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E SOCIALMENTE RESPONSÁVEL:
teoria e prática
Miguel Pina e Cunha. Professor associado na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. É
doutorado pela Universidade de Tilburg e agregado pela Universidade Nova de Lisboa. É co-autor ou organizador de livros
como Organizational Improvisation (Routledge, 2002), Manual de Comportamento Organizacional e Gestão (RH Editora,
2003) e LIDERAR (Dom Quixote, 2005), bem como de artigos em mais de três dezenas de revistas internacionais, incluin-
do Academy of Management Review, Organization Studies, Human Relations, Futures e Journal of Management Studies. Faz parte dos
conselhos editoriais das revistas Organization Studies e European Management Review. A par da actividade académica, tem feito
coaching de executivos e participado em projectos de intervenção no âmbito do Centro de Estudos em Gestão de Empresas
(CEGE), da FE-UNL e de formação de executivos com o Instituto Nova Forum.
Nuno Guimarães da Costa. Assistente convidado na FEUNL. Mestre em gestão pela Universidade Nova
de Lisboa, está a desenvolver uma tese de doutoramento em Psicologia das Organizações onde procura estabelecer a ponte,
no que se refere ao tema da ética e da responsabilidade social das organizações, entre a China, Angola e Portugal. Conta com
uma carreira profissional em empresas superior a 13 anos, onde exerceu várias funções de gestão em empresas nacionais
e estrangeiras.
Helena Gonçalves. Licenciada em Economia, Master em Responsabilidad Social Corporativa, Contabilidad Y Auditoría
Social (Universidade de Barcelona), Master em Direcção Geral de Empresas (EUDEM) e pós-graduação em Gestão de
Recursos Humanos. Fez o Social Accountability Auditor/Lead Auditor Training Course, pela SGS UK. Tem leccionado discipli-
nas da área da Ética Empresarial na Universidade Católica-Porto e na Escola de Gestão Empresarial. Com uma carreira
profissional de 20 anos, exerceu funções de gestão em empresas nacionais e multinacionais. Tem desenvolvido projectos de
consultoria em ética e responsabilidade social das organizações e realizado conferências, seminários, workshops e eventos
de formação de executivos. É membro do International Standard Organization / Technical Management Board / Working Group on
Social Responsibility e das Comissões Técnicas de normalização de Responsabilidade Social.
A GRADECIMENTOS
A ingratidão é a mais imperdoável das fraquezas humanas.
Edison
Este livro beneficiou da cooperação de diversas pessoas e entidades – especialmente das que nos concederam autoriza-
ção para a publicação de textos, excertos de entrevistas, códigos de ética/conduta e outros documentos empresariais.
A todos estamos gratos. Eis os seus nomes:
É também com muita honra que vemos publicados nesta obra os depoimentos do Dr. José Roquete e da Drª. Estela
Barbot. A ambos estamos especialmente gratos.
Nota prévia
Este livro está repleto de exemplos e casos práticos sobre empresas, instituições, eventos e documentos. Suge-
rimos ao leitor que os compreenda no contexto do tempo em que a obra acabou de ser redigida (Fevereiro de
2006). Desde então, novos eventos e documentos terão surgido. Por exemplo, as empresas poderão ter publicado
novos relatórios de sustentabilidade; os critérios de algumas normas poderão também ter sofrido alterações; e
novos eventos poderão ter surgido.
Este ritmo de mudança célere é incontornável. E os autores dos livros dispõem de uma de duas opções: (1) não
facultam exemplos e casos práticos por receio de que eles se desactualizem rapidamente, mas assim descuram
uma das vertentes mais relevantes para a compreensão da matéria abordada; (2) atendem a este vertente, mas
incorrem no risco de facultar exemplos passíveis de desactualização.
A nossa opção foi a segunda. Importa, pois, que o leitor tome os nossos exemplos como ilustrações dos temas
abordados e actualize os conhecimentos através da busca de informação sobre cada entidade e/ou evento.
Í NDICE
PREFÁCIO
Introdução
Teoria e prática
Meditar para agir
Complementos práticos e “artísticos”
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Uma perspectiva global
Capítulo 1
A ÉTICA NA GESTÃO:
entre A lógica do Poker e a cultura baseada em valores éticos
Introdução
Uma arena complexa
Porque os gestores adoptam acções menos éticas?
A ética como campo controverso
A crescente importância da ética na gestão
A ética Da gestão será uma ética menos ética?
Os negócios dos macacos e o argumento darwinista naif
“Porque não funcionam os códigos de ética”
O jogo do ultimato e o comportamento dos macacos
A ética inserida na formação em gestão
A expansão dos eventos formativos e académicos
A formação em ética surtirá efeitos?
Em prol de uma cultura de gestão mais ética
Súmula conclusiva
ÍNDICE
Capítulo 2
A ética, A consciência, o mercado e a lei: TEORIAS e práticas
Introdução
Algumas noções gerais sobre a ética
Moralidade e (teoria) ética
Ética e lei
Ética e consciência
Três abordagens à ética
Dois tipos de relativismo ético: Individual e cultural
Egoísmos
Teorias normativas: o que deve, e como deve, ser feito?
Noções gerais
O papel dos códigos profissionais
Teorias utilitaristas
A ética Kantiana e o imperativo categórico
Teorias prescritivas contemporâneas:
Contributos complementares para compreensão da ética
Teorias da moralidade comum
Teorias dos direitos
A ética das virtudes
Liderança virtuosa
As teorias feministas e a ética do cuidar
Teorias da justiça
Súmula conclusiva
Capítulo 3
A empresa como organização eticamente responsável:
quatro visões, quatro concepções
Introdução
O negócio do negócio é o negócio
O gestor como agente dos proprietários da empresa
Uma leitura crítica da tese de Friedman
A tese da moral mínima
A missão moral das empresas
O dever moral de melhorar o mundo
A insuficiência da lei
A insuficiência do mercado
A insuficiência da resposta às expectativas públicas
Uma breve análise crítica à tese da missão moral das empresas
A teoria dos stakeholders
Stockholders versus stakeholders
Benefícios, direitos e consequências
Breve análise crítica da teoria dos stakeholders
pessimismos e realismos em torno da responsabilidade social
A responsabilidade social, a boa gestão e a síndrome de Robin Wood
GESTÃo ética e socialmente responsável
Capítulo 4
As controvérsias e o mapa do território
Capítulo 5
desafios, pressões e respostas
Introdução
As pressões e os desafios
Cidadãos mais sensibilizados
Estrutura do capítulo
ÍNDICE
Capítulo 6
códigos de ética e de conduta
Introdução
O que são e como estão presentes em diferentes países
Tipos, motivações e conteúdos dos códigos
Motivações
Conteúdos
Funções e limitações dos códigos
O seu papel vantajoso
Limitações, problemas e dificuldades
“Um código de ética para os códigos de ética”
Princípios fundamentais de elaboração e implementação de um código
GESTÃo ética e socialmente responsável
Padrões morais
Estádios de desenvolvimento dos códigos
Considerações adicionais sobre a criação, o desenvolvimento e a implementação dos códigos de ética
A eficácia dos códigos
Súmula conclusiva
Capítulo 7
Uma leitura global sobre a responsabilidade social
das empresas em Portugal
Intróito
Enquadramento geral
O panorama geral em Portugal
O simbolismo das perspectivas da Primeira-Dama e do Presidente da República
Uma tentativa de síntese
Desempenhos económico, social e ambiental
Organizações, associações, projectos e programas
BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável
GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial
RSE Portugal – Associação Portuguesa para a Responsabilidade Social das Empresas
APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial
IPCG – Instituto Português de Corporate Governance
ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores
OIKOS – Cooperação e desenvolvimento
Mecenatonet
Projecto “Mão-na-Mão”
O programa EQUALSKILLS
“Vitalidade XXI - A indústria alimentar por uma vida saudável”
Impactus – Empresa Sustentável
Sair da Casca
PRÉMIOS, Reconhecimentos e concursos
“As melhores empresas para trabalhar”
“Igualdade é qualidade”
“Prevenir Mais Viver, Melhor no Trabalho”
“Ser PME responsável”
“Cidadania das empresas e das organizações”
Prémio de Excelência - Sistema Português da Qualidade (PEX-SPQ)
Prémios para relatórios ambientais e de sustentabilidade
“Empresa mais familiarmente responsável”
Concurso nacional de boas práticas locais para o desenvolvimento sustentável
“Marketing sustentável e com consciência”
Prémio Agostinho Roseta
Responsabilidade social das empresas portuguesas – 25 casos de referência
Documentos obrigatórios em Portugal relacionados com a comunicação da
responsabilidade social
Balanço Social
ÍNDICE
Complemento 1
Casos e exemplos práticos
para reflexão, discussão e aprendizagem
GESTÃo ética e socialmente responsável
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ÍNDICE
74. Fabricante de antiviral contra a gripe das aves recusa libertar a patente
75. Concertação de preços de farmacêuticas prejudica vinte e dois hospitais
75. SIDA em África: Financiar, ajudar responsavelmente – ou algo falta?
77. Empresa holandesa culpada por compra de medicamentos para SIDA
Filantropia e benemerência
78. Bill Gates faz uma doação de 215 milhões de euros para combate à malária
79. O plano da IKEA para combater o trabalho infantil
80. “IKEA dá 1% dos lucros anuais para a acção social”
81. Quando a esmola é grande ...
82. E não é que Bill Gates se lembrou de nós?!
Responsabilidade perante o ambiente e a natureza
83. A Brisa com preocupações ambientais
84. Número de cegonhas brancas subiu cinco vezes em 20 anos
85. Texaco julgada por poluição no Equador
86. Toillets Please
87. Os consumidores já não vão em cantigas
Cultura organizacional, ética e responsabilidade
88. Cultura de secretismo da NASA também foi culpada do acidente do Columbia?
89. Quem nos salva?
90. NASA ia repetindo os erros com o Discovery
91. Meias brancas proibidas
Responsabilidade perante clientes e consumidores
92. Testes a produtos sublinhando a ética e a responsabilidade social
93. O Hotel da Caixa Geral de Depósitos
94. Bloco de Esquerda denuncia “selvajaria”’ bancária em relação a doentes com HIV/Sida
95. Perigo light
96. “O Roteiro para a felicidade”
97. Centro Hospitalar do Alto Minho tenta cativar companhias de seguros
98. Lei, ética e gestão: O caso de um hospital-empresa
99. Mulher com véu islâmico proibida de entrar num banco
O indivíduo e a organização – alguns Dilemas e responsabilidaes
100. Microsoft na China – e o papel da democracia e da liberdade
101. As farmácias católicas
102. Prevaricar ... sem que ninguém saiba
103. Lançaríamos a bomba se estivéssemos no lugar de Truman?
104. A ética não é imposta – antes é uma decisão individual?
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GESTÃo ética e socialmente responsável
Complemento 2
A ÉTICA NAS ARTES
Cinema
Wall street
Filadélfia
Until the end of the world
Erin Brockovich
Forrest Gump
O gosto dos outros
Dogville
Underground
Citizen kane
A maldição do escorpião de jade
Literatura
O mandarim
Íliada
Uma barragem contra o Pacífico
O Príncipe
O Processo
O Principezinho
O nome da rosa
Memórias de Adriano
A caverna
Crime e castigo
Música e Poesia
Construção
Tejo que levas as águas
Bono e os U2 medalhados por Jorge Sampaio
Democracy
I don’t wanna grow up
Everything counts
FMI
My Way
Vou dar de beber à dor
Les bourgeois
Palabras para Júlia
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P REFÁCIO
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GESTÃo ética e socialmente responsável
É por isso que o livro “Gestão Ética e So- e que implicam opções complicadas nos mais
cialmente Responsável – teoria e prática” re- diversos planos, incluindo o moral e o ético.
vela-se da maior importância e interesse, na
medida em que não se limita a oferecer um A preocupação Ética é permanente, procuran-
conjunto de teorias em torno da Ética, mas dá do encontrar sempre novas respostas, de acor-
a possibilidade de confrontar a sua aplicação do com os dados disponíveis, para um novo
em casos muito práticos que ajudam a apre- conjunto de questões que a economia global
ender conceitos e teorias, ajudam a perceber tem vindo a colocar, de forma premente, às
a influência real que a qualidade dos nossos sociedades modernas.
comportamentos tem na vida das empresas, e
na sociedade onde estamos inseridos. Uma preocupação que não pode ficar apenas
em torno de teorias, mas tem de se consolidar e
Um livro que aborda de forma pedagógica um evoluir no sentido da busca das melhores solu-
conjunto de áreas onde a ética se desenvolve, ções que possam incrementar a aplicação práti-
funcionando como um Manual de Ética onde ca dos valores e dos comportamentos fixados.
o leitor poderá regressar muitas vezes, apreen-
dendo de forma nova a sua mensagem. Não admira, portanto, que as comunidades
empresariais tenham sentido a necessidade de
São livros como este que abrem as portas da evoluir para fórmulas organizativas mais ela-
ética e da responsabilidade social das empre- boradas, fixando códigos de comportamentos
sas nas suas múltiplas vertentes e implicações, e métodos de avaliação do seu cumprimento.
que permitem trilhar um caminho seguro, Foi assim que surgiu a primeira compilação
procurando não o “exibicionismo” das acções legal sobre governação das empresas, o Sar-
mas a mudança segura de comportamentos e, banes Oxly Act, em vigor nos Estados Unidos
principalmente, a mudança da cultura empre- desde 2002 e desde então multiplicaram-se
sarial e social. os documentos e as iniciativas em diferentes
Uma nova cultura empresarial, que não con- latitudes visando conciliar, no dia-a-dia das
funda Ética com perigosos paternalismos empresas, poderes e interesses muito diversos,
piedosos, mas perceba que procurar a Ética tantas vezes conflituais.
significa maior exigência e qualidade num con-
fronto, permanentemente, da procura de uma O esforço desenvolvido com vista à resolução
maior rentabilidade com a defesa intransigen- inteligente destes conflitos, no quadro de uma
te do Homem. assumida consciência da responsabilidade so-
cial das empresas, acaba por constituir um dos
A Ética empresarial tem de ter sempre o Ho- objectivos principais da ética empresarial e um
mem e a Empresa como principais pilares, contributo incontornável, ao contrário daqui-
tentando orientar a resposta dos decisores lo que alguns serão levados a pensar, para um
perante as várias situações de conflitos de in- salutar aumento da competitividade das eco-
teresses que o quotidiano empresarial coloca nomias e das empresas.
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PREFÁCIO
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GESTÃo ética e socialmente responsável
maiores garantem uma visibilidade, que não que nem todos de acordo, porque em Portu-
encontram paralelo em escalas mais reduzidas. gal ainda é “crime público” perseguir o lucro,
Muitas vezes, numa PME, a inclusão ou não ser ambicioso e ter sucesso. Mas à parte da
de projectos de responsabilidade social tem a especificidade do rectângulo lusitano, dizia eu
ver com características do próprio director- que todos de acordo…não fosse a expressão
geral/accionista. Ou seja, está mais ligada a estar incompleta. O que a teoria diz é: o ob-
variáveis aleatórias ligadas ao livre arbítrio da jectivo das empresas é maximizar o lucro, no
gestão da empresa, do que com boas ou más longo prazo. Ora este complemento, como fa-
práticas de gestão. cilmente se compreende, faz toda a diferença.
E faz particular diferença quando falamos em
Este livro alerta para a necessidade de norma- ética na gestão ou ética empresarial. Se, para
lização de conceitos, embora a diversidade de as empresas, obter lucro de curto prazo de
opiniões e de correntes expressas mostrem que forma ética é uma questão de escolha, numa
não será tarefa fácil de executar. A meu ver, e perspectiva de longo prazo é uma questão de
como em quase tudo, o que verdadeiramente sobrevivência.
está na génese de um conceito vingar ou não
é a capacidade de mudar mentalidades. É pre- Tomemos como exemplo um jogo de tabulei-
ciso despertar para novas realidades empresa- ro, jogado a dois. Se eu tenho só uma jogada
riais, e isso faz-se investindo em formação e para fazer (curto prazo) não estou preocupado
requalificação dos mais velhos e ensinando os com as consequências que a minha jogada vai
mais novos. Habituados que estamos em Por- ter no outro jogador (leia-se: colaboradores,
tugal a ter a visão toldada para o curto prazo, é accionistas, fornecedores, clientes, Estado).
preciso apresentar e explicar a teoria e as prá- Ao invés, se o jogo incluir mais jogadas (longo
ticas da gestão ética e socialmente responsável prazo), eu sei que todas as minhas acções vão
aos futuros “homens-do-leme”. Acredito mais condicionar o outro jogador, e vão também
nesta via, do que em eventuais processos de condicionar-me a mim própria, porque o que
certificação, como acontece na Qualidade. O eu fizer terá um efeito boomerang sob a forma
que está em causa não são as normas, mas sim de resposta do meu adversário. O jogo repe-
a sua aplicação e compreensão por parte dos tido permite (mais, obriga a) comportamen-
gestores e colaboradores. Quantos exemplos tos diferentes dos jogos sem repetição, e as
cada um de nós conhece em que os processos instituições que suportam a maximização de
são o fim em si mesmo, e não a forma de obter longo prazo por parte das empresas também
melhores resultados e tornar as empresas mais não podem ser as mesmas. A responsabilidade
competitivas? social das empresas e o acompanhamento do
desenvolvimento sustentável pode certamente
Vale também a pena retomar um conceito apoiar aquelas instituições, desde que não se
económico básico, mas muitas vezes esqueci- resvale da boa gestão para a burocracia.
do: o objectivo das empresas é maximizar o
lucro. Até aqui todos de acordo. Aliás, diria
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PREFÁCIO
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18
I NTRODUÇÃO
“Não quer isto dizer que os lucros não são importantes para a Levi Strauss, a Body
Shop e outras empresas socialmente responsáveis; quer apenas dizer que não são a
prioridade central”.1
1 Garfield (1995, p. 5) 2 Kaku (1997, p. 55) 3 in Ribeiro (2006, p.30) 4 Garfield (1995, p. 5)
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GESTÃo ética e socialmente responsável
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INTRODUÇÃO
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GESTÃo ética e socialmente responsável
7 Sublinhe-se que a lógica económica não é necessariamente egoísta, e vice-versa. 8 Ladd (1970, p. 499)
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INTRODUÇÃO
Goodpaster e Matthews, Jr.: “Em nossa da moralidade comum, as teorias dos direitos,
opinião, esta linha de pensamento represen- a ética das virtudes, as teorias feministas e a
ta uma tremenda barreira para o desenvol- ética do cuidar, e as teorias da justiça. Conce-
vimento da ética empresarial, tanto como de particular atenção à ética das virtudes (e.g.,
campo de pesquisa quanto como força prá- prudência, coragem, temperança) e sublinha as
tica na tomada de decisão gestionária. Esta características da liderança virtuosa. Entre as
é uma matéria acerca da qual os executivos questões a que o capítulo procura responder,
devem ser filosóficos, e os filósofos devem estão as seguintes:
ser práticos. Uma empresa pode e deve ter
uma consciência. A linguagem da ética deve • Qual a diferença entre moralidade e ética?
ter um lugar no vocabulário de uma orga- • Bastará cumprir a lei para ser ético?
nização. (...) Os agentes organizacionais • Serão éticas as pessoas que actuam de acordo
como as empresas devem ser nem mais com a sua consciência?
nem menos moralmente responsáveis (ra- • O que é o relativismo ético?
cionais, auto-interessados, altruístas) do que • O que significam, e quais são as consequên-
as pessoas comuns. Tomamos esta posição cias, dos egoísmos psicológico e ético?
porque pensamos que existe uma analogia • Qual o papel e as limitações dos códigos pro-
entre o indivíduo e a empresa. Se analisar- fissionais nas práticas éticas?
mos o conceito de responsabilidade moral • O que são teorias utilitaristas ou consequen-
tal como ele se aplica às pessoas, vemos que cialistas?
é possível a sua projecção sobre as empresas • O que é o imperativo categórico?
como agentes da sociedade ”.9 • Perante dilemas éticos, devemos escolher o
caminho que obedece a determinados prin-
cípios/valores, ou devemos escolher o que
CAPÍTULO 2 conduz a melhores resultados, mesmo que
isso implique o sacrifício de alguns impera-
O capítulo 2 procura delimitar alguns conceitos tivos éticos?
e mostrar como se distinguem a ética, a mora- • Quais são as principais virtudes desejáveis nos
lidade e a lei. Mostra que os ditames da consci- membros organizacionais, especialmente nos
ência não são necessariamente éticos. Explana líderes?
o significado de três abordagens à ética (des- • Como se diferenciam as facetas distributiva,
critivas, conceptuais e normativas/prescritivas) procedimental e interaccional da justiça nas
para, posteriormente, se debruçar sobre várias organizações?
teorias normativas (“o que devemos fazer para
sermos éticos”). Discute o significado do relati- Caixa i.3
vismo ético e dos egoísmos psicológico e ético. A ética e a lei na 3M
Explica o significado do utilitarismo e do impe-
rativo categórico de Kant, e caracteriza algumas Eis como a 3M declara interpretar a im-
teorias prescritivas contemporâneas: as teorias portância da ética e da lei na condução dos
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GESTÃo ética e socialmente responsável
negócios, assim se dirigindo aos seus cola- • Respeite a dignidade e o valor das pes-
boradores: soas.
• Encoraje a iniciativa individual e a ino-
Os mais elevados padrões da 3M vação, numa atmosfera de flexibilidade,
“A conduta ética nos negócios por vezes cooperação e confiança.
requer mais do que a obediência estrita à • Promova uma cultura onde o cumprimen-
lei. Acresce que não há leis que governem to de promessas, a justiça, o respeito e a
muitas actividades empresariais. Mesmo responsabilidade pessoal são valorizadas,
quando a lei se aplica, por vezes estabelece encorajadas e reconhecidas.
padrões de comportamento que são inacei- • Crie um local de trabalho seguro.
tavelmente baixos para a 3M. Quando se • Proteja o ambiente”.10
confrontar com tais situações, é necessário
que faça uma escolha boa e ética (...). Esta Tomando decisões éticas
secção contém conselhos para ajudá-lo a “Deve ser capaz de responder ‘sim’ às se-
conseguir isso. guintes questões antes de agir em nome da
3M:
As políticas de conduta dos negócios da
3M facultam orientação para muitas situa- • Esta acção é consistente com os valores
ções, mas este manual não pode cobrir to- da honestidade e da integridade da 3M?
das as situações que possa enfrentar na sua • Esta acção pode ser do conhecimento do
actividade na empresa. Nesses casos, a suas público?
acções devem ser guiadas pelos nossos va- • Esta acção protege a reputação da 3M
lores fundamentais de empenhamento na como empresa ética?
integridade e na honestidade. Estes valores
incluem o cumprimento de promessas, a Se não puder responder ‘sim’ a todas as
justiça, o respeito e a consideração pelos questões, e mesmo assim acreditar que a ac-
outros, assim como o sentido da responsa- ção é ética e legal, deverá rever a acção com
bilidade pessoal. o seu superior, a gestão ou o seu consultor
jurídico, pois pode não ser do seu melhor
A tomada de decisão ética requer a avalia- interesse ou do da 3M prosseguir.”
ção e a atenção devida a cursos alternativos
de conduta, tendo em conta os seguintes
padrões empresariais: CAPÍTULO 3
24
INTRODUÇÃO
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GESTÃo ética e socialmente responsável
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INTRODUÇÃO
baixo nível de criticismo social dirigido ao aderido à certificação pela norma SA8000?
sistema da empresa privada – se todos os • O que é uma auditoria social e que métodos e
negócios adoptarem uma postura social- etapas deve seguir?
mente responsável? • O que são relatórios de sustentabilidade? Que
atenção lhes têm concedido as empresas por-
tuguesas?
CAPÍTULO 5 • Os prémios, os reconhecimentos e os rankings
sociais e ambientais concedidos às empresas
O capítulo 5 discute alguns dos desafios e pres- poderão contribuir para mudar o seu com-
sões a que as empresas são submetidas para portamento?
adoptarem acções socialmente responsáveis. E • Quais os traços principais do Livro Verde da
mostra como as organizações e a sociedade em Comissão Europeia sobre RSE? E quais as
geral têm respondido a estes reptos. Compara- dimensões de RSE nele contempladas?
tivamente com o capítulo anterior, este conce- • O que são as “melhores empresas para traba-
de menor ênfase às considerações “teóricas” e lhar” e as organizações autentizóticas? Como
debruça-se mais acentuadamente sobre as prá- é que os colaboradores dessas organizações
ticas das empresas e das instituições que as ava- reagem em termos de saúde individual e
liam. Enquanto o capítulo anterior procura dar stresse, empenhamento afectivo na organiza-
conta das múltiplas concepções acerca do que ção e desempenho?
é a RSE, este mostra como ela é “estimulada”
e colocada em prática, tanto pelas empresas Caixa i.6
como por muitas organizações internacionais Fórum de Davos quer
que pretendem incentivá-la e/ou enquadrá-la. maior empenho social das empresas
Eis algumas das perguntas mais proeminentes
a que o texto procura responder: Eis o teor de uma notícia publicada no Diá-
rio de Notícias em 25 de Janeiro de 2005:
• Quais os principais desafios e pressões que
hoje são dirigidos às empresas no âmbito da “É necessária maior intervenção do sector
responsabilidade social corporativa? privado para atingir os objectivos de desen-
• O que é o investimento socialmente respon- volvimento prometidos pelos líderes mun-
sável? diais. Esta é a conclusão de um relatório
• O que são índices de sustentabilidade como divulgado ontem pelo Fórum Económico
os Financial Times Stock Exchange 4 Good Inde- Mundial. Mais de 2000 figuras internacio-
xes e os Dow Jones Sustainability World Indexes? nais reúnem-se a partir de amanhã na lo-
Serão as empresas abrangidas por estes ín- calidade suíça de Davos, para debater o fu-
dices mais rentáveis do que as empresas em turo da economia mundial. O documento
geral? explica que, em vários países, as empresas
• O que são as normas SA8000 e AA1000? Em têm descurado sectores-chave como a edu-
que medida as organizações portuguesas têm cação, a alimentação e os direitos humanos,
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GESTÃo ética e socialmente responsável
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INTRODUÇÃO
Quadro i.1
Boas e más práticas que o Institute of Business Ethics refere como
relevantes para a eficácia dos códigos14
Boas práticas Más práticas
• Alicerçar o código em valores éticos nucleares. • Afixar simplesmente o código no quadro de avisos da
• Entregar uma cópia a todos os colaboradores. empresa.
• Proporcionar um modo de as denúncias de violações • Não conseguir obter o empenhamento da direcção de
do código serem feitas de forma confidencial. topo da empresa.
• Incluir as matérias éticas nos programas de formação. • Deixar a responsabilidade pela eficácia do código a
• Criar um comité para monitorar a eficácia do código. cargo do departamento de RH ou de outro departa-
• Tornar o cumprimento do código como parte do con- mento.
trato de trabalho. • Não ser capaz de identificar o que preocupa os colabo-
• Disponibilizar o código na língua dos colaboradores radores dos diferentes níveis da organização.
situados no estrangeiro. • Não dispor de um procedimento que permita rever o
• Disponibilizar cópias do código para os parceiros de código regularmente.
negócio, incluindo os fornecedores. • Criar/fazer excepções à aplicação do código.
• Rever o código à luz dos desafios e das mudanças • Não ser capaz de responder devidamente perante as
ocorridas nos negócios. violações do código.
• Fazer com que as pessoas de maior responsabilidade • Os líderes não darem o exemplo.
adoptem comportamentos congruentes com as pala- • Tratar o código como confidencial ou como documen-
vras (“walk the talk”) e dêem o exemplo. to puramente interno.
• Dificultar o acesso directo dos colaboradores ao código.
14 Ligeiramente adaptado de: http://www.ibe.org.uk/codesofconduct.html (acesso em 20 de Janeiro de 2006). 15 Edelman & Such-
man (1997, p.480)
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GESTÃo ética e socialmente responsável
crita do livro e a sua colocação no mercado significativas. Por isso, sugerimos ao leitor que
pode desactualizar alguns dados. Embora não tome os casos práticos e os exemplos como
o desejemos, é possível que isto suceda com ilustrações situadas no tempo – e que tome
esta obra. Em qualquer caso, convém salientar o quadro geral interpretativo como a moldura
que os princípios, os conceitos e as orienta- para compreensão de uma realidade que sofre
ções básicas tenderão a não sofrer alterações continuamente modificações.
ANEXO
Organizações abordadas no Complemento I (casos práticos e exercícios)
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