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Ensaio PAN AMAZONIA Antonio Rafael de Oliveira Barros
Ensaio PAN AMAZONIA Antonio Rafael de Oliveira Barros
Introdução
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https://observatoriodamineracao.com.br/category/amazonia/
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Implementação da Universidade da Biodiversidade, uma proposta de caráter binacional (Brasil e
França).
do solo, o colapso das identidades dos povos tradicionais, o aprofundamento de conflitos
étnicos, dentre tantas consequências que seguem à margem do discurso oficial.
Sobre a constituição de uma identidade nacional na Guiana, Souza (2014) afirma que
a identidade crioula (guianense) está integrada com a cultura dominante (europeia), sendo que
a participação do Estado francês na região da Guiana, especialmente na instalação de projetos
estrangeiros de extração mineral, são uma demonstração da postura colonialista e do
escravismo, ações que afetaram a constituição da identidade nacional, pois aceleram o
processo de assimilação da população crioula, o que produziria a perda cultural para cada
grupo minoritário.
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Em alusão ao acidente Chernobyl na extinta União Soviética, que aconteceu em 26 de abril de 1986, o
maior acidente nuclear da história.
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Professora e pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia da Universidade Federal do Pará.
nas indústrias de extração mineral vem da Usina de Tucuruí (1984), sendo instalado um porto
em Vila do Conde, para servir de suporte à instalação das indústrias.
O governo brasileiro por meio de acordos comerciais, como por exemplo o consórcio
empresarial nipo-brasileiro Alunorte/Albrás, um projeto que teve início ainda em 1976,
alimentou estratégias de implementação de empresas que visavam transformar esse espaço
tradicional em um enorme complexo metalúrgico. Para essa finalidade, foi criada na década
de 1980 a Companhia de Desenvolvimento Industrial de Barcarena, para intervir em uma
companhia regional, a Companhia de Desenvolvimento de Barcarena. Essas empresas, as
duas companhias, se coadunaram para realizar aquilo que vai ser a retirada de ocupantes
tradicionais dessas áreas e o deslocamento para áreas que foram estabelecidas dentro de um
planejamento. Aqui se identifica a primeira redução dessas famílias que habitavam as
margens do Rio Murucupí.
No Rio Murucupí, por meio de documentos, é possível ver grandes grupos de famílias
em comércio com Belém, em sítios onde eram produzidos mandioca, frutas e artesanatos. A
redução é o deslocamento compulsório dessas famílias para irem morar em lugares distantes.
Não há pagamento de indenizações, os projetos industriais se instalam com o mínimo de
segurança em relação aos recursos naturais e recursos hídricos, afetando diretamente os povos
tradicionais. O desenvolvimento e os empregos que esses projetos pretendiam apresentar
como justificativa de sua existência continua a ser algo mínimo.
Ano Caso
Em pesquisa de 2019 com moradores do bairro Dom Manoel e Laranjal, distante entre
20 a 200 metros do parque industrial de Barcarena, foram coletadas amostras de sangue que
confirmaram o alto nível de exposição ao chumbo desses moradores.
Por exemplo, a mineradora Imerys Rio Capim Caulim. Líder brasileira da produção de
caulim, a Imerys foi protagonista de vários desastres ambientais na região desde a sua
instalação. O capítulo mais recente aconteceu em meados de dezembro de 2021, quando uma
grande explosão seguida de incêndio em um dos depósitos de produtos químicos da
mineradora francesa liberou uma fumaça tóxica de cor branca que rapidamente se espalhou
por cima das vilas e bairros. Há relatos dos moradores sobre dificuldades para respirar,
problemas na boca, nos olhos e na pele.
Existe uma fraca atuação do Estado no enfrentamento dos danos causados por essas
industrias. Instituições como o Ministério Público (MP) atuam no município de forma branda,
enfatizando muito mais negociações de termos e ajustes de conduta da empresa, além da
aplicação de multas. Após o mais recente episódio de crime ambiental envolvendo a Imerys,
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Movimento Barcarena Livre. Barcarena Livre informa. 2016 dez. [citado em 2020 mar. 15];1.
Disponível em: https://issuu.com/marcelhazeu/docs/informativo-bacarena_livre.
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A luta das populações atingidas por barragens contra as injustiças praticadas por empresas e governos
na construção dessas obras é antiga. O movimento surgiu a partir das mobilizações de agricultores contra a
construção de usinas hidroelétricas na região do Alto Uruguai, nos estados do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, no ano de 1979, quando foi criada uma Comissão de Barragens durante uma reunião promovida pela
Comissão Pastoral da Terra. A partir de 1985 as comissões passaram a atuar sob o nome de Movimento dos
Atingidos por Barragens. Ver o site do MAB: https: //mab.org.br .
o MP entrou com uma ação civil pública para suspensão das atividades da empresa em
Barcarena.
Com efeito, “o fracionamento das políticas sociais no âmbito de cada país reflete as
imperfeições dos sistemas democráticos” (Ibarra, 2011), em particular na Amazônia
brasileira, a ordem econômica assumiu novos contornos, com o fim do protecionismo e a
supressão das fronteiras comerciais. Cada vez mais a região passa a fazer parte de um
corredor industrial internacional do capitalismo neoliberal. Em vista disso, a indiferença às
demandas sociais aprofunda as desigualdades, aumentando a pobreza, a subnutrição, o
desemprego, as doenças, dentre muitos efeitos e sequelas da degradação ambiental.
“Os desastres são ocasiões que revelam de forma clara as dinâmicas sociais das
sociedades afetadas (estruturas sociais, redes sociais, desigualdades, capacidade de
resistência) e a qualidade dos serviços estatais, sua organização e lógica de
funcionamento”.
Para Moreira (2020), o racismo ambiental se caracteriza por uma distribuição desigual
dos riscos ambientais provocados por rejeitos tóxicos no ambiente, produzidos pelo processo
de extração de recursos naturais, de forma que atinja grupos desprovidos de poder e
representatividade.
De acordo com o Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr., criador da noção de racismo
ambiental nos anos 1981,
Em vista disso, José Manuel Mendes (2016) esclarece que a condição de vítima ou de
afetado “não se pode ater ao número de pessoas atingidas, mas sim à justiça, aos direitos, à
dignidade e à qualidade de vida”. Dessa maneira, os crimes ambientais em Barcarena, por
afetarem uma pequena porção de moradores, são muitas vezes negligenciados e esquecidos
pela mídia. A degradação do ecossistema em Barcarena pode ser avaliada como uma
catástrofe ou um desastre, conduzido de forma proposital por empresas transnacionais. Para
Mendes, catástrofes trazem “uma linha divisória para o interior do Estado (...) estabelecida
por critérios raciais, mas também por critérios etários, geográficos, de classe e de diferença
sexual” (Mendes, 2016).
Considerações finais
Referências bibliográficas