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Ensino Religioso No Brasil
Ensino Religioso No Brasil
África: O Berço da
Humanidade
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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16/01/2023 14:46 África: O Berço da Humanidade
Quem é a África?
Pois bem, comecemos o nosso percurso compreendendo as características gerais
que dão forma material a este continente, pois alguns dos “segredos” que buscamos
para desvendar o porquê de a humanidade ter iniciado sua trajetória no planeta ali
tem suas respostas reveladas nas características que o fundamentam.
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Figura 1 - Subdivisões da África para fins estatísticos usados pela ONU: África
Setentrional (norte / azul) (físico-geograficamente, a Península de Sinai, no Egipto,
pertence ao Médio Oriente, região da Ásia), África Ocidental (verde), África Central
(rosa), África Oriental (amarelo), África Meridional (sul / vermelho)
Fonte: Wikipédia.
Fonte: Wikipédia.
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Figura 3 - Margem esquerda (ocidental) do rio Nilo, entre Edfu e Com Ombo
Fonte: Wikipédia.
Fonte: Wikipédia.
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E foi no interior dessa porção continental mais antiga que a vida humana teve início
e tanto se diversificou. Sendo assim, convido você a continuar nosso trajeto ao longo
do surgimento do ser humano na África e os desdobramentos dessa história. Vamos
lá?!
O Surgimento do Homem em
África
Para começar esta fase de discussão sobre o início do processo evolutivo da espécie
humana há cerca de 4,5 milhões de anos, devemos compreender que, dadas as
condições de vida na África terem iniciado primeiro, espécies animais ali foram se
desenvolvendo. Entre elas, encontramos os mamíferos.
São nos fósseis símios dos últimos 30 milhões de anos que os pesquisadores têm se
dirigido pra escrever a história dos hominídeos, ou seja, a história dos primeiros
humanos. Isso porque é nesse ínterim que foram formadas as características que
marcam o gênero Homo:
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Fonte: Wikipédia.
Essa espécie tem algumas características essenciais que lhe dão a definição de
nosso ancestral primordial, pois tem pés e mãos modernas, “cérebro com nítido
aumento de volume, caninos pequenos e face reduzida” (UNESCO, 2010, p. 448).
Pesquisas realizadas no decorrer do século XX, mais precisamente entre os anos de
1930 e 1970, por grupos franceses e estadunidenses, limitaram a área de distribuição
do Australopithecus às regiões oriental e meridional da África.
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CONECTE-SE
Estima-se que Lucy - também chamada "Dinknesh"- tenha vivido há 3,2
milhões de anos. Quando os seus ossos fossilizados foram escavados
em 1974, ela foi aclamada como o mais antigo humano primitivo - ou
hominin - já encontrado. Os cientistas encontraram 40% dos seus ossos,
o que fez deste o esqueleto mais completo de uma antiga espécie
humana encontrada. Lucy pertencia a uma nova espécie que recebeu o
nome científico de "Australopithecus afarensis". Ao estudar Lucy, os
cientistas aprofundaram seus conhecimentos sobre a evolução
humana, por exemplo, em relação à forma como esses hominins se
deslocavam.
Fonte: Wikipédia.
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Fonte: Wikipédia.
A África então foi o berço do Homo Habilis. Esta espécie de hominídeo dispunha de
habilidades em “manipular artefatos e atuar sobre o meio natural”, como, por
exemplo, “fragmentos de osso ou lascas de pedra para abater outros animais, agindo
como predador, como caçador” (MACEDO, 2012, p. 14).
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Fonte: Wikipédia.
Essa espécie de hominídeo teve alguns de seus membros ampliando seus territórios
para além da África, chegando ao Oriente Médio, outras partes da Ásia e também à
Europa.
E entre 400 mil e 100 mil anos atrás, também foram identificados na África os
primeiros exemplares de nossa espécie, o Homo Sapiens:
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CONECTE-SE
Os mais antigos fósseis já encontrados de seres humanos modernos
datam de 130 mil anos e foram localizados na África. E de todas as
espécies, o Homo sapiens sapiens foi a única que se espalhou e
conquistou os cinco continentes do nosso planeta.
Como podemos ver, a nossa história enquanto ser humano está intimamente ligada
à história do continente africano. Afinal, os nossos antepassados começaram a sua
saga no planeta no interior desse continente e de lá começaram a ocupar outros
espaços.
Portanto, esse trajeto que aqui iniciamos é muito intrigante e importante, pois ele
nos capacita a conhecer não apenas a história africana em seu início, mas a história
humana. Desse modo, demonstra como conhecer o desenvolvimento desse
continente é essencial para que compreendamos as raízes de nossa espécie e as
relações que manteve dentro e fora de África.
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16/01/2023 14:47 Pré-História Africana
Pré-História Africana
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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Nesse momento, quero abarcar com você esse percurso inicial da história humana,
que comumente denominamos de Pré-História. Essa forma de periodizar a história
foi criada na passagem do século XIX para o XX, quando a ciência histórica tentava
firmar seu status científico. Desse modo, as fontes para o estudo da ação do homem
ao longo do tempo, consideradas fidedignas, eram os documentos escritos, de
preferência oficiais. Sendo assim, considerava-se que a História só teria início a partir
da invenção da escrita e, desse modo, tudo aquilo que acontecera antes seria
denominado pré-histórico.
Destaca-se que, a partir de então, esse período deixou de ser visto com indiferença
ou pouca importância. Pelo contrário, conhecimentos a respeito do homem desde
sua gênese fizeram-se, e ainda fazem significativos para que possamos conhecer as
relações humanas no presente. Como a História não é uma ciência só do passado –
mas que busca a compreensão dessa relação passado/presente –, investigar o modo
de vida do homem na pré-história ganhou fôlego e passou integrar o ofício do
historiador em sua busca por compreender a ação do homem ao longo do tempo
passado e presente.
Sendo assim, o uso de uma divisão tradicional da História (Pré-História, Idade Antiga,
Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea) e do termo “Pré-História”, são
apenas para fins de localização temporal e não com o fim de desconsiderar a
importância de tal período para o conhecimento da trajetória humana ao longo do
tempo. Feitas essas considerações, é importante observar que essa etapa inicial da
história da humanidade, chamada de Pré-História, é dividida em duas principais
fases: o Paleolítico e o Neolítico.
Tomando então esses referenciais, nos desdobraremos sobre essas duas fases da
Pré-História africana. Afinal, o trajeto humano se iniciou nesse continente, e as
transformações na vida humana nesse espaço ao longo desses períodos
espalhadaram-se para dentro e para fora da África.
A África no Paleolítico
Na África, os primeiros grupos humanos foram desenvolvendo formas de sobreviver
por meio de novas tecnologias que eles inventavam. Quando há cerca de 1 milhão
de anos a.C. começaram as ondas migratórias para outros continentes, os primeiros
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Fonte: Wikipédia.
SAIBA MAIS
Garganta do Olduvai, que dá nome a uma cultura (primeiras formas da
fabricação com pedras), situa-se ao norte da Tanzânia, próxima ao
Parque Nacional do Serengueti, cujas primeiras escavações foram
realizadas nos anos de 1950 pelo casal britânico Louis e Mary Leakey. Os
depósitos mais antigos da garganta de Orduvai possuem pouco mais
de dois milhões de anos e contém indústrias em pedra na Camada I
que recebem o nome de Olduvaiense (ou Modo I). Este tipo de
indústrias surgiu (há 2,6 milhões de anos) junto a outras formas
primitivas de um hominídeo – Paranthropus boisei.
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Fonte: Wikipédia.
O Homo Erectus, com maior estatura e força física, foi o responsável por desenvolver
mais tecnologias com a fabricação de ferramentas com o lascamento bifacial da
pedra, classificada como indústria ou cultura acheulense (SOUZA, 2014).
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Fonte: Wikipédia.
CONECTE-SE
Duas culturas do Paleolítico Inferior assentaram-se na bacia de Ain Beni
Matar, próxima à cidade de Uchda (noroeste de Marrocos, próxima a
Argélia, a 150 quilômetros de Melilla). Nesta localidade, que na chegada
dos hominídeos era composta de uma paisagem de rios mais
caudalosos que os atuais e com maior pluviosidade, desenvolveram-se
as culturas olduvaiense e acheulense, indústrias caracterizadas pelo uso
de cantos talhados e bifaces, respectivamente, e se acredita que uma
sucedeu a outra cronologicamente.
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Com o controle do fogo, que além de servir para aquecer e cozer os alimentos abriu
espaço para os primeiros humanos desenvolverem novas tecnologias, tais
habilidades - junto com o desenvolvimento da linguagem - puderam ser
transmitidas, levando às primeiras formas culturais. Esses foram elementos da vida
no Paleolítico que ocorreram no continente africano.
Nesse processo, entre 15 mil e 12 mil anos a.C., mais precisamente no Mesolítico,
tivemos avanços por parte de nossos ancestrais no desenvolvimento de técnicas de
fabricação de artefatos e utensílios de pedra trabalhada, os chamados micrólitos
(MACEDO, 2012). Com lâminas cortantes, esses artefatos eram utilizados por
caçadores nos territórios atuais da Zâmbia, Namíbia e Angola, além do
desenvolvimento do uso do arco e da flecha.
Fonte: Wikipédia.
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SAIBA MAIS
O Período Mesolítico corresponde ao período de transição pré-histórica
entre o Paleolítico (Idade da Pedra Lascada) e o Neolítico (Idade da
Pedra Polida). Essa transição aconteceu de forma lenta e gradual, sendo
o mesolítico o período que abrange essa mudança.
A África no Neolítico
O Neolítico, que se estende de 12 mil a.C. até cerca de 2.500 a.C., também conhecido
como período da Pedra Polida, é a segunda fase do período pré-histórico. Foi ao
longo dessa fase da história humana que o homem desenvolveu práticas agrícolas e
pastoris, além de com o domínio já adquirido do fogo, ter conseguido aprimorar o
desenvolvimento de ferramentas e utensílios importantes para sua vida.
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Fonte: Wikipédia.
Foi na região do atual Saara até o vale do Níger que comunidades mais antigas se
formaram e ali desenvolveram artefatos de pedra polida, primeiras formas de
pecuária bovina, equina e caprina, além da agricultura do sorgo e uma espécie de
milho, datados de 12 mil e 8 mil a.C. Posteriormente, houve ainda o desenvolvimento
da metalurgia do cobre e mais tarde do ferro:
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Fonte: Wikipédia.
Fonte: Wikipédia.
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16/01/2023 14:47 Pré-História Africana
A vida humana, portanto, passou por todas essas transformações dentro do espaço
que integra o continente africano para então migrar para outros territórios na Ásia,
Europa, Oceania e América:
Nesse percurso, o ser humano abriu caminho para novos trajetos dentro e fora de
África, construindo comunidades, as primeiras vilas e então cidades, onde outros
meios e técnicas foram realizados para uma melhor organização da vida, como é o
caso da invenção da escrita para fins de comunicação e sobretudo de marcação e
contabilização do que era realizado e produzido nesses espaços fundados pela
humanidade.
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16/01/2023 14:48 A África na Antiguidade
A África na Antiguidade
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Karla Katherine de Souza Seule
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16/01/2023 14:48 A África na Antiguidade
A África, primeiro ambiente habitado pelo ser humano, também foi o berço de
grandes civilizações e reinos que tiveram importância em seu contexto interno e
externo. Seguiremos percurso sobre alguns dos povos que tiveram papel importante
na história africana ao longo do período que convencionalmente caracterizamos
como Idade Antiga. Tomaremos aqui os egípcios e os núbios, mais precisamente
pertencentes ao reino de Kush. Em nosso trajeto, abordaremos as suas organizações
políticas, econômicas e culturais. Vamos lá?
Os Egípcios
Uma das civilizações humanas mais antigas é a egípcia. Ela se estabeleceu na parte
ocidental de uma região denominada “crescente fértil”, pois forma uma meia lua, se
estendendo ao longo do Oriente Médio ao noroeste africano, sendo banhada a leste
pelos rios Tigre e Eufrates e a oeste pelo rio Nilo. Esses rios foram e são importantes
para a manutenção da vida nessa região árida e desértica. A presença dos mesmos
permitiu que núcleos humanos ali se estabelecessem e formassem comunidades. E
a partir dessas comunidades é que nasceram algumas das civilizações mais antigas
da humanidade, como a egípcia.
Fonte: Wikipédia.
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16/01/2023 14:48 A África na Antiguidade
NA PRÁTICA
O termo “Crescente Fértil” foi utilizado pela primeira vez pelo
arqueólogo e historiador estadunidense James Henry Breasted (1865-
1935). Foi citado em sua obra “Antigos Registros do Egito” (em inglês:
“Ancient Records of Egypt”), publicada em 1906. A ideia do autor era
designar as áreas da Mesopotâmia e do Egito.
A permanência dessas populações em torno dos vales banhados pelo rio Nilo
tornaram possível o desenvolvimento de práticas agrícolas e a sua permanência em
seu derredor. Desse modo, as pessoas foram organizando ali uma vida sedentária, ou
seja, fixando moradia por meio da prática da agricultura e da pecuária, que ali era
possibilitada por meio da presença desse grandioso rio.
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A princípio, o trabalho era realizado de modo coletivo, sem “chefias”. Mas foi entre os
anos de 3300 e 3000 a.C. que as práticas agrícolas começaram a mudar. Essas
práticas coletivas deram lugar a uma organização das forças produtivas para melhor
proveito das mesmas. Segundo Cardoso (1995), a população crescia, e com ela mais
necessidades de alimentos, por isso começaram a desenvolver as primeiras formas
de irrigação artificial na região, para que as águas do Nilo fossem levadas mais longe
e, assim, as lavouras fossem estendidas.
Viu uma relativa difusão do uso do bronze, mas foi o Segundo Período Intermediário
(1640-1550 a.C.) que se apresentou como novo na inovação e aperfeiçoamento
tecnológico, com a introdução, pelos asiáticos hicsos, de métodos melhores de
metalurgia do bronze, de um torno rápido para fabricar cerâmica, do tear vertical
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E, apesar de a evolução tecnológica ter sido lenta, isso foi compensado pela
quantidade de mão de obra disponível, o que levou a grandes desenvolvimentos em
um ambiente a princípio inóspito.
Foi nesse ínterim que populações em torno do vale do Nilo foram se organizando
em um aparelho estatal, com uma hierarquia de chefias para diferentes categorias
socioeconômicas, que acabaram por organizar o Estado egípcio; primeiro Estado
unificado de que se tem registro na história humana.
O Egito antigo, segundo Cardoso (1995), não foi somente o primeiro Estado unificado
da história. O autor explica que esta organização política foi a primeira experiência
mais longa nesse sentido da qual temos registro, e observa que tudo isso permitiu
uma longa experiência cultural em sua abrangência.
Mas isso fez parte de um processo longo no qual, conforme pontuou Cardoso (1986),
tudo indica que houve o fortalecimento de um chefe tribal no sul que conseguiu
reunir sob o seu poder territórios no sul e no norte. Este se tornou o “rei das duas
terras” e, sob tal título, tornou-se o primeiro faraó. O faraó era uma autoridade civil,
jurídica e divina, pois governava em nome de algum deus do panteão religioso do
seu povo.
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Na pecuária, o gado bovino era seguido pela criação de asnos, ovelhas, cabras, suínos
e aves diversas.
Os hicsos invadiram o Egito por volta do século XVIII a. C., e com eles trouxeram
cavalos que passaram a fazer parte dos animais de criação dos egípcios. Quanto ao
gado bovino, eram poderosos aliados nas atividades de arar a terra e movimentar
moendas, além de fornecer leite como alimento, já que a sua carne era um luxo que
raramente chegava à mesa dos mais pobres (CARDOSO, 1995).
Vemos, portanto, que o Egito foi um Estado centralizado, com governantes que
controlavam todas as suas esferas econômicas, por meio dos tributos e produtos,
além da prestação de serviços. Baseado em um “peso ideológico” que dispunha sua
monarquia enquanto “divina” (CARDOSO, 1995, p. 70), os egípcios se organizaram em
um sistema fechado de regras e disciplina que norteava as relações humanas do
reino.
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Essas condições bases da cultura egípcia deram a ela seus aspectos mais marcantes.
Dentre elas, segundo Santos (2003), encontramos religiosidade, com seus ritos e
práticas que norteavam as características fundamentais dessa cultura:
Tudo no Egito era orientado por ela: o mundo poderia - na visão desse
povo - ser destruído não fossem as preces e os ritos religiosos, a
felicidade nessa vida e a sobrevivência depois da morte eram
asseguradas pelas práticas rituais, e até mesmo "o ritmo das
enchentes, a fertilidade do solo e a própria disposição racional dos
canais de irrigação dependiam diretamente da ação divina do faraó"
(SANTOS, 2003, p. 17).
A Núbia e os kushitas
Agora, prosseguiremos o nosso caminho analisando outro reino importante da
Antiguidade africana, Kush, localizado na Núbia. Conhecida como “terra do ouro”, a
Núbia fica localizada entre o sul do Egito e o norte do atual Sudão. Desde tempos
remotos, esse território foi importante fornecedor de peles de animais, temperos,
pedras e minerais precisos. Começou a ser habitada por meio da concentração de
agrupamentos humanos a partir do Nilo, que garantia a sobrevivência em meio à
desertificação do Saara.
As fontes decifradas sobre a Núbia são mais escassas que as egípcias, contudo, as
estudadas até o momento, sugerem que desde sempre essa região foi um ponto de
encontro que reuniu povos do interior africano até o Mediterrâneo. E dentre os
reinos que se formaram nessa região, temos destaque na Antiguidade para Kush.
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As fontes sugerem que esse reino nasceu por volta do século IX a.C. e teve seu fim no
século IV d.C. (SILVA, 2012). Ele teria surgido da instabilidade egípcia, frente a
invasões dos asiáticos hicsos, que abriria a possibilidade para estabelecer um reino
independente do mesmo na Núbia; reino este que ficara conhecido como reino dos
faraós negros.
Sua primeira capital foi Napata, entre os séculos IX e V a.C. Devido a suas riquezas e
rivalidade com os egípcios, muitas fortificações foram construídas nas fronteiras
entre os dois reinos, o que não impedia que realizassem comércio entre si, já que
este era benéfico para ambos os reinos. Esse comércio manteve a Núbia como
centro de circulação de pessoas pela África, que além das trocas econômicas
proporcionou muitas trocas culturais na região.
Fonte: Wikipédia.
A partir do século VI a. C., a capital do reino foi transferida para Méroe, mais ao sul. A
partir de então, apesar da escassez de fontes, o que se sabe é que esse reino
sobreviveu com formas e características cada vez mais africanas.
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Fonte: Wikipédia.
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Fonte: Wikipédia.
Esse poderoso reino antigo foi governado por um matriarcado entre os anos de 170 e
160. Entre as “rainhas mães” da Núbia, duas tiveram destaque: Amanirenas e
Amanishaketo. O período em que governaram foi também de grande prosperidade
no Reino de Kush. As construções, as joias e os próprios sepulcros do período
atestam essas informações. (MEC, 2010).
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Fonte: Wikipédia.
CONECTE-SE
Shanakdakhete foi a rainha Negra Africana de Kush quando o reino
eracentrado em Meroé. Ela é a primeira rainha governante conhecido
de Núbia e reinou de cerca de 177-155 a. C.
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Figura 4 - Shanakdakhete
Fonte: Wikipédia.
Kush entrou em decadência por volta do século II da era atual. Posteriormente, por
volta dos anos 300 d.C., e ao que tudo indica, um outro reino mais ao sul, conhecido
como Axum, ajudaria a acabar com sua soberania. Contudo, sua importância, bem
como do seu vizinho ao norte, o Egito, se faz presente na história. E com a ajuda da
expansão de pesquisas que decifrem as fontes disponíveis, tem sido cada vez mais
confirmada a importância desse reino no contexto de relações do interior africano
com demais partes da África, do Oriente Médio asiático e Mediterrâneo.
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16/01/2023 15:07 Reinos Africanos na Idade Média
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Karla Katherine de Souza Seule
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Mas, se verificarmos, não é bem assim. A África é não só o continente mais antigo do
planeta como onde o ser humano iniciou a sua trajetória na Terra. Esse continente
possui povos que se diversificaram e construíram inúmeras histórias antes e depois
do período que teve início o comércio Atlântico de escravos (séculos XVI e XIX).
Convido você então a debruçar sobre alguns povos africanos em especial, dado
nosso limite de tempo e espaço, que se organizaram em reinos ao longo do período
que convencionamos chamar de Idade Média. Nosso trajeto se fará em torno de dois
reinos em específico, o de Axum e o do Mali.
Esperamos com isso, observar e conhecer mais a respeito da história e cultura de tais
reinos, bem como as suas influências sobre as relações intra e extra África. Afinal,
alguns desses reinos são formados por populações que para cá foram trazidas no
período da colonização do Brasil e, portanto, fazem parte de nossas heranças
históricas e culturais. Vamos lá?
Pouco a pouco, os homens que viviam nas savanas ao sul do Saara foram
acrescentando a bagagem trazida das culturas aquática e pastoril. Aperfeiçoaram o
cultivo da terra e domesticaram novos vegetais. Melhoraram os utensílios de
trabalho. Tornaram mais sólidas as casas. A cerâmica evoluiu e se enriqueceu até
chegar à escultura em barro cozido. E, uns cinco ou seis séculos antes de nossa era, o
ferro começou a incorporar-se aos materiais com que lidavam. (SILVA, 2011, p. 166).
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Fonte: Wikipédia.
Fonte: Wikipédia.
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Outras inovações foram importantes, nesse contexto, como o uso do ferro que
Portanto, a África nunca foi um continente estático, muito pelo contrário. E foram
esses processos migratórios que deram início a reinos e civilizações. Prosseguiremos,
então, observando cada um dos reinos que selecionamos.
Axum
O reino Axum foi formado na
região da atual Etiópia a partir de
uma cidade homônima, em torno do
século V a. C., por populações de
pastores e agricultores cujos indícios
é de que praticavam a fundição do
cobre e do bronze, manufaturavam
couro, tecido e produtos de madeira,
além de manter importantes
relações com povos da outra
margem do Mar Vermelho, em
especial, os iemenitas.\
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A fundição do ferro foi provavelmente uma herança meroíta. Também o uso da mula
como animal de carga e de arado, o que permitiu ampliar áreas cultiváveis em solos
vulcânicos dos planaltos. (SILVA, 2011).
A partir do século III a. C., a cultura do norte da Etiópia vai se afastando da iemenita e
se aproximando do Egito ptolomaico e de Kush, seja por meio da língua, da escrita
ou das técnicas de produção de cerâmica, com seus vasos “de argila negra ou rubra,
com superfícies vidradas e incisões ornamentais preenchidas com uma pasta branca
ou, em alguns casos, vermelha” (SILVA, 2011, p. 185).
Foi então que dentre as cidades da região que eram centro do comércio e do
artesanato, Axum teve destaque. Localizada no planalto do Tigre, em uma área de
solos bem regados e de fácil acesso ao mar Vermelho e ao Nilo, Axum “tornou-se um
importante empório do marfim e de outros artigos africanos” e passou a dominar os
vales dos rios Mareb e Tacazé, garantindo o controle sobre o tráfico do interior
africano para o Mar Vermelho e que intermediava os rios Nilo e Adúlis (SILVA, 2011,
187).
Essa região foi visitada por sírios, persas e também judeus, o que rendeu o mito da
união de Salomão e da Rainha de Sabá, cujo resultado seria o rei Menelique I. Essa
história serviu posteriormente para manter a monarquia etíope até o século XIV.
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Fonte: Wikipédia.
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Fonte: Wikipédia.
Esse reino de comércio pleno, que ligava produtos do interior africano até a Índia,
sofreu sua decadência a partir do século VII, envolvido em conflitos entre bizantinos
e persas, além do avanço árabe muçulmano em sua região. Contudo, a cidade de
Axum até hoje tem importância religiosa e cultural.
Mali
Nos atuais territórios da República do Mali até as regiões dos atuais Senegal e Guiné,
existiu um importante reino africano entre os séculos XIII e XVI, formado em meio a
antigas rotas subsaarianas que desembocavam no “cotovelo” do rio Níger, onde
desde muito tempo negros e berberes começaram a “transportar para mercados
distantes ouro, pimenta-malagueta, âmbar, alúmen, sal, cobre, tâmaras, tecidos e
artefatos de couro”. Além disso, cavalos eram frequentemente trocados por escravos
(SILVA, 2011, p. 310).
Uma região, portanto, muito disputada, teve sua população islamizada por volta do
século XI, o que segundo os Griotz, fez com que muitos estados se formassem para
escapar da expansão árabe:
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SAIBA MAIS
Contadores de histórias, mensageiros oficiais, guardiões de tradições
milenares: todos esses termos caracterizam o papel dos Griots que, na
África Antiga, eram responsáveis por firmar transações comerciais entre
os impérios e as comunidades e passar ensinamentos culturais aos
jovens, sendo hoje em dia a prova viva da força da tradição oral entre os
povos africanos.
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Fonte: Wikipédia.
De acordo com a tradição mantida pelos Griotz, Mali, enquanto reino, surgiu por
meio da figura de um membro do clã Queita, chamado Sundiata que, fugindo a
princípio do irmão mais velho por disputas de sucessão do controle de suas posses,
acabou por escapar de um massacre da família em meio a guerras com o povo
sosso. Em seguida, Sundiata teria derrotado esse povo que destruiu sua estirpe e
começou a reunir sob seu comando vários clãs malinquês. Ao longo dessas guerras,
cada líder de clã se tornou um chefe local e Sundiata Queita recebeu o título de
Mansa, um rei, que pela primeira vez dominava “os mananciais do ouro, os portos
caravaneiros do Sael e os caminhos que levam de uns aos outros” (SILVA, 2011, p. 318).
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16/01/2023 15:08 A África na Modernidade
A África na Modernidade
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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CONECTE-SE
O Racionalismo é uma corrente filosófica que atribui particular
confiança à razão humana, ao passo que acredita que é dela que se
obtêm os conhecimentos.
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Nesse ínterim, viajantes, estudiosos e missionários dos séculos XV, XVI, XVII e XVIII
que saíram da Europa em direção à África tiveram papel fundamental ao descrever o
continente africano e gerar um imaginário sobre ele, pois o contato que eles
mantinham eram pontuais, com localizações restritas aonde os europeus
conseguiram chegar à África. Um exemplo é o famoso mapa do holandês Guilherme
Blaeu, datado de 1644.
SAIBA MAIS
Filho de negociante, Guilherme Blaeu (1571-1638) cresceu em ambiente
cercado de relatos sobre países longínquos. Estudou matemática e foi
aluno do famoso astrônomo Tycho Brahe. Em 1633 tornou-se cartógrafo
da Companhia das Índias Ocidentais, cargo de influente status social.
Sua perícia na cartografia não era menor do que seu pendor artístico,
revelado em mapas finamente trabalhados.
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Fonte: Wikipédia.
Tal reino era rico, com uma economia abrangendo da produção de ferro, sal e cobre
a produtos artesanais e a um comércio que ele “comandava ao longo do rio e entre o
litoral, a floresta e a savana” (SILVA, 2011, p. 519). Sustentava-se por meio do
recebimento de tributos cobrados pelos chefes das aldeias, dos quais retiravam uma
parte e o restante repassavam ao chefe de distrito, que da mesma forma repassava
outra parte ao governador, até que chegassem as mãos do rei. E tais contribuições
exigiam em troca a proteção, bem como se organizavam meios de comércio e
permuta de bens e serviços.
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Esse comércio era favorecido pela segurança que a irmandade entre fiéis
muçulmanos detinha, levando à formação de rotas muito cobiçadas.
Fonte: Wikipédia.
Reinos como o Songai, na região do Sahel, foram importantes nesse período. Com
seu soberano convertido ao Islã, teve seu comércio integrado a essa rede acima
citada. Na mesma região, cidades hauçás importantes se integravam a um comércio
transaariano. Tombuctu, uma das cidades mais importantes da região, além de
centro comercial, tornou-se um importante centro de estudos.
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Fonte: Wikipédia.
Fonte: Wikipédia.
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16/01/2023 15:08 A África na Modernidade
Essas conexões foram importantes para trocas não apenas de produtos, mas para o
florescimento de práticas culturais. Também foi por meio desses contatos que
muitos viajantes do mundo islâmico escreveram alguns dos primeiros relatos
exteriores a respeito de populações africanas. Nesse contexto, a interferência
europeia começou a se fazer por meio do tráfico Atlântico de escravos, do qual
falaremos mais a respeito adiante.
Aos poucos, de região para região, houve variantes. Com a expansão do Islã sobre
territórios africanos, de acordo com Pacheco (2008), o contato muçulmano com
Estados escravistas como o Bizantino e o Persa, tornou essa prática naturalizada,
sobretudo porque nos textos sagrados do Corão ela não é defendida nem
condenada.
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Nesse contexto, a escravidão era entendida como parte de uma Jihad, em que os
infiéis eram escravizados e podiam ser vendidos. Sendo que nas sociedades
islamizadas da África, tais escravos eram empregados em inúmeras atividades que
variavam de serviços domésticos a atividades administrativas e em serviços
militares. Contudo, mesmo sendo uma prática importante, não era algo essencial,
mas contribuiu para que reinos submetidos à expansão árabe se tornassem
fornecedores de escravos.
Essa prática concomitante, iniciada pelos árabes, levou a uma associação entre as
populações negras com o ser escravo, o que impôs a esses povos uma condição de
inferioridade.
área de Angola e do Congo (até quase o final do século XIX); Costa dos
Escravos (Golfo de Benin, do final do século XVII até Século XIX); Costa
do Ouro (do início do século XVIII até o seu final); baía de Biafra
(centralizado no delta do Níger e do rio Cross). Outras regiões tiveram
menor participação em épocas diversas como: do rio Bandana; costa
perto do planalto de Futa Jalom; portos próximos onde agora ficam
Morávia e Freetown; e a região da Senegâmbia com conexão com o
interior muçulmano. (PACHECO, 2008, p. 27).
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Fonte: Wikipédia.
O principal alvo era a população masculina jovem. Além disso, o tráfico aumentou a
busca por escravizar pessoas e também a violência necessária para viabilizar isso.
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Fonte: Wikipédia.
Essas situações nos ajudam a compreender por que o racismo contra os povos
afrodescendentes ganhou forças com a prática da escravidão e como noções
equivocadas sobre esses povos e o continente africano foram surgindo e sendo
disseminadas ao longo da história humana. Daí a importância de conhece mais essa
história para, desse modo, contribuir para combater preconceitos e ideias indevidas.
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16/01/2023 15:08 A África na Contemporaneidade
A África na
Contemporaneidade
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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Convido você a percorrermos sobre esse trajeto na história desse continente e assim,
buscarmos conhecer um pouco mais sobre as relações internas que o permeiam,
assim como este passou a manter em uma escala global. Vamos lá?
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CONECTE-SE
O termo “Imperialismo” sugere, obviamente, uma “Era de Impérios”; em
grande parte trata-se disso mesmo. Mas, conceitualmente falando, o
Imperialismo do século XIX consistiu num tipo de política expansionista
das principais nações europeias, que tinha por objetivo a busca de
mercado consumidor, de mão de obra barata e de matérias-primas para
o desenvolvimento das indústrias.
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Com o fim de ordenar e evitar conflitos entre as potências que disputavam territórios
na África, uma reunião foi organizada entre os seus representantes. Essa coferência,
ou Congresso de Berlim, realizado em 1878, terminou por dar os limites das
ocupações por parte dos europeus já iniciadas na África.
Fonte: Wikipédia.
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SAIBA MAIS
Os países que participaram no Congresso de Berlim foram Áustria, Grã-
Bretanha, França, Alemanha, Itália, Rússia e Turquia.
Fonte: Wikipédia.
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Políticas Coloniais
Se até 1880 cerca de 80% do território africano era governado por “seus próprios reis,
rainhas, chefes de clãs e de linhagens, em impérios, reinos, comunidades e unidades
políticas de porte e natureza variados” (UNESCO, 2010, p. 3), essa situação mudou
radicalmente. Com exceção da Etiópia e da Libéria, a África estava quase
completamente submetida à dominação de potências europeias que a dividiam em
colônias sem, na maioria dos casos, relação com as divisões políticas pré-existentes.
Uma resistência armada e religiosa foi organizada, apesar de algumas elites locais se
fiarem na crença de que conseguiriam barrar as intenções expansionistas europeias,
como vinham fazendo havia séculos, enquanto mantinham relações comerciais com
a Europa. Contudo, o contexto era outro:
Foi aí que a metralhadora venceu as antigas espingardas e boa parte dos soberanos
africanos foi destronada pelas potências europeias - mas não sem confrontos, pois
muitos soberanos africanos preferiram lutar até o fim em campos de batalha para
defenderem sua soberania.
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CONECTE-SE
Com a ocupação da África durante o século XIX, inúmeros movimentos
de resistência ao neocolonialismo europeu surgiram em diferentes
partes desse continente.
Tais práticas não ocorreram em meio a uma passividade entre os africanos. Pelo
contrário: foram múltiplas as formas de resistência mesmo no auge do colonialismo
europeu em África. Inclusive, a essa resistência se deveu o cerne dos movimentos
por independência que vieram a ter êxito no decorrer do século XX e trouxeram
novos rumos à vida das populações que hoje formam o continente africano.
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Independências na África e
Consequências do Imperialismo
Vamos analisar como os movimentos de resistência ganharam força e levaram à
independência de antigas colônias na África para então observar as consequências
de todo esse transcorrer de acontecimentos para os países que se formaram e
constituem o continente na atualidade.
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Afinal, não fazia sentido ter lutado contra dominadores nazifascistas se seus
territórios na África estavam sob o domínio dos aliados para os quais lutaram nesta
guerra.
SAIBA MAIS
Ao fim da Segunda Guerra, a África vivenciou um período de crises
famélicas e os soldados retornados não obtiveram reconhecimento de
suas lutas. É nesse período que o movimento do nacionalismo africano
retorna em cada território com características diferentes.
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Fonte: Wikipédia.
Mas todas essas lutas pela independência da África não apagaram os efeitos que o
colonialismo lá empregou. Com a colonização, houve um desequilíbrio nas relações
sociais entre as populações, que tiveram sistemas coloniais lhes sendo impostos,
sem que pudessem ou tivessem oportunidade de se adaptarem. Além disso, muitos
povos de etnias rivais se reuniram em uma unidade política, o que não significava
que eles tivessem entrado em acordo. Assim, com a independência dessas regiões,
esses problemas continuaram presentes, engrossando guerras civis que assolaram e
ainda assolam algumas partes do continente africano.
Esses processos de luta pela independência geraram novos estados, muitos deles
“minúsculos, sem saída para o mar, ou paupérrimos, e que nunca teriam emergido
noutro momento histórico” (OLIVEIRA, 2009, p. 95). Porém, esses novos atores
passaram a fazer parte de um contexto mundial no qual eram reconhecidos pelo
sistema internacional, mas também afetados por eles.
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Portanto, o processo histórico do qual a África fez parte na era Contemporânea foi
rápido e certeiro em movimentar as suas estruturas e lançar novos desafios a uma
população diversa em ambientes e situações múltiplas. Contudo, sua história não
chegou ao fim, e esses têm sido o ponto de partida para as discussões e decisões
empregadas nesses jovens países africanos que se formavam em meio a esse
contexto.
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16/01/2023 15:09 Africanos no Brasil – da Escravidão à Abolição
Africanos no Brasil – da
Escravidão à Abolição
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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De acordo com Darcy Ribeiro (1995, p. 19), nós, brasileiros, surgimos, "da confluência,
do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e
campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos”. Este
entrechoque é fruto de contradições presentes nesses encontros e desencontros
entre nossas matrizes culturais.
A chegada de africanos trazidos para o Brasil teve início em 1538 (GUEDES, 2016).
Populações africanas eram provenientes de vários territórios e para cá foram sendo
direcionadas também para lugares em específico. Entre os principais grupos,
destacam-se sudaneses, culturas islamizadas da costa ocidental africana e
populações de línguas bantas do centro sul de África.
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sendo introduzidos nas demais regiões brasileiras, nas grandes fazendas, nos
serviços domésticos, na exploração de ouro das Minas Gerais e por fim nas grandes
lavouras de café.
Fonte: Wikipédia.
Afinal, desde sua saída do continente africano para a América, essas populações não
estavam “vindo” para cá, como pontuou Jaime Pinsky (2010, p. 13), mas sim sendo
“trazidas” contra a sua vontade – o que denota que a violência foi uma prática
constante com relação a essas populações, já que desde o trajeto eram cruelmente
amontoados em porões de navios negreiros, e muitos não resistiam, e depois da
chegada, o trabalho nas lavouras ou nas casas grandes eram duros e repletos de
castigos físicos.
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16/01/2023 15:09 Africanos no Brasil – da Escravidão à Abolição
Fonte: Wikipédia.
CONECTE-SE
Depois de comprados por algum senhor de engenho, o indivíduo era
escravizado e passava a trabalhar exaustivamente debaixo do chicote e
das humilhações, dormindo amontoado em senzalas e só ganhando
para comer o essencial para não deixar o corpo definhar. Os capatazes e
feitores da fazenda eram aqueles que exerciam o papel de vigiar e
punir. Qualquer erro, por menor que fosse, era duramente castigado
publicamente para que “servisse como exemplo”.
Tais situações requereram e tiveram resistência por parte de suas vítimas, seja de
forma direta, por meio de motins e fugas, ou indireta, nas suas práticas cotidianas,
com a busca por manter vivos os seus costumes de origem (como a religiosidade,
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Fonte: Wikipédia.
A Abolição da Escravidão e a
Situação do Negro no Brasil
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O Brasil é o país mais negro fora da África. Os números apontam para uma migração
forçada de africanos para América, visto que o nosso país era o principal destino
dessas pessoas. Como vimos, houve diversas formas de resistência às condições que
lhes foram impostas: o fantasma de uma insurreição ampla estava sempre presente
nos pesadelos dos senhores e das autoridades (PINSKY, 2010, p. 49).
Desse modo, embora a abolição não tenha sido fruto direto de uma rebelião escrava
em específico, ela “não pode estar reduzida a um ato de brancos” (PINSKY, 2010, p.
49). O movimento abolicionista esteve presente na história brasileira desde o período
colonial, e comprou e alforriou muitos negros. Esse movimento só ganhou força
quando políticos como, por exemplo, Joaquim Nabuco e José Bonifácio, começaram
a defender a abolição como algo iminente durante a década de 1870, subsequente à
proibição do tráfico negreiro por pressão da Inglaterra e por intermédio da Lei
Eusébio de Queirós
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16/01/2023 15:09 Africanos no Brasil – da Escravidão à Abolição
SAIBA MAIS
Nas mãos dos saquaremas desde 1848 e temendo uma ação efetiva da
Inglaterra, o Governo Imperial elaborou um projeto de lei, apresentado
pelo Ministro da Justiça Eusébio de Queirós, ao Parlamento, visando à
adoção de medidas mais eficazes para a extinção do tráfico negreiro. O
projeto, convertido em lei em setembro de 1850, apoiado nos mais
"sólidos princípios do direito das gentes," extinguia o tráfico
determinando que:
Além de organizações, jornalistas publicavam textos por meio dos quais defendiam
a abolição e as revoltas que fizeram parte do cotidiano no país e que deram fôlego
ao movimento em prol da abolição. Embora uma elite agrária tentasse adiar esse
acontecimento, em 13 de maio de 1888 a Lei Áurea foi assinada e a abolição da
escravatura no Brasil aconteceu.
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16/01/2023 15:09 Africanos no Brasil – da Escravidão à Abolição
Fonte: Wikipédia.
Contudo, esse fato não rompeu com os mais de 300 anos de escravidão no Brasil e
seus efeitos sobre a população afrodescendente:
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16/01/2023 15:09 Africanos no Brasil – da Escravidão à Abolição
Sendo assim, com o fim da escravidão, o negro não foi inserido no mercado de
trabalho assalariado e continuou à margem da sociedade, sofrendo várias formas de
discriminação.
De acordo com dados do Governo Ferderal (GOVERNO DO BRASIL, 2018), “de cada
100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras”. Esses dados são alarmantes e
demonstram como a marginalização feita em relação à população afrodescendente
no Brasil está diretamente ligada as condições com que esta foi estabelecida aqui,
por meio da escravidão, bem como também do processo após abolição que
perpetuou as condições herdadas do período escravocrata.
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16/01/2023 15:09 Movimento Negro
Movimento Negro
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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16/01/2023 15:09 Movimento Negro
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16/01/2023 15:09 Movimento Negro
Fonte: Wikipédia.
Muitos jornais e revistas fizeram parte da onda abolicionista do século XIX e eram
voltados para a defesa da libertação de negros escravizados. Mas foi a partir da
Segunda Guerra Mundial e do processo de independência das colônias africanas ao
longo do século XX que a circulação de referenciais para a construção de lutas por
melhores condições de vida para populações africanas ganhou fôlego mundo a fora.
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Fonte: Wikipédia.
SAIBA MAIS
O termo “Apartheid” se refere a uma política racial implementada na
África do Sul. De acordo com esse regime, a minoria branca, os únicos
com direito a voto, detinha todo o poder político e econômico no país,
enquanto à imensa maioria negra restava a obrigação de obedecer
rigorosamente à legislação separatista.
Após esse incidente, revoltas cresceram pelo país. Nelson Mandela se destacou
como líder do movimento, mas foi preso em 1964 e permaneceu mais de vinte anos
na prisão. Solto em 1990, com o fim do Apartheid, Mandela foi eleito presidente na
primeira eleição sul-africana com a presença de eleitores negros; uma grande
conquista para o movimento.
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16/01/2023 15:09 Movimento Negro
Fonte: Wikipédia.
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16/01/2023 15:09 Movimento Negro
Fonte: Wikipédia.
Martin Luther King Jr. apoiou inúmeras greves e lutas estudantis entre os anos de
1957 e 1968. Nesse meio tempo, ele foi preso mais de vinte vezes, discursou em vários
lugares e escreveu cinco livros e inúmeros artigos.
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CONECTE-SE
Dia 28 de agosto de 1963 foi um dia especial para o mundo. Em pé, nos
degraus do Lincoln Memorial, após a Marcha de Washington por
Empregos e Liberdade, o pastor Martin Luther King Jr. começava seu
discurso. Ouvido na ocasião por mais de duzentas mil pessoas, o ativista
inflamou a praça exigindo igualdade entre negros e brancos numa terra
de preconceito e opressão, onde a população negra era marginalizada
em guetos e não tinha direitos democráticos básicos, como o voto.
Disponível em:
Toda essa influência se estendeu para além dos Estados Unidos, no mundo todo, e
inspirou movimentos similares em outras nações. Convido você a continuar nosso
percurso agora de olho em como o Movimento Negro se organizou no Brasil. Vamos
lá?
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Treze de Maio, fundado no Rio de Janeiro em 1888; A Pátria, em São Paulo, em 1889,
e O Exemplo, em Porto Alegre, em 1892. (GOMES, 2005) Ainda no início do século XX
houve a criação dos vários jornais da chamada ‘imprensa negra paulisa’, tais como O
Menelick, em 1915, A Liberdade, em 1919, O Getulino, em 1923, e O Clarim d’Alvorada,
em 1924, por exemplo. (PEREIRA, 2010, p. 112).
SAIBA MAIS
Em 16 de setembro de 1931, nascia em São Paulo uma das maiores
entidades negra do século XX: a Frente Negra Brasileira. Vinha na esteira
de diversas entidades que se formaram no início do século anterior. Sua
missão era a de integrar o povo afrodescendente à sociedade.
Autodenominada “órgão político e social da raça”, a Frente atingiu
dimensões inusitadas, chegando, inclusive, a tornar-se partido político.
Se pensarmos na situação social da época, em que o desemprego entre
os homens era alto (as mulheres negras eram o pilar das famílias, pois o
emprego de doméstica lhes dava algum salário), em que as condições
de educação eram precárias, a Frente realizou feitos espantosos.
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Após o Estado Novo, no final da década de 1940, outras organizações que integram o
Movimento Negro no Brasil se formaram. E na década de 1960, os movimentos
culturais nascidos nos Estados Unidos de Black Music e Black Power também
inspiraram as lutas que ocorriam aqui.
Fonte: Wikipédia.
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NA PRÁTICA
O Teatro Experimental do Negro (TEN) surgiu em 1944, no Rio de
Janeiro, como um projeto idealizado por Abdias Nascimento (1914-2011),
com a proposta de valorização social do negro e da cultura afro-
brasileira por meio da educação e arte, bem como com a ambição de
delinear um novo estilo dramatúrgico, com uma estética própria, não
uma mera recriação do que se produzia em outros países.
Por essa razão, o TEN foi pensado para ser um organismo teatral que
promovesse o protagonismo negro. Nas palavras do próprio Abdias do
Nascimento, desde que era ainda uma ideia em gestação, o TEN teria
como papel defender a “verdade cultural do Brasil”.
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NA PRÁTICA
No Brasil, o mito da democracia racial ganhou corpo nos anos 1930,
dentre outras coisas, pelas publicações do antropólogo e educador
Gilberto Freyre que, embora não tenha cunhado o termo em nenhum
de seus livros, foi o responsável por lançar as bases desse pensamento
de que o Brasil seria uma sociedade sem “linha de cor”, ou seja, sem
barreiras legais que impedissem a ascensão social de pessoas de cor a
cargos oficiais ou a posições de riqueza ou prestígio. Em suma, uma
sociedade em que todos tivessem oportunidades.
Na passagem para a década de 1980, a busca por unir jovens negros contra o
preconceito levou ao Movimento Negro Unificado. Nesse contexto de
redemocratização, a abertura foi maior para discussões e a realização de políticas
públicas destinadas aos negros. Mas foi nos anos 2000 que tivemos mudanças
efetivas na legislação buscando implantar políticas públicas que tornassem essas
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lutas ações afirmativas como, por exemplo, as cotas para dar acesso aos de negros
nas Universidades, bem como com a Lei 10.639/2003, que determinou o ensino de
História e cultura afro-brasileira como integrante dos conteúdos escolares.
Essas lutas ainda não cessaram. O racismo é cotidiano, como apontam os números
da violência no Brasil, onde a violência contra a mulher negra e jovens negros são
alarmantes. Esse preconceito se estende da cor a aspectos culturais como a
religiosidade.
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16/01/2023 15:09 Nossas Heranças Africanas
Nossas Heranças
Africanas
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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Que nós somos a confluência de diferentes matrizes étnicas é um fato e, entre elas,
as matrizes africanas que nos compõem são de extrema importância - não só no
colorido de nosso povo, mas em todos os elementos de nossa cultura e
entendimento de nós mesmos. Acontece que muitas vezes não nos damos conta
disso.
As Influências Africanas em
nossa Língua
O idioma que falamos é um instrumento não apenas de comunicação, mas ele é
fruto de construções socioculturais no meio em que ele se desenvolveu. Quando os
portugueses vieram para cá e iniciaram o processo colonizador a partir de 1500, eles
tentavam impor seu poder e modo de projetar o mundo por meio do idioma.
Contudo, esse idioma não ficaria ileso aos contatos entre os povos que aqui se
fizeram. Desse modo, um jeitinho particular de falar o português no Brasil se
desenvolveu e teve participação direta dos povos africanos, que fizeram parte de
nossa formação enquanto povo.
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16/01/2023 15:09 Nossas Heranças Africanas
SAIBA MAIS
No processo de colonização, a língua Tupinambá, por ser a mais falada
ao longo da costa atlântica, foi incorporada por grande parte dos
colonos e missionários, ensinada aos índios nas missões e reconhecida
como Língua Geral ou Nheengatu.
Até o século final XVIII, essa língua geral foi a forma mais praticada por aqui. Com o
decorrer de mudanças populacionais – a vinda cada vez maior de portugueses e
africanos para o Brasil – e administrativas, com decretos que impuseram o uso da
“língua do rei” como forma de se comunicar no Brasil, o português cada vez mais foi
sendo forçado à população. E
Nesse meio tempo, no decorrer da colonização, com a vinda de africanos para servir
de mão de obra escrava e seu trabalho se expandindo pelas diferentes regiões do
Brasil, uma modificação nos registros linguísticos da colônia portuguesa na América
eram alterados. Mas as línguas africanas Nagô, Quimbundo, Congoesa e Yorubá
foram as que mais contribuíram para a composição linguística de nosso país
(CARVALHO, 2008).
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Jesus ........................................................Zezús
José ..........................................................Zozé
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tá ...........................................= estar
ocê ........................................= você
cabá .....................................= acabar
Bastião ...............................= Sebastião. (MENDONÇA, 2012, p. 82).
general ...........................................generá
cafezal ............................................cafezá
mel .................................................mé
esquecer ........................................esquecê
Artur ..............................................Artú. (MENDONÇA, 2012, p. 82).
Ou, ainda, exemplos de redução, como os ditongos ei e ou, que por influência
africana, reduziram-se na língua popular do Brasil da seguinte forma:
ei ............... ê
cheiro ........ chêro
peixe ......... pêxe
beijo .......... bêjo. (MENDONÇA, 2012, p. 84).
Essas situações, segundo Mendonça (2012), são fruto das diferenças profundas entre
as línguas africanas e indoeuropeias. Os vestígios dessas situações acima descritas
são particularmente notados em nosso dialeto “caipira”.
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16/01/2023 15:09 Nossas Heranças Africanas
São alguns dos exemplos do modo como essas populações africanas que compõem
o Brasil ajudaram a influenciar também o nosso idioma e modo de falar. Expressões
que fazem parte do nosso cotidiano, mas que muitas vezes desconhecemos suas
raízes.
As Heranças Africanas em
nossos Hábitos Alimentares
O que nos alimentamos, faz parte da reunião de elementos sociais, econômicos e
culturais que nos rodeiam. Se esse hábito é primordial à nossa sobrevivência, a
escolha dos alimentos que consumiremos faz parte dos recursos de que dispomos e
dos hábitos que herdamos de nossos antepassados, e vem sendo alterados de
acordo com as relações estabelecidas por nós em nosso meio. No Brasil, isso não foi
diferente. Nossos hábitos alimentares são fruto das construções realizadas entre os
povos que construíram esse país.
Comer foi um ato construído pelo homem com base em suas necessidades físicas e
sensoriais, percebidas por meio do cheiro, saber, textura e cor dos alimentos. Aos
poucos, pressupostos econômicos, sociais e culturais, tais como as crenças religiosas,
foram determinando nossas escolhas alimentares. (CARDOSO et. al., 2007). O Brasil,
enquanto caldo de culturas devido à sua diversidade, não fugiu a esses elementos.
Aqui, alimentos nativos conhecidos dos indígenas foram acrescidos a outros trazidos
pelos portugueses e africanos em um momento quando as especiarias africanas e
orientais estavam sendo mais acessíveis ao Ocidente, por meio das Grandes
Navegações.
Nesse contexto, alimentos que faziam parte da base alimentar do indígena tais
como a mandioca e o milho foram acrescidos com outros, nativos da África ou
conhecidos pelos africanos, por meio de seus contatos comerciais com outros povos.
Esse processo foi facilitado porque muitas africanas que aqui eram escravizadas
foram utilizadas como cozinheiras nas casas grandes.
Aos poucos, essas mulheres foram incorporando à nossa comida produtos tais como
o azeite de dendê, cuja palmeira que produz seu fruto foi trazida para o Brasil já nas
primeiras décadas do século XVI. Outros alimentos que logo foram incorporados são:
o coco-da-bahia, o quiabo (ingrediente indispensável na culinária africana), a cebola,
o alho e a pimenta malagueta (CARDOSO, et. al., 2007). Assim, muitos pratos típicos
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16/01/2023 15:09 Nossas Heranças Africanas
africanos, no contato com produtos locais, foram sendo recriados, até mesmo
porque muitos desses africanos já conheciam alguns desses produtos americanos,
por conta da distribuição dos mesmos feita pelos portugueses entre sua colônia e
entrepostos comerciais em África e Ásia:
Uma influência africana importante foi o hábito de consumir leite, pois os africanos
trazidos para o Brasil já estavam acostumados à criação de gado caprino, bovino e
ovino. Além disso, as escravas africanas, além de cozinheiras dos seus senhores, em
grandes centros como Salvador e Rio de Janeiro, se tornaram quituteiras e vendiam
salgados e doces que até hoje fazem parte da culinária desses locais. Basta
pensarmos no acarajé, no abará, no vatapá e no caruru da Bahia.
A banana, uma das frutas mais consumidas no Brasil, foi introduzida no Brasil ainda
no século XVI e também é uma herança africana:
Além dela, frutas como a manga, a jaca, a cana e o coco vieram do continente
africano.
Além disso, o modo como o africano era tratado e, portanto, os alimentos que a ele
eram dispensados, fez com que ele recriasse alimentos, como o pirão escaldado, ou
massapé, feito de farinha de mandioca na água fervente, com pimenta. Esse prato,
muito comum no meio rural brasileiro, foi resultado da necessidade de fazer a pouca
comida render (RADAELLI e RECINE, s/d).
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16/01/2023 15:09 Nossas Heranças Africanas
NA PRÁTICA
O candomblé iorubá, ou jeje-nagô, como costuma ser designado,
congregou, desde o início, aspectos culturais originários de diferentes
cidades iorubanas, originando-se aqui diferentes ritos, ou nações de
candomblé, predominando em cada nação tradições das cidades ou
região que acabou lhe emprestando o nome: queto, ijexá, efã.
SAIBA MAIS
“Os totens também estão ligados à transformação de animais em
pessoas e vice-versa, representando um ancestral que possuía esse tipo
de habilidade”, explica Pedro Paulo Funari, arqueólogo e professor do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
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Fonte: Wikipédia.
Os negros africanos têm também uma forte presença em nossos contos populares,
mas normalmente isso não fica tão evidente, já que muitos desses contos
receberam também heranças indígenas, como o caso do curupira e da caipora e até
mesmo o saci pererê. Desde a África, as populações que para cá vieram tinham
muitos contos centrados nas figuras de animais como a tartaruga e o macaco. Aqui,
esses povos continuaram suas tradições totêmicas, influenciando ainda as
indumentárias em festejos, símbolos e amuletos protetores que se referem a
divindades animais. Exemplos nesse sentido são encontrados nos desfiles de escolas
de samba durante o Carnaval.
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16/01/2023 15:09 Nossas Heranças Africanas
Fonte: Wikipédia.
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16/01/2023 15:10 História da África e Historiografia Africana
História da África e
Historiografia Africana
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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Imaginário do Continente
Africano
Discursos sobre a África são tão antigos quanto a escrita. Escritores do Mediterrâneo
europeu fizeram relatos a respeito dela, concentrados na região mais próxima deles,
o norte. Nem sempre com esse nome, tal continente era referenciado baseado no
modo como estrangeiros o descreviam. Esse reconhecimento foi sendo realizado
com base na comparação entre o “eu” (europeu) e o “outro” (africano).
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Fonte: Wikipédia.
Obras como a de Ptolomeu contribuíram para propagar crenças sobre como e quem
eram os africanos ao longo da Idade Média, pois foram utilizadas por geógrafos e
teólogos europeus. A cristandade europeia foi criando, desse modo, um imaginário
em que a África estaria no pior lugar da Terra. Para tanto, a teoria camita acabou
servindo e aumentando preconceitos em relação às populações africanas de pele
negra.
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CONECTE-SE
A teoria camita afirma de forma categórica que o filho de Noé, Cam,
teria zombado do pai e, devido a esta postura, recaiu sobre ele e seus
herdeiros a praga da escravidão. Os herdeiros de Cam na Bíblia
habitariam a orla africana do mar vermelho. A teoria camita foi
agregada a cartografia de Cláudio Ptolomeu e a cosmologia cristã e, a
partir daí justificou o lugar social e territorial dos povos africanos.
Utilizava o termo árabe, Sudão, para se referenciar ao continente, que significa “terra
dos homens negros” (SILVA, 2010, p. 13). E embora os viajantes árabes fossem mais
bem informados nesse período do que os europeus, a respeito da África, suas
narrativas não deixaram de ser repletas de elementos que colaboraram para a
discriminação de sua população.
No século XIX, com o imperialismo, o foco europeu sobre o continente cresceu, pois
era preciso melhor conhecê-lo para assim explorá-lo. Nesse ínterim, ressurgem
estigmas sobre os africanos e a África, corroborados agora por argumentos
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Entre essas teorias encontramos o Darwinismo Social, que buscava aplicar a teoria
biológica da evolução das espécies de Darwin (Darwin) à sociedade. Seus teóricos
defendiam que na luta pela sobrevivência as nações e as “raças” mais fortes e
capazes sobreviveriam. A partir daí um Evolucionismo social fora defendido, onde as
sociedades humanas eram classificadas em três etapas evolutivas:
1ª) bárbara;
2ª) primitiva;
3ª) civilizada.
SAIBA MAIS
Darwinismo social é a teoria da evolução da sociedade. Recebe esse
nome uma vez que se baseia no Darwinismo, que é a teoria da evolução
desenvolvida por Charles Darwin (1808-1882), no século XIX.
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Os Percursos da Historiografia
Africana
No contexto dos séculos XVIII e XIX, em que o contato entre europeus e africanos se
intensificou por meio do imperialismo, abordagens feitas pelos exploradores
resgatavam esteriótipos da Antiguidade e Idade Média, associando-os a teorias
científicas como o Darwinismo Social, Determinismo Racial e Evolucionismo Social, é
que a História como uma ciência nasceu. Era uma história de Estados nacionais, no
caso europeu, protagonizada pelos “heróis da nação”. E para ser uma ciência, ela
deveria ser objetiva, sendo que para tanto apenas eram consideradas fontes
documentos escritos, que eram narrados pelos historiadores, entendendo-os
enquanto portadores de uma história oficial.
Em tais situações, o que tínhamos era uma história dos europeus no continente
africano e não uma História da África.
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Escolas historiográficas mais recentes, como a Escola dos Annales, traziam novos
objetos, novas fontes, novas perspectivas. E com um crescimento do interesse sobre
a história africana, foram abertos muitos centros de estudos em universidades
dentro da própria África. Nesses espaços, estudaram muitos pensadores que
fundaram alguns dos movimentos africanos de independência.
CONECTE-SE
[...] No século XX, uma das mais notáveis escolas históricas foi a
chamada Escola dos Annales, cuja atividade começou em 1929.
Este nome, “Escola dos Annales”, ficou conhecido porque tal grupo se
organizou em torno do periódico francês Annales d'histoire
économique et sociale (Anais de história econômica e social), quando
foram publicados seus principais trabalhos. Os dois principais nomes da
fundação desse periódico eram Lucien Febvre e Marc Bloch, e seus
principais objetivos consistiam no combate ao positivismo histórico e
no desenvolvimento de um tipo de História que levasse em
consideração o acréscimo de novas fontes à pesquisa histórica e
realizasse um novo tipo de abordagem.
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Até que com as mudanças de contexto descritas acima, que na segunda metade do
século XX, novas tendências de uma historiografia africana se desenvolveram.
Essa corrente defendia recuperar a História dos povos africanos e refletir sobre a
identidade do continente. Seus integrantes entendiam que era preciso identificar os
motores próprios de sua história e, em certos casos, inverter a posição de
subordinação até então preponderante, localizando na África a matriz civilizacional
de outros povos. Eles influenciaram estudos e também a articulação e o crescimento
dos movimentos negros nas Américas. O continente africano agora passava a ser
descrito enquanto:
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Sendo assim, a história africana parte de uma história feita de fora, por colonizadores
e exploradores de seu território e, desse modo, com um discurso de superioridade e
imposição, para uma historiografia que buscou romper com isso. A princípio, ela
acabou também gerando generalizações na busca por unir os diferentes povos
africanos em torno de uma busca pela libertação, inclusive política, de seus
opressores. Mas a partir dela, uma história da África escrita por africanos passou a
existir e, a partir de então, buscar de fato formas de análise do papel de africanos e
do seu continente na história da humanidade.
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16/01/2023 15:10 Os Povos Indígenas do Brasil
Os Povos Indígenas do
Brasil
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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Que o Brasil é um país miscigenado é fato, mas essa miscigenação nem sempre fora
exaltada. Os encontros de nossas matrizes formadoras, indígenas, portugueses e
negros, não foram pacíficos. Muito pelo contrário: trata-se de uma história de
práticas violentas e escravidão. Isso legou um preconceito que gerou
desconhecimento a respeito de nossas heranças indígenas e africanas.
Nesta fase de nosso percurso, convido você a debruçar sobre a história dessas
populações, ou melhor, a conhecer quem eram e quem são os grupos indígenas que
fazem parte da construção do Brasil. Apesar de ser um caminho que traçaremos
rapidamente, ele servirá como pontapé inicial para possamos buscar reconhecer
nossas heranças indígenas. Vamos lá?
Essa não é uma tarefa fácil, pois estamos acostumados a estudar os povos indígenas
do Brasil sob o prisma do escrito de viajantes e colonos, que apresentavam um viés
generalizante, além de uma visão vinda de fora, pois o seu contato esteve mais
restrito a povos do litoral do que a populações do interior. E como esses povos não
possuíam escrita, durante muito tempo sua história ficou negligenciada a essas
fontes secundárias (viajantes e cronistas europeus). Mas as pesquisas coletadas por
arqueólogos e antropólogos nos permitem hoje estudar e conhecer mais a respeito
dessas populações chamadas pré-cabralinas.
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Santa Elina (MT). Desse modo, temos novas teorias que ganharam força, defendendo
a presença de culturas anteriores a de Clóvis, terem atravessado o Estreito de Bering.
Elas foram fortalecidas com o achado de Luzia, o crânio de uma mulher encontrado
em Lagoa Santa (MG). Ela contém em seus traços características muito mais
aproximados aos de populações de origem africana e australianas que ao de
populações asiáticas, que teriam chegado à América do Sul muito antes da cultura
de Clóvis.
SAIBA MAIS
Entre os cientistas que mais colaboraram para o fortalecimento dessa
segunda teoria está o biólogo, antropólogo e arqueólogo brasileiro
Walter Neves, responsável por batizar Luzia, nome escolhido em
referência ao australopiteco etíope Lucy, fóssil de humanoide mais
antigo já encontrado no mundo. Segundo ele, Luzia e várias outras
descobertas, como novos fósseis, objetos e artes rupestres descobertos
no Brasil e no Chile, representam um duro golpe na teoria clovista.
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SAIBA MAIS
O que são sambaquis?
Fonte: Wikipédia.
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Fonte: Wikipédia.
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Fonte: Wikipédia.
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NA PRÁTICA
A origem do grupo Humaitá, também presente em Presidente Epitácio,
é incerta. Em sua tese de mestrado, Jean Cabrera pontua o
entendimento de que eles tenham mantido contato com povoações do
sul do Brasil e região fronteiriça, espalhando-se a partir dali e seguindo
ambientes florestais, na transição de um clima mais seco e frio para
outro quente e úmido. Suas ocupações predominantes são também a
céu aberto e em trechos mais altos, como topos de morros, e sempre
próximos a rios ou córregos. Neste aspecto, os Humaitás se diferenciam
um pouco dos Umbus (que preferiam áreas de campo), privilegiando
regiões de florestas. Isto não significa que não tenham coabitado os
mesmos ambientes, como prova o Sítio Arqueológico Lagoa São Paulo
2.
REFLITA
As evidências arqueológicas colocam a Tradição Itararé-Taquara como
portadora de uma das primeiras ocorrências de cerâmica no Brasil
meridional.
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Na região pantaneira, segundo Prous (2012), foi preciso uma adaptabilidade das
populações que para lá se direcionavam, para lidar com os períodos de alternação
entre enchentes e emersão dos campos:
Adaptações que ocorreram de modo gradual a partir de 4 mil anos atrás e deram
lugar a habitações mais constantes há cerca de 2 mil anos.
Foi a partir dessas relações que se organizaram os diferentes povos indígenas que,
com suas singularidades e/ou semelhanças compuseram e muitos ainda compõem
os territórios do nosso país. Convido você a adentrarmos o período da chegada dos
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portugueses aqui para verificarmos como estavam organizados esses povos e que
tipo de tiveram com o invasor externo.
Sendo que esses demais povos eram designados pelos tupis como "tapuias" (povos
de outras línguas).
Quanto à dispersão tupi, por boa parte do território brasileiro, várias hipóteses são
levantadas:
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Entre esses diversos povos, os tupis se destacaram por serem considerados bons
guerreiros, e assim conquistaram imensas áreas no litoral e na região de grandes
rios:
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16/01/2023 15:11 Questão Indígena no Brasil Colonial
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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Darcy Ribeiro (1995, p. 19) classificou a nossa formação como um “entrechoque” entre
o colonizador, os africanos trazidos para cá – à força, para servir de mão de obra
escrava –, e os povos indígenas que aqui viviam e eram numerosos e muitas vezes
rivais entre si. Para compreender, então, como resultou a formação histórico-cultural
do Brasil, é preciso voltar até suas raízes coloniais.
Fonte: Wikipédia.
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Desse primeiro encontro, ao que tudo indica ainda amistosos, temos o nascimento
dos primeiros “brasilíndios” dos quais Darcy Ribeiro (1995) nos fala em O povo
brasileiro. A carta de Caminha, que inaugura as impressões dos portugueses a
respeito dos indígenas, de acordo com Peixoto (2008), expressa a princípio uma
imagem de “pureza” dos indígenas, ao mesmo tempo em que denota esse
interesse, principalmente dos portugueses pelas índias, dos quais nasceriam os
primeiros descendentes dessa mistura.
SAIBA MAIS
A Carta de Pero Vaz de Caminha enviada ao rei D. Manuel sobre a
descoberta do Brasil, é o documento no qual Pero Vaz de Caminha
registrou as suas impressões sobre a terra que depois viria a ser
chamada de Brasil. Esta carta é o primeiro documento escrito da
história do Brasil.
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Fonte: Wikipédia.
Já para os indígenas, a chegada dos europeus foi vista com muito espanto, tanto
que na busca por entendê-la, recorreram inclusive às suas crenças:
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Mas aqueles seres “feios, fétidos e infectos” (RIBEIRO, 1995, p. 42) causavam também
a curiosidade sobre os seus adornos, algo que fora utilizado por parte deles no
escambo com os índios em troca do pau-brasil de suas terras.
Pouco mais tarde, essa visão idílica se dissipa. Nos anos seguintes, se
anula e reverte‐se no seu contrário: os índios começam a ver a
hecatombe que caíra sobre eles (RIBEIRO, 1995, p. 43).
Fonte: Wikipédia.
Trata-se dos primeiros conflitos, a princípio bióticos, cuja arma mortal que dizimou
muitos indígenas foram as doenças trazidas pelos portugueses das quais eles nunca
haviam tido contato e para as quais não possuíam defesas.
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16/01/2023 15:11 Questão Indígena no Brasil Colonial
A Colonização Sistematizada e a
Situação Indígena no Contexto
Colonial
Se a princípio os portugueses procuraram se aproximar dos índios por meio do
escambo, "trocando mercadorias e quinquilharias por uma madeira corante
valorizada na Europa, o pau-brasil”, a partir de 1530, chegariam os novos capitães
donatários e procurariam iniciar uma colonização mais efetiva do território
americano que estavam dispostos a conquistar e onde, aos poucos se procurou
utilizar o índio antes aliado, agora como mão de obra “nas construções dos prédios,
igrejas e vilas, assim como nos engenhos de açúcar” (FREIRE; OLIVEIRA; 2006, p. 38-
39). Os conflitos entre portugueses e indígenas então iriam aumentar e exigiriam
por parte dos invasores, um esforço contínuo de acordo com Ribeiro (1995) para
implementar os seus objetivos.
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Fonte: Wikipédia.
As rivalidades entre os povos nativos impedia uma aliança sólida contra os invasores.
Mas isso não significa que ela não existiu:
De acordo com Freire e Oliveira (2006), ela teve destaque em três momentos
importantes de nossa história colonial:
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O primeiro caso ocorreu quando da expansão da pecuária no século XVII pela região
do semiárido nordestino e, com ela, o acirramento dos conflitos entre os colonos e
índios que ali habitavam: Tarairiú, Janduí, Ariú, Icó, Payayá, Paiacu. Estes, tidos como
bárbaros, eram todos identificados de forma generalizante enquanto "Tapuios" e
habitavam a região que compreendia desde o centro-oeste da Bahia, até o Ceará.
Durante esse conflito, as resistências indígenas à colonização existiram e foram
complexas porque envolveram várias articulações entre diversas populações, além
de “reelaborações socioculturais”. Isso aconteceu por meio da articulação que
permitiu a associação de diversos povos contra os portugueses.
NA PRÁTICA
A palavra “tapuia” não designa uma etnia indígena, mas várias delas. Na
época da colonização do Brasil, os índios que não eram tupis foram
agrupados sob essa denominação. Assim, estão classificados como
tapuias os indígenas dos grupos linguísticos macro-jê, caribe e aruaque,
entre outros.
Contudo, em meio às trocas de índios cativos com a etnia Manao, um povo guerreiro
que dominava a região, os portugueses e seu líder tiveram um conflito e ele então
foi assassinado. A situação levou os Manao a buscar vingança, liderados por
Ajuricaba, o que resultou em uma guerra sangrenta que teve início no ano de 1723:
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Essa guerra significou a derrota dos Manao e o extermínio desse povo, mas não
deixou de ser um exemplo de forte resistência e impactos na colonização
portuguesa.
Contudo, a partir daí, muitos jesuítas partiram para a região interiorana do Rio
Grande do Sul, onde montaram as reduções dos Sete Povos das Missões. Mas nesse
ínterim, mais precisamente no ano de 1750, portugueses e espanhóis realizaram o
Tratado de Madrid, um acordo que buscava por fim às disputas entre esses países,
por territórios que dividiam suas áreas coloniais aqui na América do Sul. E de acordo
com esse tratado, a região dos Sete Povos das Missões – São Miguel, Santo Ângelo,
São Lourenço Mártir, São Nicolas, São João Batista, São Luiz Gonzaga e São Francisco
de Borja –, localizadas no Rio Grande do Sul, passava a ser pertencente ao território
português e alvo mais fácil dos bandeirantes.
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até que as forças guarani, chefiadas pelo capitão Sepé Tiaraju, índio
da redução de São Miguel, enfrentaram os exércitos castelhanos e
portugueses em fevereiro de 1756. Sepé Tiaraju foi morto alguns dias
antes da batalha no passo de Caiboaté, onde mais de 1.500 índios
missioneiros foram massacrados (HOLANDA, 1970). A resistência
indígena cessou poucos meses após essa batalha. (FREIRE; OLIVEIRA;
2006, p. 59-60).
Fonte: Wikipédia.
Esse e os outros conflitos demonstram a existência de forte resistência por parte dos
indígenas no território brasileiro. Aos portugueses não coube só controlar os
"subversivos" e reprimir os conflitos. Eles necessitavam do índio, pois a este já
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16/01/2023 15:11 Questão Indígena no Império e República
Questão Indígena no
Império e República
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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É sobre isso que iremos tratar a partir de agora. Por isso, convido você a olhar as
políticas que abordaram a questão indígena ao longo do período imperial e a seguir
republicano, para verificarmos como as populações indígenas foram e estão sendo
aqui tratadas e assim, compreendermos quais percursos a ela foram dados e
também traçados ao longo dessas fases de nossa história. Vamos lá?
Desde a segunda metade do século XVIII, havia sido promulgado o Diretório dos
Índios, no ano de 1757, pelo Marquês de Pombal. Esse documento colocava sob a
“tutela” do governo português as aldeias indígenas. Funcionava como uma lei que
decretava a partir de então que cada aldeia indígena deveria ser “administrada” por
um diretor. Por meio dele, a fiscalização da população deveria ser implantada, pois
tal decreto impunha desde a utilização da língua portuguesa, com a proibição do
uso da língua geral, até a construção de casas e organização das famílias, além da
adesão de nomes e sobrenomes de acordo com padrões e critérios portugueses.
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SAIBA MAIS
Publicado em 1758, o Diretório dos Índios foi uma lei caracterizada por
uma série de diretrizes a serem seguidas nas colônias portuguesas.
Propunha a normatização de diversas práticas coloniais, estabelecendo
critérios educacionais, administração da força de trabalho e relações
entre indígenas e colonos. Ao mesmo tempo em que regulava a
liberdade das populações indígenas institucionalizava seu trabalho
forçado. Sob sua vigência, até os anos 1798, várias unidades coloniais
foram criadas a partir das antigas aldeias missionárias. O objetivo era
levar as populações indígenas a realizar a transição para a vida civil,
produzindo gêneros voltados ao comércio. O Diretório aliava projetos
políticos, econômicos e sociais baseados no pensamento ilustrado, de
modo a renovar o processo de assimilação e integração das populações
indígenas à sociedade colonial.
Essa legislação esteve vigente até 1798, contudo, os efeitos de uma política de
assimilação para com os índios, do modo de vida brancos, ainda permaneceram
após sua extinção. Mas com sua revogação, abriram-se espaços para novas
discussões, porém permeadas por antigos dilemas:
Enquanto isso, na prática, a “violência foi uma marca das relações com as
populações indígenas: fosse pela expropriação de terras e trabalho (remunerado ou
escravo) ou pela perseguição propriamente dita” (DONERNELLES, 2017, p. 23).
Devemos observar que essa situação estava inserida em um momento de nossa
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Enquanto isso, na vida real, os povos indígenas nos sertões continuavam sua busca
por lutar contra as situações que lhes eram impostas e eram vistos como inimigos
da nação.
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Fonte: Wikipédia.
Por conta disso, o governo procurava por outro lado decidir quais medidas tomar
diante dessa resistência. Mas, de um modo geral, a política indigenista do império
ficou caracterizada:
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Desse modo, o Regulamento de 1845 decretava o usufruto dos índios da terra das
aldeias, mas não sua posse efetiva e, junto dele, o regulamento que vigorou a partir
de 1854, estabeleceu que esse usufruto fosse temporário, perdurando até atingirem
o estado de “civilizados”. Daí o interesse do Estado em saber da situação dessas
aldeias, para que pudesse dar fim a elas, passando os assuntos indígenas a ser parte
de um gabinete ministerial a partir do ano de 1861, que obedecia a essa tendência.
A Lei de Terras de 1850 dava direito à posse da terra somente para quem pudesse
pagar por ela. Desse modo, ela excluiu como pontuou Silva (2017), os pequenos
agricultores e as aldeias indígenas. Somando isso, ao fato de a política indigenista
ficar sob a alçada do Ministério da Agricultura, as consequências seria a extinção de
diversas aldeias e a dispersão da população indígena, enquanto os demais ficavam
em condições de posseiros de suas próprias terras. Essa conjuntura marcou o
período imperial enquanto um momento de “afirmação do poder dos grandes
senhores, do latifúndio, pela manutenção da servidão e da escravatura” (SILVA, 2017,
p. 188).
Esses foram aspectos que marcaram as políticas que se referiam aos indígenas ao
longo do período imperial. Elas estiveram em meio a tentativas de romper com o
passado colonial e a formação de uma unidade nacional, mas não deixaram de
enfrentar um embate com os povos que buscaram na luta por manter suas
identidades, assegurar os seus direitos. Essas situações não foram resolvidas e
seguiram posteriormente. Verificaremos agora o decorrer dessa história após a
proclamação da República.
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SAIBA MAIS
A “Marcha para o Oeste” foi um projeto desenvolvido por Getúlio Vargas
durante a ditadura do Estado Novo com o objetivo de promover o
desenvolvimento populacional e a integração econômica das regiões
Norte e Centro-Oeste do Brasil. O projeto promoveu a criação de
pequenos núcleos de colonização.
Fonte: Wikipédia.
A primeira Constituição brasileira que tocou na questão indígena foi a de 1934. Nesse
documento, a posse das terras indígenas era assegurada, mas permaneciam sob a
gestão do Estado. As Constituições seguintes, de 1937 e de 1946, não inovaram. Até
que em 1967 assegurou-se posse permanente da terra aos indígenas e o seu
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usufruto dos recursos naturais nelas existentes. Contudo, com o Regime Militar
instaurado desde 1964, o SPI foi reunido ao Conselho Nacional de Pesquisa Indígena
(CNPI) e o Parque Nacional do Xingu, dando origem a Fundação Nacional do Índio
(FUNAI) e outorgada a Constituição militar de 1969, as terras indígenas voltaram a ser
apenas de seu usufruto.
NA PRÁTICA
O Parque Indígena do Xingu engloba, em sua porção sul, a área cultural
conhecida como alto Xingu, formada pelos povos Aweti, Kalapalo,
Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Trumai,
Wauja e Yawalapiti. A despeito de sua variedade linguística, esses povos
caracterizam-se por uma grande similaridade no seu modo de vida e
visão de mundo. Estão ainda articulados em uma rede de trocas
especializadas, casamentos e rituais inter-aldeões. Entretanto, cada um
desses grupos faz questão de cultivar sua identidade étnica e, se o
intercâmbio cerimonial e econômico celebra a sociedade alto-xinguana,
promove também a celebração de suas diferenças.
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Fonte: Wikipédia.
Em 1973, foi instituído o Estatuto do Índio. Por um lado, essa lei representou um
avanço para a questão indígena por ser considerada a primeira legislação específica
a tratar esses povos. Mas por outro, ela mantinha as velhas tendências que, ao
buscar integrar o índio à nação, desconsiderava suas singularidades e diversidade
cultural. Além disso, o regime militar também foi cenário de:
Com a redemocratização, vozes antes pouco ouvidas passaram a ser elevar cada vez
mais, inclusive as que faziam parte do movimento indígena. Tais discussões deram
cabo a Constituição de 1988, considerada a “Constituição Cidadã”. Nela, pela primeira
vez muitas questões ligadas a saúde, educação e posse da terra dos povos indígenas
eram reunidas em uma legislação, que decretava em seu artigo 231 serem:
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Os percursos a partir de então, não são para além da letra da lei. Os povos indígenas
ainda enfrentam os séculos de segregação e discriminação ou negatividade em
relação as suas identidades culturais. Além disso, os interesses do agronegócio ainda
estão presentes em muitos ataques a terras indígenas e há desrespeito da própria
legislação vigente. São caminhos longos e noções que se perpetuaram em nosso
cotidiano e que custam a ser vencidas.
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16/01/2023 15:11 Nossas Heranças Indígenas
Nossas Heranças
Indígenas
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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16/01/2023 15:11 Nossas Heranças Indígenas
Vários povos indígenas foram e são nativos do território que hoje é o nosso país, o
Brasil. Esses povos, ao longo dos anos de formação do Brasil, nos deixaram mais que
os seus genes. Eles transmitiram vários aspectos de nossos costumes, crenças e
hábitos que estão tão naturalizados em nosso cotidiano e muitas vezes nem nos
damos conta de quando e como o adquirimos.
É sobre essas heranças indígenas em nossa cultura que falaremos a partir de agora.
Para tanto, vamos percorrer a formação do idioma que falamos, os alimentos que
compõem a nossa mesa e os vários costumes que compõem a nossa cultura
popular que foram herdados desses inúmeros povos indígenas que compuseram e
compõem o nosso país. Tenho certeza que este será um exercício empolgante e
bastante esclarecedor.
A Língua Geral
O idioma oficial do Brasil é o português, que foi trazido pelos colonizadores, mas
nem sempre foi assim. Quando portugueses desembarcaram por aqui, encontraram
inúmeros povos, mas devido à presença de troncos linguísticos em comum,
utilizaram da comunicação que esses povos mantinham entre si e iniciaram a sua
vida por aqui falando uma língua que permitia tal façanha. Essa língua e demais
idiomas indígenas legaram várias características ao português que foi sendo
imposto como língua oficial do Brasil e é sobre essas questões que discutiremos a
partir de agora.
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E, desse modo, acabaram ajudando a consolidar essa língua geral como o idioma
mais falado na colônia.
SAIBA MAIS
A língua geral, ao lado do português, foi a mais falada e escrita no Brasil
ao longo do século XVI, em especial por que eram os padres jesuítas
que controlavam o ensino no Brasil.
A língua geral permaneceu, portanto, até o século XVIII como a mais falada por aqui.
Essa situação só começou a ser modificada por meio da ação governamental da
Coroa portuguesa por meio de decretos e determinações para findar o uso da
mesma. Nesse espaço temporal há dois momentos de destaque na busca de
"aportuguesar" o Brasil: primeiras medidas foram realizadas através do intitulado
Diretório dos Índios editado em 1757; e segundo por meio de medidas tomadas com
a chegada da família real no Brasil em 1808, que mudou a sede do império
português para a colônia.
Quanto ao primeiro caso, o Diretório dos índios, promulgado pelo então ministro de
D. José, o Marquês de Pombal, proibiu o uso da língua geral na colônia. Com tal
medida, mais um aumento da população portuguesa no Brasil durante a época em
questão, os efeitos a longo prazo começaram a ser desenvolvidos levando a um
declínio do uso da língua geral por aqui. (GUIMARÃES, 2005).
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Contudo, essa transição da língua geral para o português não foi instantânea e sem
deixar vestígios.
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E assim foi sendo formado o dialeto caboclo, ou o linguajar caipira que tanto é
pronunciado em boa parte do interior do Brasil.
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Há também nomes que se referem a usos, costumes e danças, como por exemplo:
Outro aspecto de nossa herança com enormes aspectos herdados por populações
indígenas são os nossos hábitos alimentares, pois os portugueses quando chegaram
por aqui, para sobreviver, desde o início necessitaram aprender com os índios quais
alimentos a nossa terra poderia fornecer.
Gilberto Freyre (2003) explica que o índio foi o “guia” do português, sobretudo no
quesito alimentação. Os indígenas já mantinham há tempos uma relação com a
flora e fauna local. Alguns deles, como os tupis, mantinham algumas roças,
principalmente de mandioca, a base de sua alimentação:
Esse alimento era de grande valor, porque além de todos os produtos que dele
derivam, podia ser mantido estocado embaixo da terra por meses, sem que
estragasse.
Fonte: Wikipédia.
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Mas além da mandioca, os tupi também cultivavam alimentos que são nossos
velhos conhecidos, como:
Os indígenas não consumiam carne bovina, que até a chegada dos portugueses
lhes era desconhecida, por isso, muitas das carnes que hoje são iguarias
consideradas exóticas e ainda permanecem como prato consumido em algumas
regiões do país, também foram heranças gastronômicas que deles vieram. Entre
esses casos encontramos o consumo de macacos, antas, peixes, pacas, cotias,
gaviões, lagartos, porcos e até mesmo cobra cascavel (RADAELLI e RECINE, s/d).
Como podemos verificar, são as carnes de animais disponíveis em nossas florestas.
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Sendo que por meio de frutas como abacaxi, jabuticaba, caju, cajá, araçá, goiaba,
maracujá, mamão e laranja, além de bebidas, é de onde obtinham o sabor doce,
bem como do mel, já que desconheciam a cana de açúcar que veio com o
colonizador português (RADAELLI e RECINE, s/d).
Desse modo, são inúmeros os alimentos que consumimos e que foram introduzidos
pelos povos indígenas do Brasil. Esses alimentos serviram e servem de base em
nossa alimentação e foram essenciais até mesmo para que o colonizador
sobrevivesse por aqui.
As Influências Indígenas em
nossa Cultura Popular
Agora vamos discutir as influências que os indígenas deixaram em nossa cultura
popular. Essa cultura, muitas vezes denominada de folclore, não é uma parte inferior
de nossas tradições. Ao contrário: é ela que integra as crenças, as festas e os hábitos
de nosso povo. Portanto, falar a respeito de nossas heranças indígenas que a
integram é essencial enquanto um modo de reconhecermos o papel relevante
dessas populações em nossa formação como povo.
Freyre apontou a importância da mulher indígena para essa construção cultural. Isso
porque as índias, além de dar à luz os primeiros descendentes da união entre
portugueses e indígenas no Brasil, na criação deles imprimiram seus costumes, mas
também as condições impostas pela colonização. A partir de então, essas mulheres
foram as responsáveis por disseminar hábitos que vão do banho diário, a perfurmar-
se e pentear-se, até os contos e tradições com fundo religioso que se misturaram e
formaram a cultura brasileira.
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Nesse cenário, muitas crenças, fundadas nos medos dos perigos da floresta foram
gerados e deram origem a várias de nossas lendas e contos. Muitos baseados em
uma admiração pelos:
"o índio não faz distinção definida entre o homem e o animal. Acredita
que todos os animais possuam alma, em essência da mesma
qualidade que a do ser humano; que intelectual e moralmente seu
nível seja o mesmo que o do homem." (FREYRE, 1995, p. 167).
E ainda por um misto de medo, afinal, esses animais da floresta eram os “bichos”
que muitas vezes podiam causar ferimentos, até mesmo o seu fim.
Por isso, nas próprias brincadeiras da criança, por meio de jogos e brinquedos que
imitavam animais, verdadeiros ou imaginários, assim como histórias de contos de
bichos, como, por exemplo, o Caipora, a Iara e o Boi tatá foi formada uma espécie de
"memória social" que, segundo Freyre (1995), nos remete à floresta. Herdamos assim
uma proximidade dessa floresta, cheia de animais e monstros, que conhecemos
pelos seus nomes indígenas e por suas experiências e superstições.
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Fonte: Wikipédia.
São vários os casos na nossa cultura popular de exemplos de uma herança indígena
em nossa formação enquanto povo e que demonstram essa relação que não só os
indígenas mantinham ou ainda mantêm com a floresta, mas como aqueles outros
povos que nesse contexto foram sendo inseridos, acabaram por aderir e a
disseminar. São heranças nem sempre reconhecidas, mas muito importantes para
a nossa compreensão das raízes que formam o universo brasileiro. Por isso, esse
exercício de reflexão que fizemos aqui é muito importante e deve servir como
pontapé inicial para estudarmos mais a respeito.
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16/01/2023 15:11 Os Povos Indígenas no Brasil Contemporâneo
Os Povos Indígenas no
Brasil Contemporâneo
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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O Brasil era um país habitado por várias tribos indígenas e formado com a
contribuição desses povos. Mas como se encontram hoje as populações indígenas
em nossa sociedade? Sobre isso falaremos a partir de agora, como uma forma de
buscar compreender os espaços que são ocupados pelos povos indígenas no Brasil e
quais situações integram esses lugares.
CONECTE-SE
Segundo o instituto, há cerca de 900 mil índios no Brasil, que se
dividem entre 305 etnias e falam ao menos 274 línguas. Os dados fazem
do Brasil um dos países com maior diversidade sociocultural do planeta.
Em comparação, em todo o continente europeu, há cerca de 140
línguas autóctones, segundo um estudo publicado em 2011 pelo
Instituto de História Europeia.
Essas populações estão espalhadas por todas as regiões do Brasil, sendo que a
concentração maior está presente na região Norte, 342,8 mil, enquanto a região Sul
possui o menor número de indígenas, 78,8 mil. Mas quais as condições que cercam
essas pessoas e que papel lhes foram atribuídos em nossa sociedade
contemporânea? Esse questionamento é o que motivará nosso destino nesse
momento.
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Por meio dessas informações, o estudo realizado pelo IBGE a partir do Censo de
2010, em colaboração com a Funai, demonstrou que do total de indígenas no país,
502.783 vivem na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras. Contudo,
essa população só possui a posse de 12,5 % de terras em território nacional
demarcadas, sendo que entre a população indígena, os dados apontaram para o
aumento nos últimos anos, de um movimento de pessoas se dirigindo das cidades
para os campos, retomando suas regiões de origem e nesse processo, reivindicando
a demarcação de suas terras. Mas apenas 57,7% dessas pessoas vivem em terras
indígenas. As demais ainda procuram o reconhecimento de seus territórios e
enfrentam conflitos jurídicos e bélicos por conta disso.
Para complicar ainda mais a situação dessas populações, conforme pontuou a Funai,
8% das 426 terras indígenas tradicionalmente ocupadas e já regularizadas não estão
na posse plena das comunidades indígenas. Tudo isso impõe aos órgãos públicos a
iminência de regulamentação dos direitos territoriais indígenas e a devida proteção
dos mesmos.
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NA PRÁTICA
É justamente nessas regiões que se verifica atualmente a maior
ocorrência de conflitos fundiários e disputas pela terra, impondo ao
Estado brasileiro o desafio de promover as demarcações das terras
indígenas sem desconsiderar as especificidades do processo de
colonização, ocupação e titulação nessas regiões, contribuindo com
ordenamento territorial e para a redução de conflitos.
A Constituição vigente no Brasil desde 1988 garante ao índio por meio do seu artigo
231 “os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”
independentemente “da existência ou não da demarcação ou qualquer
reconhecimento formal das suas terras por parte do Estado” (BAINES, 2001, p. 2). E
apesar de entre 1988 e os anos 2000, ter ocorrido o maior número de demarcações
de terras indígenas de forma efetiva, cerca de 70% das terras demarcadas até hoje,
isso não foi suficiente para conter a presença de não indígenas em seus territórios.
Isso porque, segundo Baines (2001), a Funai não possui recursos suficientes para
garantir o controle e a preservação das terras indígenas.
Esses territórios, junto aos que ainda não foram demarcados e que ficam ainda mais
suscetíveis a invasores, são alvo do interesse agroexportador, de mineradoras e
outras empresas de grande porte, e com isso graves conflitos são travados:
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Embora tenhamos tido avanços que vão da demarcação de terras aos dados sobre
essas populações, o caminho ainda é longo e difícil para que se respeite e aceite a
diversidade indígena como integrante de nossa sociedade. Mas os avanços
existentes são fruto de ações de movimentos motivados a defender e manter os
direitos indígenas.
Movimento Indígena na
Atualidade
Embora os povos indígenas tenham sido erroneamente tratados ao longo de nossa
história de forma homogênea e generalizante, como se o termo “índio” pudesse
classificar todos eles em um mesmo grupo, há algo que esses povos possuem em
comum, sua ligação com a terra: a sua “condição originária, este vínculo coletivo
direto entre povos indígenas e a terra” bem como o “acesso e usufruto direto da terra
e de todos os recursos naturais” que permitem “sua reprodução social” (SILVA, 2017,
p. 184) e, portanto, os mantêm enquanto indígenas. Por isso, falar dos movimentos
indígenas é falar da luta pela demarcação de suas terras.
Essa luta existiu desde os tempos coloniais. Basta lembrarmos que o projeto das
Capitanias Hereditárias foi um fracasso, pois somente duas das 15 instituídas
vingaram. Vários levantes indígenas contra sua escravização ocorreram ao longo do
processo colonial e mesmo com o advento do Império e da República, com novas
legislações que tinham como objetivo submeter o índio aos moldes de uma unidade
nacional que não permitia manter suas culturas de origem, muitas populações
indígenas sobreviveram e lutaram para manter sua posse de territórios pelo interior
do Brasil.
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CONECTE-SE
As guerras indígenas foram o golpe de misericórdia ao sistema de
capitanias hereditárias, que se tornou inviável 15 anos depois de
implementado. Nas capitanias da Paraíba, Bahia e Espírito Santo, os
povoados foram massacrados cinco ou seis anos depois de
estabelecidos. As únicas capitanias que efetivamente prosperaram
foram as de São Vicente e Pernambuco. Nesta, Duarte Coelho obteve
sucesso devido ao solo e ao clima adequados para o plantio da cana de
açúcar, bem como por dispor de dinheiro e soldados para proteger-se
dos ataques de índios.
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SAIBA MAIS
O Concílio Ecumênico Vaticano II é considerado um dos maiores
acontecimentos da Igreja no Século XX. Constitui também um dos
maiores feitos do pontificado de Angelo Giuseppe Roncalli, o Papa João
XXIII, e trouxe grandes renovações para a Igreja Católica.
Fonte: Wikipédia.
Diante dessa situação, muitos grupos indígenas, por meio de suas lideranças,
participaram de encontros e discussões que colocavam a sua causa comum – a luta
pelo direito as suas terras – em um ponto de consenso que os une em prol de sua
luta a partir. Nesse contexto, de acordo com Borges (2005), foi criada em 1980 a
União das Nações Indígenas, reunindo antropólogos e indigenistas no 1º Seminário
de Estudos Indigenistas do Mato Grosso do Sul. Embora não tenha conseguido
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Em 1992 foi criada outra organização para reunião da causa indígena, o CAPOIB
(Conselho de Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), com sede em Brasília. A
partir de então, as organizações indígenas começam a trabalhar de acordo com seus
interesses particulares e comuns:
Desse modo, os índios conseguem se unir e ganhar mais força diante das ações
governamentais.
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16/01/2023 15:11 Os Povos Indígenas no Brasil Contemporâneo
CONECTE-SE
Um evento no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, marcou os 30
anos do reconhecimento dos direitos indígenas na Constituição e
debateu cenário de ameaças.
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16/01/2023 15:12 O Brasil e o Mito da Democracia Racial
O Brasil e o Mito da
Democracia Racial
AUTORIA
Karla Katherine de Souza Seule
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16/01/2023 15:12 O Brasil e o Mito da Democracia Racial
O povo brasileiro é fruto de uma mistura étnica de vários povos, a começar por povos
indígenas, pelo colonizador português e pelos povos africanos que para cá foram
trazidos. Contudo, essa miscigenação nem sempre foi exaltada. Em muitos
momentos, ela foi vista como o motivo de um atraso de nosso país - mas em outros
ela foi utilizada para gerar ideais de união que na prática não existiam, como um
modo de forjar uma identidade nacional. Essas questões serão o alvo de nossas
discussões nesta parte de nosso trajeto. Afinal, elas são importantes para
conhecermos a composição cultural e também reconhecermos alguns dos
problemas históricos que fazem parte de nossa formação.
Os Encontros e Desencontros em
nossa Formação Cultural
Darcy Ribeiro pontuou que nós "surgimos da confluência, do entrechoque e do
caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com
negros africanos, uns e outros aliciados como escravos" (1995, p. 19). Em meio a essas
disparidades, fomos formados e constituímos uma unidade nacional. Contudo, esse
mesmo autor pontuou que essa unidade não apaga as nossas disparidades e
contradições sociais.
Elas são fruto de nossa história, dos encontros e desencontros de nossas matrizes
étnicas formadoras. Esses encontros se iniciaram com o choque dos vários povos
nativos que aqui já viviam perante a chegada dos portugueses. Esses povos que já
viviam aqui há mais de 12 mil anos e desde então, tinham suas próprias disputas e
acordos em meio aos territórios que eram melhores para seu estabelecimento,
foram surpreendidos pela chegada de invasores europeus, sobretudo, portugueses,
que passaram a interferir nessa dinâmica de várias formas.
Nesse cenário de disputas, africanos foram trazidos para servir como mão de obra
aos colonizadores. Nesse ínterim, foram tratados de formas brutais, do trajeto, ao
serem amontoados em navios negreiros – os “tumbeiros” – onde muitos morriam,
até a chegada e uma vida de escravidão com trabalhos forçados, desgastantes e
castigos. Mas não foi sem resistência que eles mantiveram suas práticas religiosas
seja em segredo, seja de forma sincrética, mesclada a elementos da religiosidade
católica imposta pelo colonizador, a uma resistência direta por meio de motins e
fugas e a formação de quilombos.
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16/01/2023 15:12 O Brasil e o Mito da Democracia Racial
Vale notar que essa prole também foi gerada em meio e por meio de casos de
violência sexual contra a mulher.
Essa massa de miscigenados passou a ser vista com desconfiança no século XIX. Em
um contexto de emancipação política do Brasil, políticas de “branqueamento” foram
defendidas como um mecanismo de acabar com o que seus criadores e/ou
defensores entendiam enquanto o “problema” que impedia um desenvolvimento
do Brasil. Para tanto, o próprio governo brasileiro incentivou a vinda de imigrantes
europeus para cá, em busca de criar uma nova vida.
Analisar o "cruzamento de raças" que aqui coexistiam era entendido como algo
importante no sentido de se entender os destinos da nação. Estudiosos nas
academias voltaram a atenção para essas questões, e o termo “raça” foi alcançando
generalidade. Embora hoje seja preferível não usá-lo, foi nesse contexto que o termo
ganhou força e passou a ter amplo espaço nas discussões acadêmicas.
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NA PRÁTICA
As ideias defendidas pela política de branqueamento ficam claras na
obra Redenção de Cam, do artista Modesto Brocos, datada do ano de
1895:
Fonte: Wikipédia.
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NA PRÁTICA
O livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, fez um grande
sucesso no Brasil e no exterior quando foi lançado, em 1933. Mas a obra,
que completou 80 anos em 2013, também gerou muita polêmica.
Alguns críticos acusavam Freyre de não ter retratado com fidelidade a
relação entre negros e brancos, entre dominadores e dominados. Por
causa disso, o escritor não teria registrado de forma fiel a escravidão que
existiu durante o Brasil Colônia. [...]
Mas foi no Estado Novo que, de acordo com Schwarcz (1993), o governo passou a ter
uma postura que, por meio de nossa miscigenação, buscava dar ao brasileiro uma
identidade e reforçar os ideais nacionais. Foi então que a capoeira se tornou um
esporte nacional, enquanto a feijoada passou a ser considerada o nosso prato típico,
assim como o samba ganhou a categoria de música brasileira. Contudo, a relutância
em reconhecer os papéis de indígenas e africanos na construção do Brasil não
deixou de existir.
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16/01/2023 15:12 O Brasil e o Mito da Democracia Racial
Figura 1 - Capoeira
Fonte: Wikipédia.
Com o fim da Era Vargas, entre os anos de 1940 e 1960 do século XX, o Brasil teve sua
figura de símbolo de uma democracia nacional desenhada. A Segunda Guerra
Mundial, que foi uma guerra de fundamentalismos e ataques a diversidades étnicas,
havia acabado. Com o seu fim, o combate a esse tipo de política usou a noção de
que, nos governos que se sucediam de Vargas no Brasil, os diferentes povos viviam e
conviviam de forma harmônica, constituindo nossa nação como um símbolo de que
era possível existirem no mundo democracias nacionais.
Mas essas noções faziam muito mais parte de uma teoria de que de situações
práticas. Figuras importantes como o sociólogo Florestan Fernandes combateram
esse conceito de democracia nacional, demonstrando que não passava de um mito.
Fernandes fez uso de dados coletados em vários estados de norte a sul do país, para
demonstrar que eram insuficientes os argumentos que sustentavam a ideia de que
no Brasil existiria uma democracia racial, bem como de que era inexistente no país o
preconceito racial. Seus estudos se concentraram em analisar as condições da
população negra no Brasil e as dificuldades em alcançar o status de cidadão em sua
totalidade, o que refutava a crença de uma democracia racial no Brasil, onde todos
os brasileiros, independentemente da origem ou cor, alcançassem as mesmas
condições de vida em nossa sociedade (KERN, 2014).
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começar, não tinham direito ao voto, pois se tratava de uma população analfabeta, e
assim não puderam ter participação política na legislação. Também foram preteridos
no ambiente formal do mercado de trabalho, em que os imigrantes europeus eram
mais facilmente empregados:
Esse mito de que aqui existiria uma democracia racial acabou ajudando a manter
uma estrutura desigual baseada em convenções sociais, pois corrobora ao mascarar
as raízes de nossas diferenças sociais para que elas não sejam questionadas e
modificadas. Portanto, é importante que compreender essas situações para poder
combatê-las. Só assim, as nossas raízes afro-indígenas serão devidamente
reconhecidas, e as situações de discriminação poderão ser combatidas e - quem
sabe um dia! - eliminadas de nossa sociedade.
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16/01/2023 15:12 Material Complementar e Referências
Conclusão
Chegamos ao fim do nosso trajeto, e espero que o nosso percurso tenha não apenas
trazido mais clareza sobre as temáticas aqui discutidas, mas que principalmente
estejamos mais instigados a conhecer mais a respeito delas. Ao longo do nosso
caminho, foi possível verificar o quanto o continente africano é, desde sempre, rico em
vida e um espaço onde as relações humanas foram ao longo da história além de
enriquecedoras, dinâmicas.
Em meio a essas situações, foi possível analisar o quanto o tráfico negreiro gerou
mazelas no continente africano e legou estigmas raciais àqueles que foram
escravizados. Mas a resistência a tais situações foram inúmeras e, ao longo de toda a
nossa história, deu corpo a movimentos sociais seja aqui, na África ou em outras
partes para onde africanos foram levados durante essa diáspora forçada que foi o
tráfico Atlântico de escravos.
Além disso, por aqui inúmeros povos que já habitavam os nossos territórios há
milhares de anos, ao ter de lidar com invasores europeus, sobretudo portugueses a
partir do século XVI, estiveram na esteira da resistência e da existência dos invasores
em questão. Afinal de contas, como pudemos ver, se não fossem os conhecimentos
indígenas sobre alimentos, remédios e territórios, o próprio colonizador não
conseguiria sobreviver facilmente por aqui. As dinâmicas desses povos foram
responsáveis por sua sobrevivência e impuseram entraves ao colonizador.. E mais
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Bom estudo!
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