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DEPRESSÃO:

ENTENDER
PARA VENCER

com Rodrigo Bressan


RODRIGO BRESSAN
É presidente do Instituto Ame Sua Mente cujo propósito é
mudar a cultura sobre saúde mental no Brasil reduzindo o
preconceitos. Psiquiatra e professor livre docente da UNIFESP
e do King’s College London, é autor de mais de 300 artigos
científicos internacionais de ponta, e de vários livros, entre
eles “Saúde Mental na Escola – o que os educadores precisam
saber”. Coordenador de pesquisa do Instituto Nacional de
Psiquiatria do Desenvolvimento e coordenador do Projeto
Conexão – mentes do futuro com publicações científicas
de ponta na área da infância e adolescência sobre depressão
na adolescência.
AULA 1

O QUE É DEPRESSÃO

A depressão é uma psicopatologia em evidência no século 21, uma condição


confirmada após diagnóstico psiquiátrico e que se caracteriza por um estado
de humor depressivo, pela diminuição da volição e dos prazeres da vida.
É uma condição definida por um especialista a partir do uso de técnicas clínicas
de anamnese, em outras palavras, no exercício de ouvir, de trazer à tona os
sentimentos internalizados em uma entrevista proposta pelo profissional
de saúde.

Alguns sintomas psicológicos fundamentais são a elevação da ansiedade,


a inquietação, certo catastrofismo apresentado ao se deparar com certas
situações, graus de culpabilidade, desesperança e de um vazio interior. Porém,
não é somente na esfera psicológica que esta patologia acomete. Temos, por
exemplo, a dimensão cognitiva da depressão, que afeta principalmente a
fixação da memória, as funções de concentração e atenção, contribuindo
para uma maior dificuldade na tomada de decisões, sejam elas importantes
ou não.

O estado depressivo gera um estado em que a pessoa que sofre desta condição
se sinta, de certa forma, “em carne viva”, exposta, sensível, tomando uma posição
e um lugar reativo, de incômodo, mais suscetível ao isolamento social e a fatores
de irritabilidade. Outra dimensão importante acometida por sintomas é a esfera
física (efeitos fisiológicos), sendo muito comum apresentar variações no sono e
na alimentação. A diminuição da libido, associada a falta de apetite sexual também
é um sintoma e, por fim, a dor se configura como outro sintoma importante
e decisivo no entendimento da depressão - a condição está associada a uma
queda no limiar da dor, uma vez que o lidar com a dor se configura como algo
subjetivo, pessoal.

Ao tratarmos de saúde mental é necessário entender que todos estamos negociando


nossa saúde mental o tempo todo, passando por momentos positivos e/ou negativos,
a depender das situações, das imposições, das pressões. A pessoa que apresenta
um quadro depressivo muitas vezes demonstra certas dificuldades em superar
determinados acontecimentos e situações mentais. O papel do psiquiatra nestes
casos seria o de perceber estes sinais e sintomas supracitados, e também, perceber
quais são os estímulos do ambiente, se a intensidade do que a pessoa está vivendo é
proporcional ao estímulo aversivo, a duração e os eventuais fatores desencadeantes.
É fundamental entender a importância desta e de outras condições psicopa–
tológicas, tendo em vista que o diagnóstico tem diversos papéis importantes,
como instigar o conhecimento e o estudo das características e das sutilezas
dos casos, bem como para viabilizar tratamentos, alternativas, diminuir o
sofrimento, viabilizar superação e contribuir para o entendimento social da
depressão, como visto no vídeo indicado “I had a black dog, his name was
depression” postulado pela OMS.

A serotonina, neurotransmissor responsável pelas funções de humor e ligada


a processos de fixação de memória, muitas vezes é associada de forma equivocada
a depressão, uma vez que os fármacos utilizados no tratamento aumentam
a sua biodisponibilidade nas fendas sinápticas e estão associados a melhora
no humor. Entretanto, esta visão acaba por simplificar e mecanizar os processos
mentais e a visão acerca da depressão, tendo em vista que o cérebro funciona
por meio de complexas redes neurais, ora associada ao córtex pré-frontal
e as suas funções (raciocínio, planejamento, sociabilidade, atenção e etc.) ora
ligada ao sistema límbico, mais precisamente a Amígdala, responsável pelas
sensações (positivas e negativas) ao medo e a ansiedade.

A depressão é uma condição em evidência dado seu caráter biopsicossocial,


por ser uma patologia de potencial incapacitante. Cerca de 1 a cada 20 pessoas
com depressão tem um alto nível de incapacitação, seja de capacidade laboral
ou de lidar socialmente - isto equivale a 5% dos casos. Dos transtornos mentais
dos adultos, 50% começam antes dos 14 anos e 75% antes dos 24 anos. A melhor
forma de se medir este potencial de incapacitação é pela esperança de vida
ajustada pelas incapacidades (DALE). Entre 14 e 45 anos, a depressão é a principal
causa de incapacitação nas Américas, Europa, Ásia e Oceania, só não no continente
africano, onde há prevalência de outras patologias.
AULA 2

ENFRENTANDO O SOFRIMENTO

Neste encontro foram abordadas as formas de enfrentamento da depressão,


quais as melhores estratégias e os cuidados mais assertivos para tratar essa
psicopatologia. O primeiro passo é realizar um diagnóstico diferencial, entender
quais são os sinais e a presença dos principais sintomas cardinais da depressão:
o humor depressivo, a falta de prazer, a perda de controle e de decisões, a vida
perdendo o sentido e, muitas vezes, as ideações suicidas.

É importante salientar que todas as pessoas passam por experiências de tristeza,


mas não necessariamente vão apresentar casos depressivos. O que diferencia
as duas coisas é a duração, por isso é necessário entender qual a intensidade
dos sentimentos. Portanto, só a partir do diagnóstico de um profissional médico,
com critérios bem determinados, é possível apontar qual tipo de depressão
a pessoa avaliada possui.

A depressão é classificada entre: leve, moderada e grave (a partir da intensidade


dos sintomas e do impacto na vida do indivíduo). Com relação ao tratamento
da psicopatologia da depressão, há uma série de opções que podem ser aliadas
no combate: intervenções no estilo de vida, psicoterapia, medicamentos,
eletroconvulsoterapias e outras técnicas.

A atividade física apresenta intensa função terapêutica, já que pessoas que


sofrem de quadro depressivo apresentam redução da disposição. Para quem
apresenta um modo de vida sedentário isso pode ser um sacrifício, portanto
aliar um personal trainer pode ser positivo, ao passo que o instrutor coordena
um plano de exercícios adaptados individualmente.

Estudos durante treinos de musculação e que avaliam os sintomas depressivos,


ajudam a entender mais sobre neurotrofinas, que contribuem para a plasticidade
do cérebro. O que se observou é que os que participavam dos exercícios de
carga tinham aumento de neurotrofina e diminuição dos sintomas depressivos
em comparação aos que não realizavam este tipo de treinamento. É fundamental
entender que a atividade física impacta positivamente o cérebro pela própria
forma como ela funciona.

O sedentarismo impacta negativamente o corpo de diversas maneiras, sobretudo


do ponto de vista mental e cerebral, além de aumentar a vulnerabilidade para
outras patologias. Para cada tipo de gravidade de depressão há uma intensidade
de atividade desejada.
A preservação/manutenção (higiene do sono), é fundamental também para
tratar a depressão. Ir dormir ao sinal de sono, tirar qualquer estimulante que
possa prejudicar a integridade deste sono, retirar distrações como redes sociais
e telefones celulares também são propostas interessantes.

Utilizar maconha ou álcool para dormir pode de fato induzir ao sono, entretanto
a piora na qualidade do sono pode ser uma consequência, uma vez que o sono
REM (Rapid eye movement), responsável pela consolidação da memória, pode
ser prejudicado. Dormir fora do horário, com estímulos externos (como luz,
movimentações, barulhos e celular) também são prejudiciais. Meditação e
atividades de centramento, que buscam melhorar a atenção e o foco, provocam
melhora dos sintomas de estresse e depressivos.

Procurar suporte com pessoas próximas para também contrastar as opiniões,


uma vez que a pessoa, quando apresenta quadros depressivos, pode apresentar
comportamentos cristalizados.

As psicoterapias são acompanhamentos terapêuticos, visando uma articulação


com outras técnicas de tratamento. Tratam-se de técnicas aceitas e padronizadas,
com diferentes escolas e modos de encarar as situações:

• Terapia Cognitiva Comportamental: há o controle de estímulos e respostas,


tendo boa eficácia, sobretudo nos casos sem medicação para tratamento
da depressão leve;

• Terapia Interpessoal: se apresenta de forma mais breve, propõe uma


intervenção em etapas, uma reflexão sobre as formas como se lida com
os estímulos aversivos e conflitos;

• Psicanálise: intervenção que busca entender os motivos das neuroses,


em uma relação diferente, onde a postura do terapeuta com o paciente
e vice-versa são eficientes para explicar as formas como operamos.

Muitas vezes temos um olhar estigmatizado sobre o paciente, encarado como


“corpo mole”, ou alguém que releva os sintomas, bem como o tratamento é
muitas vezes visto com um olhar enviesado. Frequentemente, ao se tratar de
medicações para depressão, um questionamento comum é o de que ela pode
mudar na pessoa seu “jeito de ser”, o que pode acontecer, sendo necessário
mudar a medicação.

A fluoxetina, inserida no Brasil na década de 1980-90 e conhecida como “pílula


da felicidade”, foi um marco para o tratamento da depressão leve, uma vez
que as medicações usadas antigamente apresentavam mais efeitos colaterais.

O uso de medicação apresenta até 80% de eficácia no tratamento de depressões


leves e não requer doses muito altas para isso. Em casos moderados e graves é
mandatório o uso de medicação. Portanto, para casos de depressão moderada
e moderadas-grave, o melhor tratamento para a depressão é associar as medicações
a psicoterapias e modificações no estilo de vida.
Um dos principais fármacos são os inibidores seletivos de recaptação de
serotonina, que atuam de forma a bloquear o transportador do neurotransmissor,
evitando sua recaptura e aumentando a disponibilidade na fenda sináptica.
Este tipo de medicamento altera a transmissão dos neurônios regulados pelo
sistema serotonérgico, modulando algumas redes de informação no cérebro.

É indispensável salientar a importância de se associar as medicações à psicoterapia,


já que essa combinação é sinérgica na promoção de uma nova organização cerebral.

A ajuda da família é muito importante. É necessário apoio e a cooperação dos


familiares, e não os jogos de culpa, para entender de forma mais assertiva
a doença e como funciona o tratamento. A pessoa deprimida já está frustrada,
com um nível de exigência muito alto. Para ajudar é preciso entender, lidar
com os conflitos internos e tentar minimizar os efeitos colaterais. Compreender
que estes efeitos fazem parte contribui muito para um tratamento melhor.
AULA 3

A ROTINA ESTÁ NOS ADOECENDO?

Neste encontro foi abordado como o ambiente influencia na saúde mental


e como alguns eventos traumáticos podem acarretar em quadros de depressão.
Nosso cérebro é formado a partir do estabelecimento de novas interações,
com as emoções reguladas no contato com o outro, com a família. Conforme
o tempo passa e o indivíduo vai se constituindo e se formando, suas relações
vão se tornando cada vez mais sofisticadas nos contatos sociais com a cultura,
impactando diretamente as vivências da realidade.

No Toyotismo, sobretudo durante o neoliberalismo, as relações sociais estão


articuladas com a tecnologia e isto configura uma fonte de cansaço físico,
mental e psicológico, influenciando diretamente nossa sensação de recompensa
e nossa vontade. Dentro de cada cultura existem também seus tipos de eventos
traumáticos, com impactos não só no indivíduo, como também na sociedade
que habita.

No caso da pandemia, um evento traumático generalizado entre diferentes


culturas, alguns elementos fundamentais são observados: o aumento das
incertezas diante das ameaças da situação em si e da patologia, ondas de
transtornos mentais associados à pandemia, juntas a mudanças de hábito,
a estar fora de um status de conforto. Desta forma, a saúde mental passa por
constantes processos de negociação pessoal para se estabilizar. É importante
salientar que vivenciamos todos os dias mudanças e estresse, porém, ao atingirmos
certo nível, necessitamos criar estratégias de enfrentamento para evitar atitudes
descompassadas.

Em alguns casos de depressão é possível observar a variação circadiana de


humor, uma alteração de humor decorrente da não adaptação ao ritmo biológico
natural. Estas variações circadianas podem dificultar a percepção da pessoa
sobre estar doente e gerar um olhar catastrofista, construindo cenários negativos
para o futuro. Essa condição piora ao adicionarmos a condição de incerteza e
xperimentada durante a pandemia.

Ao tratarmos do ambiente de trabalho, onde passamos a maior parte do nosso


tempo, sobretudo na vida adulta, um ponto que contribui para o acúmulo de
estresse é a complexidade hierárquica dos ambientes organizacionais. A forma
como se trabalha e a relação pessoal com o que se faz tem grande impacto
também, seja para acúmulo ou para diminuição desse estresse, evidenciando
certas vulnerabilidades e desgastes, esgotamentos, vistos por exemplo em
casos de burnout.
Trabalhar em casa pode ser problemático, já que um ambiente de descanso
passa a ser um local de trabalho. Porém, um ponto a favor é a otimização do
tempo, uma vez que os estímulos externos (como trânsito, acidentes de percurso
etc) deixam de ser um fator estressante. Outros pontos fundamentais são as
divisões de tarefas e os horários, sobretudo em relação às figuras femininas,
com as imposições de uma cultura machista, de uma jornada muitas vezes
dupla ou tripla.

Existem alguns pontos do ambiente corporativo que são fundamentais para


que o indivíduo tenha uma melhor saúde mental: a possibilidade de tratar as
condições envolvendo a saúde mental, desmistificar os problemas, diminuir
os estigmas das pessoas acometidas, permitir que as pessoas possam apresentar
estas condições em uma postura mais aberta, ouvir os relatos dos funcionários,
ter abertura para tratamentos, a fim de que não só o indivíduo, mas também
a empresa divida a responsabilidade das condições lá experienciadas.

Alguém que tem na sua identidade algo que ela faz, como por exemplo o trabalho,
sente muito mais desgaste e exaustão pois afeta em diversos âmbitos. Portanto,
buscar ambientes onde você se sinta parte dos processos, que você goste das
suas funções atribuídas é fundamental para uma saúde mental melhor.
AULA 4

ADOLESCENTES NA PANDEMIA:
TELAS, REDES SOCIAIS E SOFRIMENTO
Por que há tantos jovens deprimidos? Quais os principais dilemas e conflitos
que podemos observar na atualidade e quais os pontos pertinentes para esta
reflexão? A cultura é determinante para entendermos de que forma funcionamos,
as maneiras como trabalhamos e entendemos o mundo que modela nossa
saúde mental. Os jovens, sobretudo, são altamente impactados pelas exigências
das culturas que estão inseridos, já que buscam aceitação em seus meios
sociais incansavelmente.

A exposição nas redes sociais, especialmente dos jovens e adolescentes, vem


acompanhada de uma produção subjetiva mais superficial. Para alguns, esta
exposição já foi naturalizada e os jovens lidam bem com este ambiente; para
outros, é alvo de tristeza e desespero que pode acarretar em depressão. Os jovens,
sobretudo as mulheres, estão mais suscetíveis às questões da contemporaneidade.

Os celulares ajudam pela praticidade e pela disponibilidade tanto de conteúdo,


quanto de informações. Estudos demonstram que ao realizarmos uma tarefa
com atenção dividida com o celular, nossa capacidade cognitiva e de atenção
é reduzida - passamos em média de duas a quatro horas nas redes sociais por
dia, com o número aumentando por conta da pandemia e do isolamento social.

Existem alguns problemas relacionados às mídias sociais e um deles é a idealização


dos comportamentos, dos padrões de beleza e dos estilos de vida. Conectados
às redes constantemente, não apenas os adolescentes, mas também crianças
e adultos acabam por buscar, diariamente, a produção de uma realidade virtual
que se demonstra perfeita - para além disso, as redes sociais possuem mecanismos
para que o tempo de uso seja sempre prolongado. Redes como Facebook, Instagram
e Youtube possuem métodos de sistemas de recompensas que nos induzem
a uma conexão exacerbada. Para além disso, jogos eletrônicos também configuram
uma situação de dependência, podendo chegar até níveis patológicos. Entretanto,
não somente os jogos, mas as comunidades virtuais que acessamos, também
podem ser utilizados como meios de interação, aproximação e aprofundamento
de conhecimento para muitos jovens (especialmente durante a pandemia
de COVID-19).

Outros sintomas apresentados por estes adolescentes que demonstram quadros


depressivos e que são muito comuns na juventude são o estresse, a irritabilidade
e a ansiedade. Muitos jovens apresentam instabilidade de humor, mas a partir
de qual ponto isto passa a ser a nível patológico? O melhor parâmetro é a funcionalidade.
É preciso observar o quanto eles estão conseguindo ser produtivos e se estão
participando de maneira saudável do ambiente social. Há jovens que mesmo
com a tristeza ainda podem se manter produtivos, por isso é necessário entender
as subjetividades e que cada jovem possui uma experiência específica. Em
alguns casos utilizar a psicoterapia pode ser imprescindível.

A grande maioria dos casos depressivos começa na adolescência: cerca de 75%


antes dos 24 anos, e 50% antes dos 14 anos. O que é mais típico nesta faixa etária
é a irritabilidade, o isolamento e as posturas conflitivas que todo adolescente
possui ou está suscetível a ter. Por isso, é necessário avaliar a intensidade e a
duração dos comportamentos, comparar com outros jovens passando por este
momento e avaliar a propensão ao uso de drogas e álcool (que contribuem para
quadro depressivo, podendo chegar a quadros de dependência química).

Ideação suicida é um outro quadro que pode se fazer presente. Existe um efeito
demonstrado fundamental que é a base de como tratamos os casos de suicído
na sociedade atual: Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, dá nome
ao “Efeito Werther”, conceito elaborado após uma série de casos de suicídio
relatados em Viena após a instalação do sistema de Metrô. Com o aumento
de notícias, houve um aumento dos casos de suicídio, que baixaram depois
que a mídia parou de divulgá-los, evidenciando o efeito da glamurização
desta questão.

Quando tratamos da depressão na adolescência é necessário se ter uma postura


aberta, centrada em uma posição empática, trocar informações e levar a sério
coisas que parecem pequenas, agindo de forma precoce e eficaz, visando
melhor tratamento.
AULA 5

ÁLCOOL E MACONHA:
QUAL A RELAÇÃO ENTRE ESTAS
SUBSTÂNCIAS E A DEPRESSÃO?

Este encontro tratou da influência das substâncias lícitas e ilícitas no corpo,


sobretudo associadas a quadros depressivos, visando o entendimento de
como a depressão pode contribuir para casos de dependência.

Os sintomas cardinais da depressão são o humor deprimido, a perda de prazer


e de vontade, implicando em uma perda do sentido da vida. Muitas vezes
o que está afetado na depressão, em relação à perda do prazer, é o sistema
de recompensa cerebral. Este sistema diz respeito a um comportamento dos
seres humanos de buscar sanar suas necessidades de sobrevivência. Ao alcançar
estas necessidades há uma ativação do prazer, a recompensa, envolvendo toda
uma rede neural. Em quadros de depressão, o prazer obtido por este sistema
passa por uma desestruturação e diminui, e isto tem efeitos importantes, uma
vez que o indivíduo passa a não sentir recompensa nas diferentes esferas da vida.

Existem momentos específicos em que a expectativa nos induz a esperar maior


recompensa de situações pontuais. Quando se perde a capacidade de obtenção
de prazer nas pequenas coisas, tudo passa a ficar mais ameno, evidenciando
essa ausência dos prazeres da vida. Com isso inicia-se um processo de maior
exposição àqueles estímulos, de uso de substâncias para a obtenção de recom–
pensa, potencialmente evoluindo para uma dependência.

A cafeína é uma das drogas mais populares, sendo utilizada diariamente em


diversos locais do mundo. Ela também ativa este sistema de recompensa,
sendo considerada uma substância que pode causar dependência, sobretudo
em casos depressivos pelo seu caráter estimulante. Outro fator apresentado
a partir de uma superdosagem é o aumento da irritabilidade e insônia. Por
seu caráter popular e estimulante, pode ser encontrada em inúmeras bebidas
(chás, refrigerantes, energéticos etc.)

Outra droga muitas vezes vinculada ao alívio de estresse é a nicotina. Encarada


como um momento de relaxamento, mas que também influencia neste sistema
de recompensas, apresenta um alto grau de dependência, como também é visto
em outras substâncias ilícitas como a maconha, seja para interagir socialmente
ou pelo seu efeito relaxante.
Cocaína e outros estimulantes como anfetamínicos (medicações usadas no
tratamento de déficit de atenção e hiperatividade) podem ser usadas como
droga de abuso, apresentando diversos casos de dependência. Os anfetamínicos
eram utilizados antigamente para tratamento de sobrepeso e obesidade, porém f
oram proscritos por apresentarem quadros colaterais de alteração de humor.

As drogas muitas vezes são utilizadas para suprir uma necessidade e/ou uma
dificuldade, como relatos do uso de álcool e maconha para acalmar a ansiedade,
ou o uso de cocaína para “aproveitar” certos eventos. A depressão tende a piorar
com todas estas drogas se o seu uso for prolongado e desmedido.

A dependência de álcool apresenta diversas formas e características. Uma delas


é o uso diário de duas ou mais doses; outra é o uso excessivo em situações específicas,
com efeitos mais graves se consumido com outras drogas. Muitas vezes há uma
junção de estímulos, hábitos que levam a prática de outros hábitos, sobretudo
em adolescentes, que não têm um controle muito bom de impulsos – o que
explica as restrições de idade.

A maconha é medicinal?
A maconha é uma planta que possui diversas substâncias e algumas podem
ser usadas para tratar patologias. Quando se fuma maconha, o efeito conhecido
se dá pela substância THC (tetrahidrocanabinol), mas outra substância importante
com potenciais aplicações medicinais é o CBD (canabidiol), substância coadjuvante
e alvo de diversas discussões sobre a liberação ou não do uso de substâncias
derivadas da maconha.

As substâncias psicodélicas atuam em conjunto com os neurotransmissores


e determinam um quadro de alucinações visuais e sensações que, muitas vezes,
são aproveitados para rituais e cerimônias religiosas. Entre elas há o ayahuasca,
que compõe o chá de Santo Daime, obtido de raízes e cipós específicos, induzindo
os componentes do rito a certo sentido desejado, comprovando como o ambiente
molda o tipo de viagem obtida. Estas substâncias podem ser utilizadas de modo
terapêutico? Sim, mas somente a partir de estudos exaustivos e validados sem
favorecimento ou enviesamento.

Um exemplo de substância desmistificada foi a quetamina. Demonstrada


primeiramente como um relaxante, pode se tornar uma droga de abuso com
o uso de uma dose pequena. Ela foi redescoberta como um antidepressivo
promissor, indicado em doses ainda menores para tratar os sintomas da tristeza
aguda e da ideação suicida, apresentando resultados expressivos e com resposta
muito rápida (cerca de duas horas).
AULA 6

NOVOS TRATAMENTOS,
RESILIÊNCIA E EMPATIA
É fundamental entendermos que todos temos preconceitos, opiniões fortes
e, sobretudo, autoestigmas - uma opinião preconceituosa, geralmente enviesada
sobre si. Porém, sabermos diferenciar atos de loucura de sofrimentos provenientes
de quadros depressivos é muito importante para entendermos de fato as reais
condições da depressão.

Todas as pessoas podem ter “atos de loucura” sem estarem necessariamente


doentes, se acometidas por um momento específico de descontrole. A sensatez
não tem a ver com a condição psiquiátrica. A grande maioria das pessoas que
vive um transtorno mental não possui atos de loucura, mas se sentem “loucas”.
A maior dificuldade é entender que um transtorno é uma condição específica
e que pode ser tratada.

O marco-chave para o tratamento da psicopatologia da depressão, como já


aprendemos, é um diagnóstico precoce que mostre e demonstre um tratamento
ágil e eficaz - se tratado, o paciente com depressão possui altas chances de
recuperação. Quanto maior o tempo para o início dos tratamentos, mais
frequentes tornam-se os episódios depressivos e, portanto, mais difícil torna-se
o processo de cura. Por isso, é fundamental intercalar as medicações e as formas
de tratamento para que sejam mais eficazes e assertivas.

Em alguns casos as medicações não funcionam tão bem como o esperado.


Desta forma, é necessário tentar associações medicamentosas e compreender
seus eventuais efeitos colaterais de forma que as respostas para as medicações
sejam minuciosamente analisadas e otimizadas. Uma das formas de tratamento
alternativo é a eletroconvulsoterapia, método realizado ao se cruzar uma corrente
elétrica no cérebro, que gera uma convulsão, procedimento que dura de 10 a 15
minutos e que é associado a medicações anticonvulsivantes. Este procedimento,
quando feito com bons profissionais em centros de excelência, apresentam
resultados interessantes para o tratamento de depressões mais graves.

Outro novo tratamento é a quetamina, substância que age em outros neurotrans–


missores, em especial o glutamato, tornando-se uma alternativa menos invasiva
que a eletroconvulsoterapia, com uma resposta rápida e que pode ser usada
com mais frequência. É necessário apoio daqueles que estão próximos ao paciente
para entender que o remédio e a terapia podem ajudar, mas que o tratamento
da depressão é um processo que pode ser longo e que necessita da construção
de uma perspectiva de esperança.
É importante analisarmos dois construtos, o otimismo e a esperança. A primeira
coisa que podemos pensar sobre ambos é o efeito placebo, observável a partir
do uso de uma substância inerte para o tratamento de uma patologia. Entretanto,
a duração do placebo é curta. Existe também uma área do córtex cerebral que
regula as amígdalas (região associada ao medo e a ansiedade) e, segundo
estudos, pacientes com alto nível de esperança tem uma modulação na região
cerebral cortical mais eficiente sobre a amígdala, portanto, acabam controlando
melhor seus sentimentos e obtendo melhoras significativas em seus quadros.

Para tratar dos casos de depressão, a esperança é mais do que necessária. É


fundamental entender o processo e os seus fatores com naturalidade para
a eficácia, com empatia, compreensão e diálogo que permitam a superação,
a resiliência e a recuperação desta patologia tão evidente nos dias atuais.

Portanto, lembre-se: a esperança é terapêutica, não tenha medo de usá-la.


REFERÊNCIAS E INDICAÇÕES
LIVROS

O Demônio do Meio Dia


Andrew Solomon

Saúde Mental na Escola: O que os Educadores Devem Saber


Gustavo M. Estanislau e Rodrigo Affonseca Bressan

Uso da cetamina no tratamento de transtornos psiquiátricos


e dor crônica: teoria e prática.
Acioly Luiz Tavares de Lacerda e José Alberto Del Porto

VÍDEOS

Ansiedade | part I
Rodrigo Bressan
Veja o vídeo

Ansiedade | part II
Rodrigo Bressan
Veja o vídeo

World Health Organization – I had a black dog, his name was depression
Veja o vídeo

Depressão: O segredo que compartilhamos


Por Andrew Solomon
Veja o vídeo

Live do Saber: Como fica a saúde mental


com Rodrigo Bressan e Mario Vitor Santos.
Veja o vídeo

ARTIGOS

12-month prevalence and concomitants of DSM-IV depression


and anxiety disorders in two violence-prone cities in Brazil.
Blay SL, Fillenbaum GG, Mello MF, Quintana MI, Mari JJ, Bressan RA, Andreoli
SB. - J Affect Disord. 2018 May;232:204-211. doi: 10.1016/j.jad.2018.02.023. Epub
2018 Feb 17. PMID: 29499502; PMCID: PMC6039111.
Leia o artigo
Ansiedade e depressão e uso de substâncias psicoativas
em jovens universitários.
Leopoldo Nelson Fernandes Barbosa; Gabriela Catel Abrahamian Asfora;
Marina Carvalho de Moura.
Leia o artigo

Depressão é a maior causa de incapacitação no mundo


Leia o artigo

Organização Pan-Americana da Saúde – Saúde mental dos adolescentes


Leia o artigo

Depressão, uma questão de saúde pública.


Lúcia Abelha
Leia o artigo

Transtornos mentais em adultos começam na infância em 75% dos casos.


Pedro Teixeira.
Leia o artigo

Estudo de ideação suicida em adolescentes de 15 a 19 anos.


Vivian Roxo Borges e Blanca Susana Guevara Werlang.
Leia o artigo

Metade da população do Brasil e do mundo será míope em 2050


Leia o artigo

Depressão: do neurônio ao funcionamento social.


Acioly Luiz Tavares de Lacerda, Lucas de Castro Quarantini, ngela M. A.
Miranda-Scippa e José Alberto Del Porto. Epub 2017 Sep 26. PMID: 28946760.
Format.
Leia o artigo

Gene expression in blood of children and adolescents: Mediation between


childhood maltreatment and major depressive disorder.
Spindola LM, Pan PM, Moretti PN, Ota VK, Santoro ML, Cogo-Moreira H,
Gadelha A, Salum G, Manfro GG, Mari JJ, Brentani H, Grassi-Oliveira R, Brietzke
E, Miguel EC, Rohde LA, Sato JR, Bressan RA, Belangero SI. - J Psychiatr Res.
2017 Sep;92:24-30. doi: 10.1016/j.jpsychires.2017.03.015. Epub 2017 Mar 22. PMID:
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Leia o artigo

The role of dopamine in reward and pleasure behaviour--review of data


from preclinical research.
Bressan RA, Crippa JA. Acta Psychiatr Scand Suppl. 2005;(427):14-21. doi:
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Leia o artigo

Impact of childhood stress on psychopathology.


Brietzke E, Kauer Sant’anna M, Jackowski A, Grassi-Oliveira R, Bucker J,
Zugman A, Mansur RB, Bressan RA. - Braz J Psychiatry. 2012 Dec;34(4):480-8.
doi: 10.1016/j.rbp.2012.04.009. PMID: 23429820.
Leia o artigo
Ventral Striatum Functional Connectivity as a Predictor of Adolescent
Depressive Disorder in a Longitudinal Community-Based Sample.
Pan PM, Sato JR, Salum GA, Rohde LA, Gadelha A, Zugman A, Mari J,
Jackowski A, Picon F, Miguel EC, Pine DS, Leibenluft E, Bressan RA,
Stringaris A. - Am J Psychiatry. 2017 Nov 1;174(11):1112-1119. doi: 10.1176/appi.
ajp.2017.17040430.
Leia o artigo

Entrevista: Acioly Lacerda.


Leia o artigo
AVISO
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para Vencer”, com Rodrigo Bressan, realizado pela Casa do Saber entre
novembro e dezembro de 2020. É proibida a reprodução ou divulgação
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