A evolução da abordagem do saneamento ao longo do tempo está
intimamente ligada às transformações sociais, urbanização crescente e aumento populacional, gerando desafios como a gestão de resíduos e a impermeabilização do solo. Historicamente, a percepção de saneamento varia conforme fatores culturais e sociais, ligados à relação homem-ambiente e níveis de conhecimento. No entanto, a crescente conscientização ambiental levou à distinção entre saneamento básico, focado na saúde humana, e saneamento ambiental, que equilibra as necessidades sociais com a proteção do ambiente. Ambas as abordagens são cruciais para promover saúde pública e sustentabilidade em um mundo em constante mudança. A saúde é uma palavra de origem etimológica variada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental, social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. O objetivo principal da saúde pública é assegurar que as comunidades tenham a oportunidade de desfrutar de vidas saudáveis e seguras, abordando uma variedade de fatores, como aqueles de natureza social, econômica, ambiental e comportamental que influenciam a saúde da população. A OMS recomenda que os indicadores de saúde não se limitem apenas a medidas quantitativas de doenças e mortes, mas também considerem uma ampla gama de outros fatores que impactam a saúde das populações. Saúde pública é a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida e promover a saúde e a eficiência física e mental, através de esforços organizados da comunidade para o saneamento do meio e controle de doenças infecto contagiosas, promover a educação do indivíduo em princípios de higiene pessoal, a organização de serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e tratamento preventivo das doenças, assim como o desenvolvimento da maquinaria social de modo a assegurar, a cada indivíduo da comunidade, um padrão de vida adequado à manutenção da saúde (WINSLOW, 1920). A construção do conceito de saneamento se baseia nas condições materiais e sociais de cada época, considerando assim a relação entre homem-natureza, classe social, o nível de informação e conhecimento. Contudo, a OMS define saneamento como “o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu estado de bem-estar físico, mental ou social”, mostrando que não existe somente um conceito para a definição de saneamento. A Funasa e suas instituições antecessoras desenvolveram Manuais de Saneamento entre 1944 e 2007, onde foi possível notar mudanças no conceito de saneamento por conta das mudanças ocorridas ao decorrer de cada época. Em 1944, o Manual para Guardas Sanitários definiu saneamento como a aplicação de medidas para evitar transmissão de doenças nas casas e cidades, visando evitar doenças comunicáveis, o que mostra que o saneamento estava ligado às intervenções físicas por meio de interrupções nos ciclos de doenças transmissíveis, seja com construções de privadas higiênicas no tipo fossa seca ou implantação de abastecimento de água. Em 1950, o Manual de Saneamento definiu saneamento como a aplicação de medidas com modificações no meio ambiente, visando interromper o elo da cadeia de transmissão de doenças por meio da aliança com a educação sanitária, sendo isso a base da saúde pública, onde investiu-se em suprimento de água, destino dos dejetos, cuidados e manuseio dos alimentos e coleta, controle dos animais transmissores de doenças e destino do lixo. Em 1964, o Manual de Saneamento apresentou dois conceitos para saneamento: o primeiro era a aplicação de medidas com modificações no meio ambiente a fim de prevenir doenças e promover saúde, sendo uma definição de intervenção física e que não leva em conta os fatores humanos; a segunda definiu saneamento como a qualidade de viver em condições de salubridade, ou seja, com casa limpa, vizinhança limpa, comércio e indústria limpos, fazendas limpas, onde agrega principalmente às mudanças em fatores e hábitos humanos. Em 1999, foi apresentada a definição de saneamento ambiental como sendo um conjunto de ações socioeconômicas que tem a finalidade de proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural por meio de níveis aceitáveis de salubridade ambiental, seja com abastecimento de água potável, coleta e disposição de resíduos diversos, disciplina sanitária, drenagem urbana, controle de doenças e obras especializadas, onde também se visa a redução do sofrimento humano e perdas de vida através da sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrência de endemias ou epidemias veiculadas pelo meio ambiente. Em 2015, o manual apresentou a definição de saneamento básico, que é utilizada atualmente, como sendo o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, às quais o homem e o meio possuem uma relação intrínseca mediada no campo do saneamento, um dos principais pilares para o desfrutamento da qualidade de vida. A OMS e a Unicef apresentam o acesso aos serviços de abastecimento de água como a disposição de, no mínimo, 20 litros de água por pessoa ao dia e que no entorno de um quilômetro da habitação se tenha uma fonte “melhorada”, ou seja, uma fonte que proporcione água “segura”. Segundo a ONU, o abastecimento de água adequado se dá pelo acesso à água potável em quantidade suficiente, de forma regular, prática e disponível a um preço econômico; o abastecimento de água melhorado se dá com o acesso de, ao menos, 20 litros/pessoa/dia disponíveis em uma fonte a menos de 1 km da residência; o esgotamento sanitário adequado é um sistema proveitoso para toda a família, econômico e que elimina o contato humano com os dejetos da casa ou da vizinhança; o esgotamento sanitário melhorado se dá com o acesso a sanitários privados ou compartilhados, conectados a uma rede de coleta de esgotos pública ou a uma fossa séptica, ou acesso a latrinas com cisterna, latrinas de poço simples ou latrinas de poço ventiladas melhoradas, privadas ou compartilhadas. Meio ambiente é o conjunto de fatores exteriores que agem de forma permanente sobre os seres vivos, aos quais os organismos devem se adaptar e com os quais têm de interagir para sobreviver. No Brasil, o conceito abrange as condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permitem, abrigam e regem a vida em todas as suas formas. Na ONU, o conceito inclui componentes físicos, químicos, biológicos e sociais que impactam nos seres vivos e nas suas atividades. Além disso, define-se meio ambiente natural como a interação dos seres vivos e seu meio; meio ambiente artificial como constituído pelo espaço urbano construído; e o meio ambiente cultural que, embora artificial, difere do anterior pelo sentido de valor especial que adquiriu ou de que se impregnou. A saúde ambiental visa os aspectos da saúde humana através da interação com fatores do meio ambiente, que podem afetar potencialmente de forma adversa a saúde humana das gerações do presente e do futuro, determinando, condicionando e influenciando com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano, sob o ponto de vista da sustentabilidade. Em 1986, na Conferência de Ottawa, a OMS propôs o conceito de promoção à saúde sendo um “processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle desse processo”, mudando esse conceito ao longo do tempo como a capacitação das pessoas e comunidades para modificarem os determinantes da saúde em benefício da própria qualidade de vida, por meio de políticas públicas, ambientes saudáveis, orientações públicas e individuais, reorganização dos serviços de saúde, levando em consideração características culturais, sociais, políticas e econômicas. Por tudo isso, nota-se que para a melhoria do saneamento deve-se pesquisar as condições da sociedade local, indicando as responsabilidades de cada agente envolvido, buscando assim atender os princípios de uma intervenção de saneamento, que são de atendimento universal, de equidade, de integralidade, de participação e de controle social, gestão e responsabilidade pública.