Ética é assunto para todas as idades, é uma gradual evolução sem
previsão de termo final, assimilar conceitos éticos e emprenhar-se em vivenciá- los. Não é fácil treinar para a verdade, para a lealdade, para o companheirismo e a solidariedade quem nasce numa era competitiva. Não se deve abandonar o projeto de torná-las mais sensíveis e solidárias. Estamos nos acostumando a uma sociedade egoísta, hedonista, imediatista e consumista. A juventude é passageira e, além de prolongá-la mediante utilização de todos os recursos, reclama-se ao jovem vença um campeonato de resistência para participar de todos os certames: sexuais, esportivos, sociais e lúdicos.
O universitário brasileiro precisaria ser dotado de uma ética especial.
São poucos os privilegiados que chegam aos bancos da universidade. Cada vaga numa universidade representa investimento que se deixou de fazer em outras áreas. Todavia, o exemplo ético mais intenso deveria provir de quem escolheu o direito como curso universitário e como forma de subsistência. Ele tem responsabilidade mais intensificada, diante dos estudantes destinados a outras carreiras, de conhecer o que é moralmente certo e o que vem a ser eticamente reprovável.
Não é fácil precisar o conceito de dignidade da pessoa humana.
Propõe uma integração pragmática denominada teoria dos cinco componentes. 1. Afirmação da integridade física e espiritual do homem como dimensão irrenunciável da sua individualidade autonomamente responsável. 2. Garantia da identidade e integridade da pessoa através do livre desenvolvimento da personalidade. 3. Libertação da angústia da existência da pessoa mediante mecanismos de socialidade. 4 Garantia e defesa da autonomia individual. 5. Igualdade dos cidadãos.
Na faculdade de direito o estudante precisa ser estimulado a
desenvolver sua formação ética inicial. Os advogados tem Código de ética positivado e cada vez mais invocado; juízes e promotores também dispões de normas. Os Tribunais de Ética da OAB enfrentam inúmeras denúncias de pessoas prejudicadas por advogados. O excesso de profissionais faz com que as faltas éticas também se multipliquem. O ensino da ética não deveria se resumir a uma disciplina. Escolas há em que a ética se resume a um semestre do curso. Ética deveria ser temática transversal e impregnar toda a formação jurídica. Toda a graduação e a pós-graduação, onde há também deslizes éticos.
Numa era de moral em frangalhos, direito é uma estratégia de
remover problemas, seja quais forem as técnicas utilizadas. Poucas as vocações alertadas do que significa estudar Direito e qual o compromisso assumido por quem ingressa na faculdade de ciências jurídicas. Ainda é tempo, embora se faça a cada dias mais urgente, de propiciar uma reflexão crítica sobre a ética e de envolver a juventude nesse projeto digno de reconstrução da credibilidade no direito e na justiça. A inclusão da disciplina Ética Geral e Profissional no currículo das faculdades de direito surgiu do reconhecimento de que os patamares de legitimidade das carreiras jurídicas, em virtude das denúncias disseminadas e ampliadas pela mídia chegaram a níveis intoleráveis.
O momento é o da reversão. Para isso, a juventude também há de
ser conclamada e as lideranças acadêmicas precisam se conscientizar de que, mais importante do que promover as tradicionais e pouco criativas Semanas Jurídicas, delas se reclama um investimento na formação de um profissional ético, em quem se possa realmente confiar. Os princípios que regem a conduta humana devem contemplar, em primeiro lugar, os deveres postos em relação a própria pessoa. Por mais que os costumes se alterem, o universo jurídico é daqueles em que a forma resiste à voragem do tempo. As faculdades de direito de antigamente eram reflexos da solenidade que imperava na atuação judicial. Um pouco mais de adequação no trajar e nos modos se apresentam os alunos não causaria malefício à educação jurídica. Ao se propor a estudar direito, o estudante assume um compromisso: o de realmente estudar. Quem conhece o aluno do bacharelado jurídico sabe que as obviedades precisam ser enfrentadas. Só que muitos alunos, em lugar de ser valerem dessa excelente fonte e oportunidade e a aperfeiçoarem com a sua análise pessoal se limitam a inserir nas monografias. O resultado do baixo aproveitamento do Ensino jurídico é o adensamento da legião dos bacharéis desiludidos. Cursar direito é tranqüilo e não requer esforço algum. Aqueles que não assumiram o compromisso de extrair do curso jurídico todas as suas potencialidades encontrarão todas as portas cerradas. A educação não é responsabilidade exclusiva do Estado. Os professores de direito, ao menos como regra, nunca se dedicam exclusivamente ao ensino. Limitam-se em grande maioria, a ministrar aulas prelecionais, quase sempre resumidas ao exame seqüencial de codificação, examinada pela doutrina, com reflexo na jurisprudência. Outra parcela de responsabilidade pelas carências da formação jurídica, não se negue, decorre dos próprios estudantes. O desempenho dos alunos tende a ser considerado pelas futuras empregadoras e pelas instituições ás quais eles recorrerão quando disputarem as reduzidas vagas nas carreiras jurídicas mais prestigiadas.
O aluno precisa ser conscientizado de que a maior parte das escolas
só lhe dará um diploma. A advocacia torna-se aos poucos um território inexpugnável. Outra figura que desaparece aos poucos é p advogado profissional liberal clássico. Somente um seleto grupo de profissionais que atendem aos casos emblemáticos, os advogados “midiáticos”, sobrevivem desse exercício artesanal. O concurso público ainda constitui via atraente para ingresso a carreiras não de todo desprovidas de certa aura de respeitabilidade.
O defeito maior do concurso é o seu atrelamento a uma forma
arcaica de seleção. Os concursos não despertam para a urgência de se enfatizar primeiro os aspectos morais, vocacionais e de potencial de trabalho do novo operador jurídico. Não há mal em se procurar emprego. Todavia , o povo que paga pelos exercentes de função pública merece o melhor candidato que a universidade pode oferecer. O estudante de direito precisa se conscientizar de tudo isso, enquanto ainda nos bancos da faculdade. Esta não é uma visão pessimista, é realista. A realidade melancólica poderia vir a ser atenuada se o estudante de direito soubesse exatamente o que pretende. A juventude é naturalmente inquieta e revoltada contra a injustiça. Fora despertada a descobrir a potencialidade do direito para a solução de todas as grandes indagações do frustrante inicio do milênio e mergulharia num projeto de transformação do mundo a partir da sua conversão pessoal.
O primeiro dever do estudante de direito é se manter lúcido e
consciente. O direito ainda é necessário para conciliar, para harmonizar, para pacificar. O acadêmico brasileiro deve ter sempre na consciência o fato de ser um privilegiado por haver conseguido chegar à universidade. Há muito a ser feito pelo universitário de direito para melhorar a situação dos seus semelhantes.
A falência do Estado como instituição onipotente e pronta a atender
a todos os reclamos deve incentivar a participação do alunado de direito na resolução dos problemas locais. A participação do aluno na vida concreta do direito é essencial. A escola não pode ser transmissora inerte da verdade codificada e de alguma orientação jurisprudencial.
Em lugar de apenas discutir a lei promulgada, por que as faculdades
não fazem o aluno acompanhar o processo legislativo e dele participar? Por que não se oferece à câmara Municipal da localidade em que a faculdade está sediada, projetos de lei para serem apreciados, com o intuito de aperfeiçoar o ordenamento local? O mesmo se diga em relação às Assembléias Legislativas, Câmara Federal e Senado da República.
Um Estado de Direito de índole democrática exige democracia. Tudo
isso tem pertinência com a ética. Um estudante desprovido de ética não será um bom profissional. Todo o sistema ético está centrado na sabedoria prática. A ética deve servir para transformar concretamente a vida. Ética não é grife, não é um bottom que serve para identificar o filiado a alguma agremiação. Ética é compromisso de vida.