Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Roteiro de Aula - 1a Parte (2sem2023)
Roteiro de Aula - 1a Parte (2sem2023)
Campus Contagem
DIREITO CIVIL
FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
1º Semestre
2023
2
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Ementa
I. OBJETIVO GERAL
- Desenvolver o raciocínio crítico-reflexivo no discente, através do estímulo de sua participação ativa
no curso; formar o raciocínio jurídico; balizar o conhecimento e desenvolver um interesse pela
casuística que permeia a matéria a ser lecionada.
Métodos didáticos
Aulas expositivas, seminários para estudos de textos de revistas, jornais e jurisprudências sobre os temas
atuais de Direito de Família, avaliações em sala de aula, palestras com professores especialistas no tema,
além de trabalhos em grupo para discussão e interpretação de textos legais e acadêmicos.
Unidades de ensino
2. Família e casamento.
2.1. Definição;
2.2. Natureza;
2.3. Caracteres jurídicos e finalidade do casamento.
2.4. Facilitadoras do casamento: casamento putativo, nuncupativo, por procuração, consular.
8. Parentesco.
8.1. Espécies e graus de parentesco
9. Filiação.
9.1. Aspectos naturais e sócio-afetivos
9.2. Presunção de paternidade
9.3. Negatória de paternidade
4
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Processo de avaliação
Adota-se como métrica do processo avaliativo uma pontuação total de cem (100) pontos, assim
distribuída:
a) avaliações parciais individuais, que serão compostas de questões objetivas e/ou dissertativas, aferindo
o aprendizado de conteúdo por meio do procedimento de análise crítica e reflexiva, bem como por meio
de resolução de questões envolvendo conhecimentos adquiridos em aulas, pesquisas, estudos de
casos por meio do PBL, legislação, monitorando conteúdos atitudinais, procedimentais e conceituais.
b) atividades de aplicação simulada dos métodos consensuais de solução de
conflito. c) trabalho(s) ao longo do período letivo.
d) uma prova global, abrangendo toda a matéria trabalhada no decorrer do período letivo, no valor
de trinta (30) pontos.
Reavaliação (prova especial): O discente que não alcançar aproveitamento mínimo de 60% em 100
pontos, poderá se submeter à reavaliação (prova especial), no valor de 30 pontos, que substituirá a nota
da prova global.
5
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família (v. 5). 36ª ed. São Paulo: Saraiva
Jur, 2022. (Livro eletrônico)
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias (v.5). 12ª ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2022. (Livro
eletrônico) TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família (v. 5). 17ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2022.
REVISTA IBDFAM FAMÍLIAS E SUCESSÕES. Belo Horizonte, MG: IBDFAM. Bimestral. ISSN 2358-1670.
CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das famílias. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. (Livro eletrônico)
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família (v. 6). 20ª ed. São Paulo: Saraiva
Jur, 2023. (Livro eletrônico)
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. (Livro eletrônico)
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite (Coord). Manual de Direito
das Famílias e das Sucessões. Rio de Janeiro: Ed. Processo, 2017. (Livro eletrônico)
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. RODRIGUES, Renata de Lima (coord). Contratos, família e sucessões:
diálogos interdisciplinares. Indaiatuba: Editora Foco, 2021. (livro eletrônico)
REVISTA DE DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais,
Semestral. ISSN 2526-0227 versão on-line.
Observações
Para maior aprofundamento e atualização da matéria recomenda-se acompanhar o site e/ou redes
sociais do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM.
6
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
SUMÁRIO
II CASAMENTO.............................................................................................................22
2.1 Disposições gerais sobre o casamento......................................................................24
2.2 Capacidade para o casamento..................................................................................25
2.3 Impedimentos matrimoniais.....................................................................................29
2.4 Causas suspensivas do casamento............................................................................31
2.5 Processo de habilitação para o casamento...............................................................34
2.6 Celebração do casamento..........................................................................................37
2.7 Suspensão da cerimônia de casamento....................................................................40
2.8 Modalidades especiais de celebração de casamento...............................................40
2.8.1 Casamento nos casos de moléstia grave................................................................41
2.8.2 Casamento nuncupativo ou in extremis vitae momentis ou in articulo mortis....42
2.8.3 Casamento por procuração....................................................................................43
2.8.4 Casamento religioso com efeitos civis...................................................................44
2.8.5 Casamento perante autoridade consular..............................................................45
2.9 Invalidade do casamento...........................................................................................46
2.9.1 Casamento inexistente............................................................................................47
2.9.2 Casamento nulo.......................................................................................................49
2.9.3 Casamento anulável................................................................................................50
2.9.3.1 Efeitos do casamento anulável............................................................................56
2.9.4 Casamento putativo................................................................................................57
2.10 Prova do casamento.................................................................................................58
2.11 Efeitos e deveres do casamento...............................................................................60
7
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
2.12 Regime de bens.........................................................................................................63
2.12.1 Pacto antenupcial..................................................................................................68
2.12.2 Regime da comunhão parcial...............................................................................72
2.12.3 Regime da comunhão universal...........................................................................79
2.12.4 Regime da participação final nos aquestos.........................................................81
2.12.5 Regime da separação de bens..............................................................................85
2.13 Dissolução do casamento e da sociedade conjugal................................................87
2.13.1 Separação de fato..................................................................................................90
2.13.2 Partilha de bens.....................................................................................................91
2.13.3 Direito ao uso do sobrenome................................................................................95
IV RELAÇÕES DE PARENTESCO...........................................................................112
V FILIAÇÃO..................................................................................................................118
5.1 Reconhecimento de filhos........................................................................................124
5.1.1 Reconhecimento judicial: investigação de paternidade e de maternidade......127
5.2 Adoção.......................................................................................................................133
5.2.1 Capacidade e requisitos para adoção..................................................................134
5.2.2 Efeitos da adoção...................................................................................................136
5.2.3 Estágio de convivência..........................................................................................138
5.2.4 Adoção internacional............................................................................................139
5.2.5 Cadastro de Adoção..............................................................................................140
5.2.6 Adoção à brasileira...............................................................................................142
6 Poder familiar ou Autoridade parental....................................................................143
6.1 Suspensão e extinção do poder familiar.................................................................148
6.2 Modalidades de guarda e direito de convivência..................................................150
6.3 Alienação parental...................................................................................................155
REFERÊNCIAS.............................................................................................................159
8
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
O Direito de Família pode ser conceituado como o ramo do Direito Civil que
tem como conteúdo o estudo dos seguintes institutos jurídicos: a) casamento;
b) união estável; c) relações de parentesco; d) filiação; e) alimentos; f) bem de
família; g) tutela, curatela e guarda. (TARTUCE, 2022, p. 20)
Paulo Lôbo (2022) também define o Direito de Família, mas por outra
perspectiva: “O direito de família é um conjunto de regras que disciplinam os direitos
pessoais e patrimoniais das relações de família. Caracteriza-se por ser
predominantemente cogente, com espaço delimitado de autonomia privada.” (LÔBO,
2022, p. 37).
Percebe-se, portanto, que o direito de família regula exatamente as relações
entre os seus membros e as consequências daí resultantes para as pessoas e bens. “O
objeto do direito de família é, pois, o complexo de disposições, pessoais e patrimoniais, que
se origina do entrelaçamento das múltiplas relações estabelecidas entre os componentes
da entidade familiar.” (GONÇALVES, 2023, p. 9).
Conforme afirma Paulo Lôbo (2022), o direito de família caracteriza-se por
normas cogentes, delimitando o espaço para autonomia privada. Neste sentido, Flávio
Tartuce (2022) justifica que as referidas normas estão relacionadas com o direito
existencial, com a própria concepção da pessoa humana. Diante da natureza dessas
normas (ordem pública e cogente), Tartuce (2022) acrescenta que é nula qualquer
previsão sobre renúncia aos
9
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
direitos existenciais de origem familiar, ou que afaste normas que protegem a pessoa,
como, por exemplo, o contrato de namoro:
Ilustrando, é nulo o contrato de namoro nos casos em que existe entre as partes
envolvidas uma união estável, eis que a parte renuncia por esse contrato e de
forma indireta a alguns direitos essencialmente pessoais, como acontece no
direito a alimentos. Esse contrato é nulo por fraude à lei imperativa (art. 166,
inc. VI, do CC), e também por ser o seu objeto ilícito (art. 166, inc. II, do CC).
(TARTUCE, 2022, p. 20).
Conforme visto, nas últimas décadas o direito de família passou por profundas
transformações consoante as intensas modificações fenomenológicas na estrutura da
família. Todavia, conforme explicam Tepedino e Teixeira (2022), é do ponto de vista
axiológico, ou seja, dos valores, que se identifica a principal alteração no vértice do
ordenamento, impondo radical reformulação dos critérios interpretativos adotados
nesta matéria.
Nesta perspectiva, a Constituição Federal de 1988 assumiu relevante papel, pois
consagrou uma nova tábua de valores no ordenamento jurídico brasileiro, “que
fundamentam as relações existenciais e as comunidades intermediárias, capazes de
redefinir os pressupostos de configuração e as finalidades das entidades familiares.”
(TEPEDINO; TEIXEIRA, 2022, p. 1).
A mudança de pensamento sobre o papel das entidades familiares e do conceito
de unidade familiar já era refletido em sucessivas leis, refletindo a mudança de
pensamento e na identidade cultural da sociedade, que foram efetivamente
consolidadas na Constituição de 1988 (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2022, p. 1). Esta
compreensão axiológica é fundamental para entender o sentido hermenêutico das leis
especiais pós-constituição, bem como do Código Civil sobre o direito de família.
Analisando os arts. 226 a 230, CF, percebe-se que a tutela constitucional não é mais
exclusiva do casamento, passando para as relações familiares dele decorrentes e de outras
formas de constituição da família. A família não é mais protegida como instituição, pois sua
tutela é direcionada à dignidade de seus membros, especialmente ao desenvolvimento
da personalidade dos filhos. Significa dizer que a família passa a ser valorada de maneira
instrumental, conforme explicam Gustavo Tepedino e Ana Carolina Brochado Teixeira:
1
“A tendência de ampliação do conceito de família é confirmada pelo STJ, ao reconhecer que o imóvel em
que residem duas irmãs é bem de família, pois ambas constituem uma entidade familiar: “Execução. Bem de
família. Ao imóvel que serve de morada as embargantes, irmãs e solteiras, estende-se a
impenhorabilidade de que trata a Lei 8.009/1990” (STJ, REsp 57.606/MG, 4.ª Turma, Rel. Min. Fontes de
Alencar, j. 11.04.1995, DJ 15.05.1995, p. 13.410). O julgado mencionado reconhece como entidade
familiar algo que não se enquadra em qualquer conceito do art. 226 da CF/1988, o que denota que o rol
desse dispositivo não é fechado.” (TARTUCE, 2022, p. 63).
13
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Neste sentido, ainda conclui o autor, que as entidades familiares não possuem
regras únicas, segundo modelos únicos ou preferenciais, pois elas constituem, “em
outras palavras, o lugar dos afetos, da formação social onde se pode nascer, ser,
amadurecer e desenvolver os valores da pessoa.” (LÔBO, 2022, p. 89).
É importante destacar que, para determinados fins legais, certos grupos sociais
podem ser compreendidos como entidades familiares, conforme os seguintes exemplos:
Lei n. 8.009/90, sobre a impenhorabilidade do bem de família; da Lei n. 8.245/91, sobre
locação de imóveis urbanos, relativamente à proteção da família, que inclui todos os
residentes que vivam na dependência econômica do locatário; dos arts. 183 e 191 da
CF/1988, sobre a usucapião especial, em benefício do grupo familiar que possua o
imóvel urbano e rural como moradia; da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que
coíbe a violência doméstica contra a mulher, em relação a todos os que vivam no
ambiente familiar. (LÔBO, 2022, p. 87).
14
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Kant (1986, p. 77), em lição que continua atual, procurou distinguir aquilo que
tem um preço, seja pecuniário, seja estimativo, do que é dotado de dignidade, a
saber, do que é inestimável, do que é indisponível, do que não pode ser
objeto de troca. Diz ele: “No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma
dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer
outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e,
portanto, não permite equivalente, então tem ela dignidade”. Assim, viola o
princípio da dignidade da pessoa humana todo ato, conduta ou atitude que
coisifique ou objetive a pessoa, ou seja, que a equipare a uma coisa
disponível, ou a um objeto. (LÔBO, 2022, p. 60)
Neste sentido, explica Paulo Lôbo (2022, p. 62) que a submissão histórica da mulher
nas sociedades patriarcais, ainda com reflexos atuais, é incompatível com o princípio em
referência. “Não se observa o princípio da dignidade da pessoa humana quando
desigualdades pessoais, sociais, econômicas e jurídicas existem em razão do sexo ou
gênero.” (LÔBO, 2022, p. 62).
Assim, a família é protegida de forma especial pelo Estado, conforme se verifica
na Constituição de 1988: o art. 226, § 7º, determina que a dignidade, bem como a
paternidade responsável são limitadores internos à liberdade de planejamento familiar;
os arts. 227 e 230, CF/88, determinam que criança, adolescente, jovem e idoso, pessoas
presumidamente vulneráveis, devem ser tratadas com especial dignidade (TEPEDINO;
TEIXEIRA, 2022, p. 12).
Paulo Lôbo (2022, p. 64) explica que o princípio da solidariedade familiar ainda
tem sido considerado como fundamento explícito ou implícito, na legislação e
jurisprudência, para assegurar aos familiares o direito de contato, ou de convivência
com as crianças e adolescentes com avós, tios, ex-companheiros, padrastos e madrastas,
uma vez que, no melhor interesse destas e da realização afetiva daqueles, os laços de
parentesco ou os construídos na convivência familiar não devem ser rompidos ou
dificultados.
O abandono afetivo de crianças e idosos também é pautado no princípio da
solidariedade familiar, pois no direito de família o cuidado é considerado valor jurídico,
ou seja, é expressão do referido princípio.
“Frise-se que o princípio da solidariedade familiar também implica em respeito e
consideração mútuos em relação aos membros da entidade familiar.” (TARTUCE, 2022,
p. 36), o que fundamenta a assistência aos membros da família em caso de violência nas
relações familiares (art. 226, § 8º, CF).
Paulo Lôbo (2022, p. 74) explica que o princípio da liberdade familiar “apresenta
duas vertentes essenciais: liberdade da entidade familiar, diante do Estado e da sociedade,
e liberdade de cada membro diante dos outros membros e da própria entidade
familiar.”
Flávio Tartuce (2022, p. 42) também o denomina como princípio da não
intervenção, com fundamento no art. 1.513, CC, pelo qual “é defeso a qualquer pessoa,
de direito público ou direito privado, interferir na comunhão de vida instituída pela
família.” (BRASIL, 2002).
Como reforço, o art. 1.565, § 2º, CC estabelece que o planejamento familiar é de
livre decisão do casal, sendo vedada qualquer forma de coerção por parte de
instituições privadas ou públicas em relação a esse direito. Neste sentido, nem o Estado
ou ente privado pode intervir coativamente nas relações de família, mas o Estado pode
incentivar o controle de natalidade e promover políticas pública para o planejamento
familiar.
Outro exemplo de aplicação do princípio está no art. 1.614, CC, que permite ao filho
maior exercer a liberdade de recusar o reconhecimento voluntário da paternidade feito
por seu pai biológico. Do mesmo modo, se o reconhecimento se deu quando o filho era
menor, pode este impugná-lo, ao atingir a maioridade.
18
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Há, no entanto, quem entenda que o art. 1.641, II, CC viola o respectivo princípio,
restringindo a autonomia da pessoa maior de 70 anos ao proibir a livre escolha do
regime matrimonial de bens.
Cabe destacar que nenhum princípio é absoluto, nem deve ser interpretado
isoladamente, mas sim com outros princípios, como no caso do princípio do melhor
interesse da criança e do adolescente, tendo como exemplo a intervenção do Estado nas
relações de filiação, citando-se a Lei n. 13.010/14, conhecida como Lei da Palmada ou
Lei Menino Bernardo.
Antes a criança era tratada como mero objeto e a aplicação do direito observava os
interesses dos pais. Hoje é um dos princípios de maior importância, colocando a criança
como protagonista nas relações familiares. “O juiz deve sempre, na colisão da verdade
biológica com a verdade socioafetiva, apurar qual delas contempla o melhor interesse
dos filhos, em cada caso, tendo em conta a pessoa em formação.” (LÔBO, 2022, p. 83).
O princípio do melhor interesse da criança e do adolescente encontra respaldo
no art. 227, CF, que estabelece o dever da família, da sociedade e do Estado em
assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, os direitos ali
enunciados.
A citada proteção constitucional foi regulamentada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei n. 8.069/1990), que considera criança a pessoa com idade entre zero e
12 anos incompletos, e adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade. Há,
ainda, a
19
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Lei n. 12.825/2013, conhecida como Estatuto da Juventude, que reconhece amplos direitos
às pessoas com idade entre quinze e vinte e nove anos de idade, tidas como jovens.
A Lei n. 13.257/16 trata das políticas públicas para a proteção da primeira
infância. O art. 2º reconhece a primeira infância como o período que abrange os
primeiros 6 (seis) anos completos de vida da criança, devendo o Estado estabelecer
políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância que atendam às
especificidades dessa faixa etária, visando a garantir seu desenvolvimento integral (art.
3º).
O Código Civil também demonstra a observância do princípio em referência nos
arts. 1.583 e 1.584, ao determinar como regra a guarda compartilhada dos pais separados,
que prevalece sobre a guarda unilateral.
Segundo Flávio Tartuce (2022, p. 46), “o afeto talvez seja apontado, atualmente,
como o principal fundamento das relações familiares. Mesmo não constando a
expressão afeto do Texto Maior como um direito fundamental, pode-se afirmar que ele
decorre da valorização da dignidade humana.”
Tartuce (2022, p. 48) ainda esclarece “que o afeto equivale à interação entre as
pessoas, e não necessariamente ao amor, que é apenas uma de suas facetas.”
Paulo Lôbo (2022, p. 79) também esclarece que a afetividade como princípio
jurídico não se confunde com o afeto no sentido de psicológico ou anímico (amor).
Desta forma, a afetividade é considerado dever imposto aos pais em relação aos filhos e
destes em relação àqueles, independentemente dos sentimentos que tenham uns pelos
outros.
O princípio da afetividade remonta ao trabalho do Professor João Baptista Villela,
escrito em 1979, tratando da desbiologização da paternidade, com a tese de que o
vínculo familiar constitui mais um vínculo de afeto do que um vínculo biológico,
surgindo, então, uma nova forma de parentesco civil, a parentalidade socioafetiva,
baseada na posse de estado de filho.
Flávio Tartuce (2022) e Paulo Lôbo (2022) entendem que o princípio da
afetividade tem fundamento constitucional, particularmente na dignidade da pessoa
humana (art. 1º,
20
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
III), na solidariedade social (art. 3º, I) e na igualdade entre filhos (arts. 5º, caput, e 227, §
6º).
A aplicação do referido princípio pode ser vista no ditado popular “pai é aquele que
cria”, quando o marido reconhece como seu o filho de sua mulher, estabelecendo um
vínculo de afeto. Ainda que futuramente se divorciem, o marido não poderá, depois de
aperfeiçoada a socioafetividade, romper esse vínculo.
O art. 1.593 do Código Civil prevê regra geral que contempla o princípio da
afetividade, ao estabelecer que “o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de
consanguinidade ou outra origem”.
O princípio da afetividade está plenamente consolidado na doutrina e na
jurisprudência. Há vários enunciados das Jornadas de Direito Civil referindo-se aos
efeitos do princípio em comento.
Esta temática será retomada nos estudos sobre as formas de parentesco civil e
do reconhecimento de filhos.
Flávio Tartuce (2022, p. 51) inclui a função social como princípio do Direito de
Família, justificando que as relações familiares devem ser analisadas dentro do contexto
social e diante das diferenças regionais de cada localidade. Nesta perspectiva, segundo o
citado autor, a socialidade deve ser aplicada aos institutos de Direito de Família, assim
como ocorre com outros ramos do Direito Civil.
Quando analiso o conceito contemporâneo de família, verificou-se que deixou de
ser instituição e passou a ser instrumento, ou seja, a principal função da família é a sua
característica de meio para a realização dos anseios e pretensões de seus membros.
Flávio Tartuce exemplifica a aplicação do princípio da função social da família:
Nesta perspectiva, a família deve ser interpretada de acordo com o contexto social.
22
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
II CASAMENTO
complexo, mediante o qual o casal constitui família, pela livre manifestação de vontade
e pelo reconhecimento do Estado.”
Quanto à natureza jurídica do casamento não há um consenso na doutrina. Existem
três teorias:
a) teoria institucionalista: o casamento o casamento é uma instituição social, “no
sentido de que reflete uma situação jurídica cujos parâmetros se acham
preestabelecidos pelo legislador” (GONÇALVES, 2023, p. 18). Flávio Tartuce (2022, p. 73)
explica que para os adeptos desta concepção, o matrimônio se opõe à ideia de contrato.
Além disso, destaca Tartuce, que há nesta teoria uma forte carga moral e religiosa, que
vem sendo superada pela doutrina e pela jurisprudência.
b) teoria contratualista: o casamento constitui um contrato de natureza especial,
e com regras próprias de formação.
c) teoria mista ou eclética: considera o casamento ato complexo, ao mesmo tempo
contrato e instituição. É uma instituição quanto ao conteúdo e um contrato especial
quanto à formação.
Na mesma linha, Carlos Roberto Gonçalves (2023, p. 19) afirma que não há
inconveniente em “chamar o casamento de contrato especial, um contrato de direito de
família, com características diversas do disciplinado no direito das obrigações”. O
casamento assume “a feição de um ato complexo, de natureza institucional, que
depende
24
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
da manifestação livre da vontade dos nubentes, mas que se completa pela celebração, que
é ato privativo de representante do Estado” (RODRIGUES apud GONÇALVES, 2023, p. 19).
Com esta perspectiva, o casamento é considerado como negócio jurídico
bilateral sui generis, especial. Trata-se, portanto, de um negócio híbrido: na formação é
um contrato, no conteúdo é uma instituição (TARTUCE, 2022, p. 73).
As disposições gerais sobre o casamento, no Código Civil, estão nos artigos 1.511
a 1.516, no início do Livro IV da parte especial do Código Civil - “Do Direito de Família”.
Nestas disposições gerais, o art. 1.511, CC prevê que “o casamento estabelece a
comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”. O
sentido deste dispositivo é firmar a igualdade entre os cônjuges.
O art. 1.512, CC repete o § 1º do art. 226, da CF/88, que estabelece a gratuidade
da celebração do casamento civil. Assim, ainda que a celebração seja religiosa, o
casamento é civil, pois desde a proclamação da República foi secularizado ou laicizado,
subtraindo-se da religião oficial a competência para regulá-lo, conforme explica Paulo Lôbo
(2022, p. 109).
Além disso, por ser direito fundamental de qualquer cidadão brasileiro ou de
estrangeiro que viva no Brasil, a celebração do casamento é gratuita, seja feita perante
agente público (juiz de direito ou juiz de paz) ou perante ministro de confissão religiosa.
(LÔBO, 2022, p. 109). Todavia, os demais atos que integram o casamento – habilitação,
registro e primeira certidão – serão gratuitos somente para as pessoas “cuja pobreza for
declarada, sob as penas da lei” (art. 1.512, parágrafo único, CC), compreendendo a isenção
de taxas, emolumentos e custas, pois poderiam desestimular ou até inviabilizar o
casamento para pessoas mais pobres. “A qualificação de pobreza para os fins de gratuidade
do casamento é a mesma utilizada para concessão de assistência judiciária gratuita, a
saber, quando o pagamento das despesas importa comprometimento da subsistência
das pessoas.” (LÔBO, 2022, p. 102).
25
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
sua vontade, o que pode ser feito diretamente ou por meio do seu responsável ou curador
(art. 1.550, § 2º, CC).
Conforme o art. 1.518, CC, a autorização para o casamento pode ser revogada pelos
pais ou tutores até a celebração do casamento. Se a negativa do consentimento for injusta
poderá ser suprida pelo juiz, que julgará conforme a proteção integral do menor e da
família (art. 1.519, CC).
Quanto ao art. 1.520, CC, sua redação sofreu alteração em 2019 e é importante
explicá-la comparando o texto anterior e o atual:
Em que pese a alteração do art. 1.520, CC, em 2019, os artigos 1.550 a 1.553, CC
não sofreram qualquer mudança. Os referidos artigos tratam da anulabilidade do
casamento de quem não completou a idade para casar (art. 1550, I, CC), bem como de
sua
28
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
O inciso IV trata dos parentes colaterais até o terceiro grau, que também é um
impedimento decorrente de parentesco consanguíneo. Envolve os irmãos (colaterais de
segundo grau), bilaterais (mesmo pai e mesma mãe) ou unilaterais (mesmo pai ou
mesma mãe); tios(as) e sobrinhos(as) (colaterais de terceiro grau). Neste último caso, o
Decreto- lei n. 3.200/41, que continua em vigor, permite o casamento entre colaterais
de terceiro grau (casamento avuncular) desde que não haja risco à prole, o que deve ser
aprovado em exame pré-nupcial, por uma junta médica formada por dois profissionais
da área (TARTUCE, 2022, p. 85).
Os primos são parentes colaterais de quarto grau, por isso não são atingidos pelo
impedimento legal.
O inciso II do art. 1.521 trata da proibição do casamento entre os parentes afins
(por afinidade) em linha reta. O parentesco por afinidade está previsto no art. 1.595, CC
e se estabelece entre um cônjuge ou companheiro e os parentes do outro consorte (ou
convivente). A proibição refere-se apenas à linha reta até o infinito, ou seja, dissolvido o
casamento ou a união estável que deu origem ao referido parentesco, não podem casar-
se sogra e genro, sogro e nora – linha reta ascendente; padrasto e enteada, madrasta e
enteado – linha reta descendente; e assim sucessivamente até o infinito. A afinidade em
linha reta não se extingue com a dissolução do casamento que a originou (divórcio ou
falecimento de um dos cônjuges), conforme o § 2º do art. 1.595, CC.
Segundo Tartuce (2022, p. 86) a razão deste impedimento é apenas moral. Não
há proibição de casamento entre os cunhados, depois de terminado o casamento, pois
são parentes afins colaterais.
O inciso III do art. 1.521 obsta o casamento do adotante com quem foi cônjuge
do adotado; e o casamento do adotado com quem foi cônjuge do adotante. Mais uma
vez o impedimento possui razão de ordem moral em decorrência do parentesco civil
formado pela adoção. Trata-se de casos em que a adoção não foi realizada por ambos os
cônjuges, mas apenas por um deles. “A adoção, como foi dito, imita a família. Desse
modo, o pai adotivo ou a mãe adotiva não pode casar-se com a viúva do filho adotivo ou
com o viúvo da filha adotiva.” (GONÇALVES, 2023, p. 31).
31
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
processo de habilitação, até 15 dias após os proclamas) pelas pessoas legitimadas (art.
1.524, CC). Essas situações não impedem a celebração do casamento, nem acarretam a
decretação de nulidade ou anulabilidade, mas tem como consequência jurídica a
imposição do regime de separação total de bens aos cônjuges (art. 1.641, I, CC).
Portanto, o casamento celebrado e registrado é plenamente válido e eficaz, mas com as
restrições impostas pela lei.
Essas causas (art. 1.523, CC) objetivam impedir a confusão patrimonial, envolvendo
situações de interesse particular ou ordem privada. Por isso, é possível que os nubentes
peçam ao juiz a inaplicabilidade das causas suspensivas, se provarem a inexistência de
prejuízo para as pessoas indicadas no art. 1.523, CC (parágrafo único do art. 1.523, CC).
a) A primeira causa (art. 1.523, I, CC) é relativa à proteção do patrimônio dos
filhos. Assim, o viúvo ou a viúva que tiver filho com o falecido(a) não deve se casar
enquanto o inventário dos bens do casal e a partilha dos herdeiros não forem
concluídas. Todavia, se realizado o novo casamento pendente o inventário e partilha de
bens do cônjuge falecido, o regime de bens será o da separação obrigatória.
Há mais uma sanção para o infrator desta causa suspensiva, prevista no art.
1.489, III, CC, que é a hipoteca legal em favor dos filhos. Os bens do pai ou da mãe
(viúvo/viúva) que se casar novamente antes de fazer o inventário do cônjuge falecido
ficarão hipotecados como garantia da herança dos filhos.
A causa suspensiva em estudo possui sentido somente com a existência de
filho(s) e de bens do primeiro casamento. Desta forma, os juízes admitem, mesmo não
previsto no CPC, a realização de inventário negativo, mesmo extrajudicial (Resolução CNJ
n. 35 e Lei
n. 11.441/2007), com a finalidade exclusiva de comprovar a inexistência da causa
suspensiva e permitir que o novo casamento seja realizado sem a imposição do regime
de bens obrigatório.
b) O art. 1.523, II, CC dispõe que não deve se casar a mulher viúva ou cujo
primeiro casamento foi declarado nulo ou anulado no prazo de 10 meses. O objetivo é
evitar a confusão de paternidade (turbatio ou confusio sanguinis), entre o primeiro e o
segundo marido, pois existe uma presunção de paternidade do filho da mulher casada,
conforme o art. 1.597, I e II, CC.
33
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
d) A quarta e última causa suspensiva (art. 1.523, IV, CC) se refere à tutela e
curatela, isto é, os tutores e os curadores não devem casar com os respectivos pupilos
ou curatelados. A finalidade desta causa suspensiva é proteger o patrimônio dessas
pessoas em situação de vulnerabilidade (tutelado ou curatelado), evitando o
enriquecimento ilícito do seu representante ou de seus parentes (descendentes,
ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos), pois poderia ser exercida coação moral
pelo tutor ou curador, pessoas que possuem ascendência e autoridade sobre o tutelado
ou curatelado. A extinção da tutela ou da curatela, com a aprovação das contas pelo
juízo competente, extingue a referida causa suspensiva.
A comprovação de ausência de prejuízo (parágrafo único do art. 1.523, CC)
somente será necessária se oposta a causa suspensiva por algum interessado - parentes
em linha reta, consanguíneos ou afins (pais, avós, sogros, pais dos sogros etc.) e pelos
colaterais em segundo grau, consanguíneos ou afins (irmãos ou cunhados), conforme o art.
1.524, CC. O oficial do registro ou o celebrante do casamento não possuem legitimidade
para declará-las de ofício.
Flávio Tartuce (2022, p. 93) explica que, após o casamento pelo regime da
separação obrigatória de bens, desaparecendo a causa suspensiva, justifica-se a
alteração do regime de bens, que será proposta por ambos os cônjuges (art. 1.639, § 2º,
CC).
14.382, de 27/06/2022, que dispõe sobre o SERP – Sistema Eletrônico dos Registros
Públicos.
Conforme o art. 1.525, CC, o requerimento de habilitação será assinado pelos
nubentes, de próprio punho, ou por procurador de um ou de ambos. A Lei do SERP
passou a permitir a identificação das partes e a apresentação dos documentos por meio
eletrônico, conforme a inclusão do § 4º-A do art. 67 da Lei n. 6.015/73:
casos de urgência. Carlos Roberto Gonçalves (2023, p. 25) exemplifica alguns casos de
urgência, uma vez que a lei não especifica: “Tais motivos podem ser, por exemplo, moléstia
grave ou iminente risco de vida de um dos cônjuges; viagem imprevista e demorada;
prestação de serviço público obrigatório, inadiável e que determine, para seu
desempenho, a ausência temporária do domicílio; parto próximo da futura mulher etc.”.
O art. 69 da Lei n. 6.015/73 (Lei de Registros Públicos), alterado pela Lei do SERP
(Lei n. 14.382/22), estabelece que a dispensa da publicação eletrônica dos proclamas
será requerida pelos nubentes em petição dirigida ao oficial de registro, justificando os
motivos de urgência e apresentando provas do alegado no prazo de 24 horas. No mesmo
prazo de 24 horas, o oficial de registro poderá dispensar ou não a publicação eletrônica.
Desta decisão caberá recurso ao juiz corregedor (§ 2º do art. 69, Lei n. 6.015/73).
Os impedimentos2 e causas suspensivas3 serão opostos em declaração escrita e
assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde
possam ser obtidas (art. 1.529, CC). Na sequência o oficial do registro notificará os
nubentes mediante nota de oposição, com prazo de 24 horas (§ 5º do art. 67, da Lei n.
6.015/73, com nova redação pela Lei do SERP) para que indiquem as provas que
desejem produzir, apontando qual o tipo de impedimento, quem o opôs e quais as
razões (art. 1.530, CC), de modo a que possam defender-se, não sendo necessária a
intervenção de advogado, dada a natureza administrativa do processo de habilitação. Os
nubentes podem requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados, e
promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé (parágrafo único do art.
1.530, CC).
Após o prazo de 24 horas para indicação das provas a serem produzidas pelos
nubentes, o oficial do registro remeterá os autos ao juízo. Os nubentes e o oponente
terão o prazo de 3 (três) dias para produzir as provas. Em 5 (cinco) dias serão ouvidos os
interessados e o Ministério Público. Também no prazo de 5 (cinco) dias o juiz decidirá.
Este procedimento está previsto no (§ 5º do art. 67, da Lei n. 6.015/73, com a nova
redação da Lei n. 14.382/22).
Após o prazo da publicação dos proclamas ou após sua dispensa, não havendo
oposição de impedimentos ou causas suspensivas, o oficial do registro abrirá prazo para
o
2
Os impedimentos podem ser opostos até o momento da celebração do casamento (art. 1.522, CC)
3
As causas suspensivas podem ser opostas somente no prazo previsto no edital de proclamas.
37
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
4
O caso ocorreu em São Paulo, no ano de 2016, mas ganhou as redes sociais no início de 2023, quando o
noivo publicou o vídeo. Segundo informações do próprio noivo, o casamento foi realizado no mesmo dia,
após muita insistência. (https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/02/13/noiva-diz-nao- de-
brincadeira-e-juiz-cancela-casamento-em-sp.htm)
41
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Assim ocorre, por exemplo, “quando um dos nubentes é ferido por disparo de
arma de fogo, ou sofre grave acidente, ou, ainda, é vítima de mal súbito, em que
não há a mínima esperança de salvação, e a duração da vida não poderá ir
além de alguns instantes ou horas. Nestas desesperadoras circunstâncias,
pode a pessoa desejar a regularização da vida conjugal que mantém com
outra, ou pretender se efetive o casamento já programado e decidido, mas
ainda não providenciado o encaminhamento” (RIZZARDO apud GONÇALVES,
2023, p. 54).
Paulo Lôbo (2021, p. 121) explica que o termo jurídico nuncupativo diz respeito
ao ato não escrito, ao que é só oral ou de nome, quando circunstâncias excepcionais
admitem que seja afastada a forma escrita ou solene exigida em lei, tais como situações
de guerra, conflitos armados ou calamidades naturais, que impedem a presença da
autoridade competente para celebrar o casamento.
Assim, a celebração do casamento nuncupativo será realizada diretamente pelos
nubentes, que manifestarão sua vontade em se casar (de viva voz) perante 6 (seis)
testemunhas, que não poderão ter relação de parentesco com os nubentes, em linha
reta ou até o segundo grau (irmãos), conforme o art. 1.540, CC.
No prazo de 10 (dez) dias após a realização do casamento nuncupativo, as
testemunhas, depositárias das declarações de vontade dos nubentes, devem
comparecer perante a autoridade judicial mais próxima para confirmar a vontade dos
nubentes mediante termo de declaração, nos termos do art. 1.541, CC. Se as
testemunhas não comparecerem espontaneamente, qualquer interessado poderá
requerer a sua intimação (art. 76, § 1º da Lei n. 6.015/73)
Será instaurado um procedimento de jurisdição voluntária, com intervenção do
Ministério Público (art. 76 da Lei n. 6.015/73). O juiz procederá às diligências necessárias
para verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado na forma ordinária, ouvidos os
interessados que o requererem, dentro em quinze dias (art. 1.541, § 1º, CC). Após as
43
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
O casamento religioso com efeitos civis está previsto no art. 226, § 2º, CF/88, nos
arts. 71 a 75 da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973) e nos arts. 1.515 e 1.516, CC.
Conforme explica Flávio Tartuce (2022, p. 103), o termo religioso deve ser lido
em sentido amplíssimo, englobando qualquer religião, com fundamento no direito
fundamental à liberdade de credo previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal.
Paulo Lôbo (2022, p. 106) também destaca a liberdade de credo, supondo
organização mínima decorrente de seus locais de culto e de suas liturgias, conforme
explica:
ou por iniciativa de qualquer interessado. Após o prazo decadencial deve ser realizado
novo processo de habilitação para que o casamento religioso seja registrado.
Paulo Lôbo (2022, p. 106) explica que o dever de comunicar ao ofício competente
é do celebrante e sua falta leva à responsabilidade civil pelos danos materiais e morais que
sua omissão tenha causado.
Se o casamento religioso for celebrado sem o processo de habilitação, poderá ser
registrado a qualquer tempo no registro civil, a pedido do casal, desde que seja realizado
a posteriori o referido processo de habilitação perante a autoridade competente (art.
1.516, § 2º, CC). Não se verificando qualquer impedimento, o oficial realizará o registro
do casamento religioso com efeitos retroativos à data de sua celebração (efeitos ex
tunc).
Assim, os efeitos do casamento operam desde a celebração, ficando condicionados
ao registro público.
Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos
consorciados houver contraído com outrem casamento civil (art. 1.516, § 3º, CC), pois
não podem casar as pessoas casadas (art. 1.521, VI, CC).
Quanto ao regime de bens, se realizado pacto antenupcial antes do casamento
religioso prevalece o regime determinado pelo casal. Se não foi realizado pacto,
prevalece o regime legal, ou seja, o da comunhão parcial de bens, salvo nos casos de
separação obrigatória (GONÇALVES, 2023, p. 56).
A teoria das nulidades, constante na Parte Geral do Código Civil, regula a invalidade
dos atos ou negócios jurídicos. No caso do casamento, no entanto, existem normas
especiais quanto à sua invalidade, por se tratar de um negócio jurídico complexo e único
(sui generis). A aplicação das normas de teoria geral do negócio jurídico é subsidiária,
em casos excepcionais.
Os artigos 1.548 ao 1.564, CC tratam da “Da invalidade do casamento” (capítulo
VIII), que abrange a nulidade absoluta e a nulidade relativa (anulabilidade) do matrimônio,
referindo-se ao casamento realizado com um defeito que impede a formação de vínculo
matrimonial válido.
47
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
específica, que segue “as mesmas regras previstas para a ação de nulidade absoluta, tais
como a inexistência de prazos para sua declaração (não sujeita à decadência), a
possibilidade de sua propositura pelo Ministério Público e efeitos retroativos da
sentença (ex tunc).” (TARTUCE, 2023, p. 87). Também pode ser conhecida de ofício pelo
juiz, como nas hipóteses de casamento celebrado por autoridade absolutamente
incompetente, em razão da matéria.
i) quando resultar gravidez, conforme previsão do art. 1.551, CC. Prevalece a norma
constitucional que visa o amparo à família;
ii) confirmação do casamento pelo menor, após completar a idade núbil, com
autorização de seus representantes legais, se necessária, ou com suprimento judicial, de
acordo com o art. 1.553, CC.
O defeito físico é o não aparente e que tenha relação com a vida em comum,
conforme explica Paulo Lôbo:
d) O casamento também pode ser anulado se foi celebrado sob coação moral ou
vis compulsiva5, com fundamento nos arts. 1.550, III e 1.558, CC. Trata-se de vício da
vontade ou do consentimento, podendo-se observar, também, o art. 151, CC (TARTUCE,
2023, p. 95).
O prazo para sua anulação é decadencial de 4 anos, contados da celebração do
casamento (art. 1.560, IV, CC), sendo admitida a propositura somente pelo cônjuge que
sofreu a coação (art. 1559, CC).
O casamento nesta situação também pode ser convalidado quando houver
posterior coabitação voluntária entre os cônjuges e ciência do vício (art. 1.559, CC), pelo
tempo que o juiz entender que é razoável (TARTUCE, 2023, p. 96). Gonçalves (2023, p.
69) explica que “não terá, porém, esse condão a coabitação que também é uma
decorrência da violência ou da grave ameaça exercidas quando da manifestação do
consentimento.”
5
Carlos Roberto Gonçalves (2023, p. 69) explica a diferença nas formas de coação: “Trata-se de coação moral
ou relativa (vis compulsiva), que constitui vício do consentimento. Nesta, deixa-se uma opção ou escolha à
vítima: praticar o ato exigido pelo coator ou correr o risco de sofrer as consequências da ameaça por ele
feita. Trata-se, portanto, de uma coação psicológica. A coação física ou absoluta (vis absoluta), mais rara e
que se caracteriza pelo uso da violência atual, torna o casamento inexistente, em razão da ausência de
manifestação da vontade.”
55
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
explica Flávio Tartuce (2023, p. 102) a anulação do casamento cabe somente ao mandante,
que detém a titularidade dessa ação personalíssima.
Caio Mário da Silva Pereira, Nelson Nery Jr. e Rosa Maria Nery), que defendem a
produção de efeitos ex nunc (somente para o futuro) à sentença de anulação do
casamento, transitada em julgado, com fundamento no art. 177, CC.
O casamento nulo ou anulável pode gerar efeitos em relação à pessoa que o
celebrou de boa-fé (cônjuges) e aos filhos, sendo denominado casamento putativo, o
que será visto na sequência.
O casamento gera efeitos jurídicos amplos, com deveres para ambos os cônjuges
que pretendem essa comunhão plena de vida, situando-se no plano da eficácia do
casamento (terceiro degrau da Escada Ponteana).
Ambos os cônjuges assumem mutuamente a condição a condição de consortes,
companheiros e responsáveis pelos encargos da família, numa comunhão plena de vida
(art. 1.565, CC).
O primeiro efeito do casamento é quanto ao acréscimo do sobrenome do outro,
que é permitido a qualquer um dos nubentes (art. 1.565, § 1º, CC), desde que haja esta
intenção por parte de um ou ambos os nubentes.
O art. 1.565, § 2º, CC trata do planejamento familiar, dispondo que é livre
decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros
para o exercício desse direito, reiterando o princípio da liberdade ou da não intervenção
(art. 1.513, CC).
O art. 1.566, CC enumera os deveres de ambos os cônjuges no casamento,
começando pela fidelidade recíproca (art. 1.566, I, CC), que hoje é vista com ressalvas,
considerando a EC n. 66/2010 que alterou o art. 226, § 6º, CF/88, excluindo a menção à
separação judicial, o que fundamenta, para uma corrente doutrinária de peso, a
impossibilidade de discussão da culpa para a dissolução do casamento, para qualquer
finalidade.
Com entendimento minoritário, Flávio Tartuce (2023, p. 113) defende que em
casos excepcionais a culpa pode ser discutida para a dissolução do casamento (divórcio),
apenas para fins de alimentos e de responsabilidade civil, considerando exatamente o
fato de que a fidelidade continua sendo um dever do casamento e não uma mera
faculdade.
Outro dever dos cônjuges, previsto no art. 1.566, II, CC, é a vida em comum, no
domicílio conjugal, antigo dever de coabitação. Segundo Flávio Tartuce (2023, p. 113), o
conceito de coabitação tem sido analisado tendo em vista a realidade social, de modo a
admitir-se a coabitação fracionada, isto é, os cônjuges podem manter-se distantes, em
lares distintos, por boa parte do tempo, sem que haja o rompimento do afeto, do amor
existente entre eles, vínculo mais forte a manter a união.
61
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
A título de exemplo, o casal pode estabelecer que, quanto aos bens móveis,
incide o regime da separação de bens; em relação aos imóveis adquiridos, o
regime da comunhão parcial, criando justamente um regime misto. Também é
possível convencionar que somente haverá comunicação de quantias
depositadas em conta-corrente conjunta do casal, e assim sucessivamente.
(TARTUCE, 2023, p. 134)
Não é possível determinar regime de bens diferentes para cada cônjuge, isto é,
ainda que possam ser criados regimes atípicos, aquele que for escolhido será o mesmo
para ambos os cônjuges. “Como aplicação prática desse princípio, será nulo o pacto
antenupcial que determinar o regime da comunhão universal de bens para o marido e o
da separação de bens para a esposa.” (TARTUCE, 2023, p. 135).
Como exceção ao referido princípio, Flávio Tartuce (2023, p. 135) cita o tratamento
diferenciado no casamento putativo quando há má-fé de um dos cônjuges (art. 1.561, CC).
Neste caso, o cônjuge de boa-fé é atingido pelos efeitos do casamento, isto é, terá a seu
favor a aplicação das regras relativas ao regime de bens adotado. Por outro lado, o cônjuge
de má-fé estará submetido às regras obrigacionais relacionadas ao enriquecimento sem
causa, tendo de provar os bens que foram adquiridos pelo trabalho e esforços próprios,
nos termos do art. 884, CC, perdendo em favor do cônjuge de boa-fé todas as vantagens
advindas do casamento, sendo a ele imputada a culpa, conforme previsto no art. 1.564, I,
CC.
65
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
O Código Civil consagra quatro regimes de bens: o da comunhão parcial (arts. 1.658
a 1.666), o da comunhão universal (arts. 1.667 a 1.671), o da participação final nos
aquestos (arts. 1.672 a 1.686) e o da separação (arts. 1.687 e 1.688).
No silêncio dos nubentes, ou se o pacto antenupcial que determinou regime
diverso for nulo ou ineficaz, prevalece o regime da comunhão parcial, que é o regime
legal ou supletório (art. 1.640, caput, CC).
Qualquer um dos regimes adotados começa a vigorar desde a data do casamento
(art. 1.639, § 1º, do CC).
Os artigos 1.642 e 1.643, CC tratam dos atos que podem ser praticados por
qualquer um dos cônjuges, independentemente do regime de bens adotado. No art. 1.642,
CC trata de atos de disposição e administração que são inerentes à vida profissional do
cônjuge, necessários ao desempenho de sua profissão ou trabalho, com repercussões
econômicas. Normalmente estão relacionados ao desempenho de atividades como
autônomos, profissionais liberais, ou empresários, como a disposição ou alienação de
bens.
Os atos referidos no art. 1.643, CC estão relacionados com a administração geral
das economias domésticas. “Não se incluem as despesas suntuárias ou supérfluas, ainda
que tendo destino o lar conjugal, pois não se enquadram na economia doméstica
cotidiana.” (LÔBO, 2022, p. 362).
O art. 1.644, CC complementa o art. 1.643, determinando a solidariedade de ambos
os cônjuges quanto a essas dívidas, excluindo, por óbvio dívidas pessoais de um dos
cônjuges contraídas em seu único e exclusivo interesse. Desta forma, as mensalidades
escolares dos filhos do casal pode ser cobrada do cônjuge que não está no contrato,
com fundamento nos arts. 1.643 e 1.644, CC, conforme entendimento do STJ (REsp
1.472.316/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 05/12/2017;
DJe 18/12/2017).
O art. 1.645, CC prevê que os legitimados ativos para as ações fundadas nos
incisos III, IV e V do art. 1.642, CC serão o cônjuge prejudicado e seus herdeiros.
Ainda, conforme o art. 1.646, CC, o terceiro eventualmente prejudicado com a
sentença proferida nas referidas ações judiciais fundadas nos incisos III e IV, do art.
1.642, CC, terá direito de regresso contra o cônjuge que realizou o negócio jurídico ou
seus herdeiros, conforme explica Paulo Lôbo:
Nesses casos, a decisão judicial acarretará prejuízo ao terceiro de boa-fé, que foi
beneficiário da fiança, do aval ou da doação. Cabe-lhe ação regressiva contra
o cônjuge que os concedeu, indevidamente, ou seus herdeiros, desde que
prove o prejuízo real e direto. Os herdeiros apenas responderão nos limites da
herança recebida. (LÔBO, 2022, p. 363).
uxória (mulher) e outorga ou vênia marital (marido). São atos, portanto, que para sua
validade precisam da autorização do outro cônjuge, seja marido ou mulher.
A autorização é dispensada somente se os cônjuges forem casados pelo regime
da separação absoluta de bens, que consiste na separação convencional, mas aplica-se
no caso de separação legal ou obrigatória.
A falta da autorização ou outorga conjugal pode ser suprida pelo juiz, de acordo
com o art. 1.648, CC. A existência ou não de motivo justo pelo cônjuge que nega a
autorização será verificada pelo juiz no caso concreto. Pode ainda ser suprida a autorização
quando é impossível ao cônjuge concedê-la, como, por exemplo, quando ele estiver em
local incerto e não sabido.
Os atos previstos no art. 1.647, CC que forem praticados pelo cônjuge sem a
outorga do outro serão anuláveis, nos termos do art. 1.649, CC. Desta forma, o outro
cônjuge pode pedir a anulação no prazo de até dois anos após o término da sociedade
conjugal (art. 1.571, CC), bem como seus herdeiros, no mesmo prazo (art. 1.650, CC),
caso o cônjuge venha a falecer.
O ato pode ser convalidado posteriormente pelo outro cônjuge, antes do fim do
prazo decadencial, porque depois já estará automaticamente convalidado. A aprovação
conjugal dentro do prazo necessita de instrumento público ou particular autenticado
(parágrafo único do art. 1.649, CC).
De acordo com o art. 1.651, CC, se um dos cônjuges não puder exercer a
administração dos bens do casamento, segundo o regime de bens, o outro deverá fazê-
la, observando-se o art. 1.652, CC, visando à proteção dos bens do casamento.
Exige a forma pública para sua validade (art. 1.653, CC), pois interessa, também,
a terceiros (parentes ou estranhos). Neste sentido, trata-se de forma ad solemnitatem ou ad
substantiam. Portanto, se a forma legal exigida não for obedecida, o pacto é nulo (arts.
166, IV e V, CC) e não tem qualquer valor a indicação do regime de bens, prevalecendo o
regime legal (art. 1.653, CC).
Pode ser realizado em qualquer cartório de notas, pessoalmente ou por via
eletrônica ou digital (Provimento CNJ n. 100/2020) e seu traslado será anexado aos
documentos que instruem o processo de habilitação ao casamento, no cartório de registro
de pessoas naturais.
O pacto antenupcial é negócio celebrado sob condição suspensiva, pois sua eficácia
depende da realização do casamento (art. 1.653, CC). Se não ocorrer o casamento por
desistência ou morte de um dos nubentes, o pacto caducará, sem necessidade de qualquer
intervenção judicial. Entretanto, o legislador se omitiu quanto ao prazo para realização
do casamento e a caducidade do pacto antenupcial e, neste caso, Carlos Roberto
Gonçalves (2023, p. 186) explica que, “se este não se efetua em tempo razoável,
qualquer dos contratantes pode denunciá-lo. Se no próprio pacto acordaram as partes em
período certo, para dentro dele se celebrarem as núpcias, vale a convenção até que o
prazo se extinga”. Flávio Tartuce (2023) levanta interessante hipótese de conversão
do negócio ineficaz ou pós-eficacização, quando o casamento não for realizado, mas
os nubentes passarem a viver em união estável: o pacto antenupcial poderia ser
aproveitado como contrato de convivência? Tartuce cita Cristiano Chaves de Farias e
Nelson Rosenvald, que entendem por esta possibilidade. O próprio Tartuce (2023, p.
169) também entende que é possível o reconhecimento da eficácia pela situação
concreta posterior, ou seja, a convivência entre os envolvidos, somando-se ao
princípio da conservação do negócio
jurídico, que tem relação direta com a função social do contrato.
A capacidade para a celebração do pacto antenupcial é a mesma exigida para o
casamento. Desta forma, também exige assistência do representante legal para o menor
em idade núbil (entre 16 e 19 anos) realizar pacto antenupcial, que não se confunde
com o consentimento para o casamento (art. 1.654, CC).
O art. 1.657, CC prevê que o pacto antenupcial deve ser registrado em livro
especial, no cartório de registro de imóveis do domicílio dos cônjuges, para ter validade
70
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
contra terceiros, ou seja, efeitos erga omnes, a fim de alertar qualquer pessoa sobre a
modificação no domínio do bem imóvel. Trata-se, portanto, de uma exigência para
proteção dos direitos de terceiros. O pacto não registrado no ofício imobiliário possui
validade somente entre os nubentes, pois em relação a terceiros serão considerados
casados pelo regime da comunhão parcial de bens.
A liberdade contratual dos nubentes é limitada aos princípios em conformidade
com à ordem pública. Portanto, de acordo com o art. 1.655, CC, serão consideradas
nulas as disposições do pacto antenupcial que contrariem norma legal cogente, isto é,
disposições de lei imperativa ou proibitiva.
Desta forma, os nubentes podem prever estipulações de caráter econômico, mas
não podem alterar as normas legais sobre direitos conjugais, paternos e maternos,
como, por exemplo, dispensem os cônjuges do dever de fidelidade, coabitação, mútua
assistência, sustento e educação dos filhos e exercício do poder familiar.” (GONÇALVES,
2023, p. 185); renúncia prévia ao direito de alimentos (violação ao art. 1.707, CC) ou
disposição sobre regulamentação de guarda dos filhos em caso de divórcio.
Também são nulas cláusulas que alterem a ordem de vocação hereditária, com
exclusão da sucessão dos herdeiros necessários (art. 1.845, CC), ou renúncia ao direito
de herança, pois viola o disposto no art. 426, CC (pacta corvina), bem como cláusula que
afaste o regime da separação obrigatória de bens, nas hipóteses descritas pelo art.
1.641, CC.
Em que pesem essas restrições, não há impedimento jurídico para que o pacto
antenupcial contemple cláusulas de conteúdo existencial, tais como relativas à boa
convivência do casal, conforme definido na VIII Jornada de Direito Civil (2018): “Enunciado
635. O pacto antenupcial e o contrato de convivência podem conter cláusulas
existenciais, desde que estas não violem os princípios da dignidade da pessoa humana,
da igualdade entre os cônjuges e da solidariedade familiar”. (TARTUCE, 2023, p. 174).
O advogado familiarista Rodrigo da Cunha Pereira exemplifica algumas cláusulas
existenciais mais comuns nos pactos antenupciais brasileiros:
Nos países do sistema common law, especialmente nos EUA, são conhecidos
os pactos de casais famosos envolvendo sexo e patrimônio. A atriz Jennifer
Lopes e o ator Bem Affeck, segundo notícias de jornais, estabeleceram em seu
pacto antenupcial a obrigação de relações sexuais de qualidade, quatro vezes
por semana; Catherine Zeta-Jones e Michael Douglas condicionaram o
casamento a tratamento do noivo de um distúrbio ninfomaníaco, sob pena de
multa milionária; Nicole Kidman estabeleceu em seu pacto pré-nupcial que o
cantor Keth Urban receberia um prêmio de US$ 600 mil por ano se ele se
mantivesse livre de drogas ilícitas e não tivesse relação com outras mulheres;
o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, conhecido como um workaholic,
estabeleceu em seu pacto com Priscilla Chan que, além de fazer sexo no
mínimo uma vez por semana, ele deveria ter pelo menos cem minutos de
tempo dedicado a ela; Justin Timberlake e Jessica Biel estabeleceram multa
em caso de traição.
Na Inglaterra, a rainha Elizabeth II exigiu que William e Kate Middleton
assinassem um pacto antenupcial em que ela perderia o título de duquesa, o
trono, a casa e a guarda dos filhos, e seria impedida de falar com a mídia, se
se divorciasse. (PEREIRA, 2022).
Havendo cláusula com vício, o pacto antenupcial ainda é válido nas disposições
restantes que não contrariem a ordem pública. Ainda, se for anulável, pode ser
convalidado após o casamento, retroagindo à data da sua celebração (GONÇALVES,
2023, p. 186).
O pacto antenupcial possui natureza acessória, por isso, se o casamento for anulado
ou dissolvido (divórcio, morte), cessam os seus efeitos.
Este é o regime legal ou supletório, o que significa dizer que vale e é eficaz para o
casamento quando os cônjuges não escolherem outro regime, mediante pacto
antenupcial, ou se o pacto for declarado nulo ou ineficaz (art. 1.640, CC). Também é o
regime legal para a união estável, quando não for pactuado outro entre os conviventes
(art. 1.725, CC).
O art. 1.658, CC estabelece a regra básica para o regime da comunhão parcial de
bens, isto é, os bens adquiridos durante o casamento se comunicam, com exceção
daqueles previstos na própria lei, que são chamados de incomunicáveis. Assim, este regime
se caracteriza pela convivência de bens particulares e bens comuns, resultando três massas
patrimoniais distintas: os bens particulares de um cônjuges; os bens particulares do
outro cônjuge; os bens comuns. Esta divisão é marcada pela data da celebração do
casamento.
Os bens incomunicáveis são tratados no art. 1.659, CC, em rol taxativo (numerus
clausus):
I - Os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na
constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
73
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Os bens comunicáveis são chamados aquestos, ou seja, aqueles que cada um dos
cônjuges, ou ambos, adquire a vigência do casamento, por qualquer título, que
integrarão a comunhão, se assim estiver previsto ou se não houver disposição em
contrário no pacto antenupcial (DINIZ apud TARTUCE, 2023, p. 178).
Os aquestos no regime da comunhão parcial de bens estão definidos no art. 1.660,
CC:
76
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
comunhão parcial. Tal valor é incomunicável, pois a sua causa é anterior ao matrimônio”
(DINIZ apud TARTUCE, 2023, p. 185).
O art. 1.662, CC trata de uma presunção relativa sobre os bens móveis,
considerando que foram adquiridos na constância do casamento e, portanto, são
comunicáveis. Todavia, cabe prova em contrário de quem alega que o bem é exclusivo e
incomunicável.
Conforme o art. 1.663, CC, a administração do patrimônio comum compete a
qualquer um dos cônjuges, e não inclui o poder para vender, doar ou alienar bens
imóveis, doar bens móveis, prestar fiança ou aval, cujos atos dependem de autorização
do outro cônjuge. Inclui, todavia, a venda ou permuta de bens móveis (LÔBO, 2023, p.
171).
As dívidas contraídas durante a administração obrigam os bens comuns, pois
presumem-se feitas no interesse da família. Os bens particulares do cônjuge administrador
também respondem, independentemente se agiu com diligência ou desídia. Já os bens
particulares do outro cônjuge respondem na razão do proveito que houver auferido (§
1º, art. 1.663, CC), conforme exemplifica Flávio Tartuce:
De início, imagine-se uma situação em que o marido tem uma empresa, anterior
ao casamento, e a administra sozinho. Nesse caso, a parte que tem nos bens
comuns e os bens exclusivos da esposa não responde por dívidas contraídas pelo
marido na administração da empresa, já que o bem é anterior.
Por outra via, se a empresa foi constituída na vigência do matrimônio, sendo
de ambos e administrada pelo marido, que contrai dívidas, responderão tanto
os bens particulares do marido quanto os bens comuns, em regra.
Eventualmente, se a mulher for beneficiada por essa administração
responderão os seus bens particulares, na proporção da vantagem produzida.
Conforme o art. 1.669, CC os frutos são comunicáveis, mesmo que se refiram aos
bens incomunicáveis (art. 1.668, CC), desde que vençam ou sejam percebidos na
constância do casamento.
Em relação à indenização por verbas trabalhistas e o saldo depositado em conta
de FGTS, o STJ tem entendido por sua comunicação no regime da comunhão universal,
assim como ocorre com o regime da comunhão parcial.
Conforme o art. 1.670, CC a administração dos bens na comunhão universal rege-
se pelas mesmas regras da comunhão parcial, ou seja, aplicam-se os artigos 1.663, 1.665
e 1.666.
A comunhão universal extingue-se com o divórcio, o falecimento de um dos
cônjuges, a separação de fato e quando o regime for alterado para outro, mediante
autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges (CC, art. 1.639, § 2º).
Todavia, a responsabilidade dos cônjuges pelas dívidas que foram contraídas por
qualquer deles na constância do casamento permanece até que seja efetivada a divisão
do ativo (bens e créditos) e do passivo (dívidas e obrigações) do casal, de modo a se
distinguir a responsabilidade de cada qual perante os credores (art. 1.671, CC).
Paulo Lôbo (2023, p. 176) explica que devido à sua complexidade não possui
tradição na experiência brasileira. Agrega elementos da comunhão parcial, separação
absoluta e apuração contábil de passivo e ativo: “os bens adquiridos antes ou após o
casamento constituem patrimônios particulares dos cônjuges, da mesma forma que as
82
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
dívidas que cada um contrai, mas, na dissolução da sociedade conjugal, os bens são
considerados segundo o modelo da comunhão parcial.” (LÔBO, 2023, p. 176).
Aquestos, para o presente regime, consiste nos bens adquiridos a título oneroso,
pelos cônjuges, na constância do matrimônio (art. 1.672, CC), excluindo-se os que que
foram recebidos por liberalidade (doação ou sucessão hereditária) de terceiro. (LOBO,
2023, p. 176).
Conforme explica Flávio Tartuce (2023, p. 194), não há dúvidas de que durante o
casamento há uma separação de bens. Entretanto, quando da dissolução não há
propriamente uma meação, como estabelece o Código Civil, mas uma participação de
acordo com a contribuição de cada um para a aquisição do patrimônio, a título oneroso.
O art. 1.673, CC determina os bens que integram o patrimônio próprio de cada
cônjuge: bens que cada um possuía ao se casar e aqueles adquiridos, a qualquer título na
constância do casamento. A administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que
pode aliená-los livremente, desde que sejam móveis (parágrafo único, art. 1.673, CC).
Com relação aos bens imóveis, a regra para alienação é a mesma para todos os
regimes, com exceção da separação absoluta, ou seja, terá de haver autorização do
outro cônjuge, ou suprimento judicial, se a recusa for injustificada (art. 1.647, I, CC).
Mediante pacto antenupcial que adotar esse regime é possível convencionar
expressamente a livre alienação dos bens imóveis particulares (art. 1.656, CC).
No momento da dissolução da sociedade conjugal (divórcio, anulação do
casamento e a morte de um ou de ambos os cônjuges) serão apurados, contabilmente,
todos os bens adquiridos durante o casamento ou os respectivos valores, se tiverem
sido alienados e não houve sub-rogação de outros em seu lugar. Somam-se os
patrimônios próprios de cada cônjuge, observando-se somente a parte adquirida
onerosamente após o casamento, formando-se o patrimônio comum para apuração das
respectivas meações. Havendo saldo em favor de um cônjuge, este será credor do outro
referente ao respectivo montante (art. 1.672, CC).
Devem ser excluídos da soma dos patrimônios próprios os seguintes bens,
conforme o art. 1.674, CC: bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-
rogaram (substituição real ou objetiva); bens que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão
ou liberalidade e as dívidas relativas a esses bens.
83
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Quanto aos bens móveis existe uma presunção relativa (juris tantum) de que foram
adquiridos durante o casamento, salvo prova em contrário (parágrafo único do art.
1.674, CC). Portanto, presume-se a comunicação ou participação quanto aos bens
móveis.
O valor de eventuais doações realizadas por um dos cônjuges, sem a necessária
autorização do outro, também será computado no montante dos aquestos (art. 1.675, CC).
Nesse caso, o bem poderá ser reivindicado pelo cônjuge prejudicado ou por seus herdeiros
(anulação da doação – arts. 1.647 e 1.649, CC); ou declarado no monte partilhável por valor
equivalente ao da época da dissolução.
Os bens alienados, mas substituídos por outros (sub-rogados), têm o valor destes
levado em conta. Se a alienação não foi seguida da aquisição de novo bem, considera-se
o valor do dia da alienação, devendo ser atualizado monetariamente até à data da dissolução
(LÔBO, 2023, p. 177).
Conforme Brandão, citada por Paulo Lôbo (2023), não é uma operação contábil
simples:
Cada cônjuge responde pelas dívidas contraídas após o casamento, salvo prova
de terem revertido, parcial ou totalmente, em benefício do outro ou do casal (art. 1.677,
CC).
Ainda quanto às dívidas, se um dos cônjuges pagou divida do outro com bens do
seu patrimônio, o valor do pagamento deve ser atualizado e imputado, na data da
dissolução, à meação do outro cônjuge (art. 1.678, CC). O ônus da prova do pagamento
é de quem alega que o realizou.
Os bens adquiridos pelo trabalho conjunto formará um condomínio, indicando que
cada um dos cônjuges possui uma quota igual no condomínio ou no crédito por aquele
modo estabelecido (art. 1.679, CC). Neste caso a regra é da divisão igual, cabendo ao
cônjuge que contribuiu com parte maior a prova desta colaboração.
84
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Conforme o art. 1.683, CC, o montante dos aquestos é verificado na data em que
cessou a convivência, e não a da decisão judicial ou a da escritura pública do divórcio, “o
que visa a evitar fraudes por aquele que detêm a titularidade ou a posse do bem
partível” (TARTUCE, 2023, p. 195). “A convivência conjugal cessa quando há separação
de fato, ou seja, quando os cônjuges cortam os liames afetivos que os uniam. É matéria
de fato, cuja controvérsia será objeto de prova.” (LÔBO, 2023, p. 177).
Acrescenta Paulo Lôbo (2023, p. 177), que na hipótese da morte será observada
a data do óbito, e na anulação do casamento, a data do trânsito em julgado da sentença.
De acordo com o art. 1.684, CC, se não for possível realizar a divisão de todos os
bens em natureza, os seus valores serão calculados para reposição em dinheiro ao cônjuge
não proprietário. Se a reposição em dinheiro também não for possível, os bens serão
avaliados e alienados mediante autorização judicial, para pagamento das respectivas
quotas.
Paulo Lôbo (2023, p. 178) exemplifica o cálculo para partilha no regime da
participação final nos aquestos, conforme formulação de Oliveira e Muniz:
Conforme Paulo Lôbo (2023, p. 71), somente os próprios cônjuges podem pedir o
divórcio. Esclarece o autor, todavia, que é possível a representação excepcional do cônjuge
quando declarado incapaz ou que, por alguma circunstância ocasional, não possa ajuizar
diretamente a ação ou defender-se, sendo representado por seu curador, ou por
ascendente ou pelo irmão, conforme o art. 1.582, CC.
Há hoje entendimento doutrinário sobre a possibilidade de divórcio liminar, com
fundamento no art. 311, CPC, que prevê a concessão de tutela da evidência quando ficar
caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte,
ou quando as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente.
“Nessa hipótese, considerando que a decisão tem caráter irreversível, as questões
controvertidas, relativamente à convivência com os filhos, alimentos e partilha devem
ser objeto de apreciação distinta.” (LÔBO, 2023, p. 71).
Conforme a Lei n. 13.894/2019, que alterou a Lei Maria da Penha (Lei n.
11.340/2006), o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra à Mulher é
competente para julgar ações de divórcio, anulação de casamento ou dissolução da
união estável, exceto quanto à partilha de bens.
A competência para a ação de divórcio está regulada no art. 53, CPC, determinando
o foro do guardião do filho incapaz, ou do último domicílio do casal se não houver filho
incapaz, ou do domicílio do réu se nenhuma das partes residir no último domicílio do casal.
O divórcio deve ser averbado no registro de casamento, para fins de publicidade
e efeitos contra terceiros. Se for judicial, os ex-cônjuges levarão o mandado de averbação
ou a sentença com este efeito, no cartório em que o casamento foi registrado. No
divórcio extrajudicial, o traslado extraído da escritura pública é o instrumento hábil para
averbação do divórcio junto ao registro público do casamento e para o registro de imóveis,
se houver.
A separação de fato não é mais requisito para decretação do divórcio direto, que
deixou de existir com a EC n. 66/2010. No entanto, alguns efeitos ainda são
considerados. O primeiro deles está no § 1º do art. 1.723 do CC, que se refere à união
estável. O cônjuge separado de fato pode iniciar união estável com outra pessoa,
imediatamente,
91
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
sem impedimento legal, passando a incidir o regime legal de comunhão parcial de bens
na nova união.
Desta forma, a separação de fato constitui o fim da sociedade conjugal, ainda
que não dissolva o casamento. Neste sentido, a separação de fato gera a cessação dos
deveres conjugais (art. 1.566, CC) e a interrupção do regime matrimonial de bens.
Se os cônjuges adquirirem bens após a separação de fato, serão exclusivos de
cada um, independentemente do regime de comunhão adotado, haja vista sua interrupção.
Este entendimento privilegia o princípio que veda o enriquecimento sem causa.
Outro efeito relevante é que a separação de fato altera o regime sucessório. O
art. 1.830, CC determina que somente é reconhecido o direito sucessório ao cônjuge
sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente,
nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa
convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente. Hoje a jurisprudência tem
relativizado este prazo da separação de fato, considerando que não há direito à herança
do cônjuge sobrevivente, mesmo que o prazo seja inferior a dois anos.
Paulo Lôbo (2023, p. 76) cita também o art. 197, I, CC, que estabelece a
suspensão do prazo prescricional entre os cônjuges na vigência da sociedade conjugal.
Neste sentido, o STJ decidiu que não se aplica a referida suspensão aos cônjuges
comprovadamente separados de fato (REsp n. 1.660.947, julgado em 08/11/2022).
Não havendo acordo sobre a partilha, os pedidos individuais serão decididos pelo
juiz, que considerará, em princípio, as regras aplicáveis ao regime de bens do casal.
Caso não tenha sido realizada a partilha de bem comum, é possível que o ex-
cônjuge exija indenização ou arbitramento de aluguel pelo uso exclusivo do bem pelo
outro. Este direito não se aplica no caso de afastamento do cônjuge por violência
doméstica, conforme decidido pelo STJ:
Se algum bem ou valor econômico do casal não for incluído na partilha, ou cuja
titularidade tiver origem durante a convivência conjugal, ainda que sua disponibilidade
tenha ocorrido após o divórcio, será necessário o procedimento de sobrepartilha.
Uma questão bastante controvertida na atualidade é sobre os animais comuns do
casal. Ainda não existe lei específica sobre o tema e as opiniões são divergentes, pois há
quem defenda a aplicabilidade das mesmas normas relacionadas à guarda de filhos para
guarda de animais de estimação do casal.
Entretanto, o fato de os animais serem categorizados pelo Código Civil como coisas
(semoventes - bens móveis), conforme se depreende da dicção dos arts. 82, 445, § 2.º,
936, 1.444, 1.445 e 1.446, dificulta o fundamento da analogia de normas quanto à proteção
dos filhos (pessoas naturais).
O STJ se posicionou em duas oportunidades sobre a matéria em questão. O
primeiro case foi julgado em 19/06/2018, pela Quarta Turma, no REsp n. 1.713.267/SP,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, em que o ex-companheiro exigia da ex-companheira o
direito de visitas à cadela de estimação que teria ficado com ela após a dissolução da união
estável, impedindo-o de visitá-la. Foi julgado procedente o pedido do ex-companheiro,
reconhecendo o direito de visitas ao ex-companheiro, podendo destacar-se a ementa:
Assim, a questão ainda será bastante debatida até que se tenha um consenso,
seja através de uma decisão uniforme do STJ ou de uma lei específica tratando do tema.
O entendimento atual, com base na CF/88 (art. 226, § 3º), é que a união estável é
a entidade familiar constituída por duas pessoas que convivem em posse do estado de
casado, ou com aparência de casamento (more uxorio). É um estado de fato que se
converteu em relação jurídica em virtude de a Constituição e a lei atribuírem-lhe dignidade
de entidade familiar própria, com seus próprios direitos e deveres.
Trata-se de entidade familiar que tem como referência estrutural o casamento, mas
dele se distingue com relação ao seu próprio estatuto jurídico, sem hierarquia.
Em que pesem os entendimentos sobre a igualdade plena entre as duas
entidades familiares (casamento e união estável), prevalece a corrente que defende a
equiparação somente para os fins de normas de solidariedade familiar: regras
sucessórias, alimentos e regime de bens. No entanto, quanto às normas de
formalidades, como as relativas à existência formal da união estável e do casamento, aos
requisitos para a ação de alteração do regime de bens do casamento (art. 1.639, § 2.º, do
CC e art. 734 do CPC) e às exigências de outorga conjugal, a equiparação não deve ser
total (TARTUCE, 2023, p. 339).
A união estável sempre existiu, mas era vista de forma estigmatizada sob a
denominação de concubinato, tendo em vista a cultura patriarcal. Coube aos tribunais
brasileiros construir soluções para minimizar a discriminação e desconsideração legal,
principalmente à mulher, que “era relegada ao mundo dos sem direitos, quando dissolvido
o concubinato, pouco importando que derivasse de convivência estável e que
perdurasse por décadas, normalmente com filhos” (LÔBO, 2023, p. 77).
Neste contexto, em 1964, o STF editou duas Súmulas que buscavam soluções
equitativas, levando em conta o evidente enriquecimento sem causa do companheiro
(homem) em relação à companheira:
- Súmula 380: “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos,
é cabível a sua dissolução judicial com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço
comum”.
Súmula 382: “A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é
indispensável à caracterização do concubinato”.
97
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Melhor seria que as matérias contidas nos arts. 1.723 a 1.727 fossem
distribuídas, de acordo com sua natureza, entre os direitos pessoais e os
patrimoniais, como se fez com o casamento. Afinal, as relações de parentesco,
a autoridade parental, o direito de filiação, a guarda dos filhos, por exemplo, são
comuns ao casamento e à união estável, e até mesmo à união monoparental.
(LÔBO, 2023, p. 78).
98
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
O art. 1.723, CC, que regulamenta o art. 226, § 3º, da CF/1988, juntamente com a
decisão do STF na ADI 4.277/2011 (reconhecimento da união estável homoafetiva),
considera como requisitos da união estável:
a) relação afetiva entre os companheiros, de sexo diferente ou de mesmo sexo;
b) convivência pública, contínua e duradoura;
c) escopo de constituição de família;
d) possibilidade de conversão para o casamento. (LÔBO, 2023, p. 78).
A união pública é aquela notória, ou seja, não pode ser oculta ou clandestina; é
contínua, pois não há interrupções; duradoura; com objetivo de os companheiros
estabelecerem família (animus familiae).
Segundo Tartuce (2023, p. 343), para a configuração da intenção de constituir
família, entram em cena o tratamento dos companheiros (tractatus), bem como o
reconhecimento social de seu estado (reputatio), que são critérios para a configuração
da posse de estado de casados (art. 1.545, CC).
A intenção de constituir família é que diferencia cabalmente o namoro da união
estável. Segundo José Fernando Simão, citado por Tartuce (2023, p. 345), se há um projeto
futuro de constituição de família, trata-se de namoro; se há uma família já constituída, com
ou sem filhos, trata-se de união estável.
Conforme Paulo Lôbo (2023, p. 79) “constituição, para os fins da norma, deve ser
entendida como início e desenvolvimento da entidade familiar.” Portanto, este requisito é
objetivo e que diferencia a união estável de outros relacionamentos afetivos, como a
amizade, a camaradagem entre colegas de trabalho, as relações religiosas.
99
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Percebe-se que a lei não exige que os companheiros convivam sob o mesmo
teto, pois a Súmula n. 382/STF (1964) permanece em vigor, bem como não se exige
tempo mínimo. A estabilidade da convivência não é afetada por essa circunstância, pois
decorre da conduta fática nos espaços públicos e sociais, como se casados fossem, e das
relações pessoais dos companheiros, sendo presumida quando conviverem sob o
mesmo teto ou tiverem filho. “Evidentemente, essas presunções admitem prova em
contrário, pois o filho pode resultar de relacionamento casual, sem qualquer convivência dos
pais e a convivência sob o mesmo teto pode não ter natureza afetiva.” (LÔBO, 2023, p.
79).
O § 1º do art. 1.723, CC estabelece que a união estável não se constituirá se
ocorrerem os impedimentos do art. 1.521 (parentesco ou crime), exceto no caso de a
pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente (ou extrajudicialmente).
O § 2º do art. 1.723, CC enuncia que as causas suspensivas do casamento (art.
1.523, CC) não impedem a caracterização da união estável. Deve-se lembrar que a questão
está relacionada com os efeitos patrimoniais, pois as pessoas casadas em infração à
causa suspensiva terão como regime a separação obrigatória de bens. Neste sentido, no
item próprio sobre os reflexos patrimoniais na união estável, este assunto será
analisado.
Não é necessário qualquer requisito formal obrigatório para que a união estável
reste configurada, como a necessidade de elaboração de uma escritura pública entre as
partes ou de uma decisão judicial de reconhecimento (TARTUCE, 2023, p. 344), pois
trata- se de um ato-fato jurídico, que não necessita de qualquer manifestação de
vontade para que produza seus jurídicos efeitos. “Basta sua configuração fática, para que
haja incidência das normas constitucionais e legais cogentes e supletivas e a relação fática
converta-se em fato jurídico.” (LÔBO, 2023, p. 78).
Todavia, o CNJ, por meio do Provimento n. 37/2014, atualizado pelo Provimento
n. 141, de 16/03/2023, estabelece a faculdade do registro da união estável, no Livro “E”
do cartório de registro civil das pessoas naturais da comarca em que os companheiros têm
ou tiveram seu último domicílio. O referido registro confere efeitos jurídicos à união
estável perante terceiros, mas não altera a natureza de ato-fato jurídico da união
estável, que se constitui independentemente de qualquer ato, celebração ou registro.
Flávio Tartuce (2023, p. 353) alerta sobre a necessidade de capacidade e
discernimento das partes para constituição de uma união estável, sob pena de sua nulidade
100
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
(arts. 104 e 166, CC) ou inexistência. Em princípio, deve-se registrar que o Estatuto da
Pessoa com Deficiência consagra a capacidade plena dessas pessoas para os atos
existenciais familiares, inclusive para se casar ou constituir união estável (art. 6º, I).
Todavia, a discussão existe sobre a possibilidade de união estável para menores
de 16 anos, haja vista a ausência de norma específica relativa à capacidade para a
constituição da união estável, em comparação ao casamento que exige a idade núbil sob
pena de anulação (arts. 1.517; 1.550, I, CC).
Flávio Tartuce (2023, p. 354) explica que é forte o entendimento doutrinário e
jurisprudencial no sentido de que devem ser observados, por analogia, os mesmos critérios
presentes para o casamento. Neste sentido, a união estável do menor de 16 anos
deveria ser tida como nula ou até como inexistente. Isso porque, em havendo
incapacidade para o casamento, esta também se faz presente para a união estável.
Todavia, este posicionamento não é unânime, pois o próprio Tartuce (2023, p. 354)
apresenta reflexões considerando a natureza jurídica da união estável, sustentando que
a hipótese fática de união estável do menor de 16 anos deve ser de efetividade do
instituto, sendo viável doutrinariamente adotá-lo em casos tais.
Alguns efeitos do casamento são comuns à união estável, conforme cita Paulo Lôbo
(2023, p. 78): impedimentos para constituição, direitos e deveres comuns, regime legal
de bens, alimentos, autoridade parental, relações de parentesco, filiação.
No que andou bem a nossa Lei Maior, ajuízo, pois ao Direito não é dado sentir
ciúmes pela parte supostamente traída, sabido que esse órgão chamado coração
‘é terra que ninguém nunca pisou’. Ele, coração humano, a se integrar num
contexto empírico da mais entranhada privacidade, perante a qual o
Ordenamento Jurídico somente pode atuar como instância protetiva. Não
censora ou por qualquer modo embaraçante (...). (BRASIL, STF, RE n. 397.762-
8/BA, 2008 – voto do Min. Carlos Ayres Brito).
Neste sentido, o Min. Carlos Ayres Brito fundamentou a existência das uniões
paralelas, reconhecendo a união estável de 37 anos, pois havia um núcleo doméstico
duradouro, com a concreta disposição do casal para construir um lar com um subjetivo
ânimo de permanência que o tempo objetivamente confirmou. Segundo o Ministro,
“Isto
103
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Neste caso, conforme explicam Tartuce e Oliveira (2023), se o novo regime for o da
comunhão parcial de bens, bastará a apresentação de uma declaração expressa e
específica dos companheiros nesse sentido, que poderá constar do próprio requerimento
de conversão da união estável em casamento.
Por outro lado, se os companheiros optarem por regime diverso, deverão
apresentar uma escritura pública de pacto antenupcial, conforme o art. 9º-D, §§ 2º, 3º e
5º, I e II, do Provimento n. 37/2014-CNJ, alterado pelo provimento n. 141/2023.
Paulo Lôbo (2023, p. 84) explica que a conversão da união estável em casamento
não produz efeitos retroativos. Neste sentido, as relações pessoais e patrimoniais da união
estável permanecerão com seus efeitos próprios, constituídos durante o período de sua
existência até à conversão:
A dissolução da união estável pode ocorrer por meio de contrato, desde que não
entre em conflito com normas de ordem pública.
No entanto, para algumas situações pode ser necessária uma ação específica para
pleitear efeitos pessoais ou patrimoniais decorrentes da união. Trata-se da ação de
reconhecimento e dissolução da união estável.
Para todos os fins processuais, a união estável está equiparada ao casamento. O
CPC/2015, nos arts. 693 ao 699, regula as ações de Direito de Família, que se aplicam a
ação de reconhecimento e dissolução da união estável.
Nos termos do art. 53, I, CPC, o foro competente da referida ação é, em regra, o
de domicílio do guardião do incapaz, tramitando perante a Vara da Família.
Caso não haja filho incapaz, será competente o foro do último domicílio do casal.
Se nenhuma das partes residir no domicílio do casal, será competente o domicílio do
réu. Segundo a Lei n. 13.894/2019, que admite a vulnerabilidade da mulher em
decorrência de violência doméstica ou familiar, a competência será do foro de
residência
da pessoa sob violência.
A dissolução de união estável na forma consensual seguirá os mesmos trâmite da
homologação do divórcio consensual, conforme o arts. 731 e 732, CPC. A partilha de
bens pode ser realizada em procedimento posterior à homologação da extinção da
união estável, seguindo o procedimento dos arts. 647 a 658, CPC.
A extinção da união estável também pode ser realizada de forma extrajudicial
(escritura pública), desde que o casal não tenha filhos incapazes, nem nascituro (art.
733, CPC), e esteja assistidos por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e
assinatura constarão do ato notarial.
112
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
IV RELAÇÕES DE PARENTESCO
“Parentesco é a relação jurídica estabelecida pela lei ou por decisão judicial entre
uma pessoa e as demais que integram o grupo familiar.” (LÔBO, 2023, p. 98)
Em uma visão clássica, o parentesco é “o vínculo existente não só entre pessoas
que descendem umas das outras ou de um mesmo tronco comum, mas também entre o
cônjuge ou companheiro e os parentes do outro e entre adotante e o adotado” (DINIZ apud
TARTUCE, 2023, p. 425).
Neste sentido, a relação de parentesco identifica as pessoas como pertencentes
a um grupo social que as enlaça num conjunto de direitos e deveres.
O Código Civil disciplina as relações de parentesco com a seguinte sistemática:
disposições gerais (arts. 1.591 a 1.595), filiação (arts. 1.596 a 1.606), reconhecimento de
filhos (arts. 1.607 a 1.617), adoção (arts. 1.618 a 1.629) poder familiar (arts. 1.630 a 1.638).
Segundo Flávio Tartuce (2023, p. 426), conforme o conceito clássico é possível
indicar três formas ou modalidades de parentesco levando-se em conta a sua origem
(art. 1.593, CC):
casamento ou da união estável. Por isso, repise-se, é que se afirma que sogra
é para a vida inteira.
c) parentesco civil: aquele decorrente de outra origem, que não seja a
consanguinidade ou a afinidade, conforme estabelece o art. 1.593, CC, tais
como a adoção e aqueles decorrentes dos progressos científicos (técnicas de
reprodução assistida, como a inseminação artificial heteróloga, em que o
material genético vem de terceiro) e de vínculos afetivos de cunho social
(parentalidade socioafetiva). (TARTUCE, 2023, p. 426)
∞ EU
Linha reta descendente
Linha reta ascendente
BISAVÔ FILHO
3º grau 1º grau
AVÔ NETO
2º grau 2º grau
PAI BISNETO
1º grau 3º grau
EU ∞
CC, a contagem é realizada subindo os graus até o ascendente comum e descendo até o
parente cuja relação se pretende identificar.
Na linha colateral o parentesco mínimo é de segundo grau, exatamente devido à
regra de subir ao máximo, até o tronco comum, para depois descer. Não há, portanto,
parentesco colateral de primeiro grau. Neste sentido, o parentesco colateral de segundo
grau se dá entre irmãos.
1 2
EU IRMÃO
AVÔ
Colateral de 3º grau
2 3
PAI TIO
1 4 Colateral de 4º grau
EU PRIMO
Na legislação processual civil, o juiz não pode exercer suas funções quando for
parente colateral até segundo grau, da parte, e até terceiro grau, de
advogado, promotor de justiça, perito ou autoridade policial; não podem
depor como testemunhas os parentes até terceiro grau da parte, salvo
havendo interesse público ou sendo ação de estado. A Lei n. 10.211/2001
permite o transplante de órgão da pessoa morta se autorizado por parente
colateral até o segundo grau. No CC/2002, o parente colateral até o quarto
grau pode exigir que cesse a ameaça ou a lesão a direito da personalidade de
parente morto e reclamar perdas e danos (art. 12); os parentes colaterais até
o terceiro grau estão impedidos de casar (art. 1521, IV); os parentes colaterais
até o segundo grau estão incluídos na obrigação de prestar alimentos a seus
parentes, quando não houver descendentes ou ascendentes que possam
suportar o encargo (art. 1.697); os parentes até o quarto grau são herdeiros
do morto, na falta de descendentes, ascendentes, cônjuge ou companheiro (art.
1.839). (LÔBO, 2023, p. 100).
AVÔ DA
MÃE DA
SOGRA(O)
SOGRA(O)
CÔNJUGE CÔNJUGE
FILHO DO
ENTEADO(A)
NETO DO
ENTEADO(A)
V FILIAÇÃO
7
“Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris
tantum de paternidade.” (BRASIL, 2004)
120
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
quando falecido o marido, desde que ele tenha deixado consentimento expresso para esse
fim.
Segundo Paulo Lôbo (2023, p. 105), neste caso de manipulação in vitro, a
concepção se efetiva quando transferido o embrião para o aparelho reprodutor da mãe.
A partir deste momento incide o art. 2º, CC referente à ressalva dos direitos do
nascituro.
O inciso IV do art. 1.597, CC trata da concepção artificial homóloga com embriões
excedentários, isto é, decorrentes da manipulação genética, mas que não foram
introduzidos no ventre materno, estando armazenados em clínicas de reprodução
assistida. “Embrião é o ser humano durante as oito primeiras semanas de seu
desenvolvimento intrauterino, ou em proveta e depois no útero, nos casos de
fecundação in vitro.” (LÔBO, 2023, p. 106).
“A fecundação, em casos tais, ocorre in vitro, na proveta, por meio da técnica
ZIFT (transferência intratubária de zigoto), ou seja, a fecundação ocorre fora do corpo da
mulher. Há ainda a técnica GIFT (transferência intratubária de gametas), que não é o
caso, em que o gameta masculino é introduzido artificialmente no corpo da mulher, onde
ocorre a fecundação”. (ALVES; DELGADO apud TARTUCE, 2023, p. 435).
Explica Paulo Lôbo (2023, p. 106) que a concepção de embriões excedentários é
admitida somente se derivarem de fecundação homóloga, ou seja, de gametas da mãe e
do pai, sejam casados ou companheiros de união estável. Neste sentido, o art. 1.597, IV,
CC prevê a presunção legal de paternidade dos filhos havidos, a qualquer tempo, com a
referida técnica.
Conforme explica Paulo Lôbo (2023, p. 106), o destino dos embriões descartados
ou excedentários tem constituído um dos mais delicados problemas relacionados com a
reprodução assistida, especialmente quando os cônjuges ou companheiros não têm
mais interesse em conceber outros filhos, nem permitem que sejam utilizados em outras
mulheres.
O inciso V do art. 1.597, CC trata da inseminação artificial heteróloga, ou seja,
com material genético de terceiro (doador anônimo), desde que haja prévia autorização
do marido, para a fecundação do óvulo da mulher. Para reconhecer a presunção de
paternidade do marido em relação aos filhos havidos pela inseminação artificial
heteróloga, é necessária sua autorização prévia para que a mulher realize o procedimento.
121
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
A lei não exige que o marido seja estéril ou, por qualquer razão física ou psíquica, não possa
procriar.
Neste caso o consentimento é irrevogável e jamais a paternidade poderá ser
impugnada pelo marido, não podendo este voltar-se contra o próprio ato, em violação
da boa-fé (princípio do venire contra factum proprium), garantindo, assim, a segurança
das relações jurídicas diante do compromisso entre os cônjuges de assumir paternidade
e maternidade, mesmo com componente genético estranho.
Diante dessa vedação percebe-se, conforme explica Paulo Lôbo (2023, p. 108), o
fortalecimento da filiação (paternidade) socioafetiva em contraponto à filiação
biológica:
certidão de nascimento de outro filho comum. Se o oficial tiver dúvidas deve suscitá-las
ao juiz, mas não pode recusar de antemão o registro.” (LÔBO, 2023, p. 109).
Os casais homoafetivos também podem se valer das técnicas de reprodução
assistida, tendo garantido o registro dos filhos em seus nomes, independentemente de
prévia autorização judicial, conforme o Provimento n. 63/2017 do CNJ. Os dois
pais/mães devem comparecer ao cartório munidos dos documentos exigidos no citado
Provimento. Entretanto, se forem casados ou conviverem em união estável, somente
um deles poderá comparecer para registrar a criança, desde que apresente a
documentação exigida.
O assento de nascimento dos filhos de casais homoafetivos deverá ser adequado
para que constem os nomes dos ascendentes, sem referência à distinção quanto à
ascendência paterna ou materna.
Enquanto o art. 1.597, CC trata das presunções de filiação, o art. 1.599, CC prevê
uma exceção à presunção de paternidade (pater is est), ou seja, a prova de impotência
do marido (ou companheiro) para gerar à época da concepção.
O art. 1.600, CC dispõe que o adultério (infidelidade – art. 1.566, I, CC) da mulher
casada (ou convivente em união estável), ainda que confessado, não é suficiente para
afastar a paternidade do marido ou companheiro. Segundo Paulo Lôbo (2023, p. 121), o
estado de filiação é mais importante que a defesa da reputação da família ou os
interesses do pai biológico. Assim, a confissão de infidelidade da mulher não é suficiente
para cortar o vínculo de paternidade. Por isso, a mãe não está legitimada a promover a
desconstituição do vínculo de paternidade, em prejuízo do filho, cujo interesse tem
primazia. Caso contrário, a criança poderia ser objeto de vingança da mulher contra seu
marido.
Conforme o art. 1.602, CC, não basta a declaração da mãe de que o seu marido
(ou companheiro) não é o pai da criança, incidindo as presunções do art. 1.597 do CC.
O art. 1.601, CC prevê o direito exclusivo e imprescritível do marido da mãe para
contestar a paternidade. Deve-se lembrar, primeiramente, que o referido direito não se
aplica aos casos de inseminação artificial heteróloga autorizada pelo marido (art. 1.597,
V, CC).
A impugnação da paternidade é proposta contra o filho. Se o pedido for julgado
procedente, a sentença terá eficácia ex tunc e erga omnes, inclusive aos demais
parentes do impugnante (avós, tios etc), que deixam de o ser em face do impugnado.
124
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
filhos, ou seja, pelo fato de o filho conviver há tempo com os supostos pai e mãe. Pela
última previsão, há de se invocar, mais uma vez, a parentalidade socioafetiva.”
(TARTUCE, 2023, p. 475).
O art. 1.606, CC dispõe que a ação de prova de filiação compete ao filho,
enquanto ele viver, ou seja, é personalíssima. Todavia, se o filho morrer menor ou
incapaz, o direito de ação será transmitido aos seus herdeiros. Se a ação foi ajuizada e o
autor falecer, seus herdeiros poderão continuá-la, salvo se o processo for julgado
extinto.
8
“A teoria concepcionista pode ser tida como majoritária na doutrina brasileira atual, conforme observei em
artigo científico escrito há tempos sobre o tema (TARTUCE, Flávio. A situação jurídica..., 2007, v. 6, p. 83-
104).” (TARTUCE, 2023, p. 478).
127
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
a prazos. Cabe ressaltar, entretanto, que a ação de investigação de paternidade não possui
prazo, podendo ser ajuizada a qualquer tempo.
Flávio Tartuce (2023, p. 480) destaca que a “impugnação deve ser reputada
improcedente nos casos em que estiver caracterizada a parentalidade socioafetiva, em
decorrência da posse de estado de filhos e do vínculo de afeto formado”. Entretanto, o
prazo decadencial de quatro anos não reforça a sociafetividade, que se baseia na relação
de afetivo qualitativa, e não quantitativa (TARTUCE, 2023, p. 480).
O reconhecimento voluntário de filho é ato irrevogável, conforme o art. 1.610,
CC. Também é ato incondicional, não estando sujeito a condição (evento futuro e
incerto) ou termo (evento futuro e certo), conforme o art. 1.613, CC. Assim, “a condição
e o termo, como elementos acidentais, não atingem a validade do ato referente ao
reconhecimento. Vale o reconhecimento, sendo ineficazes os elementos acidentais
apostos.” (TARTUCE, 2023, p. 480).
O reconhecimento voluntário produz efeitos erga omnes e ex tunc (retroativos).
Assim, a relação de filiação irradia-se perante todos os seus parentes (avós, tios, primos
etc). Trata-se de um ato personalíssimo que somente compete ao pai e à mãe.
O art. 1.611, CC é polêmico, pois dispõe que o filho havido fora do casamento e
reconhecido por um dos cônjuges não poderá residir no lar conjugal sem o
consentimento do outro cônjuge, privilegiando o casamento. Entretanto, Flávio Tartuce
(2023, p. 481) e Paulo Lôbo (2023, p. 127) entendem que os arts. 1.611 e 1.612, CC
devem ser harmonizados, prestigiando o princípio do melhor interesse da criança.
Assim, a guarda é exclusiva do genitor que reconheceu o filho, conforme exemplo:
9
Para a ação de petição de herança o prazo é de dez anos (art. 205, CC), contado, segundo o entendimento
majoritário, a partir da abertura da sucessão, com a morte do autor da herança.
132
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
10
Súmula 301/STJ: “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz
presunção juris tantum de paternidade.” (2004).
133
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Um casal tem um filho, que é devidamente registrado pelo marido, que pensa
ser o seu filho. Trinta anos depois, após a morte do marido, a mulher conta ao
seu filho que o seu pai não é aquele que faleceu, mas outra pessoa, com quem
ela teve um relacionamento rápido quando era jovem. Ciente do fato, o filho
resolve promover a ação contra o seu suposto pai verdadeiro.
Realizado o exame de DNA no curso da ação, constata-se que o pai biológico
do autor é o réu e não aquele que o criou durante trinta anos. (TARTUCE,
2023, p. 492)
Conforme o entendimento mais recente do STF (RE 898.060/SC, Tribunal Pleno, Rel.
Min. Luiz Fux, j. 21/09/2016), prevaleceu a possibilidade de se demandar o pai biológico
para todos os fins jurídicos, inclusive alimentos e sucessão, sem afastar o vínculo
socioafetivo (pai registral). A regra, em casos assim, passou a ser a multiparentalidade.
Os tribunais também admitem a possibilidade da ação de reconhecimento de
paternidade socioafetiva, mesmo não havendo o vínculo registral, atendendo aos novos
paradigmas oriundos da instituição das entidades familiares. Desta forma, declara-se
judicialmente a “posse de estado de filho”, que é a exteriorização da condição filia, seja
por levar o nome, seja por ser aceito como tal pela sociedade, com visibilidade notória e
pública.
Constata-se, assim, a ampliação do conceito de filiação, colocando-se a
parentalidade socioafetiva em situação de igualdade perante a parentalidade biológica.
134
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
5.2 Adoção
No Brasil, a adoção já foi regulada por diversas leis, gerando uma “colcha de
retalhos legislativas” (RODRIGUES apud TARTUCE, 2023, p. 504). Atualmente, a matéria
ficou consolidada no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei n. 8.069/90), com
as modificações das Leis n. 12.010/2009 (Lei Nacional da Adoção) e 13.509/2017.
A alteração de 2009, pela Lei n. 12.010, consolidou a matéria de adoção de menores
(crianças e adolescentes) e maiores (adultos) no ECA, pois no Código Civil restaram
somente os arts. 1.618 e 1.619, que remetem à Lei n. 8.069/90 (ECA).
Entre os conceitos de adoção que podem ser citados, destaca-se o da Profa.
Maria Helena Diniz, citado por Tartuce:
[...] ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém
estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco
consanguíneo ou afim, vínculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na
condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha. (DINIZ apud
TARTUCE, 2023, p. 505)
Família natural, prevista no art. 25 do ECA, é aquela formada pelos pais ou qualquer
deles e seus descendentes. A família extensa ou ampliada é aquela que se estende para
além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos
com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e
afetividade, como avós, tios etc. (parágrafo único do art. 25, ECA).
11
“Infante exposto é a criança que foi abandonada por um ou ambos os pais, em seus primeiros dias de vida,
tendo eles a intenção de que seja acolhida por quem a encontrar. A criança é abandonada em endereço
determinado, sem conhecimento de sua origem, pelo destinatário. Essa conduta é considerada crime pelo
Código Penal, que estabelece ser punível com reclusão de um a cinco anos deixar em asilo de expostos ou
outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra,
com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil.” (LÔBO, 2023, p. 136).
137
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
O art. 46, § 5º, ECA prevê que o estágio de convivência deve ser realizado
preferencialmente na comarca de residência da criança ou adolescente, ou, a critério do
juiz, em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do juízo da
comarca de residência da criança, a fim de atender ao melhor interesse da criança,
especialmente para preservar a sua inserção social e seus vínculos de convivência
(TARTUCE, 2023, p. 518).
Os adotantes podem desistir durante o estágio de convivência (§ 4º do art. 46, ECA)
ou da guarda provisória (parágrafo único do art. 167, ECA).
O art. 51, ECA dispõe sobre a adoção internacional, considerada “aquela na qual
o pretendente possui residência habitual em país-parte da Convenção de Haia, de 29 de
maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção
Internacional, promulgada pelo Decreto n. 3.087, de 21 junho de 1999, e deseja adotar
criança em outro país-parte da Convenção”.
Os adotantes podem ser estrangeiros ou brasileiros que vivam fora do país, nas
condições acima estabelecidas.
O estágio de convivência será, no mínimo, 30 dias e, no máximo, 45 dias, cumpridos
preferencialmente na cidade de residência da criança ou em cidade limítrofe.
A adoção nacional possui prioridade sobre a adoção internacional (art. 51, § 1º,
II, ECA), ou seja, deve-se cerificar nos autos, após consulta, a inexistência de postulantes
interessados e habilitados com residência permanente no Brasil.
O estrangeiro deverá comprovar, mediante documento expedido pela
autoridade competente de seu país, estar devidamente habilitado à adoção e
apresentar estudo psicossocial (art. 51, ECA). A adoção internacional poderá ser
condicionada a estudo prévio de uma comissão judiciária de adoção. Deverá a comissão
manter registro centralizado de interessados estrangeiros em adoção (art. 52).
O adotando não poderá sair do país antes do trânsito em julgado da sentença.
Transitada em julgado a sentença, a autoridade judiciária determinará a expedição do
141
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
O poder familiar é conceituado “como o poder exercido pelos pais em relação aos
filhos, dentro da ideia de família democrática, do regime de colaboração familiar e de
relações baseadas, sobretudo, no afeto.” (TARTUCE, 2023, p. 526).
Anteriormente era chamado de pátrio poder, que está superado pela
despatriarcalização do Direito de Família, ou seja, pela perda do domínio exercido pela
figura paterna no passado, conforme explica Flávio Tartuce (2023, p. 526). Nesta
perspectiva, o poder familiar é exercido pelo pai e pela mãe, em igualdade de condições,
sendo tratado nos arts. 1.630 a 1.638, CC.
Alguns juristas preferem denominar de autoridade parental, pois corresponde melhor
ao princípio do melhor interesse dos filhos, além de contemplar a solidariedade familiar.
Paulo Lôbo explica que a alteração também se justifica pela mudança de perspectiva dos
entes familiares: “A mudança foi muito mais intensa, na medida em que o interesse dos
145
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
O que não detém a guarda tem direito não apenas a visita ao filho, mas a
compartilhar das decisões fundamentais que lhe dizem respeito. A ele
também se aplica o recurso ao juiz para solução do desacordo, a exemplo dos
critérios a serem observados para a educação do filho. (LÔBO, 2023, p. 147)
Assim, aquele que não for o guardião poderá visitar os filhos, tê-los em sua companhia
e fiscalizar sua manutenção e educação, por serem características do poder familiar.
Paulo
146
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
Lôbo (2023, p. 147) cita como exemplo o dever da escola de informar ao pai e à mãe,
conviventes ou não com seus filhos, sobre a frequência e o rendimento do filho aluno,
conforme previsto na Lei n. 12.013/2009. Portanto, o direito de acompanhamento
escolar do filho não é somente do guardião ou o responsável perante a escola, mas de
ambos os pais.
“A autoridade parental não pode afastar a intervenção regular da autoridade
pública, no cumprimento de normas gerais no interesse de todas as crianças e
adolescentes, como as que regulam a educação escolar e a saúde pública.” (LÔBO, 2023,
p. 146). Cabe aqui o exemplo, também citado por Paulo Lôbo (2023, p. 146), referente à
obrigatoriedade de imunização por meio de vacina. Nesta perspectiva, o STF fixou tese
de repercussão geral (Tema 1.103, ARE 1.267.879) considerando que prevalece o direito
à saúde, como direito fundamental, sobre a autonomia dos pais.
O art. 1.634, CC trata do exercício do poder familiar, especificando as atribuições desse
exercício que são verdadeiros deveres legais, sempre no interesse da formação da
personalidade da criança e do adolescente. Aos poderes (deveres) assegurados pelo
Código Civil somam-se os deveres fixados no art. 22, ECA e nos arts. 227 e 229 da
CF/1988 O primeiro dever (art. 1.634, I, CC) é dirigir a criação e a educação dos filhos.
Segundo Paulo Lôbo (2023, p. 148), a noção de educação é a mais larga possível,
abrangendo “a educação escolar, a formação moral, política, religiosa, profissional,
cívica que se dá em família e em todos os ambientes que contribuam para a formação
do filho, como pessoa
em desenvolvimento.” (LÔBO, 2023, p. 148).
Em relação ao tema deve-se analisar sobre a livre escolha dos pais pelo tipo de
educação escolar que desejam para seus filhos. Segundo Paulo Lôbo (2023, p. 148), cabe
aos pais decidirem sobre o ensino público ou privado, o tipo de orientação pedagógica
ou religiosa, o modelo escolar mais adequado. O art. 55 do ECA determina que os pais
ou responsável têm o dever de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
ensino. Nessa dimensão, discute-se se é possível aos pais escolherem a forma que o
ensino ocorrerá: se na escola ou em casa (homeschooling). A temática foi objeto de
julgamento pelo STF, no RE n. 888.815, julgado pelo plenário em setembro de 2018.
Gustavo Tepedino e Ana Carolina Brochado Teixeira (2023, p. 317) explicam o
fundamento dos recorrentes:
147
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
nos serviços domésticos, sem fins econômicos e desde que não prejudique sua formação
e educação, mas nunca para transformá-los em trabalhadores precoces.
Ainda sobre a questão dos serviços dos filhos, tem sido muito debatido o sharenting
(to share – compartilhar + parenting – parentalidade), que é a prática exacerbada dos
pais compartilharem imagens dos filhos na redes sociais. Além dos questionamentos
sobre a violação de dados pessoais e direitos da personalidade da criança, existe a
preocupação com o uso da imagem para fins econômicos.
Flávio Tartuce (2023, p. 529) também entende que o art. 1.634, IX, CC deve ser lido
à luz da dignidade humana e da proteção integral da criança e do adolescente. Nesta
perspectiva, a exigência de obediência não pode ser desmedida, sendo vedados maus-
tratos e relação ditatorial, o que pode ocasionar a suspensão ou destituição do poder
familiar e a condenação do pai ou da mãe a pagar indenização por danos morais aos filhos,
decorrente do abuso de direito, que é ato ilícito (art. 187, CC).
Destaque-se, quanto ao tema, a Lei n. 13.010/14, conhecida como Lei da Palmada
ou Lei Menino Bernardo, em homenagem a vítima de violências praticadas pelo pai e
pela madrasta. A referida lei alterou o ECA, incluindo o art. 18-A e 18-B, que inclui a
vedação das práticas de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante contra a
criança e o adolescente, além das medidas aplicadas pelo Conselho Tutelar.
No que tange ao exercício do poder familiar também é importante tratar da
administração dos bens dos filhos menores pelos pais, previsto nos arts. 1.689 ao 1.693,
CC. Inicialmente, prevê o art. 1.689, I, CC, que o pai e a mãe, enquanto no exercício do
poder familiar, são usufrutuários dos bens dos filhos (usufruto legal), visando a proteção
dos interesses dos filhos menores, conforme o princípio do melhor interesse da criança
e do adolescente.
Os pais têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade
(art. 1.689, II, CC), exceto aqueles especificados no art. 1.693, CC. Nesta administração
os pais não podem alienar ou gravar de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair, em
nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples administração (art. 1.691,
CC), salvo por necessidade ou evidente interesse do menor e mediante prévia
autorização judicial.
149
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
12
É necessário atenção quanto aos arts. 33 a 35 do ECA, que regulamentam a guarda existente fora do âmbito
familiar, quando a criança ou adolescente é colocada em família substituta (art. 28, ECA), não se referindo
à guarda dos pais.
152
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
1.583, § 1º, CC). Em quaisquer dos casos, a guarda não se confunde com o poder
familiar ou autoridade parental de cada um dos pais, que por ela não é afetado nem
reduzido.
Conforme se verifica pelo art. 1.584, CC, a regra é que os pais separados podem
definir, em consenso, a modalidade de guarda, pois presume-se que suas escolhas serão
sempre as melhores para os filhos. Entretanto, o juiz pode regular de maneira diferente,
conforme prevê o art. 1.586, CC, sempre que houver motivos graves.
Embora os pais possam escolher a modalidade de guarda, atualmente a guarda
compartilhada é obrigatória e será aplicada pelo juiz quando não houver acordo entre
os pais (§ 2º do art. 1.584, CC). Houve uma mudança radical no modelo de convivência,
através da Lei n. 11.698/2008 e, posteriormente, da Lei n. 13.058/2014, pois antes
predominava no direito brasileiro a guarda unilateral conjugada com o direito de visita.
A guarda compartilhada é exercida em conjunto pelos pais separados, de modo a
assegurar aos filhos a convivência e o acesso livres a ambos, ou seja, tem por objetivo,
essencialmente, a divisão equilibrada do tempo de convívio com os filhos, conforme o § 2º
do art. 1.583, CC. Não significa que os períodos de convivência do filho com seus pais
devam ser rigorosamente iguais. “Certa flexibilidade para adaptação deve ser
preservada, diante das circunstâncias, imprevistos e exigências da vida (viagens com um
deles, festas em famílias e com amigos, cursos fora da cidade).” (LÔBO, 2023, p. 91).
Não há impedimento para o exercício da guarda compartilhada se os pais residirem
em cidades ou mesmo países distintos, conforme já decidiu o STJ (REsp 1.878.041), pois
a comunicação por meio eletrônico permite o contato instantâneo, com visualização das
imagens dos interlocutores, favorecendo o diálogo entre os pais separados e entre estes
e seus filhos, compartilhando decisões e responsabilidades.
Destaque-se, também, que na guarda compartilhada há igualdade na decisão em
relação ao filho ou corresponsabilidade, em todas as situações existenciais e
patrimoniais, caracterizando-se pela manutenção responsável e solidária dos direitos e
deveres inerentes à autoridade parental, minimizando-se os efeitos da separação dos
pais.
O art. 1.583, § 3º, CC trata da base de moradia dos filhos, quando os pais
residirem em cidades diferentes. A criança e o adolescente precisam ter uma referência
territorial, que integra o sentido de sua existência e poderá ser definida em consenso
pelos pais. Se não chegarem ao acordo, a decisão sobre os modos de convivência, as
153
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
atribuições de cada
154
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
genitor e da divisão equilibrada do tempo será do juiz, que poderá basear-se em orientação
técnico-profissional ou de equipe multidisciplinar (LÔBO, 2023, p. 91).
Outro ponto importante é que a guarda compartilhada supõe o
compartilhamento das despesas com os filhos, para sua criação, assistência material e
educação. Assim, o genitor deve contribuir mais com o outro em cuja residência o filho
tem a moradia principal. “No lugar de pensão alimentícia, em sentido estrito, há o dever
de assistência material compartilhada, segundo o que os pais acordarem ou o que o juiz
fixar.” (LÔBO, 2023, p. 93).
Deve-se esclarecer que a guarda compartilhada não se confunde com a guarda
alternada. “Nesta, o tempo de convivência do filho é dividido entre os pais, passando a
viver alternadamente, de acordo com o que ajustarem os pais ou o que for decidido pelo
juiz, na residência de um e de outro.” (LÔBO, 2023, p. 93). Muitos juristas se opõem à
guarda compartilhada, considerando-a prejudicial à criança.
A guarda unilateral ou exclusiva ficou restrita às seguintes hipóteses: a) quando um
dos genitores não desejar a guarda do filho; ou b) em atenção a necessidades específicas
do filho; ou c) quando o juiz se convencer que ambos os pais não oferecem condições
morais ou psicológicas para terem o filho consigo, situação em que a guarda será
deferida a terceira pessoa, considerando grau de parentesco e relações de afinidade e
afetividade com a criança ou o adolescente.
Na hipótese de atenção às necessidades especiais do filho, o juiz determinará a
guarda unilateral ao genitor que revele melhores condições para exercê-la, não se
tratando, necessariamente, de melhores situações financeiras. “O juiz levará em conta o
conjunto de fatores que apontem para a escolha do genitor cujas situações existenciais
sejam mais adequadas para o desenvolvimento moral, educacional, psicológico do filho,
dadas as circunstâncias afetivas, sociais e econômicas de cada um.” (LÔBO, 2023, p. 93).
O § 5º do art. 1.584, CC trata da hipótese excepcional de guarda deferida a outra
pessoa, quando o juiz concluir que a criança não deve permanecer com seus pais, como,
por exemplo, na situação de pais que são dependentes químicos, sem ocupação regular,
com práticas de violência contra os filhos. A escolha do guardião deve levar em conta o
grau de parentesco e a relação de afinidade e afetividade com a criança/adolescente.
Segundo Paulo Lôbo (2023, p. 94), a afinidade não significa parentesco afim, mas inclinação
155
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
um dos pais deve ser objeto de informação prévia e útil ao outro, pois o filho tem direito
de se comunicar com cada um de seus pais e estes com o filho.
O direito à convivência abrange também os parentes do genitor não guardião,
tais como tais como tios, padrastos, madrastas, irmãos unilaterais etc. (família extensa –
art. 25, ECA), que não podem ter seu contato com a criança ou o adolescente impedido,
para que as relações de família não sejam dificultadas ou obstadas. Nesta dimensão, a
Lei n. 12.344/2011 incluiu o parágrafo único ao art. 1.589, a fim de assegurar aos avós o
direito de visitas aos netos.
Encontram-se dificuldades quanto às soluções coativas quando o genitor não
cumpre o dever de convivência. Segundo Tepedino e Teixeira (2023, p. 353) nessa seara
o direito tem problema de efetividade, na medida em que não há meios seguros para
garantir o direito à convivência familiar em necessária harmonia com o bem-estar dos
filhos. Os autores sugerem a mediação, a fim de mostrar ao pai que pratica o abandono
a relevância do seu papel na vida do filho.
A outra possibilidade jurídica é compelir o pai a conviver com o filho mediante
imposição de multa prevista nos arts. 497 e seguintes do CPC, considerando-se que a
convivência é obrigação de fazer13. Tepedino e Teixeira (2023, p. 354) criticam a solução,
na medida em que induz à monetarização das relações familiares e nem sempre o convívio
imposto será melhor para o filho.
A imposição de multa também é possível em face do guardião exclusivo que impede
ou dificulta o direito de visita e convivência do genitor não guardião.
A forma de regulamentação da convivência (guarda) não é definitiva, nem faz
coisa julgada material, podendo ser modificada a qualquer tempo. Portanto, qualquer fato
novo que repercuta no melhor interesse do filho faz com que a convivência possa ser
reduzida ou ampliada. Deve-se destacar que o novo casamento ou união estável de um
dos genitores, por si só, não modifica a convivência então estabelecida, salvo se a
criança ou o
13
Em julho de 2023 foi divulgado que o juiz da Vara Única da comarca de Xapuri (AC) regulamentou as visitas
ao filho por parte do genitor, que segundo é informado nos autos, não convivia com o filho. Na sentença o
juiz estabeleceu multa no valor de R$ 10 mil reais por cada visita que o genitor não realizar ao filho, como
descumprimento de ordem judicial, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, principalmente a prática de
crime de abandono afetivo, intelectual e moral. Disponível em: https://www.tjac.jus.br/2023/07/justica-
obriga-pai-a-visitar-o-filho-sob-multa-de-r-10-mil/. Acesso em 28 jul. 2023.
157
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
A própria lei, no parágrafo único do art. 2º, exemplifica algumas situações concretas
de alienação parental. A doutrina também apresenta mais algumas atitudes que
configuram como alienadoras:
[...] não passar as chamadas telefônicas para os filhos, organizar atividades mais
atraentes nos dias de convivência do outro genitor, apresentar o novo
companheiro como o novo pai ou mãe, interceptar qualquer correspondência
física ou virtual, desvalorizar e insultar o outro genitor na frente dos filhos, deixar
de avisar o outro genitor sobre compromissos dos filhos, decidir por si só
questões importantes para os menores, proibir os filhos de usarem roupas ou
objetos presenteados pelo genitor não habitual, culpar o outro genitor do mal
comportamento dos filhos, telefonar com frequência e por motivos irrelevantes
durante as visitas do outro genitor. (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2023, p. 359)
Em que pesem os vários exemplos legais e doutrinários, deve-se esclarecer que não
é qualquer conduta de um genitor separado em relação ao outro que caracteriza a
alienação parental. Paulo Lôbo (2023, p. 96) reforça que deve ficar comprovada a
interferência na formação psicológica permanente da criança ou adolescente, ou efetivo
prejuízo ao contato ou convivência com o outro genitor e seu grupo familiar, ou às relações
afetivas com estes. “Comentários ou afirmações negativas de um genitor a outro, em
158
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
momentos de raiva ou ressentimento, feitos ao filho, nem sempre provocam tal efeito na
formação e higidez psicológica, que são variáveis de pessoa a pessoa.” (LÔBO, 2023, p. 96).
Tepedino e Teixeira (2023) explicam como que a alienação parental se concretiza:
Além dos pais, avós ou qualquer pessoa que tenha o menor sob sua autoridade,
guarda ou vigilância podem ser sujeitos ativos de atos alienadores. Entretanto, a maioria
dos casos envolve os pais, mediante “atos de violência psíquica que acabam por fazer
uma programação psicológica na criança ou no adolescente a partir de relação de
lealdade com o genitor com quem habitualmente convive e passa a compartilhar os
sentimentos de abandono, injustiça, em clara confusão entre conjugalidade e
parentalidade.” (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2023, p. 359).
A Lei de Alienação Parental (Lei n. 12.318/2010 alterada pela Lei n. 14.340/2022)
estabeleceu regras que visam à prevenção ou à interrupção dessas condutas e à
atribuição de sanções pelo descumprimento.
O processo para apuração da alienação parental pode ser requerido pelo genitor
alienado (prejudicado) ou pelo juiz, de ofício (art. 4º, LAP). A ação pode ser autônoma
ou incidental e será acompanhada pelo Ministério Público. O processo terá tramitação
prioritária na Vara de Família situada no domicílio da criança ou adolescente, e o juiz
poderá decretar medidas provisórias ou de urgência, em virtude da gravidade dos fatos, no
sentido de preservar a integridade psicológica da criança e o direito de convivência ao
genitor alienado, inclusive de visitação assistida, viabilizando a efetiva reaproximação entre
ambos, se for o caso.
Em 2022 a LAP sofreu alteração no parágrafo único do art. 4º, a fim de incluir o
local para visitação assistida, ou seja, no fórum onde tramita a ação ou em entidades
conveniadas com o Poder Judiciário, salvo quando houver risco iminente de prejuízo à
integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado por profissional
eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das visitas.
Havendo indício de prática de ato de alienação parental, devem as partes ser
encaminhadas ao acompanhamento diagnóstico, na forma da Lei, visando ao melhor
interesse da criança.
O magistrado depende de avaliação técnica para avaliar a ocorrência ou não de
alienação parental, não lhe sendo recomendado decidir a questão sem estudo prévio
por profissional capacitado, na forma do § 2º do art. 5º da Lei n. 12.318/2010, salvo para
decretar providências liminares urgentes. Nesta perspectiva, Tepedino e Teixeira reforçam
160
PUC MINAS – Campus Contagem
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA – 6º Período-Noite
Profª. Simone de Lara Pinto Reissinger
REFERÊNCIAS
CELEBRANTE cancela casamento após noiva dizer “não”. TV Migalhas. (0:49 seg).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HK_LlZF1aOU. Acesso em: 26 fev.
2023.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família (v. 6). 20ª ed.
São Paulo: Saraiva Jur, 2023. (Livro eletrônico)
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias (v. 5). 12ª ed. São Paulo: Saraiva Jur 2022. (Livro
eletrônico)
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias (v. 5). 13ª ed. São Paulo: Saraiva Jur 2023. (Livro
eletrônico)
MADALENO, Rolf. Direito de família. 12ª ed. rev., atual., ampl. Rio de Janeiro:
Forense, 2022. (Livro eletrônico)
TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família (v. 5). 17ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2022. (Livro eletrônico)
TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família (v. 5). 18ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2023. (Livro eletrônico)
TARTUCE, Flávio. OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. A alteração do regime de bens na
união estável e o Provimento 141/2023 do CNJ. Primeira Parte. Jusbrasil, 29 mar. 2023.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-alteracao-do-regime-de-bens-na-
uniao-estavel-e-o-provimento-141-2023-do-cnj-primeira-parte/1798151107. Acesso
em: 07 mai. 2023.
TARTUCE, Flávio. OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. A alteração do regime de bens na
união estável registrada perante o cartório de registro civil das pessoas naturais.
Segunda Parte. Jusbrasil, 26 abr. 2023. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a- alteracao-do-regime-de-bens-na-uniao-estavel-
registrada-perante-o-cartorio-de-registro-
civil-das-pessoas-naturais-segunda-parte/1821350105. Acesso em: 07 mai. 2023.