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Manual Prático de Física da Tomografia Computadorizada Multislice

Parâmetros versus Qualidade da Imagem e Dose de Radiação

Versão 2.0
Este manual foi desenvolvido com o objetivo de auxiliar os usuários de equipamentos
Siemens de Tomografia Computadorizada Multislice (TCMS) a compreender os principais
conceitos físicos utilizados neste método de imagem. Muitas vezes a complexa relação entre
os parâmetros de aquisição e reconstrução com a qualidade das imagens e dose de radiação
aplicada ao paciente faz com que os operadores tenham dificuldade em alterá-los, buscar
novas aplicações clínicas ou até mesmo otimizar os protocolos de exames.

Principais conceitos

Números de TC ou Unidades Hounsfield

O número de TC é um valor numérico associado a cada elemento de imagem (pixel) e é


usado para representar o valor de atenuação média do elemento de volume (voxel)
correspondente. Simplificando, esses números representam a densidade da estrutura, ou
atenuação dos raios-X ao passarem por um determinado material. Os números de TC são
normalmente apresentados como Unidades Hounsfield(HU), nome do inventor da
Tomografia Computadorizada que recebeu o prêmio Nobel em 1979.

Os valores da atenuação dos raios-X são transformados em números de TC usando a


equação a seguir:

(µ − µ água )
HU = 1000.
material

µ água

Onde, µ é o coeficiente de atenuação linear do feixe de raios-X.

O número de TC da água foi definido como referência e possui valor de HU igual à zero.
Materiais mais densos terão valor positivo de HU e os menos densos, negativo.
Normalmente os valores de HU são medidos de -1024 a +3071. Para a visualização de
estruturas muito densas, como metais cirúrgicos, os equipamentos Siemens permitem a
reconstrução das imagens em escala estendida, sendo a mesma multiplicada por dez (de
-10240HU até +30710HU).

Ruído

O ruído é aquele aspecto granulado que aparece na imagem de TC. Pode ser definido como
uma variação nos números de TC apresentados na imagem em relação ao valor médio,
quando medido em um material homogêneo. A causa principal desta variação é a flutuação
estatística ocorrida na interação dos fótons de raios-X com os detectores. Quanto menor for

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a quantidade de fótons chegando aos detectores, maior a flutuação estatística, aumentando
o ruído das imagens apresentadas. Pode ser verificado a partir do desvio padrão dos
números de TC dentro de uma região de interesse (ROI).

Em uma situação ideal, ao realizarmos exame em um objeto homogêneo, todos os pixels


apresentados na imagem deveriam possuir o mesmo valor de HU. Entretanto, no mundo
real, os valores dos números de TC sofrem variação.

A tabela abaixo resume estas características para o equipamento multislice, apresentando os


componentes e parâmetros que exercem influência sobre o ruído gerado nas imagens:

Geometria do equipamento Parâmetros da Aquisição Parâmetros da reconstrução

Tamanho dos detectores Colimação dos detectores Espessura de corte

Miliamperagem e tempo Filtro(kernel)


de rotação (mAs)

Tensão (kV) Matriz

Campo de visão (FOV)

O ruído é inversamente proporcional à raiz quadrada do número de fótons que chegam aos
detectores.

Ruído ∝ 1
n° Fótons

Resolução de baixo contraste

É a habilidade do sistema em diferenciar estruturas com densidade muito próxima à do meio


em que se encontra. A resolução de baixo contraste, também chamada de resolução de
contraste, é ruído dependente. Dessa forma, a maioria dos parâmetros que influenciam o
ruído das imagens também exerce influencia sobre a resolução de contraste. Lesões como
tumores hepáticos e pequenas lesões no parênquima cerebral necessitam ser avaliadas com
imagens de alta resolução de contraste, pois geralmente possuem uma densidade muito
semelhante à do tecido que as envolve. O operador do tomógrafo deve sempre buscar um
balanço ideal entre dose de radiação e qualidade de imagem, utilizando o protocolo ideal
para cada tipo de aplicação clínica.

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A tabela abaixo resume estas características para o equipamento multislice apresentando os
componentes e parâmetros que exercem influência sobre resolução de contraste nas
imagens:

Geometria do equipamento Parâmetros da Aquisição Parâmetros da reconstrução

Tamanho dos detectores Colimação dos detectores Espessura de corte

Miliamperagem e tempo Filtro(kernel)


de rotação (mAs)

Tensão (kV) Matriz

Campo de visão (FOV)

Resolução espacial ou de alto contraste

A resolução espacial pode ser descrita como a menor distância entre objetos pequenos que
podem ser visualizados na imagem, ou seja, a habilidade do sistema em diferenciar objetos
de alto contraste com tamanho reduzido. A resolução espacial geralmente é apresentada em
pares de linhas por centímetro (pl/cm). Quanto maior o número de pares de linhas visíveis
em um centímetro, maior a resolução espacial.

Muitos fatores contribuem para a redução da resolução espacial, alguns controláveis pelo
operador e outros característicos do projeto do Tomógrafo.

A tabela abaixo resume estas características para o equipamento multislice apresentando os


componentes e parâmetros que exercem influência sobre a resolução espacial nas imagens:

Geometria do equipamento Parâmetros da Aquisição Parâmetros da reconstrução

Tamanho do ponto focal Colimação dos detectores Espessura de corte

Filtro do feixe Pitch(equipamentos sem z-Sharp) Filtro(kernel)

Tamanho dos detectores Matriz

N° de fileiras de detectores Campo de visão (FOV)

Muitas vezes a combinação de mais de um parâmetro fazem com que uma imagem possua
alta resolução espacial. Um exame de alta resolução espacial é utilizado na avaliação de
estruturas de alto contraste, como a orelha interna, o parênquima pulmonar e vasos de
calibre reduzido.

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A resolução espacial nos eixos x-y (imagem axial) depende do tamanho do pixel e no eixo z
(ex. imagem coronal) depende da isotropia do voxel. A isotropia do voxel, está relacionada
às dimensões de cada face do mesmo, que são definidas simplificadamente pela espessura
do corte reconstruído e incremento de reconstrução. Entretanto, a matriz de reconstrução,
FOV e velocidade de movimento da mesa de exames exercem influência nas dimensões do
voxel.

Resolução temporal

Pode ser considerada a velocidade em que as imagens são adquiridas. Entretanto, nos
exames cardíacos, também podemos considerar a janela temporal em que as imagens são
reconstruídas. Nos exames convencionais o tempo de uma rotação de 360° é o que
determina a resolução temporal(RT) de uma aquisição. O tempo total da aquisição,
influenciado basicamente pelo pitch(relação entre a velocidade da mesa por rotação e a
colimação do feixe) e pelo número de fileiras de detectores utilizados, irá determinar a
resolução temporal de uma aquisição volumétrica como um todo. Aquisições com alta
resolução temporal são essenciais para estudos angiográficos, em crianças e pacientes
graves.

Para calcular a resolução temporal de uma aquisição cardíaca, basta dividir o tempo de
rotação mínimo do tubo por dois (RT= Trot/2). Para o equipamento Siemens “Dual Source”,
que possui dois tubos de raios-x, RT= Trot/4. Neste caso, com uma resolução temporal de
82ms elimina-se a necessidade do uso de betabloqueadores para reduzir a freqüência
cardíaca do paciente, uma vez que a RT é menor que o tempo de relaxação cardíaca mesmo
para freqüências altas. Para equipamentos com um único tubo de raios-X, pode-se utilizar
reconstruções multi-segmentadas para aumentar a resolução temporal em exames
cardíacos adquiridos no modo espiral retrospectivo. Este tipo de reconstrução utiliza apenas
uma parte das informações de cada ciclo cardíaco, entretanto, para freqüências cardíacas
instáveis, a qualidade das imagens pode ser prejudicada, uma vez que as artérias coronárias
estarão em posições diferentes a cada ciclo cardíaco.

A tabela a seguir resume estas características para o equipamento multislice que


influenciam na resolução temporal:

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Geometria do equipamento Parâmetros da Aquisição Parâmetros da reconstrução

Single ou dual source Tempo de rotação Uso de reconstrução


multisegmentada

Tamanho do tubo de raios-X Pitch

Tipo de Gantry

Resumo da relação dos paramentros de aquisição e reconstrução na qualidade das


imagens e na dose de radiação.

Tensão(kV)

A tensão utilizada numa aquisição determina o nível de energia de penetração dos fótons de
raios-X. A tensão exerce uma influência maior na dose de radiação do que a miliamperagem
(mAs). A figura abaixo apresenta a relação da tensão com a dose relativa.

Eixo X: Tensão (KV)

Eixo Y: Dose Relativa

Ao reduzirmos o kV de uma aquisição, com o mAs constante, ocorre um aumento no ruído


das imagens e redução da dose de radiação, entretanto, o contraste das imagens aumenta
significativamente, principalmente nos estudos com uso do meio de contraste iodado.
Assim, em exames de angiotomografia e estudos pediátricos é recomendado usar uma
tensão mais baixa como 80 ou 100kV. A maioria dos equipamentos atuais permite que se
utilizem tensões variadas, como de 80, 100, 120 e 140 kV. O aumento no contraste ocorre,
pois a forma como os fótons são atenuados depende da energia dos mesmos e da

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densidade do material. O efeito fotoelétrico (EF) determina a absorção dos fótons de raios-x
e é inversamente proporcional à energia (E) ao cubo e diretamente proporcional ao número
atômico do material elevado à quinta potência.
1
EF ∝ EF ∝ Z
5
3
E
Assim, regiões anatômicas que estiverem preenchidas por meio de contraste atenuarão
muito mais os fótons de baixa energia do que as estruturas menos densas, conforme as
figuras abaixo.

A Figura abaixo mostra imagens em um simulador com contraste iodado realizadas com
diferentes valores de tensão. O mAs foi alterado proporcionalmente para que o ruído nas
imagens permanecesse constante. Observe que a janela de visualização é a mesma,
entretanto o contraste da imagem aumenta significativamente com a redução da tensão.

Ao realizarmos uma aquisição com diferentes valores de tensão para um mesmo mAs, o
resultado são imagens com diferentes níveis de ruído. As imagens abaixo foram adquiridas
com tensões de 140 kV, 120 e 80 kV, respectivamente, e com uma miliamperagem
constante de 100mAs. Observe que o nível de ruído aumenta gradativamente.

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Carga transportável (mAs)

O mAs é um produto da corrente do tubo de raios-x pelo tempo de exposição, no caso da


tomografia, tempo de rotação completa do tubo de raios-X. Nos equipamentos Siemens
SOMATOM o mAs utilizado em aquisições espirais é apresentado como mAs Efetivo
(mAsEff). O mAsEff é igual ao mAs por rotação dividido pelo pitch(relação entre a
velocidade da mesa de exames por rotação de 360° do tubo e a colimação do feixe de
raios-X utilizada). Este parâmetro foi introduzido para evitar que a alteração do pitch de uma
aquisição exerça influência na dose de radiação e qualidade das imagens (Conceito Siemens
SureViewTM). O aumento do mAs aumenta a dose de radiação no paciente e reduz o ruído
das imagens, aumentando a resolução de contraste. Para reduzir o ruído pela metade é
necessário aumentar quatro vezes o mAs, conforme a equação abaixo.

Ruído ∝ 1
mAs

O gráfico a seguir apresenta a relação do mAs com o ruído nas imagens.

Eixo X: mAs,

Eixo Y: Ruído

As imagens abaixo foram adquiridas em um simulador com um mesmo valor de tensão,


entretanto com diferentes valores de mAs, 60, 100 e 200. Observe que o nível de ruído
reduz significativamente da esquerda para a direita.

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Algumas aplicações podem ser realizadas com valores reduzidos de mAs, como exames de
colonoscopia virtual, uroTC, tórax, seios paranasais e principalmente estudos pediátricos.

Para evitar que o ajuste da dose de radiação se tornasse operador dependente, a Siemens
desenvolveu um sistema automático de modulação da corrente do tubo de raios-X que
adapta o valor do mAs angularmente durante a rotação do conjunto tubo-detectores de
acordo com o formato anatômico e densidade no eixo X-Y e ao longo do eixo Z. Este sistema
é chamado comercialmente de CareDose4D e será explicado com maior detalhe a seguir.
Para exames cardíacos foi desenvolvido um algoritmo que modula a corrente do tubo de
acordo com o batimento cardíaco do paciente, reduzindo-a durante a sístole e aumentando
durante a diástole, fase em que as artérias coronárias geralmente são analisadas.

Funcionamento do Sistema de Modulação CareDose4D e ECG-Pulsing:

CareDose4D

Este sistema automático adapta a dose de radiação para o tamanho de cada paciente e
modula a corrente do tubo de raios X nos eixos X-Y e Z, ou seja, em relação à angulação do
tubo de raios X e ao movimento longitudinal da mesa de exames, respectivamente. O
CareDose4D pode ser utilizado na grande maioria dos protocolos de exame, e o seu ajuste
pode ser efetuado facilmente.
O mAs de Referência(mAsReff) é o parâmetro que irá definir a qualidade das imagens(nível
de ruído) e o mAs efetivo (mAs Eff) o valor da miliamperagem que realmente será utilizada
para um determinado paciente ou região pelo qual o feixe de raios-X está passando. Dessa
forma, o mAsReff deve ser definido uma única vez juntamente com o médico, para um
paciente de médio porte, para avaliar se a qualidade das imagens está adequada. Caso o
nível de ruído esteja muito elevado (imagem muito granulada) o valor do mAsReff deve ser
aumentado em aproximadamente 10 a 20%. Uma vez definido o valor ideal para este grupo
de pacientes, este deve ser salvo no protocolo de exame e não deve ser alterado durante os
próximos exames. Para pacientes de diferentes tamanhos o CareDose4D automaticamente
ajustará a dose para manter sempre a mesma qualidade previamente definida pelo mAsReff
para um paciente de médio porte.

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Exemplo:
Para um exame de tórax com CareDose4D ligado:
Se o mAsReff=100
mAsEff= Será automaticamente ajustado no momento em que os cortes forem
programados.
Paciente com um alto Índice de Massa Corpórea(IMC) o mAsEff será ajustado para um valor
acima de 100 e para paciente com baixo IMC será ajustado para um valor menor que 100,
além de adaptar “online” durante a aquisição conforme a região anatômica.

Dicas importantes:
- O valor da Tensão(kV) utilizada no topograma deve ser o mesmo da aquisição, para que o
sistema reconheça adequadamente a densidade da região estudada(apenas para syngo
2006). Nas versões mais atuais do software o valor da tensão usada no topograma pode
ser diferente da aquisição.
- O equipamento utiliza o topograma para ajustar o mAsEff. Nunca realizar topograma com
os braços do paciente para cima e aquisição com braços ao lado do corpo baseada no
mesmo topograma.
- Caso a aquisição exceda o final do topograma, o mAsEff permanecerá fixo a partir da
última informação.
- Não alterar o valor do mAsEff para diferentes tamanhos de pacientes, este será ajustado
automaticamente pelo equipamento.
- Sempre posicionar o paciente no isocentro do Gantry.

ECG-Pulsing
Este sistema é utilizado exclusivamente em aquisições sincronizadas com o ECG do paciente.
O equipamento realiza uma modulação da dose de radiação dependente da fase do ciclo
cardíaco, ou seja, na fase sistólica, a dose é reduzida em 80% e durante a diástole,
permanece no seu valor máximo definido. O CareDose4D pode ser associado ao ECG-
Pulsing, adaptando ao máximo a dose de radiação para cada paciente. Neste caso, o sistema
não realiza a modulação online no eixo-Z, apenas determina o mAsEff ideal para o paciente
baseado no topograma.

A partir da versão 2007 de software, o ECG-Pulsing foi transformado em Adaptive ECG-


Pulsing, se tornando muito mais robusto e podendo ser usado para todos os pacientes,

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independente da freqüência cardíaca. No Adaptive ECG-Pulsing é possível determinar a
janela temporal em que será utilizada a dose máxima.

Exemplo:

Se o mAsReff=850, o mAsEff será automaticamente ajustado no momento em que os cortes


forem programados pelo CareDose4D.
Paciente com um alto Índice de Massa Corpórea(IMC), o mAsEff será ajustado para um valor
acima de 850 e para paciente com baixo IMC será ajustado para um valor menor que 850.

O ECG-Pulsing irá partir do valor ajustado pelo CareDose4D para modular a dose de acordo
com a fase do ciclo cardíaco.

A tecnologia Adaptive ECG-Pulsing permite que a modulação de dose possa ser utilizada em
todos os pacientes, mesmo com arritmias ou extra-sístoles, pois esta tecnologia exclusiva da
Siemens, faz com que o equipamento monitore, detecte e corrija a dose de radiação durante
variações na freqüência cardíaca do paciente. Além disso, é possível ajustar a janela
temporal em que o equipamento utilizará dose máxima. Por exemplo, se o paciente estiver
com uma freqüência estável, podemos definir uma janela de alta dose de 60 a 60%, ou seja,
o equipamento utilizará dose máxima apenas na fase correspondente a 60% do intervalo R-
R. Na prática, o equipamento deixa uma “folga” de alta dose de aproximadamente 10% para
cima e 10% para baixo do valor definido, como margem de segurança. As imagens que
forem reconstruídas fora da faixa de alta dose terão um maior nível de ruído, entretanto,
para avaliação da função cardíaca, este padrão não traz alterações nos resultados.

Colimação dos detectores

Ao realizarmos uma aquisição em um equipamento singleslice, utilizamos o termo espessura


de corte, uma vez que a espessura adquirida não pode ser alterada após o exame para a
reconstrução das imagens a partir dos dados brutos (RAW data). Com a introdução dos
equipamentos multislice, passou-se a utilizar o conceito de colimação dos detectores, pois a
espessura mínima do corte reconstruído passou a depender da forma como os detectores
foram colimados. Em um equipamento de 16 cortes, caso seja selecionada a colimação de
16x0.6 mm, será possível reconstruir cortes com espessura mínima de 0.6mm. Já na opção
16x1.2 mm só é possível reconstruir cortes de no mínimo 1.5 mm. Nos equipamentos de 16
cortes, como o usado no exemplo abaixo a eficiência do feixe é maior ao usar a colimação

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de 1.2 mm, permitindo uma aquisição mais rápida, com uma menor dose de radiação.
Entretanto, a resolução espacial é inferior à obtida com colimação de 0.6 mm. Para exames
de estruturas anatômicas maiores, que não exijam uma resolução espacial tão alta, é
recomendado o uso da colimação de 1.2 mm, pois o uso de detectores maiores produzirão
um menor nível de ruído nas imagens, aumentando a resolução de contraste, com uma
menor dose de radiação correspondente. Exames de abdômen e pediátricos são exemplos
ideais.

Pitch

O pitch representa uma relação entre a velocidade da mesa de exames por rotação de 360°
do tubo e a colimação do feixe de raios-X utilizada. Ou seja:

Pitch = Velocidade mesa por rotação (mm) / cobertura no eixo Z (mm)

Quando a mesa se movimenta a uma velocidade igual à cobertura no eixo Z, o pitch é igual
a 1, não ocorrendo sobreposição das informações. Para valores inferiores a 1, ocorre a
sobreposição dos dados adquiridos, permitindo uma redução do mAs utilizado sem alterar o
nível de ruído nas imagens, entretanto, com um aumento no tempo da varredura. As
imagens abaixo demonstram graficamente a aquisição com pitch de 0.5, 1.0 e 1.5,
respecitivamente.

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Os equipamentos Siemens SOMATOM permitem que o operador selecione qualquer valor de
pitch entre 0.18 e 2.0, dependendo do modelo do tomógrafo .A dose de radiação não sofre
alteração, diferentemente dos equipamentos helicoidais singleslice ou equipamentos de
outros fabricantes. A Siemens trabalha com o conceito de mAsEff, como já foi discutido
anteriormente. Com esta característica, apenas o tempo da aquisição sofre alteração com
diferentes valores de pitch, entretanto, o ruído e a dose de radiação permanecem
constantes. Equipamentos com a tecnologia z-sharp permitem a aquisição com pitch de até
1.4 sem nenhuma perda de resolução espacial no eixo Z.

Nos exames cardíacos o pitch deve ser adaptado à freqüência cardíaca do paciente para
evitar artefatos devido à falta de informação. Por este motivo, nos equipamentos Sensation
40 e 64, estão disponíveis três protocolos com diferentes valores de pitch. Para pacientes
com freqüência cardíaca menor que 50 bpm, o protocolo ideal utiliza pitch de 0.18,
pacientes com freqüência acima de 50 bpm, o pitch é 0.2. Para aquisições mais extensas
pode-se utilizar o pitch de 0.3, entretanto a freqüência cardíaca não pode ser inferior a
60bpm. Na nova família de equipamentos SOMATOM Definition é possível adaptar
perfeitamente o pitch para a freqüência cardíaca no momento do exame. Abaixo está
demonstrado graficamente o valor ideal do pitch em relação à freqüência cardíaca do
paciente para o equipamento Definition Dual Source (1) e Definition AS (2).

Espessura de corte

Atualmente, a imagem visualizada com uma determinada espessura de corte não


corresponde necessariamente à colimação do detector utilizada. Os equipamentos multislice
permitem que diversas espessuras de cortes possam ser definidas após a aquisição, desde
que superiores ou iguais ao tamanho do detector utilizado.

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A espessura de corte possui uma relação com o nível de ruído apresentado nas imagens, ou
seja, quanto menor a espessura do corte reconstruído maior o nível de ruído. A resolução
espacial aumenta e a resolução de contraste diminui com a redução da espessura do corte.
Por este motivo, exames de estruturas de alto contraste e tamanho reduzido, como a orelha
interna, devem ser estudadas com cortes finos, diferentemente do fígado, em que as lesões
geralmente possuem pouca diferença de contraste em relação ao parênquima hepático. As
figuras abaixo mostram a relação contraste-ruído com espessuras de corte de 0.75(1) e 5.0
mm(2).

No exemplo abaixo fica evidente a resolução espacial superior na imagem 1, reconstruída


com 0.6 mm de espessura, em relação à imagem 2, com 3.0 mm de espessura.

Para reconstruções volumétricas em três dimensões é recomendado o uso de cortes finos


com sobreposição de no mínimo 30%(incremento de reconstrução inferior à espessura do
corte, ex. 1.0 mm de espessura com 0.7 mm de incremento). Dessa forma se torna possível
obter voxel istrópico, ou seja, a imagem não sofre distorção ao ser reconstruída em um
plano diferente do adquirido, ou em três dimensões. A imagem 1 abaixo foi reconstruída a
partir de cortes de 0.75 mm de espessura, com incremento de 0.5 mm. Já a imagem 2 foi
reconstruída a partir de cortes de 5.0 mm de espessura com incremento de 2.5 mm.
Observe que a imagem 2 possui uma grande perda de nitidez em relação à imagem 1.

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A espessura do corte também pode ser alterada na workstation ao serem realizadas
reconstruções multiplanares (MPR), por exemplo. Muitas vezes um pequeno acréscimo na
espessura do corte das imagens reconstruídas em outro plano, reduzem consideravelmente
o nível de ruído das imagens sem uma perda significativa de resolução espacial, como
mostra o exemplo abaixo. A Imagem da direita foi reconstruída com a espessura original
gerada no equipamento, de 0.75 mm (MPR Thin) e a imagem da esquerda com uma
espessura de reconstrução de 2.0 mm (MPR Thick).

Filtro ou algoritmo de reconstrução

O filtro de reconstrução das imagens é representado por um conjunto de cálculos realizados


a partir das informações contidas no RAW data, correspondente aos coeficientes de
atenuação linear de cada tecido. Assim, dependendo do filtro utilizado, a imagem apresenta
uma maior definição ou suavização de bordas, ou seja, uma maior ou menor resolução
espacial. O nível de ruído também é alterado com a alteração do filtro de reconstrução.
Abaixo segue a nomenclatura utilizada pela Siemens para os filtros de reconstrução:

• H: padrão para crânio, do inglês Head;

• B: padrão para corpo, do inglês Body;

• U: padrão para alta resolução, do inglês Ultra high resolution;

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• C: padrão para crânio em criança, do inglês Child head;

• S: padrão para aplicações especiais, do inglês Special applications;

• D: padrão para duas energias, do inglês Dual energy.

Os números representam a intensificação do filtro utilizado, sendo o de número 10 o


mais suave de todos e o 90 o mais intensificado, ou seja, quanto mais baixo, mais
adequado para partes moles, e quanto mais alto, mais adequado para osso ou aplicações
de alta resolução. A imagem reconstruída apresenta uma letra seguida de um número e
de outra letra, “H30s”, como no exemplo abaixo. A letra após o número representa o
modo de reconstrução. “s” para standard, “f” para fast, “h” para high resolution. As
demais letras e números informam qual o foco utilizado no tubo de raios-X, etc. Esta
linha de informações é conhecida como “physicist line”.

A tabela abaixo resume os números dos filtros com suas características:

Aparência da imagem Valores típicos do filtro Aplicação

Suavizada 10 – 20 Reconstrução 3D, redução do nível de


ruído em cortes finos

Média 30 – 50 Visualização de partes moles

Intensificada 60 – 70 Pulmão e estruturas ósseas

Alta resolução 80 – 90 Estruturas pequenas, alta resolução da


orelha interna

A grande diversidade de filtros pode ser utilizada para adequar a qualidade da imagem
ao “gosto” de cada Serviço. Vale salientar que o filtro de reconstrução não exerce
influencia sobre a aquisição das imagens, podendo ser alterado após o término do
exame, desde que os dados brutos do estudo não tenham sido apagados. Para
reconstruções tridimensionais recomenda-se sempre utilizar filtro baixo, o que reduz o

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nível de ruído das imagens como está demonstrado nas imagens abaixo. Imagem 1,
filtro B20f. Imagem 2, filtro B70f.

Por outro lado, nas medidas do grau de estenoses e avaliação de Stents recomenda-se
filtros intermediários, para obterem-se bordas mais bem definidas.

Campo de visão (FOV)


O FOV determina a área da anatomia que será apresentada na imagem, sendo que as
dimensões da mesma são determinadas pelo tamanho da matriz utilizada. Uma relação
entre o FOV e matriz determina o tamanho do pixel da imagem e, consequentemente, a
resolução espacial. Assim:
Pixel = FOV/Matriz
Para obtermos um volume de imagens com voxel isotrópico devemos utilizar um FOV
que determine o tamanho do pixel proporcional à espessura do corte reconstruído. Por
exemplo, para uma reconstrução de cortes de 0.6mm, necessitaremos de um pixel de
0.6mm para formar o voxe isotrópico. Dessa forma, o FOV deve ser igual à 307.2 mm.
Usando a equação acima, 0.6 = FOV/512;
Logo, FOV = 0.6 x 512 = 307.2

A redução do FOV nunca deve ser substituída pela simples magnificação das imagens, o
que causa ampliação do tamanho do pixel e conseqüentemente redução da resolução
espacial como mostra as imagens abaixo. Imagem 1: reconstrução com FOV reduzido.
Imagem 2: magnificação de imagem reconstruída com FOV ampliado.

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Tabela Resumo:

Ruído Res. Res. Res. Dose de Radiação Desgaste do Tubo de RX


Espacial Constraste Temporal

Aumentar a Tensão (kV) Reduz - Reduz - Aumenta Aumenta

Aumentar a Corrente do Tubo


Reduz - Aumenta - Aumenta Aumenta
(mA)

Aumentar o Tempo de Rotação


Reduz - Aumenta Reduz Aumenta Aumenta
(s)

Aumentar o Pitch - Reduz (Z) - Aumenta - -

Colimação mais Fina Aumenta Aumenta Reduz - Aumenta Aumenta

Aumentar a Matriz Aumenta Aumenta Reduz - - -

Aumentar o Filtro (kernel) Aumenta Aumenta Reduz - - -

Aumentar o FOV Reduz Reduz Aumenta - - -

Aumentar a Espessura de
Reduz Reduz Aumenta - - -
corte(reconstrução)

Aumentar o Incremento de
- Reduz Eixo Z - - - -
Reconstrução

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Elaboração Físico José Augusto Marconato
Especialista de Soluções clínicas TC– H1
SIEMENS Healthcare

Data de elaboração: 09/2008


Versão 2.0

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