) vem λ ∈ ρ(A∗ ) e R(λ, A∗ ) = R(λ, A)∗ .
Demonstração: Seja λ ∈ ρ(A). Então, ∀ x∗ ∈ D(A∗ ) e ∀ x ∈ X tem-se

hx∗ , xi = hx∗ , (λ − A)R(λ, A)xi = h(λ − A)∗ x∗ , R(λ, A)xi.

Mas, como A é, por hipótese, fechado, o domínio de R(λ, A) é o espaço X. Pela


Proposição A.1.7, R(λ, A)∗ é, igualmente, um operador linear limitado com domínio X ∗ .
Logo, (λ − A)∗ x∗ pertence ao domínio de R(λ, A)∗ e, assim,

hx∗ , xi = h(λ − A)∗ x∗ , R(λ, A)xi = hR(λ, A)∗ (λ − A)∗ x∗ , xi, ∀ x ∈ X,


110 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

donde
R(λ, A)∗ (λ − A)∗ x∗ = x∗ ∀ x∗ ∈ D(A∗ ). (A.1.12)
De modo análogo, ∀ x ∈ D(A) e ∀ x∗ ∈ X ∗ ;
hx∗ , xi = hx∗ , R(λ, A)(λ − A)xi = hR(λ, A)∗ x∗ , (λ − A)xi =
= h(λ − A)∗ R(λ, A)∗ x∗ , xi
pois, pela Proposição A.1.7, x∗ ∈ D(R(λ, A)∗ ) e, pela definição de operador adjunto,
R(λ, A)∗ x∗ pertence ao domínio de (λ − A)∗ . Logo
(λ − A)∗ R(λ, A)∗ x∗ = x∗ , ∀ x∗ ∈ X ∗ . (A.1.13)
−1
De (A.1.12) e (A.1.13) segue-se que R(λ, A)∗ = (λ − A)∗ e como (λ − A)∗ = λ∗ − A∗ =
λ − A∗ segue-se que λ ∈ ρ(A∗ ) e R(λ, A)∗ = R(λ, A∗ ).

Seja X um espaço de Hilbert e A : X → X um operador linear densamente definido.


Diz-se que A é simétrico se A ⊂ A∗ , i.e., se D(A) ⊂ D(A∗ ) e A∗ = A em D(A).
Equivalentemente,
(y, Ax) = (Ay, x) ∀ x, y ∈ ⌈(A).
Diz-se que o operador simétrico A é auto-adjunto se D(A) = D(A∗ ).
A.1.9 Teorema. Se A é simétrico e I(λ0 − A) = X para algum λ0 real, λ0 ∈ ρ(A),
então A é auto-adjunto.
Demonstração: Satisfeitas as hipóteses, ponhamos x′ = R(λ0 , A)x e y ′ = R(λ0 , A)y,
x, y ∈ X. Teremos x = λ0 x′ − Ax′ , y = λ0 y ′ − Ay ′ e como A é simétrico, (x′ , Ay ′) =
(Ax′ , y ′), donde (x′ , λ0 y ′)−y) = (λ0 x′ −x, y ′ ) e, daí, (x′ , y) = (x, y ′ ), e, portanto, R(λ0 , A)
é simétrico visto que R(λ0 , A) é densamente definido. Além disto, D(R(λ0, A)) = I(λ0 −
A) = X, donde R(λ0 , A) é auto-adjunto. Seja x ∈ D(A∗ ) e z = (λ0 − A)∗ x. Se y ∈ X e
w = R(λ0 , A)y temos
(w, z) = (R(λ0 , A)y, z) = (y, R(λ0, A)x)
e
(w, z) = (w, (λ0 − A)∗ x) = ((λ0 − A)w, x) = (y, x).
Logo, (y, x) = (y, R(λ0 , A)z) ∀ y ∈ X, donde x = R(λ0 , A)z e, portanto, x ∈ D(A).
Desse modo, D(A∗ ) = D(A), donde A é auto-adjunto.

A.2 A Função Exponencial


Demonstra-se nos cursos de Cálculo que se A é um número real qualquer, a função
exponencial etA : R → R pode ser definida por
 n
tA
etA = lim 1+ ,
n→∞ n
A.3. DERIVAÇÃO DAS FUNÇÕES VETORIAIS 111

por
 −n
tA
etA = lim 1− ,
n→∞ n
ou, ainda, por
tA t2 A2 tn An
etA = 1 + + +···+ +···
1! 2! n!
e que seu campo de definição é todo o eixo real. Desse modo, se com A se designa, agora,
um elemento qualquer de L(X), a série

|t| ||A|| |t|2 ||A||2


1+ + + ...
1! 2!
é convergente. Levando (A.1.1) em consideração vê-se, então, que a série

tA t2 A2 tn An
I+ + +···+ + ... (A.2.1)
1! 2! n!
onde I é o operador identidade de X, é absolutamente convergente e, portanto, conver-
gente, ∀ t ∈ R. Define, pois, uma função dita, ainda, funçãoo exponencial e designada,
ainda, por etA . Se puzermos (tA)0 = I podemos, pois, escrever

X tn An
etA = ·
n=0 n!

Note-se que etA ∈ L(X) e ||etA || ≤ e|t| ||A||.

A.3 Derivação das Funções Vetoriais


Seja f : (a, b) → X uma função definida no intervalo (a, b) e com valores em um espaço
de Banach, X, (real ou complexo). Diz-se que f é diferenciável no ponto t0 ∈ (a, b) se
existir, em X, o limite
f (t) − f (t0 )
f ′ (t0 ) = lim ,
t→t0 t − t0
dito derivada de f no ponto t0 . Diz-se que f é diferenciável em Ω ⊂ (a, b) se f for
diferenciável em todo ponto de Ω.
São válidas para diferenciação das funções vetoriais as regras a seguir, cuja demons-
tração é análoga à do caso numérico: i) Se f é diferenciável no ponto t0 então

f (t) − f (t0 ) = (t − t0 )f ′ (t0 ) + α(t, t0 ),

onde α satisfaz a condição


α(t, t0 )
lim = 0.
t − t0
t→t0

Em particular, se f é diferenciável no ponto t0 , então f é contínua nesse ponto;


112 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

ii) Se f é uma função constante, i.e., se f (t) = x0 , ∀ t ∈ (a, b), onde x0 é um ponto de
X, então f é diferenciável em todo ponto de (a, b) e

f ′ (t) = 0 ∀ t ∈ (a, b).

iii) Se f e g são diferenciáveis no ponto t0 , então f + g é diferenciável em t0 e

(f + g)′ (t0 ) = f ′ (t0 ) + g ′ (t0 ).

iv) Se γ é uma função numérica definida em (a, b) e diferenciável no ponto t0 ∈ (a, b) e


f : (a, b) → X é diferenciável em t0 , então γf é diferenciável em t0 e

(γf )′ (t0 ) = γ ′ (t0 )f (t0 ) + γ(t0 )f ′ (t0 ).

Em particular, se γ for uma constante, (γf )′ (t0 ) = γf ′ (t0 ).


A.3.1 Teorema. Se f : (a, b) → X é contínua em (a, b), derivável à direita em (a, b) e
f+′ = 0 em todo ponto de (a, b), então f é constante em (a, b).
Demonstração: Seja c ∈ (a, b) e ε > 0. de f+′ (c) = 0 segue-se que para t > c
suficientemente próximo de c tem-se

||f (t) − f (c)|| ≤ ε(t − c). (A.3.1)

Seja [c, t0 ) o máximo subintervalo de [c, b) onde (A.3.1) é válida. Deve-se ter t0 = b.
Com efeito, suponha-se t0 < b. Como f+′ (t0 ) = 0 tem-se

||f (t) − f (t0 )|| ≤ ε(t − t0 ), (A.3.2)

para t > t0 e suficientemente próximo de t0 . Seja t > t0 um ponto onde (A.3.2) é válida.
De (A.3.1) e (A.3.2) vem, então,

||f (t) − f (c)|| ≤ ||f (t) − f (t0 )|| + ||f (t0 ) − f (c)|| ≤
≤ ε(t − t0 )) = ε′ (t0 − c) ≤ ε(t − c),

isto é, (A.3.1) é válida para todo t > t0 e suficientemente próximo de t0 , o que contraria
a definição de t0 . Logo, t0 = b e temos ||f (t) − f (c)|| ≤ ε(t − c) para todo t ∈ [c, b). Pela
arbitrariedade de ε, f (t) = f (c) para todo t ∈ [c, b). Como c é um ponto arbitrário de
(a, b), f é constante em (a, b).
A.3.2 Lema de Dini. Se f : (a, b) → X é contínua em (a, b) e admite uma derivada à
direita, f+′ , contínua em (a, b), então f é continuamente diferenciável em (a, b).
Demonstração: A função f+′ é integrável em (a, t) ∀ t ∈ (a, b) donde, pondo
Z t
g(t) = f+′ (τ ) dτ,
a
A.4. INTEGRAÇÃO DAS FUNÇÕES VETORIAIS 113

g é diferenciável em (a, b) e g ′ = f+′ em (a, b). Mas, então, g+



= f+′ , i.e., (f − g)′+ = 0
em todo ponto de (a, b) e, como f e g são contínuas, f − g é uma constante, pelo
Teorema A.3.1. Logo, f é diferenciável em (a, b) e sendo f ′ = f+′ e, por hipótese, f+′
contínua em (a, b) segue-se que f é continuamente diferenciável em (a, b).
Além das regras i)-iv) e do Teorema A.3.1 é válida, para as álgebras de Banach e, em
particular, pra a álgebra L(X), a regra a seguir cuja demonstração é, também, análoga
à do caso numérico.
A.3.3 Teorema. Se f e g são duas funções definidas em (a, b), com valores em uma
álgebra de Banach e diferenciáveis em um ponto t0 ∈ (a, b), então f g é diferenciável no
ponto t0 e
(f g)′ (t0 ) = f ′ (t0 )g(t0 ) + f (t0 )g ′ (t0 ).

A.3.4 Proposição. Seja u : (a, b) → X, onde X é um espaço de Banach. Se u′


u(t + h) − u(t)
existe e é uniformemente contínua no intervalo (a, b), então lim = u′ (t)
h→0 h
uniformemente em (a, b).
Demonstração: Se u′ é uniformemente contínua em (a, b) então, dado ε > 0, existe
h0 > 0 tal que

|u′(t + τ ) − u′ (t)| < ε 0 < τ < h0 , τ > 0, ∀ t ∈ (a, b), t + τ ∈ (a, b).

Logo,
Z
u(t + τ ) − u(t) 1 h ′
− u′(t) = [u (t + τ ) − u′(t)]dτ ≤
h h 0
1Zh ′
≤ |u (t + τ ) − u′ (t)| dτ < ε
h 0
u(t + h) − u(t)
0 < h < h0 e ∀ t ∈ (a, b), t + h ∈ (a, b), i.e., converge uniformemente
h
para u′ (t) em (a, b).

A.4 Integração das Funções Vetoriais


Seja f : (a, b) → X, onde X é um espaço de Banach (real ou complexo), uma função
contínua. Dada uma decomposição π de [a, b], i.e., n + 1 números reais, t0 , . . . , tn ,
satisfazendo a condição
a = t0 < t1 < · · · < tn = b
e n números reais ξi , i = 1, . . . , n, ξi ∈ (ti−1 , ti ), fica definida uma soma de Riemann de
f:
n
X
σπ (f ) = (ti − ti−1 )f (ξi).
i=1
114 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

Evidentemente σπ (f ) ∈ X. Seja

|π| = max {ti − ti−1 }.


1≤i≤n

Com os mesmos argumentos do caso numérico demonstra-se que σπ (f ) tem um limite,


x ∈ X, quando |π| → 0. De modo mais preciso: dado ε > 0, existe δ > 0 tal que

||gπ (f ) − x|| < ε

para toda π tal que |π| < δ. Como no caso numérico, diz-se que x é a integral de f em
[a, b] e escreve-se
Z b
x = lim σπ (f ) = f (t) dt.
|x|→0 a

A.4.1 São válidas para integral das funções vetoriais as regras usuais do caso numérico,
a saber:

i) Se K é uma constante,
Z b Z b
Kf (t) dt = K f (t) dt
a a
Z b Z b Z b
ii) (f + g)(t) dt = f (t) dt + g(t) dt
a a a

iii) Se a ≤ c ≤ b então
Z b Z b Z b
f (t) dt = f (t) dt + f (t) dt
a a a

Z b Z b
iv) f (t) dt ≤ ||f (t)|| dt
a a

Z b
v) f (t) dt ≤ max ||f (t)||(b − a)
a a≤t≤b

A demonstração é análoga à do caso real e será omitida.


A.4.2 Teorema da Média. Tem-se
Z b
f (t) dt = (b − a)xe,
a

onde xe ∈ conv f(a, b) (= fecho do conjunto das combinações convexas dos elementos do
conjunto de valores de f em (a, b)).
Com efeito,
Z Xn Xn
1 b 1 ti − ti−1
f (t) dt = lim (ti − ti−1 )f (ξi) = lim f (ξi).
b−a a b − a |π|→0 i=1 |π|→0
i=1 b − a
A.4. INTEGRAÇÃO DAS FUNÇÕES VETORIAIS 115

Mas,
n
X
ti − ti−1 ti − ti−1
>0 e = 1,
b−a i=1 b − a

donde Z
1 b
f (t) dt ∈ conv f(a, b).
b−a a

A.4.3 Corolário. Para todo t ∈ [a, b] tem-se


1 Z t+h
lim f (τ ) dτ = f (t). (A.4.1)
h→0 h t

Com efeito, dado ε > 0 tem-se ||f (τ ) − f (t)|| ≤ ε para |τ − t| suficientemente pequeno,
uma vez que, por hipótese, f é contínua. Logo, designado por B(x, r) a bola aberta de
centro x e raio r temos, pelo Teorema da Média,
Z
1 t+h
f (τ ) dτ ∈ (B(f (t), ε)
h t

para h suficientemente pequeno; no limite, quando h → 0 tem-e (A.4.1).


Uma outra propriedade da integral das funções numéricas que também é válida no
caso das funções vetoriais é o Teorema Fundamental do Cálculo: se F é diferenciável em
[a, b] e F ′ (t) = f (t), t ∈ [a, b], então
Z t
f (τ ) dτ = F (b) − F (a).
a

Recorde-se que, como já foi dito após o Corolário A.1.4 deste Apêndice, um operador
linear, A, com domínio D(A) ⊂ X e valores em Y (X e Y espaços de Banach) é dito
fechado se seu gráfico
{(x, Ax); x ∈ D(A)}
é um subespaço fechado de X ×Y . Equivalentemente: de xn ∈ D(A), xn → x e Axn → y
decorre que x ∈ D(A) e Ax = y.
Todo operador limitado A : X → Y é fechado visto que nesse caso, D(A) = X e A
é contínuo. E, reciprocamente, se A é fechado e D(A) = X então A é contínuo, i.e.,
limitado (Teorema do Gráfico Fechado).
A.4.4 Teorema. Sejam A um operador linear fechado de X, i.e., um operador linear
fechado com domínio e imagem contidos em X e f uma função contínua em [a, b], com
valores em D(A) e tal que Af é contínua em [a, b]. Então
Z b
f (t) dt ∈ D(A)
a

e Z Z
b b
A f (t) dt = Af (t) dt.
a a
116 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

Demonstração: Consideremos a decomposição a = t0 < t1 < · · · < tn = b de [a, b],


onde ti = a + i(b − a)/n e seja ξi ∈ (ti−1 , ti ). Então,
n
X
xn = (ti − ti−1 )f (ξi ) ∈ D(A), n = 1, . . .
i=1

visto que f (ξi) ∈ D(A) i = 1, . . . , n e D(A) é um subespaço de X. Como, por hipótese,


f e Af são contínuas temos Z b
xn → f (t) dt
a
e n Z
X b
Axn = (ti − ti−1 )Af (ξi ) → Af (t) dt.
i=1 a

Logo, Z Z Z
b b b
f (t) dt ∈ D(A) e A f (t) dt = Af (t) dt
a a a
pois A é fechado, por hipótese.

A.5 Integrais Impróprias


A integral imprópria de uma função contínua, f : [a, ∞) → X é definida exatamente
como no caso numérico: Z ∞ Z ρ
f (t) dt = ρ→∞
lim f (t) dt,
a a
quando esse limite existe. Nesse caso diz-se que a integral
Z ∞
f (t) dt (A.5.1)
a

é convergente. Diz-se que é absolutamente convergente se existir o limite


Z ρ
lim ||f (t)|| dt.
ρ→∞ a

É imediato que toda integral absolutamente convergente é convergente.


Permanece válido para as integrais impróprias o seguinte teste.
A.5.1 Teste de Weierstrass. Seja f : [a, ∞) × Λ → X, Λ um subconjunto aberto de
C, contínua em t ∈ [a, ∞) para cada λ ∈ Λ e M : [a, ∞) → R contínua e positiva em
t ∈ [a, ∞). Se ||f (t, λ)|| ≤ M(t) ∀ (t, λ) ∈ [a, ∞) × Λ e
Z ∞
M(t) dt
a

converge, então Z ∞
f (t, λ) dt
a
A.6. FUNÇÕES HOLOMORFAS 117

converge absolutamente para cada λ pertencente ao conjunto Λ e a convergência é uni-


forme nesse conjunto.
Também é válido o teorema a seguir.
∂f
A.5.2 Teorema. Se f e são contínuas para (t, λ) ∈ [0, ∞) × Λ, Λ aberto de C,
∂λ
Z ∞
f (t, λ) dt
a

é convergente para cada λ ∈ Λ e


Z ∞ ∂f (t, λ)
dt
a ∂λ
é uniformemente convergente em Λ, então
∂ Z∞ Z ∞
∂f (t, λ)
f (t, λ) dt = dt.
∂λ a a ∂λ

A.6 Funções Holomorfas


Seja, agora, X um espaço de Banach complexo e f uma função definida em uma
região G do plano complexo e com valores em X. Diz-se que f é holomorfa em G se
f (w) − f (ζ)
lim
w→ζ w−ζ
existe em todo ζ ∈ G.
A demonstração do teorema a seguir encontra-se em [52] (pág. 79).
A.6.1 Teorema. Para que f : G → X seja holomorfa em G é necessário e suficiente
que a função complexa hx∗ , f i seja holomorfa em G, para todo x∗ ∈ X ∗ (X ∗ é o dual de
X). Para que a função A : G → L(X) seja holomorfa em G é necessário e suficiente que
a função complexa hx∗ , A(ζ)xi seja holomorfa em G, ∀ x ∈ X e ∀ x∗ ∈ X ∗ .
Seja C uma curva retificável do plano complexo, de equação ζ(t), 0 ≤ t ≤ t0 , com ζ
contínua e de variação limitada em [0, t0 ]. Seja f : C → X contínua. Então a integral de
Riemann-Stieltjes Z Z
t0
f [ζ(t)] dζ(t) = f (ζ)d(ζ)
0 G
existe e para todo x∗ ∈ X ∗ ,
 Z  Z

x, f (ζ)d(ζ) = hx∗ , (ζ)i d(ζ).
G G

A.6.2 São válidos:


118 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

i) Teorema de Cauchy. Se f é uma função holomorfa no interior e sobre um


contorno simples e fechado, C, então
Z
f (ζ) dζ = 0.
G

ii) Fórmula Integral de Cauchy. Se f é uma função holomorfa no interior e sobre


um contorno simples e fechado, C, e ζ é um ponto do interior de C, então
Z
1 f (w)
f (ζ) = dw
2πi C w−ζ
e
(n) n! Z f (w)
f (ζ) = dw n = 1, . . . .
2πi C (w − ζ)n+1

iii) Desenvolvimento em Série de Taylor. Se f é uma função holomorfa no interior


e sobre um contorno simples e fechado, C, e a é um ponto interior de C, então

(ζ − a)n (n)
f (ζ) = f (a) + (ζ − a)f ′ (a) + · · · + f (a) + . . .
n!
em um círculo de centro a e raio δ, onde δ é a distância de a a C.

iv) Seja C uma curva simples z(t) = x(t) + iy(t), a ≤ t ≤ h, onde x(t) e y(t) têm
derivada contínua em (a, h) e G uma região do plano complexo. Seja f (z, w) uma
função contínua para z ∈ G e ω ∈ C e holomorfa em G para cada w ∈ C. Então a
função Z
F (z) = f (z, w) dw
C

é holomorfa em G e Z
dn F ∂nf
= dw;
dz n C ∂z n
v) Seja C uma curva simples z(t) = x(t) + iy(t), −∞ ≤ t ≤ +∞, suponhamos que as
condições do teorema anterior sejam satisfeitas em cada arco limitado de C e que
a integral Z
f (z, w) dw
C

seja uniformemente convergente. Então a função


Z
F (z) = f (z, w) dw
C

é holomorfa em G e Z
dn F ∂nf
= dw.
dz n C ∂z n
A.7. ESPAÇOS LP 119

A.7 Espaços Lp
A norma de u ∈ Lp (Ω), 1 ≤ p ≤ ∞, é aqui representada por ||u||p , i.e.,
Z 1
p
p
||u||p = |u| dx se 1 ≤ p < ∞

e
||u||∞ = sup ess |u(x)|.
x∈Ω

Seja p definido por p = p/(p − 1) se 1 < p < ∞, p′ = ∞ se p = 1 e p′ = 1 se p = ∞.


′ ′


A.7.1 Desigualdade de Hölder. Se u ∈ Lp (Ω) e y ∈ Lp (Ω), então uv ∈ L1 (Ω) e

||uv||1 ≤ ||u||p ||v||p′ .

(A demonstração encontra-se em [5] e [40]).

A.7.2 Desigualdade de Hölder Generalizada. Seja ui ∈ Lpi (Ω), 1 ≤ i ≤ k e


k
P k
P
1/pi ≤ 1. Então pondo 1/p = 1/pi , tem-se
i=1 i=1

u1 . . . uk ∈ Lp (Ω) e ||u1u̇k ||p ≤ ||u1||o1 . . . ||uk ||pk . (A.7.1)

Demonstração: Para k = 1 a desigualdade (A.7.1) é trivial. Suponhamos verdadeira


para k = n − 1. Pndo 1/r = 1/p1 + · · · + 1/pn−1 tem-se, pois, por hipótese,

u1 . . . un−1 ∈ Lr (Ω) e ||u1 . . . un−1||r ≤ ||u1 ||p1 . . . ||un−1||on−1 (A.7.2)

e 1/p = 1/r + 1/pn . De r = ∞ ou pn = ∞ resulta imediatamente que (A.7.1) é


verdadeira para k = n uma vez que de u ∈ Ls (Ω) e v ∈ L∞ (Ω) vem uv ∈ Ls (Ω) e
||uv||s ≤ ||u||s||v||∞ . Seja, então, 1 ≤ r < ∞ e 1 ≤ pn < ∞. Neste caso tem-se p < ∞
1 1 pn
e1= + · De un ∈ Lpn (Ω) vem |un |pn ∈ L1 (Ω) donde |un |o p ∈ L1 (Ω) e daí,
r/p pn /p
pn
|un | ∈ L p (Ω). Analogamente, |u1 . . . un−1 |p ∈ Lr/p (Ω), logo, pela Desigualdade de
p

Hölder, |u1 . . . un−1|p ∈ L1 (Ω) e

|| |u1 . . . un−1 |p |un |p ||1 ≤ || |u1 . . . un−1 |p || pr || |un|p || ppn . (A.7.3)

Mas Z  p Z  p
pn pn pn
|| |un|p || ppn = | |un |p | p dx = |un |pn = ||u||ppn (A.7.4)
Ω Ω
e, analogamente,
|| |u1 . . . un−1 |p || pr = ||u1 . . . un−1 ||pr , (A.7.5)
|| |u1 . . . un−1 |p |un |p ||1 = ||u1 . . . un−1 un ||pp . (A.7.6)
120 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

Logo, por (A.7.2)-(A.7.6).

||u1 . . . un−1 un ||p ≤ ||u1||p1 . . . ||un−1||pn−1 ||un ||pn ,

i.e., (A.7.1) é válida para k = n.

A.7.3 Desigualdade de Interpolação. Se u ∈ Lp1 (Ω) ∩ Lp2 (Ω) 1 ≤ p1 ≤ p2 < ∞,


então, para todo real r que satisfaz a condição p1 ≤ r ≤ p2 tem-se u ∈ Lr (Ω) e, se
1 1 1−a
= + , 0 ≤ α ≤ 1, então
r p1 p2

||u||r ≤ ||u||αp1 ||u||p1−α


2
.

Demonstração: Para r = p1 e r = p2 a asserção é trivial. Seja, então, p1 < r < p2 .


Daí vem 0 < α < 1 e, portanto,
1 1 1
= p1 + p2 ·
r α 1−α
p1
Por hipótese tem-se u ∈ Lp1 (Ω), i.e., |u|p1p ∈ L1 (Ω) donde |u|α α ∈ L1 (Ω) e, portanto,
p1 2
|u|α ∈ L α (Ω). Analogamente |u|1−α ∈ L (1−α (Ω). Pela Desigualdade de Hölder Genera-
lizada tem-se, então, |u| = |i|α |u|1−α ∈ Lr (Ω), donde u ∈ Lr (Ω) e

||u||r ≤ || |u|p|| p1 || |u|1−α|| p2 = ||u||αp1 · ||u||1−α


p2 .
α )1−α)

Para ser usado no Exemplo 1.2.12-3), do Capítulo 1, será demonstrado a seguir um


resultado sobre as convoluções.
A.7.4 Teorema. Se f ∈ L1 (Rn ) e g ∈ Lp (Rn ), 1 ≤ p ≤ ∞, então, para quase todo
x ∈ Rn , a função f (x − y)g(y) é integrável em Rn e, pondo
Z
(f ∗ g)(x) = f (x − y)g(y) dy,
Rn

tem-se f ∗ g ∈ Lp (Rn ) e ||f ∗ g||p ≤ ||f ||1 · ||g||p .


Demonstração: Se p = ∞ tem-se, para quase todo x ∈ Rn ,
Z Z
f (x − y)g(y) dy ≤ |f (x − y)| ||g(y)||∞ dy =
Rn Rn
Z
= ||g(y)||∞ |f (x − y)| dy = ||f ||1 · ||g||∞ .
RN

Logo, f ∗ g ∈ L∞ (Rn ) e ||f ∗ g||∞ ≤ ||f ||1 · ||g||∞ . O teorema é pois, válido para p = ∞.
Se p = 1 tem-se, para quase todo y ∈ Rn
Z Z
|f (x − y)g(y)| dx = |g(y) |f (x − y)| dx = ||f1 |g(y)|
Rn Rn
A.8. TRANSFORMAÇÃO DE FOURIER 121

e, portanto Z Z
dy |f (x − y)g(y)| dx = ||f ||1 · ||g||1 .
Rn Rn

Pelo Teorema de Tonelli tem-se, então, f (x Z− y)g(y) ∈ L1 (Rn × Rn ). Daí, pelo Teorema
de Fubini tem-se, para quase todo x ∈ Rn , |f (x − y)g(y)| dy < ∞ e
Rn
Z Z Z Z
dx |f (x − y)g(y)|dy = dy |f (x − y)g(y)|dx = ||f ||1 · ||g||1 ,
Rn Rn Rn Rn

i.e., o teorema é válido para p = 1. Se 1 < p < ∞ tem-se |g|p ∈ L1 (Rn ) donde, pelo
que já foi demonstrado, a função |f (x − y))| |g(y)|p é integrável para quase todo x ∈ Rn .
1 1
Portanto |f (x − y)| p |g(y)| ∈ Lpy (Rn ) para quase todo x ∈ Rn e, como |f (x − y)| p1 ∈

Lpy (Rn ) tem-se, pela Desigualdade de Hölder
1 1
|f (x − y)| |g(y)| = |f (x − y)| p |g(y)| |f (x − y)| p′ ∈ L1y (Rn )

e Z Z  1 Z  1′
p p
p
|f (x − y)| |g(y)|dy ≤ |f (x − y))| |g(y)| dy |f (x − y)|dy
Rn Rn Rn
ou seja
p
p p p′
|(f ∗ g)(x)| ≤ (|f | ∗ |g| )(x) · ||f ||1 . (A.7.7)
Mas, pelo que já foi demonstrado para p = 1, tem-se que |f | ∗ |g|p ∈ L1 (Rn ) e

|| |f | ∗ |g|p||1 ≤ ||f ||1 · || |g|p|| = ||f ||1 · ||g||pp .

De (A.7.7) segue-se, então, que f ∗ g ∈ Lp (Rn ) e


1 1

||f ∗ g||p ≤ ||f ||1p ||g||p ||f ||1p = ||f ||1 · ||g||p

o que completa a demonstração.

A.8 Transformação de Fourier


Seja S(Rn ) ou, simplesmente, S o espaço das funções rapidamente decrescentes a 0,
i.e., o espaço das funções ϕ ∈ C ∞ (Rn ) tais que

p(ϕ) = sup |xβ D α ϕ(x)| < ∞


x∈Rn

∀ α = (α1 , . . . , αn ), β = (β1 , . . . , βn ), αi βi ∈ N, i = 1, . . . , n, xβ = xβ1 1 . . . xβnn , com a


topologia definida pelas seminormas p(ϕ). A transformada de Fourier, ϕ, b de uma função
ϕ ∈ S é definida por
Z
ϕ(ξ)
b = (2π)−n/2 ϕ(x)e−ihx,ξi dx, ξ ∈ Rn
Rn
122 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

e a transformada inversa, ϕ,
e de ϕ ∈ S por
Z
ϕ(ξ)
e = (2π)−n/2 ϕ(ξ)eihx,ξi dξ.
Rn

A.8.1 Exemplo. Temos


 2
∧ |ξ|2
e−a|·| (ξ) = (2a)−n/2 e− 4a , ξ ∈ Rn , |ξ|2 = ξ12 + · · · + ξn2 . (A.8.1)

Em primeiro lugar, (A.8.1) é válida para n = 1, i.e.,


Z
1 ∞ 2 1 ξ2
√ e−ax e−iξx dx = √ e− 4a , ξ ∈ R. (A.8.2)
2π −∞ 2a
Com efeito, o integrando em (A.8.2) é uma função analítica em todo o plano com-
plexo donde, pelo Teorema de Cauchy, a integral em (A.8.2) não muda de valor quando
calculada sobre qualquer reta z = x + iy, y constante, paralela ao eixo do x. Logo
 ∧ Z
2 1 ∞ 2
e−ax (ξ) = √ e−a(x+iy) e−iξ(x+iy) dx =
2π −∞
Z
1 ay2 +ξy ∞ −ax2 −ix(2ay+ξ)
=√ e e dx.
2π −∞

ξ
Pondo agora y = − temos
2a
 
−ax2 ∧ 1 − ξ2 Z ∞ −ax2
e (ξ) = √ e 4a e dx.
2π −∞

Z r

−ax2 π
mas, como se sabe, e dx = · Logo,
−∞ a
 2
∧ 1 ξ2
e−ax (ξ) = √ e− 4a ,
2a
i.e., (A.8.1) é realmente válida para n = 1. No caso geral temos
  Z
−ax2 ∧ −n/2 2
e (ξ) = (2π) e−a|x| e−ihξ,xi dx =
Rn
n Z
Y ∞ 2 2
= (2π)−n/2 e−axj e−iξj xj dxj
j=1 −∞

donde, por (A.8.2),


 ∧ n r 2  n
2 Y π − ξj π 2 |ξ|2
e−ax (ξ) = (2π)−n/2 e da = (2π)−n/2 e− 4a =
j=1 a a
|ξ|2
= (2a)−n/2 e− 4a .
A.8. TRANSFORMAÇÃO DE FOURIER 123

A.8.2 Lema. É válida a fórmula


Z
1 ∞ e−t − λ2
e−λ = √ √ e 4t dt.
π 0 t
Demonstração: Usando a teoria dos resíduos vê-se facilmente que
Z
−λ 2 ∞ cos λx
e = dx;
π 0 1 + x2
Além disto tem-se Z ∞ 2 )t 1
e−(1+x dt = ·
0 1 + x2
Logo,
Z 
2 Z ∞ cos λx 2Z∞ ∞ 2
e−λ = 2
dx = cos λx e−(1+x )t dt dx =
π 0 1+x π 0 0
Z Z ∞ 
2 ∞ −t−tx2
= cos λx e dt dx =
π 0 Z ∞
0

Z ∞
2 −t −tx2
= e e cos λx dx dt =
π 0 0
 Z ∞ 
Z ∞
2 −t 1 −tx2 −iλx
= e e e dx dt =
π 0 2 −∞
Z  r  Z ∞ −t
2 ∞ −t 1 π −λ2 /4t 1 e 2
= e e dt = √ √ e−λ /4t dt.
π 0 2 t π 0 t

A.8.3 Exemplo. É válida a fórmula


s  
 ∧ 2n n+1 1
−|·|
e (ξ) = Γ (n+1) ·
π 2 (1 + |ξ|2 ) 2

Com efeito, pelo Lema A.8.2 e o Exemplo A.8.1 temos


Z Z Z !
1 ∞ e−t |x|2
−|x| −ihξ,xi
e e dx = √ √ e− 4t dt e−ihξ,xi dx =
Rn Rn π 0 t
Z ∞ −t Z 
1 e |x|2
− 4t −ihξ,xi
= √ √ e e dx dt =
π 0 t Rn
1 Z ∞ e−t 2
= √ √ ((4πt)n/2 e−i|ξ| )dt =
π 0 t
n/2 Z ∞
(4π) n−1 2
= √ e−t t 2 e−t|ξ| dt =
π 0
Z ∞
n+1 n+1 2 )t n−1
=2 2 (2π) 2 e−(1+|ξ| t 2 dt =
0
Z
n+1 n−1 1 ∞ n−1
=2 2 (2π) 2
(n+1) e−s s 2 ds =
(1 + |ξ|2) 0 2
 
n+1 n−1 n+1 1
=2 2 (2π) 2 Γ (n+1) ·
2 (1 + |ξ|2) 2
124 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS

Logo, s
 ∧  
−|·| 2n n+1 1
e (ξ) = Γ (n+1)
·
π 2 (1 + |ξ|2) 2
A.8.4 Teorema. Pondo F (ϕ) = ϕ, b ϕ ∈ S, F é uma transformação linear, contínua e
bijetiva de S sobre S e F (ϕ) = ϕ.
−1 e

A.8.5 Teorema. São válidas as fórmulas


Z Z
i) ϕb ψ dx = ϕ ψb dx
Rn Rn
Z Z
ii) ϕ ψb dx = ϕb ψb dx
Rn Rn

d = (2π)−n/2 (ϕ
iii) ϕψ b
b ∗ ψ)

iv) Se ϕ, ψ ∈ S então ϕ ∗ ψ ∈ S e ϕ[ b
∗ ψ = (2π)n/2 ϕbψ.

Seja S ′ o conjunto das distribvuições temperadas, i.e., dos funcionais lineares contí-
nuos sobre S. A transformada de Fourier, ub, de u ∈ S ′ é definida por
ub(ϕ) = u(ϕ),
b ϕ ∈ S.
Do Teorema A.8.4 resulta que ub ∈ S ′ .
Ponhamos !α1 !αn
−|α| α 1 ∂ 1 ∂
Dα = (i) D = ...
i ∂x1 i ∂xn
P P
e seja P (t) = cα tα = cα tα1 1 . . . tαnn . O operador diferencial P (D) é definido por
P α α
P (D) = c α Dα .
α
A.8.6 Teorema. (P (D)u)∧(ξ) = P (ξ)ub(ξ), (P u)∧ = P (−D)ub, u ∈ S ′ .
Pondo ϕ̆(x) = ϕ(−x), ϕ ∈ S, define-se ŭ, u ∈ S ′ , por ŭ(ϕ) = u(ϕ̆).
b
A.8.7 Teorema. Se u ∈ S ′ , então u
b = ŭ.

Identifiquemos a função u ∈ Lp (Rn ) com a distribuição temperada


Z
ϕ −→ u ϕ dx, ϕ ∈ S.
Rn

A.8.8 Teorema de Plancherel. Se u ∈ L2 (Rn ), então ub ∈ L2 (Rn ) e a transformada


F definida por F (u) = ub é uma isometria linear de L2 (Rn ).

A.8.9 Teorema (Hausdorff-Young). Se u ∈ Lp (Rn ) e 1 ≤ p ≤ 2, então ub ∈ Lp (Rn ),
1/p + 1/p′ = 1 e
1 1
||ub||p′ ≤ (2π)n( 2 − p ) ||u||p .
Os Teoremas A.8.4-A.8.8 es tão demonstrados em Rudin [52] e Yosida [67] e o Teo-
rema A.8.9 em Hormander [25] (Teorema 7.1.13).
A.9. ESPAÇOS DE SOBOLEV 125

A.9 Espaços de Sobolev


Se Ω ⊂ Rn um conjunto aberto e 1 ≤ p < ∞. O espaço de Sobolev H m (Ω) é o espaço
vetorial
H m (Ω) = {u ∈ L2 (Ω); D α u ∈ L2 (Ω), |α| ≤ m}
munido da norma  1/2
X
||u||m,2 =  ||D αu||22  ,
|α|≤m

∂ |α|
onde D α é a derivada no sentido das distribuições. Com o produto interno
∂xα1 1 . . . ∂xαnn
definido por
X
(u, v)m,2 = (D α u, D α v)L2 (Ω)
|α|≤m

H m (Ω) é um espaço de Hilbert.


Tem-se C0∞ (Ω) ⊂ H m (Ω). Com H0m (Ω) representa-se o fecho de C0∞ (Ω) em H m (Ω).
 m
A.9.1 Teorema. u ∈ H m (Rn ) se, e só se, 1 + |x|2 2
ub ∈ L2 (Rn ).
A demonstração deste teorema bem como dos demais resultados sobre distribuição e
espaços de Sobolev encontra-se em Medeiros e M.M. Miranda [42].
A.9.2 Teorema. Para todo f ∈ L2 (Rn ) a equação u − ∆u = f tem uma solução fraca
em H 2(Rn ).
Demonstração: Seja f ∈ C0∞ (Rn ) e

u = c−1
n (1 − ∆)
(n−1)/2
(e−|·| ) ∗ f,

onde s  
n/2 2n n+1
cn = (2π) Γ ·
π 2
Pelo Exemplo A.8.3 e os Teoremas A.8.5 e A.8.6 tem-se ub(ξ) = fb(ξ)/(1 + |ξ|2), donde
b
(1 + |ξ|2 )ub(ξ) = f(ξ), ξ ∈ Rn . (A.9.1)

Pelo Teorema A.8.8, fb ∈ L2 (Rn ) uma vez que C0∞ (Rn ) ⊂ L2 (Rn ). Logo, pelo Teo-
rema A.9.1, u ∈ H 2 (Rn ). Mas, pelo Teorema A.8.6, o primeiro membro de (A.9.1) é a
transformada de Fourier de (1 − ∆)u. Logo, pelo Teorema A.8.8, (1 − ∆)u = f , i.e., o
resultado a demonstrar é válido se f ∈ C0∞ (Rn ); portanto é válido se f é uma função
qualquer de L2 (Rn ) pois C0∞ (Rn ) é denso em L2 (Rn ).
126 APÊNDICE A. SOBRE A EXPONENCIAL E FUNÇÕES VETORIAIS
Índice alfabético

m-dissipativo, 28 fortemente elítico, 32


Função Exponencial, 110
absolutamente convergente, 104, 116 Funções Holomorfas, 117
adjunto formal, 33
generalizada, 87
conjunto, 21
gerador infinitesimal, 8
convergente, 117
Hille, 46
das translações à esquerda, 11
Hille-Yosida, 23
de classe (θ, M), 55
Holomorfos, 52
de classe C0 , 5
de contrações, 7 imagem numérica, 67
de Dunford-Taylor, 56 Integração das Funções Vetoriais, 113
de Hausdorff-Young, 85 Integrais Impróprias, 116
de operadores lineares, 5 Integral de Cauchy, 118
de operadores lineares limitados, 38
de Pazy, 94 Lema de Dini, 112
de Stone, 43 Lema de Lax-Milgram, 34
de Taylor, 118 limitados, 103
Derivação das Funções Vetoriais, 111 Lumer e Phillips, 28
Desigualdade de Garding, 33
Neumann, 104
Desigualdade de Poincaré-Friedrichs, 36
Norma do gráfico, 15
diferenciável, 17
dissipativo, 28 Operador Adjunto, 107
enésima diferença, 47 Perturbação, 69
Equação de Ondas, 80 Picard-Banach, 92
Equação do Calor, 85 problema de Cauchy abstrato, 75
Equação Homogênea, 75
Equação Não Linear, 91 Resolvente de um operador, 21

Fórmula Exponencial, 46 Schauder, 94


forma de Dirichlet, 32 Semigrupos Compactos, 48
forte, 87 solução, 75
fortemente contínuo, 6, 12 subaditiva, 6

127
128 ÍNDICE ALFABÉTICO

Sucessão convergente, 103

Teorema de Cauchy, 118


Transformação de Fourier, 121

uniformemente limitado, 7

Você também pode gostar