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21012029, 19:51 Zhdanov: 0 Marxismo & a Revolugdo na Filosofia MIA > Biblioteca > Arquivos Tematicos > Imprensa Proletéria > Revista Proble! Novidades O Marxismo é a Revolucao na Filosofia A. Zhdanov 1947 Primeira Edi¢So: Intervengao no debate, realizado em Moscou, em torno do livro de Alexandrov, “Historia da Filosofia" Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Politica n® 7 - Fevereiro de 1948 Transcrigéo e HTML: Fernando A. S, Araujo, Direitos de Reprodugao: A cépia ou distribuicdo deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License. Camaradas A discusséo sobre o livro do camarada Alexandrov néo se limita ao quadro dos temas em discussdo. Ele se desenvolve em todas as diregées, levantando também as questdes mais gerais sobre a situagdo da frente filoséfica, A discusséo se transforma, deste modo, numa espécie de confer€ncia de toda a Unido sobre a questdo das condigées dos trabalhos cientificos filoséficos, Isto, sem duvida, é perfeitamente natural e de acordo com as leis do desenvolvimento do pensamento. A elaboracéo do livro de histéria da filosofia, o primeiro livro marxista dessa ordem, representa tarefa de imensa significago cientifica e politica. Nao é casual, pois a atencéo dada a essa questéo pelo Comité Central, organizando a presente discussao. Elaborar um bom livro de histéria da filosofia significa fornecer & nossa intelectualidade, aos nossos quadros, & nossa mocidade, novas e poderosas armas ideolégicas e ao mesmo tempo dar grande passo para a frente na estrada do desenvolvimento da filosofia marxista-leninista. E compreensivel, assim; 0 elevado teor que se exige para o livro, tal como foi aqui reclamado. O alargamento do quadro da discussdo tornou-se, por isso mesmo, Util. Seus resultados serdo, sem duvida, muito grandes, tanto mais que aqui foram tratadas no somente as questées ligadas com a apreciac&o sobre o livro, mas também os mais vastos problemas dos trabalhos filos6ficos. Eu me permito tratar dos dois temas. Estou longe de pensar em resumir as calorosas discussées; isto é tarefa que cabe ao autor do livro, de modo que inicio a discussdo pela ordem. ntps:aew.mansists.orgiportuquesizhdanov!1947/mesimarxismo.him 4125 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia Antes de mais nada, peo desculpas pelo fato de recorrer ao emprego de citagdes, embora o camarada Baskin, de todas as maneiras possiveis, advertisse a todos nés de que deverlamos evitd-las. Certamente, a ele, velho lobo do mar da filosofia, é facil sulcar os marés e oceanos da filosofia sem os instrumentos de navegac&o, navegando "as cegas", como dizem os marinheiros. Que me seja concedido, porém, como grumete filoséfico, que pela primeira vez ensaia passos no vacilante convés do navio filosdfico, durante violenta tempestade, empregar as citagdes, 4 guisa de bussola, a fim de me permitir ndo perder a rota certa Passemos ao exame do livro: Falhas do Livro do Camarada Alexandrov Penso que temos o direito de exigir de um livro de histéria da filosofia a observancia as se guines condigdes, que no meu modo de ver, so elementares. Primeiro — E preciso que no livro esteja exatamente definido 0 objetivo da histéria da filosofia como ciéncia. Segundo. — Que o livro seja cientifico, isto é, baseado nos fundamentos das conquistas contemporaneas do materialismo dialético e histérico Terceiro — & indispensdvel para que a exposic&o da histéria da filosofia néo seja escolastica, mas atuante e ao mesmo tempo criadora, que esteja ligada diretamente com os problemas contemporaneos e que seja conduzida de modo a projetar as perspectivas do futuro desenvolvimento da filosofia. Quarto — Que o material citado, baseado sobre fatos, seja completamente controlado e de boa qualidade. Quinto — Que 0 estilo da exposic&o seja claro, exato e convincente. Suponho que essas exigéncias acima apresentadas para o livro, nado foram satisfeitas. Antes de tudo, sobre o objetivo da ciéncia. O camarada Kivienko salientou que o livro do camarada Alexandrov nado da uma idéia clara sobre o objetivo da ciéncia e que, embora no livro se encontre grande quantidade de definicbes, tem particular significacéio 0 fato de nele nao existir_ uma definigio completa, generalizadora, porquanto cada definicéo particular esclarece somente aspectos parciais da questao. Esta observacao & completamente correta. O objetivo da histéria da filosofia como ciéncia nao é definido como tal. A definicéo dada & pag. 14 é incompleta. A definicéo da pag. 22 sublinhada em itdlico, como definigéo basica, é visivel e essencialmente incorreta, pois se estivéssemos de acordo com o autor, de que a "histdria da filosofia é a histéria do desenvolvimento progressivo e ascendente do conhecimento do homem sobre 0 mundo que o cerca", ent&o isto significaria que hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 2125 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia © objetivo da histéria da filosofia coincide com o objetivo da histéria da ciéncia em geral, e a filosofia, mesmo neste caso; pareceria ser a ciéncia das ciéncias, 0 que ja ha muito foi rejeitado pelo marxismo. Materialismo e Idealismo Incorreta e inexata é também a afirmacao do autor de que a histdria da filosofia 6 também a histéria do nascimento e desenvolvimento de muitas idéias contemporaneas, pois a noc&o de "contemporaneo" se identifica neste caso com a nog&o “cientifica" 0 que, evidentemente, é errado. E indispensavel extrair a definicdo do objetivo da histéria da filosofia da definic¢&o da ciéncia filoséfica dada por Marx, Engels, Lénine Stdlin. "Este o lado revolucionario da filosofia de Hegel que Marx tomou e desenvolveu. 0 materialismo dialético "ndo precisa de qualquer filosofia que fique acima de outras ciéncias". Das antigas filosofias persiste "a doutrina sobre o pensamento e suas leis, isto é, a logica formal e a dialética". E a dialética, na concepgao de Marx, de acorde também com a de Hegel, inclui em si a atual chamada teoria do conhecimento, gnosiologia, a qual deve estudar o teu objetivo, de igual maneira historicamente, estudando e generalizando a origem e desenvolvimento do conhecimento, sua transigéo de nao conhecimento para o de conhecimento” (V. 1. Lénin— Obr. Comp. T. XVIII, pag. 11 — em russo) A histéria cientifica da filosofia, consequentemente, é a histéria da germinagao, nascimento e desenvolvimento da concepgao materialista cientifica e suas leis. A medida que cresce o materialismo e este se desenvolve na luta contra as correntes do idealismo, a histéria da filosofia é também a histéria das lutas do materialismo contra o idealismo. No que se refere ao cardter cientifico do livro, do ponto de vista da utilizagdo das conquistas contemporaneas do materialismo dialético e histérico, também sob esse aspecto 0 livro tem muitissimas e sérias falhas. Uma Revolucao na Filosofia © autor descreve a histéria da filosofia e a marcha do desenvolvimento das idéias e sistemas filosdficos como evolugéo normal através de acréscimos e mudangas quantitativas sucessivas. Cria-se, assim, a impresséo de que o marxismo surgiu como simples sucessor no desenvolvimento das doutrinas progressistas anteriores, principalmente da doutrina dos materialistas franceses, da economia politica inglesa e das escolas idealistas de Hegel. 0 autor, na pag. 475, diz que as teorias filoséficas, criadas antes de Marx e Engels, embora contivessem as vezes grandes descobertas, no foram, contudo, conseqilentes até o fim e cientificas em todas as suas conclusées. Tal definicao hitpslvww-mansists.ora/portuguestzhdanov/1947imesimanx’smo.him 315 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia distingue o marxismo dos sistemas filoséficos pré-marxistas somente como doutrina conseqiiente até o fim e cientifica em todas as suas conclusées. Isto nos mostra que a diferenca do marxismo das doutrinas filoséficas pré-marxistas consiste somente em que estas filosofias ndo foram até o fim conseqlentes e cientificas, como também que os velhos filésofos somente "se equivocaram" Como véem, trata-se aqui somente de mudancas quantitativas. Isto, porém, & metafisica. © aparecimento do marxismo constituiu uma verdadeira descoberta, foi uma revolucéo em filosofia. Certamente, como em qualquer descoberta, como em qualquer salto, interrompe-se a graduacéo em cada transig&o para o novo estado; 0 marxismo, pois, no podia ter origem sem preliminar acumulagéo de mudancas quantitativas, em filosofia, e, neste caso, somas de desenvolvimento da filosofia até a descoberta de Marx e Engels. O autor, evidentemente, néo compreende que Marx e Engels criaram nova filosofia, que qualitativamente se diferencia de todas as predecessoras, no obstante estas terem sido também sistemas filoséficos progressistas. Acerca das relacdes da filosofia de Marx com todas as predecessoras de cuja transformagao resultou o marxismo em filosofia, transformando-o em ciéncia, todos tém conhecimento, O que é mais estranhdvel é que o autor concentra a sua ateng&o no no que é novo e revolucionario no marxismo, em comparacéo com os sistemas filoséficos predecessores, e sim no que o une com o desenvolvimento das filosofias pré- marxistas, No entanto, mesmo Marx e Engels disseram que sua descoberta significava o fim das velhas filosofias. "O sistema de Hegel foi o ultimo, a mais acabada forma de filosofia, desde que a concebamos como ciéncia especial, que fica acima de todas as outras ciéncias. Junto com ela, toda a filosofia. Restou somente o método dialético do pensamento e a concepgao de todo o mundo natural, histérico e intelectual, como de um inundo eternamente mutdvel e mével, que se encontra em permanente processo de nascimento e perecimento. Agora, n&o somente & filosofia, mas também a toda ciéncia foi imposta a exigéncia de descobrir as leis do desenvolvimento deste eterno processo de transformacgéo em cada dominio separado. Nisto consiste a heranca deixada pela filosofia hegeliana aos seus sucessores". (F. Engels — Anti Duhring, 1945, pag. 23-24 — edig&o russa). O Marxismo e o Fim da Velha Filosofia © autor nao compreende, evidentemente, o processo histérico concreto do desenvolvimento da filosofia. Uma das essenciais, sendo mesmo a principal falha do livro, é a ignorancia do fato de que na marcha da histéria se substituem nao somente as opinides sobre estas ou aquelas questées filoséficas, mas até mesmo sobre um conjunto de questées. O préprio objetivo da filosofia sempre esteve em permanente hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 428 o2rtor2029, 19:51 Zhdanov: 0 Marxismo & a Revolugdo na Filosofia transmutagéo, 0 que corresponde completamente a natureza dialética do conhecimento humano e isto deve ser evidente a qualquer verdadeiro dialeta. A pag. 24 de seu livro, expondo a filosofia dos antigos gregos, 0 camarada Alexandrov escreve "A filosofia, como ramo independente do conhecimento, surgiu na antiga sociedade escravista grega". E mais adiante "A filosofia, surgindo no VI século antes da nossa era, como ramo particular do conhecimento, teve larga propagacao". Podemos, porém, falar sobre as antigas filosofias gregas como um ramo particular do conhecimento que se haja diferenciado? Absolutamente, n&o. Os pontos de vista filosdficos dos gregos foram de tal modo estreitamente ligados as suas idéias politicas e aos seus pontos de vista de histéria natural que nao devemos e nao temos o direito de transferir para a ciéncia grega a nossa divisdo das ciéncias e sua classificacao, que surgiram muito depois. Em verdade, os gregos conheciam somente unia ciéncia indivisa, na qual entravam também as idéias filosdficas. Tomemos Demédcrito, Epicuro, Aristételes; todos eles igualmente corroboram o pensamento de Engels sobre isso, que "os mais antigos filésofos gregos foram simultaneamente naturalistas". (F. Engels — Dialética e Natureza — K. Marx e F. Engels, obr. Comp. T. XIV, pag, 498 — edic&io russa). A originalidade do desenvolvimento da filosofia consiste em que a medida que se desenvolvia os conhecimentos cientificos sobre a natureza e a sociedade, dela se ramificavam as ciéncias positivas, uma apés outra. Por consequéncia, reduzia-se ininterruptamente 0 dominio da filosofia devido ao desenvolvimento das ciéncias positivas (observacdo relevante é que este processo nao esta terminado e prossegue até no presente momento), e essa libertacdo das ciéncias naturais e sociais da égide da filosofia representava, por si mesma,, um processo progressive como também pata as ciéncias naturais e sociais e da mesma forma para a propria filosofia. Os criadores dos sistemas filoséficos do passado, que pretendiam o conhecimento da verdade absoluta, em instancia final, ndo puderam promover o desenvolvimento das ciéncias naturais, porque as enfaixavam em seus esquemas e se esforcavam por ficar acima das ciéncias, impondo ao vivido conhecimento humano as concussdes que eram ditadas nao pela vida real, mas por exigéncia dos sistemas, Nestas condigées, a filosofia se transformou em museu, onde foram acumulados os mais diversos fatos, conclusdes, hipéteses e simples fantasias. Se a filosofia pode servir para a supervisdo, para a contemplacao, no entanto, de nada valeu como instrumento de aco pratica sobre o mundo e como instrumento de conhecimento do mundo. © Ultimo sistema de tal género foi o sistema de Hegel, 0 qual tentou erguer o edificio filoséfico, que dominaria todas as outras ciéncias. Comprimindo no leito hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo-him 5125 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia de Procusto das suas categorias, e imaginando poder resolver todas as contradigdes, o sistema de Hegel entrou em contradicéo absoluta com o método dialético, por Hegel mesmo mais pressentido do que compreendido e por isso mesmo indevidamente aplicado. Mas, “uma vez que compreendamos... que exigir da filosofia a solugdo de todas as contradigdes significa exigir que um sé filésofo realize tal obra, que somente poderia ser realizada por toda a humanidade em seu gradual desenvolvimento; uma vez que compreendamos isto, para as filosofias, na velha significagéo da palavra, chegou o fim, como indicava Engels. Por conseqiiéncia, deixemos em paz a "verdade absoluta", que por esse caminho é inatingivel para © homem isolado e nos esforcemos na pretensdio de alcancar para nés as verdades relativas pelo caminho das ciéncias positivas e unificacdo de seus resultados com a ajuda do método dialético". (F. Engels — L. Feuerbach. Marx e Engels — Obr. Compl. T. XIV, pag. 640 — edig&o russa). A descoberta de Marx e Engels representa o fim da velha filosofia, isto &, 0 fim daquela filosofia que pretendia dar uma universal explicacéo do mundo. Cienti Uma Filoso' ‘a do Proletariado As formulages vagas do autor obscurecem a maior significacdo revolucionaria da genial descoberta filoséfica de Marx e Engels; acentuam quanto estava Marx ligado aos filésofos predecessores; e ndo mostram que, desde Marx, comega realmente um novo periodo de histéria da filosofia, que desde entdo se tornou ciéncia Aeste erro, esta ligada estritamente a maneira nao marxista com que o livro trata a histéria da filosofia, como de gradual mudanca de uma escola filoséfica para outra, Com o aparecimento do marxismo, como concepgao cientifica do proletariado, acaba o velho periodo da histéria da filosofia, aquele em que a filosofia era ocupacéo de individuos, propriedade de escolas filoséficas, compostas de pequeno numero de fildsofos e de seus discipulos, fechados, isolados da vida, do povo, estranhos ao povo © marxismo n&o é uma escola filosdfica dessa espécie. Ao contrario, é a superacao das velhas filosofias, das que eram propriedade de uns poucos eleitos da aristocracia do espirito; é 0 principio de um perfodo completamente novo da histéria da filosofia, quando ela se torna arma cientifica nas maos das massas proletérias, que lutam por sua libertacéio do capitalismo . A filosofia marxista, diferentemente dos anteriores sistemas filoséficos, nao se apresenta como ciéncia acima das outras ciéncias, ainda é um instrumento de investigacao cientifica, um método, que torna mais penetrante todas as ciéncias sobre a natureza e a sociedade e que se enriquece ao mesmo tempo com as conquistas dessas ciéncias no desenrolar de seu desenvolvimento. Nesse sentido, a filosofia marxista é a mais completa e decisiva negagdo de todas as filosofias hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 2125 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia precedentes. Mas negar, como sublinhava Engels, nao significa dizer simplesmente "no". A negag&o encerra em si a sucessio, significa a absorcéo, revis&o critica e unificago em nova e superior sintese de tudo quanto ha de vanguardeiro e progressista, j4 conquistado na histéria do pensamento humano. Daqui decorre que a histéria da filosofia, desde que existe 0 método dialético marxista, deve incluir a histéria da preparacéo do aparecimento desse método; mostrar 0 que condicionou o seu surgimento. No livro do camarada Alexandrov no consta a histéria da légica e da dialética, no é exposto o proceso do desenvolvimento das categorias Iégicas como reflexo da pratica humana; e por isso mesmo ficou no ar a citagéo de Lénin, encontrada ao prefacio do livro, de que cada categoria da légica dialética precisa ser considerada como ponto central na histéria do pensamento humano. Completamente injustificdvel é 0 fato de que a histéria da filosofia, no livro, s6 va até o surgimento da filosofia marxista, ou seja, até o ano de 1847. Sem a exposig&o da histéria da filosofia destes Ultimos cem anos, o livro, certamente, n&o pode ser considerado como livro de histéria da filosofia. O autor nao esclareceu e no explicou porque nao cuidou desse periodo, nem na introducao nem no prefacio da obra. Nada justifica também a exclusdo do desenvolvimento da filosofia russa, no livro de histéria em apreco. No é preciso provar que essa omissdo possui o carater de principio. Fossem quais fossem os motivos que levaram o autor a excluir a histéria da filosofia russa da histéria geral da filosofia, o seu siléncio sobre ela objetivamente significa a depreciac&o do papei da filosofia russa e também a diviséo da histéria da filosofia em histéria da filosofia da Europa ocidental e histéria da filosofia russa, e para tanto o autor n&o faz quaisquer tentativas no sentido de esclarecer a necessidade de tal divisdo. Ele eterniza dessa forma a divisdo burguesa de cultura "ocidental" e "oriental" e considera o marxismo como corrente regional do "ocidente". Mais que isso, na pagina 6 da introdug&o, demonstra com vigor uma tese inversa, insistindo que "nao tendo estudado atentamente e utilizado a critica profunda dos sistemas filoséficos do passado, realizada pelos classicos da filosofia russa, ndo se pode organizar uma exposi¢do cientifica sobre a marcha do desenvolvimento do pensamento filoséfico nos paises da Europa ocidental". Por que, entdo, o autor ndo organizou essa correta exposig&o no livro? Tal fato permanece completamente incompreensivel, da mesma forma que o arbitrdrio modo de terminar a exposic&o da histéria da filosofia no ano de 1848, que deixam no leitor a mais opressiva impressdo. Em suas intervenges, os camaradas aqui presentes também acertadamente apontaram as lacunas na exposicéo da histéria da filosofia do Oriente, que deveria ser clara. Evidentemente, também por esse motivo o livro precisa de radical revisdo. Alguns camaradas salientaram que a introdug&o para o livro deveria, sem duvida, significar 0 "credo" do autor e também definir corretamente o objetivo hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 7125 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia dos problemas e métodos de investigag&o, mas que o autor, parece-Ihes, nao cumpriu essa obrigacao. Penso que esta critica a insuficiente, portanto incorreta; também no resiste a critica feita & prépria introdugio. Por Uma Posicao de Partido em Filosofia J& falei sobre a incorreta e inexata definigéo do objetivo da historia da filosofia. Mas isto é pouco ainda. Na introdugéo existem também outros erros tedricos. Os camaradas ja falaram aqui de que uma interpretac&o forcadissima se encontra na exposicdo das bases da histéria da filosofia marxista-leninista, no que se refere a Tchernichévski, Dobroliubov e Lomondssov, os quais, certamente, no tém relagdes diretas com o assunto. Mas a questo, entretanto, ndo é somente essa. As citacbes apresentadas, das obras desses grandes mestres e filésofos russos, séo escolhidas com evidente infelicidade, e as teses tedricas que elas encerram, so, do ponto de vista marxista, incorretas e, eu diria mais, nocivas mesmo. Dizendo isso, nem no menor grau tenho em vista desacreditar os proprios autores dos textos citados, pois as citagées, escolhidas arbitrariamente, se referem a questées que nada tém em comum com as em que tem em vista o autor. Ou melhor, o autor cita Tchernichévski para provar que os fundadores dos varios e ainda que contrarios sistemas filosdficos devem tolerantemente referir-se um ao outro, Que se me permita fazer citagées de Tchernichévsk! "Os continuadores de obra cientifica se rebelam contra os seus predecessores cujos trabalhos serviram de ponto de partida para os seus préprios trabalhos. Assim, Aristételes inamistosamente, olhava para Platdo; Sécrates humilhava imensamente os sofistas, dos quais ele foi continuador, Nos tempos modernos encontramos também muitos exemplos semelhantes. Mas acontece, as vezes, casos de fundadores de novos sistemas compreenderem claramente a conexio de suas opinides com os pensamentos expressos pelos seus predecessores, e modestamente, entéo, se intitularem de seus discipulos; ou que, revelando as deficiéncias das concepcées de seus predecessores, ao mesmo tempo, claramente, confessam quanto contribuiram essas concepgées para o desenvolvimento de seus préprios pensamentos. Tal foi, por exemplo, 0 caso de Spinoza com Descartes, Para honra dos fundadores da ciéncia contempordnea, é preciso dizer que eles com respeito e quase amor filial olham para os seus predecessores, reconhecem completamente a grandeza de seus génios, o cardter nobre e generoso de suas doutrinas, nas quais apontam o germe de suas préprias idéias." (Pégs. 6-7, do livro de Alexandrov). Desde que o autor faz essas citagdes sem restrigdes, elas, evidentemente, s&o 0 seu préprio ponto de vista. Se isto é verdade, entao o autor efetivamente se coloca no caminho da rejeig&o do principio de partidarismo em filosofia, 0 qual hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 8125 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia & inerente ao marxismo-leninismo. So conhecidas a paixdo e irreconciliabilidade, com as quais 0 marxismo-leninismo sempre conduziu e conduz a aspera luta contra todos os inimigos do materialismo. Nessa guerra, os marxistas-leninistas submetem os seus adversarios a uma critica aniquiladora. Como modelo de luta bolchevique contra os opositores do materialismo é o livro de Lénin, "Materialismo e Empirocriticismo", onde cada palavra de Léninrepresenta, por si mesma, uma arma aniquiladora, que destréi o adversario. A genialidade de Marx e Engels consiste justamente — dizia Lénin— em que no decorrer de um periodo muito longo, de quase meio século, eles desenvolveram o materialismo, impulsionaram para a frente uma fundamental tendéncia da filosofia, nao permaneceram na repeticéo das questées gnosiolégicas ja resolvidas, mas a conduziram consequentemente, isto é, mostraram como era preciso levar o materialismo para o campo das ciéncias sociais, varrendo impiedosamente como lixo, a asneira, a bombastica galiméatia pretensiosa e as numerosas tentativas de "descobrir" uma "nova" linha na filosofia, de inventar uma "nova" tendéncia, etc. "Tomem, finalmente — escreve Léninmais adiante — as varias observagées filoséficas de Marx em "O Capital" e outras obras, e vereis imutéavel a idéia fundamental, a insisténcia no materialismo e um altivo desprezo votado a qualquer obscurecimento, confusdo ou recuo para o idealismo. Sobre essas duas basicas antinomias (materialismo- idealismo) giram todas as observacées filosdficas de Marx, as quais sdo julgadas pela filosofia professoral como "estreitas" e “unilaterais", e & justamente nisso que consistem suas falhas." (V. I. Lénin, Obr. Compl., t. XIII, pags. 275-276, em russo) . © préprio Lénin, como se sabe, néo poupava os seus adversdrios. Na tentativa de amenizar e conciliar as contradigdes entre as tendéncias filoséficas, Léninsempre viu apenas uma manobra da filosofia professoral reacionaria. Como pode, pois, depois disso, 0 camarada Alexandrov apresentar-se em seu livro, suave e manso, em relacao aos fildsofos adversarios, 0 que representa positiva concess&o ao quase-objetivismo professoral, ao expor o periodo em que emergia, crescia e vencia o marxismo na implacavel luta contra todos os representantes das tendéncias idealistas? © camarada Alexandrov nao se limita a isso. Sua concepcio objetiva, ele consequentemente a faz presente através de todo o contetido do livro. Nao é por casualidade, pois, que o camarada Alexandrov, antes de criticar qualquer filésofo da burguesia, renda homenagens aos seus méritos, incensando-os. Tomem, por exemplo, a doutrina de Fourier, que ja foi aqui mencionada, sobre as quatro fases do desenvolvimento da humanidade. © ponto mais alto da filosofia social de Fourier, diz 0 camarada Alexandrov, "é a doutrina sobre o desenvolvimento da humanidade. Em seu desenvolvimento, a sociedade passa, segundo Fourier, por quatro fases: 1. — destruig&o ascendente; 2. — harmonia ascendente; hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 92s o2rtor2029, 19:51 Zhdanov: 0 Marxismo & a Revolugdo na Filosofia 3. — harmonia descendente; 4. — destruigéo descendente. No seu Ultimo estédio, a humanidade vive num periodo de caducidade, depois do que qualquer vida na terra chega ao fim. Tanto quanto o desenvolvimento da sociedade se realiza independentemente dos desejos das pessoas, assim também o estddio superior do desenvolvimento chega inevitavelmente, tal como acontece com a mudanca das estacdes de um ano. Desta tese deduziu Fourier a inevitavel substituic&o do regime burgués por uma sociedade na qual dominard o trabalho livre e coletivo. Na verdade, a teoria de Fourier do desenvolvimento da sociedade foi limitada pelo quadro das quatro fases, mas para aquela época ela representou grande passo para a frente." (Ghe. F. Alexandrov, Historia da Filosofia da Europa Ocidental, pags. 353-354). Aqui n&o ha trago de andlise marxista. Em comparaco com que representou a teoria de Fourier um passo a frente? Se a sua limitagao consistiu no fato de se referir a 4 fases no desenvolvimento da humanidade e que a quarta fase constitui a destruigéo descendente, no conjunto da qual a vida na terra chega ao fim, ent&o como compreender se queixe o autor de Fourier, de que sua teoria do desenvolvimento da sociedade é limitada a quadro de apenas 4 fases? Uma quinta fase a humanidade a passaria no outro mundo... Sobre quase todos os velhos filésofos 0 camarada Alexandrov encontra oportunidade para dizer palavras améveis. Quanto maior é 0 filésofo burgués mais incenso Ihe oferece. Tudo isso leva o camarada Alexandrov, possivelmente mesmo sem o suspeitar, a tornar-se cativo dos historiadores burgueses da filosofia, os quais partem do principio de ver em cada filésofo, antes de tudo, um aliado de profissdo, logo depois um adversario. Tais concepgées, se se desenvolvessem entre nds, inevitavelmente nos conduziriam ao objetivismo; para 0 servilismo em face dos filésofos burgueses e exaltagdo de seus méritos; para a privag&o, em nossa filosofia, do seu espirito combativo e agressive. Mas isto significaria 0 abandono do principio fundamental do materialismo, isto é, de seu partidarismo, Entretanto, Léninnos ensinou que: “o materialismo encerra em si, por assim dizer; uma posicao de partido que nos obriga, em qualquer apreciac’o de acontecimento, direta e abertamente tomar o ponto do vista de um determinado grupo (V. I. Lénin, Obr. Compl., T. I, pag. 276, em russo). A exposigao das concepcées filoséficas no livro séo feitas abstratamente, objetivamente, neutralmente. As escolas filosdficas séo expostas no livro uma depois de outra ou uma ao lado de outra, mas n&o em luta uma contra outra. Isto € também "concessdio a tendéncia" académica e professoral. Nao & por acaso, como véem, que, nessa ligac3o, a tese do principio de partidarismo em filosofia néo foi absolutamente adotado pelo autor. Na qualidade de exemplo de partidarismo em filosofia o autor apresenta a filosofia de Hegel e a luta das filosofias inimigas ele descreve como sendo a luta dos principios reaciondrios e progressistas . . . dentro da prépria filosofia de Hegel, Tal método de hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 10125 oartor2029, 19:51 Zhdanov: © Manésme 6 a Revelugto na Filosofia demonstracéo é nao somente ecletismo objetivista, mas também uma clara condescendéncia para com Hegel, porquanto por esse método pretende provar que sua filosofia contém tanto de progressismo quanto também de reacionarismo. Para acabar com esta questo, acrescento também que o método aconselhado pelo camarada Alexandrov, de apreciacéo dos diferentes sistemas filoséficos — "igualmente com méritos existem também defeitos" (vide pag. 7 do livro de Alexéndrov) ou "importante significagdo tem do mesmo modo tal e tal teoria", que esse método sofre de extrema falta de determinac3o, é metafisico e somente capaz de amaranhar o assunto. E incompreensivel porque necessitou o camarada Alexandrov de fazer concessées as tradigées cientificas académicas das velhas escolas burguesas e esquecer a tese fundamental do materialismo que exige a irreconciliabilidade na luta contra os seus adversérios. Saber Utilizar o Método Materialista Dialético Ainda uma observagao. A andlise critica dos sistemas filoséficos deve ter um objetivo. As opiniées e idéias filosdficas, hd bastante tempo derrotadas e enterradas néo merecem muita atengdo. Pelo contrario, com particular rigor devem ser criticados os sistemas e idéias filosdficos que, apesar de seu reacionarismo, ainda tém curso e s&o utilizados pelos atuais inimigos do marxismo. Aqui, referimo-nos particularmente ao neo-kantismo, as teologias, as velhas e novas edigdes do agnosticismo, as tentativas de introduzir Deus, sub- repticiamente, de contrabando; nas ciéncias naturais contemporaneas, e também de qualquer outra moxinifada, que tenha por fim retocar e colorir a mofada mercadoria idealista, para consumo do mercado. Enfim, a quantas idéias desse conhecido stocks, que, na época contemporanea, os lacaios filoséficos do imperialismo péem em circulag&o para apoiar seus amos assustados. Na introduc&o é tratada, igualmente, de forma incorreta a concepcdo sobre as idéias reacionarias e progressistas e dos sistemas filoséficos. Embora 0 autor também faca restriges em torno das questdes sobre o reacionarismo ou o cardter progressista desta ou daquela idéia ou sistemas filoséficos, elas devem ser resolvidas de forma concreta e histérica. O autor, porém, persistentemente ignora a conhecida tese do marxismo de que uma mesma idéia, em diferentes condigées histéricas e concretas, pode ser reaciondria ou progressista. Tergiversando nesta questa, o autor abre brecha para a introdugéo, de contrabando, da concepcio idealista das idéias que so colocadas acima da historia. © autor, mais adiante, corretamente assinala que 0 desenvolvimento do pensamento filoséfico, em Ultima andlise, é determinado pelas condicdes materiais de vida da sociedade e que o desenvolvimento do pensamento filoséfico tem somente uma relativa independéncia, mas ao mesmo tempo, repetidamente, viola essa tese fundamental do materialismo cientifico, e frequentemente se esquece, na sua exposicao dos diferentes sistemas filoséficos, da tese das condicées histéricas e concretas e das raizes sociais de classe; desta hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 1108 o2rtor2029, 19:51 Zhdanov: 0 Marxismo & a Revolugdo na Filosofia ou daquela filosofia. Tal é 0 caso, por exemplo, da exposig&o sobre os pontos de vista de Sécrates, Demécrito, Spinoza, Leibnitz, Feuerbach e outros, que, certamente, nao é cientifica e dé motivo a suposicéo de que o autor, confundindo-se, passou a adotar o ponto de vista da independéncia do desenvolvimento das idéias filosdficas, que pairam acima da histéria, 0 que constitui, alias a caracteristica distintiva da filosofia idealista. A auséncia de ligag&o organica entre este ou aquele sistema filoséfico e as condiges concretas; e histéricas verifica-se, constantemente, ainda onde o autor tenta analisar essas condigées, Como resultado disso temos uma ligag3o puramente mecdnica, e nado uma ligag&o organica e essencial. Divisées e capitulos, em que so interpretadas as concepgées filoséficas de época correspondentes e divisées e capitulos dedicados & exposig&o das condigées histéricas, giram em torno de um mesmo ponto de vista, mas a prépria exposic&io dos dados histéricos, as ligacées causais entre a base e a superestrutura, como cAnone, é apresentada. de forma cientifica, mas desordenadamente, e ndo oferece material para andlise, antes representa uma investigacdo mé. Tais so, por exemplo, a introducgdo e 0 capitulo VI, sob o titulo "A Franca no XVIII Século", que séo um ctimulo de ininteligibilidade e de nenhuma forca esclarecem a fonte das idéias da filosofia francesa do século XVIII e inicio do século XIX. Como conseqiiéncia disso, as idéias dos filésofos franceses perdem suas ligagées com a época e comecam a figurar como um certo fenémeno independente. Que se me permita recordar esta passagem do livro: "“Comegou a Franca, nos séculos XVI-XVII, depois da Inglaterra, gradualmente, a pér-se no caminho do desenvolvimento burgués. As fundamentais transformagées na economia, na politica e na ideologia, levaram um século para se realizar, O pais, embora ainda estivesse também completamente atrasado, j4 comegava, porém, a libertar-Se de seu consolidado feudalismo. Da mesma forma que muitos outros Estados europeus daquele tempo, a Franca também entrava no periodo da acumulagao capitalista primitiva. Em todos os setores da vida social» rapidamente se formava a nova ordem social-burguesa, surgia nova ideologia, nova cultura. Por esse tempo, se inicia na Franca, 0 rapido crescimento das cidades como Paris e Lion, Marselha e Havre; constréi-se poderosa frota maritima. Uma depois da outra organizam-se as companhias comerciais, internacionais, que preparam) expedigdes armadas, com que conquistaram numerosas colénias. Rapidamente cresce o comércio. Nos anos de 1784-1788, 0 movimento do comércio externo atingiu a 1.011,6 milhées de libras, excedendo mais do que quatro vezes 6 dos anos de 1716-1720. O desenvolvimento do comércio foi ajudado pelo pacto de Aacher (1748), e também pelo tratado de Paris (1763). Particularmente demonstrative 6 0 comércio de livros. Assim, por exemplo, no ano de 1774, 0 movimento do comércio de livros na Franca chegou a ser de 45 milhdes de francos, enquanto na Inglaterra era somente 12-13 milhées de francos. Nas maos da Franca, hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 12108 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manésme 6 a Revelugto na Filosofia encontrava-se cerca da metade do stock de ouro que possufa a Europa. Entretanto, a Franga permaneceu ainda como pais agrario. Imensa maioria de sua populacéo se ocupava com a agricultura" (pags. 315- 316). Isto, certamente, no é uma andlise, mas uma simples catalogagao de alguns fatos, expostos néo em ligagées de uns com outros mas simplesmente uns ao lado de outros. Isto, por si mesmo, evidencia que estes dados sobre a "base" n&o continham, é verdade, e n&o podiam conter quaisquer caracteristicas da filosofia francesa, cujo desenvolvimento se realiza como que separado das condigées histéricas daquele tempo na Franca. Tomamos mais adiante, a titulo de exemplo, a descricio do aparecimento da filosofia idealista alemd, tal como é apresentada no livro de Alexéndrov. Ele escreveu: "No século XVIII e primeira metade do século XIX, a Alemanha era um pals atrasado, com um regime politico reacionario. Nela dominavam as relacdes da serviddo feudal e corporagdes de oficios. No fim do XVIII século, a populacao citadina nao alcangava 25 por cento, e os oficios ocupavam somente 4 por cento de toda a populagdo. A corvéia, taxas, a servidao, os privilégios das corporacdes impediam o desenvolvimento das relagdes capitalistas, que comegavam a surgit. Acrescente-se, ainda, que no pais reinava uma excessiva divisdo politica." Encontra-se na citag3o de Alexandrov a porcentagem da populacdo citadina da Alemanha, que deve, segundo sua opiniao, ilustrar 0 atraso desse pais e o reacionarismo de seu governo e de seu regime politico-social. Ja nesse tempo, porém, a populago citadina da Franca se compunha de menos 10 por cento do que a da Alemanha, embora a Franca no fosse um atrasado pais feudal, como era a Alemanha, e sim o centro do movimento revoluciondrio burgués na Europa. Por conseqiiéncia, a percentagem da populacdo citadina, por si mesma, ainda nada esclarece, mais do que isso, ela propria deve ser esclarecida pelas condigées histéricas e concretas. Isto, do mesmo modo, é exemplo do insucesso do autor, na utilizagdo do material histérico para a elucidagao do nascimento e desenvolvimento destas ou daquelas formas de ideologia. Mais adiante, Alexandrov escreveu: "Os mais conhecidos idedlogos da burguesia alema daquele tempo — Kant, depois Fichte e Hegel, — nos sistemas filoséficos idealistas que criaram, exprimiram de forma abstrata, condicionada pela limitacdo da realidade alema, a ideologia da burguesia alem& daquela época." Comparemos esta exposicéo dos fatos, fria, indiferente e objetivista, por meio da qual nao se podem compreender as causas do nascimento do idealismo germanico, com a andlise marxista das condigdes daquele tempo na Alemanha, hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 13925 o2rtor2029, 19:51 Zhdanov: 0 Marxismo & a Revolugdo na Filosofia exposta num estilo vivo, combative que comove e convence o leitor. Eis, como Engels caracterizava essas condigdes na Alemanha: "Esta era uma massa em estado de putrefacéo, e que se corrompia. Ninguém se sentia bem. Os oficios, 0 comércio, a industria e a agricultura estavam reduzidos ao minimo. Os camponeses, os comerciantes e artes&os sofriam dupla opressdo: governo sanguindrio e més condigdes para o comércio. A nobreza e os principes achavam que seus lucros, apesar de que todos eles arrancados de seus stiditos, ndo deveriam diminuir em face de suas despesas crescentes. Tudo era ruim € no pais dominava um descontentamento geral. Nao havia instrugo, meios de influgncia sobre a inteliggncia das massas, liberdade de imprensa, opiniéo publica, nem havia qualquer comércio importante com outros paises; em toda parte somente sujeira e egoismo, por conseqiiéncia todo 0 povo foi impregnado por um espirito mercantil baixo servil e odioso; corrompia-se, vacilava, pronto para ruir; e no se poderiam esperar mudangas benéficas, porque o povo ja ndo possuia a forca com que poderia varrer os cadaveres putrefatos das instituicdes mortas." (K. Marx-F. Engels, Obras Compl, T. V, pags. 6-7, em russo). Comparem esta caracterizagio de Engels, clara, penetrante, exata, profundamente cientifica, com a caracterizacéio que da Alexandrov, e vereis como © camarada Alexandrov se utiliza mal do material de inesgotavel riqueza, que nos foi deixado pelos fundadores do marxismo, Desse modo, 0 autor no resolveu o problema da utilizacéo do método materialista para a exposic&o da histéria da filosofia, e isto tira do livro o seu caréter cientifico e transforma-o, em considerdvel medida, numa descricdo biografica dos fildsofos e de seus sistemas filoséficos, considerados fora das condicées histéricas. Isso resultou de ter o autor infringido o principio do materialismo histérico, que ensina: "E preciso investigar em detalhe as condigdes de existéncia das diferentes formagdes sociais, antes de tentar extrair delas as correspondentes concepcées politicas, de direito privado, estéticas, filoséficas, religiosas, etc." (Da carta de F. Engels a Schmidt, de 5 de agosto de 1890; Carlos Marx e F. Engels, Cartas Escolhidas, 1847, pag. 421). Obscura e insuficientemente o autor formula também os objetivos do estudo da histéria da filosofia. Em parte alguma do livro, 0 autor sublinha que um dos problemas fundamentais da filosofia e de sua histéria é o ulterior desenvolvimento da filosofia como ciéncia, 0 descobrimento de novas leis de desenvolvimento, a verificacdio de suas teses na pratica, a substituico das teses que se tornam caducas por novas. O autor toma como ponto de partida, principalmente, a significagéo pedagogica-educativa da histéria da filosofia; baseia-se sobre os problemas instrutivo-culturais, para dar dessa forma a todo 0 estudo da histéria da filosofia um cardter passivamente contemplativo, hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 14125 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia académico. Isto, certamente, no corresponde & definig&o marxista-leninista da ciéncia filoséfica, que, tal como qualquer outra ciéncia, deve ininterruptamente desenvolver-se, aperfeigoar-se e enriquecer-se com novas teses, rejeitando as caducas. © autor, concentrando a sua atenc3o sobre o aspecto instrutivo do livro, com isso limita O desenvolvimento da ciéncia, como se o marxismo-leninismo tivesse atingido o seu teto, donde o problema do, desenvolvimento de nossa doutrina j4 no constituir a principal tarefa. Tal raciocinio contradiz 0 espirito do marxismo-leninismo, visto que ele comeca por apresentar o marxismo metafisicamente, como doutrina acabada e completa, e isso s6 pode conduzir para ao esgotamento dos vividos e perquiridores pensamentos filoséficos As Relacées Entre a Filosofia e as Ciéncias Naturais Assim, vai completamente mal o problema do esclarecimento das questdes do desenvolvimento das ciéncias naturais. A histéria da filosofia, sem direta injuria ao espirito cientifico, néo se pode expor fora das ligagdes com as conquistas das ciéncias naturais. O livro do camarada Alexéndrov nao dé possibilidade de esclarecer, por forca disso, as condiges de nascimento e desenvolvimento do materialismo cientifico, que cresceu sobra o fundamento granitico das conquistas contemporaneas das ciéncias naturais. Expondo a histéria da filosofia, 0 camarada Alexandrov conseguiu desliga-la da histéria das ciéncias naturais. E caracteristico que, na introdugdo, onde expde as bases da orientacao do livro, 0 autor, nem com uma palavra, se refere & interrelac&o da filosofia com as ciéncias naturais. Ele silencia sobre as ciéncias naturais mesmo quando isso pareceria completamente impossivel. Assim, na pag. 9, 0 autor escreveu "Lénin, em seus trabalhos, e particularmente no Materialismo e Empirocriticismo, elaborou de forma completa e impulsionou bem para a frente essa doutrina marxista sobre a sociedade". O camarada Alexandrov conseguiu, falando sobre 0 Materialismo e Empirocriticismo, passar por cima dos problemas das ciéncias naturais e de suas ligagdes com a filosofia. Salta aos olhos a imensa pobreza, miserabilidade e caréter abstrato que caracterizam 0 nivel das ciéncias naturais deste ou daquele perfodo, Sobre as ciéncias naturais deste ou daquele periodo. Sobre as ciéncias naturais dos antigos gregos, Alexandrov disse que, ao seu tempo, teve lugar "a germinacao da ciéncia sobre a natureza" (pg. 26); sobre o Ultimo periodo da época da escoldstica (XII-XIII' séculos), diz que nele "apareceram muitas invengdes e aperfeigoamentos técnicos." (Pag. 120). No mesmo lugar, onde o autor tenta esclarecer as formulacdes vagas, apresenta pouco coerente lista de descobertas; junto com isso, no livro, admite erros berrantes, que nos surpreendem pelo que revelam de sua ignorancia nas questées de ciéncias naturais. Que valor tem, por exemplo, a seguinte descrigéo do desenvolvimento da ciéncia na época da Renascenca: hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 15125 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia "O sdbio Guéricke construiu sua famosa bomba pneumitica e demonstrou a existéncia da pressdio atmosférica, que substitui, por si mesma, a idéia sobre o vacuo. Isso foi provado praticamente, pela primeira vez, com as experiéncias das esferas de Magdeburgo. Pessoas houve, no transcurso dos séculos, que discutiram sobre onde encontrar-se 0 "centro do mundo" e se era possivel considerar 0 nosso planeta como esse centro. Eis que, porém,, no dominio da ciéncia, surge Copérnico e depois Galiléu Galilei. Este prova a existéncia de manchas no sol e mudancas em suas posigées, Ele vé nisso e em outras descobertas a confirmacéo da doutrina de Copérnico sobre a contextura heliocéntrica do nosso sistema solar. O barémetro ensinou as pessoas predizer o tempo. O microscépio substituiu o sistema de hipéteses sobre a vida dos organismos infinitamente pequenos e desempenhou um grande papel no desenvolvimento da biologia. A bussola ajudou a Colombo provar, experimentalmente, a esfericidade de nosso planeta." (Pag. 135). Aqui, quase que cada proposicéo é um absurdo. Como podia a pressdo atmosférica substituir a idéia sobre o vacuo: sera que a existéncia da atmosfera nega a existéncia do vacuo? De que maneira o movimento de mancha no sol confirmou a doutrina de Copérnico? A idéia de que 0 barémetro prediz o tempo, é uma das nogdes mais anti- cientifica. Infelizmente, as pessoas, até agora, ndo sabem como conseguir prever 0 tempo, 0 que de todos vés é bem conhecido pela experiéncia pratica de nosso servigo de meteorologia. Mais adiante. Seré que o microscépio pode substituir o sistema de hipsteses? E, afinal, o que significa a "esfericidade do nosso planeta"? Até aqui, parecia-me, que esférico podia ser forma. Pérolas semelhantes encontram-se a granel no livro do camarada Alexandrov O autor, porém, admite também os mais essenciais erros de principio. Assim, ele considera (pag. 357) que o método dialético teve as condigées de seu surgimento criadas pelo progresso das ciéncias naturais "j4 na segunda metade do século XVIII", Isto, radicalmente, contraria a conhecida tese de Engels sobre isso, que 0 método dialético teve as condicées de seu surgimento criadas com a descoberta da constituigéo celular do organismo, doutrina sobre a conservacao e transformacéo da energia e doutrina de Darwin. Todas estas descobertas ocorreram no XIX século. Partindo de sua falsa concepgao, o autor abre espaco, em seu livro, para a enumeraco das descobertas do século XVIII; fala muito sobre Galvani, Laplace, Layelle, mas com preferéncia as trés grandes descobertas, indicadas por Engels, ele se limita ao seguinte: "Assim, por exemplo, ainda durante a vida de Feuerbach, foi criada a doutrina sobre a célula, a doutrina sobre a transformacao da energia e hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 18125 o2rtor2029, 19:51 Zhdanov: 0 Marxismo & a Revolugdo na Filosofia aparecia a teoria de Darwin sobre, a origem das. espécies por meio da selegao natural.” (Pag. 427). Tais séo as falhas fundamentais do livro. Eu me abstraio das falhas secundérias e particularidades, porque nao quero também repetir as muito preciosas observacées criticas, no sentido tedrico e prético, que aqui foram feitas. A conclusdo é a seguinte: 0 livro é mau e necessita de uma revisdio radical. Mas a revisdo do livro significa antes de tudo, a superacdo dos incorretos e confusos pontos de vista, que, evidentemente, sdo correntes no meio dos nossos filésofos, entre os quais também se encontram os dirigentes. E aqui eu passo para a segunda questo, a questo sobre a situago da nossa frente filoséfica II - Sobre a Situagao da Nossa Frente Filosé a © Livro do camarada Alexéndrov recebeu a aprovag3o da maioria de nossos trabalhadores filoséficos dirigentes, foi indicado para o prémio Stdlin, recomendado como livro didatico e mereceu numerosas apreciagdes elogiosas em revistas e jornais. Isto significa que também outros trabalhadores filoséficos, evidentemente, participam dos erros do camarada Alexandrov. Revela, pois, que nem tudo vai bem em nossa frente tedrica. A circunstancia do livro néo ter provocado quaisquer protestos significativos, exigiu a intervencéo do Comité Central e pessoalmente a do camarada Stdlin, para revelar as falhas do livro. Isto traduz no haver na frente filoséfica a desenvolvida critica e autocritica bolcheviques. A auséncia de discussdes criadoras da critica e autocritica, néo puderam deixar de repercutir de maneira prejudicial na elaboragéo dos trabalhos filoséficos cientificos. Todos sabem que a produgo filoséfica é inteiramente insuficiente em quantidade e fraca na qualidade. Monografias e artigos de filosofias sdo um fenémeno raro. Aqui, muitos falaram sobre a necessidade de uma revista filoséfica. Hé, no entanto, uma certa duivida sobre a necessidade da criagdo de tal revista. Ainda no se apagou de nossa meméria a lamentavel experiéncia da revista "Sob a bandeira do marxismo". Parece-me que, no presente momento, ndo sao utilizadas, de forma completamente satisfatéria, as possibilidades de publicacao de artigos e monografias originais. © camarada Svietlév disse aqui, que os leitores de "Bolchevik" absolutamente no esto capacitades para ler trabalhos tedricos especializados. Penso que isso é completamente inexato e decorre de uma clara subestimac&o do alto nivel dos nossos leitores e de suas exigéncias. Tais opinides, parece-me, s&o resultantes da incompreenséo do fato de absolutamente no ser a nossa filosofia propriedade de pequenos grupos de filésofos profissionais, mas sim propriedade de toda a cultura soviética. Nos tempos pré-revoluciondrios, néo havia mal algum, de acordo, alids, com as tradicées, que as macudas revistas russas hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 17128 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia progressistas, ao lado dos artigos artistico-literdrios, publicassem também trabalhos cientificos, entre os quais, os de filosofia. Nossa revista "Bolchevik", por todos motivos, possui muito mais pUiblico do que qualquer revista filoséfica e enclausurar 0 trabalho criador dos nossos filésofos nas revistas especializadas em filosofia, parece-me, representaria uma ameaca de estreitamento da base de nosso trabalho filoséfico. Peco que ndo me julguem como adversério da revista, porém, parece-me que a escassez de trabalhos filoséficos, em nossas volumosas revistas e no "Bolchevik", revela a necessidade de se iniciar, antes de mais nada, a superag&o dessa falha, utilizando-nos, a principio, das nossas volumosas revistas e do “Bolchevik", onde (especialmente, nas volumosas revistas), de tempos em tempos, ainda agora, aparecem artigos de cardter filoséfico, que apresentam, sem duvida, interesse cientifico e social. Também é anémica a tematica da nossa instituic&o filoséfica dirigente, isto é, do Instituto de Filosofia da Academia de Ciéncias e do professorado, etc. © Instituto de Filosofia, na minha opinido, apresenta um quadro bastante desolador: no une os trabalhadores da periferia, nao esta ligado a eles, e por isso no é uma instituigéo de cardter nacional. Os fildsofos da provincia so abandonados a si mesmos, embora eles representem, como sabeis, grande forca nao utilizada, para pesar nosso. A tematica dos trabalhos filoséficos, entre os quais se incluem também trabalhos de concurso para a obtencdo de graus cientificos, est voltada para o passado, para assuntos histéricos inexpressivos e de nenhuma responsabilidade, como, por exemplo: "A heresia de Copérnico no passado ¢ no presente", Isto conduz a um certo renascimento da escoléstica. Deste ponto de vista, parece-nos estranho tenha havido aqui discusséo sobre Hegel. Os participantes dessa discusséo quiseram forcar a porta aberta. . . A questo sobre Hegel ha muito ja foi resolvida, Para revivé-la nao existe qualquer fundamento, nenhum novo material, além dos que jé foram apresentados e apreciados. A prépria discussdo seria desapontadoramente escoldstica e dela resultaria téo pouca cousa como a seu tempo a escoléstica ndo esclareceu as questées sobre o direito de se persignar com dois ou trés dedos... ou sobre se Deus pode criar uma pedra, que nao possa levantar. . . e também a de se a mde de Deus foi ou no virgem. . . Os problemas contemporaneos, de atualidade, quase nao foram analisados, Tudo isto, em conjunto, é cheio de grandes perigos, muito maiores do que imaginais. 0 maior perigo consiste em que algum de vés J se acostumaram com essas falhas. Conduzir Nossa Ciéncia Para a Frente No trabalho filoséfico ndo se percebe espirito de luta e tampouco o espirito peculiar aos "tempos bolcheviques". A respeito, algumas teses erténeas do livro so um eco do atraso em toda a frente filosdfica e por isso no podemos considerd-las como um fato casual, isolado, mas sim como reflexo de um fenémeno geral. Aqui, frequentemente, se usa a expresso "frente filoséfica”. Mas onde se encontra, propriamente falando, essa frente? A frente filosdfica hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 18925 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia absolutamente nao é semelhante a idéia que fazemos de uma frente. Quando se fala sobre uma frente filoséfica, imediatamente, por associacao, surge a idéia de um organizado destacamento de fildsofos militantes, perfeitamente armados com a teoria marxista, que dirige uma decisiva ofensiva contra a ideologia inimiga no estrangeiro, contra as sobrevivéncias da ideologia burguesa na consciéncia da unidade soviética, no interior de nosso pais; que impulsiona incansavelmente para a frente a nossa ciéncia; que arma os trabalhadores da sociedade socialista com a consciéncia da justeza do rumo do desenvolvimento da nossa sociedade e da certeza, cientificamente fundamentada, da final vitéria de nossa causa. Sera que a nossa frente filoséfica se parece com uma verdadeira frente? Ela mais depressa nos lembra uma tranqiiila represa ou bivaque situado em algum lugar, longe do campo da luta. O campo de batalha ainda nao foi ocupado, tampouco foi tomado contacto com os adversdrios, e o reconhecimento nao foi realizado; as armas se enferrujam, os combatentes lutam por sua propria conta e risco, & os comandos ou se embriagam com as vitérias passadas, ou discutem se possuirao bastante forcas para a ofensiva ou se no precisardo pedir auxilio de fora; também discutem sobre tema de quanto pode a consciéncia atrasar-se da realidade da vida, e com isso pretendem provar que no esto demais atrasados. E, entretanto, nosso Partido precisa extremamente da elevacdo dos trabalhos filoséficos. As répidas mudancas que todo dia se verificam na nossa vida socialista, ndo s&o generalizadas pelos nossos fildsofos, no so estudadas e justificadas do ponto de vista da dialética marxista. E por isso mesmo dificultam as condigées para o futuro desenvolvimento da nossa ciéncia filoséfica. A situagdo se apresenta de tal modo que o desenvolvimento do pensamento filoséfico se realiza, em considerdvel medida, apesar dos nossos filésofos profissionais. Isto é completamente inadmissivel. Certamente, a causa do atraso na frente filoséfica, nao esté ligada a qualquer condico objetiva. As condigées objetivas sao favoraveis como nunca; o material, que aguarda uma anélise e generalizacdo cientificas, é ilimitado. As causas do atraso na frente filoséfica, precisamos procuré-las nos dominios do subjetivo. Essas causas fundamentais sao justamente aquelas que indicou 0 CC, ao analisar 0 atraso em outros setores da frente ideolégica. Como vos lembrais, as conhecidas decisées do CC sobre as questées ideolégicas foram dirigidas contra a falta de ideologia e o apoliticismo na literatura e nas artes; contra os que se afastam da tematica contemporanea e se volvem para o passado; contra a admiracdo em face de todo que é estrangeiro; e a favor do partidarismo bolchevique combative na literatura e na arte. E sabido que muitos destacamentos de trabalhadores de nossa frente ideolégica ja chegaram a conclusées apropriadas, apoiados nas decisées do CC, por esse caminho ja alcancaram sucessos consideraveis. No obstante isso, os nossos fildsofos profissionais se atrasaram. Evidentemente, néo prestam atencdo a falta de principios e de ideologia no hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 19125 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia trabalho filoséfico, ao desprezo pela tematica contemporanea, ao servilismo e & bajulagao em face da filosofia burguesa. Eles, evidentemente, imaginam que a viragem na frente ideolégica nao os atinge. Agora, todos véem que essa viragem & necesséria e dela precisam participar. Sobre 0 fato da frente filoséfica no se encontrar nas primeiras linhas do trabalho ideolégico, também cabe considerdvel parte de culpa ao camarada Alexéndrov. Ele n&o possui, para pesar nosso, uma capacidade critica e penetrante para revelar as falhas do trabalho. Ele claramente superestima suas préprias forcas, no se apoiando na experiéncia e conhecimento dos grandes conjuntos de fildsofos. Mais que isso, ele apdia demais o seu trabalho no estreito circulo dos mais intimos colaboradores, também admiradores de seu talento. A atividade filosdfica acabou sendo monopolizada nas mos de pequeno grupo de fildsofos, mas a maior parte dos filésofos, especialmente os da provincia, nao foi atraida para o trabalho dirigente. Dessa forma, foi prejudicada a justa inter-relag&o entre os filésofos. Agora, todos véem, que a elaborac&o de trabalhos como um livro de histéria da filosofia ndo é tarefa para um sé homem, e que o camarada Alexandrov deveria inicialmente atrair para o trabalho largo conjunto de autores, isto 6, especialistas em materialismo dialético, especialistas em materialismo histérico, historiadores, naturalistas e economistas, O camarada Alexandrov escolheu um caminho errado para a elaborac&o do livro, ndo se apoiando sobre largo circulo de pessoas capacitadas. E indispensdvel corrigir esse erro. Os conhecimentos filoséficos sao, certamente, entre nés, propriedade de grandes circulos de filésofos soviéticos. O método de atracéo do maior numero de autores para a elaboracgo do livro de filosofia, agora, aplica-se plenamente para a redacéio de um livro de economia politica, que deve ficar pronto no mais curto espago de tempo e para o trabalho de sua redacdo devem ser atraidos largos circulos nao somente de economistas, mas também de historiadores e fildsofos. Tal método de elaboragéo é o mais promissor. Ele implica também uma outra idéia, a de I reunir os esforcos dos varios destacamentos de trabalhadores ideolégicos, no| presente insatisfatoriamente ligados entre si, para a solugéo dos grandes problemas, que tém uma significago cientifica geral. Cumprir-se- também o objetivo de por esse meio organizar a interacéo entre os trabalhadores dos diversos ramos ideolégicos, a fim de impulsionar para a frente a ciéncia em geral, n&o cada um por sua prépria conta, ineficientemente, mas por meio de um conjunto de trabalhadores, de um modo organizado e firme, e, por conseqiéncia, com as maiores garantias de éxito. A Critica e Auto-Critica, Forma Particular de Luta Entre o Velho e 0 Novo Onde, ent&o, se encontram as raizes dos erros subjetivos de numerosos dirigentes dos trabalhos da frente filosdfica? Por que aqui, na discussao, representantes da velha geracao de fildsofos langaram justa reprovacdo a alguns hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 20128 oartor2029, 19:51 Zhdanov: © Manésme 6 a Revelugto na Filosofia mogos, a propésito de sua prematura senilidade e de sua falta de combatividade, agressividade, A resposta a esta questdo impde-se, e sé pode ser uma: o insatisfatério conhecimento das bases do marxismo-leninismo e a presenca de remanescentes influéncias da ideologia burguesa. Isto revela também que muitos dos nossos trabalhadores ainda ndo compreenderam que 0 marxismo-leninismo & doutrina viva e criadora, que ininterruptamente se desenvolve, que ininterruptamente se enriquece 4 base da experiéncia da construcao socialista e das conquistas das ciéncias naturais contemporaneas. Tal subestimacéo desse vivido e revoluciondrio lado de nossa doutrina nao pode levar-nos senéo ao rebaixamento da filosofia e de seu papel. Justamente nas falhas do espirito combativo e agressivo se devem procurar as causas do medo de alguns dos nossos fildsofos experimentarem a sua capacidade em novas questdes — nas questdes contemporaneas, na solugdo dos problemas que diariamente a pratica poe diante dos fildsofos e para as quais a filosofia esta obrigada a dar resposta. Jé € tempo de mais audaciosamente impulsionar para a frente a teoria da sociedade soviética, a teoria do Estado soviético, a teoria das ciéncias naturais contemporaneas, da ética e da estética. E preciso acabar com a covardia nao bolchevique . Admitir a estagnac3o no desenvolvimento da teoria — isto significa secar a nossa filosofia, priva-la da sua caracteristica mais preciosa — que é a sua capacidade para o desenvolvimento, transformando-a em morto e seco dogma, ‘A questdo sobre a critica e autocritica bolchevique & para os nossos fildsofos no somente uma questi pratica, mas também profundamente teérica. Se 0 contetido interno do proceso de desenvolvimento, como nos ensina a dialética, é a luta dos contrarios, luta entre o velho e 0 novo, entre o que esta fenecendo e 0 que esta nascendo, entre o que morre e o que se desenvolve, ent&o a nossa filosofia soviética precisa mostrar como age esta lei dialética nas condigées da sociedade socialista e em que consiste a originalidade de sua aplicagéo. Sabemos que na sociedade dividida em classe esta lei age diferentemente da forma por que age em nossa sociedade soviética. Eis onde se encontra 0 mais largo campo para a investigacdo cientifica, e este campo nenhum dos nossos fildsofos palmilhou. Entretanto, 0 nosso partido jé ha muito achou e colocou a servigo do socialismo a forma particular de descobrimento e superagéo das contradicées da sociedade socialista (e essas contradicées existem, e sobre elas os nossos filésofos ndo querem escrever por covardia, e essa forma particular da luta entre e velho e 0 novo, entre o que morre e o que nasce, entre nés, na sociedade soviética, é 0 que se chama de critica e auto- critica. Marx disse que os filésofos antecessores somente interpretaram 0 mundo, mas que no presente trata-se é de transforma-lo. Substituimos o velho mundo e construimos 0 novo, mas os nossos fildsofos, para pesar nosso, insatisfatoriamente interpretam este novo mundo, e ainda insatisfatoriamente participam de sua transformaco. Aqui, vimos algumas tentativas, por assim dizer, de “teoricamente” interpretar as causas deste atraso, Falou-se aqui, por exemplo, sobre isso, que os fildsofos demasiadamente se detiveram na fase de hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 21128 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia comentarios, por forga do que, no tempo préprio, née passaram para o periodo de realizacées. Esta interpretaco certamente tem um aspecto elevado mas pouco convincente. Por certo, o trabalho criador dos fildsofos precisa ser no presente a pedra angular de todo trabalho, mas isto no significa que precise ser um trabalho de especial erudigao, para um circulo fechado, mas sim de vulgarizacao. Dele também precisa participar 0 nosso povo. Contra a Ideologia Podre da Burguesia E preciso apressar-se em compensar o tempo perdido. Os problemas nao esperam. Conquistando brilhante vitéria na grande guerra patridtica, que também é brilhante vitéria do marxismo, o socialismo ficou como um osso na garganta dos imperialistas. O Centro da luta contra o marxismo transportou-se na atualidade para a América e Inglaterra. Todas as forcas do obscurantismo e da reacdo esto postas agora a servico da luta contra o marxismo. De novo ja trouxeram & luz e foram aceitas como armas da filosofia burguesa estes instrumentos da democracia atémica e do dolar, as armaduras ji gastas do obscurantismo e clericalismo: 0 Vaticano e as teorias racistas; 0 nacionalismo selvagem e a caduca filosofia idealista; a corrupta imprensa amarela e a podre arte burguesa, Mas a forca, evidentemente, ¢ insuficiente. Sob a bandeira de luta "ideolégica", luta contra o marxismo, recrutam agora também as suas Ultimas reservas, Sdo atraidos os gangsters, caftens, espides e criminosos. Tomarei, ao acaso, um exemplo recente. Como informou ha poucos dias "Izvestia", na revista "Tempos Modernos", que esta sob a direco do existencialista Sartre, é exaltado como uma revelacéo o novo livro do escritor Jean Genét, "Didrio de um ladrao", que comeca com estas palavras: "A traig&o, a roubalheira e o homo-sexualismo — tais sero os meus temas fundamentais. Existe uma ligacéo organica entre a minha atragao pela traicéo, para a ocupacéo com roubalheiras e minhas aventuras amorosas" O autor, evidentemente, conhece o seu assunto. As pecas de teatro deste Jean Genét, largamente anunciadas, permanecem na cena parisiense e 0 préprio Jean Genat foi chamado insistentemente & América. Tal a "Ultima palavra", da filosofia burguesa. J € conhecido, pela experiéncia da nossa vitéria sobre o fascismo, a que impasse foram levados povos inteiros pela filosofia idealista. Agora, ela apareceu com sua nova natureza, abominavelmente suja, que reflete toda a profunda indignidade e baixeza do desmoronamento da burguesia. Caftens e criminosos elevados a categoria de fildsofos sao realmente a expresso extrema da ruina e corrupgao da burguesia. Essas forcas, contudo, ainda "esto vivas e séo capazes de envenenar a consciéncia das massas. hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 2228 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia A ciéncia burguesa contemporanea fornece ao clericalismo, ao fideismo, nova argumentag&o, que precisa ser implacavelmente desmascarada. Tomemos, por exemplo, a doutrina do astrénomo inglés Eddington sobre as constantes fisicas do mundo, que diretamente o conduz a mistica pitagérica dos nimeros e, das suas férmulas mateméticas, conclui tais "constantes essenciais" do mundo, como © apocaliptico numero 666, etc. Nao compreendendo a marcha dialética do conhecimento, a inter-relagéo das verdades absoluta e relativa, muitos continuadores de Einstein, transferindo certamente os resultados das investigagdes das leis do movimento de uma parte limitada e finita do universo para todo o universo infinito, chegam até a idéia de que o mundo é finito, até sua limitagdo no tempo e no espaco. O astrénomo Milne até "calculou” que o mundo foi criado ja ha 2 bilhdes de anos. Para esse sdbio inglés sao aplicdveis, quicd, as palavras de seu grande compatriota, o filésofo Bacon, sobre aqueles que transformam a impoténcia de sua ciéncia em caluinia contra a natureza. Igualmente, as manobras kanteanas dos fisicos atémicos da burguesia contemporanea, conduzem-os & concluséo Iégica sobre o "livre arbitrio" no eletrénico, as tentativas de interpretar a matéria téo somente como um conjunto de ondas, com o diabo a quatro. . Ai ha um campo colossal para a atividade dos nossos filésofos, que devem analisar e generalizar as conquistas das ciéncias naturais contemporaneas, lembrando-se da indicagao de Engels, de que 0 materialismo "deve se modificar segundo toda nova grande descoberta, que marque época nas ciéncias naturais.” (F. Engels — Ludwig Feuerbach, K, Marx e F. Engels, Obr, Compl., 7. XIV, pag. 647). A quem, ento, cabe essa tarefa, sendo a nés, do pais em que venceram o marxismo e seus fildsofos, de estar a frente na luta contra a putrefata e nojenta ideologia burguesa; a quem cabe essa tarefa, sendo a nés, de desfechar golpes destruidores! A Vitéria do Marxismo Das cinzas da guerra nasceram novos estados democraticos e 0 movimento de libertag&o nacional dos povos coloniais. O socialismo se impés na ordem do dia da, vida dos povos. A quem cabe a tarefa, sendo a nés, do pais em que venceram o socialismo e seus filésofos, de ajudar os nossos amigos e irmaos do estrangeiro e esclarecé-los na sua luta pela nova sociedade a luz do conhecimento do socialismo cientifico; a quem, sendo a nés, cabe a tarefa de esclarecé-los e equipd-los com as armas ideolégicas do marxismo! No nosso pais, realiza-se um poderoso florescimento da cultura e economia socialistas, O seguro crescimento da consciéncia socialista das massas apresenta sempre mais e mais exigéncias para o nosso trabalho ideolégico. hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 23128 o2/or2e2, 1951 Zhdanov: © Manksmo & a Revol na Flosoia Realiza-se um desenvolvido ataque contra as sobrevivéncias do capitalismo na consciéncia dos homens. A quem, sendo aos nossos fildsofos, cabe ia tarefa de estar & frente das fileiras de trabalhadores da frente ideolégica, de aplicar totalmente a teoria marxista do conhecimento na generalizagéo da imensa experiéncia da construgéio socialista e nas decisivas e .novas tarefas do socialismo! Em face desses magnos problemas, poder-se-ia perguntar: so os nossos filésofos capazes de assumir a responsabilidade de novas tarefas; existird ainda bastante energia entre os nossos fildsofos; nao se enfraqueceram ainda As forcas filoséficas, Seréo ainda capazes os nossos quadros filoséficos cientifico, por meio de suas forcas internas, de superar as falhas de seu desenvolvimento e reconstruir de novo o seu trabalho? Nesta questéo néo podem haver duas opinides. A discussao filoséfica mostrou que essas séo importantes, que essas forcas séo capazes de revelar as suas falhas para superd-las. E preciso apenas mais fé em suas prépria forcas, mais emprego dessas forcas nos ativos combates, no levantamento e solugdes dos empolgantes problemas contemporaneos. E preciso acabar com a falta de espirito de luta, ter mais dinamismo no trabalho; expulsar de si o caduco Ado e comesar a trabalhar como trabalhavam Marx, Engels, Lénin, como trabalha Stalin Camaradas, vés vos lembrais como Engels, em seu tempo, rejubilava-se e assinalava como importante acontecimento politico, de imensa significaco, a venda dos livros marxistas, cujas tiragens eram de 2 a 3.000 exemplares, Disto se conclui que para o nosso estaléo, ja é insignificante tal venda, da qual Engels deduzira que a filosofia marxista se havia enraizado profundamente na classe operdria. E que dizer sobre a penetracéo da filosofia marxista nas largas camadas do nosso povo e que diriam Marx e Engels se eles soubessem que os trabalhos filoséficos, entre nés, se propagam pelo povo em dezenas de milhées de exemplares? Esta a verdadeira vitéria do marxismo e isto é testemunha de que a magna doutrina de Marx—Engels—Lénin—Stalin tornou-se, entre nés, a doutrina de todo 0 povo e sobre essa base fundamental, de que no ha igual no inundo, deve florescer a nossa filosofia. Sede dignos de nossa época — época de Lénin—Stalin, época do nosso povo, povo vitorioso! Inicio da pagina As Tarefas dos Partidos Comunistas "0 perigo principal para a classe operéria consiste, atualmente, na subestimacao das préprias forcas e na superestimacio das forcas do adversério. Como no passado, a politica de Munich encorajou a agressio hitierista, também hoje as concessées 4 nova politica dos EE. UU. da América e do campo imperialista podem tornar os seus inspiradores ainda mals insolentes e agressivos. Por Isso, os Partides Comunistas devem pér- se & frente da resisténcia aos planos imperialistas de expansio e de agressSo em todos os campos: governativo, politico, econémico e ideolégico. Eles devem cerrar fileiras, unir os seus esforcos na base de uma plataforma anti-imperialista e democrética comum e reunir em torno de si as forcas democréticas patriéticas do povo.” ‘A. Zhdanov Do informe & Conferéncia dos Nove Partides Comunistas em Varsévia. hitpslvww-manists.ora/portuguesizhdanov/1947imesimanx’smo.him 2412s 21012029, 19:51 Zhdanov: 0 Marxismo & a Revolugdo na Filosofia Problemas REVISTA MENSAL DE CULTURA POLITICA incluso 19/07/2007 Utima alteragdo 11/03/2015 ntps:aew.mansists.orgiportuquesizhdanov!1947/mesimarxismo.him 25128

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