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GESTÃO ÉTICA

E SOCIALMENTE RESPONSÁVEL:

teoria e prática

Arménio Rego | Miguel Pina e Cunha | Nuno Guimarães da Costa


Helena Gonçalves | Carlos Cabral-Cardoso
A UTORES
Arménio Rego. Doutorado em Organização e Gestão de Empresas, Mestre em Ciências Empresarias, licenciado
em Gestão e Administração Pública, com uma especialização em Planeamento e Controlo de Gestão. Foi consultor do
Auditor Geral do Mercado de Títulos. É Professor na Universidade de Aveiro. Publicou dezoito livros e mais de uma
centena de artigos em revistas nacionais e internacionais. Tem desenvolvido projectos de consultoria em comportamento
organizacional e gestão de recursos humanos, e realizado várias dezenas de conferências, seminários, workshops e eventos de
formação de executivos. Foi agraciado com diversos prémios e menções honrosas, incluindo o Prémio Comandante Paço
d’Arcos, o Prémio Agostinho Roseta e o Prémio ANPAD (Brasil).

Miguel Pina e Cunha. Professor associado na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. É
doutorado pela Universidade de Tilburg e agregado pela Universidade Nova de Lisboa. É co-autor ou organizador de livros
como Organizational Improvisation (Routledge, 2002), Manual de Comportamento Organizacional e Gestão (RH Editora,
2003) e LIDERAR (Dom Quixote, 2005), bem como de artigos em mais de três dezenas de revistas internacionais, incluin-
do Academy of Management Review, Organization Studies, Human Relations, Futures e Journal of Management Studies. Faz parte dos
conselhos editoriais das revistas Organization Studies e European Management Review. A par da actividade académica, tem feito
coaching de executivos e participado em projectos de intervenção no âmbito do Centro de Estudos em Gestão de Empresas
(CEGE), da FE-UNL e de formação de executivos com o Instituto Nova Forum.

Nuno Guimarães da Costa. Assistente convidado na FEUNL. Mestre em gestão pela Universidade Nova
de Lisboa, está a desenvolver uma tese de doutoramento em Psicologia das Organizações onde procura estabelecer a ponte,
no que se refere ao tema da ética e da responsabilidade social das organizações, entre a China, Angola e Portugal. Conta com
uma carreira profissional em empresas superior a 13 anos, onde exerceu várias funções de gestão em empresas nacionais
e estrangeiras.

Helena Gonçalves. Licenciada em Economia, Master em Responsabilidad Social Corporativa, Contabilidad Y Auditoría
Social (Universidade de Barcelona), Master em Direcção Geral de Empresas (EUDEM) e pós-graduação em Gestão de
Recursos Humanos. Fez o Social Accountability Auditor/Lead Auditor Training Course, pela SGS UK. Tem leccionado discipli-
nas da área da Ética Empresarial na Universidade Católica-Porto e na Escola de Gestão Empresarial. Com uma carreira
profissional de 20 anos, exerceu funções de gestão em empresas nacionais e multinacionais. Tem desenvolvido projectos de
consultoria em ética e responsabilidade social das organizações e realizado conferências, seminários, workshops e eventos
de formação de executivos. É membro do International Standard Organization / Technical Management Board / Working Group on
Social Responsibility e das Comissões Técnicas de normalização de Responsabilidade Social.

Carlos Cabral-Cardoso. Doutorado em comportamento organizacional pela Universidade de Manchester


e agregado pela Universidade do Minho, onde é professor associado de Gestão e responsável pela área de Organização
e Políticas Empresariais e pela formação pós-graduada em estudos organizacionais e gestão de recursos humanos. Pu-
blicou artigos em diversos periódicos científicos como o Journal of Management Education, Journal of Business Ethics, Inter-
national Journal of Human Resource Management, Leadership & Organization Development Journal, Technology Analysis & Strategic
Management, International Journal of Innovation Management, Career Development International, Women in Management Review, e
IEEE Transactions on Engineering Management, para além de numerosas contribuições em livros e conferências.


A GRADECIMENTOS
A ingratidão é a mais imperdoável das fraquezas humanas.
Edison
Este livro beneficiou da cooperação de diversas pessoas e entidades – especialmente das que nos concederam autoriza-
ção para a publicação de textos, excertos de entrevistas, códigos de ética/conduta e outros documentos empresariais.
A todos estamos gratos. Eis os seus nomes:

Ana Roque – Sair da Casca


Cláudia Contenda – Delta Cafés
Eileen Kaufman – Social Accountability International
Errol Mendes – The International Code of Ethics for Canadian Business
Francisco Sanchez – EDP
Guy Villax – Hovione
João Carvalho – Delta Cafés
João José Esteves – Oikos
Katia Bied-Charreton – Levi Strauss & Co.
Líbano Monteiro – Acege
Manuel Baigorri – Levi Strauss & Co.
Maria João Vasconcelos – Sair da Casca
Nahalie Ballan – Sair da Casca
Paula Carneiro – Microsoft Portugal
Rui Alves – Johnson & Johnson
Sharlie Mello – Leon H. Sullivan Foundation
Teresa Correia de Barros – EDP

É também com muita honra que vemos publicados nesta obra os depoimentos do Dr. José Roquete e da Drª. Estela
Barbot. A ambos estamos especialmente gratos.

Nota prévia
Este livro está repleto de exemplos e casos práticos sobre empresas, instituições, eventos e documentos. Suge-
rimos ao leitor que os compreenda no contexto do tempo em que a obra acabou de ser redigida (Fevereiro de
2006). Desde então, novos eventos e documentos terão surgido. Por exemplo, as empresas poderão ter publicado
novos relatórios de sustentabilidade; os critérios de algumas normas poderão também ter sofrido alterações; e
novos eventos poderão ter surgido.

Este ritmo de mudança célere é incontornável. E os autores dos livros dispõem de uma de duas opções: (1) não
facultam exemplos e casos práticos por receio de que eles se desactualizem rapidamente, mas assim descuram
uma das vertentes mais relevantes para a compreensão da matéria abordada; (2) atendem a este vertente, mas
incorrem no risco de facultar exemplos passíveis de desactualização.

A nossa opção foi a segunda. Importa, pois, que o leitor tome os nossos exemplos como ilustrações dos temas
abordados e actualize os conhecimentos através da busca de informação sobre cada entidade e/ou evento.


Í NDICE

PREFÁCIO

Ética ao serviço de COMPEtitividade – Dr. José Roquete


Gestão ética e socialmente responsável não se fazem por decreto – Drª Estele Barhot

Introdução

Teoria e prática
Meditar para agir
Complementos práticos e “artísticos”
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Uma perspectiva global

Capítulo 1
A ÉTICA NA GESTÃO:
entre A lógica do Poker e a cultura baseada em valores éticos

Introdução
Uma arena complexa
Porque os gestores adoptam acções menos éticas?
A ética como campo controverso
A crescente importância da ética na gestão
A ética Da gestão será uma ética menos ética?
Os negócios dos macacos e o argumento darwinista naif
“Porque não funcionam os códigos de ética”
O jogo do ultimato e o comportamento dos macacos
A ética inserida na formação em gestão
A expansão dos eventos formativos e académicos
A formação em ética surtirá efeitos?
Em prol de uma cultura de gestão mais ética
Súmula conclusiva


ÍNDICE

Capítulo 2
A ética, A consciência, o mercado e a lei: TEORIAS e práticas

Introdução
Algumas noções gerais sobre a ética
Moralidade e (teoria) ética
Ética e lei
Ética e consciência
Três abordagens à ética
Dois tipos de relativismo ético: Individual e cultural
Egoísmos
Teorias normativas: o que deve, e como deve, ser feito?
Noções gerais
O papel dos códigos profissionais
Teorias utilitaristas
A ética Kantiana e o imperativo categórico
Teorias prescritivas contemporâneas:
Contributos complementares para compreensão da ética
Teorias da moralidade comum
Teorias dos direitos
A ética das virtudes
Liderança virtuosa
As teorias feministas e a ética do cuidar
Teorias da justiça
Súmula conclusiva

Capítulo 3
A empresa como organização eticamente responsável:
quatro visões, quatro concepções
Introdução
O negócio do negócio é o negócio
O gestor como agente dos proprietários da empresa
Uma leitura crítica da tese de Friedman
A tese da moral mínima
A missão moral das empresas
O dever moral de melhorar o mundo
A insuficiência da lei
A insuficiência do mercado
A insuficiência da resposta às expectativas públicas
Uma breve análise crítica à tese da missão moral das empresas
A teoria dos stakeholders
Stockholders versus stakeholders
Benefícios, direitos e consequências
Breve análise crítica da teoria dos stakeholders
pessimismos e realismos em torno da responsabilidade social
A responsabilidade social, a boa gestão e a síndrome de Robin Wood


GESTÃo ética e socialmente responsável

“Crentes”, “cínicos” e “ateus”


O “ateísmo” sob análise
Súmula conclusiva

Capítulo 4
As controvérsias e o mapa do território

Quatro tipos de teorias e abordagens


Teorias instrumentais:
“Que actividades sociais podem trazer-nos vantagens para os negócios?”
Maximização do valor para o accionista
Estratégias de incremento da vantagem competitiva
Marketing de causas
Teorias políticas:
“Como devem as empresas gerir o poder que têm na sociedade?”
Constitucionalismo corporativo/empresarial
Teorias do contrato social
Cidadania corporativa
Teorias integrativas:
“Como podem as empresas integrar as exigências sociais nos seus processos decisórios
e nas suas orientações?”
A gestão de assuntos sociais
O princípio da responsabilidade pública
A gestão dos stakeholders
O desempenho social da empresa
A crítica à pirâmide da responsabilidade social e a abordagem dos três domínios
Uma breve abordagem à filantropia empresarial
Teorias éticas:
“O que é correcto fazer-se? Que princípios éticos as empresas devem cumprir?”
A teoria normativa dos stakeholders
Direitos universais
Desenvolvimento sustentável
O bem comum
O espírito de cooperação e o kyosei em acção na Canon
as Mudanças no sistema e a mudança do sistema
Mudanças no sistema
A mudança do sistema
Súmula conclusiva

Capítulo 5
desafios, pressões e respostas

Introdução
As pressões e os desafios
Cidadãos mais sensibilizados
Estrutura do capítulo


ÍNDICE

O investimento socialmente responsável: natureza, motivações e implicações


O que é o investimento socialmente responsável
O amadurecimento do ISR e os índices de desenvolvimento sustentável ou de responsabilidade social
Fundos éticos, sociais e ecológicos
O activismo dos investidores socialmente responsáveis
O investimento socialmente responsável e a medição do “impacto social total”
Em prol de uma actuação mais proactiva e positiva
Oito categorias para gerar ratings TSI
Normas e certificações de responsabilidade social
Norma SA8000
Norma AA1000
padrões e Certificações de responsabilidade/desempenho ambiental
A norma ISO 14000
Eco-Management and Audit Scheme (EMAS)
Auditorias sociais ou de responsabilidade social
Noção e objectivos
Métodos, princípios orientadores e padrões de avaliação
Etapas de uma auditoria
Relatórios de responsabilidade social
A importância dos relatórios
Atributos e conteúdos dos relatórios
Considerações finais
Prémios, reconhecimentos e rankings sociais e ambientais
A responsabilidade social das empresas no quadro europeu
O Livro Verde e o tripé de objectivos económicos, sociais e ambientais
As dimensões da responsabilidade social
Uma abordagem integrada à RSE
As “melhores empresas para trabalhar” e as organizações autentizóticas
Confiança, sentido de orgulho e camaradagem
Organizações autentizóticas e trabalho com significado
Porque o pendor organizacional autentizótico influencia a saúde dos indivíduos e a das organizações?
Súmula conclusiva

Capítulo 6
códigos de ética e de conduta

Introdução
O que são e como estão presentes em diferentes países
Tipos, motivações e conteúdos dos códigos
Motivações
Conteúdos
Funções e limitações dos códigos
O seu papel vantajoso
Limitações, problemas e dificuldades
“Um código de ética para os códigos de ética”
Princípios fundamentais de elaboração e implementação de um código


GESTÃo ética e socialmente responsável

Padrões morais
Estádios de desenvolvimento dos códigos
Considerações adicionais sobre a criação, o desenvolvimento e a implementação dos códigos de ética
A eficácia dos códigos
Súmula conclusiva

Capítulo 7
Uma leitura global sobre a responsabilidade social
das empresas em Portugal

Intróito
Enquadramento geral
O panorama geral em Portugal
O simbolismo das perspectivas da Primeira-Dama e do Presidente da República
Uma tentativa de síntese
Desempenhos económico, social e ambiental
Organizações, associações, projectos e programas
BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável
GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial
RSE Portugal – Associação Portuguesa para a Responsabilidade Social das Empresas
APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial
IPCG – Instituto Português de Corporate Governance
ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores
OIKOS – Cooperação e desenvolvimento
Mecenatonet
Projecto “Mão-na-Mão”
O programa EQUALSKILLS
“Vitalidade XXI - A indústria alimentar por uma vida saudável”
Impactus – Empresa Sustentável
Sair da Casca
PRÉMIOS, Reconhecimentos e concursos
“As melhores empresas para trabalhar”
“Igualdade é qualidade”
“Prevenir Mais Viver, Melhor no Trabalho”
“Ser PME responsável”
“Cidadania das empresas e das organizações”
Prémio de Excelência - Sistema Português da Qualidade (PEX-SPQ)
Prémios para relatórios ambientais e de sustentabilidade
“Empresa mais familiarmente responsável”
Concurso nacional de boas práticas locais para o desenvolvimento sustentável
“Marketing sustentável e com consciência”
Prémio Agostinho Roseta
Responsabilidade social das empresas portuguesas – 25 casos de referência
Documentos obrigatórios em Portugal relacionados com a comunicação da
responsabilidade social
Balanço Social


ÍNDICE

Relatório de actividade do serviço de segurança, higiene e saúde no trabalho (SHST)


Relatório sobre o Governo das Sociedades

Complemento 1
Casos e exemplos práticos
para reflexão, discussão e aprendizagem

Notas prévias ao leitor


Dois exercícios preliminares
1. Um exercício sobre a eficácia ética da sua organização
2. Comportamentos empresariais éticos e não éticos
Códigos de ética e de conduta
3. Código de conduta ética da Delta Cafés
4 . O código de ética da Associação Cristã de Empresários e Gestores de Empresas
5. The International Code of Ethics for Canadian Business
6. Código de Ética da Hovione
7. Código de Conduta Empresarial da Microsoft
8. As Global Sourcing Guidelines e os Terms of Engagement da Levi Strauss & Company”
9. Código de ética da EDP
10. Porque é que o código de ética da Enron não foi suficiente? Porque a auditoria independente é crítica
para o mercado livre?
11. O código de ética da estação televisiva Aljazeera
Certificações de responsabilidade social
12. Responsabilidade Social 8000 (SA 8000)
13. Delta Cafés – A primeira certificação social em Portugal
14. DHL Portugal certificada na área da Responsabilidade Social
15. TNT Portugal certificada pela norma SA8000
16. Cooprofar – Cooperativa dos Proprietários de Farmácia certificada em Responsabilidade Social
desenvolvimento sustentável e Relatórios de responsabilidade SOCIAL
17. O relatório de Responsabilidade Social da Delta Cafés
18. O Relatório de Responsabilidade Social da Vodafone
19. O relatório de Responsabilidade Social da Siemens
20. O relatório de Responsabilidade Social da Hovione
21. As ambiguidades do Desenvolvimento Sustentável
22. Uma mensagem do Presidente do Grupo Santander no relatório de responsabilidade social
23. Relatórios sociais e ambientais da Ben & Jerry’s
A RSE como imperativo de negócio e de investimento
24. A RSE como imperativo de negócio no Millennium BCP
25. Portugal Telecom – Vocação Social desde 1989
26. Um anúncio de emprego muito peculiar
27. “Banca diz não à droga”
28. Investimento socialmente responsável disparou nos últimos quatro anos
29. O investimento socialmente responsável em Portugal
30. Empresas portuguesas no Dow Jones Sustainability Index
31. “A saúde é um assunto sério, tal como a escolha
32. As PME serão menos socialmente responsáveis?


GESTÃo ética e socialmente responsável

33. As origens de uma ideia – a responsabilidade social das empresas


Liderança
34. Procura-se CEO excelente e incorruptível
35. A missão do líder é velar por que as pessoas se sintam bem?
36. Futuro Chefe de Estado deve ser sério e isento – e os outros líderes?
37. Bernard Ebbers, o ex-CEO da Worldcom – uma personalidade multifacetada ou one man show?
38. A mania das grandezas de “Mr Bad Boy”
39. Os Titanics do capitalismo pós-moderno e os aldrabões de feira
40. A angústia dos executantes dos despedimentos
41. Líderes psicopatas
42. “Uma Questão de Liderança”
Condições de trabalho, discriminação e direitos humanos
43. Má alimentação no trabalho reduz produtividade em 20 por cento
44. McDonald’s contra os McJobs
45. Não queremos gordos nem doentes – as preferências da Wal-Mart
46. Trabalho escravo no Brasil
47. A sociedade do café e a miséria dos trabalhadores
48. Os outros funcionários do Estado não precisarão de nenhum estímulo nem de ser bons profissionais?
Estado, influência política e ética
49. Bastidores de Bruxelas
50. Guerra italiana
51. Empresas de informática criticam Bagão Félix por limitar acesso a concurso público
52. “Desinformação” em torno da Galp?
53. Iraquianos formam-se em Lisboa a convite da GALP
54. A eterna doença de Maria José
Corrupção, fraudes, escândalos e pequenas “manhas”
55. Em vez de combater a corrupção ... distribui-la equitativamente!
56. Sentença da WorldCom abala a América empresarial
57. Kenneth Lay e o fim de uma época nos EUA
58. “Denunciante” da Enron diz que antigo CEO mentiu sob juramento
59. Não culpem os advogados no caso da Enron
60. Como o dinheiro da Enron ganhou amigos e influenciou pessoas
61. Boeing em maus lençóis
62. Escândalos derrubam presidente da Boeing
63. Detidos 47 corretores de Wall Street
64. Crime envolvendo warrants Nokia
65. Anatomia de um crime
66. Pirataria de software atinge 41%
67. Na Volkswagem, deixou de haver vacas sagradas?
68. “Desejo-vos, a vocês e às vossas famílias, uma morte lenta e dolorosa”
69. Gestores espanhóis na mira da justiça
70. Bayergate, ‘take’ sete
71. A Banca sob investigação devido aos paraísos fiscais
72. Suíça acabou com o segredo bancário
73. Expresso compra acções para ‘infiltrar’ jornalista
a Responsabilidade social e os negócios da saúde

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ÍNDICE

74. Fabricante de antiviral contra a gripe das aves recusa libertar a patente
75. Concertação de preços de farmacêuticas prejudica vinte e dois hospitais
75. SIDA em África: Financiar, ajudar responsavelmente – ou algo falta?
77. Empresa holandesa culpada por compra de medicamentos para SIDA
Filantropia e benemerência
78. Bill Gates faz uma doação de 215 milhões de euros para combate à malária
79. O plano da IKEA para combater o trabalho infantil
80. “IKEA dá 1% dos lucros anuais para a acção social”
81. Quando a esmola é grande ...
82. E não é que Bill Gates se lembrou de nós?!
Responsabilidade perante o ambiente e a natureza
83. A Brisa com preocupações ambientais
84. Número de cegonhas brancas subiu cinco vezes em 20 anos
85. Texaco julgada por poluição no Equador
86. Toillets Please
87. Os consumidores já não vão em cantigas
Cultura organizacional, ética e responsabilidade
88. Cultura de secretismo da NASA também foi culpada do acidente do Columbia?
89. Quem nos salva?
90. NASA ia repetindo os erros com o Discovery
91. Meias brancas proibidas
Responsabilidade perante clientes e consumidores
92. Testes a produtos sublinhando a ética e a responsabilidade social
93. O Hotel da Caixa Geral de Depósitos
94. Bloco de Esquerda denuncia “selvajaria”’ bancária em relação a doentes com HIV/Sida
95. Perigo light
96. “O Roteiro para a felicidade”
97. Centro Hospitalar do Alto Minho tenta cativar companhias de seguros
98. Lei, ética e gestão: O caso de um hospital-empresa
99. Mulher com véu islâmico proibida de entrar num banco
O indivíduo e a organização – alguns Dilemas e responsabilidaes
100. Microsoft na China – e o papel da democracia e da liberdade
101. As farmácias católicas
102. Prevaricar ... sem que ninguém saiba
103. Lançaríamos a bomba se estivéssemos no lugar de Truman?
104. A ética não é imposta – antes é uma decisão individual?

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GESTÃo ética e socialmente responsável

Complemento 2
A ÉTICA NAS ARTES

Cinema
Wall street
Filadélfia
Until the end of the world
Erin Brockovich
Forrest Gump
O gosto dos outros
Dogville
Underground
Citizen kane
A maldição do escorpião de jade
Literatura
O mandarim
Íliada
Uma barragem contra o Pacífico
O Príncipe
O Processo
O Principezinho
O nome da rosa
Memórias de Adriano
A caverna
Crime e castigo
Música e Poesia
Construção
Tejo que levas as águas
Bono e os U2 medalhados por Jorge Sampaio
Democracy
I don’t wanna grow up
Everything counts
FMI
My Way
Vou dar de beber à dor
Les bourgeois
Palabras para Júlia

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P REFÁCIO

Ética ao serviço quotidiano, com reflexos positivos no seu rela-


da competitividade cionamento com a comunidade envolvente.

Por José Roquette Como coordenador do trabalho que conduziu


Empresário e Coordenador do projecto de à elaboração desse Código, sinto-me desde já
Código de Ética para Empresários e Gestores amplamente recompensado pelo movimento
de adesão espontânea que o projecto mereceu
Quando em Fevereiro de 2003 surgiu numa e na sua projecção mediática, na certeza de
reunião do Conselho de Patrocinadores da que os principais interessados e beneficiados
Associação Cristã de Empresários e Gesto- serão os empresários portugueses, cuja ima-
res a ideia de desenvolver um Código de Éti- gem é tantas vezes apresentada de forma in-
ca para os executivos portugueses, mentiria justamente distorcida, nomeadamente através
se dissesse que esperávamos uma tão grande de uma generalização de aspectos negativos
receptividade e uma tão pronta adesão, como que a realidade não confirma.
aquela que veio a ter o Código de Ética dos
Empresários e Gestores da ACEGE. Lembro uma sondagem realizada pelo Jornal
Expresso e a Rádio Renascença onde a gran-
De facto, centenas de empresários e gestores de maioria dos inquiridos associava o êxito
assumiram prontamente, de forma totalmente empresarial à realização de comportamentos
voluntária, o compromisso público de respei- menos éticos, no fundo assumindo a errada
tar os princípios orientadores enunciados no noção que a falta de ética é geradora de suces-
Código, percebendo a sua importância para o so empresarial e de riqueza.
mundo empresarial português e para as suas
vidas pessoais e profissionais. Na realidade ainda existe um amplo trabalho a
Uma adesão que revelou sem qualquer dúvida desenvolver junto da população portuguesa, e
a actualidade e a necessidade de promover e de muitos empresários e gestores, no sentido
difundir a aplicação da ética no mundo empre- de ajudar a perceber que a Ética é vital e essen-
sarial, abrindo uma reconfortante perspectiva cial para a felicidade da vida de cada um, para
de que na aplicação destes princípios as nossas o desenvolvimento sustentado das empresas e
empresas verão melhoradas a qualidade do seu para o seu pleno sucesso empresarial e social.

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GESTÃo ética e socialmente responsável

É por isso que o livro “Gestão Ética e So- e que implicam opções complicadas nos mais
cialmente Responsável – teoria e prática” re- diversos planos, incluindo o moral e o ético.
vela-se da maior importância e interesse, na
medida em que não se limita a oferecer um A preocupação Ética é permanente, procuran-
conjunto de teorias em torno da Ética, mas dá do encontrar sempre novas respostas, de acor-
a possibilidade de confrontar a sua aplicação do com os dados disponíveis, para um novo
em casos muito práticos que ajudam a apre- conjunto de questões que a economia global
ender conceitos e teorias, ajudam a perceber tem vindo a colocar, de forma premente, às
a influência real que a qualidade dos nossos sociedades modernas.
comportamentos tem na vida das empresas, e
na sociedade onde estamos inseridos. Uma preocupação que não pode ficar apenas
em torno de teorias, mas tem de se consolidar e
Um livro que aborda de forma pedagógica um evoluir no sentido da busca das melhores solu-
conjunto de áreas onde a ética se desenvolve, ções que possam incrementar a aplicação práti-
funcionando como um Manual de Ética onde ca dos valores e dos comportamentos fixados.
o leitor poderá regressar muitas vezes, apreen-
dendo de forma nova a sua mensagem. Não admira, portanto, que as comunidades
empresariais tenham sentido a necessidade de
São livros como este que abrem as portas da evoluir para fórmulas organizativas mais ela-
ética e da responsabilidade social das empre- boradas, fixando códigos de comportamentos
sas nas suas múltiplas vertentes e implicações, e métodos de avaliação do seu cumprimento.
que permitem trilhar um caminho seguro, Foi assim que surgiu a primeira compilação
procurando não o “exibicionismo” das acções legal sobre governação das empresas, o Sar-
mas a mudança segura de comportamentos e, banes Oxly Act, em vigor nos Estados Unidos
principalmente, a mudança da cultura empre- desde 2002 e desde então multiplicaram-se
sarial e social. os documentos e as iniciativas em diferentes
Uma nova cultura empresarial, que não con- latitudes visando conciliar, no dia-a-dia das
funda Ética com perigosos paternalismos empresas, poderes e interesses muito diversos,
piedosos, mas perceba que procurar a Ética tantas vezes conflituais.
significa maior exigência e qualidade num con-
fronto, permanentemente, da procura de uma O esforço desenvolvido com vista à resolução
maior rentabilidade com a defesa intransigen- inteligente destes conflitos, no quadro de uma
te do Homem. assumida consciência da responsabilidade so-
cial das empresas, acaba por constituir um dos
A Ética empresarial tem de ter sempre o Ho- objectivos principais da ética empresarial e um
mem e a Empresa como principais pilares, contributo incontornável, ao contrário daqui-
tentando orientar a resposta dos decisores lo que alguns serão levados a pensar, para um
perante as várias situações de conflitos de in- salutar aumento da competitividade das eco-
teresses que o quotidiano empresarial coloca nomias e das empresas.

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PREFÁCIO

Tendo como base o respeito pela Lei e os Gestão Ética e


princípios éticos universais, é possível criar Responsabilidade
uma consciência de qualidade nas empresas e Social não se fazem
envolver todas as pessoas, do gestor de topo por decreto
ao colaborador mais indiferenciado, na busca
da realização profissional e pessoal. Em suma, Por Estela Barbot
é possível conseguir que as pessoas se envol- Economista e Empresária
vam mais no cumprimento de boas práticas e
sejam por isso mais felizes. Começo por agradecer aos autores o amável
convite, que me deu a possibilidade de parti-
Em Portugal, esta caminhada está em marcha cipar num debate de grande interesse para a
e este livro é um claro e importante sinal des- competitividade das empresas e, consequente-
se movimento. Embora se trate de um desa- mente, para o futuro do nosso país.
fio difícil, até porque se propõe algo que sai
da rotina, os sinais detectáveis são positivos e Já várias grandes empresas perceberam as
permitem acreditar que será possível levar as vantagens de incluir práticas de gestão so-
pessoas a compreender que a felicidade só é cialmente responsáveis para garantir um de-
plena se tivermos pessoas felizes à nossa volta. senvolvimento sustentável para elas e para as
Ou seja, que o empresário só se realizará em economias nacionais em que operam. Embora
pleno se a empresa, para além do lucro, atin- a tendência pareça existir, ainda são poucas as
gir o objectivo de servir a comunidade num empresas que desenvolvem estratégias de res-
quadro de desenvolvimento sustentável e de ponsabilidade social.
satisfação dos interesses dos seus colaborado-
res, incluindo aqueles que extravasam a área Na realidade, o reconhecimento público e os
meramente profissional. valores que uma marca pode associar por esta
via são muito mais visíveis nas grandes em-
Cabe agora a cada um de nós assumir as suas presas. E este exemplo das grandes empresas
responsabilidades e levar á prática os bons en- será seguido? Será que legislar sobre normas
sinamentos que este livro nos oferece. e conceitos pode potenciar a inclusão destas
ferramentas no dia-a-dia das PME (pequenas
e médias empresas)? Até que ponto é possível
legislar ou mesmo ter um conceito convergen-
te e de consenso nesta matéria? Muitas ques-
tões para muitas respostas possíveis.

A responsabilidade social praticada pelas PME


é substancialmente diferente da praticada pe-
las grandes empresas, tanto no seu conteúdo,
como na sua forma de execução. Orçamentos

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GESTÃo ética e socialmente responsável

maiores garantem uma visibilidade, que não que nem todos de acordo, porque em Portu-
encontram paralelo em escalas mais reduzidas. gal ainda é “crime público” perseguir o lucro,
Muitas vezes, numa PME, a inclusão ou não ser ambicioso e ter sucesso. Mas à parte da
de projectos de responsabilidade social tem a especificidade do rectângulo lusitano, dizia eu
ver com características do próprio director- que todos de acordo…não fosse a expressão
geral/accionista. Ou seja, está mais ligada a estar incompleta. O que a teoria diz é: o ob-
variáveis aleatórias ligadas ao livre arbítrio da jectivo das empresas é maximizar o lucro, no
gestão da empresa, do que com boas ou más longo prazo. Ora este complemento, como fa-
práticas de gestão. cilmente se compreende, faz toda a diferença.
E faz particular diferença quando falamos em
Este livro alerta para a necessidade de norma- ética na gestão ou ética empresarial. Se, para
lização de conceitos, embora a diversidade de as empresas, obter lucro de curto prazo de
opiniões e de correntes expressas mostrem que forma ética é uma questão de escolha, numa
não será tarefa fácil de executar. A meu ver, e perspectiva de longo prazo é uma questão de
como em quase tudo, o que verdadeiramente sobrevivência.
está na génese de um conceito vingar ou não
é a capacidade de mudar mentalidades. É pre- Tomemos como exemplo um jogo de tabulei-
ciso despertar para novas realidades empresa- ro, jogado a dois. Se eu tenho só uma jogada
riais, e isso faz-se investindo em formação e para fazer (curto prazo) não estou preocupado
requalificação dos mais velhos e ensinando os com as consequências que a minha jogada vai
mais novos. Habituados que estamos em Por- ter no outro jogador (leia-se: colaboradores,
tugal a ter a visão toldada para o curto prazo, é accionistas, fornecedores, clientes, Estado).
preciso apresentar e explicar a teoria e as prá- Ao invés, se o jogo incluir mais jogadas (longo
ticas da gestão ética e socialmente responsável prazo), eu sei que todas as minhas acções vão
aos futuros “homens-do-leme”. Acredito mais condicionar o outro jogador, e vão também
nesta via, do que em eventuais processos de condicionar-me a mim própria, porque o que
certificação, como acontece na Qualidade. O eu fizer terá um efeito boomerang sob a forma
que está em causa não são as normas, mas sim de resposta do meu adversário. O jogo repe-
a sua aplicação e compreensão por parte dos tido permite (mais, obriga a) comportamen-
gestores e colaboradores. Quantos exemplos tos diferentes dos jogos sem repetição, e as
cada um de nós conhece em que os processos instituições que suportam a maximização de
são o fim em si mesmo, e não a forma de obter longo prazo por parte das empresas também
melhores resultados e tornar as empresas mais não podem ser as mesmas. A responsabilidade
competitivas? social das empresas e o acompanhamento do
desenvolvimento sustentável pode certamente
Vale também a pena retomar um conceito apoiar aquelas instituições, desde que não se
económico básico, mas muitas vezes esqueci- resvale da boa gestão para a burocracia.
do: o objectivo das empresas é maximizar o
lucro. Até aqui todos de acordo. Aliás, diria

16
PREFÁCIO

Deixando de lado a metáfora: é fácil perceber


que falhas éticas junto de colaboradores ge-
ram descontentamento e saídas dos melhores
talentos à primeira oportunidade, falhas éticas
junto de clientes originem perda de clientes e
por aí adiante….a lista é longa.

Será que estamos perante o início de uma


nova fase de conceitos de gestão ou limitar-
nos-emos a mais uma série de procedimentos
burocráticos? A leitura deste livro ajudou-me
a perceber que ambas as hipóteses continu-
arão possíveis até que as novas ferramentas
sejam mais divulgadas no tecido empresarial
português.

17
18
I NTRODUÇÃO

“Não quer isto dizer que os lucros não são importantes para a Levi Strauss, a Body
Shop e outras empresas socialmente responsáveis; quer apenas dizer que não são a
prioridade central”.1

“Colocando a questão muito simplesmente, as empresas globais não têm futuro se a


Terra não tiver futuro.” [Ryuzaburo Kaku, antigo presidente da Canon 2]

“Ninguém quer chuva ácida” [Michael Porter, na abertura da II conferência e.value,


Lisboa, Janeiro de 2006 3]

“Algumas pessoas argumentam que ‘fazer o que é correcto fazer-se’ é contrário ao


que é bom para os negócios. Eu penso que este ponto de vista é tanto complicado
quanto errado. Na minha própria empresa, aprendemos que, quando fazemos o que
consideramos que é correcto, a empresa ganha. Não posso traduzir esse ganho nos
números que aparecem no relatório financeiro, mas sei que não pretenderíamos estar
num negócio nem sermos os líderes do sector se não desfrutássemos dessa relação com as
nossas pessoas.” [Walter Haas, Jr, “patriarca” da Levi Strauss 4]

1 Garfield (1995, p. 5) 2 Kaku (1997, p. 55) 3 in Ribeiro (2006, p.30) 4 Garfield (1995, p. 5)

19
GESTÃo ética e socialmente responsável

TEORIA E PRÁTICA pode ser assim descrito: a necessidade de ar-


ticular o desempenho das organizações com a
Este livro faculta ao leitor as pistas fundamen- saúde dos seus membros e o desenvolvimento
tais de compreensão das matérias da ética e da da comunidade em geral.
responsabilidade social das empresas (RSE).
Reflecte, procura ensinar e aponta caminhos. Em grande medida, argumentamos que essa
Mostra que a ética e a RSE são matérias contro- articulação pode resultar de uma boa gestão do
versas – mas, mesmo assim (ou porventura por trio constituído pelos desempenhos económi-
essa razão), atractivas e ricas, tanto do ponto de co, social e ambiental. Enunciando de modo
vista prático como teórico. A obra está pejada mais específico: a prossecução de cada um
de ilustrações e de exemplos práticos. Descre- destes objectivos pode ser facilitada pela pros-
ve, em termos gerais, o panorama da RSE em secução dos outros. E, numa lógica mais foca-
Portugal. Estimula o leitor a estabelecer nexos lizada no significado que o trabalho pode ter
entre as artes (cinema, literatura e música) e a para os seres humanos, parece pertinente pa-
ética. Contém também um amplo complemen- rafrasear Peter Senge, o guru da aprendizagem
to de casos práticos que visa dois objectivos organizacional:
principais:
“[Há] uma contradição quando as empresas
• Mostrar como a ética e a RSE estão im- afirmam desejar que as pessoas estejam com-
pregnadas em múltiplas operações organi- prometidas, motivadas e empenhadas no seu
zacionais e que envolvem as diversas partes trabalho, quando na verdade a actividade la-
interessadas das organizações, incluindo os boral só serve para fazer dinheiro. Os seres
accionistas, os colaboradores, os clientes, humanos interessam-se por outras coisas di-
os fornecedores, as autoridades públicas e a ferentes de apenas ‘fazer dinheiro’, e por isso
comunidade em geral. estamos basicamente a mentir a nós próprios.
• Ajudar o leitor a compreender como as con- (...) O que defendo é que quando as empre-
siderações teóricas não são meras conjecturas sas escolhem o objectivo de ‘fabricar dinhei-
eruditas, mas antes linhas de reflexão e orien- ro’, estão a definir um mundo muito limitado.
tação fundamentais para a compreensão da re- Sendo assim, temos trabalhadores que não
alidade organizacional e a tomada de decisões estão motivados; estão minimamente empe-
de melhor qualidade e mais responsáveis. nhados e para eles o trabalho não tem sentido.
Não conseguem explicar aos filhos o que fa-
MEDITAR PARA AGIR zem e não se afirmam com orgulho nas suas
comunidades. Ao definir um alvo pequeno e
Reflectindo a posição dos autores, o livro pro- limitado, obtêm-se pessoas limitadas para o
pende para a apologia da RSE. No entanto, alcançar. Há que meditar sobre esta situação
apresenta sérios argumentos anti-RSE – e ou- e agir”.5
tros que mitigam o entusiasmo e o “folclore”
que tem rodeado a matéria. O leitmotiv da obra

5 Senge (2001, p. 60; sublinhado nosso)

20
INTRODUÇÃO

Caixa i.1 a fiscais do governo e, ao mesmo tempo,


Algumas definições iniciais desenvolver programas voltados para enti-
dades sociais da comunidade. Essa postura
• Valores: conjunto central de crenças e prin- não condiz com uma empresa que quer
cípios considerados como desejáveis pelos trilhar um caminho de responsabilidade
grupos de indivíduos. Os valores derivam social. É importante haver coerência entre
da inserção do indivíduo numa dada cultu- acção e discurso”.6
ra. Juntamente com as atitudes, as crenças
e os comportamentos, eles formam uma COMPLEMENTOS PRÁTICOS
espiral contínua de cultura comunitária. E “ARTÍSTICOS”
Há, todavia, valores que transcendem os
limites da cultura em que são reflectidos, O livro está organizado em sete capítulos e dois
transformando-se em valores universais. complementos. O leitor que pretender compre-
• Ética: sistema de princípios ou práticas, e ender genericamente os seus conteúdos pode
uma definição do que é certo ou errado. consultar as primeiras secções de cada um de-
Tem a ver com o julgamento valorativo do les. Em qualquer caso, algumas antecipações
conteúdo moral de uma determinada con- podem ser aqui feitas. Comecemos pelos dois
duta ou comportamento. complementos. O primeiro é um vasto con-
• Responsabilidade social da empresa: junto de casos práticos, exemplos, exercícios e
engloba actividades empresariais aos níveis ilustrações sobre a prática da ética e da respon-
económico, legal, ético e filantrópico/dis- sabilidade social. Abrange uma grande diversi-
cricionário, tal como ajustadas aos valores dade de temas e de organizações (veja listagem
e às expectativas da sociedade. no anexo a este capítulo introdutório). Abre
• Ética e responsabilidade social. A ex- com dois exercícios práticos e prossegue com
pressão RSE é usada mais frequentemente a abordagem de múltiplos aspectos, incluindo
na literatura sobre gestão do que na litera- os seguintes:
tura sobre ética dos negócios. Contudo, e
embora esse entendimento não seja con- • códigos de ética/conduta, tanto portugueses
sensual, alguns autores apontam para a (e.g., Delta, Hovione e EDP) como multina-
equivalência dos dois conceitos. Uma pers- cionais (e.g., Levi Strauss, Microsoft e televi-
pectiva porventura mais pragmática foi, são Aljazeera);
todavia, facultada pelo Instituto Ethos, do • certificações de responsabilidade social, com
Brasil: “A ética é a base da responsabilida- referências às empresas portuguesas que já
de social, expressa nos princípios e valores receberam a certificação SA8000;
adoptados pela organização. Não há res- • relatórios de sustentabilidade (e.g., Vodafone,
ponsabilidade social sem ética nos negó- Siemens, Ben & Jerry’s);
cios. Não adianta uma empresa pagar mal • investimento socialmente responsável;
aos seus funcionários, corromper a área • liderança ética;
de compras dos seus clientes, pagar luvas • condições de trabalho e direitos humanos;

6 http://www.ethos.org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3344&Alias=Ethos&Lang=pt-BR (acesso em 26 de Dezembro de 2005)

21
GESTÃo ética e socialmente responsável

• corrupção; • Estará a ética dos negócios mais próxima da


• filantropia e benemerência; lógica do jogo de póquer do que da ética da
• gestão e protecção ambiental; vida privada?
• relações das empresas com os consumidores • Porque se tem vindo a conceder, nos tempos
e os fornecedores; mais recentes, maior importância à ética no
• dilemas éticos relacionados com práticas de mundo dos negócios?
empresas em Portugal e em todo o mundo. • O que são a “cultura da batota” e a “cultura
ética baseada em valores”?
O complemento 2 contém exercícios sobre a • Serão os seres humanos fundamentalmente
relação entre as artes e a ética nas organizações. motivados por razões económicas e materiais,
Toma os argumentos de alguns filmes ou os ou estarão também impregnados de uma na-
conteúdos de alguns livros, poemas e canções tureza que integra a justiça e a preocupação
como estímulos para a discussão ética. com os outros?
• Como pode promover-se uma cultura de
gestão mais ética, tanto na vida empresarial
CAPÍTULO 1 como nas escolas de negócios? A formação
em ética dos estudantes de gestão poderá ter
O capítulo 1 procura dar conta da presença um contributo importante, ou é ineficaz?
da ética na gestão e no mundo dos negócios.
Mostra como o campo é controverso e, no seu Caixa i.2
seio, se defrontam orientações mais éticas com Ética nas/das organizações:
outras mais propensas para a lógica exclusiva- Duas perspectivas em confronto
mente económica e egoística7. Sugere que os
problemas e os escândalos éticos que têm sido Eis uma ilustração de como diferentes au-
mediaticamente propalados nos anos recentes tores pugnam por teses antagónicas no que
requerem que se fomente, nas empresas e nas concerne ao papel da moralidade na vida or-
escolas de negócios, uma cultura em que a ho- ganizacional:
nestidade, a integridade, a justiça, a confiança
e o respeito sejam valores almejados – e não John Ladd: “É inadequado esperar que a
considerados como preocupações bizantinas conduta organizacional se conforme aos
de pessoas “fracas” e, por conseguinte, inadap- princípios normais da moralidade. Não po-
tadas à arena económica e empresarial. Entre as demos nem devemos esperar das organi-
perguntas a que o capítulo procura responder, zações formais, ou dos seus representantes
estão as seguintes: (...), que pratiquem a honestidade, a cora-
gem, a consideração e a simpatia, ou que de-
• Quais as razões pelas quais os gestores adop- notem qualquer tipo de integridade moral.
tam acções anti-éticas? Tais conceitos não fazem parte do vocabu-
• Haverá uma ética para os negócios e outra lário, digamos assim, do jogo da linguagem
para a vida privada e social? organizacional”.8

7 Sublinhe-se que a lógica económica não é necessariamente egoísta, e vice-versa. 8 Ladd (1970, p. 499)

22
INTRODUÇÃO

Goodpaster e Matthews, Jr.: “Em nossa da moralidade comum, as teorias dos direitos,
opinião, esta linha de pensamento represen- a ética das virtudes, as teorias feministas e a
ta uma tremenda barreira para o desenvol- ética do cuidar, e as teorias da justiça. Conce-
vimento da ética empresarial, tanto como de particular atenção à ética das virtudes (e.g.,
campo de pesquisa quanto como força prá- prudência, coragem, temperança) e sublinha as
tica na tomada de decisão gestionária. Esta características da liderança virtuosa. Entre as
é uma matéria acerca da qual os executivos questões a que o capítulo procura responder,
devem ser filosóficos, e os filósofos devem estão as seguintes:
ser práticos. Uma empresa pode e deve ter
uma consciência. A linguagem da ética deve • Qual a diferença entre moralidade e ética?
ter um lugar no vocabulário de uma orga- • Bastará cumprir a lei para ser ético?
nização. (...) Os agentes organizacionais • Serão éticas as pessoas que actuam de acordo
como as empresas devem ser nem mais com a sua consciência?
nem menos moralmente responsáveis (ra- • O que é o relativismo ético?
cionais, auto-interessados, altruístas) do que • O que significam, e quais são as consequên-
as pessoas comuns. Tomamos esta posição cias, dos egoísmos psicológico e ético?
porque pensamos que existe uma analogia • Qual o papel e as limitações dos códigos pro-
entre o indivíduo e a empresa. Se analisar- fissionais nas práticas éticas?
mos o conceito de responsabilidade moral • O que são teorias utilitaristas ou consequen-
tal como ele se aplica às pessoas, vemos que cialistas?
é possível a sua projecção sobre as empresas • O que é o imperativo categórico?
como agentes da sociedade ”.9 • Perante dilemas éticos, devemos escolher o
caminho que obedece a determinados prin-
cípios/valores, ou devemos escolher o que
CAPÍTULO 2 conduz a melhores resultados, mesmo que
isso implique o sacrifício de alguns impera-
O capítulo 2 procura delimitar alguns conceitos tivos éticos?
e mostrar como se distinguem a ética, a mora- • Quais são as principais virtudes desejáveis nos
lidade e a lei. Mostra que os ditames da consci- membros organizacionais, especialmente nos
ência não são necessariamente éticos. Explana líderes?
o significado de três abordagens à ética (des- • Como se diferenciam as facetas distributiva,
critivas, conceptuais e normativas/prescritivas) procedimental e interaccional da justiça nas
para, posteriormente, se debruçar sobre várias organizações?
teorias normativas (“o que devemos fazer para
sermos éticos”). Discute o significado do relati- Caixa i.3
vismo ético e dos egoísmos psicológico e ético. A ética e a lei na 3M
Explica o significado do utilitarismo e do impe-
rativo categórico de Kant, e caracteriza algumas Eis como a 3M declara interpretar a im-
teorias prescritivas contemporâneas: as teorias portância da ética e da lei na condução dos

9 Goodpaster & Matthews, Jr (1988, p. 156)

23
GESTÃo ética e socialmente responsável

negócios, assim se dirigindo aos seus cola- • Respeite a dignidade e o valor das pes-
boradores: soas.
• Encoraje a iniciativa individual e a ino-
Os mais elevados padrões da 3M vação, numa atmosfera de flexibilidade,
“A conduta ética nos negócios por vezes cooperação e confiança.
requer mais do que a obediência estrita à • Promova uma cultura onde o cumprimen-
lei. Acresce que não há leis que governem to de promessas, a justiça, o respeito e a
muitas actividades empresariais. Mesmo responsabilidade pessoal são valorizadas,
quando a lei se aplica, por vezes estabelece encorajadas e reconhecidas.
padrões de comportamento que são inacei- • Crie um local de trabalho seguro.
tavelmente baixos para a 3M. Quando se • Proteja o ambiente”.10
confrontar com tais situações, é necessário
que faça uma escolha boa e ética (...). Esta Tomando decisões éticas
secção contém conselhos para ajudá-lo a “Deve ser capaz de responder ‘sim’ às se-
conseguir isso. guintes questões antes de agir em nome da
3M:
As políticas de conduta dos negócios da
3M facultam orientação para muitas situa- • Esta acção é consistente com os valores
ções, mas este manual não pode cobrir to- da honestidade e da integridade da 3M?
das as situações que possa enfrentar na sua • Esta acção pode ser do conhecimento do
actividade na empresa. Nesses casos, a suas público?
acções devem ser guiadas pelos nossos va- • Esta acção protege a reputação da 3M
lores fundamentais de empenhamento na como empresa ética?
integridade e na honestidade. Estes valores
incluem o cumprimento de promessas, a Se não puder responder ‘sim’ a todas as
justiça, o respeito e a consideração pelos questões, e mesmo assim acreditar que a ac-
outros, assim como o sentido da responsa- ção é ética e legal, deverá rever a acção com
bilidade pessoal. o seu superior, a gestão ou o seu consultor
jurídico, pois pode não ser do seu melhor
A tomada de decisão ética requer a avalia- interesse ou do da 3M prosseguir.”
ção e a atenção devida a cursos alternativos
de conduta, tendo em conta os seguintes
padrões empresariais: CAPÍTULO 3

• Mostre intransigentes honestidade e in- O capítulo 3 debruça-se, principalmente, sobre


tegridade em todas as suas actividades e quatro grandes teses acerca da responsabilidade
relacionamentos na 3M. social das empresas. A primeira, cuja paternida-
• Evite todos os conflitos de interesse entre de se deve fundamentalmente a Friedman, con-
o trabalho e a vida pessoal. sidera que a responsabilidade social da empresa

10 http://solutions.3m.com/wps/portal/_l/en_US/_s.155/140518/_s.155/145931 (acesso em 24 de Agosto de 2005)

24
INTRODUÇÃO

é gerar lucro para o accionista (“o negócio do Caixa i.4


negócio é o negócio”). A segunda aduz que, Economia de mercado e moralidade
por muito que se restrinja o âmbito da respon-
sabilidade social das empresas, o cumprimento As discussões sobre o papel das empresas
de uma moral mínima é exigível. A terceira con- nas economias contemporâneas são muitas
sidera que as empresas têm “obrigações afirma- vezes simplificadas até à caricatura. A natu-
tivas” para com a sociedade. Não lhes é apenas reza predadora da empresa é por vezes subli-
requerido que actuem para evitar e prevenir da- nhada. Note-se, no entanto, que a moderna
nos – é também necessário que “façam o bem”. empresa precisa do Estado e de moralidade
A quarta considera que as empresas devem agir para poder prosperar. Considere-se a citação
em função dos interesses dos vários stakeholders seguinte, extraída de Why Globalization Works,
– e não apenas em função dos accionistas. En- um livro de Martin Wolf, um jornalista do
tre as perguntas a que o texto tenta responder, Financial Times com assumidas preferências
eis algumas das mais relevantes: liberais, sobre a importância da moralidade
para o bom funcionamento do mercado:
• Qual o principal dever dos gestores: velar pe-
los lucros para os accionistas ou tomar tam- “Os economistas sentem-se pouco à von-
bém em atenção os interesses da comunidade tade com a noção de moralidade. Não obs-
em geral e de outros stakeholders? tante, ela parece ter um significado claro no
• Será ético que os gestores “desviem” recursos contexto dos negócios. Consiste em agir
da empresa para actividades filantrópicas? honestamente mesmo quando o contrário é
• Terão as empresas legitimidade para decidir proveitoso para o próprio. Esta moralidade é
aplicar recursos em fins sociais? essencial para todas as relações de confiança.
• O que é a “moral mínima” das empresas? Sem ela, os custos de supervisão e de con-
• Terão as empresas o dever moral de “melho- trolo tornar-se-ão exorbitantes. Em última
rar o mundo”? instância, um grande número de transacções
• A lei e o mercado serão mecanismos apropria- e de relações de longo prazo tornar-se-iam
dos e suficientes para que as empresas produ- impossíveis e a sociedade permaneceria
zam o maior bem-estar para a comunidade? empobrecida.”11
• O que é a teoria dos stakeholders? Quais são os
stakeholders mais relevantes? O livro de Wolf é aliás muito claro sobre a
• Quais os benefícios, para as empresas, de relação entre: (a) o dinamismo de mercados
tomar em atenção os interesses dos vários abertos; (b) a importância de um Estado for-
stakeholders? te mas não interferente, capaz de garantir a
• Serão as acções de RSE decididas pelos ges- justiça e a confiança entre os cidadãos; (c) o
tores uma espécie de síndrome Robin Hood: progresso económico e (d) os direitos e liber-
“roubar aos ricos” (i.e., aos accionistas) para dades individuais. Em suma: a relação entre
entregar aos pobres (i.e., aos outros stakehol- democracia e a economia de mercado parece
ders)? indesmentível.

11 Wolf (2004, p.50)

25
GESTÃo ética e socialmente responsável

CAPÍTULO 4 Como se relaciona com a pirâmide de res-


ponsabilidades sociais?
O capítulo 4 caracteriza, sucintamente, quatro • O que é a norma SA 8000 de certificação de
grandes áreas atinentes à RSE: teorias instru- responsabilidade social? Quais os direitos em
mentais, políticas, integrativas e éticas. Aborda que se baseia?
temas como (a) a maximização do valor para o • O que é o desenvolvimento sustentável? Por-
accionista, (b) a RSE como estratégia de incre- que é tão controverso?
mento da vantagem competitiva, (c) o marke- • Deverão as empresas zelar pelo bem comum?
ting de causas, (d) as teorias do contrato social, Ou essa é uma responsabilidade que não lhes
(e) a cidadania corporativa, (f) a pirâmide das cabe?
responsabilidades sociais, (g) a teoria normativa • O que é o kyosei? Como é que a Canon imple-
dos stakeholders, (h) a filantropia empresarial, (i) mentou esta filosofia de acção orientada para
a procura do bem comum e o kyosei. o bem comum?

O capítulo descreve o Pacto Global das Na- Caixa i.5


ções Unidas, os Princípios Globais Sullivan, os Seis preceitos fundamentais
Princípios de Caux e os Princípios do Equador. da Responsabilidade
Explica também o conceito de kyosei (viver e Social das empresas12
trabalhar conjuntamente para o bem comum) e
mostra como a Canon o implementou. O capí- • O poder gera responsabilidade.
tulo discute, ainda, se já não bastarão mudanças • A assunção voluntária de responsabili-
no sistema económico vigente – sendo antes dade e a auto-regulação são preferíveis à
necessário mudar o sistema. Entre as perguntas intervenção e regulamentação governa-
a que o capítulo procura responder, estas são mentais.
algumas das mais importantes: • A responsabilidade social voluntária re-
quer que os líderes empresariais reconhe-
• Porque é difícil definir o conceito de RSE? çam e aceitem as legítimas pretensões,
• Deverão as empresas adoptar apenas as ac- direitos e necessidades de outros grupos
ções socialmente responsáveis que conduzem na sociedade.
a lucros? Ou deverão levá-las a cabo por ra- • A responsabilidade social corporativa re-
zões genuinamente éticas? quer o respeito pela lei e pelas regras do
• O que é o marketing de causas? Quais são os jogo que governam as relações de mer-
seus objectivos, riscos e vantagens? cado.
• O que é a cidadania corporativa? E a cidada- • Uma atitude de “auto-interesse ilumina-
nia global? do” conduz as empresas socialmente res-
• Como é que a Shell passou de gigante ligado ponsáveis a encarar os lucros numa pers-
à controvérsia ambiental para um indutor de pectiva de longo prazo.
práticas de negócio responsáveis? • Haverá maior estabilidade económica,
• O que é o desempenho social da empresa? social e política – e, portanto, um mais

12 Adaptado de Frederick (1987)

26
INTRODUÇÃO

baixo nível de criticismo social dirigido ao aderido à certificação pela norma SA8000?
sistema da empresa privada – se todos os • O que é uma auditoria social e que métodos e
negócios adoptarem uma postura social- etapas deve seguir?
mente responsável? • O que são relatórios de sustentabilidade? Que
atenção lhes têm concedido as empresas por-
tuguesas?
CAPÍTULO 5 • Os prémios, os reconhecimentos e os rankings
sociais e ambientais concedidos às empresas
O capítulo 5 discute alguns dos desafios e pres- poderão contribuir para mudar o seu com-
sões a que as empresas são submetidas para portamento?
adoptarem acções socialmente responsáveis. E • Quais os traços principais do Livro Verde da
mostra como as organizações e a sociedade em Comissão Europeia sobre RSE? E quais as
geral têm respondido a estes reptos. Compara- dimensões de RSE nele contempladas?
tivamente com o capítulo anterior, este conce- • O que são as “melhores empresas para traba-
de menor ênfase às considerações “teóricas” e lhar” e as organizações autentizóticas? Como
debruça-se mais acentuadamente sobre as prá- é que os colaboradores dessas organizações
ticas das empresas e das instituições que as ava- reagem em termos de saúde individual e
liam. Enquanto o capítulo anterior procura dar stresse, empenhamento afectivo na organiza-
conta das múltiplas concepções acerca do que ção e desempenho?
é a RSE, este mostra como ela é “estimulada”
e colocada em prática, tanto pelas empresas Caixa i.6
como por muitas organizações internacionais Fórum de Davos quer
que pretendem incentivá-la e/ou enquadrá-la. maior empenho social das empresas
Eis algumas das perguntas mais proeminentes
a que o texto procura responder: Eis o teor de uma notícia publicada no Diá-
rio de Notícias em 25 de Janeiro de 2005:
• Quais os principais desafios e pressões que
hoje são dirigidos às empresas no âmbito da “É necessária maior intervenção do sector
responsabilidade social corporativa? privado para atingir os objectivos de desen-
• O que é o investimento socialmente respon- volvimento prometidos pelos líderes mun-
sável? diais. Esta é a conclusão de um relatório
• O que são índices de sustentabilidade como divulgado ontem pelo Fórum Económico
os Financial Times Stock Exchange 4 Good Inde- Mundial. Mais de 2000 figuras internacio-
xes e os Dow Jones Sustainability World Indexes? nais reúnem-se a partir de amanhã na lo-
Serão as empresas abrangidas por estes ín- calidade suíça de Davos, para debater o fu-
dices mais rentáveis do que as empresas em turo da economia mundial. O documento
geral? explica que, em vários países, as empresas
• O que são as normas SA8000 e AA1000? Em têm descurado sectores-chave como a edu-
que medida as organizações portuguesas têm cação, a alimentação e os direitos humanos,

27
GESTÃo ética e socialmente responsável

fazendo apenas ‘metade do que era neces- CAPÍTULO 6


sário para construir um mundo mais está-
vel e próspero.’ O capítulo 6 debruça-se sobre os códigos de
ética e/ou de conduta. Dá conta de uma quase
Apesar da responsabilidade por atingir os “código-mania” e sugere que os intuitos para a
objectivos globais de desenvolvimento re- criação e desenvolvimento destes documentos
cair essencialmente sobre os Governos, o nem sempre são genuinamente éticos. Expla-
relatório sublinha a importância de haver na as principais funções positivas que os códi-
uma participação activa do sector privado. gos podem exercer e refere as suas limitações
O contributo das empresas para um mun- e dificuldades. Sublinha, sobretudo, que eles
do mais próspero pode ter especial inci- não são a “varinha de condão” para prevenir
dência na realização de actividades híbridas problemas éticos ou transformar uma organi-
– económicas e humanitárias. Por exem- zação não ética numa organização eticamente
plo, o apoio a programas de tratamento de prestigiada. Expõe, também, as linhas funda-
pessoas infectadas com SIDA ou parcerias mentais para a criação, o desenvolvimento e a
público-privado na distribuição de água. A implementação de um código. Entre as per-
luta contra a pobreza será favorecida se as guntas mais relevantes a que o capítulo procu-
empresas fizerem investimentos de tipo so- ra responder, mencionam-se as seguintes:
cial nas áreas que melhor conhecem e onde
têm mais experiência no terreno. • O que é um código de ética? Como se distin-
gue de um código de conduta?
O relatório dá alguns exemplos de empre- • Quais as motivações que induzem as empre-
sas que ‘assumem as suas responsabilidades sas a adoptar estes documentos?
com seriedade’, mas esclarece que ‘repre- • Quais as limitações dos códigos? Quais as
sentam apenas uma pequena parte do sector dificuldades de desenvolvimento e imple-
privado’. O documento conclui que ‘2005 mentação dos mesmos?
pode ser o ano da mudança, especialmente • Quais os padrões morais que devem impreg-
se as extraordinárias energias das empresas nar um código de ética? Que conteúdos de-
privadas forem aproveitadas de forma mais vem possuir?
eficaz’. O relatório resultou de um ano de • Como proceder nas várias fases do proces-
investigações nas áreas da segurança, po- so que vai da criação à implementação dos
breza, fome, educação, saúde e protecção códigos?
ambiental. Estas questões começam ama- • Quais os factores que influenciam a eficácia
nhã a ser debatidas no Fórum Económico dos códigos?
Mundial de Davos onde estarão presentes
2250 líderes políticos e empresários de 96
países, incluindo 100 das 500 pessoas mais
ricas do mundo.”13

13 http://dn.sapo.pt/2005/01/25/internacional/forum_davos_quer_maior_empenho_socia.html (acesso em 4 de Janeiro de 2006).

28
INTRODUÇÃO

Quadro i.1
Boas e más práticas que o Institute of Business Ethics refere como
relevantes para a eficácia dos códigos14
Boas práticas Más práticas
• Alicerçar o código em valores éticos nucleares. • Afixar simplesmente o código no quadro de avisos da
• Entregar uma cópia a todos os colaboradores. empresa.
• Proporcionar um modo de as denúncias de violações • Não conseguir obter o empenhamento da direcção de
do código serem feitas de forma confidencial. topo da empresa.
• Incluir as matérias éticas nos programas de formação. • Deixar a responsabilidade pela eficácia do código a
• Criar um comité para monitorar a eficácia do código. cargo do departamento de RH ou de outro departa-
• Tornar o cumprimento do código como parte do con- mento.
trato de trabalho. • Não ser capaz de identificar o que preocupa os colabo-
• Disponibilizar o código na língua dos colaboradores radores dos diferentes níveis da organização.
situados no estrangeiro. • Não dispor de um procedimento que permita rever o
• Disponibilizar cópias do código para os parceiros de código regularmente.
negócio, incluindo os fornecedores. • Criar/fazer excepções à aplicação do código.
• Rever o código à luz dos desafios e das mudanças • Não ser capaz de responder devidamente perante as
ocorridas nos negócios. violações do código.
• Fazer com que as pessoas de maior responsabilidade • Os líderes não darem o exemplo.
adoptem comportamentos congruentes com as pala- • Tratar o código como confidencial ou como documen-
vras (“walk the talk”) e dêem o exemplo. to puramente interno.
• Dificultar o acesso directo dos colaboradores ao código.

CAPÍTULO 7 organizações têm contribuído, do ponto de


vista prático, para a implementação de acções
O capítulo 7 procura descrever genericamente socialmente responsáveis que ultrapassam o
o panorama da RSE em Portugal. Apresenta, domínio da lei. Mostra como, além de estarem
sobretudo, diversas organizações e eventos “imersas num mar de lei”15, as modernas or-
que têm marcado o campo nos últimos anos. ganizações se confrontarem com responsabi-
A descrição é necessariamente modesta, dada lidades maiores que esse mar. Cruza a teoria
a escassez de estudos sistemáticos – mas esta- com a prática. Para além do Complemento
mos convictos de que faculta a compreensão abrangendo casos práticos e exercícios, os
daquilo que é essencial neste domínio. diversos capítulos estão pejados de exemplos
e casos práticos. Assim procuramos ajudar o
leitor a olhar para as práticas a partir de pers-
UMA PERSPECTIVA pectivas teóricas, e a compreender as teorias
GLOBAL e os conceitos mediante a sua ilustração com
casos concretos.
Globalmente, o livro dá conta da controvér-
sia que rodeia a ética e a responsabilidade das Num terreno em evolução tão célere como é
empresas e mostra como as empresas e muitas o da RSE, o período que medeia entre a es-

14 Ligeiramente adaptado de: http://www.ibe.org.uk/codesofconduct.html (acesso em 20 de Janeiro de 2006). 15 Edelman & Such-
man (1997, p.480)
29
GESTÃo ética e socialmente responsável

crita do livro e a sua colocação no mercado significativas. Por isso, sugerimos ao leitor que
pode desactualizar alguns dados. Embora não tome os casos práticos e os exemplos como
o desejemos, é possível que isto suceda com ilustrações situadas no tempo – e que tome
esta obra. Em qualquer caso, convém salientar o quadro geral interpretativo como a moldura
que os princípios, os conceitos e as orienta- para compreensão de uma realidade que sofre
ções básicas tenderão a não sofrer alterações continuamente modificações.

ANEXO
Organizações abordadas no Complemento I (casos práticos e exercícios)

• Abbott Laboratórios • Ikea


• ACEGE • Johnson & Johnson
• Aljazeera • Jones Lang LaSalle
• Arthur Andersen • Levi Strauss
• Asklepios • McDonald’s
• Bayer • Menarini Diagnósticos
• Ben & Jerry’s • Microsoft
• Bial • Millennium BCP
• Boeing • NASA
• BPI Dealer • National Whistleblower Center
• Brisa • Nokia
• British American Tobacco • Oracle
• Caixa Geral de Depósitos • Parmalat
• Centro Hospitalar do Alto Minho • Portugal Telecom
• Coopfrar • Roche
• Delta Cafés • Sair da Casca
• DHL Portugal • Siemens
• EDP • SiRi – Sustainable Investement
• Enron Research International
• Estado português • Social Accountability International
• Ethics Resource Center • Texaco
• Expresso • TNT Express
• Galp • Transparency International
• GlaxoSmithKline • Vodafone Portugal
• Global Reporting Initiative • Volkswagen
• Great Place to Work Institute • Wal-Mart
• Grupo Santander • WorldCom
• Hovione

49 http://www.oikos.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=56&Itemid=69 (acesso em 30 de Janeiro de 2006)

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