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UTOPIAS E IDEOLOGÍAS NA EDUCACAO HOJE

Ana María Casnati Guberna1

RESUMO

A ideia presente neste artigo refere se a relação da ideologia e as questões


ideológicas na educação mediada pelas tecnologias da informação e comunicação (TIC)
em América Latina. O tema da alienação é praticamente indissociável da ideologia e
assim para Gadamer a alienação é o pressuposto ontológico que dirige a conduta
objetiva nas ciências humanas e seu estudo gera um conflito entre o distanciamento
alienante e a experiência da pertinência. Mais a diferença entre ideologia e utopia
reveste um caráter histórico no sentido de que somente a historia posterior pode
autorizar a definir si uma utopia era o que almejava ser; uma visão nova capaz de
modificar a historia. Desta forma utopia e ideologia situam se numa base comum de não
congruência respeito a um conceito de realidade que se revela após a prática efetiva e
num contexto de realidade em fluxo. Para contribuir a uma provável saída no plano
quase utópico elabora se uma análise dos fenômenos ideológicos presentes nos
programas educacionais tecnologicamente mediados descartando a ideia do fim das
ideologias. Desejar essa idéia seria pretender a morte da própria ação humana e no caso
da educação, a ação educativa, pois uma sociedade sem ideologia e sem utopia se
transforma num grupo humano condicionado a pura fragmentação dos acontecimentos,
sem possibilidades de ação e uma unidade a mais do capitalismo consumista.

Palavras chave: ideologia, utopia, educação, TIC

1
-Docente dp Projeto Flor de Ceibo,Doutoranda do DMMDC
“La naturaleza figurativa de la teoría social, la interacción
moral de mentalidades opuestas, las dificultades prácticas para
observar las cosas tal como otros las observan, el estatuto
epistemológico del sentido común, el poder clarificador del arte,
la construcción simbólica de la autoridad, la ruidosa diversidad
de la vida intelectual moderna, así como la relación entre lo que
la gente toma como un hecho y lo que considera justo; estos
temas son abordados, uno tras otro, en un intento de comprender
de algún modo cómo comprendemos comprensiones que no nos
son propias”.(GEERTZ, 1994,p.13)

Introdução-

A ideia presente neste artigo refere se a relação da ideologia e as questões


ideológicas na educação mediada pelas tecnologias da informação e comunicação (TIC)
em América Latina. Resulta também conexo introduzir a ideia de alienação, no sentido
fundamental do termo, exposto por Mészaros (2006), que significa para a humanidade,
perda de controle em relação a uma forca externa como um poder hostil e
potencialmente destrutivo que confronta os indivíduos. O tema da alienação é
praticamente indissociável da ideologia e assim para Gadamer a alienação é o
pressuposto ontológico que dirige a conduta objetiva nas ciências humanas e seu estudo
gera um conflito entre o distanciamento alienante e a experiência da pertinência.
A alienação é a extensão universal da “vendabilidade”, ou seja, a transformação
de tudo produto humano em mercadoria e mesmo a conversão dos seres humanos em
coisas para que eles possam aparecer como mercadorias no mercado. O tema alienação
é praticamente indissociável do de ideologia (RAMSON GILES,1985:68) e tem uma
conotação eminentemente histórica. Os seres humanos se alienam com relação a alguma
coisa, como resultado de certas circunstancias o que se manifesta em um determinado
contexto, geográfico-político e histórico. Para a hermenêutica, trata se de um conflito
entre distanciamento alienante e experiência da pertinência. Gadamer refere se a
alienação como um pressuposto ontológico que pauta a conduta objetiva das ciências
humanas. Quando Marx analisou a alienação, nos Manuscritos de 1844(o Jovem Marx),
descreveu quatro aspectos fundamentais:
a- Alienação dos seres humanos em relação à natureza
b- Á sua própria atividade produtiva
c- Á sua espécie, como espécie humana
d- É de uns aos outros
Todos estes aspectos são o resultado de um tipo determinado de desenvolvimento
histórico que pode ser alterado positivamente, mediante a intervenção consciente no
processo histórico para poder transcender a auto-alienação do trabalho como força
produtiva. No desenvolvimento do sistema capitalista, existe um aumento desmesurado
das forças de produção mais também uma perigosa multiplicação das forças de
destruição que pode ser solucionado unicamente si prevalece um controle consciente de
todo o processo ao serviço de um projeto humano positivo e sustentável.
A crise na educação é indicativa do conjunto de processos dos quais as
instituições educativas são uma parte constitutiva. O problema atual nas escolas e
universidades não é si “educação presencial” a “educação a distancia” ou “presencia a
ausência do computador na sala de aula”. A questão realmente pertinente é a razão de
ser da própria educação.
O verdadeiro tema a ser analisado é si as instituições educacionais são
produzidas pelos seres humanos e eles continuam a servir ás relações sociais alienadas,
então à alienação predomina na consciência dos indivíduos que aprendem. A educação
nas sociedades capitalistas tem duas funções principais: a produção de qualificações
adequadas para o funcionamento da economia e a formação de estruturas e preparação
de métodos de controle político. No entanto, as relações não são estáticas, por quanto às
séries de necessidades econômicas e políticas interagem unas com outras. Os interesses
econômicos no capitalismo e a sua racionalização final operando com base nos
interesses gerais do capital transcendem completamente os interesses individuais. Na
atual sociedade onde existe uma superprodução estrutural de intelectuais, a questão
primordial é que a máquina econômica está sendo ligada ao campo educacional,
gerando um número crescente de graduados e pós-graduados, junto com uma rede de
empresas interessadas diretamente na “expansão” das tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC). No entanto esta situação é mais alienante pela multiplicação das
formas de lazer como resultado dos progressos tecnológicos nos quais os seres humanos
estão imersos, e o desemprego potencial que ele encerra.
Nesse sentido o sistema é capaz de absorver o tempo livre produzido e
transformá-lo num instrumento de expansão econômica.
Como expressa Métzaros ”uma teoria sócio-histórica abrangente e dinâmica é
inconcebível sem uma forca interessada na transformação social como seu terreno
prático de apoio” (2006, p. 281). Pela primeira vez na história do capitalismo o sistema
é confrontado mundialmente por seus próprios problemas.
Tanto as instituições quanto a ideologia do capitalismo monopolista são
incapazes de resolver um problema que deriva da essência intrínseca do sistema. Por
tanto a intensidade da crise educacional- ideológica resulta inseparável deste desafio
histórico. No entanto, existem questões de caráter teórico que denotam um contexto de
crise cultural que obriga a uma analise critica da ideologia. A ciência tem se convertido
num instrumento ideológico de legitimação e deve se reconsiderar a significação
cultural e os critérios funcionais da atividade científica.
Para contribuir a uma provável saída no plano quase utópico elabora se uma
análise dos fenômenos ideológicos presentes nos programas educacionais
tecnologicamente mediados descartando a ideia do fim das ideologias. Desejar essa
idéia seria pretender a morte da própria ação humana e no caso da educação, a ação
educativa, pois uma sociedade sem ideologia e sem utopia se transforma num grupo
humano condicionado a pura fragmentação dos acontecimentos, sem possibilidades de
ação e uma unidade a mais do capitalismo consumista.

O fenômeno da Ideologia-

As visões sociais do mundo podem conformar um conjunto de concepções,


ideias, representações, teorias que se orientam e servem para legitimar, justificar,
defender ou manter a ordem social e constituem o que Karl Manheim determina como
ideologia.
As visões sociais utópicas são aquelas ideias, representações e teorias que tem
uma função crítica, subversiva apontada a uma realidade ainda não existente e se
orientam a uma ruptura. Neste sentido são as ideias, as representações, especialmente a
crítica ideológica as que podem transformar a sociedade. Ideologia e utopia
correspondem a duas faces o formas de um mesmo fenômeno social que se manifesta de
duas maneiras distintas.
A ideologia pode ser considerada como um fenômeno que se configura a partir
de um conjunto estrutural e orgânico de representações, doutrinas, teorias que
conformam expressões de interesses vinculados a grupos ou sociedades e dependendo
da consideração podem ter caráter ideológico ou utópico.
O termo ideologia foi criado por Destutt de Tracy (1754-1836) e se divulgou
por obra de Napoleão Bonaparte, que para contra-atacar os inimigos, os críticos de seu
regime, os chamava com o termo pejorativo de ideólogos.
Marx apresenta um conceito de ideologia como falsa conciencia ou construto
cultural que tem um conteudo de verdade. A realidade histórica inaugurada pelo jovem
Marx é uma praxis na producao cultural da realidade como resposta a uma configuracao
de uma concepcao do mundo. Ele defende a autolibertação na própria ação na relação
com a práxis que irá transformar as condições sociais, as estruturas e os próprios
indivíduos autores da ação. A tese marxista traz a ideia de distorção ou de deformação
pela inversão e aplica se a todo sistema de pensamento que desempenhe a mesma
função. A partir dessa formulação, o marxismo consegue superar dialeticamente o
materialismo e idealismo. O que Marx destaca é que a função justificadora da ideologia
aplica se num significado excepcional a relação de dominação no sentido da luta de
classes que faz tomar a imagem pelo real, o reflexo como original.
“ ...os homens e suas relações nos aparecem situados com a
cabeça para baixo, como numa câmera obscura, este fenômeno
decorre de seus processos de vida histórica, absolutamente como
a inversão dos objetos sobre a retina decorre de seu processo de
vida diretamente físico”( MARX. apud Ricoeur,P. ,1988,p.73).

Manheim reconhece que o marxismo desvenda a situação da ideologia como


uma estrutura de pensamento vinculada a um grupo, uma nação e por sua vez elabora
uma distinção entre utopia e ideologia no sentido de que as ideologias se acomodam a
realidade em quanto às utopias irrompem na realidade e podem produzir sua
fragmentação.
Para Ricoeur a ideologia é um fenômeno insuperável da existência social e a
realidade social tem uma composição simbólica que admite certas interpretações de
imagens e representações do próprio vínculo social.
A hermenêutica tem uma mirada na ideologia em relação com o “caráter de
linguagem universal de comportamento relativo a mundo”. (Gadamer, 1971 ,p.208).
Mais a diferença entre ideologia e utopia reveste um caráter histórico no sentido
de que somente a historia posterior pode autorizar a definir si uma utopia era o que
almejava ser; uma visão nova capaz de modificar a historia. Desta forma utopia e
ideologia situam se numa base comum de não congruência respeito a um conceito de
realidade que se revela após a prática efetiva e num contexto de realidade em fluxo.
Ricoeur observa a importância da dicotomia utopía-ideología no sentido de que
um grupo social sem ideologias e sem utopias não teria distancia em relação a si
mesmo, não teria projeto de futuro e não lograria uma representação de si. A ideologia
esteve ligada a ideia de dominação mais Ricoeur escapa ao problema da ideologia como
resultado da dominação proposta pelo marxismo e considera esta questão numa forma
mais ampla no sentido da integração social. Ele elabora um paralelismo onde a ciência e
a tecnologia podem também funcionar como ideologias e por trás da cientificidade
surge à justificação ao sistema industrial-militar do capitalismo como uma imagem
invertida da vida o que acaba produzindo alienação.
Para Parsons (1959, p.25-49) “o problema da ideologia surge quando existe uma
discrepância entre o que se acreditava e o que pode ser cientificamente correto” 2, e
nesse sentido Geertz (1973) define duas abordagens para o estudo dos determinantes
sociais da ideologia: a teoria do interesse e a teoria da tensão.
Na teoria do interesse a ideologia é vista como uma luta universal por vantagens
e na teoria da tensão como um esforço reiterado para corrigir desequilíbrios
psicosociológicos. Esta teoria tem uma base marxista e se fundamenta nas ideias dos
sistemas culturais no terreno das estruturas do sistema social. Ela logra demonstrar que
as ideias são armas e que uma forma de institucionalizar uma visão particular da
realidade é instituir-se de poder político para se afirmar.
Mais a complexa realidade atual tem demonstrado que a teoria não consegue
explicar as interações entre os fatores sociais, subjetivos e culturais que ela mesma
desvenda. O interesse é um conceito psicológico e social em consonância com um
proveito que os seres humanos podem obter imersos numa estrutura de oportunidades
dentro da qual eles se mexem. Por sua vez a tensão é um estado pessoal num contexto
social estrutural e as relações que mantêm devem ser consideradas sistematicamente.

A teoria parte da ideia de que a sociedade atual tem uma integração distorcida
recorrente e a ideologia fornece uma saída simbólica para as perturbações emocionais
geradas pelo desequilíbrio social. Os teóricos das ideologias baseados na teoria da
tensão, como Parsons (1951), Sihl (1958) e Sutton (1960) tendem a enfatizar mais os
resultados negativos que os positivos e não logram explicar o fenômeno ideológico do
ponto de vista funcional.
Por outro lado, acorda-se com Geertz (1973, p.137) que a ideologia facilita um
processo de formulação simbólica que constrói uma ligação, uma argamassa na
interação e a práxis social, especialmente na educação e os fenômenos culturais ligados
a ela. Geertz propõe então que “as ideologias transformam o sentimento numa
2
-Apud,Geertz, C.-“A interpretação das culturas”LTC,2011,RJ,pp.110.
significação e o tornam socialmente disponível”. Como resultado de essa interação pode
se colocar lado a lado os símbolos ideológicos particulares e as tensões de forma tal que
fica visível a relação derivada de um em conexão com o outro e para o estudo da
ideologia é necessário considerar a questão dos símbolos e como funcionam para medir
significados.
Logo considera-se o estatuto epistemológico da ideologia em diálogo com a
utopia.

Estatuto epistemológico da ideologia

Ricoeur questiona: “¿existe um lugar não ideológico de onde seja possível falar
cientificamente de ideologia?¿será que a teoria social, concebida como crítica pode
aceder a um estatuto não ideológico, segundo seus próprios critérios da ideologia?”.
A inferência assinala que as imagens que um grupo social atribui a si mesmo
constituem interpretações que pertencem ao próprio vínculo social e esse laço é
simbólico por quanto é resultado do real. Um discurso não ideológico não pode ser
construído num real social anterior a simbolização dessa realidade. Assim a ideologia é
um fenômeno que surge como resultado da representação do vínculo social após sua
representação simbólica. Ricoeur demonstra finalmente que:
”A teoria social não pode desvincular se por completo da
condição ideológica, nem pode efetuar a reflexão total, nem
tampouco aceder ao ponto de vista capaz de exprimir a
totalidade que subtrairia a mediação ideológica a que estão
submetidos os outros membros do grupo social”
(RICOEUR,P.,1988,p.131)

A partir da compreensão do fenômeno de caráter histórico, elaboram se algumas


proposições que contribuem para a epistemologia da ideologia desde o diálogo entre a
teoria crítica das ideologias e a hermenêutica:
a- O ser humano pertence a uma historia uma classe, uma nação, uma cultura e ao
assumir essa pertença assume a primeira colocação da ideologia como
mediadora da representação de si. Gera-se uma função de pertença que não se
pode refletir inteiramente, porque a condição ontológica de pré- compreensão
exclui a reflexão total- mais que se suma as características de dissimulação e de
distorção. Estas ideias podem se confrontar com a relação de autonomia e
alienação na visão de Castoriadis (1986, p.123). O individuo não alienado é um
individuo autônomo, que é capaz de revelar seus fantasmas como parte de seu id
(inconsciente) e não se deixa dominar por eles- amenos que assim apeteça.
Trata-se de uma relação outra, entre consciente e inconsciente, entre o real e o
imaginário que se efetua num diálogo entre dois elementos que compõem uma
atitude do sujeito respeito a si mesmo. Anuncia se uma ética pelo caminho da
eleição fundamentada no desejo. Por sua vez este sujeito pensa, olha, coloca
distancia e, por conseguinte desenvolve uma atividade como “condição
eficiente” da própria força do sujeito. Mais o sujeito tem que confrontar seu
pensamento com outro ou com os outros, e assim o corpo não é alienação, mas
“participação, no mundo e no sentido, ligação e mobilidade, pré- constituição de
um universo de significações, antes de todo pensamento refletido”
b- O distanciamento que se exige como instancia desligada do momento histórico
fica em certa forma oposto a pertença. A condição de distanciamento é a
possibilidade crítica frente às ideologias. Somente quem conserva a exigência da
liberdade e do sentido do arbitrário e do instituído pode viver sensatamente,
distanciado da alienação.
c- A hermenêutica é a teoria das intervenções de compreensão em sua relação com
a concepção dos autores e seu valor para constituir se em saber de consideração
científica se relaciona com as preocupações ontológicas. Compreender não é um
simples modo de conhecer, mais uma maneira de ser e de relacionar se como os
outros forem humanos e com o próprio ser.
d- O sujeito é totalmente penetrado pelo mundo e pelos outros e na sua autonomia,
reorganiza os conteúdos e os discursos em função das suas ideias e necessidades,
por tanto a verdade do sujeito é sempre a verdade com os outros.
Ele arraiga-se na sociedade e na historia, no sentido de sua ideologia ou sua
utopia. A ideologia é movida pelo desejo de demonstração e por tanto argumenta
e o código interpretativo de uma ideologia se percebe mais pelo em que os seres
humanos habitam e pensam de que as concepções que realmente possam
expressar. Daí que é preciso o distanciamento mais também paradoxalmente o
distanciamento provoca uma perda de pertença. O ser humano se distancia e
nesse processo afasta se e deixa em certa forma de pertencer a sue contexto,
mais ingressando na dinâmica da passagem para a teoria, o conhecimento não
pode tornar se total.
e- Para a compreensão do fenômeno da ideologia em todos os níveis de análise o
distanciamento é necessário mais também é preciso o saber fundado num
interesse. A teoria crítica das ideologias está baseada num interesse pela
emancipação entendida como comunicação sem limites e sem obstáculos. A
autonomia é elaboração do discurso com o outro, e na eleição da ideologia ou a
utopia, o sujeito pode optar entre o silencio e a manipulação, a manifestação do
pensamento ou a simples consolação. Na dicotomia de utopia e ideologia esse
interesse funciona para ambas e é a historia ulterior quem definirá o resultado.
Por tanto a critica das ideologias fundada num interesse específico não logra
romper os vínculos de pertença que a funda, como são os interesses pela
dominação material, o interesse pela comunicação histórica em relação à
compreensão das heranças culturais.
f- Finalmente o uso adequado da crítica das ideologias tem a ver com a
deontologia.
A crítica da ideologia tem um inicio mais não tem uma conclusão entanto é
necessário assumir a condição histórica de quem analisa e tenta tomar certo
distanciamento no estudo do fenômeno. Assim a questão que reviste importância
por quanto ainda não há podido ser resolvida na relação da ciência e a tecnologia
com a ideologia, e o sentido que os seres humanos construam nas suas práticas e
políticas tendo consciência do ser historicamente situado. A crítica das
ideologias por tanto tem uma função reguladora em função de uma comunicação
sem limite e sem coação. A ideologia sempre é uma interpretação que modela
retroativamente, mediante representação do ser humano e o ato de fundação
pode ser retomado e ritualizado muitas vezes. Nesse sentido a ideologia é
resultado da memória social e converte se num credo para toda uma sociedade.
Pode se inferir que a ideologia tem relação com a ação social e a relação social
no sentido de Max Weber. A ação social como comportamento humano é
significante para os indivíduos e o comportamento de um é orientado em função
do comportamento do outro. Na relação social acrescentam se a significação de
ação social e a estabilidade de um sistema se significações. Neste contexto o
fenômeno ideológico se liga a necessidade de representação de um grupo social
no sentido de possuir uma representação. Geertz assinala que é importante para
o pensamento recente considerar a questão de como os símbolos simbolizam, ou
seja, a forma como funcionam na relação como o significado. A ideia é utilizar o
símbolo amplamente como objeto físico, social ou cultural que serve para
introduzir a sua própria concepção. Também os fenômenos culturais devem ser
estudados como sistemas significativos que indagam sobre questões expositivas.
No momento atual na educação está se inserindo uma tecnologia que modifica
a comunicação e a forma de adquirir o conhecimento e por sua vez as formas de
conhecimento são incondicionalmente locais, inseparáveis das ferramentas de
uso e de seu marco de atuação. Para produzir uma descrição do pensamento é
preciso considerar todas como atividades sociais num mundo social. Para Geertz
as áreas que compõem as artes e as ciências são estruturas culturais onde é
possível verse uno mesmo entre outros como exemplos que adota a vida
humana. Mais também a relação entre ideologia e representações sociais deve-se
compreender como duas formas distintas e complementarias. Nesse sentido a
ideologia encontra se subjacente ao discurso, e o discurso manifesta se na
escritura, na leitura e no intercambio pela interação de determinados signos.
Deve se então estudar a relação entre linguagem e ideologia.

Linguagem e ideologia

No livro “Os problemas da liberdade e o determinismo” Vaz Ferreira3 diz:


“Um processo analítico de diferenciações e
subdiferenciações decompõe até o infinito os pontos de vista e
nos impede de ver a falsidade o a verdade do argumento o a
teoria.
Um procedimento que tem resultados excelentes é
prescindir completamente do problema primitivo, estudar os
fatos e tentar coordenar as teorias como si o problema não se
postulara; quebrando as ligações artificiais, deixando as ideias
se ordenar naturalmente, pelas suas relações lógicas.Todas as
interpretações, teorias e soluções são colocadas na direção do
problema e as deixamos se polarizar livremente então o caminho
recorrido é surpreendente”. (VAZ FERREIRA, 1907,p.5)

No sentido do texto de Vaz Ferreira, pode se adquirir a capacidade de apreender,


formular e comunicar realidades sociais fora da linguagem da ciência mediante
significados mais complexos que a forma literal.

3
-Carlos Vaz Ferreira foi professor e filósofo uruguaio que tem influenciado o pensamento erudito no
país. Ele nasceu o 15 de outubro de 1872 e morreu em 1956., foi Decano da Faculdade de Humanidades
e Ciências, Reitor da Universidade e teve um estilo muito livre de expressar suas ideias. Unamuno diz
que seus escritos pareciam falados como si estiver na aula, lutando contra o dogmatismo acadêmico.
Percy (1958,p.79-99) refere se ao poder da metáfora como transformadora de
uma falsa identificação numa analogia adequada. A metáfora não é o único recurso
empregado pela ideologia como manifestação cultural. Todas as figuras retóricas
(metonímia, hipérbole, personificação) são utilizadas como artifícios e por tanto como
sistema cultural a ideologia consiste em uma estrutura complicada de significados inter-
relacionados em termos de estrutura semântica.
A ideologia se estrutura a partir dos Themata (MOSCOVICI, 2000) e os
Esquemas (AGUSTINOS e WALKER,1995) (PARDO ABRIL, 2002). Os Themata
encontram se na base da conformação dos sistemas sociais, e caracterizam-se por
possuir uma convenção ou concordância muito ampla; são acordos de grupo e ideias ou
conceitos em forma de imagens estáveis e muito permanentes no tempo e no espaço.
Os Esquemas, no entanto, são representações mentais de conhecimentos gerais
do mundo onde se encontram as expectativas, os roles, as normas, as ideias
preconcebidas. Desta forma se seleciona e elabora a informação.
Estes são atos de reconhecimento, uma combinação na qual o próprio ato é
identificado em relação a um símbolo apropriado e por tanto acaba por se constituir num
ato de percepção consciente. A consciência define um modelo simbólico em algo
familiar para o ser humano. Os símbolos, modelos o sistemas simbólicos são fontes
extrínsecas de informação nos processos cognitivos dos indivíduos de maneira que a
vida humana pode ser padronizada socialmente.
Os arquétipos culturais, estéticos, científicos, ideológicos são códigos que
fornecem um padrão para a organização dos processos de construção da subjetividade e
da socialização das pessoas.
Pela construção das ideologias, de imagens da ordem social, o ser humano
constrói seu comportamento e a característica do comportamento humano é sua extrema
plasticidade. A ideologia torna possível uma política autônoma, fornecendo os conceitos
que construí significados.
A disseminação das tecnologias da informação e comunicação atuais gera uma
tensão cultural e modifica os padrões culturais das pessoas. Justamente quando as
orientações culturais gerais da sociedade e as orientações de valor prático da vida
cotidiana não são suficientes para fornecer imagens adequadas para os seres humanos
como agentes políticos, as ideologias começam a adquirir importância como fontes de
significado e de produção de atitudes sociopolíticas. As ideologias tentam dar sentido a
situações sociais que começam a perder sentido, fornecendo quadros simbólicos que se
contratam com novas realidades não familiares.
Nesse sentido as ideologias sociais conformam mapas de uma realidade social
que surge problemático como resultado da ordem internacional precária, das tecnologias
de comunicação de massas e os novos objetos técnicos (PC) e por tanto podem fornecer
matrizes apropriadas para a criação o a permanência das consciências coletivas.
Como resultado de esta analise, pode se inferir que a ciência é a dimensão de
diagnóstico, de crítica da cultura social e a ideologia é a extensão justificadora que se
preocupa pela defesa e a justificação dos marcos de crença e de valor.
Geertz assevera:
“Embora a ciência e a ideologia sejam empreendimentos
diferentes, estas não deixam de ter relações entre si. A ideologias
fazem exigências empíricas sobre as condições e a direção da
sociedade, o que é assunto da ciência avaliar (e, quando falta o
conhecimento cientifico, do senso comum). A função social da
ciência vis a vis as ideologias é primeiramente, compreende lãs_ o
que são, como funciona, o que dá origem a elas – e em segundo
lugar, critica lãs, forçar lãs a chegar a termos com a realidade
(mas não necessariamente se render a ela)” ( GEERTZ,1973,p.85)

No entanto ciência e tecnologia podem funcionar como ideologias e mascarar


por detrás das pretensões de cientificidade, a função de justificação da forma produtiva
capitalista da sociedade ocidental atual, isto por sua vez também gera alienação em
quanto às pretensões ideológicas dos cientistas e tecnólogos ao serviço da sociedade.

Consciência histórica, pertinência e interpretação cultural para uma educação


mediada

Para assumir a consciência histórica, é preciso que o sujeito reconheça a tradição


de seu contexto, as heranças culturais e o fato importante na análise é não reduzir o
mundo dos sinais a uma manipulação aleatória. O fenômeno histórico da sociedade em
rede, sociedade do conhecimento, educação mediada pela tecnologia como fenômeno
sócio- político deve ser compreendido e a interpretado desde a posição dicotômica
ideologia- utopia.
Em “Educação como prática da liberdade”, Paulo Freire (1984) preconiza uma
educação para a liberdade (existencial/pessoal) em busca da “humanização”, via
conscientização psico- pedagógica. Na” Pedagogia do Oprimido”, ele advoga por um
processo educativo para a eliminação da “consciência do opressor introjetada no
oprimido”, via ação político- dialógica. Nota-se que o “grande problema” se passa no
nível da relação consciência/ideologia, e não em nível das relações de produção ou das
relações inter- estruturais, como o próprio Freire sugere nas Cartas à Guiné-Bissau
(1980), falando do professor:
... “sua luta se trava entre eles serem eles mesmos ou seres
duplos. Entre expulsarem ou não o opressor dentro de si. Entre se
desalienarem ou se manterem alienados. Entre seguirem
prescrições ou terem opções. Entre serem espectadores ou atores.
Entre atuarem ou terem a ilusão que atuam, na atuação dos
opressores. Entre dizerem a palavra ou não terem voz, castrados
em seu poder de criar e recriar, no seu poder de transformar o
mundo. A práxis, porém, é a reflexão e a ação dos homens no
mundo para transformá-lo”. (FREIRE,1984,p.40).

Paulo Freire propõe um educador que contribui ativamente na construção de


uma sociedade na qual a educação forma cidadãos plenos no exercício da cidadania e da
ética relacionada com o saber prático. O fato fundamental é que a ideologia define se
por seu conteúdo. O processo da vida real deixa de constituir o lastro para ser
substituído por aquilo que os seres humanos representam o imaginam. No entanto a
ideologia possibilita a interpretação simbólica e constituição cultural prática da
realidade social. As condições e produtos de práticas diferenciadas podem ser
observados nos ambientes educativos y/os culturais.

Si existe um projeto coletivo de educação mediada tecnologicamente como


pode ser em Uruguai o Plan Ceibal, esse projeto é efeito de uma herança que está viva
enquanto pode ser reinterpretada criticamente em situações novas. Por tanto foi preciso
que a sociedade experimenta-se um distanciamento histórico e uma reinterpretação
criadora da herança cultural promovida no final do século XIX por José Pedro Varela 4
frente à implantação do Plan Ceibal.

4
-José Pedro Varela foi um periodista que começo sua atividade com 20 anos em 1985 no jornal “La
revista literária”.Em 1867 visita Paris e conhece Victor Hugo. Logo começa a ter interesse pela educação
e faz pesquisas e propostas que terminariam por gerar a Reforma Valeriana. Em 1876 durante o governo
do General Lorenzo Latorre é nomeado Diretor de Instrução Pública e elabora um projeto de lei que
estabelece o ensino fundamental laico, gratuito e obrigatório, organizando os institutos reguladores e as
disciplinas de deviam serem ensinadas. O projeto se transforma em lei nos 24 de agosto de 1877:
Decreto Lei de Educação fundamental.
Na luta para manter uma posição que seja contra hegemônica, no contexto
universitário uruguaio desenvolve se a Responsabilidade Social Universitária. As
definições de responsabilidade universitária estabelecem um equilíbrio entre as
necessidades reais e as possibilidades de transformação das comunidades. Una maneira
de motivar o verdadeiro cambio institucional y organizacional em consonância com
uma visão utópica de um novo ser humano, tendo como objetivo seu desenvolvimento,
a construção sustentável de cidadania é fundamental. O Projeto Flor de Ceibo, da
Universidade da Republica de Uruguai propõe tal concepção, na construção de
processos como forma trabalhar com a sociedade a partir dos aportes dos jovens no
nível educativo terciário. O marco institucional pode se observar no artículo 2° da Lei
orgânica universitária, promulgada no ano de 1958 e ainda em vigência:
“Art.2 -FINES DA UNIVERSIDAD -A Universidade terá a
responsabilidade do ensino publica superior em todos os planos
da cultura, a educação artística, a habilitação para o exercício
das profissões científicas e de outras funções que a lei poderia le
encomendar. Deve também perante todos seus órgãos, em suas
respectivas competências, acrescentar, difundir e defender a
cultura; promover e proteger a investigação científica e as
atividades artísticas y contribuir ao estúdio dos problemas de
interes geral y propender a sua compreensão pública; defender
os valores morais y os princípios de justiça, liberdade, bem estar
social, os direitos da pessoa humana y a forma democrático-
republicana de governo.” 5

Neste contexto, a educação pode ser um médio para a emancipação e o


desenvolvimento coletivo dos indivíduos e não exclusivamente como um recurso
necessário para acrescentar a produtividade econômica. No projeto coletivo de Flor de
Ceibo e o Plan Ceibal, a Universidade uruguaia está fortemente comprometida. No
entanto é preciso reconhecer os diversos níveis de alienação que se manifesta pela
globalização do capitalismo e no qual a educação uruguaia esta inclusa. A tarefa dos
educadores nas atuais circunstancias é interrogar-se sobre o que Ricoeur chama “a
liberdade portadora de sentido”, enfrentar o paradoxo do conflito e a dissidência por um
lado e a tentação da ordem por outro. Por conseguinte, a tarefa é, passar de um contrato
social restrito a um contrato social generalizado de todas as instituições para a

5
-Lei Orgánica da Universiadade da República.Uy.Trad. da autora.
realização da liberdade dos educados e educadores num mundo onde as tecnologias da
comunicação e a informação permeiam as instituições educacionais.

Ideologia e motivação social

“Uma estratégia de dominação efetiva é alienar do sujeito


cultural sua possibilidade de produzir os significados sobre seus
próprios signos idiossincráticos. Uma vez alienado, desvia-se a
produção de significados sobre sua cultura para os sujeitos que não
vivenciam, e, pelo contrário, aproveita-se da cultura agora explorada
semiótica e economicamente. Assim, a epistemologia, é fonte da
produção de significados, é fundamental para a afirmação ou negação
de um povo e sua tradição, de uma cultura e sua dignidade”.
(OLIVEIRA,E.2010,Preâmbulo)

O texto precedente entrelaça a alienação e a motivação social do sujeito em


quanto ser cultural que deve se afirmar na produção de significados para a afirmação da
cultura e dignidade nas comunidades. As estruturas de significado socialmente
estabelecidas podem ser descobertas a partir da descrição densa, penetrando no discurso
simbólico entre linhas, e não simplesmente ficar limitado às descrições de rituais ou de
relações familiares as interações econômicas. Os significados em relação aos códigos
culturais nas comunidades devem ser analisados pelos significados que variam com os
códigos culturais y com os sistemas simbólicos dos territórios habitados nos quais
emergem. Da mesma forma que podem se descobrir as possibilidades de uma
ferramenta quando se usa, as debilidades e as potencialidades do conceito de ideologia
se revelam quando se aplica. Nas pesquisas de contextos sociais, o pensamento deve ser
estudado desde um enfoque semiótico da cultura extraído do fluxo da vida social.
O estudo sistemático do significado, dos veículos de significado e da
compreensão do significado na pesquisa e a análise dos resultados pela hermenêutica é
uma proposta que colabora a considerar a ideologia um movimento no sentido do
significado. As características lúdicas, dramáticas e textuais colaboram para poder
discernir o posicionamento ideológico nas comunidades e a ação simbólica no momento
da interpretação cultural. O estudo cultural obriga a interpretar significados e
textualidades e para compreender as lógicas e dinâmicas culturais a explicação causal
não é suficiente; deve se incorporar a interpretação de sentido que fica escondida e as
questões que se encontram internamente. Na pesquisa pela interpretação da motivação
social e sua relação com a ideologia presente nos sujeitos, deve se destacar o discurso
mediante a ação significativa considerada como texto que permite fixar o significado.
Na carta que José Enrique Rodó6 envia a Alberto Nin Frias ele expressa:
” Com esta você receberá o exemplar dedicado Motivos de
Proteo. Com mais amplos horizontes que em Ariel, e tendo
semelhantes campos de meditação e difusão, limito me
especialmente a cultura do eu, a formação da personalidade,
profunda e firmemente desenvolvida mediante uma incessante
renovação” 7 (RODO, 1917)

Para poder fixar o discurso e seu sentido, a cultura, a partir das suas ações
significativas, determina os símbolos compartilhados pelas pessoas. Neste sentido, a
hermenêutica tem una proposta objetiva não relativista mais é necessário considerar
elementos subjetivos nas pesquisas. A interpretação deve se construir a partir das
possibilidades interpretativas do observador e da própria bagagem cultural do
observador.
As representações sociais conformam a ideologia a partir de sua organização e
maneiras de se agrupar originando sistemas de crenças para orientar o comportamento
dos seres humanos.
Por sua vez a ideologia gera outras representações pela capacidade de regular e
imprimir coerência a os saberes coletivos servindo de marco de referencia para a práxis
e a permanência em ação.
O texto de José Enrique Rodó e a menção a geração dos “900” demonstra a
forma que se modela a ideologia na educação em Montevidéu e em todo o território
uruguaio.
Mais si se pensa numa realidade latino-americana envolvida em varias
ancestralidades que a condicionam em sua complexidade, e sua dificuldade para se
reconhecer como rica e diversa, então deve se recorrer a Arturo Ardao e sua

6
- José Enrique Rodó nasceu em Montevidéu nos 15 de Julio de 1871 e morreu em Palermo
(Sicilia) o 1º de maio de 1917. Sua prosa e a dimensão do seu talento ficaram estabelecidas já em 1900,
quando publicou se livro “Ariel”,muito reconhecidas na cultura hispânica. Previamente publicou “A Vida
Nova” (1897) y o analise critico sobre Rubén Darío (1899).Sua labor de escritor foi misturada com as
atividades políticas.Foi integrante da geração do 900 e comparte com Vaz Ferreira o magistério
ideológico, a prédica incessante e a necessidade de falar para a juventude com o objetivo de renovar a
sociedade. Mais a diferença do autor da “Lógica Viva”, Rodó destaca se pela prosa cuidada, profunda,
rica em matizes e modulações; o estilo de Rodo foi muito marcante e identifica se com a verdade e a
beleza.

7
-Trad. da autora.
antropologia filosófica. Na sua estreita relação com a história das idéias e pela sua
prática institucional e hermenêutica aplicada a comunidade latino-americana, observa se
um comprometimento com os seres humanos concebidos na sua espacialidade e
temporalidade geopolítica.
Arturo Ardao tem a consciência de pensar a pluralidade do ser latino-americano
desde Uruguai. Ardao introduz o conceito de “comunidade” em relação a condição da
filosofia latino-americana como pensamento gerado concretamente em determinadas
circunstancias históricas e culturais. Os sujeitos que produzem e participam na produção
da filosofia latino-americana integram uma comunidade histórica que tem uma tradição
de cultura y una “tonalidade espiritual” diferente a europeia e a norte-americana. (Ardao
1987:87-88). O conceito de comunidade ajuda a relacionar a ideia de temporalidade,
que caracteriza uma comunidade histórica, com a reflexão sobre espacialidade. Esta
idéia envolve o significado da exterioridade do corpo até nas praticas concretas que se
realizam na realidade social y cultural de um contexto dado. Também a comunidade
esta ligada a reflexão sobre interdisciplinaridade no sentido de que, para Ardao, a
metafísica e o pensamento de uma época não e uma competência exclusiva dos
filósofos. Arturo Ardao propõe um “pensamento” na América Latina surgindo da
necessária produção de comunidades localizadas no tempo e no espaço integrando
ciência, filosofia, historiografia, lógica, epistemologia y linguística e esta é uma tarefa
principalmente arqueológica. Nesta tarefa é preciso garimpar na teoria emancipadora da
alfabetização com uma correspondente pedagogia transformadora de corte freiriano que
adquiri novas dimensões e significados em relação às novas tecnologias da informação e
comunicação utilizadas nos contextos educativos.

Ideologia e ética- Sambarino, Rebellato e o ethos-

“Ethos é um sistema orgânico de critérios explícitos que em


tanto vigentes consideram se válidos para estudar os problemas
estimativos das ações, e em conjunto integram um estilo
comportamento para projetar, decidir, operar, propor juízos de
valor” (SAMBARINO, p.13)

Sambarino analisa a experiência moral cotidiana e as características da vida no dia


a dia na base da hermenêutica, estudando continuamente as situações dadas que revelam
complexidades, muitas vezes despercebidas pelos seres humanos. A interpretação funda
se num certo compreender que tem um lastro afetivo mais os conceitos que surgem são
provisórios e dinâmicos porque o ser humano vive no “estar” mais que no “ser”. Trata
se então de um pensamento sustentado nos processos, nos dados históricos,
contextualizado e, portanto as ações individuais ou coletivas são interpretativas-
estimativas. O sentido do comportamento fica colado a o valor em cada ato e o ser é
inseparável do valer. O pensamento e a ação das comunidades estão sustentados nos
valores ideológicos predeterminados e não se questionam os méritos ou interesses que
exercitam. A legitimidade de um valor se produz organicamente em forma de uma
tendência porque o ser humano, aceita o recusa certos valores vigentes e a reflexão
surge como um comportamento posterior às vivencias. A forma hermenêutica -
experiencial surge da maneira de Estar na situação e de Ser percorrendo os caminhos
que estão visíveis. A ética se distingue da moral porque exige una toma de posição com
respeito à própria atitude moral. Entre Moral e ética existe uma tensão e todo processo
admite infinitas revisões criticas e a verdade não pode surgir como resultado final
absoluto. A aparente tranquilidade cotidiana da tensão se produz pela vigência da ordem
da ética convencional.
Por sua vez Rebellato8 afirma que a hermenêutica tem um papel decisivo na
configuração da ética da liberação.
A hermenêutica latino-americanista de Rebellato representa uma alternativa
diferente frente à filosofia etnocêntrica, permite questionar e analisar a diversidade
cultural latino-americana na sua dimensão mais abrangente e compreender a emergência
de novas identidades e subjetividades. Ele utiliza o diálogo o reconhecimento da
diversidade, a solidariedade e a criatividade das comunidades como condições das
praticas políticas e educativas. Isto quer dizer que:
“… educação da cidadania nas diversas esferas da
democracia e da justiça, de tal modo que cada cidadão aprenda a
ser governante e a promover todas as formas de autogestão
popular”. (REBELLATO, 1996,p.105 apud TANI) (Trad. da
autora)
8
- José Luis Rebellato nasce em Canelones, no Uruguai em 1946 y morre em Montevidéu em dezembro
de 1999. Em 1968 obteve o título de Doutor em Filosofia na Pontifícia Universidade Salesiana de Roma.
Sua tese de doutorado foi sobre a doutrina axiológica de Raymond Polin. Escreveu sobre ética,
pedagogia da liberação e educação popular: Ética y prática social (1989), A encruzilhada da ética (1995),
Ética da Autonomia (1997) e Democracia, cidadania e poder (1999) propondo processos e
transformações, para o cambio social y cultural dos novos movimentos sociais na América Latina,
promovendo praticas pedagógicas para um cambio do mundo da vida.
Rebellato considera importante o espaço territorial e o espaço simbólico como
lugares instituidores para o exercício e a análise das formas do poder. Ele estuda as
estruturas da vida cotidiana, as manifestações religiosas, a linguagem, os mitos e as
demonstrações populares. Os projetos culturais colaboram na liberação dos setores
oprimidos porque se representam os símbolos de uma identidade real e uma revelação
emergente de resistência. A mitologia e a utopia são questões importantes no processo
de recuperação da identidade cultural dos setores excluídos.
Na cultura latino-americana a utopia encontra se no centro da construção da
nova sociedade da mesma forma que o mito. Rebellato entende a utopia como o projeto
que imprime forca para a liberação das comunidades submergidas.
Ele não estabelece diferenças entre mito e utopia porque as considera
"narrativas” que expressam uma identidade comunitária y culturais e postula una ética
do reconhecimento que se constrói dialogicamente modificando a ideologia e as
relações. O caráter hermenêutico da linguagem permite a compreensão das produções
dos sujeitos, à linguagem não verbal, a expressão corporal associada a representações
coletivas e as narrativas das comunidades.

Ideologia e código interpretativo-

A continuação da analise da ideologia e a evolução das ideias do pensamento


latino-americano na construção ideológica própria, é preciso fazer uma interpretação
adequada às situações educativas atuais tecnologicamente mediadas.
A pedagogia, como prática e analise da possível expansão dos sujeitos
democráticos, deve se dirigir no sentido de considerar os problemas sociais como a
desigualdade econômica e injustiça social para tratar os dilemas éticos y políticos. A
educação crítica imprime uma formação do sujeito como protagonista de sua própria
educação e da transformação da sociedade. O código interpretativo da ideologia critica
se insere na linha estratégica da transformação dos movimentos populares em sujeitos
coletivos portadores do poder público. Nesse sentido para exercer o poder os sujeitos
devem se apropriar no nível político, econômico e cultural do poder que eles mesmos
geram como protagonistas principais de um processo de transformação e de construção
de alternativas.
Paulo Freire proporciona modelos práticos e de emancipação para desenvolver
uma filosofia radical da alfabetização que pode ser aplicado no ensino mediado pelas
tecnologias da comunicação e informação. Dentro dessa perspectiva, o uso das TICs nos
contextos educativos não pode ser tratado como habilidades técnicas a ser adquiridas,
mas como fundamento necessário a ação cultural para a emancipação do que significa
para o ser humano afirmar seus direitos e responsabilidades em quanto cidadão do
mundo. Por tanto a linguagem e o poder estão intimamente entrelaçados e brindam
possibilidades para a ação humana e a transformação social.
Sem duvida na sociedade mundializada atual o uso das TIC podem colaborar na
legitimação de práticas sociais contra- hegemônicas pela incorporação do discurso da
crítica e da reflexão na pratica sobre as próprias historias referidas a cultura do ambiente
imediato. Na alfabetização digital e aplicação das novas tecnologias na educação é
essencial na construção de uma teoria com visão humana em que a produção de
significado não se limite a analise de como as ideologias estão inseridos em
determinadas condicionantes políticas. Os contextos educativos mediados ou não pela
tecnologia devem se construir como terrenos culturais para a produção de experiências e
subjetividades em meio a vários graus de adaptação, resistência e diferença. Acredita se
que esta proposta poderá ajudar os seres humanos a fugir da alienação.

Alienação e ideologia-

A ideia da alienação e ideologia no começo referiu-se ao problema do


distanciamento exigido de certa forma no estudo dos fenômenos sociais e a relação
primordial de pertinência sem a qual não há relação com o fato histórico.
A dificuldade surge entre o distanciamento alienante e a experiência de
pertinência. A ideologia é o resultado da práxis social, que justifica e compromete. O
fenômeno ideológico logo conduz a uma domesticação pela lembrança de uma situação
histórica onde há uma manifestação de consenso, mais também confluem o pacto, o
acordo e a racionalização. A partir de esse momento a ideologia deixa de cumprir sua
tarefa transformadora e torna-se justificadora. Ela exerce um caráter gerativo com
referencia a empreendimentos, instituições que recebem a postura própria das crenças
ideológicas da ação instituída. A partir de essa situação estabelece-se um código
inerente a sua função justificadora e sua capacidade de transformação o mutação é
mantida com a condição de que as ideias que transmite tornem-se opiniões, e desta
forma sistemas de pensamento. Mais o código interpretativo de uma ideologia tem uma
relação mais forte com o que os seres humanos habitam que com a concepção que eles
mesmos possam expressar. Ricoeur diz que “ela opera traz de nos... é a partir dela que
pensamos mais do que podemos pensar sobre ela”.
A ideia de imagem invertida da posição do ser humano na sociedade que se
vincula desde Marx procede de essa situação e o novo, a novidade, a inovação só pode
surgir a partir da conjuntura típica, simbólica, emblemática, derivada da sedimentação
da experiência social. Por tanto é impossível que uma tomada de consciência possa
efetuar se por fora de um código ideológico. Aqui se insere a função de dissimulação, a
imagem invertida da vida. Por tanto a ideologia é ao mesmo tempo juiz e testemunho da
situação social.
Diante disso, a alienação se manifesta na privação e opressão, na manipulação e
a violência, no anonimato coletivo, na impessoalidade dos mecanismos do mercado. Os
conhecimentos dos seres humanos sobre as características de suas ferramentas e
instrumentos podem lês capacitar e ajudar a elaborar formas de intercambio e controle
no sentido da auto-realização e cooperação para o desenvolvimento de suas
comunidades.
“O conceito de participação é de fundamental importância.
Ele é válido tanto na atual quanto em qualquer sociedade
emancipada do futuro. Em primeiro lugar, seu significado, nas
atuais circunstancia, não é apenas um envolvimento mais ou
menos limitado em discussões, geralmente reduzido a um ritual
vazio da” consulta “(seguido pelo superior descaso), mas a
aquisição progressiva dos poderes alienados de tomada de
decisão por parte do antagonista estrutural do capital.”
(MÉSZAROS, 2007, p.54).

Do texto de Mészaros pode se inferir que “participação” significa exercício


criativo do poder para a tomada de decisões e beneficio dos grupos e comunidades. Este
conceito por sua vez associado ao principio de autonomia em relação com uma
coordenação estrutural geral que colabore a diminuir ou atenuar as situações de conflito.

Plan Ceibal e Flor de Ceibo entre a ideologia e a utopia. Conclusões

Neste trabalho pretende se inferir as questões epistemológicas que se apresentam


na implantação de uma política educativa tecnologicamente mediada no contexto
educativo uruguaio, onde os aspectos ideológicos geográficos, políticos,
sóciodemográficos e culturais condicionam a educação logrando uma forma particular
de interação tecnológica diferente do contexto mundial. No decorrer do artigo tem se
analisado o fenômeno da ideologia em relação a os processos vivenciados nas praticas
educativas e na pesquisa ação no projeto Flor de Ceibo. Acorda se com Rebellato que
no Uruguai as comunidades devem estruturar um processo de luta e autoeducação. Nas
interações Plan Ceibal Flor de Ceibo, se privilegia a dimensão cultural e a constituição
dos sujeitos como protagonistas da sua própria educação e transformação da sociedade.

A práxis na investigação- ação participativa em Flor de Ceibo é um médio de


conhecimento e intervenção na realidade mediada pela tecnologia produz um
movimento cultural em construção no século XXI. Esta proposta é antagônica o sistema
hegemônico mundial atual, e assume a autenticidade dos saberes populares, para
transcender as praticas concretas da educação convencional a partir das teorias que
podem colaborar na transformação: a complexidade, a teoria crítica da libertação e a
hermenêutica.

“...A educação e uma questão de vital importância, para os povos


que, como o nosso tem adotado a forma de governo democrático-
republicano (...) A extensão do direito ao voto a todos os cidadãos
exige.uma educação difundida a todos: sem ela o homem não tem
consciência de seus atos” ( VARELA,J. P., 1876)

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