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“tanto quanto a escrita, a falta em ‘sua própria maneira de se organizar, desenvolver e

transmitir informação, o que permite que se a tome como fenômeno específico’”.


(MARCUSCHI, 1993: 4 apud FÁVERO, p. 7)

“Dado o caráter de imprevisibilidade em relação aos elementos estruturais, o texto


falado deixa entrever plenamente seu processo de organização, tornando-se possível
perceber sua estrutura, bem como suas estratégias organizacionais”. (FÁVERO, p. 21)

“De acordo com alguns pesquisadores, pode haver muito mais semelhanças linguísticas
do que diferenças entre fala e escrita (...) a ocorrência de diferenças decorre do
processamento proveniente das condições de produção”. (FÁVERO, p.82)

“O aprendizado das operações de transformação do texto falado para o escrito coloca-se


como imprescindível para o melhor domínio da produção escrita que se tem evidenciado
muito problemática entre nossos jovens estudantes”. (FÁVERO, p. 83)

“É necessário mostrar como a fala é variada, que há diferentes níveis de fala e escrita
(diferentes graus de formalismo), isto é, diferentes níveis de uso da língua, e que a
noção de dialeto padrão uniforme é teórica, já que isto não ocorre na prática. O
professor precisa mostrar, também, que fala e escrita não podem ser dissociadas e que
elas se influenciam mutuamente. Precisa valorizar a linguagem presente nos textos
falados pelos alunos como ponto de partida para a reflexão sobre sua língua materna”.
(FÁVERO, p. 116)

“Se o professor organiza sua aula com base nos textos produzidos pelos alunos, analisa-
os e os discute, a teoria será divulgada a partir da prática, e ele, aluno, será não um
simples espectador, mas um participante das atividades linguísticas desenvolvidas em
classe.” (FÁVERO, p. 116)

Operações de produção do texto escrito a partir do texto falado


1ª operação: eliminação de marcas estritamente interacionais e inclusão da pontuação;
2ª operação: apagamento de repetições, redundâncias, autocorreções e introdução de
substituições
3ª operação: substituição do turno por parágrafos;
4ª operação: diferenciação no encadeamento sintático dos tópicos;
5ª operação: tratamento estilístico com seleção do léxico e da estrutura sintática, num
percurso do menos para o mais formal. (FÁVERO, P. 90)
“Após estabelecer os tipos de operação efetuada pelos informantes ao elaborarem o
mesmo gênero de texto, nas modalidades falada e escrita, podemos afirmar que as
diferenças ou integrações entre as duas modalidades ocorrem num continuum (e não
num grau de oposição) que vai do menos para o mais formal, como já salientamos.”
(FÁVERO, p. 90)

“A competência linguística deve, portanto, ser considerada no interior de um conjunto


mais amplo, no qual saberes linguísticos e saberes socioculturais estão
inextricavelmente misturados: a competência comunicativa pode ser definida como o
conjunto de capacidades que permitem ao sujeito falante comunicar de modo eficaz, em
situações culturalmente específicas”. (ORECHIONI, p. 19)

“Para o enfoque interacionista, ao contrário, o objeto de investigação não são frases


abstratas, mas discursos atualizados em situações de comunicação concretas”.
(ORECHIONI, p. 25)

“Notemos, primeiramente, que se excluirmos da análise das conversações todos os


elementos não-verbais, seremos em alguns casos incapazes de explicar a coerência do
diálogo, na medida em que nele, por vezes, intervêm sucessivamente atos verbais e
não-verbais:...” (ORECHIONI, p. 40)

a) “A noção de ‘face’
Para Brown e Levinson, todo indivíduo possui duas faces:
- a face negativa, que corresponde grosso modo ao que Goffman descreve como os
“territórios do eu” (território corporal, espacial ou temporal, bens materiais ou saberes
secretos...);
- a face positiva, que corresponde grosso modo ao narcisismo e ao conjunto de imagens
valorizantes que os interlocutores constroem de si e que tentam impor na interação.

“(...) é a intenção comunicativa que funda o uso da língua e não a morfologia ou a


gramática. Não se trata de saber como se chega a um texto ideal pelo emprego de
formas, mas como se chega a um discurso significativo pelo uso adequado às práticas e
à situação a que se destina”. (MARCUSCHI, 2001, p. 9)

“(...) não se pode tratar as relações entre oralidade e letramento ou entre fala e escrita de
maneira estanque e dicotômica. A proposta é a de que se vejam essas relações dentro de
um quadro mais amplo no contexto das práticas comunicativas e dos gêneros textuais. A
sugestão segue uma visão funcional e preserva um contínuo de variações, gradações e
interconexões, a depender do que se compara”. (MARCUSCHI, 2001, p. 9)
“(...) os textos orais estão em ordem, não são caóticos nem incoerentes ou carentes de
coesão interna. Toda a atividade de retextualização ora examinada e sugerida não é uma
proposta de melhorar ou de pôr uma nova ordem no texto oral, pois as modificações
notadamente efetuadas nas retextualizações analisadas não revelam a presença de
processos cognitivos novos, mais altos ou mais abstratos na escrita em relação à fala”.
(MARCUSCHI, 2001, p. 10)

“Hoje, como se verá adiante, predomina a posição de que se pode conceber oralidade e
letramento como atividades interativas e complementares no contexto das práticas
sociais e culturais”. (MARCUSCHI, 2001, p. 16)

“(...) as línguas se fundam em usos e não o contrário.” (MARCUSCHI, 2001, p. 16)


“(...) o que determina a variação linguística em todas as suas manifestações são os usos
que fazemos da língua. São as formas que se adequam aos usos e não o inverso.”
(MARCUSCHI, 2001, p. 16)

“Oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias, mas não
suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas linguísticos nem uma dicotomia.
Ambas permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas permitem a
elaboração de raciocínios abstratos e exposições formais e informações, variações
estilísticas, sociais, dialetais e assim por diante”. (MARCUSCHI, 2001, P. 17)

“A perspectiva da dicotomia estrita tem o inconveniente de considerar a fala como o


lugar do erro e do caos gramatical, tomando a escrita como o lugar da norma e do bom
uso da língua. Seguramente, trata-se de uma visão a ser rejeitada”. (MARCUSCHI,
2001, p. 28)

“(...) as diferenças entre fala e escrita se dão dentro do continuum tipológico das
práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica de dois pólos
opostos”. (MARCUSCHI, 2001, p. 37)

“Um dos aspectos centrais nesta questão é a impossibilidade de situar a oralidade e a


escrita em sistemas linguísticos diversos, de modo que ambas fazem parte do mesmo
sistema da língua. São, portanto, realizações de uma gramática única, mas que do ponto
de vista semiológico podem ter peculiaridades com diferenças acentuadas, de tal modo
que a escrita não representa a fala”. (p. 39)
“Em suma, partindo da noção de língua e funcionamento da língua tal como concebidos
aqui, surge, como hipótese forte, a suposição de que as diferenças entre fala e escrita
podem ser frutiferamente vistas e analisadas na perspectiva do uso e não do sistema. E,
neste caso, é a eliminação da dicotomia estrita e a sugestão de uma diferenciação
gradual ou escalar”. (MARCUSCHI, 2001, p. 43)

“(...) tanto a fala como a escrita, em todas as suas formas de manifestação textual, são
normatizadas (não se pode dizer que a fala não segue normas por ter enunciados
incompletos ou por apresentar muitas hesitações, repetições e marcadores não-
lexicalizados)”. (MARCUSCHI, 2001, p. 46)

“(...) O certo é que a escrita não representa a fala, seja sob que ângulo for que a
observemos. Justamente pelo fato de fala e escrita não se recobrirem podemos
relacioná-las, compará-las, mas não em termos de superioridade ou inferioridade. Fala e
escrita são diferentes, mas as diferenças não são polares e sim graduais e contínuas. São
duas alternativas de atualização da língua nas atividades sócio-interativas diárias”.
(MARCUSCHI, 2001, p. 46)

“Partindo dessas posições, busca-se construir aqui um modelo para analisar o grau de
consciência dos usuários da língua a respeito das diferenças entre fala e escrita
observando a própria atividade de transformação. Serão identificadas as operações mais
comuns realizadas na passagem do texto falado para o texto escrito. Esta passagem ou
transformação é uma das formas e realizar o que denomino retextualização.”
(MARCUSCHI, 2001, p. 46)

“A retextualização, tal como tratada neste ensaio, não é um processo mecânico, já que a
passagem da fala para a escrita não se dá naturalmente no plano dos processos de
textualização. Trata-se de um processo que envolve operações complexas que
interferem tanto no código como no sentido e evidenciam uma série de aspectos nem
sempre bem-compreendidos da relação oralidade-escrita”. (MARCUSCHI, 2001, p. 46)

“(...) Em hipótese alguma se trata de propor a passagem de um texto supostamente


“descontrolado e caótico” (o texto falado) para outro “controlado e bem-formado” (o
texto escrito”. Fique claro, desde já, que o texto oral está em ordem na sua formulação e
no geral não apresenta problemas para a compreensão. Sua passagem para a escrita vai
receber interferências mais ou menos acentuadas a depender do que se tem em vista,
mas não por ser a fala insuficientemente organizada. Portanto, a passagem da fala para
a escrita não é a passagem do caos para a ordem: é a passagem de uma ordem para
outra ordem. (MARCUSCHI, 2001, p. 47)
“Há nestas atividades de retextualização um aspecto geralmente ignorado e de uma
importância imensa. Pois para dizer de outro modo, em outra modalidade ou em outro
gênero o que foi dito ou escrito por alguém disse ou quis dizer. Portanto, antes de
qualquer atividade de transformação textual, ocorre uma atividade cognitiva
denominada compreensão. Esta atividade, que em geral se ignora ou se dá por satisfeita
ou problemática, pode ser a fonte de muitos problemas no plano da coerência no
processo de retextualização”. (MARCUSCHI, 2001, p. 47)

1ª operação: eliminação de marcas estritamente interacionais, hesitações e partes de


palavras (estratégia de eliminação baseada na idealização linguística).

2ª operação: introdução da pontuação com base na intuição fornecida pela entoação das
falas (estratégia de inserção em que a primeira tentativa segue a sugestão da prosódia).

3ª operação: retirada de repetições, reduplicações, redundâncias, paráfrases e pronomes


egóticos (estratégia de eliminação para uma condensação linguística).

4º operação: introdução da paragrafação e pontuação detalhada sem modificação da


ordem dos tópicos discursivos (estratégia de inserção)

5ª operação: introdução de marcas metalinguísticas para referenciação de ações e


verbalização de contextos expressos por dêiticos (estratégia de reformulação
objetivando explicitude).

6ª operação: reconstrução de estruturas truncadas, concordâncias, reordenação sintática,


encadeamento (estratégia de reconstrução em função da norma escrita).

7ª operação: tratamento estilístico com seleção de novas estruturas sintáticas e novas


opções léxicas (estratégia de substituição visando a uma maior formalidade)

8ª operação: reordenação tópica do texto e reorganização da sequência argumentativa


(estratégia de estruturação argumentativa)

“(...) tanto a fala como a escrita, em todas as suas formas de manifestação textual, são
normatizadas (não se pode dizer que a fala não segue normas por ter enunciados
incompletos ou por apresentar muitas hesitações, repetições e marcadores não-
lexicalizados)”. (MARCUSCHI, 2001, p. 46)
9ª operação: agrupamento de argumentos condensando as ideias (estratégia de
condensação).

“(...) as diferenças entre fala e escrita se dão dentro do continuum tipológico das
práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica de dois pólos
opostos”. (MARCUSCHI, 2001, p. 37)

(...) a língua não é um simples sistema de regras, mas uma atividade


sociointerativa que exorbita o próprio código como tal. Em consequência, o
seu uso assume um lugar central e deve ser o principal objeto de nossa
observação porque só assim se elimina o risco de transformá-la em mero
instrumento de transmissão de informações. A língua é fundamentalmente
um fenômeno sociocultural que se determina na relação interativa e contribui
de maneira decisiva para a criação de novos mundos e para nos tornar
definitivamente humanos. (MARCUSCHI, 2001, p. 125)

É necessário mostrar como a fala é variada, que há diferentes níveis de fala e


escrita (diferentes graus de formalismo), isto é, diferentes níveis de uso da
língua, e que a noção de dialeto padrão uniforme é teórica, já que isto não
ocorre na prática. O professor precisa mostrar, também, que fala e escrita não
podem ser dissociadas e que elas se influenciam mutuamente. Precisa
valorizar a linguagem presente nos textos falados pelos alunos como ponto de
partida para a reflexão sobre sua língua materna. (FÁVERO, p. 116)

A competência linguística deve, portanto, ser considerada no interior de um


conjunto mais amplo, no qual saberes linguísticos e saberes socioculturais
estão inextricavelmente misturados: a competência comunicativa pode ser
definida como o conjunto de capacidades que permitem ao sujeito falante
comunicar de modo eficaz, em situações culturalmente específicas.
(ORECHIONI, p. 19)

(...) é a intenção comunicativa que funda o uso da língua e não a morfologia


ou a gramática. Não se trata de saber como se chega a um texto ideal pelo
emprego de formas, mas como se chega a um discurso significativo pelo uso
adequado às práticas e à situação a que se destina. (MARCUSCHI, 2001, p.
9)

(...) O certo é que a escrita não representa a fala, seja sob que ângulo for que
a observemos. Justamente pelo fato de fala e escrita não se recobrirem
podemos relacioná-las, compará-las, mas não em termos de superioridade ou
inferioridade. Fala e escrita são diferentes, mas as diferenças não são polares
e sim graduais e contínuas. São duas alternativas de atualização da língua nas
atividades sócio-interativas diárias. (MARCUSCHI, 2001, p. 46)

A retextualização, tal como tratada neste ensaio, não é um processo


mecânico, já que a passagem da fala para a escrita não se dá naturalmente no
plano dos processos de textualização. Trata-se de um processo que envolve
operações complexas que interferem tanto no código como no sentido e
evidenciam uma série de aspectos nem sempre bem-compreendidos da
relação oralidade-escrita. (MARCUSCHI, 2001, p. 46)

Um ensino de língua na perspectiva ora sugerida apresenta a vantagem de um


maior dinamismo e uma produtividade muito grande porque leva em conta de
maneira sistemática o aspecto textual-discursivo e não apenas as estruturas
formais. Sua vantagem é a possibilidade de oferecer previsões e sugerir
alternativas comparativamente. Se daí surgirem regras, elas estarão sempre
situadas num contexto dinâmico de decisões que envolvem ações situadas.
(MARCUSCHI, 2001, p. 122)

(...) os textos orais estão em ordem, não são caóticos nem incoerentes ou
carentes de coesão interna. Toda a atividade de retextualização ora
examinada e sugerida não é uma proposta de melhorar ou de pôr uma nova
ordem no texto oral, pois as modificações notadamente efetuadas nas
retextualizações analisadas não revelam a presença de processos cognitivos
novos, mais altos ou mais abstratos na escrita em relação à fala.
(MARCUSCHI, 2001, p. 10)

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