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Definição de Assédio Moral

• Não há uma única definição acordada mundialmente.


• "O assédio ou violência moral acontece dentro do local de
trabalho, ao longo da jornada, de forma repetitiva contra o
trabalhador, colocando-o numa situação constrangedora,
vexatória por parte do superior hierárquico, é uma relação
marcada pelo Poder. Caracteriza-se por relações
desumanas, anti-éticas. O outro não é considerado igual
em direitos. O objetivo principal do agressor é desqualificar
o outro, enquanto profissional e como pessoa. O agressor
escolhe sua vítima, a isola do grupo, e a partir do
isolamento, a pessoa passa a ser ignorada pelo agressor,
passando a hostilizá-la. A partir deste momento, a vítima
começa um processo de desestabilização emocional, até
que chega um momento que a doença acontece.“
(Margarida Barreto)
Definição de Assédio Moral

• “Assédio moral no trabalho é o comportamento repetido, não


razoável contra um empregado ou grupo de empregados, que
cria riscos para a saúde e segurança.”
• Comportamento não razoável: é o que vitimiza, humilha,
diminui ou ameaça.
• Comportamento: ações de indivíduos ou grupos, sistemas de
trabalho usados com a finalidade de vitimizar, humilhar, diminuir
ou ameaçar.
• Normalmente envolve mau uso ou abuso do poder onde os
alvos podem experimentar dificuldades para se defender.
• (European Agency for Safety and Health at Work, 2000)
Outros critérios

• O assédio moral difere de outros tipos de


conflito porque é caracterizado por ações
anti-éticas
• Em situações de assédio: o clima de
trabalho é pesado, a comunicação é
ambígua e a interação hostil
Efeitos na saúde

• O assédio tem o potencial de causar ou contribuir para


muitas desordens psicopatológicas, psicossomáticas e
comportamentais
• Não se sabe quantas vítimas de assédio desenvolvem
problemas de saúde
• Provavelmente depende da duração e intensidade dos
estressores
• A personalidade da vítima também pode ter um papel
protetor ou ampliador
• Caracteriza-se por uma situação negativa prolongada
Sintomas psicopatológicos

• Reações de ansiedade • Hiperexcitabilidade


• Apatia • Insônia
• Reações de esquiva • Irritabilidade
• Problemas de concentração • Mudanças de humor
• Humor deprimido • Pesadelos recorrentes
• Reações de medo • Pensamentos intrusivos
• Flashbacks • Falta de iniciativa
• (Síndrome do Desamparo
Aprendido)
Sintomas psicossomáticos

• Hipertensão arterial • Dores musculares e


articulares
• Ataques de asma
• Perda de equilíbrio
• Palpitações
• Enxaqueca
• Distúrbio coronariano
• Dores de estomago
• Dermatite
• Úlceras
• Perda de cabelos
• taquicardia
• Cefaléia
Sintomas comportamentais

• Auto e heteroagressividade
• Distúrbios alimentares
• Aumento no consumo de álcool e drogas
• Aumento no tabagismo
• Disfunções sexuais
• Isolamento social
Diagnósticos mais comuns

• Depressão
• Desordens ansiosas
• Transtorno de adaptação
• Transtorno do Estresse pós-traumático
Pontos importantes

• O assédio moral é um risco invisível no


ambiente de trabalho, porém concreto
• Numa perícia como “provar” a existência de
assédio?
• Como medir?
• Passa sempre pela percepção e avaliação
cognitiva do assediado
Caso: M.J.S.
Relatório Psicologia
Data: 07/03/2005
Elaborado por: Dra. Débora Miriam Raab Glina – psicóloga – CRP 06-10122-8
Identificação do paciente: M. J. S., 36 anos, casado, 1 filho, natural de São
Paulo – SP, escolaridade 2o grau completo.
Quadro clínico: O paciente refere hiperestesia, alucinações visuais (ver
vultos, ver pessoas que não existem), alucinações auditivas (ouvir vozes que
diziam para se matar), alucinações olfativas e gustativas, delírio de
perseguição (se alguém está parado perto de sua casa, acha que está
olhando para ele e quer lhe fazer mal), inibição de pensamento, idéias
prevalentes, incoerência de raciocínio, amnésia transitória (tanto visual como
verbal), distração, tristeza, vontade de chorar, desejo de matar-se, irritação,
inquietude, angústia, medo (de sair de casa, de que aconteça algo com ele, de
“tomar bronca”, de ficar sozinho, de escuro, de morrer), dificuldades de pegar
no sono, sonhos com pessoas que estão mortas, sonhos que parecem reais e
não consegue acordar, comer demais, bradilalia, repetição de palavras e
frases e disartria.
História de trabalho e relações com o desenvolvimento de sinais e sintomas:
Desde 1998 trabalha na Fundação X de São Paulo, como técnico de laboratório,
exercendo a função de controlador de estoque. Suas tarefas consistiam em:
atender o telefone, fazer expedição de hemocomponentes, liberar sorologia, fazer
armazenamento, operar o aparelho de radiação, controlar a qualidade de
hemocomponentes e avisar o setor de controle de qualidade sobre os problemas
encontrados.
No trabalho havia ruído (das 3 geladeiras e 3 freezers), desconforto térmico
(mau funcionamento do ar condicionado, não controle de sua temperatura, ter que
entrar nas câmaras frigoríficas), iluminação insuficiente por falta de lâmpadas,
radiação, riscos biológicos, condições de higiene e segurança precárias,
programas de computadores com falhas.
Seu horário de trabalho era das 7 às 13h de 2a a 6a , com 1 h de almoço e 4
plantões de 12h nos finais de semana. Trabalhou tanto no horário diurno
quanto no noturno. Até 1992, quando da implantação da ISO 9000, o
funcionamento do setor era adequado. Após essa implantação, havia muita
cobrança de que os
procedimentos fossem rigorosamente cumpridos, mas quando faltava
material, era obrigado a trabalhar errado e fazer as coisas de qualquer
forma. Procedimentos que não constavam dos POPs eram escondidos
durante as auditorias. O ritmo de trabalho era acelerado e havia um
subdimensionamento do número de funcionários gerando sobrecarga
de trabalho.
Seu trabalho apresentava exigências físicas: trabalho em pé, carregamento
de peso (engradados de aproximadamente 15 kg, várias vezes por dia),
organização das câmaras frigoríficas (envolvendo movimentos repetitivos,
deslocamento de peso em espaço exíguo), organização do setor (tirar caixas,
limpar geladeira e freezer), armazenagem nos estoques e sub-estoques.
As exigências cognitivas eram: necessidade de concentração, trabalho
monótono, uso da memória de curto prazo, tomada de decisões e resolução
de problemas. Os relacionamentos interpessoais com colegas e em
grande parte com os clientes era bom. O salário diminuiu de R$1800,00
para 800,00 em função da mudança de carga horária e redução do
pagamento de horas-extras. Teve um acidente de trabalho com
afastamento de 2 meses por queda de engradado nas mãos com fratura de
dedo. O seu problema começou com a entrada da chefe imediata em 1996.
Desde o início havia uma discriminação dos funcionários que não tinham
curso superior por parte dela. Estes eram excluídos de todos os cursos e
treinamentos, eram retirados quando ocorriam as auditorias, visitas de
estudantes e reportagens.
A chefia além de excluí-lo dos cursos, impedia trocas de plantões (mesmo
quando já tivesse encontrado alguém para trocar), troca do horário diurno para
o horário noturno. A chefia não cumprimentava, nem agradecia,
desvalorizava sugestões dadas. Ela descontava qualquer atraso, mas não
pagava horas-extras e nem agradecia quando o paciente dobrava plantões.
Impedia o paciente de visitar o pai que estava internado no INCOR quando
era chamado. Implicava com ele quando saia para café. Passou a
pressionar o paciente ameaçando demiti-lo por justa causa. No retorno do
afastamento do acidente de trabalho acima mencionado descobriu que havia
sido colocado à disposição. A chefe demitiu por justa causa uma colega de
trabalho, gerando revolta de todos. Via também os maus tratos aos
estagiários que o deixavam mal. Outro episódio, em 08/11/04, foi a exigência
de fazer um relatório sobre um erro que não havia cometido (expedir
plasmas sem gelo).
Refere que devido à pressão no trabalho, perseguições e discriminações foi
ficando irritado, não estava mais aguentando, era um “martírio” (SIC) ir para
o trabalho, tinha idéias suicidas (vozes aconselhando-o a matar-se) e tentou
passar no Instituto de Psiquiatria sem conseguir. Pedia para ser demitido,
mas não o demitiam. A última gota de água foi um acidente de trânsito em
que se envolveu ao sair do emprego. A partir daí instalou-se o quadro
apresentado.
Discussão do nexo causal com o trabalho: Fica
claro que o assédio moral (perseguições,
discriminação, maus-tratos, ameaças de demissão
por justa causa) foi o principal fator desencadeante
do quadro apresentado - Grupo II da classificação
de Schilling.
Diagnóstico de acordo com a CID X: F: 33-3
(transtorno depressivo recorrente, episódio atual
grave com sintomas psicóticos + F 43.1 (transtorno
do estresse pós-traumático).
Encaminhamento dado: Encaminhado ao CRST-
SA para emissão de CAT e tratamento
Obrigada!

deboraglina@uol.com.br

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