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ANÁLISE DE BLOCOS SOBRE DUAS ESTACAS EMPREGANDO O MÉTODO DE


BIELAS E TIRANTES E O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS ANALYSIS OF
TWO PILES CAPS USING STRUT-AND-TIE MODELS AND FINITE ELEM...

Conference Paper · October 2019

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6 authors, including:

Isadora Paczek Christian Donin


Universidade Federal de Santa Maria University of Santa Cruz do Sul
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Eduardo Rizzatti Leonardo Azevedo Massulo

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ANÁLISE DE BLOCOS SOBRE DUAS ESTACAS EMPREGANDO O
MÉTODO DE BIELAS E TIRANTES E O MÉTODO DOS ELEMENTOS
FINITOS
ANALYSIS OF TWO PILES CAPS USING STRUT-AND-TIE MODELS AND FINITE
ELEMENT METHOD

Isadora Reis Paczek (1); Rodrigo Bender (2); Christian Donin (3); Eduardo Rizzatti (4); Gabriel
Hauschild (5); Leonardo Azevedo Massulo (6)

(1) Engenheira Civil, Universidade de Santa Cruz do Sul – e-mail: engisadorapaczek@gmail.com


(2) Engenheiro Civil, Universidade de Santa Cruz do Sul – e-mail: bender.rgs@gmail.com
(3) Professor Mestre, Universidade de Santa Cruz do Sul e Doutorando em Engenharia Civil,
Universidade Federal de Santa Maria / PPGEC – e-mail: donin.eng@gmail.com
(4) Professor Doutor, Universidade Federal de Santa Maria / PPGEC – e-mail:
edu_rizzatti@yahoo.com.br
(5) Engenheiro Civil, Universidade de Santa Cruz do Sul e Mestrando em Engenharia Civil,
Universidade Federal de Santa Maria / PPGEC – e-mail: eng.gabrielhauschild@gmail.com
(6) Engenheiro Civil, Universidade de Santa Cruz do Sul e Mestrando em Engenharia Civil,
Universidade Federal de Santa Maria / PPGEC – e-mail: engmassulo@gmail.com
Av. Independência, 2293, bloco 52, sala 5220 - Bairro Universitário, Santa Cruz do Sul, RS – CEP:
96816-501

Resumo
O presente artigo apresenta comparações entre a análise de blocos sobre estacas através do Método de
Bielas e Tirantes e do Método dos Elementos Finitos. Foram utilizados três métodos de cálculo em um modelo
de bloco sobre duas estacas: o Método de Bielas e Tirantes através de Blévot e Frémy, de Schlaich e Schäfer,
e também o Método dos Elementos Finitos, via programa computacional ANSYS. As solicitações analisadas
no bloco foram a força de tração no tirante, o ângulo de inclinação das bielas e as tensões de compressão na
interface entre pilar e bloco e entre o bloco e estacas. Através das análises realizadas, especialmente pelo
Método dos Elementos Finitos, foi proposto um ajuste de método, a fim de torná-lo mais realista quanto às
tensões e forças atuantes. O método proposto utiliza o conceito de flexão oblíqua composta junto ao pilar e
bloco e junto ao bloco e às estacas, apresentando assim resultados próximos da situação real. Diante disso,
conclui-se que o método proposto pelos autores apresenta potencial de aplicação na análise estrutural de
blocos sobre estacas.
Palavra-Chave: Bloco sobre estacas. Método de Bielas e Tirantes. Método dos Elementos Finitos.

Abstract
The present paper presents comparisons between the analysis of two pile caps using the strut-and-tie models
and the finite element method. Three calculation methods were used in a two pile caps model: the strut and
tie model using Blévot and Frémy, by Schlaich and Schäfer, as well as the finite element method, using ANSYS
software. The loads analyzed in the pile cap were the tensile force on the tie rod, the angle of inclination of the
connecting strut, and the compression stresses at the interface between the column and the pile cap and
between pile cap and piles. Through the analyzes performed, especially by the method of the finite elements,
a method adjustment was proposed, in order to make it more realistic about the tensions and forces acting.
The proposed method uses the concept of combined axial compression and bending between column and pile
cap and between pile cap and piles, thus results can deal with more realistic conditions. Therefore, it is
concluded that the method proposed by the authors presents potential application in the structural analysis of
two pile caps.
Palavra-Chave: Two pile caps. Strut-and-tie models. Finite Element Method.
ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 1
1 Introdução
Ao desenvolver um projeto estrutural, a hipótese de dimensionamento usualmente utilizada
é a de Bernoulli, a qual refere-se à distribuição linear de deformações. Porém, há algumas
regiões nas estruturas, onde ocorrem distúrbios de tensões de natureza estática e
geométrica. Por conseguinte, um método que englobe essas particularidades deve ser
aplicado.
O modelo de cálculo deve-se basear em estudos físicos realísticos. Deste modo, o método
ou modelo de bielas e tirantes foi sugerido. Os estudos começaram inicialmente por Ritter
(1899) e Mörsch (1902), aprimorado por outros autores e teve suas bases consolidadas
através de aplicações pelos professores Schlaich, Schäfer e Jennewein (1987). O conceito
é referente à analogia da treliça isostática no elemento estrutural.
A proposta refere-se ao fato de que os elementos de concreto resistem a cargas através de
campos de tensões de compressão, que se distribuem e se interligam com tirantes
tracionados. Os tirantes podem ser barras de armadura, cabos de protensão ou campos de
tração. A ligação entre os elementos comprimidos e tracionados é realizada através de nós.
Desta forma, a estrutura atinge o equilíbrio e resiste aos esforços aplicados.
O método dos elementos finitos, também, é sugerido para essas situações, o qual vem
sendo cada vez mais pesquisado e aplicado, pois apresenta maior facilidade na
implementação computacional do que outros métodos numéricos.
Diante do exposto, o bloco sobre estacas possui estas regiões nomeadas críticas de
tensões, portanto, necessita-se dimensioná-lo através destes métodos.
O objetivo deste artigo é contribuir para a análise de blocos sobre estacas através do
método de bielas e tirantes e do método dos elementos finitos, visando compreender os
comportamentos da estrutura frente à analogia da treliça e as tensões atuantes, que
possibilitam o correto dimensionamento.

2 Revisão Bibliográfica
2.1 Regiões B e D
Para o dimensionamento de estruturas de concreto armado, deve-se identificar as regiões
de comportamentos distintos, para assim o dimensionamento ser seguro e eficaz. São duas
as regiões que devem ser identificadas: Regiões B e Regiões D (SCHLAICH, SCHÄFER e
JENNEWEIN, 1987).
As regiões B sofrem deformações lineares ao longo da seção transversal, desde o início do
carregamento até a ruptura, processo conhecido como “Hipótese de Bernoulli”. Essas
regiões se encontram basicamente em peças lineares, como por exemplo, vigas e pilares
(SCHLAICH, SCHÄFER e JENNEWEIN, 1987).
Segundo Campos Filho (1996), nos locais em que a distribuição das deformações é
significantemente não-linear, os métodos de cálculo mencionados anteriormente não
podem ser aplicados. As mesmas são chamadas de regiões D de “Descontinuidade,
Detalhe, Distúrbio, DeepBeam”. São localizadas próximo a cargas concentradas, aberturas
e outras descontinuidades.
A figura 1 apresenta a trajetória das tensões na região B, linear, e nas regiões D, não-linear.
Nota-se que nas regiões D, é onde possui maior concentração de tensões.

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Figura 1 – Trajetória das tensões nas regiões B e D (SCHLAICH, SCHÄFER E JENNEWEIN (1987)

2.2 Método de Bielas e Tirantes


Segundo o item 22.3.1 da NBR 6118:2014, as tensões de compressão são representadas
por bielas. Os tirantes equivalem a armadura ou conjunto de armaduras concentradas em
um único eixo. E por último, os nós ligam e suportam forças e reações aplicadas ao modelo.
Assim, o método de bielas e tirantes consiste na idealização de uma treliça isostática.
Conforme Campos Filho (1996), o caminho das forças, conhecido como load path, por
dentro da região D deve ser traçado. O fluxo das tensões é elaborado subdividindo as
resultantes das forças nos lados contrários das regiões D, para que tenham os mesmos
esforços e possam ser conectados por linhas que não devem se cruzar. Esse traçado é
facilitado pela aplicação de um software de elementos finitos, conhecido por gerar a análise
elástica do elemento.
Através das linhas de fluxo, o modelo é elaborado com as direções das bielas, de acordo
com a média direção principal das tensões compressivas, e a direção dos tirantes, com o
eixo das armaduras a serem detalhadas (NBR 6118:2014).

3 Modelo de bloco sobre duas estacas


De acordo com a NBR 6118:2014, blocos sobre estacas são estruturas volumétricas
empregadas para conduzir cargas de fundação para as estacas. Os blocos são divididos
em rígidos e flexíveis de acordo com o comportamento estrutural. Para o dimensionamento
e detalhamento dos blocos, são válidos os modelos tridimensionais lineares ou não lineares
e modelos de bielas e tirantes tridimensionais.
Para a realização do estudo, foi utilizado o modelo de bloco sobre duas estacas pré-
moldadas de concreto de seção quadrada 30x30cm, assim como o pilar que inicia no bloco
possui dimensão 30x30cm.
O modelo foi dimensionado para suportar uma carga de 600 kN. Conforme Velloso e Lopes
(2010), a reação vertical admissível da estaca utilizada no modelo é de 550 kN. Deste modo,
o número de estacas foi definido de acordo com a equação 1:
𝑛 = (Equação 1)
,
Onde 𝑛 é o número de estacas, 𝑅 , é a reação vertical admissível da estaca e 𝐹 a
carga vertical incluindo o peso próprio resultando em 1,15 estacas. Logo, serão utilizadas
2 estacas.
A resistência do concreto foi determinada em 25 MPa, pois é o valor que a NBR 6118:2014
estabelece para classe de agressividade ambiental II de concreto armado para zonas
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urbanas. A resistência das armaduras serão 500 MPa, pois serão utilizadas armaduras CA-
50. A geometria do bloco é mostrada na figura 2.

Figura 2 – Dimensões do bloco em planta

Foi constatado que o bloco é do tipo rígido, assim a altura útil do bloco foi determinada em
35 cm. Para encontrar o valor do ângulo da biela de compressão, utiliza-se a equação 2:
𝑡𝑔𝜃 = (Equação 2)
Onde 𝜃 é o ângulo de inclinação da biela, 𝑑 a altura útil, 𝐿 o espaçamento entre os eixos
das estacas e 𝑎 a largura do pilar na mesma direção do espaçamento entre os eixos das
estacas resultando em um ângulo de inclinação da biela de 49,40°.
Através do valor da altura útil definido anteriormente, a altura do bloco foi determinada em
40cm, a qual satisfaz as equações para ser um bloco rígido. A figura 3 ilustra o bloco em
formato tridimensional.

Figura 3 – Modelo tridimensional do bloco em estudo


As reações verticais de cada estaca foram encontradas a partir da equação 3:
𝑅 = (Equação 3)
Onde 𝑅 é a reação vertical em cada estaca, 𝐹 a carga vertical incluindo peso próprio e
𝑛 o número de estacas, resultando em 315 kN de reação vertical em cada estaca.

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3.2 Método de Blévot e Frémy
O Método de Blévot e Frémy (1967) para bielas e tirantes em bloco sobre estacas é o mais
utilizado no Brasil atualmente. Este método propõe que a verificação das tensões de
compressão das bielas junto ao pilar e junto às estacas devem ser seguidas, para não
ocorrer o esmagamento do concreto nestas regiões. Assim como, uma fórmula para
encontrar a tensão de tração do modelo é sugerida.

3.2.1 Tensões de tração e armadura principal


Para encontrar a tensão de tração no tirante através do método de Blévot e Frémy, utiliza-
se a equação 4 (CAMPOS, 2015):
𝑇= ∗( − ) (Equação 4)
Onde 𝑇 é a tensão de tração, 𝑅 a reação vertical em cada estaca, 𝑑 a altura útil, 𝐿 o
espaçamento entre o eixo das estacas e 𝑎 a largura do pilar na mesma direção do
espaçamento entre os eixos das estacas, resultando em 270 kN de tensão de tração.
Sabendo a tensão de tração, descobrir a área de aço necessária para o tirante se torna
fácil, pois necessita-se somente dividir a tensão de tração pela resistência ao escoamento
do aço de cálculo, resultando em 6,21 cm² de área de aço.

3.2.2 Verificação das bielas de compressão


De acordo com o método, para verificar a tensão de compressão das bielas junto ao pilar,
afim de evitar o esmagamento de concreto, utiliza-se a equação 5 (CAMPOS, 2015):

𝜎, = ≤ 0,85 ∗ 𝛼 ∗ 𝑓 (Equação 5)
∗ ²
Onde 𝜎 , é a tensão de compressão na biela, 𝑅 a reação vertical em cada estaca, 𝐴
a área da seção do pilar, 𝜃 o ângulo da biela, 𝛼 1,4 coeficiente para 2 estacas e 𝑓 a
resistência à compressão do concreto de cálculo, resultando em: 1,21 𝑘𝑁/𝑐𝑚² ≤
2,13 𝑘𝑁/𝑐𝑚² . Portanto, verifica-se que a tensão da biela junto ao pilar é de 1,21 kN/cm²
menor que o limite proposto pelo método que resultou 2,13 kN/cm², logo está seguro.
Já a verificação da tensão de compressão das bielas junto às estacas, através do método,
é realizada através da equação 6 (CAMPOS, 2015):
𝜎, = ≤ 0,85 ∗ 𝑓 (Equação 6)
∗ ²
0,61 𝑘𝑁/𝑐𝑚² ≤ 1,52 𝑘𝑁/𝑐𝑚² .
Logo, verifica-se que a tensão de compressão das bielas junto às estacas é de 0,61 kN/cm²
menor que o limite proposto pelo método que resultou 1,52 kN/cm², portanto está seguro.

3.3 Método de Schlaich e Schäfer


Schlaich, Schäfer e Jennewein (1987) começaram a pesquisar e aplicar o método de bielas
e tirantes, o qual teve suas bases consolidadas para o mundo. Para descobrir a tensão de
tração e armadura do tirante, as fórmulas e conceitos são idênticos ao Método de Blévot e
Frémy, porém nas verificações das bielas de compressão as formulações se diferem.

3.3.1 Tensões de tração e armadura principal


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As equações para determinar as tensões de tração e a armadura principal são as mesmas
do método anterior, resultando nos mesmos valores, tensão de tração de 270 kN e
armadura principal de tração de 6,21 cm².

3.3.2 Verificação das bielas de compressão


Schlaich, Schäfer e Jennewein (1987) alegam que devem-se verificar as tensões dos nós
da treliça idealizada. A tensão atuante não é majorada, porém os limites de tensão são. Os
nós 1 e 2 do modelo, conforme figura 4, são verificados através da equação 7:
𝜎 ó , = ≤ 1,1 ∗ 𝑓 (Equação 7)
1,40 𝑘𝑁/𝑐𝑚² ≤ 1,97 𝑘𝑁/𝑐𝑚².
Logo, verifica-se que a tensão dos nós junto ao pilar é de 1,40 kN/cm² menor que o limite
proposto pelo método que resultou 1,97 kN/cm², portanto está seguro.
Os nós 3 e 4 do modelo, conforme figura 4, são verificados através da equação 8:
𝜎ó , ≤ 0,8 ∗ 𝑓 (Equação 8)
0,35 𝑘𝑁/𝑐𝑚² ≤ 1,43 𝑘𝑁/𝑐𝑚².
Portanto, verifica-se que a tensão dos nós junto às estacas de 0,35 kN/cm² é menor que o
limite proposto de 0,8 * fcd resultando em 1,43 kN/cm², logo está seguro.

Figura 4 – Modelo de bielas e tirantes para o bloco em estudo

3.4 Método dos Elementos Finitos


3.4.1 Definição dos parâmetros da estrutura
Para a análise numérica da estrutura por meio do método dos elementos finitos utilizou-se
o software ANSYS 16.1 versão acadêmica. O elemento sólido empregado para a
modelagem tridimensional foi o SOLID 185, o qual possui oito nós, sendo que cada nó
possui três graus de liberdade. As propriedades mecânicas do material foram definidas,
dentro do parâmetro estrutural, para um material linear, elástico e isotrópico. O valor do
coeficiente de Poisson (ʋ) adotado para concreto C25 foi o de 0,2, conforme requisito 8.2.9
da NBR 6118:2014. O módulo de elasticidade para concretos da classe C20 a C50 foi obtido
através da equação 9, de acordo com o item 8.2.8 da NBR 6118:2014:

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𝐸 = 𝛼 ∗ 5600 ∗ 𝑓𝑐𝑘 (Equação 9)
Onde Eci é o módulo de elasticidade, 𝛼 é 1,2 para basalto e diabásio e 𝑓𝑐𝑘 a resistência à
compressão do concreto resultando em um módulo de elasticidade de 3360 kN/cm².
A modelagem do bloco foi realizada através de volumes que o compõem. Após a modulação
da estrutura, foi definida a dimensão dos elementos finitos, a qual tem o propósito de
discretizar o volume da estrutura. A malha aplicada foi de 2 cm.
Para a solução, o tipo de análise escolhido foi a estática. Foram atribuídas as vinculações
na estrutura, na qual foram restringidos os deslocamentos dos eixos X, Y e Z na parte
inferior das estacas. A carga considerada no bloco foi a distribuída do pilar que resultou em
0,70 kN/cm². A figura 5 mostra a modelagem da estrutura, malha aplicada e a aplicação da
carga.

Figura 5 – Estrutura, malha e carga aplicada

4 Resultados
4.1 Resultados do Método de Blévot e Frémy
4.1.1 Tirante
Conforme a metodologia apresentada, o valor da força de tração resultante deste método
é de 270 kN. Também, que a área da armadura principal de tração solicitada para o modelo
é de 6,21 cm².

4.1.2 Bielas
Verifica-se nos cálculos que as tensões de compressão das bielas junto ao pilar e junto ás
estacas são os pontos mais críticos de tensões no modelo, contudo os valores não excedem
os limites propostos. A tabela 1 exibe os resultados e limites de tensões nestas zonas
críticas.

Tabela 1 – Tensões nas zonas críticas – Método de Blévot e Frémy


Local Tensão atuante (kN/cm²) Limite tensão (kN/cm²)
Tensão junto ao pilar 1,21 2,13
Tensão junto às estacas 0,61 1,52
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4.2 Resultados do Método de Schlaich e Schäfer
4.2.1 Tirante
O valor da força de tração resultante deste método é, o mesmo do método anterior, de 270
kN. Consequentemente, a armadura principal de tração solicitada para o modelo também
é a mesma de 6,21 cm².

4.2.2 Bielas
Como visto também no método anterior, as zonas críticas de tensões são as junções entre
bloco e pilar e bloco com estacas. Porém, os valores de tensões não ultrapassam os limites
estabelecidos pelo método. A tabela 2 demonstra os resultados e limites das tensões nas
zonas críticas.

Tabela 2 – Tensões nas zonas críticas – Método de Schlaich e Schäfer


Local Tensão atuante (kN/cm²) Limite tensão (kN/cm²)
Tensão junto ao pilar 0,70 1,97
Tensão junto ás estacas 0,35 1,43

4.3 Resultados do Método de Elementos Finitos


Para visualizar as tensões no interior do bloco, foi necessário cortá-lo pela metade. As
figuras 6 e 7 representam respectivamente as tensões de tração e de compressão do bloco
em estudo. Nessas constata-se que a região com maiores tensões de tração é onde se
localiza o tirante no bloco, também, que as regiões com maiores tensões de compressão
são as da junção do pilar com o bloco, da junção das estacas com o bloco e das bielas do
modelo.

Figura 6 – Tensões de tração

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Figura 7 – Tensões de compressão

A figura 8 é a representação gráfica das tensões atuantes entre o pilar e o bloco no método
dos elementos finitos. Nota-se que a imagem é simétrica, pois partindo do meio para as
extremidades os valores são iguais e crescentes. A mínima das tensões é 0,47194 kN/cm²
e a máxima 0,96524 kN/cm².

Figura 8 – Tensões de compressão entre pilar e bloco – Método dos elementos finitos

Já a figura 9 é a representação gráfica das tensões atuantes entre o bloco e as estacas


pelo método dos elementos finitos. Como o valor da carga transmitida para cada estaca é
igual, a representação gráfica é a mesma para as duas. Verifica-se que os valores de
tensões crescem quando se aproximam do centro do bloco. A mínima das tensões é
0,07071 kN/cm² e a máxima 0,70388 kN/cm².

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Figura 9 – Tensões de compressão entre blocos e estacas – Método dos Elementos Finitos

5 Análise dos resultados


Este item destina-se a analisar os principais resultados obtidos neste artigo. Esta análise
busca aperfeiçoar o modelo, para assim definir um método que apresenta valores mais
próximos do real. Também, serão realizadas comparações dos resultados dos métodos
aplicados no modelo de bloco sobre estacas em estudo.

5.1 Análise e proposição de um modelo


Através da análise dos resultados dos elementos finitos, foi possível elaborar simplificações
e constatações para ajustar o modelo tornando-o mais real. Primeiramente, as áreas da
representação gráfica das tensões de compressão no pilar e nas estacas foram
simplificadas, conforme a figura 10. Foi realizada esta simplificação para facilitar o cálculo
das excentricidades, das tensões de compressão máximas e mínimas junto ao pilar e às
estacas e para melhor representar a biela de compressão do modelo.

Figura 10 – Simplificação das áreas de tensões críticas

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5.1.1 Junto ao pilar
A figura 11 mostra a representação gráfica do ajuste do modelo junto ao pilar.

Figura 11 – Ajuste das tensões de compressão junto ao pilar

A carga N do pilar é decomposta em parcelas iguais N’, para serem transmitidas para as
estacas. Desta forma, a força que é conduzida para cada estaca do modelo é a metade da
força conduzida pelo pilar, resultando em 315 kN para cada estaca. A área das tensões de
compressão foi dividida pela metade, para serem analisadas separadamente a carga que
vai para cada estaca.
A tensão de compressão média (σp,méd.) é a distribuída pelo pilar caso não houvessem
diferenças na disposição. Portanto, a tensão distribuída do pilar no bloco é a força normal
(mais o peso próprio) dividido pela área da seção do pilar, resultando em 0,70 kN/cm².
Porém, constata-se que as tensões de compressão das extremidades e do meio do pilar
não são iguais. Assim, para saber o local em que a carga N’ é descarregada, deve-se achar
o centróide da área simplificada. Ao encontrar o centróide, verifica-se que há uma distância
em relação ao centro do eixo X da área (eixo de rotação), distância a qual é nomeada de
excentricidade.
O valor da excentricidade (ep) do modelo é encontrado a partir da equação 10, testada com
os dados dos elementos finitos:
𝑒 = (Equação 10)
Onde ep é a excentricidade da área de influência do pilar sobre uma estaca e 𝑎 a dimensão
do pilar no mesmo eixo da ep, resultando em 0,938 cm.
Quando há uma força aplicada a uma distância do eixo de rotação, quer dizer que há um
momento. Logo, constata-se que a carga N’ é aplicada a uma excentricidade, ocasionado
um momento. Esse é calculado a partir da equação 11:

(Equação 11)
Onde 𝑁′ é a carga do pilar que descarrega em uma estaca, 𝑒 a excentricidade da área de
influência do pilar sobre uma estaca e 𝑊′ o módulo de resistência à flexão para metade do
pilar.

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O módulo de resistência à flexão (W’) é uma característica geométrica da seção que se
opõe à flexão. Como no problema está se tratando apenas da área a qual a carga
descarrega em uma estaca, utiliza-se a metade do módulo. Assim, a equação para
encontrar o módulo proposto é a de número 12:

𝑊 = (Equação 12)
onde bp e ap são as dimensões do pilar, resultando em um módulo de resistência à flexão
de 11,25 m³.
Após esta análise, descobrir a tensão máxima e mínima de compressão se torna simples.
Observa-se que há flexão oblíqua composta junto ao pilar, a qual possui tensão distribuída
e momento gerado pela excentricidade. Deste modo, a tensão máxima de compressão é a
soma destes dois parâmetros conforme a equação 13:

𝜎 , á . = + (Equação 13)

𝜎 , á . = 0,96264 𝑘𝑁/𝑐𝑚².
Consequentemente, a tensão mínima é a diferença dos dois parâmetros conforme equação
14:

𝜎 , í . = − (Equação 14)

𝜎 , í . = 0,43736 𝑘𝑁/𝑐𝑚².

5.1.2 Junto às estacas

A figura 12 é a representação gráfica do ajuste do método junto às estacas.

Figura 12 – Ajuste das tensões de compressão junto às estacas

A carga “Ne” corresponde a força a qual a estaca está sujeita, que foi calculada no item
anterior, resultando em 315 kN. Nota-se que esta força está sendo aplicada no centróide
da área das tensões de compressão junto à estaca, o qual está a uma distância do centro
do eixo X, gerando uma excentricidade. O valor da excentricidade é dado pela equação 15:
𝑒 = (Equação 15)
Onde 𝑒 é a excentricidade da área de influência da carga na estaca e 𝑎 a dimensão da
estaca no mesmo eixo da 𝑒 , resultando em 5 cm.
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A tensão de compressão média (σe,méd.) é a carga aplicada na estaca distribuída pela área
da seção caso não houvessem diferenças de tensões em pontos da estaca, na qual resulta
em 0,35 kN/cm².
Porém, constata-se que as tensões de compressão nas extremidades da estaca não são
iguais. Deste modo, a carga Ne é aplicada com uma excentricidade, ocasionando momento.
Utiliza-se a equação 16 para encontrar o valor deste momento:

(Equação 16)
Onde 𝑁 é a carga aplicada na estaca, 𝑒 a excentricidade da área de influência da carga
na estaca e 𝑊 o módulo de resistência à flexão da estaca.
Para encontrar o valor do módulo de resistência à flexão da estaca, utiliza-se a equação
17:

𝑊= (Equação 17)
onde bp e ap são as dimensões da estaca, resultando em um valor de módulo de resistência
à flexão da estaca de 4500 m³.
Após realizar estas análises, calcular a tensão máxima e mínima de compressão na estaca
se torna simples. Observa-se que há flexão oblíqua composta junto à estaca, a qual possui
tensão distribuída e momento gerado pela excentricidade. Como pode ser visto na figura
13, a tensão mínima de compressão considerada é zero. Já para descobrir a tensão máxima
de compressão, deve-se somar os dois parâmetros, que são tensão distribuída e momento
resultando na equação 18:
𝜎 , á . =2∗ (Equação 18)

Chega-se à conclusão de que a tensão máxima de compressão nada mais é que duas
vezes a tensão média.
315
𝜎 , á . =2∗ = 0,70 𝑘𝑁/𝑐𝑚²
30 ∗ 30
A figura 13 representa o modelo de bielas e tirantes proposto.

Figura 13 – Modelo de bielas e tirantes proposto


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Consequentemente, após este ajuste, o ângulo de inclinação das bielas, a força de tração
do tirante e a área de aço necessária para o tirante foram alterados conforme os resultados
da tabela 3.

Tabela 3 – Ângulo da biela, força de tração e armadura principal do modelo proposto


Θ(°) T (kN) As,t (cm²)
55,49 216,56 4,98

5.2 Tensões de compressão junto ao pilar e às estacas


As tabelas 4 e 5, a seguir, apresentam as tensões de compressão mínima, média e máxima
junto ao pilar e às estacas dos quatro métodos.

Tabela 4 – Tensões de compressão junto ao pilar dos quatro métodos


Tensão mínima Tensão máxima
Método Tensão (kN/cm²)
(kN/cm²) (kN/cm²)
Blévot e Frémy - 1,21 -
Schlaich e Schäfer - 0,70 -
Elementos Finitos 0,47194 - 0,96524
Proposto 0,43736 - 0,96264

Tabela 5 – Tensões de compressão junto às estacas dos quatro métodos


Tensão mínima Tensão máxima
Método Tensão (kN/cm²)
(kN/cm²) (kN/cm²)
Blévot e Frémy - 0,61 -
Schlaich e Schäfer - 0,35 -
Elementos Finitos 0,07071 - 0,70388
Proposto 0 - 0,70

Ao analisar os valores dos dois primeiros métodos nas tabelas, verifica-se que o valor de
tensão média atuante do método de Blévot e Frémy é o dobro do valor do método de
Schlaich e Schäfer. Isso ocorre pelo fato de que o primeiro método majora o valor da tensão
de acordo com o ângulo de inclinação da biela, já o segundo método não majora.
Os dois últimos métodos são os que apresentam tensão mínima e máxima de compressão,
tratando como flexão oblíqua composta e não somente como tensão de compressão
atuante igual em todos os pontos da seção do elemento estrutural. Por esse fato, esses
retratam as tensões mais próximas do real.
Pode-se observar que o método aperfeiçoado pela autora apresenta valores muito próximos
do método de elementos finitos, quanto a tensão mínima e máxima de compressão.
Portanto, constata-se que o método proposto é válido.

5.3 Ângulo de inclinação das bielas e força de tração


As tabelas 6 e 7 exibem, respectivamente, os resultados do ângulo de inclinação das bielas
e da força de tração dos métodos de Blévot e Frémy, Schlaich e Schäfer e o proposto pela
autores. O método dos elementos finitos foi realizado para a partir desse ajustar o modelo
de bielas e tirantes para valores mais reais, como o proposto.

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Tabela 6 – Ângulo de inclinação das bielas dos três métodos
Método Ângulo de inclinação das bielas (°)
Blévot e Frémy 49,40
Schlaich e Schäfer 49,40
Proposto 55,29

Tabela 7 – Força de tração dos três métodos


Método Força de tração (kN)
Blévot e Frémy 270
Schlaich e Schäfer 270
Proposto 216,56

Verifica-se que com o ajuste do método, o valor do ângulo de inclinação das bielas de
compressão aumentou, o que consequentemente, através de trigonometria, diminuiu o
valor da força de tração no tirante. Esse fato fez com que a biela se torne mais inclinada, o
que realmente resultou no método dos elementos finitos (MEF) como pode-se constatar na
figura 14.

Figura 14 – Tensões em y pelo MEF e modelo de bielas e tirantes proposto

6 Considerações finais
O presente trabalho analisou através do método de bielas e tirantes e do método dos
elementos finitos um modelo de bloco sobre duas estacas. Através das análises realizadas,
principalmente pelo método dos elementos finitos, foi proposto um ajuste do modelo, para
torná-lo o mais real quanto as tensões e forças presentes.
Mediante os resultados das tensões de compressão junto ao pilar e às estacas pelo método
de Blévot e Frémy, ressalta-se que os valores das tensões atuantes simples são dobrados,
através da majoração pelo ângulo de inclinação das bielas. Verifica-se esta majoração

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quando comparado com os valores do método de Schlaich e Schäfer, os quais utilizam


somente a tensão de compressão simples atuante sem majoração.
Porém, constata-se que os valores destas tensões de compressão de Blévot e Frémy
correspondem as máximas tensões atuantes encontradas no método dos elementos finitos,
mostrando que Blévot e Frémy majoram as tensões para corresponderem as máximas
atuantes. Schlaich e Schäfer determinam as tensões simples, as quais possuem um valor
médio entre as máximas e mínimas encontradas no método dos elementos finitos, o que
corresponde que essas tensões necessitam ser ajustadas.
O modelo proposto apresenta resultados próximos do real, conforme comparado com o
método dos elementos finitos, pois utiliza o conceito que se constata nas representações
gráficas, apresentadas durante o trabalho, de flexão oblíqua composta junto ao pilar e bloco
e junto ao bloco e às estacas. Diante do exposto, conclui-se que o método proposto
demonstra resultados satisfatórios e próximos dos reais, além disso nota-se que o método
apresenta potencial de aplicação.

7 Referências

CAMPOS, J. C.. Elementos de fundação em concreto. Oficina de Textos, São Paulo,


2015.

CAMPOS FILHO, A.. Caderno de engenharia: detalhamento das estruturas de


concreto pelo método das bielas e dos tirantes. Dissertação (Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre, 1996.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 - Projeto de estruturas


de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

SCHLAICH, J.; SCHÄFER, K.; JENNEWEIN, M.. Toward a consistent design of


structural concrete. Stuttgart, 1987.

VELLOSO, D. A.; LOPES, F. D. R.. Fundações: fundações profundas. Oficina de Textos,


São Paulo, 2010.

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